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Extração de DNA vegetal: O Que Estamos Realmente Ensinando em Sala de


Aula?

Article · January 2011


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Cláudia Maria Furlan Déborah Santos


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Lucimar B. Motta Fungyi Chow


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Extração de DNA Vegetal: O que Estamos
Realmente Ensinando em Sala de Aula?

Cláudia Maria Furlan, Ana Carolina de Almeida, Cristiane Del Nero Rodrigues, Daniel Gouveia Tani-
gushi, Déborah Yara A. C. dos Santos, Lucimar Barbosa Motta e Fungyi Chow

Material vegetal como fonte de DNA tem sido extensamente usado em sala de aula para práticas em laboratório.
Este trabalho tem por objetivo discutir importantes aspectos relacionados a problemas práticos do isolamento e da
identificação de DNA obtido de plantas durante aulas de Ciências e Biologia. Baseado em respostas de professores
de educação básica, foi detectada grande dificuldade na identificação de camadas de pectinas e o verdadeiro
DNA. Vários aspectos concernentes ao correto discernimento entre DNA e pectina são discutidos.

DNA vegetal, extração de DNA, pectinas

32 Recebido em 31/07/2009, aceito em 13/10/10

Introdução apresentar dados de pesquisa re- áreas de expansão agrícola para


sultante de questionários aplicados produção de biocombustível, des-
Este artigo relata a percepção na a educadores da educação básica cobertas de novas substâncias com
decorrente dificuldade no discerni- (Ciências e/ou Biologia) e do ensino ação farmacológica ou cosmética,
mento de pectina e DNA, após mi- superior. entre outras notícias. Entretanto, a
nistrar quatro edições de um curso compreensão e o aprendizado dos
de atualização de professores, em O dna: assunto de atualidade no conceitos botânicos abordados
extrações a partir de material vege- nosso dia-a-dia na escola ou na faculdade ainda
tal em uma das aulas práticas mais A mídia traz cada vez mais apresentam alguma dificuldade em
frequentes na Educação Básica e no assuntos vinculados à ciência, serem realmente contextualizados
Ensino Superior. Também são dis- atraindo constantemente o interes- (Kinoshita e cols., 2006; Silva e
cutidos e apontados os principais se do cidadão comum. No entan- cols., 2006), ou seja, com real impli-
aspectos críticos na to, muitas vezes, cação nas nossas atividades no dia
extração de DNA ve- são considerados a dia e frequentemente carecem de
getal; os equívocos “Embora conteúdos temas difíceis de significado com a nossa realidade.
na aplicação dos relacionados com DNA serem compreendi- Ricardo e cols. (2007) abordam as
protocolos de extra- sejam contemplados dos e associados recentes propostas de reforma da
ção; a confusão na no ensino fundamental, ao nosso cotidiano. educação básica brasileira e a uni-
interpretação dos médio e superior, alunos e A Botânica, em par- versalização do acesso ao ensino, a
resultados; além da educadores muitas vezes ticular, aparece em interdisciplinaridade e a revisão das
constatação na falta não conseguem associar o discussões relacio- práticas docentes de forma que os
de contextualização DNA a uma molécula real nadas a Organis- conhecimentos aprendidos na edu-
do termo DNA com e, muito menos, relacionar mos Geneticamente cação básica possam ir além dos
vegetal. A finalida- e compreender a sua Modificados (OGM, muros da escola. Nesse particular,
de deste trabalho é presença nos vegetais.” os famosos trans- o ensino de Ciências/Biologia tem
auxiliar e esclarecer gênicos), proteção o grande papel de tentar responder
alguns aspectos do da biodiversidade aos anseios da sociedade moderna,
protocolo dessa tão difundida expe- vegetal em áreas de conserva- servindo de ponte entre ciência bá-
riência em sala de aula, bem como ção, desmatamento da Amazônia, sica e tecnologia.

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Um exemplo disso refere-se ao cotidiana, experiências de extração o que motivou o desenvolvimento
assunto que queremos debater de DNA a partir de material vegetal deste estudo.
aqui com o educador. De todas em sala de aula têm sido uma das Como parte de uma atividade
as moléculas conhecidas, o ácido ferramentas mais popularmente prática de um curso de atualização
desoxirribonucleico ou DNA (nome aplicada (Borges e Lima, 2007; de professores, aplicamos a aula de
oriundo da sigla em inglês Deoxyri- Bionet, 2009; Galhardo, 2009; ITQB, extração de DNA de banana. Nesse
bonucleic Acid) é uma das mais 2009; Lomax, 2009; NCBE, 2009a; momento, fomos alertados que al-
complexas de entendimento, não 2009b). guns materiais vegetais (entre eles,
só para o estudante, mas também Segundo Borges e Lima (2007), a banana) podem não ser a melhor
para leigos e alguns biólogos. A na- uma das estratégias ou procedi- escolha para o desenvolvimento
tureza química do material genético, mentos mais utilizados pelos pro- dessa atividade devido ao fato de
o DNA, começou a ser desvendada fessores de Ciências/Biologia em apresentar alta concentração de
em 1869, quando Johann Friederich sala de aula são as aulas práticas, pectinas, um açúcar que é extraído
Miescher verificou que quase todas apontadas pelos próprios profes- juntamente com o DNA e fica mistu-
as células vivas continham um sores como um dos melhores re- rado a ele, sendo corriqueiramente
núcleo, em cujo interior havia uma cursos para um diálogo entre teoria confundido com essa molécula.
substância, que Miescher denomi- e prática. Sendo assim, testamos o protocolo
nou de nucleína. Posteriormente, Em estudo realizado por Gui- com os alunos/professores usando
por volta de 1889, Richard Altmann marães e cols. (2006), de 56 pro- diversos materiais vegetais (cebola,
verificou a natureza ácida da nucle- fessores entrevistados, 71% deles banana e morango) para avaliar
ína, mudando-a subsequentemente apontam aulas práticas/experi- sua identificação e isolamento.
para o nome de ácido nucleico. A mentação como a estratégia mais Ao final da extração, verificamos
estrutura da molécula de DNA foi adequada ao ensino de Ciências e, a grande dificuldade dos profes-
concomitantemente elucidada por destes, apenas 12% não a utilizam. sores em identificar a camada
James Watson e Francis Crick, em A escolha das modalidades didáti- formada por DNA, apontando mui-
1953, consagrando a descoberta da cas ou estratégias, tas vezes a região 33
estrutura de dupla hélice das duas como descritas por contendo pectinas.
longas fitas de DNA que se enrolam Guimarães e cols. “Ao final da extração, Essa dificuldade na
(Raw e cols., 2001). (2006), envolve a verificamos a grande interpretação dos
Essas informações são facil- tomada de decisões dificuldade dos resultados e a iden-
mente declamadas por qualquer com relação ao tipo professores em identificar tificação da pectina
aluno da educação básica, mas o e à natureza das a camada formada por como sendo DNA
conceito de DNA ainda é de difícil atividades e seu DNA, apontando muitas não se limita aos
entendimento. Embora conteúdos melhor momento vezes a região contendo professores da edu-
relacionados com DNA sejam con- de aplicação; os pectinas.” cação básica, pois
templados no ensino fundamental, recursos e espaço tal equívoco parece
médio e superior, alunos e educa- físico necessários ocorrer inclusive en-
dores muitas vezes não conseguem e disponíveis; e principalmente os tre pesquisadores que têm o DNA
associar o DNA a uma molécula real papéis destinados ao professor e como objeto de estudo e docentes
e, muito menos, relacionar e com- aos alunos, ou seja, como os alu- que lecionam em instituições de
preender a sua presença nos vege- nos aprendem e como aprenderiam nível superior.
tais. A imagem mais recorrente entre melhor. As plantas vêm tornando-se
as pessoas procede do fato de que candidatas apropriadas para serem Protocolos de extração de dna
como os vegetais não se mexem, utilizadas na extração de DNA em vegetal: histórico, dificuldades e
logo não são seres vivos. Esse é um sala de aula devido à facilidade de interpretações
dos desafios mais importantes que obtenção de material, praticidade na
nós botânicos temos: desmistificar manipulação e disponibilidade de A dificuldade dos professores
tal pressuposição e incorporar o protocolos simples, além de existir na interpretação do resultado final
conhecimento que plantas são de restrições legais para trabalhar com e a clara identificação entre DNA e
fato seres vivos. material animal em sala de aula. No pectina podem ser associadas à
entanto, a utilização indiscriminada numerosa quantidade de protoco-
Extração de dna em sala de aula: dos protocolos para qualquer tipo los disponíveis que não explicam
dificuldade na identificação do dna de vegetal ou parte do vegetal tem claramente a distinção entre ambas
Entre as muitas modalidades originado a massiva difusão de as moléculas quando presentes.
didáticas para um aprendizado equívocos recorrentes do correto Analisando os protocolos de ex-
mais eficiente que permitiria uma procedimento e na identificação do tração de DNA vegetal disponíveis
melhor associação entre assuntos DNA. Erro que era cometido inclu- em materiais didáticos e na internet,
relacionados ao DNA e à vivência sive pelos autores deste trabalho, a grande maioria traz as etapas

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claramente descritas passo a pas- de maça. Esses resultados apon- em sala de aula foi inicialmente des-
so, porém o fato mais recorrente é taram constatações preocupantes. crito utilizando como fonte a cebola,
a falta de explicações mais deta- Professores graduados pelas um vegetal que possui pequenas
lhadas para orientar a interpretação diferentes instituições de ensino quantidades de pectina e que, por
do resultado obtido, levando o superior e que ministram aulas de isso, não oferece problemas na in-
professor e o aluno Ciências e/ou Biolo- terpretação dos resultados (NCBE,
a imprecisões em gia ainda apresen- 2009a; 2009b). Basicamente, para
relação ao que re- “A partir dessas tam dificuldade em extrair DNA vegetal, é preciso dis-
almente deveria ser primeiras experiências, afirmar ou discernir sociar o tecido da planta, romper
identificado como textos e páginas da que o material ve- a parede celular e as membranas
DNA. Após admitir internet nacionais getal possui DNA. plasmática e nuclear, remover as
nossa própria igno- fizeram suas próprias Com isso, surge proteínas e isolar o DNA. A metodo-
rância em identificar publicações, traduções um questionamen- logia é simples e fácil. Requer de-
o DNA e diferenciá- ou adaptações, mas to: será que esta- tergente líquido para desnaturar as
lo da pectina ao muitas vezes esquecendo mos lidando com o membranas lipídicas e água com sal
longo das quatro detalhes essenciais para paradigma de que para neutralizar o DNA que precipi-
edições do curso a interpretação dos vegetal não é ser tará ao adicionar álcool gelado, pois
de atualização de resultados, simplificando vivo e por isso não estará menos solúvel em solução
professores, con- drasticamente o tem DNA? alcoólica. A partir de meia cebola,
firmamos que essa protocolo original e Historicamente, é obtida quantidade suficiente de
era uma dificulda- omitindo detalhes sobre métodos simples de DNA que pode ser vista como uma
de também para a os materiais utilizados.” extração e isolamen- “nuvem” branca.
maioria dos quase to de DNA de mate- Entretanto, devido ao aroma
150 participantes do rial vegetal aparece- desse vegetal não ser muito agra-
curso. Além disso, outra constata- ram primeiro em textos americanos, dável para uma sala de aula cheia
34 ção foi que muitos têm uma séria atualmente bastante difundidos em de alunos e na procura de materiais
dificuldade em associar DNA ao páginas da internet (Madden, 2003; alternativos mais macios e de fácil
nosso cotidiano. NCBE, 2009a; 2009b). A partir des- trituração, alguns autores sugeriram
Para avaliar essas ocorrências sas primeiras experiências, textos a aplicação desse protocolo para
foram adotadas duas abordagens: e páginas da internet nacionais frutas como banana, morango e
(a) aplicar dois questionários para fizeram suas próprias publicações, kiwi. A partir dessa iniciativa de
ponderar o grau de compreensão traduções ou adaptações (Bionet, usar outros materiais (ex. banana
do conceito de DNA por professores 2009; Galhardo, 2009; ITQB, 2009), e morango), originou-se, prova-
de Ciências e/ou Biologia, tentan- mas muitas vezes esquecendo velmente, o desvirtuamento do
do analisar se eles têm claro que detalhes essenciais para a inter- procedimento original do protocolo,
vegetais ou partes dele possuem pretação dos resul- uma vez que esses
DNA, e se eles saberiam diferenciar tados, simplifican- frutos são dotados
“Existem várias
a presença de DNA e de pectina; e do drasticamente o de grandes quanti-
referências com
(b) analisar diferentes protocolos de protocolo original e dades de pectinas
protocolos que
extração de DNA vegetal disponíveis omitindo detalhes que são extraídas
descrevem o
na literatura e na internet para iden- sobre os materiais juntamente com o
procedimento de
tificar possíveis pontos de conflito utilizados. Nesse DNA e são também
extração de DNA a
que possam confundir o educador contexto, outra inter- menos solúveis em
partir de uma variedade
e o aluno. rogante surgiu em soluções alcoólicas.
de materiais vegetais
De 36 professores entrevistados relação à utilização Entretanto, esse fato
(ex. morango, ervilha,
sobre quais dos seguintes itens dessa aula prática: não impossibilita a
cebola, banana). No
possuem DNA – entre polpa de a simplificação dos utilização dessas
entanto, umas poucas
maça, casca de banana, bagaço protocolos leva os frutas ou de outros
fazem alusão sobre
de cana, folhas de quaresmeira educadores a ensi- vegetais na extração
o que realmente o
e catafilo de cebola –, apenas 12 nar erroneamente de DNA. Faz-se ne-
professor deveria
(33%) responderam corretamente o que deveria ser cessário, então, um
apontar como DNA.”
à questão, assinalando todos os DNA? Para tentar maior cuidado no
materiais. A grande maioria, acima responder a essas momento de iden-
de 60%, acertou ao assinalar os questões, precisamos primeiro des- tificar os componentes extraídos.
itens casca de banana e folhas de crever o protocolo e sua origem a Com a aplicação desses ma-
quaresmeira, mas apenas 50% dos fim de contextualizar nossa reflexão. teriais, há a formação de uma fra-
entrevistados assinalaram catafilo Um dos procedimentos mais uti- ção superior na fase alcoólica, de
de cebola e menos de 35%, polpa lizados na extração de DNA vegetal aspecto gelatinoso, mais denso e

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com abundantes bolhas de ar. Essa de uma variedade de materiais ve- 39 professores de universidades pú-
fração é usualmente apontada como getais (ex. morango, ervilha, cebola, blicas e particulares dos estados de
sendo DNA, correspondendo na banana). No entanto, umas poucas São Paulo, Paraná e Minas Gerais,
realidade à fração de pectina. Uma fazem alusão sobre o que realmente mas apenas cinco retornaram os
forma fácil de distin- o professor deveria questionários respondidos, sendo
guir em uma extra- apontar como DNA. três os que afirmaram a utilização
ção a fração corres- “Uma das maiores Esses protocolos do protocolo em sala de aula. Ao
pondente ao DNA indagações dos apresentam a recei- perguntar sobre o fato do apare-
daquela de pectina professores é pelo ta passo a passo e cimento de uma fração de pectina
é reparar na consis- conteúdo teórico e não orientam a obser- durante a extração, dos três profes-
tência da camada como transmitir ao aluno var o que acontece, sores que utilizam o procedimento,
onde ela se apresen- esse conteúdo de forma sem maiores expli- todos responderam como nunca
ta. O DNA precipita fluente, assimilável e cações. Outros mos- tendo reparado na formação de uma
com o álcool e fica associável.” tram uma fotografia camada de pectina nos diferentes
na parte inferior da do resultado final da materiais extraídos (banana, moran-
fase alcoólica, logo extração, mas ainda go e cebola). Apenas um professor
acima da fase aquosa. A pectina assim sem apontar as camadas de respondeu que tem conhecimento
fica na superfície da fase alcoólica, pectina e de DNA, e em alguns casos da camada de pectina, porém
apresenta consistência gelatinosa e é ilustrada a fração de pectina e não não sabe diferenciá-la e, portanto,
abundante bolhas de ar. O DNA pre- a de DNA. Nesse último caso, como apenas informa aos alunos que ela
cipitado forma um emaranhado de a fração de pectina é mais evidente, é formada, sem indicar qual seja.
filamentos muito finos, semelhantes a confusão acontece. Esse fato foi Mesmo na extração com cebola,
a fios de algodão, e com aspecto observado durante o curso de atu- dados registrados por nós mostram
de “nuvem”. Ao tentar “pescar” o alização de professores, no qual a a separação de pectina durante a
DNA com uma pipeta de Pasteur maioria dos participantes apontava a extração, sendo muito mais evidente
ou bastão de vidro, este gruda e camada de pectinas em banana e mo- 35
apresenta aspecto de filamentos como sendo a de rango (Rodrigues e
muito finos que não se desagregam, DNA. “Neste estudo, cols., 2008). Esse
enquanto a pectina apresenta uma Muitos desses pudemos perceber resultado pode in-
consistência de geleia que goteja professores utilizam como um recurso dicar o desconheci-
e se desmancha. Para evidenciar a essa experiência didático apontado mento do educador
fração contendo pectina, é possível prática em sala de pelo próprio professor, sobre a presença
conseguir sua dissolução mediante aula a partir de mate- como o mais atrativo de pectina nos di-
a adição da enzima pectinase, o rial vegetal com altos ao aluno e importante ferentes materiais,
qual degrada a pectina em solução teores de pectina. na fundamentação de o que pode induzir
(Rodrigues e cols., 2009). No entanto, verifi- conceitos teóricos, ao equívoco. Es-
Há muito tempo não é novidade camos que há uma pode, muitas vezes, ses resultados não
a ocorrência de pectina junto com grande confusão ser inadequado, respondem à nossa
o DNA em experimentos utilizando em identificar cor- quando mal aplicado pergunta de forma
material vegetal nem mesmo o fato retamente a fração e, especialmente, mal conclusiva, uma vez
de que esses açúcares possam ser de DNA obtida ao discutido.” que poucos entre-
confundidos com o DNA. Referên- final do protocolo. vistados retornaram
cias bibliográficas na língua inglesa Surgiram então no- seus questionários,
são mais frequentes em apresentar vos questionamentos: será que o mas apontam para um possível
ressalvas quanto à possibilidade educador realizou essa experiência equívoco de interpretação já no
de conclusões equivocadas quan- durante a sua graduação? Será que ensino superior.
do protocolos são arbitrariamente os professores que formam esses
empregados a materiais que con- educadores cometem o mesmo Considerações finais
tenham grandes concentrações de erro? os resultados compilados da
pectinas. Para responder a essas ques- nossa experiência com os profes-
Dessa forma, ao utilizar materiais tões, foi desenvolvido um questio- sores e seus relatos, de pesquisa
ricos em pectinas, é fundamental nário direcionado exclusivamente a bibliográfica e da aplicação de
que o professor e os alunos saibam professores de educação superior questionários salientam que os edu-
diferenciar o que realmente seria a que aplicam a experiência de extra- cadores apresentam a dificuldade de
camada de DNA. ção de DNA de material vegetal em transpor e contextualizar assuntos
Existem várias referências com aulas de graduação. Nosso primeiro relacionados ao DNA e sua extração,
protocolos que descrevem o proce- entrave foi a devolução dos questio- sem estabelecer uma ponte entre o
dimento de extração de DNA a partir nários. Enviamos o questionário a conhecimento científico trabalhado

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durante a graduação, o trabalhado resultados obtidos. Como mais uma professores é pelo conteúdo teórico
em sala de aula e sua vivência coti- forma de contribuir para a correta e não como transmitir ao aluno esse
diana. Dessa forma, sua dificuldade utilização de protocolos de extração conteúdo de forma fluente, assimilá-
em contextualizar esse conhecimen- de DNA a partir da material vegetal, vel e associável.
to torna essa situação um círculo disponibilizamos no site http://www. Aparentemente, os educadores
vicioso no qual o aluno incorpora a ib.usp.br/materiaisdidaticos um carecem de conhecimentos relaciona-
dificuldade de ter uma representação material de apoio, ilustrado com dos a aspectos básicos da Botânica
mental do conceito e, dessa forma, imagens de todo o protocolo de ex- que são parte do conteúdo da educa-
este será apenas definido verbal tração, utilizando diferentes materiais ção básica. Neste estudo, pudemos
e teoricamente. Essa prática de vegetais. Ao final, estão devidamente perceber como um recurso didático
memorização é comum em muitas identificadas as frações contendo apontado pelo próprio professor,
matérias da biologia e compromete pectinas e DNA a partir de vários como o mais atrativo ao aluno e impor-
a internalização (contextualização, materiais: cebola, banana, casca de tante na fundamentação de conceitos
associação) dos conceitos, caindo banana, morango, folha e flor. teóricos, pode, muitas vezes, ser
em uma rotatividade, na qual profes- A utilização de aulas práticas pro- inadequado, quando mal aplicado e,
sores e alunos não são capazes de picia a vivência do método científico, especialmente, mal discutido.
entender esse conhecimento, e me- redescobrindo o já conhecido pela
nos ainda de fazer essa transposição ciência, com a participação ativa do
Cláudia Maria Furlan (furlancm@yahoo.com.
de forma palatável e contextualizada, aluno no processo de aprendizagem. br), doutora em Ciências Biológicas, é do-
ou seja, não estão conscientes do Dessa forma, como etapa de cente e pesquisadora do Departamento de
conhecimento sobre o assunto em primordial importância no uso des- Botânica, Instituto de Biociências, Universidade
estudo nem sabem falar sobre ele sa modalidade didática está a de São Paulo (IB-USP). Ana Carolina de Almeida
(anacarolusp@yahoo.com.br) é bacharel em
ou não são capazes de representá-lo discussão dos resultados obtidos Ciências Biológicas. Cristiane Del Nero Rodrigues
mentalmente. (Krasilchik, 1996). Guimarães e (babetecris@yahoo.com.br) é doutora em
Nossa proposta não é a correção cols. (2006), em pesquisa feita com Ciências Biológicas. Daniel Gouveia Tanigushi
de protocolos, uma vez que estes se professores da educação básica, ve- (danieltanigushi@yahoo.com.br) é mestre em
36
Ciências Biológicas. Déborah Yara A. C. dos Santos
encontram bem descritos na literatu- rificaram que aula prática é sinônimo (dyacsan@ib.usp.br), doutora em Ciências
ra. A intenção desta pesquisa é cha- de experimentação (laboratório) e Biológicas, é docente e pesquisadora do IB-USP.
mar a atenção para a correta identifi- que 71% deles utilizam esse recurso Lucimar Barbosa Motta (lugalll@yahoo.com.br),
cação da fase em que se encontra o como a estratégia mais adequada doutora em Ciências Biológicas, é pesquisadora
do IB-USP. Fungyi Chow7,8* (fchow@ib.usp.br),
DNA precipitado, contribuindo assim ao ensino de Ciências. Entretanto, doutora em Ciências Biológicas, é docente e
para uma correta interpretação dos uma das maiores indagações dos pesquisadora co IB-USP.

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mida? Vamos extrair DNA da banana!!! ______. DNA your onions? Disponível ensino de botânica. Revista Educação. v.
Disponível em <http://www.itqb.unl.pt/ em: <http://www.ncbe.reading.ac.uk/ 31, p. 67-80, 2006.

Abstract: Extraction of plant dna: what we are teaching in classroom? Vegetable material as DNA source has been widely used in laboratory exercises for high-school and undergrad students. This
paper aims to discuss important aspects related to practical problems of both isolation and identification of DNA obtained from plants during Science and or Biology classes. Based on questionnaire
answers from teachers of basic and high-school, we detected a severe difficulty related to identification of pectin layer and real DNA. Several points concerning to the correct discernment between
DNA and pectin, common components extracted by traditional protocols, are discussed.
Keywords: DNA extraction, plant DNA, pectins.

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Extração de DNA Vegetal Vol. 33, N° 1, FEVEREIRO 2011

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