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FISIOLOGIA RESUMIDA:
Pode não ser tão bom, mas deve
te ajudar.

“Agradeço à minha família, que sempre falava


daquele boy da quinta série que passou em
medicina e eu ainda estava no cursinho.”

“Agradeço a Deus, que é a única razão da minha


esperança”.

2
FISIOLOGIA RESUMIDA:

Um resumo bem razoável que pode te ajudar a não levar


final em fisiologia. É bom que saiba que só compilei autores
e inclusive alguns textos de seus livros –sem intenção de
plágio, já que não existe restrição de como forma de estudar
para as tutorias– SEM FINS LUCRATIVOS (não sei como
coloca pisca-pisca, mas se soubesse, colocaria), o que é
perceptível porque está disponível no MEGA da sua turma
sem nenhum custo porque algum dos meus afilhados ou
colegas postou para seu calouro e o infeliz disponibilizou
Sobre os autores do resumo para a turma toda. Apesar de ter formato de livro, parecer
com um livro, ter capa de livro, essa introdução de livro e até
mesmo vocabulário de livro, não é um livro, mas sim um
resumo.

Se quiser facilidade, utilize um Word atualizado e, na guia


“Exibir”, no painel principal, e ative a opção “Painel de
Navegação”. Prontinho, agora você não vai mais reclamar
que não tem numeração nas páginas! Saiba que seu
desespero já foi sentido centenas de vezes por centenas que
alunos que estudaram antes de você e quase todo mundo dá
conta de passar e se tornar um bom médico(a).

Por favor, entenda que assim como eu surtei bastante e levei


horas e horas para escrever (com alguns trechos de Ctrl+C e
Ctrl+V) esse resumo, outras pessoas também podem
precisar da sua ajuda no futuro! Então faça como pessoas
gentis fazem e compartilhem os livros que vocês gastaram
uma fortuna para comprar (ou estão pirateando, mas isso é
Imagem meramente ilustrativa do compilador. (Bonito, né?) crime) com os coleguinhas pé-rapado como eu, viu? Bons
estudos para você! Que Deus tenha misericórdia de você e
Olá! Sou Luís, da Turma 75. Esse resumo foi feito em 2020 e te abençoe muito nessa jornada. Foi mal pela zoeira!
isso é tudo que você precisa saber, okay? Nada mais. Se
quiser o arquivo em Word, boa sorte com as buscas. SENHORES AUTORES, NÃO TENHO INTERESSE EM QUEBRAR
SEUS DIREITOS AUTORAIS E NEM PLAGIAR VOCÊS!
Saudamos o Gloriosíssimo Gabriel Veloso, lindão que ajudou
a escrever esse trabalho! Salve! Não se esqueça de orar e ler a bíblia, porque somente Cristo
é a Verdade e o Caminho!

“Não adulterarás” Êxodo 20.14

“Não furtarás” Êxodo 20.15

“Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e


a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” João
14:6

3
SUMÁRIO Resumo das ações dos sistemas simpático e do
Potenciais de membrana e de ação ............................. 9 parassimpático ....................................................... 26
Equação de Nernst ................................................... 9 Ciclo Cardíaco ........................................................... 27
Equação de Goldman ............................................... 9 Histologia do coração ............................................ 27
Medida do potencial de membrana....................... 10 Ejeção de Sangue dos Ventrículos Durante a Sístole
............................................................................... 28
Potencial de Repouso de Membrana dos Neurônios. 10
Sons ouvidos na ausculta ................................... 28
Transporte ativo: Bomba de sódio e potássio........ 10
Pressão x volume no coração ................................. 28
Origem do potencial de repouso normal da
membrana .............................................................. 10 Regulação do bombeamento cardíaco ................... 28
Potencial de ação dos neurônios ............................... 11 Inervação simpática e parassimpática ................ 28
Estágios............................................................... 11 Excitação rítmica do coração ..................................... 28
Canais iônicos ......................................................... 12 Síndrome de Stokes-Adams. .............................. 30
Ativação e inativação do canal de sódio regulado Ação do sistema parassimpático no controle
pela voltagem ..................................................... 13 cardíaco .................................................................. 30

Canais de potássio regulados por voltagem ...... 13 Ação do sistema simpático no controle cardíaco ... 30

Processo por etapa do potencial de ação .......... 13 Eletrocardiograma normal ......................................... 30

Potencial de equilíbrio ....................................... 13 Eletrocardiogramas anormais .................................... 31

Hipercalemia ...................................................... 13 Débito cardíaco, retorno venoso e regulação ........... 31

Início do potencial de ação .................................... 14 Valores normais para o débito cardíaco ................ 31

Propagação do potencial de ação ...................... 14 Coração hipo e hiperfeficaz ................................... 31

Princípio do “tudo ou nada”............................... 15 Coração hipereficaz ........................................... 31

Reestabelecendo o potencial iônico .................. 15 Coração hipoeficaz ............................................. 31

Platô em potenciais de ação .............................. 15 Controle do débito cardíaco .................................. 31


Ritmicidade de alguns tecidos................................ 15 Circulação coronariana .............................................. 32

Fibras nervosas ........................................................... 16 A circulação ............................................................ 32


Condução saltatória ........................................... 16 O metabolismo local é o principal controlador do
fluxo coronariano ............................................... 32
Sistema Nervoso Autônomo (SNA) ............................ 18
Controle nervoso ............................................... 32
Organização do SNA ............................................... 19
Principais causas de morte (guyton p.803)........ 33
Fibras colinérgicas e adrenérgicas.......................... 19
Referências ................................................................ 33
Como funcionam os neurotransmissores .......... 20
Mecanismos de controle da P.A. ............................... 34
Miastenia grave .................................................. 21
Controle rápido ...................................................... 34
Receptores nos órgãos efetores ............................ 21
Sistema Barorreceptor ....................................... 34
Receptores de Acetilcolina ................................. 21
Sistema Quimiorreceptor .................................. 35
Receptores da Norepinefrina ............................. 23
Receptores de baixa pressão ............................. 35
Respostas dos Adrenorreceptores à
Norepinefrina e à Epinefrina .............................. 24 Reflexo de Bainbridge ........................................ 35

Tabela-resumo dos agonistas e antagonistas .... 25 Resposta Isquêmica do SNC ....................................... 35

4
Reação de Cushing ................................................. 36 Efeito da Proporção Ventilação-Perfusão na
Características especiais do controle Nervoso da Concentração de Gás Alveolar ........................... 51
Pressão arterial .......................................................... 36 Transporte de O2 e CO2 no sangue e nos líquidos
Ondas Respiratórias na Pressão Arterial ................ 36 teciduais ................................................................. 52

Ondas vasomotoras (Ondas de Mayer).................. 36 Transporte de oxigênio no sangue arterial ........ 52

O Papel dos Rins no Controle a Longo Prazo da Difusão de Oxigênio dos Capilares Periféricos
Pressão Arterial e na Hipertensão: O Sistema para o Líquido Tecidual ...................................... 52
Integrado de Regulação da Pressão Arterial .............. 36 Difusão de Oxigênio dos Capilares Periféricos
Sistema rim-líquidos coporais para o controle da Para as Células Teciduais ................................... 52
pressão arterial ...................................................... 37 Difusão de dióxido de carbono das células
Angiotensina e Aldosterona na regulação da teciduais periféricas para os capilares e dos
pressão ............................................................... 37 capilares pulmonares para os alvéolos .............. 53

Importância do Sal (NaCl) no esquema Rim- Oxigênio e Hemoglobina........................................ 53


Líquidos corporais .............................................. 37 A hemoglobina como um tampão de Po2: ......... 53
A Hipertensão Crônica (Pressão Sanguínea Alta) é Fatores que alteram a curva de dissociação de
Causada pelo Déficit da Função Renal ................... 38 oxigênio-hemoglobina ........................................... 53
Sistema Renina-Angiotensina..................................... 38 Desvio para a direita da curva de dissociação
Referências ................................................................. 39 oxigênio-hemoglobina durante o exercício ....... 54

Sistema respiratório ................................................... 40 Transporte de dióxido de carbono no sangue ....... 54

Anatomia do Sistema Respiratório ........................ 40 Formas químicas pelas quais o dióxido de


carbono é transportado ..................................... 54
Histologia do Sistema respiratório ......................... 42
Curva de dissociação do CO2.............................. 55
Fossas nasais ...................................................... 42
Efeito Bohr ......................................................... 55
Seios paranasais ................................................. 43
Efeito Haldane.................................................... 55
Nasofaringe ........................................................ 43
Proporção das trocas respiratórias (R) .................. 55
Laringe ................................................................ 43
Regulação da respiração ............................................ 55
Árvore Brônquica ............................................... 44
Centro Respiratório ............................................... 55
Fisiologia do Sistema Respiratório ......................... 45
Grupo respiratório dorsal .................................. 56
Ventilação pulmonar .......................................... 45
Grupo pneumotáxico ......................................... 56
Circulação Pulmonar, Edema Pulmonar, Líquido
Pleural .................................................................... 48 Grupo ventral ..................................................... 56

Referências ................................................................. 48 Reflexo de insuflação de Hering-Breuer ................ 56

Trocas Gasosas ........................................................... 49 Controle químico da respiração............................. 56

O ar alveolar e o atmosférico possuem composições Outros receptores (resumo de Letícia T.73) .......... 57
diferentes ............................................................... 49 Referências ................................................................ 57
Difusão dos Gases pela membrana respiratória .... 50 Sistema renal ............................................................. 58
Fatores que determinam a intensidade da difusão Elementos vasculares do rim ................................. 58
gasosa ................................................................. 51 Rins Filtram, reabsorvem e secretam .................... 59
Capacidade de difusão da membrana respiratória Processo de Filtração ............................................. 59
............................................................................ 51

5
Reflexo da Micção .................................................. 61 Inibidores da anidrase carbônica ........................... 78
A pressão nos capilares causa a filtração ............... 61 Referências ................................................................ 78
Autorregulação da TGF........................................... 61 RESUMO:.................................................................... 79
Resposta Miogênica ........................................... 61 Fisiologia ácidobásica................................................. 82
Retroalimentação (feedback) tubuloglomerular62 PH dos Líquidos Corporais ..................................... 82
Ação do sistema nervoso autônomo.................. 62 Produção de Ácidos no Organismo........................ 82
Substâncias que alteram a FG e o FSR ................... 63 CO₂ ..................................................................... 82
Exames: .................................................................. 64 Ácidos Fixos........................................................ 83
Observações: .......................................................... 64 Tamponamento ..................................................... 83
Referências ................................................................. 64 Princípios de Tamponamento ............................ 83
Reabsorção renal........................................................ 65 Equação de Handerson-HAsselbach .................. 83
A reabsorção tubular é quantitativamente grande e Curva de Titulação ................................................. 84
muito seletiva ......................................................... 65 Tampões do Líquido Extracelular .......................... 84
A Reabsorção inclui mecanismos passivos e ativos Tampão Bicarbonato.......................................... 84
............................................................................ 65
Tampão HPO₄⁻⁻/H₂PO4⁻ .................................... 85
Secreção renal ............................................................ 68
Tampões do Líquido Intracelular ........................... 85
Reabsorção e secreção ao longo de porções diferentes
do néfron .................................................................... 69 Fosfatos Orgânicos............................................. 86

Túbulo proximal ..................................................... 69 Proteínas ............................................................ 86

Alça de Henle.......................................................... 69 Mecanismos Renais no Balanço Acidobásico ........ 86

Túbulo distal ........................................................... 70 REabsorção de HCO₃⁻ filtrado. ........................... 86

Ducto coletor medular ........................................... 72 Mecanismos ........................................................... 87

Resumo................................................................... 72 Efeito da Carga Filtrada de HCO₃⁻. ..................... 87

Regulação da reabsorção ........................................... 73 Efeito do Volume do LEC.................................... 88

Equilíbrio Glomerulotubular .................................. 73 Efeito da PCO₂ .................................................... 88

Forças físicas do líquido capilar peritubular e Excreção de H⁺ na Forma de Ácido Titulável ..... 88
intersticial renal...................................................... 73 Mecanismos de Excreção de Ácidos Tituláveis .. 88
Controle Hormonal................................................. 73 Quantidade de Tampão na Urina ...................... 89
Ativação do sistema nervoso simpático ................. 75 PK dos Tampões Urinários ................................. 89
Balanço iônico ............................................................ 75 Excreção de H⁺ como NH₄⁺ ................................ 89
Sódio....................................................................... 75 Efeito do PH Urinário sobre a excreção de NH₄⁺
Potássio .................................................................. 75 ........................................................................... 91

Fosfato .................................................................... 76 Efeito da Concentração Plasmática de K⁺ Sobre a


síntese de NH₃.................................................... 91
Cálcio ...................................................................... 76
Comparação da Excreção de Ácido Titulável com
Magnésio ................................................................ 77 a Excreção NH₄⁺ ................................................. 91
Diuréticos ................................................................... 77 Distúrbios Acidobásicos ......................................... 91
Diuréticos osmóticos .............................................. 78 Hiato Aniônico do Plasma .................................. 92

6
Mapa Acidobásico .............................................. 93 Somatomedinas: substâncias intermediárias do GH
Regras para as Respostas Compensatórias ............ 94 ............................................................................. 104

Acidose Metabólica ................................................ 94 Regulação da secreção do hormônio do


crescimento ......................................................... 105
Alcalose Metabólica ............................................... 95
O Papel do Hipotálamo, do Hormônio Liberador do
Acidose Respiratória .............................................. 95 Hormônio do Crescimento e da Somatostatina no
Alcalose Respiratória .............................................. 96 Controle da Secreção do Hormônio do Crescimento
............................................................................. 105
Líquidos corporais ...................................................... 97
Entrada e saída de líquidos é balanceada .............. 97 Anormalidades relacionadas ............................... 106
Hipófise posterior e sua relação com o hipotálamo
Composição do líquido intracelular e extracelular 98
............................................................................. 106
As composições iônicas do plasma e do líquido
intersticial são similares ..................................... 98 Funções fisiológicas do ADH ................................ 107

Medida dos volumes líquidos nos diferentes Regulação do ADH ........................................... 107
compartimentos líquidos do corpo – o princípio Ocitocina .............................................................. 107
indicador-diluição................................................... 98 Referências .............................................................. 107
Medida da água total do corpo .............................. 99 Tireoide .................................................................... 108
Medida do volume do líquido extracelular ........ 99 Iodo ...................................................................... 108
Cálculo do volume intracelular .......................... 99 Bioquímica de formação da tirosina e
Cálculo do volume total de plasma .................... 99 triiodotironina e a tireoglobulina ........................ 108
Calculo do volume de líquido intersticial ........... 99 A ação dos hormônios tireoidianos tem início
Medida do volume sanguíneo ............................ 99 lento e longa duração ...................................... 110
Funções fisiológicas dos hormônios tireoidianos 110
Regulação da troca de líquidos e equilíbrio osmótico
entre líquidos intracelulares e extracelulares ........ 99 Aumentar a transcrição de genes .................... 110
Osmolalidade...................................................... 99 Hormônios tireoidianos aumentam a atividade
Cálculo da osmolaridade e pressão osmótica de metabólica celular ............................................... 110
uma solução ..................................................... 100 Efeito do hormônio no crescimento .................... 111
Osmolaridade dos líquidos corporais ............... 100 Outros efeitos ...................................................... 111
O equilíbrio osmótico é mantido entre os líquidos Regulação da secreção......................................... 112
intra e extracelulares........................................ 100 Frio e outros estímulos neurogênicos ............. 113
Soluções isotônicas, hipotônicas e hipertônicas .. 100 Feedback do hormônio tireoidiano para reduzir a
Sistema endócrino.................................................... 101 secreção de TSH ............................................... 113
Hipófise .................................................................... 101 Substâncias que alteram a homeostasia ......... 114
Hipotálamo controla a secreção da hipófise ........ 102 Doenças da Tireoide ............................................ 114
Hormônios inibidores e estimuladores ................ 102 Hipertireoidismo .............................................. 114
Funções fisiológicas do hormônio do crescimento Hipotireoidismo ............................................... 115
.............................................................................. 103 Cretinismo ........................................................ 116
Efeitos no Crescimento .................................... 103 Hormônios Adrenocorticais ..................................... 117
Efeitos metabólicos .......................................... 103 Corticosteroides: Mineralocorticoides,
Crescimento ósseo ............................................... 104 Glicocorticoides e Androgênios ........................... 117

7
Síntese e Secreção dos Hormônios Adrenocorticais
.............................................................................. 117
Mineralocorticoides ......................................... 117
Glicocorticoides ................................................ 118
Funções dos Mineralocorticoides – Aldosterona . 118
Efeitos Renais e Circulatórios da Aldosterona . 118
Ações da Aldosterona nas Glândulas Sudoríparas,
Salivares e Células Epiteliais Intestinais ........... 119
Mecanismo Celular da Aldosterona ................. 119
Regulação dos Mineralocorticoides ..................... 120
Funções dos Glicocorticoides ............................... 120
Efeitos no Metabolismo de Carboidratos ........ 120
Efeitos no Metabolismo de Proteínas .................. 121
Efeitos do Cortisol no Metabolismo de Gorduras 121
O Cortisol é Importante no Estresse e na Inflamação
.............................................................................. 121
Efeitos Anti-inflamatórios ................................ 122
Mecanismo Celular (Imunológico) ................... 122
Regulação da Secreção de Cortisol ...................... 122
Ciclo Circadiano da Secreção de Glicocorticoides
.......................................................................... 123
Síntese e Secreção do ACTH Associado a Outras
Substâncias ........................................................... 123
Anormalidades da Secreção Adrenocortical ........ 124
Hiperadrenalismo (Síndrome de Cushing) ........... 124
Aldosteronismo primário (Síndrome de Conn) .... 125
Síndrome Androgenital ........................................ 125
Referências ............................................................... 125

8
membrana. O valor do potencial de difusão, em
PROBLEMA 1 toda a membrana, que se opõe exatamente ao da
difusão efetiva de um íon em particular através da
POTENCIAIS DE MEMBRANA E DE AÇÃO membrana é conhecido como potencial de Nernst
para esse íon. A equação a seguir, chamada
Potencial elétrico de membrana ou potencial equação de Nernst, pode ser usada para o cálculo
transmembranar ou voltagem da membrana é do potencial de Nernst para qualquer íon univalente
a diferença de potencial elétrico (voltagem) entre na temperatura normal do corpo de 98,6 ºF (37 ºC):
os meios intra e extracelular.

Por exemplo, a concentração de potássio é maior na


face interna da membrana da fibra nervosa, mas
bastante baixa na sua face externa. Nas fibras “Z” equivale à carga elétrica do íon. Essa fórmula
nervosas normais de mamíferos, a diferença de geralmente é utilizada assumindo-se que o
potencial é cerca de 94 milivolts, com negatividade potencial no líquido extracelular é igual a zero.
na face interna da membrana, quando se considera Utiliza-se sinal positivo quando o íon que sai é
que a concentração de potássio é maior do lado de negativo, e negativo se o íon for positivo.
dentro da fibra.
Dessa maneira, quando a concentração dos íons
Entretanto, quando se considera que a quantidade positivos de potássio na parte interna for 10 vezes
de sódio do lado de fora é maior do que do lado de maior que na parte externa, o log de 10 é 1, de modo
dentro, a membrana se torna permeável a esses íons que o potencial de Nernst é calculado como –61
e cria um potencial com negatividade na face milivolts no lado interno da membrana.
externa. Nesse momento, o potencial está em torno
de 61 mV.
EQUAÇÃO DE GOLDMAN
Leva em conta a difusão de mais de um íon. Logo,
para o cálculo, vários fatores são importantes,
como:
1) Polaridade das cargas elétricas de cada íon;
2) A permeabilidade da membrana (P) para
cada item;
3) As concentrações (C) dos respectivos íons
do lado interno (i) e lado externo (e) da
membrana.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.


A partir da equação de Goldman vários pontos-
Entretanto, quando se considera que a quantidade chave tornam-se evidentes. Primeiro, os íons sódio,
de sódio do lado de fora é maior do que do lado de potássio e cloreto são os íons mais importantes
dentro, a membrana se torna permeável a esses íons envolvidos no desenvolvimento dos potenciais de
e cria um potencial com negatividade na face membrana nas fibras musculares e nervosas, bem
externa. Nesse momento, o potencial está em torno como nas células neuronais do sistema nervoso.
de 61 mV.
Segundo, o grau de importância de cada um desses
EQUAÇÃO DE NERNST íons na determinação da voltagem é proporcional à
permeabilidade da membrana para cada íon em
Descreve a relação do potencial de difusão com a particular.
diferença de concentração de íons através de uma

9
Terceiro, gradiente positivo de concentração iônica TRANSPORTE ATIVO: BOMBA DE SÓDIO E POTÁSSIO
de dentro para fora da membrana causa
Transporta continuamente íons sódio para fora da
eletronegatividade no lado de dentro da membrana.
célula, e íons potássio para dentro da célula. A
bomba de Na+-K+ produz também grande
MEDIDA DO POTENCIAL DE MEMBRANA gradiente de concentração para o sódio e para o
Utilizando-se um voltímetro muito preciso e potássio, através da membrana nervosa em
sensível a pequenas alterações de tensão, pode-se repouso. Esses gradientes são os seguintes:
identificar o potencial da membrana.
Na+ (externo): 142 mEq/L
Enquanto o eletródio está do lado de fora da Na+ (interno): 14 mEq/L
membrana, marca zero, pois o potencial ainda não K+ (externo): 4 mEq/L
é medido. Ao entrar em contato com a parte interna K+ (interno): 140 mEq/L
da membrana, passa a medir -90mV.
As proporções entre esses dois íons respectivos, de
dentro para fora, são:

Na+interno/Na+externo = 0,1
K+interno/K+ externo = 35,0

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

Vazamento do potássio e do sódio: na célula


nervosa, existem canais na membrana, algumas
conhecidas como “domínio duplo-poro”, por onde
o potássio pode vazar. De forma semelhante,
quantidades mínimas de sódio podem vazar pela
membrana, mas o canal é cerca de 100 vezes mais
permeável ao K+.
Guyton – Fisiologia 13ºEd.

POTENCIAL DE REPOUSO DE MEMBRANA DOS ORIGEM DO POTENCIAL DE REPOUSO NORMAL DA


MEMBRANA
NEURÔNIOS
Alguns fatores contribuem para o potencial de
O potencial de repouso das membranas das fibras
membrana de cerca de -90mV:
nervosas mais calibrosas, quando não estão
transmitindo sinais nervosos, é de cerca de –90
Potencial de difusão do potássio: tendo em vista
milivolts. Isto é, o potencial dentro da fibra é 90
que a proporção de potássio no meio interno para o
milivolts mais negativo do que o potencial no
externo é de 35 para 1, multiplicado por -61
líquido extracelular, do lado de fora da fibra.

10
(fórmula de Nernst), dá -94mV, que equivale ao POTENCIAL DE AÇÃO DOS NEURÔNIOS
potencial de repouso dentro da fibra.
Os sinais nervosos são potenciais de ação (rápidas
alterações do potencial de membrana que se
Contribuição da difusão de sódio através da
propagam com grande velocidade por toda a
membrana nervosa: utilizando-se a equação de
membrana da fibra nervosa).
Goldman, levando em conta a quantidade de íons
de sódio e potássio, obtém-se o valor de -86mV.
O potencial se inicia por uma alteração súbita do
potencial de membrana normal negativo para um
Contribuição da bomba de sódio e potássio: o
potencial positivo, terminando com retorno quase
bombeamento de mais íons sódio para fora do que
repentino para o potencial negativo.
íons potássio para dentro, produz perda progressiva
de cargas positivas, criando um potencial de cerca
de -4mV. Somado ao valor de -86mV, totaliza os - ESTÁGIOS
90mV.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.


Estágio de repouso: antes do início do potencial
de ação. Nesse estágio, a membrana se encontra
polarizada, em virtude dos -90mV.

Estágio de despolarização: nesse momento, a


membrana fica muito permeável à sódio,
positivamente carregado. Em fibras mais
calibrosas, isso faz com que o potencial antes
negativo aumente rapidamente e ultrapasse o zero
(overshoot) e se torne positivo. Em fibras menos
calibrosas, o potencial se aproxima de zero.

Estágio de repolarização: alguns milissegundos


após a membrana ficar permeável aos íons sódio,
os canais de sódio começam a se fechar e os de
potássio se abrem muito mais do que o normal, o
que causa uma rápida difusão de potássio para o
lado exterior, que reestabelece o potencial de
repouso negativo da membrana.

Corrente de influxo é o fluxo de cargas positivas


para o interior da célula. Assim, as correntes de
influxo despolarizam o potencial de membrana.
Guyton – Fisiologia 13ºEd. Exemplo de corrente de entrada é o fluxo de Na+,
para dentro da célula, durante a fase ascendente do

11
potencial de ação. teremos como estimulá-la, independente da
grandeza do estímulo.
Corrente de efluxo é o fluxo de cargas positivas
para fora da célula. As correntes de efluxo 2) Período refratário relativo – Esse momento
hiperpolarizam o potencial de membrana. Exemplo representa uma pequena parcela do potencial de
de corrente de efluxo é o fluxo de K+ para fora da ação e durante esse período a célula poderá receber
célula durante a fase de repolarização do potencial um segundo estímulo e responder ao mesmo, mas
de ação. sua intensidade deverá ser maior, pois a célula
estará hiperpolarizada e mais distante do atingir seu
Potencial limiar é o potencial de membrana onde limiar de excitação.
a ocorrência do potencial de ação é inevitável. Uma
vez que o potencial limiar é menos negativo do que
o potencial de membrana em repouso, a corrente de
influxo é necessária para despolarizar o potencial
de membrana até o limiar. No potencial limiar, a
corrente de total influxo (p. ex., de Na+) fica maior
do que a corrente de total influxo (p. ex., de K+) e
a despolarização resultante se torna
autossustentada, originando a fase ascendente do
potencial de ação. Se a corrente de total influxo for
menor do que a corrente de total efluxo, a
membrana não será despolarizada até o limiar e não
ocorrerá potencial de ação (veja resposta tudo ou
nada). Fonte: fisiologia fácil (site)

Pico do potencial de ação (ultrapassagem) é a fase CANAIS IÔNICOS


do potencial de ação onde o Os canais iônicos são proteínas integrais
potencial de membrana é positivo (interior da transmembrânicas que, quando abertos, permitem a
célula positivo). passagem de certos íons. Assim, os canais iônicos
são seletivos e permitem que íons com
Pós-potencial hiperpolarizante, também características específicas se movam através deles.
chamada de (hiperpolarização): é a fase do Essa seletividade é baseada na dimensão do canal e
potencial de ação, após a repolarização, quando o das cargas que o revestem.
potencial de membrana fica mais negativo do que
em repouso. Os canais iônicos são controlados por comportas;
dependendo da posição dessas comportas, os canais
Período refratário é o período em que outro podem ficar abertos ou fechados. Quando o canal
potencial de ação normal não pode ser iniciado em está aberto, os íons, para os quais é seletivo, podem
célula excitável. Os períodos refratários podem ser fluir por ele por difusão passiva, seguindo o
absolutos ou relativos. gradiente eletroquímico existente. Podem ser:

1) Período refratário absoluto – representa um Voltagem-dependentes: Comportas controladas


momento em que a célula não consegue receber um por alterações no potencial de membrana.
segundo estímulo. Isso representa o maior tempo de
um potencial de ação. A célula não consegue Dependentes de Segundo Mensageiro: comportas
receber um segundo estímulo, pois os canais de controladas por mudanças nos níveis de moléculas
sódio estarão inativados nesse momento. Lembre- sinalizadoras intramoleculares, como AMPc ou o
se que uma célula só é estimulada quando um canal IP3. Sensores no meio intracelular os identificam.
de sódio é aberto. Se o mesmo está fechado, não Um exemplo são as comportas dos canais de Na+

12
no nodo sinusal cardíaco, que são abertos por PROCESSO POR ETAPA DO POTENCIAL DE AÇÃO
aumento do AMP cíclico.
Em repouso: canais de potássio abertos, alta
Ligante-dependentes: têm comportas controladas permeabilidade ao potássio. Baixa condutância ao
por hormônios e neurotransmissores. O receptor Na+.
nicotínico, na placa motora, por exemplo, é, na
verdade, um canal iônico que se abre com a ligação Despolarização rápida (fase ascendente):
da acetilcolina (ACh); quando aberto, o canal é abertura rápida da das comportas de ativação.
permeável aos íons Na+ e K+. Sódio entra.

ATIVAÇÃO E INATIVAÇÃO DO CANAL DE SÓDIO Repolarização (fase descendente): Comportas de


REGULADO PELA VOLTAGEM inativação fecham os canais de sódio e ocorre
Esse canal tem duas comportas – uma externa, abertura dos canais de potássio.
chamada de canal de ativação, e uma interna,
chamada de canal de inativação. Pós-potencial hiperpolarizante: por pouco tempo
após a repolarização, a condutância ao potássio é
Ativação: quando o potencial de membrana se maior do que no estado de repouso e o potencial de
torna menos negativo do que no estado de repouso, membrana se aproxima do potencial de equilíbrio.
se aproximando de zero – cerca de -70mV a -
50mV– e causando uma alteração conformacional POTENCIAL DE EQUILÍBRIO
abrupta da comporta, fazendo com que o canal É o potencial de difusão que age impedindo a
fique totalmente aberto. Nesse estado ativado, a difusão. Por exemplo, em um recipiente com Na+ e
membrana fica de 500 a 5000 vezes mais Cl- em que há uma membrana permeável somente
permeável ao sódio. ao Na+, esse íon se moverá segundo o gradiente até
que o excesso de cargas positivas impeça o fluxo.
Inativação: o aumento da voltagem faz com que a
comporta de inativação comece a funcionar e HIPERCALEMIA
interrompa o fluxo iônico. Isso acontece poucos
décimos de milésimo de segundo após a abertura O limiar do potencial de membrana celular é
dos canais. Entretanto, o fechamento é bem mais atingido quando a permeabilidade pelo sódio se
lento que a abertura. eleva ao ponto em que o influxo de sódio excede a
saída de potássio, mantendo um estado de
A tetrodotoxina (toxina obtida do baiacu japonês)
despolarização e desenvolvendo um potencial de
e o anestésico local lidocaína bloqueiam esses
canais de Na+ voltagem-dependentes e previnem a ação (Conrado, 2010)
ocorrência de potenciais de ação no sistema
nervoso.

CANAIS DE POTÁSSIO REGULADOS POR VOLTAGEM


Quando o potencial de membrana sai de -90mV
para próximo de zero, essa alteração causa a
abertura conformacional da comporta, permitindo o
aumento da saída de potássio. Esses geralmente se
abrem apenas quando os canais de sódio estão se
fechando. Isso faz com que o potencial seja
recuperado, já que existe diminuição da entrada de
sódio e aumento da saída de potássio.
Fonte: Conrado, 2010
O TEA (tetraetilamônio) bloqueia os canais de
potássio voltagem dependentes.

13
Fonte: Conrado, 2010
positivas. Quando isso ocorre, os íons fluem para
O aumento da concentração extracelular de as regiões adjacentes de forma a iniciar novos
potássio despolariza a membrana celular e faz com potenciais de ação nessas regiões.
que o potencial fique mais próximo do seu limiar.
Entretanto, o limiar não ocorre porque essa Os impulsos nervosos se propagam em todas as
despolarização sustentada fecha as comportas de direções a partir do ponto inicial e continuam a se
inativação dos canais de sódio. propagar até que toda a membrana se encontre
despolarizada.
Injeção letal: composta por três injeções, sendo:
1. Tiopentato de sódio: anestésico
barbitúrico, serve para causar torpor ou
coma;
2. Brometo de pancurônio: causa paralisia
no diafragma;
3. Cloreto de potássio: causa hipercalemia,
agindo, principalmente, no coração.
INÍCIO DO POTENCIAL DE AÇÃO
O início da elevação do potencial, a primeiro
momento, aumenta a quantidade de canais de sódio Linda – Fisiologia 5ªEd.
abertos, que aumenta ainda mais o potencial e
ocasiona a abertura de mais canais. Isso causa um
feedback positivo que continua a alimentar o
potencial até que as comportas de inativação se
fechem.

Entretanto esse feedback só acontecerá caso o


potencial for o suficiente para atingir o limiar “de
disparo”, o valor mínimo com o qual o potencial de
ação começa a ocorrer.

PROPAGAÇÃO DO POTENCIAL DE AÇÃO


O potencial, em um determinado segmento do
neurônio se torna positivo por causa do potencial
Guyton – Fisiologia 13ºEd
de ação e as cargas em seu interior se tornam

14
PLATÔ EM POTENCIAIS DE AÇÃO
O platô é um prolongamento do tempo em que a
membrana se encontra despolarizada, em um valor
próximo ao pico. Isso ocorre principalmente nas
fibras musculares do coração, onde o platô dura de
0.2 a 0.3 segundo.

Guyton – Fisiologia 13ºEd

Esse platô ocorre por alguns motivos:


• O coração possui dois tipos de canal que
participam da despolarização: os canais de
sódio, regulados pela voltagem e também
chamados de canais rápidos, e os canais de
Silverthorn – Fisiologia (2017) cálcio-sódio (canais de cálcio tipo L),
também conhecidos como canais lentos. A
abertura rápida dos canais de sódio é
PRINCÍPIO DO “TUDO OU NADA”
responsável pela ponta (spike) do gráfico do
Após o início da propagação de um potencial de potencial, enquanto a abertura lenta dos
ação, a despolarização se propaga por toda a canais cálcio-sódio é responsável pelo
membrana de forma progressiva se todas as platô.
condições para a propagação estiverem presentes. • Outra contribuição é dos canais de potássio
Caso não estejam, a despolarização não prossegue. regulados por voltagem, que possuem
Ocasionalmente, isso pode ocorrer caso alguma abertura mais lenta só se abrindo por
região da membrana não gere voltagem o suficiente completo no final do platô. Isso faz com que
para excitar a área seguinte da membrana. o potencial demore mais para retornar ao
valor de repouso próximo de -80 a -90 mV.
REESTABELECENDO O POTENCIAL IÔNICO
Após a despolarização da membrana, é necessário
RITMICIDADE DE ALGUNS TECIDOS
que o potencial de repouso seja reestabelecido. Para
isso, a bomba de sódio e potássio age colocando Descargas repetitivas espontâneas ocorrem
novamente o sódio fora da fibra e o potássio dentro. normalmente no coração, em alguns músculos lisos
Entretanto, esse processo de recarga demanda ATP, e em muitos neurônios. Essas descargas são
sendo considerado, por isso, um processo responsáveis pelo batimento rítmico do coração,
metabolicamente ativo. peristaltismo intestinal e eventos neuronais como o
controle da respiração.
Um ponto importante é que o acúmulo de sódio no
interior da membrana estimula a ação da bomba. Apesar disso, muitos tecidos excitáveis podem
apresentar descargas rítmicas. Por exemplo, fibras

15
nervosas mais calibrosas e fibras musculares FIBRAS NERVOSAS
esqueléticas podem gerar descargas quando
submetidas a solução salina contendo veratridina, As fibras nervosas podem ser amielinizadas (as
que ativa os canais de sódio quando a concentração fibras mais delgadas) ou mielinizadas (fibras mais
dos íons cálcio cai a um valor crítico, o que grossas). O axônio fica dentro da bainha de mielina.
aumenta a permeabilidade ao sódio.

Para que um potencial de ação repetitivo ocorra, é


necessário que a membrana possua permeabilidade
natural suficiente aos íons sódio (e cálcio em alguns
casos), de forma que consiga se repolarizar
automaticamente. Por exemplo, o potencial de
repouso da membrana no centro de controle
cardíaco fica em torno de -70 a -60 mV, o que não
é uma voltagem negativa o suficiente para manter
os canais de sódio e cálcio totalmente fechados.

Sequência:

1. Íons cálcio e sódio entram;


2. Aumenta a voltagem no sentido positivo e
aumenta a permeabilidade;
3. Entrada de mais íons;
4. Geração do potencial de ação;
5. Repolarização;
6. Excitabilidade espontânea gera novo
potencial.
Guyton – Fisiologia 13ºEd

A fibra nervosa está envolta pela bainha de mielina,


contendo a substância lipídica esfingomielina, que
age como um excelente isolante elétrico,
depositada pelas células de Schwann. Entre as áreas
mielinizadas encontram-se áreas sem as células de
Schwann, chamadas Nódulos de Ranvier.

CONDUÇÃO SALTATÓRIA
Os íons de sódio que entram em um nódulo
Guyton – Fisiologia 13ºEd reforçam a despolarização e restabelecem a
amplitude do potencial de ação quando ele passa de
Na imagem acima é possível perceber a nódulo em nódulo. O salto visível do potencial de
hiperpolarização (undershoot), que coincide com ação que ocorre quando ele passa de um nódulo
o momento com que a membrana se torna muito para o outro é chamado de condução saltatória,
permeável ao potássio e a corrente de efluxo desse proveniente da palavra em Latim saltare, que
íon desloca o potencial de membrana para um valor significa “pular”.
mais próximo do potencial de Nernst para o
potássio. A hiperpolarização impede que a Em doenças desmielinizantes, a perda da mielina
membrana seja reexcitada. dos neurônios dos vertebrados pode ter efeitos
devastadores na sinalização neural. Nos sistemas

16
nervosos central e periférico, a perda da mielina
retarda a condução dos potenciais de ação. Além
disso, quando a corrente extravasa pelas regiões da
membrana que agora estão sem isolamento, entre
os nódulos de Ranvier repletos de canais de Na+, a
despolarização que chega ao nódulo talvez não
esteja mais acima do limiar, e a condução pode
falhar.

Guyton – Fisiologia 13ºEd

Silverthorn – Fisiologia (2017)

17
Silverthorn – Fisiologia (2017)

rapidamente nos tecidos-alvo, de forma a, por


SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO (SNA)
exemplo, duplicar a frequência cardíaca em cerca
Esse sistema é o principal regulador da maior parte de 3 a 5 segundos e, de 10 a 15 segundos, duplicar
das funções viscerais do organismo. Um fato a pressão arterial. Na mesma média de tempo, pode
importante acerca desse sistema é que ele age muito reduzir a pressão a ponto de causar desmaio.
18
ORGANIZAÇÃO DO SNA
SN parassimpático
O sistema nervoso central é ativado,
principalmente, por centros localizados na medula
espinhal, no tronco cerebral e no córtex límbico. O
sistema nervoso autônomo também opera, em
geral, por meio de reflexos viscerais, que são sinais
subconscientes de órgãos viscerais.

Os sinais autônomos eferentes são transmitidos aos


diferentes órgãos corpo por meio de duas grandes
subdivisões: o sistema nervoso simpático e o
sistema nervoso parassimpático.

SN simpático

Guyton – Fisiologia 13ºEd

FIBRAS COLINÉRGICAS E ADRENÉRGICAS


As fibras simpáticas do segmento T1, em geral,
(1) se projetam para cima na cadeia simpática,
para terminar na cabeça; (2) de T2 para
terminar no pescoço; (3) de T3, T4, T5 e T6 para
o tórax; (4) de T7, T8, T9, T10 e T11 para o
abdome; e (5) de T12, L1 e L2 para as pernas.
Essa distribuição é aproximada e pode ocorrer
superposição.

As fibras nervosas simpáticas e parassimpáticas


secretam principalmente uma das duas substâncias
transmissoras sinápticas: acetilcolina ou
norepinefrina. As fibras que secretam acetilcolina
Guyton – Fisiologia 13ºEd são chamadas colinérgicas. As que secretam

19
norepinefrina são chamadas adrenérgicas, termo 2. A despolarização do terminal pré-sináptico
derivado de adrenalina, que é o nome alternativo abre os canais de Ca2+ e esses íons fluem
para a epinefrina. em direção ao terminal.
3. A acetilcolina (ACh) sai da sinapse por
Todos os neurônios pré-ganglionares são exocitose.
colinérgicos. Entretanto, os pós-ganglionares são 4. A ACh se liga a seu receptor na placa
adrenérgicos, no simpático e colinérgicos. motora. (Receptor nicotínico)
5. Os canais de Na+ e K+ se abrem na placa
motora.
6. A despolarização da placa motora provoca
a geração de potenciais de ação no tecido
muscular adjacente.
7. A ACh é degradada a colina e acetato pela
acetilcolinesterase (AChE); a colina é
captada pelo terminal pré-sináptico por
cotransportador de Na+-colina.

Guyton – Fisiologia 13ºEd

COMO FUNCIONAM OS NEUROTRANSMISSORES

O potencial de ação na célula pré-sináptica faz com


que os canais de cálcio se abram. Um influxo de
Ca2+, no terminal pré-sináptico, faz com que o
neurotransmissor, armazenado nas vesículas
sinápticas seja liberado. Este se liga a receptores na
membrana pós sináptica, alterando seu potencial de Linda – Fisiologia 5ªEd.
membrana.
AChE – Acetilcolinesterase

AGENTES QUE AFETAM A TRANSMISSÃO


NEUROMUSCULAR
Guyton – Fisiologia 13ºEd • A toxina botulínica bloqueia a liberação de
ACh pelos terminais pré-sinápticos,
interrompendo completamente a
transmissão neuromuscular e causando
paralisia da musculatura esquelética e, por
fim, morte por insuficiência respiratória.
• O curare compete com a ACh pelos
receptores nicotínicos da placa motora,
diminuindo a amplitude do PPM. Quando
administrado em dose máxima, o curare
Linda – Fisiologia 5ªEd. provoca paralisia e morte.
• A d-tubocurarina, forma de curare, é
Sequência de Eventos: terapeuticamente utilizada para relaxar a
1. O potencial de ação trafega pelo musculatura esquelética durante anestesias.
motoneurônio até o terminal pré-sináptico. Substância semelhante, a α-bungarotoxina

20
se liga irreversivelmente aos receptores de a medida da densidade de receptores de
ACh. A ligação de α-bungarotoxina ACh na placa motora.
radioativa é a ferramenta experimental para

Linda – Fisiologia 5ªEd.


melhora com a administração de piridostigmina
• Os inibidores de AChE (inibidor de colinesterase [AChE] de longa ação), o
(anticolinesterases), como a neostigmina, sucesso do tratamento confirma o diagnóstico de
previnem a degradação da ACh na fenda miastenia grave. A AChE, na placa motora,
sináptica, prolongando e aumentando sua degrada, normalmente, a ACh (i.e., a AChE
ação na placa motora. Os inibidores de ACh interrompe a ação da ACh). Ao inibir a enzima
podem ser usados no tratamento da degradante de ACh com a piridostigmina, os
miastenia grave, doença caracterizada por níveis dessa molécula, na junção neuromuscular,
fraqueza da musculatura esquelética e são mantidos elevados, prolongando o tempo
fadiga, onde os receptores de ACh são disponível para que haja a ativação dos receptores
bloqueados por anticorpos. na placa motora. Assim, pode-se produzir um PPM
• O hemicolínio bloqueia a recaptação de mais normal na fibra muscular, embora muitos
colina pelos terminais pré-sinápticos, receptores de ACh estejam bloqueados pelos
depletando os estoques de colina do anticorpos.
motoneurônio e diminuindo a síntese de RECEPTORES NOS ÓRGÃOS EFETORES
ACh.
Antes de finalmente estimular os órgãos efetores,
os neurotransmissores precisam primeiro se ligar a
MIASTENIA GRAVE
receptores nas membranas. Geralmente, a ligação
Na forma autoimune da doença, são produzidos com a proteína causa a mudança da permeabilidade
anticorpos contra receptores de ACh nas placas da membrana a algum íon.
motoras da musculatura esquelética. Seus sintomas
de fraqueza muscular grave (músculos dos olhos, Outra forma do receptor funcionar é ativar ou
dos braços e das pernas) são explicados pela inativar uma enzima no interior da célula (ou outra
presença de anticorpos que bloqueiam os molécula intracelular). Por exemplo, a ligação da
receptores de ACh. Embora a ACh seja liberada em norepinefrina com seu receptor, na parte externa de
quantidades normais, pelos terminais dos muitas células, aumenta a atividade da enzima
motoneurônios, a ligação da ACh a seus receptores adenilil ciclase no interior da célula, o que causa a
nas placas motoras é prejudicada. Uma vez que a formação de monofosfato de adenosina cíclico
ACh não pode se ligar, não ocorre despolarização (AMPc).
da placa motora (potencial de placa motora, PPM),
nem geração de potenciais de ação normais na
RECEPTORES DE ACETILCOLINA
musculatura esquelética. Assim, ocorre fraqueza
muscular e fadiga. Podem ser, principalmente, de dois tipos:
muscarínicos e nicotínicos.
O tratamento do paciente com miastenia grave
depende do claro entendimento sobre a fisiologia Os receptores muscarínicos, que utilizam
da junção neuromuscular. Uma vez que o quadro proteínas G como mecanismos de sinalização, são

21
encontrados em todas as células efetoras ativam a proteína Gi e liberam a subunidade αi, que
estimuladas pelos neurônios colinérgicos pós- se liga diretamente aos canais de K+ do nodo SA.
ganglionares tanto do sistema nervoso Quando as subunidades αi se ligam aos canais de
parassimpático quanto do simpático. K+, estes se abrem, retardando a velocidade de
despolarização no nodo SA e diminuindo a
A escopolamina, como a atropina, bloqueia os frequência cardíaca.
receptores colinérgicos muscarínicos nos tecidos-
alvo. Esse fármaco pode, de fato, ser usado, com Os receptores nicotínicos são canais iônicos
sucesso, no tratamento do enjoo por movimento, ativados por ligandos que se encontram nos
cuja etiologia envolve receptores muscarínicos gânglios autônomos nas sinapses entre os
presentes no sistema vestibular. neurônios pré-ganglionares e pós-ganglionares
tanto do sistema simpático quanto do
Os receptores muscarínicos estão localizados em parassimpático. (Os receptores nicotínicos estão
todos os órgãos efetores do sistema nervoso também presentes em muitas terminações nervosas
parassimpático: no coração, no trato não autônomas — por exemplo, nas junções
gastrointestinal, nos bronquíolos, na bexiga e nos neuromusculares, nos músculos esqueléticos).
órgãos sexuais masculinos.
Os receptores nicotínicos da placa motora do
A ativação dos receptores muscarínicos aumenta a músculo esquelético e dos gânglios autônomos são,
salivação, contrai as pupilas, diminui a frequência certamente, similares: ambos são ativados pelos
cardíaca (bradicardia) e contrai a parede da bexiga agonistas ACh, nicotina e carbacol, e
durante a micção. Portanto, é esperado que a antagonizados pelo fármaco curare. Porém, outro
inibição dos receptores muscarínicos, pela antagonista do receptor nicotínico, o hexametônio,
administração de escopolamina, provoque bloqueia os gânglios, mas não a placa motora.
sintomas relacionados à diminuição da salivação
(boca seca), dilatação das pupilas (dada à influência A musculatura lisa vascular, por exemplo,
não antagonizada do sistema nervoso simpático apresenta apenas inervação simpática, causando
sobre o músculo radial), aumento da frequência vasoconstrição; assim, os agentes bloqueadores
cardíaca e micção lenta (causada pela perda do ganglionares relaxam a musculatura lisa vascular,
tônus contrátil da parede da bexiga). provocando vasodilatação. (Devido a essa
propriedade, os agentes bloqueadores ganglionares
Alguns receptores muscarínicos (p. ex., M1, M3 e podem ser usados no tratamento da hipertensão.)
M5) apresentam o mesmo mecanismo de ação que
os adrenorreceptores α1. Nesses casos, a ligação do Por outro lado, a função sexual masculina é
agonista (ACh) ao receptor muscarínico provoca a acentuadamente prejudicada por agentes
dissociação da subunidade a da proteína G, a bloqueadores ganglionares, já que apresenta
ativação da fosfolipase C e a geração de IP3 e componentes simpáticos (ejaculação) e
diacilglicerol. O IP3 libera o Ca2+ armazenado e o parassimpáticos (ereção).
aumento da concentração intracelular desse íon,
associado à presença de diacilglicerol, produz as O mecanismo de ação dos receptores nicotínicos,
ações fisiológicas tecido-específicas. seja na placa motora ou nos gânglios, é baseado no
fato de que esse receptor de ACh é, também, um
Outros receptores muscarínicos (p. ex., M4) atuam canal para Na+ e K+. Quando o receptor nicotínico
inibindo a guanilato ciclase e a diminuição dos é ativado pela ACh, o canal se abre, permitindo a
níveis de AMPc intracelulares.Outros receptores passagem de Na+ e K+, determinada por seus
muscarínicos (M2) alteram processos fisiológicos respectivos gradientes eletroquímicos.
por meio da ação direta da proteína G.
A imagem a seguir mostra a ação a acetilcolina nos
Os receptores muscarínicos do nodo SA do receptores nicotínicos:
coração, por exemplo, quando ativados pela ACh,

22
Os receptores α1 são encontrados na musculatura
lisa vascular da pele, nos músculos esqueléticos e
na região esplâncnica, nos esfíncteres do trato
gastrointestinal e da bexiga e no músculo radial da
íris. A ativação dos receptores α1 leva à contração
de cada um desses tecidos. O mecanismo de ação
envolve a proteína G denominada Gq e a ativação
da fosfolipase C.

Linda – Fisiologia 5ªEd.

RECEPTORES DA NOREPINEFRINA
Existem também duas classes de receptores
adrenérgicos; chamados receptores alfa e
receptores beta. Existem dois tipos principais de
receptores alfa, alfa1 e alfa2, que se ligam a
diferentes proteínas G. Os receptores beta, são
divididos em beta1, beta2 e beta3 porque
determinadas substâncias químicas afetam apenas
certos receptores beta. Os receptores beta utilizam
Fonte: Google Imagens
também proteínas G para a sinalização.
Os receptores α2 são inibidores, localizados pré-
A norepinefrina e a epinefrina, secretadas no sinapticamente e pós-sinapticamente, e são menos
sangue pela medula adrenal, têm efeitos comuns do que os receptores α1. Esses receptores
ligeiramente diferentes na excitação dos receptores são encontrados em terminais nervosos pré-
alfa e beta. A norepinefrina excita sinápticos adrenérgicos e colinérgicos e no trato
principalmente os receptores alfa, mas excita os gastrointestinal. Os receptores α são encontrados
receptores beta em menor grau. A epinefrina em duas formas, os autorreceptores e os
excita ambos os tipos de receptores de forma heterorreceptores.
aproximadamente igual. Portanto, os efeitos
relativos da norepinefrina e da epinefrina nos Os receptores α2 presentes nos terminais nervosos
diferentes órgãos efetores são determinados pelos simpáticos pós-ganglionares são os
tipos de receptores existentes nesses órgãos. Se autorreceptores. Nessas, a ativação dos terminais
forem todos receptores do tipo beta, a epinefrina por norepinefrina inibe a liberação desse
terá ação mais eficaz. neurotransmissor pelo seu terminal. Esse feedback
negativo conserva a norepinefrina. Um fato
Uma substância sintética quimicamente semelhante interessante é que as suprarrenais não possuem
à epinefrina e à norepinefrina, a isopropil receptores α2, não sendo sujeitas, portanto, a esse
norepinefrina, tem ação extremamente forte nos feedback.
receptores beta e, em essência, nenhuma ação nos
receptores alfa. Os receptores α2, presentes em terminais nervosos
pós-ganglionares parassimpáticos do trato
gastrointestinal, são denominados

23
heterorreceptores. A norepinefrina é liberada Os receptores β2 são encontrados na musculatura
pelas fibras pós-ganglionares simpáticas, que lisa vascular dos músculos esqueléticos, nas
fazem sinapse com essas fibras pós-ganglionares paredes do trato gastrointestinal e da bexiga e nos
parassimpáticas. Quando ativados pela bronquíolos. A ativação dos receptores β2, nesses
norepinefrina, os receptores α2 inibem a liberação tecidos, provoca seu relaxamento ou dilatação. O
de acetilcolina dos terminais nervosos pós- mecanismo de ação dos receptores β2 é similar ao
ganglionares parassimpáticos. Dessa forma, o dos receptores β1: ativação da proteína Gs,
sistema nervoso simpático inibe, indiretamente, a liberação da subunidade αs, estimulação da
função gastrointestinal (i.e., pela inibição da adenilil ciclase e geração de AMPc.
atividade parassimpática).
A adenilil ciclase ativada catalisa a conversão do
ATP a AMPc, que atua como segundo mensageiro.
O AMPc, por meio de passos que envolvem a
ativação de proteínas cinases, inicia as ações
fisiológicas finais.

Guyton – Fisiologia 13ºEd

Os receptores β1 são proeminentes no coração.


Esses receptores são encontrados no nodo sinoatrial
(SA), no nodo atrioventricular (AV) e no músculo
ventricular. A ativação dos receptores β1, nesses Guyton – Fisiologia 13ºEd
tecidos, aumenta a frequência cardíaca, no nodo
SA, elevando a velocidade de condução pelo nodo RESPOSTAS DOS ADRENORRECEPTORES À
AV e a contratibilidade do músculo ventricular, NOREPINEFRINA E À EPINEFRINA
respectivamente. Os receptores β1 também estão
A ativação dos receptores α1 requer concentrações
localizados nas glândulas salivares, no tecido
maiores de catecolaminas do que a ativação de
adiposo e nos rins (nestes últimos promovem a
receptores β. Os receptores β2 são,
secreção de renina). O mecanismo de ação dos
preferencialmente, ativados pela epinefrina.
receptores β1 envolve a proteína Gs e a ativação
da adenilil ciclase.
A norepinefrina circulante causa constrição da
maioria dos vasos sanguíneos do corpo; acarreta
Quando receptores β1 são ativados no nodo SA, a
também atividade aumentada do coração, inibição
frequência cardíaca aumenta; quando ativados no
do trato gastrointestinal, dilatação das pupilas etc.
músculo ventricular, a contratibilidade aumenta;
quando ativados nas glândulas salivares, a secreção
A epinefrina produz quase os mesmos efeitos que
é elevada; e nos rins, a renina é secretada.
os causados pela norepinefrina, sendo diferentes
nos seguintes aspectos: primeiro, a epinefrina, por

24
provocar sua maior ação na estimulação dos TABELA-RESUMO DOS AGONISTAS E ANTAGONISTAS
receptores beta, tem efeito maior na estimulação
cardíaca do que a norepinefrina.

Segundo, a epinefrina causa somente a fraca


constrição dos vasos sanguíneos dos músculos em
comparação com a vasoconstrição muito mais forte
causada pela norepinefrina.

Terceira diferença entre as ações da epinefrina e da


norepinefrina está relacionada a seus efeitos sobre
o metabolismo nos tecidos. A epinefrina tem efeito
metabólico 5 a 10 vezes mais forte que a
norepinefrina. De fato, a epinefrina secretada pelas
medulas adrenais pode aumentar o metabolismo do
organismo, muitas vezes, por até 100% acima do Linda – Fisiologia 5ªEd.
normal, aumentando, dessa forma, a atividade e a
excitabilidade do organismo. Ela também eleva a
intensidade de outras atividades metabólicas, como
a glicogenólise no fígado e no músculo e a
liberação de glicose para o sangue.

Linda – Fisiologia 5ªEd

25
RESUMO DAS AÇÕES DOS SISTEMAS SIMPÁTICO E DO PARASSIMPÁTIC O

Fonte: Google Imagens

26
PROBLEMA 2.2 O ciclo cardíaco consiste no período de
relaxamento, chamado diástole, durante o qual o
CICLO CARDÍACO coração se enche de sangue, seguido pelo período
de contração, chamado sístole.
Diagrama de Wiggers
O conjunto dos eventos cardíacos, que ocorre entre
o início de um batimento e o início do próximo, é
denominado ciclo cardíaco. Cada ciclo é iniciado
pela geração espontânea de potencial de ação no
nodo sinusal. Esse nodo está situado na parede
lateral superior do átrio direito, próximo da
abertura da veia cava superior, e o potencial de ação
se difunde desse ponto rapidamente por ambos os
átrios e, depois, por meio do feixe A-V para os
ventrículos.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.


A onda P é causada pela disseminação da
despolarização pelos átrios, e isso é seguido pela
contração atrial; passado mais ou menos 0,16
segundo após o início da onda P, as ondas QRS
surgem como resultado da despolarização elétrica
dos ventrículos. O complexo QRS se inicia pouco
antes do início da sístole ventricular. A onda T
ventricular representa o estágio de repolarização
dos ventrículos quando suas fibras musculares
começam a relaxar. O potencial de ação do coração
é de 105 mV.

HISTOLOGIA DO CORAÇÃO
É um órgão muscular composto por 3 túnicas:
• Endocárdio: endotélio apoiado em uma camada
subendotelial de tecido conjuntivo frouxo, abaixo
do qual aparecem as fibras de Purkinje.
• Epicárdico: O epicárdio (pericárdio visceral)
consiste em uma serosa: tecido conjuntivo frouxo
coberto por epitélio simples pavimentoso, o
mesotélio. O tecido conjuntivo frouxo contém
fibras elásticas, vasos sanguíneos e linfáticos e
fibras nervosas e adipócitos.
• Miocárdio: músculo estriado cardíaco, podendo
ser diferenciado principalmente pelos discos
intercalares.

27
EJEÇÃO DE SANGUE DOS VENTRÍCULOS • Pré-carga: pressão diastólica total quando o
DURANTE A SÍSTOLE ventrículo está cheio. “Grau de tensão no músculo
• Período de contração isométrica: aumento de quando ele começa a contrair”.
tensão no VE e VD sem alteração de volume. • Pós-carga: pressão na aorta à saída do ventrículo.
• Período de ejeção: pressão no VE chega a 80 “Carga contra a qual o músculo exerce sua força
mmHg e no VD, 8 mmHg. Suficiente para abrir contrátil”. Seria a força contra a valva aórtica.
as válvulas semilunares.
• Período de relaxamento isométrico: REGULAÇÃO DO BOMBEAMENTO CARDÍACO
relaxamento dos ventrículos diminui a pressão e
o sangue nas artérias fecha as valvas arteriais. Mecanismo de Frank-Starling: o coração bombeia
o sangue à medida que o retorno venoso “entrega”
OBS.: Volume diastólico final é a quantidade de mais sangue. Logo, consegue se adaptar ao volume
sangue que fica nos ventrículos após a diástole, crescente de entrada dentro de seus limites
aprox. 110 ou 120 mL. Débito sistólico é o que sai fisiológicos.
do ventrículo no final da sístole (cerca de 70mL).
Volume sistólico final é o que sobra dessa saída, o
INERVAÇÃO SIMPÁTICA E PARASSIMPÁTICA
que equivale de 40 a 50 mL.

SONS OUVIDOS NA AUSCULTA


O primeiro som, ou primeira bulha, é decorrente
do fechamento da valva A-V no final da sístole
dos ventrículos. A segunda bulha pode ser ouvida
em decorrência do fechamento das valvas
pulmonares e aórticas. Os sons ocorrem por causa
da vibração decorrente da variação súbita de
pressão nas valvas.

PRESSÃO X VOLUME NO CORAÇÃO

Guyton – Fisiologia 13ºEd.


Por ação simpática, os batimentos cardíacos podem
ser aumentados em até 100% por ação simpática ou
diminuir até quase zero por estímulo vagal
(parassimpático).

EXCITAÇÃO RÍTMICA DO CORAÇÃO

O coração funciona com um sistema coordenado de


impulsos elétricos que são gerados nos nodos e são
transmitidos por toda sua extensão de forma rápida,
de modo que os átrios se contraiam um sexto de
segundo antes dos ventrículos.

Partes funcionais:
Guyton – Fisiologia 13ºEd.
• Nodo sinusal (S-A);
• Nodo atrioventricular (A-V);

28
• Feixe A-V;
• Ramos esquerdo e direito de fibras de Purkinje. O nó SA controla a ritimicidade do coração, isso
porque sua frequência de despolarização é muito
maior do que a do nó AV e que as fibras de
purkinge. Deste modo ele controla o batimento
cardíaco funcionando como marcapasso do
coração.

O nodo atrioventricular autua retardando o


impulso nervoso providos do nodo sinusal, de
forma que apenas estimule os ventrículos após o
relaxamento dos átrios. O nodo A-V está situado na
parede posterior do átrio direito, imediatamente
atrás da valva tricúspide.

A condução lenta, nas fibras transicionais, nodais e


do feixe penetrante A-V, é explicada em grande
Guyton – Fisiologia 13ºEd.
parte pelo reduzido número de junções
comunicantes (gap junctions) entre as sucessivas
O nodo sinusal está localizado na parede células das vias de condução, de modo que existe
posterolateral superior do átrio direito e suas fibras grande resistência para a passagem de íons
têm cerca de 3 a 5µm de diâmetro. Essas fibras se excitatórios de uma fibra condutora para a próxima.
conectam por toda a parede atrial, fazendo com que Desse modo, é fácil perceber por que cada célula é
qualquer potencial de ação gerado se difunda sucessivamente mais lenta em sua ativação.
rapidamente por toda a parede atrial. A fibra sinusal
tem negatividade de aproximadamente −55 a −60
milivolts, comparada com −85 a −90 milivolts da
fibra muscular ventricular.

Obs.: Guyton p.387 – Canais iônicos funcionam de


forma diferente.

Autoexcitação do nodo sinoatrial: Os canais


iônicos que participam na formação do potencial de
ação são: canais rápidos de sódio, canais lentos de
cálcio-sódio e os canais de potássio. Normalmente,
a ritimicidade auto excitatória acontece com a
abertura dos canais rápidos de sódio. Com essa
abertura o potencial se inicia. O platô do potencial
de ação então é alcançado pela abertura dos canais
lentos de cálcio-sódio e por fim os canais de
potássio restabelecem o potencial de repouso. No
nó SA há uma diferença: a negatividade é tão Guyton – Fisiologia 13ºEd.
menor que inativa os canais rápidos de sódio. O nodo sinusal controla o batimento porque sua
Apenas os canais lentos são abertos, tornando o despolarização acontece antes do nodo
potencial de ação mais lento que nos ventrículos. atrioventricular ou as fibras de Purkinje atingirem

29
seu potencial de despolarização. Logo, seu ciclo se porções do coração. Também, aumenta a força de
sobrepõe ao dos outros tecidos autoexcitáveis. contração tanto dos átrios como dos ventrículos.

SÍNDROME DE STOKES-ADAMS. A norepinefrina ativa os receptores adrenérgicos


beta 1, que agem como mediadores do efeito sobre
Quando há um bloqueio do sinal A-V, e o nó
a frequência cardíaca. O mecanismo ainda não é
sinusal atua normalmente nos átrios, enquanto um
bem entendido, mas acredita-se que seja por meio
outro marcapasso (nodo A-V ou feixe Purkinje)
do aumento à permeabilidade ao cálcio e ao sódio.
atua nos ventrículos. A diferença de tempo de
Esse aumento, torna o potencial de repouso mais
excitação causa um atraso (de 5 a 20 segundos) no
positivo, facilitando a contração e acelerando o
fluxo bombeado, que pode levar a desmaios ou, em
processo do ciclo.
casos mais severos, morte.
No nodo A-V e nos feixes A-V, o aumento da
Obs.: A velocidade de condução é maior nos feixes
permeabilidade facilita a condução sucessiva por
atriais, seguido pelos feixes de Purkinje e depois
diminuição do tempo em repolarização.
pelo feixe de His.
ELETROCARDIOGRAMA NORMAL
AÇÃO DO SISTEMA PARASSIMPÁTICO
NO CONTROLE CARDÍACO O eletrocardiograma (ECG) mede a variação de
potencial elétrico gerado pelo fluxo de corrente em
A acetilcolina tanto diminui a frequência do nó
tecidos próximos ao coração em virtude da corrente
sinusal quanto também diminui a excitabilidade das
gerada pelos nodos. Isso pode ser medido com
fibras juncionais A-V. Um estimulo leve a
eletrólitos na pele em regiões opostas do coração.
moderado pode diminuir a frequência cardíaca pela
metade. Um estímulo intenso pode causar parada
do nodo sinoatrial ou impedir a condução do sinal
para os ventrículos. Nessa situação, cerca de 5 a 20
segundos depois, os feixes de Purkinje iniciam a
contração muscular a um ritmo de cerca de 15 a 40
batimentos por minuto. Isso é chamado de escape
ventricular.

A acetilcolina age aumentando a permeabilidade da


membrana aos íons K+, fazendo com que haja saída
Guyton – Fisiologia 13ºEd.
rápida desse para fora das fibras, o que diminui
muito a negatividade delas. Isso causa a -A onda P representa quando os átrios estão cheios
hiperpolarização, o que dificulta sua excitação. O de sangue, o nódulo SA dispara, sinais elétricos
potencial sai de -55 a -65mV para cerca de -65 a propagam-se através dos átrios e os levam a se
-75mV. despolarizar;

- A onda Q corresponde à despolarização do septo


AÇÃO DO SISTEMA SIMPÁTICO NO
interventricular
CONTROLE CARDÍACO
- A onda R é produzida pela despolarização da
A estimulação simpática aumenta a frequência de
massa principal dos ventrículos
descargas do nodo sinusal, aumenta a velocidade de
condução e aumenta a excitabilidade em todos as

30
- A onda S representa a última fase da CORAÇÃO HIPO E HIPERFEFICAZ
despolarização ventricular na base do coração.
CORAÇÃO HIPEREFICAZ
- A repolarização atrial também ocorre durante este
tempo, mas o sinal é ofuscado pelo grande Um coração hipereficaz pode o ser por inibição
complexo QRS. parassimpática, estimulação simpática ou por
hipertrofia cardíaca.
-A onda T representa a repolarização dos
ventrículos imediatamente antes do relaxamento CORAÇÃO HIPOEFICAZ
ventricular, ou diástole ventricular.
Fatores que contribuem para um coração
ELETROCARDIOGRAMAS ANORMAIS hipoeficaz:

-Taquicardia: alta frequência cardíaca. • Aumento da pressão arterial contra a qual o


coração deve bombear, como na hipertensão
-Bradicardia: batimentos lentos e espaçados. Pode grave.
ser causada por estimulação parassimpática. Na • Inibição da estimulação nervosa do coração.
síndrome do seio carotídeo, os receptores de • Fatores patológicos que causem ritmo cardíaco
pressão (barorreceptores) na região do seio anormal ou frequência anormal dos batimentos
carotídeo das paredes da artéria carótida são muito cardíacos.
sensíveis e, qualquer estimulo pode causar reflexo • Obstrução da artéria coronária, causando “ataque
cardíaco”.
vagal da acetilcolina no coração.
• Valvulopatia.
-Arritmia sinusal: alteração considerável da • Cardiopatia congênita.
frequência cardíaca na inspiração profunda. Esse • Miocardite, inflamação do músculo cardíaco.
• Hipoxia cardíaca.
problema pode decorrer em consequência de
distúrbios que alterem as forças dos sinais Toda substância química que afeta a contratilidade
simpáticos e parassimpáticos para o nodo sinusal é chamada de agente inotrópico, e sua influência é
do coração. chamada de efeito inotrópico. Se uma substância
química aumenta a força de contração, ela possui
DÉBITO CARDÍACO, RETORNO VENOSO E um efeito inotrópico positivo. Por exemplo, as
REGULAÇÃO catecolaminas adrenalina e noradrenalina.

Débito cardíaco: quantidade de sangue bombeado Um agente dromotrópico positivo é aquele que
para a aorta a cada minuto pelo coração. aumenta a velocidade de condução no nó
auriculoventricular, e, posteriormente, a taxa de
Retorno venoso: quantidade de sangue que flui das impulsos elétricos no resto do coração. Negativo
veias para o interior do átrio direito por minuto. tem o efeito oposto, diminuindo a condutividade.

VALORES NORMAIS PARA O DÉBITO CARDÍACO Cronotropismo é um efeito que algumas


substâncias tem sobre o ritmo cardíaco, fazendo
• Homens jovens e saudáveis: 5,6 L/min
com que ele acelere.
• Mulheres: 4,9 L/min

Obs.: O valor tende a diminuir com a idade. CONTROLE DO DÉBITO CARDÍACO


Resumindo, o débito cardíaco é determinado,
usualmente, pela soma de todos os vários fatores
orgânicos que controlam o fluxo sanguíneo local.

31
Todo o sangue local flui para formar o retorno que representa, em valores aproximados, 4% a 5%
venoso, e o coração automaticamente bombeia esse do débito cardíaco total.
sangue de volta para as artérias, para fluir de novo
pelo sistema. Também, além das artérias coronárias epicárdicas,
existem também as artérias subendocárdicas.
A aplicação de dinitrofenol (usado, antigamente
para emagrecimento, atua como desacoplador da O METABOLISMO LOCAL É O PRINCIPAL
cadeia de elétrons) acelera o metabolismo tecidual, CONTROLADOR DO FLUXO CORONARIANO
elevando o débito cardíaco. O sistema nervoso O fluxo sanguíneo pelo sistema coronariano é
autônomo age controlando a queda de pressão controlado principalmente pela vasodilatação
causada pela vasodilatação dos vasos. arteriolar locar em resposta às necessidades
Condições que aumentam o débito cardíaco e nutricionais do músculo cardíaco. A demanda da
diminuem a resistência periférica: circulação coronariana está ligado principalmente à
-Beribéri atividade do coração.
-Fístula arteriovenosa O fluxo sanguíneo pelas artérias coronárias é, em
-Hipertireoidismo geral, regulado quase precisamente de acordo às
-Anemia demandas de oxigênio da musculatura cardíaca.
CIRCULAÇÃO CORONARIANA Uma hipótese para isso é que a baixa de oxigênio
faz com que substâncias vasodilatadoras sejam
O suprimento sanguíneo coronário depende da liberadas na circulação, à exemplo da adenosina,
artéria coronária esquerda (porções anterior e dos íons potássio, hidrogênio, dióxido de carbono,
lateral esquerda do ventrículo esquerdo) e da prostaglandinas e óxido nítrico.
artéria coronária direita (maioria do ventrículo
CONTROLE NERVOSO
direito e parte posterior do ventrículo esquerdo).
A estimulação dos nervos autonômicos para o
A maior parte do fluxo venoso retorna ao átrio coração pode afetar o fluxo sanguíneo coronariano,
direito por meio do seio coronariano. Entretanto, a de modo direto e indireto. Os efeitos diretos
resultam da ação das substâncias transmissoras
maior parte do retorno venoso do músculo
nervosas, a acetilcolina dos nervos vagos e a
ventricular direito retorna ao átrio direito por meio norepinefrina dos nervos simpáticos, nos vasos
de pequenas veias anteriores. Uma quantidade coronarianos. Os efeitos indiretos resultam de
menor de sangue é escoada pelas veias tebesianas. alterações secundárias no fluxo sanguíneo
coronariano, causadas por aumento ou diminuição
A CIRCULAÇÃO da atividade do coração, sendo que, geralmente,
estão relacionados ao controle da circulação
normal.

Um detalhe importante é que a ação do sistema


simpático ou parassimpático depende mais dos
receptores do que dos transmissores, já que esses
podem agir tanto para contração quanto para
dilatação a depender do respectivo receptor. Os
receptores alfa estão ligados à constrição, enquanto
os beta à dilatação.

Outra peculiaridade é que o coração usa


Guyton – Fisiologia 13ºEd. principalmente triacilgliceróis para obtenção de
O fluxo sanguíneo coronariano normal nos seres energia e, na ausência de oxigênio, utiliza a
humanos é, em média, cerca de 70 mL/min/100 g glicólise anaeróbia como fonte de energia. O ácido
do peso do coração ou em torno de 225 mL/min, o

32
lático gerado corresponde à dor causada nos
quadros de isquemia cardíaca.

PRINCIPAIS CAUSAS DE MORTE (GUYTON P.803)


1. Oclusão coronariana aguda;
2. Débito cardíaco diminuído;
3. Acumulo de sangue nos vasos pulmonares –
morte por consequência de edema pulmonar;
4. Fibrilação do coração;
5. Ruptura do coração;
Obs.: Angina pectoris é a dor no coração.

REFERÊNCIAS

JUNQUEIRA, L.C.U. & CARNEIRO, J. Histologia


Básica. 11ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2008. 524p.

HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton &


Hall Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2017.

Videoaulas:

https://www.youtube.com/watch?v=5hNLAOI22eo

https://www.youtube.com/watch?v=PIyfkR7RNa4

33
vasoconstritoras e cardioaceleradoras do sistema
PROBLEMA 2.3 nervoso simpático são estimuladas
simultaneamente. Ao mesmo tempo, ocorre a
MECANISMOS DE CONTROLE DA P.A. inibição recíproca de sinais inibitórios
parassimpáticos vagais para o coração.

OBS.: A ação simpática ocorre principalmente nos


grandes vasos, sendo que os capilares não recebem
terminações nervosas.

Assim, três modificações complementares são


esperadas:

1. A grande maioria das arteríolas da circulação


sistêmica se contrai, o que aumenta muito a
resistência periférica total, elevando a pressão
arterial.
2. As veias em especial se contraem fortemente
(embora os outros grandes vasos da circulação
também o façam).
3. Por fim, o próprio coração é diretamente
estimulado pelo sistema nervoso autônomo,
aumentando ainda mais o bombeamento cardíaco.

Durante o exercício físico, além do aumento da


circulação por questões de aumento de
metabolismo, a ação simpática tem muita
importância no aumento da P.A., resultando em
quase o dobro de fluxo sanguíneo.

Também, existem outros mecanismos de


regulação, principalmente por feedback negativo:

SISTEMA BARORRECEPTOR
O reflexo barorreceptor é composto por um sistema
de receptores de estiramento dos vasos, que indica
ao SNC uma necessidade de abaixar a pressão. O
barorreceptor é uma terminação nervosa em
formato de buquê. São muito abundantes nas
paredes da carotídea interna, de forma que saem por
meio dos nervos de Hering para os nervos
glossofaríngeos na região cervical superior e daí
Guyton – Fisiologia 13ºEd.
para o núcleo do trato solitário. Esses nervos
CONTROLE RÁPIDO também são chamados de nervos tampão por
agirem como um sistema de tamponamento
pressórico.
Um dos principais papeis do sistema nervoso é a
regulação rápida da pressão arterial por meio de
aumentos de P.A.. Para isso, todas as funções

34
fibras nervosas que passam, junto as dos
barorreceptores, pelos nervos de Hering e nervos
vagos, em direção ao centro vasomotor. Cada um
desses corpos recebe sangue arterial por meio de
uma pequena artéria, de forma que atue sempre que
a pressão cai a níveis inferiores a 80mmHg – uma
baixa P.A. indica um estado em que a quantidade
de oxigênio é baixa no sangue e os níveis de
hidrogênio e dióxido de carbono aumentam.

RECEPTORES DE BAIXA PRESSÃO

Guyton – Fisiologia 13ºEd. Os átrios e as artérias pulmonares possuem, em


Depois que os sinais dos barorreceptores chegaram suas paredes, sensores de estiramento. Sua
ao núcleo do trato solitário do bulbo, sinais principal função é controlar a variação de pressão
secundários inibem o centro vasoconstritor bulbar em resposta à alteração de volume sanguíneo.
e excitam o centro parassimpático vagal. Os efeitos
finais são (1) vasodilatação das veias e das Além disso, o estiramento dos átrios causa
arteríolas em todo o sistema circulatório periférico; dilatação reflexa significativa das arteríolas
e (2) diminuição da frequência cardíaca e da força aferentes renais. Paralelamente, sinais são
da contração cardíaca. Desse modo, a excitação
transmitidos para o hipotálamo, para diminuir a
dos barorreceptores por altas pressões nas artérias
provoca a diminuição reflexa da pressão arterial secreção do hormônio antidiurético (ADH). Isso
devido à redução da resistência periférica e do faz com que haja diminuição na reabsorção de água
débito cardíaco. Ao contrário, a baixa pressão tem nos túbulos renais enquanto há maior filtração de
efeitos opostos, provocando a elevação reflexa da líquido por causa do aumento na pressão capilar
pressão de volta ao normal. glomerular. O átrio também desencadeia outro
efeito hormonal nos rins, em virtude do peptídeo
Um outro detalhe é que o sistema barorreceptor
evita desmaios por alteração de pressão ao se natriurético atrial. Isso faz com que mais água seja
levantar muito rápido de uma posição em que a eliminada na forma de urina.
cabeça está ao nível horizontal do resto do corpo.
REFLEXO DE BAINBRIDGE
Obs.: O sistema barorreceptor não é considerado
muito importante à longo prazo porque pode se Os receptores de estiramento dos átrios
reprogramar a níveis de pressão a que são expostos desencadeiam o reflexo de Bainbridge transmitindo
por longo tempo. Logo, se o sistema for exposto a seus sinais aferentes por nervos vagos até o bulbo.
160mmHg por muito tempo, esse pode se tronar o Em seguida, os sinais aferentes são transmitidos de
novo valor de referência para o sistema. volta pelos nervos vagos e simpáticos, aumentando
a frequência cardíaca e a força de contração. Isso
SISTEMA QUIMIORRECEPTOR
faz com que o sangue não se acumule nas veias, na
Os quimiorreceptores são células sensíveis à alta de circulação pulmonar e nos átrios.
dióxido de carbono e íons hidrogênio ou baixa de
oxigênio. Estão presentes, na forma de pequenos RESPOSTA ISQUÊMICA DO SNC
órgãos quimiorreceptores de cerca de 2mm. Dois
Quando o fluxo sanguíneo no centro vasomotor no
corpos carotídeos estão localizados na bifurcação
tronco encefálico diminui ao ponto do
de cada artéria carótida e um a três corpos aórticos
comprometer a nutrição das células nervosas, os
subjacentes à aorta. Os quimiorreceptores excitam

35
neurônios vasoconstritores e cardioaceleradores ONDAS RESPIRATÓRIAS NA PRESSÃO ARTERIAL
respondem de modo direto à isquemia, ficando
A pressão sofre variação de 4 a 5mmHg por ciclo
fortemente excitados. Isso faz com que a pressão
respiratório. Essas ondas ocorrem devido a vários
arterial sistêmica se eleve a níveis máximos.
efeitos diferentes, inclusive reflexos, dentre eles:
Acredita-se que isso ocorre porque a circulação
lenta não é capaz de eliminar os níveis de dióxido 1. Muitos dos “sinais respiratórios”, produzidos
de carbono do centro motor do tronco encefálico. O pelo centro respiratório do bulbo, “extravasam”
grau de constrição é tão alto que alguns vasos para o centro vasomotor a cada ciclo respiratório.
periféricos ficam quase ou totalmente obstruídos.
2. Cada vez que a pessoa inspira, a pressão na
Apesar de atingir valores próximos a 250mmHg cavidade torácica fica mais negativa, fazendo com
quando ativado, esse mecanismo só se torna que os vasos sanguíneos no tórax se expandam.
eficiente abaixo de níveis de 60mmHg ou menos, Isso reduz a quantidade de sangue que retorna para
o lado esquerdo do coração, e, assim, diminui
como por exemplo 15 ou 20mmHg, que é a faixa de
momentaneamente o débito cardíaco e a pressão
melhor atuação. Logo, só é ativado quando o arterial.
organismo está próximo de atingir o valor letal,
atuando, portanto, como um “último recurso”. 3. As variações da pressão causadas nos vasos
torácicos pela respiração podem excitar receptores
REAÇÃO DE CUSHING de estiramento vasculares e atriais.
Um tipo especial de resposta isquêmica resultante
do aumento da pressão do líquido ONDAS VASOMOTORAS (ONDAS DE MAYER)

cefalorraquidiano (LCR) ao redor do cérebro na


caixa craniana. Quando o LCR aumenta até se Variações de 10 a 40mmHg no ciclo de pressão em
detrimento da “oscilação reflexa” causada por um
igualar à pressão arterial, ocorre a compressão de
ou mais mecanismos de regulação da pressão.
todo o cérebro, que causa o início do processo
isquêmico. Isso faz com que a P.A. se eleve até Reflexo Barorreceptor: a alta pressão ativa os
assumir valores superiores ao LCR, permitindo o barorreceptores que induzem a diminuição da
reestabelecimento do fluxo no encéfalo. pressão em alguns segundos. Dessa forma, o
sistema vasomotor é novamente ativo, elevando a
CARACTERÍSTICAS ESPECIAIS DO CONTROLE pressão.
NERVOSO DA PRESSÃO ARTERIAL
Reflexo Quimiorreceptor: atua junto do reflexo
-Reflexo da compressão abdominal: a contração barorreceptor quando as pressões estão entre 40 e
muscular abdominal provoca a compressão dos 80mmHg.
reservatórios venosos do abdome, ajudando a
translocar o seu sangue para o coração, que passa a O PAPEL DOS RINS NO CONTROLE A LONGO
dispor de mais sangue para bombear. PRAZO DA PRESSÃO ARTERIAL E NA
HIPERTENSÃO: O SISTEMA INTEGRADO DE
-Aumento do débito cardíaco causado por
REGULAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL
atividade da musculatura esquelética: durante o
exercício físico, os vasos são comprimidos. Isso faz O sistema renal é importante principalmente na
com que os vasos periféricos mandem mais sangue homeostasia dos líquidos corporais, podendo
para o pulmão e para o coração. Em consequência demorar semanas a meses.
disso, há um aumento de cerca de cinco a sete vezes
no débito cardíaco.

36
SISTEMA RIM-LÍQUIDOS COPORAIS PARA O Quando a resistência periférica se eleva, por
CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL exemplo, a pressão arterial sobe consideravelmente
de imediato. Entretanto, se os rins estiverem
Numa hipótese em que a quantidade de líquidos funcionando, essa elevação não se manterá e em
corporais aumenta sem que haja aumento cerca de um dia a pressão será reestabelecida. Isso
proporcional na capacitância dos vasos, a pressão ocorre porque o aumento da PA não altera o ponto
arterial se eleva e os rins excretam mais líquido, de equilíbrio do controle de pressão, exceto nos
normalizando a pressão. No ser humano o controle rins. Nesse contexto, eles começam a excretar água
e sal, e, após algumas horas, grandes quantidades
fino da quantidade de água eliminada é chamado de de água e sal foram eliminadas do corpo.
diurese de pressão, enquanto o de sal eliminado é
chamado natriurese de pressão.

Quando a ingestão de água e sal se equilibra com a


excreção, temos então o ponto de equilíbrio. Além
do mecanismo descrito, se destacam dois
determinantes para o controle arterial a longo
prazo:

1. O grau de desvio da pressão na curva do


débito renal de água e sal.
2. O nível da ingestão de água e sal.

ANGIOTENSINA E ALDOSTERONA NA REGULAÇÃO


DA PRESSÃO

A pressão arterial elevada diminui a ação do


sistema autônomo simpático e de vários hormônios,
como a aldosterona e a angiotensina II, que tendem
a reduzir a excreção renal de sal e água. A atividade
reduzida desses sistemas antinatriuréticos,
amplifica a eficácia da natriurese e da diurese de
pressão no aumento da excreção de água e sal
durante os aumentos crônicos de pressão arterial.

Inversamente, quando a pressão arterial é reduzida, Linda – Fisiologia 5ªEd.


o sistema nervoso simpático é ativado, e a formação
de hormônios antinatriuréticos é aumentada, IMPORTÂNCIA DO SAL (NACL) NO ESQUEMA RIM-
somando-se ao efeito direto na redução da pressão LÍQUIDOS CORPORAIS
de diminuir o débito renal de água e sal. Essa
combinação de efeitos diretos da pressão nos rins e Quando a quantidade de sal extracelular se eleva,
efeitos indiretos da pressão no sistema nervoso os efeitos na elevação da pressão arterial são mais
simpático, bem como em vários sistemas relevantes dos que as causadas pela ingestão
hormonais, tornam a natriurese e a diurese da contínua de água. Isso ocorre porque não só a
pressão extremamente potentes no controle de quantidade extracelular de sal aumenta a
longa duração da pressão arterial e do volume dos osmolalidade do meio e isso faz com que o centro
líquidos corporais. de sede do encéfalo faça a pessoa ingerir mais água.

37
Outro motivo é que o aumento da osmolalidade
também estimula o mecanismo secretor do
hipotálamo-hipófise anterior, que passa a liberar
maior quantidade de ADH (hormônio
antidiurético). O rim, então, passa a absorver mais
água pelos túbulos renais, diminuindo a quantidade
de urina e aumentando a quantidade de líquido
extracelular.

A HIPERTENSÃO CRÔNICA (PRESSÃO SANGUÍNEA


ALTA) É CAUSADA PELO DÉFICIT DA FUNÇÃO RENAL

A prova de que o rim é importante na relação da PA


com o déficit da função renal é o experimento da
hipertensão por sobrecarga de volume. Quando os
rins estão funcionando abaixo do ideal, ingestões
salinas passam a influenciar, de forma muito mais Imagem meramente ilustrativa de um néfron
potente, a pressão arterial. Cães com massa renal
SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA
reduzida por um experimento, tiveram sua pressão
elevada em apenas 6mmHg. A renina é uma enzima proteica liberada pelos rins
quando a pressão atinge valores muito baixos. A
Entretanto, ao receberam uma solução salina
(0,9%) ao invés de água, ingeriram cerca de duas a renina é sintetizada na forma não ativa, a pró-
quatro vezes o volume normal e, após alguns dias, renina nas células justaglomelares (células JG) dos
a pressão se elevou em cerca de 40mmHg. Após rins. Essas células são células musculares lisas
duas semanas, os cães receberam água normal ao modificadas, situadas pincipalmente nas paredes
invés da solução e, rapidamente, a pressão se das arteríolas aferentes imediatamente proximais
regularizou. aos glomérulos.
Isso ocorre porque a diminuição da capacidade
renal a 30%, faz com que a água e o sal não sejam
corretamente excretados. Assim, eles ficam
acumulados no corpo e, ao longo dos dias, elevam
a pressão arterial até o nível suficiente para excretar
o excesso ingerido de água e sal.

OBS.: Ler a pag. 706 do Guyton 13° ed.

Só para não deixar passar em branco, o ADH age


na reabsorção de água direto no ducto coletor por
meio da quantidade de aquaporina na membrana,
enquanto a aldosterona age na reabsorção de sódio
na porção ascendente da alça de Henle e, em
consequência, acaba aumentando a reabsorção de
água. Isso é importante, porque o excesso de
aldosterona circulante pode causar hipertensão.

Linda – Fisiologia 5ªEd.

38
Essas enzimas são importantes pois são DISTENSIBILIDADE: O quanto um vaso pode
responsáveis pela conversão de angiotensinogênio acomodar de volume de sangue a mais para cada
(ou, substrato de renina) em angiotensina I. Essa 1mmHg que sobe.
substância é clivada e forma a angiotensina II, um
potente vasoconstritor que age de duas formas
principais, elevando a P.A.:

1) Vasoconstrição em várias partes do corpo.


Acontece, de forma intensa, em arteríolas e COMPLACÊNCIA: O quanto de volume aumenta
em veias, de forma menos intensa. A pra cada 1mmHg a mais na pressão.
constrição nas arteríolas aumenta a
resistência periférica total, enquanto a
constrição venosa aumenta o retorno para o
coração, aumentando o débito cardíaco e
elevado a pressão. Ocorre porque a
angiotensina II estimula as suprearrenais a
liberarem aldosterona.
2) Diminuição da excreção de água e sal
pelos rins. Isso eleva lentamente o volume
de líquido extracelular, o que aumenta a
pressão arterial durante os dias e horas
subsequentes. A angiotensina aumenta a
constrição das arteríolas renais, o que
diminui a pressão nos capilares e facilita a
absorção de líquido pelos túbulos.

Um fato é que esse sistema é bem mais lento do que


a resposta do sistema nervoso e simpático
adrenalina-norepinefrina, sendo que demora cerca
de 20 minutos para começar a agir.

REFERÊNCIAS

HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton &


Hall Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2017.

39
PROBLEMA 3
SISTEMA RESPIRATÓRIO

O sistema respiratório é extremamente importante


no que se refere à manutenção energética –
disponibilização de oxigênio para o corpo e
eliminação de dióxido de carbono para o meio.

ANATOMIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO

Os principais componentes do sistema respiratório


são:

Nariz: composto por nariz externo (que abrange


toda a parte externa, inclusive cartilaginosa),
cavidade nasal (abertura dividida e duas partes pelo
septo nasal e a abertura se chama abertura
piriforme) e seios paranasais (partes ocas em
alguns ossos da face, como por exemplo: o
etmoide, frontal e o esfenoide).

Figura representativa do nariz (Netter) Faringe: Tubo muscular associado a dois sistemas:
respiratório e digestivo. É subdividido em três
porções principais: a parte nasal (ligada pelas
coanas), a parte bucal (ligada pelo istmo da
garganta) e a parte laríngica (situada
posteriormente ao esôfago.

Laringe: Órgão tubular, situado no plano mediano


e anterior ao pescoço que, além de conduzir o ar
também serve para produzir o som da voz.

Netter

Google imagens

40
O osso hioide se localiza superior à cartilagem
tireoide. A cartilagem tireoide é composta por duas
lâminas que se unem anteriormente formando um
“V”. A cartilagem cricoide é ímpar e tem a forma
de um anel de sinete, situando-se inferiormente à
cartilagem tireoide. Superior à cartilagem cricoide,
se localizam duas estruturas em formato de
pequenas pirâmides triangulares cujas bases
articulam-se com a cricoide, a cartilagem
aritenoide. Posteriormente à cartilagem tireoide e à
raiz da língua, se encontra a cartilagem epiglótica,
ímpar e fina, se localiza mediana e possui formato
que lembra uma folha peciolada. Embora seja um tubo mediano, a traqueia sofre um
ligeiro desvio para a direita próximo a sua
extremidade inferior, antes de se dividir nos dois
brônquios principais, o direito e o esquerdo. Esses
possuem uma estrutura muito semelhante à traqueia
e também são denominados brônquios de primeira
ordem. Cada um deles dá origem aos brônquios
lobares, ou brônquios de segunda ordem, que
ventilam os lobos pulmonares. Nos lobos, se
dividem em brônquios segmentares ou brônquios
Dangelo e Fattini
de terceira ordem. Logo, se dividem ainda mais
vezes até chegarem aos alvéolos pulmonares.
A cavidade da laringe, quando cortada
sagitalmente, apresenta uma fenda anteroposterior, Pleura e o Pulmão: os pulmões, direito (com três
que delimita uma pequena evaginação, o ventrículo lobos) e esquerdo (com dois lobos), estão contidos
da laringe. Os limites dessa evaginação são, na caixa torácica e entre eles há uma região
superiormente, a prega vestibular e inferiormente, mediana chamada mediastino, ocupada pelo
a prega vocal. A região logo acima das pregas coração, grandes vasos e seus ramos proximais, o
vestibulares é denominada vestíbulo, que se estende esôfago, parte da traqueia e brônquios principais,
até o seu orifício de entrada, chamado ádito da além de nervos e linfáticos. Estão envoltos em um
laringe. O espaço entre as pregas vocais é saco seroso completamente fechado, a pleura, que
denominado rima glótica. é subdividida em pleura pulmonar, que envolve o
pulmão, e pleura parietal, que recobre a face
Traqueia e Brônquios: a traqueia situa-se após a interna da parede do tórax. Entre essas duas
laringe, possuindo formato cilindroide e pleuras, se encontra um espaço virtual, a cavidade
constituído por uma série de anéis cartilaginosos da pleura, que contém uma quantidade capilar de
incompletos em forma de “C”, sobrepostos entre si líquido, para facilitar o deslizamento durante o
e ligados pelos “ligamentos anulares”. A parede processo respiratório como um todo. O ponto em
posterior, desprovida de cartilagem, está ligada à que os brônquios, vasos e nervos entram nos
parede muscular do esôfago e é composta por pulmões é denominado hilo.
músculo liso, sendo chamada de parede
membranácea da traqueia.

41
HISTOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO Também, existe a células granulares, que se
assemelham à célula basal e provavelmente fazem
A maior parte da porção condutora é revestida por
parte do sistema neuroendócrino.
epitélio ciliado pseudoestratificado colunar com
muitas células caliciformes, denominado epitélio
FOSSAS NASAIS
respiratório.
Nas fossas nasais, a abertura mais anterior e
dilatada é chamada de vestíbulo. Sua mucosa é
composta pela continuação do tecido epitelial da
pele. Porém, o epitélio estratificado pavimentoso
da pele logo perde a camada queratinizada e o
tecido conjuntivo da pele dá origem à lâmina da
própria mucosa.

A área respiratória compreende a maior parte das


fossas nasais e a mucosa dessa área é composta por
epitélio pseudoestratificado colunar ciliado, com
Junqueira e Carneiro muitas células caliciformes. Nesse local se
O epitélio respiratório típico consiste em cinco encontram diversas glândulas mistas (serosas e
tipos celulares, identificáveis ao microscópio mucosas), cuja secreção é lançada na superfície do
eletrônico. epitélio. Esse muco captura microrganismos e
partículas inertes e os movimentos ciliares
O tipo mais abundante é a célula colunar ciliada “empurram” esses elementos para o exterior. Ao
(cada uma contem cerca de 300 cílios) e embaixo passar pelas conchas nasais, que são altamente
da membrana basal dos cílios há inúmeras vascularizadas, o ar é aquecido e umedecido,
mitocôndrias, que fornecem ATP para os enquanto é filtrado na porção mais anterior do trato
batimentos ciliares. respiratório.

Em segundo lugar, se encontram as células A área olfatória é uma porção localizada


caliciformes, responsáveis pela produção de muco superiormente nas fossas nasais e é revestida pelo
(glicoproteico). epitélio olfatório, que contém quimiorreceptores da
olfação. Este é um neuroepitélio colunar
As demais colunares são conhecidas como células
pseudoestratificado formado por três tipos
em escova, por causa dos numerosos microvilos
celulares:
existentes em seus ápices, e são consideradas
receptores sensoriais por causa das terminações As células de sustentação são prismáticas e mais
nervosas aferentes presentes em suas bases. largas em seu ápice e estreitas em sua base e
apresentam, em seu ápice, microvilos que se
Existem também as células basais, que são
projetem para dentro da camada de muco que
pequenas e arredondadas e estão posicionadas
recobre o epitélio.
também na lâmina basal. São células-tronco
responsáveis por dar origem aos demais tipos As células basais são pequenas, arredondadas, e
celulares do epitélio respiratório. situam-se na região basal do epitélio, entre as
células olfatórias e as de sustentação; são as
células-tronco (stein cells) do epitélio olfatório.

42
As células olfatórias são neurônios bipolares que NASOFARINGE
se distinguem das células de sustentação porque Primeira parte da faringe que é continuada
seus núcleos se localizam em uma posição mais caudalmente pela orofaringe (porção que se liga à
inferior. Suas extremidades (dendritos) apresentam boca) e são separadas pelo palato mole. Possui
dilatações elevadas, de onde partem 6 a 8 cílios, epitélio do tipo respiratório e a orofaringe possui
sem mobilidade, que são quimiorreceptores epitélio estratificado pavimentoso.
excitáveis pelas substâncias odoríferas. Seus
axônios se reúnem em pequenos feixes em direção
LARINGE
ao sistema nervosos central. Além de vasos e
nervos, nessa mucosa se encontram também Como descrito anteriormente, possui formato
glândulas ramificada túbulo-acinosas alveolares, as tubular e mantém seu formato por causa das
glândulas de Bowman (serosas). Os ductos dessas cartilagens. As cartilagens maiores (tireoide,
glândulas levam a secreção para a superfície cricoide e boa parte das aritenoides) são hialinas,
epitelial, criando uma corrente líquida contínua, enquanto as demais são do tipo flexível.
que limpa os cílios das células olfatórias, O revestimento epitelial não é uniforme por toda
facilitando o acesso de novas substâncias a faringe. Na face ventral e dorsal da epiglote, bem
odoríferas. como nas cordas vocais verdadeiras, o tecido é
estratificado pavimentoso não queratinizado, pois
estão mais sujeitos ao atrito. O restante da laringe é
do tipo respiratório, com cílios se movimentando
em direção à faringe. A lâmina própria é rica em
fibras elásticas e podem ser encontradas pequenas
glândulas mistas (ausentes nas pregas vocais).

Junqueira e Carneiro

SEIOS PARANASAIS

São revestidos por epitélio respiratório típico, que


se apresenta baixo e com poucas células
caliciformes. A lâmina própria possui apenas
algumas glândulas pequenas e é contínua com o
periósteo adjacente. Se comunicam com as fossas
nasais por pequenos orifícios e o muco produzido é
drenado para as fossas nasais pelas células ciliadas.

43
A traqueia é revestida externamente por tecido Nos bronquíolos, não há cartilagem, glândulas ou
conjuntivo frouxo, constituindo a camada nódulos linfáticos (BALT- brônquio com acúmulo
adventícia, que liga o órgão aos tecidos adjacentes. de tecido linfático). O epitélio, no início, é
cilíndrico simples ciliado e passa a cúbico simples,
ÁRVORE BRÔNQUICA ciliado ou não na porção final. Em algumas regiões
A traqueia se ramifica em dois brônquios, em há neuro receptores colinérgicos que,
direção ao hilo pulmonar. Todas as estruturas que provavelmente, servem para identificação de gases
passam pelo hilo são revestidas por um tecido que chegam ao pulmão.
conjuntivo denso conhecido como raiz do pulmão. Nas porções terminais, apresenta mesma estrutura
Vale ressaltar que os brônquios primários possuem dos bronquíolos. Porém, com parede mais delgada.
a mesma estrutura da traqueia, e, quanto mais É revestida internamente por epitélio colunar baixo
avançam no pulmão, maior simplicidade ou cúbico, com células ciliadas e não ciliadas.
observada, com diminuição da altura do epitélio. Apresenta também as células de Clara, que
possuem grânulos apicais que servem para secretar
proteínas que protegem as células de determinados
poluentes inspirados.

Vale citar que nos ramos maiores, os brônquios


possuem a mesma estrutura da traqueia, enquanto
nos menores pode ser cilíndrico simples ciliado. Junqueira e Carneiro

Já os bronquíolos respiratórios apresentam


epitélio simples que varia de colunar baixo a
cuboide, podendo apresentar cílios e células de
Clara. O músculo liso e as fibras elásticas formam
uma camada ainda mais delgada do que a do
bronquíolo terminal.

Junqueira e Carneiro

44
FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO Os pulmões se movimentam na caixa torácica com
pouco atrito, já que não possuem ligações com elas.
VENTILAÇÃO PULMONAR Entre as pleuras, o líquido é drenado pelo sistema
linfático mantém leve a tração entre a superfície
Primeiramente, é necessário entender a ventilação
visceral da pleura e da parietal. Assim, os pulmões
pulmonar, que acontece mediante movimentos de
ficam presos na parede torácica e conseguem,
subida e descida do diafragma e por elevação e
quando necessário, deslizar livremente.
depressão das costelas para elevar e reduzir o
diâmetro anteroposterior da caixa torácica, sendo
que o primeiro meio é o que ocorre na respiração
normal. No segundo, a contração da musculatura
abdominal é responsável pela “força extra” (já que
o pulmão se esvazia basicamente por causa de sua
elasticidade e esta não é o suficiente para uma
expiração vigorosa).

Os principais músculos da inspiração são os


intercostais externos, auxiliados pelos músculos
esternocleidomastoideos (que elevam o esterno),
serráteis anteriores (que elevam muitas costelas) e
os escalenos (que elevam as duas primeiras
costelas). Disponível em:http://rca.fmrp.usp.br/wp-
content/uploads/sites/176/2017/06/Musculatura-Toracica-e-Controle-da-
Os principais músculos da expiração são o reto Ventila%C3%A7%C3%A3o.pdf

abdominal (que tem uma poderosa ação ao puxar


PRESSÃO PLEURAL E SUAS VARIAÇÕES
as costelas inferiores para baixo e, ao mesmo
tempo, em conjunto com outros músculos, A pressão pleural é a pressão do líquido dentro do
comprime o conteúdo abdominal em direção ao espaço entre as pleuras. Essa pressão é uma sucção
diafragma) e os intercostais internos. ligeira, de cerca de -5 centímetros de água, que é o
suficiente para manter os pulmões abertos no seu
nível de repouso. Durante a inspiração, a expansão
da caixa torácica traciona os pulmões fazendo com
que essa pressão chegue a -7,5 cm de água.

PRESSÃO ALVEOLAR

Quando a glote está aberta e não existe fluxo de ar,


a pressão em toda a árvore respiratória é de 0
centímetros de água. Durante uma inspiração
normal, a pressão nos alvéolos cai para -1cm de
água, que é suficiente para puxar 0.5L de ar para
dentro dos pulmões, nos 2 segundos necessários
para uma inspiração tranquila. Durante a expiração,
essa pressão sobre para +1cm de água, expulsando
Disponível em: http://cinesiomaua.blogspot.com/2013/12/respiracao.html esses 0,5L nos 2 a 3 segundos necessários.

45
PRESSÃO TRANSPULMONAR SURFACTANTE, TENSÃO SUPERFICIAL E COLAPSO
ALVEOLAR
É a diferença entre as pressões dos alvéolos e a
pleural. E pressão de retração é a força elástica A tensão superficial é a contração das moléculas
(causada principalmente pela elastina e pelo de água quando elas estão em contato com o ar.
colágeno) nos pulmões que tendem a colapsá-los Essa interação de atração entre as moléculas cria
em cada instante da respiração. uma película que garante, por exemplo, a formação
de uma gota de chuva.

No alvéolo, essa interação força o ar a sair do seu


lúmen em direção aos brônquios e isso faz com que
os alvéolos colapsem. O efeito global é o de causar
força contrátil de todo o pulmão que é referida
como força elástica de tensão superficial.

Já o surfactante é um agente ativo na superfície da


água – que age causando uma espécie de “bagunça”
na organização da película superficial, por meio de
diferentes dissoluções nessa película, o que
dificulta a interação efetiva entre as moléculas – e
age reduzindo a tensão superficial da água.

Nos alvéolos, são secretados pelas células epiteliais


alveolares tipo II. O surfactante é uma mistura
complexa de fosfolipídeos, proteínas e íons. Os
componentes mais importantes são o fosfolipídeo
dipalmitoilfosfatidilcolina, as apoproteínas
surfactantes e os íons cálcio.
Guyton – Fisiologia 13°Ed.
OBS.: Quanto menor o raio do alvéolo, mais ele
COMPLACÊNCIA PULMONAR
está suscetível à ação da força elástica da tensão
É o grau de extensão dos pulmões por cada superficial:
aumento de unidade da pressão transpulmonar (se
tempo suficiente for permitido para isso). A
complacência total dos dois pulmões juntos é de
200 mL de ar por centímetro de água de pressão
transpulmonar – uma unidade seria mL/cmH2O. Guyton – Fisiologia 13°Ed.

OBS 2.: A complacência torácica somada à do


pulmão é de 110 mL/cmH2O. Isso porque a caixa
torácica não permite que o pulmão se expanda da
mesma forma que seria caso estivesse isolado (no
caso, seria os 200 mL/cmH2O identificados na
seção “Complacência Pulmonar”.

Guyton

46
VOLUMES E CAPACIDADES PULMONARES 4. O volume residual é o volume de ar que fica
nos pulmões, após a expiração mais
Espirometria– “registro do movimento do volume forçada; esse volume é de cerca de 1.200
de ar para dentro e para fora dos pulmões”. mililitros.

Capacidades Pulmonares: Dois ou mais volumes


combinados para analisar o ciclo pulmonar.

Capacidade inspiratória (3,5L): volume corrente +


volume de reserva inspiratório.

Capacidade residual funcional (2,3L): volume de


reserva expiratório + volume residual.

Capacidade vital (4,6L): volume de reserva


Guyton – Fisiologia 13°Ed.
inspiratório + volume corrente + volume de reserva
expiratório.

Capacidade pulmonar total (5,8L): capacidade


total do pulmão.

VENTILAÇÃO ALVEOLAR

A ventilação alveolar descreve a velocidade e a


intensidade com que o ar “novo” alcança as regiões
mais distais do sistema respiratório.

Espaço morto: região que é preenchida por ar que


não chega à região de trocas gasosas. O ar dessa
região (que compreende nariz, faringe e traqueia) é
chamado de ar do espaço morto (cerca de 150 mL)
Guyton – Fisiologia 13°Ed. e é expirado primeiro durante a respiração.
1. O volume corrente é o volume de ar Intensidade da Ventilação alveolar (VA): é o
inspirado ou expirado, em cada respiração volume total de ar novo que entra nos alvéolos e
normal; é de cerca de 500 mililitros no
áreas adjacentes de trocas gasosas a cada minuto. É
homem adulto médio.
dada por:
2. O volume de reserva inspiratório é o
VA= Freq x (Vc – Vm)
volume extra de ar que pode ser inspirado,
além do volume corrente normal, quando a Vc – Volume corrente.
pessoa inspira com força total; geralmente,
é de cerca de 3.000 mililitros. Vm – Volume do espaço morto fisiológico.
3. O volume de reserva expiratório é o Logo, a ventilação alveolar média é de 12x(500-
máximo volume extra de ar que pode ser 150)= 4200 mL/min.
expirado na expiração forçada, após o final
de expiração corrente normal;
normalmente, esse volume é de cerca de
1.100 mililitros.

47
CONSTRIÇÃO E AÇÃO DA ATROPINA tecidos de sustentação do pulmão e as camadas
adventícias -externas- dos vasos sanguíneos com
Em casos de asma, por exemplo, os brônquios
sangue arterial sistêmico) e uma circulação de alto
podem sofrer constrição e diminuir a capacidade
respiratória. No caso de uma estimulação fluxo e baixa pressão (que retira sangue venoso de
parassimpática sobreposta, a situação pode se todas as partes do corpo para os capilares
agravar. Por isso, a ação de fármacos que inibem a alveolares).
acetilcolina como a atropina podem facilitar a
respiração.

A ação do sistema nervoso simpático, por meio da


adrenalina e noradrenalina) estimula os receptores
betadrenérgicos, que iniciam uma cadeia de
dilatação da árvore brônquica.

A reação de constrição pode ocorrer também por


causa de substâncias produzidas pelo próprio
pulmão, como a histamina e a substância de reação
lenta de anafilaxia, liberadas pelos mastócitos dos
tecidos pulmonares em reações alérgicas.

TOSSE E ESPIRRO

Quando algo irrita regiões sensíveis do trato


respiratório, mesmo em quantidades mínimas, a
reação da tosse se inicia. Primeiro, cerca de 2,5L de
ar são inspirados repentinamente e tanto a glote
como as pregas vocais se fecham. Após isso, o
diafragma se contrai rapidamente até elevar a
pressão a cerca de 100mmHg ou mais. Logo, a Google Imagens
glote e as pregas vocais se abrem repentinamente
liberando ar em pressão elevada, como uma forma
de expulsar o corpo estranho.

No espirro, a irritação das vias nasais leva impulsos


pelo quinto par craniano para o bulbo, onde o
reflexo é desencadeado. A principal diferença para
a tosse, é que a úvula é deprimida, de modo que
grandes quantidades de ar passam pelo nariz como
uma forma de limpar as vias aéreas. REFERÊNCIAS

CIRCULAÇÃO PULMONAR, EDEMA PULMONAR, HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton &
LÍQUIDO PLEURAL Hall Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2017.
O pulmão tem duas circulações, uma de baixo fluxo
e alta pressão (que supre a traqueia, árvore
brônquica, incluindo os bronquíolos terminais, os

48
PROBLEMA 3.2
TROCAS GASOSAS

O AR ALVEOLAR E O ATMOSFÉRICO POSSUEM


COMPOSIÇÕES DIFERENTES

Inicialmente, observa-se que as composições do ar


atmosférico e do ar alveolar são diferentes. Isso
ocorre por quatro razões:

• Primeira, o ar alveolar é substituído apenas


parcialmente pelo ar atmosférico a cada
respiração.
• Segunda, o O2 é constantemente absorvido
pelo sangue pulmonar do ar alveolar.
• Terceira, o CO2 se difunde constantemente
do ar pulmonar para os alvéolos.
• E quarta, o ar atmosférico seco que entra
nas vias respiratórias é umidificado até
mesmo, antes de atingir os alvéolos.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

Essa lenta reposição de gás é importante porque


garante que não ocorram variações repentinas nas
concentrações de gases no sangue e evitar quedas e
aumentos excessivos da oxigenação tecidual, da
Guyton – Fisiologia 13ºEd. concentração tecidual de CO2 e do Ph tecidual,
quando a respiração é interrompida
Essa tabela nos mostra que o ar atmosférico é
temporariamente.
composto, basicamente, por nitrogênio e oxigênio,
possuindo baixa proporção de CO2 e vapor de água. Todos os gases possuem uma pressão parcial (que
é a força que esse gás exerceria na parede de um
De acordo com a análise da capacidade funcional
dado recipiente caso ele fosse o único lá) e o O2
residual, pode-se perceber que o volume de ar que
possui valores específicos. Por exemplo, a pressão
fica nos pulmões após uma expiração normal é de
parcial do vapor de água é de 47mmHg ao nível do
cerca de 2,3 litros. Entretanto, dos 500mL que são
mar, que é o mesmo valor alveolar. Já a Po2, em um
inspirados, cerca de apenas 350mL de ar novo
valor ideal, está em 104mmHg, atingindo valor
chegam aos alvéolos a cada respiração.
máximo de 149mmHg, quando a ventilação
Isso nos mostra que, para trocar todo o ar dos alveolar se encontra extremamente elevada.
alvéolos, são necessárias várias incursões
respiratórias. Após 16 respirações o pulmão ainda
não conseguiu repor todo o ar.

49
cápsula. O fluxo nessa região é descrito como uma
lâmina de fluxo sanguíneo. Também, vale ressaltar
que as trocas gasosas ocorrem em todas as
membranas das porções terminais dos pulmões, e
não só nos alvéolos. Todas essas membranas são
conhecidas como membrana respiratória – ou
membrana pulmonar.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

O ponto A representa o ponto operacional normal,


à uma ventilação de 4,2L/min e consumo de
250mL/min de O2.

O CO2, por outro lado, possui uma pressão parcial


de 40mmHg. A Pco2 se eleva diretamente
proporcional à sua excreção e diminui
proporcionalmente à ventilação alveolar.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

O ar expirado é a soma do ar do espaço morto com


o ar alveolar.

DIFUSÃO DOS GASES PELA MEMBRANA


RESPIRATÓRIA

A unidade respiratória é composta pelo bronquíolo


respiratório, ductos alveolares, átrios e alvéolos. No
total, são mais de 300 milhões de alvéolos e cada
um possui diâmetro de aproximadamente 0,2mm.

Os alvéolos estão imersos em uma malha quase


sólida de capilares interconectados. Eles estão tão
próximos que a extensão dos capilares é como uma

50
Dois fatores determinam a Po2 e a Pco2 nos EFEITO DA PROPORÇÃO VENTILAÇÃO -PERFUSÃO NA
alvéolos: (1) a intensidade da ventilação alveolar e CONCENTRAÇÃO DE GÁS ALVEOLAR
(2) a intensidade da transferência de O2 e CO2,
através da membrana respiratória. Proporção entre a Ventilação alveolar(Va) sobre a
Perfusão (Q).
FATORES QUE DETERMINAM A INTENSIDADE DA
• Va/Q=0 : ocorre quando o valor de Va é zero
DIFUSÃO GASOSA
e a perfusão continua normal. O ar alveolar
• Espessura da membrana: no caso de entra em equilíbrio com o O2 e o CO2 no
líquido de edema no espaço intersticial da sangue venoso. O sangue venoso normal
membrana e nos alvéolos, o gás tem que possui Po2=40mmHg e Pco2=45mmHg.
perfundir não só pelas membranas, mas
• Va/Q=∞ : ocorre quando Va é normal e a
também pelo líquido. Fibrose pulmonar
perfusão (Q) é igual a zero. Agora, não
também causa um quadro parecido.
ocorre fluxo sanguíneo capilar para
• Área superficial da membrana: por
transportar O2 para fora e trazer o CO2 para
exemplo, a remoção de um dos pulmões
dentro do alvéolo. Logo, ao invés de entrar
reduz a área total pela metade. O enfisema,
em equilíbrio com o sangue venoso, o ar
que causa o a fusão de câmaras alveolares,
alveolar fica quase igual ao ar inspirado
diminui a superfície de contato.
umidificado. Nesse caso, a Po2=149mmHg
• O coeficiente de difusão do gás na
e a Pco2=0 mmHg.
substância da membrana.
• A diferença de pressão parcial entre os Essas situações podem ocorrem em casos de
dois lados da membrana. doenças pulmonares que podem fazer com que haja
fluxo sanguíneo normal e nenhuma ventilação em
CAPACIDADE DE DIFUSÃO DA MEMBRANA certas partes do pulmão ou ventilação normal e
RESPIRATÓRIA nenhum fluxo capilar. Quando a relação é normal,
Volume de gás que se perfundir pela membrana por a pressão de oxigênio se estabiliza em 104mmHg e
minuto para cada diferença de pressão parcial de a de dióxido de carbono em 40mmHg.
1mmHg.
OBS.: Derivação fisiológica é o montante
Capacidade de difusão do O2: 21mL/min/mmHg quantitativo de sangue derivado por minuto.
e pode se elevar a 65mL/min/mmHg em situações Sangue derivado é o sangue que não é devidamente
de intensa atividade física. oxigenado quando a proporção Va/Q está diminuída
e não ocorre ventilação adequada.
Capacidade de difusão do CO2: nunca foi medido
por cauda da sua rápida difusão. Entretanto, estima- Va/Q na DPOC: no caso de fumantes crônicos,
se que esteja entre 400 a 450mL/min/mmHg. graus variados de obstrução crônica podem causar
aprisionamento de ar alveolar, e consequente
Capacidade de difusão do CO: como o CO está enfisema. O enfisema faz com que paredes
em baixas quantidades na circulação, é só medir o alveolares sejam destruídas. Logo, por serem
valor absorvido por minuto e dividir pela pressão obstruídos, alguns alvéolos apresentam Va/Q que se
parcial do CO alveolar. Com isso tem-se o valor de aproxima de zero – causando o efeito da derivação
17 mL/min/mmHg – que multiplicado por 1,23, fisiológica. Por outro lado, a ventilação efetiva em
valor que equivale à razão do coeficiente de O2 pelo áreas que possuem paredes alveolares destruídas,
CO, se chega a 21 mL/min/mmHg. ocorre o processo de espaço morto fisiológico
sério.

51
TRANSPORTE DE O 2 E CO 2 NO SANGUE E NOS aorta, pela circulação brônquica que supre
LÍQUIDOS TECIDUAIS basicamente os tecidos profundos do pulmão e não
é exposta ao ar pulmonar. Esse fluxo é chamado de
O oxigênio se difunde muito mais facilmente por
“fluxo da derivação”, que possui cerca de
causa da hemoglobina, sendo de 30 a 100 vezes
40mmHg de pressão de oxigênio ao deixar os
mais O2 transportado do que quando dissolvido no
pulmões. Após se misturar com o sangue a
sangue. Já o CO2 também se liga a substâncias
104mmHg, nas veias pulmonares, o sangue que
químicas, aumentando o seu transporte de 15 a 20
chega no coração esquerdo apresente Po2 de
vezes.
95mmHg.
Durante o exercício físico intenso, o corpo pode
precisar de até 20 vezes mais O2 do que o normal.
O aumento do débito cardíaco faz com que o
sangue permaneça nos capilares por menos tempo.
Entretanto, o sangue sai quase saturado de oxigênio
ao sair dos capilares pulmonares.

Isso pode ser explicado porque durante o exercício,


a capacidade de difusão de oxigênio quase triplica
e há uma aproximação da proporção ventilação-
perfusão na parte superior dos pulmões. Outro fato,
Guyton – Fisiologia 13ºEd.
é que no primeiro terço de tempo nos alvéolos, o
sangue já foi quase saturado, logo, ele acaba
DIFUSÃO DE OXIGÊNIO DOS CAPILARES PERIFÉRICOS
ficando três vezes mais tempo do que é necessário
PARA O LÍQUIDO TECIDUAL
para ser oxigenado. Logo, ficar metade do tempo
total é mais do que o suficiente para uma boa
oxigenação em situações normais.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

O aumento do fluxo sanguíneo eleva o Po2 do


líquido intersticial: se a circulação aumenta, a
disponibilidade de O2 também aumenta, o que
eleva a Po2 tecidual. Por outro lado, se o fluxo
diminui, a Po2 também diminui. De forma
semelhante, se ocorre aumento do metabolismo
tecidual, o Po2 também diminui.

Guyton – Fisiologia 13ºEd. DIFUSÃO DE OXIGÊNIO DOS CAPILARES PERIFÉRICOS


PARA AS CÉLULAS TECIDUAIS
TRANSPORTE DE OXIGÊNIO NO SANGUE ARTERIAL
Existe uma diferença de Po2 entre os capilares
Cerca de 98% do sangue que chega ao átrio direito periféricos e as células teciduais. Além disso, em
foi oxigenado nos pulmões. Os outros 2% vêm da muitos casos, existe uma distância considerável

52
entre eles. A Po2 intracelular varia entre 5 a 40 Coeficiente de utilização: a porcentagem de
mmHg, tendo 23mmHg como média. sangue que libera seu O2 enquanto atravessa os
capilares teciduais.
DIFUSÃO DE DIÓXIDO DE CARBONO DAS CÉLULAS
TECIDUAIS PERIFÉRICAS PARA OS CAPILARES E DOS A HEMOGLOBINA COM O UM TAMPÃO DE PO 2 :
CAPILARES PULMONARES PARA OS ALVÉOLOS
A hemoglobina controla a quantidade de O2
Levando em conta as Pco2 ao longo dos tecidos, disponível de forma que a Po2 não ultrapasse
temos: 40mmHg nos tecidos. Mesmo em alterações de
altitude ou pressão externa, a hemoglobina mantém
• Pco2 intracelular: 46mmHg
o valor médio com poucas alterações em partes
• Pco2 intersticial: 45mmHg
diferentes do corpo.
• Pco2 do sangue arterial que chega aos
tecidos: 40mmHg FATORES QUE ALTERAM A CURVA DE DISSOCIAÇÃO
• Pco2 do sangue venoso que deixa os tecidos: DE OXIGÊNIO-HEMOGLOBINA
45mmHg
• Pco2 do sangue que entra nos capilares
pulmonares, pelo terminal arterial:
45mmHg
• Pco2 do ar alveolar: 40mmHg

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

A diminuição do fluxo sanguíneo a um quarto eleva


a Pco2 intersticial de 45mmHg para 60mmHg,
enquanto o aumento do fluxo sanguíneo em seis
vezes diminui a Pco2 para 41mmHg. O
metabolismo elevado, por outro lado, eleva essa
pressão.

OXIGÊNIO E HEMOGLOBINA
Guyton – Fisiologia 13ºEd.

Quando a Po2 é alta, como nos capilares Alterações que mudem o Ph médio do sangue de
pulmonares, o O2 se liga à hemoglobina, mas 7,4 para valores mais ácidos, causam um
quando a Po2 é baixa, com o nos capilares teciduais, deslocamento para a direita, enquanto para valores
o O2 é liberado da hemoglobina. Essa é a base de mais básicos, deslocamento para a esquerda.
quase todo transporte de O2 dos pulmões para os
tecidos. Outros fatores agem deslocando a curva para a
direita (libera mais O2):

53
dióxido de carbono é controlado pelo equilíbrio
ácido-base dos líquidos corporais.

FORMAS QUÍMICAS PELAS QUAIS O DIÓXIDO DE


CARBONO É TRANSPORTADO

O CO2 se difunde, inicialmente, pelas células dos


tecidos na forma molecular dissolvida. Somente ao
entrar nos capilares que uma série de reações e
segue.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

Efeito do BPG (2,3-bifosfoglicerato): se uma


situação de hipóxia dura mais que poucas horas, a
concentração de BPG aumenta de forma que o
oxigênio seja liberado em pressões de O2 10mmHg
mais altas do que seriam sem o BPG. “Age
reduzindo a afinidade da hemácia pelo O2”.

DESVIO PARA A DIREITA D A CURVA DE DISSOCIAÇÃO


OXIGÊNIO-HEMOGLOBINA DURANTE O EXERCÍCIO

Músculos em exercício liberam quantidades Guyton – Fisiologia 13ºEd.


maiores de CO2, e, somado a outros ácidos
liberados pelos músculos, eleva a quantidade de H+ CO2 dissolvido: cerca de 0,3mL de gás carbônico
no sangue e nos capilares. Isso desloca a curva do é transportado para cada 100mL de fluxo
sangue capilar muscular para a direita e facilita a sanguíneo, o que equivale a 7% do total.
liberação de O2.
CO2 na forma de bicarbonato: o dióxido de
OBS.: O ADP é um limitante do uso de oxigênio carbono dissolvido no sangue reage com a água
nas células. Quanto maior ADP disponível, maior o formando ácido carbônico por intermédio da
volume de O2 consumido para a realização da anidrase carbônica, uma enzima presente nas
conversão de ADP em ATP. Outro limitante é a hemácias. Algum tempo depois, o ácido carbônico
distância entre o capilar e a célula na utilização de se dissocia em H+ e HCO3- . O hidrogênio é então
oxigênio. Quando as células se encontram distantes capturado pela hemácia (sua proteína é um
dos capilares, a difusão fica tão lenta que a Po2 poderoso tampão ácido-base) e o HCO3- se difunde
intracelular cai abaixo do nível crítico para manter das hemácias para o plasma enquanto os íons
o metabolismo celular máximo. Assim, a utilização cloreto tomam seu lugar. Isso é possibilitado pela
de O2 pelas células está limitada pela difusão, e não presença da proteína carreadora de bicarbonato-
pela quantidade de APD formada nas células. cloreto especial, na membrana das hemácias.

TRANSPORTE DE DIÓXIDO DE CARBONO NO SANGUE


Quando um inibidor da anidrase carbônica
(acetazolamida) é administrada em um animal, o
Apesar de não ser tão complexo e problemático transporte de CO2 fica tão deficiente que o Pco2
quanto o transporte de oxigênio, o transporte de tecidual pode aumentar de 45 para até 80mmHg.

54
CO2 em combinação com hemoglobina e a dificuldade dela se ligar ao CO2 e 2) quanto maior
proteínas plasmáticas: além de reagir com água, a acidez, mais os íons H+ tendem a desassociar da
o CO2 reage com o grupo amina da hemoglobina hemoglobina e se ligar aos íons bicarbonato
formando a carboxiemoglobina (CO2Hgb)– formando ácido carbônico, que se dissocia em CO2
entretanto, não é uma ligação muito forte, podendo e H2O, de modo que o primeiro é liberado nos
ser facilmente revertida. Ainda, pode se associar a alvéolos e depois no ar.
proteínas plasmáticas, nos capilares teciduais. No
total, a soma dos dois transportes equivale a 30% Quando a [H+] aumenta, a histidina se liga à
do volume de CO2 transportado. hemoglobina e diminui a captação de O2 enquanto
aumenta a captação desse íon.
CURVA DE DISSO CIAÇÃO DO CO 2
PROPORÇÃO DAS TROCAS RESPIRATÓRIAS (R)

Relaciona o débito de CO2 em relação à captação


de O2. Numa situação normal, o corpo libera 4mL
de CO2 enquanto capta 5mL de O2. A média é de
0,825.

𝐷é𝑏𝑖𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑑𝑖ó𝑥𝑖𝑑𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑟𝑏𝑜𝑛𝑜


𝑅=
𝐶𝑎𝑝𝑡𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝑜𝑥𝑖𝑔ê𝑛𝑖𝑜

O valor de R pode ser alterado por fatores


metabólicos, por exemplo. Supondo que uma
pessoa está utilizando exclusivamente
Guyton – Fisiologia 13ºEd. carboidratos, R=1,00. Se ela está utilizando
gorduras, R=0,7. A razão da diferença é que quando
EFEITO BOHR
o O2 é metabolizado com carboidratos, uma
Pode ser assim explicado: enquanto o sangue molécula de CO2 é formada para cada molécula de
atravessa os tecidos, o CO2 se difunde das células
O2. Nas gorduras, o O2 é utilizado para formação de
para o sangue. Essa difusão aumenta a Po2 do
sangue que, por sua vez, aumenta a concentração água, e não exclusivamente CO2.
de H2CO3 (ácido carbônico) e dos íons hidrogênio
no sangue. Esse efeito desloca a curva de REGULAÇÃO DA RESPIRAÇÃO
dissociação de oxigênio-hemoglobina para a direita
O sistema nervoso regula a intensidade da
e para baixo, forçando a liberação do O2 pela
hemoglobina. ventilação alveolar de forma quase precisa às
exigências corporais de modo que as pressões
parciais de O2 e CO2 quase não se alteram.
EFEITO HALDANE
CENTRO RESPIRATÓRIO
O contrário do efeito Bohr. A concentração
elevada de O2 tende a deslocar o CO2 para fora do O centro respiratório é composto por diversos
sangue. Esse efeito é bem mais significativo para o grupos de neurônios localizados bilateralmente no
transporte de dióxido de carbono do que o efeito bulbo e na ponte do tronco cerebral. É dividido em
Bohr para o transporte de oxigênio. Ele ocorre três agrupamentos principais de neurônios:
porque a ligação de oxigênio com a hemoglobina
• Grupo respiratório dorsal: inspiração;
passe a atuar como ácido mais forte. Ocorrem dois
efeitos: 1) quanto mais ácida a hemoglobina, maior

55
• Grupo respiratório ventral: expiração e 2) Pelo ponto limítrofe da interrupção súbita
inspiração; da rampa. Reduz inspiração e expiração,
• Grupo pneumotáxico: frequência e aumentando a frequência respiratória.
amplitude respiratória.
GRUPO PNEUMOTÁXICO

Situado no núcleo parabraquial da parte superior da


ponte. Seu efeito primário é controlar o ponto de
desligamento da rampa inspiratória. Sua
consequência é basicamente controle da frequência
respiratória, podendo chegar a 30 ou até 40
movimentos respiratórios por minuto e quando seu
sinal está débil, de 3 a 5 movimentos respiratórios
por minuto.

GRUPO VENTRAL

Situado em cada lado do bulbo. Diferente dos


Guyton – Fisiologia 13ºEd. outros dois grupos, está inativo no caso de uma
respiração normal. Esses neurônios parecem não
GRUPO RESPIRATÓRIO DORSAL participar da oscilação rítmica básica responsável
Se situa no núcleo do trato solitário (NTS). O NTS pelo controle da respiração. Quando há impulso
corresponde à terminação sensorial dos nervos respiratório para aumento da ventilação, o grupo
vago e glossofaríngeo, que transmitem sinais ventral contribui para o controle respiratório extra.
sensoriais para o centro respiratório a parir de Podem ser excitados tanto para inspiração quanto
quimiorreceptores periféricos, barorreceptores e para a expiração, sendo especialmente importantes
vários tipos de receptores nos pulmões. na provisão de sinais expiratórios vigorosos para os
músculos abdominais, durante uma expiração
É nessa região que é gerado o ritmo respiratório muito intensa.
básico. Esse grupo de neurônios gera surtos
repetitivos de potenciais e ação neuronais REFLEXO DE INSUFLAÇÃO DE HERING -BREUER
inspiratórios (Guyton 13ºed p.1583). Nas paredes musculares das paredes dos brônquios
em todo o parênquima pulmonar, existem
SINAL RESPIRATÓRIO EM RAMPA
receptores de estiramento. São responsáveis por
Em vez de um surto instantâneo no potencial de passar sinais pelos nervos vagos para o grupo
membrana dos neurônios para os músculos dorsal de neurônios, quando os pulmões são
respiratórios, ocorre um sinal em rampa durante excessivamente distendidos. Esse reflexo causa um
dois segundos e uma interrupção abrupta de 3, que feedback que desativa a rampa respiratória quando
proporciona uma ventilação progressiva e a parada o volume inspirado é superior ao triplo do normal.
causa o relaxamento do diafragma e retração
elástica dos pulmões e da caixa torácica. CONTROLE QUÍMICO DA RESPIRAÇÃO

Pode ser controlado: Uma área quimiossensível situada bilateralmente é


muito sensível às alterações da Pco2 ou da
1) Pela velocidade de subida da rampa concentração dos íons hidrogênio e ela, por sua vez,
estimula outras porções do centro respiratório.

56
OUTROS RECEPTORES (RESUMO DE LETÍCIA T.73)

• Receptores musculares e articulares:


mecanorreceptores situados nas
articulações e nos músculos detectam o
movimento para aumentar o ritmo
respiratório. Isso é importante para produzir
uma resposta antecipatória ao exercício.
• Receptores de irritação: ficam situados
entre as cél. epiteliais que revestem os
alvéolos. A informação desses receptores
(estímulos nocivos, sejam químicos ou
particulados) trafega até o bulbo pelo NC X
Guyton – Fisiologia 13ºEd. e produz constrição reflexa do músculo liso
(broncoconstrição), bem como aumento do
O hidrogênio é o principal estimulador do centro.
ritmo respiratório. Esse reflexo protetor dos
O gás carbônico reage com água e forma parte
pulmões está relacionado com o espirro e
desse hidrogênio. Entretanto o CO2 é um potente
com a tosse.
estimulador desses neurônios. Isso ocorre porque o
• Receptores J (justacapilares): esses
CO2 atravessa a barreira hematoencefálica com
receptores se localizam nas paredes
muita facilidade, enquanto o hidrogênio quase não
alveolares e, por conseguinte, próximos aos
consegue passar pela barreira. Logo, o Pco2 elevado
capilares. O ingurgitamento dos capilares
também eleva a quantidade desse gás que reage
pulmonares com sangue e aumento do
com água tecidual nas áreas sensíveis, liberando H+
líquido intersticial pode ativar esses
diretamente nos receptores.
receptores, causando aumento do ritmo
Após alguns dias com essa elevação da respiratório.
concentração de CO2, os rins liberam uma
REFERÊNCIAS
quantidade elevada de íons bicarbonato para
“capturar” esses hidrogênios. Consequentemente, JUNQUEIRA, L.C.U. & CARNEIRO, J. Histologia
há diminuição desse efeito. Básica. 11ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2008. 524p.
Vale citar a ação quimiorreceptores periféricos,
que estão muito presentes nos corpos carotídeos GUIMARÃES, L. T. – Turma 73 FUNÇÕES
(cujos sinais aferentes passam pelo nervo de Hering BIOLÓGICAS 2019: “!!!!! RESUMO DE
para o nervo glossofaríngeo) e nos corpos aórticos FISIOLOGIA TODOS OS PROBLEMAS”, disponível
no Mega de algumas turmas.
(cujos sinais aferentes passam pelos nervos vagos)
e ambos os sinais vão para a área respiratória dorsal HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton &
do bulbo. Cada um deles recebe a própria irrigação Hall Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de
de sangue arterial e, por meio dela, entendem a Janeiro: Elsevier, 2017.
demanda a regulação de O2.

57
PROBLEMA 4.1
SISTEMA RENAL

Os rins possuem funções variadas, dentre elas, as


mais importantes são:

• Regulação do volume extracelular e da


pressão arterial;
• Regulação da osmolalidade em 290 mOsM;
• Manutenção do equilíbrio iônico;
• Regulação homeostática do Ph; Silverthorn – Fisiologia (2017)

• Excreção de resíduos; ELEMENTOS VASCULARES DO RIM


• Produção de hormônios (sintetizam
eritropoetina, renina e citocina);
• Gliconeogênese.

A produção da urina inicia quando a água e os


solutos se deslocam do plasma para o interior de
tubos ocos (néfrons), que compõem a maior parte
dos dois rins. Esses túbulos modificam a
composição do líquido à medida que ele passa ao
longo dessas estruturas. O fluido já alterado, agora
chamado de urina, deixa os rins e passa por um
tubo, chamado de ureter. Existem dois ureteres,
cada um partindo de um rim e se dirigindo para a
bexiga urinária. A bexiga se expande e é
preenchida com a urina até que, em um reflexo,
chamado de micção, ela se contrai e elimina a urina
através de um único tubo, a uretra.

Silverthorn – Fisiologia (2017)

58
A secreção remove seletivamente moléculas do
sangue e as adiciona ao filtrado no lúmen tubular –
é um processo mais seletivo que, em geral, usa
proteínas de membrana para transportar as
moléculas através do epitélio tubular.

PROCESSO DE FILTRAÇÃO

A filtração do plasma para dentro dos túbulos


renais é o primeiro passo na formação da urina.
Esse processo relativamente inespecífico gera um
filtrado, cuja composição é igual à do plasma
Silverthorn – Fisiologia (2017)
menos a maioria das proteínas plasmáticas. Sob
O sangue entra no rim pela artéria renal em direção condições normais, as células sanguíneas
às arteríolas do córtex. No sistema porta renal, o permanecem no capilar, de modo que o filtrado é
sangue flui das artérias para uma arteríola composto apenas de água e de solutos dissolvidos.
aferente. Depois, passa para uma rede de capilares
Ocorre no corpúsculo renal, que consiste na rede de
em forma de novelo, chamada glomérulo. Depois,
capilares glomerulares envoltos pela capsula de
para uma arteríola eferente e então para uma
Bowman. O filtrado passa por três barreiras de
segunda rede capilar, os capilares peritubulares,
filtração.
que cercam o túbulo renal.
Endotélio capilar: são capilares fenestrados, com
OBS.: O sistema porta renal é arterial, enquanto o
grandes poros. Permitem a passagem da maior
hepático e o hipofisário são venosos.
parte de componentes do sangue, entretanto, são
RINS FILTRAM, REABSORVEM E SECRETAM pequenos o suficiente para não permitir que as
células do sangue deixem o capilar. Proteínas
Filtração é o movimento de líquido do sangue para negativas nos poros impedem que proteínas saiam
o lúmen do néfron. dos capilares, sem, no entanto, impedir pequenos
íons passem.

Lâmina basal: camada acelular de matriz


extracelular composta de glicoproteínas carregadas
negativamente, colágeno e outras proteínas. Atua
como uma peneira grossa, excluindo a maioria das
proteínas plasmáticas do líquido que é filtrado.

Epitélio da cápsula de Bowman: é formada por


células especializadas chamadas podócitos, células
com extensões citoplasmáticas (pés ou pedicelos),
Silverthorn – Fisiologia (2017)
criam redes de malhas entre si com algumas fendas,
A reabsorção é um processo de transporte de as fendas de filtração, com a presença de algumas
substâncias presentes no filtrado, do lúmen tubular proteínas exclusivas, como a nefrina e podocina.
de volta para o sangue através dos capilares Todos os capilares são envoltos por células
peritubulares. mesangiais.

59
Silverthorn – Fisiologia (2017)

60
REFLEXO DA MICÇÃO impressionante, considerando-se que o volume
plasmático total é de apenas cerca de 3 litros.
Uma vez que o filtrado deixa os ductos coletores,
ele já não pode mais ser modificado, e a sua Ela é regulada constantemente e principalmente
composição não se altera. O filtrado, agora pela regulação do fluxo sanguíneo por alterações da
chamado de urina, flui para a pelve renal e, então, resistência global. Se a resistência aumenta na
desce pelo ureter, em direção à bexiga urinária, arteríola aferente (Fig 19.6d), a pressão hidrostática
com a ajuda de contrações rítmicas do músculo liso. diminui no lado glomerular da constrição. Isso se
traduz em uma diminuição na TFG. Se a resistência
aumenta na arteríola eferente, o sangue acumula
antes da constrição, e a pressão hidrostática nos
capilares glomerulares aumenta (Fig. 19.6e).

Silverthorn – Fisiologia (2017)

A PRESSÃO NOS CAPILARES CAUSA A FILTRAÇÃO Silverthorn – Fisiologia (2017)

AUTORREGULAÇÃO DA TGF

A autorregulação da TFG é um processo de


controle local, no qual o rim mantém uma TFG
relativamente constante frente às flutuações
normais da pressão arterial. Uma função importante
da autorregulação da TFG é proteger as barreiras de
filtração da pressão arterial alta que pode danificá-
las. Para esse controle, destacam-se dois
mecanismos:

RESPOSTA MIOGÊNICA

A resposta miogênica da arteríola aferente é similar


Silverthorn – Fisiologia (2017)
à autorregulação em outras arteríolas sistêmicas.
O volume de fluido que é filtrado para dentro da Quando o músculo liso da parede da arteríola estira,
cápsula de Bowman por unidade de tempo é a taxa devido ao aumento da pressão arterial, canais
de filtração glomerular (TFG). A TFG média é de iônicos sensíveis ao estiramento se abrem, e as
125 mL/min, ou de 180 L/dia, uma taxa células musculares despolarizam. A despolarização

61
leva à abertura de canais de Ca2+ dependentes de complicação de possibilitarem a ocorrência de
voltagem, e o músculo liso vascular se contrai. estenose da artéria renal, que pode ocasionar a
diminuição grave da FG, que pode, em alguns
RETROALIMENTAÇÃO (FEEDBACK) casos, ocasionar a insuficiência renal aguda.
TUBULOGLOMERULAR

Lembre-se que a conformação do glomérulo é tal


que a curva ascendente da alça de Henle passa entre
as arteríolas aferente e eferente e, no centro desse
sistema se encontra a mácula densa, enquanto na
parede da arteríola aferente adjacente se encontram
células chamadas células justaglomerulares (JG),
que secretam renina.

Se a mácula densa identificar uma queda na


quantidade de cloreto de sódio, a mácula densa
libera a renina, que é uma enzima capaz de Silverthorn – Fisiologia (2017)
converter angiotensinogênio em angiotensina I. A
Se a PA aumenta, a quantidade de líquido nos
ECA (enzima conversora de angiotensina), por sua
túbulos se eleva. A presença de NaCl aumentada na
vez vai converter esse precursor em angiotensina I,
mácula densa, como resultado de alto TFG, faz com
que será responsável pela constrição das arteríolas
que sejam liberados sinais parácrinos à arteríola
eferentes, o que eleva a FG. Também, essa queda
aferente vizinha. A arteríola se contrai e aumenta a
na concentração de sódio causa uma diminuição da
resistência, que diminui a TFG.
resistência ao fluxo nas arteríolas eferentes.

AÇÃO DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

O sistema nervoso autônomo age de duas formas:


alterando a resistência periférica total e alterando o
coeficiente de filtração. A principal ação é do
sistema nervoso simpático, mediante a neurônios
que inervam as arteríolas aferentes e eferentes.

Se a pressão arterial sistêmica cai abruptamente,


como ocorre em uma hemorragia ou em uma
desidratação grave, a vasoconstrição das arteríolas
induzida pelo sistema nervoso simpático diminui a
TFG e o fluxo sanguíneo renal. Essa é uma resposta
adaptativa que visa conservar o volume de líquido
corporal.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.


Algumas substâncias também atuam na regulação
do fluxo sanguíneo renal:
Isso nos mostra que, caso ocorra a administração de
fármacos inibidores da ECA ou bloqueadores de Angiotensina II: age como potente vasoconstritor
receptores da angiotensina II podem causar redução em resposta a quedas de PA abruptas, como as
da filtração. Esses anti-hipertensivos possuem a ocorridas em uma hemorragia. A Losartana é um

62
inibidor dos receptores desse hormônio, que acaba Embora esses dois valores sejam estáveis em
elevando o FSR. Age preferencialmente nas praticamente todo o tempo, existem condições que
arteríolas eferentes (Guyton 13ed pg.1017 - pdf). causam alterações consideráveis. A ingestão de
grandes quantidades de proteínas, por exemplo,
Prostaglandinas: agem como vasodilatadoras em aumenta tanto a FG como o fluxo sanguíneo renal.
resposta à queda do FSR (que pode levar à Isso ocorre porque a disponibilidade maior de
insuficiência renal por ação não modulada da aminoácidos faz com que mais sódio seja
Angiotensina II) e são liberadas pelos mesmos reabsorvido no túbulo proximal, já que ambos são
impulsos que liberam a Angiotensina II. Fármacos reabsorvidos juntos.
Anti-inflamatórios Não Esteroidais (AINEs) agem
inibindo a produção de prostaglandinas – que agem O mesmo ocorre com a elevação dos níveis de
como protetores sobre a Angiotensina II– e podem glicose, como no caso da diabetes melito
causar isquemia renal. descontrolada, já que, na maioria dos casos, a
glicose é reabsorvida com o sódio no túbulo
Óxido nítrico: fator de relaxamento derivado do proximal. Esse aumento na reabsorção diminui a
endotélio. Liberado quando as células endoteliais quantidade de sódio na mácula densa, que por sua
são submetidas a uma força de cisalhamento, atua vez ativa o feedback que irá dilatar a arteríola
contrabalanceando a Angiotensina II. aferente e contrair a eferente, elevando a FG.
Histamina: liberado no caso de inflamações e
lesões, aumenta o fluxo sanguíneo, reduzindo a
constrição das arteríolas aferente e eferente.

Dopamina: precursor da norepinefrina, tem ações


seletivas sobre as arteríolas, em vários leitos
vasculares. Em níveis reduzidos, dilata as arteríolas
cerebrais e contrai as arteríolas do músculo
esquelético e da pele. Logo, sua administração em
pequenas quantidades no caso de hemorragia
contribui para a proteção de vários órgãos
importantes, como os rins.

Bradicinina: o cininogênio é degradado em


bradicinina por meio da enzima proteolítica
calicreína. Essa substância é um vasodilatador e Guyton – Fisiologia 13ºEd.
pode ser convertido em Angiotensina I pela Enzima
Conversora de Angiotensina (ECA). Logo, RESUMO:
inibidores da ECA (captopril, penalapril), para
hipertensão, diminuem os níveis de angiotensina II
e aumentam os de bradicinina.

Endotelina: potente peptídeo vasoconstritor


secretado pelas células endoteliais dos vasos renais,
células mesangiais e células do túbulo distal.

SUBSTÂNCIAS QUE ALTERAM A FG E O FSR Constanzo – Fisiologia 5ªEd. (2014)

63
OBSERVAÇÕES:

- A partir dos 40 anos, os néfrons podem apresentar


decréscimo de 10%.

- Os néfrons não são regenerados pelo rim.


Guyton – Fisiologia 13ºed
REFERÊNCIAS
EXAMES:
JUNQUEIRA, L.C.U. & CARNEIRO, J. Histologia
Básica. 11ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2008. 524p.

GUIMARÃES, L. T. – Turma 73 FUNÇÕES


BIOLÓGICAS 2019: “!!!!! RESUMO DE
FISIOLOGIA TODOS OS PROBLEMAS”, disponível
A melhor substância a ser utilizada é a inulina, no Mega de algumas turmas.
que é derivada de uma raiz e não é produzida no CONSTANZO, Linda S. Fisiologia. 5 ed. Rio de
corpo humano, o que facilita sua medição. Logo, Janeiro: Elsevier, 2014.
tudo que é injetado é filtrado, o que facilita sua
análise. SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana –
uma abordagem integrada. 5 ed. São Paulo: Artmed,
Carga filtrada de X: [x]plasma . TFG 2010.

64
Aminoácidos e glicose são quase completamente
PROBLEMA 4.2 reabsorvidos pelos túbulos, de modo que a
excreção é quase zero. Íons como sódio, cloreto e
REABSORÇÃO RENAL bicarbonato são muito reabsorvidos, porém, com
Após o filtrado entrar nos túbulos renais, ele flui intensidades de reabsorção e excreção urinárias
para as próximas partes do néfron: túbulos variáveis, de acordo às necessidades do organismo.
proximais, alça de Henle, túbulo distal, túbulo Resíduos de produtos como ureia e creatinina são
coletor e ducto coletor. Após, segue para ser pouco reabsorvidos pelos túbulos, enquanto são
excretado como urina. excretados em quantidades elevadas.

Excreção renal = FG – RT + ST A REABSORÇÃO INCLUI MECANISMOS PASSIVOS E


ATIVOS
FG: filtração glomerular
O filtrado que flui da cápsula de Bowman para o
RT: reabsorção tubular túbulo proximal tem a mesma concentração de
solutos do líquido extracelular. Portanto, para
ST: secreção tubular transportar soluto para fora do lúmen, as células
tubulares precisam usar transporte ativo para criar
A REABSORÇÃO TUBULAR É QUANTITATIVAMENTE
GRANDE E MUITO SELETIVA gradientes de concentração ou eletroquímicos. A
água segue osmoticamente os solutos, à medida que
A intensidade com a qual as substâncias são eles são reabsorvidos.
filtradas é dada por:

Carga filtrada de X: [x]plasma . TFG

Esse cálculo presume que não há proteínas ligadas


às substâncias quando elas são filtradas.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.


Guyton – Fisiologia 13ºEd.
Essa tabela nos mostra que os processos de filtração
glomerular e de reabsorção são quantativamente TRANSPORTE ATIVO
maiores em relação à excreção urinária, para muitas O transporte ativo ocorre contra o gradiente de
substâncias. Também, mostra que, diferente da concentração e pode ser primário ou secundário. O
filtração glomerular, que é praticamente não transporte pode ocorrer por entre as células (via
seletiva, a reabsorção tubular é muito seletiva. paracelular) ou por meio das células (via
transcelular). O sódio é transportado por ambas as
vias, entretanto, em maior quantidade pela via

65
transcelular. Íons potássio, magnésio e cloreto, lúmen tubular. Dentro da célula, se movem para as
dissolvidas na água são transportados pela via membranas basolaterais e saem por difusão, por
paracelular. meio de proteínas facilitadoras.

Esse mecanismo é importante porque consegue Os cotransportadores de sódio e de glicose (SGLT2


transportar substâncias contra seu gradiente e SGLT1) são exemplos de proteínas que levam a
eletroquímico. Pode ser por intermédio de proteínas glicose para o citoplasma celular contra seu
transportadoras como a sódio-potássio ATPase, gradiente de concentração. Por outro lado, saem da
hidrogênio ATPase, hidrogênio-potássio ATPase e membrana basolateral por meio do GLUT2 e
cálcio ATPase. GLUT1.

Reabsorção ativa primária (quando está ligado a


uma fonte de energia): um exemplo de transporte
ativo primário é a reabsorção de íons sódio por
meio do bombeamento do Na+ para fora da célula e
o K+ para dentro com gasto direto de ATP.

Guyton – Fisiologia 13ºEd. Guyton – Fisiologia 13ºEd.

Reabsorção ativa secundária (quando se utiliza Esse tipo de transporte é secundário porque,
uma fonte de energia que não necessariamente é embora não tenha gasto de ATP direto, depende do
o ATP): ocorre quando duas substâncias ou mais gradiente eletroquímico formado pela ação da
são transportadas mediante à ligação com uma sódio-potássio ATPase, que possui gasto
proteína transportadora. Exemplo: sódio e glicose. energético direto.
Quando o sódio atravessa a membrana a favor de
Secreção ativa secundária para dentro dos
seu gradiente eletroquímico, a energia liberada é
túbulos: algumas substâncias são secretadas nos
usada para mover a glicose contra seu gradiente
túbulos por meio da ação de cotransporte com os
eletroquímico sem a necessidade de gasto de ATP.
íons sódio. A energia liberada no movimento
Proteínas transportadoras se ligam ao íon e à dissipativo permite o movimento ativo da outra no
molécula de glicose ou aminoácido ao mesmo sentido oposto. Um exemplo disso é o cotransporte
tempo. Esses mecanismos são tão eficientes que de hidrogênio acoplada à reabsorção de sódio,
removem quase toda a glicose e aminoácidos do como na figura acima, mediada por uma proteína
específica, o trocador de sódio-hidrogênio.

66
Pinocitose de proteínas: algumas porções do
túbulo, especialmente o túbulo proximal
reabsorvem moléculas grandes, como proteínas por
meio de pinocitose. A proteína se adere à borda em
escova da membrana luminal e essa porção se
invagina formando uma vesícula que, dentro da
célula, é usada para digerir a proteína em seus
aminoácidos constituintes.

TRANSPORTE ATIVO MÁXIMO

Para todas as substâncias transportadas ativamente


existe um limite para a intensidade desse Silverthorn – Fisiologia humana 7ªEd.
transporte. Ocorre quando a carga tubular –a
REABSORÇÃO POR TRANSPORTE PASSIVO
quantidade de soluto liberada no lúmen– excede a
quantidade de proteínas transportadoras e enzimas A reabsorção ativa nos túbulos causa a manutenção
específicas envolvidas no processo de transporte. de um gradiente de concentração, já que os solutos
reabsorvidos tem suas concentrações reduzidas nos
Observe alguns valores: túbulos, favorecendo a osmose em direção ao
Glicose: 375mg/min. A carga filtrada é de 125 sentido de transporte dos solutos. Nos túbulos
mg/min, enquanto a concentração de glicose no proximais, há maior permeabilidade à água e esse
plasma é de 100mg/100mL. Entretanto, o aumento fluxo ocorre tão rápido que o gradiente é mínimo.
da concentração para 200mg/mL faz com que a A água passa tanto pelo interior das células como
carga filtrada de glicose aumente para 250 mg/min, também pelas junções oclusivas, que são passagens
ponto em que começa aparecer glicose na urina. que permitem a passagem de íons como magnésio,
Esse ponto é chamado limiar para a gicose. sódio, cloreto potássio e cálcio.

Enquanto a água se movimenta, pode carregar


consigo solvente, processo denominado arrasto de
solvente.

A partir da alça de Henle até as porções distais do


néfron, as junções ocludentes se tornam bem menos
permeáveis à água e aos solutos e as células
epiteliais também se apresentam com menor
superfície de contato. Entretanto, o ADH aumenta
consideravelmente a permeabilidade à água nos
túbulos distais e coletores.

Quando o sódio é reabsorvido através da célula


tubular, íons negativos como o cloreto são
transportados junto com o sódio, devido ao
potencial elétrico, de forma passiva pela via
Guyton – Fisiologia 13ºEd.
paracelular. Também, esse movimento ocorre por

67
meio do gradiente de concentração, já que a difusão Os transportadores responsáveis pela secreção de
de água deixa o lúmen tubular mais concentrado. solutos orgânicos são pouco específicos. A família
do transportador de ânions orgânicos (OAT) é
capaz de transportar inúmeros ânions endógenos e
exógenos, como sais biliares, benzoato, salicilato e
até mesmo sacarina. É um exemplo de transporte
ativo terciário. A energia do ATP é removida em
duas etapas.

Na primeira, o ATP é usado para gerar o gradiente


de Na+ baixo dentro da célula. Na segunda etapa, o
gradiente de Na+ é usado para concentrar o
dicarboxilato dentro da célula tubular, utilizando
Guyton – Fisiologia 13ºEd. um cotransportador Na+ -dicarboxilato, chamado
de NaDC. Na terceira etapa, o movimento de
A ureia também é reabsorvida por meio de um dicarboxilato dentro da célula determina o
gradiente de concentração, também por causa do movimento de ânions contra o gradiente.
fluxo de água. Mas, por não permear o túbulo com
a mesma facilidade da água, em algumas partes do
néfron, como no ducto coletor medular interno,
esse transporte é facilitado por transporte de ureia.
E cerca de apenas metade da ureia filtrada é
reabsorvida.

A creatinina é uma molécula ainda maior que a


ureia e, essencialmente, impermeante na membrana
tubular. Logo, há pouca reabsorção e praticamente
toda creatinina filtrada pelo glomérulo é excretada
na urina.

SECREÇÃO RENAL

Secreção é a transferência de moléculas do líquido


extracelular para o lúmen do néfron. Depende,
principalmente, dos transportes de membrana,
tanto para metabólitos como para xenobióticos –
compostos provenientes do meio externo.

A secreção torna o néfron capaz de aumentar sua


carga de excreção. Isso pode ser observado porque
se uma substância não é reabsorvida nos túbulos e
ainda é secretada, pode ser melhor excretada. Outro
ponto importante é que a secreção é um processo
Silverthorn – Fisiologia humana 7ªEd.
ativo, já que transpõem substâncias contra seu
gradiente de concentração. OBS.: A Penicilina é facilmente secretada pelo
OAT e é ele tão eficiente que de 3 a 4 horas após a

68
administração, cerca de 80% é eliminada. Para
resolver o problema, na época da Segunda Guerra
mundial, utilizou-se a administração de
probenecida, que compete com a penicilina e é
transportada em seu lugar.

REABSORÇÃO E SECREÇÃO AO LONGO DE


PORÇÕES DIFERENTES DO NÉFRON

Observa-se, à priori, que as trocas e os transportes


ao longo de todo o néfron são variáveis de acordo
com a composição da membrana e de
transportadores específicos.

TÚBULO PROXIMAL

Cerca de 65% da carga filtrada de sódio e água e


Guyton – Fisiologia 13ºEd.
porcentagem menor de cloreto são reabsorvidos no
túbulo proximal, antes do filtrado chegar à alça de No túbulo proximal ocorre também a secreção de
Henle. Suas células possuem muitas mitocôndrias, ácidos e bases orgânicas como sais biliares,
uma membrana em borda de escova com maior área oxalato, urato e catecolaminas, assim como toxinas
de contato, além de muitas proteínas e o ácido paramino-hipúrico (PAH), que é usado
transportadoras e cotransportadoras. para determinar o fluxo plasmático renal.
Na primeira metade do túbulo proximal, o sódio é ALÇA DE HENLE
reabsorvido por cotransporte com glicose,
aminoácidos e outros solutos. Na segunda metade, O segmento descendente fino (que possui epitélio
principalmente com íons cloreto. fino, sem borda em escova e atividade metabólica
reduzida, assim como o segmento ascendente fino)
é muito permeável à água e moderadamente
permeável à maioria dos solutos, incluindo ureia e
sódio e cerca de 20% da água é reabsorvida aqui.

O componente ascendente, tanto fino como grosso,


são praticamente impermeáveis à água.

O segmento ascendente grosso, que se inicia na


metade da alça ascendente, possui intensa atividade
metabólica e pode realizar reabsorção ativa de
sódio, cloreto e potássio.
Guyton – Fisiologia 13ºEd.

69
Nesse segmento também está presente o
mecanismo de cotransporte de sódio-hidrogênio. A
reabsorção paracelular de Mg2+, Ca2+, Na+ e K+
também ocorre por causa do gradiente
eletroquímico ocasionado pelo retrovazamento de
íons potássio para o lúmen, causando carga positiva
de cerca de +8mV, que faz com que o magnésio e
o cálcio, por exemplo, se difundam do lúmen
tubular, pelo espaço paracelular, pra o líquido
intersticial.

TÚBULO DISTAL

O segmento espesso da alça de Henle se esvazia no


túbulo distal. A primeira parte forma a mácula
densa, que é útil para o controle da filtração
glomerular e do fluxo sanguíneo no néfron.
Guyton – Fisiologia 13ºEd.
A segunda porção é muito convoluta e apresenta
Íons como bicarbonato, cálcio e magnésio também características de reabsorção parecidas com a alça
são reabsorvidos na alça de Henle ascendente de Henle ascendente. Possui atividade metabólica
espessa. Outro detalhe é que, nessa porção, a considerável, assim como sua reabsorção de íons e
movimentação de sódio, através da membrana
é praticamente impermeável à água.
luminal é mediada pelo cotransportador de 1
sódio, 2-cloreto, 1- potássio. Ele utiliza energia Cerca de 5% da carga filtrada de cloreto de sódio é
potencial proporcionado pela difusão de sódio para
conduzir a reabsorção de potássio para a célula reabsorvida no túbulo distal inicial. O
contra o gradiente de concentração. O componente cotransportador sódio-cloreto move cloreto de
espesso pode sofrer ação dos poderosos diuréticos sódio para dentro da célula e a sódio-potássio
“de alça” furosemida, ácido etacrínico e ATPase move o sódio para fora da célula através da
bumetanida, que inibem a ação do cotransportador membrana basolateral. Os diuréticos tiazidíacos,
de sódio, 2-cloreto, potássio. usados no tratamento de hipertensão e insuficiência
cardíaca, atuam inibindo o cotransportador de sódio
e cloreto. Por outro lado, AUMENTAM a
reabsorção de cálcio.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

70
Na porção final do túbulo distal e túbulo coletor
cortical subsequente têm características funcionais
semelhantes. São compostos por dois tipos de
células: as principais (que reabsorvem água e sódio
do lúmen e secretam potássio) e as intercaladas (as
do tipo A reabsorvem íons potássio e secretam íons
hidrogênio para o lúmen tubular).

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

Células Intercaladas tipo A: secretam íons


hidrogênio mediante um transportador de
hidrogênio-potássio-ATPase. Nessa célula ocorre
geração de íons hidrogênio pela reação da anidrase
carbônica. São importantes durante a acidose,
absorvendo bicarbonato e secretando hidrogênio.

Células Intercaladas tipo B: Agem em função


oposta às células tipo A, secretando íons
bicarbonato e reabsorvem íons hidrogênio na
alcalose. Possuem hidrogênio-ATPases.

Detalhes importantes sobre o túbulo distal final e


do túbulo coletor:
Guyton – Fisiologia 13ºEd.
• Ambas as membranas são impermeáveis à
As células principais são os locais de ação primária
ureia;
dos diuréticos poupadores de potássio. A
• Ambos reabsorvem íons sódio e secretam
espironolactona e a eplerenona são antagonistas
potássio e a intensidade desse processo é
dos receptores de mineralocorticoides que
controlado pela ação de hormônios,
competem com a aldosterona por receptores nas
especialmente a aldosterona;
células principais. inibindo sua ação estimulante
sobre a reabsorção de sódio e secreção de potássio. • As células intercaladas tipo A desses
segmentos do néfron podem secretar íons
A amilorida e o triantereno são bloqueadores dos intensamente por mecanismo ativo;
canais de sódio que inibem diretamente a entrada • A permeabilidade do túbulo distal final à
de sódio, reduzindo sua quantidade transportável e, água é controlada pela concentração e
consequentemente, diminuindo o transporte da ADH, que, em altas concentrações favorece
bomba de sódio-potássio. a permeabilidade.

71
Guyton – Fisiologia 13ºEd.

As características especiais desse tecido são:

• A permeabilidade desse ducto à água é


controlada por ADH;
• É permeável à ureia e possui
transportadores de ureia especiais, que
facilitam a difusão desse metabólito;
• É capaz de secretar íons H+ contra o
gradiente de concentração, agindo como um
controlador do mecanismo de controle
ácido-base.

RESUMO

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

DUCTO COLETOR MEDULAR

Representa menos de 10% de água e sódio filtrados


e é o local final de processamento da urina. As
células epiteliais desse segmento têm formato mais
ou menos cuboide, com superfícies lisas e
relativamente poucas mitocôndrias.

72
REGULAÇÃO DA REABSORÇÃO peritubular [Pc]), que se opõe à reabsorção; (2)
pressão hidrostática no interstício renal (Pif) fora
Uma característica importante do controle da dos capilares, que favorece a reabsorção; (3)
reabsorção é que a reabsorção de alguns solutos pressão coloidosmótica das proteínas plasmáticas,
pode ser regulada independente dos outros e em nos capilares peritubulares (pc), que favorece a
especial por mecanismos hormonais de controle reabsorção; e (4) pressão coloidosmótica das
proteínas no interstício renal (pif), que se opõe à
EQUILÍBRIO GLOMERULOTUBULAR
reabsorção.
Quando a carga filtrada aumenta, os túbulos
aumentam sua capacidade intrínseca de reabsorção. A pressão hidrostática dos capilares é influenciada
Essa taxa de reabsorção aumentada se mantém pela pressão arterial e pela resistência das arteríolas
quase constante, entretanto aumenta cerca de 65%. eferentes e aferentes. A pressão coloidosmótica dos
capilares peritubulares é determinada pela pressão
Atuando com o feedback tubuloglomerular coloidosmótica plasmática sistêmica e pela fração
(primeira linha de defesa para o amortecimento de de filtração.
alterações espontâneas da FG no débito urinário), o
equilíbrio glomerulotubular atua como uma CONTROLE HORMONAL
segunda linha de defesa. Algumas substâncias são extremamente
importantes para o controle de íons de forma
FORÇAS FÍSICAS DO LÍ QUIDO CAPILAR PERITUBULAR
E INTERSTICIAL RENAL independente.

Alterações da reabsorção capilar podem influenciar Aldosterona: secretada pelas células da zona
as pressões hidrostáticas e coloidosmóticas do glomerulosa do córtex adrenal. Age na reabsorção
interstício renal e, em última análise, a reabsorção de sódio e secreção de hidrogênio e potássio por
de água e soluto pelos túbulos renais. A taxa de meio da estimulação da bomba sódio-potássio-
reabsorção normal dos capilares peritubulares é de ATPase, na face basolateral da membrana do
124mL/min. túbulo coletor cortical. Os principais estímulos para
a aldosterona são: concentração de potássio
extracelular aumentada e níveis elevados de
angiotensina II.

Obs.:

Doença de Addison: destruição o mau


funcionamento das adrenais, causa perda acentuada
de sódio e acúmulo de potássio.

Doença de Conn: excesso da secreção de


aldosterona, como em pacientes com tumor nas
adrenais está associada à retenção de sódio e perda
acentuada de potássio.
Guyton – Fisiologia 13ºEd. Angiotensina II: talvez o hormônio mais potente
As forças incluem (1) pressão hidrostática dos para retenção de sódio. Age estimulando a secreção
capilares peritubulares (pressão hidrostática de aldosterona, contraindo as arteríolas eferentes –
que reduz a pressão hidrostática dos capilares

73
peritubulares, aumentando a reabsorção– e
aumenta a fração de filtração do glomérulo,
aumentando a força de reabsorção nos capilares
peritubulares e eleva a reabsorção de água e sódio.
Além disso, estimula a reabsorção de sódio nos
túbulos proximais, alças de Henle, túbulos distais e
túbulos coletores. Isso ocorre mediante à
estimulação da sódio-potássio-ATPase na
membrana basolateral da célula epitelial tubular e
do trocador sódio-hidrogênio na membrana
luminal, especialmente no túbulo proximal.
Também estimula o cotransporte de sódio e Guyton – Fisiologia 13ºEd.
bicarbonato, através das membranas basolaterais.
Peptídeo natriurético atrial (PNA): liberado
pelas células especializadas dos átrios cardíacos em
função da expansão do volume plasmático e
aumento da pressão arterial. Inibem diretamente a
reabsorção de água e sódio pelos túbulos renais,
especialmente nos ductos coletores. Inibe a
secreção de renina e formação de angiotensina II, o
que reduz a reabsorção tubular renal. A
insuficiência cardíaca congestiva causa liberação
excessiva desse hormônio por causa do estiramento
das paredes do coração.

Hormônio da paratireoide (paratormônio, ou


PTH): sua principal ação nos rins é a de aumentar
Guyton – Fisiologia 13ºEd.
a reabsorção de cálcio especialmente nos túbulos
ADH (vasopressina): a ação renal mais importante distais e com probabilidade alta de também elevar
do ADH é a de aumentar a permeabilidade à água nas alças de Henle. Também pode agindo inibindo
dos epitélios do túbulo distal, do túbulo coletor e do a reabsorção de fosfato e aumentar a reabsorção
ducto coletor. Na ausência de ADH, a magnésio.
permeabilidade é baixa nesses segmentos, fazendo
com que a urina seja diluída, causando uma
condição chamada diabetes insípido. Esse
hormônio se liga nos receptores V2 específicos no
final dos túbulos coletores e ductos coletores,
aumentando a formação de AMPc e ativando
proteinocinases. Isso leva à liberação de
aquaporina 2, proteína que forma canais para água
na membrana celular.
Guyton – Fisiologia 13ºEd.

74
ATIVAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO O Na+ é livremente filtrado e reabsorvido por quase
todos os segmentos do néfron, sendo influenciado
A ativação do sistema nervoso simpático diminui a
pela aldosterona. Com uma média de 150mEq de
excreção de sódio e água ao contrair as arteríolas
ingestão diária, observa-se que o rim excreta menos
renais, reduzindo assim a FG. Aumenta a ativação
de 1% da quantidade filtrada – se a TFG é de
de receptores alfa-adrenérgicos, que leva à
180L/dia e a concentração plasmática de Na+ é de
diminuição dessa excreção e aumento da
140mEq/L, então a carga filtrada de sódio é de
reabsorção. A estimulação simpática causa o
25200mEq/dia.
aumento da liberação de renina e consequente
formação de angiotensina II. POTÁSSIO

BALANÇO IÔNICO A manutenção da concentração de potássio é


importante porque a concentração desse íon
Cada íon tem mecanismos próprios de reabsorção e determina a excitabilidade de tecidos sensíveis à
concentrações ideais. Nesse quesito, a manutenção impulsos elétricos porque altera o potencial de ação
da homeostasia corporal depende de formas de das membranas.
regular as concentrações ideias dessas substâncias.

SÓDIO

A função mais importante do rim é a de reabsorver


Na+, íon responsável por determinar a pressão
sanguínea e volume de líquido extracelular.
Diariamente, os rins devem excretar a mesma
quantidade de sódio que é ingerido. Esse é o
balanço. Se ingestão supera excreção, o balanço é
positivo. Se a excreção supera a ingestão, o balanço
é negativo.

Linda – Fisiologia 5ªEd.


Linda – Fisiologia 5ªEd.

75
Linda – Fisiologia 5ªEd.
Linda – Fisiologia 5ªEd.
O ideal é que 98% do potássio se encontre dentro
O PTH se liga à adenilato ciclase via proteína Gs.
das células enquanto apenas 2% circulante. A
O adenilato ciclase, por sua vez catalisa a
insulina, por exemplo, aumenta a atividade a sódio-
conversão de ATP em AMPc, que ativa uma série
potássio ATPase e a consequente reabsorção de
de proteinocinases que fosforilam os componentes
potássio. Na diabetes mellitus tipo I, causada pela
da membrana e inibem o cotransporte Na+-
deficiência de insulina causa a hipercalemia, já que
fosfato.
o potássio fica fora das células.
CÁLCIO
FOSFATO
Como o fosfato, maio parte do cálcio presente no
Importante constituinte dos ossos (85% do fosfato
corpo está presente nos ossos (99%). Sua
se encontra na matriz óssea) e atua como um
concentração é controlada pelo PTH em interação
tampão para íons H+ na urina. Também é
com o sistema renal, gastrointestinal e ósseo. Sua
importante componente de nucleotídeos e também
reabsorção é acoplada à do sódio no túbulo
é usado nas moléculas de alta energia. Seu
proximal e na alça de Henle, enquanto de forma
transporte é realizado principalmente pelo
dissociada no túbulo distal.
cotransportador Na+-fosfato.

76
Linda – Fisiologia 5ªEd.

Um detalhe é que todo o cálcio ligado a proteínas


do plasma não pode ser filtrado. No ramo espesso
da alça de Henle, depende do acoplamento ao
cotransportador Na+K+-2Cl-. Os diuréticos de alça
servem para tratar a hipercalemia. Linda – Fisiologia 5ªEd.

MAGNÉSIO DIURÉTICOS
A reabsorção global do magnésio é de 95%. No Diuréticos aumentam o débito e o volume urinário
plasma, 20% está ligado a proteínas no plasma. Sua e, em grande parte, aumenta a excreção urinária de
reabsorção acontece majoritariamente no ramo solutos como sódio e cloreto. Isso porque boa parte
ascendente espesso da alça de Henle, em que 60% de suas ações são natriuréticas, que leva a diurese.
da caga filtrada são absorvidos. Isso ocorre porque Como alguns já foram tratados anteriormente, serão
essa reabsorção é impulsionada pela diferença de citados os demais.
potencial lúmen-positivo.
Caso não tenha lido, observe os parágrafos em
Os diuréticos de alça possuem ação inibindo amarelo em algumas seções como “túbulo
fortemente a reabsorção do Mg2+ e aumentam sua proximal, alça de Henle, túbulo distal e ducto
excreção, podendo levar à hipomagnesemia. coletor medular, na seção “reabsorção e secreção
O magnésio é útil para a síntese proteica, ao longo de porções diferentes do néfron”.
importante para o complexo B1 e também no
processo de equilíbrio de cálcio e potássio.

77
REFERÊNCIAS

Guyton – Fisiologia 13ºEd. CONSTANZO, Linda S. Fisiologia. 5 ed. Rio de Janeiro:


Elsevier, 2014.
DIURÉTICOS OSMÓTICOS
SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana – uma
Ao se injetar substâncias que não são facilmente abordagem integrada. 5 ed. São Paulo: Artmed, 2010.
reabsorvidos pelos rins (como por exemplo, HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall
manitol, sacarose e ureia) na corrente sanguínea, a Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro:
pressão osmótica nos túbulos aumenta, o que Elsevier, 2017.
diminui a reabsorção de água e consequente maior
eliminação.

No caso da diabetes melito, ocorre o transporte


máximo de glicose (que supera o limiar, atingindo
seu máximo em 250mg/dL no plasma) e o sistema
renal reabsorve pouca glicose. Isso aumenta a
quantidade de urina produzida e excretada.

INIBIDORES DA ANIDRASE CARBÔNICA

A acetazolamida inibe a enzima anidrase


carbônica, essencial para a reabsorção de
bicarbonato no túbulo proximal. Como a
reabsorção de bicarbonato está associada à de sódio
hidrogênio pelo mecanismo de cotransporte sódio-
hidrogênio. À medida que a reabsorção de sódio e
bicarbonato são bloqueados, esses íons
permanecem nos túbulos e atuam como um
diurético osmótico.

78
RESUMO:

Linda – Fisiologia 5ªEd.

79
80
81
compensações respiratórias e as compensações
PROBLEMA 4.3 renais. Os dois primeiros são mais rápidos,
enquanto o último necessita de mais tempo para se
FISIOLOGIA ÁCIDOBÁSICA desenvolver.
O balanço acidobásico está relacionado à
manutenção da concentração normal de íons
hidrogênio nos líquidos corporais.

PH DOS LÍQUIDOS CORPORAIS

A concentração dos íons hidrogênio (H⁺) nos


líquidos corporais do organismo é extremamente
baixa. Como é incômodo trabalhar com números
tão pequenos, essa concentração será expressa
como a função logarítmica denominada pH
(Potencial Hidrogeniônico):

Como a concentração normal de H⁺ é de 40 x 10⁻⁹


Eq/L, sua conversão em pH ocorre da seguinte
maneira:
PRODUÇÃO DE ÁCIDOS NO ORGANISMO

A produção de ácido no organismo pode se dar de


duas formas diferentes: na forma de ácidos voláteis
Pontos importantes a serem lembrados: (dióxido de carbono, CO₂) e na forma de ácidos não
1) Quando a concentração de H⁺ aumenta, o pH voláteis (fixos). Todos eles são produzidos em
diminui e vice-versa. grandes quantidades todos os dias e representam
um risco para o pH fisiológico levemente alcalino
2) A relação entre a concentração de H⁺ e o pH não (7,4).
é linear, é logarítmica.
CO₂
3) Determinada variação do pH na faixa ácida (pH
< 7,4) reflete uma maior variação na concentração É o produto final do metabolismo aeróbico nas
de H⁺ do que a mesma variação na faixa alcalina células. Em si não é acido, contudo, quando reage
(pH > 7,4). com a água (H₂O) é transformado em um ácido
fraco instável, o ácido carbônico (H₂CO₃):
A faixa normal do pH arterial é de 7,37 a 7,42.
Quando o pH cai abaixo de 7,37 se chama
acidemia. Quando o pH arterial está acima de 7,42
se chama alcalemia. O ácido carbônico se dissocia em H⁺ e HCO₃⁻
(bicarbonato), e esse H⁺ deve ser tamponado.
Diante disso, é válido ressaltar que o corpo possui
alguns mecanismos direcionados para a É uma reação reversível de equilíbrio químico
manutenção do pH dos líquidos corporais. Eles são: catalisada pela enzima anidrase carbônica.
tamponamento do H⁺, no LEC e no LIC, as

82
ÁCIDOS FIXOS Essa equação é usada para calcular o pH de uma
solução tamponada. Ela se baseia na cinética das
São oriundos do catabolismo das proteínas e dos
reações reversíveis:
fosfolipídeos. As proteínas que contém
aminoácidos com enxofre (p. ex., metionina,
cisteína, cistina) geram ácido sulfúrico quando são
metabolizadas, e os fosfolipídeos produzem ácido
fosfórico. Esses ácidos não conseguem ser K1 é a constante de velocidade da reação direta e
eliminados pela respiração como o CO₂, logo K2 é constante de velocidade da reação inversa.
necessitam ser tamponados até que possam ser Quando as velocidades das reações direta e inversa
excretados pelos rins. ficam iguais, ocorre o estado de equilíbrio químico,
Em estados fisiopatológicos, os ácidos β- o qual não há mais alteração efetiva das
hidroxibutírico e acetoacético (diabetes mellitus concentrações de HA ou A⁻.
descompensado) e o ácido lático (exercício A lei de ação das massas estabelece que no
extenuante ou hipóxico) podem ser produzidos em equilíbrio químico:
grandes quantidades. Outros podem ser ingeridos,
como ácido salicílico (aspirina), ácido fórmico
(pela ingestão de metanol) e ácidos glicólico e
oxálico (pela ingestão de etilenoglicol). Ou seja:

A superprodução ou ingestão excessiva de ácidos


causa acidose metabólica.

TAMPONAMENTO
A proporção entre as constantes de velocidade pode
ser combinada em uma só constante, K, chamada
PRINCÍPIOS DE TAMPONAMENTO constante de equilíbrio:
Um tampão é uma mistura de ácido fraco com sua
base conjugada ou de base fraca com seu ácido
conjugado. A solução-tampão (tampão) consegue
resistir a alterações bruscas do pH.
Rearranjando:
Na nomenclatura de Bronsted-Lowry, para o ácido
fraco, a forma ácida é designada por HA e definida
como doadora de H⁺. A forma básica é designada
por A⁻ e definida como receptora de H⁺. Da mesma
maneira, para a base fraca, o doador de H⁺ é Para expressar [H⁺] como pH, coloca-se - log₁₀ de
chamado de BH⁺, e o receptor de H⁺ é chamado de ambos os lados da equação:
B.

Os líquidos corporais possuem vários tipos de


tampão que formam a primeira defesa importante
contra as variações do pH. Substituindo - log [H⁺] por pH e - log K por pK,
tem-se a equação de Henderson-Hasselbalch:
EQUAÇÃO DE HANDERSON-HASSELBACH

83
A curva possui forma sigmoide. Na porção central
da curva só ocorrem pequenas alterações do pH
quando se adiciona ou remove H⁺. O
tamponamento mais eficaz ocorre nessa faixa. Essa
parte linear se estende por 1,0 unidade de pH acima
e abaixo do pK. Fora dessa faixa eficaz, o pH se
altera drasticamente quando se adiciona ou se
remove pequenas quantidades de H⁺.

TAMPÕES DO LÍQUIDO EXTRACELULAR

O pK é valor característico de cada tampão. Ácidos Os principais tampões do LEC são bicarbonato e
fortes, como o HCl, são mais dissociáveis em H⁺ e fosfato.
A⁻, e têm constantes de equilíbrio mais altas e pKs
mais baixo. TAMPÃO BICARBONATO

CURVA DE TITULAÇÃO É o tampão extracelular mais importante. É


utilizado como a primeira linha de defesa, quando
As curvas de titulação nada mais são do que as o organismo ganha ou perde H⁺.
representações gráficas da equação de HH.
Principais características:

1) A concentração da forma A⁻ (HCO₃⁻) é alta.

2) O pK é de 6,1 (razoavelmente próximo ao pH


fisiológico do LEC).

3) O CO₂, a forma ácida do tampão, é volátil e pode


ser expirado pelos pulmões.

As concentrações relativas de HA e A⁻ dependem


do pH da solução e do pK do tampão. O pK desse
tampão é 6,5. Em pH baixo (ácido), o tampão está,
em sua maior parte, na forma HA. No pH alto, o
tampão está majoritariamente na forma A⁻. Quando
o pH é igual ao pK, a solução apresenta
concentrações iguais de HA e A⁻.
Considere que o LEC é uma solução de NaHCO₃.

84
Quando HCl é adicionado ao LEC, o H⁺ se combina
com parte de HCO₃⁻ para formar H₂CO₃. Assim,
um ácido forte é convertido em um ácido fraco. O
H₂CO₃ então se dissocia em CO₂ e H₂O, ambos
expirados pelos pulmões. O pH sanguíneo diminui,
mas não tão drasticamente quanto se não houvesse
tamponamento.

Aplicação da equação de HH:

A combinação do tamponamento pelo HCO₃⁻ e da


A concentração de CO₂ é apresentada na forma de
compensação respiratória resulta em pH quase
pressão parcial vezes coeficiente de solubilidade do
normal. Entretanto, a restauração completa do
CO₂.
balanço acidobásico depende dos rins.

TAMPÃO HPO₄⁻⁻/H₂PO4⁻

O fosfato inorgânico também serve como tampão.


Seu pK é de 6,8, com a porção linear da sua curva
indo do pH 5,8 ao pH 7,8.

Duas características que mostram o tampão de


bicarbonato sendo mais importante que o tampão
A equação também pode ser apresentada no mapa de fosfato, mesmo que seu pK esteja mais distante
acidobásico. É importante notar que combinações do pH fisiológico: 1) o HCO₃⁻ está em
anormais de PCO₂ e [HCO₃⁻] podem produzir concentração bem mais alta (24 mmol/L) do que o
valores normais de pH. fosfato (1 a 2 mmol/L); 2) a forma ácida do tampão
do bicarbonato é o CO₂, que é volátil e pode ser
expirada pelos pulmões.
Associado ao tamponamento existe o segundo
TAMPÕES DO LÍQUIDO INTRACELULAR
mecanismo de proteção, a compensação
respiratória, que evita que o pH caia até esse valor Existem grandes quantidades de tampões
fatalmente baixo. A acidemia estimula intracelulares, incluindo fosfatos orgânicos e
quimiorreceptores, nos corpos carotídeos, que proteínas. Para utilizar esses tampões do LIC nos
produzem aumento imediato da ventilação distúrbios acidobásicos, o H⁺ tem, primeiro, que
(hiperventilação). Todo o excesso de CO₂, e ainda atravessar a membrana celular. Esse processo
mais, é expirado dos pulmões. Essa resposta leva os ocorre por três mecanismos:
valores de PCO₂ para valores abaixo dos normais.
1) Em condições onde ocorre excesso ou déficit de
CO₂, como nos distúrbios acidobásicos

85
respiratórios, o próprio CO₂ pode atravessar as O tampão do LIC mais significativo é a
membranas celulares. hemoglobina, presente em altas concentrações nas
hemácias. O pK da oxiemoglobina (hemoglobina
2) Em condições onde ocorre excesso ou déficit de associada ao oxigênio) é 6,7. Entretanto, a
ácidos fixos, o H⁺ pode entrar ou sair da célula desoxiemoglobina (hemoglobina não oxigenada) é
acompanhado por um ânion orgânico, como o tampão ainda mais eficiente, com pK de 7,9.
lactato. Preserva-se portanto a neutralidade da Quando o sangue passa pelos capilares sistêmicos,
célula. a oxiemoglobina libera o O₂ para os tecidos e se
3) Em outros casos, quando houver excesso ou transforma em desoxiemoglobina, aumentando a
déficit de H⁺ fixo sem acompanhamento de ânion eficiência de tamponamento do H⁺ proveniente da
orgânico, ocorrerá troca de H⁺ por K⁺, para reação do CO₂ com H₂O.
preservar a neutralidade elétrica.
MECANISMOS RENAIS NO BALANÇO ACIDOBÁSICO
Apesar de não estarem no LIC, as proteínas Os rins exercem dois papéis importantes na
plasmáticas podem tamponar o H⁺. Esse processo manutenção do balanço acidobásico normal. Sua
está intrinsecamente relacionado com o cálcio primeira função é a de reabsorver o HCO₃⁻ filtrado,
(Ca⁺⁺). Grupamentos com carga negativa nas de modo que não seja excretado na urina. A
proteínas (p. ex. albumina) podem se ligar ao H⁺ ou segunda função é a de excretar o H⁺ fixo, que é
ao Ca⁺⁺. Na acidemia, ocorre excesso de H⁺ no produzido pelo catabolismo das proteínas e dos
sangue. Como mais H⁺ se liga às proteínas do fosfolipídeos. Existem dois mecanismos para sua
plasma, menos cálcio é ligado, resultando em excreção:
aumento da concentração de Ca⁺⁺ livre. Na
alcalemia, ocorre déficit de H⁺ no sangue. Como 1) Na forma de ácido titulável, ou seja, tamponado
menos H⁺ se liga às proteínas do plasma, mais por fosfato urinário.
cálcio é ligado, resultando em diminuição da
2) Na forma de íons amônio (NH₄⁺).
concentração de Ca⁺⁺ livre (hipocalcemia).
Ocorrem, com frequência, sintomas de Em qualquer uma dessas situações ocorre síntese de
hipocalcemia na alcalose respiratória, incluindo HCO₃⁻ novo.
formigamento, adormecimento e tetania.
REABSORÇÃO DE HCO₃⁻ FILTRADO.
FOSFATOS ORGÂNICOS
Quase 99,9% do HCO₃⁻ filtrado são reabsorvidos.
Inclui o trifosfato de adenosina (ATP), o difosfato A intensidade dessa reabsorção pode ser calculada
de adenosina (ADP), o monofosfato de adenosina comparando a carga filtrada (TFG x [plasmática])
(AMP), a glicose-1-fosfato e o 2,3-bifosfoglicerato com sua intensidade de excreção (Fluxo Urinário x
(2,3-DPG). O H⁺ é tamponado pelo radical fosfato [urina]).
dessas moléculas orgânicas.
A maior parte da reabsorção ocorre no túbulo
Seus valores de pK vão de 6,0 até 7,5. proximal.

PROTEÍNAS

Funcionam como tampões, pois possuem grande


número de grupamentos ácidos e básicos.

86
MECANISMOS

1) A membrana luminal contém trocador Na⁺-H⁺ O bicarbonato pode ser reabsorvido de duas
(transporte ativo secundário). Quando o sódio se formas:
move do lúmen para a célula, a favor do seu
gradiente eletroquímico, o H⁺ vai da célula para o A) Simporte com o sódio.
lúmen contra o seu gradiente (antiporte). B) Troca Cl⁻-HCO₃⁻.
2) O H⁺ secretado se combina com HCO₃⁻ filtrado, Resumo: o processo resulta em reabsorção efetiva
formando H₂CO₃, que se decompõe em CO₂ e H₂O. de sódio e bicarbonato. Não ocorre secreção efetiva
Essa reação é catalisada pela anidrase carbônica da de H⁺, pois todo H⁺ secretado volta na forma de
borda em escova. O CO₂ e a H₂O atravessam a H₂O. Como não ocorre secreção efetiva de H⁺, esse
membrana luminal e entram na célula. mecanismo produz pouca alteração do pH do
É nessa etapa que age os fármacos inibidores de líquido tubular.
anidrase carbônica.
EFEITO DA CARGA FILTRADA DE HCO₃⁻.
3) Dentro da célula a reação se inverte, formando Normalmente, toda carga filtrada é reabsorvida.
novamente H₂CO₃, convertido em H⁺ e HCO₃⁻. Entretanto, quando a concentração de bicarbonato
Reação catalisada pela anidrase carbônica no plasma supera 40 mEq/L, a carga filtrada fica
intracelular. O H⁺ retorna para a primeira etapa e é tão grande que o mecanismo de reabsorção fica
secretado no lúmen e o HCO₃⁻ é transportado pela saturado. Com isso, qualquer bicarbonato que não
membrana basolateral para o sangue. consiga ser absorvido, será excretado.

87
EFEITO DO VOLUME DO LEC reabsorvido, funcionando como mecanismo de
compensação da acidose. Na alcalose respiratória
No túbulo proximal, as variações do volume do
ocorre basicamente o oposto, ou seja, o equilíbrio
LEC alteram a reabsorção isosmótica (de
bicarbonato no caso) por meio de variações das químico é deslocado para a formação de mais CO₂
forças de Starling nos capilares peritubulares. e H₂O, reduzindo a reabsorção de bicarbonato.

A expansão do volume do LEC aumenta sua EXCREÇÃO DE H⁺ NA FORMA DE ÁCIDO TITULÁVEL


pressão hidrostática e reduz sua pressão Por definição, ácido titulável é qualquer H⁺
coloidosmótica. Com isso, ocorre redução da força excretado com os tampões urinários. O fosfato
efetiva de absorção no sentido do LEC, inibindo a inorgânico é o mais importante desses tampões,
reabsorção de bicarbonato. O contrário também é devido à sua concentração relativamente alta na
verdadeiro. urina e seu pK ideal.
No segundo mecanismo, tem-se a participação da
angiotensina no caso de contração do volume do MECANISMOS DE EXCREÇÃO DE ÁCIDOS TITULÁVEIS

LEC. A ANG II estimula a troca Na⁺-H⁺ no túbulo Ácido titulável é excretado principalmente pelas
proximal, estimulando, desse modo, a reabsorção células intercaladas α da porção final do túbulo
de HCO₃⁻ e aumentando sua concentração no distal e dos ductos coletores.
sangue. Esse mecanismo explica o fenômeno da
alcalose da contração (p. ex.: tratamento com 1) Ocorre secreção de H⁺ por meio da H⁺ ATPase
diuréticos de alça, diuréticos tiazídicos, vômito). da membrana luminal das células intercaladas,
sendo estimulada pela aldosterona.
EFEITO DA PCO₂ O outro mecanismo envolve a secreção de H⁺ pela
Aumento da PCO₂ aumenta a reabsorção de H⁺-K⁺ ATPase (antiporte) da membrana luminal.
bicarbonato e a diminuição da PCO₂ a diminui.
No lúmen, o H⁺ se combina com a forma A⁻ do
Na acidose respiratória, o aumento da PCO₂ desvia tampão fosfato, HPO₄⁻⁻, produzindo a forma HA
o equilíbrio químico das células renais tubulares desse tampão, o H₂PO₄⁻. O H₂PO₄⁻ é o ácido
para formação de H⁺ e HCO₃⁻. Assim, mais H⁺ pode titulável que é excretado.
ser secretado e mais bicarbonato pode ser

88
2) O H⁺ secretado pela H⁺ ATPase é produzido nas QUANTIDADE DE TAMPÃO NA URINA
células renais a partir do CO₂ e H₂O, que se A quantidade de H⁺ excretado como ácido titulável
combinam para formar ácido carbônico na presença depende da quantidade de tampões disponíveis na
da anidrase carbônica. Quando se dissocia, o H⁺ é urina. Quanto mais tampão, menores serão as
secretado e o bicarbonato é reabsorvido via variações de pH que a urina irá ocorrer por secreção
trocador Cl⁻-HCO₃⁻. de H⁺.
3) Para cada H⁺ excretado como ácido titulável,
novo bicarbonato é sintetizado e reabsorvido, PK DOS TAMPÕES URINÁRIOS
restaurando o estoques de HCO₃⁻ consumidos no O pK dos tampões também afeta a quantidade de
tamponamento de H⁺ fixo. H⁺ que é excretado. Quanto mais próximo do pH
fisiológico, mais H⁺ poderá ser excretado.

1) Túbulo proximal: enzima glutaminase


EXCREÇÃO DE H⁺ COMO NH₄⁺
metaboliza glutamina em glutamato e NH₄⁺. O
Se os ácidos tituláveis fossem o único mecanismo glutamato é metabolizado indiretamente em
para excretar H⁺, a excreção de H⁺ fixo estaria bicarbonato, sendo reabsorvido através do simporte
limitada pela quantidade de fosfato na urina. Na⁺-H⁺.
A produção de H⁺ fixo é de aproximadamente 50 O NH₄⁺ forma um equilíbrio com NH₃ e H⁺. Como
mEq/L, enquanto somente 20 mEq/L são a amônia é solúvel, ela se difunde seguindo seu
excretados como ácido titulável. gradiente de concentração. O H⁺ é secretado para o
lúmen pelo antiporte com o sódio. A partir disso, o
MECANISMO DE EXCREÇÃO
amônio pode seguir duas vias, uma direta, na qual
Três segmentos participam da excreção de H⁺ e será excretado pela urina, e uma indireta, sendo
NH₄⁺: túbulo proximal, ramo ascendente espesso da reabsorvido pelo ramo ascendente espesso e
alça de Henle e as células intercaladas α dos dutos secretado posteriormente.
coletores. No túbulo proximal, o NH₄⁺ é secretado
pelo trocador de sódio e hidrogênio. No ramo 2) Ramo ascendente espesso: o NH₄⁺ é
ascendente espesso, o NH₄⁺, previamente secretado reabsorvido substituindo o potássio no
nos túbulos proximais, é reabsorvido. Nas células cotransportador Na⁺-K⁺-2Cl⁻. Com isso, pode
intercaladas do duto coletor, o NH₃ e o H⁺ são participar do mecanismo de contracorrente e
secretados para o lúmen, onde se combinam para concentrar o líquido intersticial medular interno.
formar NH₄⁺ que será excretado.

89
3) Duto coletor: o H⁺ pode ser secretado pela H⁺ duto coletor, onde irá se combinar com o H⁺ para
ATPase ou pela H⁺-K⁺ ATPase. Quando é formar NH₄⁺. O NH₄⁺ não é lipossolúvel e é retido
secretado, a amônia se difunde do seu local de alta no duto coletor.
concentração no LEC medular para o lúmen do

90
Em pessoas com cetoacidose diabética, a produção
EFEITO DO PH URINÁRIO SOBRE A EXCREÇÃO DE
NH₄⁺ de ácido fixo pode estar aumentada por até 10
vezes, 500 mEq/dia. A excreção de NH₄⁺ é
À medida que o pH da urina diminui, a excreção de
aumentada, pois a acidose induz enzimas
H⁺, como NH₄⁺, aumenta. Quando o pH da urina
envolvidas no metabolismo da glutamina,
diminui, fração maior do tampão urinário se
aumentando a síntese de amônia. Na cetoacidose,
encontra na forma de NH₄⁺ e menos na forma de
os sais butirato e acetoacetato são filtrados e
NH₃. Quanto mais baixa a concentração luminal de
servem com tampões urinários, igual ao fosfato.
NH₃, maior o gradiente para a sua difusão do LEC
medular para o líquido tubular. Na insuficiência renal crônica, ocorre perda
progressiva dos néfrons, e os mecanismos renais de
Vantagem: Na acidose, onde o pH da urina tende a
excreção de ácidos fixos ficam muito prejudicados,
ser baixo, existe grande quantidade de H⁺ para ser
pois: 1) a filtração glomerular, e
excretada.
consequentemente, a carga filtrada de fosfato
diminuem; 2) a síntese de amônia está prejudicada
EFEITO DA CONCENTRAÇÃO PLASMÁTICA DE K⁺
nos néfrons doentes. Logo, ocorre acidose
SOBRE A SÍNTESE DE NH₃
metabólica por falha de excreção.
A hipercalemia inibe a síntese de amônia e reduz a
capacidade de excretar H⁺ na forma de NH₄⁺, DISTÚRBIOS ACIDOBÁSICOS
causando acidose tubular renal. O K⁺ entra na
Acidemia: aumento da concentração de H⁺ no
célula e o H⁺ sai, reduzindo o pH intracelular e
sangue ou a diminuição de pH, sendo causada pela
inibindo a síntese de amônia a partir da glutamina.
acidose.
A hipocalemia estimula a síntese de amônia e
Alcalemia: diminuição da concentração de H⁺ no
aumenta a capacidade de excretar H⁺ como NH₄⁺.
sangue ou aumento de pH, sendo causada pela
O potássio sai das células renais e o hidrogênio
alcalose.
entra, reduz o pH intracelular e estimula a síntese
de amônia a partir da glutamina. Os distúrbios do pH sanguíneo podem ser causados
por alterações primárias da concentração de
COMPARAÇÃO DA EXCREÇÃO DE ÁCIDO TITULÁVEL bicarbonato ou por alteração primária da pressão
COM A EXCREÇÃO NH₄⁺ parcial do CO₂. Eles são descritos como distúrbios
metabólicos ou respiratórios, respectivamente.

Existem quatro distúrbios acidobásicos simples:

1) Acidose metabólica: redução de bicarbonato


causada pelo aumento de H⁺ ou pela perda de
bicarbonato.

2) Alcalose metabólica: aumento de bicarbonato


causado pela perda de H⁺ ou pelo ganho de
bicarbonato.

Em pessoas normais, cerca de 50 mEq de H⁺ fixo 3) Acidose respiratória: aumento da PCO₂ causado
são produzidos diariamente. Os rins excretam 40% por hipoventilação.
como ácido titulável e 60% como NH₄⁺.

91
4) Alcalose respiratória: diminuição da PCO₂
causada pela hiperventilação.

Linhas de defesa: 1) tamponamento no LEC e LIC;


2) compensação respiratória; e 3) compensação
renal.

HIATO ANIÔNICO DO PLASMA

Medida útil para o diagnóstico dos distúrbios


acidobásicos, principalmente no diagnóstico
diferencial de acidose metabólica. É baseado no
princípio de eletroneutralidade.

O sódio, o bicarbonato e o cloreto são íons capazes


de serem dosados no sangue. A soma desses ânions .
não supera a concentração de sódio, dando a
Na acidose metabólica, considerando que o sódio
entender a presença de outros ânions não medidos,
permaneça constante e que o bicarbonato esteja
como proteínas plasmáticas, fosfato, citrato e
reduzido, outro ânion deve aumentar para manter a
sulfato.
eletroneutralidade. Esse ânion pode ser o cloreto ou
O hiato aniônico plasmático é calculado da seguinte do grupo dos não medidos. Na primeira situação, o
maneira: HAP estará normal. Na segunda situação, o HAP
estará aumentado.

HAP AUMENTADO

A diminuição de HCO₃⁻ é contrabalanceada pelo


aumento da concentração de um ânion não medido.
Ocorre aumento de HAP e a acidose é chamada de
acidose metabólica com aumento de hiato
aniônico.

Em algumas causas de acidose metabólica também


ocorre hiato osmolar – é a diferença entre a
osmolaridade plasmática medida e a osmolaridade
plasmática estimada. Por exemplo, no caso da
intoxicação por metanol (baixo peso molecular),
A faixa de valores normais para o HAP é de 8 a 16
ocorre acréscimo significativo de moles de soluto
mEq/L

92
ao plasma, aumentando a osmolaridade plasmática 1) Distúrbios metabólicos: tem uma faixa apenas de
medida. Como a osmolaridade plasmática estimada valores esperados, pois a compensação respiratória
não leva em conta estes solutos pouco comuns, ocorre imediatamente.
existirá um hiato.
2) Distúrbios respiratórios: tem duas faixas de
HAP NORMAL valores esperados, uma para distúrbio agudo e
outro para distúrbio crônico. O primeiro está
Nos casos de diarreia, acidose tubular renal, entre
outros, nenhum ânion orgânico fica acumulado. presente antes da compensação renal, tendo pH
Ocorre aumento proporcional de cloreto. Esse tipo mais anormal. O segundo está presente após
de acidose é denominada acidose metabólica compensação renal, levando vários dias. O pH
tende a ser mais normal.
hiperclorêmica com hiato aniônico normal.
Se os valores estiverem dentro da área sombreada,
MAPA ACIDOBÁSICO pode-se concluir que o distúrbio é simples. Caso
Método conveniente de avaliar o estado contrário, ele é misto (mais de um distúrbio junto).
acidobásico do paciente.

93
REGRAS PARA AS RESPOSTAS COMPENSATÓRIAS respiratório, as regras preveem alteração
compensatória esperada da concentração de HCO₃⁻
Mecanismo alternativo ao mapa acidobásico. Para
para dada variação da PCO₂. Nos distúrbios
cada distúrbio metabólico, as regras preveem a
respiratórios existem as previsões agudas e
alteração compensatória esperada da PCO₂ para
crônicas.
dada variação da [HCO₃⁻]. Para cada distúrbio

Se os valores no sangue forem os mesmos do O mais comum:


previsto é distúrbio simples.
1) Ganho de H⁺ fixo.
ACIDOSE METABÓLICA
2) Tamponamento. Diminuição da concentração de
É causada pela diminuição da [HCO₃⁻] no sangue. HCO₃⁻. Queda de pH de acordo com a equação de
Pode resultar da produção aumentada de ácidos HH. Caso o H⁺ entre nas células pelo trocado com
fixos; da ingestão de ácidos fixos; da incapacidade o K⁺, pode provocar hipercalemia.
dos rins de excretarem ácidos fixos; ou da perda de
HCO₃⁻ pelos rins ou pelo TGI. 3) Compensação respiratória. Diminuição da PCO₂.

94
4) Correção renal. O excesso de H⁺ vai ser 2) Tamponamento. Para utilizar os tampões do LIC,
excretado na forma de ácido titulável e de amônio. o H⁺ sai das células em troca de K⁺, resultando em
Simultaneamente, mais HCO₃⁻ é sintetizado nas hipocalemia.
células renais.
3) Compensação respiratória. Aumento da PCO₂.
ALCALOSE METABÓLICA

Causada por aumento da concentração de HCO₃⁻


no sangue. Pode ser resultado da perda de H⁺ fixo
pelo sistema GI; perda de H+ fixo pelos rins;
administração de solução contendo HCO₃⁻; da 4) Correção renal. Excesso de bicarbonato
contração de volume do LEC. excretado pelos rins.

Essa correção é complicada quando existe


contração de volume do LEC associada (p.ex.
vômito). Essa contração produz 3 efeitos que irão
manter a alcalose (alcalose de contração). São eles:
1) forças de Starling aumentando a reabsorção; 2)
aumento nos níveis de angiotensina II, que estimula
a troca de sódio por hidrogênio e promove a
O mais comum: reabsorção de bicarbonato filtrado; e 3) níveis
aumentados de aldosterona, que estimulam a
1) Perda de ácido fixo. Exemplo clássico do secreção de H+ e a reabsorção de novo bicarbonato.
vômito.

ACIDOSE RESPIRATÓRIA 1) Retenção de CO₂. Diminuição do pH.

Causada pela hipoventilação resultando na retenção 2) Tamponamento. Ocorre exclusivamente no LIC,


de CO₂. especialmente nas hemácias.

3) Compensação renal. Aumento da excreção de H⁺


na forma de ácido titulável e de amônio e no
aumento da síntese e reabsorção das novas
moléculas de bicarbonato.

95
Na acidose respiratória crônica, a compensação
renal está ocorrendo, o que aumenta a concentração
de bicarbonato.
Na acidose respiratória aguda, a compensação renal OBS: não ocorre compensação respiratória, pois é
não ocorreu e o pH tende ser muito baixo. a causa do distúrbio.

ALCALOSE RESPIRATÓRIA 3) Compensação renal. Consiste na diminuição da


excreção de H+ na forma de ácido titulável e de
A alcalose respiratória é causada por
amônio, e na diminuição da síntese e da reabsorção
hiperventilação, que resulta na perda excessiva de
de novas moléculas de bicarbonato.
CO₂.

Na alcalose respiratória aguda, a compensação


1) Perda de CO₂. Aumento do pH. Também causa renal ainda não ocorreu e o pH é bem alto.
diminuição da concentração de bicarbonato.
Na alcalose respiratória crônica, a compensação
2) Tamponamento. Ocorre exclusivamente no LIC, está ocorrendo, o que diminui, ainda mais, a
em especial nas hemácias. concentração de bicarbonato.

96
PROBLEMA 5
LÍQUIDOS CORPORAIS

O bom funcionamento do corpo depende da


homeostasia e do controle dos fluidos corporais.
Isso ocorre mediante mecanismos de regulação de
volume intracelular e extracelular, ácido-base e
trocas de líquidos.

ENTRADA E SAÍDA DE LÍQUIDOS É BALANCEADA

A ingestão média de água se situa em 2,1L/dia em


estado normal de repouso, somada à produção de
cerca de 200mL/dia em decorrência da
metabolização de carboidratos. Por outro lado, a
perda de água pode ocorrer por evaporação do trato
respiratório e difusão pela pele, o que soma em
torno de 700mL/dia. Isso é conhecido como perda Guyton – Fisiologia 13ºEd.
insensível de água, já que não percebemos essa
perda. Cerca de 40% do peso corporal é de líquido
intracelular, enquanto 20%, de líquido extracelular.
A difusão pela pele representa cerca de 300 a
400mL de água e é amenizada pela camada VOLUME SANGUÍNEO
cornificada cheia de colesterol da pele. No caso de Representa cerca de 7% do peso do corpo e volume
pessoas que sofrem com queimaduras e essa de cerca de 5L. Contem tanto líquido extracelular
barreira não está presente, a perda pode ser de 3 a como também intracelular no interior das hemácias.
5L. Mas é considerado um compartimento separado por
ter sua própria câmara, o sistema circulatório.
Com o suor, a quantidade normal de perda se situa
Cerca de 60% do sangue é composto por plasma e
próxima a 100mL/dia, mas, em dias muito quentes
40% por hemácias. Porém, esse percentual pode se
ou associada à atividade física intensa, pode chegar
alterar devido a fatores como sexo, peso e idade.
a 1 ou 2L por hora. Nas fezes, o normal é de
100mL/dia. O valor de água eliminada na urina em O hematócrito, a fração de sangue representada
uma pessoa desidratada, por exemplo, fica em torno pelas hemácias, representa 96% do hematócrito
de 0,5L enquanto em uma pessoa ingerindo grandes centrifugado (porque uma porcentagem do plasma
quantidades de água, em torno de 20L/dia. permanece entre as células). Em homens, o
hematócrito é de 0,40, enquanto nas mulheres,
Outro fato importante é que a água do corpo se
0,36. Na anemia grave, o hematócrito pode cair até
encontra no liquido intracelular e líquido
0,1. Pelo contrário, na policitemia, que se
extracelular (plasma+líquido intersticial). Esses
caracteriza pela produção excessiva de hemácias, o
são os dois compartimentos de armazenagem de
valor pode subir até 0,65.
água. Em um homem saudável, a água representa
60% do peso corporal, enquanto na mulher, 50%
devido à facilidade em armazenar gordura.

97
COMPOSIÇÃO DO LÍQUIDO INTRACELULAR E mais proteínas do que o líquido intersticial, já que
EXTRACELULAR os capilares são pouco permeáveis às proteínas
plasmáticas.

Por causa do efeito Donnan, a concentração de


íons positivamente carregados é um pouco maior
no plasma do que no líquido intersticial.

MEDIDA DOS VOLUMES LÍQUIDOS NOS DIFERENTES


COMPARTIMENTOS LÍQUIDOS DO CORPO – O
PRINCÍPIO INDICADOR -DILUIÇÃO

O volume de líquido em um compartimento pode


ser calculado colocando-se uma substância
indicadora nesse compartimento e analisando sua
diluição. Caso nenhuma das substâncias vaze para
fora do compartimento, a massa total do
compartimento (Volume B x Concentração B) será
igual à massa total injetada (Volume A x
Concentração A):

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

Reorganizando a fórmula, temos que:


Guyton – Fisiologia 13ºEd.

AS COMPOSIÇÕES IÔNICAS DO PLASMA E DO


LÍQUIDO INTERSTICIAL SÃO SIMILARES
Logo, com a medição da concentração nessa
O plasma e o líquido intersticial são muito
câmara e com os dados de volume e concentração
semelhantes porque são separados apenas pela
do que foi injetado, pode-se conseguir o volume
membrana capilar, que é altamente permeável à
nesse compartimento em específico.
íons. A principal diferença é que o plasma contém

98
MEDIDA DA ÁGUA TOTAL DO CORPO rápido pelas membranas vasculares. Para isso, são
usados o corante azul de Evans(T-1824), que se
A água radioativa (trítio, 3H2O) ou a água pesada
liga rapidamente à proteínas plasmáticas e a
(deutério, 2H2O) podem ser usados para medir a
utilização da albumina sérica ligada à iodo
quantidade de água no corpo. Essas formas se
radiativo (125I-albumina).
misturam à água do corpo e podem ser usadas para
determinar o volume pelo princípio da diluição.
CALCULO DO VOLUME DE LÍQUIDO INTERSTICIAL
Outra substância que pode ser usada é a antipirina, Também medido de forma indireta:
que altamente lipossolúvel e pode se difundir
rapidamente pelas membranas celulares e Volume intersticial = Volume LEC – Volume plama
distribuir-se uniformemente pelos compartimentos
MEDIDA DO VOLUME SANGUÍNEO
intra e extracelulares.

REGULAÇÃO DA TROCA DE LÍQUIDOS E EQUILÍBRIO


OSMÓTICO ENTRE LÍQUIDOS INTRACELULARES E
EXTRACELULARES

As quantidades relativas de líquido extracelular,


divididos entre o plasma e os espaços intersticiais
Guyton – Fisiologia 13ºEd. são determinados principalmente pelo equilíbrio
das forças hidrostáticas e coloidosmóticas através
MEDIDA DO VOLUME DO LÍQUIDO EXTRACELULAR das membranas dos capilares.

Pode ser feita com qualquer substância que se A distribuição dos líquidos entre os
difunda pelo plasma e não seja permeável pela compartimentos intra e extracelulares é
membrana celular. Alguns exemplos estão na determinada pelo efeito osmótico de solutos
tabela acima, retirada do Guyton. Essas substâncias menores, como sódio, cloreto e eletrólitos, agindo
se dispersam completamente pelos compartimentos através da membrana. Uma explicação para isso é
de 30 a 60 minutos. Entretanto, uma pequena parte que as membranas celulares são muito permeáveis
se difunde pelas células, como por exemplo, o à água e pouco permeáveis à íons menores que a
sódio radiativo, e em vez de falar do volume real, água. Assim, a água se move rapidamente através
fala-se de espaço de sódio e espaço de inulina. da membrana celular e o líquido intracelular
permanece isotônico em relação ao líquido
CÁLCULO DO VOLUME INTRACELULAR extracelular.
Não pode ser calculado diretamente, por isso, usa-
se a fórmula: OSMOLALIDADE

A concentração osmolar de uma solução é chamada


Volume LIC = Volume Água total – Volume LEC
osmolalidade quando a concentração é expressa em
osmóis por quilograma de água. Quando for
CÁLCULO DO VOLUME TOTAL DE PLASMA
expressa em osmóis por litro de solução, é chamada
Pode ser calculado usando uma substância que deve de osmolaridade.
permanecer no sistema vascular e não perfundir

99
CÁLCULO DA OSMOLARIDADE E PRESSÃO OSMÓTICA O EQUILÍBRIO OSMÓTICO É MANTIDO ENTRE OS
DE UMA SOLUÇÃO LÍQUIDOS INTRA E EXTRACELULARES

Utilizando-se da lei de Van’t Hoff é possível Para aumento de cada miliosmol no gradiente de
encontrar a pressão osmótica potencial de uma concentração de soluto impermeante na membrana,
solução, assumindo-se que a membrana é 19,3 mmHg de pressão osmótica são aplicados à
impermeável ao soluto (p.933, no pdf da 13ªEd.). membrana celular. Caso a membrana celular (282
mOsm/L no líquido intracelular) seja exposta à
OSMOLARIDADE DOS LÍQUIDOS CORPORAIS água pura, a pressão osmótica potencial pode
Cerca de 80% da osmolaridade total do líquido superar 5400mmHg.
intersticial e do plasma são influenciados
SOLUÇÕES ISOTÔNICAS, HIPOTÔNICAS E
principalmente pelos íons sódio e cloreto, enquanto HIPERTÔNICAS
no líquido intracelular, por causa do potássio. A
osmolaridade total de cada um dos três Abaixo, considera-se os solutos impermeantes:
compartimentos fica em torno de 300mOsm/L,
Isotônicas (=282 mOsm/L): não alteram o volume
sendo a osmolaridade do plasma 1 mOsm/L maior
da célula nessa solução. Por exemplo, cloreto de
que nos outros dois porque os efeitos osmóticos das
sódio a 0,9% ou glicose a 0,5%. São importantes
proteínas do plasma causam um aumento de
para a medicina por não alterarem o equilíbrio
pressão osmótica de 20mmHg maior que nos
osmótico da célula em estados normais.
espaços intersticiais adjacentes.
Hipotônicas (<282 mOsm/L): o volume da célula
aumenta por causa da osmose. Soluções com
cloreto de sódio a menos de 0,9% causam esse
fenômeno. Caso o inchamento ultrapasse a
capacidade de distensão da membrana, ela se
rompe.

Hipertônicas (>282 mOsm/L): a água sairá da


célula para o líquido extracelular. Nesse caso, a
célula encolherá até que as osmolaridades se
igualem. Soluções de cloreto de sódio maiores que
0,9% são hipertônicas.

Quando o fato de os solutos serem ou não


permeantes não importa, utiliza-se a relação com
sua osmolaridade. No caso, usa-se isosmótico,
hiperosmótico e hipo-osmótico.

Outro ponto é que o equilíbrio osmótico pode ser


atingido, em todo o corpo, rapidamente (cerca de
30 minutos). Isso ocorre porque, mesmo a água
Guyton – Fisiologia 13ºEd. conseguindo realizar difusão de segundos a
OBS.: A atividade osmolar corrigida sofre minutos, a água passa primeiro para o sistema
decréscimo em virtude da interação de alguns digestório e depois para o sangue antes de
cátions com ânions. finalmente chegar aos tecidos.

100
A hipófise anterior secreta seis (dentre vários
PROBLEMA 8.1 outros) hormônios peptídicos importantes para o
controle das funções metabólicas:
SISTEMA ENDÓCRINO
• Hormônio do crescimento: nome
O sistema endócrino representa glândulas que autoexplicativo.
produzem hormônios que caem na corrente • Adrenocorticotropina (corticotropina):
sanguínea em direção aos tecidos alvo, agindo controla secreção de hormônios
como “sinalizadores” para processos importantes. arenocorticais que afetam o metabolismo da
glicose.
HIPÓFISE
• Hormônio estimulador da tireoide
(tireotropina): controla a secreção de
tiroxina e tri-iodotironina, que controlam a
velocidade da maioria das reações químicas
intracelulares do organismo.
• Prolactina: desenvolvimento da glândula
mamária e estimula produção de leite.
• FSH e LH: crescimento dos ovários e
testículos e controle de suas atividades
hormonais e reprodutivas.

A hipófise posterior possui dois hormônios


importantes:

Guyton – Fisiologia 13ºEd. • ADH: controla a excreção da água na urina


e controla a quantidade de líquidos
A hipófise, também chamada de pituitária, se
corporais.
localiza na sela túrcica e é ligado ao hipotálamo
• Ocitocina: ejeção de leite pelas glândulas
pelo pedúnculo hipofisário. É dividido em adeno-
mamárias para o mamilo e possivelmente
hipófise (hipófise anterior) e neuro-hipófise
desempenha papel no parto.
(hipófise posterior). Entre elas há uma parte
intermediária. A anterior se origina do epitélio
faríngeo embrionário (bolsa de Rathke) e a
posterior se origina do crescimento do tecido neural
do hipotálamo.

Google imagens Guyton – Fisiologia 13ºEd.

101
O hipotálamo é estimulado por fatores diversos,
como excitação, medo, dor, depressão, cheiro, entre
outros. Isso nos mostra que ele é responsável por
coletar informações acerca da situação do corpo.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

HIPOTÁLAMO CONTROLA A SECREÇÃO DA HIPÓFISE


Fonte: UNICAMP
A secreção da hipófise posterior é controlada por
sinais nervosos, enquanto a anterior é controlada HORMÔNIOS INIBIDORES E ESTIMULADORES
pela ação de hormônios liberadores e hormônios
hipotalâmicos inibidores, que são transportados
por meio de vasos portais hipotalâmicos. Na parte
anterior, esses hormônios agem nas células
glandulares, de forma a modular sua produção.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

Esses hormônios hipotalâmicos são liberados na


eminência mediana por meio de terminações de
neurônios hipotalâmicos, que secretam essas
substâncias nos líquidos teciduais.

Um fato interessante é que os corpos celulares dos


neurônios envolvidos na secreção estão em locais
Guyton – Fisiologia 13ºEd. diferentes do hipotálamo. Entretanto, não se sabe
com precisão em qual parte.

102
FUNÇÕES FISIOLÓGICAS DO HORMÔNIO DO • Aumento do transporte de aminoácidos
CRESCIMENTO através das membranas celulares: isso
deve causar um aumento nas proteínas
Diferente dos outros principais hormônios da
produzidas.
hipófise anterior, o hormônio de crescimento não
age em uma glândula-alvo. De maneira singular, • Aumento na tradução de RNA para
ele age diretamente em quase todos os tecidos do provocar a síntese de proteínas pelos
corpo. ribossomos.
• Aumentar a transcrição nuclear de DNA
EFEITOS NO CRESCIMENTO
para formar RNA: talvez a função mais
importante do hormônio de crescimento.
O hormônio do crescimento, também chamado de Aumenta a síntese proteica.
somatotropina ou hormônio somatotrópico, é uma
• Redução do catabolismo de proteínas e
pequena molécula proteica contendo 191
dos aminoácidos: provavelmente por
aminoácidos em cadeia única, com peso molecular
aumentar a disponibilidade de ácidos
22005.
graxos.
Estimula divisão celular, aumento no tamanho das
AUMENTO DA MOBILIZAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS
células e diferenciação de alguns tipos celulares em
tecidos que podem crescer. Isso só ocorre até Essa última função é provocada pelo aumento da
atingir a fase adulta, em que, por exemplo, o conversão de ácidos graxos em Acetil-CoA e sua
crescimento ósseo não aumenta tanto e os tecidos utilização como fonte de energia. Sob a influência
moles continuam a se desenvolver. Esse fato se do hGH, a gordura é utilizada como fonte principal
deve à estabilização do crescimento ósseo depois de energia, em detrimento ao carboidrato e a
da união das epífises dos ossos longos. proteínas. O problema disso é que o excesso de GH
pode levar à cetose por excesso de formação de
ácido acetoacético e, em consequência da
mobilização excessiva de ácidos graxos, deposição
de gordura no fígado.

REDUZ A UTILIZAÇÃO DE CARBOIDRATOS

No metabolismo de carboidratos, o GH age


diminuindo a captação de glicose pelos tecidos,
como o musculoesquelético e adiposo,
aumentando a produção de glicose pelo fígado e
Guyton – Fisiologia 13ºEd. aumentando a secreção de insulina.

EFEITOS METABÓLICOS
Todas essas alterações resultam da resistência à
insulina induzida pelo hormônio de crescimento.
Os efeitos metabólicos da somatotropina, além do Isso provoca um aumento da quantidade de glicose
crescimento, são três: disponível no sangue e um aumento compensatório
AUMENTO DA SÍNTESE DE PROTEÍNAS
nos níveis de insulina. Por isso esses efeitos são
chamados de diabetogênicos, já que são muito
O crescimento leva ao aumento da deposição de parecidos com os encontrados na diabetes tipo II.
proteínas nos tecidos por meio de mecanismos Acredita-se que os ácidos graxos contribuam para a
como: ocorrência dessa resistência.

103
CRESCIMENTO ÓSSEO membranosos. Os ossos da mandíbula podem
continuar a crescer mesmo após o fim da
adolescência, assim como os da face, causando
protusões. O GH não funciona em pessoas sem
pâncreas e nem com carência de carboidratos.

SOMATOMEDINAS: SUBSTÂNCIAS INTERMEDIÁRIAS


DO GH

O hormônio do crescimento leva o fígado, e em


menor extensão outros tecidos, a produzir diversas
pequenas proteínas chamadas somatomedinas, que
Google imagens apresentam potente efeito de aumentar o
crescimento ósseo. Os efeitos da maior parte das
O papel do GH no crescimento ósseo está ligado a somatomedinas é bem semelhante ao efeito da
vários processos concomitantes, como por insulina no crescimento, por isso são chamadas de
exemplo: fatores de crescimento semelhantes à insulina
(IGFs).
1. Aumento da deposição de proteínas pelas
células osteogênicas e condrocíticas; Quatro delas foram isoladas, sendo a mais
2. Aumento da reprodução dessas células; importante a somatomedinas C (IGF-I) e sua
3. Efeito específico de conversão de concentração plasmática é próxima a do hGH. Um
condrócitos em células osteogênicas e exemplo dessa importância se dá na tribo dos
ocasionando a deposição de um novo osso. pigmeus, que apresentam a incapacidade de
produzí-la.
Esse crescimento ósseo ocorre mediante a dois
principais mecanismos.

Primeiramente, em resposta ao estímulo do hGH,


os ossos longos crescem em comprimento nas
cartilagens epifisárias, onde as epífises nas
extremidades estão separadas dos ossos longos.
Nesse processo, primeiro há deposição de
cartilagem e depois ocorre a conversão desse tecido
em novo osso. Isso ocorre até que toda a cartilagem
epifisária seja consumida e ocorra a fusão das
epífises em cada uma das extremidades.

Em segundo lugar, osteoblastos, que são células


presentes no periósteo, depositam novo osso por
Google imagens
cima do osso antigo, enquanto osteoclastos agem
retirando o osso que está por baixo. O hGH age OBS.: Vale a pena ler a página 2723 do Guyton
estimulando fortemente os osteoblastos. Dessa 13°Ed, que trata sobre esse tema, já que pode cair
forma, os ossos podem aumentar sua espessura por na prova.
toda a vida sob influência do hormônio do
crescimento, principalmente em ossos O GH tem uma meia-vida curta (de cerca de 20
minutos), já que se liga fracamente às proteínas

104
plasmáticas. Por outro lado, a somatomedina C tem adolescente, cerca de 6 ng/mL, podendo atingir
ligação forte com uma proteína plasmática, tendo 50ng/mL no jejum intenso acompanhado da
meia-vida de cerca de 20 horas. Como resultado, o depleção das reservas de proteína e carboidrato.
IGF-I é secretado lentamente de sangue para os
tecidos. A hipoglicemia, sob situações agudas é o mais
potente estimulador da secreção do hormônio de
crescimento. Em caso de condições graves de
desnutrição proteica (Kwashiorkor), a ingestão de
quantidades adequadas de caloria não é capaz de
corrigir o excesso de produção do hormônio de
crescimento.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DO HORMÔNIO DO


CRESCIMENTO

Após a adolescência, foi identificado que a


quantidade desse hormônio secretado cai
consideravelmente atingindo creca de 25% do valor
da adolescência em pacientes muito idosos.

Não se sabe ao certo quais fatores influenciam na


regulação desse hormônio, mas alguns foram Guyton – Fisiologia 13ºEd.
identificados como importantes estimuladores de
sua secreção, como por exemplo o jejum O PAPEL DO HIPOTÁLAMO, DO HORMÔNIO
(especialmente acompanhada de carência grave de LIBERADOR DO HORMÔNIO DO CRESCIMENTO E DA
SOMATOSTATINA NO CONTROLE DA SECREÇÃO DO
proteínas), hipoglicemia ou baixa concentração de
HORMÔNIO DO CRESCIMENTO
ácidos graxos no sangue, exercício, excitação,
trauma e grelina (hormônio secretado pelo Sabe-se que dois fatores são importantes para a
estômago antes das refeições). Além disso, a secreção do GH, que são o hormônio liberador do
concentração desse hormônio aumenta durante o hormônio de crescimento (GHRH) e o hormônio
sono. inibidor do hormônio de crescimento
(somatostatina). Ambos são polipeptídicos com 44
e 14 aminoácidos, respectivamente.

O GHRH tem origem no hipotálamo, no núcleo


ventromedial (mesma região sensível à glicose no
sangue, levando à saciedade, nos estados
hiperglicêmicos). Consequentemente, acredita-se
Guyton – Fisiologia 13ºEd.
que alguns dos mesmos sinais que modificam os
Sua concentração normal no plasma de um adulto é impulsos alimentares comportamentais também
de cerca de 1,6 a 3 ng/mL e na criança ou influenciem a secreção do GH.

105
ANORMALIDADES RELACIONADAS

Pan-hipopituitarismo: secreção reduzida de todos


os hormônios da hipófise anterior. Pode ser
congênito ou resultado de tumor.

Nanismo: resultado de pan-hipopituitarismo na


infância, na maioria dos casos. Desenvolvimento
proporcional e reduzido. Na maioria dos casos, há
baixa de GH. Entretanto, como no caso dos
pigmeus e do anão de Lévi-Lorain, a secreção de
GH é normal ou elevada e a somatomedina C está
Google imagens
deficiente.

Vale salientar que catecolaminas, dopamina e O GH é específico de cada espécie, podendo ser
atualmente produzido a partir da bactéria
O GHRH estimula a secreção do GH ao se ligar a Escherichia coli como resultado da aplicação da
receptores específicos de membrana celular nas tecnologia do DNA recombinante.
superfícies externas da das células do hormônio de
crescimento, na hipófise. Esse sinal ativa a Gigantismo: Ocasionalmente, as células
adenilato ciclase, que aumenta o nível de AMPc acidofílicas produtoras de GH ficam muito ativas e,
que, à curto prazo, causa o aumento do transporte às vezes, até mesmo tumores acidofílicos ocorrem
de cálcio e liberação das vesículas que contém o na glândula. Como consequência, são produzidas
GH e, à longo prazo, aumenta a transcrição de grandes quantidades de hormônio. Esse fato ocorre
genes responsáveis pela estimulação da produção se o tumor ocorrer antes da adolescência.
do hormônio de crescimento. Acromegalia: causada pelo aumento da secreção
Logo, por não conhecermos de fato os mecanismos de GH após a adolescência. O paciente não cresce
por trás de seu controle, acredita-se que os mais, porém há incremento na espessura dos ossos
principais controladores da sua secreção são o e crescimento dos tecidos moles.
estado nutricional tecidual geral, especialmente o
HIPÓFISE POSTERIOR E SUA RELAÇÃO COM O
nível proteico. Isso nos mostra que níveis baixos de HIPOTÁLAMO
proteína ou necessidade extrema (como no
exercício físico intenso) causam sua estimulação. Também chamada de neuro-hipófise, a hipósfise
posterior é composta por células semelhantes às
glias, chamadas pituícitos. Elas têm função de
suporte às terminações nervosas oriundas do
hipotálamo, principalmente dos núcleos
supraóptico e paraventricular. Esses tratos chegam
à hipófise posterior pelo pedúnculo hipofisário. As
terminações nervosas são botões bulbosos que
possuem vários grânulos secretores.

Essas terminações secretam ADH e ocitocina na


superfície dos capilares sanguíneos.

106
O ADH é formado, primeiramente, nos núcleos supraópicos e paraventriculares transmitem
supraópticos, enquanto a ocitocina é produzida, impulsos para a hipófise posterior, que secreta
primeiramente, nos núcleos paraventriculares. E quantidades até 20 vezes maiores de ADH.
essas duas porções podem sintetizar cerca de um Também, acredita-se que os osmorreceptores
sexto do outro hormônio. (células sensíveis a alterações de osmolaridade do
líquido extracelular) estejam localizados no
Quando impulsos nervosos são transmitidos para hipotálamo.
baixo, ao longo das fibras dos núcleos, o hormônio
é imediatamente liberado dos grânulos secretores Baixo volume sanguíneo e a baixa pressão
por exocitose. Tanto a neurofisina (proteínas sanguínea estimulam a secreção de ADH
transportadoras de ADH e ocitocina) quanto o (vasopressina). Concentrações elevadas de
hormônio são secretados juntos, porém com ligação vasopressina aumentam a contração das arteríolas
fraca entre si. do corpo e, por fim, aumentam a resistência e
pressão arterial.

Os átrios possuem receptores de distensão, os


barorreceptores, que mandam sinais para o cérebro
de forma a inibir a secreção de ADH. Num cenário
de baixa volemia (cerca de 25% do total), a
diminuição da distensibilidade dos barorreceptores
das carótidas, aórtica e pulmonar estimulam
fortemente (em até 50 vezes) a secreção de ADH.

OCITOCINA

A ocitocina provoca a contração do útero grávido e


auxilia na ejeção do leite pelos seios.

Guyton – Fisiologia 13ºEd. REFERÊNCIAS

HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall


FUNÇÕES FISIOLÓGICAS DO ADH
Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro:
Pequenas quantidades desse hormônio causam Elsevier, 2017.
efeito antidiurético. Na ausência de ADH, os
túbulos e ductos coletores ficam quase
impermeáveis à água. Esse hormônio se associa a
receptores de membrana que ativam a adenilato
ciclase, que liberam AMPc, que fosforila elementos
das vesículas que liberam aquaporina em várias
porções dos túbulos.

REGULAÇÃO DO ADH

O aumento da osmolaridade do líquido


extracelular estimula a secreção de ADH.
Quando uma solução salina é injetada na artéria que
irriga o hipotálamo, as células dos núcleos

107
para o sangue do mesmo modo que o cloreto,
PROBLEMA 8.2 praticamente.

TIREOIDE A membrana basal das células tireoidianas tem a


capacidade de bombear ativamente iodeto para
dentro da célula, pelo simporte de sódio-iodeto e
utiliza o gradiente formado pela Sódio-potássio-
ATPase, que joga sódio para fora e facilita sua
entrada junto ao iodo. O TSH estimula a atividade
da bomba iodeto.

BIOQUÍMICA DE FORMAÇÃO DA TIROSINA E


TRIIODOTIRONINA E A TIREOGLOBULINA

As células da tireoide são células glandulares


secretoras de proteínas. O retículo endoplasmático
e o aparelho de Golgi sintetizam e secretam para os
folículos (também chamados de ácinos) a
Silverthorn – Fisiologia (2017)
glicoproteína tireoglobulina, que contém cerca de
70 aminoácidos tirosina, que são os principais
substratos para a produção de hormônios
tireoidianos. A tireoglobulina é empacotada em
vesículas e secretada no centro do folículo.
As células foliculares também concentram
ativamente o iodo da dieta, usando o simporte
sódio-iodo (NIS, do inglês, sodium-iodide
symporter).

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

A tireoide é uma glândula em formato de borboleta


que repousa sob a traqueia, na base da garganta,
logo abaixo da laringe. É composta por folículos
fechados, cheios de uma substância secretora
chamada coloide (composta por, principalmente,
pela glicoproteína tireoglobulina), e revestidos por
células epiteliais cuboides. Também possui
Células C, que secretam calcitonina, hormônio
regulador da concentração dos íons cálcio.

IODO

O iodo é importante para a formação de tirosina, a


uma taxa necessária de 50mg por ano. O iodeto Guyton – Fisiologia 13ºEd.

ingerido é absorvido do sistema gastrointestinal

108
Silverthorn – Fisiologia (2017)

Assim que entra no coloide, o iodo perde um Inicialmente, a superfície apical das células da
elétron, em virtude da ação da enzima tireoide tireoide emite pseudópodes, que cercam porções do
peroxidase, e é adicionada à tirosina na molécula coloide, formando vesículas pinocíticas. Proteases
de globulina. Se apenas um iodo for adicionado, a presentes nos lisossomos que são incorporados a
molécula formada é a monoiodotirosina (MIT). vesículas digerem a tireoglobulina e liberam
Quando dois, di-iodotirosina (DIT). Quando o MIT tiroxina e triiodotironina, que são liberados nos
se une ao DIT por uma reação de acoplamento, capilares adjacentes. Entretanto, de acordo com o
triiodotironina (T3). Quando dois DIT se unem, Silverthorn de fisiologia (2017, p.736), pode ser
formam a tetraiodotironina (T4 ou tiroxina). que esses hormônios saiam para a corrente por
meio de uma isoforma do transportador
Quando o os hormônios já foram produzidos, cada monocaboxilato (MCT8).
molécula de tireoglobulina contém cerca de 30
moléculas de tiroxina e algumas de T3. Após liberadas no sangue, se ligam a proteínas
transportadoras, como a globulina de ligação de
Entretanto, a molécula de tireoglobulina não é tiroxina (TGB) e, em menor intensidade, com a pré-
liberada diretamente, sendo primeiramente clivada. albumina de ligação de tiroxina e albumina.

109
A tiroxina se liga fortemente às proteínas e é estimulam a síntese de enzimas, proteínas
liberado mais lentamente em relação à estruturais, transporte de proteína e outras
triiodotironina. Ao entrar no meio intracelular, substâncias. Com a ação desse hormônio, algumas
novamente se ligam a transportadores, como o proteínas podem ser produzidas com intensidade
MCT8, MCT10 e OAT. Por muito tempo, sextuplicada.
acreditou-se que o T4 era o hormônio mais ativo,
porém, sabe-se que o T3 é muito mais potente (3 a
5 vezes) nas células-alvo. Essas células possuem
enzimas chamadas deiodinases, no caso é a
5’iodinase, que removem um iodo do T4.
Problemas na tireoide podem demorar meses para
serem descobertos em virtude da lenta secreção
desse hormônio.

A AÇÃO DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS TEM


INÍCIO LENTO E LONGA DURAÇÃO

Após injetada no corpo, a tiroxina tem um período


de latência de 2 a 3 dias antes de começar a
apresentar efeitos no corpo. Após atingir efeitos,
apresenta ação progressiva, até atingir seu máximo
em 10 a 12 dias. Depois disso, ocorre um
decréscimo em sua ação, tendo meia-vida de 15
dias. Já a triiodotironina possui latência de 6 a 12
horas e ação máxima de 2 a 3 dias. Essa latência se
deve à ligação desses hormônios a proteínas
plasmáticas e também à forma com que eles agem Guyton – Fisiologia 13ºEd. (p. 2752 do pdf) TMB é taxa
metabólica basal
nas células.
Os hormônios tireoidianos ativam receptores
nucleares. No caso, o receptor é um heterodímero
do receptor tireoidiano com o receptor de retinoide
X (RXR). Ações não genômicas do hormônio
tireoidiano incluem regulação dos canais iônios e
fosforilação oxidativa e ativação de mensageiros
secundários.

HORMÔNIOS TIREOIDIANOS AUMENTAM A


Guyton – Fisiologia 13ºEd.
ATIVIDADE METABÓLICA CELULAR
FUNÇÕES FISIOLÓGICAS DOS HORMÔNIOS
Isso pode acontecer em quase todos os tecidos
TIREOIDIANOS
corporais e elevar a atividade de 60 a 100% acima
do normal, quando é secretada uma grande
AUMENTAR A TRANSCRIÇÃO DE GENES
quantidade de hormônios.
A ações dos hormônios da tireoide são aumentar a
transcrição de um grande número de genes, que Os hormônios da tireoide aumentam a atividade
e o número das mitocôndrias. Isso aumenta a

110
formação de trifosfato de adenosina para fornecer de glicose pelas células, aumento da glicose, da
energia para as funções celulares. gliconeogênese e da absorção gastrointestinal.

Os hormônios tireoidianos aumentam o Estimulação do metabolismo de gorduras.


transporte ativo de íons através das membranas Aumento da mobilização de gordura do tecido
celulares. A bomba de sódio e potássio, por adiposo aumenta a disponibilidade de ácidos
exemplo, é estimulada. Por aumentar o gasto de graxos e a sua metabolização. Embora aumente a
ATP, ele aumenta a quantidade de calor produzido concentração de ácidos graxos no plasma, diminui
pelo organismo e provavelmente é por isso que a de colesterol, triglicerídeos e fosfolipídeos. A
aumenta o metabolismo. concentração de colesterol diminui,
provavelmente, porque o hormônio da tireoide
aumenta o número de receptores de lipoproteínas
de baixa densidade nas células hepáticas, levando
ao aumento da secreção de colesterol na forma de
bile e sua perda nas fezes.

Necessidade aumentada de vitaminas. Por


aumentar a necessidade de enzimas e coenzimas
(muitas necessitam de vitaminas para sua síntese),
esse hormônio aumenta a demanda de vitaminas.

Aumento da taxa de metabolismo basal. O aumento


de 60 a 100% pode ocorrer nos casos de hormônio
em excesso.

Linda – Fisiologia 5ªEd.

EFEITO DO HORMÔNIO NO CRESCIMENTO

Sabe-se que o hormônio tireoidiano tem


importância no que se refere, principalmente, no
desenvolvimento de crianças. Acredita-se também
que o hipertireoidismo acarreta crescimento
esquelético excessivo, com maturação precoce das Guyton – Fisiologia 13ºEd.
epífises ósseas e dos ossos. Durante a vida fetal e
primeira infância, tem papel importante no Redução do peso corporal. Pode ocorrer no
desenvolvimento cerebral, assim como também excesso, mas o contrário pode acontecer no
no seu ganho de tamanho. hipotireoidismo. Pode não ocorrer poque o
hormônio também aumenta o apetite.
OUTROS EFEITOS
Aumento do fluxo sanguíneo e débito cardíaco.
Estimulação do metabolismo de carboidratos. O aumento do metabolismo disponibiliza mais
Aumenta a secreção de insulina, a captação rápida

111
rejeitos metabólicos e maior utilização de oxigênio. sono é dificultado pelo aumento da atividade
Isso causa dilatação na maioria nos tecidos e, na sináptica.
pele, exerce um papel importante na eliminação do
excesso de calor. O aumento da dilatação aumenta Efeito em outras glândulas endócrinas. A
o débito cardíaco em até 60%, em casos extremos. tiroxina aumenta a o metabolismo de glicose em
todos os tecidos, o que faz com que haja aumento
Aumento da frequência cardíaca e da força de também na produção de insulina pelo pâncreas.
contração. Provavelmente o hormônio age Também, estimula a formação óssea, aumentando
aumentando a excitabilidade das células cardíacas, a necessidade de paratormônio. O hormônio
que aumenta sua frequência. Esse sintoma é usado tireoidiano também aumenta a inativação de
para a identificação do quadro de hipertireoidismo. glicocorticoides adrenais pelo fígado, que conduz à
Por outro lado, aumento ligeiro da concentração do estimulação por feedback da produção de
hormônio é o suficiente para aumentar a força de adrenocorticotrópico pela hipófise anterior, e,
contração pelo aumento da atividade enzimática (o consequentemente, aumento da secreção de
Constanzo de fisiologia fala sobre a produção de glicocorticoides pelas adrenais.
bombas de sódio e potássio). Quando a
concentração se eleva muito, à longo prazo, a força Efeito na função sexual. A falta desse hormônio
de contração fica deprimida por causa do aumento no homem pode causar a perda de libido, enquanto
da degradação proteica. Segundo o Constanzo, de o grande excesso pode causar impotência.
fisiologia, esses efeitos são causados pelo aumento Nas mulheres, a falta pode causar perda da libido,
de receptores beta-adrenérgicos nas fibras. menorreia e polimenorreia. A ausência pode causar
Pressão arterial normal. Geralmente a pressão amenorreia e ciclos irregulares. No excesso, pode
não se altera muito, mas, em virtude do aumento da causar oligomenorreia (redução do volume de
circulação, a pressão sistólica pode se elevar em 10 sangramento mensal).
a 15mmHg, enquanto a diastólica diminui na REGULAÇÃO DA SECREÇÃO
mesma proporção.

Aumento da respiração por aumento metabólico.

Aumento da motilidade intestinal.

Efeitos excitatórios no SNC. Aumenta a


velocidade da atividade cerebral.

Efeito nos músculos. Sua atividade inicial aumenta


a contração muscular, enquanto o excesso diminui,
da mesma forma como no músculo cardíaco. Pode
também causar tremor muscular, causado,
possivelmente pela atividade aumentada das
sinapses neuronais nas áreas da medula espinhal
que controlam o tônus muscular.
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Efeito no sono. Devido a ação exaustiva no sistema
muscular e nervoso, pessoas com hipertireoidismo O TRH (hormônio liberador de tireotrofinas), um
tendem a queixar de cansaço constante, enquanto o tripeptídeo amida, do hipotálamo, controla a

112
secreção da tireotrofina (FSH), pela adeno- O TSH age aumentando a secreção da tiroxina
hipófise, mediante à ativação do sistema de pelos seguintes efeitos:
segundo mensageiro da fosfolipase, que produz
fosfolipase C, que é seguido pela ativação de uma • Aumento da proteólise da tireoglobulina;
cascata de segundos mensageiros, como íons cálcio • Aumento da atividade da bomba de iodeto;
e diacilglicerol, que provocam a liberação de TSH. • Aumento da iodização da tirosina;
• Aumento do tamanho e da atividade
secretora das células tireoidianas;
• Aumento do número de células tiroidianas.

Sua principal ação nas células é mediante à ativação


do complexo segundo mensageiro do AMPc. O
TSH se liga a seus receptores na membrana, que
ativam o complexo adenilato ciclase, que forma
mais AMPc que ativa a proteinocinase, que provoca
fosforilações em toda a célula. Isso aumenta a
secreção de hormônios e o crescimento prolongado
do próprio tecido glandular.

FRIO E OUTROS ESTÍMULOS NEUROGÊNICOS

Sabe-se que o frio estimula a produção de


hormônios pela tireoide em virtude da excitação de
centros hipotalâmicos de controle da temperatura
Silverthorn – Fisiologia (2017)
corporal, que leva à produção d e TRH. Agitação e
ansiedade, por outro lado, estimulam o sistema
nervoso simpático e causam redução aguda da
secreção de TSH, talvez por alterarem o
metabolismo e a temperatura corporal.

Sabe-se que esses efeitos são mediados pelo


hipotálamo porque após um seccionamento do
pedúnculo hipofisário, os efeitos do frio e da
ansiedade não são observados.

Linda – Fisiologia 5ªEd.

FEEDBACK DO HORMÔNIO TIREOIDIANO PARA


REDUZIR A SECREÇÃO DE TSH

A elevação do hormônio tireoidiano nos líquidos


corporais para valores acima de 75% a mais do que
Silverthorn – Fisiologia (2017)

113
o normal causa uma resposta de secreção de TSH endocitose normal de coloide, diminuição
para quase zero. É provável que esse feedback da irrigação local e diminuição no tamanho
negativo ocorra em virtude do efeito do hormônio da tireoide. Logo, o iodeto é aplicado
tireoidiano na própria hipófise anterior. algumas semanas antes para diminuir o
tamanho da glândula e diminuir o
sangramento, para facilitar o procedimento
de remoção.

DOENÇAS DA TIREOIDE

Geralmente são separadas por hiper e


hipotireoidismo.

HIPERTIREOIDISMO

Na maior parte dos casos de hipertireoidismo, a


tireoide aumenta de duas a três vezes o tamanho
normal com hiperplasia e pregueamento do
revestimeto epitelial para o interior dos folículos.
Um exemplo é a doença de Graves, na qual uma
Guyton – Fisiologia 13ºEd.
imunoglobulina estimulante de tiroide (TSI) se liga
ao receptor do TSH e isso aumenta a produção de
SUBSTÂNCIAS QUE ALTERAM A HOMEOSTASIA
hormônio e inibe a produção de TSH na hipófise
Substâncias Antitireoidianas Suprimem a anterior. Também o hipertireoidismo pode ser
Secreção Tireoidiana. As principais drogas são: decorrente de um Adenoma Tireoidiano, que é um
tumor que se desenvolve no tecido e estimula a
• O tiocianato (e também perclorato e
produção de grandes quantidades de hormônio
nitrato) compete com o iodeto no
enquanto no resto da tireoide apresenta inibição da
transportador ativo, o que diminui a
produção.
disponibilidade de iodo nas células
glandulares, impedindo que a SINTOMAS
tireoglobulina seja iodada. Isso faz com que
A alta excitabilidade, irritabilidade, tremor,
mais TSH seja liberado para compensar a
intolerância ao calor, redução da sudorese, perda de
falta e causa, por consequência,
crescimento da tireoide, em uma condição peso, variados graus de diarreia, fadiga extrema,
insônia e transtornos psíquicos podem estar
chamada bócio.
associados.
• O propiltiouracil, assim como o metimazol
e carbimazol, impede a formação de Exoftalmia: a protusão dos globos oculares pode
hormônio tireoidiano bloqueando a enzima decorrer de um processo autoimune contra
peroxidase, necessária para a iodização da músculos oculares e em decorrência do edema dos
tirosina, e bloqueando a conjugação de duas tecidos retro-orbitais e alterações degenerativas em
tirosinas iodadas em tiroxina ou músculos extraoculares.
triiodotironina. Isso também causa bócio.
• As altas concentrações de iodetos Os testes diagnósticos para o hipertireoidismo
inorgânicos causam a diminuição da podem ser por medição direta de tiroxina ou, às
captação de iodeto, paralização da vezes, tri-iodotironina no plasma.

114
No caso, o metabolismo basal está aumentado de O Bócio Coloide Atóxico idiopático cria a
+30 ou +60 no hipertireoidismo grave. A condição de bócio, porém sem ocorrer em
concentração de TSH pode ser medida por deficiência de iodo. Pode-se ocorrer a deficiência
radioimunoensaio. Se ocorre tireotoxicose, a do mecanismo de captação do iodeto, deficiência
secreção de TSH pela hipófise anterior está da peroxidase, deficiência da conjugação de
suprimida graças às elevadas concentrações de T3 tirosinas iodadas na molécula de tireoglobulina,
e T4. ou deficiência na enzima deiodinase. O bócio
pode causar tireoidite leve, que pode causar o
No caso de imunoglobulinas autorreativas, a aumento da secreção de TSH e sua ação em regiões
concentração de TSI é medida por não inflamadas.
radioimunoensaio. E ela pode ser alta na
tireotoxicose, porém baixa no adenoma tireoidiano. CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS

O tratamento pode ser realizado mediante à Tanto no bócio endêmico, no bócio coloide atóxico,
remoção cirúrgica de parte da tireoide. Isso se dá destruição de tecido ou remoção cirúrgica de tecido
mediante à estabilização do metabolismo graças ao tireoidiano, os efeitos fisiológicos são os mesmos.
propiltiouracil e à administração de altas doses de Pode ocorrer fadiga e sonolência extremas,
iodo para a diminuição da irrigação sanguínea da provocando sono prolongado de cerca de 12-14
glândula. Também, pode ser administrado o iodo horas de sono por dia, lentidão muscular,
radiativo para a destruição de células hiperplásicas, ocasionalmente aumento de peso, constipação,
já que cerca de 80 a 90% de uma dose injetada de lentidão mental, redução do crescimento do cabelo
iodo pode ser absorvida. de descamação da pele, rouquidão e em alguns
casos, aparência edematosa em todo o corpo.
HIPOTIREOIDISMO
Mixedema: ocorre com a ausência quase total da
No hipotireoidismo, os efeitos são opostos ao função do hormônio tireoidiano. Pode ocorrer
hipertireoidismo, porém com mecanismos flacidez nas regiões sobre os olhos, inchaço da face.
distintos. Em alguns casos, como no da Tireoidite Isso pode ocorrer por causa das elevadas
de Hashimoto, acontece uma reação autoimune concentrações de ácido hialurônico e sulfato de
contra a glândula, que leva à destruição do tecido, condroitina, que, ligados à proteínas, forma excesso
ocasionada pela reação e subsequente fibrose. de gel nos líquidos intersticiais, que leva ao
inchaço.
Bócio Coloide Endêmico Causado por
Deficiência Dietética de Iodeto. Em regiões em
que o solo possuía pouco iodo e uma dieta com
concentração anual inferior a 50 mg de iodo, é
comum o desenvolvimento de bócio, chamado
endêmico. O mecanismo envolvido é o seguinte: a
falta de iodo impede a produção de T3 e T4, e,
assim não é possível inibir a síntese de TSH. Ainda
ativo, estimula a liberação de coloide de
tireoglobulina de forma progressiva. Isso leva ao
crescimento da glândula, já que não há iodo
suficiente para a produção de mais hormônios.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

115
O tratamento se dá principalmente mediante à cretinismo, na qual há deficiência do crescimento
ingestão oral de tiroxina, o que permite uma vida corporal e retardo mental.
com o mínimo de complicações.
O bebê sem tireoide pode apresentar características
Vale salientar que a falta de hormônio aumenta a normais no nascimento provavelmente por ter
concentração sanguínea de colesterol , devido à recebido alguma quantidade de hormônio da mãe.
alteração do metabolismo de lipídeos, o que pode Se a deficiência hormonal for corrigida poucas
aumentar a chance de aterosclerose. semanas após o nascimento, os danos do
desenvolvimento mental podem ser evitados,
CRETINISMO enquanto os de crescimento podem ser revertidos
O hipotireoidismo extremo em fetos, bebês e com a medicação.
crianças pode causar uma condição chamada

Linda – Fisiologia 5ªEd.

116
HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS Zona Glomerulosa: formada por uma fina camada
de célula imediatamente abaixo da cápsula e
constitui apenas 15% do córtex. Mesmo assim, é
capaz de suprir a demanda de aldosterona (já que
possui a aldosterona sintase. A produção é
controlada pela concentração extracelular de
potássio e de Angiotensina II.

Zona Fasciculada: a camada do meio e ocupa


cerca de 75% do córtex e secreta cortisol,
corticosterona, pequenas quantidades de estrogênio
e androgênios adrenais. A secreção é controlada
pelo hormônio adrenocorticotrópico (ACTH).

Zona Reticular: região mais profunda do córtex,


secreta os androgênios adrenais
Guyton – Fisiologia 13ºEd.
desidroepiandrosterona (DHEA) e androstenediona
e pequenas quantidades de estrogênios e alguns
As glândulas adrenais pesam aproximadamente 4 glicocorticoides. É também regulada pelo ACTH e
gramas cada e se localizam logo acima dos rins. É o hormônio estimulante do androgênio cortical,
composta por medula (os 20% centrais), que está que é liberado pela hipófise.
intimamente relacionada com o sistema simpático,
já que secreta epinefrina e norepinefrina. Dessa forma, pode-se observar que as regiões que
produzem mineralocorticoides e glicocorticoides
O córtex adrenal, por sua vez, secreta um grupo de são controlados individualmente por fatores
substâncias chamado de corticosteroides, que são diferentes, o que favorece a hipertrofia de regiões
sintetizados a partir do colesterol esteroide, que liberam classes hormonais semelhantes.
proveniente de LDL do plasma, quase que
exclusivamente. VER NO GUYTON A FORMAÇÃO DE
ESTEROIDES E OS PROCESSOS
CORTICOSTEROIDES: MINERALOCORTICOIDES, ENVOLVIDOS.
GLICOCORTICOIDES E ANDROGÊNIOS
MINERALOCORTICOIDES
Do córtex são secretadas duas principais classes de
hormônios, que são os mineralocorticoides, que • Aldosterona – é muito potente e
afetam a concentração de eletrólitos (representados basicamente o responsável por 90% da
pela aldosterona), e os glicocorticoides, que afetam ação;
a concentração de glicose (representados pelo • Desoxicorticoesterona – 1/30 da potência
cortisol). Além disso, também há produção de da aldosterona;
hormônios sexuais que, em casos normais, pode • Corticosterona – fraca atividade
causar efeitos básicos da testosterona, mas sem mineralocorticoide;
mudanças significativas no corpo. • 9a-fluorocortisol – sintético e pouco mais
potente que a aldosterona;
SÍNTESE E SECREÇÃO DOS HORMÔNIOS • Cortisol – Fraca atividade
ADRENOCORTICAIS mineralocorticoide;
O córtex é subdividido em três camadas diferentes: • Cortisona – fraca atividade, sintética.

117
GLICOCORTICOIDES níveis de potássio no meio extracelular sobem
• Cortisol – muito potente, cerca de 95% da rapidamente e grandes quantidades de sódio e
ação; cloreto são rapidamente eliminados do organismo,
• Corticosterona – 4% da atividade o que cauda diminuição do débito cardíaco.
glicocorticoide;
Rapidamente se desenvolve redução do débito
• Cortisona – sintético, quase tão potente cardíaco, que evolui para um estado semelhante ao
quanto o cortisol; choque, seguido de morte. Toda essa sequência
• Prednisona – sintética, 4x mais potente que pode ser impedida pela administração de
o cortisol; aldosterona ou algum outro mineralocorticoide.
• Metilprednisona – sintética, 5x mais Portanto, diz-se que os mineralocorticoides são a
parte aguda, “salvadora de vida”, dos hormônios
potente que o cortisol;
adrenocorticais. (Guyton)
• Dexametazona – sintética, 30x mais potente
A aldosterona é o principal hormônio liberado pelas
que o cortisol;
suprarrenais, representando cerca de 90% da
Os medicamentos (três últimos) potentes podem ser atividade mineralocorticoide, sendo que o cortisol,
aliados para aumentar a atividade glicocorticoide embora mais fraco (cerca de 3000 vezes) é cerca de
sem comprometer o funcionamento da ação 2000 vezes mais concentrado no sangue.
mineralocorticoide.
O cortisol pode se ligar a receptores de
Cerca de 90 a 95% do cortisol se liga a proteínas mineralocorticoide, logo, nos rins a enzima 11b-
plasmáticas, chamadas de globulina ligadora de hidroxiesteroide desidrogenase do tipo 2 (11b-
cortisol ou transcortina e, em quantidades HSD2) age inativando o cortisol e impedindo que
menores, à albumina. O cortisol possui meia vida ele ative os receptores. Em uma pessoa que
de cerca de 60 a 90 minutos. Isso permite que o apresenta deficiência dessa enzima, o cortisol pode
organismo evite flutuações de hormônio seguindo ter efeitos importantes, causando um quadro
as flutuações de ACTH. chamado de síndrome do excesso aparente de
mineralocorticoide (AME). A ingestão de altas
Os hormônios são destruídos principalmente pelo quantidades de alcaçuz pode causar esse quadro,
fígado e formam conjugados, que formam, graças à inibição dessa enzima pelo ácido
principalmente, ácido glicurônico e também glicirretínico.
poucos sulfatos.
EFEITOS RENAIS E CIRCULATÓRIOS DA
A concentração normal de aldosterona no sangue é
ALDOSTERONA
de cerca de 6 nanogramas a cada 100 mL, e a
secreção de cerca de 0,15 mg/dia. A concentração A aldosterona aumenta a reabsorção de sódio e
média de cortisol no sangue é de cerca de 12 secreção de potássio, especialmente pelas células
mg/100mL, enquanto a intensidade secretora é de principais do túbulo renal e, em menor quantidade,
cerca de 15 a 20 mg/dia. nos túbulos distais e ductos coletores.

FUNÇÕES DOS MINERALOCORTICOIDES – Dessa forma, o excesso de aldosterona estimula o


ALDOSTERONA aumento da reabsorção de sódio, que leva à entrada
Os mineralocorticoides são importantes concomitante de água e causa aumento do volume
reguladores da concentração de potássio e sódio. do líquido extracelular. Esse aumento leva à
Na ausência dessas substâncias, o paciente pode elevação da pressão arterial.
morrer de 2 a 3 dias, se não tratado. Isso poque os

118
O controle desse efeito, como foi outrora discutido 1) Formação de enzimas. Por exemplo, a
é chamado de natriurese de pressão e diurese de adenosina trifosfatase de sódio-potássio,
pressão, a depender se a referência é o sódio o a que serve como parte principal do trocador
água. Nesse caso, após a elevação da pressão, o sódio-potássio nas membranas basolaterais
corpo começa a estimular a excreção de água e sal. das células do túbulo renal.
Essa normalização é chamada de escape de 2) Síntese de proteínas importantes.
aldosterona. Por outro lado, o aumento de Proteínas como as dos canais epiteliais de
aldosterona pode causar hipocalemia, que pode sódio estão inseridos na membrana luminal
levar à fraqueza muscular, principalmente quando das mesmas células, que permitem a difusão
os níveis caem para menos da metade do valor desse íon.
médio de 4,5 mEq/L. Além disso, ainda pode levar
à alcalose metabólica, porque também estimula as
células intercaladas a realizarem a troca de
hidrogênio por potássio.

Se os níveis de aldosterona forem insuficientes,


desenvolve-se um quadro de hipotensão arterial,
que pode levar ao choque circulatório.
Semelhantemente, a hipercalemia pode ser
observada quando o hormônio está em falta e pode
causar toxicidade cardíaca, e dificulta a transmissão
de impulsos nervosos.

AÇÕES DA ALDOSTERONA NAS GLÂNDULAS


SUDORÍPARAS, SALIVARES E CÉLULAS EPITELIAIS
INTESTINAIS

Basicamente, os efeitos são bem semelhantes, já


que estimulam a retenção de sódio e a eliminação
de potássio e bicarbonato. Isso é importante porque
protege o corpo de perdas excessivas de sódio com
o excesso de saliva ou suor. No intestino, também
Guyton – Fisiologia 13ºEd.
estimula a absorção de cloreto de sódio.
A amilorida é uma substância que pode ser usada
MECANISMO CELULAR DA ALDOSTERONA para bloquear o funcionamento dos canais de sódio
A aldosterona consegue passar pela membrana epitelial (ENaC).
lipoproteica das células e vai para o citoplasma, Além desses efeitos transcricionais, ainda existem
onde se liga à receptores de mineralocorticoides alguns não genômicos, que variam de segundos a
(MR) no citoplasma. O complexo aldosterona- poucos minutos. Um exemplo é a constatação de
receptor se difunde para o núcleo, e induz uma ou que a aldosterona pode ativar cascatas de segundos
mais porções do DNA a produzirem mRNA mensageiros, como AMPc nas células musculares
relacionado ao transporte de sódio e potássio. (Os lisas vasculares em cerca de 2 minutos. Também foi
efeitos de transcrição demoram de 30 a 45 minutos, evidenciada a ativação do segundo mensageiro
enquanto os efeitos sistêmicos podem demorar fosfatidilinositol.
mais horas). Esses RNAs mensageiros causam:

119
REGULAÇÃO DOS MINERALOCORTICOIDES 1. O cortisol aumenta as enzimas necessárias
para a gliconeogênese por meio da ativação
A regulação da secreção de aldosterona é
de fatores de transcrição pelas células
basicamente dependente da regulação da pressão
hepáticas (a aldosterona age da mesma
arterial, do volume do LEC, volume sanguíneo e
forma nos túbulos renais ao ativar mRNAs);
vários aspectos da função renal. Entretanto, sua
2. O cortisol aumenta a mobilização de
produção na zona glomerulosa é independente da
aminoácidos, principalmente nos músculos;
regulação do cortisol e dos androgênios. Os fatores
3. O cortisol antagoniza os efeitos da insulina
que mais influenciam são:
para inibir a gliconeogênese (por causa do
• Elevação da concentração de potássio estímulo no fígado para a produção de
extracelular aumenta a secreção de glicogênio).
aldosterona; Por causa do aumento da concentração de
• Aumento da concentração de Angiotensina glicogênio, há aumento da ação de hormônios
II circulante aumenta a secreção de como epinefrina e glucagon, para aumentar da
aldosterona; disponibilidade de glicose entre as refeições.
• Aumento do sódio no líquido extracelular
reduz a secreção de aldosterona; REDUÇÃO DA UTILIZAÇÃO CELULAR DE GLICOSE
• A concentração de ACTH é importante para Não são conhecidos os mecanismos exatos para
a produção de aldosterona, mas não possui isso, mas se sabe que ocorre a diminuição da
grande efeito no controle da secreção. translocação de GLUT4 para a membrana, o que
causa resistência à insulina. Pode-se atribuir aos
Pode-se perceber que a concentração de potássio e
glicocorticoides, também, a interferência na
a ação do complexo renina-angiotensina-
utilização de lipídeos e proteínas. Além disso,
aldosterona são os fatores mais importantes para o
podem reduzir os níveis de substrato do receptor de
controle da secreção. Assim, as suprarrenais
insulina 1 e fosfatidinilinositol 3 cinase,
auxiliam o rim no que tange à reabsorção de sódio
importantes para a ação da insulina e oxidação de
e elevação da pressão arterial em casos em que há
NADH.
baixo fluxo renal.
ELEVAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO SANGUÍNEA DE
FUNÇÕES DOS GLICOCORTICOIDES
GLICOSE E “DIABETES ADRENAL”
Os glicocorticoides são hormônios que assumem Já que a gliconeogênese aumenta e a utilização de
papel importante no controle do estresse e de glicose é diminuída, ocorre a elevação nos níveis
situações que exijam muito do físico ou da mente. séricos de glicose, que estimulam a liberação de
Além disso, animais com severa deficiência de mais insulina. Como o cortisol também diminui a
corticoides podem apresentar baixa resistência às sensibilidade de tecidos como músculos e tecido
infecções e doenças leves. O cortisol também é adiposo à insulina, a utilização dessa glicose é
chamado de hidrocortisona. alterada.

EFEITOS NO METABOLISMO DE CARBOIDRATOS Também, a alta concentração de ácidos graxos,


graças à mobilização para a formação de glicose
O principal efeito é a estimulação (cerca de 6 a 10x)
pode causar resistência à insulina. A concentração
da gliconeogênese pelo fígado, que ocorre graças às
pode se elevar a ponto de ser chamada de “diabetes
ações no fígado e também antagonização da ação
adrenal”, já que os níveis podem estar até 50%
da insulina.
acima do normal. Nesse caso a administração de

120
insulina tem os efeitos reduzidos graças à Além de demorar várias horas para se tornar
resistência dos tecidos. funcionalmente relevante, esse mecanismo não é
tão potente quanto a falta de insulina.
EFEITOS NO METABOLISMO DE PROTEÍNAS
Dessa forma o cortisol é importante para a retenção
A redução dos depósitos de proteína em todo o
de glicogênio no corpo, à longo prazo. Entretanto,
corpo, exceto no fígado, são esperados na ação do
o excesso de cortisol leva à obesidade, com
cortisol. Além disso, pode-se observar a
deposição excessiva no tórax e na face, o que é
diminuição da síntese de proteínas e aumento do
chamado de “giba de búfalo” e “face em lua cheia”.
catabolismo proteico, que são decorrentes da
Provável que isso seja causado pelo aumento da
redução do transporte de proteínas nos tecidos
ingestão alimentar causada pelo cortisol e a
extra-hepáticos e, principalmente, da diminuição da
oxidação de ácidos graxos insuficiente.
síntese de RNA em tecidos como o muscular e o
linfoide. Isso pode acarretar fraqueza muscular O CORTISOL É IMPORTANTE NO ESTRESSE E NA
generalizada e também redução da função INFLAMAÇÃO
imunológica.
O cortisol é liberado em inúmeras situações de
As concentrações plasmáticas e hepáticas de estresse em virtude do aumento do nível de ACTH
proteínas estão aumentados no estado de pela hipófise anterior. Isso pode ser observado no
elevação nos níveis de cortisol. As proteínas aumento nos níveis de corticosteroides de cerca de
produzidas pelo fígado estão aumentadas no 6 vezes no caso de um rato com as duas pernas
líquido extracelular e o transporte de aminoácidos quebradas.
para o fígado também aumenta.

O cortisol pode causar, nesse sentido:

• Maior desaminação de aminoácidos pelo fígado;


• Aumento da síntese de proteínas pelo fígado;
• Formação aumentada de proteínas plasmáticas;
• Aumento da conversão de aminoácidos em
glicose.

EFEITOS DO CORTISOL NO METABOLISMO DE


GORDURAS

Da mesma forma que com os aminoácidos, os


ácidos graxos são mobilizados do tecido adiposo
para a obtenção de energia e também para a
gliconeogênese. Vale salientar que o α-
glicerofosfato, derivado da glicose, é importante
para manter os ácidos graxos nas células e sua
deficiência promove a liberação destes para o meio Guyton – Fisiologia 13ºEd.
extracelular.
Logo, fatores como trauma, infecção, calor ou frio
À médio prazo, esse mecanismo pode contribuir intensos, injeção de epinefrina ou
para a utilização de gorduras para geração de simpatomiméticos, cirurgia, injeção de substâncias
energia em situações de estresse, como o jejum. necrosantes sob a pele, restrição de movimentos do

121
animal ou doenças debilitantes podem aumentar a autoimunes como a artrite reumatoide e, na maior
concentração desses hormônios. parte dos casos, age reduzindo os sintomas dentro
de cerca de 24 horas após a administração de altas
É provável que a importância nesses casos é que os doses, o que pode salvar a vida do paciente.
corticosteroides podem aumentar a disponibilidade
de glicose e aminoácidos para a síntese de
MECANISMO CELULAR (IMUNOLÓGICO)
substâncias importantes para o reparo celular, como Inicialmente, observa-se a utilização de um
purinas, fosfatos de creatina e pirimidinas. Embora medicamento corticoide, que à priori, é um anti-
seja apenas uma teoria, o fato que pode embasá-la inflamatório, mas age como um imunossupressor.
é que o cortisol só aumenta a disponibilidade de Quando há uma infecção, o corpo normalmente
proteínas não funcionais (por exemplo, as proteínas reconhece o patógeno, e, por meio do TLR, ativa o
musculares ativas e as proteínas de neurônios são NF-kb (fator de transcrição NF kappa beta) e
mantidas intactas) até que todas as outras proteínas estimula a produção de citocinas pró-inflamatórias.
sejam degradadas.
No caso do uso de corticoides por períodos
EFEITOS ANTI -INFLAMATÓRIOS superiores a 7 dias, como no caso da paciente, e em
Sempre que tecidos são lesionados por algum concentrações suficientes, induz ao
trauma, infecção ou outros fatores, eles ficam reconhecimento intracelular do fármaco e ativa, por
inflamados. Em algumas doenças, especialmente as sua vez o fator inibidor Kb. Este, por sua vez,
autoimunes, o dano maior é causado pela inativa o NF-Kb, que seria responsável por ativar a
inflamação do que pelo próprio agente que causou produção de citocinas antimicrobianas. Em
o dano inicial. Em alguns casos, a aplicação de tentativa de contrabalancear a falta de respostas
grandes quantidades de corticoides pode bloquear a imunes adaptativas eficientes, a medula óssea passa
inflamação ou reverter o quadro inflamatório. a disponibilizar neutrófilos em fases precoces de
maturação (não segmentados), e isso leva à
A inflamação é caracterizada por cinco sinais presença do efeito de desvio à esquerda.
cardinais, que são: rubor, edema, dor, calor e perda (IMUNOLOGIA RESUMIDA; Rocha, L.G.R.,
de função. Após identificados padrões associados à 2020)
dano (DAMPs) ou a patógenos (PAMPs), sinais
celulares iniciam a liberação de moléculas REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DE CORTISOL
(histamina, bradicinina, leucotrienos e O ACTH, também chamado de corticotropina ou
prostaglandinas) que estimulam a vasodilatação e adrenocorticotropina é basicamente o hormônio
aumento da permeabilidade vascular, que causam o que regula a liberação de cortisol e também
rubor (eritema), edema e o calor. estimula a liberação de androgênios.

O cortisol também age estabilizando a membrana O ACTH é controlado na hipófise anterior, por um
de lisossomos (o que dificulta a liberação de hormônio hipotalâmico, chamado de fator
substâncias proteolíticas), reduzindo a liberador de corticotropina (FLC), liberado no
permeabilidade dos capilares, diminui a migração plexo capilar primário sistema portal hipofisário, na
de leucócitos, suprime a resposta imune e diminui eminência mediana do hipotálamo. Os corpos
a liberação de IL-1 (mediadora da febre), de forma celulares dos hormônios secretores de FLC se
a impedir os sintomas. encontram principalmente no núcleo
paraventricular do hipotálamo, que responde a
Assim, o cortisol administrado pode reduzir as sinais do sistema límbico.
chances de ocorrência de sintomas em doenças

122
O ACTH age ao ativar a adenil ciclase na CICLO CIRCADIANO DA SECREÇÃO DE
membrana celular, que induz a formação de AMPc, GLICOCORTICOIDES
que ativa enzimas intracelulares capazes de auxiliar A secreção de FLC e ACTH são altos no início da
a formação de hormônios adrenocorticais. A manhã, mas baixas no final da noite. O cortisol
produção de hormônios é limitada, entretanto, pela varia de 20 mg/dL na manhã para cerca de 5 mg/dL
ativação da enzima proteína cinase A, que inicia a no final da noite.
conversão de colesterol em pregnenolona. Essa é a
explicação de porque o ACTH é importante para a
síntese de qualquer hormônio adrenocortical.

Qualquer tipo de estresse físico ou mental pode


aumentar a secreção e cortisol em cerca de 20
vezes. No caso do estresse mental, pode haver
participação da região da amígdala e do
hipocampo, que transmitem os sinais para o
hipotálamo posteromedial. No caso de sinais
físicos, a transmissão se dá pelo tronco cerebral até
chegar na região mediana do hipotálamo.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

SÍNTESE E SECREÇÃO DO ACTH ASSOCIADO A


OUTRAS SUBSTÂNCIAS
Quando o ACTH é secretado pela hipófise anterior,
diversos outros hormônios são secretados
simultaneamente. Isso ocorre porque o gene
transcrito para formar o RNA que produz ACTH,
inicialmente, produz o pré-pró-hormônio chamado
pré-opiomelanocortina (POMC), que é precursor
de ACTH, hormônio melanócito-estimulante
(MSH), β-lipotropina, β-endorfina e alguns outros.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

Basicamente, o cortisol pode inibir a ação dos


outros hormônios por feedback negativo, já que o
aumento dos níveis séricos do hormônio inibe tanto
o FLC quanto o ACTH.

Guyton – Fisiologia 13ºEd.

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Como esses outros hormônios são produzidos em glicocorticoides diariamente, os danos podem ser
pequena quantidade, geralmente não há importante reduzidos e a morte evitada.
ação deles no organismo, mas, nos casos de
estímulo de grandes quantidades de ACTH, podem Deficiência de Mineralocorticoides: pode causar
se tornar mais expressivos. a perda de grandes quantidades de sódio e cloreto
na urina, que leva à diminuição do volume do LEC,
O gene do POMC é muito ativo no núcleo arqueado que pode levar à hiponatremia, hipercalemia e
do hipotálamo, células da derme e tecido linfoide. acidose leve, graças à incapacidade de trocar íons
O produto derivado do POMC vai depender do tipo hidrogênio e potássio por sódio (reabsorção), no
de enzima envolvida no processamento. Assim, lúmen tubular.
células corticotróficas hipofisárias expressam o
pró-hormônio convertase 1 (PC1), mas não de A soma dos sintomas anteriores pode levar ao óbito
PC2, que leva à produção de ACTH, peptídeo N- por choque hipovolêmico.
terminal, peptídeo de junção, β-lipotropina e β- Deficiência de Glicocorticoides: a perda da
endorfina. secreção de cortisol torna os pacientes portadores
No hipotálamo, a PC2 leva à produção de α, β e γ- da condição incapazes de manter quantidades
MSH, mas não de ACTH. Nos melanócitos o MSH normais de glicose no sangue entre as refeições, já
estimula a produção e dispersão do pigmento que os pacientes não conseguem quantidades
melanina. Se um indivíduo possui uma pars suficientes por meio da gliconeogênese.
imediata muito desenvolvida, pode apresentar Além disso, mesmo com quantidades suficientes ou
liberação excessiva de MSH. A injeção desse até excessivas de glicose e outros nutrientes, os
hormônio por 8 a 10 dias pode escurecer a pele. músculos podem se apresentar fracos, indicando
O ACTH, por ter um segmento de sequência gênica que os glicocorticoides são importantes para outras
MSH, pode apresentar 1/30 do efeito estimulador funções metabólicas dos tecidos.
de melanócitos do MSH. E graças à quantidade HIPERADRENALISMO (SÍNDROME DE CUSHING)
muito maior de ACTH no indivíduo, pode ser que
A secreção aumentada de cortisol é a causa
esse hormônio desempenhe um papel muito
principal dessa condição, mas a secreção
importante na expressão da cor da pele.
aumentada de androgênios pode também causar
ANORMALIDADES DA SECREÇÃO ADRENOCORTICAL alguns efeitos importantes. O hiperadrenalismo
Hipoadrenalismo (Doença de Addison): pode ser causado por adenomas na hipófise
incapacidade do córtex adrenal de produzir anterior, função anormal do hipotálamo, secreção
hormônios causado por atrofia primária, lesão ou ectópica graças a tumor em outra parte do corpo, ou
também destruição tuberculosa do córtex por adenomas no córtex adrenal. Entretanto, a causa
câncer. A diminuição de ACTH pode ser a causa da mais comum e á secreção aumentada de ACTH.
atrofia da suprarrenal (secundária à fala de Para distinguir o hiperadrenalismo causado por
estímulo), o que diminui a produção de cortisol e ACTH do causado por secreção primária
aldosterona, podendo causar também insuficiência aumentada de cortisol, utiliza-se doses elevadas de
renal. Além dexametasona, com o intuito de acionar o feedback
Um paciente com destruição adrenal total pode vir negativo na hipófise. Se a causa for primária da
a morrer se não for tratado. Mas om injeção de adrenal, os níveis de hormônio não serão reduzidos,
pequenas doses de mineralocorticoides e embora o ACTH possa ser reduzido a níveis quase
indetectáveis ou muito inferiores ao normal.

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Também, os sintomas podem estar associados ao quando a cirurgia é inviável. Caso isso não puder
uso de medicamentos corticoides para tratamento ser feito, a única alternativa é a adrenalectomia
de infecções crônicas. bilateral parcial ou total e administração de
esteroides adrenais para compensar qualquer falta.
A síndrome de Cushing pode ser caracterizada
principalmente pela mobilização e deposição de ALDOSTERONISMO PRIMÁRIO (SÍNDROME DE
lipídeos nas regiões torácica e epigástrica, gerando CONN)
a aparência de giba de búfalo. A secreção de Quando ocorre um pequeno tumor na zona
esteroides pode também causar acne e o aumento glomerulosa que secreta grandes quantidades de
dos níveis de androgênicos pode causar o aldosterona, a condição é chamada de
hirsutismo (crescimento anormal dos pelos da aldosternonismo primário ou Síndrome de
face). A face pode se apresentar arredondada, em Conn. Em alguns casos, o córtex hiperplásico pode
aspecto de “lua cheia”. Os pacientes podem se secretar aldosterona em vez de cortisol. Isso pode
apresentar hipertensos graças à ação levar à hipocalemia (que pode causar paralisia
mineralocorticoide do cortisol. muscular), alcalose metabólica leve, ligeira
redução do LEC e pequeno aumento da
concentração plasmática de sódio.

O método diagnóstico consiste na dosagem de


renina, já que essa molécula é suprimida pela
concentração elevada de aldosterona. O tratamento
consiste na remoção cirúrgica do tumor ou
utilização de medicamentos antagonistas de
receptores mineralocorticoides com
Fonte: Google Imagens. espironolactona ou eplerenona.

Os altos níveis de cortisol aumentam a glicose SÍNDROME ANDROGENITAL


sanguínea a níveis de até 200mg/dL, enquanto há A liberação de grandes quantidades de hormônios
redução na disponibilidade de proteína tecidual androgênios, que causam efeitos masculinizantes.
(exceto no fígado e proteínas plasmáticas), que, pro Em crianças do sexo masculino, podem provocar
sua vez, pode reduzir a força física e também pode crescimento da genitália externa. Na mulher,
diminuir a quantidade de fibras proteicas de masculinização dos pelos, implantação masculina
colágeno nos tecidos subcutâneos, causando dos pelos pubianos e crescimento do clitóris.
estrias arroxeadas. Também, essa diminuição de Também pode ocorrer regressão da mama e
proteínas pode dificultar a ação do sistema crescimento de barba. No homem adulto, as
imunológico. características são suprimidas pela ação conjunta
com a testosterona.
O tratamento consiste na diminuição dos níveis de
ACTH, seja por remoção de tumores ou uso de
radiação para destruição de tecidos hipertrofiados.
Também, podem ser usados fármacos que REFERÊNCIAS
bloqueiam a esteroidogênese, como metirapona,
HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall
cetoconazol e aminoglutetimida, ou inibidores da Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro:
secreção de ACTH, como os antagonistas da Elsevier, 2017.
serotonina e inibidores de GABA-transaminase,

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