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Microbiologia

Ambiental
Prof.a Louise Cristine Franzoi

Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:
Prof. Louise Cristine Franzoi
a

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

F837m

Franzoi, Louise Cristine

Microbiologia ambiental. / Louise Cristine Franzoi. – Indaial:


UNIASSELVI, 2021.

257 p.; il.

ISBN 978-65-5663-477-7
ISBN Digital 978-65-5663-478-4

1. Microbiologia. – Brasil. 2. Meio ambiente. – Brasil. II. Centro


Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 576

Impresso por:
Apresentação
Bem-vindos aos nossos estudos referentes à disciplina de
Microbiologia Ambiental! Nossa maravilhosa viagem por esta área tão
interessante se dá, primeiramente, no aprofundamento da unidade básica
da vida: a célula. Desse modo, por meio dos conhecimentos da Biologia
Celular, é possível estudar/pesquisar os seres comumente conhecidos por
“micróbios”. Veremos a importância desses seres diminutos na manutenção
da nossa saúde e na ocorrência de doenças, a exemplo das patologias de
veiculação hídrica.

Podemos aferir, então, que a Microbiologia Ambiental se constitui


no campo de interação entre as ciências ambientais e o estudo dos
microrganismos (MO) e as interações com o solo, a água e o ar, além da
identificação de MO, considerados indicadores ambientais ligados à questão da
poluição, temática contemplada na Unidade 2. Nesse sentido, por meio das
metodologias de análises disponíveis, é possível estudar a qualidade desses
diferentes ambientes, objetivando o estabelecimento de protocolos e de
políticas públicas que visem à qualidade ambiental adequada para a espécie
humana e para o ecossistema.

Não paramos por aí! A partir desses conhecimentos, é possível


delinear estratégias de intervenção que minimizem os impactos ambientais
negativos decorrentes das ações antrópicas nos ambientes. Podemos citar,
como exemplo, os sistemas de tratamento de efluentes líquidos domésticos
e industriais. Essas técnicas empregam os processos biológicos utilizados
pelos MO, na remoção da matéria orgânica, além de outros compostos,
para que esses materiais tratados possam ser dispostos nos corpos hídricos
em consonância com os padrões estabelecidos pela legislação. Esse é
o foco da nossa Unidade 3, que também abordará aspectos relativos à
biorremediação e à importância na limpeza/descontaminação de solos e de
águas contaminados.
.
Na Unidade 3, trataremos a respeito dos principais instrumentos
da legislação ambiental brasileira ligados à microbiologia da água, do solo
e do ar, com destaque para os padrões de potabilidade e balneabilidade
dos recursos hídricos. Afinal, esses dispositivos legais e o cumprimento
contribuem para a conservação dos recursos naturais e para uma gestão
ambiental pública e privada, que promova a sustentabilidade ambiental.

 Bons estudos!

Prof.a Louise Cristine Franzoi


NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA........................................................................... 1

TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA...................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 MICROBIOLOGIA: DEFINIÇÕES E ÁREAS DE ESTUDO........................................................ 3
3 EVOLUÇÃO DA MICROBIOLOGIA.............................................................................................. 8
4 MICRORGANISMOS: CONCEITOS FUNDAMENTAIS E PRINCIPAIS GRUPOS.......... 11
5 MICROSCÓPIO: TIPOS E FINALIDADES.................................................................................. 16
5.1 MICROSCÓPIO ............................................................................................................................ 16
5.2 O MICROSCÓPIO ELETRÔNICO.............................................................................................. 19
6 BIOLOGIA CELULAR: UMA VISITA GUIADA......................................................................... 22
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 24
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 27
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 28

TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA.......................................................... 29


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 29
2 MICROBIOLOGIA AMBIENTAL: CONCEITOS........................................................................ 29
2.1 A MICROBIOTA HUMANA........................................................................................................ 31
2.2 MICRORGANISMOS CAUSADORES DE DOENÇAS NA ESPÉCIE HUMANA.............. 34
3 MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS............................................. 42
3.1 AS BACTÉRIAS.............................................................................................................................. 42
3.1.1 Bactérias gram-positivas e gram-negativas...................................................................... 47
3.1.2 A parede celular das arqueobactérias (arqueas).............................................................. 50
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 53
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 56
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 57

TÓPICO 3 — REPRODUÇÃO E FATORES DE CRESCIMENTO MICROBIANO................. 59


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 59
2 REPRODUÇÃO CELULAR BACTERIANA.................................................................................. 59
2.1 OUTROS TIPOS DE REPRODUÇÃO BACTERIANA............................................................. 63
3 FATORES QUE INTERFEREM NO CRESCIMENTO MICROBIANO................................... 68
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 78
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 79
REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 81

UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS................... 87

TÓPICO 1 — MEIOS DE CULTURA MICROBIANA E MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO......89


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 89
2 MEIOS DE CULTURA MICROBIANA.......................................................................................... 89
3 EQUIPAMENTOS ESSENCIAIS À ROTINA DE UM LABORATÓRIO DE
MICROBIOLOGIA............................................................................................................................ 93
4 TÉCNICAS DE SEMEADURA E MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO DE
POPULAÇÕES MICROBIANAS..................................................................................................... 99
4.1 CONTAGEM EM PLACAS........................................................................................................ 102
4.2 TÉCNICA DE TUBOS MÚLTIPLOS (NMP)............................................................................ 106
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 114
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 115

TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA............................................................................... 117


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 117
2 A QUESTÃO DO SANEAMENTO BÁSICO.............................................................................. 117
2.1 FLORAÇÕES DE ESPÉCIES DE CIANOBACTÉRIAS E CONSEQUÊNCIAS................... 123
2.2 DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS...................................................................................... 125
2.3 DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS............................................................................ 127
2.4 DOENÇAS CAUSADAS POR FUNGOS.................................................................................. 129
2.5 DOENÇAS CAUSADAS POR PROTOZOÁRIOS................................................................... 131
2.6 DOENÇAS CAUSADAS POR HELMINTOS.......................................................................... 132
3 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA............................................................................... 133
3.1 TÉCNICA DE TUBOS MÚLTIPLOS......................................................................................... 134
3.2 TÉCNICA COLILERT®.................................................................................................................................................................................................... 136
3.3 CONTAGEM DE BACTÉRIAS HETEROTRÓFICAS............................................................. 139
3.4 DENSIDADE DE CIANOBACTÉRIAS..................................................................................... 141
3.5 AVALIAÇÃO DE CRYPTOSPORIDIUM E DE GYARDIA.................................................... 144
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 149
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 153
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 155

TÓPICO 3 — MICROBIOLOGIA DO SOLO E MICROBIOLOGIA DO AR......................... 157


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 157
2 MICROBIOLOGIA DO SOLO...................................................................................................... 157
2.1 COMPOSIÇÃO DA MICROBIOTA EXISTENTE NO SOLO................................................ 157
2.2 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DO SOLO...................................... 162
3 MICROBIOLOGIA DO AR............................................................................................................ 167
3.1 AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DO AR............................................................................. 169
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 171
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 174
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 175
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 176

UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E


LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL............... 183

TÓPICO 1 — TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS..................................................... 185


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 185
2 PARÂMETROS ENVOLVIDOS NO TRATAMENTO BIOLÓGICO DE
EFLUENTES DOMÉSTICOS......................................................................................................... 187
3 MICRORGANISMOS ENVOLVIDOS NO TRATAMENTO BIOLÓGICO DE
EFLUENTES LÍQUIDOS................................................................................................................. 190
4 LODOS ATIVADOS......................................................................................................................... 195
4.1 PROCESSOS ANAERÓBIOS...................................................................................................... 197
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 206
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 208
TÓPICO 2 — BIORREMEDIAÇÃO: FUNDAMENTOS E EXEMPLOS PRÁTICOS...............211
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 211
2 CONCEITOS DE BIORREMEDIAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO................................................ 211
3 MICRORGANISMOS EMPREGADOS NO PROCESSO DE BIORREMEDIAÇÃO......... 216
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 229
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 230

TÓPICO 3 — LEGISLAÇÃO AMBIENTAL APLICADA............................................................. 231


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 231
2 LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA DA ÁGUA.............................................. 231
3 LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA DO SOLO............................................... 242
4 LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA DO AR..................................................... 244
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 246
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 249
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 250
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 253
UNIDADE 1 —

NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• estudar os principais conceitos da microbiologia e as diferentes áreas de


estudo;

• observar que todos os organismos (com exceção dos vírus), são formados
por uma ou mais células, sendo, a célula, a unidade básica da vida;

• verificar a aplicação da microbiologia ambiental à saúde e ao bem-estar


antrópicos dentro do contexto ambiental;

• analisar a importância dos microrganismos à saúde humana, além da


capacidade de alguns de causarem doenças aos seres humanos;

• identificar os mecanismos de reprodução bacteriana e os fatores que


influenciam no crescimento das bactérias e de outros microrganismos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade será dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA

TÓPICO 2 – MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA

TÓPICO 3 – REPRODUÇÃO E FATORES DE CRESCIMENTO


MICROBIANO

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA

1 INTRODUÇÃO
Iniciamos nossos estudos definindo o termo microbiologia e as diferentes
áreas dessa ciência tão fascinante, porém, entendemos que a microbiologia é uma
ciência que apresenta relação com outras áreas, a exemplo da biologia celular,
pois se debruça sobre o conhecimento desta para estudar os seres comumente
denominados de “micróbios”.

De forma que possamos adentrar nos estudos referentes à disciplina de


Microbiologia Ambiental, é necessário definir alguns conceitos essenciais a partir
do espectro da teoria celular e dos desdobramentos.

2 MICROBIOLOGIA: DEFINIÇÕES E ÁREAS DE ESTUDO


Ao esmiuçarmos o termo microbiologia, temos a seguinte caracterização:
mikros = pequeno; bios = vida; logos = estudo. A partir desse foco, podemos conhecer
alguns conceitos trazidos por autores da área. Vamos lá?!

O termo microbiologia é empregado para definir a ciência que estuda os


microrganismos, um grande e diverso grupo de organismos microscópicos que
podem ser encontrados em células únicas ou em agrupamentos celulares.

É uma ciência dedicada à “forma, à estrutura, à reprodução, à fisiologia,


ao metabolismo e à identificação dos microrganismos. Assim, a microbiologia
envolve o estudo de organismos procariotos (bactérias, archaeas) e eucariotos
inferiores (algas, protozoários)” (VIEIRA; FERNANDES, 2012, p. 11).

Área da ciência que se ocupa em estudar os microrganismos e as


atividades, pois

preocupa-se com a forma, a estrutura, a reprodução, a fisiologia, o


metabolismo e a identificação dos seres microscópicos. Inclui o estudo
da distribuição natural, relações recíprocas e com os outros seres vivos,
efeitos benéficos e prejudiciais sobre os homens e as alterações físicas e
químicas provocadas no meio ambiente (PARUSSOLO, 2020, p. 3).

3
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

Interessante, não é mesmo?! A partir desses conceitos, podemos evidenciar


que, em grande parte, a microbiologia trata dos organismos microscópicos
unicelulares. Nas assim chamadas formas superiores de vida (por exemplo, a
espécie humana, homo sapiens), os organismos são compostos de inúmeras células
(pluricelulares), que compõem tecidos altamente especializados e órgãos destinados
a exercer funções específicas. Nos indivíduos unicelulares, como o próprio nome já
diz, todos os processos vitais são realizados em uma única célula (unicelular).

Independentemente da complexidade de um organismo, a célula é, na


realidade, a unidade básica da vida (BOSSOLOAN, 2002). Cabe destacar que,
no campo de estudo da microbiologia, estão incluídos, também, vírus, seres
microscópicos de natureza acelular.

Observe a seguir e note a diferença entre organismos unicelulares e


pluricelulares:

FIGURA 1 – SERES UNICELULARES E PLURICELULARES

FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=8czePpvEgBU>. Acesso em: 29 jun. 2020.

4
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA

ATENCAO

Você já se perguntou: o que é uma célula? Pois bem, a célula se constitui


como unidade básica fundamental dos seres vivos. É uma entidade/estrutura separada das
outras células por uma membrana (e, certas vezes, por uma parede celular), contendo uma
diversidade de substâncias químicas e estruturas subcelulares no interior (MADIGAN et al.,
2010). Observe o exemplo esquemático de uma célula:

MODELO ESQUEMÁTICO DE UMA CÉLULA

FONTE: Adaptada de Carvalho (2020)

Sejam os organismos unicelulares ou pluricelulares, podemos apontar


que existe um nível organizacional entre os elementos que integram esses seres.

5
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

FIGURA 2 – ORGANIZAÇÃO BIOLÓGICA - EXEMPLO DA ESPÉCIE HUMANA

FONTE: <https://querobolsa.com.br/enem/biologia/niveis-de-organizacao-dos-seres-vivos>.
Acesso em: 29 maio 2020.

É importante destacar que o estudo da microbiologia pode ser dividido


em microbiologias básica e aplicada.

6
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA

QUADRO 1 – ÁREAS DA MICROBIOLOGIA

ÁREA FOCOS DE ESTUDO EXEMPLOS


Natureza e propriedades dos Morfologia, fisiologia,
microrganismos bioquímica etc.
Nutrição e condições de
Características fisiológicas
crescimento e de reprodução.
Obtenção de energia pelos
Atividades bioquímicas
microrganismos.
MICROBIOLOGIA Hereditariedade e variabilidade
Características genéticas
BÁSICA das características.
Microrganismos no ambiente e a
Características ecológicas
relação com outros organismos.
Capacidade de ocasionar
Potencial patogênico
doenças dos microrganismos.
Relação taxonômica entre os
Classificação
grupos de microrganismos.
MICROBIOLOGIA
FOCOS DE ESTUDO EXEMPLOS
APLICADA
Antibióticos, enzimas,
Emprego dos microrganismos biometalurgia (explora as
Microbiologia Industrial para síntese de substâncias atividades químicas de bactérias
químicas. para extrair minerais, como
cobre e ferro).
Utilização dos microrganismos Biodegradação e limpeza
Microbiologia Ambiental
como agentes. ambiental, controle de pragas etc.
Estudo dos microrganismos
Estudo do vírus Sars-CoV-2
Microbiologia Médica causadores de doenças e da
(novo coronavírus).
prevenção e controle.
Relacionada às doenças
Microbiologia dos transmitidas por alimentos, Queijos, bebidas (vinhos,
Alimentos controle de qualidade e cervejas), pães etc.
produção de alimentos.

FONTE: Adaptado de Bossolan (2002) e Vieira e Fernandes (2012)

Obviamente que, neste livro didático, focaremos nossas atenções nos


estudos referentes à Microbiologia Ambiental e aos desdobramentos, porém,
é fundamental que tenhamos ciência da infinidade de áreas e de aplicações da
microbiologia em diferentes segmentos da ciência e do cotidiano.

7
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

3 EVOLUÇÃO DA MICROBIOLOGIA
A microbiologia passou por inúmeros avanços ao longo dos anos, mas
um marco fundamental para que essa ciência tomasse os rumos atuais se deu
quando da invenção do primeiro microscópio, em 1674, pelo alemão Antony
Van Leeuwenhoek. O cientista empregou o pequeno instrumento para observar
pequenos seres, em amostras de solo, água, saliva e fezes, denominando de
“animálculos” (DIAS, 2020).

FIGURA 3 – O PRIMEIRO MICROSCÓPIO E O INVENTOR

FONTE: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S1676-24442009000200001>. Acesso em: 24 jun. 2020.

No mesmo ano, Leeuwenhoek redigiu várias cartas à sociedade real inglesa,


descrevendo os seres que ele observava por meio do pequeno microscópio. Essas
cartas possibilitaram o início da microbiologia em si, pois foram os documentos de
divulgação científica da época que fizeram com que a sociedade fosse informada
acerca da existências de seres microscópicos (DIAS, 2020).

Posteriormente, o microscópio primitivo de Leeuwenhoek foi aprimorado


por Robert Hooke (1635-1703), ganhando mais uma lente e a possibilidade de
ampliação de imagem ainda maior. Por consequência, as primeiras observações
de Hooke e os estudos de Leeuwenhoek levaram à descoberta das células.

A descoberta do microscópio e a constatação da existência dos


microrganismos fizeram com que a comunidade científica da época questionasse a
respeito da origem dos seres, o que levou ao surgimento das teorias da abiogênese
(geração espontânea) e da biogênese (CARVALHO, 2020).

8
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA

NOTA

Vamos conhecer os conceitos de abiogênese e de biogênese? A teoria


da biogênese (defendida por alguns cientistas), inclusive, Leuwenhoek, atestava que
as “sementes” das criaturas microscópicas estão sempre presentes no ar, de onde
ganham acesso aos materiais e ali crescem, desde que as condições sejam adequadas
ao desenvolvimento. A essa forma de multiplicação dos microrganismos, chamou-
se biogênese. Outros cientistas acreditavam que os microrganismos se formavam
espontaneamente, a partir da matéria orgânica em decomposição ou da putrefação. Essa
forma de multiplicação se chamou de abiogênese, que ficou conhecida como teoria da
geração espontânea (CARVALHO, 2020).

As ideias da abiogênese, ou teoria da geração, foram perdendo espaço a


partir de demonstrações científicas, como a do médico italiano Francesco Redi
(1626-1697). Demonstrou que as larvas encontradas na carne em putrefação
eram larvas de ovos de insetos, e não um produto da geração espontânea. No
experimento, Redi colocou um pedaço de carne em uma jarra coberta com gaze.
Atraídas pelo odor da carne, as moscas depositaram ovos sobre a cobertura, e,
destes, emergiram as larvas. Com isso, demonstrou que a vida se origina de outra
preexistente, refutando a teoria da abiogênese (CARVALHO, 2010).

FIGURA 4 – EXPERIMENTO DE FRANCESCO REDI

FONTE: <http://digitalizandoabiologia.weebly.com/a-origem-da-vida.html>. Acesso em: 24 jun. 2020.

9
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

A controvérsia teve fim quando, finalmente, o químico francês Louis


Pasteur (1822-1895) realizou um experimento, que também se tornaria famoso na
história da biologia. Este preparou um frasco com colo longo, estreito, em pescoço
de cisne. Colocou diversas infusões em balões de vidro, em contato com o ar. Em
seguida, alongou os pescoços dos balões na chama, de modo que fizessem várias
curvas. Ferveu os líquidos (caldo de carne) até que o vapor saísse livremente
das extremidades estreitas dos balões. Como resultado, verificou que, após o
arrefecimento (refrigeração) dos líquidos, estes permaneciam inalterados em odor
e em sabor. No entanto, não se apresentavam contaminados por microrganismos
(NÓBREGA; BOSSOLAN, 2017).

FIGURA 5 – EXPERIMENTO DE LOUIS PASTEUR

FONTE: <https://sites.google.com/site/biologiaparaoensinomedio/experimentos>.
Acesso em: 24 jun. 2020.

Legenda: note que o ar podia circular livremente por meio dos frascos abertos. Contudo,
nenhum microrganismo surgiu na solução. A poeira e os microrganismos se depositavam
na área sinuosa, em forma de V do tubo e, portanto, não atingiam o caldo.

10
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA

NOTA

Você já ouviu falar do processo de pasteurização? Pois bem, Pasteur descobriu


que, aquecendo o vinho a uma temperatura de 56oC, os organismos que alteravam o
gosto do vinho eram eliminados. Esse processo ficou conhecido como pasteurização, e,
ainda hoje, é amplamente empregado na indústria de alimentos, especialmente, como
processo de conservação do leite (NÓBREGA; BOSSOLAN, 2017).

O experimento de Pasteur demonstrou, finalmente, que a teoria de


geração espontânea estava equivocada. Podemos evidenciar, então, que a ciência é
construída a partir do trabalho de inúmeros cientistas em diferentes áreas, e que o
conhecimento científico está sob constante evolução. É fascinante, não é mesmo?!
Passemos, agora, ao estudo dos microrganismos em si. Sigamos em frente!

4 MICRORGANISMOS: CONCEITOS FUNDAMENTAIS E


PRINCIPAIS GRUPOS
Agora que estudamos as áreas de estudo da microbiologia e algumas das
suas particularidades, vamos nos aprofundar a respeito dos microrganismos em
si. Vamos lá?!

Invisíveis a olho nu, comumente conhecidos como “micróbios”, os


microrganismos são seres fascinantes, pois, além de hóspedes do nosso organismo,
estão presentes em todos os lugares e são parte fundamental à manutenção da vida
no planeta Terra. Seres de tamanhos microscópicos variados (vírus 1nm, bactérias
1µm e fungos 100µm de diâmetro). Contudo, alguns, em determinadas fases de
crescimento, atingem tamanho macroscópicos, a exemplo dos fungos, conhecidos
como cogumelos, que chegam a formar um falso tecido (NASCIMENTO, 2020).

Para melhor compreender nosso objeto de estudo, entenderemos algumas


das unidades de medida utilizadas no estudo da biologia em geral. Acompanhe:

11
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

QUADRO 2 – UNIDADES DE MEDIDA

UNIDADE EQUIVALÊNCIA MICROSCÓPIO


Milímetro (mm) 0,001 metro (m) Visível a olho nu
Micrômetro (µm) 0,001 milímetro Microscópio óptico
Nanômetro (nm) 0,001 µm Microscópio eletrônico
Angströn (Å) 0,1 nm Microscópio eletrônico

FONTE: <https://theamazingbiology.weebly.com/vestibular/archives/05-2013>.
Acesso em: 29 jun. 2020.

Para ter uma noção mais clara dessas dimensões, é importante que observe
as figuras a seguir:

FIGURA 6 – ESCALADA DE TAMANHO DOS ORGANISMOS

FONTE: <https://www.indagacao.com.br/2019/03/puc-rs-responda-questao-com-base-na-escala-
logaritimica-que-mostra-os-tamanhos-das-estruturas-e-organismos.html>. Acesso em: 29 jun. 2020.

Legenda: A = vírus; B = bactéria; C = célula eucariótica.

12
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA

FIGURA 7 - TAMANHOS E FORMAS RELATIVOS DOS ORGANISMOS

FONTE: <https://pt.slideshare.net/filho92/001-intoducao>. Acesso em: 29 jun. 2020.

Realmente, a diversidade da vida em formas e tamanhos é impressionante,


mas não paramos por aí. Surgiu um termo essencial ao andamento dos nossos
estudos: célula eucariótica. Para compreendê-lo, é preciso compará-lo com
outro tipo celular existente, a célula procariótica. Esses dois tipos de células se
diferenciam em algumas características.

As células procarióticas contam com uma estrutura relativamente


simples. Nela, o nucleoide (consiste em DNA bacteriano) não é delimitado por
uma membrana (carioteca), e se encontra disperso no citoplasma, ou seja, elas
não apresentam núcleo organizado ou verdadeiro. Nelas, a maior parte da célula é
formada por água, proteínas, íons e demais moléculas. Geralmente, medem de 1
a 2 µm. Podemos citar, como exemplo, as bactérias e as cianobactérias (LODISH
et al., 2014).

As células eucarióticas apresentam núcleo delimitado (organizado) por


membrana (a carioteca), armazenado o material genético (DNA). Além disso, esse
tipo celular conta com muitos compartimentos delimitados por membrana, ou
organelas. Comumente, essas células apresentam o tamanho entre 10 e 100 µm de
diâmetro. São formadas por células eucarióticas, todos representantes dos reinos
vegetal e animal, algas, além dos fungos (ex.: leveduras, bolores) e do protozoário,
seres exclusivamente unicelulares. Citam-se, como exemplo, os protozoários, as
algas, os fungos, os animais e os vegetais (LODISH et al., 2014).

13
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

ATENCAO

Qual é a característica definidora das células eucariótica e procariótica?

FIGURA 8 – CÉLULAS EUCARIÓTICA E PROCARIÓTICA

FONTE: <http://wesleibio.blogspot.com/2016/12/celulas-eucariontes-e-procariontes.html>.
Acesso em: 29 maio 2020.

Legenda: A – célula procariótica; B – célula eucariótica.

As células eucarióticas apresentam maior complexidade em estruturas


(organelas) quando comparadas às procarióticas, além da diferença de tamanho
existente. Note que um fibroblasto humano (célula que compõe o tecido
conjuntivo) conta com, aproximadamente, 15 µm de diâmetro, com volume e
peso secos de algumas milhares de vezes maiores em comparação a Escherichia
coli, uma bactéria intestinal comum (LODISH et al., 2014).

As células animais e vegetais apresentam diferenças e similaridades?


Na verdade, a célula eucariótica vegetal é, em grande parte, semelhante à célula
eucariótica animal. Contudo, a primeira conta com uma parede celular que
circunda a membrana plasmática, e duas organelas adicionais: os plastídios (o
cloroplasto é o tipo mais conhecido) e o vacúolo, que conferem característica
particular à célula vegetal (BIOLOGIA CELULAR, 2011).

14
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA

FIGURA 9 – CÉLULAS ANIMAL E VEGETAL - MODELOS ESQUEMÁTICOS

FONTE: <https://dicasdeciencias.com/2013/03/28/diferencas-entre-as-celulas-animal-e-vegetal/>;
<https://blog-mundo-biologia.blogspot.com/2016/01/estruturas-da-celula-vegetal.html>.
Acesso em: 28 maio 2020.

Legenda: A – Célula animal; B – Célula vegetal.

A seguir, será possível evidenciar as características dos principais grupos


de microrganismos, cujos conceitos que estudamos até o momento podem ser
observados.

QUADRO 3 – CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS GRUPOS DE MICRORGANISMOS

Microrganismos Características
Acelulares, menores e mais simples, em estrutura quando comparados às
bactérias; em geral, apresentam apenas um tipo de ácido nucléico (DNA ou
RNA), protegido por uma capa proteica. Podem se multiplicar apenas dentro
A. Vírus das células vivas, porém, poucos vírus de DNA, como o citomegalovírus e o
vírus da hepatite B, podem iniciar a síntese de moléculas de RNA enquanto
ainda estão se formando, de modo que a partícula viral contenha os dois tipos
de ácidos nucléicos (DNA e RNA).
B. Bactérias Procariontes, divididas em dois grupos: Eubactérias e Arqueobactérias.
Apresentam diversas formas (esférica, bastonete e espirilo). Aparecem isoladas
Eubactérias ou em formas de colônias. Variam de 0,2 – 5,0 μm. São unicelulares e algumas
apresentam flagelos.
São semelhantes às eubactérias, mas contam com diferenças importantes
Arqueobactérias
quanto à composição química Habitam ambientes extremos, como os de altas
(Arqueias)
concentrações salinas, os de acidez e os de temperatura.
Eucariontes, unicelulares, não apresentam parede celular rígida, não contêm
C. Protozoários clorofila. Alimentam-se por ingestão. Alguns se movem por meio de flagelos
ou de cílios, e são amplamente distribuídos na natureza.
Eucariontes, com parede celular rígida. Uni ou pluricelulares, não apresentam
D. Fungos clorofila. Alimentam-se por absorção. São conhecidos como bolores, leveduras
e cogumelos.

15
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

Bolores Fungos multicelulares e produzem estruturas filamentosas (hifas e micélios).


Fungos unicelulares e apresentam formas variadas (esférica à ovoide; elipsoide
Leveduras
a filamentosos).
Eucariontes apresentam clorofila (realizam fotossíntese) e podem ser uni
E. Algas ou pluricelulares. Contam com parede celular rígida e crescem em diversos
ambientes, mas a maioria é aquática.

FONTE: Vieria e Fernandes (2012, p. 17)

5 MICROSCÓPIO: TIPOS E FINALIDADES


Como já vimos anteriormente, o aprimoramento do microscópio e das
técnicas de utilização de corantes para visualizar as estruturas internas celulares
possibilitou, aos biólogos da época, examinarem micróbios e finas fatias (pedaços) de
tecidos de plantas e de animais (NÓBREGA; BOSSOLAN, 2017).

Vimos a importância do microscópio enquanto instrumento fundamental


para a rotina laboratorial, o que torna possível a observação de estruturas não
visíveis a olho nu. Dependendo do princípio no qual a ampliação é baseada, os
microscópios podem ser (VIEIRA; FERNANDES, 2012):

• Ópticos: utilizam dois sistemas de lentes, ocular e objetiva, por meio das quais a
imagem ampliada é obtida.
• Eletrônicos: utilizam um feixe de elétrons para gerar a imagem ampliada.
Empregados para observar células procarióticas e eucarióticas, detalhes
celulares e vírus.

5.1 MICROSCÓPIO
Apesar da grande variabilidade externa dos microscópios, os componentes
fundamentais são similares. O microscópio de luz é composto pelas partes
mecânica e óptica (BRANCALHÃO; CAVÉQUIA, 2020).

16
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA

FIGURA 10 – MICROSCÓPIO ÓPTICO

FONTE: <http://projetos.unioeste.br/projetos/microscopio/index.php?option=com_
phocagallery&view=category&id=76&Itemid=140>. Acesso em: 18 maio 2020.

Cada um dos números da figura representa uma das partes de um


microscópio óptico, conforme os autores Vieira e Fernandes (2012) e Brancalhão
e Cavéquia (2020):

• Componentes mecânicos:

1- Pé: sustenta o microscópio, conferindo estabilidade ao equipamento.


2- Braço ou coluna: haste vertical ou inclinável fixada à base. Sustenta o tubo do
microscópio e se articula com a base.
3- Canhão ou tubo: suporte cilíndrico da ocular. Permite a troca e a fixação das
objetivas.
4- Revólver ou porta-objetiva: local onde são fixadas as lentes (oculares e
objetivas).
5- Platina: mesa em miniatura que contém um orifício central destinado à
passagem de luz. Local onde se deposita a lâmina (com a preparação a ser
observada).
6- Parafuso macrométrico ou dos grandes deslocamentos: botão giratório que
possibilita movimentos amplos da platina em direção às objetivas (e vice-
versa). É útil na focalização inicial.
7- Parafuso micrométrico ou de focagem lenta: botão giratório que possibilita
movimentos mais delicados da platina. Útil no ajuste final de focalização da
lâmina, para focagens mais precisas.
8- Parafuso condensador: localizado na porção inferior da coluna, é destinado a
baixar e a levantar o condensador.

17
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

• Componentes ópticos – sistema de iluminação:

9- Fonte de luz: localizada na base do microscópio, fornece os raios luminosos.


10- Condensador: conjunto de lentes situado abaixo da platina que distribui,
regularmente, no campo visual do microscópio, a luz refletida pelo espelho
ou diretamente da fonte luminosa.
11- Filtros: fabricados com filtro colorido, destinam-se a absorver parte do
espectro da radiação luminosa.

• Componentes ópticos – sistema de observação:

12- Lentes oculares: aumentam a imagem recebida da objetiva.


13- Lentes objetivas: situadas próximas ao objeto, criam imagens real e invertida.
Estas podem oferecer aumentos de 10x, 20x, 40x, 100x. Existem as lentes
objetivas a seco (entre a lâmina e a objetiva, existe o ar) e as objetivas de
imersão, assim, coloca-se um tipo de óleo (óleo de imersão) nesse meio,
cujo objetivo é evitar a dispersão dos raios luminosos, além de possibilitar
a entrada de grande quantidade de luz na objetiva. As objetivas de 100x são
sempre de imersão.

NOTA

A objetiva de imersão, que fornece grande aumento, é muito empregada nos


laboratórios de microbiologia. Dessa forma, é preciso óleo de imersão para assegurar um
trajeto do raio luminoso opticamente homogêneo entre a lâmina e a lente objetiva. Depois do
uso, deve-se limpar as superfícies ópticas com papel absorvente, com um pouco de xilol,
pois restos de óleo podem danificar o sistema óptico do microscópio.

DICAS

Vamos conhecer o funcionamento do microscópio óptico (MO)? Para saber


mais, acesse https://www.youtube.com/watch?v=yLVh0HIdeSs.

A título de curiosidade, conforme a espécie de material que deseja ser


observada na amostra, os microscópios apresentam as seguintes tipologias:

18
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA

QUADRO 4 – COMPARATIVO ENTRE DIFERENTES TIPOS DE MICROSCÓPIOS

FONTE: Vieira e Fernandes (2012, p. 20)

Legenda: microscópios ópticos: campo claro; campo escuro; fluorescência; contraste de fase.

5.2 O MICROSCÓPIO ELETRÔNICO


O advento do microscópio eletrônico (ME) possibilitou a observação direta
de aspectos ultraestruturais das células até então desconhecidos. Por meio dessas
novas observações, a compreensão a respeito da organização dos tecidos vegetais
e animais foi enormemente ampliada, e muitas das nossas ideias a respeito da
construção e da função celulares foram radicalmente modificadas (GALLETI, 2003).

A utilidade do ME é enorme e oferece uma comprovação fotográfica de


organismos e características subcelulares. Os objetos de estudo da ME são os
mais diversificados: estudo ultraestrutural de células vegetais e animais, fungos,
bactérias, vírus, artrópodes, peças automotivas, papéis, exames de balística etc.,
ao passo que, na microscopia óptica, é utilizado um feixe de luz para visualizar
as estruturas (MICROSCOPIA ELETRÔNICA, 2012).

19
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

Na microscopia eletrônica, é empregado um feixe de elétrons, que sofre


refração através de lentes eletrônicos. O ME produz aumentos úteis de 200.000
a 400.000X, apresentando um poder de resolução 100 vezes maior quando
comparado ao microscópio óptico (GALLETI, 2003).

FIGURA 11 – BACTÉRIA ESCHERICHIA COLI VISTA NOS MICROSCÓPIOS ÓTICO E ELETRÔNICO

FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/364653/>. Acesso em: 28 maio 2020.

Legenda: à esquerda – observação a partir do MO (com coloração específica); à direita –


observação a partir do ME.

ATENCAO

Você sabia que existem dois tipos básicos de microscópios eletrônicos? Vamos
conhecê-los?

Um deles é o ME de Transmissão (MET). O feixe de elétrons atravessa


a célula (ou a organização molecular do vírus) e forma a imagem em uma
tela fluorescente, o que fornece detalhes de moléculas, organelas e estruturas
intracelulares. A capacidade de resolução é de até 300 mil vezes (GALETTI, 2003;
PLATAFORMA DE MICROSCOPIA ELETRÔNICA, 2020).

20
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA

FIGURA 12 – MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE TRANSMISSÃO

FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-BvrJc4FmSrE/UIa27tgr4OI/AAAAAAAAAC8/
rnWSWUnBHDA/s1600/5.jpg>; <http://www.fiocruz.br/ioc/cgi/cgilua.exe/sys/start.
htm?infoid=2514&sid=32&tpl=printerview>. Acesso em: 29 maio 2020.

Legenda: A – Microscópio Eletrônico de Transmissão (MET); B – Células do vírus Zika


(esferas escuras).

Com relação ao ME de Varredura (MEV), a geração de imagem é realizada


com os elétrons que varrem a superfície (topografia) das estruturas biológicas.
Dessa forma, o instrumento oferece uma imagem da superfície, com noções
de profundidade e de tridimensionalidade, com limite de resolução de 0,3
nm. Contudo, fornece pouca (ou nenhuma) informação da estrutura interna.
O poder separador não se iguala ao do microscópio de transmissão, embora
sejam adequadas muitas finalidades (GALETTI, 2003; PLATAFORMA DE
MICROSCOPIA ELETRÔNICA, 2020).

21
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

FIGURA 13 – MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA

FONTE: <http://ca.iq.usp.br/novo/paginas_view.php?idPagina=16>; <encurtador.com.br/xOX25>.


Acesso em: 29 maio 2020.

Legenda: A – MEV; B – Bactérias que formam a placa sobre os dentes.

Cabe destacar que o emprego de determinado instrumento, seja MO, MET


ou MEV, depende do objetivo do estudo (ou levantamento) a ser realizado, pois
este deve indicar que equipamento deve ser utilizado de forma que os resultados
esperados sejam atingidos.

DICAS

Vamos conhecer algumas imagens da microscopia eletrônica? Por meio do


atlas virtual, você poderá observar diversas células e estruturas celulares. Ficou curioso
(a)? Acesse o link e aprenda mais: http://www.drjastrow.de/WAI/EM/EMAtlas.html. Você
também pode acessar a biblioteca de imagens de células: http://cellimagelibrary.org/home.

6 BIOLOGIA CELULAR: UMA VISITA GUIADA


É hora de colocar em prática os conhecimentos adquiridos no Tópico 1.
Vamos lá?! De forma a tornar o nosso estudo mais interativo e dinâmico, existe
um recurso disponível de forma online. É possível navegar pelo maravilhoso
mundo da biologia celular, ciência básica do estudo da microbiologia.

Primeiramente, é necessário que você acesse http://www.celuladidatica.


ufpr.br/celulas-virtuais.php.

22
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA

A página é intitulada de “Células Virtuais”. Clique no link, “célula 3D


interativa”. Vamos, então, navegar e explorar a nossa célula virtual. Ao longo
do caminho, surgem alguns termos novos, de organelas celulares sob as quais
não nos aprofundamos neste tópico, mas não se assuste: o intuito desta atividade
é possibilitar que você se familiarize com as novas terminologias e reforce os
conteúdos já adquiridos.

Visualize a figura a seguir e conheça o início do nosso passeio virtual


pela célula:

FIGURA 14 – TELA INCIAL - CÉLULA 3D

FONTE: <http://3d.cl3ver.com/0MKDN>. Acesso em: 29 maio 2020.

Na parte superior da tela, é possível clicar nas diferentes estruturas


apresentadas, além de obter uma visualização e uma descrição do modelo
esquemático apresentado. A partir deste link, é possível conhecer as estruturas:
mitocôndria, centríolos, peroxissomo, Complexo de Golgi, membrana plasmática,
vesículas, núcleo, citoesqueleto, lisossomos, ribossomos e retículo endoplasmático.
Fascinante, não é mesmo?!

A partir dos conteúdos já trabalhados neste tópico e da nossa visita guiada


pelo interior celular, partimos para os estudos referentes ao Tópico 2. Vamos lá?!
Sigamos em frente!

23
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

LEITURA COMPLEMENTAR

Colocando a “mão na massa”. Acadêmico, para fixar os conteúdos deste


tópico, propomos o seguinte desafio: “esquematizando e modelando células com
imagens microscópicas reais”. Para tal atividade, você precisará de:

• Imagens de células (a seguir) ou de qualquer outra fonte.


• Papel transparente (manteiga, acetato ou transparência de retroprojetor,
plástico ou celofane).
• Caneta de retroprojetor.
• Lápis de cor.
• Materiais recicláveis diversos (tampas de garrafas pet, caixas de remédios
vazias etc.).
• Miçangas diversas ou bolas de amido (bolas de sagu/pérolas de tapioca).
• Massa plástica (massa de modelar).

Trata-se de criar o seu próprio modelo esquemático de uma célula a partir


das informações obtidas neste tópico ou de outras fontes (confiáveis) a serem
consultadas.

Procedimento: coloque uma folha transparente ou translúcida sobre


uma das imagens obtidas por você. Lembre-se de tentar circular, em cores
diferenciadas, todas as estruturas que conseguir identificar.

CÉLULA E DESENHO/MODELO ESQUEMÁTICO

FONTE: <http://www.fiocruz.br/ioc/media/comciencia_03.pdf>. Acesso em: 29 maio 2020.

Legenda: A – Imagem de uma célula (parte superior) e modelo esquemático construído.


B – Diferentes modelos esquemáticos elaborados.

24
TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA

Empregando uma das figuras disponíveis, você pode tentar recobrir


cada elemento presente na imagem com massa de modelar da mesma forma
e da mesma cor. Assim, você terá um modelo esquemático desenhado e outro
elaborado a partir da massa de modelar e/ou outros materiais. É indicado utilizar
a folha transparente como suporte (molde), de forma a não sujar a imagem de
fundo com a massa.

Figuras de células sugeridas para a realização da atividade:

CÉLULAS ANIMAIS (HEPATÓCITO) - VISTA SOB MET

FONTE: <http://www.fiocruz.br/ioc/media/comciencia_03.pdf>. Acesso em: 29 maio 2020.

BACTÉRIAS VISTAS SOB MET

FONTE: <http://www.fiocruz.br/ioc/media/comciencia_03.pdf>. Acesso em: 29 maio 2020.

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UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

CÉLULAS DE ELODEA VISTAS SOB MO

FONTE: <https://www.nikonsmallworld.com/galleries/2008-photomicrography-competition/
chloroplasts-in-the-leaf-cells-of-elodea-canadensis-canadian-waterweed>. Acesso em: 29 maio 2020.

Legenda: Células de Elodea canadensis (espécie de planta aquática).

FONTE: COM CIÊNCIA NA ESCOLA - LBC/IOC/FIOCRUZ. Esquematizando e modelando


células com imagens microscópicas reais. 2020. Disponível em: http://www.fiocruz.br/ioc/
media/comciencia_03.pdf. Acesso em: 3 maio 2020.

26
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A microbiologia é a ciência que se dedica ao estudo dos microrganismos, um


grande e diversificado conjunto de organismos microscópicos que pode ser
encontrado em células únicas ou em agrupamentos celulares. Divide-se em
microbiologia básica (ex.: atividades bioquímicas dos microrganismos) e
microbiologia aplicada (ex.: microbiologia ambiental – biodegradação).

• A célula é a unidade básica da vida e todos os seres vivos são constituídos


por células. Esses organismos podem ser unicelulares (ex.: protozoários) e
pluricelulares (ex.: plantas, animais etc.).

• É importante salientar que, no campo de estudo da microbiologia, estão


incluídos, também, os vírus, seres microscópicos de natureza acelular.

• Com a invenção do primeiro microscópio, pelo alemão Antony Van


Leeuwenhoek, no século XVII, a microbiologia tomou os rumos atuais, visto
que o equipamento possibilitou observar pequenos organismos, denominados
de “animálculos”.

• Em virtude do advento do microscópio, por meio da observação dos “pequenos


seres”, a comunidade científica da época indagou a respeito da origem desses
organismos, o que levou ao surgimento das teorias da abiogênese (geração
espontânea) e da biogênese (um ser vivo surge a partir de outro ser preexistente).

• Existem dois tipos celulares básicos: as células procarióticas (ex.: protozoários)


e as células eucarióticas (ex.: células que formam o organismo de plantas e de
animais). As células eucarióticas animais se diferenciam das células eucarióticas
vegetais, pois estas últimas aprestam as seguintes estruturas: parede celular,
plastídios e vacúolos.

• Para o estudo da microbiologia, é importante conhecer a escala de tamanho dos


organismos em geral em relação aos seres microscópicos e algumas unidades
de medida básicas: milímetro (mm), micrômetro (µm), nanômetro (nm) e
angströn (Å).

• As características dos principais grupos de microrganismos são vírus, bactérias


(eubactérias e arqueobactérias), protozoários, fungos (bolores e leveduras) e algas.

• Existem dois tipos de microscópio, o óptico e o eletrônico. Além disso, dois


tipos de ME: microscópio eletrônico de transmissão (MET) e microscópio
eletrônico de varredura (MEV). A utilização de um ou de mais equipamentos
depende do objetivo do estudo/pesquisa que se pretende efetuar.

27
AUTOATIVIDADE

1 Através deste tópico, identificamos a importância do conhecimento das


características básicas da célula para o estudo da microbiologia. Dessa
forma, a célula apresentada no nosso passeio virtual é:

a) ( ) Eucariótica.
b) ( ) Procariótica.
c) ( ) Probiótica.
d) ( ) Viral.

2 A invenção do microscópio foi um marco fundamental, que inaugurou


uma nova perspectiva ao estudo da célula em si. Atento a esse fato, um
meticuloso cientista desejava visualizar as organelas celulares da bactéria
E. coli. Para tal pesquisa, foi necessária a utilização do equipamento:

a) ( ) Microscópio óptico de fluorescência.


b) ( ) Microscópio eletrônico de transmissão.
c) ( ) Microscópio eletrônico de varredura.
d) ( ) Microscópio óptico de campo claro.

3 A importância de saber diferenciar os tipos de células e as particularidades


é primordial quando se aborda o estudo da célula. Dessa forma, visualize
atentamente as figuras a seguir:

PAREDE CELULAR CITOPLASMA

A B
NÚCLEO

FONTE: <https://www.thinglink.com/scene/1177118794502373377>; <https://carlosmout.


files.wordpress.com/2017/01/celula-animal.jpg>. Acesso em: 29 maio 2020.

As letras A e B indicam, respectivamente:


a) ( ) Célula vegetal e célula animal.
b) ( ) Célula vegetal e célula bacteriana.
c) ( ) Célula animal e partícula viral.
d) ( ) Célula de pele e célula vegetal.

28
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Chegamos aos nossos estudos referentes ao Tópico 2.
Primeiramente, traremos alguns conceitos atribuídos à microbiologia ambiental e
às subáreas correspondentes.

Em seguida, trataremos da importância dos microrganismos no organismo


humano, no que se refere aos MO que habitam, além daqueles causadores de
inúmeras doenças na espécie humana.

Posteriormente, abordaremos a classificação dos MO quanto à morfologia,


apresentando alguns exemplos existentes na tão vasta biodiversidade dos seres
microscópicos.

Finalmente, veremos um tipo de classificação corriqueiramente utilizado


nos laboratórios de microbiologia. Com base na composição da parede celular,
divide as bactérias em gram-positivas e gram-negativas.

Bons estudos!

2 MICROBIOLOGIA AMBIENTAL: CONCEITOS


Nesta etapa dos estudos, você já se questionou: mas onde a Microbiologia
Ambiental (MA), que, inclusive, nomeia este livro didático, encaixa-se no tão vasto
campo de estudo da microbiologia? Para entender a fundo tal campo de estudo, é
necessário conhecer alguns conceitos da Microbiologia Ambiental. Vamos lá?!

De acordo com a Sociedade Brasileira de Microbiologia (SBM), a


Microbiologia Ambiental é definida enquanto

uma área da ciência que se dedica ao estudo da fisiologia, genética,


interações e funções dos microrganismos no ambiente, e faz uso desse
conhecimento com o objetivo maior de manter a qualidade ambiental,
além de contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade
moderna (SBM, 2020, s.p.).

29
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

Outra definição é apresentada por Dalzoto e Pimentel (2020, s.p.), que


conceituam a Microbiologia Ambiental enquanto área dedicada ao “estudo dos
microrganismos e das atividades no ambiente para o entendimento do papel na
manutenção da biosfera e do uso potencial na remediação de locais que tenham
sido modificados”.

Nicolau (2014, p. 4) aponta que a “Microbiologia Ambiental é, geralmente,


definida como o estudo dos efeitos dos microrganismos aplicados ao ambiente, às
atividades humanas, saúde e bem-estar”.

Por fim, a Microbiologia Ambiental é a:

interface entre as ciências ambientais e a ecologia microbiana. Estuda


os microrganismos e as funções na condução de processos nos
sistemas naturais, e prioriza os efeitos provocados pela presença e
pela atividade desses no meio ambiente. Com os avanços da biologia
molecular, aumentou-se a habilidade de detectar, além de identificar
microrganismos e atividades no ambiente (MICROBIOLOGIA
AMBIENTAL, 2020, s.p.).

Por meio desses conceitos, podemos evidenciar que a Microbiologia


Ambiental integra parte do cenário científico mundial, como uma área de
estudos fundamental e inserida em diversos temas de grande importância, como
biorremediação, biocatálise, biocombustíveis, controle biológico, fertilizantes etc.

FIGURA 15 – ÁREAS DE ESTUDO DA MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

FONTE: <https://kasvi.com.br/microbiologia-ambiental-saude-humana-plantas-animais/>.
Acesso em: 24 maio 2020.

30
TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA

Podemos notar que a MA compreende diversas subáreas de elevada


importância, todas com o objetivo de manter a qualidade do meio ambiente, além
de contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade.

2.1 A MICROBIOTA HUMANA


Já verificamos o conceito de microrganismo e os grupos principais, mas
qual a importância desses seres microscópicos?

Bem, os microrganismos constituem a maior massa de matéria viva do


planeta Terra. Estes efetuam processos químicos necessários a outros organismos.
Caso não existissem, outras formas de vida não teriam surgido no planeta e não
se manteriam (RICOBELO, 2020).

O início dos estudos da microbiologia, aliado a doenças e à preocupação


com questões de saúde, contribuiu para que a primeira ideia ligada a esses
seres (micróbio, germe, bactéria) fosse, exclusivamente, a de agente causador de
doenças. Dessa forma, a presença desses diminutos organismos no corpo deve
ser constantemente lembrada (NÓBREGA; BOSSOLAN, 2017).

No organismo humano, encontra-se grande quantidade de microrganismos,


os quais se distribuem em diferentes órgãos e tecidos, podendo-se encontrar dez
vezes mais células microbianas do que células humanas (GONÇALVES, 2014
apud CHAVASCO et al., 2017).

FIGURA 16 – MICRORGANISMOS PRESENTES NO CORPO HUMANO

FONTE: <http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2011/03/bacterias-sao-fundamentais-para-o-
equilibrio-do-corpo-explica-medico.html>. Acesso em: 24 maio 2020.

31
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

Cabe destacar que a distribuição dos microrganismos depende de


inúmeros fatores, a exemplo de: umidade, acidez, temperatura e disponibilidade
de nutrientes. Esses microrganismos influenciam o sistema imunológico, a
resistência aos patógenos e o aproveitamento dos alimentos (GONÇALVES, 2004
apud CHAVASCO et al., 2017).

O primeiro contato do organismo humano com os microrganismos ocorre


logo no início da vida. Ao longo dos anos, somos progressivamente expostos
a diferentes quantidades, espécies e gêneros de MO. Dessa forma, como as
impressões digitais, não existem microbiomas idênticos entre si, isso porque,
além da herança genética, nossa microbiota é moldada por fatores externos.

Fatores, como dieta, estilo de vida, variáveis ambientais e comportamentais,


interferem diretamente na estrutura, diversidade e estabilidade da população de
microrganismos residente no corpo (CHONG; BLOOMFIELD; O’SULLIVAN,
2018; CONLON; AR, 2014 apud BIOMA 4ME, 2020). “Essas particularidades
passam pela melhoria do saneamento básico, urbanização, uso excessivo de
antibióticos, menor exposição a infeções na infância, vacinação, sedentarismo
etc.” (BERNSTEIN; SHANAHAN, 2008 apud CHAVASCO et al., 2017, p. 6).

Como já mencionado, sabe-se que muitos microrganismos podem ocasionar


doenças graves. Entretanto, existem aqueles que apresentam grande importância à
saúde humana. É o caso das bactérias, que integram a microflora intestinal.

ATENCAO

Você sabe a origem do termo “flora intestinal”? Pois bem, o termo “flora” se refere
aos vegetais. Já os microrganismos (MO) pertencem aos grupos protista e das bactérias, por
exemplo. Essa nomenclatura é devida ao fato de os MO terem sido classificados entre as
planas na taxonomia do sueco Carl von Linné (1707-1778), conhecido, também, como Lineu.
Inclusive, data, do século XVIII, a contribuição de Lineu ao desenvolvimento de um sistema
de classificação dos seres vivos, que atingiu uma aplicação universal e estabeleceu grande
parte dos grupos de animais e plantas aceitos até a atualidade (ARAÚJO; BOSSOLAN, 2006).

Para termos uma ideia da questão em números, no intestino de um adulto


saudável, podem ser encontradas mais de 1014 células bacterianas, distribuídas
em um elevado número de espécies diferentes (possivelmente, existem mais de
1.000 espécies bacterianas distintas no trato intestinal). A maioria dessas espécies
está agrupada nos gêneros Bifidobacterium, Clostridium, Eubacterium, Peptococcus,
Ruminococcus e Peptostreptococcus (OLIVEIRA; CARDOSO, 2020).

32
TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA

FIGURA 17 – A COMPOSIÇÃO DA MICROBIOTA INTESTINAL

FONTE: <https://www.biocodexmicrobiotainstitute.com/pt-pt/intestinal>. Acesso em: 24 maio 2020.

Em um laboratório, é possível criar animais livres de germes, os


chamados “germ-free”, sem nenhum contato com microrganismos, inclusive, no
trato digestivo. Ao se estabelecer uma comparação destes com outros “normais”,
chegou-se à conclusão de que as bactérias intestinais não são necessárias à
sobrevivência do hospedeiro. Entretanto, diversas diferenças foram observadas
nesses grupos, dentre elas, em animais livres de germes, foi possível evidenciar,
conforme Oliveira e Cardoso (2020):

• Anatomia do intestino: animais livres de germe têm o ceco (porção inicial do


intestino grosso) distendido, com uma mucosa mais fina e com renovação
celular mais lenta.
• Diferença na química do intestino grosso: os animais livres de germes não têm
muitas enzimas bacterianas, além de não metabolizarem os ácidos biliares.
• Diferença no sistema imune: a presença de microflora influencia na função dos
macrófagos (tipo de célula do sistema imune), na fagocitose (englobamento de
partículas sólidas pela célula), na produção de citocinas e na morte intracelular.

A questão da microflora intestinal é um importante e complexo exemplo


da importância dos microrganismos para a sobrevivência, estando intimamente
ligada a uma vida saudável.

33
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

NOTA

Citocinas são moléculas produzidas em resposta a microrganismos e a outros


antígenos, que medeiam e regulam reações imunológicas e inflamatórias. Já o antígeno
é o nome atribuído a qualquer substância que pode ser especificamente ligada a uma
molécula de anticorpo (proteínas que efetuam o reconhecimento de um antígeno).

2.2 MICRORGANISMOS CAUSADORES DE DOENÇAS NA


ESPÉCIE HUMANA
Acadêmico, com certeza, você já ouviu falar ou já vivenciou algum
caso de intoxicação ou infecção alimentar após a ocorrência de algum
evento ou reunião social (casamentos, festas de aniversário), não é mesmo?!
Primeiramente, é importante diferenciar os termos infecção e intoxicação
alimentar. Vamos conhecê-los?!

NOTA

A infecção alimentar é ocasionada por meio da ingestão de alimentos contendo


células viáveis de microrganismos patogênicos. Já a intoxicação alimentar é causada pela
ingestão de alimentos que contêm toxinas microbianas formadas (TEIXEIRA, 2020).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças transmitidas


por alimentos (DTA) são aquelas causadas pela ingestão de alimentos e/ou
água contaminados. Mais especificamente, são doenças de natureza infecciosa
geradas por ou através do consumo de alimentos ou água contaminados por
agentes biológicos, químicos e físicos (FIGUEIREDO et al., 2007 apud TEIXEIRA,
2020; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020).

Cabe salientar que, considera-se um surto de DTA, “quando duas ou mais


pessoas apresentam doença ou sintomas semelhantes após ingerirem alimentos e/
ou água da mesma origem, normalmente, em um mesmo local. Para doenças
de alta gravidade, como botulismo e cólera, apenas um caso já é considerado
surto” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020, s.p.).

34
TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA

As DTA são causadas por grupos de organismos, como bactérias, bolores,


leveduras, protozoários e vírus. Alimentos de procedência animal ou vegetal,
frescos e processados (a água está inclusa), ao serem contaminados por patógenos
e ingeridos, os MO, que geram doenças, invadem os fluídos ou os tecidos do
indivíduo infectado, ocasionando doenças ou perturbações fisiológicas, a exemplo
de vômitos, febre, diarreia e dores abdominais (TEIXEIRA, 2020). Quais os MO
principais, responsáveis pelas DTA?

QUADRO 5 – DTA ALIMENTARES E AGENTES CAUSADORES

AGENTE PRINCIPAIS ALIMENTOS MAIS SUSCETÍVEIS À


CAUSADOR SINTOMAS CONTAMINAÇÃO
Diarreias, febre, dores
abdominais e vômitos, Carnes bovinas, aves, suínos, ovos,
Salmonella
em média, doze a trinta e leite e vegetais crus.
seis horas
Febre até uma disenteria
e convulsões em criança
Shigella Ostras, camarão e leite.
com menos de quatro
anos
Diarreia, febre e dor Leite cru e pasteurizado, carnes, língua
Yersinia
abdominal suína e produtos de laticínios.
A EPEC é um importante
microrganismo causador
Escherichia: espécie de gastroenterite em
predominante crianças. Está associada Principal causa de diarreia
Escherichia coli habita, à capacidade de adesão bacteriana infantil, nos países em
normalmente, no às microvilosidades desenvolvimento ou em áreas de
intestino humano e do intestino, além da saneamento precário.
de alguns animais. destruição, provocando
diarreia, vômitos, febre
baixa
Resulta da contaminação do alimento
por um portador humano, pois a
manipulação é uma importante forma
Vômitos intensos,
de contaminação ou transferência
Staphylococcus aureus diarreia, dor abdominal,
de microrganismos de um alimento
febre e cefaleia
para outro. Está ligada às condições
higiênico-sanitárias dos próprios
manipuladores.
Produtos alimentares frescos (ex.:
Náuseas e vômitos no hortaliças e derivados de animais).
prazo de até seis horas Além disso, alimentos devem
após a ingestão do ser refrigerados após cozidos,
Bacillus cereus
alimento contaminado, pois esporos de B. cereus podem
ou quadros clínicos do sobreviver à fervura, germinando e
tipo diarreico se multiplicando rapidamente em
temperatura-ambiente.

35
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

Os rotavírus são eliminados em grande


quantidade nas fezes. São transmitidos
Doenças diarreicas
pela via fecal-oral, através de água,
agudas, atingindo
alimentos e objetos contaminados,
Rotavírus humanos e várias
por pessoa a pessoa e, provavelmente,
espécies de mamíferos
secreções respiratórias, mecanismos
e aves
que permitem a disseminação elevada
da doença.
Somente ocorre em seres humanos
e é encontrada no mundo inteiro. É
fácil de disseminar e muito comum
devido à fácil transmissão. São
Norovírus: principais encontrados nas fezes ou vômito de
Diarreia, vômitos e cólica
agentes virais pessoas infectadas. Podem passar para
estomacal
entéricos. os alimentos, água ou superfícies pelo
contato das mãos da pessoa infectada
que não realizar o procedimento de
lavagem das mãos adequadamente
lavadas após a utilização do banheiro.

FONTE: Adaptado de Informes Técnicos Institucionais (2004), Fiocruz (2011), Teixeira (2020) e
Ministério da Saúde (2020)

Legenda: EPEC (cepa – “tipo” de E.coli causadora de doença): E.coli enteropatogênica


clássica; Colite aguda: inflamação do intestino grosso; Cefaleia: dor de cabeça.

Vamos visualizar alguns desses MO?

FIGURA 18 – ESPÉCIES DE MO CAUSADORAS DE DOENÇAS OBSERVADAS AO MICROSCÓPIO

FONTE: <https://www.luciacangussu.bio.br/atlas/salmonella-spp/>; <http://www.laminas-lieder.com.


br/bacterias-jogo-basico-25-laminas-preparadas-para-microscopio-mg3000/staphylococcus-aureus-
organismo-do-pus/>; <https://www.stepwards.com/?page_id=16585>. Acesso em: 6 set. 2020.

Legenda: A – Salmonella enteritidis (uma espécie de Salmonella) vista sob ME; Demais


imagens vistas sob microscópio ótico; B – Shiguella sp; C – Staphylococcus aureus; D -
Bacillus cereus.
36
TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA

Ao observarmos, podemos notar um ponto importante, intimamente


ligado ao foco da nossa disciplina: as doenças de veiculação hídrica e a
importância da existência de saneamento básico de qualidade. Outro aspecto que
merece destaque é a relevância de lavar corretamente as mãos para que se evite a
disseminação de doenças.

Em termos financeiros, segundo dados da OPA Brasil, os alimentos não


seguros também geram dificuldades no desenvolvimento de muitas economias
de baixa e de média renda, geradas perdas de 95 bilhões de dólares (US$) em
produtividade associada à doença, incapacidade e morte prematura sofrida pelas
(os) trabalhadoras (es) (OPAS BRASIL, 2019).

Para as Américas, é estimado que 77 milhões de pessoas sofram um


episódio de DTA a cada ano, metade desse montante composto por crianças com
menos de cinco anos de idade. As informações disponíveis indicam que as
doenças transmitidas por alimentos geram de US$ 700 mil a 19 milhões em custos
anuais de saúde nos países do Caribe e mais de US$ 77 milhões nos Estados
Unidos (OPAS BRASIL, 2019).

No Brasil, a vigilância epidemiológica das DTA (VE-DTA) monitora


os surtos de DTA e os casos das doenças definidas em legislação
específica. De acordo com dados do Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (Sinan), são notificados, em média, por ano,
700 surtos de DTA, com envolvimento de 13 mil doentes e 10 óbitos
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020, s.p.).

TUROS
ESTUDOS FU

Acadêmico, utilizamos esse exemplo das DTA para demonstrar que as áreas
da microbiologia ambiental se complementam, além de apontarem a importância do
consumo de água e de alimentos de qualidade, para a saúde e o bem-estar humanos, além
dos prejuízos financeiros em decorrência das DTA e de outras enfermidades. Na Unidade
2, aprofundar-nos-emos nos estudos referentes à microbiologia da água e implicações.
Sigamos em frente.

Nesta etapa, você já deve ter percebido que as bactérias não são exatamente
iguais, pois apresentam, dentre outros aspectos, características morfológicas
diferenciadas.

Lembre-se: as bactérias são seres unicelulares, procariontes, não


apresentam organelas membranosas e podem ser encontradas vivendo de forma
isolada ou vivendo sob a forma de colônias. Então, podemos evidenciar que,

37
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

embora existam milhares de espécies de bactérias, estas podem ser agrupadas em


três tipos de morfologia geral: cocos, bacilos e formas espiraladas (CARVALHO,
2010; VIEIRA; FERNANDES, 2012). Vamos conhecer um pouco mais de cada
uma dessas morfologias?

• Cocos: células, em geral, arredondadas, mas podem apresentar forma ovoide


ou achatada em um dos lados quando estão aderidas a outras células. Quando
os cocos se dividem para se reproduzir, podem continuar unidos uns aos
outros, o que os classifica em:

QUADRO 6 – CLASSIFICAÇÃO DOS COCOS

ARRANJO DEFINIÇÃO EXEMPLO


Neisseria gonorrhoeae

Permanecem em pares
Diplococos
após a divisão.

FONTE: <https://microbenotes.com/habitat-and-
morphology-of-neisseria-gonorrhoeae/>.
Acesso em: 6 maio 2020.
Deinococcus radiodurans

Dividem-se em dois
planos e permanecem
Tétrades
em grupamentos de
quatro cocos.

FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=f_
o2iSXIi3I>. Acesso em: 6 maio 2020.
Sarcina sp.

Agrupamentos de
Sarcina oito cocos em forma
cúbica.

FONTE: <https://www.sciencedirect.com/science/
article/pii/S2214330014200897>. Acesso em: 6 out. 2020.

38
TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA

Streptococcus thermophilus

Sofrem divisão e
Estreptococos permanecem ligados
após esta.

FONTE: <https://microbewiki.kenyon.edu/index.php/
Streptococcus_thermophilus>. Acesso em: 6 out. 2020.
Staphylococcus aureus

Dividem-se em
múltiplos planos e
Estafilococos formam cachos. Essa
conformação lembra
os cachos de uva.

FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/
Staphylococcus_aureus>. Acesso em: 6 maio 2020.

FONTE: Adaptado de Carvalho (2010) e Vieira e Fernandes (2012)

• Bacilos (bastonetes): células de formato cilíndrico ou em formato de bastão.


Existem diferenças consideráveis em comprimento e largura entre as diversas
espécies de bacilos existentes. Existem alguns bacilos com porções terminais
quadradas, outras arredondadas e, ainda, outras afiladas ou pontiagudas.

QUADRO 7 – TIPOS DE BACILOS (BASTONETES)

ARRANJO EXEMPLO
Mycobacterium tuberculosis

Bacilo único

FONTE: <https://www.terra.com.br/noticias/tuberculose-e-doenca-
infecciosa-mais-mortal-do-mundo-diz-oms,9782305c502acf51e70c43b0f200
0512h88lom3e.html>. Acesso em: 4 maio 2020.

39
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

Bacillus subtilis

Diplobacilos

FONTE: <https://annarenatav3.wordpress.com/2011/04/04/bacteria-gram-
positiva-e-gram-negativa/>. Acesso em: 4 out. 2020.
Streptobacillus moniliformis

Estreptobacilos

FONTE: <https://link.springer.com/article/10.4056/sigs.48727>.
Acesso em: 4 out. 2020.
Chlamydia trachomatis

Cocobacilo

FONTE: <https://link.springer.com/article/10.4056/sigs.48727>.
Acesso em: 4 out. 2020.

FONTE: Adaptado de Carvalho (2010), Vieira e Fernandes (2012) e Barbosa, Gomes e Torres (2018)

• Formas espiraladas: caracterizadas por células em espiral ou helicoidal.

40
TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA

QUADRO 8 – TIPOS DE FORMAS ESPIRALADAS

ARRANJO DEFINIÇÃO EXEMPLO


Aquaspirillum itersonii

Apresentam corpo
celular rígido e se
Espirilos locomovem com o
auxílio de flagelos
externos.

FONTE: <https://quizlet.com/133442468/microbiology-
17-unknowns-dee-flash-cards/>.
Acesso em: 4 out. 2020.
Treponema pallidum

Flexíveis e realizam a
locomoção por meio
de contrações do
Espiroquetas citoplasma, podendo
realizar várias voltas
ao redor do próprio
eixo.
FONTE: <https://aia1317.fandom.com/pt-br/wiki/
Treponema_pallidum_e_s%C3%ADfilis>.
Acesso em: 4 out. 2020.
Vibrio Cholerae 

Unidade celular que


Vibrio tem semelhança com
uma vírgula.

FONTE: <https://microbeonline.com/vibrio-cholerae-
laboratory-diagnosis-confirmation/>.
Acesso em: 4 out. 2020.

FONTE: Adaptado de Carvalho (2010), Vieira e Fernandes (2012) e Barbosa, Gomes e Torres (2018)

41
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

3 MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS


É possível verificar que a MA não apresenta limites bem definidos a
respeito de quais grupos de microrganismos podem ser de grande interesse
quando se trata da área ambiental. Contudo, existe um consenso, nesse campo
da microbiologia, acerca da necessidade de compreender as comunidades e as
interações entre microrganismos, além do modo como as populações microbianas
podem ser compreendidas no equilíbrio sistêmico (ROCHA, 2020).

Neste tópico, realizaremos um estudo mais aprofundado dos domínios


Bacteria (bactérias) e Archea (arqueobactérias), dentre os quais estão importantes
grupos de microrganismos associados a ciclos biogeoquímicos e processos
ambientais de interesses antrópicos (ROCHA, 2020).

3.1 AS BACTÉRIAS
As bactérias possuem grande capacidade adaptativa a diversos habitat
que, com o potencial metabólico diversificado, conferem, a esse grupo, uma
importância ímpar para a microbiologia ambiental (ROCHA, 2020).

ATENCAO

Você já ouviu falar do termo habitat? Trata-se da área de ocorrência de um


organismo, dentro de um certo limite físico, um espaço definido. A dimensão de um habitat
pode ser variável e depende do organismo analisado. Para a bactéria E.coli, o habitat pode
ser o trato gastrointestinal de humanos, por exemplo. Já o habitat de um peixe pode ser
uma área de um rio (ECOLOGIA BÁSICA, 2020).

Uma estrutura presente nas células bacterianas fundamental aos nossos


estudos é a parede celular. Esta confere proteção e suporte celular. Também é
responsável por reduzir o estresse mecânico da célula em condições ambientais
desfavoráveis, o que garante a manutenção da estrutura e do volume celular
(WOESE; KANDLER; WHEELIS, 1990 apud ROCHA, 2020). Composta, dentre
outras substâncias, por um complexo macromolecular, conhecido como
mucocomplexo (também chamado de peptidoglicano, mureína, mucopeptídio
ou glicopeptídio) (NOGUEIRA; MIGUEL, 2020).

Graças à parede celular, as bactérias estão aptas a viver em ambientes


com a concentração de solutos extremamente inferior do que as do citoplasma,
sem sofrer lise (rompimento). Esse envoltório rígido confere resistência e limita o
aumento do volume ocasionado pela entrada de água, o que impede o rompimento
da membrana plasmática (BARBOSA; GOMES; TORRES, 2018).
42
TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA

NOTA

Para termos uma noção da resistência da parece celular, esta é capaz de


resistir à pressão de até 100 atm (CZONKA, 1989 apud ROCHA, 2020), o que equivale a
76000 mmgH! Incrível, não é mesmo?! A título de comparação, um mergulhador, sem
qualquer tipo de auxílio, consegue atingir a profundidade de até 30 m, com a pressão total
do ar de 4 atm (3040 mmgH).

Cabe salientar que nem todas as bactérias possuem parede celular.


Podemos citar, como exemplo, aquelas pertencentes ao gênero Mycoplasma,
cujas algumas espécies são parasitas. Considerados os menores microrganismos
de vida livre capazes de autorreplicação, essas bactérias têm predileção por
membranas serosas ou mucosas (RAZIN, 2006; CLAYDE, 1986 apud RIZZO et al.,
2011). Podemos citar a espécie M. pneumoniae, que coloniza o aparelho respiratório
humano, causando pneumonia, afetando, especialmente, pessoas com idades
entre os 8 e os 30 anos de idade (MICOPLASMAS, 2005).

FIGURA 19 – MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE MYCOPLASMA PNEUMONIE

FONTE: <https://www.cdc.gov/pneumonia/atypical/mycoplasma/hcp/disease-specifics.html>.
Acesso em: 9 maio 2020.

43
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

ATENCAO

A ausência de parede celular confere, ao gênero Mycoplasma, imunidade à


antibióticos (por exemplo, a penicilina), cujo mecanismo de ação está relacionado à inibição
da síntese da parede celular (BÉBÉAR; PEREYRE; PEUCHANT, 2011).

Sob a ótica da microbiologia ambiental, a parede celular tem importância


fundamental na formação de biofilmes. Estes são agregados altamente organizados
e unidos por uma matriz polimérica. Em um estudo realizado pelos autores
Bucher et al. (2015), ao pesquisarem a formação do biofilme pela bactéria Bacillus
subtilis (uma bactéria do solo), puderam verificar que a inibição da síntese de
compostos da parede celular (peptideoglicanos, por exemplo) ocasiona obstáculo
na formação do biofilme e fixação do agregado celular em uma superfície. A partir
desses resultados, os cientistas chegaram à conclusão de que a parede celular do
microrganismo gram-positivo está intimamente envolvida no desenvolvimento
e na sustentação de biofilmes do meio ambiente (BUCHNER et al., 2015 apud
ROCHA, 2020).

NOTA

O biofilme microbiano é definido enquanto uma associação de células


microbianas (uma ou mais espécies), fixas a superfícies, bióticas ou abióticas, recoberta
por uma complexa matriz extracelular de substâncias poliméricas (polímeros naturais
de elevado peso molecular secretados por microrganismos no ambiente). Os biofilmes
representam mais de 90% dos contaminantes presentes em sistemas aquosos, industriais,
clínicos e ambientais.

44
TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA

FIGURA 20 – ETAPAS DA FORMAÇÃO DE UM BIOFILME TÍPICO

FONTE: Stoodley et al. (2002) apud Oliveira e Cardoso (2020)

Legenda: Células plactônicas – células livres; EPS - matriz de polímeros extracelulares.


Essa matriz age como uma barreira física, impedindo que sanitizantes cheguem aos sítios
de ação, como a membrana de bactérias gram-positivas (ESPER, 2011).

Conforme a composição da parede celular, as bactérias podem ser


classificadas em dois grandes grupos: gram-positivas e gram-negativas. Essa
diferenciação é importante, pois possibilita diferenciar microrganismos a partir
de uma técnica de coloração simples, pautada em diferenças estruturais, que
apresentam, como resultado, comportamentos distintos frente a um processo
de coloração (ROCHA, 2020). Dessa forma, podemos aferir a diferenciação entre
bactérias gram-positivas e gram-negativas, pois a coloração de Gram se configura
na metodologia mais importante e mais empregada na atualidade, cuja finalidade
é a classificação de microrganismos com base nas características tintoriais,
tamanho, forma e arranjo celular.

45
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

FIGURA 21 – CLASSIFICAÇÃO BACTERIANA QUANTO À PRESENÇA/AUSÊNCIA E COMPOSIÇÃO


DA PAREDE CELULAR

FONTE: <https://www.ufjf.br/microbiologia/files/2013/05/Morfologia-Citologia-e-Fisiologia-
Bacteriana-ENF.pdf>. Acesso em: 9 maio 2020.

NOTA

Até a segunda metade do século XIX, quando as bactérias começaram a ser


propostas como causadoras de doenças humanas, observavam-se as bactérias apenas no
tocante à forma. Contudo, em 1884 (séc. XIX), um médico dinamarquês, Hans Christian
Gram, idealizou uma técnica de coloração que ficou conhecida como “coloração de Gram”
(MOREIRA; CARVALHO; FROTA, 2015).

HANS CHRISTIAM GRAM

FONTE: <http://micro-ifrj.blogspot.com/2019/05/a-biografia-de-hans-christian-gram.html>.
Acesso em: 9 maio 2020.

46
TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA

Assim, existe um método de coloração comumente empregado nos


laboratórios de microbiologia para diferenciar bactérias quanto à composição
química da parede celular. A seguir, estudaremos as características particulares
desses dois tipos de bactérias (gram-positivas e gram-negativas). Sigamos em frente!

3.1.1 Bactérias gram-positivas e gram-negativas


A parede celular das bactérias gram-positivas se caracteriza por uma
espessa camada de peptidoglicano (30-100 nm), também conhecido como
mureína ou mucopeptídeo, o que compensa a ausência de uma membrana
externa, presente apenas nas bactérias gram-negativas. Nestas últimas, a camada
de peptidoglicano é muito delgada (“fina”), mas com estrutura da parede celular
bem mais complexa do ponto de vista químico (MOREIRA; CARVALHO; FROTA,
2015; ROCHA, 2020). Observe dois desenhos esquemáticos comparativos. Note
a diferença de espessura na camada de peptideoglicano:

FIGURA 22 – BACTÉRIAS GRAM-POSITIVA E GRAM-NEGATIVA

FONTE: <https://pt.khanacademy.org/science/biology/bacteria-archaea/prokaryote-structure/a/
prokaryote-structure>. Acesso em: 9 maio 2020.

As bactérias gram-positivas contam com uma parede com várias


camadas de peptideoglicano (mureína), composta por subunidades alternadas
de N-acetilglicosamina (NAG) e N-acetilmurâmico (NAM). Essas moléculas
são ligadas, de forma cruzada, por tetrapeptídeos conferindo rigidez à parede.
Encontra-se, ainda, na parede, o ácido teicoico, constituído por um carboidrato
fosfato e um álcool (glicerol ou ribitol). A maioria dos cocos de importância clínica
(Staphylococcus, Streptococcus, Micrococcus, Enterococcus) é gram-positiva, exceto
Neisseria, Bordetella etc. (NASCIMENTO, 2020).

47
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

Além da composição, a parede celular de bactérias gram-positivas conta


com proteínas de superfície, que são importantes para se assegurar a adesão de
microrganismos em superfícies, passo essencial na colonização de ambientes e na
formação de biofilmes (CUCARELLA et al., 2001; CORRIGAN et al., 2007 apud
ROCHA, 2020).

Conforme já mencionado, a parede celular das bactérias gram-negativas


é mais complexa do que a parede das gram-positivas, pois apresenta uma
membrana externa cobrindo uma camada fina de peptideoglicano. Essa
membrana externa é constituída por fosfolipídeos, proteínas e lipopolissacarídeos
(LPSs) (BOSSOLAN, 2002).

A membrana externa bacteriana das gram-negativas apresenta


lipopolissacarídeos (LPS), fosfolipídeos e proteínas, além de ser uma estrutura
resistente e, em termos relativos, uma estrutura permeável. A principal finalidade
está ligada à ancoragem em superfícies de crescimento do biofilme ou adesão em
células animais por bactérias causadoras de doenças (ROCHA, 2020). Observe a
representação esquemática detalhada da parede celular de bactérias gram-negativas.

FIGURA 23 – PAREDE CELULAR DE BACTÉRIAS GRAM-POSITIVA E GRAM-NEGATIVA

FONTE: <https://blog.jaleko.com.br/como-e-feito-o-metodo-de-gram/>. Acesso em: 9 maio 2020.

ATENCAO

Acadêmico, não se assuste com os nomes das estruturas/compostos citados


ao longo do texto. Quando estes forem importantes ao entendimento dos conteúdos desta
disciplina, contarão com definições e exemplos que facilitarão o entendimento.

48
TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA

Qual o segredo da Coloração de Gram? Primeiramente, observe o método


propriamente dito a seguir:

FIGURA 24 – COLORAÇÃO DE GRAM

FONTE: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4269646/mod_resource/content/1/
Pr%C3%A1tica%204.pdf>. Acesso em: 9 maio 2020.

Observe a coloração das bactérias gram-positivas e gram-negativas ao fim


do procedimento de coloração de Gram.

FIGURA 25 – BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS

FONTE: <http://www.biomedicinaemacao.com.br/2015/08/coloracao-de-gram-microbiologia-
dia1.html>. Acesso em: 9 set. 2020.

Legenda: Gram-negativas: coram-se de vermelho (ou rosa); Gram-positivas: coram-se de


azul (ou roxo).

49
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

O princípio ou fundamento da técnica de Gram se baseia, obviamente, na


diferença da composição química da parede celular das bactérias e na ação do álcool
sobre a parede. A diferença na coloração depende da criação de uma barreira de
permeabilidade na bactéria gram-positiva, que acontece após o tratamento com
álcool, sendo que este desidrata a densa camada de peptideoglicano na bactéria
gram-positiva. Isso faz com que sejam criados pequenos poros que aprisionam
o complexo cristal violeta-iodo no interior celular. Já o tratamento com álcool na
gram-negativa gera um aumento da permeabilidade em virtude da extração de
lipídios da membrana externa (MOREIRA; CARVALHO; FROTA, 2015).

Outra teoria complementar se trata da lipossolubilidade dos constituintes


da parede celular bacteriana. As bactérias gram-negativas, por possuírem,
na composição, grandes lipídeos (formando a membrana externa), estes são
solubilizados quando expostos ao solvente orgânico, deixando extravasar todo
o corante que, ocasionalmente, tenha adentrado na célula bacteriana. As gram-
positivas, por não apresentarem lipídeos na composição, não sofrem essa ação.
Além disso, a solubilização dos lipídios, pertencentes à membrana externa,
facilita, ainda, mais o extravasamento do corante (das gram-negativas), tornando-
as incolor. Assim, para a evidenciação das bactérias gram-negativas, após a
etapa da diferenciação, utiliza-se um contracorante para facilitar a visualização
(MOREIRA; CARVALHO; FROTA, 2015).

3.1.2 A parede celular das arqueobactérias (arqueas)


As células de arqueobactérias também podem ser diferenciais pelo processo
de coloração de Gram, porém, as células gram-positivas e gram-negativas contam
com características peculiares. Arqueas Gram-positivas apresentam parede
celular composta por pseudopeptideoglicanos, ao passo que as Gram-negativas
não possuem parece celular ou membrana externa. No lugar dessas estruturas,
as arqueobactérias Gram-negativas possuem uma camada, denominada de
camada S, de grande espessura e ancorada aos lipídeos da membrana plasmática
(ROCHA, 2020; NOGUEIRA; MIGUEL, 2020).

As Gram-positivas também apresentam a camada S, mas esta conta com


espessura inferior, quando comparada às arqueas Gram-positivas, e ligada à camada
de pseudomureína. A camada S é fundamental na adesão dos microrganismos
em superfícies e entre indivíduos de uma colônia. Além disso, é essencial na
estabilidade dos biofilmes, fornecendo proteção e transporte de metabólitos às
células que formam a comunidade de microrganismos (ROCHA, 2020).

50
TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA

FIGURA 26 – CAMADAS S EM ARQUEOBACTÉRIAS

FONTE: Adaptada de Sleytr et al. (2014) apud Rocha (2020)

Outra característica interessante diz respeito aos lipídeos (mais


precisamente, os fosfolipídeos) presentes nas membranas de algumas espécies
de arqueobactérias, cuja composição química é diferente quando comparada
às bactérias de uma forma geral. Isso confere rigidez à estrutura da membrana
plasmática, característica vantajosa para microrganismos que se encontram
expostos a ambientes muito ácidos ou básicos (ROCHA, 2020).

Podemos citar, como exemplo, a arqueobactéria Ferroplasma acidiphilum,


encontrada em resíduos e em efluentes de mineração. Em virtude da estrutura
celular diferenciada, essa espécie apresenta as capacidades de sobreviver e de se
multiplicar em um ambiente com pH de 0 a 2 e com altas concentrações de ferro
e metais pesados (FERRER et al., 2007 apud ROCHA, 2020).

FIGURA 27 – FERROPLASMA ACIDIPHILUM

FONTE: <https://microbewiki.kenyon.edu/index.php/Ferroplasma>. Acesso em: 9 maio 2020.

51
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

Acadêmico, nesta etapa dos estudos, foi possível conhecer a importância


da aplicação da técnica de Coloração de Gram nos estudos bacteriológicos, pois
essa é uma das mais importantes metodologias empregadas em laboratórios
de microbiologia, sendo (quase sempre) a etapa inicial para a caracterização de
amostras de bactérias. Dessa forma, nossa leitura complementar é destinada a
essa técnica.

52
TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA

LEITURA COMPLEMENTAR

CONHECENDO A TÉCNICA DA COLORAÇÃO DE GRAM

1 – Primeiramente, é necessário que se efetue a preparação do esfregaço celular.


Para tal atividade, deve-se realizar o seguinte procedimento:

Limpar uma lâmina de vidro (passar algodão embebido em álcool). Quando


se tratar de uma cultura em meio líquido, com uma alça de inoculação (alça
bacteriológica), tomar uma pequena porção da cultura, observando as precauções
de assepsia, e colocá-la sobre a lâmina, espalhando-a para formar um esfregaço
fino e uniforme. Quando a cultura for em meio sólido, colocar uma gota de água
destilada sobre a lâmina e, com uma alça de inoculação, colher uma pequena
quantidade de crescimento bacteriano da superfície do ágar, além de suspendê-
la na gota de água destilada, espalhando suficientemente para obter um esfregaço
fino. Deixar a lâmina secar à temperatura-ambiente. Fixar na chama do Bico de
Bunsem, cortando a chama por 3x.

FONTE: <http://portal.virtual.ufpb.br/biologia/pdf/roteiro_AP_BIOLOGIA_DE_MICROORGANISMOS.pdf>.
Acesso em: 9 maio 2020.

PREPARAÇÃO DO ESFREGAÇO

FONTE: <encurtador.com.br/ckpyS>. Acesso em: 9 maio 2020.

53
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

2 – Iniciando o procedimento de coloração propriamente dito:

FONTE: <paginapessoal.utfpr.edu.br›at_download›. Acesso em: 9 maio 2020.

54
TÓPICO 2 — MICRORGANISMOS E A IMPORTÂNCIA

3 – Em resumo, o procedimento de Coloração de Gram pode ser explicado da


seguinte forma:

Soluções em ordem Reação do aspecto das Reação do aspecto das


de aplicação bactérias gram-positivas bactérias Gram-negativas
Cristal violeta Coradas em violeta Coradas em violeta
Formação do complexo CVI Formação do complexo CVI
Solução de Iugol no interior da célula, que no interior da célula, que
permanece violeta permanece violeta
Desidratação da parede
celular, diminuição Extração dos lipídeos da
da porosidade e da parede celular, aumento da
Álcool-acetona
permeabilidade; o complexo porosidade; o complexo CVI é
CVI não pode sair da célula, removido da célula
que permanece violeta
A célula não é afetada, A célula adquire o corante,
Fucsina ou safranina
permanece violeta tornando-se vermelha

FONTE: <http://docente.ifsc.edu.br/melissa.kayser/MaterialDidatico/Microbiologia/2.%20Colo-
ra%C3%A7%C3%A3o%20GRAM.pdf>. Acesso em: 9 maio 2020.

Legenda: CVI – complexo cristal violeta-iodo.

55
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A Microbiologia Ambiental (MA) é uma ciência que se ocupa em estudar os


efeitos dos microrganismos aplicados ao ambiente, às atividades humanas,
saúde e bem-estar. A MA engloba uma série de subáreas, a exemplo da
microbiologia do solo, da água, da qualidade do ar etc.

• No organismo humano, encontra-se grande quantidade de microrganismos, os


quais se distribuem em diferentes órgãos e tecidos, podendo-se encontrar dez
vezes mais células microbianas do que células humanas.

• Variáveis, como, dieta, estilo de vida, fatores ambientais e comportamentais


interferem diretamente na estrutura, diversidade e estabilidade da população de
microrganismos residente no corpo.

• A questão da microflora intestinal é um importante e complexo exemplo


da importância dos microrganismos para a nossa sobrevivência, estando
intimamente ligada a uma vida saudável.

• Existem os MO, causadores de doenças, a exemplo das doenças transmitidas


por alimentos (DTA), que podem causar sintomas. Dentre eles, os mais comuns
são náuseas, vômitos, dores abdominais, diarreia, falta de apetite e febre.

• Hábitos de higiene adequados e existência de saneamento básico de qualidade


são mecanismos eficazes de prevenção das DTA e das outras patologias.

• Conforme a morfologia, as bactérias podem ser agrupadas em cocos, bacilos


e formas espiraladas.

• A parede celular bacteriana permite que, por meio de coloração específica


(Coloração de Gram), sejam classificadas em gram-positivas e gram-negativas.
Além disso, a estrutura tem papel fundamental na formação de biofilmes.

• Existem bactérias que não apresentam parede celular. Podemos citar, como
exemplo, aquelas pertencentes ao gênero Mycoplasma.

• A estrutura celular diferenciada das archeobactérias permite, a estas, a


colonização de ambientes inóspitos, a exemplo dos resíduos e dos efluentes
de mineração, meio com pH extremamente ácido.

56
AUTOATIVIDADE

1 Na rotina de um laboratório de Microbiologia Ambiental, foi realizado o


procedimento de Coloração de Gram a partir de uma colônia de bactérias
obtida de um tubo de ensaio. Posteriormente, os técnicos, ao visualizarem
a lâmina no microscópio óptico, verificaram as seguintes características:
agregados de bactérias que lembram um formato de “cacho de uva”, na cor
violeta (roxa). Esse resultado levou os técnicos a concluírem se tratarem de:

a) ( ) Sarcinas – Gram-positivos.
b) ( ) Estafilococos - Gram-positivos.
c) ( ) Estafilococos - Gram-negativos.
d) ( ) Tétadres – Gram-negativos.

2 Com os resultados do primeiro levantamento em mãos (questão 1), os


técnicos foram à literatura da área pesquisar o motivo pelo qual as evidências
foram obtidas. Dessa forma, encontraram que a coloração obtida ocorreu
em virtude da seguinte característica:

a) ( ) Presença de membrana plasmática dupla.


b) ( ) Ausência de parede celular.
c) ( ) Parede de peptideoglicano mais delgada.
d) ( ) Parede de peptideoglicano mais espessa.

3 A técnica de Coloração de Gram é uma das metodologias empregadas,


em virtude da composição da parede celular bacteriana. Entretanto,
outros métodos são empregados para coloração de estruturas microbianas
específicas. Efetue uma pesquisa e disserte acerca de um desses métodos.

57
58
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

REPRODUÇÃO E FATORES DE CRESCIMENTO MICROBIANO

1 INTRODUÇÃO
Você já deve ter ouvido falar de que as bactérias se multiplicam em
ritmo acelerado, quando comparadas a outros organismos (por exemplo, uma
planta). Pois bem, neste tópico, aprofundaremos o interessante mecanismo de
reprodução bacteriana (fissão binária), além de outras maneiras com que esses
seres minúsculos transmitem a informação genética.

Estudaremos que existem variáveis (temperatura e pH, por exemplo) que


influenciam diretamente no crescimento das bactérias, além de outros MO, em
geral. Além disso, poderemos evidenciar que existem faixas de crescimento ótimo
observadas para os MO, conforme as características físico-químicas do meio em
que vivem ou são cultivados.

Ficou curioso? Sigamos em frente e bons estudos!

2 REPRODUÇÃO CELULAR BACTERIANA


Para que seja dada continuidade à espécie, todas as células (procarióticas
e eucarióticas) necessitam efetuar o processo denominado de divisão celular.
Nas bactérias, em geral, a reaprodução se dá por fissão binária ou cissiparidade.
Nesse processo, ocorre a replicação do cromossomo, e uma célula individual
(célula-mãe) se divide em duas. Em seguida, acontece a divisão do cromossomo
bacteriano, além do desenvolvimento da parede celular transversal (VIEIRA;
FERNANDES, 2012; ROCHA, 2020).

59
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

FIGURA 28 – REPRODUÇÃO CELULAR BACTERIANA

FONTE: <https://brainly.com.br/tarefa/17367698>. Acesso em: 9 maio 2020.

O tempo de reprodução (tempo de geração), período necessário para


duplicar uma célula bacteriana, geralmente, é de cerca de 20 minutos a uma hora.
Entretanto, existem espécies com tempos de geração superiores. Um exemplo
que podemos citar é a espécie Rhizobium japonicum, MO fixador de nitrogênio em
plantas leguminosas. O tempo de geração varia entre seis a oito horas (ROCHA,
2020; TODAR, 2005).

QUADRO 9 – TEMPOS DE GERAÇÃO DE ALGUMAS ESPÉCIES BACTERIANAS

Espécie de bactéria Tempo de geração em minutos


Escherichia coli 17
Bacillus megaterium 25
Staphylococcus aureus 27-30
Lactobacillus acidophilus 66-87
Rhizobium japonicum 344-461
Mycobacterium tuberculosis 792-932
Treponema pallidum 1980

FONTE: O autor

60
TÓPICO 3 — REPRODUÇÃO E FATORES DE CRESCIMENTO MICROBIANO

DICAS

Como foi possível medir o tempo de geração das espécies? De que maneira
podemos estudar esses MO em laboratório? Veremos, no decorrer deste tópico, as condições
necessárias à realização desses procedimentos! Para termos uma ideia da velocidade do
crescimento de uma bactéria típica, indicamos que você assista https://www.youtube.com/
watch?v=KIpcCyuypzg;https://www.youtube.com/watch?v=4grQSLmWXQk. Fascinante, não
é mesmo?!

As bactérias se reproduzem via progressão geométrica (n2). Desse modo,


a expressão é representada em logaritmo (log) do número de microrganismo
pelo tempo gasto para a multiplicação, isto é, crescimento exponencial, por haver
uma célula originando 2, que, por sua vez, originam 4, e assim sucessivamente
(CARVALHO, 2010). Nesse contexto, o tempo de geração coincide com o tempo
necessário para que a colônia duplique de tamanho (ROCHA, 2020).

O aumento é dependente de fatores relacionados ao meio em que o


microrganismo se encontra. Podemos citar, como exemplo, a fonte de carbono
utilizada, a disponibilidade de nutrientes e de vitaminas, além de fatores
abióticos, como temperatura, umidade, pH, pressão etc. (ISCHII et al., 2010 apud
ROCHA, 2020).

NOTA

Para a microbiologia, o termo crescimento é referido a um aumento do


número de células, e não ao aumento das dimensões celulares (VIEIRA; FERNANDES, 2012).

Cabe salientar a observação de que o comportamento da divisão


bacterina em cultivo (laboratorial) difere daquele que os MO apresentam no
habitat natural. Isso ocorre pois as bactérias possuem crescimento exponencial
apenas quando as condições do meio são favoráveis, ou quando as necessidades
dos MO são inteiramente atendidas. Nem sempre isso ocorre no habitat natural
(ROCHA, 2020).

Em contrapartida, em meios de cultura, o crescimento bacteriano segue


quatro fases de desenvolvimento bem definidas:

61
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

• Fase lag: caracterizada pela adaptação da célula do MO ao novo meio, seja


por meio da inoculação ou da contaminação (CARVALHO, 2010). Nesta fase,
as células estão ativas metabolicamente, sintetizando moléculas essenciais
(RNA, enzimas). Não estão em processo de divisão celular, mas podem
aumentar de tamanho, preparando o maquinário celular para a divisão
posterior (ROCHA, 2020).
• Fase log: fase na qual ocorre rápida divisão celular, na qual as bactérias crescem
com progressão geométrica. Trata-se de uma reta cuja inclinação depende
da velocidade de divisão das bactérias (VIEIRA; FERNANDES, 2012). Nesta
etapa, portanto, ocorrem a duplicação do material genético e o processo de
fissão binária (ROCHA, 2020).
• Fase estacionária: as células não se reproduzem indefinidamente, quando em
um meio de cultura limitado, pois os nutrientes se esgotam em algum momento.
Nesta etapa, entra-se na fase estacionária, quando há carência de nutrientes.
O número de mortes se iguala ao número de células produzidas, o que gera
o status de equilíbrio da população microbiana (VIEIRA; FERNANDES, 2012;
ROCHA, 2020).
• Fase de morte ou declínio: as bactérias passam a morrer a uma taxa mais
rápida quando comparadas à população de novas células.

A partir da observação a seguir, será possível evidenciar as fases do


crescimento bacteriano.

GRÁFICO 1 – CURVA DE CRESCIMENTO BACTERIANO EM MEIO DE CULTURA CONTROLADO

FONTE: <https://microimunoliga.blogspot.com/2016/09/curva-de-crescimento.html>.
Acesso em: 6 out. 2020.

62
TÓPICO 3 — REPRODUÇÃO E FATORES DE CRESCIMENTO MICROBIANO

NOTA

Cabe destacar que são poucos os MO capazes de crescer em cultivo. De


fato, mais de 90% dos MO presentes em uma amostra ambiental (ex.: de solo) não são
cultiváveis, devendo ser estudados com o emprego de outras técnicas analíticas (ROCHA,
2020), que estudaremos na Unidade 2.

2.1 OUTROS TIPOS DE REPRODUÇÃO BACTERIANA


A fissão binária não é a única maneira pela qual as bactérias se reproduzem.
Podem ocorrer, também, a esporulação e o brotamento.

Na esporulação, formas dormentes de células bacterinas são fabricadas por


determinadas espécies em caso de escassez de nutrientes. Os esporos contam com
uma fase latente (de repouso) celular. Essa conformação os torna extremamente
resistes a agentes químicos e físicos adversos, o que denota uma estratégia de
sobrevivência. O endósporo resiste até o momento em que as condições ambientais
melhorem. Muitos deles, inclusive, resistem à água fervente. Podem resistir à
radiação. Todas as bactérias dos gêneros Bacillus, Clostridium produzem esporos
(VIEIRA; FERNANDES, 2012), além do gênero Desulfotomaculum.

63
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

FIGURA 29 – ESPORULAÇÃO BACTERIANA

FONTE: Adaptada de Tortora (2011)

Já em condições adequadas, o esporo germina e origina a célula vegetativa,


voltando ao metabolismo normal (NASCIMENTO, 2020).

64
TÓPICO 3 — REPRODUÇÃO E FATORES DE CRESCIMENTO MICROBIANO

FIGURA 30 – ESPORO E CÉLULA VEGETATIVA

FONTE: <https://abccam.com.br/wp-content/uploads/2017/08/APRESENTA%C3%87%C3%83O-
DO-BIOLOGO-ALYSSON-LIRA-ANGELIM-PROBI%C3%93TICOS.pdf>. Acesso em: 6 maio 2020.

NOTA

As Bactérias Redutoras de Sulfato (BRS) são consideradas o principal grupo


de microrganismos envolvidos na formação de biofilmes e de biocorrosão de oleodutos,
causando inúmeros prejuízos econômicos relacionados à atividade metabólica na indústria
petroquímica. Desse modo, têm sido alvo de inúmeras pesquisas destinadas à mitigação dos
malefícios. Um exemplo a ser citado é a bactéria Desulfotomaculum nigrificans (LEÃO, 2009).

Entretanto, mesmo não havendo reprodução sexuada em bactérias,


pode haver troca de material genético entre estas, por meio dos processos de
transformação, conjugação e transdução (VIEIRA; FERNANDES, 2012).

• Transformação: descoberta de forma experimental, trata-se da absorção e da


posterior incorporação de fragmentos de DNA dispersos no meio, originários
da lise celular (maioria dos casos), ou da secreção realizada por bactérias ainda
vivas. Existindo compatibilidade entre as linhagens participantes, o fragmento
de DNA originário da célula (célula doadora) passa a integrar o material genético
65
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

da célula receptora, cujo material é transmitido aos descentes da etapa de


duplicação bacteriana. O processo de transformação tem sido útil na realização
do mapeamento de genes de bactérias competentes (capazes de efetuar a
incorporação), como a Bacillus subtilis, que também efetua, de forma eficiente, a
captação do DNA por meio da transdução, por exemplo (SANTOS, 2014).

FIGURA 31 – TRANSFORMAÇÃO BACTERIANA

FONTE: Adaptada de Santos (2014)

NOTA

A bactéria Bacillus subtilis é uma habitante natural do solo, capaz de sintetizar


antibióticos, enzimas e fitohormônios, que conferem benefícios para as plantas. Essa
espécie microbiana é descrita como rizobactéria promotora de crescimento de plantas
(RPCP) (ARAUJO, 2008).

• Transdução: ocorre quando moléculas de DNA são transferidas de uma


bactéria a outra, empregando os vírus, como vetores (bacteriófagos). Quando o
vetor entra em uma célula bacteriana, o DNA viral se mistura com uma parte
do DNA bacteriano, de forma que o vírus passa a carregar esse fragmento do
DNA. Caso o vírus infecte uma segunda bactéria, o DNA da primeira pode se
misturar ao DNA da segunda. Essa nova informação genética é, então, replicada
a cada nova divisão. O processo de engenharia genética ou tecnologia do DNA
recombinante também possibilita a recombinação genética nesses organismos
(VIEIRA; FERNANDES, 2012; SANTOS, 2014).

66
TÓPICO 3 — REPRODUÇÃO E FATORES DE CRESCIMENTO MICROBIANO

FIGURA 32 – TRANSDUÇÃO BACTERIANA

FONTE: Adaptada de Santos (2014)

• Conjugação: em uma mesma espécie bacteriana, existem linhagens distintas,


que diferem, de forma significativa, umas das outras. Essas alterações são
devidas à elevada taxa de mutação do genoma bacteriano e do mecanismo de
conjugação (ROCHA, 2020). Duas células bacterianas geneticamente diferentes
trocam DNA através do pelo sexual, o chamado pilus bacteriano (VIEIRA;
FERNANDES, 2012). Trata-se, então, de um processo de transferência direta
e horizontal de genes, através de uma ponte citoplasmática temporária (ponte
de conjugação). Essa ponte, criada pelas fímbrias de uma bactéria doadora
(“macho”) para uma receptora (“fêmea”), permite a troca de material genético
(SANTOS, 2014). Geralmente, a informação genética transferida confere algum
benefício evolutivo à célula que a recebeu. A conjugação pode proporcionar
resistência bacteriana aos antibióticos e a compostos tóxicos no meio.

FIGURA 33 – CONJUGAÇÃO BACTERIANA

FONTE: Adaptada de Santos (2014) e <https://ib.bioninja.com.au/standard-level/topic-3-


genetics/32-chromosomes/prokaryotic-genetics.html>. Acesso em: 6 maio 2020.

Legenda: à esquerda, modelo esquemático do processo de conjugação; à direita, encontra-


se uma micrografia de um pilus bacteriano.

67
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

NOTA

Diversos autores consideram a conjugação bacteriana uma forma de


reprodução sexuada. Contudo, deve-se ter cautela com essa denominação. Embora a
conjugação possa promover recombinação, que outros seres conseguem por meio da
reprodução sexuada, a conjugação bacteriana não gera novos organismos (SANTOS, 2014).

O processo de conjugação é empregado em aplicações biotecnológicas,


dado o fato de muitas células bacterianas serem capazes de transferir genes às
células eucarióticas (fungos, plantas, mamíferos), o que torna essa ferramenta um
poderoso recurso da engenharia genética (ROCHA, 2020).

Uma das aplicações que trata desse procedimento diz respeito à utilização
da bactéria Agrobacterium tumefaciens, para introdução da construção genética de
interesse no organismo-alvo, que pode ser uma planta, por exemplo, conferindo
resistência a pragas que assolam as plantações. Atualmente, mais de 90% dos
organismos geneticamente modificados (OGM) comerciais liberados utilizam
Agrobacterium como método de transformação (EMBRAPA, 2015).

3 FATORES QUE INTERFEREM NO CRESCIMENTO


MICROBIANO
Conforme estudamos, a disponibilidade de nutrientes é a principal
variável que limita o crescimento bacteriano, porém, outras variáveis são
consideradas limitantes ao crescimento das bactérias: temperatura, pH, pressão
osmótica (fatores/variáveis físicos), nutrição e disponibilidade de O2 (oxigênio),
que compõem os principais fatores químicos (VIEIRA; FERNANDES, 2012;
CAMARGO, 2019). Na sequência, aprofundaremos cada um desses fatores.

• Temperatura: certas bactérias crescem melhor em temperaturas baixas,


outras, em temperaturas intermediárias, e, outras, em temperaturas elevadas.
Destaca-se que a temperatura ótima de crescimento se trata daquela em que o
MO cresce de forma mais rápida. Quando as temperaturas são favoráveis ao
crescimento, o número de divisões celulares por hora (taxa de crescimento)
dobra para cada aumento de temperatura de 10°C. Desse modo, existem três
faixas de temperatura que devemos conhecer: mínima, ótima e máxima. Nesta
última, as enzimas sofrem danificação em virtude do calor, prejudicando o
crescimento bacteriano (VIEIRA; FERNANDES, 2012).

68
TÓPICO 3 — REPRODUÇÃO E FATORES DE CRESCIMENTO MICROBIANO

FIGURA 34 – TEMPERATURAS MÍNIMA, MÁXIMA E ÓTIMA ASSOCIADAS AO


CRESCIMENTO MICROBIANO

FONTE: Adaptada de Madigan et al. (2010)

Legenda: os valores reais podem sofrer variação significativa, conforme o MO analisado.

Conforme a temperatura de crescimento, podemos diferenciar três grupos


distintos de MO, de acordo com Camargo (2019):

• Microrganismos psicrófilos (crescem em baixas temperaturas): apresentam


a temperatura de multiplicação entre 0°C e 20°C, com ótimo entre 10°C e
15°C. São encontrados nas profundezas de oceanos e de regiões polares (algas
clorofíceas e diatomáceas).
• Microrganismos mesófilos: apresentam temperatura ótima de crescimento
entre 25 - 45°C. A maioria das bactérias cresce nessa condição.
• Microrganismos termófilos: possuem temperatura ótima de crescimento entre
45 - 80°C. Encontrados em fontes termais, camadas superiores de solos que
sofrem intensa radiação solar, esterco e silo em fermentação.
• Microrganismos hipertermófilos: capazes de sobreviver em temperaturas
muito elevadas, superiores a 80°C. São encontrados em fontes termais, como
as do Parque Yellowstone. Principalmente, membros de Archaea.

69
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

GRÁFICO 2 – CRESCIMENTO MICROBIANO EM DIFERENTES FAIXAS DE TEMPERATURA

FONTE: Adaptado de Madigan et al. (2010)

Legenda: a temperatura ótima para cada tipo de MO é apresentada no gráfico.

NOTA

Silo é o termo utilizado para definir o local construído onde são armazenados
os produtos agrícolas (ex.: soja, arroz).

• pH (potencial hidrogeniônico): com base na tolerância ao pH, os MO


podem ser classificados em neutrófilos acidófilos e alcalífilos. Geralmente, o
pH ótimo é estabelecido para cada espécie, porém, a maioria das espécies
bacterianas não cresce nos meios com pH acima ou inferior ao pH ótimo
(VIEIRA; FERNANDES, 2012).

70
TÓPICO 3 — REPRODUÇÃO E FATORES DE CRESCIMENTO MICROBIANO

FIGURA 35 – FAIXAS DE PH ÓTIMO E EXEMPLOS DE MO

FONTE: Adaptada de Madigan et al. (2010)

• Disponibilidade de O2: de acordo com a respiração, as bactérias podem ser


classificadas em aeróbias estritas ou obrigatórias (necessitam de O2 para
crescer), anaeróbias estritas ou obrigatórias (só crescem na ausência de O2),
microaerofílicas ou microarófilas (precisam de O2, mas em pressão inferior à
atmosférica) e anaeróbias facultativas ou aerotolerantes (crescem na presença
ou ausência de O2.

71
FIGURA 36 – EFEITO DO O2 SOBRE O CRESCIMENTO BACTERIANO

72
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA
FONTE: Adaptada de Madigan et al. (2010)
FIGURA 37 – RELAÇÕES DOS MO COM O O2

73
FONTE: <http://biologia.ifsc.usp.br/bio4/aula/aula06.pdf>. Acesso em: 6 maio 2020.

Legenda: as letras entre parênteses indicam o status filogenético (B. Bactéria; A. Archea). São conhecidos representantes de cada domínio dos
procariotos em todas as categorias. A maioria dos eucariotos é aeróbia obrigatória. São listados habitats típicos de cada exemplo de organismo,
embora outros poderiam ser listados.
TÓPICO 3 — REPRODUÇÃO E FATORES DE CRESCIMENTO MICROBIANO
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

• Pressão osmótica: os MO apresentam necessidades específicas de NaCl (cloreto


de sódio) ao crescimento ótimo. As bactérias, muitas vezes, apresentam a
capacidade de viver em meios hipotônicos (meios em que a concentração
de solutos é menor do que a própria concentração de solutos). Quando as
bactérias são transferidas para meios de concentração de soluto mais elevada
do que a do soluto interno, estas sofrem o fenômeno conhecido por plasmólise
(perda de água). Certas bactérias conseguem tolerar concentrações de sal
da ordem dos 10% e são chamadas de halófilas facultativas, e crescem em
meios com concentrações de sal de 15 a 20% e se chamam halófilas extremas
(MICROBIOLOGY, 2020). Desse modo, quanto a essa característica (pressão
osmótica), esses MO podem ser classificados em: não halófitos; halotolerantes,
halófitos ou halófitos extremos. Os microrganismos retiram, da água, a maioria
dos nutrientes solúveis (conteúdo celular 80 – 90% de água). A água presente
no interior da célula pode ser removida por elevações na pressão osmótica.
Lembrando que a correta pressão osmótica presente no meio de cultura é
fundamental para a sobrevivência celular.

GRÁFICO 3 – CLASSIFICAÇÃO DOS MO QUANTO À PRESSÃO OSMÓTICA

FONTE: Adaptado de Madigan et al. (2010)

Legenda: O gráfico ilustra o efeito da concentração do íon sódio no crescimento de


microrganismos com diferentes tolerâncias ou necessidades de sal.

74
TÓPICO 3 — REPRODUÇÃO E FATORES DE CRESCIMENTO MICROBIANO

Afinal, o que é pressão osmótica? Trata-se da pressão originada pela


diferença das concentrações de soluto dentro e fora de uma célula, assim, a água
passa para a solução mais concentrada no interior da célula, levando moléculas
pequenas de nutrientes. Esse influxo de água garante que a célula se mantenha
túrgida (inchada), ao passo que a ausência de água cause a perda da turgidez e a
célula fica desidratada (ATKINS; JONES, 2012).

FIGURA 38 – PRESSÃO OSMÓTICA E CÉLULA BACTERIANA

FONTE: <https://slideplayer.com/slide/7469943/>. Acesso em: 9 maio 2020.

Legenda: Plasma membrane: membrana plasmática; cell wall: parede celular; cytoplasm:
citoplasma. Figura à esquerda: denota uma célula normal em solução isotônica. Sob essas
condições, a concentração de soluto na célula é equivalente à concentração de soluto de
0,85% de NaCl. Já na figura da direita, ocorreu o fenômeno chamado de plasmólise celular.
No caso, a concentração de NaCl é maior no meio circundante quando comparada ao
interior celular. Consequentemente, a água tende a deixar a célula e o crescimento celular
é inibido.

• Fatores nutricionais: os MO podem ser agrupados em classes fisiológicas,


conforme a maneira com que obtém fontes de energia e carbono para a
realização dos processos vitais (VIEIRA; FERNANDES, 2012). Estes podem ser
classificados em (MACHADO, 2020):
◦ Autotróficos: empregam composto inorgânico como fonte de carbono.
Ex.: CO2.
◦ Heterotróficos: utilizam composto orgânico como fonte de carbono. Ex.:
carboidratos.
◦ Fototróficos: utilizam luz como fonte de energia.
◦ Quimiotróficos: utilizam compostos químicos (orgânicos ou inorgânicos)
como fonte de energia.

75
UNIDADE 1 — NOÇÕES DE MICROBIOLOGIA

FIGURA 39 – DIVERSIDADE METABÓLICA ENTRE OS MO

FONTE: <https://www.ufjf.br/microbiologia/files/2013/10/Fisiologia-e-crescimento-bacteriano-
BIO-e-BAC.pdf>. Acesso em: 9 maio 2020.

ATENCAO

Acadêmico, neste tópico, estudamos as formas de reprodução bacteriana, as


fases do crescimento microbiano, além dos diversos fatores que interferem no crescimento.
Inúmeros conceitos estão implicados nesses estudos. Portanto, sempre que apresentar
dúvidas, acesse os canais de comunicação já conhecidos: protocolo, Ferramenta Mensagem
e WhatsApp da UNIASSELVI.

76
TÓPICO 3 — REPRODUÇÃO E FATORES DE CRESCIMENTO MICROBIANO

DICAS

A descoberta nas fontes termais de Yellowstone, nos EUA, que se tornou chave
para os testes da covid-19

"Definitivamente vivo"

Thomas Brock anotou essas palavras há mais de 50 anos, em um dos cadernos


que levava nas investigações de campo em Yellowstone, nos Estados Unidos.

Era a década de 1960 e o cientista americano se referia a um dos organismos


incomuns que acabara de encontrar em uma das fontes termais do parque. Foi em
um desses mananciais que Brock descobriu uma bactéria adaptada à vida em altas
temperaturas, que ele chamou de Thermus aquaticus. A bactéria, hoje conhecida pelos
especialistas, acabaria revolucionando a biotecnologia e tornando possíveis os testes
PCR, as provas mais confiáveis usadas em todo o mundo para diagnosticar a covid-19,
causada pelo novo coronavírus.

O trabalho pioneiro de Brock acabou vinculado à pandemia do novo coronavírus,


por meio de uma sequência de episódios na história da ciência. Brock, hoje, com 90 anos,
sente-se orgulhoso ao pensar que a descoberta está ajudando a diagnosticar casos de
covid-19 e auxiliando no combate ao novo coronavírus.

"Eu sempre vi a minha descoberta como um bom modelo para estudar a biologia
molecular da vida em altas temperaturas", contou Brock, que é professor emérito de
Microbiologia na Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos.

Apesar de sempre considerar que o modelo tivesse importância para a ciência, o


estudioso confessa que nunca pensou que a descoberta fosse, um dia, ter um impacto tão
importante. "Não imaginava isso nem em um milhão de anos", revela por telefone à BBC
News Mundo (o serviço em espanhol da BBC), da sua casa em Wisconsin, nos EUA

Leia mais em MARTINS, A. A descoberta nas fontes termais de Yellowstone, nos


EUA, que se tornou chave para os testes da covid-19. 2020. Disponível em: https://www.
bbc.com/portuguese/brasil-52539425. Acesso em: 6 maio 2020.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

77
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Em geral, a reprodução das bactérias ocorre por fissão binária, também


chamada de cissiparidade. Ocorre a replicação do cromossomo e uma célula
individual (célula-mãe) se divide em duas. A reprodução bacteriana também
pode ocorrer via esporulação ou brotamento.

• As bactérias se reproduzem por progressão geométrica e, em laboratório, o


crescimento bacteriano segue quatro fases de desenvolvimento bem definidas:
fase lag; fase log; fase estacionária; e fase de morte ou declínio.

• Mesmo não ocorrendo reprodução sexuada em bactérias, podo haver troca


de material genético entre estas, por meio dos processos de transformação,
conjugação e transdução.

• O mecanismo de conjugação é utilizado em aplicações biotecnológicas, dado o


fato de muitas células bacterianas serem capazes de transferir genes às células
eucarióticas (fungos, plantas, mamíferos), o que torna essa ferramenta um
poderoso recurso da engenharia genética.

• Existem diversos fatores que inferem no crescimento microbiano. Estudamos


os principais: temperatura, pH, pressão osmótica (fatores/variáveis físicos),
nutrição e disponibilidade de O2 (oxigênio), que compõem os principais
fatores químicos.

• De acordo com a temperatura de crescimento, os MO podem ser classificados


em: psicrófilos, mesófilos, termófilos ou hipertermófilos.

• Já conforme a tolerância ao pH, podem ser agrupados em neutrófilos, acidófilos


ou alcalinos.

• Em virtude da dependência (maior/menor/ausência) de O2, as bactérias podem


ser classificadas em: aeróbias estritas ou obrigatórias, anaeróbias estritas ou
obrigatórias, microaerofílicas ou microarófilas, e anaeróbias facultativas ou
aerotolerantes.

• Quanto à característica de pressão osmótica, os MO podem ser classificados em


não halófitos, halotolerantes, halófitos ou halófitos extremos.

• Finalmente, verificamos que, conforme a forma com que os MO obtêm as fontes


de energia e carbono para realização dos processos vitais, estes podem ser
agrupados nas seguintes categorias: autotróficos, heterotróficos, fototróficos
ou quimiotróficos.
78
AUTOATIVIDADE

1 Acerca da reprodução das bactérias, leia atentamente a charge a seguir:

FONTE: <https://brainly.com.br/tarefa/26117382>. Acesso em: 6 maio 2020.

A charge em questão corresponde ao mecanismo de:


a) ( ) Fissão binária ou cissiparidade.
b) ( ) Reprodução sexuada.
c) ( ) Esporulação.
d) ( ) Brotamento.

2 Ao conduzir os experimentos em laboratório, um pesquisador, ao evidenciar


o crescimento bacteriano, confeccionou o seguinte gráfico:

79
FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/9da3cc0e-a0>.
Acesso em: 6 maio 2020.

As fases, retratadas pelos números 1, 2, 3 e 4 correspondem, respectivamente:


a) ( ) Fase estacionária, fase log, fase intercelular e fase de repouso.
b) ( ) Fase lag, fase log, fase estacionária e fase de morte celular.
c) ( ) Fase log, fase lag, fase estacionária e fase de morte celular.
d) ( ) Fase estacionária, fase lag, fase de declínio e fase de morte celular.

3 A bactéria Thermus aquaticus é uma espécie capaz de suportar temperaturas


elevadas, tendo com temperatura ótima para o crescimento o valor em torno
de 72 °C, sendo assim, ela é uma de várias bactérias ________________. Essa
bactéria é a fonte da enzima chamada de TAQ polimerase, uma enzima que
resiste a altas temperaturas sem perder sua forma e uma das mais importantes
enzimas na biologia molecular, devido à utilização na reação em cadeia da
polimerase (PCR), técnica de amplificação de DNA (MARTINS, 2020).

FONTE: MARTINS, A. A descoberta nas fontes termais de Yellowstone, nos EUA, que se
tornou chave para os testes da covid-19. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/por-
tuguese/brasil-52539425. Acesso em: 6 maio 2020.

Assinale a alternativa que preenche corretamente a lacuna:


a) ( ) Mesófilas.
b) ( ) Acidófilas.
c) ( ) Termófilas.
d) ( ) Psicrófilas.

80
REFERÊNCIAS
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SANTOS, D. Transformação bacteriana. 2014. Disponível em: https://


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Disponível em: http://estudio01.proj.ufsm.br/cadernos/ifgo/tecnico_acucar_
alcool/microbiologia_geral.pdf. Acesso em: 29 maio 2020.

85
86
UNIDADE 2 —

MICROBIOLOGIA APLICADA A
PROCESSOS AMBIENTAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• estudar os principais tipos de meios de cultura existentes ao estudo da


microbiologia;
• conhecer os equipamentos essenciais à garantia da biossegurança e à
confiabilidade das análises microbiológicas;
• identificar os métodos de semeadura e de quantificação de microrganismos
rotineiramente utilizados em laboratório;
• aplicar os conhecimentos adquiridos no Tópico 1, no preparo de um meio
de cultura caseiro, de forma a evidenciar o estudo dos MO na prática;
• verificar a importância do saneamento básico no controle da disseminação
de doenças de transmissão hídrica;
• conhecer as principais doenças de veiculação hídrica transmitidas por
vírus, bactérias, fungos, protozoários e helmintos;
• evidenciar as causas das florações de espécies de cianobactérias e
consequências;
• analisar as metodologias de análise microbiológica da água aplicadas
ao estudo de coliformes totais, termotolerantes e E. coli; análise da
densidade de cianobactérias, presença/ausência e quantificação de Giardia
e Cryptosporidium em amostras de água;
• abordar aspectos da microbiologia do ar e da microbiologia do solo no
estudo de bioindicadores da qualidade ambiental.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade será dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – MEIOS DE CULTURA MICROBIA E MÉTODOS DE


QUANTIFICAÇÃO

TÓPICO 2 – MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

TÓPICO 3 – MICROBIOLOGIA DO SOLO E MICROBIOLOGIA DO AR

87
CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente!


Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

88
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

MEIOS DE CULTURA MICROBIANA E MÉTODOS


DE QUANTIFICAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Na Unidade 1, estudamos conteúdos fundamentais à compreensão da
microbiologia ambiental, a exemplo da definição de célula, da importância dos
MO para a espécie humana, da morfologia microbiana e das tipologias, além
dos principais fatores que interferem no crescimento microbiano. Sempre que
necessário, revisite o texto da Unidade 1 de forma a relembrar esses assuntos.

Neste tópico, estudaremos as tipologias de meios de cultivo existentes e


as aplicações, além dos principais equipamentos necessários às análises rotineiras
de um laboratório de microbiologia. Finalmente, veremos duas ferramentas/
métodos de contagem microbiana e de que maneira são utilizadas. Seguimos em
frente. Bons estudos!

2 MEIOS DE CULTURA MICROBIANA


Os microrganismos, como os demais seres vivos, apresentam a necessidade
de nutrientes adequados, além de características ambientais (físico-químicas)
favoráveis. No laboratório, essas condições são providas pelo meio de cultura
(meio de cultivo) e por meio das condições de incubação. O meio de cultivo
apresenta nutrientes, salinidade e pH adequados para cada MO específico,
em concentrações propícias ao crescimento, possibilitado condições ideais de
aeração, umidade e temperatura de incubação em período de tempo necessário
(CEBALHOS; DINIZ, 2017).

De modo a quantificar determinado MO de uma amostra, é preciso


selecionar este para a obtenção de uma cultura pura. Contudo, nas matrizes
ambientais (ex.: rio ou lagoa), os MO compõem agregados de comunidades
mistas ou biofilmes. Aos procedimentos de seleção e de obtenção de uma cultura
pura a partir de uma cultura mista, dá-se o nome de isolamento. Esse processo
é possível através da semeadura da amostra em meios de cultura específicos
(CEBALHOS; DINIZ, 2017).

89
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

De acordo com Cebalhos e Diniz (2017) e Vieira e Fernandes (2012), os


meios de cultura podem ser classificados em:

• Meios líquidos: neles, os nutrientes se encontram dissolvidos em solução


aquosa. Nesse meio, o crescimento bacteriano modifica o aspecto, e o meio sofre
turvação, mudança da cor e produção de gás, por exemplo. Particularmente,
as bactérias crescem dispersas no volume do meio, na superfície, e, nas
proximidades desta, aeróbios, mais próximo do fundo, caso o metabolismo
seja anaeróbio. Caso sejam facultativas, crescem em todo o meio.
• Meios semissólidos: além da composição (nutrientes), estes contam com uma
pequena porcentagem de ágar, polissacarídeo oriundo de algas marinhas.
Comumente empregados em tubos de ensaio e, por meio desse tipo de cultura,
é possível observar a motilidade bacteriana. Também são utilizados para
conservação de culturas bacterianas puras para utilização posterior.
• Meios sólidos: contam com uma porcentagem de ágar entre 1,5 e 2%. Esses
meios possibilitam que as bactérias inoculadas fiquem aprisionadas no ágar
e formem colônias visíveis a olho nu. Tomemos, como exemplo, que uma
única célula de E. coli se multiplica a cada 30 minutos em condições ótimas de
crescimento, ou seja, em 24 horas, uma colônia apresentaria 248 bactérias (283
trilhões de bactérias).

NOTA

O ágar (ágar-águar), componente dos meios de cultura sólidos, é obtido


de algas vermelhas da classe Rodophyta, comumente chamadas de “algas agarófilas ou
agarófitas”. Esse composto apresenta a propriedade de se manter em estado líquido acima
de 45°C, e, sólido, a temperaturas inferiores. A denominação ágar-ágar advém do idioma
malaio e significa gelatina, repetida duas vezes pela tradição nas culturas da Polinésia para
dar ênfase à palavra, que significa “pura gelatina”, com tradução, “gelatina-gelatina” ou “pura
gelatina” (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

90
TÓPICO 1 — MEIOS DE CULTURA MICROBIANA E MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO

FIGURA 1 – TIPOS DE MEIOS DE CULTURA QUANTO AO ESTADO FÍSICO

FONTE: <https://slideplayer.com/slide/5871849/>. Acesso em: 24 out. 2020.

Conforme a composição química, os meios de cultura podem ser


classificados em:

• Meios de cultura naturais: essa denominação é empregada aos meios de


cultura de origens vegetal (frutas, rodelas de batata), animal (ovos) ou de
industrialização simples (pão). A utilização remonta aos primórdios das
técnicas de microbiologia. Fungos e bolores, por exemplo, foram observados
em frutas e no pão. Esses meios possibilitam o crescimento de MO
decompositores heterótrofos de diferentes grupos (ex.: bolores, leveduras,
bactérias). Apresentam, como desvantagem, a inespecificidade, aspecto que
facilita a contaminação das culturas (CEBALHOS; DINIZ, 2017).
• Meios de cultura artificiais: apresentam compostos químicos definidos ou não,
e, em geral, são chamados de meios complexos (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

Outra classificação importante ao estudo desta disciplina se trata da


diferenciação dos meios de cultura, segundo a fórmula química (função):

• Meios não seletivos: conhecidos por meios de cultura simples, permitem


o crescimento de numerosas bactérias, que apresentam a capacidade de
se desenvolver com esses nutrientes e em condições de temperatura e pH
determinadas (CEBALHOS; DINIZ, 2017).
• Meios seletivos: substâncias que incluem ou excluem algum ingrediente
que favorece o crescimento de um MO determinado. Inibem o crescimento
de alguns MO, mas permitem o crescimento de outros. São todos os meios
empregados na confirmação bioquímica das bactérias (CEBALHOS; DINIZ,
2017; NUTRIÇÃO MEIOS DE CULTURA, 2017).
• Meios de enriquecimento: apresentam compostos específicos para um
determinado MO ou grupo de MO, o qual favorece o desenvolvimento seletivo
sobre o restante da biota microbiana. Esses meios permitem o crescimento de
microrganismos exigentes, de crescimento lento, mas não inibem o crescimento
de outros. Têm a propriedade de estimular o crescimento de determinados
microrganismos (CEBALHOS; DINIZ, 2017; CLASSIFICAÇÃO DE MEIOS DE
CULTIVO, 2020).

91
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

Cabe destacar que a maioria dos meios de cultura seletivos facilita


o procedimento de identificação de bactérias ou grupo de bactérias que se
desenvolvem e ocasionam modificação na cor, em decorrência da alteração do
pH e, ocasionalmente, pela produção de gás, em consequência do metabolismo
das bactérias. Também são indicadores específicos de um meio de cultura a
precipitação de componentes do meio e as atividades proteolítica (do grego,
proteo = proteína, lise = quebra, separação) e lipolítica (“quebra”/degradação do
lipídeo), a exemplo da digestão do ágar (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

Para que seja efetuada uma análise microbiológica (ex.: de uma amostra
de água), os meios de cultura são adquiridos prontos e desidratados, cujo preparo
deve ser realizado conforme as instruções dos fabricantes. Em sua maioria,
contam com uma composição química definida, a saber: extrato de carne,
leveduras, peptonas, sais e um indicador de pH, que sofre modificação de cor
para condições ácidas alcalinas. Outros apresentam substâncias tamponadas,
que evitam mudanças bruscas de pH (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

NOTA

As peptonas são compostos derivados da hidrólise de proteínas de origem


animal ou vegetal, que servem como fonte de nitrogênio orgânico para o cultivo de uma
variedade de bactérias e de fungos (PROBAC, 2020).

No caso dos meios de cultura líquidos, estes são distribuídos em tubos de


ensaio e cobertos com tampa de metal ou acrílico. Não é indicado que os tubos
sejam cobertos com tampões de algodão. De modo a detectar a produção de gás,
é colocado, no interior do tubo, um pequeno tubo de ensaio invertido, chamado de
Tubo de Durham. Este é esterilizado em conjunto para, depois, ser utilizado nas
futuras análises microbiológicas. É importante salientar que, nos meios líquidos,
é a turbidez do líquido que denota o crescimento microbiano. São comumente
empregados em técnicas de quantificação de bactérias, especialmente, para
coliformes (Técnica de Tubos Múltiplos), na rotina dos laboratórios das estações
de tratamento de água, por exemplo (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

92
TÓPICO 1 — MEIOS DE CULTURA MICROBIANA E MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO

FIGURA 2 – TUBOS DE ENSAIO CONTENDO MEIOS DE CULTURA LÍQUIDOS: CALDO LACTO-


SADO (AMARELO) E VERDE BRILHANTE BÍLIS 2% (VERDE) DESTINADOS À QUANTIFICAÇÃO DE
COLIFORMES TOTAIS EM AMOSTRAS DE ÁGUA

FONTE: <https://www.hexis.com.br/produto/caldo-lauril-sulfato-triptose-nmp-concentrado-pct-15un>.
Acesso em: 24 out. 2020.

Legenda: Observe os pequenos tubos de ensaio (Tubo de Durham) no interior dos tubos
de ensaio com tampa. Esses pequenos tubos coletam o gás produzido na fermentação da
lactose nos dois meios de cultura (formação de bolha no tubo de Durham). Curiosidade: a
bílis 2%, incluída no meio Verde Brilhante Bílis, seleciona as bactérias intestinais que são
adaptadas à bílis secretada pela vesícula biliar (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

Já os meios de cultivo com ágar são preparados e esterilizados em balões


de vidro para, posteriormente, serem distribuídos em placas de Petri estéreis, com
solidificação em temperatura-ambiente. Em seguida, são estocados na geladeira
(dentro de caixas plásticas bem vedadas, de forma a evitar o ressecamento)
(CEBALHOS; DINIZ, 2017).

3 EQUIPAMENTOS ESSENCIAIS À ROTINA DE UM


LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA
A semeadura no meio de cultura sólido (ou líquido), assim como todo
o trabalho no laboratório de microbiologia, deve ser realizada sob condições de
assepsia perto do Bico de Bunsen ou na câmara de fluxo laminar (CEBALHOS;
DINIZ, 2017).

93
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

FIGURA 3 – CÂMARA DE FLUXO LAMINAR E BICO DE BUNSEN

FONTE: <https://www.tradeindia.com/fp3163844/Laminar-Airflow-Chamber.html>; <https://


www.medical-supply.ie/2019/04/03/is-it-safe-to-use-a-bunsen-burner-in-a-biological-safety-
cabinet-bsc/>. Acesso em: 24 out. 2020.

Legenda: A figura da esquerda denota uma câmara de fluxo laminar. A figura da direita
demonstra a utilização do Bico de Bunsen em um procedimento microbiológico.

Acadêmico, você já deve ter notado que existem equipamentos comumente


utilizados na rotina dos trabalhos em um laboratório de microbiologia ambiental
ou de outras áreas de estudo da microbiologia. Entretanto, certos equipamentos
são primordiais para o bom andamento e para a garantia de qualidade das
análises a serem realizadas: câmara de fluxo, Bico de Bunsen, autoclave, estufa
microbiológica e incubadora de banho de água (banho-maria). Qual a importância
destes para as análises microbiológicas?

Também conhecida como cabine de segurança biológica, a câmara de


fluxo laminar se trata do principal equipamento de contenção física para agentes
infecciosos. Protege o material e o profissional na manipulação de materiais
biológicos altamente infectantes, substâncias tóxicas e cultura de células
(ANVISA, 2013).

O Bico de Bunsen é um equipamento aquecedor a gás com chama, cuja


temperatura pode variar, conforme a regulagem. É suprido com gás liquefeito
de petróleo (GLP) e proporciona uma chama que possibilita a realização da
manipulação das análises microbianas. Por questões de segurança e de bom
andamento das análises microbiológicas, deve-se verificar, com frequência, se
não há vazamentos de gás nas conexões (RESENDE, 2014).

94
TÓPICO 1 — MEIOS DE CULTURA MICROBIANA E MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO

FIGURA 4 – PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO DO BICO DE BUNSEN

FONTE: <https://www.splabor.com.br/blog/uso-correto-do-bico-de-bunsen/como-utilizar-
corretamente-um-bico-de-bunsen//>. Acesso em: 24 out. 2020.

NOTA

Robert Wilhelm Eberhard von Bunsen (1811-1899) foi um químico alemão que,


dentre outros feitos, inventou o Bico de Bunsen (queimador de gás com elevado poder
calorífico), utilizado até os dias de hoje rotineiramente em laboratórios (microbiologia,
química etc.) (QUI FÁCIL, 2020).

FIGURA 5 – ROBERT WILHELM EBERHARD VON BUNSEN

FONTE: <https://www.quifacil.com.br/robert-wilhelm-eberhard-von-bunsen>. Acesso em: 24 out. 2020.

95
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

A autoclave é um utensílio laboratorial indispensável à rotina de um


laboratório de microbiologia. Trata-se de um equipamento cujo objetivo é
a esterilização pelo calor úmido (vapor d’água sob pressão). Geralmente, é
empregado para esterilizar águas de diluições, meios de cultura que suportem
elevadas temperaturas (115-120°C), além de materiais contaminados que são
descartados. Esse utensílio pode ser do tipo horizontal ou vertical, apresentando
os seguintes componentes: caldeira cilíndrica hermeticamente fechada por uma
tampa de bronze ou cobre, dotada de manômetro, válvula de escape de ar e de
segurança. No interior, existe uma cesta metálica (móvel), na qual são colocados
todos os materiais a serem esterilizados (RESENDE, 2014).

FIGURA 6 – ESQUEMA GERAL DE UMA AUTOCLAVE VERTICAL

FONTE: <https://www.researchgate.net/figure/figura-56-diagrama-e-asPeto-geral-de-uma-
autoClave-vertiCal_fig2_259296839>; <https://www.marcamedica.com.br/autoclave-vertical-
30l-prismatec>. Acesso em: 24 out. 2020.

Legenda: A – Esquema geral de uma autoclave. B – Imagem de uma autoclave vertical.

Você pode se perguntar: o que é esterilização? Bem, a esterilização


é o processo pelo qual os microrganismos são mortos a tal ponto que não seja
mais possível detectá-los no meio de cultura padrão, no qual, previamente,
tinham proliferado. Usualmente, considera-se um artigo (recipiente com meio
de cultivo, por exemplo) estéril quando a probabilidade de sobrevivência
dos microrganismos é menor do que 1:1.000.000 (BRUCH; BRUCH apud
BUSTAMANTE, 2020).

96
TÓPICO 1 — MEIOS DE CULTURA MICROBIANA E MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO

Portanto, é essencial, em um laboratório de microbiologia, demonstrar


o controle e a eficiência da esterilização. Para tal procedimento, são efetuados
monitoramentos mecânicos (controle e registro do tempo, temperatura e pressão
durante a esterilização), e utilizados indicadores físicos ou biológicos. Como indicador
físico, é muito utilizada a fita indicadora de esterilização (RESENDE, 2014).

FIGURA 7 – FITA INDICADORA DE ESTERILIZAÇÃO

FONTE: <https://www.marcamedica.com.br/autoclave-vertical-30l-prismatec>.
Acesso em: 24 out. 2020.

Legenda: A – Fita indicadora de esterilização. B – Fita indicadora de esterilização antes


e após o procedimento de autoclavagem. A tinta indicativa apresenta um substrato
que reage a uma determinada temperatura, mudando a tonalidade. A única função é
diferenciar um produto que passou pelo processo ou não de esterilização via autoclave.

Contudo, não podemos confundir o processo de esterilização com o


procedimento de desinfecção. O segundo é definido como o processo que elimina
todos os microrganismos ou objetos inanimados patológicos, com exceção dos
endósporos bacterianos, ao contrário da esterilização, que apresenta a capacidade
para a eliminação das estruturas (KALIL; COSTA, 1994).

A estufa microbiológica é um tipo específico de estufa que apresenta,


além de uma porta metálica, uma porta de vidro. Conta com um sistema de
aquecimento controlado por uma resistência elétrica. O aquecimento é controlado
por meio de um termostato, com o acompanhamento da temperatura através
de um termômetro analógico ou digital. Destaca-se que a temperatura não
deve sofrer uma variação superior a ±0,5°C. Esse dispositivo é empregado para
auxiliar no crescimento e na reprodução microbianos, pois fornece a temperatura
adequada para cada espécie microbiana (RESENDE, 2014).

97
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

FIGURA 8 – ESTUFA MICROBIOLÓGICA

FONTE: <https://www.marcamedica.com.br/autoclave-vertical-30l-prismatec>.
Acesso em: 24 out. 2020.

Legenda: Através do link https://www.youtube.com/watch?v=d_AxNiRIuBg, pode-se


evidenciar o funcionamento de uma estufa com alguns recipientes para o cultivo de
microrganismos.

Outro equipamento importante é chamado de incubadora de banho de


água (banho-maria). É um dispositivo indispensável para realizações dos ensaios
de coliformes termotolerantes (44,5°C ± 0,2°C). Este é dotado de um termômetro,
termostato e tampa para o controle da temperatura do banho (RESENDE, 2014).

FIGURA 9 – DIFERENTES TIPOS DE INCUBADORA DE BANHO DE ÁGUA (BANHO-MARIA)

FONTE: <https://www.medicalexpo.com/prod/nueve/product-69565-608361.html>.
Acesso em: 24 out. 2020.

Legenda: Através do link https://www.youtube.com/watch?v=76vNvN2bi-c, pode-


se visualizar o funcionamento de uma incubadora de banho de água, com alguns
recipientes para o cultivo de microrganismos.

98
TÓPICO 1 — MEIOS DE CULTURA MICROBIANA E MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO

Acadêmico, realmente, o trabalho em um laboratório de microbiologia é


meticuloso, pois exige uma série de equipamentos e de cuidados fundamentais
às avaliações microbiológicas. Agora, partiremos para o estudo de técnicas de
semeadura e dos métodos de quantificação de populações microbianas. Vamos lá?!

4 TÉCNICAS DE SEMEADURA E MÉTODOS DE


QUANTIFICAÇÃO DE POPULAÇÕES MICROBIANAS
É importante frisar que a escolha da técnica para o cultivo de
microrganismos em condições laboratoriais pode variar conforme o tipo de meio
de cultura e a finalidade do cultivo. Entretanto, algumas regras básicas devem ser
seguidas nas inoculações (VIEIRA; FERNANDES, 2012):

• A agulha e a alça bacteriológica devem ser esterilizadas por flambagem antes e


após qualquer cultivo. Deve-se tomar cuidado para esfriá-las antes da coleta.
• Os recipientes devem sempre ser abertos próximos à chama do Bico de Bunsen.
• Deve-se evitar, ao máximo, que as tampas dos tubos e as placas fiquem abertas
sobre a bancada durante o cultivo.

FIGURA 10 – TIPO DE TÉCNICA DE SEMEADURA BACTERIANA - CUIDADOS DE ASSEPSIA

FONTE: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4547451/mod_resource/
content/1/Pr%C3%A1ticas%201%2C%202%20e%203%20-%20Isolamento%2C%20
purifica%C3%A7%C3%A3o%20e%20Gram.pdf>. Acesso em: 24 out. 2020.

Legenda: Preparo de estoque de microrganismos em tubo inclinado a partir de colônias


isoladas por estrias de esgotamento. a) Esterilização da alça por flambagem; b) Coleta de
colônia isolada; c) Inóculo por estrias no tubo inclinado.

A semeadura pode ser efetuada por meio de estrias até o esgotamento,


de forma a serem obtidas colônias isoladas, com o emprego de alças, que podem
ser de platina ou de níquel-cromo. Também existem as alças bacteriológicas
descartáveis, confeccionadas com material plástico (polipropileno). É possível

99
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

efetuar, também, a inoculação em meio sólido por espalhamento na superfície, que


consiste em colocar uma alíquota (parte) da amostra na superfície do meio sólido,
preservando-se a esterilidade com a distribuição através da alça bacteriológica ou
da alça de Drigalsky (de vidro ou de plástico) (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

FIGURA 11 – ALÇA BACTERIOLÓGICA E ALÇA DE DRIGALSKY

FONTE: <https://www.biosave.com.br/includes/pdf/copan_portuguese.pdf>; <https://


en.wikipedia.org/wiki/Cell_spreader>. Acesso em: 24 out. 2020.

Legenda: A – Alça de níquel-cromo e alça de plástico descartável. B –Tipos de alças


de Drigalsky.

Poderemos evidenciar, a seguir, diferentes tipos de semeadura em tubos


de ensaio e em placas de Petri.

100
TÓPICO 1 — MEIOS DE CULTURA MICROBIANA E MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO

FIGURA 12 – TIPOS DE SEMEADURA EM TUBOS E EM PLACAS

FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/3769438/>. Acesso em: 29 out. 2020.

Note que, dependendo do objetivo da avaliação microbiológica, podem


ser empregadas diferentes técnicas de semeadura, pois estas apresentam objetivos
distintos. A técnica de semeadura em meio líquido é destinada à observação da
respiração das bactérias. Ao se realizar a semeadura em meio sólido, objetiva-
se observar a motilidade bacteriana. No que tange à metodologia de semeadura
em meio sólido inclinado, tem, por finalidade, a obtenção de uma concentração
de massa bacteriana. Podemos observar, também, a técnica de semeadura por
esgotamento em meio sólido (placa de Petri), que se destina a obter (isolar) cultura
puras a partir de amostras que apresentem microbiota mista, sendo isso útil para
o estudo da morfologia de colônia microbiológica (VIEIRA; FERNANDES, 2012).

Existe a técnica de semeadura denominada de pour-plate, também chamada


de semeadura em profundidade, cujo objetivo da técnica é obter colônias isoladas
(qualitativo) ou realizar contagem de colônias em placas (quantitativo). Nessa
técnica, deve-se tomar cuidado para não adicionar o meio em temperatura elevada
sobre o inóculo, pois isso pode matar as bactérias (VIEIRA; FERNANDES, 2012).

Ok, já estudamos as diferentes formas de semeadura utilizadas em


microbiologia, entretanto, de que modo é realizada a quantificação microbiológica?

No caso das bactérias, existem dois métodos básicos para a enumeração


de números viáveis de bactérias, a saber: a contagem de colônias em meios sólidos
(ou “Unidades Formadoras de Colônia”, UFC, do inglês, Colony Forming Units,
CFU) e a técnica do número mais provável, ou técnica NMP (do inglês, Most
Probable Number, MPN) (NICOLAU, 2014).

101
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

4.1 CONTAGEM EM PLACAS


Na contagem das UFC, é necessário que as amostras sejam diluídas para
que seja possível quantificar/enumerar o número de bactérias por meio da técnica
de diluição em série. Nessa técnica, 1 ml (mililitro) é diluído pela adição de 9
ml de uma solução esterilizada (água, tampão-fosfato, solução salina etc.), o que
gera uma diluição de 1:10 (v/v) ou 10-1 da amostra original (a amostra original é
diluída para 1/10) (NICOLAU, 2014).

De forma similar, são preparadas diluições em série 1:100 (10-2), 1:1000 (10-
3
), 1:10.000 (10-4), 1:100.000 (10-5), e assim por diante. Finalmente, uma alíquota de
0,1 ml de cada diluição é retirada e plaqueada no meio sólido adequado. Os meios
são incubados nas condições adequadas ao crescimento das bactérias em análise.
O número de colônias que cresce em cada meio possibilita que seja calculada a
concentração de bactérias presente na amostra original, multiplicando pelo fator
de diluição (NICOLAU, 2014).

FIGURA 13 – TÉCNICA DE DILUIÇÃO SERIADA E ESPALHAMENTO DE SUPERFÍCIE


Descartar Descartar Descartar Descartar
a pipeta a pipeta a pipeta a pipeta

FONTE: Adaptada de Guerra (2016)

102
TÓPICO 1 — MEIOS DE CULTURA MICROBIANA E MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO

Posteriormente ao período de incubação, são escolhidas as placas de Petri


com, aproximadamente, 30 a 300 UFC (ou entre 25 e 250 UFC). Em seguida, é
efetuada a contagem do número de colônias com o auxílio de um contador de
colônias (CEBALHOS; DINIZ, 2017; GUERRA, 2016).

Para cada nível de diluição, existe uma quantidade de amostra presente


no meio, por grama ou mililitro. Observemos o exposto a seguir:

QUADRO 1 – QUANTIDADE DE AMOSTRA EM CADA NÍVEL DE DILUIÇÃO POR MILILITRO

Nível da diluição Quantidade de amostra por mililitro (g ou mL)


10-1 0,1
10 -2
0,01
10 -3
0,001
10 -4
0,0001
10 -5
0,00001

FONTE: Guerra (2016, p. 4)

Partiremos, então, para o cálculo das UFC, por meio de exemplos práticos.

No caso da inoculação em superfície (spread plate), adota-se a seguinte


metodologia para o cálculo das UFC. Utilizaremos o exemplo da figura anterior,
demonstrado pela autora Guerra (2016):

103
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

Observação: No exemplo, a autora utiliza o cálculo demonstrando de que


forma se expressa o resultado, quando da análise efetuada para a microbiologia de
alimentos (UFC/g). Contudo, para a análise de amostras de água (por exemplo),
a unidade a ser utilizada é UFC/mL (de amostra).

Com relação à técnica de espalhamento em profundidade (pour plate),


observe a figura a seguir, que demonstrará o procedimento de diluição.

104
TÓPICO 1 — MEIOS DE CULTURA MICROBIANA E MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO

FIGURA 14 – TÉCNICA DE DILUIÇÃO SERIADA E ESPALHAMENTO EM PROFUNDIDADE

Descartar Descartar Descartar Descartar


a pipeta a pipeta a pipeta a pipeta

FONTE: Adaptada de Guerra (2016)

Agora, conheceremos o cálculo das UFC/mL de amostra, conforme o


exemplo elaborado por Guerra (2016):

105
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

4.2 TÉCNICA DE TUBOS MÚLTIPLOS (NMP)


Trata-se de um método estatístico de contagem microbiana. A unidade
de expressão do resultado é número mais provável de unidade formadora de
colônia por grama ou mililitro (NMP/g ou mL). Existem tabelas específicas para
a análise microbiológica de água, que expressam o resultado como NMP/100 mL
(GUERRA, 2016).

Para tal procedimento, diluições decimais da amostra são inoculadas em


séries de tubos que apresentam meio líquido seletivo. Os tubos são positivos
quando apresentam crescimento e/ou produção de gás de fermentação (VIEIRA;
FERNANDES, 2012).

106
TÓPICO 1 — MEIOS DE CULTURA MICROBIANA E MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO

FIGURA 15 – TÉCNICA DE DILUIÇÃO DE TUBOS MÚLTIPLOS (NMP)

FONTE: Adaptada de Oliveira et al. (2020)

Legenda: Neste exemplo (pesquisa realizada para enumeração de coliformes


termotolerantes em amostras de água pluvial), a técnica de tubos múltiplos foi utilizada,
em um primeiro momento, referindo-se à etapa presuntiva do referido estudo.

O número de tubos positivos e negativos de cada diluição é usado para


determinar o número de microrganismos mais provável (NMP) presente na
amostra da amostra original (não diluída), por meio da utilização de tabelas
estatísticas de valores de NMP (APHA, 1998 apud NICOLAU, 2014).

Cabe salientar que os estudos envolvendo o NMP são compostos por três
etapas (VIEIRA; FERNANDES, 2012):

• Teste presuntivo: possibilita estimar, preliminarmente, a densidade do grupo


bacteriano baseada no enriquecimento em meio minimamente restritivo. Os
resultados do teste não podem ser usados sem confirmação posterior.
• Teste confirmativo: trata-se da fase do NMP. Os tubos considerados positivos,
no teste anterior, são inoculados em tubos de meio mais seletivo e inibidor. As
reações positivas são lidas e a densidade calculada com a ajuda da tabela NMP.
Esta etapa será demonstrada a seguir.
• Teste completo: esta etapa é empregada somente na determinação do número
de coliformes totais. Os tubos positivos do teste anterior são submetidos a
testes adicionais para isolamento e identificação dos microrganismos. Devido
à morosidade do teste, normalmente, não é utilizado.

107
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

FIGURA 16 – TÉCNICA DE DILUIÇÃO DE TUBOS MÚLTIPLOS (NMP)

FONTE: Adaptada de Oliveira et al. (2020)

Legenda: Etapa confirmativa da enumeração de coliformes termotolerantes das amostras


de água pluvial.

A ocorrência de crescimento e a ausência de crescimento são marcadas


+/-, respetivamente, na base da detecção de crescimento, por exemplo, por
turbidimetria, produção de gás e desaparecimento de substrato. O número de
tubos positivos e negativos de cada diluição é empregado para determinar o
número de microrganismos mais provável que se encontrava na amostra original
(não diluída), através do uso de tabelas estatísticas de valores de NMP (APHA,
1998 apud NICOLAU, 2014).

Estudaremos um outro exemplo, mais esmiuçado, acerca do cálculo do NMP.

108
TÓPICO 1 — MEIOS DE CULTURA MICROBIANA E MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO

FIGURA 17 – TÉCNICA DE TUBOS MÚLTIPLOS

FONTE: Adaptada de Guerra (2016)

Após o período de incubação, procede-se com a seguinte análise dos


resultados obtidos (GUERRA, 2016):

109
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

Então, com base no exemplo apresentado, a contagem de tubos positivos


(2-1-0) corresponde ao resultado de 15 NMP/g ou mL. Observaremos esse
resultado na própria tabela do NMP.

110
TÓPICO 1 — MEIOS DE CULTURA MICROBIANA E MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO

TABELA 1 – TABELA DE NMP

FONTE: Adaptada de FDA (2020)

Legenda: MPN = NMP; Confidence range: intervalo de confiança. Observe que, a partir dos
resultados obtidos, e por meio da observação da tabela, chegou-se ao resultado para o
exemplo estudado = 15 NMP/g ou mL.

Neste tópico, vimos as diferentes classificações dos meios de cultura,


conforme o estado físico e a finalidade do estudo (investigação a ser realizada),
além dos equipamentos básicos essenciais às análises microbiológicas. Vimos,
também, duas metodologias de isolamento, quantificação e identificação de
populações microbianas. No próximo tópico, estudaremos a aplicação desses
conhecimentos ao estudo da microbiologia da água. Vamos lá?! Bons estudos!

111
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

DICAS

Vamos preparar nosso próprio meio de cultura e utilizá-lo em uma atividade


prática? Mãos à obra!

ATIVIDADE PRÁTICA 1: Preparo de meio de cultura caseiro

Material necessário: um copo de vidro, 100 mL de água filtrada, duas colheres de café de
ágar-ágar (encontrado em lojas de produtos naturais), duas colheres de café de açúcar,
uma colher bem rasa de amido de milho, vela, potinhos transparentes ou placas de petri,
papel-alumínio, filme de PVC.

Procedimento:

a) Preparo do meio de cultura sólido:


1- Colocar 100 mL de água filtrada no copo e deixar em banho-maria por cerca de
cinco minutos.
2- Juntar o ágar-ágar, o açúcar e o amido de milho. Utilizar uma colher para mexer e
para ajudar a diluir o ágar-ágar.
3- Retirar do banho-maria após 10 minutos e tampar o copo com filme de PVC e papel-
alumínio.

b) Esterilização do material em panela de pressão (baseado em SILVA, 2009):


1- Em uma panela de pressão de tamanho médio, colocar, no fundo, bolas amassadas
de papel-alumínio, procurando deixá-las niveladas (planas) e encher com água até
mais ou menos a metade da altura do papel-alumínio.
2- Colocar os potes, as placas de Petri (tampas separadas), o meio de cultura no copo
e o que mais precisar ser esterilizado, envoltos em papel-alumínio, tomando cuidado
para não deixar derramar o meio de cultura durante o processo. É recomendável
que os potes ou as placas de petri não sejam vedados e sejam apenas embalados,
pois esses materiais podem se quebrar com a pressão dentro da panela.
3- Tampar bem a panela (deve estar bem vedada), tirar o pino da tampa, ligar o fogo e
aguardar sair vapor.
4- Assim que começar a sair o vapor, colocar o pino na tampa (com cuidado para não
se queimar); aguardar 15 minutos.
5- Após 15 minutos, desligar o fogo e aguardar cerca de três horas para abrir a panela
de pressão (é preciso esperar esfriar).

c) Distribuição do meio de cultura nos recipientes:


1- Retirar o meio da panela de pressão, colocar em banho-maria (o meio, assim que
esfria, se solidifica) ainda tampado e aguardar cerca de 10 minutos, até que o meio
fique líquido.
2- Acender uma vela e dispor os potes e as placas estéreis, ainda embalados, próximos
à chama.
3- Tirar o meio do banho-maria e distribuir nas placas e nos potes estéreis, tomando
cuidado para não contaminar o meio e os recipientes.
4- Tampar as placas e os potes, de modo que estes permitam uma visualização clara
do meio de cultura. Guarde-os de cabeça para baixo, assim que o meio de cultura
solidificar.

112
TÓPICO 1 — MEIOS DE CULTURA MICROBIANA E MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO

No primeiro recipiente, você ou um colega deverá encostar o dedo no meio


de cultura sem lavar as mãos antes. No segundo, outro colega deverá encostar o dedo
após lavar as mãos com sabonete líquido comum. No terceiro, um terceiro colega deverá
encostar o dedo no meio após lavar as mãos com sabonete líquido, contendo ingrediente
antibacteriano. No quarto e último potinho, um quarto colega, que utilizou sabonete
líquido comum e passou álcool 70% em gel nas mãos, deverá encostar o dedo no meio
de cultura. Os potinhos devem ser numerados e identificados, vedados com filme de PVC
e deixados à temperatura-ambiente.

FIGURA 1 – MATERIAL PARA PREPARAÇÃO DO MEIO DE CULTURA CASEIRO UTILIZADO


PARA CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS NAS PRÁTICAS “MÃOS LIMPAS?” E “E ISSO
FUNCIONA?”

ATIVIDADE PRÁTICA 2: Crescimento de microrganismos em cultivo

Nesta atividade, foram utilizadas, para o crescimento de microrganismos, placas


de Petri e potinhos, contendo o mesmo meio de cultura da prática anterior, também
previamente esterilizados. Foram necessários outros materiais, como cotonete, pedaços
de papel-filtro e agentes de limpeza, como desinfetante, álcool e antisséptico bucal.

O objetivo desta prática é o de analisar a eficiência de diferentes produtos


utilizados para limpeza e assepsia. Nesta prática, você fará a inoculação do meio de
cultura com cotonetes em esfregaços de diferentes superfícies.

Em toda superfície do meio na placa de Petri, esfregar o cotonete com sujeira do


chão. A placa deve ser em quatro partes (com caneta para vidro), devendo ser adicionados
pedaços de papel-filtro embebidos em diferentes concentrações de desinfetante, diluído
em água.

Na primeira parte, deverá ser adicionado o desinfetante puro; na segunda,


desinfetante na concentração 50%; na terceira parte, desinfetante na concentração de
33%; e, na quarta, desinfetante na concentração de 25%.

Nos potinhos, devem ser adicionados papéis de filtro, contendo álcool 70% e
antisséptico bucal, inoculados, respectivamente, com um cotonete esfregado embaixo das
unhas e outro cotonete nos dentes. Para essas duas atividades práticas, é necessário deixar
uma placa de petri e um potinho com meio de cultura esterilizado à temperatura-ambiente,
como controle. O meio de cultura aqui descrito pode ser substituído por gelatina comum
(CASSANTI et al., 2007; GENTILE, 2005), embora o ágar-ágar utilizado nesse meio seja um
potente agente solidificante e não se liquefaz em temperatura-ambiente.

Leia mais em: http://www.decb.uerj.br/arquivos/monografias/Andr%C3%A9a%20Fonseca%20


Ferreira%20-%20PPII%20-%20A%20import%C3%A2ncia%20da%20microbiolo.pdf.

113
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Conforme o estado físico, os meios de cultura podem ser classificados em


sólidos, semissólidos e líquidos. A escolha por um ou mais tipos destes se
processa em virtude do tipo de MO e do objetivo de avaliação microbiológica.

• De acordo com a composição, os meios de cultura podem ser classificados


em naturais (cuja utilização remonta aos primórdios da microbiologia) e
artificiais (com composição química definida). Estes últimos são adquiridos
comercialmente, por meio de empresas especializadas.

• Outra classificação dos meios de cultura é a diferenciação destes segundo


a fórmula química/função, sendo divididos em seletivos, não seletivos e de
enriquecimento.

• Equipamentos, autoclave, Bico de Bunsen, câmara de fluxo e estufa


bacteriológica são fundamentais à rotina de um laboratório de microbiologia,
pois proporcionam biossegurança necessária aos procedimentos laboratoriais.

• Existem diferentes tipos de técnicas de semeadura microbiológica: semeadura


em meio sólido; em meio semissólido; em meio sólido inclinado; e em meio
sólido (placa de Petri).

• Há duas metodologias rotineiramente empregadas na contagem de MO:


“Unidades Formadoras De Colónia”, UFC, ou do inglês Colony Forming Units,
(CFU) e Técnica do Número mais Provável, ou técnica NMP, do inglês Most
Probable Number (MPN).

114
AUTOATIVIDADE

1 A partir dos experimentos relacionados no último UNI deste tópico, quais


as dificuldades que você observou para a elaboração do meio de cultura?
Na realização da segunda atividade prática, houve diferença de crescimento
microbiano entre os potes, pote no qual o colega encostou o dedo após lavar
as mãos e no qual o outro colega encostou após lavar as mãos? Explique.

2 Acerca dos métodos de contagem de microrganismos que estudamos neste


tópico, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A contagem em placas é um método utilizado para determinar a


quantidade de células vivas e mortas.
b) ( ) A contagem de MO por plaqueamento somente pode ser utilizada para
amostras com elevada concentração microbiana.
c) ( ) A técnica de determinação do número mais provável é realizada por
meio da colocação de uma amostra em uma lâmina especial, com um
poço com dimensão conhecida, a qual é levada ao microscópio para
contagem celular.
d) ( ) A técnica de determinação do NMP é uma técnica estatística útil
na contagem de microrganismos que possuem uma determinada
característica metabólica.

3 Ao realizar uma análise de amostra de água de uma lagoa para análise


microbiológica (coliformes termotolerantes), a partir de três diluições
realizadas, você encontrou o seguinte resultado:

10-1 10-2 10-3


2 0 2

Por meio da análise da tabela do NMP (elencada neste tópico), qual o resultado
(NMP) obtido?

4 No mesmo estudo da questão número 3, houve a necessidade de realizar


a contagem de bactérias em placa, sendo encontradas 86 colônias, para a
diluição 10-1. Para tal resultado, calcule o valor de UFC.

115
116
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

1 INTRODUÇÃO
A microbiologia das águas se refere à investigação de todo MO que
apresenta habitat em águas (doces ou salgadas), ou que utiliza água em algum
momento do ciclo de vida. É elevada a diversidade de grupos e de espécies de
MO em corpos hídricos, em virtude da alta capacidade de suporte ao crescimento
microbiano que o meio possui (ROCHA, 2020).

Todo MO apresenta uma demanda conhecida como atividade de água, um


indicativo da quantidade mínima do recurso necessária ao desenvolvimento. Para
a maior parcela das bactérias e das leveduras, esse valor é alto. Assim, ambientes
com elevada disponibilidade hídrica são favoráveis ao desenvolvimento
(ROCHA, 2020).

Neste tópico, estudaremos a importância do saneamento básico na


prevenção da ocorrência de doenças de transmissão hídrica, além das patologias
decorrentes da ineficiência ou da não existência deste, causadas por bactérias,
vírus, cianobactérias, fungos protozoários e helmintos. Finalmente, abordaremos
metodologias para a identificação e a contagem dos MO nos corpos hídricos.

2 A QUESTÃO DO SANEAMENTO BÁSICO


Inúmeros MO são encontrados, naturalmente, em corpos d’água, a
exemplo de muitas espécies de bactérias, arqueas, algas e protozoários. Em
virtude da diferença de concentração salina, a população de MO, em mares e
em oceanos, deve divergir daquela encontrada em corpos hídricos de água
doce, apesar de algumas espécies poderem tolerar as variações, adequando a
sobrevivência nos dois ambientes. Podemos citar, como exemplos desses MO, os
gêneros Pseudomonas e Vibrio. Já outros MO não são naturalmente encontrados
nesses ambientes, e são transportados para rios e para demais ambientes hídricos,
por esgotos ou por águas superficiais, geralmente, com elevado potencial de
causa de patologias à espécie humana e a outros animais (ROCHA, 2020).

É importante atentarmos ao fato de que a constante e intensa intervenção


antrópica nos ambientes alterou a qualidade do ar, das águas e do solo, com
descargas poluidoras que geraram profundas modificações na distribuição de

117
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

diversas espécies de organismos (TUNDISI, 2011 apud CEBALHOS; DINIZ, 2017).


Têm destaque os vetores de doenças infecciosas que deixaram os habitats naturais
agredidos na busca de locais adequados para a adaptação e, por consequência,
desenvolvimento e reprodução (ROCHA, 2020).

O saneamento básico apresenta um papel essencial no controle e na


disseminação dessas doenças no ambiente, reduzindo os riscos de transmissão.
Inúmeros estudos têm demonstrado as correlações entre a falta de saneamento (o
que inclui acesso à água potável e esgotamento sanitário) e o aumento das taxas
de morbidade e de mortalidade por doenças infeciosas, especialmente, a diarreia
infantil (PRADO; MIAGOSTOVICH, 2014).

Fezes humanas e resíduos sólidos contaminados são os principais veículos


de transmissão de doenças infecciosas propagadas pela água e as principais
causas de mortalidade em crianças com idade inferior a dois anos. A pobreza e
a desnutrição, ainda presentes no século XXI, favorecem a transmissão de MO
patogênicos (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

Cabe salientar que as fezes humanas e dos animais de sangue quente


con­têm componentes inorgânicos e microrganismos comensais que formam
parte da biota normal, mas se o indivíduo está infec­tado, existirão, também,
microrganismos patogênicos (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

TABELA 2 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA

FONTE: A autora

Legenda: note as elevadas concentrações de fósforo e de nitrogênio nas fezes e na urina


humanas.

118
TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

Nos indivíduos infectados, existem MO patogênicos. Os esgotos


municipais, que agregam esgotos domésticos de bairros populosos, contêm
elevada diversidade de microrganismos patogênicos, em geral, uma mistura de
vírus, bactérias, protozoários e helmintos (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

Nos dias atuais, mais de um bilhão de pessoas no planeta não conta


com acesso a banheiro. Obviamente, a situação afeta, especialmente, as nações
com menos recursos e em desenvolvimento. Como consequência da falta de
saneamento, cerca de um milhão de mortes é contabilizada anualmente no mundo,
oriunda de doenças ligadas ao contato direto com fezes humanas e/ou esgoto
a céu aberto. Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 88%
das mortes por diarreias resultantes desse contato são geradas por saneamento
inadequado. Desses óbitos, 84% são de crianças. Esses dados demonstram que a
falta de recursos básicos prejudica a saúde dos cidadãos (TRATA BRASIL, 2020).

Ao tratarmos do Brasil, nosso país não é diferente, visto que a porcentagem


da população com acesso à rede de água e à coleta de esgoto é de 83,6% e 53,15%,
respectivamente. O volume de esgoto tratado no país está próximo aos 46%.
Como resultado da problemática, diversos setores do Brasil são seriamente
afetados pelos baixos índices de saneamento básico, a exemplo do trabalho,
turismo, preservação/conservação ambiental, educação e, especialmente, a saúde
(TRATA BRASIL, 2020).

DICAS

Vamos conhecer o SNIS? O SNIS se constitui no maior e mais importante


sistema de informações do setor de saneamento do Brasil, apoiando-se em um banco
de dados que contém informações de caráteres institucional, administrativo, operacional,
gerencial, econômico-financeiro, contábil e de qualidade, sobre a prestação de serviços de
água, de esgotos e de manejo de resíduos sólidos urbanos. Acesse o link a seguir e saiba
mais: http://app4.mdr.gov.br/serieHistorica/.

Em uma pesquisa realizada pelo Instituto Trata Brasil, denominada de


“Benefícios Sociais da Expansão do Saneamento Brasileiro”, evidencia que, em
20 anos, caso o país consiga universalizar o serviço de saneamento básico, o
Sistema Único de Saúde (SUS) pode economizar até R$ 6 bilhões com custos por
internações em virtude de doenças de veiculação hídrica (TRATA BRASIL, 2020).

119
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

DICAS

Acesse o levantamento Benefícios Sociais da Expansão do Saneamento


Brasileiro e se aprofunde nessa temática: http://www.tratabrasil.org.br/images/estudos/itb/
beneficios/Relat%C3%B3rio-Benef%C3%ADcios-do-saneamento-no-Brasil-04-12-2018.pdf.

A partir dessas informações, podemos notar a importância do saneamento


básico à saúde da população, questão intimamente ligada aos aspectos econômicos.
Inclusive, um dos objetivos do desenvolvimento sustentável (Agenda 2030) trata
justamente desse aspecto, sendo intitulado de Água Potável e Saneamento.

120
FIGURA 18 – OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

121
FONTE: <https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/6>. Acesso em: 4 maio 2020.
TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

Esse objetivo (Objetivo 6) apresenta, como finalidade, garantir a


disponibilidade e a gestão sustentável da água potável e do saneamento para
todos. Outros objetivos estão ligados a essa meta, a saber:

DICAS

6.1 Até 2030, alcançar o acesso universal e equitativo à água potável e segura para todos.
6.2 Até 2030, alcançar o acesso a saneamento e à higiene adequados e equitativos
para todos, e acabar com a defecação a céu aberto, com especial atenção para as
necessidades das mulheres e meninas e daqueles em situação de vulnerabilidade.
6.3 Até 2030, melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando despejo
e minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos, reduzindo, à
metade, a proporção de águas residuais não tratadas e aumentando, substancialmente,
a reciclagem e a reutilização segura globalmente.
6.4 Até 2030, aumentar, substancialmente, a eficiência do uso da água em todos os
setores, além de assegurar retiradas sustentáveis e o abastecimento de água doce para
enfrentar a escassez de água, reduzindo, substancialmente, o número de pessoas que
sofre com a escassez de água.
6.5 Até 2030, implementar a gestão integrada dos recursos hídricos em todos os níveis,
inclusive, via cooperação transfronteiriça, conforme apropriado.
6.6 Até 2020, proteger e restaurar ecossistemas relacionados com a água, incluindo
montanhas, florestas, zonas úmidas, rios, aquíferos e lagos.
6.a Até 2030, ampliar a cooperação internacional e o apoio à capacitação para os países
em desenvolvimento em atividades e programas relacionados à água e saneamento,
incluindo a coleta de água, a dessalinização, a eficiência no uso da água, o tratamento
de efluentes, a reciclagem e as tecnologias de reuso.
6.b Apoiar e fortalecer a participação das comunidades locais, para melhorar a gestão da
água e do saneamento.

Leia mais em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/6.

Já estudamos a importância do saneamento básico na prevenção da


ocorrência de patologias de veiculação hídrica e do esforço mundial para que
todos tenham acesso ao serviço. Agora, estudaremos as doenças de veiculação
hídrica em si. Seguimos em frente!

122
TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

2.1 FLORAÇÕES DE ESPÉCIES DE CIANOBACTÉRIAS E


CONSEQUÊNCIAS
As cianobactérias são microrganismos com características procariontes
(similares às bactérias), capazes de realizar a fotossíntese oxigênica (bactérias que
realizam a fotossíntese com liberação de O2). De modo geral, as cianobactérias se
apresentam enquanto colônias filamentosas móveis, chamadas de hormogônicas, de
coloração azul esverdeada (ROCHA, 2020).

FIGURA 19 – COLÔNIAS FILAMENTOSAS DE CIANOBACTÉRIAS

FONTE: <https://www.luciacangussu.bio.br/artigo/cianobacterias-contam-ate-dez/>.
Acesso em: 4 maio 2020.

Benéficos aos processos ambientais, esses organismos estão associados ao


ciclo do carbono e do nitrogênio e são, inclusive, o principal grupo de organismos
responsável pela fixação do nitrogênio molecular na Terra, com destaque para o
gênero Trichodesmium.

Florações extensas das cianobactérias podem ser prejudiciais aos animais


e, inclusive, à espécie humana, especialmente, quando ocorrem em reservatórios
e em rios de abastecimento humano. Essa problemática se deve ao fato de que
as cianobactérias são responsáveis pela produção de cianotoxinas, que podem
apresentar ação neural ou hepática, gerando danos severos aos demais organismos
(CARMICHAEL, 1992 apud ROCHA, 2020).

A presença de florações de cianobactérias em sistemas de abastecimento


de água é um problema preocupante, visto que as etapas convencionais de
tratamento não conseguem remover as cianotoxinas. Essa questão se torna ainda
mais grave dados os resultados de estudos científicos recentes que indicam
que a ingestão dessas toxinas aumenta o risco do desenvolvimento de doenças,
a exemplo da esclerose lateral amiotrófica, em virtude da ação neurotóxica
(CALLER et al., 2009; BANACK et al., 2005 apud ROCHA, 2020).

123
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

Cerca de 40 espécies de cianobactérias produzem substâncias tóxicas


(cianotoxinas), que são liberadas, especialmente, quando as células dos organismos
envelhecem e se rompem espontaneamente, ou quando produtos químicos, como
algicidas, são adicionados à água, para o controle (CANGUSSU, 2020).

A crescente eutrofização dos ambientes aquáticos tem sido produzida


por ação antrópica, o que vem ocasionando um enriquecimento artificial desses
ecossistemas, especialmente, fósforo e nitrogênio, gerando um aumento de
eventos de eutrofização nos ambientes.

NOTA

A eutrofização é definida como o aumento da concentração de nutrientes,


especialmente, nitrogênio e fósforo, nos ecossistemas aquáticos. Esta pode ser de ordem
natural (processo lento, porém, contínuo) ou artificial (provocada pela espécie humana)
(ESTEVES, 1998).

A eutrofização artificial é de origem humana e consequência do emprego


extenso de fertilizantes na agricultura, contaminando rios, lagos e mananciais.
Também resulta da descarga de águas residuárias (esgotos) industriais e
domésticas sem nenhum tratamento, em virtude da elevada taxa de urbanização
e da falta de saneamento básico, conforme já mencionado no início deste tópico.
Esse enriquecimento artificial gera modificações na qualidade da água, como
diminuição do oxigênio dissolvido, aumento dos custos de tratamento de
água para consumo, morte extensiva de peixes, decréscimo na diversidade de
espécies da comunidade fitoplanctônica e aumento da incidência de florações de
microalgas, especialmente, de cianobactérias.

Em florações ocorridas em águas continentais, as cianobactérias estão entre


os organismos mais presentes nesse tipo de fenômeno. As florações, geralmente,
apresentam consequências visíveis e danosas aos organismos e ao meio ambiente.
Alteram o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos, criam um biofilme superficial
de cor verde, alterando a transparência da água e levando à desoxigenação de
lagos e de rios. Também liberam compostos com gosto e odor desagradáveis,
afetam a potabilidade da água para consumo humano e, até mesmo, em áreas de
recreação, comprometendo a qualidade dos recursos hídricos.

124
TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

FIGURA 20 – FLORAÇÃO DE CIANOBACTÉRIAS EM UM CORPO HÍDRICO

FONTE: <https://conhecimentocientifico.r7.com/cianobacterias/>. Acesso em: 4 maio 2020.

2.2 DOENÇAS CAUSADAS POR VÍRUS


Conforme já estudamos, as fezes contaminadas com microrganismos
patogêni­cos e os esgotos domésticos que as transportam são veículos de
transmissão desses microrganismos, e, se despejados no ambiente sem
tratamento adequado, favorecem a disse­minação. As doenças infecciosas podem
ser provocadas por vírus, bactérias, protozoários e helmintos patogênicos
(CEBALHOS; DINIZ, 2017).

Os vírus entéricos ou de disseminação entérica são, constantemente, objeto


de estudos ambientais, e pertencem a diversas famílias e gêneros, estando associados
a inúmeras doenças infecciosas. A terminologia “vírus entéricos” representa
todos os grupos virais que residem no trato gastrointestinal humano e que, após
a transmissão fecal-oral, podem gerar infecções em indivíduos susceptíveis. Esses
“organismos” são altamente resistentes a condições ambientais desfavoráveis.

Os norovírus (NoV) constituem os principais agentes virais entéricos


responsáveis pelos surtos de gastroenterite de veiculação hídrica no mundo,
seguidos pelos adenovírus (AdV), echovírus e vírus da hepatite A (HAV)
(SINCLAIR; JONES; GERBA, 2009 apud PRADO; MIAGOSTOVICH, 2014).
O rotavírus do grupo A (RV-A), considerado o principal responsável pela
gastroenterite infantil aguda, também tem sido relacionado a diversos surtos
de gastroenterite de veiculação hídrica (MACHADO, 2012; BOSCH, 2008 apud
PRADO; MIAGOSTOVICH, 2014).

125
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

A seguir, será possível evidenciar as doenças geradas por vírus presentes


nos ecossistemas aquáticos e as doenças associadas.

QUADRO 2 – DOENÇAS OCASIONADAS POR VÍRUS PATOGÊNICOS

Gênero Nome popular Doenças associadas


Enterovirus Poliovírus (PV) Paralisia, meningite, febre
Coxsackievírus A Meningite, febre, doença
respiratória, doença das mãos,
pés e boca
Coxsackievírus B Miocardites, anomalias do
coração, diabetes
Echovírus Meningite, febre, doença
respiratória, gastroenterite
Hepatovirus Vírus da hepatite A (HAV) Hepatite
Rotavirus Rotavírus (RV) Gastroenterite
Norovirus Norovírus humano (HuNoV) Gastroenterite
Hepevirus Vírus da hepatite E (HEV) Hepatite
Mamastrovirus Astrovírus humano (HAsTV) Gastroenterite
Mastadenovirus Adenovírus humano (HAdV) Gastroenterite, doença
respiratória, conjuntivite
Polyomavirus Poliomavírus humano (JCPyV) Leucoencefalopatia multifocal
progressiva, doenças do trato
urinário
Alphatorquevirus Torque teno vírus (TTV) Desconhecida/Hepatite
Kobuvirus Klasse vírus Gastroenterite

FONTE: Adaptado de Bosch et al. (2008) apud Prado e Miagostovich (2014)

Legenda: Leucoencefalopatia: doença que gera demielinização progressiva do sistema


nervoso central, déficits neurológicos multifocais (ex.: complicações na visão, audição e
fala) e morte, geralmente, em 9 meses (MANUAL MSD, 2020).

A detecção de vírus em amostras ambientais é um desafio, especialmente,


em virtude da grande variedade e da complexidade de amostras. Ademais,
exige uma etapa prévia de concentração de amostras destinadas à redução
do volume, além do posterior emprego em análises moleculares (PRADO;
MIAGOSTOVICH, 2014).

Cabe salientar que os vírus não têm sido integrados como padrões de
monitoramento para mensurar a qualidade sanitária de efluentes produzidos por
ETEs (Estações de Tratamento de Efluentes). É o caso das resoluções do CONAMA
(Conselho Nacional do Meio Ambiente) 357/2005 e 430/2011. Esse fator gera a
carência de medidas mais específicas, objetivando o controle da disseminação
viral em corpos d’água (PRADO; MIAGOSTOVICH, 2014).

126
TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

2.3 DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS


Dentre as espécies de bactérias que se apresentam como agentes
causadores de doenças de veiculação hídrica, têm destaque aquelas pertencentes à
família Enterobacteriaceae (ROCHA, 2020).

QUADRO 3 – DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA CAUSADAS POR BACTÉRIAS

Bactéria Doença associada


Salmonella enterica (subespécie enterica) Febre tifoide e salmonelose
S. typhi Febre tifoide
S. paratyphi Febre paratifoide
Escherichia coli Gastroenterite
Shigella dysenteriae Shigelose
Vibrio cholerae Cólera
Outros vibriões
Campylobacter jejuni Disenteria
Yersínia enterocolítica Diarreias e septicemias
Leptospira icterohaemorrhagiae Leptospirose

FONTE: Rocha (2020) e Feachem et al. (1983) apud Cebalhos e Diniz (2017)

Legenda: Febre tifoide: apresenta, enquanto sintomas característicos: febre prolongada;


alterações intestinais, que vão da constipação à diarreia com sangue; cefaleia (dor de
cabeça); falta de apetite; mal-estar; prostração; aumento do fígado e do baço; distensão; e
dores abdominais, náuseas e vômitos.  A febre paratifoide possui sintomatologia similar
(DRAUZIO, 2012). Shigelose: infecção aguda do intestino. Os sintomas incluem febre,
náuseas, vômitos e diarreia (MANUAL MSD, 2020).

ATENCAO

Acadêmico, não se assuste com a quantidade de nomes científicos dos


organismos mencionados. Estes são importantes para que você tenha noção das patologias
de veiculação hídrica e do papel do saneamento básico na prevenção dessas e de outras
doenças relacionadas.

Conforme já mencionado, a presença de MO causadores de doenças


em ambientes aquáticos, em geral, deve-se à contaminação dos ambientes com
material fecal, devido ao fato de que a maior parte desses organismos coloniza
o trato gastrointestinal de seres humanos e de outros animais. Dessa forma,
muitas espécies podem ser empregadas como indicadores de qualidade da

127
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

água, a exemplo da bactéria Escherichia coli (ROCHA, 2020; CEBALHOS; DINIZ,


2017). Essa bactéria integra o grupo conhecido como coliformes, formado por
bactérias associadas a processos de decomposição, com fermentação da lactose e
consequente produção de ácidos orgânicos e gás carbônico (ROCHA, 2020).

O grupo dos coliformes totais (CT) abrange bactérias Gram-negativas,


que fermentam a lactose a 35oC, com produção de ácido e de gás. Esse grande
grupo apresenta um subgrupo denominado, inicialmente, de coliformes fecais
(atualmente, é chamado de coliformes termotolerantes). Cabe apontar que a
bactéria E. coli é a única espécie que confirma a contaminação fecal (CEBALHOS;
DINIZ, 2017). Assim, a seguir, poderemos evidenciar os três grupos de coliformes,
atualmente, em utilização: coliformes totais (CT), coli­formes termotolerantes
(anteriormente, chamados de coliformes fecais – CF) e E. coli.

FIGURA 21 – COLIFORMES TOTAIS (GRANDE GRUPO DE MO) QUE INCLUEM COLIFORMES


TERMOTOLERANTES E E. COLI

FONTE: Adaptada de Cebalhos e Diniz (2017)

A subdivisão do grupo coliformes, os coliformes termotolerantes, possui


a capacidade de reprodução em temperatura acima de 40°C. Os organismos estão
associados às fezes de animais endotérmicos (ex.: espécie humana). Esse grupo
está incluso no grupo dos coliformes totais (CT), bactérias Gram-negativas que
fermentam a lactose a 35°C, com produção de ácido e de gás (ROCHA, 2020).

As bactérias do gênero Enterococcus também pertencem ao grupo.


Contudo, a maior presença é de E. coli em amostras de águas contaminadas,
quando comparadas aos demais coliformes termotolerantes, ligadas a técnicas
simples e disseminadas para a detecção. Assim, há a escolha da espécie como
uma bioindicadora adequada de contaminação de corpos d’água (ROCHA, 2020),
mas o que é uma espécie/organismo bioindicador?

Como o próprio nome diz, esses organismos recebem a denominação de


bioindicadores, pois apresentam a capacidade de inferir sobre a qualidade ambiental,
são de fácil percepção e dão respostas pontuais, de acordo com a presença ou a
ausência em uma determinada área ou local (CALLISTO; GONÇALVES-JÚNIOR;
MORENO, 2005). A terminologia bioindicador é uma denominação genérica

128
TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

utilizada para diversos organismos vivos, que possuem essas características,


podendo ser encontrados em diversos ambientes ao redor do mundo, e nos mais
diversos tipos de hábitats (CONTI, 2008 apud FERNANDES; SOUZA, 2018). Os
coliformes termotolerantes que estudamos são exemplos de bioindicadores.

2.4 DOENÇAS CAUSADAS POR FUNGOS


Os fungos passaram a receber mais atenção como contaminantes de água
potável nas últimas décadas, pois infecções de origem fúngica têm se tornado cada
vez mais comuns. Espécies potencialmente patogênicas, alergênicas e toxigênicas
são isoladas de água, às vezes, em altas concentrações (YAMAGUCHI et al., 2007;
HAGESKAL, 2009; NUNZIO; YAMAGUCHI, 2010 apud OTTONI et al., 2014).

Bactérias filamentosas dos gêneros Thiothrix, Beggiatoa e Sphaerotillus são


abundantes nas regiões de rios e de represas, onde são descarregados os esgotos
domésticos, assim como em pântanos, onde há abundante matéria orgânica em
decom­posição. Essas bactérias, com leveduras e fungos do gênero Geotrichum
spp, por exemplo, e com cianobactérias filamentosas dos gêneros Oscllatoria e
Phormidium, formam os denominados fungos dos esgotos (MARA, 1974 apud
CEBALHOS; DINIZ, 2017).

Visualizam-se como tufos de fios esbranquiçados sobre um fundo


aquático marrom-preto com filamentos ver­des e escuros. Dessa forma, a presença
dessas bactérias e desses fungos em quantidades excessivas, no ambiente, é um
indi­cador da entrada dos esgotos e de qualquer outro tipo de resíduo rico em
matéria orgânica (MARA, 1974; BITTON, 2005 apud CEBALHOS; DINIZ, 2017).

Há relatos de transmissão por águas recreacionais e por águas


recreacionais de leveduras, como Cândida albicans e diversos fungos filamentosos.
A detec­ção desses MO confere importantes informações complementares acerca
do grau de contaminação das águas. Entretanto, torna-se difícil o isolamento em
monitoramentos de qualidade da água de monitoramento de rotina (CEBALHOS;
DINIZ, 2017).

Uma grande diversidade de espécies de fungos foi isolada a partir da


água potável, como fungos potencialmente patogênicos, alergênicos e espécies
toxigênicas. Por exemplo, Aspergillus fumigatus foi recuperado a partir de 49% das
torneiras investigadas no Hospital Universitário Rikshospitalet, em Oslo (capital
da Noruega), em uma pesquisa efetuada por Warris e colaboradores (2001)
(SILVA, 2014).

A. fumigatus se constitui como um dos mais importantes fungos


patogênicos que causam infecções em pacientes imunocomprometidos (ex.:
portadores de HIV) em hospitais. Devido à frequência crescente de pacientes
imunodeprimidos, os hospitais estão enfrentando um grande desafio a respeito
das infecções fúngicas oportunistas (DENNING, 2006 apud SILVA, 2014). Os

129
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

resultados indicam que águas de hospitais podem conter uma grande diversidade
de fungos, incluindo os potencialmente patógenos (SILVA, 2014). Suspeita-se que
os fungos presentes na água podem se tornar aerossóis para o ar, quando a água
passa por instalações (ex.: torneiras) e, desse modo, introduzida em indivíduos
gravemente imunocomprometidos com alto risco de infecções fúngicas
(ANAISSIE et al., 2002b; WARRIS et al., 2001 apud SILVA, 2012).

A espécie de fungo ocasiona uma série de doenças, como a aspergilose


pulmonar invasiva. Esta é, agora, considerada como uma das principais causas
de morte em doentes imunocomprometidos (KOUSHA; TADI; SOUBANI,
2011; MONTEIRO et al., 2012). Como sintomas, os pacientes apresentam febre e
infiltrados pulmonares, acompanhados de dor torácica e hemoptise (eliminação
de sangue do trato respiratório pela tosse).

FIGURA 22 – A. FUMIGATUS E ASPERGILOSE PULMONAR INVASIVA

FONTE: <https://www.researchgate.net/figure/Figura-4-Microscopia-de-cultivo-de-Aspergillus-
-fumigatus-Gentileza-de-TM-Agustin_fig1_297753784>; <https://www.jornaldepneumologia.
com.br/detalhe_artigo.asp?id=629>. Acesso em: 3 maio 2020.

Legenda: A – Microscopia de cultivo de A. fumicatus. B – Tomografia computadorizada


de pulmão de paciente acometido por aspergilose pulmonar invasiva. As setas indicam
nódulos irregulares, uma das características da doença.

Podemos notar que, futuramente, o monitoramento dos sistemas


de abastecimento de água para a ocorrência de fungos pode ser necessário,
especialmente, em sistemas de água de hospitais. Demais pesquisas são
fundamentais no que diz respeito ao estabelecimento de métodos precisos de
investigação e aos efeitos do tratamento da água em relação aos fungos.

130
TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

2.5 DOENÇAS CAUSADAS POR PROTOZOÁRIOS


Os MO Cryptosporidium e Giardia são protozoários parasitas de transmissão
hídrica que infectam uma ampla variedade de hospedeiros vertebrados, inclusive,
humanos (XIAU; FAYER, 2008 apud FREGONESI et al., 2012). A cryptosporidiose
e a giardíase se caracterizam por causar, nos indivíduos acometidos, quadros de
diarreia de diversa severidade, causando sérias morbidades nos hospedeiros,
principalmente, em indivíduos imunocomprometidos (LOBO et al., 2009 apud
FREGONESI et al., 2012).

FIGURA 23 – CRYPTOSPORIDIUM E GIARDIA

FONTE: <http://www.bccdc.ca/health-info/diseases-conditions/cryptosporidium>.
Acesso em: 3 maio 2020.

Legenda: A – Espécie de Cryptosporidium (Cryptosporidium parvum) em vermelho (esferas


arredondadas). B – Espécie Giardia lamblia, causadora da giardíase.

A forma de transmissão de ambos os parasitas ocorre pela via fecal-oral,


através do contato direto com as fezes de pessoas infectadas ou por contato
indireto por ingestão de água ou de alimentos contaminados (XIAU; FAYER, 2008
apud FREGONESI et al., 2012).

A análise de protozoários na água gera uma série de desafios científicos e


tecnológicos, dado que os métodos reconhecidos internacionalmente são de alta
especificidade tecnológica. Nota-se que a inserção desse tipo de metodologia
na rotina de laboratórios certificadores da potabilidade da água ainda é
incipiente no Brasil. As legislações pertinentes à temática vêm apresentando
avanços recentes, com a inclusão da recomendação para o monitoramento
de Cryptosporidium e de Giardia em associação com outros microrganismos
indicadores (FREGONESI et al., 2012).

131
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

2.6 DOENÇAS CAUSADAS POR HELMINTOS


O termo helminto advém da palavra grega Helmis, que significa “vermes”.
Os helmintos compõem um grupo numeroso de animais que compreende espécies
de vida livre e parasitárias. Esses organismos constituem um grave problema de
saúde pública em diversas regiões do mundo. A sua presença, na maioria dos
casos, está associada ao baixo desenvolvimento econômico, à falta de saneamento
básico e à falta de higiene (MUÑHOZ; FERNANDES, 2020).

Conforme a região analisada e a população, no Brasil, a frequência de


infecção por enteroparasitas sofre variação. Na literatura científica, existem
inúmeros artigos de estudos epidemiológicos na população do município em
diversos estados do país.

A seguir, será possível verificar algumas das doenças ocasionadas por


helmintos frequentes em fezes humanas que passam uma parte do ciclo de vida
no ambiente aquático (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

QUADRO 4 – DOAENÇAS OCASIONADAS POR HELMINTOS

Helminto Transmissão Doença associada


Homem e animais-caramujo
Schistosoma mansoni Esquistossomose
aquático-homem
Schistosoma haematobium Homem-caramujo aquático-homem Esquistossomose

Schistosoma japonicum Homem-caramujo aquático-homem Esquistossomose

Fasciola hepática Ovelha-caramujo aquático-homem Fasciolase


Homem ou animal-caramujo
Clonorchis sinensis Clonorchíase
aquático-peixe-homem

FONTE: Feachem et al. (1983) apud Cebalhos e Diniz (2017)

A esquistossomose é endêmica em vasta extensão do território nacional,


considerada um grave problema de saúde pública no Brasil porque acomete
milhões de pessoas, provocando um número expressivo de formas graves e
óbitos. Comumente, é adquirida por meio da pele e de mucosas em consequência
do contato humano com águas contendo formas infectantes do S. mansoni. A
transmissão da doença depende da presença do homem infectado, excretando
ovos do helminto pelas fezes, e dos caramujos aquáticos, que atuam como
hospedeiros intermediários, liberando larvas infectantes do verme nas coleções
hídricas utilizadas pelos humanos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).

132
TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

FIGURA 24 – S. MANSONI E ESQUISTOSSOMOSE

FONTE: <http://www.ufrgs.br/para-site/siteantigo/Imagensatlas/Animalia/Schistosoma%20mansoni.
htm>; <http://www.ccs.saude.gov.br/portinari/experimento02.php>. Acesso em: 3 maio 2020.

Legenda: A – Espécime (fêmea) de S. mansoni. B – Criança acometida por esquistossomose


com sintoma típico (aumento do volume do abdômen – barriga d’água).

A redução da morbimortalidade da esquistossomose requer a detecção


precoce e o tratamento de todos os portadores, evitando que a ação patogênica
acumulativa dos ovos do S. mansoni gere alterações nos órgãos afetados,
especialmente, no fígado, o que gera a hipertensão portal (aumento anormal da
pressão sanguínea na veia porta) e outras formas graves da doença. A detecção e o
tratamento dos portadores objetivam, também, reduzir a expansão geográfica da
esquistossomose (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).

O controle duradouro e sustentável da esquistossomose depende da


implementação de políticas públicas que melhorem as condições de vida
das populações. Para isso, os gestores municipais do Sistema Único de Saúde
(SUS), responsáveis pela execução das ações de vigilância e pelo controle
da esquistossomose, devem buscar, em articulação com outros setores
governamentais, a melhoria de vida das populações, por meio de ações/iniciativas
de educação e de intervenção no meio ambiente (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).

3 ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA


Agora que já evidenciamos a importância de medidas adequadas de
saneamento básico na promoção da qualidade de vida da população e das diversas
patologias decorrentes da falta/ineficiência de ações, estudaremos os principais
tipos de análises empregados para a verificação da qualidade de corpos hídricos
no diagnóstico, na promoção e na manutenção dos serviços ecossistêmicos dos
ambientes. Bons estudos e vamos em frente!

133
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

3.1 TÉCNICA DE TUBOS MÚLTIPLOS


Conhecemos os fundamentos da técnica de tubos múltiplos neste tópico, mas,
de que forma, esses conhecimentos são aplicados em uma análise rotineira dos MO?

Primeiramente, é necessário definir os volumes de amostra e diluições a


serem realizadas. Conforme Cebalhos e Diniz (2017), para água potável, podem
ser utilizados cinco tubos para 10 mL, cinco tubos para 1 mL e cinco tubos para
0,1 mL. Mesmo não atingindo o volume recomendado de 100 mL, isso pode ser
útil para algum dado que não faça parte da rotina de controle sistemático da
qualidade da água. Para a água não potável, pode-se usar, sem restrições, o teste
de tubos múltiplos de 15 tubos, ou seja, cinco tubos para cada volume e diluições
de 1; 0,1 (10-1); 0,001 (10-2), 0,001 (10-3 mL); e assim por diante.

Já sabemos que a técnica está dividida nos ensaios presuntivo, confirmativo


e fase completa. Para conhecer os meios de cultivo e as particularidades que
envolvem as análises, observaremos o exposto a seguir.

QUADRO 5 – ETAPAS DA TÉCNICA DE TUBOS MÚLTIPLOS PARA O GRUPO COLIFORMES

Temperatura
Meio de cultura Utilização e período de Especificações
incubação
As alíquotas da água a serem
quan­tificadas, ou as diluições, são
Isolamento 35 ±0.5 °C ou inoculadas em tubos de ensaio com
Caldo Lauryl presuntivo (fase 37±0.5 °C meio de cultura. Tubos positivos
Triptose (CLT) presuntiva) de com turbidez e gás contêm presunti­
coliformes 24h a 48h vamente coliformes totais). Aqueles
tubos que são negativos, após as 24
horas, ficam mais 24 horas na estufa.
Dos tubos positivos da etapa
35 ±0.5 °C ou presuntiva anterior, repica-se,
Caldo Verde Confirmação de
37±0.5 °C com alça bacteriológica estéril, a
Brilhante Bílis coliformes totais
cultura do CLT para o caldo CVBLB,
2% (CVBLB) (fase confirmativa)
24h a 48h destinado à confirmação da presença
de coliformes totais.
A partir de tubos positivos da fase
presuntiva, efetua-se, de modo
simultâneo, uma ou duas alças
bacteriológi­cas para tubos contendo
o meio caldo EC (específico para
Confirmação coliformes termotolerantes) e para
Caldo EC de bactérias - o CVBLB 2% (para investigação de
termotolerantes coliformes totais). Os tubos inoculados
com EC devem ser incubados a 44,5
°C, durante 24 horas, de pre­ferência
em banho-maria, com recirculação de
água, para garantir que todos os tubos
recebam a mesma temperatura.

FONTE: Adaptado de Cebalhos e Diniz (2017)

134
TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

Legenda: É importante lembrar que o aspecto da formação de bolhas de gás nos tubos de
Durham é uma característica fundamental em todas as fases da técnica de tubos múltiplos.
Por meio dos resultados para coliformes totais e termotolerantes, procede-se à consulta
da tabela para o cálculo do NMP.

Para diferenciar, de modo seguro e rápido, o E. coli a partir dos tubos


positivos de EC, usa-se o meio cromogênico EC-MUG. Esse meio é empregado
para a confirmação de E. coli pela produção de fluorescência quando se ilumina
com luz UV (λ 366 nm). Para identificar a presença de E. coli, deve-se trans­ferir
uma ou duas alças da cultura positiva nos tubos do teste confirmativo Verde
Brilhante Bílis para o meio EC-MUG, além de incubar em banho-maria a 44,5 ±
0,2°C por 24 ± 2 horas, man­tendo o nível da água ou a temperatura homogênea
na estufa. Observar os tubos e aqueles em que, houve crescimento (tur­bidez),
submetê-los à luz UV (λ 366 nm). A presença do brilho azul fluorescente é uma
resposta positiva para E. coli (CEBALHOS; DINIZ, 2017). Os resultados também
são expressos em NMP/100 mL, utilizando-se a tabela de NMP.

FIGURA 25 – RESULTADO POSITIVO E NEGATIVO PARA O TESTE COM EC-MUG

FONTE: <http://universe84a.com/mug-test/>. Acesso em: 4 out. 2020.

Legenda: Presence of blue fluorescence (presença de fluorescência); Lack of blu


fluorescence (ausência de fluorescência azul). MUG test (teste MUG) – Positivo (esquerda) e
negativo (direita).

135
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

DICAS

E. coli é o único coliforme que produz a enzima ß-glu­curonidase, que permite


metabolizar parte da molécula MUG e produzir fluorescência. MUG é a sigla do composto
4-metilumbeliferil-β-D-glucoronídeo, molécula sintética e marcada com a substância
luminescente no fragmento 4-metilumbeliferil. A enzima ß-glucuronidase cliva o MUG
em dois componentes: 4-metilumbeliferil e o ß-d-glucorini­deo. Esse último composto é
assimilado e metabolizado pela E. coli enquanto o primeiro fica livre no meio e expressa
a marca de bioluminescência ao ser iluminado com UV (λ 366) (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

3.2 TÉCNICA COLILERT®


O Colilert® é empregado na detecção e na enumeração de coliformes
totais, e E. coli em amostras de água, por meio da hidrólise enzimática (quebra
de moléculas por meio de enzimas) de substratos específicos, como ONPG e
MUG. O substrato cromogênico ONPG (Orto-nitrofenil-β-D-galactopiranosídeo)
é específico para a enzima constitutiva GAL (beta-galactosidade) presente nos
coliformes. Já o substrato MUG é empregado, especificamente, para E.coli.
(BUCKALEW et al., 2006; LOPEZ-ROLDAN et al., 2013 apud OLIVEIRA, 2013).

E
IMPORTANT

Acadêmico, os nomes das enzimas e dos substratos mencionados são


importantes para o mecanismo do teste em si. Entretanto, não há necessidade de
memorizá-los. É importante que você compreenda a finalidade do teste na obtenção de
resultados de forma mais ágil.

Colilert® se trata de um kit desenvolvido pela empresa IDEXX, de


utilização fácil e prática, especialmente, quando da análise de numerosas amostras
diariamente. Essa realidade ocorre, por exemplo, em companhias de água e de
esgoto que devem monitorar a qualidade da água fornecida em diversos pontos
da rede distribuidora (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

O kit conta com sacos de plástico estéreis com tiossulfato de sódio, que
se destina à eliminação do cloro residual presente na água potável. Além disso,
apresenta a marca para coletar 100 mL de amostra ou frascos de coleta estéril,
também, com a marca de 100 mL. O meio de cultivo em pó é fornecido pelas cartelas
plásticas e já vem esterilizado. A cartela possui ampolas plásticas individuais de
fácil abertura, com a quantidade de meio estéril adequada para ser adicionada
diretamente a 100 mL de amostra de água (CEBALHOS; DINIZ, 2017).
136
TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

FIGURA 26 – PRODUTOS COLILERT®

FONTE: <https://twitter.com/hashtag/colilert>. Acesso em: 4 out. 2020.

Legenda: À esquerda – Cartelas COLILERT®; à direita – tubos com meio de cultivo para
teste de presença/ausência.

Quando a amostra possui elevada contaminação microbiana, são


elaboradas diluições seriadas com água destilada estéril adicionada do meio de
cultivo em frascos estéreis, com capacidade superior a 100 mL (ex.: frascos de 200
mL). Assim, são preparadas as diluições seriadas da mostra, sendo inoculadas,
seguindo as orientações para NMP, ou seja, em 90 mL de água destilada estéril
com meio de cultivo, são adicionados 10 mL de amostra de água que se pretende
investigar. Desse modo, obtém-se a primeira diluição decimal (10/100 = 10-1)
(CEBALHOS; DINIZ, 2017).

Posteriormente à agitação da primeira diluição, retiram-se 10 mL e estes


são adicionados em outro recipiente com 90 ML de água destilada estéril com
meio de cultivo, agitando-se novamente. Temos, então, a diluição (10/100 = 10-2).
O procedimento deve ser repetido até a última diluição desejada para o estudo/
monitoramento. Cada uma dessas diluições é inoculada em uma cartela diferente,
de modo a se obterem resultados com células positivas e negativas (CEBALHOS;
DINIZ, 2017).

De forma a se proceder com a execução do teste, o meio de cultura é


dissolvido diretamente na amostra. Os resultados podem ser obtidos em até 18
horas ou menos, dada a determinação simultânea da presença-ausência (P/A) de
coliformes totais e de E. coli, altamente importante na situação de calamidade
pública ou na necessidade de análises rápidas da qualidade microbiológica da
137
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

água. O teste qualitativo pode ser empregado em análises de águas potáveis, pois
devem apresentar, sempre, resultado negativo. Já o teste quantitativo (cartela)
pode ser utilizado em avaliações da eficiência das estações de tratamento de
água, da qualidade bacteriológica da água produzida na saída do tratamento e
da água distribuída pela rede.

QUADRO 6 – ANÁLISES QUALITATIVA E QUANTITATIVA DO TESTE COLILERT®

Temperatura
Análise Quantitativa Princípio do teste e período de Especificações
incubação
Primeiramente, é
observado se ocorreu
São utilizadas Essas células
mudança da cor do
cartelas espe­cíficas representam repetições
meio para amarela
com depressões de um mesmo inóculo,
intensa em alguma
ou cavidades ou seja, da mesma
célula, indicativo de
denominadas células. diluição da amostra. 37°C
resultado positivo
Estas são preenchidas Desse modo, trata-se
para coliformes totais
com 100 mL da amos­tra da aplicação do mesmo 18 - 24 horas.
positivos. Em seguida,
(ou de suas soluções) método estatístico
observa-se a mesma
, sendo adicionado, da Técnica de Tubos
cartela sob UV (366
previamente, o meio de Múltiplos, denominada
nm). A presença de
cultura. de Técnica do NMP.
fluorescência azul
confirma E. coli.
Temperatura
Análise Quantitativa Princípio do teste e período de Especificações
incubação
Leitura dos
resultados:
Adicionar o meio Adição do meio de 35°C Incolor: negativo;
de cultura ao frasco, cultura em 100 mL da Amarelo: coliformes
contendo a amostra. amostra de água. 24 h totais;
Amarelo/azul
fluorescente: E. coli.

FONTE: Adaptado de Cebalhos e Diniz (2017)

Ambas as técnicas que estudamos (Técnica De Tubos Múltiplos e Colilert®)


apresentam vantagens e desvantagens. Vamos conhecê-las?!

138
TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

QUADRO 7 – VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS TÉCNICAS: TUBOS MÚLTIPLOS E COLILERT®

Técnicas de Tubos
Vantagens Desvantagens
Múltiplos
Método laborioso, pois necessita de
Esta técnica tem a vantagem grandes quantidades de vidrarias e
de analisar tanto amostras meio de culturas, sendo necessários
límpidas como turvas. repiques e longo tempo de incubação
chegando a 96 horas
Colilert® Vantagens Desvantagens
Maior precisão.
Simples manuseio.
Rápida execução.
Não requer trabalho de Necessidade do uso de uma seladora
preparo de meios de cultura; para lacrar a cartela antes da
Tempo de resposta mais incubação.
ágil, já que a determinação
simultânea de coliformes Maior preço do método Colilert®
(totais) e E. coli é efetuada elevando o custo da análise, em
após incubação das amostras especial, do aparelho selador.
a 35 o C por 24 horas, não
havendo necessidade de
ensaios confirmativos

FONTE: Adaptado de Fundação Nacional de Saúde (2013), IFSC EDU (2020) e Fernandes e Gois (2015)

3.3 CONTAGEM DE BACTÉRIAS HETEROTRÓFICAS


A realização da contagem de bactérias heterotróficas, definidas,
genericamente, como MO, que necessitam de carbono orgânico como fonte de
nutrientes, provê informações a respeito da qualidade bacteriológica da água de
modo amplo. Inclusive, a técnica empregada para quantificar os MO heterótrofos
na água objetiva atender às instruções do Standard Methods for the Examination of
Water and Wastewater, publicação da American Public Health Association (APHA),
American Water Works Association (AWWA) e Water Environment Federation
(BRASIL, 2011). São em órgãos ambientais e de saúde norte-americanos.

Com a determinação da densidade total de bactérias hete­rotróficas ou CPP,


seja em águas brutas ou para consumo humano, é possível que sejam verificadas
as condições higiênicas da fonte e das águas tratadas, de modo a se avaliar a
eficiência das diversas etapas de tratamento, além de registrar as condições
higiênicas ao longo da rede de distribuição (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

Estudos confirmaram a associação existente entre a frequência de detecção


de coliformes e a densidade de bactérias totais, entretanto, somente até níveis
de contagem de 500 UFC/mL. Quando a população de bactérias ultrapassa as
1000 UFC/mL, a frequência de detecção de coliformes decresce. Cabe salientar
que todas as portarias do Ministério da Saúde que tratam da qualidade de água
admitem a presença de, no máximo, 500 UFC/mL de água tratada (CEBALHOS;
DINIZ, 2020).

139
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

Agora que já conhecemos os princípios compreendidos na análise


da contagem de bactérias heterotróficas, estudaremos a metodologia para a
verificação, conforme APHA (2012) apud Glowacki e Crippa (2018).

O método empregado para análise se trata do spread plate, acerca do


qual estudamos no Tópico 1. Contudo, é importante relembrar que a técnica se
constitui no espalhamento uniforme da solução em placa com meio de cultivo
apropriado. Para tal procedimento, a amostra deve ser analisada à temperatura-
ambiente. Separar duas placas de Petri contendo ágar padrão para contagem a
cada diluição.

Na diluição, realiza-se a homogeneização da amostra 25 vezes por


inversão e, nas proximidades do Bico de Bunsen, pipeta-se 1 mL para um tubo
estéril, contendo 9 mL de água autoclavada. Em seguida, é homogeneizado o
tubo em vórtex (agitador de tubo de ensaio), continuando a diluição seriada até
atingir a solução desejada.

Para a inoculação, deve-se aproximar do Bico de Bunsen, além de pipetar


100 uL (microlitros = 0,1 mL) da amostra no centro de cada placa. Geralmente,
utiliza-se, como meio de cultura, o Plate Count Agar (PCA).

NOTA

O meio Plate Count Agar (PCA) é, também, chamado de Ágar Extrato


Glicose Triptona. Esse meio pode ser utilizado no método “pour-plate”, e está disponível
comercialmente na forma desidratada (STANDARD METHODS, 2018).

Em seguida, espalha-se a amostra, movimentando o bastão (embebido


em álcool a 96° e flambado) em círculos de dentro para fora da placa. Para cada
análise, faz-se um branco, incubando uma placa sem amostra e um controle
negativo. Incubam-se as placas invertidas em estufa a 35 ± 0,5°C por 48 horas.
Após o tempo de incubação, conta-se o número de colônias presentes nas placas
e se procede com o cálculo de UFC/mL da amostra. A ausência de crescimento na
placa de branco valida as análises.

140
TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

FIGURA 27 – PROCEDIMENTO DE CONTAGEM DE COLÔNIAS EM CONTADOR DE COLÔNIA

FONTE: <https://microambiental.com.br/analises-de-agua/bacterias-heterotroficas-e-a-
qualidade-da-agua/>. Acesso em: 6 out. 2020.

3.4 DENSIDADE DE CIANOBACTÉRIAS


Conforme evidenciamos anteriormente, as cianobactérias representam
um perigo adicional à qualidade da água pela capacidade potencial de numerosas
espécies de produzirem cianotoxinas, que se bioacumulam nas células de
protozoários, crustáceos, animais e espécie humana, sofrendo biomagnificação
ao longo das cadeias e das teias alimentares (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

ATENCAO

Você sabe o significado dos termos bioacumulação e biomagnificação?


Bioacumulação é o termo geral que descreve um processo pelo qual substâncias (ou
compostos químicos) são absorvidas pelos organismos. O processo pode ocorrer de forma
direta, quando as substâncias são assimiladas a partir do meio ambiente (solo, sedimento,
água), ou de forma indireta, pela ingestão de alimentos quem contêm as substâncias. Esses
processos, frequentemente, ocorrem de forma simultânea, em especial, em ambientes
aquáticos. Já a biomagnificação (ou magnificação trófica) é um fenômeno que ocorre
quando há acúmulo progressivo de substâncias de um nível trófico para outro ao longo da
teia alimentar. Assim, os predadores do topo têm grandes concentrações das substâncias
do que as presas (MONTONE, 2020).

141
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

No Brasil, a Portaria n° 2914/2011, do Ministério da Saúde, legisla a


respeito de cianobactérias e de cianotoxinas nos mananciais (fontes de água que
podem ser empregadas para o abastecimento público), e preconiza a frequência
amostral em detrimento da densidade das células e do monitoramento das
concentrações de cianotoxinas no manancial, ao longo do tratamento, na
saída da ETA (Estação de Tratamento de Água) e na entrada das clínicas de
hemodiálises (BRASIL, 2011).

A análise de cianobactérias pode ser realizada sob o enfoque qualitativo


ou quantitativo.

Para a análise qualitativa, a amostra deve ser coletada, diretamente,


com o auxílio de um recipiente de boca larga, garrafa de profundidade, ou
concentrada com rede de plâncton. A amostra deve ser acondicionada em um
recipiente de polietileno denso (150-300 mL), preservada em formol, de forma
que a concentração final corresponda a 2%-4% do volume total (BRASIL, 2016).
Em laboratório, é efetuada a análise, a partir das observações em microscópio
óptico, dos aspectos morfológicos das cianobactérias e dos táxons identificados,
de acordo com a bibliografia pertinente para o grupo em questão. Os organismos
foram identificados através de chaves de identificação específicas.

FIGURA 28 – REDE COLETORA DE PLÂNCTON

FONTE: <https://www.didaticasp.com.br/rede-de-fitoplancton-20-micras>; <https://www.resear-


chgate.net/figure/Figura-98-Rede-coletora-de-plancton-e-seus-componentes_fig6_216014721>.
Acesso em: 6 out. 2020.

Legenda: A – Rede coletora de plâncton. B – Rede coletora de plâncton e de componentes.

No caso da análise quantitativa, tal amostra deve ser coletada, diretamente,


com o auxílio de um recipiente de boca larga na superfície e com garrafa para
as profundidades (para mananciais de abastecimento, no ponto de captação). O
acondicionamento deve ser em recipiente de vidro ou de plástico do “tipo âmbar”
(150-300 mL), fixado com lugol acético (1%). Pode ser empregado, também, um
recipiente de plástico denso, envolvido com papel-alumínio ou madeira, desde
que evite a incidência de luz. Quanto ao transporte, caso mantido sob refrigeração,
o lugol conserva melhor as características de preservação (BRASIL, 2016).

142
TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

Em laboratório, é empregado o método de sedimentação em Câmara de


Utermöhl, realizada uma subamostragem de volumes de 10, 5 ou de 2 mL. A
câmara deve permanecer em local plano para fornecer distribuição homogênea, e
em ambiente úmido, para evitar a evaporação durante o tempo de sedimentação.
Nesse caso, é necessária a utilização de um microscópio invertido para a contagem
(RAMOS; LIRA; LIRA, 2015).

A contagem é realizada em campos por transecto, considerando o número


de células de cada táxon, quando possível, ou o número de organismos, sendo
este, posteriormente, convertido em um número de células a partir da média de
células da população de cada táxon, previamente estabelecida. Os resultados são
apresentados em células por mL de amostra (RAMOS; LIRA; LIRA, 2015).

FIGURA 29 – REPRESENTAÇÃO DO PROCEDIMENTO DE SEDIMENTAÇÃO DE AMOSTRAS EM


CÂMARA DE UTERMÖHL

FONTE: <http://www.funasa.gov.br/site/wp-content/uploads/2013/05/Giulliari.pdf>.
Acesso em: 6 out. 2020.

143
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

Após a contagem de células, é efetuado um cálculo com base no


procedimento a seguir:

A conversão em células por mL (cél./mL ou cél.mL-1) foi desenvolvida


a partir do cálculo do Fator (F), obtido pela fórmula a seguir: F = A/a/v:
F = fator de conversão do número de células ou organismos contados
por mL; A = área do fundo da cubeta; a = área contada (corresponde à
área do campo objetiva x número de campos contados); v = volume de
sedimentação (RAMOS; LIRA; LIRA, 2015, p. 3).

Por exemplo, considerando, durante uma análise quantitativa, foram


contadas 500 células de cianobactérias na amostra, em uma cubeta de volume de
10 mL, com uma objetiva (no microscópio) de aumento de 40X, analisado o total
de 20 campos da objetiva (considerar A = 4,9 cm2 e área do campo da objetiva =
0,002 cm2). Organizando os dados:

Cálculo:
A = área do fundo da cubeta = 4,9 cm2; F = V/a/v
Área do campo da objetiva de 40X = 0,002; F (fator) = 4,9/0,04/10
Número de campos analisados = 20; F (fator) = 12,5
Área contada = 0,04 cm2 (20 x 0,002);
V = Volume sedimentado = 10 Ml; Então, F x 500 = 12,5 x 500 = 6.259.
Logo, o número de células de cianobactérias
por mL é igual a 6.259 cel/mL de amostra.

No caso, a contagem de cianobactérias está abaixo de 20.000 células/


ml. Caso estivesse acima desse valor, a Portaria n° 2.914/2011, do Ministério da
Saúde, estabeleceria que fosse realizada a análise de cianotoxinas na água do
manancial, no ponto de captação, com frequência semanal (BRASIL, 2011).

3.5 AVALIAÇÃO DE CRYPTOSPORIDIUM E DE GYARDIA


A verificação de protozoários na água gera uma série de desa­fios técnico-
científicos, dado que as metodologias reconhecidas internacionalmente são de
alta especificidade. A inserção desse tipo de metodologia na rotina de laborató­
rios certificadores da potabilidade da água ainda é incipiente no país. Contudo,
a legislação vigente (exige que sejam quantificados oocistos de Cryptosporidium e
cistos de Giardia em associação com E. coli ou coliformes termotolerantes quando
a média geo­métrica anual desses últimos, nos pontos de captação, seja superior a
1.000 E.coli.100mL-1 (FRANCO; BRANCO; LEAL, 2012).

Quando a média aritmética da concentração de Cryptosporidium spp. for


maior ou igual a 3,0. L-1, nos pontos de captação de água, a turbidez do efluente
filtrado por filtração rápida deverá ser menor ou igual a 9,3 uT (unidade de
turbidez). Alternativamente, deve-se utilizar desinfecção, que, comprovadamente,
alcance a mesma eficiência na remoção de oocistos (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

144
TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

FIGURA 30 – OOCISTOS DE CRYPTOSPORIDIUM SP. E CISTOS DE GIARDIA LAMBLIA

FONTE: <encurtador.com.br/crtvE>; <encurtador.com.br/ijkAD>. Acesso em: 6 out. 2020.

Legenda: A – Oocistos de Cryptosporidium sp. B – Cistos de Giardia lamblia.

Uma das principais características biológicas dos protozoários


Cryptosporidium e Giardia é a acentuada resistência dos oocistos e dos cistos à
desinfecção por cloro, cloramina e outros desinfectantes químicos empregados
nos processos de tratamento da água (QUINTERO-BETANCOURT; ROSE, 2004
apud FRANCO; BRANCO; LEAL, 2012). Essa questão, aliada ao aspecto da
exigência da legislação nacional a respeito do levantamento e da quantificação
dos MO para laboratórios certificadores da potabilidade de água, torna os estudos
importantes na verificação da qualidade d’água para consumo humano.

Não há uma metodologia universalmente aceita para a avaliação de


Cryptosporidium e de Giardia. Em 1997, a Agência de Proteção Ambiental dos
Estados Unidos (USEPA) desen­volveu o método1622 para análise de protozoários
em águas. Foi aprimorado em 2005 e denominado de método 1623.

O método apresenta as etapas: filtração, eluição (espécie de diluição),


concentração, purificação, separação imunomagnética, detecção, quantifi­cação,
coloração – DAPI e imunofluorescência. A separação imunomagnética (IMS)
consiste na separação dos oocistos da matéria orgânica da água com uso de uma
barra magné­tica, a qual provê melhor e mais purificação da amostra. O método
mostrou acurácia na concentração, identificação e quantificação dos oocistos e dos
cistos de protozoários (McCUIN; CLANCY, 2002 apud CEBALHOS; DINIZ, 2017).

145
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

QUADRO 8 – MÉTODO 1623 PARA ANÁLISE DE CRYPTOSPORIDIUM E DE GIARDIA


Volume Centrifugação/
Tipo de filtro Eluição Purificação Visualização
da amostra Concentração
Reação direta de
Cápsulas A uma velocidade imunofluorescência,
Água bruta: Adição de
de filtração; de 1.050 x g teste confirmatório
10 litros. 600 mL de Separação
porosidade (força g), sendo, da morfologia
Água solução Imunomagnética
absoluta o volume final, com DAPI* e
tratada: até PBST 1% (IMS).
de 1,2 µm reconstituído a 10 microscopia de
1000 litros. (2 x).
(micrômetros). mL. interferência
diferencial.

FONTE: Adaptado de Connel et al. (2000) apud Franco, Branco e Leal (2012)

DAPI = 4’,6’,diamidino-2-fenilindol.

Legenda: Solução PBST: solução-tampão salina-fosfato com Tween-20. É uma solução-


tampão comumente utilizada na bioquímica. Shaker: espécie de “agitador” de laboratório.

146
TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

FIGURA 31 – DIAGRAMA DO MÉTODO 1623 DA USEPA/IMS

2b- Retenção do material


1- Coleta da amostra: 10L água 2a- Filtração em bomba particulado nos discos de
bruta em galão de polietileno peristáltica 4L/s: módulo de espuma
previamente homogenezado com filtro em espuma FILTA-MAX)
solução PBST 1%

3a- Expansão
dos discos de
espuma para
promover o
desprendimento
do material
retido
4a- Transferência da 3b- Eluição das amostras
amostra eluída para os em Stomacher. Adição de
tubos de centrífuga de 600 mL de solução PBST
(2x)e agitação durante 5 min.
(cada vez)
5a- Separação
Imunomagnetica.
Ressuspensão do pellet
com uso do vortex,
transferência da amostra
para o tubo de lado chato
e posterior adição do
4c- Obtenção do pellet final reagente imunoenzimático
4b- Concentração das Sistema Dynal/Biobeads
(0,2-0,4 mL)
amostras: 15 min centrifugação
a 15000 e 2700rpm

5c- Tubo de lado chato colocado


5d- Etapa de dissociação 5b- Rotação a 18rpm durante 1
numa parede imantada e com a
térmica a 80°C durante hora para promoção da reação
rotação manual de 90° durante
10 min. Nessa etapa o imunoezimática (os anticorpos
2 min é promovido o arraste do
conjugado - Biobeads-(oo) presentes no kit Biobeads vão
conjugado - Biobeads-(oo) cistos -
cistos - se desprende reagir com os antígenos contidos na
para a parede do tubo. Após isso, o
amostra- oocistos de Cryptosporidiume
sobrenadante é descartado
cistos de Gardia)

5e- Amostra transferida para um tudo


eppendorf e novamente colocada
em uma parede imantada, dessa vez 6a- Amostra com os (oo) cistos
somente os Biobeads serão arrastados transferida para os poços das lâminas 6b- Após coloração dos (oo)
durante rotação manual de 360° por 1 juntamente com os reagentes do kit
cistos, a lâmina é selada e
minuto, deixando, assim os (oo) cistos Merifluor que correspondem à etapa
levada ao microscópio óptico
livres na amostra de Microscopia por Epifluorescência
para quantificação
FONTE: <http://www.smarh.eng.ufmg.br/defesas/649M.PDF>. Acesso em: 9 maio 2020.
147
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

Legenda: (2a e 2b) – filtração; (3a e 3b) – eluição; (4a e 4b) – concentração; (5a, 5b, 5c, 5d e
5e) – separação Imunomagnética; (6a e 6b) – detecção e quantificação.

DICAS

Todo o procedimento de verificação da presença e da quantificação desses


MO em amostras de água é meticuloso, exigindo uma equipe técnica de laboratório
altamente especializada. A seguir, você poderá acessar um resumo esquemático de todo
o procedimento de análise fundamentado no método 1623: https://www.scielo.br/pdf/esa/
v22n1/1809-4457-esa-S1413_41522016143529.pdf. Conheça, também, o mecanismo de
funcionamento da microscopia de interferências diferencial em https://www.youtube.com/
watch?v=Oipc5BgkrRc. A partir dos seis minutos e 14 segundos, é fornecida a explicação
do mecanismo.

Após a análise em microscópio (microscopia de interferência diferencial),


o cálculo do número médio de cistos e de oocistos por litro (L) é realizado, de
acordo com a equação descrita por Breternitz (2018):

Sendo:

F = fração do pellet
purificado por IMS;

R = fração de
amostra analisada
no microscópio;

V = volume de
amostra filtrada (L).

Os resultados são expressos em número de cistos de Giardia e de oocistos


de Cryptosporidium/L.

Apesar das restrições e das discussões acerca do método 1623, é uma


ferramenta adequada para a detecção de protozoários em amostras de água.
Para a implementação, é necessária uma boa experiência dos analistas, além de
consideráveis investimentos financeiros (FRANCO; BRANCO; LEAL, 2012).

Já tivemos contato com algumas metodologias utilizadas para a análise


microbiológica da água. Na Unidade 3, estudaremos a questão da microbiologia
aplicada aos processos de tratamento de efluentes e nos aprofundaremos na
legislação inerente à microbiologia ambiental. Seguimos em frente!

148
TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

LEITURA COMPLEMENTAR

DESAFIOS NO COMBATE À GIARDÍASE

Pesquisa identifica, em humanos, tipo de giárdia, até então associada a


animais. Especialistas alertam para a importância do saneamento e do
tratamento adequado

Um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz


(IOC/Fiocruz), com 89 crianças menores de quatro anos, frequentadoras de uma
creche em uma comunidade carioca, identificou que 44 delas, quase 50% do total,
estavam infectadas pelo parasito intestinal Giardia lamblia. Esse protozoário pode
prejudicar o desenvolvimento das crianças e levar à desnutrição infantil, nos casos
mais graves. Os cientistas do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas
do IOC, que conduziram a investigação, realizaram a caracterização molecular
dos patógenos. Verificaram que 29 crianças apresentaram infecção por parasitos
giárdia do genótipo A, o mais comum em casos humanos no Rio de Janeiro, e
15 revelaram presença do genótipo E, que foi considerado, por muito tempo, o
causador de infecções unicamente em animais de produção, como cavalos, bois
e porcos. Publicado na revista científica ‘The Journal of Infectious Diseases’,
o estudo teve colaboração da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e foi
apoiado pelo programa Brasil sem Miséria.

ALIANDO DIFERENTES MÉTODOS DE ANÁLISE, O ESTUDO CONTRIBUI PARA


CONFIRMAR O POTENCIAL DE INFECÇÃO HUMANA POR PARASITOS GIÁRDIA
DO GENÓTIPO E

149
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

De acordo com os especialistas, devido à falta de saneamento básico na


comunidade, uma alta taxa da parasitose intestinal já era esperada, porém, é a
primeira vez que a infecção humana pelo genótipo E é identificada em um número
significativo de pacientes. “Com poucas ocorrências relatadas na literatura científica,
que já havia registrado casos isolados, ainda existia dúvida acerca do potencial
de infecção do genótipo E em humanos. O percentual expressivo de casos, nesse
trabalho, foi uma surpresa, e contribui para confirmar essa hipótese”, afirma Maria
Fantinatti, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical do
IOC e primeira autora do artigo. Coordenadora do trabalho, a pesquisadora Alda
Maria Da-Cruz, chefe do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas do
IOC, diz que o achado levanta diversas questões, especialmente, relativas ao ciclo
de transmissão da giárdia, já que outros animais, além de gatos e de cães, podem
atuar como fontes de contaminação, aumentando a possibilidade de infecção.
“É possível que o genótipo E esteja se disseminando em humanos a partir do
contato com as fezes de outras pessoas infectadas. No entanto, também é preciso
considerar a possibilidade de que as fezes de animais tenham um papel importante
na disseminação da doença”, pondera a pesquisadora.

IMPORTÂNCIA DO SANEAMENTO

Amostras da água que abastece a creche foram analisadas na pesquisa,


e 35 dos 36 educadores também passaram por exames de fezes. Considerando
que não foi detectada contaminação, e que todos os funcionários apresentaram
resultado negativo para enteroparasitos, os pesquisadores avaliam que as crianças
possam ter adquirido a giardíase na comunidade onde moram. No local, a coleta de
esgoto e a água tratada não chegam a todas as casas. Nessas condições, os cistos de
giárdia, que são liberados nas fezes dos pacientes e de animais infectados, podem
contaminar as fontes de abastecimento de água, facilitando a disseminação do
protozoário. Além de permanecerem viáveis no ambiente por meses, os cistos
do parasito são resistentes ao cloro. “A infecção acontece quando as pessoas
ingerem os cistos da giárdia. Uma vez que o tratamento da água se torna difícil
em determinadas localidades e o uso de cloro não é suficiente para eliminar o
parasito, o consumo de água contaminada constitui uma importante via de
transmissão. O contato com superfícies contaminadas e o hábito comum entre as
crianças em idade pré-escolar, de colocar as mãos e os objetos na boca, também
podem favorecer a propagação do agravo”, explica Fantinatti. “Geralmente, as
crianças de menor idade são as mais afetadas, pois a imunidade ainda se encontra
pouco estimulada, impedindo o controle da infecção”, acrescenta.

150
TÓPICO 2 — MICROBIOLOGIA DA ÁGUA

ASSIM COMO O DIAGNÓSTICO E O TRATAMENTO, O SANEAMENTO É APONTADO,


POR ALDA MARIA DA-CRUZ E MARIA FANTINATTI, COMO FUNDAMENTAL PARA
INTERROMPER O CICLO DE TRANSMISSÃO DA GIARDÍASE

Em muitos casos, a infecção é assintomática. Quando ocorrem sintomas,


as manifestações mais frequentes são diarreia e dor abdominal, comuns
em diversas enfermidades. Já nos casos de infecções graves, o quadro pode
evoluir para desnutrição infantil, com impacto direto no desenvolvimento das
crianças. O diagnóstico é feito através do exame parasitológico de fezes, com
a detecção dos cistos de giárdia nas amostras. Segundo Alda, esse é um dos
desafios no enfrentamento do agravo. Se o exame não for solicitado, os pacientes
assintomáticos podem ficar sem tratamento. Outra questão é a conscientização
do uso indiscriminado de vermífugos, que não possuem ação contra giárdia.
“Existe a impressão de que as parasitoses intestinais são uma questão já resolvida
no Brasil ou que não afetam os centros urbanos, mas elas permanecem como
um importante problema de saúde pública”, ressalta a médica, especialista
em doenças infecciosas e parasitárias, lembrando que, além do tratamento, o
saneamento é fundamental para prevenir a reinfecção.

OS GENÓTIPOS

A classificação dos diferentes genótipos de giárdia é feita a partir da análise


de regiões específicas do DNA do parasito. Dentre as oito variedades, apenas A e
B são tradicionalmente conhecidas por infectar seres humanos e alguns animais,
incluindo cães e gatos. Os demais genótipos são encontrados, unicamente, em
determinados hospedeiros: C e D em cães domésticos e selvagens, F em gatos, G em
ratos e camundongos, e H em focas. Com relação ao genótipo E, os achados recentes

151
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

em diferentes espécies, incluindo coelhos e primatas, além de seres humanos,


apontam para a hipótese de que os avanços nas técnicas de genotipagem estejam
permitindo a identificação de um fenômeno que ocorria despercebidamente no
passado. Por outro lado, segundo as especialistas, é preciso, também, considerar
a possibilidade de adaptação da variedade de giárdia. “Uma vez que o contato
com fezes de animais, como cavalos, bois e porcos, ocorre mais frequentemente, é
possível que os parasitos do genótipo E tenham se adaptado, tornando-se capazes
de infectar os pacientes e outros hospedeiros”, comenta Alda.

PRÓXIMOS PASSOS

Os cientistas planejam avaliar quais as vias mais comuns de transmissão


e a disseminação de giárdia do genótipo E. As análises devem incluir amostras de
fezes de animais, solo, água e alimentos produzidos e consumidos na comunidade
estudada. O trabalho também deve ser expandido para outros bairros do Rio.

Reportagem: Maíra Menezes


Edição: Cristiane Albuquerque e Vinícius Ferreira
02/01/2017

FONTE: <http://www.fiocruz.br/ioc/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=2699&sid=32&tpl=printerview>.
Acesso em: 9 maio 2020.

152
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Diversos MO não são naturalmente encontrados nos ambientes aquáticos e são


transportados para rios e para demais ambientes hídricos por esgotos ou por
águas superficiais, geralmente, com elevado potencial de causar patologias à
espécie humana e a outros animais.

• O saneamento básico possui um papel essencial no controle e na disseminação


dessas doenças no ambiente, reduzindo os riscos de transmissão.

• Fezes humanas e resíduos sólidos contaminados são os principais veículos


de transmissão de doenças infecciosas propagadas pela água e as principais
causas de mortalidade em crianças com idade inferior a dois anos.

• Ao tratarmos do Brasil, nosso país não é diferente, visto que a porcentagem


da população com acesso à rede de água e à coleta de esgoto é de 83,6% e de
53,15%, respectivamente.

• Florações extensas das cianobactérias podem ser prejudiciais aos animais e,


inclusive, à espécie humana, especialmente, quando ocorrem em reservatórios
e em rios de abastecimento humano.

• A eutrofização artificial é de origem humana e consequência do emprego


extenso de fertilizantes na agricultura, contaminando rios, lagos e mananciais.
É gerada da descarga de águas residuárias (esgotos) industriais e domésticas
sem nenhum tratamento, em virtude da elevada taxa de urbanização e da falta
de saneamento básico.

• Os “vírus entéricos” têm essa denominação pois esta representa todos os grupos
virais que residem no trato gastrointestinal humano e que, após a transmissão
fecal-oral, podem gerar infecções em indivíduos susceptíveis.

• Muitas espécies de bactérias podem ser empregadas como indicadores de


qualidade da água, a exemplo da bactéria Escherichia coli. Essa espécie integra
o grupo conhecido como coliformes, formado por bactérias associadas a
processos de decomposição, com fermentação da lactose e consequente
produção de ácidos orgânicos e de gás carbônico.

• Existem organismos que recebem a denominação de bioindicadores, pois


apresentam a capacidade de inferir sobre a qualidade ambiental. São de fácil
percepção e dão respostas pontuais, de acordo com a presença ou a ausência
em uma determinada área ou local.

153
• A espécie A. fumigatus é um dos mais importantes fungos patogênicos que
causam infecções em pacientes imunocomprometidos (ex.: portadores de HIV)
em hospitais. Devido à frequência crescente de pacientes imunodeprimidos, os
hospitais estão enfrentando um grande desafio em respeito a infecções fúngicas
oportunistas.

• A cryptosporidiose e giardíase se caracterizam por causar, nos indivíduos


acometidos, quadros de diarreia de diversa severidade, causando
sérias morbidades nos hospedeiros, principalmente, em indivíduos
imunocomprometidos.

• A esquistossomose é endêmica em vasta extensão do território nacional,


considerada um grave problema de saúde pública no Brasil porque acomete
milhões de pessoas, provocando um número expressivo de formas graves e óbitos.

• Para se diferenciar, de modo seguro e rápido, E. coli a partir dos tubos positivos
de EC, usa-se o meio cromogênico EC-MUG. Esse meio é empregado para a
confirmação de E. coli pela produção de fluorescência quando se ilumina com
luz UV (λ 366 nm).

• O método Colilert® se trata de um kit desenvolvido pela empresa IDEXX,


de utilização fácil e prática, especialmente, quando da análise de numerosas
amostras diariamente.

• A realização da contagem de bactérias heterotróficas, definidas, genericamente,


como MO, que necessitam de carbono orgânico como fonte de nutrientes, provê
informações a respeito da qualidade bacteriológica da água de modo amplo.

• Não há uma metodologia universalmente aceita para a avaliação de Cryptosporidium


e de Giardia. Em 1997, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos
(USEPA) desen­volveu o método1622 para a análise de protozoários em águas.
Foi aprimorado em 2005 e denominado de método 1623.

154
AUTOATIVIDADE

1 Em uma ETA, foi necessário efetuar uma análise quantitativa de


cianobactérias. Nesse levantamento, foram contadas 400 células de
cianobactérias na amostra, em uma cubeta de volume de 10 mL, com uma
objetiva (no microscópio) de aumento de 40X. Foi analisado o total de 20
campos da objetiva (considerar A = 4,9 cm2 e área do campo da objetiva =
0,002 cm2). A partir dessas informações, calcule a densidade de células de
cianobactérias por volume de amostra.

2 Quando se realiza uma análise de água, devem ser avaliados diversos


parâmetros, além dos estudos microbiológicos. Além disso, conforme o
objetivo do estudo, inúmeras variáveis são estudadas (pH, temperatura,
turbidez etc.). Comumente, costuma-se empregar os chamados índices
de qualidade da água, que fornecem um resultado da condição de
determinado corpo hídrico. Muito utilizado no Brasil, o IQA (Índice de
Qualidade da Água) é um desses indicadores qualitativos. Dessa forma,
quais os parâmetros/variáveis considerados para o cálculo do índice?

3 Em um manancial da cidade “X”, foi detectada, em 2019, uma média


geométrica anual maior ou igual a 2500 Escherichia coli/100mL. A partir
desse resultado, qual o procedimento a ser realizado, conforme a Portaria
no 2.914/2011, do Ministério da Saúde?

a) ( ) Monitoramento de cistos de Giardia spp e oocistos de Cryptosporidium


spp.
b) ( ) Monitoramento das espécies de macroinvertebrados bentônicos.
c) ( ) Levantamento das espécies de macrófitas aquáticas do local.
d) ( ) Análise genética dos peixes encontrados no manancial.

155
156
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

MICROBIOLOGIA DO SOLO E MICROBIOLOGIA DO AR

1 INTRODUÇÃO
Na primeira parte deste tópico, estudaremos os principais grupos de MO
existentes no solo e a importância destes enquanto bioindicadores de qualidade
do ambiente. Na sequência, veremos algumas metodologias utilizadas em
análises microbiológicas do solo e finalidades.

Posteriormente, evidenciaremos a importância do estudo da microbiologia


do ar, especialmente, em ambientes internos, além de conhecer metodologias
empregadas no estudo de MO presentes no ar.

Bons estudos!

2 MICROBIOLOGIA DO SOLO
O solo é considerado um dos mais importantes reservatórios de
biodiversidade do planeta terra, em virtude da enorme variedade de organismos
vivos que habitam esse ambiente. Os organismos do solo são classificados em
microrganismos (bactérias, fungos, algas e protozoários) e macrorganismos
(fauna do solo), do qual fazem parte, por exemplo, nematoides, minhocas e
cupins. Esses dois grupos de organismos, em especial, os microrganismos, são
responsáveis pela realização de processos essenciais à manutenção da vida na
Terra (BIOLOGIA DO SOLO, 2020).

2.1 COMPOSIÇÃO DA MICROBIOTA EXISTENTE NO SOLO


Fungos, bactérias e minhocas (Filo Annelida) são os grupos que possuem
grande biomassa. Em relação à biomassa, os organismos do solo podem
ultrapassar mais de 10 toneladas por hectare, quantidade que equivale ou, até
maior, do que as melhores produções agrícolas (MOREIRA; MOREIRA, 2006).

157
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

TABELA 3 – TAMANHO, DENSIDADE E BIOMASSA DOS PRINCIPAIS GRUPOS DE ORGANISMOS


DO SOLO POR M2

FONTE: Adaptada de Metting-Jr. (1992) e Decaens et al. (1994) apud Moreira e Moreira (2006)

Legenda: *Baseado na largura do corpo; **Ordem de grandeza; ***Inclui actinomicetos e


cianobactérias.

A diversidade biológica é definida enquanto variabilidade existente


entre os organismos vivos. Usualmente, é atribuída à diversidade de espécies.
Contudo, pode ser mensurada em diversos níveis taxonômicos (família, gênero,
espécie etc.) ou, ainda, em relação a determinadas características genéticas ou
fenotípicas (morfológicas, bioquímicas, fisiológicas). A diversidade funcional de
MO do solo é elevada, ocorrendo, até mesmo, entre espécies do mesmo gênero
(MOREIRA; MOREIRA, 2006).

A maioria das bactérias presentes no solo é aeróbia e heterotrófica, ou seja,


necessita do O2 para o crescimento e de uma fonte de carbono orgânico para a
nutrição. No solo, existem, também, as bactérias, que conseguem viver na presença
e/ou na ausência de O2 (p.ex.: Pseudomonas aeruginosa). Além dessas, existem
aquelas que crescem somente na ausência de O2, como as bactérias do gênero
Clostridium (BIOLOGIA DO SOLO, 2020). Esses MO exercem uma importante
função na decomposição da matéria orgânica, na ciclagem de nutrientes, na
fixação biológica de nitrogênio e no desenvolvimento de patologias. Além disso,
também são bioindicadoras da qualidade do solo (DIONÍSIO et al., 2016).

Conforme demonstrado, a população estimada de bactérias no solo é de


1014 organismos por grama de solo. Outros autores apontam um valor de 108 a
109. Contudo, esse número pode variar, conforme a metodologia utilizada para a
contagem (MOREIRA; MOREIRA, 2006).

158
TÓPICO 3 — MICROBIOLOGIA DO SOLO E MICROBIOLOGIA DO AR

As bactérias que apresentam importância agrícola (que fixam nitrogênio


atmosférico) podem ser reunidas em três categorias (DIONÍSIO et al., 2016):

• Simbiontes (nodulam leguminosas): Rhizobium e Bradyrhizobium.


• Associativas (vivem endofiticamente ou na rizosfera de gramíneas):
Azospirillum, Herbaspirillum e Gluconobacter.
• De vida livre: Beijerinkia, Derxia e Azotomonas.

NOTA

Bactérias endofíticas são MO que habitam o interior da planta sem causar


danos aparentes ao hospedeiro e exercem vários efeitos benéficos, como a supressão de
doenças e a promoção do crescimento das plantas. A simbiose é restrita às leguminosas e
se caracteriza pela formação de estruturas especializadas nas raízes, chamadas de nódulos,
nos quais ocorre o processo de fixação biológica de nitrogênio (EMBRAPA, 2020).

Entretanto, os gêneros de grande ocorrência no solo são: Pseudomonas,


Artrhobacter, Achromobacter, Flavobacterium, Xanthomonas e Micrococcus (EWEIS et
al., 1999 apud DIONÍSIO et al., 2016).

Com relação aos fungos, estima-se que somente 5% desses organismos


existentes nos solos tenham sido descritos. Muito progresso tem sido feito em
relação à catalogação de fungos superiores, que formam sistemas de reprodução
macroscópicos (cogumelos). Já os micorrízicos, que formam relações mutualistas
com plantas, foram pouco estudados. Os fungos micorrízicos arbusculares são
comuns em todo o mundo, porém, apenas as espécies associadas a plantas
de interesse agrícola foram estudadas de maneira adequada. Já os fungos
ectomicorrízicos apresentam um grau de especificidade superior aos arbusculares
(BIODIVERSIDADE DOS SOLOS, 1998).

Os fungos apresentam importância fundamental nos diversos ambientes,


estando entre os principais responsáveis pela ciclagem de nutrientes, sobretudo,
nos ecossistemas florestais. O solo é considerado um dos principais “habitats”
para esses organismos, e os filamentosos e as leveduras representam os maiores
contribuintes da biomassa microbiana do solo, constituindo um grupo de
indivíduos organotróficos responsáveis, primariamente, pela decomposição de
compostos orgânicos (HYDE 1997 apud MAIA et al., 2020).

Os organismos são encontrados no solo, em comunidades, variando de


10 a 1000 microrganismos por grama de solo, assim como são predominantes em
26 solos ácidos, nos quais sofrem menor competição, porém, o valor ótimo de pH
varia, conforme a espécie (BRANDÃO, 1992 apud COSTA, 2015).

159
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

O aporte de matéria orgânica pode ser considerado um dos principais


elementos para a manutenção da comunidade de fungos no solo, no que tange
à formação dos macroagregados, visto que esses microrganismos produzem
substâncias diretamente envolvidas na estabilização dos agregados, e agem
diretamente pelo entrelaçamento de hifas nas partículas do solo (MILLER;
JASTROW, 1990 apud COSTA, 2015).

FIGURA 32 – AGREGAÇÃO DO SOLO


HIFA DE FUNGO

SILTE
ARGILA
AREIA

BACTÉRIA
ACTINOMICETO
MATÉRIA ORGÂNICA
FONTE: <https://tinyurl.com/y3lpee29>. Acesso em: 4 maio 2020.

Legenda: Durante o processo de agregação, as partículas minerais do solo (silte e areia


fina) são cobertas com resíduos decompostos de plantas ou de animais e outros materiais
orgânicos. As hifas de fungos micorrízicos arbusculares (FMA) também possuem
importância na formação de agregados no solo.

De acordo com Garret (1963) apud Costa (2015), os fungos do solo podem
ser agrupados na seguinte classificação ecológica:

160
TÓPICO 3 — MICROBIOLOGIA DO SOLO E MICROBIOLOGIA DO AR

QUADRO 9 – FUNGOS EXISTENTES NO SOLO

Gênero ou Divisão (Filo) Classificação


Definição
ou Ordem ecológica
Bloteus, Amanita,
Micorriza: associação simbiótica
Telephora, Pisolithus,
Micorrízicos mutualística entre raízes de plantas e
Rhizoctonia, Glomuse,
de fungos do solo.
Gigaspora
Parasitismo: relação desarmônica, na
Armillara, Fomes e qual ocorrem prejuízos de diversos
Parasitas
Ophiobolus níveis ao hospedeiro, podendo chegar
à morte.
Phytium, Rhizoctonia e Alimentam-se de matéria orgânica no
Saprófitas
Fusarium processo de decomposição.
Fungos que vivem, exclusivamente,
Zigomicetos e Saprófitas
em matéria orgânica morta, podendo
Deuteromicetos obrigatórios
parasitar organismos vivos.
Trichoderma e Penicillium Celulolíticos Capazes de degradar celulose.
Digerem madeira e outros materiais
Basidiomicetos Lignolíticos
lenhosos.
Pilobolus, Ascodesmus, Adaptados a viver e a se alimentar de
Coprófilos
Sordaria e Coprinus excrementos de herbívoros.
Ordens Zoophagales
Capturam e parasitam amebas e
(Oomicetos) e Moniliales Predatórios
nematoides.
(Deuteromicetos)

FONTE: A autora

Legenda: Os nomes dos gêneros de fungos estão diferenciados em itálico.

Cabe salientar que os fungos, com as bactérias heterotróficas, são os


principais decompositores da biosfera, degradando os produtos orgânicos e
reciclando carbono, nitrogênio e outros compostos do solo e do ar. Muitos fungos
são economicamente importantes para o homem, como destruidores de alimentos
estocados e outros materiais orgânicos (LEITE, 2008 apud MEIRA, 2009).

Os fungos, com as bactérias, são MO fundamentais na degradação de


resíduos sólidos urbanos (RSU). Em compostos de RSU, têm sido encontrados
fungos do gênero Aspergillus, inclusive, da espécie A. fumigatus, que é responsável
por infecções graves em seres humanos e em animais. Como os fungos são
microrganismos formadores de esporos, a presença, ao longo do processo de
degradação de RSU em aterros, sugere que possam permanecer, por muito
tempo, no ambiente do aterro, mesmo após a estabilização do material orgânico
(ALCÂNTARA, 2007 apud MEIRA, 2009).

Faz-se necessário o estudo da ação dos fungos na massa de resíduos,


visto que esses MO são os primeiros degradadores a surgir no processo de
biodegradação. São eles que devem “preparar o terreno”, de forma que os outros

161
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

MO possam atuar. Isso graças ao poderoso arsenal enzimático, que torna os


fungos capazes de degradar macromoléculas, ou seja, de transformar produtos
complexos em produtos menos complexos ou mais fáceis de assimilação
(ALMEIDA, 2015).

Em aterros de RSU, as bactérias sempre apresentaram destaque, o que


gerou pouca literatura disponível, sobretudo, na identificação de fungos. A
identificação de organismos fúngicos pode gerar dados científicos diversos,
inclusive, auxiliando no melhoramento de processos metabólicos. Apesar da
crescente descoberta no que se refere à identificação de fungos e ao papel ou nicho
ecológico, existe uma grande lacuna no conhecimento, sobretudo, na eficiência
desses organismos em RSU (ALMEIDA, 2015).

Na sequência, veremos algumas metodologias destinadas ao estudo de


fungos (microscópicos) e bactérias presentes no solo.

2.2 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DO


SOLO
Quando falamos da qualidade do solo, é necessário o entendimento de
que esta está relacionada a reações biológicas e bioquímicas catalisadas pelos
MO. Essas reações são responsáveis pela decomposição de resíduos de plantas,
animais, urbanos e industriais, pela ciclagem biogeoquímica (incluindo a
fixação de N2), pela formação de agregados do solo e pela taxa de decomposição
de materiais orgânicos (ELSAS, 1997 apud SILVERIA; FREITAS, 2007). Por isso,
em virtude das características, os MO do solo são considerados indicadores
sensíveis na avaliação do impacto humano sobre os processos biológicos do solo
(DICK, 1994; DORAN; PARKINSON, 1994; TURCO et al., 1994 apud SILVEIRA;
FREITAS, 2007).

O emprego de métodos microbiológicos para indicar a qualidade do


solo vem sendo pesquisado, pois os MO mantêm uma íntima relação com as
propriedades químicas e físicas do solo, e porque são responsáveis por inúmeros
processos biológicos e bioquímicos, sendo sensíveis às alterações de origens
naturais e antropogênicas que ocorrem no solo (SILVERIA; FREITAS, 2007).

Os parâmetros microbianos sensíveis às variações provocadas no solo


pelos elementos poluidores são divididos em três grupos (BROOKES, 1995;
OBBARD, 2001 apud FORTES NETO; FERNANDES; JANEL, 2007):

162
TÓPICO 3 — MICROBIOLOGIA DO SOLO E MICROBIOLOGIA DO AR

• Aquele que mede a atividade microbiana global.


• Aquele que determina o tamanho da população de um organismo ou da
comunidade de um grupo funcional.
• Aquele que correlaciona a atividade com a comunidade microbiana
predominante no solo.

Um dos métodos microbiológicos mais empregados em avaliações de


impacto ambiental sobre a microbiota do solo é a quantificação da biomassa
microbiana do solo. É considerada um agente de transformação, pelo qual passam
todos os materiais orgânicos adicionados ao solo, e um reservatório de nutrientes,
sendo, o estudo, de grande importância em sistemas de manejo do solo, uma vez
que influi na dinâmica dos nutrientes e na fertilidade do solo (BROOKES, 1995
apud FORTES NETO; FERNANDES; JANEL, 2007).

QUADRO 10 – MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO DE BIOMASSA MICROBIANA DO SOLO

Método Especificações
Pode prover informações úteis da
natureza e da composição da microbiota
Microscopia direta do solo. Na microscopia direta, as
biomassas de bactérias e fungos devem
ser analisadas separadamente.
Possibilita a obtenção de resultados
referentes à taxa de respiração do solo e,
Clorofórmio-fumigação- ao mesmo tempo, de estimar a biomassa
incubação (CFI) microbiana pela diferença de emissão
de CO2 entre amostras de solo não
fumigadas e fumigadas.
Mais indicado em virtude de que, o
Clorofórmio-fumigação- carbono, proveniente da comunidade
extração (CFE) microbiana morta, é determinado por
extração química.

FONTE: Jenkinson e Powlson (1976) e Brookes e McGrath (1984) apud Fortes Neto,
Fernandes e Janel (2007) e Silva (2014)

Legenda: Os métodos CFI e CFE são baseados na esterilização parcial (fumigação) das
amostras de solo com clorofórmio.

163
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

FIGURA 33 – MÉTODOS DE CFI E CFC

FONTE: Adaptada de Silva (2014)

Legenda: A – Método CFI. B – Método CFE.

Os valores de carbono de biomassa microbiana, obtidos pelos métodos


descritos, são expressos em mgC-1 solo (mgC = miligrama de carbono).

Outro método, que, inclusive, complementa as análises de CFI e de


CFE, trata-se da respirometria. Pelo fato de não ser possível mensurar as taxas
de respiração no interior das células, são empregadas as medidas de volume de
oxigênio consumido ou de CO2 produzido (BERNARDES; SOARES, 2005).

É uma metodologia que determina a quantidade de carbono liberado


na forma de CO2, resultante da decomposição da matéria orgânica pela
comunidade microbiana quimiorganotrófica aeróbia do solo. Possibilita que seja
quantificado o carbono que está sendo degradado no solo, além de verificar se
as condições climáticas, o manejo do solo e a presença de elementos poluentes
estão ou não comprometendo a atividade microbiana durante a decomposição e
a mineralização do carbono no solo (FORTES NETO; FERNANDES; JANEL,
2007). A liberação de CO2 é um método que, quando realizado em condições
controladas de umidade (40-50% da capacidade de campo) e de temperatura
(15-25oC), provê resultados confiáveis acerca da poluição do solo (JENKINSON;
POWLSON, 1976 apud FORTES NETO; FERNANDES; JANEL, 2007). Do mesmo
modo que outras atividades metabólicas, a respiração depende do estado
fisiológico das células e é influenciada por diferentes fatores, como umidade,
temperatura e disponibilidade de nutrientes no solo.

O ensaio de respirometria apresenta, como finalidade principal, estimar


o período de tempo necessário à estabilização de um resíduo orgânico inserido
no solo, além de obter as taxas de aplicação mais convenientes e de detectar uma
possível toxicidade aos MO do solo em virtude da presença de determinados
elementos no resíduo (NUVOLARI, 1996 apud COSTA, 2009). Uma das técnicas
de respirometria que tem se destacado se trata da liberação de CO2 através da
captura da substância por composto alcalino (geralmente, hidróxido de potássio
– KOH ou hidróxido de sódio – NaOH), com a posterior precipitação na forma de

164
TÓPICO 3 — MICROBIOLOGIA DO SOLO E MICROBIOLOGIA DO AR

carbonato de bário (BaCO3), por meio da adição de solução saturada de cloreto de


bário (BACl2). A NaOH excedente é, então, titulada com ácido clorídrico (HCl),
possibilitando o cálculo da produção de gás carbônico (MARIANI, 2005 apud
COSTA, 2009).

Observe, a seguir, um respirômetro, para mensurar a produção de CO2


em solo.

FIGURA 34 – FOTOGRAFIA DE UM RESPIRÔMETRO DE BARTHA

FONTE: Adaptada de Costa (2009)

A respirometria, enquanto metodologia fundamentada em respostas


biológicas aos componentes das águas residuárias ou resíduos sólidos a
determinadas condições do ambiente, pode ser utilizada no projeto, no controle
operacional e na modelagem de unidades de tratamento (BERNARDES;
SOARES, 2005). No caso da decomposição de resíduos orgânicos, uma alta
taxa de respiração pode ser interpretada como uma característica desejável, ao
se considerar que a decomposição dos resíduos orgânicos deve disponibilizar
nutrientes para as plantas (p. ex.: no caso da compostagem) (JUNIOR; MENDES,
2007). Os resultados do teste de respirometria são expressos em E CO2 (%), em
função de determinado tempo de estudo.

165
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

Com relação à microscopia direta, uma diluição da amostra do solo é


espalhada em camada fina sobre uma lâmina de vidro. Posteriormente à fixação
e à coloração do esfregaço, os MO podem ser contados pelo exame microscópico.
Como o princípio básico da metodologia é efetuar uma estimativa da biomassa
microbiana por meio do biovolume dos MO, existe a necessidade da estimativa
da densidade específica, além do conteúdo de umidade dos microrganismos,
para a conversão de biovolume à biomassa (ALEXANDER, 1977; GRISI; GRAY,
1985; DE-POLLI; GUERRA, 1999 apud CARDOSO, 2004).

Embora o método possa ser empregado para estimar a população


microbiana total, técnicas de colorações especiais são necessárias para discriminar
microrganismos vivos de mortos, pois, muitas vezes, é difícil distinguir partículas
microscópicas do solo de células microbianas (CASIDA, 1976; GRISI; GRAY, 1985;
SCHEU; PARKINSON, 1994 apud CARDOSO, 2004). Na microscopia direta, os
MO podem ser corados por várias formas e observados por diferentes técnicas
ópticas. Quando são solos bem drenados, o método é comumente utilizado como
padrão, sendo, a expectativa geral, de que todos os demais métodos apresentem
boa correlação (SEGANFREDO, 1999 apud CARDOSO, 2004).

A microscopia direta é muito utilizada para fungos micorrízicos


arbusculares (FMA). Aspectos ligados ao tamanho do esporo, forma, coloração,
ornamentação, número de paredes internas e externas e reação ao reagente de
Melzer podem ser utilizados na identificação de tipos morfológicos presentes
no solo. Além disso, é um método simples, rápido e econômico, e envolve
equipamentos simples, como o microscópio óptico ou o estereomicroscópio
(SILVEIRA; FREITAS, 2007). Uma importante aplicação desse tipo de estudo
se trata da avaliação da sensibilidade da diversidade de FMA em indicar a
reabilitação de solos minerados (SILVEIRA; FREITAS, 2007).

FIGURA 35 – ESTRUTURAS DE FMA

FONTE: <https://www.agrolink.com.br/fertilizantes/nutricao-via-raizes---absorcao-
radicular_361459.html>. Acesso em: 6 maio 2020.

Legenda: Esquema que demonstra as estruturas dos FMA (hifas, vesículas e arbúsculos).

166
TÓPICO 3 — MICROBIOLOGIA DO SOLO E MICROBIOLOGIA DO AR

3 MICROBIOLOGIA DO AR
A qualidade do ar interno se tornou uma importante preocupação de
saúde pública, em virtude de a maioria das pessoas passarem mais de 90% do
tempo em ambientes fechados (casas, escritórios e escolas). O ar, em ambientes
internos, pode ser poluído por inúmeros compostos, dentre estes, os MO
(bactérias e fungos) compõem o grupo mais importante. É estimado que um terço
das reclamações da qualidade do ar interno (do inglês, indoor air quality – IAQ) se
deve à contaminação microbiológica (POPE et al., 1993 apud NARUKA; GAUR,
2013). A exposição a esses contaminantes microbiológicos pode causar alergias
e doenças respiratórias. Inclusive, diversas pesquisas relataram a presença dos
contaminantes em diferentes ambientes internos, como hospitais (DOUWES et
al., 2003 apud NARUKA; GAUR, 2013).

Ambientes aclimatados artificialmente apresentam uma infinidade


de componentes químicos (substâncias tóxicas, carcinogênicas, radioativas) e
biológicos (microrganismos patogênicos) emitidos por diversas fontes, e que,
dependendo das condições físicas (umidade do ar, temperatura do ar, ventilação
inadequada) do ambiente, podem interagir entre si (LEE, 2006 apud MORAIS et
al., 2010).

O ar dos ambientes internos pode ser mais poluente do que o ar exterior


(LEE, 2006 apud MORAIS et al., 2020). O fenômeno de recirculação de ar é
responsável pelo aumento de microrganismos na ordem de 1.000 a 100.000 vezes
em relação ao ar externo. Ademais, a limpeza inadequada dos filtros e dutos de ar
refrigerado possibilita o desenvolvimento de partículas microbianas, incluindo
fungos, vírus, ácaros, bactérias, que podem levar os ocupantes de ambientes
climatizados a contraírem doenças respiratórias, infecciosas ou alérgicas
(CARTAXO et al., 2007 apud MORAIS et al., 2020).

Certos MO causam reações alérgicas, cujos sintomas incluem espirros,


olhos lacrimejantes, tosse, deficiência respiratória, letargia, febre e problemas
digestivos, além de serem causadores de pneumonia, rinite e asma.

De forma geral, as principais doenças associadas a poluentes biológicos


são o Mal dos Legionários (ou legionelose, pois tem, como agente, a bactéria
gram-negativa do gênero Legionella); a febre do umidificador (doença que se
desenvolve a partir de exposições a toxinas de microrganismos, especialmente,
daqueles que crescem nos sistemas de ventilação dos edifícios); asma brônquica
(espasmos associados à inalação de aerossol biológico); pneumonite alérgica ou
alveolite extrínseca; e pneumonia (infecção pulmonar associada a bactérias, como
Streptococcus pneumoniae, Mycoplasma pneumoniae, Staphylococcus aureus, Legionella
eHaemophilus influenzae, vírus e alguns tipos de fungos).

A carência de uma política preventiva nos programas de manutenção nos


sistemas de refrigeração e ventilação pode ser fator determinante para a ocorrência
de poluentes biológicos (microrganismos patogênicos), os quais podem constituir
uma ameaça à saúde dos ocupantes (COSTA et al., 2006 apud MORAIS et al., 2020).

167
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

ATENCAO

Você já ouviu falar dos bioaerossóis? Um aerossol se trata de uma dispersão


coloidal de um sólido ou líquido em um gás, ou seja, um gás que apresenta uma suspensão
de matérias sólidas ou líquidas sob a forma de partículas muito finas (COUTO, 2020).
Portanto, os bioaerossóis podem ser definidos como componentes microbiológicos
presentes (suspensos) no ar atmosférico.

FIGURA 36 – FONTES DE BIOAEROSSÓIS EM AMBIENTES INTERNOS

FONTE: Adaptada de Prussin II, Marr e Marr (2015)

Legenda: as fontes de bioaerossóis microbianos em ambientes internos podem incluir:


humanos, outros animais, plantas, sistemas de encanamento, ressuspensão de poeira
assentada e ar exterior. Os pontos verdes e vermelhos representam MO, que podem
ser benéficos ou prejudiciais à saúde humana, respectivamente (PRUSSIN II; MARR;
MARR, 2015).

A partir dessas informações, podemos notar que a avaliação microbiológica


da qualidade do ar é um critério importante que deve ser considerado quando os
ambientes internos de trabalho (escolas, hospitais) são projetados para promover
um ambiente seguro.

168
TÓPICO 3 — MICROBIOLOGIA DO SOLO E MICROBIOLOGIA DO AR

3.1 AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DO AR


No Brasil, de acordo com a Consulta Pública no 109, de 2003, da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o indicador biológico de qualidade
de ar ambiental interior é a contagem total de bactérias e de fungos, que não deve
ultrapassar os níveis relacionados a seguir:

QUADRO 11 – PARÂMETROS DE QUALIDADE BIOLÓGICA DO AR

Variáveis e
Nível 0 Nível 1 Nível 2 Nível 3
Componentes
Partículas
biológicas totais ≤ 750 ufc/m3 = 500 ufc/m3 = 200 ufc/m3 = 50 ufc/m3
no ar ambiental

FONTE: A autora

Os nomes dos gêneros de fungos estão diferenciados em itálico.

Legenda: Os níveis de risco são relativos a: nível 0: área onde o risco não excede aquele
encontrado em ambientes de usos público e coletivo; nível 1 = área onde não foi constatado
o risco de eventos adversos relacionados à qualidade do ar, porém, algumas autoridades,
organizações ou investigadores sugerem que o risco deva ser considerado; nível 2: área
onde existem fortes evidências de risco de ocorrência de eventos adversos relacionados
à qualidade do ar de ocupantes ou de pacientes que utilizam produtos manipulados nas
áreas, baseadas em estudos experimentais, clínicos ou epidemiológicos bem delineados;
nível 3: área onde existem fortes evidências de alto risco de eventos adversos de ocupantes
ou de pacientes que utilizam produtos manipulados, baseados em estudos experimentais,
clínicos ou epidemiológicos bem delineados (BRASIL, 2003).

Para que se efetue a determinação do número de amostras a serem


efetuadas, deve-se observar a área construída do edifício. Além disso, indica-se
que as amostras sejam coletadas a 1,5 metro de distância do chão.

QUADRO 12 – DETERMINAÇÃO DO NÚMERO DE AMOSTRAS EM FUNÇÃO DA ÁREA


CONSTRUÍDA DO EDIFÍCIO

Área construída No mínimo de amostras a serem coletadas


Até 1.000 1
1.000 a 2.000 3
2.000 a 3.000 5
3.000 a 5.000 8
5.000 a 10.000 10
10.000 a 15.000 15
15.000 a 20.000 18
20.000 a 30.000 21
Acima de 30.000 25

FONTE: Adaptado de Brasil (2003)

169
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

Ainda, segundo a Resolução n° 9, o tempo mínimo de incubação para


fungos é de sete dias, com temperatura de 25°C. Para bactérias, é de, no mínimo,
dois dias, com temperatura de 37°C23 (BRASIL, 2003).

Acadêmico, a partir do estudo da microbiologia da água, do solo e do ar,


nota-se que o Brasil necessita de avanços, especialmente, no estudo dessas duas
últimas áreas da microbiologia. Contudo, as informações já nos fornecem um
escopo necessário aos assuntos que serão abordados na Unidade 3. Verificaremos
questões inerentes ao tratamento de efluentes, além de nos aprofundarmos nas
questões relativas à legislação ambiental aplicada ao estudo da microbiologia.
Sigamos em frente e bons estudos!

170
TÓPICO 3 — MICROBIOLOGIA DO SOLO E MICROBIOLOGIA DO AR

LEITURA COMPLEMENTAR

PRESENÇA COMPROVADA DO CORONAVÍRUS NO AR REFORÇA


NECESSIDADE DA BOA VENTILAÇÃO DE AMBIENTES

Testes realizados no Hospital das Clínicas identificaram o vírus em


microgotículas expelidas pelas pessoas e que podem ficar durante horas
suspensas no ar

Uma pesquisa realizada no Hospital das Clínicas (HC), da Faculdade de


Medicina da USP (FMUSP), comprova a presença do coronavírus em suspensão
no ar. O vírus foi identificado em microgotículas que as pessoas expelem quando
conversam ou expiram e podem ficar suspensas no ar durante horas, havendo
possibilidade de transmissão da doença. Os resultados do estudo reforçam a
necessidade de manter uma ventilação adequada em ambientes fechados, para
diminuir o risco de contaminação pelo vírus. A pesquisa utilizou a tecnologia de
monitoramento da qualidade do ar SPIRI, desenvolvida pela Omni-electronica,
startup residente na incubadora do Centro de Inovação, Ciência e Tecnologia
(Cietec), instituição ligada à USP e ao Instituto de Pesquisas Energéticas e
Nucleares (Ipen).

De acordo com o engenheiro Arthur Aikawa, CEO da Omni-electronica,


o projeto teve início em abril, com apoio do programa VedacitLabs. “A pesquisa
buscou evidenciar a presença do vírus suspenso no ar, relacionando-a com
indicadores de qualidade do ar interior (QAI) da Associação Brasileira de
Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava). Alinhada
com órgãos internacionais, reforça a importância de manter ventilação adequada
em ambientes fechados, como forma de mitigar o risco de contaminação”, afirma.
“A tecnologia SPIRI tem a capacidade de monitorar, em tempo real, a QAI, além
de permitir a gestão da qualidade do ar desses locais”.

As análises foram realizadas no HC durante dois meses. “Os estudos


começaram em junho, depois de um período de aprovação interna do HC,
viabilização dos equipamentos para amostragem do ar e alinhamento com
laboratórios para verificação das amostras”, conta Aikawa. “O monitoramento
com sensores tem a capacidade de indicar o risco de contaminação por meio de
bioaerossóis, em tempo real, para todos os ocupantes de ambientes internos. Já
o procedimento de detecção da presença do vírus envolve coleta de amostra e
análise laboratorial para atestar a contaminação ou não de um ambiente”.

VÍRUS NO AR

Ao todo, já foram realizadas mais de 20 amostras coletadas ao longo de,


ao menos, 150 horas de estudo de campo. “A equipe de pesquisadores capturou
o vírus SARS-CoV-2 suspenso no ar em ambiente hospitalar. Além disso, com

171
UNIDADE 2 — MICROBIOLOGIA APLICADA A PROCESSOS AMBIENTAIS

o auxílio da Tecnologia SPIRI, pôde demonstrar que, mesmo em hospitais, a


renovação adequada do ar tem capacidade para mitigar o risco de contaminação”,
explica o engenheiro. “Ou seja, garantir a ventilação adequada pode ser a maior
arma na luta contra o coronavírus”.

As amostras estão associadas a dados em tempo real da QAI, como


concentração de dióxido de carbono (CO2), um indicador da eficácia da ventilação
em ambientes internos.

“Dessa forma, fica validada a hipótese de que o vírus é transmissível


não somente por grandes gotículas durante tosse ou espirro, mas, também, por
microgotículas que as pessoas expelem quando conversam ou expiram”, destaca
Aikawa. “Essas partículas, chamadas de bioaerossóis, são tão leves que podem
ficar suspensas no ar durante horas se o ambiente não tiver ventilação suficiente”.

EQUIPE DE PESQUISADORES CAPTUROU O VÍRUS SARS-COV-2 SUSPENSO NO


AR EM AMBIENTE HOSPITALAR; COM O AUXÍLIO DA TECNOLOGIA SPIRI, FOI
DEMONSTRADO QUE, MESMO EM HOSPITAIS, A RENOVAÇÃO ADEQUADA DO
AR TEM CAPACIDADE PARA MITIGAR O RISCO DE CONTAMINAÇÃO PELO
CORONAVÍRUS

As amostras colhidas e analisadas em laboratório podem identificar a


presença ou não do SARS-CoV-2 com emissão de laudo técnico, por meio de
dispositivos de sensoriamento em tempo real instalados nos ambientes internos. “Os
indicadores de risco de contaminação, entre outras informações, são visualizados
na plataforma AMI-Hub e auxiliam o responsável pelo edifício na manutenção
da QAI”, afirma o engenheiro. “Os dados também podem ser informados aos
ocupantes, como forma de tranquilizá-los a respeito da permanência no local.
Alarmes e relatórios de conformidade podem ser configurados”.

Um artigo científico da pesquisa está em processo de publicação e deve ser


concluído ainda neste mês de agosto. O estudo foi realizado pelos pesquisadores
Arthur Aikawa, Matheus Manini, John Esquiagola, Paulo Henrique Peitl Gregório,
Alessandro Mariani e Renato Astorino Filho. Para realizar o trabalho, a Omni-

172
TÓPICO 3 — MICROBIOLOGIA DO SOLO E MICROBIOLOGIA DO AR

Electronica teve o apoio do Instituto Central do Hospital das Clínicas (ICHC),


da FMUSP, da incubadora de empresas do  Cietec, da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por meio do Programa de Pesquisa
Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), e do VedacitLabs.

FONTE: <https://jornal.usp.br/ciencias/presenca-do-coronavirus-no-ar-reforca-necessidade-da-
boa-ventilacao-de-ambientes/>. Acesso em: 4 maio 2020.

CHAMADA

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173
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Fungos, bactérias e minhocas (Filo Annelida) são os grupos que possuem


grande biomassa. Com relação à biomassa, os organismos do solo podem
ultrapassar mais de 10 toneladas por hectare, quantidade que equivale, ou até
é maior do que as melhores produções agrícolas.

• A maioria das bactérias presentes no solo é aeróbia e heterotrófica, ou seja,


necessitam do O2 para o crescimento e de uma fonte de carbono orgânico para
a nutrição.

• Os fungos apresentam importância fundamental nos diversos ambientes,


estando entre os principais responsáveis pela ciclagem de nutrientes, sobretudo,
nos ecossistemas florestais.

• Com bactérias heterotróficas, os fungos são os principais decompositores da


biosfera, degradando os produtos orgânicos e reciclando carbono, nitrogênio e
outros compostos do solo e do ar.

• Ao se abordar a questão da qualidade do solo, é importante a compreensão de


que esta está relacionada às reações biológicas e bioquímicas catalisadas pelos
MO. Essas reações são responsáveis pela decomposição de resíduos de plantas,
animais, urbanos e industriais, pela ciclagem biogeoquímica (incluindo a
fixação de N2), pela formação de agregados do solo e pela taxa de decomposição
de materiais orgânicos.

• Um dos métodos microbiológicos mais empregados em avaliações de impacto


ambiental da microbiota do solo é a quantificação da biomassa microbiana.

• O ar dos ambientes internos pode ser mais poluente do que o ar exterior (LEE,
2006 apud MORAIS et al., 2020). O fenômeno de recirculação de ar é responsável
pelo aumento de MO na ordem de 1.000 a 100.000 vezes em relação ao ar externo.

• Certos MO presentes no ar causam reações alérgicas, cujos sintomas incluem


espirros, olhos lacrimejantes, tosse, deficiência respiratória, letargia, febre e
problemas digestivos, além de serem causadores de pneumonia, rinite e asma.

• No Brasil, de acordo com a Consulta Pública no 109, de 2003, da Agência


Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o indicador biológico de qualidade
de ar ambiental interior é a contagem total de bactérias e de fungos, que não
deve ultrapassar valores estipulados pela norma.

174
AUTOATIVIDADE

1 Em um levantamento da qualidade do ar de uma sala de espera de


hospital, foi encontrada uma quantidade classificada nível 2, de acordo
com a Consulta Pública no 109, de 2003, da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA). Dessa forma, o número de UFC de fungos e de bactérias
permitido para esse local é de:

a) ( ) 450 ufc/m3.
b) ( ) 200 ufc/m3.
c) ( ) ≤ 750 ufc/m3.
d) ( ) 500 ufc/m3.

2 Em um escritório de 100 m2, um colaborador com resfriado espirrou e, com


isso, liberou, no ambiente interno:

a) ( ) Bioaerossóis.
b) ( ) Aerossóis químicos.
c) ( ) Aerossóis físico-químicos.
d) ( ) Partículas inorgânicas.

3 Em um experimento de deposição de resíduos de mineração em uma mina


de extração de ferro, foi necessário analisar os impactos sobre a biologia do
solo da região. Para tal análise, foi empregado o método de:

a) ( ) Verificação da microbiota presente na água.


b) ( ) Análise de parâmetros físicos do solo.
c) ( ) Quantificação da biomassa microbiana do solo.
d) ( ) Medição da temperatura do local.

4 Para a análise do processo de decomposição dos resíduos, é fundamental


que seja mensurado o mecanismo de atividade dos fungos no local. Explique
a razão da importância desse levantamento.

175
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182
UNIDADE 3 —

TRATAMENTO DE EFLUENTES,
BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO
APLICADA À MICROBIOLOGIA
AMBIENTAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• diferenciar os conceitos dos termos “esgoto”, efluentes domésticos e


efluentes industriais;
• estudar aspectos inerentes à microbiologia envolvida no tratamento de
efluentes líquidos;
• conhecer alguns dos principais parâmetros ligados à questão da digestão
microbiológica dos efluentes líquidos;
• identificar os microrganismos envolvidos no tratamento de efluentes
líquidos;
• entender a importância dos flocos biológicos para o processo de lodos
ativados;
• verificar a diferença entre processos de tratamento aeróbios e anaeróbios
sob o ponto de vista microbiológico;
• compreender o conceito de biorremediação e a aplicabilidade dessa
técnica;
• identificar os principais microrganismos envolvidos no processo de
biorremediação;
• analisar os principais instrumentos legais ligados à microbiologia da
água, do solo e do ar.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade será dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS

TÓPICO 2 – BIORREMEDIAÇÃO: FUNDAMENTOS E


EXEMPLOS PRÁTICOS

TÓPICO 3 – LEGISLAÇÃO AMBIENTAL APLICADA

183
CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em


frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as
informações.

184
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS

1 INTRODUÇÃO
Ao iniciarmos a Unidade 3, é importante conceituar o termo “efluente”,
comumente chamado de “esgoto”.

O esgoto pode se tratar da água oriunda do banho, da limpeza de roupas


ou da descarga. Apesar do “esgoto” residencial ser o tipo mais comum, não é o
único. Também pode ser gerado em estabelecimentos comerciais, órgãos públicos e
indústrias (ELETROREDE, 2018).

Observe que a palavra “esgoto” não é inicorreta. Contudo, quando


tratamos de estudos científicos, devemos ter conhecimento da terminologia
adequada relacionada à área que desejamos nos aprofundar.

NOTA

Efluente é todo resíduo líquido ou gasoso, proveniente das diversas atividades


humanas, que é lançado no meio ambiente. Resulta de atividades industriais, agrícolas ou
dos esgotos domésticos urbanos. Desse modo, águas residuárias, ou, no caso, efluentes,
podem ser entendidas como águas resultantes do contato e/ou da utilização humana
para os diversos fins (VON SPERLING, 1989 apud PUTTI et al., 2015). Então, sabemos,
agora, que o termo mais adequado a ser utilizado nos nossos estudos se trata de efluentes
ou águas residuárias.

Existe diferença entre efluentes domésticos e industriais?

Os efluentes líquidos industriais são originários das águas empregadas


na área de utilidades e/ou processos industriais. As características dependem
da natureza da indústria (metalúrgica, têxtil, alimentícia etc.), das matérias-
primas processadas, das etapas de transformação utilizadas no processo, da
incorporação de substâncias indesejáveis à água (ex.: detergentes, solventes,
pigmentos, óleos etc.), do porte da indústria e do modelo de gestão utilizado
(CAMMAROTA, 2011).

185
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

Um efluente doméstico se trata de toda água residuária gerada pelas


atividades e necessidades humanas em uma residência e que fluem através da
rede de esgoto. Podem, igualmente, ser lançadas diretamente no ambiente ou
redirecionadas para estações de tratamento. A Norma Brasileira NBR 9648/1986
define o esgoto doméstico como despejo líquido resultante do uso da água para
higiene e necessidades fisiológicas humanas. Já o esgoto sanitário é definido
como o despejo líquido constituído dos esgotos doméstico e industrial, água de
infiltração e contribuição pluvial parasitária (ABNT, 1986 apud LOPES, 2015).

Cabe destacar que esgoto sanitário ou doméstico é aquele oriundo de


residências, estabelecimentos comerciais, instituições ou quaisquer edificações
que dispõem de instalações de banheiros, lavanderias e cozinhas. Compõe-se,
essencialmente, da água de banho, excretas (fezes e urina), papel higiênico,
restos de comida, sabão, detergentes e águas de lavagem (INSTITUTO TRATA
BRASIL, 2012).

NOTA

Contribuição pluvial parasitária é a parcela do deflúvio superficial


inevitavelmente absorvida pela rede de esgoto sanitário. Deflúvio superficial significa
escoamento superficial.

Existem diferenças importantes entre os efluentes domésticos e industriais.


Podemos aferir, então, que existe uma classificação que diferencia os tipos de
efluentes (“esgotos”) existentes, a saber (INSTITUTO TRATA BRASIL, 2012):

• Efluentes domésticos: oriundos, principalmente, de residências, estabelecimentos


comerciais, instituições ou qualquer edificação que dispõe de instalações de
banheiros, lavanderias e cozinhas. Compõem-se, essencialmente, da água de banho,
excretas, papel higiênico, restos de comida, sabão, detergentes e águas de lavagem.
• Efluentes industriais: compreendem os resíduos orgânicos, de indústria
de alimentos, matadouros etc.; águas residuárias agressivas, procedentes
de indústrias de metais etc.; águas residuárias procedentes de indústrias de
cerâmica, água de refrigeração etc.
• Águas pluviais: águas originárias das chuvas.
• Água de infiltração: águas do subsolo que se introduzem na rede.

Agora que já conhecemos esses conceitos principais e os tipos de efluentes,


passaremos ao estudo dos microrganismos envolvidos no tratamento de efluentes
líquidos. Vamos lá?!

186
TÓPICO 1 — TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS

2 PARÂMETROS ENVOLVIDOS NO TRATAMENTO


BIOLÓGICO DE EFLUENTES DOMÉSTICOS
Antes de iniciarmos os estudos referentes aos parâmetros propriamente
ditos, é essencial que conheçamos a composição do esgoto doméstico.

QUADRO 1 – COMPOSIÇÃO DO ESGOTO DOMÉSTICO

Componente Porcentagem/concentração
Proteínas 40%-60%
Carboidratos 25%-50%
Gorduras e óleos 10%
Ureia (NH3-N) 25-50 mg/L
P total 8-15 mg/L
Traços de compostos orgânicos
(pesticidas, surfactantes, fenóis e
outros poluentes).

FONTE: Adaptado de Metcalf e Eddy (1991) apud Araujo (2021)

Legenda: P = fósforo.

Então, podemos aferir que o tratamento de esgotos tem a finalidade de


remover a matéria orgânica (reduzir a DBO), o material em suspensão, além da
remoção de patógenos e de nutrientes (N e P – nitrogênio e fósforo) (ARAUJO, 2021).

Dentro desse contexto, os processos de tratamento de esgotos sanitários são


classificados, usualmente, em função do grau de redução dos sólidos em suspensão
e da demanda bioquímica de oxigênio – DBO, originária da eficiência de uma ou de
mais unidades de tratamento (JORDÃO; PESSÔA, 2011 apud DIELLE, 2014). Essa
classificação subdivide todo o tratamento dos efluentes sanitários em: tratamento
preliminar, tratamento primário, tratamento secundário e tratamento terciário.

187
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

FIGURA 1 – ETAPAS DO TRATAMENTO DE ESGOTOS

FONTE: Adaptada de Dielle (2014)

Os tratamentos de efluentes mais utilizados mundialmente são os


biológicos, que apresentam, como elemento principal, os microrganismos,
realizando a remoção da matéria orgânica e de outros compostos. Para tal ação,
diversas tipologias são empregadas, dentre elas, a mais utilizada, mundialmente,
é a de lodos ativados (MOREIRA, 2018).

O tratamento biológico se caracteriza como método mais eficiente de


remoção da matéria orgânica dos efluentes líquidos. O próprio efluente apresenta
grande diversidade de bactérias e de protozoários para compor as culturas
microbiais mistas que processam os poluentes orgânicos. A utilização desse
processo necessita do controle da vazão, da recirculação dos microrganismos
decantados, do fornecimento de oxigênio e de outros fatores. Os fatores que
mais afetam o crescimento das culturas são a temperatura, a disponibilidade de
nutrientes, o fornecimento de oxigênio, o pH, a presença de elementos tóxicos e
a insolação (SAEE, 2006).

Na presença de oxigênio livre (dissolvido), são as bactérias aeróbias que


promovem a decomposição. Na ausência do oxigênio, a decomposição se dá pela
ação das bactérias anaeróbias. A decomposição aeróbia se diferencia da anaeróbia
pelo tempo de processamento e pelos produtos resultantes. Em condições naturais,
a decomposição aeróbia necessita de três vezes menos tempo do que a anaeróbia,
resultando gás carbônico, água, nitratos e sulfatos, substâncias inofensivas e úteis à
vida vegetal. O resultado da decomposição anaeróbia é a geração de gases, como
sulfídrico, metano, nitrogênio, amoníaco e outros, geralmente, gases bem pouco
cheirosos (SAEE, 2006).

A decomposição do esgoto é um processo que demanda vários dias,


iniciando-se com uma contagem elevada de DBO (Demanda Bioquímica de
Oxigênio), que vai decrescendo e atinge o valor mínimo ao se completar a
estabilização. A determinação da DBO é importante para indicar o teor de matéria
orgânica biodegradável, definir o grau de poluição que o “esgoto” pode causar
ou a quantidade de oxigênio necessária para submeter o esgoto a um tratamento
aeróbio (SAEE, 2006).
188
TÓPICO 1 — TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS

Além da DBO, outros parâmetros importantes a serem mensurados


se tratam da medição do carbono orgânico (Carbono Orgânico Total – COT)
e da Demanda Química de Oxigênio – DQO (VON SPERLING, 2014 apud
MOREIRA, 2018).

QUADRO 2 – DETERMINAÇÃO DO NÚMERO DE AMOSTRAS EM FUNÇÃO DA ÁREA CONSTRU-


ÍDA DO EDIFÍCIO

Parâmetro Definição
Quantidade de oxigênio dissolvido necessário para estabilizar
a matéria orgânica biodegradável. Para padronizar os testes,
convencionou-se realizar a análise no 5° dia a uma temperatura
DBO – Demanda Bioquímica
de 20°C (DBO520) (VON SPERLING, 2014). Como o processo
de Oxigênio
é demorado, cerca de 20 dias até a estabilização total da
matéria orgânica, determinou-se que a análise, no 20° dia, seria
considerada a DBO última (DBOu).
Quantidade de oxigênio dissolvido necessário para oxidação
química da matéria orgânica, obtida através de um forte
oxidante em meio ácido. O teste tem a duração de duas a três
DQO – Demanda Química de
horas para ser realizado, porém, oxida as frações biodegradável
Oxigênio
e inerte, dando um indicativo superestimado do consumo
de oxigênio no tratamento biológico dos esgotos (VON
SPERLING, 2014).
Medido diretamente por meio de instrumentos que aferem o
carbono liberado na forma de CO2. Para que somente o carbono
orgânico seja lido, é importante que todo carbono inorgânico
COT – Carbono Orgânico seja eliminado antes da análise ou que seja feita uma correção
Total nos cálculos. O processo de determinação da matéria orgânica
por COT é utilizado em estudos que exigem uma análise mais
aprofundada, devido aos custos mais elevados da técnica (VON
SPERLING, 2014).

FONTE: Adaptado de Moreira (2018)

A relação DQO/DBO pode ser empregada como indicativo da


biodegradabilidade dos despejos, o que propicia auxílio na escolha do tratamento
a ser empregado (VON SPERLING, 2014 apud MOREIRA, 2018).

QUADRO 3 – RELAÇÃO DQO/DBO520

Relação DQO/ DBO520 baixa < 2,5 (fração biodegradável elevada)


Relação DQO/ DBO520 intermediária 2,5 < DQO/DBO5 20 < 4
Relação DQO/ DBO5 elevada
20
> 4 (fração inerte elevada)

FONTE: Adaptado de Von Sperling (2016)

No caso de uma relação DQO/DBO baixa, a fração biodegradável é


elevada, o que indica a utilização de tratamento biológico, ao passo que quando
da relação DQO/DBO elevada, a fração inerte, ou seja, não biodegradável, é
alta, não em termos de poluição do corpo hídrico receptor. Para os efluentes

189
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

domésticos brutos, a relação DQO/DBO se encaixa na faixa de 1,7 a 2,4. Ao fim


do tratamento biológico, o efluente final apresenta valores de DQO/DBO5 superiores
a 3. Quanto maior esse valor, maior a eficiência do tratamento (QUÍMICA DAS
ÁGUAS, 2021).

É importante salientar que processos (aeróbios ou anaeróbios), isolados ou


combinados, representam a fase biológica do tratamento de esgoto, denominada de
etapa secundária. O tratamento primário consiste, basicamente, na sedimentação
do esgoto para remoção de resíduos sólidos. O efluente do tratamento secundário
ainda pode conter íons de fosfato e de nitrato, que são removidos, quimicamente,
na terceira etapa. O efluente final de um processo adequado de tratamento de
esgoto possui concentração baixa de matéria orgânica e de nutrientes, podendo
ser lançado em rios, lagos e oceanos sem causar impactos significativos ao meio
ambiente (HAGLER, 2005).

3 MICRORGANISMOS ENVOLVIDOS NO TRATAMENTO


BIOLÓGICO DE EFLUENTES LÍQUIDOS
A coleta e o tratamento de esgoto integram os  serviços de saneamento,
cuja importância verificamos ao longo das Unidades 1 e 2. A finalidade da coleta
é transportar os efluentes domésticos para longe das residências. Já a finalidade
do tratamento é diminuir a carga poluidora para que retorne à natureza sem
causar impactos ambientais significativos ao meio ambiente.

Ao chegarem na estação de tratamento de esgoto (ETE), os efluentes


domésticos passam por diversos processos que reduzem a alta concentração de
compostos orgânicos e de outros nutrientes e elementos que os tornam prejudiciais
ao meio ambiente.

Dentro desse contexto, os microrganismos desempenham um papel


preponderante em sistemas de tratamento biológico de esgoto, sendo os
responsáveis pela estabilização da matéria orgânica e remoção de nutrientes, a fim
de gerar um efluente com características que permitam o lançamento em corpo
d’água, de acordo com os limites previstos pela legislação em vigor (CAMPOS;
PIVELI; BUENO, 2012).

Os organismos presentes nos efluentes domésticos variam de acordo com


o processo de tratamento. Em tratamentos aeróbios, a presença de bactérias e
de protozoários é expressiva, contando com a presença de micrometazoários em
menor escala (METCALF; EDDY, 2003 apud MOREIRA, 2018).

Esta questão pode ser observada na figura a seguir, que representará a


predominância dos principais microrganismos presentes no tratamento aeróbio.
Por meio dela, poderemos notar que, na entrada da matéria orgânica, no reator,
a presença de bactérias é baixa, e podem ser encontradas amebas, devido à
grande disponibilidade de matéria orgânica. O número de bactérias cresce
190
TÓPICO 1 — TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS

exponencialmente e, com isso, os protozoários flagelados aumentam, devido à


abundância de alimento. Com a posterior queda de matéria orgânica no sistema,
o número de bactérias atinge o ápice e a presença de protozoários ciliados de vida
livre dá um indicativo de menor carga orgânica. Quando há existência de pouca
matéria orgânica, a presença de bactérias diminui pela predação de ciliados
fixos (encontrados em sistemas estáveis) e rotíferos e pela competição do pouco
alimento (VON SPERLING, 2011 apud MOREIRA, 2018).

GRÁFICO 1 – PREDOMINÂNCIA DE MICRORGANISMOS NO TRATAMENTO AERÓBIO


DE EFLUENTES

FONTE: Adaptada de Von Sperling (1995) apud Barboza (2021)

Conforme Richard (1989) apud Campos, Piveli e Bueno (2012), é muito


comum, em análises microscópicas de uma amostra de lodo biológico proveniente do
tanque de aeração de um sistema de tratamento biológico aeróbio, a identificação,
além da quantificação de protozoários. Segundo o mesmo autor, protozoários
estão sempre presentes no lodo biológico em uma faixa populacional que pode
variar de 10 a 100.000 organismos/mL.

Os protozoários se alimentam em uma razão de 500 bactérias/hora,


contribuindo, de forma importante, para a clarificação do efluente. Esse aspecto,
aliado à facilidade de identificação microscópica e à sensibilidade a mudanças
ambientais, faz com que seja uma ferramenta de avaliação de funcionamento e de
eficiência do sistema.

191
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

Podemos compreender que os protozoários ciliados são essenciais


para a produção de um efluente de boa qualidade. A atividade predatória
desses organismos sobre o crescimento disperso bacteriano é responsável pela
clarificação e pela redução do número de coliformes durante o processo de lodo
ativado (CURDS, 1973). Assim, a seguir, estarão relacionadas fotomicrografias
de protozoários ciliados encontrados em um sistema de tratamento combinado
UASB – lodo ativado.

FIGURA 2 – FOTOMICROGRAFIAS DE PROTOZOÁRIOS CILIADOS

FONTE: Adaptada de Von Sperling (1995) apud Barboza (2021)

Legenda: bacterívoros sésseis (a-f); ciliados rastejantes (g-h); espécie Vorticella spp. (a-c)
e após coloração específica (d); colônia de indivíduos da espécie Epistylis plicatilis (e);
colônia de indivíduos da espécie Carchesium polypinum (f); Chilodonella uncinata (g);
Drepanomonas revolula (h); Barras de escala = 20 µm (micrômetros).

No caso das Archaeas (Arqueias), conforme Fredriksson (2012) apud


Moreira (2018), ainda existe pouca informação a respeito das comunidades de
Acrhaeas em lodos ativados. Embora estas estejam presentes, parecem ser de menor
importância para a remoção de nitrogênio e de carbono, quando comparadas
às bactérias. Entretanto, é possível que as Arqueias apresentem outras funções,
como uma relação de simbiose com bactérias e, se presentes em lodos ativados,
as metanogênicas podem contribuir para a estrutura do floco biológico, que
estudaremos na sequência.

Não podemos nos esquecer das bactérias, dos microrganismos mais


importantes no tratamento de efluentes líquidos, responsáveis diretamente pela
degradação da matéria orgânica. As bactérias heterotróficas apresentam função-
chave no tratamento biológico, sendo responsáveis pela degradação da matéria

192
TÓPICO 1 — TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS

orgânica, desempenham, também, a função de se aglomerar em estruturas, como


flocos, biofilmes e grânulos. Estes últimos podem ocorrer de forma dispersa, ou
seja, a biomassa cresce no meio líquido sem nenhuma estrutura de sustentação
(flocos), ou de forma aderida, ou seja, a biomassa cresce aderida a um meio suporte
artificial, natural, ou a própria biomassa aglomerada (grânulos), originando um
biofilme (VON SPERLING, 2011 apud MOREIRA, 2018).

FIGURA 3 – FLOCO BIOLÓGICO

FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/5615769/>. Acesso em: 24 jan. 2021.

Legenda: A – estrutura de um floco biológico típico. B – fotomicrografia de um floco


biológico.

Nos lodos ativados típicos, o crescimento da biomassa ocorre de forma


dispersa, dando origem aos flocos. Essas estruturas possuem a finalidade
essencial na eficiência do processo de tratamento, apresentando uma estrutura
heterogênea composta de material orgânico adsorvido, células vivas e mortas,
material inerte dos esgotos etc. (VON SPERLING, 2011 apud MOREIRA, 2018).

A aeração tem influência sobre o tamanho dos flocos, o que gera a


separação do líquido através da sedimentação, possibilitando que o efluente
saia clarificado ao fim do processo de tratamento. Os flocos são constituídos
não somente de bactérias, mas, também, de protozoários, fungos, nematoides.
Essa diversidade microbiana proporciona uma característica de biofilme a partir
da qual exoenzimas hidrolisam o material particulado antes da metabolização
pelas bactérias e, dentro do floco, ocorre um gradiente de nutrientes e de
oxigênio disponível. A formação desses flocos ocorre com a presença de bactérias
filamentosas que exercem a função de matriz estrutural, permitindo a aderência
das bactérias formadoras de flocos e de outros microrganismos (VON SPERLING,
2011 apud MOREIRA, 2018).

193
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

NOTA

Exoenzimas são enzimas extracelulares que degradam moléculas orgânicas


complexas em moléculas simples assimiláveis pelo microrganismo. A reação de hidrólise
enzimática se trata daquela em que uma enzima “quebra” uma molécula em outros
compostos menores com o emprego de água. Daí o termo hidrólise, do grego, hidro-,
água, e -lysis, separação.

A respeito da hidrólise, esta apresenta duas importantes funções no


tratamento biológico. Uma delas se trata do fato de que muitas estações recebem
apenas substratos complexos. No caso, a hidrólise é primordial na promoção de
substratos solúveis à biomassa, pois somente substâncias solúveis podem ser
absorvidas e degradadas pelas bactérias. Já a segunda finalidade está no fato de
que, em qualquer unidade de tratamento biológico, ocorre morte bacteriana, e a
hidrólise possibilita a solubilização e a degradação dos componentes celulares
(ELIOSOV; ARGAMAN, 1995 apud PUC-RIO, 2021).

Para o sucesso da operação de uma estação, utilizando o processo de


flocos, é necessário equilíbrio entre as bactérias filamentosas e as formadoras de
flocos para obter boas sedimentabilidade e adensibilidade do lodo. Caso exista
predominância das bactérias formadoras de floco, obtém-se um floco pouco
rígido, pequeno, fraco, e, a essa condição, é dado o nome de “pin-point floc”. Já na
ocorrência de predominância por parte das bactérias filamentosas, os filamentos
se projetam para fora do floco, impedindo que ocorra aderência entre eles,
ocupando um volume maior, condição conhecida como “sludge bulking”.

FIGURA 4 – EXEMPLOS DE BACTÉRIAS FILAMENTOSAS E FORMADORAS DE FLOCOS

FONTE: <https://www.researchgate.net/figure/Excessive-growth-of-a-Microthrix-parvicella-b-
Nostocoida-limicola-II-with-no_fig4_8015120>; <https://www.ecologycenter.us/wastewater-
treatment-2/info-gyb.html>. Acesso em: 24 jan. 2021.

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TÓPICO 1 — TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS

Legenda: A – fotomicrografia da bactéria filamentosa Nostocoida limicola II. B –


fotomicrografia de um floco formado pela bactéria da espécie Zoogloea ramigera.

A seguir, poderemos evidenciar os diferentes tipos de flocos que podem


se formar em um processo de tratamento de efluentes.

FIGURA 5 – INFLUÊNCIA DE ORGANISMOS FILAMENTOSOS NA ESTRUTURA DO FLOCO

FONTE: <https://www.semanticscholar.org/paper/Activated-Sludge-and-Aerobic-Biofilm-
Reactors-Sperling/2b5225eab436034d8340a8b6de97074ca573a172>. Acesso em: 24 jan. 2021.

Legenda: Da esquerda para a direita, podemos notar a estrutura de um floco ideal; ao


centro, o chamado pint-point floc; à direita, o sludge bulking

Estudaremos os principais processos de tratamento biológico sob o


enfoque da microbiologia ambiental. Seguimos em frente!

4 LODOS ATIVADOS
O sistema de tratamento de esgotos por meio de ativados foi concebido
no Reino Unido, por Ardern e Lockett, em 1914. A primeira versão do sistema era
por tanques que operavam com ciclos de enchimento e esvaziamento, similares
aos reatores de batelada sequenciais atuais. Posteriormente, foi concebida a versão de
fluxo contínuo, mais utilizada atualmente (VON SPERLING, 2016).

O sistema é vastamente utilizado mundialmente para o tratamento de


despejos domésticos e industriais, em situações em que é necessária uma elevada
qualidade do efluente, além de reduzidos requisitos de área disponível. Contudo,
o sistema de lodos ativados inclui um índice de mecanização superior ao de outros
sistemas de tratamento, gerando uma operação mais sofisticada e grandes consumos
de energia elétrica (VON SPERLING, 2016). Assim, a seguir, será possível observar
um esquema das unidades da etapa biológica dos lodos ativados.

195
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

FIGURA 6 – TRATAMENTO AERÓBIO POR LODO ATIVADO

FONTE: Adaptada de Von Sperling (2007)

Legenda: tanque de aeração (reator); tanque de decantação (decantador secundário).

DICAS

Vamos observar algumas das características morfológicas e microbiológicas


do lodo ativado? Acesse o link e confira: https://www.youtube.com/watch?v=HXf-5aVS36g.

Conforme já estudamos, o sistema de lodos ativados se fundamenta em


promover o desenvolvimento de uma cultura microbiológica na forma de flocos
(lodos ativados) em um tanque de aeração, que é alimentada pela carga orgânica
contida no efluente a tratar (SILVEIRA, 2010).

No reator, ocorrem as reações bioquímicas de remoção da matéria


orgânica e, em determinadas condições, da matéria nitrogenada. A biomassa
se utiliza do substrato presente no esgoto bruto para se desenvolver. No
decantador secundário, ocorre a sedimentação dos sólidos (biomassa),
permitindo que o efluente final saia clarificado. Os sólidos sedimentados, no
fundo do decantador secundário, são recirculados para o reator, aumentando
a concentração de biomassa, o que é responsável pela elevada eficiência
do sistema. A biomassa consegue ser facilmente separada no decantador
secundário, devido à propriedade de flocular. Isso se deve ao fato de as bactérias
possuírem uma matriz gelatinosa, que permite a aglutinação das bactérias e de
outros microrganismos, como protozoários (VON SPERLING, 2016).

196
TÓPICO 1 — TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS

Outro aspecto relevante é o tempo de retenção dos sólidos, aspecto


denominado de idade do lodo. É essa a maior permanência dos sólidos no
sistema que garante a elevada eficiência dos sistemas de lodos ativados. Isso se
deve ao fato de que a biomassa conta com tempo suficiente para metabolizar
praticamente toda a matéria orgânica dos esgotos (VON SPERLING, 2016).

4.1 PROCESSOS ANAERÓBIOS


A digestão anaeróbia é uma das melhores alternativas para o tratamento
de subprodutos altamente poluidores, como resíduos sólidos, efluentes da
agroindústria, esgoto sanitário doméstico e dejetos de animais. A produção de
metano e de efluente estabilizado é muito importante na digestão anaeróbia e
pode ser utilizada como combustível e biofertilizante (CHERNICHARO, 2007;
GERARDI, 2003; METCALF; EDDY, 2003; SPEECE, 1996; VEERESH et al., 2005
apud BRUNO; OLIVEIRA, 2008).

O processo anaeróbio, nas últimas décadas, contou com significativos


avanços do conhecimento dos fundamentos, principalmente, na microbiologia
e na concepção dos reatores. Para o tratamento de efluentes industriais com alto
teor de matéria orgânica, têm sido aplicados os reatores biológicos anaeróbios,
em virtude das vantagens técnicas e econômicas, e um dos principais é o reator
anaeróbio de fluxo ascendente com manta de lodo (UASB). No tratamento
anaeróbio, ocorre elevada remoção de material orgânico suspenso e solúvel,
inclusive, substâncias tóxicas, como os fenóis, porém, a remoção de nutrientes
é baixa (CHERNICHARO, 2007; GERARDI, 2003; METCALF; EDDY, 2003;
SPEECE, 1996; VEERESH et al., 2005 apud BRUNO; OLIVEIRA, 2008).

A digestão anaeróbica pode ser considerada um processo no qual


vários grupos de microrganismos trabalham em sinergia na conversão da
matéria orgânica complexa em produtos finais, como metano, dióxido de
carbono, sulfeto de hidrogênio, água e amônia (CHERNICHARO, 2007 apud
VIANA; SILVA; SILVA-NETO, 2017). Os ciliados participam do processo de três
formas: (1) consumindo bactérias e contribuindo para o controle e a renovação
populacional, (2) abrigando, dentro das próprias células, bactérias metanogênicas
imprescindíveis ao tratamento; e (3) consumindo matéria orgânica dissolvida.
Além disso, os ciliados excretam compostos que podem aumentar a atividade
bacteriana nesses sistemas (NISBET, 1984 apud MADONI, 2011 apud VIANA;
SILVA; SILVA-NETO, 2017).

197
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

FIGURA 7 – ETAPAS DA DIGESTÃO ANAERÓBIA

FONTE: <https://www.guiadaengenharia.com/reatores-uasb/>. Acesso em: 9 fev. 2021.

Legenda: H2CO2: ácido metanoico (fórmico); CH4: metano; CO2: dióxido de carbono.

A respeito das bactérias presentes no processo de digestão anaeróbia,


de acordo com Chernicharo (1997), Von Sperling (1996) e McCarty (1964) apud
Hamerski (2012), são divididas em três importantes grupos com comportamentos
fisiológicos diferenciados. Estas consomem oxigênio a partir dos sais inorgânicos,
produzindo a forma reduzida dos elementos iniciais, além da produção de CH4
e de CO2. Todo o processo de digestão anaeróbia pode ser simplificado em um
mecanismo de duas fases. Na primeira, ocorre a formação de ácidos (acidogênese),
por meio da fermentação ácida e da oxidação anaeróbia. Já na segunda fase, há
a formação do metano, através da metanogênese (CHERNICHARO, 1997 apud
HAMERSKI, 2012).

198
TÓPICO 1 — TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS

FIGURA 8 – PRINCIPAIS BACTÉRIAS ENVOLVIDAS NO PROCESSO DE DIGESTÃO ANAERÓBIA

FONTE: Von Sperling (1996), McCarty (1964) e Chernicharo (1997) apud Hamerski (2012)

O tratamento de esgotos por reatores UASB é reconhecido como um dos


métodos que causam menos danos ao ambiente (NAIR; AHAMMED, 2013 apud
VIANA; SILVA; SILVA-NETO, 2017), e é indicado para a utilização em países em
desenvolvimento, tendo em vista o baixo custo operacional e a baixa geração de
resíduos desse tipo de reator.

O UASB é um reator anaeróbio de manta de lodo, caracterizado por


conter câmara de digestão, separador trifásico, zona de sedimentação e zona de
acumulação de gás (JORDÃO; PESSÔA, 2011; VON SPERLING, 2005).

FIGURA 9 – ESQUEMA DE UM REATOR UASB

FONTE: <http://h2oengenharia.com.br/pt/uasb/>. Acesso em: 9 fev. 2021.

Legenda: Reator UASB – Upflow Anaerobic Sludge Blanket. Trata-se de um reator anaeróbio
de fluxo ascendente de alta eficiência.

199
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

Ademais, os reatores do tipo UASB empregam biomassa suspensa ou


aderida, denominada de manta de lodo, para a degradação da matéria orgânica
presente no esgoto afluente. O esgoto entra no reator pela parte inferior e segue
um fluxo ascendente até ser retirado, na parte superior, pelas calhas de coleta de
esgoto tratado.

As bactérias presentes na biomassa dos reatores UASB formam flocos


de boa sedimentabilidade. Assim, com o passar do tempo, parte da biomassa se
deposita no fundo do reator formando uma camada denominada de leito de lodo.
Nessa camada, encontra-se a porção já inativa da biomassa, caracterizando o lodo
dos reatores UASB como um lodo estabilizado (DIELLE, 2014).

Seguindo o fluxo ascendente, após percorrer a manta de lodo, o efluente


passa por um sistema de separação trifásica no interior dos reatores UASB. O
separador trifásico apresenta vertedouros que, ao entrarem em contato com o
efluente, possibilitam a sedimentação das partículas sólidas que retornam para
a parte inferior do reator. As bolhas de gás, geradas na reação de decomposição
anaeróbia da matéria orgânica, passam por um canal de coleta no centro do
reator e são removidas na parte superior. Dessa forma, somente a porção líquida
do esgoto sai através das calhas, conferindo, ao efluente dos reatores UASB, a
característica de efluente clarificado (DIELLE, 2014).

DICAS

Agora, vamos assistir a uma animação que demonstra o funcionamento de um


reator do tipo UASB. Acesse o link e confira: https://www.youtube.com/watch?v=xa5WwUS8-fM.

Acadêmico, agora que conhecemos as diferenças existentes entre os


tratamentos aeróbios e anaeróbios de efluentes líquidos, estudaremos as
vantagens e as desvantagens desses dois processos.•

200
TÓPICO 1 — TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS

QUADRO 4 – VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS PROCESSOS AERÓBIOS E ANAERÓBIOS

Processos Vantagens Desvantagens


• Sistemas providos de aeração
natural (ex.: lagoas) necessitam de
grandes áreas para a instalação, o
que pode dificultar ou inviabilizar
o uso em determinadas regiões.
• Sistemas aeróbios mecanizados
também necessitam de áreas
consideráveis e apresentam
valores de investimento em
• Elevados níveis de eficiência na
instalação e operação elevados
remoção da DBO5 (de até 98%).
em função da necessidade de
• Riscos reduzidos de emissões
equipamentos tecnologicamente
de odor.
superiores, além do consumo de
Aeróbios • Maior capacidade de absorver
energia elétrica com os sistemas
substâncias de menor
de aeração forçada.
biodegradabilidade e mesmo
• Maior geração de lodo.
compostos que poderiam ser
• O lodo produzido não é
tóxicos.
tão digerido quanto o lodo
produzido por reatores UASB,
por exemplo. Dessa forma,
quanto maior a quantidade de
lodo gerado, mais constante é a
rotina de descarte, o que, com
o consumo de energia elétrica
para aeração, eleva os custos
operacionais desses sistemas.
• Baixa produção de sólidos
(cerca de 10 vezes inferior
quando comparada a processos
aeróbios).
• Baixo consumo energético, o
• Bactérias suscetíveis à inibição por
que reduz o custo operacional.
alguns compostos.
• Baixa demanda de área.
• Lenta partida do processo na
• Produção de metano, um gás
ausência de inóculo.
combustível que pode ser
Anaeróbios • Necessidade de pós-tratamento.
empregado na produção de
• Geração de efluente com aspecto
energia.
desagradável.
• Possibilidade de preservação
• Remoção de N (nitrogênio), P e
da biomassa.
patógenos é insatisfatória.
• Tolerância de elevadas cargas
orgânicas.
• Aplicabilidade em pequenas e
em grandes escalas.
• Baixo consumo de nutrientes.

FONTE: Adaptado de Chernicharo (1997) apud Wetlands (2019)

201
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

NOTA

Membranas de tratamento de água e seus processos

Filtrando contaminantes, mesmo em escala nanométrica, as membranas são um pilar


dos tratamentos de água e efluentes

DOIS PROCESSOS DE MEMBRANA, ULTRAFILTRAÇÃO E OSMOSE REVERSA, SÃO


USADOS PARA TRATAR O RIO COM LIMO NAS INSTALAÇÕES DE CENTRAL
PUERTO, EM BUENOS AIRES, ARGENTINA

No tratamento da água, as membranas são barreiras que permitem a passagem


da água, mas impedem a passagem de substâncias indesejadas. Ao trabalhar de maneira
muito semelhante às paredes celulares dos nossos corpos, as membranas técnicas filtram
sais, impurezas, vírus e outras partículas de água.

Um processo de membrana é qualquer método que se baseia em uma barreira de


membrana para filtrar ou remover partículas da água. O fluido passa através da membrana,
devido à diferença de pressão entre um lado da membrana e o outro. Os contaminantes
permanecem de um lado. Embora muitos tipos de meios de filtração sejam usados para
tratamento de água, como argila, limo e areia, uma das propriedades que distingue as
membranas é a capacidade de separar substâncias menores de um líquido, como sais e íons.

As membranas foram aplicadas, pela primeira vez, nos processos de tratamento


de água na década de 1960, mas somente na década seguinte foram cada vez mais usadas
para dessalinização. Agora, a lista de processos de membrana usados no tratamento de
água foi expandida para incluir o seguinte:

• Osmose Direta.
• Osmose Reversa.
• Microfiltração.
• Ultrafiltração.
• Nanofiltração.

202
TÓPICO 1 — TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS

Diferentes processos requerem diferentes tipos de membrana, em termos gerais,


funcionando como uma peneira ou separando a água das impurezas em nível molecular.
As membranas são feitas de camadas à base de polímeros, cerâmicas e outros materiais.
Estão sendo feitas pesquisas acerca dos materiais poliméricos em bloco, óxido de
alumínio, grafeno e outros nanomateriais, como nanotubos de carbono. As membranas
têm diferentes graus de permeabilidade:

• membranas de microfiltração (têm o maior tamanho de poro): de 0,1 a 10 mícrons.


• membranas de UF: de 0,1 a 0,01 mícrons.
• membranas de nanofiltração: de 0,01 a 0,035 mícrons.
• membranas de osmose reversa (efetivamente não porosas): de 0,0001 a 1 mícron.

Tipos e Configurações de Membrana

As membranas são, geralmente, classificadas como isotrópicas ou anisotrópicas.


As membranas isotrópicas mostram uma composição e estrutura física uniformes no corte
transversal, enquanto as membranas anisotrópicas não são uniformes no corte transversal.
Elas são, geralmente, formadas por camadas estruturadas e materiais diferentes.

Os tipos de membranas de uso geral incluem tubulares, fibras ocas e lâminas


planas. Esses tipos são aplicados em diferentes configurações, como membranas de
lâminas planas, usadas na Solução Compacta Inteligente  NIROBOX ™, ou enroladas
em espiral, como aquelas usadas no Reator de Biofilme de Membrana Aerada (MABR),
como as Plantas de Tratamento de Efluentes Compactos Inteligentes Aspiral ™, ambas da
Fluence.

As propriedades ideais das configurações de membrana de tratamento de água são:

• Realmente compacto.
• Baixa resistência ao fluxo tangencial.
• Distribuição uniforme de velocidade sem regiões mortas.
• Alta turbulência no lado retido para minimizar incrustações e ajudar na transferência de
massa.
• Fáceis manutenção e limpeza.
• Baixo custo unitário.

David C. Sammon explica as capacidades das membranas no artigo Processos de Membrana:

Em geral, os processos de membrana oferecem a possibilidade de separar a água


de vários tipos de solutos e separá-los pelo tamanho ou porque alguns são ionizados e
outros não. Além desses casos, nos quais é alcançado um alto grau de separação, há
muitos em que a composição do material dissolvido é alterada. Um exemplo é a osmose
reversa, com o permeado com um teor de sal consideravelmente reduzido.

Osmose direta e reversa

Na purificação da água, as membranas são utilizadas na osmose e na osmose


reversa, além de outros processos.

A osmose direta, ou simplesmente osmose, é um processo físico no qual um


solvente se move através de uma membrana semipermeável. É mais conhecido como o
processo que as células usam para transportar água. A água está presente nos dois lados
da membrana, com diferentes níveis de minerais dissolvidos nos dois lados.

203
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

A água com a maior concentração de solutos é diluída naturalmente. Jean-


Antoine Nollet, cientista e clérigo francês, observou, pela primeira vez, a osmose, em 1748,
e cunhou o termo com base nas palavras gregas endosmose e exosmose.

A osmose reversa (RO), pelo contrário, depende da pressão para forçar a água através de
uma membrana, separando a água das impurezas. Uma pesquisa de 2018, realizada por
profissionais da indústria, acerca da eficácia das tecnologias de reuso de água, colocou
a RO entre as mais bem classificadas. Embora a RO seja frequentemente usada para a
dessalinização, também é usada para o tratamento de efluentes e reuso de água. Ainda,
para a remoção de vestígios de fosfatos, cálcio, metais pesados e outras substâncias.

Microfiltração e ultrafiltração

Nas tecnologias de membrana baseadas em partículas de bloqueio, incluindo


microfiltração e ultrafiltração, o tamanho dos poros é importante, pois determina o
tamanho das partículas e microrganismos que podem atravessar a barreira. As membranas
de poros pequenos, utilizadas na ultrafiltração, bloqueiam proteínas, ácidos graxos,
macromoléculas, bactérias, protozoários, vírus e sólidos em suspensão.

Desafios do processo de membrana

A eficácia do tratamento da membrana, geralmente, depende das condições.


Por exemplo, para que as tecnologias de osmose reversa funcionem eficientemente, a
manutenção da membrana deve ser impecável ou ela pode ficar suja com incrustações
ou biofilmes, um problema eterno. Impurezas podem reduzir a eficácia e aumentar o
consumo de energia. Muita pesquisa é dedicada ao design de membranas para resistir a
incrustações, através de revestimentos especializados e de outros tratamentos, como a
alteração da carga do material da membrana.

Em meados da década de 2010, pesquisadores, em Israel, desenvolveram um


importante processo sem produtos químicos para evitar impurezas na membrana no
processo de dessalinização de RO. O processo evita a incrustação da membrana, reduz os
custos químicos e torna a dessalinização mais ecológica.

O pré-tratamento, com um filtro de bio-floculação rápida granular (RBF) em duas


etapas, um bio-floculador de primeira etapa (BF) e um filtro de leito de mídia misto (MBF),
evita que agentes sujos cheguem à membrana.

Tudo isso fez com que o processo fosse muito mais rentável, o que gerou um
crescimento global exclusivo da tecnologia.

Aproveitamento das Propriedades dos Biofilmes

As membranas usadas no tratamento e no reuso de efluentes também são


vulneráveis à incrustação de biofilme. A formação de biofilmes, nas membranas de
filtração, e a obstrução resultante dos poros (incrustações biológicas), são problemas
difíceis enfrentados pelas operações.

Em algumas aplicações, a desinfecção de membranas a 85°C é usada para


manutenção sem produtos químicos. No entanto, em um reator de biofilme de
membrana aerada (MABR), o biofilme é, realmente, usado para fazer o trabalho pesado no
processo de tratamento. As membranas usadas no MABR, um tratamento biológico, são
semipermeáveis em escala molecular, para auxiliar na aeração sem bolhas, o que permite
o crescimento robusto de microrganismos úteis.

204
TÓPICO 1 — TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS

A membrana aerada em espiral vertical é permanentemente limpa com bolhas do


fundo, o que evita o entupimento, devido ao crescimento excessivo de biofilme.

Tratamentos Combinados

Os processos de membrana são frequentemente combinados com outros


processos para fornecer soluções abrangentes de tratamento de água. Por exemplo, a
instalação da Central Puerto, Buenos Aires, Argentina, precisava tratar a água do rio antes
de ser utilizada em equipamentos industriais. A ultrafiltração foi usada em combinação
com osmose reversa para criar a água desmineralizada para a caldeira de alta pressão da
planta. O processo de ultrafiltração ajudou em problemas de incrustação de membranas.
O tratamento da água de minas é outro exemplo de processo combinado. Normalmente,
os efluentes das operações de mineração são extremamente altos no total de sólidos em
suspensão e coloides. A ultrafiltração pode remover essas partículas para prepará-las para o
tratamento com osmose reversa. Em alguns casos, a água passa por osmose reversa duas
vezes para atingir as especificações finais e alcançar um tratamento completo da água.

FONTE: https://tratamentodeagua.com.br/membranas-tratamento-agua-processos/.
Acesso em: 6 fev. 2021.

205
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Efluente é todo resíduo líquido ou gasoso que, proveniente das diversas


atividades humanas, é lançado no meio ambiente. Resulta de atividades
industriais, agrícolas ou dos esgotos domésticos urbanos.

• Os efluentes líquidos industriais são originários das águas empregadas na


área de utilidades e/ou processos industriais. As características dependem
da natureza da indústria (metalúrgica, têxtil, alimentícia etc.), das matérias-
primas processadas, das etapas de transformação utilizadas no processo, da
incorporação de substâncias indesejáveis à água (ex.: detergentes, solventes,
pigmentos, óleos etc.), do porte da indústria e do modelo de gestão utilizado.

• Um efluente doméstico se trata de toda água residuária gerada pelas atividades e


necessidades humanas em uma residência e que flui através da rede de esgoto.

• Existe uma classificação que diferencia os tipos de efluentes (“esgotos”)


existentes: efluentes domésticos, efluentes industriais, águas pluviais e águas
de infiltração.

• O tratamento de esgotos tem a finalidade de remover a matéria orgânica


(reduzir a DBO), o material em suspensão, além da remoção de patógenos e de
nutrientes (N e P – nitrogênio e fósforo).

• Os tratamentos de efluentes mais utilizados mundialmente são os biológicos,


que apresentam, como elemento principal, os microrganismos, realizando a
remoção da matéria orgânica e de outros compostos.

• O tratamento biológico é o método mais eficiente de remoção da matéria


orgânica dos efluentes líquidos. O próprio efluente apresenta grande
diversidade de bactérias e de protozoários para compor as culturas microbiais
mistas que processam os poluentes orgânicos.

• Além da DBO, outros parâmetros importantes a serem mensurados são a


medição do carbono orgânico (Carbono Orgânico Total – COT) e a Demanda
Química de Oxigênio.

• A relação DQO/DBO pode ser empregada como indicativo da biodegradabilidade


dos despejos, o que propicia auxílio na escolha do tratamento a ser empregado.

• Os MO desempenham um papel preponderante em sistemas de tratamento


biológico de esgoto, sendo os responsáveis pela estabilização da matéria
orgânica e pela remoção de nutrientes.

206
• Os protozoários ciliados são essenciais para a produção de um efluente de
boa qualidade. A atividade predatória desses organismos sobre o crescimento
disperso bacteriano é responsável pela clarificação e pela redução do número
de coliformes durante o processo de lodo ativado.

• As bactérias heterotróficas apresentam função-chave no tratamento biológico,


sendo responsáveis pela degradação da matéria orgânica. Ainda, aglomeram-
se em estruturas, como flocos, biofilmes e grânulos.

• Nos lodos ativados típicos, o crescimento da biomassa ocorre de forma


dispersa, dando origem aos flocos. Para o sucesso da operação de uma estação,
utilizando o processo de flocos, é necessário um equilíbrio entre as bactérias
filamentosas e as formadoras de flocos.

• Os flocos são constituídos não somente de bactérias, mas, também, de


protozoários, fungos e nematoides. Essa diversidade microbiana proporciona
uma característica de biofilme.

• O sistema de lodos ativados se fundamenta em promover o desenvolvimento de


uma cultura microbiológica na forma de flocos (lodos ativados) em um tanque de
aeração, que é alimentada pela carga orgânica contida no efluente a tratar.

• Para o tratamento de efluentes industriais com alto teor de matéria orgânica,


têm sido aplicados os reatores biológicos anaeróbios, em virtude das vantagens
técnicas e econômicas, e um dos principais é o reator anaeróbio de fluxo
ascendente com manta de lodo (UASB).

• A digestão anaeróbica pode ser considerada um processo no qual vários grupos


de microrganismos trabalham em sinergia na conversão da matéria orgânica
complexa em produtos finais, como metano, dióxido de carbono, sulfeto de
hidrogênio, água e amônia.

• Os reatores do tipo UASB empregam biomassa suspensa ou aderida,


denominada de manta de lodo, para a degradação da matéria orgânica presente
no esgoto afluente.

• As bactérias presentes na biomassa dos reatores UASB formam flocos de boa


sedimentabilidade. Assim, com o passar do tempo, parte da biomassa se deposita
no fundo do reator, formando uma camada denominada de leito de lodo.

• Existem vantagens e desvantagens no emprego de processos aeróbios e


anaeróbios no tratamento de efluentes líquidos.

207
AUTOATIVIDADE

1 A avaliação dos parâmetros DBO e DQO é comumente utilizada


na determinação do grau de poluição das águas e dos efluentes
líquidos. A respeito dos parâmetros DQO, DBO5 e COT, utilizados
no controle do tratamento de efluentes, é CORRETO afirmar:

a) ( ) A DBO5 se refere à quantidade de oxigênio dissolvido necessária para


que a matéria orgânica contida no efluente seja reduzida a 5% do valor
original.
b) ( ) A relação DQO/DBO5 fornece indicações da biodegradabilidade do
efluente e do tipo de processo a ser utilizado no tratamento.
c) ( ) Uma relação DQO/DBO baixa sinaliza que a porção biodegradável é
baixa, o que indica a utilização de tratamento químico.
d) ( ) A análise de COT requer a necessidade de eliminação de 50% do
carbono inorgânico da amostra.

2 No que diz respeito ao reator do tipo UASB − reator anaeróbio de fluxo


ascendente em manto de lodo, analise as sentenças que seguem:

I- O reator UASB é uma tecnologia de tratamento biológico de esgotos


fundamentada na decomposição aeróbia facultativa da matéria orgânica.
Apresenta uma coluna de escoamento ascendente, composta por uma
zona de digestão aeróbia, uma zona de sedimentação, e o dispositivo
separador de fases gás-sólido-líquido.
II- O esgoto adentra no reator e, após ser distribuído pelo fundo, segue uma
trajetória ascendente, desde a parte mais baixa até encontrar a manta de
lodo, ocorrendo a mistura, a biodegradação e a digestão anaeróbia da
matéria orgânica, tendo, como subproduto, a geração de gases metano,
carbônico e sulfídrico.
III- Ainda em escoamento ascendente, e através de passagens definidas pela
estrutura dos dispositivos de coleta de gases e de sedimentação, o esgoto
alcança a zona de sedimentação.
IV- A manutenção de um leito de sólidos em suspensão constitui a manta de
lodo, e, em função do fluxo contínuo e ascendente de esgotos, ocorre a
decomposição do substrato orgânico pela ação de organismos anaeróbios.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.
b) ( ) As sentenças I, II, e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, III, e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.

208
3 O tratamento do esgoto, por meio de um processo denominado de “lodo
ativado”, é baseado na capacidade natural de depuração ou “purificação”
da água com elevados níveis de matéria orgânica, por meio da atividade
de microrganismos e micrometazoários (animais microscópicos). À medida
que os microrganismos modificam as características físicas e químicas da
água, determinados grupos funcionais vão se tornando mais abundantes. Ao
mesmo tempo, as relações tróficas entre os organismos também determinam
mudanças na composição e na abundância da microfauna (fauna de
organismos microscópicos). O acompanhamento dessas mudanças permite
avaliar a eficiência de cada etapa do processo de depuração da água. Dentre
os organismos atuantes nesse processo, podemos destacar quatro grupos
funcionais: 1-protozoários ciliados e flagelados que se alimentam da
matéria orgânica dissolvida na água; 2-protozoários ciliados bacterívoros
que se alimentam de bactérias heterotróficas; 3-bactérias heterotróficas
que se alimentam da matéria orgânica dissolvida na água; e 4 - anelídeos
e rotíferos que se alimentam dos protozoários. A partir do enunciado,
responda à seguinte questão: Qual (ou quais) dos quatro grupos funcionais
nós poderíamos encontrar com maior abundância na fase inicial (esgoto
bruto) do processo de depuração da água?

209
210
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

BIORREMEDIAÇÃO: FUNDAMENTOS E EXEMPLOS PRÁTICOS

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste tópico, abordaremos a biorremediação. Com certeza,
você já deve ter ouvido falar a respeito dos meios de comunicação em geral,
especialmente, nos estudos/casos de contaminação de águas por petróleo e da
utilização de microrganismos para a remoção, não é mesmo?! Então, vamos lá...
Qual é o conceito de biorremediação?

2 CONCEITOS DE BIORREMEDIAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO


Biorremediação é definida como o processo no qual organismos
vivos, normalmente, plantas, microrganismos ou enzimas, são empregados,
tecnologicamente, para remover (remediar) ou reduzir poluentes no ambiente
(GAYLARD; BELLINASO; MANFIO, 2005 apud PEREIRA; FREITAS, 2012).

O processo metabólico que tem se mostrado mais apto em biodegradar


moléculas xenobióticas (moléculas estranhas ao ambiente natural) recalcitrantes
(moléculas de difícil degradação) nos processos de biorremediação é o microbiano,
uma vez que os microrganismos desempenham a tarefa de reciclar a maior parte
das moléculas da biosfera, participando dos principais ciclos biogeoquímicos e
representando, portanto, o suporte de manutenção da vida na Terra (GAYLARD;
BELLINASO; MANFIO, 2005 apud PEREIRA; FREITAS, 2012).

Outro conceito é apresentado por Yakubu (2007), que define a


biorremediação como um processo biotecnológico no qual se utiliza o metabolismo
de microrganismos para a eliminação rápida de poluentes, com a finalidade de
diminuir a concentração a níveis aceitáveis, transformando-os em compostos de
baixa toxicidade.

Conceito similar é trazido pela Agência de Proteção Ambiental Americana


(EPA), cuja biorremediação é definida como o uso de microrganismos para
limpar/descontaminar solos e águas subterrâneas contaminadas. Assim, a
biorremediação estimula o crescimento de certos microrganismos que utilizam
os contaminantes como fonte de alimento e de energia. Contaminantes tratados,
empregando-se a biorremediação, incluem óleo e outros derivados de petróleo,
solventes e pesticidas (EPA, 2012).

211
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

FIGURA 10 – ESQUEMA SIMPLIFICADO DA AÇÃO DE MICRORGANISMOS EM PROCESSOS DE


BIORREMEDIAÇÃO

FONTE: <https://www.researchgate.net/figure/Figura-2-Esquema-simplifi-cado-da-acao-de-
microorganismos-em-processos-de-biorremediacao_fig1_260766257>. Acesso em: 9 fev. 2021.

A biorremediação pode ser classificada em in-situ e ex-situ (off-site).


Conforme o nome já menciona, a primeira se caracteriza por ser um tratamento
realizado no próprio local de contaminação. Já a segunda, por ser realizada
fora de onde ocorreu a contaminação, é um tratamento que requer a escavação
e a remoção do solo contaminado para outro local (ANDRADE; AUGUSTO;
JARDIM, 2010). São exemplos de biorremediação in-situ: atenuação natural,
bioaumentação, bioestimulação, fitoremediação e landfarming. Como exemplos
de ex-situ, citam-se a compostagem e os biorreatores.

Cabe salientar que a biorremediação ex-situ, ou off-site, normalmente,


apresenta aumento dos custos do tratamento, pois envolve, além dos custos
relacionados com o tratamento propriamente dito, custos com o desenvolvimento
da área que deve receber o solo, remoção do solo, transporte e disposição final
do solo tratado, além de outras exigências, como o treinamento de um grande
número de pessoas. Ainda, essa prática apresenta a desvantagem de que a
remoção do solo deve ser realizada com todos os cuidados para que não ocorra a
propagação da contaminação para meios, a princípio, não afetados, necessitando
da realização prévia de uma análise de risco por diferentes vias de contaminação,
um incremento dos custos do tratamento, como aérea, aquática etc. (ANDRADE
et al., 2010 apud ALVES, 2014).

212
TÓPICO 2 — BIORREMEDIAÇÃO: FUNDAMENTOS E EXEMPLOS PRÁTICOS

Quanto ao tipo de metabolismo, a biorremediação pode ser classificada


de aeróbia, anaeróbia e cometabólica. Na biorremediação aeróbia, há reações
microbianas que exigem oxigênio para acontecerem. No caso, a bactéria emprega
um substrato carbônico como doador de elétrons, e oxigênio, como aceptor. Já na
biorremediação anaeróbia, ocorrem reações na ausência de oxigênio, abrangendo
muitos processos, incluindo fermentação, metanogênese, decloração redutiva e
condições de redução de sulfato e de nitrato.

FIGURA 11 – BIORREMEDIAÇÃO - AERÓBIA E ANAERÓBIA

FONTE: <https://www.researchgate.net/figure/Illustrating-the-difference-between-aerobic-and-
anaerobic-bioremediation_fig2_336446238>. Acesso em: 6 fev. 2021.

NOTA

A decloração redutiva utiliza processos químicos e biológicos para acelerar


a redução de compostos organoclorados (compostos orgânicos que contêm cloro na
composição química). São substâncias largamente empregadas na fabricação de pesticidas.

213
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

Dependendo do contaminante, um subconjunto dessas atividades pode


ser cultivado. No metabolismo anaeróbio, nitrato, sulfato, CO2, materiais oxidados
ou componentes orgânicos podem substituir o oxigênio como aceptor de elétrons
(EPA, 2021).

FIGURA 12 – REAÇÃO QUÍMICA DE CORROSÃO DO ALUMÍNIO (AL) EM SOLUÇÃO AQUOSA DE


ÁCIDO CLORÍDRICO (HCL)

FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/quimica/conceito-exemplos-agente-redutor-agente-
oxidante.htm>. Acesso em: 9 fev. 2021.

Legenda: Observe como o Al transferiu elétrons, isso significa que ocasionou a redução
dos cátions H+(aq). Essa é a razão pela qual é denominado de agende redutor. Já o cátion
H+(aq) retirou os elétrons do alumínio, causando a oxidação do metal, portanto, atua como
um agente oxidante.

Outra classe de biorremediação é a biorremediação cometabólica. Os MO


não obtêm energia a partir da degradação de carbono ou contaminante. Esse tipo
de biorremediação pode ser aeróbio ou anaeróbio. No primeiro, o contaminante
é oxidado por uma enzima ou cofator produzido durante o metabolismo microbiano
ou outro componente que contenha oxigênio. Já no segundo, o contaminante é
reduzido por enzima ou cofator produzido durante o metabolismo microbiano
ou outro componente no ambiente desprovido de oxigênio. Nesses casos, a
biodegradação do contaminante não provê energia ou crescimento para o MO
mediador da reação (EPA, 2000 apud EPA, 2021).

É importante destacar que a abordagem de biorremediação mais


adequada (aeróbia, anaeróbia ou cometabólica) depende do tipo do contaminante
e das condições presentes no local (ex.: temperatura, pH, concentração do
contaminante etc.) (EPA, 2021). Assim, a seguir, estarão dispostos alguns exemplos
da biodegradabilidade de certos contaminantes e as condições preferenciais
(aeróbias ou anaeróbicas) de degradação.

214
TÓPICO 2 — BIORREMEDIAÇÃO: FUNDAMENTOS E EXEMPLOS PRÁTICOS

QUADRO 5 – BIODEGRADABILIDADDE DO CONTAMINANTE E CONDIÇÕES PREFERENCIAIS


DE DEGRADAÇÃO
Condições
Contaminante Degradabilidade microbiana
preferenciais
Hidrocarbonetos de óleo
Alta Baixa
mineral
Hidrocarbonetos de óleo
x Aeróbica
mineral de cadeia curta
Hidrocarbonetos de óleo
mineral de cadeia longa/ x Aeróbica
ramificada
Cicloalcanos x Aeróbica
Pesticidas
g-Hexaclorocicloexano
x Anaeróbio/aeróbico
(Lindano) – inseticida sólido
Atrazinas (herbicidas) x Aeróbica
Dioxinas
PCDD/F (dioxinas+furanos) x Anaeróbica
Componentes inorgânicos
Amônio x Anaeróbio/aeróbio
Nitrato x Anaeróbica
Sulfato x Anaeróbica
FONTE: Adaptado de EPA (2021)

A biorremediação é considerada o aprimoramento dos processos de


biodegradação. Nesse contexto, os principais agentes dessa aceleração são
(MORAIS FILHO; CORIOLANO, 2016; VICENTE, 2020):

• Bioestímulo (bioestimulação): acréscimo de nutrientes. Trata-se de criar


condições para o aumento de populações autóctones degradadoras do poluente.
• Bioaumento (bioaumentação): introdução de microrganismos degradadores
do poluente. Nesse caso, existem três tipos de técnicas que podem ser
empregados: utilização de MO autócnones: isolamento e seleção de
microrganismos a partir de amostras do próprio-ambiente a ser tratado;
utilização de MO alóctones: seleção de microrganismos a partir de amostras de
coleções de cultura ou de outro ambiente; OGMS: introdução de organismos
geneticamente modificados.
• Biorremediação intrínseca: atenuação natural/monitorada. Está baseada no
monitoramento da capacidade de biodegradação dos microrganismos nativos
de degradarem o contaminante, sem que haja o acréscimo de nutrientes ou
qualquer adequação do ambiente. Dessa forma, os microrganismos, no local,
passam a utilizar o contaminante como fonte de carbono (energia) para reduzir,
com o tempo, os níveis de concentração.

215
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

A partir do exposto, podemos notar, acadêmico, que a biorremediação é


uma tecnologia de grande complexidade, e a implementação ocorre em fases que
abarcam um estudo do ambiente, do tipo de contaminante e dos riscos envolvidos.

FIGURA 13 – ESQUEMA GERAL DAS ETAPAS PARA A DEFINIÇÃO E A IMPLEMENTAÇÃO DE UM


PROCESSO DE BIORREMEDIAÇÃO

FONTE: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/85/85134/tde-15052017-160603/
publico/2017ConicelliBiossorcao.pdf>. Acesso em: 9 fev. 2021.

A seguir, conheceremos alguns dos principais MO utilizados no processo


de biorremediação. Sigamos em frente!

3 MICRORGANISMOS EMPREGADOS NO PROCESSO DE


BIORREMEDIAÇÃO
No caso específico da utilização de microrganismos, estes podem ser
de ocorrência natural (nativos) ou cultivados, sendo que bactérias, fungos
filamentosos e leveduras são os mais utilizados, porém, as bactérias são os
principais microrganismos que atuam na biorremediação de contaminantes
(GAYLARDE et al., 2005; CASTELO-GRANDE et al., 2007; ROCHA et al., 2009;
ANDRADE et al., 2010 apud BRAUN et al., 2019).

216
TÓPICO 2 — BIORREMEDIAÇÃO: FUNDAMENTOS E EXEMPLOS PRÁTICOS

A eficiência de um microrganismo ou outro no processo de biorremediação


é dependente, em muitos casos, da estrutura da molécula e da presença de
enzimas hábeis em degradar o produto, as quais apresentam especificidade para
a maioria dos substratos (MEYER, 1978 apud PEREIRA; FREITAS, 2012). É, por
meio desse mecanismo, que a biorremediação é efetivada.

Os fungos apresentam diversas características que os tornam organismos


interessantes para a aplicação em sistemas de biorremediação. Esses organismos
possuem a capacidade de crescer sob condições de estresse ambiental, que
podem gerar limitação do crescimento de bactérias, além do próprio modo
de crescimento induzido quimiostaticamente, em direção à fonte de carbono
orgânico, através do alongamento e da ramificação das hifas, que possibilitam
a colonização de grandes áreas. Outra característica importante é o sistema de
biodegradação fúngico, efetuado por enzimas extracelulares. Assim, o contato
superficial com o contaminante é otimizado, aumentando a biodisponibilidade
e, por consequência, a biodegradação (CHANDER; ARORA; BATH, 2004 apud
PEREIRA; FREITAS, 2012).

Os fungos são capazes de transformar e de mineralizar contaminantes


ambientais, como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, corantes azo,
herbicidas e outros compostos tóxicos, através da ação das enzimas extracelulares
(SOARES, 2012).

Muitos fungos, incluindo as espécies Aspergillus niger, Aspergillus


terreus, Cladosporium oxysporum, Mucor thermohyalospora, Fusarium ventricosum,
Phanerochaete chrysosporium e Trichoderma harzianum têm sido testados pela
habilidade em degradar o composto endosulfan (BHALERAO; PURANIK, 2007
apud GUPTA et al., 2020), um tipo de inseticida e acaricida.

León-Santiesteban et al. (2016) apud Gupta et al. (2020) reportaram que um


tipo de fungo Rhizopus oryzae CDBB-H-1877 apresenta o potencial de biossorção
da substância pentaclorofenol (desinfetante, fungicida, bactericida etc.), por meio
da metilação e da descloração. Estudos demonstraram, também, que poucos
fungos zigomicetos e Aspergillus spp. apresentam as capacidades de descolorir e
de desintoxicar efluentes de indústrias têxteis.

NOTA

Biossorção é um processo que emprega materiais biológicos, como


adsorventes. Esse método tem sido largamente estudado por diversos pesquisadores
enquanto técnica alternativa aos métodos convencionais para remoção de metais pesados
de efluentes líquidos.

217
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

FIGURA 14 – DIAGRAMA SIMPLIFICADO DAS INTERAÇÕES FÚNGICAS COM


HIDROCARBONETOS DE PETRÓLEO E METAIS TÓXICOS

FONTE: <https://link.springer.com/article/10.1007/s00253-020-10854-y>. Acesso em: 6 fev. 2021.

Legenda: com a biomineralização, os microrganismos (neste caso, os fungos) excretam


substâncias que provocam a precipitação dos metais sob uma forma insolúvel, reduzindo
a mobilidade no solo.

Algumas espécies de fungos, como Penicillium chrysogenum, Scedosporium


apiospermum, Penicillium digitatum e Fusarium solani são, também, conhecidas
pela capacidade de degradação de bifenilos policlorados (conhecidos como
PCBs). Esses fungos demonstram o envolvimento de enzimas não lignolíticas na
degradação dos PCBs (TIGINI et al., 2009 apud GUPTA et al., 2020).

Pesquisas apontam a levedura Saccharomyces cerevisiae com potencial de


remover vários tipos de corantes têxteis diazo (AKSU, 2003 apud TOLLER, 2019).
A biomassa de S. cerevisiae também foi empregada como adsorvente na remoção
de chumbo (Pb2+) (FERREIRA et al., 2007 apud TOLLER, 2019), além de possuir
capacidade de bioacumular diversos metais, como prata, cádmio, cobalto, cobre,
urânio, zinco e tório (LEMOS et al., 2008 apud TOLLER, 2019).

NOTA

Os PCBs (do inglês, polychlorinated biphenyls), ou por ascarel, são misturas


de até 209 compostos clorados, que variam de nome, de acordo com a posição relativa
dos átomos de cloro na estrutura. Essas substâncias integram o grupo genericamente
denominado de dioxina e foram sintetizadas, inicialmente, por volta de 1800, na Alemanha,
porém, a produção industrial teve início a partir de 1922.

218
TÓPICO 2 — BIORREMEDIAÇÃO: FUNDAMENTOS E EXEMPLOS PRÁTICOS

Na literatura, há, também, vasta documentação da utilização de bactérias


em processos de biorremediação. Bactérias do gênero Curpiadivus sp. por exemplo,
possuem grande importância na biorremediação de metais tóxicos de solos, pois,
além de apresentarem diversos mecanismos de resistência a essas substâncias,
especialmente, ao metal cobre, podendo sobreviver em ambientes com elevadas
concentrações, são compostos por facilitadores de difusão, aumentando a
capacidade de retenção dos metais (GAD; WHITE, 1989; VANDAMME; COENYE,
2004 apud BRAUN, 2019).

Surgiram bons resultados na degradação da gasolina comercial por


bactérias das espécies Pseudomonas putida e Pseudomonas aeruginosa. Outros
gêneros bacterianos têm sido descritos como potenciais degradadores de petróleo
de ambientes contaminados, como Acidovorans, Acinetobacter, Agrobacterium,
Alcaligenes, Aeromonas, Arthrobacter, Beijemickia, Burkholderia, Bacillus, Comomonas,
Corynebacterium, Cycloclasticus, Flavobacterium, Gordonia, Microbacterium, Moraxella,
Mycobacterium, Micrococcus, Neptunomonas, Nocardia, Paracoccus, Pasteurella,
Polaromonas, Pseudomonas, Ralstonia, Rhodococcus, Sphingomonas, Stenotrophomonas,
Streptomyces e Vibrio (CRAPEZ et al., 2002; JACQUES et al., 2007; MANDRI; LIN,
2007 apud TONINI; REZENDE; GRATIVO, 2010 apud PEREIRA; FREITAS, 2012).

Pesquisas têm sido conduzidas com a bactéria Alcanivorax borkumensis,


como potencial MO degradador de hidrocarbonetos, substâncias presentes no
petróleo. Trata-se de um organismo aeróbio com a capacidade de empregar
alcanos como fonte de carbono. Os resultados são promissores e oferecem a
esperança de uma técnica eficaz e ecológica para fazer descontaminações em caso
de derramamento de óleo (CICLO VIVO, 2018).

FIGURA 15 – FOTOMICROGRAFIA DA BACTÉRIA ALCANIVORAX BORKUMENSIS

FONTE: <https://throughthesandglass.typepad.com/through_the_sandglass/2010/06/
alcanivorax-borkumensis---oil-eating-bacteria-where-are-you.html>. Acesso em: 6 fev. 2021.

219
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

DICAS

Acadêmico, assista ao vídeo que explica a ação dos microrganismos na


descontaminação de ambientes que sofreram derramamento de petróleo: https://www.
youtube.com/watch?v=a_HWlFzgQiM&feature=emb_logo.

Obviamente, existem vantagens, mas, também, limitações da técnica de


biorremediação:

QUADRO 6 – VANTAGENS E LIMITAÇÕES DA TÉCNICA DE BIORREMEDIAÇÃO

Vantagens Limitações
• Capacidade de microrganismos
biodegradarem substâncias nocivas em vez de • Necessidade de um melhor entendimento
transferir o contaminante de um meio a outro. em relação à ação microbiológica sobre os
• Baixo custo, quando comparado a outras resíduos a serem biorremediados.
técnicas de remediação. • Método em evolução no Brasil.
• Elevada diversidade de ação, permitindo a • Necessidade de acompanhamento durante
incorporação dessa técnica a uma variedade o processo.
de agentes contaminantes e poluentes. • Muitas moléculas não são biodegradáveis.
• Capacidade de degradar substâncias • Substâncias tóxicas, ao microrganismo,
perigosas em vez de apenas transferir o inviabilizam o tratamento.
contaminante de um meio para outro. • Requisitos e eficiência de remoção podem
• Produtos utilizados não apresentam risco variar, consideravelmente, de um local
ao meio ambiente e não são tóxicos. para outro.
• Uso em áreas de proteção ambiental. • Há um risco para a acumulação de
• Pode ser usado com outras tecnologias de produtos tóxicos da biodegradação.
tratamento.

FONTE: Adaptado de Lacerda, Navoni e Amaral (2019)

NOTA

Enzimas formam tesoura molecular que destrói PET

Redação do Site Inovação Tecnológica - 16/04/2019

Enzimas que comem PET

Em 2016, um grupo de pesquisadores japoneses descobriu uma bactéria que


cresce no PET (polietileno tereftalato), no material das garrafas de refrigerante, e se
alimenta, parcialmente, do polímero tão difícil de degradar.

220
TÓPICO 2 — BIORREMEDIAÇÃO: FUNDAMENTOS E EXEMPLOS PRÁTICOS

Descobriram que a bactéria Ideonella sakaiensis possui duas enzimas especiais,


PETase e MHETase. A PETase decompõe o plástico em blocos de construção de PET
menores, principalmente, o MHET, e a MHETase divide esse MHET em dois blocos
precursores básicos do PET, o ácido tereftálico e o etilenoglicol.

Ambos os componentes são muito valiosos para sintetizar um PET novo sem a
adição de petróleo, para um ciclo de produção e recuperação sustentável e fechado.

PETase e MHETase

Para desfrutar de todo o potencial dessa dupla, é necessário desvendar a estrutura


tridimensional das duas enzimas, permitindo a construção de versões sintéticas otimizadas,
que não atendam apenas às necessidades das bactérias, mas à necessidade de lidar com
imensos volumes de lixo.

Em abril de 2018, a estrutura da PETase foi, finalmente, resolvida, de forma


independente por vários grupos de pesquisa. Agora, Gottfried Palm e colegas da
Universidade Greifswald, na Alemanha, desvendaram a estrutura da MHETase.

"A MHETase é, consideravelmente, maior do que a PETase, e ainda mais complexa.


Uma única molécula de MHETase consiste em 600 aminoácidos, ou cerca de 4.000
átomos. A MHETase tem uma superfície que é, aproximadamente, duas vezes maior do
que a superfície da PETase e tem, portanto, um potencial consideravelmente maior de
otimização para a decomposição do PET," disse o professor Gert Weber.

Decifrar a estrutura permitiu que os pesquisadores vissem exatamente onde a


molécula MHET, produzida pela PETase, liga-se à MHETase, onde é quebrada em dois
componentes formadores.

Foi possível produzir uma variante MHETase com atividade otimizada, a fim de
utilizá-la, com a PETase, para uma reciclagem sustentável do PET. Os resultados foram tão
promissores que a equipe chamou o composto de "tesoura molecular para cortar PET".

ESTRUTURA DA MHETASE

221
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

Ciclo biotecnológico

Foi um primeiro passo, mas otimizações adicionais serão necessárias porque nem
a PETase e nem a MHETase são, particularmente, eficientes do ponto de vista de uma
reciclagem em escala industrial.

A equipe planeja complementar esses estudos de otimização com trabalhos das


estruturas biológicas, a fim de desenvolver, sistematicamente, enzimas de digestão de
plástico para aplicações ambientais.

Produzir esses tipos de enzimas em ciclos biotecnológicos fechados, por exemplo,


pode ser uma maneira de quebrar os plásticos PET e outros polímeros nos blocos básicos.
Essa também seria a chave para uma solução de longo prazo para a reciclagem dos
resíduos plásticos: A produção de plástico seria um ciclo fechado e não mais dependente
do petróleo.

FONTE: https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=enzimas-
tesoura-molecular-destroi-pet&id=010125190416#.YB8JtOhKjIV. Acesso em: 6 fev. 2021.

Acadêmico, estudamos o papel dos fungos e das bactérias no processo de


biorremediação, além de conhecermos as vantagens e as limitações da técnica.
Verificamos, também, a grande potencialidade da biorremediação, pois esta
otimiza reações que já ocorrem no ambiente natural. Partimos, então, para a
leitura complementar, que apresentará outros casos práticos/avanços obtidos na
área. Bons estudos!

NOTA

Microrganismos são alternativa sustentável para recuperação de áreas contaminadas

O avanço da microbiologia tem estimulado o uso de fungos e bactérias no tratamento de


poluentes – a chamada biorremediação

Luanne Caires

A discussão dos combustíveis está em alta no Brasil. Em maio, caminhoneiros de


todo o país iniciaram uma paralisação motivada, principalmente, pelo aumento do preço do
diesel, o que afetou o abastecimento de produtos e causou prejuízos para alguns setores,
mas os impactos dos combustíveis vão muito além dos aspectos econômicos. Eles geram
um custo ambiental elevado: segundo o último relatório da Companhia Ambiental do Estado
de São Paulo (Cetesb), há 5.942 áreas com algum grau de contaminação no estado, sendo
72% delas em decorrência da atividade de postos de combustíveis. A recuperação dessas
áreas conta com aliados muito importantes, mas pouco lembrados: os microrganismos.

222
TÓPICO 2 — BIORREMEDIAÇÃO: FUNDAMENTOS E EXEMPLOS PRÁTICOS

Bactérias dos gêneros Bacillus, Pseudomonas, Rhodobacter e Achromobacter


são exemplos de microrganismos capazes de degradar petróleo e derivados por um
processo conhecido como biorremediação. Além das bactérias, fungos e plantas, também
são utilizados para remover ou degradar contaminantes ambientais.

A contaminação por petróleo, metais pesados, agrotóxicos, esgoto e outros


resíduos também pode ser revertida com a aplicação dessa técnica versátil e, muitas vezes,
mais barata e ecologicamente sustentável do que as técnicas tradicionais.

MICRORGANISMOS QUE ESTÃO NATURALMENTE NO AMBIENTE SÃO ELEMENTOS


IMPORTANTES NA DEGRADAÇÃO DO PETRÓLEO, TRANSFORMANDO-O EM GÁS
CARBÔNICO E ÁGUA

FONTE: Fisheries and Oceans, Canadá

Comparada a outros métodos físicos e químicos, a biorremediação se destaca


por otimizar processos que já ocorrem naturalmente. Os microrganismos presentes nas
áreas contaminadas são resistentes às condições alteradas pelos poluentes, e muitas das
espécies têm mecanismos para transformar ou incorporar o contaminante. Elen Aquino,
pesquisadora da Unifesp e do Centro de Pesquisa em Meio Ambiente da USP (Cepema),
explica que, por essa razão, a busca por organismos biorremediadores é realizada em locais
com contaminação comprovada, pois, nessas áreas, o conjunto de bactérias (microbiota)
já está adaptado ao contaminante de interesse.

“Amostras do ambiente contaminado são coletadas, e os microrganismos são


selecionados e criados em laboratório, etapa que pode variar de dias a meses, dependendo
da toxicidade do poluente e da biodiversidade contida na amostra ambiental. Depois, os
microrganismos passam para um reator industrial, para aumento de escala e geração
de um produto biotecnológico, etapa, geralmente, realizada por empresas da área de
saneamento”, diz Aquino.

Escolha da melhor técnica

Depois que os microrganismos com potencial são encontrados, a aplicação


da biorremediação se dá de duas formas. A primeira delas é baseada no princípio da
bioestimulação, utilizando microrganismos do próprio local contaminado e estimulando a
atividade com a adição de nutrientes, oxigênio e outros compostos.

223
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

Em locais nos quais os microrganismos nativos são insuficientes para a


degradação do contaminante, pode haver a aplicação de microrganismos externos,
gerando uma atividade mais eficiente. Essa técnica é conhecida como bioaumentação e
tem risco ambiental reduzido, pois os microrganismos adicionados ao local precisam ser
específicos para biodegradar o contaminante, e atuam sem interferência nos processos
naturais típicos da área.

A escolha da melhor técnica depende das características dos próprios poluentes e


das condições ambientais da área contaminada, como temperatura, acidez ou alcalinidade
e concentração de nutrientes. Segundo Aquino, “áreas contaminadas com compostos
orgânicos são as que apresentam melhores resultados, porque o próprio contaminante
serve de fonte de alimento para os microrganismos, e pode ser completamente degradado
a gás carbônico, água e sais minerais. Os compostos mais difíceis de se degradar são
os orgânicos clorados [como muitos pesticidas], por serem altamente tóxicos, e os
compostos inorgânicos, como os metais pesados. A mistura de substâncias também pode
inibir a biodegradação de alguns contaminantes da amostra”.

Quando a eficiência da biorremediação é baixa, são utilizados procedimentos


complementares. Juliana Freitas, pesquisadora do Laboratório Multidisciplinar em
Mineralogia, Águas e Solos (Lamas – Unifesp), diz que não existe solução única para todos
os problemas, e explica que, nos casos em que as condições naturais não são propícias
para a biorremediação, geralmente, utiliza-se uma combinação dessa técnica com
métodos físicos e químicos, como remoção, oxidação química e extração de vapores.  “Às
vezes, já há condições naturais propícias para a biodegradação, e, às vezes, não. Então,
você precisa fazer alterações para que ela seja viável, combinar as técnicas para ter um
resultado mais interessante”, afirma.

Independentemente da técnica escolhida, algumas etapas são essenciais ao


processo. A professora Aquino complementa com o passo a passo: primeiro, o local
contaminado deve ser devidamente avaliado para que se escolha a melhor tecnologia de
remediação naquele caso; depois, o produto biotecnológico deve ser liberado pelo órgão
de controle ambiental competente, com testes de eficiência e de toxicidade para o ser
humano e para outros organismos do meio ambiente.

Petróleo, solventes e metais como principais alvos

No Brasil, a principal contaminação de áreas ocorre por resíduos de postos de


combustíveis, seguidos por metais e solventes halogenados (aqueles com cloro, flúor,
bromo e iodo, muito utilizados em indústrias). Ao menos, essa é a realidade para os estados
de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, únicos estados brasileiros com informações
sistematizadas de áreas contaminadas.

O padrão é semelhante ao de outros lugares do mundo: na Europa, os metais


pesados e óleos minerais contribuem com 60% da contaminação de solos e 53% da
contaminação de águas subterrâneas; já nos Estados Unidos, os produtos de petróleo,
solventes e metais também são os poluentes mais comuns.

Exemplos bem-sucedidos do uso de microrganismos no combate a esses


poluentes são antigos. No caso dos postos de combustíveis, métodos físicos e químicos
ainda predominam, mas a biorremediação de petróleo foi essencial em contaminações
em escalas maiores.

Em 1989, um petroleiro norte-americano da Exxon Valdez se chocou contra um


recife no Alasca e ocasionou o vazamento de 42 mil toneladas de petróleo no oceano, um
dos mais graves vazamentos de óleo da história. Com a dificuldade de remoção física do

224
TÓPICO 2 — BIORREMEDIAÇÃO: FUNDAMENTOS E EXEMPLOS PRÁTICOS

poluente, a petrolífera adotou a técnica de biorremediação e utilizou cerca de 48 toneladas


de fertilizantes, distribuídos em diferentes pontos da costa, para aumentar a população
natural de bactérias capazes de degradar o petróleo. Os resultados foram positivos. Em três
anos, a área contaminada foi reduzida para quase 1% da extensão original, e a população
bacteriana retornou aos níveis considerados normais antes do acidente.

Em 2010, as bactérias também foram responsáveis por grande parte da degradação


de óleo no Golfo do México, após a explosão da plataforma de perfuração Deepwater
Horizon, que operava para a petrolífera British Petroleu (BP). O acidente derramou milhões
de litros de petróleo no mar e atingiu mais de dois mil quilômetros de costa.

Na mineração, a biorremediação tem sido mais voltada para o uso das plantas
como transformadoras ou acumuladoras dos contaminantes, porém, pesquisas
mostraram a utilidade dos microrganismos como remediadores, com várias espécies
de bactérias e fungos capazes de degradar cobre, chumbo, urânio e outros metais. As
próprias mineradoras estão interessadas no desenvolvimento de técnicas que utilizam
os microrganismos. É o caso da Vale, que, em 2015, estabeleceu uma parceria com a
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para pesquisar microbiota capaz de degradar
o creosoto, substância utilizada antigamente, pela empresa, para conservação de madeira
em ferrovias.

Parcerias poderiam ser úteis no caso do desastre ambiental causado pelo


rompimento da barragem de Fundão, no município de Mariana (MG), há dois anos e meio.
No entanto, o uso da biorremediação não consta nos planos de remediação propostos
pela Samarco após o acidente.

Campos e plantações

Apesar de ser menos registrada nos levantamentos de áreas contaminadas, a


poluição decorrente de práticas agrícolas também tem preocupado os especialistas. No
campo, por exemplo, com o uso de pesticidas. Segundo Jackson Marcondes, professor
do Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária da Unesp, a agricultura sempre
se depara com novas formas de antigos problemas. “Até há pouco tempo, as plantas
transgênicas eram vistas como uma forma importante de reduzir os pesticidas, mas, hoje,
as plantas que foram lançadas há algumas décadas não são mais resistentes às pragas,
porque os insetos já evoluíram. Buscam-se novas ferramentas de transgenia e novos
inseticidas para combater esses insetos, mas se a indústria lança novos pesticidas tóxicos,
que oferecem risco ao ambiente, ela tem que trabalhar paralelamente em métodos para
controlar a disseminação, e a biorremediação é uma boa medida”, afirma Marcondes.

Outro problema apontado pelo pesquisador é o excesso de matéria orgânica nos


plantios, como é o caso do reaproveitamento da vinhaça das indústrias sucroalcooleiras
nas lavouras de cana-de-açúcar. A vinhaça é o resíduo que sobra após a destilação do
caldo de cana fermentado para a obtenção de etanol e, para cada litro de etanol produzido,
são gerados cerca de 13 litros de vinhaça. Como a vinhaça é rica em nutrientes, algumas
usinas aplicam esse produto de volta na área de cultivo, como forma de aumentar a
produtividade e de reduzir o uso de fertilizantes químicos. Contudo, é preciso cuidado. O
poder poluidor da vinhaça é cerca de cem vezes maior do que o do esgoto doméstico,
pois contém muita matéria orgânica, baixo pH, é muito corrosiva e sai dos destiladores a
altas temperaturas (de 85 a 90°C). Com isso, os impactos negativos podem ser grandes
no solo, rios, nascentes e lençóis freáticos, pois o escoamento de água carrega a vinhaça.
Uma solução é o uso de microrganismos. “No tratamento de subprodutos da indústria
sucroalcooleira, como a própria vinhaça, você pode ter microrganismos que atuem como

225
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

biotransformadores dessa matéria que, de maneira geral, é tóxica in natura para a própria


lavoura. Os microrganismos transformam [a vinhaça] em uma forma mais aproveitável, em
termos de nutrientes, com papel mais efetivo na produção e no crescimento das plantas”,
complementa Marcondes.

Alternativa sustentável, mas ainda pouco utilizada

O investimento em processos de biorremediação cresceu muito nos últimos 30


anos em decorrência da crescente preocupação ambiental e das vantagens associadas à
degradação de contaminantes por microrganismos. Segundo levantamento realizado pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o número de patentes registradas na área
de biorremediação saltou de 3, em 1982, para 529, em 2014.

Os principais países responsáveis por esse aumento são Estados Unidos, China
e Japão, especialmente, devido a esforços de empresas. As universidades e os órgãos
governamentais aparecem em segundo plano, indicando que a iniciativa privada domina
a pesquisa e a aplicação da biorremediação. Esse crescimento no uso da técnica se
reflete em movimentação financeira: de acordo com pesquisa realizada pela organização
Transparency Market Research, o mercado global de tecnologias e serviços de
biorremediação foi avaliado em US$ 32 bilhões em 2016, e deve atingir os US$ 65 bilhões
até 2025.

ORIGEM DAS PATENTES EM BIORREMEDIAÇÃO

FONTE: Carmo e colaboradores (2015)

Apesar do crescimento do setor, a aplicação de técnicas de biorremediação ainda


não é muito difundida entre as empresas que atuam no ramo de recuperação de áreas
contaminadas no Brasil. Em São Paulo, das mais de 5 mil áreas contaminadas, apenas 70
passaram por algum processo de biorremediação, o que corresponde a menos de 2%.

Nos Estados Unidos, essa porcentagem é de 13% para tratamento no local (in situ)
e de 11% para tratamento fora da localidade (ex situ), considerando as áreas remediadas
pelo Superfund, principal programa federal de remediação.

Não é só em número de áreas contaminadas que a aplicação da biorremediação


é limitada no Brasil. De acordo com levantamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas
da USP (IPT), apenas 52% das empresas que atuam na cadeia produtiva de gerenciamento
de áreas contaminadas (GAC) utilizam essas técnicas. Para as empresas, a principal
dificuldade envolvida no processo é o longo tempo de operação da biorremediação em
comparação com tecnologias físicas e químicas tradicionais.

226
TÓPICO 2 — BIORREMEDIAÇÃO: FUNDAMENTOS E EXEMPLOS PRÁTICOS

O longo tempo do processo reduz o retorno financeiro da empresa e dificulta que se


deem respostas rápidas aos envolvidos, como clientes, comunidade, poder público e
imprensa. Essa pressão é maior quando a contaminação coloca em risco a população ou
causa danos irreversíveis ao ecossistema.

A estimulação do uso da biorremediação pode ser favorecida com o


desenvolvimento de pesquisas que acelerem o processo. Como em outras áreas do
conhecimento, a maior parte da pesquisa no país é feita nas universidades, e não nas
empresas. Por essa razão, aproximar os meios acadêmico e empresarial é importante para
a difusão de novas tecnologias. Em fevereiro desse ano, o governo regulamentou a nova
Lei de Inovação, que pode ajudar na aproximação de órgãos públicos, universidades e
iniciativa privada. No entanto, para Aquino, ainda há um longo caminho. “A parceria público-
privada ainda é tímida, principalmente, pela falta de conhecimento dos mecanismos de
transferência de tecnologia. O Brasil ainda não possui uma ‘cultura’ de transferência de
tecnologia e as instituições científicas e tecnológicas (ICTs) apresentam dificuldades
diversas para a estruturação dos núcleos de inovação. Nesse sentido, a autoavaliação
institucional e a criação de um planejamento estratégico das ICTs despontam como um
importante ponto de partida para a elaboração de uma política institucional de inovação,
gestão de propriedade intelectual e, consequentemente, implementação de um núcleo
de inovação tecnológica”, afirma a pesquisadora.

Organizar e difundir informação é essencial

Além de promover a integração entre empresas e centros de pesquisa e tecnologia,


organizar as informações das áreas contaminadas e técnicas de remediação é essencial.
No Brasil, o Banco de Dados Nacional sobre Áreas Contaminadas foi instituído por lei, em
2009, e deveria disponibilizar informações das áreas contaminadas de todos os estados
brasileiros. Entretanto, apenas três têm essas informações disponíveis: São Paulo, Rio de
Janeiro e Minas Gerais. Nos outros estados a situação é preocupante porque o sistema
de gerenciamento de áreas contaminadas é incipiente, mesmo com a industrialização
aumentando rapidamente.

Juliana Freitas destaca que parte do problema é a baixa quantidade de pessoas


treinadas para o trabalho com áreas contaminadas. “Há uma situação muito desigual entre
os estados. Existe uma legislação federal para o acompanhamento de áreas contaminadas
e a tendência é que isso se torne mais comum nos outros estados nos próximos anos,
mas ainda é um esforço grande ter um órgão ambiental com pessoas capacitadas para
trabalharem com áreas contaminadas. Boa parte dos órgãos ambientais sofre com o baixo
número de profissionais com capacitação para conduzir investigações nesse setor, analisar
os resultados e fazer uma análise um pouco mais completa. Então, o desenvolvimento das
técnicas acaba acontecendo mais entre as empresas de consultoria. O órgão ambiental
acaba ficando mais na parte de controle e fiscalização das empresas”, afirma Freitas.

A divulgação sistematizada de informações facilita o conhecimento da sociedade e


das empresas acerca do tamanho do problema e do potencial do uso de microrganismos
como solução. “Hoje, temos uma série de recursos que podem ser explorados
biotecnologicamente, mas falta difusão do conhecimento, investimentos público e privado
na aplicação efetiva desses recursos, investimento em pesquisa. Por meio do conhecimento,
as pessoas que atuam nessa área, realmente, podem vislumbrar a biorremediação como
algo que traga um benefício não só ecológico, mas de sustentabilidade econômica. Esse
processo leva tempo, depende de dinheiro e, obviamente, de difusão do conhecimento
para o grande público”, diz Marcondes.

227
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

Para Freitas, as perspectivas são otimistas. Segundo ela, o uso da biorremediação


tem crescido, principalmente, devido aos avanços nas técnicas de microbiologia:
“embora a aplicação das técnicas de biorremediação tenha uma defasagem em relação
ao desenvolvimento de técnicas de sequenciamento genético e outras possibilidades
biotecnológicas, as aplicações ajudam, cada vez mais, na recuperação das áreas
contaminadas”, afirma a pesquisadora do Lamas.

Luanne Caires é formada em Biologia (USP). Cursa mestrado em Ecologia (USP)


e é aluna de especialização em Jornalismo Científico (Labjor/Unicamp).

FONTE: ahttps://www.comciencia.br/microrganismos-sao-alternativa-sustentavel-para-
recuperacao-de-areas-contaminadas/. Acesso em: 6 fev. 2020.

228
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Biorremediação se trata da técnica pela qual organismos vivos, normalmente,


plantas, microrganismos ou enzimas, são empregados, tecnologicamente, para
remover (remediar) ou reduzir poluentes no ambiente.

• A biorremediação pode ser classificada em in-situ e ex-situ (off-site). A primeira se


caracteriza por ser um tratamento realizado no próprio local da contaminação.
Já a segunda, por ser realizada fora do local no qual ocorreu a contaminação, é
um tratamento que requer a escavação e a remoção do solo contaminado para
outro local.

• Quanto ao tipo de metabolismo, a biorremediação pode ser classificada aeróbia,


anaeróbia e cometabólica.

• A biorremediação aeróbia envolve reações microbianas que exigem oxigênio


para acontecer.

• No caso da biorremediação anaeróbia, ocorrem reações na ausência de


oxigênio, abrangendo muitos processos, incluindo fermentação, metanogênese,
decloração redutiva e condições de redução de sulfato e de nitrato.

• Existe a biorremediação cometabólica, os MO não obtêm energia a partir da


degradação de carbono ou contaminante.

• A técnica de biorremediação mais adequada (aeróbia, anaeróbia ou cometabólica)


depende do tipo do contaminante, e das condições presentes no local.

• Os principais agentes da aceleração da biorremediação são: bioestímulo


(bioestimulação), bioaumento (bioaumentação) e biorremediação intrínseca.

• Na biorremediação, que emprega MO, estes podem ser de ocorrência natural


(nativos) ou cultivados, sendo que bactérias, fungos filamentosos e leveduras
são os mais utilizados.

• Os fungos apresentam as capacidades de transformar e de mineralizar


contaminantes ambientais, como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos,
corantes azo, herbicidas e outros compostos tóxicos através da ação das
enzimas extracelulares.

• As bactérias apresentam grande aplicabilidade em processos de biorremediação,


sendo capazes, inclusive, de degradar plástico, petróleo e outras substâncias.

229
AUTOATIVIDADE

1 No processo de biorremediação, diversas condições devem ser observadas


para a implementação. Muito estudo é necessário para que a técnica mais
adequada seja empregada. A respeito dessas condições/fatores, leia, com
atenção, as sentenças a seguir:

I- Biodegradabilidade do contaminante.
II- Tipo de metabolismo microbiano.
III- Natureza do contaminante.
IV- Condições do local no qual o poluente é encontrado não interferem no
processo.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
b) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas.

2 Conforme estudamos, a técnica de biorremediação apresenta vantagens e


limitações. Cite três vantagens e três limitações do método.

3 A biorremediação é um processo de recuperação de áreas contaminadas


pelo qual os resíduos orgânicos são biologicamente degradados, sob
condições controladas. Quanto a esse tema, identifique as afirmativas a
seguir como verdadeiras (V) ou falsas (F):

( ) Os resíduos orgânicos devem ser biologicamente degradados até um


estado inócuo, ou até níveis abaixo da concentração estabelecida pelas
autoridades reguladoras.
( ) As técnicas permitem o tratamento dos resíduos nos locais contaminados
ou em outros locais, quando há a escavação e a remoção das áreas
contaminadas do local original.
( ) Quanto à origem dos microrganismos, estes podem ser produzidos por
bioestimulação, isolados de outras áreas, com origem laboratorial, levados
para o local contaminado, ou por bioadição dos próprios microrganismos
degradadores presentes na comunidade local.
( ) Pode-se utilizar bactérias, fungos ou plantas para degradar substâncias
perigosas para a saúde humana ou para o ambiente.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA, de cima para baixo:


a) ( ) V – V – F – V.
b) ( ) V – F – F – V.
c) ( ) F – F – V – F.
d) ( ) F – V – F – F.
e) ( ) F – F – V – V.
230
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL APLICADA

1 INTRODUÇÃO
Este tópico é dedicado ao estudo dos principais instrumentos legais
relacionados à qualidade da água, do solo e do ar, sob o enfoque da microbiologia
ambiental. Vamos conhecê-los?!

2 LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA DA ÁGUA


Quando se discute a respeito da análise da água, sistemas de
monitoramento qualitativos e quantitati­vos desta abrangem a avaliação de
variáveis microbiológicas e sanitárias (bactérias coliformes totais e termotolerantes,
Escherichia coli e enterococos etc.) e se consti­tuem técnicas essenciais para as
políticas públicas e as ações de gestão (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

Podemos citar a classificação dos cor­pos de água em classes, conforme


a qualidade das águas e a definição dos usos e dos tipos de tratamen­to a serem
aplicados nessas águas para a potabilização. Abordaremos, mais especificamente,
a Resolução CONAMA No 357/2005 (BRASIL, 2005), que “dispõe sobre a
classificação dos corpos de água e for­nece diretrizes ambientais para o seu
enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento
de efluentes, e dá outras providências”; a Resolução CONAMA N° 274/2000
(BRASIL, 2000), que “define os critérios de bal­neabilidade em águas brasileiras”;
e a Portaria N° 2914/2011 (BRASIL, 2011), do Ministério da Saúde, que “dispõe
sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para
consumo humano e seu padrão de potabilidade” (CEBALHOS; DINIZ, 2017).

A respeito da Resolução CONAMA No 357/2005, esta estabelece as classes


da qualidade da água a partir dos usos, a saber:

Art. 4° As águas doces são classificadas em:

I- classe especial: águas destinadas:


a) ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção;
b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; e,
c) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de
proteção integral.

231
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

II- classe 1: águas que podem ser destinadas:


a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado;
b) à proteção das comunidades aquáticas;
c) à recreação de contato primário, como natação, esqui aquático e mergulho,
conforme Resolução CONAMA n° 274, de 2000;
d) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se
desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de
película; e
e) à proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas.

III- classe 2: águas que podem ser destinadas:


a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional;
b) à proteção das comunidades aquáticas;
c) à recreação de contato primário, como natação, esqui aquático e mergulho,
conforme Resolução CONAMA n° 274, de 2000;
d) à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de
esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; e
e) à aquicultura e à atividade de pesca.

IV- classe 3: águas que podem ser destinadas:


a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional
ou avançado;
b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;
c) à pesca amadora;
d) à recreação de contato secundário; e
e) à dessedentação de animais.

V- classe 4: águas que podem ser destinadas:


a) à navegação; e
b) à harmonia paisagística.

No que tange à questão do limite de organismos indicadores de


contaminação de corpos da água, para as águas doces de Classe 1, é estabelecido:

g) coliformes termotolerantes: para o uso de recreação de contato primário,


deverão ser obedecidos padrões de qualidade de balneabilidade, previstos
na Resolução CONAMA n° 274, de 2000.

Para os demais usos, não deverá ser excedido um limite de 200


coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais, de, pelo menos,
6 (seis) amostras, coletadas durante o período de um ano, com frequência
bimestral. A E. Coli poderá ser determinada em substituição aos parâmetros
coliformes termotolerantes, de acordo com limites estabelecidos pelo órgão
ambiental competente.

232
TÓPICO 3 — LEGISLAÇÃO AMBIENTAL APLICADA

Já para as águas doces de Classe 2, devem ser cumpridas as exigências:

Art. 15°. Aplicam-se, às águas doces de classe 2, condições e padrões da


classe 1 previstos no artigo anterior, com exceção do seguinte:

II- coliformes termotolerantes: para uso de recreação de contato primário, deverá


ser seguida a Resolução CONAMA n° 274, de 2000. Para os demais usos,
não deverá ser excedido um limite de 1.000 coliformes termotolerantes por
100 mililitros em 80% ou mais de, pelo menos, 6 (seis) amostras coletadas
durante o período de um ano, com frequência bimestral. A E. coli poderá ser
determinada em substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes, de
acordo com limites estabelecidos pelo órgão ambiental competente.

ATENCAO

Lembre-se, acadêmico, de que estudamos a questão da contagem de


coliformes termotolerantes na Unidade 2 (Tópico 1 - Meios de cultura microbiana e métodos
de quantificação). Caso seja necessário, retome os estudos desse conteúdo.

Para as águas doces de Classe 3, os critérios microbiológicos devem seguir:

g) coliformes termotolerantes: para o uso de recreação de contato secundário,


não deverá ser excedido um limite de 2500 coliformes termotolerantes por
100 mililitros em 80% ou mais de, pelo menos, 6 (seis) amostras, coletadas
durante o período de um ano, com frequência bimestral. Para dessedentação
de animais criados confinados, não deverá ser excedido o limite de 1000
coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de, pelo menos,
6 (seis) amostras, coletadas durante o período de um ano, com frequência
bimestral. Para os demais usos, não deverá ser excedido um limite de 4000
coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de, pelo menos,
6 (seis) amostras coletadas durante o período de um ano, com periodicidade
bimestral. A E. Coli poderá ser determinada em substituição ao parâmetro
coliformes termotolerantes, de acordo com limites estabelecidos pelo órgão
ambiental competente.
h) cianobactérias para dessedentação de animais: os valores de densidade de
cianobactérias não deverão exceder 50.000 cel/ml, ou 5mm3/L.

É importante destacar que, conforme a referida resolução, as águas de


contatos primário e secundário são definidas da seguinte forma:

XXX- recreação de contato primário: contato direto e prolongado com a água


(como natação, mergulho, esqui-aquático), na qual a possibilidade de o
banhista ingerir água é elevada;

233
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

XXXI- recreação de contato secundário: refere-se àquela associada a atividades


em que o contato com a água é esporádico ou acidental e a possibilidade
de ingerir água é pequena, como na pesca e na navegação (como iatismo).

Para as águas doces de classe 4, de acordo com o Art. 17°:

As águas doces de classe 4 observarão as seguintes condições e padrões:

I- materiais flutuantes, inclusive, espumas não naturais: virtualmente ausentes;


II- odor e aspecto: não objetáveis;
III- óleos e graxas: toleram-se iridescências;
IV- substâncias facilmente sedimentáveis que contribuam para o assoreamento
de canais de navegação: virtualmente ausentes;
V- fenóis totais (substâncias que reagem com 4 - aminoantipirina) até 1,0 mg/L
de C6H5OH; VI – OD superior a 2,0 mg/L O2 em qualquer amostra; e VII -
pH: 6,0 a 9,0.

No caso das águas salinas (águas com salinidade igual ou superior a


30 ‰), sendo o caso da água do mar, os seguintes padrões microbiológicos são
estabelecidos:

g) coliformes termolerantes: para o uso de recreação de contato primário, deverá


ser seguida a Resolução CONAMA n° 274, de 2000. Para o cultivo de moluscos
bivalves destinados à alimentação humana, a média geométrica da densidade
de coliformes termotolerantes de, um mínimo, de 15 amostras coletadas no
mesmo local, não deverá exceder 43 por 100 mililitros, e o percentil 90% não
deverá ultrapassar 88 coliformes termolerantes por 100 mililitros. Esses índices
deverão ser mantidos em monitoramento anual com um mínimo de cinco
amostras. Para os demais usos, não deverá ser excedido um limite de 1.000
coliformes termolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de, pelo menos,
6 (seis) amostras coletadas durante o período de um ano, com periodicidade
bimestral. A E. Coli poderá ser determinada em substituição ao parâmetro
coliformes termotolerantes, de acordo com limites estabelecidos pelo órgão
ambiental competente.

Art. 19°. Aplicam-se, às águas salinas de classe 2, condições e padrões de


qualidade da classe 1, previstos no artigo anterior, com exceção dos seguintes:

b) coliformes termotolerantes: não deverá ser excedido um limite de 2500 por 100
mililitros em 80% ou mais de, pelo menos, 6 (seis) amostras coletadas durante o
período de um ano, com frequência bimestral. A E. Coli poderá ser determinada em
substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes, de acordo com limites
estabelecidos pelo órgão ambiental competente.

234
TÓPICO 3 — LEGISLAÇÃO AMBIENTAL APLICADA

No Art. 20°, são estabelecidos, também, os padrões de coliformes


termotolerantes para as águas salinas de classe 3, a saber:

VI- coliformes termotolerantes: não deverá ser excedido um limite de 4.000


coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de, pelo menos,
6 (seis) amostras coletadas durante o período de um ano, com frequência
bimestral. A E. Coli poderá ser determinada em substituição ao parâmetro
coliformes termotolerantes, de acordo com limites estabelecidos pelo órgão
ambiental competente.

Para as águas salobras (águas com salinidade superior a 0,5 ‰ e inferior a


30 ‰), os seguintes padrões microbiológicos são estabelecidos:

Art. 21°. As águas salobras de classe 1 observarão as seguintes condições


e padrões:

i) coliformes termotolerantes: para o uso de recreação de contato primário, deverá


ser seguida a Resolução CONAMA n° 274, de 2000. Para o cultivo de moluscos
bivalves destinados à alimentação humana, a média geométrica da densidade
de coliformes termotolerantes, de um mínimo de 15 amostras coletadas no
mesmo local, não deverá exceder 43 por 100 mililitros, e o percentil 90% não
deverá ultrapassar 88 coliformes termolerantes por 100 mililitros. Esses índices
deverão ser mantidos em monitoramento anual com um mínimo de cinco
amostras. Para a irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas
que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção
de película, bem como para a irrigação de parques, jardins, campos de esporte
e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto, não deverá ser
excedido o valor de 200 coliformes termotolerantes por 100mL. Para os demais
usos, não deverá ser excedido um limite de 1.000 coliformes termotolerantes
por 100 mililitros em 80% ou mais de, pelo menos, 6 (seis) amostras coletadas
durante o período de um ano, com frequência bimestral. A E. coli poderá ser
determinada em substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes, de
acordo com limites estabelecidos pelo órgão ambiental competente.

O Art. 22° estabelece, dentre outras exigências, os padrões microbiológicos


para as águas salobras de Classe 2, condições e padrões de qualidade da classe 1,
previstos no artigo anterior (21°), com exceção do seguinte:

d) coliformes termotolerantes: não deverá ser excedido um limite de 2500 por 100
mililitros em 80% ou mais de, pelo menos, 6 (seis) amostras coletadas durante o
período de um ano, com frequência bimestral. A E. coli poderá ser determinada
em substituição ao parâmetro coliformes termotolerantes, de acordo com
limites estabelecidos pelo órgão ambiental competente.

235
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

Para as águas salobras de Classe 3, os seguintes padrões microbiológicos


devem ser observados:

VII- coliformes termotolerantes: não deverá ser excedido um limite de 4.000


coliformes termotolerantes por 100 mL em 80% ou mais de, pelo menos,
6 (seis) amostras coletadas durante o período de um ano, com frequência
bimestral. A E. Coli poderá ser determinada em substituição ao parâmetro
coliformes termotolerantes, de acordo com limites estabelecidos pelo órgão
ambiental competente.

Acadêmico, possivelmente, você já assistiu ou leu alguma reportagem/


artigo que noticiou se a água do mar estava própria ou imprópria para banho,
não é mesmo?! Pois bem, verificaremos a aplicabilidade da Resolução CONAMA
N° 274/2000 (BRASIL, 2000), que “define os critérios de bal­neabilidade em águas
brasileiras”, além da Resolução CONAMA N° 357, 2005.

Observe a figura a seguir, que denotará os pontos impróprios e próprios


para banho dos locais aferidos pelo órgão ambiental do estado de Santa Catarina:

FIGURA 16 – BALNEABILIDADE DO LITORAL CATARINENSE

FONTE: <https://balneabilidade.ima.sc.gov.br/#>. Acesso em: 6 fev. 2021.

236
TÓPICO 3 — LEGISLAÇÃO AMBIENTAL APLICADA

Note que existem pontos próprios e impróprios para banho, mas o que
isso significa? De acordo com a Resolução CONAMA N° 274/2000, os critérios de
próprio ou impróprio são definidos da seguinte forma:

Art. 2o As águas doces, salobras e salinas, destinadas à balneabilidade


(recreação de contato primário), terão sua condição avaliada nas categorias
própria e imprópria.

§ 1o As águas consideradas próprias poderão ser subdivididas nas


seguintes categorias:

a) Excelente: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em


cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, existirem,
no máximo, 250 coliformes fecais (termotolerantes) ou 200 Escherichia coli ou 25
enterococos por 100 mililitros.
b) Muito Boa: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em
cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, existirem,
no máximo, 500 coliformes fecais (termotolerantes) ou 400 Escherichia coli ou 50
enterococos por 100 mililitros.
c) Satisfatória: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em
cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, existirem, no
máximo, 1.000 coliformes fecais (termotolerantes) ou 800 Escherichia coli ou 100
enterococos por 100 mililitros.

§ 4o As águas serão consideradas impróprias quando, no trecho avaliado,


for verificada uma das seguintes ocorrências:

a) não atendimento aos critérios estabelecidos para as águas próprias;


b) valor obtido na última amostragem for superior a 2500 coliformes fecais
(termotolerantes) ou 2000 Escherichia coli ou 400 enterococos por 100 mililitros;
c) incidência elevada ou anormal, na região, de enfermidades transmissíveis por
via hídrica, indicada pelas autoridades sanitárias;
d) presença de resíduos ou despejos, sólidos ou líquidos, inclusive, esgotos
sanitários, óleos, graxas e outras substâncias, capazes de oferecer riscos à saúde
ou de tornar desagradável a recreação;
e) pH < 6,0 ou pH > 9,0 (águas doces), à exceção das condições naturais;
f) floração de algas ou outros organismos, até que se comprove que não oferecem
riscos à saúde humana;
g) outros fatores que contraindiquem, temporária ou permanentemente, o
exercício da recreação de contato primário.

Então, agora, já sabemos o significado dos dizeres próprio e impróprio


para banho. Por isso, ao frequentarmos praias ou lagos/lagoas, é importante
atentarmos às condições de balneabilidade do local.

237
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

Salientam-se outros aspectos importantes referentes à Resolução


CONAMA N° 274/2000. Um deles se trata da interdição (caso necessário), por
parte dos órgãos ambientais (municipal, estadual ou federal):

Art. 3o Os trechos das praias e dos balneários serão interditados se o


órgão de controle ambiental, em quaisquer das instâncias (municipal, estadual
ou federal), constatar que a má qualidade das águas de recreação de contato
primário justifica a medida.

§ 1o Consideram-se como passíveis de interdição os trechos em que


ocorram acidentes de médio e grande portes, como: derramamento de óleo
e extravasamento de esgoto, ocorrência de toxicidade ou formação de nata
decorrente de floração de algas ou outros organismos e, no caso de águas doces,
a presença de moluscos transmissores potenciais de esquistossomose e outras
doenças de veiculação hídrica.

§ 2o A interdição e a sinalização, por qualquer um dos motivos mencionados


no caput e no § 1o deste artigo, devem ser efetivadas pelo órgão de controle
ambiental competente.

Finalmente, destaca-se a questão relativa à época de amostragem dos


corpos hídricos, que deve seguir:

Art. 5o A amostragem será feita, preferencialmente, nos dias de maior


afluência do público às praias ou balneários, a critério do órgão de controle
ambiental competente. Parágrafo único. A amostragem deverá ser efetuada em
local que apresentar a isóbata de um metro e onde houver grande concentração
de banhistas.

Art. 6o Os resultados dos exames poderão, também, abranger períodos


menores que cinco semanas, desde que cada um desses períodos seja especificado e
tenham sido colhidas e examinadas, pelo menos, cinco amostras durante o tempo
mencionado, com intervalo mínimo de 24 horas entre as amostragens.

NOTA

Isóbata se trata da linha que une os pontos de igual profundidade do fundo


dos mares e dos oceanos.

238
TÓPICO 3 — LEGISLAÇÃO AMBIENTAL APLICADA

Na Portaria N° 2914/2011, do Ministério da Saúde, que dispõe sobre os


procedimentos de controle e de vigilância da qualidade de água para consumo
humano e padrão de potabilidade, o padrão microbiológico deve seguir:

QUADRO 7 – PADRÃO MICROBIOLÓGICO DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO

Tipo de água Parâmetro VMP(1)

Ausência em 100
Água para consumo humano Escherichia coli (2)
mL

Na saída do Coliformes Ausência em 100


Água tratada
tratamento totais (3) mL

No sistema de
Ausência em 100
distribuição Escherichia coli
mL
(reservatórios e rede)

Sistemas
Apenas uma
ou soluções
amostra, entre
alternativas
as amostras
coletivas que
examinadas no
abastecem
mês, poderá
menos
apresentar
de 20.000
resultado positivo
habitantes

Coliformes
totais (4)

Sistemas
ou soluções
Ausência em
alternativas
100 mL em 95%
coletivas que
das amostras
abastecem
examinadas no
a partir
mês.
de 20.000
habitantes

FONTE: Adaptado de Brasil (2011)

Legenda: 1) Valor máximo permitido; 2) Indicador de contaminação fecal; (3) Indicador


de eficiência de tratamento; 4) Indicador de integridade do sistema de distribuição
(reservatório e rede).

239
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

Também é especificada, nesta portaria do Ministério da Saúde, a quantidade


de amostras de água necessárias em virtude da população abastecida pelo sistema,
além, obviamente, dos critérios físico-químicos a serem atendimentos. Outro
aspecto importante trazido por esse dispositivo legal se trata das competências
da União, Estados e Municípios sobre o controle e a vigilância da qualidade da
água para consumo humano e padrão de potabilidade.

Para a questão do lançamento de efluentes, a Resolução 357/2005 é clara


ao mencionar:

Art. 24°. Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser


lançados, direta ou indiretamente, nos corpos de água, após o devido tratamento
e desde que obedeçam às condições, padrões e exigências dispostos nesta
Resolução e em outras normas aplicáveis.

Art. 26°. Os órgãos ambientais federais, estaduais e municipais, no âmbito


da sua competência, deverão, por meio de norma específica ou no licenciamento
da atividade ou empreendimento, estabelecer a carga poluidora máxima para o
lançamento de substâncias passíveis de estarem presentes ou serem formadas
nos processos produtivos, listadas ou não no Art. 34, desta Resolução, de modo
a não comprometer as metas progressivas obrigatórias, intermediárias e finais,
estabelecidas pelo enquadramento para o corpo de água.

§ 1° No caso de empreendimento de significativo impacto, o órgão


ambiental competente exigirá, nos processos de licenciamento ou de renovação,
a apresentação de estudo de capacidade de suporte de carga do corpo de água
receptor.

§ 2° O estudo de capacidade de suporte deve considerar, no mínimo, a


diferença entre os padrões estabelecidos pela classe e as concentrações existentes
no trecho desde a montante, estimando a concentração após a zona de mistura.

§ 3° Sob pena de nulidade da licença expedida, o empreendedor, no


processo de licenciamento, informará, ao órgão ambiental, as substâncias, dentre
aquelas previstas nesta Resolução para padrões de qualidade de água, que
poderão estar contidas no efluente. § 4° O disposto no § 1o se aplica, também, às
substâncias não contempladas nesta Resolução, exceto se o empreendedor não
tinha condições de saber da existência nos efluentes.

240
TÓPICO 3 — LEGISLAÇÃO AMBIENTAL APLICADA

NOTA

A zona de mistura é definida como região do corpo receptor, estimada com


base em modelos teóricos aceitos pelo órgão ambiental competente, que se estende do
ponto de lançamento do efluente, e delimitada pela superfície em que é atingido o equilíbrio
de mistura entre os parâmetros físicos e químicos, bem como o equilíbrio biológico do
efluente e os do corpo receptor, sendo específica para cada parâmetro.

FIGURA 17 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA ZONA DE MISTURA

FONTE: <https://docplayer.com.br/113020429-Poluicao-ambiental-poluicao-hidrica.html>.
Acesso em: 6 fev. 2021.

A respeito dos padrões (microbiológicos) para lançamento de efluentes,


apenas quatro dos dezesseis estados brasileiros utilizam padrões para
lançamento de coliformes termotolerantes. Destaca-se o padrão adotado por
Pernambuco, o qual diversifica a quantidade de coliformes em concordância com
a classe de enquadramento do corpo hídrico receptor. Percebe-se que o padrão
de 106 NPM/100 mL, aplicado na Bahia, para empreendimentos imobiliários
habitacionais, é a concentração mais permissiva em comparação a outros estados
que empregam o parâmetro.

241
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

3 LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA DO SOLO


Aspecto importante relacionado à qualidade do solo e, por consequência, à
qualidade dos corpos d’água, trata-se um dispositivo da legislação que trata dos
critérios e dos procedimentos para produção e aplicação de biossólido em solos, e
dá outras providências, a Resolução CONAMA N° 498, de 2020 (BRASIL, 2020).

Nos dias atuais, um dos maiores passivos ambientais urbanos no Brasil


corresponde à disposição final dos resíduos sólidos urbanos, como o lodo de
esgoto, que é o resíduo gerado durante o tratamento de esgotos sanitários. O
lodo de esgoto, devidamente tratado e estabilizado, passa a ser denominado de
biossólido, e constitui uma fonte de matéria orgânica e de nutrientes para as
plantas (ABREU et al., 2017 apud ABREU et al., 2019).

Para a disposição do biossólido nos locais desejados, diversos parâmetros


devem ser respeitos. A referida Resolução vem ao encontro dessa necessidade.

Primeiramente, a Resolução apresenta algumas disposições preliminares,


a saber:

Art. 1° Estabelecer critérios e procedimentos para produção e aplicação de


biossólido em solos.

§ 1° O uso em solo, de lodo de estação de tratamento de efluentes de


processos industriais, poderá, excepcionalmente, ser autorizado pelo órgão
ambiental competente, mediante decisão fundamentada, desde que sejam
atendidos, no mínimo, os critérios e parâmetros estabelecidos nesta resolução.

§ 2° Para a produção, compra, venda, cessão, empréstimo ou permuta do


biossólido, além do previsto nesta Resolução, deverá ser observada a legislação
pertinente.

§ 3° Esta Resolução não se aplica a produto derivado de lodo de esgoto


sanitário registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Cabe salientar que nem todo tipo de lodo pode ser empregado para a
disposição em solos. Essa questão é trazida pelo Art. 3°:

Art. 3° Fica vedado o uso em solo de:

I- lodo de estação de tratamento de efluentes de estabelecimentos de serviços


de saúde, de portos e aeroportos;
II- lodos provenientes de sistema de tratamento individual, coletados por
veículos, antes do tratamento por uma UGL;
III- lodo classificado como perigoso, de acordo com as normas brasileiras
vigentes.

242
TÓPICO 3 — LEGISLAÇÃO AMBIENTAL APLICADA

Parágrafo único. É proibido misturar ou incorporar os seguintes materiais


ao biossólido a ser destinado para uso em solos:

I- resíduos sólidos de serviços de manutenção de rede de esgoto e de unidades


de pré-tratamento de estações de tratamento de efluentes, como resíduos de
grades e de desarenadores;
II- material flutuante contendo resíduos não degradáveis, como plástico,
decantadores primários, caixas de distribuição, digestores de lodo e outros
tipos de reatores.

NOTA

UGL = Unidade de Gerenciamento de Lodo.

A Resolução classifica, ainda, o biossólido em detrimento do limite


permitido de patógenos presentes no material, nas Classes A e B, a saber:

Art. 9° O biossólido a ser destinado para uso, em solos, será classificado


em Classe A ou Classe B, de acordo com os requisitos definidos neste artigo.

§ 1° Para que o biossólido seja classificado como Classe A, deverá atender


ao limite máximo de 10³ Escherichia coli por grama de sólidos totais (g­¹ de ST)
e ser proveniente de um dos processos de redução de patógenos descritos na
Tabela 1, com a devida demonstração de atendimento dos respectivos parâmetros
operacionais.

§ 2° Para que o biossólido seja classificado como Classe B, deverá atender


ao limite máximo de dez elevado a sexta potência Escherichia coli por grama de
sólidos totais (g­¹ de ST) ou ser proveniente de um dos processos de redução de
patógenos descritos na Tabela 2, com a devida demonstração de atendimento dos
respectivos parâmetros operacionais.

A Resolução estabelece, ainda, as responsabilidades do órgão ambiental


competente, a saber:

Art. 13. Em função das características específicas da bacia de esgotamento


sanitário e dos efluentes recebidos nas ETEs que destinam lodo de esgoto à UGL, o
órgão ambiental competente poderá solicitar, ao titular da licença da UGL, desde
que devidamente justificado, a inclusão, por prazo determinado, de substâncias
químicas orgânicas potencialmente tóxicas no monitoramento ou na caracterização
dos lotes de biossólido, estabelecendo a frequência de monitoramento.

243
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

Art. 14. O órgão ambiental competente poderá solicitar, mediante


motivação técnica, outros ensaios e análises não listados nesta Resolução.

Art. 15. O titular da licença da UGL poderá, mediante fundamentação


técnica, requerer, com o órgão ambiental competente, dispensa, alteração de
frequência ou alteração da lista de substâncias a serem analisadas no biossólido.

Art. 16. O órgão ambiental competente poderá, a qualquer momento,


fiscalizar os resultados dos monitoramentos, da caracterização dos lotes de
biossólido e de controle operacional dos processos de redução de patógenos,
previstos nesta Resolução.

DICAS

Existem, também, na Resolução, critérios de classificação (classes A e


B) em relação às substâncias químicas e às concentrações máximas permitidas para
o aproveitamento do biossólido. Esses critérios podem ser consultados na própria
legislação, em https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-n-498-de-19-de-agosto-
de-2020-273467970.

4 LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA DO AR


A respeito da qualidade do ar, a Resolução da ANVISA n° 9, de 16 de
janeiro de 2003, estabelece a Norma Técnica 001 (NT 001), que normatiza os
critérios, método de amostragem e análise de bioaerossol em ambientes interiores
climatizados artificialmente de usos público e coletivo.

Dentre os parâmetros microbiológicos recomendados, estão os Padrões


Referenciais, a saber:

IV- PADRÕES REFERENCIAIS Recomenda os seguintes Padrões Referenciais de


Qualidade do Ar Interior em ambientes climatizados de usos público e coletivo.
1- O Valor Máximo Recomendável – VMR, para contaminação microbiológica,
deve ser 750 ufc/m3 de fungos para a relação I/E 1,5. I é a quantidade de fungos
no ambiente interior e E é a quantidade de fungos no ambiente exterior.

A relação I/E é exigida como forma de avaliação frente ao conceito de


normalidade, representado pelo meio ambiente exterior e pela tendência
epidemiológica de amplificação dos poluentes nos ambientes fechados.

1.1- Quando o VMR for ultrapassado ou a relação I/E for > 1,5, é necessário fazer
um diagnóstico de fontes poluentes para uma intervenção corretiva.

244
TÓPICO 3 — LEGISLAÇÃO AMBIENTAL APLICADA

1.2- É inaceitável a presença de fungos patogênicos e toxigênicos.

DICAS

Na Nota Técnica, também são especificados os valores máximos de


contaminação química que podem ser vislumbrados por meio da consulta ao documento
na íntegra, através do seguinte link: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2003/
anexo/anexo_res0009_16_01_2003.pdf.

Prezado acadêmico, chegamos ao fim dos estudos da disciplina de


Microbiologia Ambiental. Transitamos por diversas áreas (microbiologia,
biotecnologia etc.) do conhecimento que provêm ferramentas para que os estudos
de MA avançam e os resultados proporcionem melhoria da qualidade ambiental.
Caso surjam dúvidas referentes aos conteúdos trabalhados, entre em contato
conosco por meio dos canais oficiais da UNIASSELVI. Um abraço e até a próxima!

245
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

LEITURA COMPLEMENTAR

A primeira avaliação global do Estado de Direito Ambiental, divulgada


nessa quinta-feira (24), mostra que, embora o número de leis e agências ambientais
tenha aumentado de forma exponencial em todo o mundo nas últimas quatro
décadas, a fraca aplicação das leis é uma tendência que está agravando os
problemas ambientais.

O novo relatório da ONU Meio Ambiente aponta que, apesar de um


aumento de 38 vezes da legislação ambiental em vigor desde 1972, a incapacidade
de implementar e de fazer cumprir essas leis é um dos maiores desafios para
mitigar a mudança do clima, reduzir a poluição e evitar a perda generalizada de
espécies e habitats, revelou o relatório da ONU Meio Ambiente.

O relatório está sendo publicado em um momento crucial, quando


especialistas em clima e lideranças políticas e econômicas buscam enfrentar
as devastadoras conclusões publicadas em outubro de 2018 pelo Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, órgão das Nações Unidas que
instou ações urgentes para transformar a economia global a uma velocidade e
escala “sem precedentes históricos”.

Para o Relator Especial da ONU sobre Direitos Humanos e Meio


Ambiente, David Boyd, esse novo e convincente relatório soluciona o mistério
de entender por que problemas como poluição, diminuição da biodiversidade
e mudança do clima persistem, apesar da proliferação de leis ambientais nas
últimas décadas. A menos que o Estado de Direito Ambiental seja fortalecido,
leis aparentemente rigorosas estão fadadas a falhar, e o direito humano
fundamental a um meio ambiente saudável não será usufruído”.

Embora a ajuda internacional tenha, de fato, auxiliado dezenas de países


a assinarem mais de 1.100 acordos ambientais desde 1972 e a elaborarem muitos
dispositivos legais na área ambiental, nem a ajuda nem os orçamentos nacionais
levaram ao estabelecimento de agências e de órgãos ambientais capazes de aplicar
as leis e os regulamentos de forma eficaz. Os autores identificam múltiplos fatores
para a baixa implementação do Estado de Direito Ambiental, como a falta de
coordenação entre as agências governamentais, a fraca capacidade institucional,
a falta de acesso à informação, a corrupção e o sufocamento do engajamento civil.

“Temos um conjunto de leis, regulamentos e agências para governar


nosso meio ambiente de forma sustentável”, declarou Joyce Msuya, Diretora
Executiva Interina da ONU Meio Ambiente. “Agora, é essencial que haja
vontade política para assegurar que nossas leis trabalhem pelo planeta. Essa
primeira avaliação global sobre o Estado de Direito Ambiental ressalta o trabalho
daqueles que ficaram do lado certo da história, e de quantas nações se tornaram
mais fortalecidas e seguras”, complementou.

246
TÓPICO 3 — LEGISLAÇÃO AMBIENTAL APLICADA

O relatório apresenta várias conquistas do direito ambiental desde 1972,


inclusive, a adoção do direito constitucional a um meio ambiente saudável por
88 países, sendo que outras 65 nações incorporaram a proteção ambiental nas
constituições. Além disso, mais de 350 cortes ambientais foram criados em mais de
50 países e mais de 60 países contam com dispositivos legais sobre o direito dos
cidadãos à informação ambiental.

De acordo com Carl Bruch, Diretor de Programas Internacionais do


Instituto de Direito Ambiental (Environmental Law Institute), “a comunidade
internacional pode fazer mais. Com frequência, o apoio de doadores se concentra
em áreas específicas, o que gera programas sólidos em algumas áreas ambientais
e outras com nenhum financiamento ou atenção. Essa abordagem fragmentada
pode minar o Estado de Direito Ambiental a não fornecer consistência na
implementação e na aplicação das leis e a enviar mensagens conflitantes à
comunidade regulamentada e ao público. Muitas dessas leis ainda têm que
se enraizar na sociedade e, na maioria dos casos, a cultura de conformidade
ambiental é fraca ou inexistente”.

O relatório dedica atenção especial a uma tendência particularmente


preocupante: a crescente resistência às leis ambientais, que tem sido mais
evidenciada nos casos de assédio, ameaças, prisões arbitrárias e assassinatos de
defensores ambientais. Entre 2002 e 2013, 908 pessoas, incluindo agentes florestais,
inspetores governamentais e ativistas locais, foram mortos em 35 países e, só em
2017, 197 defensores ambientais foram assassinados.

“A criminalização e os crescentes ataques aos defensores ambientais


constituem claras violações ao Estado de Direito Ambiental e uma afronta aos
direitos, papéis e contribuições dos povos indígenas e da sociedade civil na
proteção do meio ambiente. Esse relatório capta a falta de responsabilização,
de uma governança ambiental forte e do respeito aos direitos humanos para a
sustentabilidade do nosso meio ambiente”, afirmou Joan Carling, ativista de
direitos indígenas e defensora ambiental das Filipinas.

O engajamento de uma sociedade civil informada leva à melhor tomada


de decisões pelo governo, a ações ambientais mais responsáveis por parte das
empresas e a um direito ambiental mais eficaz. A produção periódica de relatórios
acerca da qualidade ambiental dos países, inclusive, acerca da qualidade do ar
e da água, também pode ajudar a atingir essas metas. Infelizmente, de acordo
com o Índice de Democracia Ambiental, apenas 20 dos 70 países avaliados, ou
seja, 28%, são classificados como sendo “bom” ou “muito bom” na produção de
relatórios periódicos abrangentes e atuais do “Estado do Meio Ambiente”. Na
Índia, Tailândia e Uganda, por exemplo, os dados acerca da poluição gerada por
instalações industriais só podem ser obtidos por meio de contatos pessoais.

247
UNIDADE 3 — TRATAMENTO DE EFLUENTES, BIORREMEDIAÇÃO E LEGISLAÇÃO APLICADA À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

O relatório, ainda, oferece diversos exemplos de boas práticas, inclusive,


inovações aplicadas em países em desenvolvimento que, muitas vezes, enfrentam
os mesmos desafios dos países desenvolvidos, mas com menos recursos. A
diversidade geográfica desses esforços e inovações reforça dois pontos-chave desse
relatório: O desenvolvimento e a promoção do Estado de Direito Ambiental são
desafios para todos os países; é uma prioridade crescente. Para que as metas de
centenas de leis, regulamentos e políticas nacionais que regem o meio ambiente
em todo o mundo sejam alcançados, inclusive, a saúde e o bem-estar públicos,
economias sólidas e sociedades pacíficas, é preciso atribuir prioridade máxima ao
fortalecimento do Estado de Direito Ambiental.

FONTE: https://www.bpbes.net.br/crescem-as-leis-para-proteger-o-meio-ambiente-mas-ha-
falhas-graves-de-implementacao-afirma-novo-relatorio-da-onu/. Acesso em: 6 fev. 2021.

248
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• No que tange à questão das classes de qualidade das águas e aos tipos de
tratamento para a potabilização, há os seguintes instrumentos legais norteadores:
Resolução CONAMA No 357/2005, que “dispõe sobre a classificação dos corpos
de água e for­nece diretrizes ambientais para o enquadramento, bem como
estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras
providências”; a Resolução CONAMA N° 274/2000, que “define os critérios de
bal­neabilidade em águas brasileiras”; e a Portaria N° 2914/2011, do Ministério
da Saúde, que “dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da
qualidade da água para consumo humano e padrão de potabilidade.

• Conforme a Classe de Qualidade da água, existem determinados padrões


microbiológicos e físico-químicos que devem ser cumpridos. Devemos estar
atentos aos padrões de balneabilidade das águas, sendo determinados pela
Portaria N° 2914/2011 pela Resolução CONAMA N° 357, 2005.

• A Resolução CONAMA N° 274/2000 define os critérios que consideram


determinado ponto próprio ou impróprio para banho.

• Há uma característica importante relacionada à qualidade do solo e, por


consequência, à qualidade dos corpos d’ água. Trata-se de um dispositivo da
legislação que aborda critérios e procedimentos para produção e aplicação de
biossólido em solos, e dá outras providências, a Resolução CONAMA N° 498,
de 2020.

• A respeito da qualidade do ar, a Resolução da ANVISA n° 9, de 16 de janeiro


de 2003, estabelece a Norma Técnica 001 (NT 001), que normatiza os critérios,
o método de amostragem e a análise de bioaerossol em ambientes interiores
climatizados artificialmente de usos público e coletivo.

CHAMADA

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249
AUTOATIVIDADE

1 A resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) n°


357/2005 estabelece a classificação das águas doces, salobras e salinas
segundo o uso preponderante. Essa classificação é realizada considerando,
principalmente, que o enquadramento dos corpos de água deve estar baseado
não necessariamente no estado atual, mas, sim, nos níveis de qualidade que
deveriam apresentar, para atender às necessidades da comunidade, à saúde
e ao bem-estar humano e ao equilíbrio ecológico aquático. Considerando
as informações apresentadas e as resoluções CONAMA n° 357/2005 e n°
430/2011, avalie as afirmações a seguir:

I- Nos termos da Resolução CONAMA n° 357/2005, águas doces, salinas e


salobras são divididas, cada uma delas, em quatro classes de qualidade:
especial, classe I, classe II e classe III. A alteração da classe a que pertence
determinado corpo hídrico pode ocorrer, levando-se em consideração
o efluente gerado por determinado empreendimento, caso reste
comprovado que o empreendimento pretendido é de uso público.
II- Segundo a Resolução CONAMA n° 357/2005, as águas doces e as águas
salinas, destinadas à preservação dos ambientes aquáticos em unidades
de conservação de proteção integral, pertencem à classe especial. Caso
os responsáveis pela implantação de um determinado empreendimento
tenham, inicialmente, planejado lançar efluentes em um corpo hídrico
da classe especial, mas tenham sido impedidos pelo órgão licenciador, é
possível, a estes profissionais, analisarem a possibilidade de manterem
o empreendimento na mesma localização geográfica e lançarem os
efluentes gerados em outros cursos d’água que não sejam classificados
como classe especial.
III- De acordo com a Resolução CONAMA n° 430/2011, para o licenciamento
ambiental de um novo empreendimento com lançamento de efluentes em
um trecho de rio previamente enquadrado, não basta atender aos padrões
de lançamento, pois, nos termos da resolução, é vedado o lançamento
de efluentes ou a disposição de resíduos domésticos, agropecuários, de
aquicultura, industriais, e de quaisquer outras fontes poluentes, mesmo
que tratados.

É CORRETO o que se afirma em:


a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e III, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) II e III.

250
2 Por meio da Portaria n° 2.914/2011, foram definidos os procedimentos de
controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e padrão
de potabilidade. Acerca do assunto, considere as afirmativas seguintes:

I- Água para consumo humano: água potável destinada à ingestão,


preparação e produção de alimentos e à higiene pessoal, dependentemente
da origem.
II- Água potável: água que atenda ao padrão de potabilidade estabelecido na
Portaria n° 2.914/2011, do Ministério da Saúde, e que ofereça riscos à saúde.
II- Água tratada: água submetida a processos físicos, químicos ou combinação
destes, visando atender ao padrão de potabilidade.
IV- Sistema de abastecimento de água para consumo humano: instalação
composta por um conjunto de obras civis, materiais e equipamentos, desde
a zona de captação até as ligações prediais, destinada à produção e ao
fornecimento coletivo de água potável, por meio de rede de distribuição.

Estão CORRETAS as afirmativas:


a) ( ) I, II, III e IV.
b) ( ) II e III, somente.
c) ( ) I, II e III, somente.
d) ( ) II, III e IV, somente.
e) ( ) III e IV, somente.

3 A água potável deve estar em conformidade com o padrão microbiológico,


de acordo com a Portaria n° 2914/2011, do Ministério da Saúde, que dispõe
sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água
para consumo humano e padrão de potabilidade. Analise as afirmativas
a seguir e assinale a alternativa CORRETA em relação ao padrão de
potabilidade da água, segundo essa portaria:

I- Quando forem detectadas amostras com resultado positivo para coliformes


totais, novas amostras devem ser coletadas em dias imediatamente
sucessivos até que revelem resultados satisfatórios.
II- O resultado negativo para coliformes totais das recoletas anula o resultado
originalmente positivo no cálculo dos percentuais de amostras com
resultado positivo.
III- Quando for identificada média geométrica anual maior ou igual a
1.000  Escherichia coli/100mL (mililitros), deve-se realizar monitoramento
de cistos de Giardia spp. e oocistos de Cryptosporidium spp. no (s) ponto
(s) de captação de água.
IV- Quando houver interpretação duvidosa nas reações típicas dos ensaios
analíticos na determinação de coliformes totais e Escherichia coli, deve-se
fazer a recoleta.

a) ( ) I e II estão corretas.
b) ( ) I, II e III estão corretas.
c) ( ) I, III e IV estão corretas.
d) ( ) Todas estão corretas.

251
4 Para que seja realizado o aproveitamento do biossólido em sólidos, existe
uma Resolução específica do CONAMA, que estabelece critérios para tal
utilização. Cite de qual Resolução se trata e as especificidades em relação
aos critérios microbiológicos.

252
REFERÊNCIAS
ABREU, A. H. M. de et al. Caracterização de biossólido e potencial de uso na
produção de mudas de Schinus terebinthifolia Raddi. Eng. Sanit. Ambient., Rio
de Janeiro, v. 24, n. 3, p. 591-599,  2019. Disponível em: http://www.scielo.br/
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gasolina. Paraná: Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2014.

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contaminados por petróleo e seus derivados. Eclética Química, v. 35, n. 1,
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. Norma


NBR 9648/1986 – Estudo de concepção de sistemas de esgoto sanitário -
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BARBOZA, M. G. Fundamentos da microbiologia do tratamento de esgotos.


2021. Disponível em: https://ctec.ufal.br/professor/elca/Fundamentos%20de%20
Microbiologia%20do%20Tratamento%20de%20Esgotos.pdf. Acesso em: 24 jan. 2021.

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19 de agosto de 2020. Define critérios e procedimentos para produção e
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BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n° 2914, de 12 de dezembro de 2011.


Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da
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BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução CONAMA n° 357, de 15


de junho de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões
de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Disponível em: http://www2.
mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459. Acesso em: 9 fev. 2011.

253
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n° 518, de 25 de março de 2004.
Estabelece os procedimentos e responsabilidades relati­vos ao controle e
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potabilidade, e dá outras providências. Disponível em: http://189.28.128.100/
dab/docs/legislacao/portaria518_25_03_04.pdf. Acesso em: 9 fev. 2021.

BRASIL. Ministério da Saúde. Consulta Pública n° 109, de 11 de dezembro de


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