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IMUNOLOGIA PARA
DESESPERADOS:
Livrai-nos da DP, amém.

Fonte: UnionMangás – Kono Bijutsubu ni wa Mondai ga Aru!

“Agradeço à minha família, que sempre falava


daquele boy da quinta série que passou em
medicina e eu ainda estava no cursinho.”

“Agradeço a Deus, que é a única razão da minha


esperança”.

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IMUNOLOGIA PARA
DESESPERADOS:

Um resumo bem razoável que pode te ajudar a não levar final


em fisiologia. É bom que saiba que só compilei autores e
inclusive alguns textos de seus livros –sem intenção de plágio,
já que não existe restrição de como forma de estudar para
as tutorias– SEM FINS LUCRATIVOS (não sei como coloca
pisca-pisca, mas se soubesse, colocaria), o que é perceptível
porque está disponível no MEGA da sua turma sem nenhum
custo porque algum dos meus afilhados ou colegas postou
para seu calouro e o infeliz disponibilizou para a turma toda.
Apesar de ter formato de livro, parecer com um livro, ter capa
de livro, essa introdução de livro e até mesmo vocabulário de
Sobre o autor do resumo livro, não é um livro, mas sim um resumo.

Se quiser facilidade, utilize um Word atualizado e, na guia


“Exibir”, no painel principal, e ative a opção “Painel de
Navegação”. Prontinho, agora você não vai mais reclamar que
não tem numeração nas páginas! Saiba que seu desespero já
foi sentido centenas de vezes por centenas que alunos que
estudaram antes de você e quase todo mundo dá conta de
passar e se tornar um bom médico(a).

Por favor, entenda que assim como eu surtei bastante e levei


horas e horas para escrever (com alguns trechos de Ctrl+C e
Ctrl+V) esse resumo, outras pessoas também podem precisar
da sua ajuda no futuro! Então faça como pessoas gentis fazem
e compartilhem os livros que vocês gastaram uma fortuna
para comprar (ou estão pirateando, mas isso é crime) com os
coleguinhas pé-rapado como eu, viu? Bons estudos para
você! Que Deus tenha misericórdia de você e te abençoe
muito nessa jornada. Foi mal pela zoeira!
Imagem meramente ilustrativa do compilador. (Bonito, né?)
SENHORES AUTORES, NÃO TENHO INTERESSE EM QUEBRAR
Olá! Sou Luís, da Turma 75. Esse resumo foi feito em 2020 e SEUS DIREITOS AUTORAIS E NEM PLAGIAR VOCÊS!
isso é tudo que você precisa saber, okay? Nada mais. Se quiser
o arquivo em Word, boa sorte com as buscas. Não se esqueça de orar e ler a bíblia, porque somente Cristo
é a Verdade e o Caminho!

“Não adulterarás” Êxodo 20.14

“Não furtarás” Êxodo 20.15

“Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e


a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” João
14:6 (ênfase acrescentada)

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SUMÁRIO Papel das Proteínas Complementares e Outros Sinais
Imunes Inatos na Ativação da Célula B......................... 49
Visão geral do Sistema Imune ................................................ 7
Consequências Funcionais da Ativação das Células B
Histórico científico .............................................................. 7 Mediada por Antígenos ................................................ 49
Imunidade inata e adaptativa ............................................ 7 Referências ........................................................................... 50
Imunidade inata ............................................................. 7 Imunidade Mediada pelas Células T ..................................... 51
Imunidade adaptativa .................................................. 10 Etapas das respostas das células T ................................... 51
Células e Tecidos do Sistema Imune ................................ 17 Reconhecimento e coestimulação de um antígeno ..... 52
Células do sistema imune ............................................. 17 Papel das Moléculas de Adesão na Ativação das Células T
Anatomia e funções do tecido linfoide ........................ 22 .......................................................................................... 53

Exame FISH ....................................................................... 26 Papel da Coestimulação na Ativação das Células T ...... 53

Referências ........................................................................... 27 Estímulos para Ativação das Células T CD8+ ................ 54

Receptores celulares ............................................................ 28 Vias bioquímicas da ativação das células T ...................... 54

Receptores da resposta inata ........................................... 28 Respostas funcionais dos linfócitos T aos antígenos e à
coestimulação .................................................................. 56
Receptores tipo Toll ..................................................... 28
Secreção de Citocinas e Expressão dos Receptores para
Receptores Citosólicos para PAMPs e DAMPs ............. 30
Citocina ......................................................................... 56
Receptores da resposta adaptativa – Linfócitos T ............ 33
Expansão Clonal ........................................................... 57
Apresentação de antígeno ........................................... 35
Diferenciação de Células T Virgens em Células Efetoras
Propriedades dos genes ............................................... 36 ...................................................................................... 57
Ligação de peptídeos ao MHC ...................................... 36 Subgrupos de Células T Auxiliares CD4+ Distinguidos por
Processamento e apresentação do antígeno ............... 37 Perfis de Citocinas ............................................................ 58

Apresentação cruzada dos antígenos internalizados às O Subgrupo TH1 ............................................................ 58


células CD8+ ................................................................. 39 O Subgrupo TH2 ............................................................ 58
Significância Fisiológica da Apresentação de Antígeno O Subgrupo TH17 .......................................................... 59
Associado ao MHC ........................................................ 39
Desenvolvimento dos Subgrupos TH1, TH2 e TH17 ............ 60
Antígenos reconhecidos pelos linfócitos B e outros
Diferenciação das Células T CD8+ em CTL ........................ 60
linfócitos ........................................................................... 40
Desenvolvimento de Linfócitos T de Memória ............. 61
Reconhecimento Antigênico no Sistema Imunológico
adaptativo ............................................................................ 40 Declínio da Resposta Imune ......................................... 61

Receptores antigênicos dos linfócitos .............................. 40 Mecanismos Efetores da Imunidade Mediada por Células T
.............................................................................................. 61
Anticorpos .................................................................... 41
Tipos de reações imunes mediadas por células T ............ 61
Receptores de Células T para Antígenos ...................... 42
Migração de linfócitos T em reações imunes mediadas por
Desenvolvimento dos repertórios imunológicos ............. 44
células ............................................................................... 61
Desenvolvimento precoce dos linfócitos ..................... 44
Funções Efetoras dos Linfócitos T auxiliares CD4+ ........... 62
Produção de receptores antigênicos diversos.............. 44
Perfil TH1 ....................................................................... 62
Maturação e Seleção dos Linfócitos B .......................... 45
Perfil TH17 ..................................................................... 63
Maturação e Seleção dos Linfócitos T .......................... 45
Perfil TH2 ....................................................................... 63
Fases e tipos de respostas imunes humorais ....................... 46
Funções Efetoras dos Macrófagos T Citotóxicos CD8+ .... 63
Estimulação dos linfócitos B pelos antígenos ................... 47
Mecanismos de Evasão à resposta por célula .................. 63
Sinalização nas Células B Induzida por Antígenos ........ 48
Referências ........................................................................... 63

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Resposta Inflamatória .......................................................... 64 Mecanismos de desinfecção ................................................ 93
Inflamação Aguda ............................................................. 65 Referências ........................................................................... 93
Eventos Vasculares ....................................................... 65 Estrutura Geral dos Vírus ..................................................... 94
Eventos Celulares ......................................................... 66 Estruturas Comuns dos Vírus ........................................... 94
Resultados da inflamação aguda .................................. 70 Príons................................................................................ 95
Morfologia da inflamação aguda.................................. 70 Morfologia Geral .............................................................. 95
Mediadores químicos e reguladores da inflamação ........ 71 Replicação ........................................................................ 95
Mediadores Derivados de Células ................................ 72 Vírus de DNA ................................................................ 96
Inflamação crônica ........................................................... 74 Vírus de RNA................................................................. 97
Reparo Tecidual ................................................................ 74 Retrovirus ..................................................................... 98
Ação do Cortisol Como Anti-Inflamatório ........................ 75 Outros termos .............................................................. 99
Referências ........................................................................... 75 Mecanismos patogênicos e danos ................................... 99
Bactérias e Antibióticos ........................................................ 76 A célula infectada ......................................................... 99
Domínio Bacteria .............................................................. 76 O paciente infectado ..................................................100
Proteobactérias importantes ....................................... 76 Patogênese e Imunopatogênese ................................102
Bacteriodetes importantes ........................................... 78 Evasão às defesas do indivíduo ..................................102
Sppirochaetes importantes .......................................... 78 Imunidade contra vírus ..................................................103
Gram-positivas importantes ......................................... 79 Imunidade Inata .........................................................104
A célula procariótica ......................................................... 80 Imunidade Adaptativa ................................................105
Componentes de membrana ........................................ 81 Infecções virais persistentes ......................................105
Parede celular............................................................... 82 Coronavírus (SARS-COV-2) .................................................105
Coloração de Gram ........................................................... 82 Referências .........................................................................107
Paredes celulares Gram-positivas ................................ 82 Vírus HIV e Ação no Sistema Imune ...................................108
Paredes Celulares Gram-negativas ............................... 83 HIV ..................................................................................108
Microbiota normal ........................................................... 83 Estrutura e Genes do HIV ...........................................108
Postulados de Koch .......................................................... 83 Ciclo de vida viral........................................................109
Fármacos antimicrobianos ............................................... 84 Patogênese da Infecção por HIV ................................110
Agentes antibacterianos que interferem na síntese ou Mecanismos de Imunodeficiência causada pela infecção
na ação do ácido fólico ................................................. 84 do HIV .........................................................................111
Antibióticos inibidores da síntese de parecde celular .. 84 Características Clínicas da AIDS ..................................111
Antibióticos antimicobacterianos................................. 85 Resposta Imune ao HIV ..................................................112
Inibidores da síntese proteica ...................................... 85 Mecanismos de evasão à imunidade .........................112
Danos à membrana plasmática .................................... 85 Não-progessores do HIV .................................................112
Inibidores da síntese de ácidos nucleicos .................... 86 Medicação ......................................................................112
Mecanismos microbianos de patogenicidade .................. 88 Referências .........................................................................112
Mecanismos de dano ao hospedeiro ............................... 89 Tolerância Imunológica e Autoimunidade .........................113
Choque séptico ............................................................. 90 Tolerância Imunológica ..................................................113
Imunidade Inata contra bactérias extracelulares ............. 91 Tolerância Central dos linfócitos T .................................113
Imunidade contra bactérias intracelulares ...................... 92 Tolerância periférica dos linfócitos T .........................114

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Tolerância dos linfócitos B..............................................116 Morfologia ..................................................................130
Tolerância Central dos Linfócitos B ............................116 Ciclo ............................................................................130
Tolerância Periférica das Células B .............................117 Patogenicidade ...........................................................130
Autoimunidade ...............................................................117 Imunidade ..................................................................131
Patogênese .................................................................117 Diagnóstico .................................................................131
Fatores Genéticos .......................................................117 Epidemiologia e transmissão ......................................131
Papel das Infecções e de Outras Influências Ambientais Referências .........................................................................131
....................................................................................118
Reações de Hipersensibilidade ...........................................132
Doenças Autoimunes .....................................................119
Hipersensibilidade do Tipo I ...........................................132
Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES).............................119 Imunoglobulina E........................................................132
Tireoidite de Hashimoto (TH) .....................................120
Células envolvidas ......................................................133
Diabetes Mellitus Tipo 1 (DM1)..................................120
Testes Cutâneos para o Diagnóstico e Investigação...133
Doença de Graves (DG) ..............................................121 Sintomas da doença alérgica ......................................133
Miastenia Grave (MG) ................................................121
Dessensibilização e Imunoterapia ..............................134
Anemia Hemolítica (AIHA) ..........................................121
Hipersensibilidade do Tipo II ..........................................134
Artrite Reumatoide (AR) .............................................121 Mecanismos de dano .................................................134
Referências .........................................................................122
Reações contra eritrócitos e plaquetas ......................134
Resposta Imune a Parasitas................................................124
Reações Contra Antígenos Teciduais..........................135
Resposta Inata a Parasitas ..............................................124 Hipersensibilidade do Tipo III .........................................135
Protozoários ...............................................................124
Tipos de Doença por Complexo Imune ......................135
Helmintos ...................................................................124
Mecanismos de Reação ..............................................135
Resposta Adaptativa a Parasitas ....................................124 Doenças por Complexos Imunes: Modelos
Protozoários ...............................................................124 Experimentais .............................................................135
Helmintos ...................................................................125 Deposição nos Tecidos ...............................................136
Mecanismos de Evasão à Resposta Imune .................125 Destruição de Complexos ...........................................136
Giardia Lamblia ...............................................................125 Detecção dos Complexos ...........................................136
Ciclo ............................................................................126 Hipersensibilidade do Tipo IV .........................................136
Imunidade ..................................................................126 Hipersensibilidade de Contato ...................................136
Patogenicidade ...........................................................126 Hipersensibilidade do Tipo Tuberculínica ..................137
Diagnóstico .................................................................127 Hipersensibilidade Granulomatosa ............................137
Epidemiologia e transmissão ......................................127 Referência ..........................................................................137
Entamoeba histolytica ....................................................127 RESUMÃO DE CITOCINAS ...................................................138
Morfologia ..................................................................127
Ciclo ............................................................................127
Patogenicidade ...........................................................128
Imunidade ..................................................................129
Diagnóstico .................................................................129
Epidemiologia e transmissão ......................................129
Família Ancylostomidae .................................................129

6
• Células fagocíticas (neutrófilos, macrófagos), células
PROBLEMA 1 dendríticas e células assassinas naturais (NK – do
inglês natural killer) e outras células linfoides;
• Proteínas sanguíneas, incluindo membros do
VISÃO GERAL DO SISTEMA IMUNE sistema complemento (o sistema complemento é
O termo imunidade é derivado da palavra latina imunitas, constituído por uma “cascata” enzimática que
que se refere à proteção contra processos legais ajuda na defesa contra infecções – Msd manuals,
oferecida aos senadores romanos durante seus 2017) e outros mediadores da inflamação.
mandatos. Historicamente, a imunidade significa
proteção contra doenças e, mais especificamente,
doenças infecciosas. As células e moléculas
responsáveis pela imunidade constituem o sistema
imune, e sua resposta coletiva e coordenada à entrada
de substâncias estranhas é denominada resposta
imune.

A função fisiológica do sistema imune é a defesa


contra microrganismos infecciosos. Entretanto,
mesmo substâncias estranhas não infecciosas
podem elicitar respostas imunes. Além disso,
mecanismos que normalmente protegem os indivíduos
contra uma infecção e eliminam substâncias estranhas Imunobiologia, Janeway, 8ªEd p.43
também são capazes de causar lesão tecidual e
doenças em algumas situações. (Abba, 2015)
HISTÓRICO CIENTÍFICO
Acredita-se que Thucydides (séc.V a.C.), em Atenas, foi
o primeiro a descrever imunidade contra uma doença
que ele denominou praga.

O conceito de imunidade protetora pode ter existido


muito antes, como sugerido pelo antigo costume chinês
de tornar as crianças resistentes à varíola após fazê-las Imunobiologia, Janeway, 8ªEd. p.37
inalar pó preparado a partir de lesões cutâneas de
pacientes que se recuperaram da doença. A imunidade inata é a resposta inicial aos
microrganismos que previne, controla ou elimina a
O maior avanço quanto à imunologia aconteceu graças infecção do hospedeiro por muitos patógenos. Os
ao médico inglês Edward Jenner, ao identificar que ao mecanismos imunes inatos eliminam células danificadas
injetar uma vacina (vem do latim vaccinum, que significa e iniciam o processo de reparo tecidual. A imunidade
vaca) em um garoto de oito anos, contendo pus de uma inata estimula as respostas imunes adaptativas e pode
bolha na mão da leiteira Sarah Nelmes, portadora da influenciar a natureza das respostas adaptativas para
varíola bovina, o garoto ficou imune à varíola humana. torná-las otimamente efetivas contra diferentes tipos de
microrganismos. Os dois principais tipos de respostas do
sistema imune inato que protegem contra
IMUNIDADE INATA E ADAPTATIVA microrganismos são a defesa inflamatória e a antiviral.
O tipo de infecção e o local em que ela ocorre são os
A defesa contra microrganismos é mediada pelas principais fatores quando se consideram as barreiras
reações iniciais da imunidade inata e pelas inatas.
respostas tardias da imunidade adaptativa.
(Abba,2015)

IMUNIDADE INATA
A imunidade inata (natural ou nativa) age como uma
primeira linha de defesa contra microrganismos.
Respondem de forma equivalente em possíveis
exposições subsequentes. Corresponde a mecanismos
que se encontram preparados mesmo antes da
infecção, reagindo a produtos dos microrganismos e
células lesionadas. Seus principais componentes são:
• Barreiras físicas e químicas, como epitélio e
substâncias antibacterianas produzidas na superfície
epitelial;
Imunobiologia, Janeway, 8ªEd. p.37
7
Os patógenos podem lesar os tecidos de várias
maneiras diferentes. As exotoxinas são liberadas por
microrganismos e atuam na superfície das células
hospedeiras, por exemplo, pela ligação aos receptores
(geralmente só uma resposta adaptativa específica
consegue agir nas toxinas). As endotoxinas, as quais
são componentes intrínsecos da estrutura microbiana,
ativam fagócitos para liberação de citocinas, que
produzem sintomas locais ou sistêmicos. Muitos
patógenos são citopáticos, danificando diretamente as
células que infectam. (Janeway, 2014)

Para que ocorra uma infecção, os microrganismos Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015.
devem superar as barreiras inatas. Por exemplo, um
patógeno que parasita o intestino, além da barreira do O sistema imune inato também reconhece
epitélio, ainda tem que superar a microbiota moléculas endógenas que são produzidas ou
comensal, que compete não só por nutrientes e sítios liberadas de células danificadas ou mortas. Essas
de ligação na membrana, mas também auxiliam na substâncias são chamadas de padrões moleculares
intensificação da função de barreira do epitélio. associados ao dano (DAMPs). Os DAMPs podem ser
produzidos como resultado de dano celular causado por
RECONHECIMENTO DE MICRORGANISMOS E OS infecções, mas eles também podem indicar lesão estéril
PRÓPRIOS DANIFICADOS PELO SISTEMA IMUNE INATO às células causada por qualquer das inúmeras razões,
tais como toxinas químicas, queimaduras, trauma ou
O sistema imune inato reconhece estruturas redução no suprimento sanguíneo. Os DAMPs
moleculares que são produzidas pelos patógenos geralmente não são liberados de células que estão em
microbianos. As substâncias microbianas que processo de apoptose. Em alguns casos, células
estimulam a imunidade inata frequentemente são saudáveis do sistema imune são estimuladas a produzir
compartilhadas por classes de microrganismos e são e liberar certos DAMPs, algumas vezes chamados de
chamadas de padrões moleculares associados ao alarminas, que aumentam a resposta imune inata às
patógeno (PAMPs). Diferentes tipos de microrganismos infecções.
(p. ex., vírus, bactérias Gram-negativas, bactérias
Gram-positivas, fungos) expressam diferentes PAMPs. O sistema imune inato usa vários tipos de
(Abba, 2015) receptores celulares, presentes em diferentes
localizações nas células, e moléculas solúveis no
Essas estruturas incluem ácidos nucleicos que são sangue e secreções mucosas para reconhecer
exclusivos dos microrganismos, tais como RNA de fita PAMPs e DAMPs.
dupla encontrado em vírus em replicação e sequências
de DNA CpG não metiladas encontradas em bactérias; Os receptores do sistema imune inato são
características de proteínas que são encontradas em codificados por genes herdados, enquanto os genes
microrganismos, tais como iniciação por N-
que codificam receptores da imunidade adaptativa
formilmetionina, que é típica de proteínas bacterianas; e
lipídios complexos e carboidratos que são sintetizados são gerados por recombinação somática de
pelos microrganismos, mas não por células de segmentos de genes em precursores de linfócitos
mamíferos, tais como lipopolissacarídios (LPS) em maduros.
bactérias Gram-negativas, ácido lipoteicoico em
bactérias Gram-positivas e oligossacarídios com Os receptores de reconhecimento do padrão podem ser
resíduos de manose terminal encontrados em classificados em quatro grupos principais com base em
glicoproteínas de microrganismos, mas não em sua localização celular e sua função: receptores livres
glicoproteínas de mamíferos. (Abba, 2015) no soro (como MBL– lectina ligadora de manose);
receptores fagocíticos ligados à membrana; receptores
O sistema imune inato reconhece produtos de sinalização ligados à membrana; e receptores de
microbianos que frequentemente são essenciais sinalização citoplasmáticos.
para a sobrevivência dos microrganismos. Isso
garante que o patógeno não abandone os alvos da Os receptores fagocíticos primeiramente estimulam a
imunidade para evadir ao reconhecimento. Um exemplo ingestão dos patógenos que eles reconhecem. Os
de alvo da imunidade inata é o RNA viral de fita dupla. receptores de sinalização constituem um grupo
Também, LPS (lipopolissacarídeo) e ácido lipoteitoico diversificado que inclui receptores quimiotáticos, os
são componentes essenciais das paredes celulares das quais guiam as células aos locais de infecção, e
bactérias são alvos da resposta imune e são receptores que induzem a produção de moléculas
imprescindíveis para a vida desses microrganismos. efetoras que contribuem para as respostas da
imunidade inata induzidas tardiamente.

8
RECEPTORES TIPO TOLL são expressas pelos microrganismos, mas não por
Os receptores do tipo Toll (TLRs) são uma família células saudáveis de mamíferos.
conservada evolucionariamente de receptores de Os TLRs também estão envolvidos na resposta a
reconhecimento de padrão em muitos tipos moléculas endógenas cuja expressão ou localização
celulares que reconhecem produtos de uma grande indicam dano celular. As bases estruturais das
variedade de microrganismos, assim como especificidades dos TLRs residem nos múltiplos
moléculas expressas ou liberadas por células módulos extracelulares ricos em leucina destes
estressadas ou em processo de morte. receptores, que se ligam diretamente aos PAMPs ou
a moléculas adaptadoras que se ligam aos PAMPs.
Além disso, o domínio citoplasmático do Toll foi
mostrado ser similar à região citoplasmática do receptor O reconhecimento dos ligantes microbianos pelo
para a citocina imune inata interleucina-1 (IL-1). Essas TLR resulta na ativação de várias vias de sinalização
descobertas levaram à identificação dos homólogos e, por fim, nos fatores de transcrição, que induzem a
mamíferos do Toll, que foram nomeados como expressão de genes cujos produtos são importantes
receptores do tipo Toll. Existem nove diferentes TLRs para respostas inflamatórias e antivirais.
funcionais em humanos, denominados TLR1 até TLR9

Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015.

Os TLRs são um tipo de glicoproteínas integrais, de tipo


I, de membrana que contêm repetições ricas em leucina
flanqueadas por locais ricos em cisteína em suas
regiões extracelulares, que estão envolvidas na ligação
ao ligante, e um domínio de homologia do receptor
Toll/IL-1 (TIR) em suas caudas citoplasmáticas, que é Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015.
essencial para a sinalização. Os domínios TIR também
são encontrados nas caudas citoplasmáticas dos Os TLRs 1, 2, 5 e 6 utilizam a proteína adaptadora
receptores para as citocinas IL-1 e IL-18, e vias de MyD88 e ativam os fatores de transcrição NF-κB e AP-
sinalização similares são disparadas pelos TLRs, IL-1 e 1. O TLR3 utiliza a proteína adaptadora TRIF e ativa os
IL-18. Os TLRs de mamíferos estão envolvidos em fatores de transcrição IRF3 e IRF7. O TLR4 pode ativar
respostas a uma grande variedade de moléculas que
9
ambas as vias. Os TLRs 7 e 9 no endossoma utilizam membrana. O fragmento solúvel C3a também contribui
MyD88 e ativam ambos NF-κB e IRF7. para as defesas do organismo, atuando como um
quimioatraente para recrutar células efetoras, inclusive
SISTEMA COMPLEMENTO os fagócitos, do sangue para o local da infecção.
Assim que um patógeno penetra a barreira epitelial e
começa a viver no tecido humano, os mecanismos de Há três vias de ativação do complemento. Como a via
defesa da imunidade inata são ativados. Um dos de ativação do complemento desencadeada por
primeiros mecanismos a atuar é um sistema de anticorpos foi a primeira a ser descoberta, ela se tornou
proteínas solúveis, produzidas pelo fígado e que estão conhecida como a via clássica de ativação do
presentes no sangue, na linfa e nos fluidos complemento. A via clássica de ativação do
extracelulares. Essas proteínas plasmáticas são complemento, faz parte tanto da imunidade inata quanto
conhecidas como o sistema do complemento, ou da adaptativa e requer a ligação do anticorpo ou de uma
apenas complemento. O complemento reveste a proteína do sistema imune inato, chamada de proteína
superfície das bactérias e das partículas virais e-reativa, à superfície do patógeno.
extracelulares, tornando-as mais facilmente
fagocitáveis. Sem essa cobertura proteica, muitas A seguinte a ser descoberta foi denominada via
bactérias resistem à fagocitose, em especial aquelas alternativa, a qual pode ser ativada somente pela
que são recobertas por espessas cápsulas de presença do patógeno, e a mais recentemente
polissacarídeos. descoberta é a via da lecitina, ativada por proteínas
semelhantes a lecitinas que reconhecem e se ligam
O sistema do complemento é composto por mais de 30 aos carboidratos da superfície dos patógenos.
diferentes proteínas plasmáticas (sendo a mais
importante o complemento C3), as quais são
produzidas principalmente pelo fígado. Na ausência de
infecção, essas proteínas circulam na forma inativa.

Apesar de pacientes que não possuem outros


componentes do complemento sofrerem de
imunodeficiências relativamente menos graves, os
pacientes que não possuem o C3 têm propensão a
desenvolver infecções sucessivas graves. A ativação
do complemento por infecção sempre leva à clivagem do
C3 em um fragmento menor, o C3a, e em um maior, o
C3b. No processo, alguns dos fragmentos C3b se ligam
de modo covalente à superfície do patógeno.

O sistema imune, Pahram, 2011, 3ª Ed

IMUNIDADE ADAPTATIVA
Contrapondo-se ao mecanismo inato, existem
mecanismos de resposta imune que são estimuladas
pelo contato do organismo com agentes infecciosos e
aumentam em magnitude e capacidade com a
ocorrência de exposições repetitivas.

Graças a essa capacidade, esse tipo de imunidade é


O sistema imune, Pahram, 2011, 3ª Ed. chamada de imunidade adaptativa (adquirida ou
específica). O sistema imune adaptativo possui a
Essa ligação do C3b à superfície do patógeno é a função característica de reconhecer uma ampla variedade de
essencial do sistema do complemento, chamada de substâncias microbianas e não microbianas. Possui a
fixação do complemento porque o C3b se fixa no capacidade de identificar e distinguir entre uma
patógeno. A ligação de C3b marca o patógeno para variedade de substâncias, o que é conhecido por
destruição pelos fagócitos e, também, pode organizar a especificidade. Também, responde mais
formação de complexos proteicos que danificam sua vigorosamente para cada exposição repetida ao
mesmo microrganismo, o que recebe o nome
10
memória. Seus componentes exclusivos são os células T auxiliares aumentam as habilidades
linfócitos, assim como seus produtos secretados: os microbicidas dos fagócitos.
anticorpos. Quando o patógeno já foi reconhecido, em • Morte celular. Os linfócitos T citotóxicos (CTLs)
uma futura infecção, a proteína é chamada de destroem as células infectadas pelos
imunógeno. microrganismos que são inacessíveis aos
anticorpos e à destruição fagocítica.

O objetivo da resposta adaptativa é ativar um ou mais


mecanismos de defesa contra diversos microrganismos
que podem estar em diferentes localizações
anatômicas, tais como intestinos ou vias respiratórias
circulação ou dentro das células.

Existem dois tipos de respostas imunes adaptativas,


denominadas imunidade humoral e imunidade
mediada por célula, que são mediadas por diferentes
componentes do sistema imune e atuam para
eliminar diferentes tipos de microrganismos.

A imunidade humoral é mediada por moléculas no


sangue e secreções mucosas, chamadas anticorpos,
que são produzidas pelos linfócitos B. Os anticorpos
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015. reconhecem os antígenos microbianos, neutralizam sua
infectividade e focam nos microrganismos para sua
Substâncias estranhas que causam respostas imunes eliminação por vários mecanismos efetores.
específicas são chamadas de antígenos.
A imunidade humoral é o principal mecanismo de defesa
Citocinas são um grande grupo de proteínas contra microrganismos extracelulares e suas toxinas,
secretadas com diversas estruturas e funções, que porque os anticorpos secretados podem se ligar a esses
regulam muitas atividades das células da imunidade. microrganismos e toxinas e auxiliar na sua eliminação.
Todas as células do sistema imune secretam pelo
menos algumas citocinas e expressam receptores Por exemplo, diferentes tipos de anticorpos promovem a
específicos de sinalização. Essas substâncias ingestão de microrganismos pelas células do hospedeiro
apresentam vários nomes, sendo algumas citocinas (fagocitose), ligação e ativação da liberação de
designadas por interleucinas, seguidas por um número, mediadores inflamatórios das células e são ativamente
e outras, por exemplo, denominadas pela primeira transportados para os lumens de órgãos mucosos e
atividade biológica atribuída a elas, assim como o fator através da placenta para fornecer defesa contra
de necrose tumoral (TNF) ou interferon. microrganismos ingeridos e inalados e contra infecções
do recém-nascido, respectivamente.
O grande subgrupo de citocinas que regulam a migração
e o movimento celular é o das quimiocinas. Alguns dos A imunidade mediada por célula, também
fármacos mais efetivos para tratar doenças do sistema denominada imunidade celular, é mediada pelos
imune atuam nessas proteínas. linfócitos T. Os microrganismos intracelulares (como
vírus e algumas bactérias) sobrevivem e proliferam no
Uma resposta imune adaptativa só é necessária quando interior de fagócitos e outras células do hospedeiro.
as defesas inatas do hospedeiro são contornadas,
evadidas ou dominadas. A imunidade inata é suficiente A defesa contra esse tipo de infecção é mediada por
para prevenir que o organismo seja dominado pelo célula, de modo que os linfócitos T promovem a
grande número de microrganismos que vivem dentro e destruição desses organismos ou até mesmo da célula
fora dele. infectada para erradicação de um possível reservatório.
Além disso, contribuem para o recrutamento de
TIPOS DE RESPOSTAS IMUNES ADAPTATIVAS leucócitos que irão destruir células invasoras no meio
O sistema imune adaptativo utiliza três principais extracelular e auxiliando as células B a produzirem
estratégias para combater a maioria dos anticorpos.
microrganismos:
• Anticorpos. Os anticorpos secretados se ligam
aos microrganismos extracelulares,bloqueiam
sua habilidade de infectar as células do
hospedeiro e promovem suaingestão e
subsequente destruição pelos fagócitos.
• Fagocitose. Os fagócitos ingerem os
microrganismos e os matam, e os anticorpos e

11
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015.

A primeira demonstração experimental da imunidade


humoral foi feita por Emil von Behring e Shibasaburo
Kitasato, em 1890. Eles mostraram que se o soro de
animais que haviam sido imunizados com uma forma
atenuada de toxina diftérica fosse transferido a animais
imaturos, os recebedores se tornavam resistentes
especificamente à infecção diftérica. Os componentes
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015. ativos do soro foram chamados de antitoxinas, porque
eles neutralizaram os efeitos patológicos da toxina
diftérica. Este resultado levou ao tratamento da outra
forma letal da infecção diftérica, pela administração da
antitoxina, um objetivo que foi reconhecido com o prêmio
do primeiro Nobel em Fisiologia ou Medicina para von
Behring. (Abba, 2015)

Na década de 1890, Paul Ehrlich postulou que as células


imunes usam receptores, que ele chamou de cadeias
laterais, para reconhecer toxinas microbianas e,
subsequentemente, secretá-los para combater
microrganismos. Ele também cunhou o termo anticorpos
(do alemão antikörper) para as proteínas séricas que se
ligam às toxinas, e as substâncias que produziram os
Imunobiologia, Janeway, 8ªEd p.26 anticorpos foram denominadas antígenos. (Abba, 2015)
A definição moderna de antígenos inclui substâncias
A imunização pode ocorrer de duas formas: ativa e que se ligam a receptores específicos em linfócitos, quer
passiva. A imunização ativa pode ocorrer mediante ao estimulem ou não respostas imunes. De acordo com
contato com um antígeno (seja por vacinação ou por definições estritas, substâncias que estimulam as
uma infecção), resposta a esse antígeno e a respostas imunes são denominadas imunógenos, mas
consequente maturação do sistema de defesa contra o termo antígeno frequentemente é usado de forma
possíveis infecções futuras. A imunização passiva intercambiável com imunógeno. (Abba, 2015)
ocorre quando o paciente recebe um soro ou linfócitos
de um indivíduo imunizado em situações experimentais, Elie Metchnikoff inicialmente defendeu a teoria celular
em um processo conhecido como transferência da imunidade, que afirmava que as células do
adaptativa. Dessa forma, o paciente se torna imune sem hospedeiro são os principais mediadores da imunidade.
mesmo ter contato direto com o antígeno. Sua demonstração de fagócitos em torno de um espinho
colocado em uma larva de estrela do mar, publicada em
Esse tipo de imunização é importante principalmente 1883 [...]. (Abba, 2015)
quando se leva em conta a transferência de anticorpos
de mãe para o filho pela placenta, conferindo a eles A observação de Sir Almroth Wright, no início da década
resistência mesmo antes de serem capazes de produzir de 1990, de que fatores no soro imune aumentaram a
anticorpos. fagocitose de bactéria recobrindo a bactéria, um
processo conhecido como opsonização, deu suporte à
crença de que os anticorpos preparam os
microrganismos para os fagócitos. (Abba, 2015)

12
CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DAS RESPOSTAS IMUNES hospedeiro e são denominadas moléculas do complexo
maior de histocompatibilidade (MHC), expressas nas
ADAPTATIVAS
superfícies de outras células. Como resultado, essas
Especificidade: respostas imunes são específicas para células T reconhecem e respondem aos antígenos
antígenos distintos e para diferentes porções de uma associados à superfície celular, mas não aos antígenos
proteína, polissacarídeo ou outras macromoléculas. As solúveis.
partes reconhecidas são chamadas de determinantes ou
epítopos.

Diversidade: se relaciona à capacidade dos linfócitos


de reconhecerem uma vasta gama de antígenos
diferentes (cerca de 107 a 109 informações) por meio de
recombinação gênica.

Memória: se relaciona à capacidade que o sistema


imune apresenta de responder com mais intensidade a
imunógenos que já foram apresentados. Por exemplo,
após uma infecção, células de memória são produzidas.
O linfócito B de memória produz, para uma determinada
infecção, anticorpos que se ligam mais afinidade aos
antígenos, em comparação a linfócitos T imaturos.

Expansão clonal: multiplicação de células com


determinado receptor para um determinado antígeno.

Especialização: corresponde a geração de respostas


efetivas contra diferentes classes de microrganismos.

Contração e homeostasia: respostas imunes normais


diminuem como tempo e retornam ao estado de repouso
basal do corpo (homeostasia). Isso ocorre porque boa
parte das reações disparadas por antígeno funcionam
para desativá-los e, em decorrência disso, desativam o
estímulo essencial para a vida dos linfócitos, que, sem
eles, sofrem apoptose.

Não reatividade ao próprio: apesar de eliminar


antígenos estranhos, o sistema imune está preparado
para não reagir a suas próprias substâncias antigênicas.

COMPONENTES CELULARES DO SISTEMA IMUNE Imunobiologia, Janeway, 8ªEd p.27


ADAPTATIVO
Janeway, 2014 e Abba, 2015, na maior parte. Os linfócitos T consistem em populações
funcionalmente distintas, os mais bem definidos dos
As principais células que compõem esse sistema são os quais são as células T auxiliares e os linfócitos T
linfócitos, as células apresentadoras e células efetoras. citotóxicos (ou citolíticos) (CTLs, do inglês cytotoxic T
lymphocytes).
Os linfócitos B são as únicas células capazes de
produzir anticorpos. Eles reconhecem antígenos Em resposta à estimulação do antígeno, as células T
extracelulares solúveis e na superfície celular e auxiliares (levam em sua superfície uma proteína
diferenciam em plasmócitos secretores de anticorpos, chamada CD4) secretam citocinas que causam muitas
funcionando, assim, como mediadores da imunidade respostas celulares da imunidade inata e adaptativa,
humoral. agindo como moléculas mensageiras do sistema imune.
Essas citocinas agem estimulando a proliferação e
Os linfócitos T, as células da imunidade mediada por diferenciação dos linfócitos T virgens em vários tipos
célula, reconhecem os antígenos dos microrganismos efetores, como células TH1, TH2, TH17 e células T
intracelulares e as células T ou auxiliam os fagócitos a auxiliares foliculares ou células TFH.
destruir esses microrganismos ou matam as células
infectadas. As células T não produzem moléculas de Por exemplo, as células TH1 auxiliam a controlar
anticorpo. determinadas bactérias que se estabelecem dentro dos
macrófagos em vesículas circundadas por membranas;
Os linfócitos T têm uma especificidade restrita para as células TH1 ativam os macrófagos para aumentarem
antígenos; eles reconhecem peptídeos derivados das seu poder de matar e destruir essas bactérias
proteínas estranhas que estão ligadas às proteínas do (principalmente intracelular). Importantes infecções
13
controladas, pelo menos em alguma extensão, por essa fagócitos mononucleares e outros leucócitos funcionam
função das células TH1 são a tuberculose e a como células efetoras em diferentes respostas imunes.
hanseníase, as quais são causadas pelas bactérias
Mycobacterium tuberculosis e M. leprae, Linfócitos e APCs são concentrados em órgãos linfoides
respectivamente. anatomicamente discretos, onde eles interagem uns
com os outros para iniciar as respostas imunes. Os
As células TH2 são especializadas em promover as linfócitos também estão presentes no sangue; do
respostas nas superfícies das mucosas, principalmente sangue, eles podem recircular através dos tecidos
contra infecções parasitárias e, novamente, esse fato é linfoides e voltar aos tecidos periféricos para os locais de
resultado do grupo distinto de citocinas produzidas pelas exposição do antígeno para eliminar este antígeno.
células TH2. Os mecanismos efetores envolvidos são
compartilhados com o que é normalmente conhecido A ação mais direta das células T é a citotoxicidade. As
como respostas "alérgicas': e são caracterizados pelo células T citotóxicas são células T efetoras que atuam
aumento da produção de barreira protetora de muco na contra células infectadas por vírus. Antígenos derivados
superfície das mucosas, pelo recrutamento de de vírus que se multiplicam dentro das células infectadas
eosinófilos e pela produção de uma determinada classe são apresentados na superfície celular, onde são
de anticorpos, a IgE (atrai eosinófilos). Embora as reconhecidos pelos receptores de antígeno das células
alergias sejam normalmente consideradas uma resposta T citotóxicas. Essas células podem matar diretamente as
adversa a um antígeno, esse tipo de resposta imune células infectadas antes que a replicação viral seja
desempenha um importante papel protetor contra muitos finalizada. Ao final do seu desenvolvimento no timo, os
tipos de patógenos. linfócitos T são compostos por duas classes principais,
uma que leva a proteína de superfície celular
Finalmente, as células TH17 produzem distintas chamada CD8 em sua superfície e outra que leva a
citocinas que auxiliam a promover as respostas ricas no proteína chamada CD4.
recrutamento de neutrófilos e que efetivamente
combatem bactérias e fungos extracelulares. Estes não são apenas marcadores aleatórios, mas são
importantes para a função das células T, porque ajudam
O termo "célula T auxiliar" foi definido muito antes de a determinar as interações entre as células T e outras
as várias subpopulações de células T serem células. As células T citotóxicas levam CD4, enquanto
conhecidas, especificamente para descrever as células as células T auxiliares envolvidas na ativação, e não na
T que "auxiliam'' as células B a produzir anticorpos. morte, das células por elas reconhecidas levam CD4.
Atualmente, esse termo é mais utilizado quando CD4 e CD8 são conhecidas como correceptores, porque
relacionado com as funções descritas anteriormente, em estão envolvidas na sinalização das células T quando o
vez de ser restrito às células T que auxiliam as células receptor ligou o antígeno correto.
B.
As células T CD8 são destinadas a se tomarem células
Alguns linfócitos T, denominados células T T citotóxicas no momento em que deixam o timo como
regulatórias, funcionam principalmente para inibir as linfócitos virgens (maduro, mas indiferenciado).
respostas imunes. Uma pequena população de linfócitos
T que expressa algumas proteínas de superfície celular FASES DA RESPOSTA IMUNE ADAPTATIVA
encontradas somente nas células T é denominada
células NKT (são um grupo de células T que partilham
as propriedades das células T e das células
exterminadoras naturais).

O início e desenvolvimento das respostas imunes


adaptativas necessitam que os antígenos sejam
capturados e apresentados aos linfócitos específicos. As
células que servem a este papel são as chamadas
células apresentadoras de antígeno (APCs, do inglês
antigen-presenting cells). As APCs mais especializadas
são as células dendríticas, que capturam antígenos
microbianos que se originam do ambiente externo,
transportam seus antígenos aos órgãos linfoides e
apresentam os antígenos aos linfócitos T imaturos para
iniciar as respostas imunes.

A ativação dos linfócitos pelos antígenos leva à geração


de numerosos mecanismos que funcionam para eliminar Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015.
o antígeno. A eliminação do antígeno frequentemente
necessita da participação das células efetoras, porque Captura e apresentação de antígenos microbianos:
elas medeiam o efeito final da resposta imune, que é se As células dendríticas localizadas nos epitélios e tecidos
livrar dos microrganismos. Os linfócitos T ativados, conectivos capturam microrganismos, digerem suas
proteínas em fragmentos e expressam nas suas
14
superfícies peptídios microbianos ligados às moléculas Existem dois tipos de MHC, os de classe I e os de classe
de MHC, que são as moléculas especializadas de II. Os linfócitos T CD8 são capazes de identificar,
apresentação de peptídios do sistema imune adaptativo. seletivamente, peptídeos de alguns segmentos de MHC
de classe I, enquanto os linfócitos T CD4 reconhecem
As células dendríticas transportam sua carga antigênica os peptídeos que são ligados às moléculas de MHC
para os linfonodos de drenagem através dos quais os classe II.
linfócitos T imaturos recirculam continuamente. Então, a
probabilidade de uma célula T com receptores para um As moléculas de MHC classe I coletam peptídeos
antígeno em particular encontrar aquele antígeno é oriundos das proteínas sintetizadas no citosol e
grandemente aumentada pela concentração de muitos conseguem apresentar, na superfície celular,
antígenos e células T na mesma localização anatômica. fragmentos de proteínas virais. Logo, essas moléculas
são expressas na maioria das células do organismo,
Reconhecimento de antígenos pelos linfócitos: sendo um importante mecanismo contra infecções
Linfócitos específicos para um grande número de virais.
antígenos existem antes da exposição ao antígeno e,
quando um antígeno entra em um órgão linfoide Enquanto isso, as moléculas de MHC classe II são mais
secundário, ele se liga (seleciona) às células específicas expressas por APCs (células dendríticas, macrófagos e
para o antígeno, ativando-as. Esse conceito é chamado células B) e ligam peptídeos, principalmente derivados,
de hipótese de seleção clonal. De acordo com essa das proteínas nas vesículas intracelulares, sejam
hipótese, os clones de linfócitos específicos para capturadas por fagocitose, proteínas derivadas de
antígenos se desenvolvem antes e independentemente patógenos residentes em macrófagos ou proteínas
da exposição ao antígeno. Um clone se refere a um internalizadas por células B por endocitose.
linfócito de uma especificidade e sua progênie.

Imunobiologia, Janeway, 8ªEd

Pelo fato de os TCRs serem específicos para uma


Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015. combinação de peptídeos e molécula do MHC, qualquer
TCR reconhecerá uma molécula do MHC de classe I ou
A ativação dos linfócitos T imaturos necessita do uma molécula do MHC de classe II. Para serem úteis, os
reconhecimento de complexos peptídio-MHC linfócitos T portadores de receptores de antígenos que
apresentados nas células dendríticas. Pelo fato de os reconhecem moléculas do MHC de classe I devem
receptores de células T serem específicos para também expressar os correceptores CDS, enquanto os
peptídios associados ao MHC, esses linfócitos podem linfócitos T portadores de receptores específicos para
interagir somente com antígenos associados a células moléculas do MHC de classe II devem expressar o
(porque as moléculas de MHC são proteínas da correceptor CD4.
superfície celular), e não com antígeno livre.
TCR é uma molécula encontrada na superfície
As células T detectam os peptídeos derivados de
das células T responsável pelo reconhecimento de
antígenos estranhos após eles serem digeridos e seus
fragmentos de antígeno como peptídeos ligados a
fragmentos, são capturados pelo MHC e esse complexo
pode ser apresentado na superfície celular para os moléculas do complexo principal de
linfócitos. histocompatibilidade (MHC).

15
em células que secretam diferentes classes de
anticorpos com funções distintas. A resposta das células
B aos antígenos proteicos necessita de sinais de
ativação (auxílio) das células T CD4+ (que é a razão
histórica para se chamar essas células de células T
auxiliares). As células B podem responder a vários
antígenos não proteicos sem a participação de células T
auxiliares.

Algumas das progênies dos clones de células B


Wikipedia – Receptor de Células T
expandidos se diferenciam em plasmócitos secretores
Os linfócitos B utilizam seus receptores de antígenos de anticorpo. Cada plasmócito secreta anticorpos que
(moléculas de anticorpo ligado à membrana) para têm o mesmo local de ligação do antígeno que os
reconhecer os antígenos de muitos tipos químicos anticorpos da superfície células (receptores em célula B)
diferentes. que primeiro reconheceram o antígeno.

IMUNIDADE MEDIADA POR CÉLULA Polissacarídeos e lipídeos estimulam a secreção de um


tipo de anticorpo da classe IgM, enquanto antígenos
Ativação dos linfócitos T e eliminação de proteicos induzem a produção de outras classes (IgG,
microrganismos intracelulares: Os linfócitos T IgA, IgE), e com outras funções, a partir de um clone de
auxiliares CD4 ativados proliferam e se diferenciam em células B. A produção desta classe de anticorpos com
células efetoras cujas funções são grandemente diferentes funções é denominada troca de classe.
mediadas por citocinas secretadas.
A resposta imune humoral combate microrganismos de
Quando as células T CD4 imaturas são ativadas pelo várias maneiras. Os anticorpos se ligam aos
antígeno, começam a liberar interleucina-2 (IL-2) que microrganismos e os impedem de infectar as células,
estimula a seleção clonal e começam a se diferenciar. neutralizando, então, os microrganismos. De fato, os
Algumas dessas progênies (células “derivadas” de uma anticorpos são os únicos mecanismos da imunidade
outra selecioniada por antígenos) viram células efetoras adaptativa que previnem uma infecção antes de ela
e começam a liberar citocinas e realizar diferentes se estabelecer; essa é a razão pela qual elicitar a
funções. produção de anticorpos potentes consiste no objetivo
principal da vacinação.
Quando essas células T efetoras diferenciadas
encontram novamente os microrganismos associados a Anticorpos IgG recobrem os microrganismos e os
células, elas são ativadas para realizar as funções que tornam alvo para a fagocitose porque os fagócitos
são responsáveis pela eliminação dos microrganismos. (neutrófilos e macrófagos) expressam receptores para
partes das moléculas de IgG. IgG e IgM ativam o sistema
Algumas células T auxiliares CD4+ secretam citocinas complemento, e os produtos do complemento
que recrutam leucócitos e estimulam a produção de promovem a fagocitose e a destruição dos
substâncias microbicidas nos fagócitos. Assim, essas microrganismos.
células T auxiliam os fagócitos a matar os patógenos
infecciosos. Outras células T auxiliares CD4 secretam A IgA é secretada pelo epitélio da mucosa e neutraliza
citocinas que auxiliam as células B a produzir um microrganismos nos lumens dos tecidos mucosos, tais
tipo de anticorpo denominado imunoglobulina E como os tratos respiratório e gastrintestinal. A IgG
(IgE) e ativam os leucócitos chamados de eosinófilos, materna é ativamente transportada através da placenta
que são capazes de matar parasitas muito grandes para e protege o feto até que o seu sistema imune e do futuro
serem fagocitados. recém-nascido se torne maduro. A maioria dos
anticorpos tem meia-vida de poucos dias, mas grande
Linfócitos CD8+ proliferam e se diferenciam em CTLs parte dos anticorpos IgG tem meia-vida de cerca de 3
(linfócito T citotóxico) que matam as células com semanas.
microrganismos no citoplasma. Esses microrganismos
podem ser vírus que infectam muitos tipos de células ou
MEMÓRIA IMUNOLÓGICA
bactérias que são ingeridas pelos macrófagos, mas
escapam das vesículas fagocíticas para o citoplasma Uma resposta imune bem-sucedida elimina os
(onde são inacessíveis à maquinaria de morte dos microrganismos que iniciaram uma resposta. Após isso,
fagócitos, que fica grandemente confinada às inicia-se a fase de contração, com a apoptose dos
vesículas). Com a destruição das células infectadas, os clones expandidos de linfócito e restauração da
CTLs eliminam os reservatórios de infecção. homeostase.

IMUNIDADE HUMORAL A ativação inicial dos linfócitos gera células de memória


de vida longa, que podem sobreviver por anos após a
infecção. As células de memória são mais efetivas no
Ativação dos Linfócitos B e Eliminação dos combate aos microrganismos do que os linfócitos
Microrganismos Extracelulares: Na ativação pelo imaturos, porque, com mencionado anteriormente, as
antígeno, os linfócitos B se proliferam e se diferenciam
16
células de memória representam um conjunto expandido
de linfócitos específicos para antígeno (mais numerosos
do que as células imaturas específicas para o antígeno)
e respondem mais rápido e efetivamente contra o
antígeno do que as células imaturas.
CÉLULAS E TECIDOS DO SISTEMA IMUNE
As células do sistema imune inato e adaptativo
normalmente estão presentes como células circulantes
no sangue e na linfa, como coleções anatomicamente Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015
definidas nos órgãos linfoides e como células dispersas
em praticamente todos os tecidos. A organização
anatômica destas células e sua habilidade em circular e
trocar entre sangue, linfa e tecidos são de importância
crucial para a geração de respostas imunes.

CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE


As células que servem a papéis especializados nas
respostas imunes inata e adaptativa incluem fagócitos,
células dendríticas, linfócitos específicos para antígeno
e vários outros leucócitos que agem para eliminar os
antígenos.

Fonte: Aqui

FAGÓCITOS
Os fagócitos, incluindo neutrófilos e macrófagos,
são as células cuja função primária é ingerir e
destruir microrganismos e se livrar dos tecidos
danificados. As respostas funcionais dos fagócitos na
defesa do hospedeiro consistem em passos
sequenciais: recrutamento das células para locais de
infecção, reconhecimento e ativação pelos
microrganismos, ingestão dos microrganismos por
processo de fagocitose e destruição dos
microrganismos ingeridos. Além disso, pelo contato
direto e pela secreção de citocinas, os fagócitos se
comunicam com outras células de modo a promover ou
regular as respostas imunes.

NEUTRÓFILOS
Os neutrófilos, também chamados de leucócitos
polimorfonucleares, constituem a população mais
abundante de células brancas sanguíneas
circulantes e medeiam as fases iniciais das reações
inflamatórias. Os neutrófilos são produzidos na medula
óssea e surgem de precursores que também dão origem
a fagócitos mononucleares. Defesa primária contra
bactérias e fungos.

FAGÓCITOS MONONUCLEARES
O sistema fagócito mononuclear inclui as células
circulantes denominadas monócitos e células
residentes teciduais denominadas macrófagos. Os
macrófagos, que são amplamente distribuídos nos
órgãos e tecido conectivo, têm papel central na
imunidade inata e adaptativa. Muitos tecidos são
Imunobiologia, Janeway, 8ªEd povoados com macrófagos residentes com vida longa e
17
derivados do saco vitelino ou precursores hepáticos como moléculas do hospedeiro produzidas em
fetais durante o desenvolvimento fetal que assumem resposta a infecções e lesão.
fenótipos especializados dependendo do órgão.
Essas moléculas se ligam a receptores de sinalização
específicos na superfície ou dentro do macrófago como,
por exemplo, os receptores de tipo Toll, que são de
extrema importância para a imunidade inata. Os
macrófagos também podem ser ativados quando
receptores em suas membranas se ligam a opsoninas
(substâncias que recobrem partículas para a
fagocitose).

Os macrófagos podem adquirir capacidades


funcionais distintas, dependendo dos tipos de
estímulos ativadores aos quais são expostos. O
exemplo mais claro disto é a resposta dos macrófagos a
diferentes citocinas produzidas pelos subgrupos de
células T. Algumas destas citocinas ativam macrófagos
para estes se tornarem eficientes em matar
microrganismos, o que é chamado de ativação
clássica. Outras citocinas ativam os macrófagos para
promover o remodelamento e reparo tecidual, o que se
denomina ativação alternativa.
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015

Os macrófagos teciduais realizam várias funções MASTÓCITOS, BASÓFILOS E EOSINÓFILOS


importantes na imunidade inata e adaptativa: Mastócitos, basófilos e eosinófilos são três células
adicionais que têm papel nas respostas imunes inata e
• A principal função dos macrófagos na defesa do adaptativa. Todos os três tipos de células apresentam
hospedeiro é ingerir e matar microrganismos. em comum a característica de grânulos citoplasmáticos
• Em adição aos microrganismos ingeridos, os contendo vários mediadores inflamatórios e
macrófagos também ingerem células mortas do antimicrobianos. Outra característica em comum destas
hospedeiro, incluindo células que morrem nos células é seu envolvimento nas respostas imunes que
tecidos por causa de trauma ou suprimento protegem contra helmintos e reações que causam
sanguíneo interrompido e neutrófilos que se doenças alérgicas.
acumulam nos locais de infecção. Esta é a parte
do processo de limpeza após a infecção ou MASTÓCITOS
lesão tecidual. Os macrófagos também Os mastócitos são células derivadas da medula e
reconhecem e engolfam células apoptóticas presentes na pele e mucosa epitelial, contendo
antes que as células mortas possam liberar seus abundantes grânulos citoplasmáticos cheios de
conteúdos e induzir respostas inflamatórias. histamina e outros mediadores. O fator de citocina de
• Macrófagos ativados secretam várias citocinas célula-tronco (também denominado ligante c-Kit) é
diferentes que agem nas células endoteliais que essencial para o desenvolvimento do mastócito.
recobrem os vasos sanguíneos para aumentar o Normalmente, os mastócitos maduros não são
recrutamento de mais monócitos e outros encontrados na circulação, mas estão presentes nos
leucócitos do sangue para os locais de tecidos, em geral adjacentes a pequenos vasos
infecções, amplificando, assim, a resposta sanguíneos e nervos.
protetora contra os microrganismos.
• Macrófagos servem como APCs que Os mastócitos expressam receptores de alta afinidade
apresentam antígenos e ativam os linfócitos T. na membrana plasmática para um tipo de anticorpo
Esta função é importante na fase efetora das denominado IgE e, geralmente, são recobertos com
respostas imunes mediadas por células T. esses anticorpos. Quando os anticorpos na superfície
• Macrófagos promovem o reparo de tecidos dos mastócitos se ligam ao antígeno, eventos de
danificados pela estimulação do crescimento de sinalização são induzidos e levam à liberação dos
novos vasos sanguíneos (angiogênese) e conteúdos dos grânulos citoplasmáticos para dentro do
síntese de matriz extracelular rica em colágeno espaço extravascular. A liberação do conteúdo do
(fibrose). Estas funções são mediadas por grânulo, incluindo histamina, promove mudanças nos
citocinas secretadas pelos macrófagos que vasos sanguíneos que causam inflamação.
agem em várias células teciduais.
Os mastócitos funcionam como sentinelas nos tecidos,
Os macrófagos são ativados para realizar suas onde eles reconhecem produtos microbianos e
funções por meio do reconhecimento de muitos respondem produzindo citocinas e outros mediadores
tipos diferentes de moléculas microbianas, bem que induzem inflamação. Estas células fornecem defesa
contra helmintos e outros microrganismos, mas também

18
são responsáveis pelos sintomas das doenças células de mamíferos, e elas respondem aos
alérgicas. microrganismos com a secreção de citocinas.

BASÓFILOS
Assim como os granulócitos, os basófilos são derivados
de progenitores da medula óssea (uma linhagem
diferente da dos mastócitos), amadurecem na medula
óssea e circulam no sangue. Os basófilos constituem
menos de 1% dos leucócitos sanguíneos. Embora
normalmente não estejam presentes nos tecidos, os
basófilos podem ser recrutados para alguns locais
inflamatórios.

Assim como os mastócitos, os basófilos expressam


receptores para IgE, ligam IgE e podem ser ativados por
antígeno ligado à IgE. Como o número de basófilos é
pequeno nos tecidos, sua importância na defesa do
hospedeiro e nas reações alérgicas é incerta.

EOSINÓFILOS
Os eosinófilos são granulócitos sanguíneos que
expressam grânulos citoplasmáticos contendo
enzimas que são danosas às paredes celulares de Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015
parasitas, mas também podem danificar os tecidos
do hospedeiro. A maioria das células dendríticas na pele, mucosa e
parênquima de órgãos, que são chamadas de células
Assim como os neutrófilos e basófilos, os eosinófilos são dendríticas clássicas (ou convencionais), responde
derivados da medula óssea. As citocinas GM-CSF, IL-3 aos microrganismos migrando para os linfonodos, onde
e IL-5 promovem a maturação do eosinófilo a partir de elas apresentam antígenos proteicos microbianos aos
precursores mieloides. Alguns eosinófilos normalmente linfócitos T. Uma subpopulação de células dendríticas,
estão presentes nos tecidos periféricos, especialmente denominadas células dendríticas plasmocitoides,
nas coberturas mucosas dos tratos respiratório, consiste em respondedores celulares precoces à
gastrintestinal e geniturinário, e seus números podem infecção viral.
aumentar com o recrutamento a partir do sangue em
uma situação de inflamação. Elas reconhecem ácidos nucleicos de vírus intracelular
e produzem proteínas solúveis chamadas de interferons
CÉLULAS APRESENTADORAS DE ANTÍGENO (APC) tipo I, que têm potentes atividades antivirais.
As células apresentadoras de antígenos (APCs)
capturam microrganismos e outros antígenos, OUTRAS CÉLULAS APRESENTADORAS DE ANTÍGENO
apresentam-nos aos linfócitos e fornecem sinais Em adição às células dendríticas, macrófagos e
que estimulam a proliferação e diferenciação dos linfócitos B são importantes células apresentadoras de
linfócitos. Por convenção, APC normalmente se refere antígenos para as células T auxiliares CD4+.
à célula que apresenta antígenos aos linfócitos T. O Macrófagos apresentam antígenos para os linfócitos T
principal tipo de APC que está envolvido na iniciação das auxiliares nos locais de infecção, o que leva à ativação
respostas da célula T é a célula dendrítica. A célula da célula T auxiliar e produção de moléculas que
dendrítica folicular não apresenta ao linfócito B, mas ativarão os macrófagos.
sim facilita o reconhecimento do patógeno pelo
linfócito B. As células B apresentam antígenos às células T
auxiliares, o que é um passo importante na cooperação
CÉLULA DENDRÍTICA das células T auxiliares com as células B para as
As células dendríticas são as APCs mais respostas de anticorpos aos antígenos proteicos.
importantes para a ativação das células T imaturas e
têm papel principal nas respostas inatas às Os linfócitos T citotóxicos (CTLs) são células T
infecções e na ligação das respostas imunes inata e CD8+ efetoras que podem reconhecer antígenos de
adaptativa. Elas têm longas projeções membranosas e qualquer tipo de célula nucleada e se tornar ativados
capacidades fagocítica e são amplamente distribuídas para matar a célula. Dessa maneira, todas as células
nos tecidos linfoides, epitélio mucoso e parênquima de nucleadas são potencialmente APCs para CTLs.
órgãos.
CÉLULAS DENDRÍTICAS FOLICULARES
Similarmente aos macrófagos, as células dendríticas As células dendríticas foliculares (FDCs) são células
expressam receptores que reconhecem moléculas com projeções membranosas encontradas entremeadas
tipicamente produzidas pelos microrganismos e não em coleções de células B ativadas nos folículos linfoides
de linfonodos, baço e tecidos linfoides mucosos. As
19
FDCs não são derivadas de precursores na medula onde ocorrem os principais passos no desenvolvimento
óssea e não estão relacionadas com as células do linfócito são chamados de órgãos linfoides
dendríticas que apresentam antígenos aos linfócitos T. geradores. Estes incluem a medula óssea, onde
precursores de todos os linfócitos surgem e as células B
LINFÓCITOS amadurecem, e o timo, onde as células T amadurecem.
Os linfócitos, as únicas células da imunidade
adaptativa, são as células exclusivas no corpo que
expressam receptores de antígenos clonalmente
expressos, cada um específico para um
determinante antigênico diferente. Cada clone de
linfócitos T e B expressa receptores de antígenos com
uma única especificidade, que é diferente das
especificidades dos receptores em outros clones. Assim,
os receptores de antígenos nestes linfócitos são
clonalmente distribuídos.

Experimentos realizados principalmente com


camundongos mostraram que a imunidade protetora
contra microrganismos pode ser adaptativamente
transferida de animais imunizados para imaturos
somente por linfócitos ou seus produtos secretados.
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015
O número total de linfócitos em um adulto saudável é de
cerca de 5 × 1011. Destes, ∼2% estão no sangue, ∼4% Os linfócitos indiferenciados e maduros que
na pele, ∼10% na medula óssea, ∼15% nos tecidos emergem da medula óssea ou do timo migram para
linfoides mucosos dos tratos gastrintestinal e respiratório os órgãos linfoides periféricos, onde são ativados
e ∼65% nos órgãos linfoides (principalmente baço e pelos antígenos para proliferar e se diferenciar em
linfonodos). células efetoras e de memória, algumas das quais
então migram para os tecidos.
SUBGRUPOS DE LINFÓCITOS
Morfologicamente, todos os linfócitos são similares e Em algumas infecções, os números de células T
suas aparências não refletem sua heterogeneidade ou infectadas pelo microrganismo pode aumentar mais de
suas diversas funções. Os linfócitos B, as células que 50 mil vezes, e o número de células B específicas pode
produzem os anticorpos, foram assim chamados aumentar até 5 mil vezes. Esta rápida expansão clonal
porque, em pássaros, elas foram encontradas maduras dos linfócitos específicos para microrganismos é
em um órgão denominado bursa de Fabricius. Em necessária para manter o ritmo com a habilidade dos
mamíferos, não existe nenhum equivalente anatômico microrganismos de rapidamente replicarem. Em paralelo
da bursa e os estágios iniciais da maturação da célula B com a expansão clonal, os linfócitos estimulados por
ocorrem na medula óssea. Assim, os linfócitos B agora antígeno se diferenciam em células efetoras cujas
se referem aos linfócitos derivados da medula óssea. funções são eliminar o antígeno. Outra progênie dos
linfócitos B e T estimulados por antígeno se diferencia
Os linfócitos T, os mediadores da imunidade celular, em células de memória de vida longa, cuja função é
surgem na medula óssea e migram para e amadurecem mediar respostas rápidas e aumentadas (i.e.,
no timo; os linfócitos T se referem aos linfócitos secundárias) a subsequentes exposições aos
derivados do timo. antígenos.

Células T regulatórias são células que suprimem a


função de outras células T visando a regulação da
resposta imune.

Células T NTK são células que suprimem ou ativam as


respostas imunes inata e adaptativa. (Ver tabela na
pagina 69 do Abbas 8ª Ed.)

DESENVOLVIMENTO DOS LINFÓCITOS


Após o nascimento, os linfócitos, assim como as células
sanguíneas, surgem a partir das células-tronco na
medula óssea. Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015

Todos os linfócitos passam por complexos estágios de Os linfócitos imaturos são células T ou B maduras
maturação, durante os quais eles expressam receptores situadas nos órgãos linfoides periféricos e circulação e
de antígenos e adquirem as características funcionais e que nunca encontraram antígeno estranho. (O termo
fenotípicas de células maduras. Os locais anatômicos imaturo se refere à ideia de que estas células são
20
imunologicamente inexperientes porque elas nunca As primeiras e mais bem caracterizadas células linfoides
encontraram um antígeno.) inatas são as células assassinas naturais (NK, do
inglês natural killer), que secretam a citocina IFN-γ e
matam células infectadas e danificadas e secretam IFN-
γ, uma citocina também produzida pelo subgrupo TH1
das células T efetoras CD4.

Outros subgrupos de células linfoides inatas secretam


citocinas que também são produzidas por certos
subgrupos de células T auxiliares CD4, incluindo IL-5,
IL-13, IL-17 e IL-22.

As células indutoras de tecidos linfoides são um


subgrupo de ILCs que produzem as citocinas linfotoxina
e TNF e são essenciais para a formação de tecidos
linfoides secundários organizados.

As funções efetoras das células NK são matar as


células infectadas e produzir IFN-γ, que ativa
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015 macrófagos para destruírem microrganismos
fagocitados (Fig. 4-7).
A sobrevivência dos linfócitos imaturos depende de
sinais gerados pelos receptores de antígenos e pelas O IFN-γ derivado da célula NK aumenta a capacidade
citocinas. É postulado que o receptor de antígeno das dos macrófagos para matarem as bactérias fagocitadas,
células B imaturas gera sinais de sobrevivência mesmo similarmente ao IFN-γ produzido pelas células T.
na ausência de antígeno. Os linfócitos T imaturos
reconhecem rapidamente vários dos próprios antígenos, Algumas células NK humanas não expressam CD16
o que é suficiente para gerar sinais de sobrevivência, nem são citotóxicas, mas produzem abundante IFN-γ.
mas sem disparar os sinais mais fortes que são Previsivelmente, a depleção das células NK induz a
necessários para iniciar a expansão clonal e suscetibilidade aumentada à infecção por alguns vírus e
diferenciação em células efetoras. bactérias intracelulares.

As citocinas também são essenciais para a


sobrevivência de linfócitos imaturos, e as células B e T
expressam receptores para estas citocinas. As mais
importantes destas citocinas são a interleucina-7 (IL-7),
que promove a sobrevivência e, talvez, baixo nível de
ciclagem das células T, e o fator de ativação da célula B
(BAFF), uma citocina pertencente à família do TNF, que
é necessária para a sobrevivência de células B imaturas.

Após os linfócitos imaturos serem ativados, eles se


tornam maiores e começam a proliferar. Algumas destas
células se diferenciam em linfócitos efetores que têm a
habilidade de produzir moléculas capazes de eliminar
antígenos estranhos. Os linfócitos T efetores incluem as
células auxiliares e os CTLs, e os linfócitos B são células
secretoras de anticorpos, incluindo plasmócitos.

CÉLULAS LINFOIDES INATAS


As células linfoides inatas (ILCs) incluem vários
subgrupos evolucionariamente relacionados de
células derivadas da medula óssea com morfologia
linfoide e funções efetoras similares àquelas das
células T, mas sem receptores de antígeno da célula
T.

As principais funções das ILCs são fornecer defesa


inicial contra patógenos infecciosos, reconhecer células
estressadas e danificadas do hospedeiro e auxiliar na
eliminação destas células e influenciar a natureza da
resposta imune adaptativa subsequente. Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015

21
Os linfócitos B parcialmente maduros na medula óssea
entram na circulação, ocupam os órgãos linfoides
secundários, incluindo baço e linfonodos, e completam
sua maturação principalmente no baço. Os linfócitos T
amadurecem no timo e, então, entram na circulação e
povoam os órgãos linfoides periféricos e tecidos.

ÓRGÃOS PRIMÁRIOS
Compostos pelo timo e medula óssea, locais em que os
as células imunes começam sua maturação.

MEDULA ÓSSEA
A medula óssea é o local de geração da maioria das
células sanguíneas maduras circulantes, incluindo
hemácias, granulócitos e monócitos, e o local dos
eventos iniciais na maturação da célula B.

A geração de todas as células sanguíneas, chamada de


hematopoese, ocorre inicialmente durante o
desenvolvimento fetal nas ilhotas sanguíneas do saco
vitelino e no mesênquima para-aórtico; então, elas se
deslocam para o fígado entre o terceiro e quarto mês de
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015 gestação e, finalmente, se localizam na medula óssea.
As citocinas podem aumentar as respostas
funcionais das células NK. As principais citocinas do Hemácias, granulócitos, monócitos, células dendríticas,
sistema imune inato que estimulam a função NK são IL- plaquetas, linfócitos B e T e células NK se originam de
12, IL-15, IL-18 e interferons tipo I (discutido mais tarde). uma célula-tronco hematopoética comum (HSC) na
Cada uma dessas citocinas aumenta a atividade medula óssea. As HSCs são pluripotentes, significando
citotóxica das células NK, e elas podem estimular a que cada HSC individual pode gerar todos os diferentes
secreção de IFN-γ pela célula NK independente dos tipos de células sanguíneas maduras. As HSCs também
receptores de ativação. Além disso, IL-12 e IL-15 são são autorrenováveis, porque cada vez que elas se
importantes fatores de crescimento para as células NK. dividem, pelo menos uma célula-filha mantém as
propriedades da célula-tronco, enquanto a outra pode se
Os receptores inibitórios das células NK têm motivos de diferenciar em uma linhagem particular (chamada de
inibição baseados em imunorreceptores de tirosina divisão assimétrica).
(ITIMs), que se ligam a moléculas que bloqueiam as vias
de sinalização dos receptores de ativação. Os ITIMs
possuem resíduos de tirosina que são fosforilados na
ligação ao receptor inibitório. Isso leva ao recrutamento
e ativação das fosfatases, o que remove fosfatos de
várias proteínas ou lipídios de sinalização gerados pelas
vias de sinalização dos receptores de ativação NK. O
final resulta em bloqueio das funções de sinalização dos
receptores de ativação.

As células NK também agem combatendo tumores.

ANATOMIA E FUNÇÕES DO TECIDO LINFOIDE


Os tecidos linfoides são classificados como órgãos
geradores, também denominados órgãos linfoides
primários ou centrais, onde os linfócitos primeiro
expressam os receptores de antígenos e atingem a
maturidade fenotípica e funcional, e órgãos
periféricos, também chamados de órgãos linfoides
secundários, onde as respostas dos linfócitos aos
antígenos estranhos são iniciadas e se
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015
desenvolvem.
O progenitor comum mieloide-linfoide dá origem a
Inclusos nos órgãos linfoides geradores de mamíferos
precursores comprometidos de linhagens eritroide,
adultos, estão a medula óssea e o timo, os locais de
megacariocítica-granulocítica e monocítica, que
maturação das células B e células T, respectivamente.
originam, respectivamente, hemácias maduras,
plaquetas, granulócitos (neutrófilos, eosinófilos,
22
basófilos) e monócitos. A maioria das células dendríticas Espalhadas por todo o timo, estão as células epiteliais
se origina de um ramo da linhagem monocítica. não linfoides, que têm citoplasma abundante. As células
epiteliais corticais tímicas produzem IL-7, que é
A proliferação e maturação das células precursoras necessária na fase inicial do desenvolvimento da célula
na medula óssea são estimuladas pelas citocinas. T. Um subgrupo diferente de células epiteliais
encontrado somente na medula, chamado de células
TIMO epiteliais tímicas medulares (MTEC), tem um papel
O timo é o local da maturação da célula T. O timo é especial na apresentação dos próprios antígenos às
um órgão bilobado situado no mediastino anterior. Cada células T em desenvolvimento e causando sua deleção.
lóbulo é dividido pelo septo fibroso em múltiplos lóbulos,
e cada lóbulo consiste em um córtex externo e uma Na medula, existem estruturas denominadas
medula interna. corpúsculos de Hassall, que são compostos de espirais
de células epiteliais hermeticamente embaladas e que
podem ser remanescentes de células em degeneração.
O timo tem um rico suprimento vascular e vasos
linfáticos eferentes que drenam para os linfonodos
mediastinais.

Os linfócitos no timo, também chamados de timócitos,


são linfócitos T em vários estágios de maturação. A
maioria das células imaturas entra no timo, e sua
maturação se inicia no córtex. À medida que os timócitos
amadurecem, eles migram em direção à medula, de tal
forma que esta contém primordialmente células T
maduras.

Humanos com a síndrome de DiGeorge sofrem de


deficiência da célula T por causa de uma deleção
cromossômica que elimina genes necessários para o
Fonte:Pinterest desenvolvimento do timo.

O córtex contém uma densa coleção de linfócitos T, e a SÍNDROME DE DIGEORGE (DEL22Q11)


medula levemente corada é mais esparsamente
povoada com linfócitos. Macrófagos derivados da
A falha completa ou parcial do desenvolvimento do
medula óssea e células dendríticas são encontrados
primórdio do timo pode causar a falha na maturação das
quase exclusivamente na medula.
células T. O defeito mais comum no desenvolvimento do
timo ligado ao SCID (imunodeficiências combinadas
graves – imunodeficiências que afetam tanto a
imunidade humoral como a celular) é observado em
crianças com a síndrome de DiGeorge. Esta deficiência
das células T seletivas deve-se a uma malformação
congênita que resulta em desenvolvimento defeituoso
do timo e das glândulas paratireoides, bem como de
outras estruturas que se desenvolvem a partir da terceira
e quarta bolsas faríngeas durante a vida fetal.

O defeito congênito manifesta-se por hipoplasia ou


agenesia do timo causando problemas na maturação
das células T, ausência das glândulas paratireoides
causando a homeostase anormal do cálcio e espasmos
musculares (tetania), desenvolvimento anormal dos
vasos e deformidades faciais. Diferentes pacientes
podem apresentar diferentes graus dessas
anormalidades. A doença é causada mais
frequentemente por uma deleção na região
cromossômica 22q11. Uma linhagem de camundongos
que apresenta um defeito semelhante no
desenvolvimento do timo é portadora de uma mutação
em um gene que codifica o fator de transcrição
denominado T-box 1 (TBX1), que se situa dentro da
região deletada na síndrome de DiGeorge.

Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015 Nesta síndrome, os linfócitos T do sangue periférico
estão em número muito reduzidos ou ausentes, e as
23
células não respondem aos ativadores de células T
policlonais ou em reações de leucócitos mistos. Os
níveis de anticorpos geralmente estão normais, mas
podem estar reduzidos nos pacientes gravemente
afetados. Como em outras deficiências graves de
células T, os pacientes são susceptíveis a infecções
micobacterianas, virais e fúngicas.

A imunodeficiência associada à síndrome de DiGeorge


pode ser corrigida por transplante fetal tímico ou
transplante de medula óssea. No entanto, este
tratamento geralmente não é necessário porque a
função das células T tende a melhorar com a idade e
uma grande parte dos pacientes com esta síndrome
muitas vezes fica normal por volta dos 5 anos. A melhora
com a idade provavelmente ocorre devido à presença de
algum tecido tímico ou porque alguns locais extratímicos
ainda não definidos assumem a função de maturação
das células T. É também possível que, à medida que
estes pacientes envelhecem, o tecido do timo
desenvolva-se em locais ectópicos (ou seja, fora do local
típico).

ÓRGÃOS SECUNDÁRIOS
Locais em que as células imunes completam sua Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015
maturação e a resposta a antígenos estranhos é
“testada”. O sistema linfático coleta antígenos microbianos de seus
portais de entrada e liberação para os linfonodos, onde
O SISTEMA LINFÁTICO eles podem estimular as respostas imunes adaptativas.
Os microrganismos entram no corpo mais
O sistema linfático consiste em vasos especializados frequentemente através da pele e dos tratos
que drenam fluido dos tecidos para dentro e para fora gastrintestinal e respiratório. Todos esses tecidos são
dos linfonodos e, então, para o sangue. Ele é essencial recobertos por epitélio que contém células dendríticas e
para a homeostasia do fluido tecidual e para as são drenados pelos vasos linfáticos. As células
respostas imunes. dendríticas capturam antígenos microbianos e entram
nos vasos linfáticos. Outros microrganismos e antígenos
solúveis podem entrar nos linfáticos independentemente
das células dendríticas. Além disso, mediadores
inflamatórios solúveis, tais como quimiocinas, que são
produzidas nos locais de infecção, entram nos linfáticos.

LINFONODOS
Os linfonodos são órgãos linfoides secundários,
encapsulados, vascularizados e com características
anatômicas que favorecem a iniciação das
respostas imunes adaptativas aos antígenos
carreados dos tecidos pelos vasos linfáticos.

Os linfonodos estão situados ao longo dos canais


linfáticos por todo o corpo e, assim, têm acesso aos
antígenos encontrados nos epitélios e originados no
fluido intersticial na maioria dos tecidos.

Um linfonodo é cercado por uma cápsula fibrosa, sob a


qual existe um sistema sinusal cercado por células
reticulares, com pontes cruzadas por fibrilas de colágeno
e outras proteínas da matriz extracelular e preenchido
Fonte: Toda Matéria
com linfa, macrófagos, células dendríticas e outros tipos
celulares.

Os linfáticos aferentes se esvaziam no sino capsular.


Sob seu piso inferior está o córtex rico em linfócitos. O
córtex externo contém aglomerados de células,
chamadas de folículos, sendo que alguns desses
24
possuem, em seus centros, uma região chamada centro Estas zonas ricas em células T, frequentemente
germinativo, onde células B em proliferação denominadas paracórtex, contêm uma rede de células
(centroblastos) e uma zona clara com centrócitos, que reticulares fibroblásticas (FRCs), muitas das quais
estão sendo selecionados para sobreviver e se formas a camada externa de estruturas similares a tubos
diferenciar. chamadas de conduítes FRC.
Folículos sem centros germinativos são chamados de
folículos primários, e aqueles com centros germinativos
são denominados folículos secundários.

Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015

Os linfonodos em desenvolvimento, assim como


outros órgãos linfoides periféricos, dependem de
células indutoras de tecido linfoide e das ações
coordenadas de várias citocinas, quimiocinas e
fatores de transcrição.

Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015

Os linfócitos B e T são sequestrados em regiões


distintas do córtex dos linfonodos, cada região com Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015
sua própria arquitetura de fibras reticulares e células
estromais. Os folículos são as zonas de célula B. Eles A segregação anatômica das células B e T garante
estão localizados no córtex do linfonodo e organizam-se que cada população de linfócito esteja em contato
em torno das FCs, que têm processos que interdigitam com as APCs apropriadas, que são células B com
para formar uma malha reticular densa. Os folículos FDCs e células T com células dendríticas.
primários contêm principalmente linfócitos B virgens
maduros. Os centros germinativos se desenvolvem em As substâncias que se originam na linfa que entram
resposta à estimulação antigênica. Eles são locais de no sino subcapsular do linfonodo são separadas por
grande proliferação de célula B, seleção de células B tamanho molecular e distribuídas para diferentes
produtoras de anticorpos de alta afinidade e geração de tipos celulares para iniciar várias respostas imunes.
células B de memória e plasmócitos de vida longa.
A base do sino subcapsular é construída de tal forma
Os linfócitos T estão localizados principal e mais que permite que as células no sino entrem em contato
centralmente sob os folículos, nas cordas paracorticais. ou migrem para o córtex subjacente, mas não permite

25
que moléculas solúveis na linfa passem livremente para muitas populações de linfócitos densamente
o córtex. Microrganismos e antígenos de alto peso empacotados, que se parecem com nódulos brancos
molecular são presos pelos macrófagos do sino e contra um fundo de polpa vermelha. A arquitetura da
apresentados aos linfócitos B corticais logo abaixo do polpa branca é análoga à organização dos linfonodos,
sino. Este é o primeiro passo nas respostas de com zonas de célula T e B segregadas.
anticorpos a estes antígenos. Antígenos solúveis de
baixo peso molecular são transportados para fora do No baço de camundongo, as artérias centrais são
sino através dos conduítes FRC e passam a células rodeadas por bainhas de linfócitos, a maioria dos quais
dendríticas corticais residentes localizadas ao lado dos são células T. Em virtude da sua localização anatômica,
conduítes. As células dendríticas residentes estendem os morfologistas chamam estas zonas de célula T de
processos entre as células que recobrem os conduítes e bainhas linfoides periarteriolares. Os folículos ricos
para dentro do lúmen e capturam e fazem pinocitose dos em célula B ocupam o espaço entre o sino marginal e a
antígenos solúveis dentro dos conduítes. A contribuição bainha periarteriolar.
desta via de distribuição de antígeno pode ser
importante para o início das respostas imunes da célula As células B da zona marginal são funcionalmente
T a alguns antígenos microbianos, mas respostas distintas das células B foliculares e apresentam um
maiores e sustentadas necessitam de distribuição de repertório limitado de especificidades de antígenos.
antígenos para o nódulo pelas células dendríticas
O arranjo anatômico das APCs, células B e células T na
BAÇO polpa branca esplênica promove as interações
O baço é um órgão altamente vascularizado, cujas necessárias para um desenvolvimento eficiente das
principais funções são remover células sanguíneas respostas imunes humorais. A segregação dos linfócitos
velhas e danificadas e partículas (tais como T nas bainhas linfoides periarteriolares e células B nos
imunocomplexos e microrganismos opsonizados) folículos e zonas marginais é um processo altamente
da circulação e iniciar as respostas imunes regulado, dependente da produção de diferentes
adaptativas aos antígenos originados no sangue. citocinas e quimiocinas pelas células estromais nestas
diferentes áreas, análogos ao caso para os linfonodos.
O parênquima esplênico é funcional e anatomicamente
dividido em polpa vermelha, que é composta SISTEMAS IMUNES REGIONAIS
principalmente de sinusoides vasculares cheios de Todas as principais barreiras epiteliais do corpo,
sangue, e polpa branca rica em linfócitos. O sangue incluindo pele, mucosa gastrintestinal e mucosa
entra no baço através de uma única artéria esplênica brônquica, têm seus próprios sistemas de
que perfura a cápsula no hilo e se divide em ramos linfonodos, estruturas linfoides não encapsuladas e
progressivamente menores que permanecem rodeados células imunes difusamente distribuídas, que
pela trabécula fibrosa protetora e de suporte. trabalham de maneira coordenada para fornecer
respostas imunes especializadas contra os
patógenos que entram por aquelas barreiras.

Os componentes dos sistemas imunes relacionados


com as mucosas gastrintestinal e brônquica são
denominados tecido linfoide associado à mucosa
(MALT) e estão envolvidos nas respostas imunes aos
antígenos e microrganismos ingeridos e inalados. A pele
e o MALT contêm uma grande proporção de células dos
sistemas imunes inato e adaptativo.

EXAME FISH
O exame de FISH ( Fluorescence in situ Hibridization
=Hibridização in situ por Fluorscência) ainda é o padrão
ouro de diagnóstico LABORATORIAL para a síndrome
de Williams, ou seja para detectar ou não a
microdeleção (perda) do fragmento no cromossomo 7,
braço longo, região 11.23 (7q11.23), pois é encontrado
em vários laboratórios públicos e privados.

Este exame detecta a microdeleção do cromossomo 22


associada com a Síndrome de DiGeorge e com uma
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015 variedade de síndromes com malformações congênitas
incluindo Velocardiofacial (VCFS) e Anomalia
A polpa branca contém as células que medeiam as Conotruncal facial caracterizadas por defeito cardíaco,
respostas imunes adaptativas aos antígenos dismorfismo facial, hipoplasia do timo , palato fendido e
originados no sangue. Na polpa branca, estão situadas hipocalcemia. A incidência dessas anomalias é

26
estimada em 1:5000 nascidos vivos sendo que a
deleção 22q11.2 representa um dos mais comuns
defeitos genéticos muitas vezes não detectado por
citogenética covencional.

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Janeway. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
7. PARHAM, Peter. O Sistema Imune. 3. ed. Porto
A Legre: Artmed, 2011.

27
• O TLR-2 reconhece vários lipoglicanos
PROBLEMA 2 •
bacterianos;
Os TLR-3, 7 e 8 são específicos para ácidos
nucleicos virais;
RECEPTORES CELULARES • O TLR-4 é específico para o LPS (endotoxina);
Os receptores são mecanismos utilizados pelo nosso • O TLR-5 é específico para uma proteína flagelar
corpo para identificar e reconhecer substâncias, bacteriana chamada flagelina;
moléculas e microrganismos, assim como suas próprias • O TLR-9, para oligonucleotídeos CpG não
células. metilados, muito abundantes no DNA
microbiano.
RECEPTORES DA RESPOSTA INATA
Os receptores utilizados pelo sistema imune inato para Muitos TLR estão presentes nasuperfície celular, onde
reconhecer microrganismos e células danificadas se reconhecem os produtos dos microrganismos
encontram nos fagócitos, nas células dendríticas e em extracelulares, e outros TLR estão nos endossomas,
muitas outras células, como as epiteliais e endoteliais. para dentro dos quais os microrganismos são ingeridos.
São expressos de forma em que estejam presentes em
locais onde os microrganismos podem estar localizados.

Esses receptores estão presentes na membrana celular,


no retículo endoplasmático e são secretados em
vesículas (endossomas) que digerem os produtos
microbianos e alguns estão no citosol, onde funcionam
como sensores de microrganismos.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

RECEPTORES TIPO TOLL Imunologia Básica, Abbas, 2014


Os receptores tipo Toll (TLR, do inglês, Toll-like
Os sinais gerados pela ligação dos receptores tipo Toll
receptors) são homólogos a uma proteína da
ativam fatores de transcrição que estimulam a produção
Drosophila, chamada Toll, que foi descoberta por sua
de genes que codificam citocinas, enzimas e outras
participação no desenvolvimento da mosca e mais tarde
proteínas envolvidas nas funções antimicrobianas dos
mostrou ser essencial para a proteção das moscas
fagócitos ativados e das outras células. Entre os mais
contra as infecções. (Abba,2014)
importantes fatores de transcrição ativados pelos sinais
dos TLR estão o κB (NF-κB), que promove a expressão
Existema vários tipos desse receptor, sendo cada um
de várias citocinas e moléculas de adesão endotelial, e
com funções diferentes
os fatores de resposta ao interferon (IRF, do inglês,

28
interferon regulatory factors), que estimulam a produção guanosina e uridina; e dinucleotídios CpG não
das citocinas antivirais, interferons tipo 1. metilados, que são comuns nos procariotos, mas raros
nos genomas de vertebrados.

Os TLRs também estão envolvidos na resposta a


moléculas endógenas cuja expressão ou localização
indicam dano celular. Exemplos de moléculas do
hospedeiro que se ligam aos TLRs incluem proteínas
de choque térmico (HSPs), que são chaperonas
induzidas em resposta a vários agentes estressantes
celulares, e também o quadro 1 do grupo de alta
mobilidade (HMGB1), uma proteína de ligação do DNA
que está envolvida na transcrição e reparo do DNA.
Ambas as moléculas geralmente não estão presentes no
meio extracelular, mas podem estar presentes caso
houver um dano celular e serão identificados pelos
receptores TLR2 e TLR4.

As bases estruturais das especificidades dos TLRs


residem nos múltiplos módulos extracelulares ricos
em leucina destes receptores, que se ligam
diretamente aos PAMPs ou a moléculas adaptadoras
que se ligam aos PAMPs. Existem entre 16 e 28
repetições ricas em leucina nos TLRs, e cada um destes
módulos é composto de 20 a 30 aminoácidos que
incluem motivos conservados LxxLxLxxN (onde L é
leucina, x é qualquer aminoácido e N é a asparagina) e
resíduos de aminoácidos que variam entre diferentes
TLRs. As repetições permitem que as moléculas se
liguem a substâncias hidrofóbicas, como o LPS
bacteriano.

Imunologia Básica, Abbas, 2014 O repertorio de especificidade do sistema TLR é


ampliado graças à possibilidade de formação de
dímeros entre os receptores, graças à ligação de alguma
substância às regiões ricas em leucina. Um exemplo
disso é a necessidade de dímeros entre o TLR2 e TLR6
para respostas ao peptideoglicano.

O TLR4 possui uma resposta ao LPS dependente de


uma proteína. O LPS primeiro se liga ao seu carregador
solúvel enquanto está no sangue ou meio extracelular
de forma a facilitar a sua distribuição. Ao se aproximar
da membrana da célula respondedora, se liga a uma
proteína extracelular (MD2 – myeloid differentiation
protein 2) pelo componente lipídio A, de forma que
facilita sua ligação ao TLR4. Logo, moléculas acessórias
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015
podem agir para ampliar a quantidade de produtos
microbianos que podem induzir respostas imunes
Exemplos de produtos bacterianos que se ligam aos
inatas.
TLRs incluem LPS e ácido lipoteitoico, que são
constituintes das paredes celulares de bactérias Gram-
Os TLRs são encontrados na superfície celular e nas
negativas e bactérias Gram-positivas, respectivamente,
membranas intracelulares e são, então, capazes de
e flagelina, o componente da subunidade proteica do
reconhecer microrganismos em diferentes
flagelo de bactéria móvel.
localizações celulares. Os TLRs 1,2,4, 5 e 6 são
expressos na membrana plasmática, de forma a
Exemplos de ácidos nucleicos que são ligantes do TLR
reconhecer os PAMPs do meio extracelular. Por outro
incluem RNAs de fita dupla, que formam os genomas de
lado, os TLRs 3, 7, 8 e 9 são expressos principalmente
alguns vírus e são gerados durante o ciclo de vida da
dentro das células no retículo endoplasmático e nas
maioria dos RNA dos vírus, mas não são produzidos
membranas endossomais, onde eles identificam a
pelas células eucarióticas; RNAs de fita simples, que são
presença de ácidos nucleicos diferentes que são típicos
distintos dos RNAs de fita simples dos citoplasmas
dos microrganismos, mas não são comuns em
celulares transcritos por suas localizações dentro dos
mamíferos.
endossomas e pelos seus grandes conteúdos de

29
O RNA de dupla fita se liga ao TLR3, motivos de CpG ambas as vias. Os TLRs 7 e 9 no endossoma utilizam
não metilados se ligam ao TLR9, TLR7 e TLR8 MyD88 e ativam ambos NF-κB e IRF7.
reconhecem RNA de fita simples, e TLR9 reconhece
DNA de fita simples ou fita dupla.
RECEPTORES CITOSÓLICOS PARA PAMPS E DAMPS
Esses ligantes ácidos nucleicos não são restritos aos Em adição aos TLRs que estão presentes tanto na
microrganismos, mas, sua localização na célula dá para superfície celular como nos fagossomas, o sistema inato
os receptores uma forma de diferenciação do DNA da possui sensores de reconhecimento de padrões que
própria célula. Isso ocorre porque geralmente não há reconhecem tanto infecção como também células
material genético da própria célula em fagossomos de danificadas. Os principais tipos são o NOD, o RIG e os
neutrófilos, macrófagos ou células dendríticas. sensores citosólicos de DNA.

Uma proteína no retículo endoplasmático chamada de SENSORES TIPO NOD


UNC-93B é necessária para a localização endossomal e Os receptores do tipo NOD (NLRs) são uma família
o funcionamento apropriado dos TLRs 3, 7, 8 e 9. Uma de mais de 20 proteínas citosólicas diferentes,
deficiência genética na UNC-93B leva à suscetibilidade algumas das quais reconhecem PAMPs e DAMPs e
a certas infecções virais, especialmente encefalite pelo recrutam outras proteínas para formar complexos de
vírus do herpes simples, demonstrando a importância da sinalização que promovem inflamação.
localização endossomal dos TLRs para a defesa inata
contra os vírus. Esta família de proteínas é chamada de NOD (domínio
de oligomerização de nucleotídio contendo proteína).
reconhecimento dos ligantes microbianos pelo TLR Geralmente, apresentam três domínios: um rico em
resulta na ativação de várias vias de sinalização e, repetições de leucina, um domínio NACHT (proteína
por fim, nos fatores de transcrição, que induzem a inibitória da apoptose neuronal [NAIP], CIITA, HET-E e
expressão de genes cujos produtos são importantes TP-1), que permite a ligação de um NLR a outro, e um
para respostas inflamatórias e antivirais. domínio efetor, que recruta outras proteínas para formar
complexos de sinalização.

Existem três subfamílias de NLR, cujos membros usam


diferentes domínios efetores para iniciar a sinalização.
Os três domínios efetores são chamados de CARD
(domínio caspase de recrutamento), domínio Pyrin e
domínio BIR.

Quando os oligômeros dos NODs (NODs ligados entre


si) reconhecem seus ligantes peptídicos, incluindo
toxinas bacterianas, uma mudança conformacional
ocorre e permite que os domínios do efetor CARD das
proteínas NOD recrutem múltiplas cópias da quinase
RPI2, formando um complexo de sinalização que foi
chamado de sinalosoma NOD. As quinases RIP2 destes
complexos ativam o NK-κB, o que promove a expressão
de genes inflamatórios, similares aos TLRs que
sinalizam através de MyD88, discutidos anteriormente.
Ambos NOD1 e NOD2 parecem ser importantes nas
respostas imunes inatas aos patógenos bacterianos no
trato gastrintestinal, como Helicobacter pylori e Listeria
monocytogenes.

Existe um grande interesse no achado de que certos


polimorfismos no gene NOD2 aumentam a
suscetibilidade a uma doença inflamatória do intestino
denominada doença de Crohn. Uma possível
explicação para essa associação é que a doença
relacionada com as variantes NOD2 é defeituosa em sua
habilidade de identificar produtos microbianos,
resultando em respostas inatas defeituosas contra
organismos comensais e patogênicos no intestino.

Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015 A subfamília de NLRP dos receptores do tipo NOD
Os TLRs 1, 2, 5 e 6 utilizam a proteína adaptadora respondem aos PAMPs e DAMPS citosólicos com
MyD88 e ativam os fatores de transcrição NF-κB e AP- formação de complexos de sinalização chamados de
1. O TLR3 utiliza a proteína adaptadora TRIF e ativa os inflamassomas, que geram formas ativas das
fatores de transcrição IRF3 e IRF7. O TLR4 pode ativar citocinas inflamatórias IL-1 e IL-18.
30
Por exemplo, após a ligação de um ligante, múltiplas chamada de piroptose, caracterizada por inchaço das
proteínas NLRP3 idênticas interagem para formar um células, perda da integridade da membrana plasmática
oligômero e cada proteína NLRP3 no oligômero se liga e liberação de mediadores inflamatórios. A piroptose
a uma proteína adaptadora chamada de ASC. resulta em morte de certos microrganismos que têm
acesso ao citosol e aumenta a liberação de IL-1β gerada
Os adaptadores se ligam, então, a uma forma pelo inflamassoma, que perde a sequência líder
precursora inativa da enzima caspase-1 por meio de hidrofóbica necessária para a secreção convencional de
interações dos domínios de recrutamento da caspase proteínas pelas células.
em ambas as proteínas. As caspases são proteases
com resíduos de cisteína em seus locais ativos que As síndromes autoinflamatórias são caracterizadas
clivam substratos proteicos nos resíduos de aspartato. A por inflamação espontânea sem um agente disparador.
caspase-1 se torna ativa somente após o recrutamento Tais doenças são distintas das dos distúrbios, que são
para o complexo inflamassoma e a principal função da distúrbios da imunidade adaptativa causados por
caspase-1 é a clivagem para formar precursoras anticorpos e/ou células T reativas aos próprios
citoplasmáticas inativas de duas citocinas homólogas antígenos. Os pacientes com CAPS podem ser tratados
chamadas de IL-1β e IL-18. A clivagem da caspase-1 de maneira bem-sucedida com antagonistas para IL-1.
gera formas ativas dessas citocinas, que, então, deixam
a célula e realizam várias funções pró-inflamatórias. A ativação desregulada do inflamassoma decorrente de
mutações autossômicas de ganho de função em um ou
outro componente proteico leva a disparo inapropriado e
excesso de produção de IL-1. O resultado são ataques
recorrentes de febre e inflamação localizada, mais
comumente nas articulações e nos intestinos. Esses
distúrbios são chamados de síndromes periódicas
associadas à criopirina (CAPS, do inglês cryopirin
associated periodic syndromes), que é outro nome para
as síndromes autoinflamatórias.

RECEPTORES TIPO RIG


Os receptores do tipo RIG (RLRs) são sensores
citosólicos do RNA viral que respondem aos ácidos
nucleicos virais induzindo a produção de interferons
tipo I antivirais. Os dois RLRs mais bem caracterizados
são o RIG-I (gene I induzido por ácido retinoico) e o
MDA5 (gene 5 associado à diferenciação de melanoma).
RIG-I e MDA5 reconhecem diferentes grupos de RNAs
virais que são característicos de vírus diversos,
parcialmente baseados no comprimento do ligante do
RNA.

A gota, uma doença comum das articulações, é causada


pela deposição de cristais de urato e acredita-se que a
subsequente inflamação seja mediada pelo
reconhecimento por parte do inflamassoma dos cristais
e pela produção de IL-1β. O inflamassoma também pode
contribuir para a aterosclerose, na qual a inflamação
causada pelos cristais de colesterol pode desempenhar
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015 um papel, e também para o diabetes tipo 2 associado à
obesidade, no qual a IL-1 produzida no reconhecimento
As respostas NLRP-inflamassoma são induzidas por de lipídios pode contribuir para a resistência de tecidos
uma grande variedade de estímulos citoplasmáticos à insulina.
que frequentemente são associados a infecções e
estresse celular, incluindo produtos microbianos, Os RLRs também podem distinguir RNA viral de fita
cristais ambientalmente (asbestos e cílica, por simples de transcritos de RNA de fita simples de células
exemplo) e endogenamente derivados e redução nas normais. Por exemplo, RIG-I somente reconhecerá RNA
concentrações citosólicas de íon potássio (K+). com um ambiente 5’trifosfato, que não está presente no
RNA citosólico de células de hospedeiro de mamíferos
Outro mecanismo comum envolvido na ativação do por causa da adição de uma 7- metilguanosina ou
inflamassoma é a geração de espécies reativas de remoção de um 5’trifosfato.
oxigênio, que são radicais livres tóxicos de oxigênio
frequentemente produzidos durante a lesão celular. SENSORES CITOSÓLICOS DE DNA E VIA STING
Os sensores citosólicos de DNA (CDSs) são
A ativação da caspase-1 pelo inflamassoma também
moléculas que detectam o DNA citosólico e ativam
pode causar uma forma de morte celular programada
31
vias de sinalização que iniciam as respostas Dectinas. A dectina-1 (lectina-1 de tipo C associada à
antimicrobianas, incluindo produção de interferon célula dendrítica) e a dectina-2 são receptores de célula
tipo I e autofagia. O DNA pode ser liberado no citosol dendrítica que servem como receptores de
por vários microrganismos e por meio de mecanismos reconhecimento de padrão para dois estágios do ciclo
diversos, sendo identificados por moléculas e vias de vida de organismos fúngicos. A dectina-1 se liga ao
variadas. β-glicano, que é o principal componente da parede
celular da levedura de Candida albicans, um fungo
A via STING (estimuladora dos genes IFN) é o ambíguo mas potencialmente patogênico.
principal mecanismo de ativação induzida por DNA
das respostas de interferon tipo I. STING é uma A dectina-2 reconhece oligossacarídios de alta manose
proteína transmembranar localizada no retículo na forma de hifa da Candida. Em resposta à ligação aos
endoplasmático ativado pela ligação do DNA citosólico seus ligantes, ambas as dectinas induzem eventos de
microbiano a uma enzima chamada GMP-AMP cíclico sinalização nas células dendríticas que estimulam a
sintase (cGAS). Essa ligação entre a enzima e o DNA se produção de citocinas e outras proteínas que promovem
liga à proteína STING em direção ao complexo de Golgi, inflamação e aumentam as respostas imunes
onde serve como uma molécula de ancoragem que adaptativas. A estimulação da dectina das células
promove a fosforilação de IRF3. dendríticas induz a produção de algumas citocinas que
promovem a diferenciação de células T CD4+ imaturas
O IRF3 fosforilado transloca para o núcleo e induz a a um tipo de célula T chamada de TH17, que é
expressão do gene de interferon tipo I. A STING particularmente efetiva na defesa contra infecções
também estimula a autofagia, um mecanismo pelo fúngicas e algumas bacterianas.
qual as células degradam suas próprias organelas,
tais como a mitocôndria, sequestrando-as dentro de Outros receptores de carboidrato de célula dendrítica
vesículas ligadas à membrana e fundindo as vesículas incluem a langerina (CD207), expressa principalmente
com os lisossomas. pelas células de Langerhans epidermais, e a DC-SIGN
(CD209), expressa na maioria das células dendríticas. A
O ativador dependente de DNA dos fatores regulatórios DC-SIGN pode ter um papel patogênico na promoção da
de IFN (DAI) se liga ao DNA de várias fontes infecção por HIV-1 de células T. A glicoproteína do
microbianas e ativa IRF3, levando a uma resposta do envelope gp120 do HIV-1 se liga à DC-SIGN nas células
tipo TFN I. O DAI também ativa a via do NF-κB. A RNA dendríticas em tecidos mucosos, as células dendríticas
polimerase se liga ao DNA microbiano, transcreve-o em carreiam os vírus através dos linfáticos para os
RNA e o RNA ativa a via RIG levando à expressão de linfonodos e os vírus são, então, transferidos e infectam
interferon tipo I, como descrito anteriormente. as células T CD4+.

O AIM2 (ausente no melanoma-2) é outro CDS que RECEPTORES SCAVENGER


reconhece dsDNA citosólico. Ele forma um Os receptores scavenger compreendem uma coleção
inflamassoma contendo caspase-1 que processa pró-IL de proteínas da superfície celular estrutural e
1β e pró-IL-18. funcionalmente diversas que foram originalmente
agrupadas com base na característica comum de mediar
RECEPTORES DE CARBOIDRATOS a captação de lipoproteínas oxidadas para as células.
Receptores que reconhecem carboidratos na
superfície dos microrganismos facilitam a Alguns desses receptores scavenger, incluindo SR-A e
fagocitose dos microrganismos e a secreção de CD36, são expressos nos macrófagos que medeiam a
citocinas que promovem subsequentes respostas fagocitose de microrganismos. Em adição, o CD36 atua
imunes adaptativas como um correceptor no reconhecimento de TLR2/6 e
na resposta ao ácido lipoteitoico e lipopeptídios
Receptores de manose: Uma das lectinas de diacilados derivados de bactérias.
membrana do tipo C mais estudadas é o receptor de
manose (CD206), que está envolvido na fagocitose de Existe um grande grupo de estruturas moleculares que
microrganismos. Esse receptor reconhece certos se ligam a cada um dos receptores scavenger, incluindo
açúcares terminais nos carboidratos da superfície LPS, ácido lipoteitoico, ácidos nucleicos, β-glicano e
microbiana, incluindo D-manose, L-fucose e N-acetil-D- proteínas.
glucosamina. Esses açúcares terminais estão
frequentemente presentes na superfície dos RECEPTORES-1 FORMIL PEPTÍDEO
microrganismos, ao passo que os carboidratos da célula receptor-1 formil peptídio (FPR1), expresso em
eucariótica são mais comumente terminados por leucócitos, reconhece peptídios bacterianos contendo
galactose e ácido siálico. Assim, os açúcares terminais resíduos de N-formilmetionil e estimula o movimento das
nos microrganismos podem ser considerados PAMPs. células. Pelo fato de todas as proteínas bacterianas e
Os receptores de manose não têm nenhuma função poucas proteínas de mamíferos (somente aquelas
conhecida de sinalização e acredita-se que se liguem sintetizadas dentro da mitocôndria) serem iniciadas por
aos microrganismos como o primeiro passo em sua N-fornilmetionina, o FPR1 permite que os fagócitos
ingestão por macrófagos e células dendríticas. detectem e respondam preferencialmente às proteínas
bacterianas.
32
RECEPTORES DA RESPOSTA ADAPTATIVA – plasmáticas; elas apresentam-se no sangue e nos
tecidos. As células dendríticas plasmacitoides também
LINFÓCITOS T
são a principal fonte dos interferons tipo I nas respostas
A maioria dos linfócitos T reconhece antígenos imunes inatas às infecções virais.
peptídicos que estão ligados e são apresentados
pelas moléculas do complexo principal de
histocompatibilidade (MHC, do inglês, major
histocompability complex) das células apresentadoras
de antígenos.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

Algumas pequenas populações das células T


reconhecem os antígenos lipídicos e outros
antígenos não peptídicos apresentados pelas
moléculas como as do MHC classe I não polimórfico ou
sem qualquer exigência aparente para um sistema de
exibição do antígeno especializado.

Os antígenos proteicos dos microrganismos que


entram no corpo são capturados, sobretudo, pelas
células dendríticas e concentrados nos órgãos
linfoides periféricos, onde a resposta imunológica é
iniciada.
Imunologia Básica, Abbas, 2014
Os microrganismos normalmente entram no corpo pela
pele (por contato), trato gastrointestinal (por ingestão) e
trato respiratório (por inalação). Alguns microrganismos
transmitidos por insetos são injetados na corrente
sanguínea como resultado da picada do inseto. Os
antígenos microbianos também podem ser produzidos
em qualquer tecido infectado. Os linfócitos não
conseguem alcançar todos os espaços, então, os
antígenos são levados até eles nos órgãos linfóides.

Todas as interfaces entre o corpo e o ambiente externo


são revestidas por um epitélio contínuo, cuja principal
função é fornecer uma barreira à infecção. Os epitélios
e os tecidos subepiteliais contêm uma rede de células
dendríticas; as mesmas células estão presentes nas
áreas ricas em células T dos órgãos linfoides periféricos
e, em menor quantidade, na maioria dos outros órgãos.

Na pele, as células dendríticas epidérmicas são


chamadas de células de Langerhans. As células
dendríticas plasmacitoides são chamadas assim por
causa de sua semelhança morfológica com as células
Imunologia Básica, Abbas, 2014
33
Imunologia Básica, Abbas, 2014

Os microrganismos estimulam as reações da imunidade


inata ligando-se aos receptores tipo Toll (TLR, do
inglês, Tool-like receptors) e outros receptores de
microrganismos nas células dendríticas, assim como
nas células epiteliais e macrófagos residentes nos
tecidos. Isso resulta na produção de citocinas
inflamatórias, como o fator de necrose tumoral (TNF) e
Imunologia Básica, Abbas, 2014
a interleucina-1 (IL-1). A combinação de citocinas com a
sinalização direta do TLR ativa a célula dendrítica,
Após a sequência de eventos até os linfonodos, essas
resultando em diversas alterações fenotípicas, de
células levam informações antigênicas aos linfócitos T
migração e de função.
virgens circulantes, que, por expressarem CCR7,
também se movem em direção aos linfonodos e as duas
Quando as células dendríticas convencionais que
células se unem.
encontram os microrganismos nas barreiras epiteliais
são ativadas, elas perdem sua adesividade para os
Tipos diferentes de APC desempenham funções
epitélios e passam a expressar o receptor de quimiocina
distintas nas respostas imunológicas dependentes
CCR7, que é específico para as citocinas
das células T. A célula dendrítica é a principal
quimioatrativas (quimiocinas) produzidas nas zonas de
apresentadora para os linfócitos T. O macrófago, que
células T dos linfonodos.
está presente em grande quantidade em todos os
tecidos, é outro tipo importante de APC. Nas reações
De forma direta, a célula dendrítica, ao ser estimulada
imunológicas mediadas pelas células, os macrófagos
por um antígeno apresentado pelo MHC, recebe o sinal
fagocitam os microrganismos e apresentam seus
do TLR e a célula engloba o patógeno, formando o
antígenos às células T efetoras que, por sua vez, ativam
fagolisossomo (o fagossomo recebe lisossomos do
os macrófagos para que destruam os microrganismos.
retículo endoplasmático rugoso). A célula dendrítica
Os linfócitos B ingerem os antígenos proteicos,
diminui a produção das proteínas de adesão (ICAM-1),
apresentando-os às células T auxiliares dentro dos
que a mantém ela presa aos tecidos e aumenta a
tecidos linfoides; este processo é importante para o
produção de CCR7 e B7, que são proteínas que ajudam
desenvolvimento da imunidade humoral.
a célula a se mover para as zonas T dos linfonodos por
quimiotaxia.

Durante a migração, as células dendríticas


amadurecem, passando de células projetadas para
capturar antígenos para APC capazes de estimular os
linfócitos T. Esse amadurecimento se reflete no aumento
da síntese e na expressão estável de moléculas do
MHC, que apresentam os antígenos às células T, e de
outras moléculas, chamadas de coestimuladores, que
são necessárias para uma resposta completa das
células T.

Os antígenos solúveis na linfa são capturados pelas


células dendríticas que residem nos linfonodos, e os
antígenos no sangue são tratados da mesma maneira
pelas células dendríticas do baço.
Imunologia Básica, Abbas, 2014
34
APRESENTAÇÃO DE ANTÍGENO aminoácidos que diferem entre as moléculas do MHC
dos diferentes indivíduos, estão localizados nos
As moléculas de MHC são a proteína que funciona como
domínios α1 e α2 da cadeia α. O domínio α3 é constante
“uma mão” para as células dendríticas (APCs em geral
e contém o local de ligação para o correceptor CD8, mas
também) e servem para apresentar antígenos para os
não CD4, da célula T.
linfócitos T.

O MHC foi descoberto como o locus genético que é o


principal determinante da aceitação ou rejeição dos
enxertos do tecido trocados entre os indivíduos (tecido,
ou histo, compatibilidade).

As proteínas do MHC humanas são chamadas de


antígenos leucocitários humanos (HLA, do inglês,
human leukocyte antigens), pois elas foram descobertas
como antígenos dos leucócitos que podiam ser
identificados com anticorpos específicos.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

As moléculas do MHC classes I e II são proteínas da


membrana que contêm, na sua porção
aminoterminal, uma fenda que liga peptídeos. Apesar Imunologia Básica, Abbas, 2014
de a composição da subunidade das moléculas classes
I e II ser diferente, sua estrutura geral é muito Cada molécula do MHC classe II consiste em duas
semelhante. cadeias, chamadas de α e β. As regiões aminoterminais
das duas cadeias, chamadas de domínios α1 e β1,
Cada molécula do MHC classe I consiste em uma contêm resíduos polimórficos e formam uma fenda
cadeia α ligada de maneira não covalente a uma maior, que acomoda peptídeos contendo de 10 a 30
proteína chamada β2-microglobulina, codificada por um resíduos. O domínio β2 não polimórfico contém o local
gene localizado fora do MHC. Os domínios de ligação para o correceptor CD4 da célula T. Como o
aminoterminais α1 e α2 da molécula do MHC classe I CD4 se liga às moléculas do MHC classe II, mãos não
formam uma fenda de ligação de peptídeos grande o ao da classe I, as células T CD4+ só podem responder
suficiente para acomodar peptídeos de 8 a 11 aos peptídeos apresentados pelas moléculas do MHC
aminoácidos. O assoalho da fenda é a região que liga o classe II.
peptídeo para apresentá-lo aos linfócitos T, enquanto as
laterais e a porção superior da fenda entram em contato A expressão de MHC é aumentada pela produção de
com o receptor da célula T (que também entra em IFN-γ pelas células NK e T CD4+ durante uma
contato com parte do peptídeo). Os resíduos infecção e ativa a célula dendrítica dormente a
polimórficos das moléculas classe I, isto é, os aumentar a expressão gênica de MHC.

35
PROPRIEDADES DOS GENES

Imunologia Básica, Abbas, 2014

Os genes do MHC se expressam de maneira


codominante, ou seja, os alelos herdados do pai e
da mãe se expressam igualmente. Como existem três
genes polimórficos classe I, chamados de HLA-A, HLA-
B e HLA-C nos seres humanos, e cada pessoa herda um
conjunto desses genes do pai e um da mãe, qualquer Imunologia Básica, Abbas, 2014
célula do corpo expressa seis moléculas diferentes da
classe I.

No locus de classe II cada indivíduo herda um par de


genes HLA-DP (chamados de DPA1 e DPB1,
codificando as cadeias α e β), um par de genes HLD-DQ
(DQA1 e DQB1, codificando as cadeias α e β), um gene
HLA-DRα de cada pai (DRA1) e um ou dois genes HLA-
DRβ de cada pai (DRB1 e DRB, 3, 4 ou 5). O
polimorfismo reside nas cadeias β. Então, um indivíduo
heterozigoto pode herdar seis ou oito alelos de MHC
classe II, três ou quatro de cada pai (um conjunto cada
de alelos DP e DQ, e um ou dois de DR, β).

As moléculas classe I se expressam em todas as


células nucleadas, mas as moléculas classe II se
expressam principalmente nas células dendríticas,
nos macrófagos e linfócitos B.

LIGAÇÃO DE PEPTÍDEOS AO MHC


As fendas de ligação de peptídeos das moléculas do
MHC ligam peptídeos derivados de antígenos
proteicos, apresentando-os para reconhecimento
pelas células T.

No assoalho das moléculas de MHC existem bolsas às


quais peptídeos podem se ancorar por meio de alguns
aminoácidos, chamados resíduos-âncora.
Imunologia Básica, Abbas, 2014

36
Cada molécula do MHC pode apresentar apenas um As proteínas extracelulares que são internalizadas
peptídeo de cada vez, porque possui apenas uma das pelas APC profissionais (células dendríticas,
fenda de ligação, mas cada molécula do MHC é macrófagos e células B) são processadas em
capaz de apresentar diversos tipos de antígenos. vesículas endocíticas e apresentadas por moléculas
do MHC classe II, enquanto as proteínas no citosol
Por causa da interação entre as cargas entre o peptídeo de células nucleadas são processadas por
e a bolsa, somente moléculas peptídicas fazem ligação organelas citoplasmáticas e apresentadas por
com o MHC. moléculas do MHC classe I.

A carga peptídica que o MHC carrega é adquirida em


sua biossíntese enquanto está sendo montado e
transportado por dentro da célula. Isso faz com que o
MHC transporte peptídeos presentes no meio
intracelular, sejam produzidos pela célula ou ingeridos
do ambiente extracelular.

Apenas moléculas do MHC carregando peptídeos


são expressas de forma estável na superfície das
células. Isso acontece porque as moléculas do MHC
precisam unir suas duas cadeias e ligar peptídeos para
atingir uma estrutura estável, e as moléculas “vazias”
são degradadas dentro das células.

As moléculas de MHC não distinguem entre peptídeos


próprios ou de patógenos. Logo, a quantidade de MHC
ligado a peptídeos das células é maior que a de ligado a Fonte: ProfBio
peptídeos externos. Isso não deflagra uma resposta
imune porque as células T CD4+ já estão prontas para
diferenciar células próprias, e, se identificam como
patógenos no início da maturação, elas são destruídas.

As moléculas do MHC são capazes de apresentar


peptídeos, mas não antígenos proteicos bacterianos.
Portanto, devem existir mecanismos que convertam as
proteínas que ocorrem naturalmente em peptídeos
capazes de se ligar às moléculas do MHC. Essa
conversão é chamada de processamento antigênico.

PROCESSAMENTO E APRESENTAÇÃO DO ANTÍGENO

Imunologia Básicas, Abba, 2014

PARA O MHC CLASSE II


Para o MHC classe II, o processo de apresentação é
precedido por etapas que visam proporcionar a
formação de um peptídeo que seja adequado à fenda do
MHC.

Os antígenos proteicos são ingeridos pelas células


apresentadoras de antígenos (APC) no interior de
vesículas, onde são degradados em peptídeos.
Imunologia Básica, Abbas, 2014

37
As moléculas do MHC classe II entram nessas endoplasmático (ER), onde os peptídeos podem ser
vesículas, onde o peptídeo da cadeia invariante classe aparados posteriormente. As moléculas do MHC classe
II (CLIP) que ocupa a fenda da molécula recém formada I recém-sintetizadas estão ligadas ao TAP por uma
é removido. Essas moléculas classe II então são aptas proteína ligadora chamada tapasina, logo as moléculas
a ligar-se aos peptídeos derivados da proteína do MHC são estrategicamente localizadas para receber
endocitada. os peptídeos que são transportados para o ER pelo TAP.
Os complexos peptídeo- MHC classe I são
A molécula DM facilita a remoção do CLIP e a ligação transportados para a superfície celular, sendo
subsequente do peptídeo antigênico. Os complexos reconhecidos pelas células T CD8+. β2m, β2-
peptídeo-MHC classe I são transportados para a microglobulina.
superfície celular, sendo reconhecidos pelas células T
CD4+.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

Imunologia Básica, Abbas, 2014 Nas células que foram expostas às citocinas
ER, Retículo endoplasmático; Ii, cadeia constante. inflamatórias (como em uma infecção), os proteassomas
tornam-se muito eficientes em clivar as proteínas
As APC que expressam o MHC classe II sintetizam nucleares em peptídeos com propriedades de tamanho
constantemente essas moléculas do MHC classe II no e sequência que permitem que os peptídeos se liguem
retículo endoplasmático (ER). bem às moléculas do MHC classe I.

Cada nova molécula classe II transporta com ela uma O TAP (transportador associado ao processamento
proteína chamada de cadeia constante (Ii), que contém antigênico) se liga aos peptídeos gerados pelo
uma sequência (chamada de peptídeo de cadeia proteassoma de forma a bombear ativamente os
constante classe II (CLIP, do inglês, class II invariant peptídeos para o interior do retículo endoplasmático
chain peptide) que se liga fortemente à sua fenda. Dessa (ER) e assim se liga ao MHC classe I. Isso não ocorre
forma, a fenda da molécula classe II recém-sintetizada é com o MHC classe II porque, no ER, essas moléculas
ocupada e livre de aceitar peptídeos no ER que são estão ligadas à cadeia constante.
destinados a se ligar às moléculas do MHC classe I.
Se um MHC classe I encontra um peptídeo com ajuste
Essa molécula classe II com sua Ii associada é direto, o complexo é estabilizado e liberando do TAP e
direcionada para as últimas vesículas transportado em direção à superfície celular.
endossomais/lisossomais que contêm peptídeos
derivados das proteínas extracelulares ingeridas. Os A luta evolutiva entre os microrganismos e seus
endossomas/lisossomas também contêm uma proteína hospedeiros é bem ilustrada pelas numerosas
como o MHC classe II chamada DM, cuja função é trocar estratégias que os vírus desenvolveram para bloquear a
o CLIP na molécula do MHC classe II com peptídeos de via do MHC classe I de apresentação antigênica. Essas
afinidade mais alta que podem estar disponíveis neste estratégias incluem a remoção de moléculas do MHC
compartimento. recém-sintetizadas do RE, a inibição da transcrição dos
genes do MHC, e o bloqueio do transporte de peptídeos
PARA O MHC CLASSE I pelo transportador TAP. Ao inibir a via do MHC classe I,
As proteínas que entram no citoplasma das células são os vírus diminuem a apresentação de seus antígenos às
provenientes de microrganismos fagocitados ou células T CD8+, podendo, assim, escapar do sistema
produzidas de síntese endógena por microrganismos, imunológico adquirido. Essas estratégias de evasão viral
como os vírus, que residem no citoplasma de células são contrabalançadas, em parte, pela capacidade das
infectadas. As proteínas citoplasmáticas são células natural killer do sistema imunológico inato de
desdobradas, ubiquitinadas e degradadas nos reconhecer e destruir células infectadas por vírus que
proteassomas (Ub, ubiquitina). Os peptídeos produzidos perderam a expressão do MHC classe I.
são conduzidos pelo transportador associado ao
processamento antigênico (TAP) para o retículo
38
APRESENTAÇÃO CRUZADA DOS ANTÍGENOS associados à classe II são reconhecidos pelos linfócitos
T CD4+, que funcionam como células auxiliares.
INTERNALIZADOS ÀS CÉLULAS CD8+
As células dendríticas são capazes de ingerir as Essas células T auxiliares ajudam os linfócitos B a
células infectadas pelo vírus e exibir os antígenos produzir anticorpos, e ajudam os fagócitos a destruir os
virais ligados às moléculas do MHC classe I aos microrganismos ingeridos, ativando assim os dois
linfócitos T CD8+. mecanismos efetores mais aptos a eliminar os
microrganismos que são internalizados do ambiente
Algumas células dendríticas têm a capacidade de ingerir extracelular.
as células infectadas, processar os antígenos destas
células infectadas, transportar os antígenos para o
citosol, de onde elas entram no ER e ligam-se às
moléculas classe I, e exibir os antígenos das células
infectadas para reconhecimento pelos linfócitos T CD8+.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

É um processo onde antígenos exógenos, que são


classicamente apresentados em associação à molécula
de MHC de classe II, passam a ser apresentados por
moléculas de MHC de classe I, ativando as células T
CD8+. (Karis, 2007)
Imunologia Básica, Abbas, 2014
SIGNIFICÂNCIA FISIOLÓGICA DA APRESENTAÇÃO DE
Nenhum desses mecanismos é eficaz contra os vírus e
ANTÍGENO ASSOCIADO AO MHC
outros microrganismos que sobrevivem e se replicam no
A restrição do reconhecimento pelas células T a citoplasma das células do hospedeiro. Antígenos
peptídeos associados ao MHC garante que elas só citosólicos são processados e apresentados pelas
reconhecerão e responderão a antígenos moléculas do MHC classe I, que se expressam em todas
associados a uma célula. Isso ocorre, em parte, as células nucleadas – como era de se esperar, porque
porque as moléculas do MHC são proteínas da todas as células nucleadas podem ser infectadas por
membrana celular, e, em parte, porque a ligação do alguns vírus. Os peptídeos associados às moléculas
peptídeo e a expressão subsequente das moléculas do classe I são reconhecidos pelos linfócitos T CD8+, que
MHC dependem das etapas de biossíntese e montagem se diferenciam em CTL. As CTL destroem as células
intracelulares. infectadas e erradicam a infecção, sendo o mecanismo
mais eficaz para eliminar microrganismos
Ao segregar as vias das classes I e II de citoplasmáticos.
processamento antigênico, o sistema imunológico é
capaz de responder a microrganismos Assim, a natureza da resposta imunológica protetora
extracelulares e intracelulares da melhor forma para aos diversos microrganismos é otimizada ao conectar
combatê-los. Os microrganismos extracelulares são diversas características da apresentação de antígenos e
capturados e ingeridos pelas APC, incluindo os linfócitos do reconhecimento pela célula T: as vias de
B e macrófagos, sendo apresentados pelas moléculas processamento de antígenos vesiculares e citosólicos, a
classe II que se expressam principalmente nessas expressão celular de moléculas do MHC classe II e
células (e nas células dendríticas). Devido à classe I, a especificidade dos correceptores CD4 e CD8
especificidade do CD4 para a classe II, os peptídeos para as moléculas classe II e classe I, e as funções das
39
células CD4+, como células auxiliares, e CD8+, como tipos de estruturas antigênicas que as células B e as
CTL. células T reconhecem.

As restrições estruturais na ligação peptídica para


as diferentes moléculas do MHC, incluindo os
resíduos de força e âncora, são responsáveis pela
imunodominância de alguns peptídeos derivados
dos antígenos proteicos complexos, e pela
incapacidade de alguns indivíduos em responder a
determinados antígenos proteicos. Quando qualquer
proteína está proteolicamente degradada nas APC,
muitos peptídeos podem ser gerados, mas somente
aqueles peptídeos aptos para ligar-se às moléculas
MHC naquele indivíduo podem ser apresentados para
reconhecimento pelas células T. Esses peptídeos de
ligação ao MHC são os peptídeos imunodominantes do
antígeno.

Como a expressão do MHC é muito polimórfica, podem


haver pessoas que possumam LPAs que gerem
moléculas não responsivas a alguns peptídeos da
degradação das proteínas antigênicas ou a nenhum
deles. O que explica a variabilidade da resposta imune
a depender das pessoas.
ANTÍGENOS RECONHECIDOS PELOS LINFÓCITOS B E
OUTROS LINFÓCITOS
Os linfócitos B usam anticorpos ligados à membrana
para reconhecer a ampla variedade de antígenos,
incluindo proteínas, polissacarídeos, lipídios e
substâncias químicas de tamanho pequeno.

As células B se diferenciam em células secretoras de


anticorpos em resposta ao antígeno e a outros sinais. Os
anticorpos secretados entram na circulação e nos
líquidos das mucosas e ligam-se aos antígenos, levando
às suas neutralização e eliminação. Os receptores de
antígenos das células B e os anticorpos que são
secretados geralmente reconhecem antígenos em sua
conformação original, sem a necessidade de
processamento antigênico ou apresentação por um Imunologia Básica, Abbas, 2014
sistema especializado.
MACETE: MHC II x CD4 = 8 Anticorpos (também chamados de imunoglobulinas)
MHC I x CD8 = 8 podem ser expressos como receptores de membrana ou
proteínas secretadas; TCR funcionam apenas como
RECONHECIMENTO ANTIGÊNICO NO SISTEMA receptores de membrana. Quando a imunoglobulina (Ig)
IMUNOLÓGICO ADAPTATIVO ou as moléculas de TCR reconhecem antígenos, sinais
são liberados para os linfócitos pelas proteínas
Linfócitos B e T expressam diferentes receptores associadas aos receptores de antígenos. Os receptores
que reconhecem os antígenos: os anticorpos de antígenos e as proteínas sinalizadoras ligadas
ligados à membrana nas células B e receptores das formam os complexos receptores da célula B (BCR) e
células T (TCR) nos linfócitos T. TCR. Note que receptores de antígenos únicos são
exibidos reconhecendo antígenos, mas a sinalização
A principal função dos receptores celulares no sistema tipicamente requer a ligação de dois ou mais receptores
imunológico, como em outros sistemas biológicos, é ligados às moléculas antigênicas adjacentes.
detectar estímulos externos (antígenos, para os
receptores antigênicos do sistema imunológico Os anticorpos da membrana plasmática, que
adquirido) e estimular a resposta das células nas quais funcionam como receptores antigênicos dos
os receptores são expressos. linfócitos B, podem reconhecer uma gama muito
mais ampla de estruturas químicas que os
RECEPTORES ANTIGÊNICOS DOS LINFÓCITOS receptores antigênicos das células T. Os receptores
Embora estes receptores possuam muitas semelhanças de antígenos dos linfócitos B e os anticorpos que as
em termos de estrutura e mecanismos de sinalização, células B secretam são capazes de reconhecer formas
existem diferenças fundamentais relacionadas com os ou conformações de macromoléculas nativas, incluindo
40
proteínas, lipídios, carboidratos e ácidos nucleicos, bem das cadeias pesadas e leves e as regiões da proteína
como pequenos grupos químicos simples. que participam do reconhecimento antigênico e das
Cadeias receptoras antigênicas estão associadas às funções efetoras. N e C referem-se às extremidades
proteínas da membrana invariante, cuja função é aminoterminal e carboxiterminal das cadeias
fornecer sinais intracelulares que são acionados polipeptídicas, respectivamente. C, A estrutura cristalina
pelo reconhecimento do antígeno. Estes sinais, que de uma molécula de IgG segregada ilustra os domínios
são transmitidos para o citosol e o núcleo, podem fazer e sua orientação espacial; as cadeias pesadas são de
com que um linfócito divida-se, diferencie-se, ou, em cores azul e vermelha, as cadeias leves são verdes, e
certas circunstâncias, morra. carboidratos são cinza. D, Um diagrama de fita do
domínio V da Ig mostra a estrutura básica da folha β-
Assim, essas duas funções dos receptores de antígenos pregueada e os laços salientes que formam as três CDR.
dos linfócitos – reconhecimento antigênico específico e CDR, Regiões de determinação da
sinal de transdução – são mediadas por diferentes complementariedade.
polipeptídeos. O conjunto associado dos receptores de
antígenos da membrana plasmática e as moléculas
sinalizadoras nos linfócitos B é chamado de complexo
receptor da célula B (BCR, do inglês, B cell receptor),
e nos linfócitos T é chamada de complexo receptor da
célula T (TCR, do inglês, T cell receptor).

Os anticorpos existem em duas formas, como


receptores de antígenos ligados à membrana das
células B ou como proteínas secretadas, mas TCR
existem somente como receptores de membrana
nas células T.

As porções de reconhecimento antigênico entre os


receptores são chamadas regiões variáveis (V), e as
porções preservadas são as regiões constantes (C),
que possuem função estrutural e não são muito variáveis
entre um indivíduo ou outro.

As regiões constantes de alguns anticorpos secretados


têm a capacidade de se ligar a outras moléculas que
participam da eliminação de antígenos: essas moléculas
incluem receptores de fagócitos e proteínas do sistema
complemento. Assim, anticorpos têm diferentes funções
em diversos estágios na resposta da imunidade
humoral: anticorpos ligados à membrana nas células B
reconhecem antígenos e iniciam a resposta imunológica
humoral, e anticorpos secretados neutralizam e
eliminam os antígenos e suas toxinas na fase efetora Imunologia Básica, Abbas, 2014
dessa resposta.
Os dois tipos de cadeias leves, chamadas de κ e λ,
ANTICORPOS diferem em suas regiões C. Cada célula B expressa ou
κ ou λ, mas não ambas. Há cinco tipos de cadeias
Uma molécula de anticorpo é composta de quatro
pesadas, chamadas μ, δ, γ, e α, que diferem nas suas
cadeias polipeptídicas, incluindo duas cadeias
regiões C. Cada tipo de cadeia leve pode formar um
pesadas (H) idênticas e duas cadeias leves (L)
complexo com qualquer tipo de cadeia pesada em uma
idênticas, onde cada cadeia contém uma região
molécula de anticorpo. Anticorpos que contêm
variável e uma região constante. As quatro cadeias
diferentes cadeias pesadas pertencem a diferentes
estão dispostas de modo a formar uma molécula em
classes ou isótipos, e são denominados de acordo com
forma de Y.
a cadeia pesada (i.e., IgM, IgD, IgG, IgE e IgA),
independentemente da classe da cadeia leve.
Um domínio de Ig consiste em duas camadas de folhas
β pregueadas e unidas por uma ponte dissulfeto. Os
Os receptores de antígenos dos linfócitos B virgens, que
filamentos adjacentes de cada folha β são conectados
são células maduras, mas que ainda não encontraram
por circuitos protuberantes curtos; em moléculas de Ig,
os antígenos, são a IgM e a IgD ligadas à membrana.
estes circuitos compõem os três CDR (hipervariáveis)
Após a estimulação por antígenos e linfócitos T
responsáveis pelo reconhecimento do antígeno.
auxiliares, o clone de linfócito B antígeno-específico
pode expandir-se e diferenciar-se em uma progênie que
São exibidos os diagramas esquemáticos de A, uma
secreta anticorpos. Algumas progênies das células B
molécula de imunoglobulina G (IgG), e B, uma molécula
que expressam IgM e IgD podem secretar IgM, e outras
da forma de membrana da IgM, ilustrando os domínios
progênies das mesmas células B podem produzir
41
anticorpos de outras classes de cadeias pesadas. Essa GERAÇÃO DE HIBRIDOMAS E ANTICORPOS
mudança na produção do isótipo da Ig é chamada de
MONOCLONAIS
troca da classe (ou isótipo) da cadeia pesada.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

Anticorpos ligam-se aos antígenos por ligações não


covalentes, reversíveis, incluindo pontes de hidrogênio,
interações hidrofóbicas e interações com base nas
cargas. As partes dos antígenos que são reconhecidas
pelos anticorpos são chamadas de epítopos, ou
determinantes. Diferentes epítopos de antígenos
proteicos podem ser reconhecidos baseando-se na
Imunologia Básica, Abbas, 2014
sequência de aminoácidos alongados (epítopos
lineares) ou na forma (epítopos conformacionais). Neste procedimento, as células do baço de um
Alguns desses epítopos estão escondidos na molécula camundongo que foi imunizado com um antígeno
antigênica e são expostos como um resultado de uma conhecido são fundidas com uma linha celular de um
alteração físico-química. mieloma com deficiência de enzima que não secreta
imunoglobulinas por conta própria. As células fundidas
A força com a qual uma superfície de ligação de são, então, colocadas em um meio
antígeno se liga a um epítopo de um antígeno é selecionado, que permite a sobrevivência apenas de
chamada de afinidade de interação. A afinidade é híbridos imortalizados – as células B normais fornecem
frequentemente expressa pela constante de dissociação a enzima que falta para o mieloma e as células B não
(Kd), que é a concentração molar requerida de um fundidas não podem sobreviver indefinidamente. Estas
antígeno para ocupar metade das moléculas de células híbridas são cultivadas como clones de uma
anticorpo disponíveis em solução; quanto menor a Kd, única célula e testadas para a secreção de anticorpo da
mais alta é a afinidade. especificidade desejada. O clone produzindo este
anticorpo é expandido e torna-se uma fonte do anticorpo
Cada molécula de anticorpo IgG, IgD e IgE tem dois
monoclonal.
sítios de ligação de antígeno. A IgA secretada é um
dímero, e dessa forma possui quatro sítios de ligação ao
antígeno, e a IgM secretada é um pentâmero, com 10 RECEPTORES DE CÉLULAS T PARA ANTÍGENOS
sítios de ligação ao antígeno. O TCR, que reconhece antígenos peptídicos
apresentados pelas moléculas de MHC, é um
A força total de ligação é muito maior do que a afinidade heterodímero ligado à membrana composto de uma
de um único antígeno ligado a um anticorpo, e é cadeia α e uma cadeia β, cada uma contendo uma
chamada de avidez de uma interação. Anticorpos região variável (V) e uma região constante (C). As
produzidos contra um antígeno podem ligar outros regiões V e C são homólogas às regiões V e C das
antígenos estruturalmente similares. A ligação a imunoglobulinas. Na região V da cada cadeia do TCR há
epítopos similares denomina-se reação cruzada. três regiões hipervariáveis, ou determinantes da
complementaridade, cada uma correspondendo a uma

42
alça do domínio. Como nos anticorpos, a região CDR3 é apresentados por moléculas clássicas do MHC. Células
a mais variável entre os diferentes TCR. T que expressam TCRs γδ são abundantes no epitélio.

Outra subpopulação de células T, representando menos


que 5% das células do total de todas as células T,
expressa marcadores de células natural killer e são
denominadas células T natural killer (células NK-T). As
células NK-T expressam TCR αβ, mas elas reconhecem
antígenos de lipídios apresentados por moléculas não
polimórficas semelhantes ao MHC.

O TCR reconhece antígenos, mas como as Ig de


membrana das células B, é incapaz de transmitir sinais
para a célula T sozinha. Associado ao TCR há um
complexo de proteínas, chamado de proteínas CD3 e ζ,
que formam o complexo TCR. As cadeias CD3 e ζ
transmitem alguns dos sinais que são iniciados quando
o TCR reconhece o antígeno. Além disso, a ativação da
célula T requer o engajamento de moléculas
correceptoras, CD4 ou CD8, que reconhecem as
porções não polimórficas das moléculas de MHC e
também transmitem sinais de ativação.

Os TCR reconhecem somente complexos MHCpeptídeo


e ligam-se a estes com uma afinidade relativamente
baixa, o que pode ser a razão pela qual a ligação das
células T às APC tem de ser fortalecida pelas assim
chamadas moléculas acessórias.
Imunologia Básica, Abbas, 2014
Ao contrário dos anticorpos, ambas as cadeias do TCR
são ancoradas na membrana plasmática, e os TCR não
Tanto a cadeia α como a cadeia β do TCR participam
são produzidos na forma secretada e não passam pela
do reconhecimento específico das moléculas de
troca de classe ou maturação da afinidade durante a
MHC e peptídeos ligados. Sabemos também que
vida de um clone de célula T.
apenas poucos peptídeos de microrganismos
complexos, os epítopos imunodominantes, são agora
reconhecidos pelo sistema imune. Isso significa que as
células T podem distinguir microrganismos complexos
com base na diferença entre poucos aminoácidos de
epítopos imunodominantes dos microrganismos.

Imunologia Básica, Abbas, 2014


Reconhecimento do complexo peptídeo-MHC por um
receptor de antígeno da célula T.
Imunologia Básica, Abbas, 2014
O TCR γδ pode reconhecer uma variedade de antígenos
proteicos e não proteicos, que usualmente não são

43
DESENVOLVIMENTO DOS REPERTÓRIOS timo. A IL-7 mantém e expande o número de
progenitores dos linfócitos.
IMUNOLÓGICOS
Como previsto na teoria da seleção clonal, existem Os receptores de antígenos são codificados por
muitos clones de linfócitos com especificidades distintas, vários segmentos gênicos que são separados uns
talvez mais que 109, e esses clones surgem antes do dos outros na linhagem germinativa e se
encontro com o antígeno. Não há genes suficientes no recombinam durante a maturação dos linfócitos. A
genoma humano para que cada possível receptor seja diversidade é gerada durante o processo de
codificado por um gene diferente. De fato, o sistema recombinação, principalmente pela variação na
imune desenvolveu mecanismos para gerar receptores sequência de nucleotídeos nos locais da recombinação.
antigênicos de um número limitado de genes herdados,
e a geração da diversidade dos receptores está Os linfócitos são selecionados em vários estágios
intimamente ligada ao processo de maturação dos durante o processo de maturação, de modo a
linfócitos B e T. preservar sua capacidade funcional. A seleção é
baseada na expressão dos componentes intactos dos
receptores de antígenos e como eles são reconhecidos.
DESENVOLVIMENTO PRECOCE DOS LINFÓCITOS
Pontos de verificação são necessários para que
O desenvolvimento dos linfócitos a partir de células- somente as células com receptores antigênicos intactos
tronco da medula óssea envolve compromisso de e funcionais sejam selecionadas para sobreviver e
progenitores hematopoiéticos para a linhagem proliferar.
celular B ou T, a proliferação destas células
progenitoras, o rearranjo e a expressão de genes de Células T imaturas são selecionadas para reconhecer as
receptores antigênicos, e eventos de seleção para moléculas de MHC próprias no timo. Este processo,
identificar e expandir as células que expressam os chamado de seleção positiva, assegura que as células
receptores antigênicos potencialmente úteis. completem a maturação e sejam capazes de reconhecer
antígenos indicados pelas mesmas moléculas MHC nas
Tais eventos são comuns aos linfócitos B e T, a despeito APC (que são as únicas moléculas de MHC que estas
de a maturação dos linfócitos B ocorrer na medula óssea células podem encontrar normalmente). Células B ou T
e a maturação dos linfócitos T ocorrer no timo. fortemente autorreativas são eliminadas para evitar o
desenvolvimento de respostas autoimunes; este
processo é chamado de seleção negativa.

PRODUÇÃO DE RECEPTORES ANTIGÊNICOS


DIVERSOS
A formação de genes funcionais que codificam os
receptores antigênicos de linfócitos B e T é iniciada
pela recombinação somática dos segmentos de
genes que codificam para as regiões variáveis dos
receptores, e a diversidade é gerada durante esse
processo.

As células-tronco hematopoiéticas e progenitores


linfoides possuem genes para Ig e TCR. Os loci da
cadeia pesada e da cadeia leve da Ig e os loci das
cadeias α e β do TCR contêm múltiplos genes de regiões
variáveis (V), numerados até algumas centenas, e um
Imunologia Básica, Abbas, 2014 ou alguns genes de regiões constantes (C). Entre os
genes V e C existem grupos de várias sequências de
Durante a maturação, linfócitos B e T passam por ciclos codificação curtas, chamadas de segmentos gênicos de
de proliferação e expressão de proteínas dos receptores diversidade (D) e de junção (J). (Todos os loci de
de antígenos por recombinação gênica. Células que receptores de antígenos contêm genes V, J e C, mas
falham na expressão dos receptores intactos funcionais somente as cadeias pesadas de Ig e os loci β do TCR
morrem por apoptose, pois elas não recebem os sinais também contêm segmentos gênicos D.)
necessários para a sobrevivência. No fim do processo,
as células passam pela seleção positiva e negativa. Os O comprometimento do progenitor do linfócito para
linfócitos apresentados podem ser B ou T. tornar-se um linfócito B está associado à recombinação
de um segmento gênico aleatoriamente selecionado no
Linfócitos imaturos passam por uma proliferação locus das cadeias pesadas de Ig – primeiro um
em vários estágios durante sua maturação. A segmento genético D com um J, seguido pelo rearranjo
proliferação e a sobrevivência dos precursores iniciais de um segmento V fundido com o elemento D-J.
dos linfócitos são estimuladas principalmente por um
fator de crescimento, a interleucina-7 (IL-7), que é A diversidade dos receptores de antígenos é
produzida pelas células estromais da medula óssea e do produzida pelo uso de diferentes combinações de
44
segmentos gênicos V, D e J em diferentes clones de um receptor autorreativo potencialmente prejudicial e
linfócitos (denominadas diversidade combinatória) e que deve ser eliminado, pelo processo chamado de
também por meio de alterações na sequência de edição do receptor. Qualquer uma das cadeias leves que
nucleotídios inseridas nas junções dos segmentos for produzida e for funcional é associada à cadeia μ para
gênicos recombinados V, D e J (chamadas de formar o receptor de antígeno completo IgM associado
diversidade juncional). à membrana.

O linfócito B expressando IgM é uma célula imatura B.


MATURAÇÃO E SELEÇÃO DOS LINFÓCITOS B Posteriormente, a maturação pode ocorrer na medula
A maturação dos linfócitos B ocorre principalmente óssea ou após a célula deixar a medula óssea e entrar
na medula óssea. Os progenitores comprometidos com no baço. O estágio de maturação final envolve a
a linhagem de células B proliferam, dando origem a um coexpressão da IgD juntamente com a IgM, que ocorre
grande número de precursores de linfócitos B, porque em qualquer célula B, o gene éxon VDJ
chamados de células pró-B. recombinado da cadeia pesada pode ser editado em
éxons Cμ ou éxons Cδ, dando origem a um mRNA μ ou
Estas células começam a rearranjar genes de Ig, δ, respectivamente.
inicialmente no locus de cadeia pesada. As células que
fazem rearranjos VDJ produtivos no locus de cadeia A célula IgM+IgD+ é a célula B madura, capaz de
pesada de Ig desenvolvem células pré-B, definidas pela responder aos antígenos nos tecidos linfoides
presença da proteína de cadeia pesada de Ig μ, periféricos.
principalmente o citoplasma.
O repertório de células B também é formado pela
A cadeia μ e a cadeia leve sub-rogada associam-se a seleção negativa. Neste processo, se uma célula
moléculas de sinalização Igα e Igβ para formar o imatura B liga-se um antígeno multivalente na medula
complexo receptor da célula pré-B (pré-BCR). O pré- óssea com elevada afinidade, pode reativar a enzima
BCR montado fornece sinais que promovem a recombinase VDJ, submetendo-se a uma recombinação
sobrevivência e a proliferação das células da linhagem V-J da cadeia leve adicional, gerando uma cadeia leve
B que realizam um rearranjo produtivo no locus Ig da diferente, e, assim, alterando a especificidade do
cadeia H. As células que não conseguiram fazer isso receptor de antígenos, um processo chamado de edição
não recebem os estímulos para sua sobrevivência e do receptor.
morrem.
A maioria das células B maduras é chamada de células
B foliculares, porque são encontradas dentro de
linfonodos e folículos do baço. As células da zona
marginal B, que são encontradas nas margens dos
folículos do baço, desenvolvem-se a partir dos mesmos
progenitores (pró-células B) como as células B
foliculares. Os linfócitos B-1, uma população distinta
encontrada em órgãos linfoides e na cavidade
peritoneal, podem-se desenvolver mais cedo e a partir
de diferentes precursores.

MATURAÇÃO E SELEÇÃO DOS LINFÓCITOS T


O processo de maturação de linfócitos T possui
características únicas, que estão primariamente
relacionadas com a especificidade de diferentes
subgrupos de células T para peptídeos apresentados
por diferentes classes de moléculas de MHC. Os
Imunologia Básica, Abbas, 2014 progenitores de células T migram da medula óssea para
o timo, onde ocorre todo o processo de maturação.
O complexo pré-BCR também sinaliza o processo de
fechamento da recombinação dos genes da cadeia A maioria dos progenitores imaturos é chamada de pró-
pesada da Ig no segundo cromossomo, pois cada célula células T ou células T duplo-negativas (ou timócitos
B pode expressar uma cadeia pesada Ig de somente um duplo-negativos), porque eles não expressam CD4 ou
dos alelos parentais herdados. Esse processo é CD8. Essas células se expandem em número
chamado de exclusão alélica, e assegura que cada principalmente sob a influência da IL-7 produzida no
célula possa expressar receptores de uma única timo. A recombinação do gene TCR beta ocorre em
especificidade. algumas dessas células, mediante a recombinase VDJ.

O pré-BCR também desencadeia a recombinação do Se a recombinação VDJ for bem- sucedida em um dos
locus da cadeia leve de Ig κ e a cadeia leve λ é produzida dois genes herdados e uma proteína da cadeia TCR β
somente se o locus da cadeia κ recombinado falhar em for sintetizada, está é expressa na superfície associada
expressar uma proteína funcional ou se a cadeia κ gerar

45
a uma proteína invariante chamada pré-Tα, para formar FASES E TIPOS DE RESPOSTAS IMUNES
o complexo pré-TCR de células pré-T.
HUMORAIS
Se a recombinação em um dos dois loci herdados não Os linfócitos B virgens expressam duas classes de
for bem-sucedida, a recombinação irá ocorrer em outro anticorpos ligados a membranas, imunoglobulinas M e
local. Se a cadeia TCR β completa não é produzida em D (IgM e IgD), que funcionam como receptores para os
uma célula pró-T, esta célula morre. antígenos.

O complexo pré-TCR estimula os sinais para que a A ativação dos linfócitos B resulta na proliferação de
célula continue viva, assim como o pré-BRC. Esses células antígeno-específicas, também chamada de
sinais promovem a sobrevivência, a proliferação e a expansão clonal, e em sua diferenciação em
recombinação do gene da cadeia α do TCR e inibe a plasmócitos, que secretam ativamente anticorpos e
recombinação VDJ no segundo locus da cadeia β do são, deste modo, as células efetoras da imunidade
TCR (exclusão alélica). humoral.

As células sobreviventes expressam os αβ e TCR Durante a sua diferenciação, algumas células B podem
completos e ambos os correceptores CD4 e CD8, e começar a produzir anticorpos de diferentes isótipos de
essas células são chamadas de células T duplo- cadeias pesadas (ou classes), que medeiam diferentes
positivas (ou timócitos duplo-positivos). funções efetoras e são especializadas no combate de
diferentes tipos de microrganismos. Esse processo é
chamado de troca de isótipo (ou classe) de cadeia
pesada. A exposição repetida a um antígeno proteico
resulta na produção de anticorpos com aumento de
afinidade para o antígeno. Esse processo é chamado de
maturação da afinidade e leva à produção de
anticorpos com maior capacidade de se ligar e de
neutralizar microrganismos e suas toxinas.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

Diferentes clones de células T duplo-positivas


expressam diferentes αβ TCR. Se o TCR de uma célula
T reconhece uma molécula de MHC no timo, que deve Imunologia Básica, Abbas, 2014
ser uma molécula do MHC próprio apresentando um
peptídeo próprio, e se a interação é de afinidade baixa As respostas dos anticorpos a diferentes antígenos
ou moderada, essa célula é selecionada para são classificadas como dependentes de T ou
sobreviver. independentes de T, segundo a necessidade de
célula T auxiliar. Os linfócitos B identificam e são
Durante esse processo, as células T cujos TCR ativados por uma grande variedade de antígenos
reconhecem o complexo peptídeo-MHC classe I quimicamente diferentes, incluindo proteínas,
preservam a expressão do CD8, o correceptor que se polissacarídeos, lipídios, ácidos nucleicos e pequenas
liga ao MHC classe I, e perdem a expressão de CD4, o substâncias químicas. Os antígenos proteicos são
correceptor específico para as moléculas de MHC classe processados nas células apresentadoras de antígenos
II. Inversamente, se uma célula T reconhece o complexo (APC, do inglês, antigenpresenting cells) e identificados
peptídeo-MHC classe II, essa célula mantém a pelos linfócitos T auxiliares, que desempenham um
expressão de CD4 e perde a expressão de CD8. papel importante na ativação de células B e são potentes
indutores da troca de classe de cadeia pesada e da
maturação da afinidade. (A expressão auxiliar derivou

46
da descoberta de que algumas células T estimulam, ou cada vez maiores de anticorpos, frequentemente com
auxiliam, os linfócitos B na produção de anticorpos.) Na troca de classe de cadeia pesada e maturação da
ausência do auxílio da célula T, os antígenos proteicos afinidade. Essas características das respostas
induzem respostas fracas ou sem anticorpos. secundárias são encontradas principalmente em
resposta aos antígenos proteicos, porque essas
Consequentemente, os antígenos proteicos e as mudanças nas células B são estimuladas por células T
respostas dos anticorpos a estes antígenos são auxiliares, e só as proteínas ativam as células T. A
chamados de dependentes de T. Os polissacarídeos, cinética das respostas pode variar segundo diferentes
lipídios e outros antígenos não proteicos estimulam a antígenos e tipos de imunização.
produção de anticorpos sem o comprometimento de
células T auxiliares. Logo, estes antígenos não proteicos
e as respostas de anticorpos a eles são chamados de
independentes de T.

Diferentes subgrupos de células B respondem


preferencialmente a proteínas e antígenos não
proteicos. A maioria das células B é chamada de
células B foliculares, porque elas residem e circulam
nos folículos dos órgãos linfoides.

As células B da zona marginal, que estão localizadas


na região periférica da polpa branca esplênica,
respondem a antígenos polissacarídicos originados no
sangue, e as células B-1 respondem a antígenos não
proteicos nos tecidos mucosos e no peritônio.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

Anticorpos IgG recobrem os microrganismos e os


tornam alvo para a fagocitose porque os fagócitos
(neutrófilos e macrófagos) expressam receptores para
partes das moléculas de IgG. IgG e IgM ativam o sistema
complemento, e os produtos do complemento
promovem a fagocitose e a destruição dos
microrganismos.
Imunologia Básica, Abbas, 2014
A IgA é secretada pelo epitélio da mucosa e neutraliza
As respostas dos anticorpos às primeiras e às microrganismos nos lumens dos tecidos mucosos, tais
subsequentes exposições a um antígeno, chamadas como os tratos respiratório e gastrintestinal. A IgG
de respostas primárias e secundárias, diferem de materna é ativamente transportada através da placenta
maneira quantitativa e qualitativa. As quantidades de e protege o feto até que o seu sistema imune e do futuro
anticorpos produzidas depois do primeiro contato com recém-nascido se torne maduro. A maioria dos
um antígeno (na resposta imune primária) são menores anticorpos tem meia-vida de poucos dias, mas grande
do que as quantidades produzidas após a imunização parte dos anticorpos IgG tem meia-vida de cerca de 3
repetida (nas respostas imunes secundárias). semanas.
As respostas primárias e secundárias aos anticorpos ESTIMULAÇÃO DOS LINFÓCITOS B PELOS
diferem em diversos aspectos, ilustrados ANTÍGENOS
esquematicamente no painel A e resumidos no painel B.
Em uma resposta primária, as células B virgens nos As respostas imunes humorais têm início quando os
tecidos linfoides periféricos são ativadas de modo a se linfócitos B antígenoespecíficos no baço, linfonodos
proliferar e diferenciar em plasmócitos secretores de e nos tecidos mucosos linfoides reconhecem os
anticorpos e células de memória. Alguns plasmócitos antígenos. Alguns dos antígenos que entram nos
podem migrar e sobreviver na medula óssea por longos tecidos ou no sangue são transportados e concentrados
períodos. Em uma resposta secundária, as células de nos folículos ricos em células B e nas zonas marginais
memória são ativadas de modo a produzir quantidades dos órgãos linfoides periféricos.

47
A ligação cruzada dos receptores de imunoglobulina (Ig)
Os linfócitos B específicos para um antígeno usam seus das células B pelos antígenos desencadeia sinais
receptores de imunoglobulina (Ig) ligados à membrana bioquímicos que são transduzidos pelas proteínas Igα e
para reconhecer um antígeno diretamente, sem Igβ associadas à Ig. Esses sinais induzem os eventos
necessidade de processamento. As células B são de fosforilação de tirosina iniciais, a ativação de diversos
capazes de reconhecer o antígeno nativo (não intermediários bioquímicos e enzimas, e a ativação de
processado), de modo que os anticorpos que são fatores de transcrição. Eventos de sinalização similares
subsequentemente secretados (que têm a mesma são vistos nas células T depois da identificação do
especificidade que os receptores de antígenos da célula antígeno. Observe que a sinalização máxima requer
B) conseguem se ligar ao microrganismo nativo ou ao uma ligação cruzada, pelo menos, de dois receptores de
produto microbiano. Ig, mas só é mostrado um único receptor para
simplificar.
A identificação do antígeno dá origem às vias de
sinalização que desencadeiam a ativação da célula B. No linfócito T ocorre assim:
Assim como ocorre com os linfócitos T, a ativação da
célula B também precisa de sinais subsequentes ao
reconhecimento do antígeno, muitos dos quais são
produzidos durante as reações imunes inatas dos
microrganismos

SINALIZAÇÃO NAS CÉLULAS B INDUZIDA POR


ANTÍGENOS
O agrupamento dos receptores de membrana Ig
induzido pelos antígenos dá origem a sinais
bioquímicos que são transduzidos pelas moléculas
de sinalização associadas ao receptor.

Os polissacarídeos, lipídios e outros antígenos não


proteicos com frequência apresentam vários epítopos
idênticos em cada molécula e são, portanto, capazes de
se ligar a diversos receptores de Ig em uma célula B ao
mesmo tempo. Mesmo os antígenos proteicos podem
ser expressos em um arranjo na superfície dos
microrganismos e são, dessa forma, capazes de fazer
uma ligação cruzada de diversos receptores de
antígenos de uma célula B.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

As membranas da IgM e IgD, os antígenos receptores


dos linfócitos B virgens, são anticorpos de ligação da
membrana e, portanto, apresentam regiões de ligação
de antígenos extracelulares altamente variáveis. No
entanto, esses receptores da membrana têm caudas
citoplasmáticas curtas, de modo que, apesar de eles
reconhecerem antígenos, eles próprios não transduzem
os sinais. Os receptores apresentam ligação não
covalente com duas proteínas, chamadas de Igα e Igβ,
que formam o complexo receptor da célula B (BCR),
análogo ao complexo receptor da célula T (TCR) dos
Imunologia Básica, Abbas, 2014 linfócitos T.
AP-1, proteína-1 ativadora; GDP, difosfato de guanosina; GTP,
trifosfato de guanosina; ITAM, motivo de ativação de imunorreceptor Quando dois ou mais receptores de antígenos de uma
via tirosina; NFAT, fator nuclear de células T ativadas; NF-κB, fator célula B estão aglomerados, as tirosinas nos ITAM de
nuclear-κB; PKS, proteína quinase C; PLC, fosfolipase C. Igα e Igβ são fosforiladas pelas quinases associadas ao
complexo BCR. Essas fosfotirosinas recrutam a tirosina
48
quinase Syk (equivalente ao ZAP-70 nas células T), que Essa combinação de sinais resulta em proliferação,
é ativada e, por sua vez, fosforila os resíduos de tirosina diferenciação e secreção ideal de células B,
nas proteínas adaptadoras que, então, recrutam promovendo, assim, as respostas dos anticorpos contra
inúmeras moléculas de sinalização a jusante. os microrganismos.

PAPEL DAS PROTE ÍNAS COMPLEMENTARES E OUTROS CONSEQUÊNCIAS FUNCIONAIS DA ATIVA ÇÃO DAS
SINAIS IMUNES INATOS NA ATIVA ÇÃO DA CÉLULA B CÉLULAS B MEDIADA POR ANTÍGENOS
Os linfócitos B expressam um receptor para uma A ativação das células B por antígenos (e outros
proteína do sistema complemento que fornece sinais) inicia a proliferação e a diferenciação das
sinais para a ativação das células. células e as prepara para interagir com os linfócitos
T auxiliares, se o antígeno for uma proteína. Os
Quando o sistema complemento é ativado por um linfócitos B ativados entram no ciclo celular e começam
microrganismo, este é revestido com fragmentos a se proliferar. As células também podem começar a
proteolíticos da proteína mais abundante, C3. Um sintetizar mais IgM e a produzir uma parte dessa IgM em
desses fragmentos é chamado de C3d. Os linfócitos B uma forma secretada. Assim, o estímulo do antígeno
expressam um receptor do complemento tipo 2 (CR2 ou induz a fase inicial da resposta imune humoral.
CD21), que se liga a C3d.

O envolvimento do CR2 aumenta em grande parte as


respostas de ativação dependentes do antígeno das
células B. Este papel de complemento nas respostas
imunes humorais ilustra, novamente, que os
microrganismos ou as respostas imunes inatas aos
microrganismos fornecem sinais adicionais aos
antígenos que são necessários para a ativação dos
linfócitos.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

A ativação das células B pelo antígeno nos órgãos


linfoides inicia o processo de proliferação de células B,
e a secreção de IgM “prepara” a célula B para ativar as
células T auxiliares e responder ao auxílio da célula T
pelo estímulo da migração das células B para as zonas
Imunologia Básica, Abbas, 2014 ricas em células T dos órgãos linfoides.

Os produtos microbianos também influenciam As células B ativadas endocitam o antígeno proteico que
diretamente a ativação da célula B. Os linfócitos B, se liga especificamente ao receptor da célula B, o que
assim como as células dendríticas e outros leucócitos, resulta na degradação do antígeno e da exibição dos
expressam inúmeros receptores tipo Toll (TLR). O peptídeos em uma forma que pode ser reconhecida
envolvimento do TLR nas células B por produtos pelas células T auxiliares. As células B ativadas
microbianos desencadeia os sinais de ativação que reduzem sua expressão de receptores de quimiocinas,
funcionam em conjunto com os sinais do receptor de que são produzidas nos folículos linfoides, cuja função é
antígenos. manter as células B nesses folículos.

49
Em consequência, as células B ativadas migram para
fora dos folículos e em direção ao compartimento
anatômico em que se concentram as células T
auxiliares. Em função dessas mudanças, as células B
são equilibradas para interagir e responder às células T
auxiliares que foram ativadas pelo mesmo antígeno
apresentado às células T virgens pelas células
dendríticas.

REFERÊNCIAS
1. ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. H.
I. V. Imunologia celular e molecular. 8. ed. 2015
2. ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. H.
I. V. Imunologia Básica. 4. ed. 2014

Leia artigos sobre a influencia de fatores externos e


internos que interferem no sistema imune. Ou no
David de imunologia capitulo 17.

50
ETAPAS DAS RESPOSTAS DAS C ÉLULAS T

PROBLEMA 3 Os linfócitos T reconhecem antígenos virgens nos


órgãos linfoides periféricos, o que estimula a sua
proliferação e diferenciação em células efetoras e de
IMUNIDADE MEDIADA PELAS CÉLULAS T memória, e as células efetoras são ativadas pelos
mesmos antígenos em tecidos periféricos e órgãos
Os linfócitos T executam várias funções na defesa linfoides.
contra infecções causadas por vários tipos de
microrganismos. O principal papel dos linfócitos T é na
imunidade mediada por células (CMI, do inglês, cell-
mediated immunity), que fornece defesa contra várias
infecções causadas por microrganismos intracelulares.

Existem dois mecanismos pelos quais os mecanismos


podem encontrar refúgio no interior da célula: por meio
de fagocitose e a multiplicação do patógeno nas
membranas fagossomais (se for o caso de
micrororganismos resistentes à ação das células de
defesa), ou por meio de reconhecimento dos antígenos
na membrana celular e consequente infecção do
citoplasma.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

Além da CMI, os linfócitos T desempenham um papel


importante no combate a patógenos que se multiplicam
no meio extracelular por meio de diferenciações dos
linfócitos T CD4+. Um dos papeis importantes dessas
células diferenciadas é ajudar os linfócitos B a
Imunologia Básica, Abbas, 2014
reconhecer antígenos.
(1) Indução da resposta: as células T CD4+ e as células
Também, alguns tipos podem estimular a formação de
T CD8+ virgens reconhecem peptídeos que são
respostas inflamatórias com a mobilização de leucócitos
derivados de antígenos proteicos e identificados pelas
ativados, que são efetivos para a remoção de patógenos
células apresentadoras de antígeno nos órgãos linfoides
extracelulares.
periféricos. Os linfócitos T são estimulados a proliferar e
a se diferenciar, e as células efetoras entram na
As principais funções dos linfócitos T – ativação de
circulação. (2) Migração das células T efetoras e outros
fagócitos, morte de células infectadas e auxílio para as
leucócitos para o local do antígeno: as células T efetoras
células B – exigem que os linfócitos T interajam com
e outros leucócitos migram através dos vasos
outras células, que podem ser os fagócitos, as células
sanguíneos nos tecidos periféricos pela ligação com as
hospedeiras infectadas, ou os linfócitos B.
células endoteliais que haviam sido ativadas pelas
citocinas produzidas em resposta à infecção nesses
tecidos. (3) Funções das células T efetoras: as células T
51
CD4+ ativam os fagócitos para destruir os
microrganismos, e os linfócitos T CD8+ citotóxicos (CTL)
destroem as células infectadas.

Algumas das progênies das células T que proliferaram


em resposta ao antígeno se desenvolvem em células T
de memória, as quais têm vida longa, são
funcionalmente inativas e circulam durante meses ou
anos prontas para responder com rapidez a repetidas
exposições ao mesmo microrganismo.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

RECONHECIMENTO E COESTIMULA ÇÃO DE UM


ANTÍGENO
Para que as respostas das células T se iniciem, é
preciso que vários receptores localizados nessas células
reconheçam os ligantes situados nas APC. O TCR
reconhece os antígenos peptídicos associados ao MHC,
o correceptor CD4 ou o CD8 reconhece as moléculas do
MHC, as moléculas de adesão reforçam a ligação das Imunologia Básica, Abbas, 2014
células T com as APC, e os receptores para os
coestimuladores reconhecem os sinais secundários APC, Célula apresentadora de antígeno; ICAM-1, molécula de
produzidos pelas APC. adesão intracelular 1; LFA-1, antígenoassociado à função de
leucócito 1; MHC, complexo principal de histocompatibilidade;
As principais moléculas de superfície das células T TCR, receptor de célula T; VLA, antígeno muito tardio.
CD4+ envolvidas na ativação dessas células e ligantes
correspondentes nas células apresentadoras de O receptor das células T para antígenos (TCR, do
antígenos. As células T CD8+ utilizam a maioria das inglês, T cell receptor) e o correceptor CD4 ou o CD8
mesmas moléculas, exceto que o TCR reconhece reconhecem, juntos, o complexo formado por
complexos peptídeo-MHC classe I, e o correceptor é antígenos peptídicos e moléculas do MHC nas APC,
CD8, que reconhece o MHC classe I. e esse reconhecimento produz o primeiro sinal, ou o
sinal inicial, para a ativação das células T.
Os motivos de ativação de imunorreceptores via tirosina
(ITAM) são as regiões das proteínas de sinalização Diferentes moléculas da célula T reconhecem um
cujos resíduos de tirosina são fosforilados, tornando-as antígeno e, como consequência desse reconhecimento,
locais de ancoragem para outras moléculas liberam sinais bioquímicos para o interior da célula. As
sinalizadoras. A CD3 é composta de três cadeias proteínas CD3 e ζ ligam-se de modo não covalente às
polipeptídicas, δ, e γ, arranjadas em dois pares (δ e γ); cadeias α e β do receptor de célula T (TCR) e essa
mostramos a CD3 como três cadeias proteicas. ligação ocorre por meio de interações entre aminoácidos
carregados presentes nos domínios transmembranas
O VLA-4, como o LFA-1, é uma integrina envolvida na dessas proteínas (não mostrados). A figura ilustra uma
ligação de leucócitos ao endotélio. célula T CD4+; essas mesmas interações estão
presentes na ativação das células T CD8+, exceto que o
correceptor é a CD8 e o TCR reconhece um complexo
peptídeo-MHC classe I.
52
precisa se ligar fracamente a seus autopeptídeos, por
meio do MHC.

Para que haja aja uma resposta efetiva, a ligação das


células com APC deve se manter estável durante um
período de tempo suficiente para que ocorra a
sinalização. A mais importante das moléculas de
estabilização pertence à família das proteínas
heterodiméricas (duas cadeias), denominadas
integrinas.

A principal integrina das células T envolvida na ligação


dessas células com as APC é o antígeno-1 associado à
função dos leucócitos (LFA-1, do inglês, leukocyte
function-associated antigen 1), cujo ligante na superfície
das APC é chamado de molécula de adesão intercelular-
1 (ICAM-1, do inglês, intercellular adhesion molecule 1).

Nas células T virgens em repouso, que ainda não


reconheceram um antígeno nem foram ativadas por ele,
a integrina LFA-1 encontra-se em um estado de baixa
Imunologia Básica, Abbas, 2014 afinidade. O reconhecimento de um antígeno por uma
célula T aumenta a afinidade da LFA-1 dessa célula.
Os sinais bioquímicos que levam à ativação das células
T são desencadeados por um conjunto de proteínas que PAPEL DA COESTIMULA ÇÃO NA ATIVAÇÃO DAS
se liga ao TCR para formar o complexo TCR e também
pelo correceptor CD4 ou CD8. CÉLULAS T
A ativação total das células T depende do
O TCR αβ heterodímero reconhece os antígenos, mas reconhecimento de coestimuladores presentes na
não é capaz de transmitir sinais bioquímicos para o superfície das APC.
interior da célula. O TCR é associado não
covalentemente com um complexo de moléculas de Coestimuladores são moléculas que são capazes de
sinalização de transmembrana, incluindo três proteínas gerar sinais às células T de forma paralela à estimulação
CD3 e uma proteína chamada cadeia ζ. O TCR, CD3 e de antígeno. Os coestimuladores de células T mais bem
a cadeia ζ formam o complexo TCR. definidos são duas proteínas relacionadas,
denominadas B7-1 (CD80) e B7-2 (CD86), que são
Apesar de as cadeias α e β variarem de pessoa para expressas na superfície das APC e cuja expressão
pessoa, os componentes CD3 e ζ são invariáveis nas aumenta quando as APC encontram microrganismos.
diferentes células T, apresentando basicamente as Essas proteínas B7 são reconhecidas por um receptor
mesmas funções para todas as células. chamado CD28, que é expresso em praticamente todas
as células T.
As células T também podem ser ativadas por moléculas
que se ligam aos TCRs, como anticorpos específicos A ligação do B7 com o CD-28 proporciona a ativação do
para o TCR ou para as proteínas CD3 associadas, linfócito T e, na ausência dessa ligação, não é
proteínas poliméricas que se ligam aos carboidratos, desenvolvido um reconhecimento eficiente pelo TCR.
como a fito-hemaglutina (PHA), e certas proteínas Os linfócitos T virgens devem ser ativados por antígenos
microbianas chamadas de superantígenos. microbianos, e, a ligação CD28-B7 garante isso, já que
a expressão de B7 na superfície das APCs é estimulada
Os superantígenos microbianos podem causar doença pelos microrganismos.
inflamatória sistêmica por meio da ativação e da
liberação excessiva de citocinas de muitas células T. As células apresentadoras de antígenos (APC) em
repouso, que não foram expostas a microrganismos ou
PAPEL DAS MOLÉCULAS DE ADESÃO NA ATIVAÇÃO adjuvantes, podem apresentar antígenos peptídicos,
DAS CÉLULAS T mas não expressam coestimuladores e são incapazes
de ativar as células T virgens. As células T que
As moléculas de adesão localizadas na superfície reconhecem o antígeno sem coestimulação podem
das células T reconhecem seus ligantes na deixar de responder (tornam-se tolerantes) à exposição
superfície das APC e estabilizam a ligação das subsequente ao antígeno. Os microrganismos assim
células T com as APC. A maioria dos TCR liga-se com como as citocinas produzidas durante as respostas
baixa afinidade aos complexos peptídeo-MHC para os imunes inatas a microrganismos induzem a expressão
quais são específicos. de coestimuladores, como as moléculas B7, na
superfície das APC. Os coestimuladores B7 são
Uma explicação possível para isso é a possibilidade de reconhecidos pelos receptores CD28 presentes na
que as células, para passar por seleção positiva, superfície das células T virgens, o que gera o “segundo
53
sinal”; juntamente com o reconhecimento do antígeno
ESTÍMULOS PARA ATIVAÇÃO DAS CÉLULAS T CD8 +
(“primeiro sinal”), esse reconhecimento dá início às
respostas das células T. As APC ativadas também A ativação das células T CD8+ é estimulada pelo
produzem citocinas que estimulam a diferenciação de reconhecimento dos peptídeos associados ao MHC
células T virgens em células efetoras. classe I e requer coestimulação e/ou células T
auxiliares.

Uma característrica das células T CD8+ é que o início


da sua ação geralmente necessita do contato com
antígenos citoplasmáticos de uma célula e a
apresentação cruzada com as células dendríticas. Outra
é que a sua diferenciação em CTL completamente ativo
ou células de memória pode depender da sua ligação
com o linfócito T CD4+.

Quando as células infectadas por vírus são englobadas


pelas células dendríticas, a APC pode apresentar
antígenos virais do citosol em complexos formados por
moléculas do MHC classe I e aqueles do interior de
vesículas em complexos formados por moléculas do
MHC classe II. Assim, tanto as células T CD8+ quanto
as células T CD4+ específicas para os antígenos virais
são ativadas umas próximas às outras. As células T
CD4+ podem produzir citocinas ou moléculas de
Imunologia Básica, Abbas, 2014 membrana que auxiliam na ativação das células T
CD8+.
Um grupo que também se relaciona à ativação dos
linfócitos é o das células CD-40 (CD40L ou CD154), que Isso explica o porquê de muitos pacientes com HIV
está presente na superfície das células T e no CD40 das apresentarem uma resposta incompleta a muitos vírus,
células dendríticas. O CD40L das células T estimuladas já que as T CD4+ são destruídas e as T CD8+ não. E
por antígeno se liga ao CD40 das células dendríticas e com algum motivo desconhecido, as CTL não parecem
estimula a produção de mais B7 na superfície das APCs, depender da ajuda de T CD4+.
o que acaba por estimular a ativação de mais células T.

Existem substâncias, chamadas adjuvantes, que têm


função primordial de induzir a expressão de
coestimuladores na superfície das APC e as estimular a
produzir mais citocinas. A principal importância desses
compostos é a de ser necessária para promoção da
expressão de mais coestimuladores (como o B7) nessas
células, o que permite que antígenos proteicos sejam
devidamente reconhecidos em vacinas.

Os agentes que bloqueiam as interações B7-CD28 são


usados no tratamento de artrite reumatoide, outras
doenças inflamatórias e rejeição de enxertos, e os
anticorpos que bloqueiam as interações CD40-CD40L
estão sendo testados em doenças inflamatórias e em
indivíduos receptores de transplantes com o objetivo de
reduzir ou impedir a rejeição dos enxertos.

Proteínas homólogas à CD28, como a CTLA-4


(reconhece B7 e B7-2) e PD-1 (reconhece ligantes Imunologia Básica, Abbas, 2014
diversos) são induzidos nas células T ativadas e a
deleção dos genes dessas moléculas se relacionam à VIAS BIOQUÍMICAS DA ATIVAÇÃO DAS CÉLULAS T
expansão linfocitária e doença autoimune. Uma Ao reconhecer os antígenos e os coestimuladores,
aplicação importante é que ambos estão relacionados à as células T expressam proteínas que estão
inibição da resposta imune em alguns tumores, o que envolvidas na proliferação, na diferenciação e nas
pode ser utilizado, por meio de um bloqueio desses funções efetoras das células.
receptores, para estimular o combate ao câncer. O PD-
1 se relaciona também à resposta a algumas infecções
virais crônicas.

54
PKC, proteína quinase; PLCγ1, isoforma γ1 da
fosfolipase C específica para o fosfatidilinositol; PI-3,
fosfatidilinositol-3; ZAP-70, proteína de 70 kD associada
à zeta.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

As vias bioquímicas que ligam o reconhecimento de


um antígeno às respostas das células T consistem
na ativação de enzimas, no recrutamento de
Imunologia Básica, Abbas, 2014
proteínas adaptadoras e na produção de fatores de
transcrição ativos. Essas vias são iniciadas pela
ligação dos complexos TCR com um correceptor e A Lck, que é transportada perto do complexo TCR pelas
peptídeos. moléculas CD4 ou CD8, fosforila os resíduos de tirosina
contidos dentro dos ITAM das proteínas ζ e CD3. Os
Além disso, ocorre uma redistribuição ordenada de ITAM fosforilados da cadeia ζ tornam-se locais de
outras proteínas da membrana celular da APC e da ancoragem para uma tirosina quinase denominada ZAP-
célula T no ponto de contato entre essas células, assim 70 (proteína de 70 kD associada à zeta), que também é
o complexo TCR, os correceptores CD4/CD8 e CD28 fosforilada pela Lck, passando a ser, assim,
coalescem para o centro e as integrinas se movem para enzimaticamente ativa. Em seguida, a ZAP-70 ativada
fosforila diversas proteínas adaptadoras e enzimas, que
formar um anel periférico.
se agrupam próximo ao complexo TCR e medeiam
Acredita-se que essa redistribuição ordenada de fenômenos de sinalização adicionais.
moléculas de sinalização e adesão e seja responsável
por uma ótima indução dos sinais de ativação da célula O fator nuclear das células T ativadas (NFAT, do
T. A região de contato entre a APC e a célula T, que inglês, nuclear factor of activated T cells) é um fator de
transcrição presente na forma fosforilada inativa no
engloba as proteínas de membrana redistribuídas, é
chamada de sinapse imunológica. citoplasma de células T em repouso. A ativação do
NFAT e sua translocação nuclear dependem da
O reconhecimento de um antígeno pelas células T concentração de íons cálcio (Ca2+) na célula.
desencadeia fenômenos de sinalização iniciais, que
A fosforilação mediada pelo ZAP-70 ativa uma
incluem a fosforilação da tirosina das moléculas do
fosfolipase que catalisa a conversão de um componente
complexo receptor de células T (TCR) e o recrutamento
de proteínas adaptadoras para o local da célula T onde da membrana plasmática que contem inusitol, o PIP 2.
ocorreu o reconhecimento. Esses fenômenos iniciais Um subproduto dessa conversão é o IP3, que estimula a
levam à ativação de várias substâncias intermediárias, membrana do ER a liberar Ca2+.
que, por sua vez, ativam fatores de transcrição que
Em resposta à perda de cálcio dos reservatórios
estimulam a transcrição de genes cujos produtos
mensuram as respostas das células T. Os possíveis intracelulares, os canais de cálcio da membrana
efeitos da coestimulação nessas vias de sinalização não plasmática são abertos, causando influxo de Ca2+
são mostrados. Estas vias de sinalização estão extracelular para dentro da célula, o que sustenta a
ilustradas como independentes uma da outra, por concentração elevada de Ca2+ por horas. O Ca2+
simplicidade, mas podem ser interligadas em redes mais citoplasmático liga-se a uma proteína denominada
calmodulina, e o complexo Ca2+-calmodulina ativa uma
complexas.
fosfatase chamada de calcineurina.
P-1, Proteína ativadora-1; APC, célula apresentadora de
antígeno; GTP/GDP, trifosfato de guanosina/difosfato de Esta enzima remove os fosfatos do NFAT
guanosina; ITAM, motivo de ativação do imunorreceptor citoplasmático, tornando-os capazes de migrar para o
núcleo, onde se ligam a promotores de vários genes,
via tirosina; NFAT, fator nuclear de células T ativadas;
55
ativando-os. Dentre esses genes estão os que codificam A primeira citocina a ser produzida pelas células T CD4+
o fator de crescimento de células T, a interleucina-2 (IL- dentro de 1 a 2 horas após a ativação é a interleucina-2
2), e componentes do receptor para a IL-2. (IL-2). A ativação também aumenta rapidamente a
capacidade das células T de se ligar e de responder a
Um fármaco chamado ciclosporina liga-se à IL-2, por meio da regulação da expressão do receptor de
calcineurina e inibe a fosfatase, impedindo, assim, a alta afinidade para a IL-2.
produção de citocinas dependentes de NFAT pelas
células T. Esse agente é amplamente utilizado como um O receptor do IL-2 tem três cadeias peptídicas e os
fármaco imunossupressor para impedir a rejeição de linfócitos T virgens expressam duas, mas não a que
enxertos; sua descoberta foi um dos principais fatores aumenta a força de ligação. Após estimulados por
do sucesso dos transplantes de órgãos ocorrido. antígenos e coestimuladores, passam a expressar essa
última cadeia e a se ligarem fortemente à IL-2.
O mTOR (alvo mamífero de rapamicina) é estreitamente
ligado com a via Akt, uma serina-treonina-quinase que Assim, a IL-2 produzida por uma célula T que foi
está envolvida na estimulação da tradução de proteínas estimulada por um antígeno se liga preferencialmente à
e na sobrevivência e crescimento das células. A mesma célula T que a produziu e atua sobre ela, um
rapamicina é um fármaco que se liga e inativa o mTOR exemplo da ação de citocinas autócrinas. As principais
e é usada para tratar a rejeição do enxerto. funções da IL-2 são de estimular a sobrevivência e a
proliferação das células T, resultando no aumento do
RESPOSTAS FUNCIONAIS DOS LINF ÓCITOS T AOS número das células T específicas do antígeno; a IL-2 foi
ANTÍGENOS E À COESTIMULAÇÃO originalmente chamada fator de crescimento de células
O reconhecimento de um antígeno e dos T.
coestimuladores pelas células T dá início a um conjunto
orquestrado de respostas que culmina na expansão de
clones de linfócitos específicos para antígeno e na
diferenciação das células T virgens em células efetoras
e células de memória.

SECREÇÃO DE CITOCINAS E EXPRESS ÃO DOS


RECEPTORES PARA CITOCINA
Em resposta a um antígeno e aos coestimuladores,
os linfócitos T, sobretudo as células T CD4+,
secretam rapidamente várias citocinas diferentes
que têm diversas atividades.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

As células T virgens expressam o complexo do receptor


de baixa afinidade para IL-2 (IL-2R), formado pelas
cadeias β e γc (γc significa γ comum, pois essa cadeia é
um dos componentes dos receptores para várias outras
citocinas). Ao serem ativadas pelo reconhecimento de
um antígeno e pela coestimulação, as células produzem
IL-2 e expressam a cadeia α do IL-2R, a qual se associa
às cadeias β e γc para formar o receptor de alta
afinidade para IL-2. A ligação da IL-2 ao seu receptor dá
início à proliferação das células T que reconheceram o
antígeno.

Os linfócitos T CD8+ que reconhecem antígenos e


Imunologia Básica, Abbas, 2014 coestimuladores não secretam grandes quantidades de
IL-2, mas esses linfócitos proliferam de maneira
56
prodigiosa durante as respostas imunes. O DIFERENCIAÇÃO DE CÉLULAS T VIRGENS EM CÉLULAS
reconhecimento do antígeno e a coestimulação podem
EFETORAS
ser capazes de conduzir a proliferação de células T
CD8+, ou a IL-2 pode ser fornecida pelas células T Uma parte da progênie das células T que proliferaram
auxiliares CD4+. após terem sido estimuladas por um antígeno diferencia-
se em células efetoras cuja função é erradicar as
infecções. Esse processo de diferenciação resulta de
EXPANSÃO CLONAL alterações na expressão de genes (ativação de genes
Os linfócitos T ativados pelos antígenos e a que codificam citocinas (nas células T CD4+) ou de
coestimulação começam a proliferar dentro de 1 ou genes que codificam proteínas citolíticas (nos CTL
2 dias, resultando na expansão dos clones CD8+). Após a exposição a microrganismos, em cerca
específicos para o antígeno. de três a quatro dias, é possível encontrar células
efetoras diferenciadas.

Células efetoras da linhagem auxiliar CD4+


funcionam para ativar fagócitos e linfócitos B
expressando várias moléculas de superfície e
secretando citocinas. O ligante CD40 é um dos mais
importantes para o linfócito T CD4+, se relacionando à
função efetora desta. Após o reconhecimento do
antígeno e coestimulação, esse ligante é expresso.

A interação do CD40L da superfície das células T com o


CD40 da superfície das células dendríticas estimula a
expressão de coestimuladores na superfície dessas
APC e a produção de citocinas ativadoras de células T,
fornecendo, dessa maneira, um mecanismo de
retroalimentação positiva (amplificação) para a ativação
de células T induzida pelas APC.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

Antes de uma infecção, o número de células T CD8+


específicas para qualquer um dos antígenos proteicos
microbianos é de cerca de um para 105 ou 106 linfócitos
no corpo. No auge de algumas infecções virais, o que
pode ocorrer dentro de 1 semana após a infecção, até
10% a 20% de todos os linfócitos dos órgãos linfoides
podem tornar-se específicos para os vírus causadores
dessas infecções. O tempo médio para uma população
dobrar de tamanho fica em torno de 6 horas.

A expansão das células T CD4+ parece menor do que a


das células CD8+, provavelmente da ordem de 100 a
1.000 vezes. Essa disparidade na magnitude da
expansão clonal das células T CD8+ em relação à das
células T CD4+ pode refletir as diferenças nas funções
dessas duas populações de células. Os CTL CD8+ são
células efetoras que exterminam as células infectadas
por contato direto, e muitos CTL podem ser necessários
para destruir grandes quantidades de células infectadas.
Por sua vez, as células efetoras CD4+ secretam
citocinas que ativam outras células efetoras, então só há
necessidade de um pequeno número de produtores de
citocinas.

Após sua ativação, em cerca de uma a duas semanas


as células já se encontram diferenciadas em células
efetoras ou de memória e boa parte morre, desde que
os estímulos de vida não se mantenham. Isso causa a
contração da resposta imune.
Imunologia Básica, Abbas, 2014

57
SUBGRUPOS DE CÉLULAS T AUXILIARES CD4 + que inibia infecções virais (ou interferia nelas). O IFN-γ
é um potente ativador de macrófagos, especialmente na
DISTINGUIDOS POR PERFIS DE CITOCINAS
capacidade dos macrófagos para matar microrganismos
As células T auxiliares podem ser subdivididas de ingeridos (ativação clássica dos macrófagos). (Os IFN
acordo com as citocinas produzidas. Essas diferenças tipo I são citocinas antivirais muito mais potentes que o
permitem que o sistema imune reagirá diferente para IFN-γ.)
cada situação específica.
Essa classe de interferon também é responsável pela
A resposta imune adquirida a tais microrganismos estimulação da produção de isótopos de anticorpos
resulta na ativação dos fagócitos que destroem os (IgG), que se ligam aos receptores Fc da membrana dos
microrganismos englobados. Em contraste, os parasitas fagócitos e ativam o complemento.
helmínticos são grandes demais para serem
fagocitados, e a resposta imune aos helmintos é Também, o IFN-γ estimula a expressão de moléculas de
dominada pela produção de anticorpos de MHC classe II e de coestimuladores B7 na superfície de
imunoglobulina E (IgE) e ativação de eosinófilos. células dendríticas e macrófagos, de forma a amplificar
as respostas das células T.
O anticorpo IgE liga-se aos helmintos, e os eosinófilos
causam danos aos helmintos mediante a liberação de
seu conteúdo enzimático nesses organismos.

As células T auxiliares CD4+ podem diferenciar-se


em subgrupos de células efetoras que produzem
grupos distintos de citocinas, os quais realizam
funções diferentes.

Os subgrupos que foram definidos primeiro foram


denominados células TH1 e células TH2 (relativas a
células T auxiliares tipo 1 e células T auxiliares tipo 2);
mais recentemente, uma terceira população foi
identificada e chamada de TH17, porque a sua citocina
principal é a interleucina-17. Também existe a
população das células T reguladoras, que são
responsáveis pela supressão da resposta imune.

Imunologia Básica, Abbas, 2014


Imunologia Básica, Abbas, 2014

O SUBGRUPO T H 2
O SUBGRUPO T H 1 As células TH2 estimulam a imunidade independente
As células TH1 estimulam o englobamento mediado de fagócitos mediada por eosinófilos, a qual é eficaz,
por fagócitos e o extermínio de microrganismos, o sobretudo, contra parasitas helmínticos. As Th2 são
componente-chave da imunidade mediada por importantes estimuladoras da interleucina-4,
células. Estímulo por IL-12 (vírus e bactérias responsável por estimular a produção de anticorpos IgE
intracelulares e fungos intracelulares). O “h” é de helper. e também interleucina-5, ativadora de eosinófilos.
Estímulo por IL-4, liberada sob a presença de helmintos.
A citocina mais importante produzida pelas células T H1
é o interferon-γ (IFN-γ), assim chamado porque, A IgE ativa mastócitos e se liga a eosinófilos. A reação
quando descoberto, foi identificado como uma citocina de combate a helminto se inicia com o revestimento da
58
sua camada externa com anticorpos IgE e a ligação dos
eosinófilos aos anticorpos. Isso gera um sinal que
estimula os eosinófilos a liberarem seu conteúdo
granular e as enzimas granulares causam danos à
membrana do parasita.

Também, outras citocinas como IL-4 e IL-13 promovem


a expulsão dos parasitas dos órgãos mucosos e inibem
a sua entrada por meio da estimulação da secreção de
muco.

As citocinas das células TH2 também ativam os


macrófagos. Ao contrário da ativação mediada por T H1,
a qual estimula a capacidade dos macrófagos de matar
microrganismos ingeridos, a ativação de macrófagos
mediada por TH2 aumenta outras funções, como a
síntese de proteínas da matriz extracelular envolvidas
no reparo tecidual.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

O SUBGRUPO T H 17
As células TH17 induzem a inflamação, que funciona
para destruir as bactérias extracelulares e fungos, e
pode contribuir para várias doenças inflamatórias.
Estímulo por IL-23, com auxílio das interleucinas 5 e 6
(fungos extracelulares).

As células TH17 secretam citocinas que recrutam


leucócitos, principalmente neutrófilos, para os locais de
reconhecimento de antígenos. Assim, estas células são
Imunologia Básica, Abbas, 2014 importantes na defesa contra infecções bacterianas e
Macete– TGF-B: Tá Gerando Fibrose Boa fúngicas extracelulares.
Esse tipo de resposta tem sido chamado de ativação
alternativa de macrófagos. Algumas das citocinas
produzidas pelas células TH2, como a IL-4, IL-10 e IL-13,
inibem a ativação de macrófagos e suprimem a
imunidade mediada pelas células TH1. Por essa razão, a
eficácia das respostas imunes mediadas por células
contra um microrganismo pode ser determinada pelo
equilíbrio entre a ativação das células TH1 e TH2 em
resposta a esse microrganismo.

Resumo: As células TH2 produzem a citocina


interleucina-4 (IL-4), que estimula a produção do
anticorpo imunoglobulina E (IgE), e a IL-5, que ativa os
eosinófilos. A IgE participa da ativação dos mastócitos
pelos antígenos proteicos e cobre os helmintos para que
estes sejam destruídos pelos eosinófilos. As células TH2
estimulam a produção de outros isótipos de anticorpos
que podem neutralizar os microrganismos e as toxinas,
mas não opsonizam os microrganismos para a
fagocitose ou ativam o complemento pela via clássica.

Imunologia Básica, Abbas, 2014


59
As células TH17 produzem a citocina interleucina-17 (IL- Os fatores de transcrição mais importantes para os três
17), que induz a produção de quimiocinas e outras subgrupos são T-bet, GATA-3 e RORγT para TH1, TH2
citocinas a partir de diversas células, e estas recrutam e TH17, respectivamente. Eles trabalham em conjunto
neutrófilos (e monócitos) no local da inflamação. com fatores de transcrição chamados transdutores de
Algumas das citocinas formadas pelas células TH17, sinais e ativadores de transcrição (STAT, do inglês,
principalmente a IL-22, funcionam como uma barreira signal transducers and activators of transcription)
epitelial no trato intestinal e outros tecidos. induzida por citocinas.
DESENVOLVIMENTO DOS SUBGRUPOS T H 1, T H 2 E Após ativação pelo antígeno e coestimuladores, as
T H 17 células T auxiliares virgens podem diferenciar-se em
O desenvolvimento desses subgrupos é um diversos subgrupos sob a influência de citocinas
processo regulado pelos estímulos que as células T produzidas no local da ativação.
CD+ virgens recebem quando encontram antígenos
microbianos. As citocinas que induzem o desenvolvimento da TH1
incluem a interleucina-12 (IL-12), que é produzida
Cada subtipo é desenvolvido em resposta a melhor pelas células apresentadoras de antígenos (APC)
forma de combater os patógenos para os quais são ativadas por microrganismos, como as células
específicos. dendríticas e os macrófagos, e interferon-γ (IFN-γ)
criado pelas células natural killer (NK).
O conjunto de citocinas secretadas por APC irá variar
dependendo dos tipos de microrganismos, portanto a Em resposta a muitas bactérias (especialmente as
diferenciação das vias de células T CD4+ e os bactérias intracelulares) e vírus, as células dendríticas e
subgrupos de células T efetoras geradas são os macrófagos produzem IL-12, e as células NK
determinados pela natureza da infecção. produzem o IFN-γ. As células TH1 produzem o IFN-γ,
que não somente mata os microrganismos, mas também
Também, cada um dos subconjuntos de células T promove mais desenvolvimento de TH1 e inibe o
efetoras produz citocinas que se amplificam e inibem os desenvolvimento de células TH2 e TH17. Assim, IFN-γ
demais subgrupos. Assim, cada tipo de resposta se polariza ainda mais a resposta ao subgrupo TH1.
torna cada vez mais polarizada com a estimulação
prolongada. A diferenciação destes subgrupos está As células TH2 são induzidas pela IL-4, a qual pode
associada à ativação de fatores de transcrição que ser produzida pelas próprias células T e por outras
estimulam a produção de várias citocinas. células, como mastócitos. Parece que se um
microrganismo infeccioso não elicitar a produção de IL-
12 pelas APC, como pode ocorrer com helmintos, as
próprias células T produzem IL-4. Assim, os helmintos
podem estimular os mastócitos e eosinófilos s secretar
IL-4, o que expande a resposta Th2.

A diferenciação de TH17 é acionada pelo fator


transformante de crescimento-β (TGF-β), que pode
ser criado por diversos tipos de células, em conjunto
com citocinas inflamatórias, como IL-6, IL-1, e IL-23,
que podem ser produzidas pelas APC. Um detalhe
importante é que essas interleucinas são liberadas pelos
macrófagos e células dendríticas em resposta ao ataque
de fungos e algumas bactérias.

Os principais fatores de transcrição envolvidos na


diferenciação de células T auxiliares incluem T-bet (para
células TH1), GATA-3 (para células TH2) e RORγT (para
células TH17), atuando em conjunto com o transdutor de
sinal ativado pelas citocinas e as proteínas ativadoras de
transcrição (STAT).
DIFERENCIAÇÃO DAS CÉLULAS T CD8 + EM CTL
Os linfócitos T CD8+ ativados por um antígeno e por
coestimuladores diferenciam-se em linfócitos T
citotóxicos que são capazes de destruir as células
infectadas que expressam o antígeno. Os CTL
destroem células infectadas por proteínas secretoras
que entram nas membranas das células infectadas e
facilitam a entrada de enzimas que induzem a apoptose
das células infectadas.
Imunologia Básica, Abbas, 2014
60
DESENVOLVIMENTO DE LINFÓCITOS T DE MEM ÓRIA
Uma parte dos linfócitos T ativados por antígenos
diferencia-se em células T de memória de longa vida.
Após a erradicação do patógeno, algumas células de
memória podem persistir nos tecidos linfoides, em
barreiras mucosas, na pele e na circulação. Mas para
permanecerem vivas, precisam da liberação de IL-7.

Apesar de se manterem vivas, essas células não


continuam a produzir citocinas e repostas a antígenos,
mas esperam um momento de segunda infecção para
iniciarem uma resposta rápida.

Um subgrupo de células T de memória, chamadas de


células de memória central, povoa os tecidos linfoides
e é responsável pela rápida expansão clonal após a
reexposição ao antígeno. Outro subgrupo, chamado de
células de memória efetoras, localiza-se na mucosa e
em outros tecidos periféricos e medeia as funções Imunologia Básica, Abbas, 2014
efetoras rápidas após a reintrodução do antígeno a
esses locais.
MIGRAÇÃO DE LINFÓCITOS T EM REA ÇÕES IMUNES
MEDIADAS POR CÉLULAS
DECLÍNIO DA RESPOSTA IMUNE
Após o estágio da infecção e combate dos patógenos e Em primeiro lugar, células T virgens têm de migrar entre
células danificadas, é necessário que o corpo retorne à o sangue e os tecidos linfoides em todo o corpo até
homeostase. Para isso, as células que antes estavam encontrar células dendríticas em um linfonodo ou no
ativas por causa do estímulo dos antígenos têm dois baço que apresentem os antígenos reconhecidos por
caminhos possíveis: se tornam células de memória, ou células T. Segundo, depois que as células T virgens são
sofrem apoptose. Esse declínio leva em média uma a ativadas e se diferenciam em clones expandidos de
duas semanas após a erradicação da infecção. células T efetoras, essas células T têm de migrar de
volta aos locais de infecção, nos quais elas funcionam
destruindo microrganismos.
MECANISMOS EFETORES DA IMUNIDADE
MEDIADA POR CÉLULAS T A migração das células T virgens e das células T
efetoras é controlada por três famílias de proteínas –
A defesa do hospedeiro em que os linfócitos T servem selectinas, integrinas e quimiocinas – que regulam a
como células efetoras é denominada imunidade migração de todos os leucócitos.
mediada por células. As respostas imunes mediadas
por células começam pela ativação de células T virgens As células T virgens expressam a molécula de
que proliferam e se diferenciam em células efetoras. adesão celular L-selectina (CD62L) e o receptor para
Essas células T efetoras eliminam os microrganismos quimiocinas CCR7, que medeiam sua migração
associados a células, com frequência agindo em seletiva para os linfonodos por vasos
cooperação com macrófagos e com outros leucócitos. especializados designados como vênulas
endoteliais altas (HEV, do inglês, high endothelial
venules), localizadas nas zonas T dos tecidos linfoides.
TIPOS DE REAÇÕES IMUNES MEDIADAS POR
CÉLULAS T As HEV possuem células endoteliais especializadas que
Dois tipos de reações imunes mediadas por células expressam carboidratos que se ligam à L-selectina e
são designados para eliminar diferentes tipos de também quimiocinas, produzidas unicamente nos
microrganismos. As células T auxiliares CD4+ tecidos, linfoides que fixam CCR7. Após interações da
secretam citocinas que recrutam e ativam outros célula T virgem com a HEV (mediada pela L-selectina),
leucócitos para fagocitar (ingerir) e destruir o que possibilita a ligação de CCR7 com quimiocinas.
microrganismos.
O receptor CCR7 manda sinais para o meio intracelular
As células T citotóxicas CD8+ (CTL, do inglês, cytotoxic de modo a ativar a integrina LFA-1 (antígeno associado
T lymphocytes) matam qualquer célula infectada à função leucocitária-1) na célula virgem a se ligar ao
contendo proteínas microbianas no citosol ou no núcleo, seu ligante ICAM-1 na HEV, ocasionando a sua parada.
eliminando os reservatórios celulares de infecção. As
infecções microbianas podem ocorrer em qualquer Essas células T saem, então, do vaso pelas junções
ponto do corpo, e alguns patógenos infecciosos são endoteliais e permanecem na zona de células T do
capazes de infectar células do hospedeiro e de viver linfonodo devido às quimiocinas aí presentes. Em
dentro delas. consequência disso, muitas células T virgens
transportadas pelo sangue em uma HEV migram para a
61
zona de células T do estroma linfonodal. Isso acontece FUNÇÕES EFETORAS DOS LINFÓCITOS T AUXILIARES
constantemente em todos os linfonodos e tecidos
CD4+
linfoides de mucosa no corpo. As células T efetoras não
expressam CCR7 nem L-selectina e por isso não são Estudos feitos com animais identificaram que a
atraídas para os linfonodos. imunidade contra infecção intracelular podia ser
transferida graças às células T, mas não por causa dos
anticorpos. Logo, a imunidade mediada por célula é
aquela que pode ser transferida de um animal imunizado
para um não imunizado, de forma com que são os
macrófagos que agem induzindo a morte dos
patógenos.

PERFIL T H 1

Imunologia Básica, Abbas, 2014 Imunologia Básica, Abbas, 2014

O fosfolípide esfingosina 1-fosfato (S1P) facilita a O principal papel desse perfil é reconhecer os antígenos
saída dos linfócitos T. Os níveis de S1P no sangue e associados aos macrófagos e ativá-los mediante à
na linfa são mais altos que no interior dos linfonodos. ligação de CD40 ao CD40L e liberação de IFN-γ. Isso
Isso faz com que as células que apresentarem mais ocorre quando o macrófago ingere os microrganismos,
receptores fluam com mais facilidade para fora dos formando os complexos do fagolisossomo, de forma a
linfonodos. Na doença inflamatória esclerose múltipla, degradar as proteínas do patógeno e expressar
o fármaco fingolimod (derivado do fungo Isaria sinclairii fragmentos em moléculas de MHC classe II. Quando se
que ataca ninfas de cigarras) inibe a saída dos linfócitos. ligam, com a ligação auxiliar do CD40 e liberação de
IFN, o macrófago inicia a ativação de vias de transcrição
Assim que uma infecção se inicia, as citocinas, como o de citocinas (que estimulam a diferenciação das CT) e
TNF, estimulam as células epiteliais a expressar mais E- toxinas para os patógenos.
selectinas e P-selectinas, assim como ligantes para
ICAM-1 e VCAM-1 (ligante de VLA-4). Dessa forma,
linfócitos T ativados, que expressam grandes
quantidades de glicoproteínas ligantes para E-
selectinas, P-selectinas LFA-1 e VLA-4.

Quando os linfócitos passam pelos vasos que


expressam mais selectinas, iniciam o processo de
rolagem e reconhecem quimiocinas liberadas por
macrófagos e se ligam mais firmemente à membrana.

O direcionamento das células T efetoras a um local


de infecção é independente do reconhecimento de
antígenos, mas linfócitos que reconhecem
antígenos microbianos são retidos e ativados
preferencialmente no local. Imunologia Básica, Abbas, 2014

62
A reação de produção persistente de resposta imune e Se os macrófagos possuírem patógenos dentro de
ativação de linfócitos e macrófagos pode ser gerada, membranas ao invés de no citoplasma, as células T
também, ao se injetar proteína de microbiana na pele de CD4+ estimulam a produção de substâncias
um indivíduo sensibilizado, o que é descrito como microbicidas.
reação de hipersensibilidade do tipo tardio (DTH).

PERFIL T H 17
Essas células induzem outras células a secretar
citocinas e ajudam no recrutamento de neutrófilos e
eosinófilos. Além disso, estimulam a produção de
defensinas (antimicrobianos), manutenção da
integridade das membranas e estimulam resposta com
reação vascular, gerando inflamação. As T H17 são
importantes para a resposta a fungos e baactérias.

OBS.: a diferença da inflamação da resposta inata para


a mediada por células T é que a última geralmente é
mais duradoura, e está também relacionada à
hipersensibilidade.

PERFIL T H 2
Esse perfil estimula a inflamação rica em eosinófilos, Imunologia Básica, Abbas, 2014
que é importante para a defesa de helmintos e
MECANISMOS DE EVASÃO À RESPOSTA POR CÉLULA
nematódeos. Esse subgrupo libera IL-5 (que ativa
eosinófilos), IL-4 (que estimula a produção de IgE) e IL-
10 (que inibe a ativação clássica dos macrófagos).

A ativação alternativa dos macrófagos se dá sob a


presença de IL-4, IL-10 (inibem a via clássica) e IL-13,
que estimula os macrófagos à produção de receptores
de manose e fatores de crescimento que estimulam os
fibroblastos, aumentando a síntese de colágeno e
levando à fibrose, importante para o reparo tecidual após
o dano tecidual.
FUNÇÕES EFETORAS DOS MACRÓFAGOS T
CITOTÓXICOS CD8+
Células T CD8+ identificam as proteínas apresentadas
pelo MHC classe I presente em células infectadas pelo
seu receptor TCR e pelo correceptor CD8. Essas células
T expressam várias integrinas, para que fixem seus
ligantes nas células-alvo.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

REFERÊNCIAS
Imunologia Básica, Abbas, 2014 1. ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. H.
I. V. Imunologia Básica. 4. ed. 2014
A granzima ativa a via das caspases. Isso leva à via
apoptótica, que culmina com a destruição da célula-alvo.
63
PROBLEMA 4

Patologia Básica, Robbins, 2013

RESPOSTA INFLAMATÓRIA A inflamação é mediada por sinais químicos oriundos


A inflamação é uma resposta protetora que envolve das células dos tecidos infectados ou com dano. PAMPs
células do hospedeiro, vasos sanguíneos, proteínas e DAMPs em geral são reconhecidos e induzem a
e outros mediadores e destinada a eliminar a causa liberação de citocinas e outras substâncias. Leucócitos
inicial da lesão celular, bem como as células e são estimulados a se moverem para essas regiões e
tecidos necróticos que resultam da lesão original e tentam remover os agentes lesivos por fagocitose, que,
iniciar o processo de reparo. Normalmente, as em alguns casos, pode causar lesão em células sadias.
moléculas e as células de defesa do hospedeiro,
incluindo leucócitos e proteínas plasmáticas, As manifestações externas da inflamação, chamadas de
circulam no sangue, e o objetivo da reação sinais cardinais, são: calor (aquecimento), rubor
inflamatória é trazê-las para o local da infecção ou (vermelhidão), tumor (inchaço), dor (dolor) e perda de
da lesão tecidual. função (functio laesa).

Existem dois tipos básicos de inflamação: a aguda (de


curta duração e caracterizada pelo extravasamento de
líquido e proteínas plasmáticas e acúmulo de leucócitos,
principalmente neutrófilos) e a crônica (com duração que
varia de dias a anos, caracterizada por influxo de
linfócitos e macrófagos com proliferação vascular
associada e fibrose).

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Patologia Básica, Robbins, 2013
64
INFLAMAÇÃO AGUDA
A inflamação é uma resposta protetora do hospedeiro a
invasores estranhos e tecidos necróticos, porém ela
mesma pode causar lesão tecidual.

Os principais componentes da inflamação são a reação


vascular e a resposta celular; ambas são ativadas por
mediadores derivados das proteínas plasmáticas e de
várias células. As etapas da resposta inflamatória
podem ser lembradas como os cinco erres: (1)
reconhecimento do agente lesivo, (2) recrutamento dos
leucócitos, (3) remoção do agente, (4) regulação
(controle) da resposta e (5) resolução (reparo).

O resultado da inflamação aguda é a eliminação do


estímulo nocivo, seguida do declínio da reação e o
reparo do tecido lesado ou lesão persistente que resulta
em inflamação crônica. A inflamação aguda é uma
resposta rápida que leva ao aumento da concentração
de leucócitos e proteínas plasmáticas para os locais da
lesão. Possui dois componentes principais:
• Alterações vasculares, que levam ao aumento
do fluxo sanguíneo (vasodilatação) e aumento
da permeabilidade do vaso, que leva ao
Patologia Básica, Robbins, 2013 –Adaptado
extravasamento de proteínas plasmáticas.
Também ocorre a facilitação da migração de
Ambos os tipos de receptores induzem a expressão de
leucócitos.
moléculas que deflagrarão uma resposta de inflamação
• Alterações celulares: migração dos leucócitos
aguda. A IL-1 é um importante mediador do
(principalmente neutrófilos) e acúmulo na região
recrutamento de leucócitos.
da lesão e sua ativação.
A gota (doença articular) é causada pela deposição de
Esse tipo de inflamação pode ocorrer por estímulos cristais de urato, os quais são ingeridos por fagócitos e
advindos de infecções, trauma, necrose tecidual, ativam o inflamossomo, resultando na produção de IL-1
corpos estranhos e reações imunológicas (também e inflamação aguda.
chamadas de reações de hipersensibilidade).As
Estudos recentes mostraram que cristais de colesterol e
células necróticas, os microrganismos e as substâncias
ácidos graxos livres também ativam o inflamossomo,
estranhas são reconhecidos por meio de receptores, sugerindo que a IL-1 exerce um papel nas doenças
como o TLR (para microrganismos) e os inflamossomos comuns, como a aterosclerose (associada ao depósito
(dano celular, principalmente). de cristais de colesterol nas paredes vasculares) e
obesidade associada a diabetes tipo 2. Esses achados
permitem a possibilidade de tratamento dessas doenças
bloqueando-se a IL-1, da mesma forma com o
tratamento da gota.

EVENTOS VASCULARES
A vasodilatação é induzida por mediadores químicos
como a histamina (descrita mais adiante) e é a causa de
eritema e estase do fluxo sanguíneo.

O aumento da permeabilidade vascular é induzido pela


histamina, bradicina (e cininas em geral), leucotrienos e
outros mediadores que produzem aberturas entre as
células endoteliais; por lesão endotelial direta ou
induzida por leucócito e pelo aumento da passagem de
líquidos através do endotélio, que pode ocorrer por
contração das células endoteiais; o aumento da
permeabilidade vascular permite a entrada de leucócitos
e proteínas plasmáticas nos locais da infecção ou da
lesão do tecido; o líquido que extravasa dos vasos
sanguíneos resulta em edema.

65
(1) marginação e rolagem ao longo da parede do vaso;
(2) aderência firme ao endotélio; (3) transmigração entre
as células endoteliais e (4) migração para os tecidos
intersticiais, em direção a um estímulo quimiotático.

O aumento da porosidade dos capilares deixa o sangue


mais concentrado, graças ao extravasamento de líquido
rico em proteínas. Com isso, o sangue fica mais viscoso
e flui mais lentamente, processo chamado de estase.
Com isso, eritrócitos menores começam a se mover
mais rapidamente e os leucócitos, por serem maiores,
tendem a se dirigir para zonas circundantes mais
distantes do centro do vaso, processo chamado de
marginalização.

Na parede do vaso, esses leucócitos se ligam a


Patologia Básica, Robbins,2013 proteínas na membrana de células da parede celular que
foram estimuladas por citocinas a liberarem receptores
Além dos vasos sanguíneos, os vasos linfáticos de adesão. Transitoriamente, se desprendem desses
participam também da resposta inflamatória. Na receptores e se ligam a outros mais adiante. Esse
inflamação, o fluxo da linfa é aumentado e auxilia a processo é denominado rolamento.
drenagem do fluido do edema, dos leucócitos e restos
celulares do espaço extravascular. As moléculas de adesão relacionadas a esse processo
são as selectinas. São componentes de leucócitos que
EVENTOS CELULARES reconhecem açúcares, por isso chamado de lectina. Os
três membros dessa família são a E-selectina (também
Uma das principais funções da resposta aguda é o chamada CD62E), expressa nas células endoteliais; a
recrutamento de leucócitos para o combate. P-selectina (CD62P), presente no endotélio e nas
Normalmente, os leucócitos fluem rapidamente no plaquetas; e a L-selectina (CD62L), na superfície da
sangue e, na inflamação, eles têm de ser parados e maioria dos leucócitos. As selectinas ligam-se a
levados ao agente agressor ou ao local da lesão oligossacarídeos (p. ex., sialil-Lewis X nos leucócitos)
tecidual, sítios tipicamente extravasculares. que estão ligados às glicoproteínas semelhantes à
mucina, em várias células.
A sequência de eventos no recrutamento dos leucócitos
da luz vascular para o espaço extravascular consiste em

Patologia Básica, Robbins,2013

66
Patologia Básica, Robbins,2013
Após a expressão de IL-1 e TNF, ativam o aumento da infiltrado inflamatório, durante as primeiras 6-24 horas,
expressão de ligantes para integrinas – ICAM-1 sendo substituídos por monócitos em 24-48 horas.
(molécula 1 de adesão intercelular), a qual se liga às
integrinas LFA-1 (CD11a/ CD18) e antígeno macrófago Os leucócitos são recrutados do sangue para o tecido
1 (isto é, Mac-1 CD11b/CD18) e VCAM-1 (molécula 1 de extravascular, onde estão localizados os patógenos
adesão vascular ), que se liga à integrina VLA-4. infecciosos ou tecidos lesados, e são ativados para
executar suas funções.
Depois de se prender à parede epitelial, algumas
moléculas se desprendem e os leucócitos se espremem O recrutamento dos leucócitos é um processo de
em direção às junções epiteliais, em um movimento múltiplas etapas, consistindo em aderência transitória e
chamado diapedese. Isso permite que as células saiam rolagem no endotélio (mediadas por selectinas),
dos vasos. aderência firme ao endotélio (mediada por integrinas) e
migração por entre os espaços interendoteliais.
Após o extravasamento, os leucócitos migram em
direção ao local da lesão ou infecção, ao longo de um Várias citocinas promovem expressão de selectinas e
gradiente químico, processo chamado de quimiotaxia. ligantes de integrina no endotélio (TNF, IL-1), aumentam
Substâncias exógenas e endógenas podem atuar como a afinidade das integrinas por seus ligantes
fatores quimiotáticos para os leucócitos e incluem: (quimiocinas) e promovem a migração direcional dos
• Produtos bacterianos, particularmente os leucócitos (também quimiocinas); muitas dessas
peptídeos com terminal N-formil-metionil. citocinas são produzidas pelos macrófagos do tecido e
• Citocinas, especialmente as pertencentes à outras células que respondem aos patógenos ou tecidos
família das quimiocinas. lesados. Os neutrófilos predominam no infiltrado
inflamatório inicial e são depois substituídos pelos
• Componentes do sistema complemento, em
macrófagos.
particular o C5.
• Produtos da via da lipoxigenase do metabolismo Após esse processo de migração, os macrófagos
do ácido araquidônico (AA), particularmente o precisam ser ativados para exercerem suas funções.
leucotrieno B4 (LTB4). Algumas delas são:
• Fagocitose de partículas.
Os leucócitos se movem projetando pseudópodes que
• Destruição intracelular de micróbios e células
se ancoram na MEC e puxam a célula na direção da
mortas fagocitados, por substâncias produzidas
projeção. A direção desse movimento é especificada
nos fagossomos, incluindo espécies reativas do
pela alta densidade de receptores de quimiocina na
oxigênio e do nitrogênio e enzimas lisos-
margem dianteira da célula. Assim, os leucócitos se
sômicas.
movem para os sítios onde são necessários e lá são
retidos. • Liberação de substâncias que destroem
micróbios extracelulares e células mortas, em
Na maioria das formas de inflamações agudas, os grande parte as mesmas substâncias pro-
neutrófilos predominam no infiltrado inflamatório, duzidas dentro das vesículas fagocíticas. Um
durante as primeiras 6-24 horas, sendo substituídos por mecanismo recentemente descoberto pelo qual
monócitos em 24-48 horas. Provavelmente, essa os neutrófilos destroem microrganismos
diferença se dá porque os neutrófilos são os mais extracelulares é a formação de “armadilhas”
abundantes no sangue e se ligam mais facilmente às extracelulares.
integrinas. A explicação para o protagonismo, em • Produção de mediadores, incluindo as citocinas
segundo momento, dos monócitos se dá no fato de que, e os metabólitos do ácido araquidônico, que
após ativados, no tecido, os monócitos tem vida superior amplificam a reação inflamatória, por
a dos neutrófilos. Os neutrófilos predominam no recrutamento e ativação de mais leucócitos.
67
Patologia Básica, Robbins,2013
O reconhecimento da partícula, molécula, célula ou As quantidades produzidas de H2O2 são geralmente
microrganismo a ser fagocitado se dá graças à ação de insuficientes para destruir a maioria das bactérias
opsoninas, que são marcadores para a fagocitose. (embora a formação de superóxido e do radical hidroxila
Alguns exemplos são os anticorpos IgG, resíduos da o seja). No entanto, os lisossomas dos neutrófilos
degradação da proteína C3 do sistema complemento e (chamados de grânulos azurófilos) contêm a enzima
lectinas de ligação a carboidratos chamadas colectinas, mieloperoxidase (MPO), que, na presença de um
que se ligam a carboidratos da parede celular dos haloide como o Cl−, converte H2O2 em HOCl• (radical
microrganismos. hipocloroso). O HOCl• é um potente oxidante e agente
antimicrobiano (o NaOCl é o ingrediente ativo nos
Os leucócitos expressam receptores para opsoninas alvejantes) que destrói bactérias por halogenação ou por
que facilitam a rápida fagocitose dos micróbios oxidação de proteínas e lipídios.
revestidos. Esses receptores incluem o receptor Fc para
IgG (chamado FcγRI), receptores para os fragmentos 1 Os microrganismos mortos são, então, degradados por
e 3 do complemento (CR1 e CR3) e receptores de C1q enzimas lisossomais, chamadas hidrolases ácidas. É
para as colectinas. provável que a mais importante para o combate a
bactérias é a elastase.
Após englobadas pelos pseudópodes, uma série de
reações ocorre: Na incapacidade do leucócito em liberar seu conteúdo
• O englobamento e o reconhecimento dão na vesícula fagocíticas, como no caso do não
origem ao surto oxidativo, também chamado fechamento dos pseudópodes em redor ao patógeno, no
de burst respiratório. Esse surto é de materiais que não podem ser facilmente digeridos
caracterizado pelo consumo de oxigênio (como membranas basais glomerulares), causa a
elevado, quebra de glicose e aumento da liberação de enzimas lisossômicas no espaço
produção de ERO (espécies reativas de extracelular.
oxigênio).
• A formação de metabólitos do oxigênio aumenta Entretanto, vale a pena lembrar que existem outras
a ação de um NADPH-oxigenase chamada substâncias importantes presentes nos grânulos dos
oxidase de fagócito, que oxida NADPH e no leucócitos, como a proteína bactericida que aumenta
processo libera superóxido. Esse oxigênio a permeabilidade (causando ativação da fosfolipase e
reativo é convertido em peróxido e ambas as degradação dos fosfolipídios da membrana), a lisozima
espécies reativas destroem os micróbios por (que causa degradação do revestimento de oligos-
sua ação como radical livre. sacarídeos das bactérias), a proteína básica principal
(importante constituinte do grânulo do eosinófilo,
citotóxica para os parasitas) e as defensinas (peptídeos
68
que destroem micróbios criando poros em suas microrganismos em fibrilas formadas pela cromatina
membranas). nuclear. Isso serve como um recurso importante para
proteção contra patógenos infecciosos e mediadores
ARMADILHAS EXTRACELULARES DOS NEUTRÓFILOS inflamatórios como quimiocininas, citocinas, proteínas
(NETS) do complemento e ERO. Existem indícios que
proteínas nucleares das NETs estejam relacionadas
Neutrófilos podem liberar o conteúdo de seus núcleos,
com as fontes de antígenos em doenças autoimunes
associados a proteínas antimicrobicidas dos seus
como o lúpus.
grânulos, formando uma rede que prende os

Patologia Básica, Robbins,2013

Em alguns casos, os leucócitos podem causar dano


tecidual em regiões circundantes às lesões. Isso ocorre
em situações em que há perda de tecido (infarto do
miocárdio), doença autoimune ou ação exacerbada do
sistema imune a substâncias ambientais não tóxicas,
como no caso da asma.

As causas mais comuns de inflamações defeituosas são


a supressão da medula óssea causada por tumores e
quimioterapia ou radiação (que diminui o número de
leucócitos) e doenças metabólicas como diabetes (que
causa funções anormais nos leucócitos).

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69
Patologia Básica, Robbins,2013

RESULTADOS DA INFLAMAÇÃO AGUDA MORFOLOGIA DA INFLAMAÇÃO AGUDA


A inflamação aguda apresenta um dos três resultados: A inflamação serosa é caracterizada pelo
• Resolução: regeneração e reparo. Quando não extravasamento de um fluido aquoso, relativamente
há dano muito grande e o corpo dá conta de pobre em proteína que, dependendo do local da lesão,
iniciar o processo de degradação e destruição se origina do soro sanguíneo ou das secreções de
dos mediadores químicos, normalização do células mesoteliais que revestem as cavidades
grau de dilatação dos vasos, diminuição da peritoneal, pleural e pericárdica. A bolha cutânea por
migração de leucócitos e apoptose das células queimadura ou infecção viral é um exemplo.
de defesa ativadas. Além disso, os leucócitos
começam a liberar substâncias inibidoras da A inflamação fibrinosa ocorre como consequência de
inflamação e também citocinas que estimulam a lesões mais graves, resultando em maior
criação de vasos sanguíneos sobre a região permeabilidade vascular que permite a moléculas
lesada. grandes (como o fibrinogênio) atravessarem a barreira
• A inflamação crônica pode suceder a endotelial. Por exemplo, a organização de um exsudato
inflamação aguda se o agente nocivo não é fibrinoso pericárdico forma um denso tecido cicatricial
removido. Em alguns exemplos, os sinais de fibroso que transpõe ou oblitera o espaço pericárdico e
inflamação crônica podem estar presentes restringe a função do miocárdio.
desde o início da lesão (p. ex., em infecções
virais ou respostas imunes a antígenos A inflamação supurativa (purulenta) e a formação de
próprios). abscesso são caracterizadas pela presença de grande
• Cicatrização é o tipo de reparo que ocorre após quantidade de exsudato purulento (ou pus) consistindo
destruição tecidual substancial (como na em neutrófilos, células necróticas e líquido de edema.
formação de abscesso) ou quando a inflamação Certos microrganismos (p. ex., estafilococos) induzem
atinge tecidos que não se regeneram e são essa supuração localizada e, por isso, são chamados de
substituídos por tecido conjuntivo. Em órgãos piogênicos (formadores de pus).
nos quais ocorrem depósitos extensos de tecido
conjuntivo, na tentativa de curar a lesão ou Uma úlcera é um defeito local ou escavação da
como consequência de inflamação crônica, o superfície de um órgão ou tecido que é produzida por
resultado é a fibrose, que pode comprometer necrose das células e desprendimento (esfacelamento)
significativamente a função. do tecido inflamatório necrótico.

70
MEDIADORES QUÍMICOS E REGULADORES DA As ações da maioria dos mediadores são estreitamente
reguladas e de curta duração. Uma vez ativados e
INFLAMAÇÃO
liberados das células, os mediadores se decompõem
Os mediadores podem ser produzidos localmente pelas rapidamente (p. ex., os metabólitos do ácido
células no local da inflamação ou circular no plasma araquidônico) ou são inativados por enzimas (p. ex., a
(sintetizados pelo fígado), como precursores inativos cininase inativa a bradicinina) ou são removidos (p. ex.,
que são ativados no local da inflamação. antioxidantes removem metabólitos tóxicos do oxigênio)
ou são completamente inibidos (proteínas inibidoras do
complemento).

Patologia Básica, Robbins,2013

71
MEDIADORES DERIVADOS DE CÉLULAS
No local da inflamação, os macrófagos teciduais, os
mastócitos e as células endoteliais, bem como os
leucócitos recrutados do sangue para o local, são
capazes de produzir diferentes mediadores da
inflamação.

AMINAS VASOATIVAS
As duas aminas vasoativas são armazenadas em
mastócitos e em outras células, sendo uma das
primeiras a serem liberadas.

A histamina é produzida, principalmente, por


mastócitos adjacentes aos vasos, plaquetas e pelos
Patologia Básica, Robbins,2013
basófilos, além de algumas outras células. Causa
dilatação arteriolar, contração do endotélio venular e
aumento da permeabilidade dos vasos. Leucotrienos. Os leucotrienos são produzidos pela ação
da 5-lipoxigenase, principal enzima metabolizante do
É liberada sob a presença de reações envolvendo a AA, predominante nos neutrófilos. A primeira etapa da
ligação de IgE em receptores Fc dos mastócitos, síntese gera o leucotrieno A4 (LTA4), que por sua vez
fragmentos C3a e C5a do complemento (anafilatoxinas), origina o LTB4 ou LTC4. O LTB4 é produzido pelos
neuropeptídios (como a substância P), citocinas (IL-1 e neutrófilos e alguns macrófagos, e é um potente agente
IL-8) ou lesão física com trauma ou calor. quimiotático para neutrófilos. O LTC4 e seus metabólitos
subsequentes, LTD4 e LTE4, são produzidos
A serotonina (5-hidroxitriptamina) é um mediador principalmente nos mastócitos e causam vaso-
vasoativo pré-formado, encontrado primariamente nos constrição, broncoespasmo e aumento da
grânulos das plaquetas e liberado durante a agregação permeabilidade vascular.
plaquetária (Capítulo 3). Ela induz a vasoconstrição
durante a coagulação. É produzida principalmente em DROGAS ANTI-INFLAMATÓRIAS QUE BLOQUEIAM A
alguns neurônios e células enterocromafins, é um PRODUÇÃO DE PROSTAGLANDINA
neurotransmissor e regula a motilidade intestinal. A aspirina e a maioria das drogas anti-inflamatórias não
hormonais (AINEs), como o ibuprofeno, inibem a
METABÓLITOS DO ÁCIDO ARAQUIDÔNICO (AA): atividade da cicloxigenase e, portanto, todas as sínteses
PROSTAGLANDINAS, LEUCOTRIENOS E LIPOXINAS de PG (daí sua eficácia no tratamento da dor e da febre).
Os metabólitos do AA também chamados eicosanoides Há duas formas da enzima cicloxigenase, denominadas
(por serem derivados do carbono 20 dos ácidos graxos, COX-1 e COX-2.
do grego eicosa, “vinte”) podem mediar praticamente
cada etapa da inflamação. São estimuladas pelo A COX-1 é produzida em resposta a um estímulo
processo inflamatório e inibidos por inibidores da inflamatório e constitutivamente na maioria dos tecidos,
inflamação. onde estimula a produção de prostaglandinas que
exercem função homeostática (p. ex., equilíbrio
Prostaglandinas e tromboxanos. Os produtos da via hidroeletrolítico nos rins, citoproteção no trato
da cicloxigenase incluem as prostaglandinas E2 (PGE2), gastrintestinal).
PGD2, PGF2α, PGI2 (prostaciclina) e tromboxano A2
(TXA2), cada uma derivada da ação de uma enzima A COX-2, em contraste, é induzida por estímulos
específica sobre um intermediário. inflamatórios, mas está ausente da maioria dos tecidos
normais. Portanto, os inibidores da COX-2 foram
As plaquetas contêm a enzima tromboxano-sintetase, desenvolvidos com a expectativa de que eles inibissem
portanto, o TXA2, que é um potente agente de a inflamação prejudicial mas não bloqueassem os
agregação plaquetária e vasoconstritor, é a principal PG efeitos protetores das prostaglandinas produzidas
produzida nessas células. Por outro lado, as células constitutivamente.
endoteliais não têm tromboxano-sintetase, mas contêm
prostaciclina-sintetase, responsável pela formação da Além disso, os inibidores da COX-2 podem aumentar o
PGI2, um vasodilatador e potente inibidor da agregação risco para doença cerebrovascular e cardiovascular,
plaquetária. A PGD2 é o principal metabólito da via da provavelmente porque prejudicam a produção, pela
cicloxigenase nos mastócitos; em conjunto com PGE2 e célula endotelial, da prostaciclina PGI2, um inibidor de
PGF2α (que se distribuem mais amplamente), causa agregação plaquetária, mas conserva intacta a
vasodilatação e potencializa a formação de edema. As produção pelas plaquetas, mediada pela COX-1 de
PGs também estão envolvidas na patogenia da dor e TXA2, um mediador de agregação das plaquetas. Os
febre na inflamação; a PGE2 aumenta a sensibilidade à glicocorticoides, que são agentes anti-inflamatórios
dor a uma variedade de outros estímulos e interage com potentes, atuam em parte inibindo a atividade da
citocinas para causar febre. fosfolipase A2, inibindo, assim, a liberação de AA dos
lipídios de membrana.
72
Patologia Básica, Robbins,2013

73
RESUMO DO SISTEMA COMPLEMENTO

Patologia Básica, Robbins,2013


O sistema complemento causa aumento da
permeabilidade vascular, vasodilatação
REPARO TECIDUAL
FATOR DE ATIVAÇÃO PLAQUETÁRIA
A regeneração de tecidos é orientada pela proliferação
Originalmente nomeado por sua capacidade de agregar de células não lesadas (residuais) e substituição a partir
plaquetas e causar a sua desgranulação, o fator de de células-tronco.
ativação plaquetária (PAF) é outro mediador derivado
dos fosfolipídios, com amplo espectro de efeitos A proliferação celular ocorre quando células quiescentes
inflamatórios. Ele é gerado a partir dos fosfolipídeos da entram no ciclo celular. O ciclo celular é estreitamente
membrana de leucócitos, e é o acetil-gliceril-éter- regulado por ativadores e inibidores, e contém pontos de
fosforilcolina. Além disso, causa dilatação dos vasos e controle intrínsecos que evitam a replicação de células
dos brônquios. Também pode suscitar a maioria das anormais.
reações da inflamação, incluindo o aumento da
aderência dos leucócitos, a quimiotaxia, a des- Os tecidos são divididos em lábeis, estáveis e
granulação e o surto oxidativo. permanentes, de acordo com a capacidade proliferativa
INFLAMAÇÃO CRÔNICA de suas células.

• Febre: citocinas (TNF, IL-1) estimulam a Os tecidos que se dividem continuamente (lábeis)
produção de prostaglandinas no hipotálamo. contêm células maduras capazes de se dividir e células-
tronco que se diferenciam para substituir as células
• Produção de proteínas de fase aguda: proteína perdidas.
C reativa, outras; síntese estimulada por
citocinas (IL-6, outras) atuando nas células As células-tronco de embriões (células ES) são
hepáticas. pluripotentes; os tecidos adultos, particularmente a
• Leucocitose: citocinas (CSFs) estimulam a medula óssea, contêm células-tronco adultas capazes
produção de leucócitos a partir de precursores de regenerar múltiplas linhagens celulares.
na medula óssea. As células-tronco pluripotentes induzidas (células iPS)
• Em algumas infecções graves, choque séptico; são obtidas através da introdução de genes
queda da pressão sanguínea, coagulação característicos de células ES em células maduras. As
intravascular disseminada, anormalidades células iPS adquirem muitas características de células-
metabólicas; induzidas por altos níveis de TNF. tronco.

74
AÇÃO DO CORTISOL COMO ANTI -INFLAMATÓRIO fármaco e ativa, por sua vez o fator inibidor Kb. Este, por
sua vez, inativa o NF-Kb, que seria responsável por
Inicialmente, observa-se a utilização de um
ativar a produção de citocinas antimicrobianas. Em
medicamento corticoide, que à priori, é um anti-
tentativa de contrabalancear a falta de respostas imunes
inflamatório, mas age como um imunossupressor.
adaptativas eficientes, a medula óssea passa a
Quando há uma infecção, o corpo normalmente
disponibilizar neutrófilos em fases precoces de
reconhece o patógeno, e, por meio do TLR, ativa o NF-
maturação (não segmentados), e isso leva à presença
kb (fator de transcrição NF kappa beta) e estimula a
do efeito de desvio à esquerda.
produção de citocinas pró-inflamatórias.
OBS.: Caiu na prova de imunologia da turma 75. O
No caso do uso de corticoides por períodos superiores a
Cortisol é muito importante tanto para a fisiologia
7 dias, como no caso da paciente, e em concentrações
quanto para a imunologia.
suficientes, induz o reconhecimento intracelular do

Fonte: Sanar Medicina

REFERÊNCIAS
1. ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. H.
I. V. Imunologia celular e molecular. 9. ed. 2019
2. KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; FAUSTO, N.;
MITCHELL, R. N. Robbins. Patologia básica. 9.
ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013;

75
PROBLEMA 5
BACTÉRIAS E ANTIBIÓTICOS
Os procariotos são agrupados em dois domínios
diferentes, Archea e Bacteria.

Microbiologia – Tortora –12ªEd.

DOMÍNIO BACTERIA
Apesar de conhecermos as bactérias por serem
causadoras de doenças e causarem transtornos
grandes em humanos, poucas delas realmente são
causadoras de problemas. MACETE: nome feminino:
gram-negativa, o resto, positivo. Excessão: Listeria-
feminino e gram-positiva.

PROTEOBACTÉRIAS IMPORTANTES
As proteobactérias, que incluem a maioria das
bactérias gram-negativas quimio-heterotróficas,
presumidamente surgiram de um ancestral fotossintético
comum. Elas são agora o maior grupo taxonômico
bacteriano. O nome Proteobacteria vem do deus
mitológico grego Proteus, que podia assumir diversas
formas.As proteobacterias sao separadas em cinco
classes designadas por letras gregas:
alfaproteobacterias, betaproteobacterias,
gamaproteobacterias, deltaproteo-bacterias e
Microbiologia – Tortora –12ªEd.
epsilonproteobacterias.
76
Sob determinadas condições, particularmente em
Algumas que causam doenças em humanos: hospedeiros debilitados, a Pseudomonas aeruginosa
pode infectar o trato urinário, queimaduras e feridas,
Rickettsia: as riquétsias são alfaproteobactérias além de causar infecções sanguíneas, abscessos e
parasitas intracelulares obrigatórias. São Gram- meningite.
negativas em forma de bastonete ou cocobacilos e
podem ser transmitidos pela picada de insetos ou As Pseudomonas são muito resistentes e podem
carrapatos. Causam uma série de doenças ao entrar no sobreviver utilizando, como fonte de carbono, sabões e
citoplasma por induzir a fagocitose. Essas doenças adesivos de tampas de reagentes. Podem inclusive
formam o grupo da febre maculosa (tifo epidêmico, tifo sobreviver e crescer em antissépticos, como amônio
murinho endêmico e febre maculosa das Montanhas quaternário. Provavelmente isso se dá graças à
Rochosas). capacidade das porinas em suas membranas. As
bombas de efluxo são tão eficientes que podem eliminar
Ehrlichia: As Ehrlichiae são alfaproteobactérias gram- antibióticos de seu interior antes mesmo de começaram
negativas parecidas com riquétsias e que vivem a fazer efeito.
obrigatoriamente dentro dos leucócitos. As espécies de
Ehrlichia são transmissíveis aos seres humanos por Moraxella: Os membros do gênero Moraxella são
carrapatos e causam a erliquiose, doença muitas vezes cocobacilos aeróbios estritos – isto e, tem formato
fatal. intermediário entre cocos e bacilos. Moraxella lacunata
está relacionada à conjuntivite (inflamação da
Bartonella: O gênero Bartonella contém vários conjuntiva, a membrana que cobre o olho e reveste as
membros que são patógenos humanos. O membro mais pálpebras). Gamaproteobactérias.
conhecido e Bartonella henselae, bacilo gram-negativo
que causa a doença da arranhadura do gato. É uma Acinetobacter: Gamaproteobactérias aeróbias.
alfaproteobactéria. Geralmente presentes na água e no solo. A
Acinetobacter baumanii causa preocupação na
Brucella: As alfaproteobactérias Brucella são pequenos comunidade acadêmica por ficar resistente a antibióticos
cocobacilos sem motilidade. Todas as espécies de muito rapidamente. É um micróbio oportunista que pode
Brucella são parasitos obrigatórios de mamíferos e estar presente em unidades de saúde.
causam a doença brucelose. A capacidade de Brucella
de sobreviver a fagocitose, elemento importante das Coxiella: a Coxiella burnetii é uma gamaproteobactéria
defesas do corpo contra bactérias, é de interesse presente em carrapatos de boi e pode ser transmitida
médico. para humanos por meio de leite infectado. Causa a febre
Q. Pode produzir estruturas semelhantes a endósporos
Bordetella: O bastonete gram-negativo, aerobio e sem –mecanismo de sobrevivência da célula por meio da
motilidade, Bordetella pertussis, é de especial criação de “célula dormente” com o material genético
importância. Esse patógeno perigoso e a causa da muito bem embalado em várias camadas (endósporos
coqueluche, ou tosse convulsa. É uma são mais comuns em gram-positivas, como membros
betaproteobactéria. dos Clostridium e Bacillus) de forma a se proteger de
situações extremas de temperatura, radiação, poucos
Neisseria: As bactérias do gênero Neisseria são cocos nutrientes e até mesmo agentes químicos.
gram-negativos aeróbicos que, em geral, habitam as
membranas mucosas de mamíferos. As espécies Vibrionalles: gamaproteobactérias do tipo bacilo
patogênicas incluem o gonococo Neisseria (curvado) gram-negativo anaeróbios facultativos. Um
gonorrhoeae, o agente causador da gonorreia e N. patógeno importante e Vibrio cholerae, o agente
meningitidis, o agente da meningite meningocócica. causador da cólera. A doença e caracterizada por uma
diarreia profusa e aquosa. V. parahaemolyticus causa
Meningite: Algumas espécies podem causar uma forma menos grave de gastrenterite.
meningite bacteriana, como Neisseria meningitidis,
Streptococcus pneumoniae, Enterobacter sakazakii, Enterobacterias: Os membros da ordem
Haemophilus influenzae (em crianças). Enterobacteriales são bastonetes gram-negativos,
anaeróbios facultativos, que se locomovem por um
Francisella: Francisella é um gênero composto por flagelo peritríquio. Esse nome reflete o fato de que eles
pequenas gamaproteobactérias pleomórficas que habitam o trato intestinal de seres humanos e outros
crescem apenas em meios complexos enriquecidos com animais. A maioria das bactérias entéricas são
sangue ou extratos teciduais. Francisella tularensis fermentadores ativos de glicose e outros carboidratos.
causa a doença tularemia. Gamaproteobactérias.

Pseudomonas Um gênero muito importante, Escherichia A espécie bacteriana Escherichia coli e um


Pseudomonas consiste em bastonetes gram-negativos dos habitantes mais comuns do trato intestinal de seres
aeróbios que se locomovem através de um único flagelo humanos e provavelmente e o organismo mais
polar ou por tufos de flagelos. Gamaproteobactérias. conhecido da microbiologia. E. coli normalmente não é
patogênica. No entanto, ela pode ser uma causa de
infecções do trato urinário e determinadas linhagens
77
produzem enterotoxinas, que provocam a diarreia do
viajante e, ocasionalmente, doenças transmissíveis por Haemophilus influenzae é responsável por diversas
alimentos muito graves. Gamaproteobactérias. doenças importantes. Tem sido causa comum de
meningite em crianças jovens e uma causa frequente de
Salmonella: Quase todos os membros desse gênero dor de ouvido. Outras condições clinicas causadas por
são potencialmente infecciosos para animais de sague H. influenzae incluem epiglotite (condição
quente. Um sorovar (subtipo diferente da mesma potencialmente letal em que a epiglote fica infectada e
espécie) como a Salmonella typhimurium não é uma inflamada), artrite séptica em crianças, bronquite e
espécie, sendo mais corretamente denominado pneumonia. Haemophilus ducreyi é a causa da doença
Salmonella enterica sorovar typhimurium. sexualmente transmissível conhecida como cancroide.
Gamaproteobactérias. Gamaproteobactérias.

A febre tifoide, causada por Salmonella typhi, e a As deltaproteobactérias estão mais relacionadas ao
doença mais grave causada por qualquer membro do ciclo do enxofre e bactérias predadoras de bactérias. As
gênero Salmonella. Uma doença gastrintestinal menos betaproteobactérias se relacionam mais a doenças de
grave causada por outras salmonelas é chamada de plantas.
Salmonelose. A Salmonelose é uma das doenças
transmissíveis por alimentos mais comuns. Campylobacter: As bactérias Campylobacter são
vibriões microaerofílicos; cada célula tem um flagelo
Shigella: As espécies de Shigella são responsáveis por polar. Uma espécie, C. fetus, causa aborto espontâneo
uma doença chamada de disenteria bacilar, ou em animais domésticos. Outra espécie, C. jejuni, é a
shigelose. Encontradas apenas em seres humanos. principal causa de surtos de doença intestinal de origem
Gamaproteobactérias. alimentar. Epsilonproteobactérias.

Klebsiella: Os membros do gênero Klebsiella são Helicobacter: As bactérias Helicobacter são bastonetes
comumente encontrados no solo ou na água. A espécie curvos microaerofilicos com flagelos múltiplos. A
Klebsiella pneumoniae ocasionalmente causa uma espécie Helicobacter pylori foi identificada como a causa
forma grave de pneumonia em seres humanos. mais comum de ulceras pépticas em seres humanos e
Gamaproteobactérias. uma das causas do câncer de estômago.
Epsilonproteobactérias.
Serratia: Serratia marcescens e uma espécie
bacteriana diferenciada devido a sua produção de um
BACTERIODETES IMPORTANTES
pigmento vermelho. Costuma causar infecções urinárias
e respiratórias em hospitais. Gamaproteobactérias. O filo Bacteroidetes inclui diversos gêneros de bactérias
anaeróbias. Entre eles, estão o gênero Bacteroides, um
Proteus: Esse gênero de bactéria está envolvido em habitante comum do trato intestinal humano, e o gênero
uma série de infecções do trato urinário e feridas. Prevotella, encontrado na boca humana.
Gamaproteobactérias.
Bacteroides As bactérias do gênero Bacteroides vivem
Yersinia: Yersinia pestis causa a peste, a Peste Negra no trato intestinal humano em números que se
da Europa Medieval. Gamaproteobactérias. aproximam a 1 bilhão por grama de fezes. As infecções
causadas por Bacteroides geralmente resultam de
Enterobacter: Duas espécies de Enterobacter, E. ferimentos ou cirurgias. Bacteroides são uma causa
cloacae e E. aerogenes, podem causar infecções do frequente de peritonite, uma inflamação resultante de
trato urinário e infecções hospitalares. uma perfuração intestinal.
Gamaproteobactérias.
SPPIROCHAETES IMPORTANTES
Cronobacter: Cronobacter é um gênero de bactérias
Treponema As espiroquetas incluem várias bactérias
gram-negativas, em forma de bastonete, da família
patogênicas importantes. As espiroquetas mais
Enterobacteriaceae. O representante da espécie é
conhecidas pertencem ao gênero Treponema, que inclui
Cronobacter sakazakii, previamente conhecido como
Treponema pallidum, a causa da sífilis.
Enterobacter sakazakii. Esse organismo pode causar
meningite e enterocolite necrosante em lactentes.
Borrelia Os membros do gênero Borrelia causam a
Gamaproteobactérias.
febre recorrente e a doença de Lyme (irritação na pele
em forma de alvo), doenças graves que, em geral, são
Haemophilus Haemophilus é um genero
transmissíveis por carrapatos ou piolhos.
importantíssimo de bacterias patogenicas. Esses
organismos são encontrados nas membranas mucosas
Leptospira A leptospirose é uma doença geralmente
do trato respiratório superior, na boca, na vagina e no
disseminada entre os seres humanos através da água
trato intestinal. A espécie mais conhecida que afeta os
contaminada por espécies de Leptospira.
seres humanos é Haemophilus influenzae, assim
denominada devido a uma crença errônea, muito antiga,
de que ela fosse a responsável pela influenza.
Gamaproteobactérias.
78
GRAM-POSITIVAS IMPORTANTES como o trato gastrintestinal, a vagina e a cavidade oral.
Duas espécies, Enterococcus faecalis e Enterococcus
As bactérias gram-positivas de baixo índice de G + C
faecium, são responsáveis por grande parte das
são classificadas no filo Firmicutes. Esse grupo inclui
infecções de feridas cirúrgicas e do trato urinário.
bactérias formadoras de endósporos importantes, como
os gêneros Clostridium e Bacillus. Também de extrema
Mycoplasma: Os micoplasmas são altamente
importância em microbiologia medica são os gêneros
alomórficos, uma vez que não possuem parede celular.
Staphylococcus, Enterococcus e Streptococcus.
O patogeno humano mais importante entre os
micoplasmas é M. pneumoniae, a causa de uma forma
Clostridium Os membros do gênero Clostridium são
comum de pneumonia branda.
anaeróbios obrigatórios. As doenças associadas aos
clostrídeos incluem o tétano, causado por C. tetani; o
As bactérias gram-positivas com alto índice de G + C
botulismo, causado por C. botulinum; e a gangrena
estão incluídas no filo Actinobactéria.
gasosa, causada por C. perfringens e outros clostrídeos.
C. perfringens também e a causa de uma forma comum
Mycobacterium: As microbactérias são bastonetes
de diarreia de origem alimentar. C. difficile é um
aeróbios, não formadores de endósporos. O nome
habitante do trato intestinal que pode causar diarreia
myco, que significa semelhante a fungo, originou-se de
grave.
sua exibição ocasional de um crescimento filamentoso.
As microbactérias incluem os patógenos importantes
Bacillus Em geral, as bactérias do gênero Bacillus são
Mycobacterium tuberculosis, que causa a tuberculose, e
bastonetes que produzem endósporos. Bacillus
M. leprae, que causa a hanseníase.
anthracis causa o antraz, uma doença que ataca o gado,
ovelhas e cavalos, e que pode ser transmissível para os
Corynebacterium: As corinebactérias (coryne= forma
seres humanos. Bacillus cereus é uma bactéria comum
de clava) tendem a ser pleomórficas e sua morfologia
no meio ambiente e ocasionalmente e identificada como
muitas vezes varia com a idade das células. A especie
a causa de intoxicação alimentar, sobretudo em
mais conhecida é Corynebacterium diphtheriae, o
alimentos contendo amido, como o arroz.
agente causador da difteria.
Staphylococcus Os estafilococos costumam ocorrer
Propionibacterium: são capazes de produzir ácido
em agregados na forma de cacho de uva. S. aureus
propiônico. Propionibacterium acnes é uma bactéria
produz muitas toxinas que contribuem para a
comumente encontrada na pele humana, sendo
patogenicidade da bactéria, aumentando sua
considerada a principal causa bacteriana de acne.
capacidade de invadir o corpo e danificar os tecidos. A
infecção com esse tipo de bactéria é comum em
Gardnerella: Gardnerella vaginalis é uma bactéria que
hospitais, já que ela pode adquirir resistência a
causa uma das formas mais comuns de vaginite (é uma
antibióticos muito rapidamente. A S. aureus produz a
gram-variável).
toxina responsável pela síndrome do choque toxico,
uma infecção grave caracterizada por febre alta, vômitos
Actinomyces: O gênero Actinomyces consiste em
e, às vezes, morte. S. aureus também produz uma
anaerobios facultativos que são encontrados na boca e
enterotoxina que causa vomito e náuseas quando
na garganta de seres humanos e animais. Uma espécie,
ingerida; ela e uma das causas mais comuns de
Actinomyces israelii, causa a actinomicose, doença que
intoxicação alimentar.
causa a destruição de tecidos, geralmente afetando a
Streptococcus: Os membros do gênero Streptococcus cabeça, o pescoço e os pulmões.
são bactérias gram-positivas esféricas que comumente
aparecem em cadeias. São causadoras de transtornos Nocardia: O gênero Nocardia assemelha-se
diversos. morfologicamente aos Actinomyces; entretanto, essas
bactérias são aeróbias. Algumas espécies, como a
Streptococcus pyogenes, também conhecido como Nocardia asteroides, ocasionalmente causam uma
estreptococos beta-hemoliticos do grupo A. Entre as infecção pulmonar crônica, de difícil tratamento. N.
doenças causadas por S. pyogenes estão a febre asteroides também e um dos agentes causadores do
escarlatina, a faringite (dor de garganta), erisipela, micetoma, uma infecção localizada destrutiva nos pês e
impetigo e a febre reumática. O fator de virulência mais nas mãos.
importante é a proteína M da superfície bacteriana, por
meio da qual desviam de fagócitos. Streptococcus OBS.: As espécies de Streptomyces sao importantes
agalactiae, se encontra no grupo beta-hemolítico B. porque produzem a maioria dos antibióticos. Isso
Essa é a única espécie que apresenta o antígeno do levou a um estudo intensivo do gênero – existem
grupo B e é a causa de uma importante doença de cerca de 500 espécies descritas.
recém-nascidos, a septicemia neonatal. Streptococcus
mutans, é um não beta-hemolítico que é a principal Esses organismos são estritamente aeróbicos. Eles,
causa das caries dentarias com frequência, produzem enzimas extracelulares que
permitem a utilização de proteínas, polissacarídeos
Enterococcus: Os enterococos são adaptados a áreas (como o amido e a celulose) e muitos outros materiais
do corpo ricas em nutrientes, mas pobres em oxigênio, orgânicos encontrados no solo.

79
1944 – Selman Abraham Waksman e colaboradores Os cocos são arredondados e podem se ajuntar
isolaram a estreptomicina de uma cepa Streptomyces, a formando diplococos, estreptococos (em cadeia),
primeira droga efetiva contra o bacilo da tuberculose. tétrades, cocobacilos ou sarcinas.
Estreptomicina é um antibiótico aminoglicosídeo
produzido pelo Streptomyces griseus ctinomicetos solo. Os bacilos são bactérias em forma de bastão e essa
Atua através da ligação à subunidade ribossómica 30S palavra também pode representar um gênero, Bacillus,
de organismos susceptíveis e perturbar os passos de desde que escrito em itálico.
iniciação e alongamento da síntese de proteínas.
As espirais podem ser vibriões (bastões curvos),
espirilos (helicoidais), ou espiroquetas (helicoidais e
flexíveis).

Microbiologia – Tortora –12ªEd.

A CÉLULA PROCARIÓTICA
A maioria das bactérias varia de 0,2 a 2 µm de diâmetro
e de 2 a 8 µm de comprimento. Elas podem ter formato
de esfera (cocos, que significa frutificação), de bastão
(bacilos, que significa bastonete ou bengala) e de
espiral.

Microbiologia – Tortora –12ªEd.


Microbiologia – Tortora –12ªEd.

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Geralmente, a forma que adquirem é determinada pela
genética (monomórfica), mas podem apresentar outras,
como no caso das Rhizobium e Corynebacterium, que
são geneticamente pleomórficas.

COMPONENTES DE MEMBRANA
Glicocálice: O glicocálice bacteriano é um polímero
viscoso e gelatinoso que está situado externamente à
parede celular e é composto por polissacarídeo,
polipeptídio ou ambos. Sua composição química varia
amplamente entre as espécies. É produzido
internamente e depois exteriorizado. Se for presente e
aderida firmemente à toda parede celular, é denominada
cápsula. Ela permite fixação, também.

Em algumas espécies, a presença da cápsula define sua


virulência, já que essa característica se relaciona à
capacidade de resistir ao macófago. Por exemplo,
Bacillus anthracis produz uma cápsula de ácido d-
glutâmico. Somente as encapsuladas causam o antraz.
Outro exemplo envolve Streptococcus pneumoniae, o
qual causa pneumonia apenas quando as células se
encontram protegidas por uma cápsula polissacarídica.

Flagelos: são longos apêndices filamentosos que


servem para a propulsão das bactérias e as células que
não tem essas estruturas, são chamadas de atríquias.

Os flagelos podem ser peritríquios (distribuídos ao


longo de toda a célula) ou polares (em uma ou ambas
as extremidades da célula). No caso de flagelos polares,
eles podem ser monotríquios (um único flagelo em um
polo da célula), lofotríquios (um tufo de flagelos saindo
de um polo da célula) ou anfitríquios (flagelos em
ambos os polos da célula).

Microbiologia – Tortora –12ªEd.

Filamentos axiais (endoflagelos): são exclusivos


das espiroquetas (como, por exemplo, o Treponema
pallidum, causador da sífilis). Servem para locomoção e
se originam nas extremidades das células, sob uma
bainha externa.

Microbiologia – Tortora –12ªEd.

O flagelo é subdividido em três porções principais:


filamento (região longa), gancho (segura o filamento) e
corpo basal (prende essa estrutura à parede celular).
Vale salientar que as bactérias gram-negativas
possuem, no corpo basal de seus flagelos, dois pares de
anéis, que estão na parte mais interna e externa,
respectivamente. As gram-positivas apresentam apenas
o par de anéis mais interno.

Os flagelos de procariotas se movimentam por rotação


(no sentido horário ou anti-horário), enquanto os de
eucariotos se movimentam de forma ondulante.
Microbiologia – Tortora –12ªEd.
81
Fímbrias e pili: ambas as estruturas consistem em uma classifica as bactérias em dois grandes grupos: gram-
proteína disposta em formato helicoidal, chamada pilina. positivas e gram-negativas.

As fímbrias podem ocorrer nos polos ou estarem Para esse processo, um esfregaço (pequena quantidade
distribuídas uniformemente na superfície. Auxiliam a de matéria orgânica sobre uma lâmina) fixado em calor
adesão da célula ao corpo de hospedeiros, o que facilita é coberto com corante básico púrpura, que geralmente
a promoção de colônias. é cristal violeta. Assim que todas as células estiverem
coradas, a coloração é chamada primária.
Os pili (singular pilus) são geralmente mais longos do
que as fímbrias e há apenas um ou dois por célula, e se Após isso, o corante é lavado e o esfregaço é coberto
relacionam à motilidade pulsante e à troca de material com um mordente (auxilia a manutenção da cor), que é
genético. o iodo. Após essa etapa, tanto as gram-positivas quanto
as gram-negativas aparecem em violeta-escura ou
púrpura.
PAREDE CELULAR
A parede celular é composta de peptideoglicano A seguir, a lâmina é lavada com o álcool, que atua como
(também chamada da mureína) e tem função de impedir um agente descorante, quer remove a cor de algumas
a ruptura de células bacterianas quando a pressão de espécies, mas não de outras. O álcool é lavado e a
água for maior no interior do que no exterior. O lâmina é corada com Safranina, um corante básico
peptideoglicano consiste em um dissacarídeo ligado por vermelho. O esfregaço é então lavado, seco com papel
polipeptídeos de forma a criar uma rede que protege e levado ao microscópio.
toda a célula.
As bactérias que apresentarem coloração são
A porção dissacarídea é formada por monossacarídeos denominadas gram-positivas e as que não
denominados N-acetilglicosamina (NAG) e ácido N- apresentarem cor, gram-negativas.
acetilmurâmico (NAM).
A diferença de cor se dá por causa das características
de membrana de cada uma das células. Na positiva,
existe uma parede celular mais espessa, e os cristais e
o iodo conseguem passar facilmente pela membrana.
Entretanto, dentro das células (nos dois tipos), ambos se
ligam e se tornam uma molécula maior, o que impede a
sua saída. Quando lavadas com álcool, as gram-
positivas não perdem seu corante, enquanto as gram-
negativas, que tem uma fina camada contendo
lipopolissacarídeos, perdem os lipídeos da superfície
com a lavagem. Isso cria aberturas na membrana que
facilitam a perda do corante, tornando a célula incolor.
Somente com a aplicação da safranina elas adquirem
coloração levemente rosada.

PAREDES CELULARES GRAM-POSITIVAS


Microbiologia – Tortora –12ªEd.
Na maioria das bactérias gram-positivas, a parede
NAG e NAM são ligadas em filas de 10 a 65 açúcares celular consiste em muitas camadas de peptideoglicano,
para formar um esqueleto de carboidratos. Fileiras formando uma estrutura rígida e espessa. O espaço
subsequentes são unidas por polipeptídios e formam entre a membrana plasmática e a parede celular é
ligações peptídicas que variam, mas sempre chamada de espaço periplasmático.
apresentam ligações de cadeias laterais tetrapeptídicas.
Os aminoácidos ocorrem em um padrão alternado de Além disso, as paredes celulares das bactérias gram-
formas D e L. As cadeias laterais podem se ligar, positivas contêm ácidos teicoicos, que consistem
ocasionalmente, umas às outras por meio de pontes principalmente em um álcool (como o glicerol ou ribitol)
cruzadas de peptídeo. e fosfato. Existem duas classes de ácidos teicoicos: o
ácido lipoteicoico, que atravessa a camada de
A Penicilina (a maioria das gram-negativas não é tão peptideoglicano e está ligado à membrana plasmática, e
sensível à penicilina) age interferindo na ligação final das o ácido teicoico da parede, o qual está ligado à camada
cadeias de fileiras de peptideoglicano através das de peptideoglicano.
pontes cruzadas peptídicas, de forma que a parede
celular fica instável e fraca, o que ocasiona a lise celular. Graças ao grupo fosfato, os ácidos teitoicos conseguem
se ligar e controlar o movimento de cátions para dentro
COLORAÇÃO DE GRAM e fora da célula. Também, conferem especificidade
A coloração de Gram foi desenvolvida em 1884 pelo antigênica à parede, o que torna possível identificar
bacteriologista dinamarquês Hans Christian Gram. Ela é bactérias gram-positivas por meio de exames
um dos procedimentos de coloração mais úteis, pois laboratoriais.
82
PAREDES CELULARES GRAM-NEGATIVAS espécie e de espécies intimamente relacionadas, como,
por exemplo, as bactérias patogênicas Salmonella e
As paredes celulares de bactérias gram-negativas
Shigella.
possuem uma ou poucas camadas de peptideoglicano e
uma membrana externa. O peptideoglicano está ligado
Também, a microbiota normal do intestino grosso pode
a lipoproteínas na membrana externa e está localizada
ser eliminada pelo uso prolongado de antibióticos. Isso
no periplasma.
pode favorecer um ambiente em que a C. difficile, que
normalmente não consegue se estabelecer nesse local,
Elas possuem pequena quantidade de peptideoglicano,
se multiplique, suas toxinas sejam reconhecidas pelo
o que facilita a ruptura da membrana, que é composta
organismo e cause transtornos como diarreias leves e
por lipopolissacarídeos (LPS), lipoproteínas e
até mesmo colite pseudomembranosa.
fosfolipídeos. A carga negativa da membrana é
importante fator de evasão a fagocitose e nas ações do
A relação entre a microbiota normal e o hospedeiro é
complemento. O LPS tem três componentes, o lipídeo A
chamada de simbiose, uma relação na qual um dos
(endotoxina), o cerne polissacarídeo e polissacarídeo O.
organismos é dependente do outro. Na relação
Sendo esse último um importante pois se projeta para
simbiótica chamada comensalismo, um dos dois se
fora da membrana e pode ser utilizado para diferenciar
beneficia enquanto um é “indiferente”, como por
diferentes sorovares.
exemplo Staphylococcus epidermidis, que habita a pele,
corinebactérias, que habitam a superfície do olho e
A membrana externa também fornece uma barreira
determinadas micobactérias saprofíticas (ou saprófitas,
contra a ação de detergentes, metais pesados, sais
segundo o Google), que habitam o ouvido e genitálias
biliares, determinados corantes, antibióticos (p. ex.,
externas.
penicilina) e enzimas digestórias como a lisozima.
MICROBIOTA NORMAL Mutualismo é a relação que beneficia ambos, como as
E. coli, que depende de nutrientes do intestino grosso e,
Antes de nascer, os seres humanos não apresentam em troca, sintetiza vitamina K e algumas do complexo B.
micróbios. O primeiro contato ocorre com lactobacilos
presentes na vagina que começam a se multiplicar antes Essa organização em relações simbióticas é
do parto e, consequentemente, também por causa do interessante, porém, podem se modificar em situações
leite, se tornam os principais microrganismos presentes específicas. A E. coli, apesar de ser benéfica enquanto
no intestino do bebê. no intestino grosso, pode causar meningite quando
presente na medula espinha, infecções urinárias
A partir da ingestão de outros alimentos, bactérias enquanto no trato urinário, infecção pulmonar, enquanto
diferentes começam a colonizar o intestino, como a E. nas vias aéreas, ou abcessos, em feridas. Esse tipo de
Coli, presente até o final da vida e, em resposta a microrganismo é chamado de patógeno oportunista.
estímulos diversos, podem aumentar ou diminuir sua
população. POSTULADOS DE KOCH
1. O mesmo patógeno deve estar presente em todos os
Os microrganismos que habitam mais ou menos
casos da doença.
permanentemente no organismo, mas não produzem
2. O patógeno deve ser isolado do hospedeiro doente e
doença em condições normais, são chamados de
cultivado em cultura pura.
microbiota normal ou flora normal.
3. O patógeno obtido da cultura pura deve causar a
doença quando inoculado em um animal de laboratório
Os que passam dias, ou até semanas no organismo, e
suscetível e saudável.
depois desaparecem, são chamados de microbiota
4. O patógeno deve ser isolado do animal inoculado e
transiente.
deve ser, necessariamente, o organismo original.
Os fatores que determinam o local de fixação desses
Existem exceções a esses postulados, que se referem a
microrganismos variam. Por exemplo, o tipo de nutriente
microrganismos que possuem aspectos nutricionais
necessário, o pH, a disponibilidade de oxigênio ou
únicos que impedem seu cultivo, como o Treponema
dióxido de carbono, salinidade e luz solar, são fatores
pallidum, ou Mycobacterium leprae, que nunca foram
determinantes. Também, fatores mecânicos como
cultivados em meio artificial.
movimentação excessiva, passagem de fluidos e
concentração de defesas como o muco podem impedir
Outro problema é o de doenças que são causadas por
a aderência a determinado local.
patógenos diferentes e geram os mesmos sinais e
sintomas, como no caso da nefrite, das pneumonias, nas
Uma vez estabelecida, a microbiota normal auxilia o
meningites e as peritonites.
organismo na proteção a patógenos, fato que é
chamado de antagonismo microbiano ou exclusão
Por outro lado, alguns patógenos podem causar
competitiva. Um exemplo, é a microbiota vaginal, que
doenças diferentes, como por exemplo o Mycobacterium
mantém o pH em torno de 4 e impede a proliferação de
tberculosisis, associado a doenças dos pulmões, da
C. albicans, um fungo causador de vaginite. Outro
pele, dos ossos e dos órgãos internos. Logo, vai contra
exemplo é a E. coli, que libera bacteriocinas, proteínas
a ideia de um patógeno como causador de uma doença
que inibem o crescimento de bactérias da mesma
específica como regra geral.
83
FÁRMACOS ANTIMICROBIANOS • Em combinação com trimetoprima
(cotrimoxazol) no caso de Pneumocystis carinii
Os fármacos antimicrobianos podem ser bactericidas (agora conhecida por P. jirovecii) para
(destroem os micróbios diretamente, interferindo na tratamento de toxoplasmose e nocardiose.
síntese da parede celular ou inibem enzimas • Em combinação com pirimetamina para
importantes) ou bacteriostáticos (impedem o tratamento da malária resistente aos fármacos e
crescimento dos micróbios por inibir a síntese de da toxoplasmose.
proteínas). Na bacteriostase, as próprias defesas do • Nas doenças inflamatórias do intestino: é
hospedeiro, como a fagocitose e a produção de utilizada a sulfassalazina (combinação
anticorpos, normalmente destroem o microrganismo. sulfapiridina-ácido aminossalicílico).
• Em feridas infectadas (sulfadiazina de prata
AGENTES ANTIBACTERIANOS QUE INTERFEREM NA aplicada topicamente).
SÍNTESE OU NA AÇÃO DO ÁCIDO FÓLICO
ANTIBIÓTICOS INIBIDORES DA SÍNTESE DE PARECDE
SULFONAMIDAS CELULAR
Dogmak, na década de 1930, antes da penicilina, utilizou
prontosil, um pró-fármaco inativo que, metabolizado in PENICILINAS
vivo, gera um produto ativo, a sulfanilamida. Os únicos As penicilinas são geralmente combinadas com outros
fármacos sulfonamidas ainda correntemente utilizados antibióticos e mantém importância crucial na
como antibacterianos sistêmicos são o sulfametoxazol quimioterapia antibacteriana, porém podem ser
(em geral, combinado com trimetoprima, como destruídas por enzimas amidases e β-lactamases,
cotrimoxazol), sulfassalazina (mal absorvida no trato sendo que essas representam a principal forma de
gastrointestinal, utilizada para tratar a colite ulcerosa e a resistência a esse antibiótico.
doença de Crohn). Também existem outros, como
prasugrel, inibidor da ativação das plaquetas e Todos os beta-lactâmicos agem impedindo a síntese de
acetazolamida, inibidor da anidrase carbônica. proteoglicano. Se ligam às proteínas de ligação à
penicilina nas bactérias e inibem as transpeptidases que
Essa classe de medicação é composta por inibidores ligam os peptídeos por cruzamento.
competitivos da enzima di-hidropteroato sintetase, que
utiliza o ácido paraminobenzóico (PABA), que é um As primeiras penicilinas foram a benzilpenicilina
precursor na síntese de ácido fólico, que é importante (penicilina G) e congêneres, incluindo a
para a síntese de DNA e RNA. Esses medicamentos não fenoximetilpenicilina (penicilina V). O problema é que
funcionam em presença de pus, já que as bactérias elas são muito suscetíveis a enzimas que as degradam.
podem usar as purinas e tidimina diretamente, sem Também existem as resistentes às β-lactamases (p. ex.,
precisar produzir o ácido fólico. Meticilina, flucloxacilina, temocilina) e penicilinas de
largo espectro (p. ex., ampicilina, amoxicilina).
TRIMETOPRIMA
Assim como o antimalárico pirimetamina, esse é um CEFALOSPORINAS E CEFAMICINAS
medicamento antagonista do ácido fólico. Além de As cefalosporinas e as cefamicinas são antibióticos β-
combater bactérias, também atua contra protozoários e, lactâmicos, inicialmente isoladas a
muitas vezes, esse fármaco é aplicado junto ao partir de fungos. Apresentam o mesmo mecanismo de
sufametoxazol, já que ambas atuam impedindo a ação das penicilinas.
síntese de folato.
CARBAPENEMOS
Os carbapenemos são uma classe de antibióticos _-
lactâmicos em que um átomo de carbono é substituído
por um átomo de enxofre e uma ligação dupla é
adicionada ao núcleo da penicilina. Esses antibióticos
inibem a síntese da parede celular e têm um espectro de
atividade extremamente amplo. Um representante
desse grupo é a Primaxina, combinação de imipenem e
cilastatina.

MONOBACTAMOS
Outro método de evitar os efeitos da penicilinase é
mostrado pelo aztreonam, que é o primeiro membro de
uma nova classe de antibióticos. O espectro de atividade
do aztreonam é surpreendente para um composto
relacionado à penicilina – antibiótico que apresenta
Farmacologia – Rang Dale – 8ª Ed
toxicidade excepcionalmente baixa e afeta apenas
Aplicações clínicas:
84
determinadas bactérias gram-negativas, incluindo as interferem na atividade dos ribossomos de mamíferos
pseudomonadas e E. coli. por não penetrarem de forma eficiente nas células
eucarióticas intactas. Entretanto, pelo menos pequenas
GLICOPEPTÍDEOS quantidades do fármaco podem entrar nas células do
A vancomicina é um antibiótico glicopeptídeo, e a hospedeiro, o que justifica o fato de patógenos
teicoplanina é semelhante, embora com maior duração intracelulares, como clamídias e riquétsias, serem
de ação. A vancomicina inibe a síntese da parede sensíveis às tetraciclinas.
celular. É principalmente efetiva contra as bactérias
Gram-positivas. A vancomicina não é absorvida no As células eucarióticas têm ribossomos 80S, ao passo
intestino e é administrada apenas por via oral no que as células procarióticas têm ribossomos 70S. A
tratamento de infecções gastrointestinais por C. difficile. diferença na estrutura ribossomal é a razão da
toxicidade seletiva dos antibióticos que afetam a síntese
A vancomicina vem sendo considerada a última linha de de proteínas.
defesa antibiótica no tratamento de infecções por
Staphylococcus aureus que são resistentes a outros Os macrolídeos formam um grupo de antibióticos que
antibióticos. recebeu este nome devido à presença de um anel
lactônico macrocíclico. A eritromicina é o fármaco de
Bacitracina A bacitracina (nome derivado de sua escolha no tratamento da legionelose, pneumonias por
origem, bactéria do gênero Bacillus isolada de um micoplasma e diversas outras infecções. Outros
ferimento de uma meninachamada Tracy) é um macrolídeos recentemente disponíveis incluem a
antibiótico polipeptídico efetivo principalmente contra azitromicina e a claritromicina. Comparadas à
bactérias gram-positivas, como estafilococos e eritromicina, elas apresentam um maior espectro
estreptococos. A bacitracina inibe a síntese da parede antimicrobiano e são capazes de penetrar melhor nos
celular bacteriana em uma fase anterior àquela em que tecidos.
a penicilina e a cefalosporina agem. Ela interfere na
síntese das fitas lineares dos Peptideoglicano. Seu uso Estreptograminas o surgimento de patógenos
é restrito à aplicação tópica para infecções superficiais. resistentes à vancomicina constitui um sério problema
médico. Uma das respostas para esse problema pode
estar associada a um grupo singular de antibióticos, as
ANTIBIÓTICOS ANTIMICOBACTERIANOS estreptograminas. O primeiro desses fármacos a ser
A parede celular dos Mycobacterium é diferente por liberado, Synercid, é uma combinação de dois peptídeos
incorporar ácidos micólicos. Incluem causadores da cíclicos, a quinupristina e a dalfopristina, que têm uma
tuberculose e hanseníase. relação distante com os macrolídeos.

A isoniazida (INH) é um fármaco antimicrobiano


DANOS À MEMBRANA PLASMÁTICA
sintético altamente eficiente contra Mycobacterium
tuberculosis. O efeito principal da INH é a inibição da A interferência nesse processo é a base do mecanismo
síntese de ácido micólico. de ação de diversos antibióticos e antimicrobianos.
Exemplos de antimicrobianos de sucesso que têm como
O etambutol é um fármaco efetivo apenas contra alvo a síntese de ácidos graxos incluem o fármaco da
micobactérias. Aparentemente, o fármaco inibe a tuberculose, isoniazida, e o antibacteriano doméstico,
incorporação de ácido micólico à parede celular. triclosano.

LIPOPEPTÍDEOS
INIBIDORES DA SÍNTESE PROTEICA
Um antibiótico lipopeptídico eficaz apenas para
O cloranfenicol inibe a formação de ligações peptídicas bactérias gram-positivas é a daptomicina (Cubicin). O
nas cadeias nascentes de polipeptídeos pela reação seu uso é aprovado para determinadas infecções
com a porção 50S do ribossomo procarioto 70S. O cutâneas. O mecanismo de ação aparente consiste em
antibiótico é relativamente barato e tem amplo espectro atacar a membrana da célula bacteriana, e a resistência
de ação, sendo frequentemente utilizado em locais onde é incomum.
custos baixos são essenciais. O seu pequeno tamanho
molecular permite a difusão para áreas do organismo A polimixina B é um antibiótico bactericida eficiente
que são inacessíveis a muitos outros fármacos. O contra bactérias gram-negativas. Durante muitos anos,
problema é que esse fármaco suprime a medula óssea. ela foi um dos poucos fármacos disponíveis para uso no
tratamento de infecções causadas por bactérias do
Outros antibióticos que inibem a síntese proteica pela gênero Pseudomonas.
ligação ao mesmo sítio ribossomal atingido pelo
cloranfenicol são a clindamicina e o metronidazol. A Tanto a bacitracina quanto a polimixina B estão
clindamicina está associada ao tratamento de diarreias disponíveis em pomadas antissépticas, nas quais elas
vinculadas ao Clostridium difficile. geralmente são associadas à neomicina,
aminoglicosídeo de amplo espectro. Em uma rara
As tetraciclinas formam um grupo de antibióticos de exceção à regra, esses antibióticos não necessitam
amplo espectro intimamente relacionados que são de uma prescrição.
produzidos por espécies de Streptomyces. Eles não
85
INIBIDORES DA SÍNTESE DE ÁC IDOS NUCLEICOS exercer um efeito bactericida único, pela inibição
seletiva de uma enzima (DNA-girase) necessária para a
Rifamicinas O derivado mais conhecido da família de
replicação do DNA.
antibióticos das rifamicinas é a rifampicina. Esses
fármacos são estruturalmente relacionados aos
As fluoroquinolonas são divididas em dois grupos,
macrolídeos e inibem a síntese de mRNAs. Sem dúvida,
cada um apresentando um espectro de atividade
a utilização mais importante das rifampicinas é contra
progressivamente mais amplo. As primeiras gerações
micobactérias, no tratamento da tuberculose e da
incluem os fármacos norfloxacina e ciprofloxacina,
hanseníase. Uma característica valiosa desse fármaco
ambos amplamente utilizados. Este último é mais
é sua capacidade de penetrar tecidos e alcançar
conhecido por seu nome comercial, Cipro, e pelo seu
concentrações terapêuticas no líquido cerebrospinal e
uso em infecções por antraz.
em abscessos.
Um grupo mais recente de fluoroquinolonas inclui a
Quinolonas: No início da década de 1960, foi
gemifloxacina e a moxifloxacina. Esses antibióticos, com
desenvolvido o fármaco sintético, chamado de ácido
exceção da moxifloxacina, frequentemente são os
nalidíxico –, o primeiro do grupo de antimicrobianos,
fármacos de escolha para o tratamento de infecções
denominado quinolonas. Ele ficou conhecido por
urinárias e também para certos tipos de pneumonia

Microbiologia – Tortora –12ªEd

Microbiologia – Tortora –12ªEd


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87
Microbiologia – Tortora –12ªEd.

toxina Shiga, 250 ng/kg; e para a enterotoxina


MECANISMOS MICROBIANOS DE PATOGENICIDADE estafilocócica, 1.350 ng/kg.
Aderência: capacidade do patógeno de se ligar aos
tecidos do hospedeiro por meio de adesinas ou ligantes. Cápsulas: Conformação da camada externa do
A Streptococcus mutans, bactéria que desempenha um patógeno, de forma a impedir a ação de macrófagos em
papel fundamental na cárie dentária, liga-se à superfície fagocitá-los. Isso aumenta a virulência deles. Entretanto,
dos dentes através de seu glicocálice. Podem entrar no mesmo a natureza química impedindo a o
corpo pela via parenteral, ou seja, por feridas na pele. reconhecimento de macrófagos, o corpo pode produzir
anticorpos que opsonizam as membranas e permitem a
Número de micróbios invasores e virulência: A fagocitose.
virulência de um microrganismo frequentemente é
expressa como DI50 (dose infectante para 50% de uma Uma bactéria que deve a sua virulência à presença de
amostra da população). O número 50 não é um valor uma cápsula polissacarídica é o Streptococcus
absoluto; ele é usado para comparar a virulência relativa pneumoniae, o agente causador da pneumonia
sob condições experimentais. O Bacillus anthracis pode pneumocócica.
causar infecções por três diferentes portas de entrada.
A DI50 via pele (antraz cutâneo) é de 10 a 50 Componentes da membrana: Por exemplo,
endósporos; a DI50 para o antraz por inalação é de Streptococcus pyogenes produz uma proteína resistente
10.000 a 20.000 endósporos; e a DI50 para o antraz ao calor e à acidez, chamada de proteína M. A bactéria
gastrintestinal é a ingestão de 250.000 a 1.000.000 Neisseria gonorrhoeae cresce no interior das células
endósporos. Esses dados demonstram que o antraz epiteliais e dos leucócitos humanos. Essas bactérias
cutâneo é significativamente mais fácil de ser adquirido usam suas fímbrias e outras proteínas externas,
do que as formas inalatória ou gastrintestinal. Um estudo denominadas Opa, para aderir às células do hospedeiro.
de Vibrio cholerae demonstrou que a sua DI50 é de 108 O lipídeo ceroso (ácido micólico) que constitui a parede
células; contudo, se o ácido estomacal é neutralizado celular de Mycobacterium tuberculosis também aumenta
com bicarbonato, o número de células necessárias para a virulência do organismo, conferindo resistência à
causar uma infecção diminui significativamente. digestão por fagócitos e permitindo até mesmo que a
bactéria se multiplique no interior desses fagócitos.
A potência de uma toxina frequentemente é expressa
como DL50 (dose letal para 50% de uma amostra da Enzimas: alguns patógenos conseguem produzir
população). Por exemplo, a DL50 para a toxina enzimas que degradam material entre as células e
botulínica em camundongos é de 0,03 ng/kg;1 para a podem induzir o coágulo sanguíneo. Por exemplo,

88
alguns Staphylococcus conseguem produzir
coagulases, que são enzimas que coagulam o
fibrinogênio no sangue, que serve para as proteger da
ação de defesas do hospedeiro. Outro exemplo são as
cinases produzidas por estreptococos, que servem para
digerir os coágulos de fibrina que tentam isolar esse
patógeno. Hialuronidase é uma enzima capaz de
hidrolisar o ácido hiarulônico, que une células do corpo,
especialmente em tecidos conectivos, logo, pode estar
relacionada a necrose de feridas. Outra enzima, a
colagenase, produzida por diversas espécies de
Clostridium, facilita a disseminação da gangrena
gasosa. A colagenase quebra a proteína colágeno, que
forma os tecidos conectivos de músculos e de outros
órgãos e tecidos.

Como defesa contra a aderência de patógenos a


superfícies mucosas, o organismo produz uma classe de
anticorpos, chamados de IgA. Entretanto, alguns
patógenos possuem a capacidade de produzir enzimas,
chamadas de proteases IgA, que podem destruir esses
anticorpos. A bactéria N. gonorrhoeae tem essa
habilidade, assim como a N. meningitidis, o agente
causador da meningite meningocócica, e outros
micróbios que infectam o sistema nervoso central.

Variação antigênica: a imunidade adaptativa responde


a antígenos específicos ou à infecção, por meio de
anticorpos que se ligam a esses antígenos. Entretanto,
para fugir do reconhecimento específico, alguns
patógenos podem alterar seus antígenos de membrana,
inclusive por meio de genes alternativos.

Penetração no citoesqueleto das células do


hospedeiro: Linhagens de Salmonella e E. coli entram
em contato com a membrana plasmática das células do
hospedeiro. Isso causa uma alteração drástica na
membrana no ponto de contato. Os micróbios produzem
proteínas de superfície, chamadas de invasinas, que
causam o rearranjo dos filamentos de actina do
citoesqueleto celular próximos ao ponto de contato
bacteriano.
MECANISMOS DE DANO AO HOSPEDEIRO
Se o patógeno supera as defesas do hospedeiro, o
microrganismo pode danificar as células de quatro
formas básicas:
1. Utilizando os nutrientes do hospedeiro.
2. Causando danos diretos à região próxima ao local da
invasão.
3. Produzindo toxinas, que são transportadas pelo
sangue e pela linfa, que danificam sítios distantes do
local inicial da invasão.
4. Induzindo reações de hipersensibilidade.

Microbiologia – Tortora –12ªEd.

89
Microbiologia – Tortora –12ªEd.
Superantigenos: Os superantígenos são antígenos que produção de TNF e outras citocinas, incluindo IL-12,
provocam uma resposta imune muito intensa. Eles são IFN-γ e IL-1. A concentração de TNF sérico pode ser
proteínas bacterianas. Por uma série de interações com várias preditiva do resultado das infecções bacterianas graves.
células do sistema imune, os superantígenos estimulam, de O choque séptico pode ser reproduzido em animais
forma não específica, a proliferação de células imunes
denominadas células T. Em resposta a essa estimulação, as
experimentais pela administração de LPS, ácido
células T começam a liberar grandes quantidades de citocinas lipoteitoico ou TNF.
que causam sintomas diversos, como febre, vômito, náuseas,
diarreia, e, às vezes, choque e morte. Estafilococos costumam Um dos efeitos do TNF é o dano aos capilares
apresentar essa característica. sanguíneos; sua permeabilidade é aumentada, e eles
acabam perdendo grandes quantidades de fluidos. O
resultado é uma queda na pressão sanguínea que leva
CHOQUE SÉPTICO ao choque. A pressão arterial baixa causa sérios efeitos
Choque é uma palavra geralmente utilizada para queda nos rins, nos pulmões e no trato gastrintestinal. Além
de pressão com risco à vida. Choque séptico ocorre disso, a presença de bactérias gram-negativas, como o
quando antígenos estimulam os fagócitos a liberar TNF Haemophilus influenzae do tipo b, no líquido
(caquetina). Essa citocina se liga a células de vários cerebrospinal causa a liberação de IL-1 e TNF. Essas
tecidos e altera seus metabolismos de formas diversas. citocinas, por sua vez, provocam o enfraquecimento da
barreira hematencefálica que normalmente protege o
O choque séptico é caracterizado por colapso vascular, sistema nervoso central de infecções.
coagulação intravascular disseminada e distúrbios
metabólicos. Esta síndrome se deve à sinalização do Quando causados por endotoxinas, são chamados de
TLR induzida pelo LPS ou ácido lipoteitoico, levando à choques endotóxicos. Outra consequência da presença
90
de endotoxinas é a ativação das proteínas envolvidas na As endotoxinas não promovem a formação de
coagulação sanguínea, causando a formação de antitoxinas efetivas contra seu componente carboidrato.
pequenos coágulos. Esses coágulos obstruem os vasos Anticorpos são produzidos, porém eles tendem a não
capilares, e o decréscimo no suprimento de sangue controlar os efeitos da toxina; na verdade, em algumas
resultante induz a morte tecidual. Essa condição é circunstâncias, esses anticorpos podem até mesmo
conhecida como coagulação intravascular disseminada intensificar seu efeito.
(CID).
Uma síndrome similar ao choque séptico pode ocorrer
Os microrganismos representativos que produzem como uma complicação de distúrbios não infecciosos,
endotoxinas incluem Salmonella typhi (o agente tais como queimaduras graves, traumas, pancreatite e
causador da febre tifoide), Proteus spp. (frequentemente outras condições sérias. Elas têm sido chamadas de
envolvido em infecções urinárias) e Neisseria síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS).
meningitidis (o agente causador da meningite
meningocócica).

Microbiologia – Tortora –12ªEd.

IMUNIDADE INATA CONTRA BACTÉRIAS Fagócitos (neutrófilos e macrófagos) possuem


EXTRACELULARES receptores de superfícies, como os de manose,
Os principais mecanismos de imunidade inata scavenger, Fc (para opsoninas) e receptores de
contra bactérias extracelulares são a ativação do complemento. Os antígenos microbianos ativam os
complemento, a fagocitose e a resposta TLRs.
inflamatória.
A imunidade humoral é uma importante resposta
A ativação do complemento se dá graças ao imunológica protetora contra bactérias
peptideoglicano (gram-positivas) e graças as LPs (gram- extracelulares, funciona para bloquear a infecção,
negativas) ativam o complemento da via alternativa. As para eliminar os microrganismos e para neutralizar
que apresentarem manose, podem ativar a via da suas toxinas.
lectina.
91
A neutralização é mediada pela alta afinidade dos na ativação dos fagócitos. O DNA bacteriano no citosol
isotipos IgG, IgM, IgA, esta última principalmente nos estimula as respostas do interferon tipo I através da via
lumens dos órgãos das mucosas. A opsonização é STING.
mediada por algumas subclasses de IgG e a ativação do
complemento é iniciada pela produção de IgM e As bactérias intracelulares ativam as células NK por
subclasses de IgG. induzir a expressão de ligantes de ativação de células
NK em células infectadas e pela estimulação da
Os antígenos proteicos de bactérias extracelulares produção de IL-12 e IL-15 pelas células dendríticas e
também ativam as células T CD4+ auxiliares, que macrófagos e ambas são citocinas ativadoras da célula
produzem citocinas que induzem inflamação local, NK. As células NK produzem IFN-γ, que por sua vez
aumentam as atividades fagocíticas e microbicidas ativa os macrófagos e promove a morte da bactéria
de macrófagos e neutrófilos e estimulam a produção fagocitada.
de anticorpos. As respostas TH17 induzidas por estes
microrganismos recrutam neutrófilos e monócitos e,
assim, promovem a inflamação local em locais de
infecção bacteriana.
As bactérias também induzem respostas TH1, e o
interferon-γ (IFN-γ) produzido pelas células TH1 ativa os
macrófagos para destruir os microrganismos
fagocitados. Esta citocina também pode estimular a
produção de isotipos de anticorpos opsonizantes e de
ligação ao complemento.

Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015

A principal resposta imunológica protetora contra


bactérias intracelulares é o recrutamento e ativação
de fagócitos mediados por células T (imunidade
mediada por células). Essa é a resposta da
imunidade adaptativa.

As bactérias intracelulares tais como L. monocytogenes,


são fagocitadas pelos macrófagos e podem sobreviver
nos fagossomas e escapar para dentro do citoplasma.
As células T CD4+ respondem aos antígenos peptídicos
associados ao MHC de classe II derivados das bactérias
intravesiculares. Estas células T produzem IFN-γ, que
ativa os macrófagos a destruírem os microrganismos
nos fagossomas. As células T CD8+ respondem aos
peptídeos associados à classe I derivados de antígenos
citosólicos e destroem as células infectadas.
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015

IMUNIDADE CONTRA BACTÉRIAS INTRACELULARES


A resposta imunológica inata a bactérias
intracelulares consiste em fagócitos e nas células
NK, interações entre eles são mediadas por
citocinas (IL-12 e IFN-γ). A resposta imune adaptativa
típica para estes microrganismos é a imunidade
mediada por células, em que as células T ativam os
fagócitos para eliminar os microrganismos. A imunidade
inata pode controlar o crescimento bacteriano, mas a
eliminação das bactérias requer a imunidade adaptativa.

Fagócitos, inicialmente neutrófilos e posteriormente


macrófagos, ingerem e tentam destruir esses
microrganismos, mas as bactérias intracelulares
patogênicas são resistentes à degradação dentro de
fagócitos. Os produtos destas bactérias são
reconhecidos por TLR e por proteínas citoplasmáticas
da família dos receptores do tipo NOD (NLR), resultando Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015
92
REFERÊNCIAS
O M. tuberculosis é capaz de sobreviver no interior dos
macrófagos, pois os componentes de sua parede celular 1. ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. H.
inibem a fusão dos vacúolos fagocíticos com os I. V. Imunologia celular e molecular. 9. ed. 2019
lisossomos. Como resultado, as bactérias induzem as 2. TORTORA, G.J.; FUNKE, B.R.; CASE,
respostas das células T de forma persistente. A ativação CL. Microbiologia. 12. ed., Porto Alegre: Artmed,
prolongada das células T leva à formação de 2017.
granulomas, que podem cercar as bactérias e são 3. RANG, H.P.; DALE, M.M.; RITTER, J.M.
frequentemente associados a necrose central, chamado Farmacologia. 8ª ed.Rio de Janeiro: Elsevier,
de necrose caseosa, que é causada por produtos de 2016.
macrófagos tais como enzimas lisossomais e espécies 4. Moriya T, Módena JLP. Assepsia e antissepsia:
reativas de oxigênio. técnicas de esterilização. Medicina (Ribeirão
Preto). 2008;41(3):265-73

MECANISMOS DE DESINFECÇÃO
Assepsia: é o conjunto de medidas que utilizamos para
impedir a penetração de microrganismos num ambiente
que logicamente não os tem, logo um ambiente
asséptico é aquele que está livre de infecção.

Antissepsia: é o conjunto de medidas propostas para


inibir o crescimento de microrganismos ou removê-los
de um determinado ambiente, podendo ou não os
destruir e para tal fim utilizamos antissépticos ou
desinfetantes.

Degermação: Vem do inglês degermation, ou


desinquimação, e significa a diminuição do número de
microorganismos patogênicos ou não, após a
escovação da pele com água e sabão.

Fumigação: é a dispersão sob forma de partículas, de


agentes desinfectantes como gases, líquidos ou sólidos.

Desinfecção: é o processo pelo qual se destroem


particularmente os germes patogênicos e/ou se inativa
sua toxina ou se inibe o seu desenvolvimento. Os
esporos não são necessariamente destruídos.

Esterilização: é processo de destruição de todas as


formas de vida microbiana (bactérias nas formas
vegetativas e esporuladas, fungos e vírus) mediante a
aplicação de agentes físicos e ou químicos. Toda
esterilização deve ser precedida de lavagem e
enxaguadura do artigo para remoção de detritos.

Esterilizantes: são meios físicos (calor, filtração,


radiações, etc) capazes de matar os esporos e a forma
vegetativa, isto é, destruir todas as formas
microscópicas de vida.

Esterilização: o conceito de esterilização é absoluto. O


material é esterilizado ou é contaminado, não existe
meio termo.

Germicidas: são meios químicos utilizados para


destruir todas as formas microscópicas de vida e são
designados pelos sufixos "cida" ou "lise", como por
exemplo, bactericida, fungicida, virucida, bacteriólise
etc.

93
Os vírus carregam a informação genética para a
PROBLEMA 6 formação de novos vírus, mas estes não possuem
organelas, e por isso necessitam da maquinaria da
célula hospedeira para se multiplicarem. As Rickettsia
ESTRUTURA GERAL DOS VÍRUS possuem organelas, entretanto, precisam de
suplementação do meio intracelular para se multiplicar.
São parasitos intracelulares obrigatórios e são entidades
As Rickettsia possuem uma membrana semipermeável,
que contem um único tipo de ácido nucleico (RNA ou
o que permite trocas com o meio, ao contrário do que
DNA) e esse ácido está envolto em uma capa proteica.
ocorre com os vírus. (Wikipedia, 2020)
Ademais, se multiplicam utilizando a maquinaria da
célula hospedeira e criam estruturas que permitem a O tratamento da infecção viral é extremamente
transferência do ácido nucleico para outras células. complicado porque esses patógenos são intracelulares
obrigatórios e comprometem a maquinaria da célula,
Os ácidos nucleicos das células vivas estão em logo, a maioria dos fármacos antivirais podem ser
atividade o tempo todo. Sob o aspecto de que são tóxicos para o uso clínico.
inertes fora das células vivas de seu hospedeiro, os vírus
não são considerados organismos vivos. No entanto, O espectro de hospedeiros de um vírus consiste na
quando um vírus penetra uma célula hospedeira, o ácido variedade de células hospedeiras que o vírus pode
nucleico viral torna-se ativo, ocorrendo a multiplicação infectar e é determinada pelas demandas celulares que
viral. Sob esse prisma, os vírus estão vivos quando se ele precisa para se multiplicar.
multiplicam dentro da célula hospedeira. Existe a ideia de fagoterapia, graças à capacidade de
alguns vírus de parasitarem bactérias, que consiste na
Segundo do Tortora, 12ºEd., p.359, alguns poxvírus infecção do paciente portador de uma bacteriose com
(como o da varíola) e herpesvirus (como os causadores vírus bacteriófagos. Também, utilizar alguns outros
de herpes labial e genital, assim como catapora e herpes vírus, chamados oncolíticos, para eliminar células
zoster) são capazes de transcrever seus genomas cancerígenas. Alguns vírus infectam de forma natural as
gerando RNAs mensageiros antes de entrarem na células tumorais e outros podem ser modificados
célula. O citomegalovírus tem tanto RNA e DNA (Murray, geneticamente para infecta-las. Hoje, vários estudos
2006) estão em andamento para determinar o mecanismo de
ação dos vírus oncolíticos e a segurança do uso da
Além disso, existe a premissa de que os vírus não terapia viral.
possuem enzimas próprias. Apesar de ser mais didática,
essa afirmativa não está correta, já que todos os vírus ESTRUTURAS COMUNS DOS VÍRUS
conseguem codificar no mínimo uma enzima, Ácido nucleico: enquanto os procariotos e os
relacionada ao metabolismo de seu ácido nucleico. eucariotos possuem somente DNA como material
genético principal, os vírus podem apresentar tanto RNA
como DNA. Por exemplo:
• DNA fita dulpa (dsDNA): herpesvirus;
• DNA fita simples (ssDNA): parvovirus;
• RNA fita dupla (dsRNA): rotavírus;
• RNA fita simples (ssRNA): subdividido de
acordo com o sentido do mRNA, se for igual são
de senso positivo. Se for complementar, são de
senso negativo.
A depender do tipo do vírus, o material genético pode
ser linear, circular ou segmentado (como no do vírus da
gripe).

Capsídeo e envelope: o material genético de um vírus


é protegido por um revestimento proteico denominado
capsídeo. A estrutura composta pelo capsídeo e o
material genético é denominada nucleocapsídeo.

Alguns vírus contêm proteínas reguladoras no virion em


uma estrutura denominada tegumento, que se localiza
entre o nucleocapsídeo e o envelope. Essas proteínas
Microbiologia – Tortora –12ªEd. reguladoras incluem fatores de transcrição e tradução
que controlam tanto processos virais quanto celulares.
Obs.: Apesar de a Rickettsia e de os vírus serem Membros da família dos herpes-vírus, como o herpes-
parasitas intracelulares obrigatórios, são muito vírus humano e o citomegalovírus, possuem tegumentos
diferentes entre si. Os vírus apresentam somente um proeminentes e bem-caracterizados.
tipo de material genético, o ácido ribonucleico RNA ou o
ácido desoxirribonucléico DNA. A Rickettsia apresenta O envelope é uma membrana lipoproteica composta por
os dois, assim como as demais bactérias. lipídeos derivados da membrana celular do hospedeiro
94
e por proteínas específicas de cada vírus, mas pode ter envelopados ou vírus poliédricos envelopados.
carboidratos também. O envelope viral é adquirido Um exemplo de vírus helicoidal envelopado e o
enquanto o vírus sai da célula por meio de um processo vírus influenza. Um exemplo de um vírus
denominado “brotamento”. O envelope da maioria dos poliédrico (icosaédrico) envelopado e o vírus do
vírus é derivado da membrana externa celular, com a herpes humano.
notável exceção dos herpes-vírus, que obtêm seu
envelope a partir da membrana nuclear da célula. • Vírus complexos: são vírus que não possuem
estruturas complicadas. Um exemplo são os
Em geral, a presença de um envelope confere vírus bacteriófagos, que apresentam um
instabilidade ao vírus. Vírus envelopados são mais capsídeo poliédrico, bainha helicoidal da cauda,
sensíveis ao calor, dessecamento, detergentes e fibras da cauda, placa basal e pino.
solventes lipídicos, como álcool e éter, do que os vírus REPLICAÇÃO
com nucleocapsídeo não envelopado, que são
compostos apenas por ácido nucleico e proteínas do Um virion, ao infectar uma célula, demora cerca de 10
capsídeo. horas para produzir centenas de partículas virais. A
curva de crescimento é desenhada a partir dos eventos
PRÍONS que sucedem a entrada dos patógenos na célula.
Príons são partículas infecciosas compostas
puramente por proteínas (não contêm nenhum ácido O tempo no qual nenhum vírus é encontrado no interior
nucleico detectável). a observação de príons por da célula é conhecido como período de eclipse. O
microscopia eletrônica mostra filamentos em vez de período de eclipse termina com o aparecimento do vírus
partículas virais. Príons são muito mais resistentes à (linha contínua). O período de latência, em
inativação por luz ultravioleta e calor do que vírus. Eles contrapartida, é definido pelo tempo do início da infecção
são notavelmente resistentes a formaldeído e até o aparecimento do vírus extracelularmente.
nucleases. Entretanto, são inativados por hipoclorito,
NaOH e autoclavação. Hipoclorito é usado para
esterilizar equipamentos cirúrgicos e outros insumos
médicos que não podem ser autoclavados.

As proteínas do príon são codificadas por um gene


celular. Quando estas proteínas estão na configuração
α-helicoidal normal, elas são não patogênicas, mas
quando sua configuração muda para folha β-
pregueada, elas agregam-se em filamentos que
perturbam a função neuronal e resultam nos
sintomas da doença. Príons são altamente
resistentes a inativação por luz ultravioleta, calor e
outros agentes inativantes. Como resultado, têm sido
inadvertidamente transmitidos por hormônios de
crescimento humanos e instrumentos neurocirúrgicos.

Por serem proteínas humanas normais, eles não


geram resposta inflamatória nem resposta por
anticorpos em humanos.
MORFOLOGIA GERAL

Os vírus podem apresentar diferentes estruturas,


baseando-se no tipo da cápsula que os envolvem.
• Vírus helicoidais: parecem longos bastonetes
ocos, que podem ser rígidos ou flexíveis, com o
material genético no centro de um capsídeo.
Microbiologia médica e imunológica – Levinson–2014
• Vírus poliédrico: Muitos vírus animais, vegetais
e bacterianos são poliédricos, isto é, tem muitas
faces. O capsídeo da maioria dos vírus Basicamente, a replicação passa por quatro etapas:
poliédricos tem a forma de um icosaedro, um
poliedro regular com 20 faces triangulares e 12 Adsorção: os vírus de animais possuem, assim como
vértices. O poliovírus tem essa característica. os bacteriófagos, sítios de adsorção que se ligam à
receptores da membrana da célula hospedeira, que são
• Vírus envelopado: o capsídeo de alguns vírus formadas por proteínas e glicoproteínas da membrana
é recoberto por um envelope. Quando os vírus plasmática. Isso quer dizer que, se uma célula não
helicoidais e os poliédricos são envoltos por um manifestar os receptores de membrana específicos, o
envelope são denominados vírus helicoidais patógeno não será reconhecido.
95
Penetração: após reconhecidos, a maior parte dos vírus O genoma de todos os vírus de DNA consiste em
penetra a célula por endocitose mediada por receptor. DNA de fita dupla, exceto para os parvovírus, que
A célula forma várias invaginações como forma de possuem um genoma de DNA de fita simples.
coletar recursos do meio extracelular. Se um vírion se
liga a seu respectivo receptor, ele induz uma A maior parte dos vírus de RNA realiza seu ciclo
invaginação na célula de forma a permitir sua entrada. replicativo inteiramente no citoplasma. As duas
Se for um vírus envelopado, ele pode entrar por um principais exceções são os retrovírus e os
processo denominado fusão, por meio do qual há união influenzavírus, que possuem um passo replicativo
das membranas. importante no núcleo.

Desnudamento: ocorre com a separação do ácido O genoma de todos os vírus de RNA consiste em
nucleico de seu envoltório proteico. Alguns vírus animais RNA de fita simples, exceto para os membros da
completam essa etapa por meio da utilização de família dos reovírus, que possuem um genoma de
enzimas lisossomais do hospedeiro. RNA de fita dupla. O rotavírus é um patógeno humano
importante pertencente à família dos reovírus.
Transcrição: varia de cada tipo de vírus.
OBS.: Transcrição precoce sintetiza proteínas
essenciais (como enzimas de transcrição), enquanto
a tardia se refere às proteínas estruturais.

Microbiologia médica e imunológica – Levinson–2014

VÍRUS DE DNA
Em geral, os vírus de DNA replicam seu genoma no
núcleo da célula hospedeira, usando enzimas virais, e
sintetizam as proteínas do capsídeo e outras proteínas
no citoplasma, usando enzimas do hospedeiro. As
proteínas migram, então, para o núcleo e são reunidas
ao DNA recém-sintetizado para formar os novos vírions.
Os virions são transportados pelo reticulo
endoplasmático para a membrana da célula hospedeira
e são liberados. Os herpes-vírus, os papovavirus, os
adenovirus e os hepadnavirus seguem esse padrão de
biossíntese.

Microbiologia médica e imunológica – Levinson–2014 Microbiologia – Tortora –12ªEd.


96
VÍRUS DE RNA os vírus de RNA se multiplicam no citoplasma da célula
hospedeira. Diversos mecanismos distintos de produção
Os vírus de RNA multiplicam-se essencialmente da
de mRNA são observados entre os diferentes grupos de
mesma forma que os vírus de DNA, com exceção de que
vírus de RNA.

Microbiologia – Tortora –12ªEd.

97
RETROVIRUS
Diferentemente do prófago, o provirus nunca é removido
Os retrovírus são um tipo de vírus que utilizam RNA para
do cromossomo. Na forma de provirus, o HIV é protegido
produzir DNA.
do sistema imune do hospedeiro e dos fármacos
antivirais.
Estes vírus carreiam uma transcriptase reversa, que
utiliza o RNA viral como molde para a síntese de um
Algumas vezes o provirus simplesmente permanece em
DNA de dupla-fita complementar. Essa enzima também
estado latente e se replica somente quando o DNA da
degrada o RNA viral original. O nome retrovírus deriva
célula hospedeira e replicado. Em outros casos, o
das letras iniciais de transcriptase reversa (reverse
provírus e expresso e produz novos vírus, que podem
transcriptase). O DNA viral integra-se, então, ao
infectar células vizinhas.
cromossomo da célula hospedeira na forma de um
provírus.

Microbiologia – Tortora –12ªEd.

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Microbiologia médica e imunológica – Levinson–2014

Microbiologia – Tortora –12ªEd.

OUTROS TERMOS MECANISMOS PATOGÊNICOS E DANOS


Montagem e liberação: todos os vírus envelopados
A capacidade dos vírus de causar doença pode ser
adquirem seu envelope ao brotar através da membrana
analisada sob dois níveis distintos: (1) as mudanças que
celular externa enquanto saem da célula, exceto os
ocorrem no interior de células individuais, e (2) o
herpes-vírus humano, que adquirem seu envelope ao
processo que ocorre no paciente infectado.
brotar através da membrana nuclear. A proteína de
matriz medeia a interação do nucleocapsídeo com o
envelope. A CÉLULA INFECTADA
Existem quatro principais efeitos causados por uma
Lisogenia é o processo pelo qual o DNA viral se torna infecção viral em uma célula:
integrado no DNA da célula hospedeira, a replicação • Morte: ocorre principalmente pela inibição da
para, e nenhuma progênie viral é produzida. síntese de macromoléculas. Isso inibe a
Posteriormente, se o DNA for danificado por, por produção de proteínas importantes, RNA e DNA
exemplo, luz UV, o DNA viral é excisado do DNA da do hospedeiro, que são importantes à
célula hospedeira, e a progênie viral é produzida. O DNA manutenção da célula.
viral integrado é chamado de prófago. Células • Fusão das células: infecção por vírus como o
bacterianas carregando um prófago podem adquirir do herpes simples e paramixovírus, por
novas características, como a capacidade de produzir exemplo, podem causar a fusão de células,
exotoxinas como a toxina diftérica. Transdução é o formando grandes células multinucleadas. Isso
processo pelo qual vírus carregam genes de uma célula provavelmente ocorre graças à inserção de
para outra. Conversão lisogênica é o termo usado para proteínas virais na membrana celular.
indicar que a célula adquiriu uma nova característica
• Transformação maligna: alguns vírus causam
como resultado de um prófago integrado.
mudanças do formato, crescimento
99
descontrolado, vida prolongada e mudanças Outra forma de contágio pode ser por meio da mordida
morfológicas das células. de animais contaminados ou pela picada de insetos. Os
• Nenhuma mudança aparente: todo parece animais que possuírem um determinado vírus são
normal, sem mudanças funcionais ou chamados de hospedeiros reservatórios.
morfológicas aparentes. Pode ocasionar
destruição rápida da célula ou um tipo de As infecções podem ficar restritas aos tecidos da porta
simbiose. de entrada, de forma localizada, ou disseminada
Em alguns tipos de infecção, as células podem sistemicamente pelo corpo.
apresentar corpúsculos de inclusão, que são
estruturas separadas, contendo proteínas virais. Podem Os vírus respiratórios possuem um período de
ser citoplasmáticas ou intranucleares. incubação curto porque se replicam diretamente na
mucosa, mas infecções sistêmicas como poliomielite e
Um dos melhores exemplos de corpúsculos de inclusão sarampo possuem períodos de incubação longos
que podem auxiliar no diagnóstico clínico são os porque há necessidade de viremia e sítios secundários
corpúsculos de Negri, que são inclusões de replicação.
citoplasmáticas eosinófilas encontradas em neurônios
cerebrais infectados com o vírus da raiva. Outro exemplo Uma das infecções virais sistêmicas melhor conhecidas
importante é a inclusão em forma de olho de coruja é a poliomielite paralítica (Figura 32-1). Após a ingestão
observada no núcleo de células infectadas por do poliovírus, este infecta e multiplica-se no interior de
citomegalovírus. células do intestino delgado e então se dissemina para
os linfonodos mesentéricos, onde se multiplica
novamente. Ele então entra na corrente sanguínea e é
O PACIENTE INFECTADO transmitido para certos órgãos internos, onde se
Os estágios de uma infecção viral, no paciente, são multiplica mais uma vez. O vírus reentra na corrente
expressos por um período de incubação durante o qual sanguínea e é transmitido para o sistema nervoso
o paciente é assintomático, um período prodrômico central, onde causa dano às células do corno anterior da
durante o qual ocorrem sintomas não específicos, um medula espinal, resultando na paralisia muscular
período específico da doença durante o qual ocorrem característica.
sintomas e sinais característicos, e um período de
recuperação durante o qual a doença diminui e o
paciente recupera sua saúde. Em alguns pacientes, a
infecção persiste e um estado carreador crônico ou uma
infecção latente ocorre

A patogênese, por outro lado, envolve a entrada do vírus


no hospedeiro, replicação (com subsequente dano às
células), disseminação e resposta imune.

A transmissão ocorre de várias formas (de pessoa a


pessoa, por causa de fluidos, por contaminação de água
e alimentos, ou sangue infectado), e o indivíduo pode
ser contaminado mediante a portas de entrada variadas.
Também, pode ser da mãe para o filho (transmissão
vertical) ou entre outras pessoas que não sejam mãe e
filho (transmissão horizontal).

Microbiologia médica e imunológica – Levinson–2014


Microbiologia médica e imunológica – Levinson–2014
100
Microbiologia médica e imunológica – Levinson–2014

Microbiologia médica e imunológica – Levinson–2014


101
Um tipo de imunopatogênese é a morte de células
Algumas infecções virais disseminam-se infectadas pelo vírus por ataque de linfócitos T
sistemicamente não por meio da corrente sanguínea, citotóxicos que reconhecem antígenos virais na
mas sim por fluxo axonal retrógrado no interior de superfície celular. O dano ao fígado causado pelos vírus
neurônios. Quatro patógenos humanos importantes da hepatite ocorre por esse mecanismo.
executam essa função: vírus da raiva, herpes-vírus
humano do tipo 1, herpes-vírus humano do tipo 2 e vírus Células T citotóxicas estão envolvidas na patogênese da
da varicela-zóster. Como exemplo, o vírus da raiva é hepatite causada pelos vírus da hepatite A, B e C. Esses
introduzido no corpo pelo local de mordida de um animal. vírus não causam efeito citopático, e o dano aos
O vírus infecta neurônios sensores locais e ascende hepatócitos é resultado do reconhecimento de antígenos
para o sistema nervoso central por fluxo axonal virais em sua superfície por células T citotóxicas. As
retrógrado, onde ele pode causar encefalite. erupções cutâneas do sarampo são similarmente
causadas por essas células, que atacam o endotélio
vascular infectado da pele.
PATOGÊNESE E IMUNOPATOGÊNESE
Os sintomas das infecções virais são normalmente Outro mecanismo é a formação de complexos vírus-
causados pela morte de células infectadas e uma anticorpos que são depositados em tecidos. A artrite
consequente perda de função. Por exemplo, os associada a infecções por parvovírus B19 ou vírus da
poliovírus matam neurônios, resultando em paralisia. rubéola ocorre por esse mecanismo.
Isso se relaciona à patogênese (“direta”, já que são os
danos do próprio vírus ao corpo).
EVASÃO ÀS DEFESAS DO INDIVÍDUO
A imunopatogênese é o processo pelo qual os Pode ocorrer de diversas formas, como demonstra a
sintomas de uma doença viral são causados pelo tabela abaixo.
sistema imune em vez da morte de células pelo vírus.

RE, retículo endoplasmático; HCV, vírus da hepatite C; HIV, vírus da imunodeficiência adquirida; TAP,
transportador associado ao processamento de antígeno.
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015.

Uma das formas de evasão é a mudança de antígenos,


de forma a não serem identificados pelo sistema imune.
Os principais antígenos afetados são glicoproteínas de
membrana que servem como epítopos para os
receptores das células T. Também, o rearranjo gênico é
um dos mecanismos utilizados para a expressão de
proteínas de membrana diferentes.

Um exemplo disse é a variação dos tipos de influenza e


a ocorrência de novas cepas. O rearranjo gênico causa
variações que distinguem, por exemplo, a gripe aviária
da gripe humana. A gripe suína, por exemplo, foi
causada pelo H1N1, no qual há rearranjo de RNA de
cepas aviárias, humanas e suínas, de forma a passar
para humanos. Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015
102
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015
CMV, citomegalovírus; EBV, vírus de Epstein-Barr; ER,
retículo endoplasmático; HSV, o vírus do herpes simples; TAP, transportador associado a processamento de
antígeno.

Outro mecanismo é a não expressão de moléculas de Um último exemplo é a capacidade de alguns vírus de
MHC classe I. A inibição da apresentação antigênica ativar vias que suprimem uma resposta imune
bloqueia a montagem e expressão de moléculas de adequada, como, por exemplo, a via PD-1, que funciona
classe I do MHC estáveis e a exposição de peptídios para manter a tolerância a antígenos próprios. Esse
virais. Como resultado, as células infectadas por estes fenômeno tem sido chamado de exaustão, que implica
vírus não podem ser reconhecidas ou mortas pelas em uma resposta existente, porém interrompida.
CD8+ CTL. Conforme discutido anteriormente, as
células NK são ativadas pelas células infectadas, IMUNIDADE CONTRA VÍRUS
especialmente na ausência de moléculas de MHC de A infecção é prevenida por interferons do tipo I como
classe I. parte da imunidade inata e os anticorpos neutralizantes
contribuem para a imunidade adaptativa. Uma vez que
Além disso, alguns vírus podem expressar “iscas” a infecção é estabelecida, as células infectadas são
após identificarem IL-1 ou TNF. O vírus vaccínia produz eliminadas pelas células NK na resposta inata e pelos
uma proteína que se liga à IL-1 e o vírus fibroma codifica CTL na resposta adaptativa.
uma proteína que se liga ao TNF. Quando células
infectadas com esses vírus liberam essas proteínas, se
ligam aos mediadores imunes e impedem que eles ajam
nos alvos corretos.

Os poxvírus codificam moléculas que são secretadas


por células infectadas e se ligam a várias citocinas,
incluindo o IFN-γ, TNF, IL-1, IL-18, e quimiocinas. As
proteínas de ligação a citocinas secretadas podem
funcionar como antagonistas competitivos das citocinas.

O vírus Epstein-Barr produz uma proteína homóloga à


citocina IL-10, que inibe a ativação de macrófagos e
células dendríticas e assim, pode suprimir a imunidade
mediada por células.

Também, alguns vírus, como o HIV, conseguem


destruir ou inativar células imunocompetentes. No caso
do HIV, esse vírus é capaz de destruir células T CD4+.
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015
103
infecção, antes das respostas imunes adaptativas terem
se desenvolvido. A expressão do de MHC de classe I é
muitas vezes desligada nas células infectadas por vírus
como um mecanismo de fuga dos CTLs. Isso permite
que as células NK destruam as células infectadas
porque ausência da molécula de classe I libera as
células NK de um estado normal de inibição.

Mecanismos pelos quais a imunidade inata e adaptativa previne e erradica as


infecções de vírus. A imunidade inata mediada por interferons do tipo I, que
impedem a infecção e pelas células NK, que eliminam as células infectadas. A
imunidade adaptativa é mediada por anticorpos e pelos CTLs, que bloqueiam a
infecção e destroem as células infectadas, respectivamente.
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015

IMUNIDADE INATA
Os principais mecanismos de imunidade inata
contra os vírus são a inibição da infecção por
interferons do tipo I e a destruição das células
infectadas mediada pelas células NK.

Os interferons são divididos em três grupos baseados na


célula de origem, que são os leucócitos, fibroblastos e
linfócitos. Eles também são conhecidos como
interferons alfa, beta e gama, respectivamente.
Interferons alfa e beta são induzidos por vírus, enquanto
o interferon gama (célula T, imune) é induzido por
antígenos e é um dos efetores da imunidade mediada
por células. Os interferons alfa e beta são induzidos,
principalmente, por vírus e por RNAs de fita dupla.

Os interferons agem pela indução da síntese de três


proteínas codificadas pela célula que inibem a tradução
do mRNA viral. Estas três proteínas são (1) um 2,5 Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015
oligonucleotídeo sintetase que sintetiza um
trinucleotídeo de adenina [2,5-oligo(A)], (2) uma Existem também as α-defensinas. As α-defensinas são
ribonuclease ativada pelos 2,5 oligos(A) e que degrada uma família de peptídeos positivamente carregados com
mRNAs virais, e (3) uma proteína-cinase que fosforila atividade antiviral. (Elas também apresentam atividade
um fator de iniciação de síntese proteica (eIF-2), antibacteriana). Elas interferem no vírus da
inativando-o. Essas três proteínas são ativadas por RNA imunodeficiência humana (HIV) ligando-se ao receptor
fita dupla sintetizado durante a replicação viral, e, CXCR4 e bloqueando a entrada do vírus na célula. A
portanto, são efetivas em células infectadas por vírus, produção de α-defensinas pode explicar por que alguns
mas não em células não infectadas. indivíduos infectados com HIV são “não progressores”
em longo prazo.
Várias vias bioquímicas desencadeiam a produção de
interferon. Estas vias incluem o reconhecimento de RNA OBS.: Enzima apolipoproteína B editora de RNA
e DNA viral pelos TLRs endossomais e ativação de (APOBEC3G)
receptores citoplasmáticos tipo RIG e da via de STING
pelo RNA e DNA virais, respectivamente. A APOBEC3G é um importante membro das defesas
inatas do hospedeiro contra infecções retrovirais,
Estas vias convergem para a ativação de proteínas especialmente contra HIV. É uma enzima que causa
quinases o que por sua vez ativa os fatores de hipermutações no DNA retroviral pela desaminação de
transcrição de IRF que estimulam a transcrição do gene citosinas tanto do mRNA quanto do DNA retroviral,
de interferon tipo I. Os interferons tipo I têm a função de dessa forma inativando estas moléculas e reduzindo a
inibir a replicação viral em ambas as células infectadas infectividade. O HIV defende-se contra essa defesa
e não infectadas. inata do hospedeiro produzindo Vif (proteína de
infectividade viral), que neutraliza a APOBEC3G,
As células NK destroem outras células infectadas por impedindo que as hipermutações ocorram.
uma variedade de vírus e são um importante mecanismo
de imunidade contra os vírus no início do curso da
104
IMUNIDADE ADAPTATIVA INFECÇÕES VIRAIS PERSISTENTES
A imunidade adaptativa contra as infecções virais é • O estado portador refere-se a pessoas que produzem
mediada pelos anticorpos, que bloqueiam a ligação vírus por longos períodos de tempo e podem servir como
do vírus e entram nas células hospedeiras, e por fonte de infecção para outros. O estado portador
CTLs, que eliminam a infecção matando as células frequentemente associado a infecções pelo vírus da
infectadas. hepatite C é um exemplo de importância médica.
• Infecções latentes são infecções que não estão
Os anticorpos são mais eficazes no meio extracelular, produzindo vírus em um dado momento, mas podem ser
de forma que podem se ligar ao envelope viral ou ao reativadas em um tempo subsequente. As infecções
capsídeo antes dos vírus entrarem nas células ou depois latentes frequentemente associadas a infecções por
de saírem por brotamento. Sua principal ação é herpes-vírus humano são um exemplo de importância
neutralizar os infectantes impedindo sua ligação às médica.
membranas e fixação. • Infecções virais lentas referem-se às doenças com
um longo período de incubação, normalmente medido
Os anticorpos secretados do isotipo IgA são importantes em anos. Algumas, como a leucoencefalopatia
para a neutralização dos vírus no trato respiratório e multifocal progressiva, são causadas por vírus,
intestinal. A imunização oral contra o vírus da enquanto outras, como a doença de Creutzfeldt-Jakob,
poliomielite funciona através da indução de imunidade são causadas por príons. O encéfalo é frequentemente
das mucosas. o sítio principal dessas doenças.

Além da neutralização, os anticorpos podem opsonizar CORONAVÍRUS (SARS-COV-2)


partículas virais e promover a sua depuração por O novo coronavírus foi descoberto no dia 31/12/2019
fagócitos. A ativação do complemento também pode após casos registrados na China. O epicentro foi a
participar da imunidade viral mediada por anticorpos, cidade de Wuhan, na província de Hubei.
principalmente através da promoção de fagocitose e
possivelmente pela lise direta de vírus com envoltórios
lipídicos.

A eliminação dos vírus que residem dentro das


células é mediada por CTL, que matam as células
infectadas. A maioria dos CTLs específicos para vírus
são células T CD8+ que reconhecem peptídios virais,
citosólicos, geralmente sintetizados endogenamente e
que são apresentados por moléculas de classe I do
MHC. A ação mais expressiva se dá pela morte das
células infectadas, mas também ocorre a secreção de
IFN-γ, que estimula a ativação de macrófagos.

Em infecções latentes, o DNA viral persiste nas


células do hospedeiro, mas o vírus não se replica ou
destrói as células infectadas. A latência é
frequentemente um estado de equilíbrio entre a infecção
e a resposta imune. Os CTLs são produzidos em
resposta ao vírus que pode controlar a infecção, mas
não a erradicar. Assim, alguns vírus podem permanecer
no organismo por toda a vida do hospedeiro, e se A coronaviridae é uma família de vírus geralmente
manifestar em um momento em que a imunidade estiver presente em alguns animais, assim como em humanos,
baixa. São exemplos o vírus Epstein-Barr e o causando sintomas gripais leves – nos humanos, são
herpesvírus simples. conhecidos sete tipos.

Em algumas infecções virais, a lesão no tecido pode


ser causada por CTLs. Um modelo experimental de
uma doença na qual a patologia é decorrente da
resposta imune do hospedeiro é a infecção em
camundongos pelo vírus da coriomeningite linfocítica
(LCMV), que induz a inflamação das meninges da
medula espinhal. O LCMV infecta as células meníngeas,
mas isso não é citopático e não fere as células
infectadas diretamente. O vírus estimula o
desenvolvimento de CTLs específicos para vírus que
destroem células meníngeas infectadas durante uma
tentativa fisiológica de erradicar a infecção.
Fonte: Rabi F et. al, “SARS-CoV-2 and Coronavirus Disease
2019: What We Know So Far”, 2020
105
O novo coronavírus se liga, por meio da proteína de
membrana S, à enzima conversora de angiotensina 2
(ECA-2, também chamada de ACE-2), que serve de
receptor de membrana. Uma serina protease tipo II
quebra o complexo formado pela ECA e o S e permite
que a proteína viral se acomode e entre pela membrana.

O estudo feito por Wang et al. (2020), mostrou que o


vírus pode entrar de duas maneiras, seja por
reconhecimento por membrana da proteína S ou por
endocitose. Isso foi experimentado por esses
pesquisadores ao utilizar o peptídeo EK1 para inibir a
ligação da proteína S com o ECA2.

Fonte: Rabi F et. al, “SARS-CoV-2 and Coronavirus Disease


2019: What We Know So Far”, 2020

106
Paciente diabético descompensado tem mais ECA2.

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10.13140/RG.2.2.35430.37443.
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responses to SARS-CoV-2 in patients of novel
coronavirus disease 2019 [published online
ahead of print, 2020 Mar 28]. Clin Infect Dis.
2020;ciaa344. doi:10.1093/cid/ciaa344

107
tipos básicos: primárias (inatas) e secundárias.
PROBLEMA 7 Entretanto, o foco desse estudo são
imunodeficiências secundárias. A imagem abaixo
as

exemplifica algumas das principais falhas imunes que


VÍRUS HIV E AÇÃO NO SISTEMA IMUNE podem ocasionar imunodeficiências primárias, que se
relacionam à fatores congênitos.
Inicialmente, pode-se observar as principais causas de
imunodeficiências nos seres humanos. Existem dois

Patologia Básica, Robbins, 2013.


Em alguns casos, as imunodeficiências podem ocorrer lenta, como síndromes de emaciação (magreza
não por questões genéticas, mas adquiridas durante a extrema) e degeneração do SNC. Existem dois tipos
vida (secundárias). A imunossupressão pode ocorrer principais de HIV, sendo o HIV-1 causador mais comum
tanto devido a complicações de doenças específicas da AIDS e o HIV-2 um dos causadores de uma forma de
quanto por complicações pelo tratamento de outras AIDS de progressão mais lenta.
doenças, o que é chamado de imunodeficiência
iatrogênica. Também, como no caso da AIDS, pode
ESTRUTURA E GENES DO HIV
ocorrer mediante ao ataque a células imunes.
Uma partícula viral é composta por duas cadeias
HIV idênticas de RNA acondicionadas dentro de um núcleo
O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) causa uma de proteínas virais, circundado por um envelope
doença chamada Síndrome da Imunodeficiência composto por uma bicamada fosfolipídica derivada da
Adquirida. O HIV infecta várias células do sistema membrana da célula do hospedeiro, mas com várias
imune, como, por exemplo, os linfócitos T CD4+ proteínas virais na superfície.
auxiliares, macrófagos e células dendríticas.
Repetições terminais longas (LTR) em cada
Esse vírus é um membro dos Lentivírus de retrovírus extremidade do genoma regulam a expressão dos
animais. Essa família inclui o vírus Visna e o vírus da genes virais, a integração viral no genoma do
imunodeficiência símia, que conseguem desencadear hospedeiro e a replicação viral. A sequência gag é
uma infecção latente de longo prazo nas células e responsável por proteínas estruturais do núcleo, a env
efeitos citopáticos de curto prazo, de forma com que codifica as glicoproteínas gp120 e gp41 do envelope
todos eles podem causar doenças fatais de progressão (estão envolvidas na infecção da célula), a sequência pol

108
codifica as enzimas transcriptase reversa, integrase e é ativada e, por mudança de sua conformação, exibe o
protease, necessárias para a replicação viral. peptídeo de fusão que se insere na célula T. Isso permite
a fusão das membranas.

Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015

Variantes do HIV são denominadas X4 quando se ligam


ao CXCR4, R5 quando se ligam à CCR5, ou X4R5
quando são capazes de se ligar a ambos receptores de
quimiocinas. Indivíduos com mutações no CCR5 são
resistentes à infecção pelo HIV. Esse receptor é um dos
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015 principais alvos de drogas antivirais. O HIV consegue se
ligar às células dendríticas mediante ao receptor DC-
Além destes genes, como nos retrovírus típicos, o SIGN (molécula de lectina).
genoma do HIV-1 contém seis outros genes
reguladores, ou seja, os genes tat, rev, vif, nef, vpr, vpu, Uma vez que um vírion do HIV entra em uma célula,
cujos produtos regulam a replicação viral e a evasão as enzimas do complexo de nucleoproteína tornam-
imune ao hospedeiro de várias formas. se ativas e iniciam o ciclo replicativo viral.

Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015

CICLO DE VIDA VIRAL


A infecção das células pelo HIV inicia-se quando a
glicoproteína do envelope gp120 do vírus liga-se a
duas proteínas da célula hospedeira, ao CD4 e um Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015
correceptor que é um membro da família de
receptores de quimiocinas. Geralmente as partículas Uma vez que se ligam à membrana, os retrovírus
virais estão no sangue, sêmen ou outros fluidos desintegram sua membrana nuclear de forma a liberar
corporais e são transmitidos aos outros indivíduos ser material genético e começar a sintetizar DNA a partir
mediante o contato sexual, perfuração por agulha ou do RNA por meio da enzima transcriptase reversa viral.
passagem transplacentária. O DNA então se integra ao núcleo da célula e a
integrasse viral facilita esse processo. O DNA integrado
A ligação com a célula começa com a ligação do CD4 ao à célula é chamado provírus. Os provírus podem
gp120. Isso causa uma mudança conformacional no permanecer transcricionalmente inativos, o que permite
gp120 que, por sua vez, se liga aos receptores de que a célula expresse um período de latência.
quimiocinas (CXCR4 e CCR5, mas também proteína G,
que dá a volta na membrana sete vezes). A gp41 então
109
A transcrição dos genes do provírus de DNA avança para uma infecção crônica progressiva de
integrado é regulada pela LTR superior dos genes tecidos linfoides periféricos.
estruturais virais, e citocinas e outros estímulos que
ativam as células T e macrófagos acentuam a
transcrição dos genes virais.

As LTRs contêm sequências de sinal de poliadenilação,


a sequência promotora “TATA Box” e os locais de
ligação para dois fatores de transcrição da célula
hospedeira, NF-κB e SP1. O início da transcrição do
gene do HIV nas células T está associado à ativação das
células T por antígenos ou citocinas. Por exemplo,
ativadores policlonais de células T, como fito-
hemaglutinina, e citocinas, como a IL-2, o fator de
necrose tumoral (TNF) e a linfotoxina, estimulam a
expressão do gene do HIV nas células T infectadas; e
IL-1, IL-3, IL -6, TNF, linfotoxina, IFN-γ, e o fator
estimulador de colônias de granulócitos-macrófagos
(GM-CSF) estimulam a expressão do gene do HIV e da
replicação viral em monócitos e macrófagos infectados.

A síntese de partículas virais infecciosas maduras


começa após os transcritos totalmente completos
de RNA viral serem sintetizados e os genes virais
expressos como proteínas.

Atualmente, a terapia antirretroviral para o HIV inclui


inibidores das enzimas transcriptase reversa, protease e
integrase.

PATOGÊNESE DA INFECÇÃO POR HIV

Microbiologia médica – Murray – 7ªEd.

A doença causada pelo HIV começa com uma


infecção aguda, que é apenas parcialmente
controlada pela resposta imune do hospedeiro, e
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015

110
A infecção aguda (inicial) caracteriza-se pela forma de morte celular chamada piroptose (tudo que
infecção das células T de memória CD4+ em tecidos está dentro do macrófago é expelido), o que induz a
linfoides das mucosas e morte de muitas células chegada de mais macrófagos que serão infectados. Em
infectadas. estudos in vitro, e raramente em pacientes, as células
infectadas se unem às células saudáveis por meio de
A transição da infecção da fase aguda para a fase interações gp12-CD4, formando sincícios.
crônica é acompanhada pela disseminação do vírus,
viremia e o desenvolvimento de respostas imunes Mecanismos adicionais de morte de células T CD4+
pelo hospedeiro. Na fase seguinte da doença, a fase infectadas pelos vírus foram propostos para a
crônica, o baço e os linfonodos constituem locais de depleção e perda da função destas células em
replicação contínua do HIV e de destruição celular. indivíduos infectados pelo HIV. Um dos mecanismos
está relacionado a ativação crônica de células não
infectadas pelas infecções que são comuns em
pacientes infectados pelo HIV e também pelas citocinas
produzidas em resposta a estas infecções. A ativação
crônica das células T pode predispô-las à apoptose; a
via molecular envolvida neste tipo de morte celular
induzida pela ativação ainda não está definida. A morte
de linfócitos ativados por apoptose pode ser responsável
pela observação de que a perda das células T excede
em muito o número de células infectadas pelo HIV.

Os vírus detectados no sangue dos pacientes são


Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015 produzidos principalmente pelas células T CD4+
infectadas de vida curta e em menores quantidades
A. Viremia plasmática, contagem de células T CD4+ no por outras células infectadas.
sangue e estágios clínicos da doença. Cerca de 12
semanas após a infecção, a concentração de vírus no
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA AI DS
sangue (viremia plasmática) é reduzida para níveis
muito baixos (detectável apenas por ensaios sensíveis Transmissão:
de reação em cadeia da polimerase da transcriptase • O contato sexual é o modo mais frequente de
reversa) e assim permanecem por muitos anos. transmissão, tanto entre casais heterossexuais
Contudo, a contagem de células T CD4+ continua a (o modo mais frequente de transmissão na
declinar durante este período de latência clínica porque África e na Ásia) como entre parceiros do sexo
há replicação viral ativa e infecção de células T nos masculino homossexuais. Na África
linfonodos. Quando a contagem de células T CD4+ está Subsaariana, onde a taxa de infecção é a mais
abaixo de um determinado nível crítico (cerca de alta do mundo (estima-se que surjam cerca de
200/mm3), o risco de infecção e outras características 10.000 novos casos por dia), mais da metade
clínicas da AIDS é alto. das pessoas infectadas são mulheres.
• A transmissão do HIV de mãe para filho é
B, Resposta imune a infecção pelo HIV. A resposta de responsável pela maioria dos casos pediátricos
CTLs contra o HIV é detectável em 2 ou 3 semanas após de AIDS.
a infecção inicial e atinge seu pico entre 9 e 12 semanas. • A inoculação de um receptor com sangue ou
Uma expansão expressiva de células T CD8+ hemoderivados infectados é uma outra forma de
específicas para o vírus ocorre durante este período e transmissão.
até 10% dos CTLs do paciente podem ser específicos
para o HIV em 12 semanas. O pico da resposta imune Progressão clínica:
humoral ao HIV ocorre aproximadamente 12 semanas • Fase aguda: sintomas inespecíficos,
após a infecção inicial. desenvolve-se de 3 a 6 semanas após a
infecção em cerca de 50 a 70% dos infectados.
Alguns não apresentam sintomas. Observa-se
MECANISMOS DE IMUNODEFICIÊNCIA CAUSADA uma elevada carga viral e pequena diferença na
PELA INFECÇÃO DO HIV contagem dos linfócitos.
Uma das principais formas pelas quais o HIV provoca • Fase crônica da latência clínica: pode durar
depressão do sistema imune é pela infecção de células até anos. Mas, cerca de 2 a 6 meses após a
T CD4+. Os danos ocorrem porque os vírus entram nas infecção, a concentração plasmática viral se
células e a produção viral estimula o influxo de cálcio a estabiliza. Não há tanto prejuízo porque a
quantidades letais, o que causa a apoptose. medula óssea repõe as células. Entretanto, no
caso de infecção, a produção de proteína viral é
Além disso, a utilização da maquinaria da célula para a estimulada juntamente à célula T,
produção de proteínas virais e a inibição da produção de principalmente sob influência do IFN.
proteínas necessárias para a célula é um outro fator. • Fase clínica – AIDS: acontece quando a
Também, a infecção não citopática (abortiva) por esse contagem de T CD4+ cai para menos de 200
vírus ativa a via do inflamassoma e desencadeia uma células/mm3. Algumas características
111
acompanham a condição, como caquexia danos no SNC podem se dar graças à ação de
(provavelmente por causa do efeito das proteínas virais, como gp120 e Tat ou graças à
citocinas no apetite e no metabolismo). Os ação de citocinas liberadas pela microglia.

Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015


Em cerca de 1% dos pacientes infectados, não há
RESPOSTA IMUNE AO HIV manifestação clínica da doença nos primeiros 10 a 15
A resposta inata ao HIV é marcada, principalmente pela anos da doença. Formam dois grupos, os que
ação de defensinas, células NK ativadas, células apresentam menos de 5000 cópias de RNA do HIV-1 por
dendríticas produtoras de IFN-1 e ação do mililitro de sangue e os que apresentam menos de 50
complemento. As respostas imunes, em termos gerais, (são minoria dos controladores de elite). Ambos
podem ser prejudiciais, já que facilitam a fagocitose por apresentam altas contagens de T CD4+ e CD8+.
células saudáveis.
Existe, também, a possibilidade de envolvimento
A resposta adaptativa consiste principalmente em genético do lócus de HLA classe 1 e alguns classe 2.
linfócitos T CD8+ (cerca de 10% deles são específicas Além disso, a deleção de 32pb do CCR5 pode causar
para HIV, na fase aguda), mas com o avanço da proteção para algumas infecções.
infecção e com o surgimento de mutações, podem se
MEDICAÇÃO
mostrar ineficientes. As células T CD4+, por outro lado
podem auxiliar os linfócitos citotóxicos e ainda liberar Os principais inibidores da enzima transcriptase reversa
estímulos citolíticos para as células infectadas. são: análogos do nucleosídeo desoxitimidina, como a 3’-
azido-3’- desoxitimidina (AZT), análogos do nucleosídeo
As glicoproteínas do envelope são as que mais desoxicitidina e análogos do nucleosídeo
aparentam servir como antígeno para os anticorpos (que desoxiadenosina. Existem também inibidores de
podem aparecer de 6 a 9 semanas após a infecção). proteases, que inibem a formação do capsídeo viral.
Títulos elevados de anti-gp120 e anti-gp41 estão Para evitar a criação de vírus mais resistentes, utiliza-se
presentes, mas também pode haver anticorpos reativos a ação combinada constituída por três fármacos, juntos
à p24, transcriptase reversa e produtos gag e pol. Os a dois inibidores da transcriptase, formam a HAART
primeiros anticorpos não são neutralizantes, mas sim (terapia antirretroviral altamente ativa) ou ART (terapia
inibidores fracos da infecciosidade. antirretroviral).

Inibidores de entrada, que impedem a entrada viral via


MECANISMOS DE EVASÃO À IMUNIDADE CD4 ou CCR5 na célula hospedeira, ou gp41 ou gp120
O vírus HIV representa uma característica especial de do vírus, compõe outra categoria nova de agentes
evasão à resposta imune: a destruição do sistema por terapêuticos. Os fármacos que têm como alvo a gp41
meio das células “centrais” da resposta. Além disso, incluem compostos que impedem a fusão do envelope
esse vírus apresenta uma alta taxa de mutação, viral com a membrana plasmática da célula hospedeira.
principalmente na região V3 da gp120, de forma com
que se estima, segundo o Abbas Básico, que todas as As principais vacinas se referem à utilização de
possíveis mutações antigênicas ocorram diariamente. princípios da vacina para SIV (similar à AIDS, em
símios).
Também, algumas proteínas possuem açúcares N-
terminais para “proteger” os possíveis epítopos do vírus, REFERÊNCIAS
compondo o que pode ser chamado de campo de
1. ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. H.
glicanas do HIV. Também, a proteína Nef do HIV inibe
I. V. Imunologia celular e molecular. 9. ed. 2019
a expressão de moléculas de MHC classe 1,
2. MURRAY, Patrick R.; ROSENTHAL, Ken S.;
principalmente pela internalização dessa molécula.
PFALLER, Michael A.. Microbiologia médica.
Outro mecanismo é a inibição de citocinas do perfil TH1,
7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.
ativação de Treg e supressão das células dendríticas.
3. KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; FAUSTO, N.;
NÃO-PROGESSORES DO HIV MITCHELL, R. N. Robbins. Patologia básica. 9.
ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013;

112
A tolerância central ocorre durante um estágio de
PROBLEMA 8 maturação dos linfócitos, no qual o encontro com um
antígeno pode levar à morte celular ou à substituição de
um receptor de antígeno autorreativo por outro que não
TOLERÂNCIA IMUNOLÓGICA E AUTOIMUNIDADE apresente esta condição.
A tolerância imunlógica pode ser descrita pela não-
A tolerância periférica desencadeia-se quando
responsividade a um antígeno conseguida por meio de
linfócitos maduros reconhecem autoantígenos e morrem
uma exposição prévia ao mesmo. Quando linfócitos
por apoptose ou quando se tornam incapazes de serem
específicos encontram antígenos, estes podem ser
ativados pela reexposição àquele antígeno. Essa
ativados, induzindo respostas imunológicas; esses
tolerância pode ser mantida também por células T
linfócitos também podem ser inativados ou eliminados,
regulatórias, que suprimem linfócitos T autoantígeno-
levando à tolerância. Quando um antígeno causa
reagentes.
tolerância, ele é chamado de tolerógenos, ou antígenos
tolerogênicos, quando causa resposta imune, é
A indução da tolerância imunológica foi explorada
chamado de imunógeno.
como abordagem terapêutica para a prevenção de
respostas imunológicas prejudiciais. A indução da
A tolerância aos autoantígenos, também chamada de
tolerância também pode ser útil para prevenir reações
autotolerância, é uma propriedade fundamental do
imunológicas contra os produtos de novos genes
sistema imunológico normal; a falha na autotolerância
expressos em protocolos de terapia gênica, para
resulta em reações imunológicas contra antígenos
prevenir reações a proteínas injetadas em pacientes
próprios (autoantígenos ou antígenos autólogos). Essas
com deficiências proteicas (p. ex., hemofílicos tratados
reações são conhecidas pelo nome de
com fator VIII) e para promover a aceitação em
“autoimunidade”, e as doenças causadas pelas
transplantes de células-tronco.
mesmas são denominadas doenças autoimunes.
TOLERÂNCIA CENTRAL DOS LINFÓCITOS T
TOLERÂNCIA IMUNOLÓGICA
A tolerância central dos linfócitos T CD4+ é um
Geralmente, os indivíduos são tolerantes aos seus
importante mecanismo para a manutenção do controle
próprios antígenos porque os linfócitos com
das reações aos autoantígenos tanto da resposta
especificidade para os autoantígenos encontram-se
mediada por célula e também a humoral. Isso porque as
inativos ou com seus receptores alterados.
células T auxiliadoras são indutoras de respostas de
ambos os mecanismos.
A autotolerância pode ser induzida em linfócitos
autorreativos imaturos nos órgãos linfoides centrais
Durante sua maturação no timo, muitas células T
(tolerância central) ou em linfócitos maduros em locais
imatura passam por um processo de seleção negativa,
periféricos (tolerância periférica).
no qual células são deletadas ou se tornam T
regulatórias, quando reconhecem autoantígenos. Essa
etapa é dependente a especificidade dos MHC de classe
I e II aos autoantígenos do timo. Se os timócitos tiverem
contato com antígenos do timo e tiverem afinidade,
serão selecionados negativamente.

Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015

A seleção negativa ocorre em células T duplamente


Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015 positivas no córtex tímico e em células T unicamente
positivas produzidas na medula. Em ambas as
localizações, timócitos imaturos com receptores de alta
113
afinidade para autoantígenos, que encontram estes
antígenos, morrem por apoptose. A sinalização por
receptor de célula T (TCR) em células T imaturas
dispara a via mitocondrial da apoptose.

O timo utiliza da proteína reguladora autoimune


(AIRE, do inglês autoimune regulator) para apresentar
os antígenos para as células imaturas. Estão presentes
nas células epiteliais medulares tímicas. Mutações no
gene AIRE são a causa de um tipo de doença autoimune
que afeta vários órgãos, chamada de síndrome
poliglandular autoimune tipo 1 (APS1, do inglês
autoimmune polyendocrine syndrome type 1). Doenças
do tipo podem afetar órgãos endócrinos graças à
linfócitos que chegam a esses locais. Por exemplo, pode
atacar a paratireoide ou ilhotas pancreáticas.

Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015

O reconhecimento antigênico sem a coestimulação


adequada resulta na anergia ou morte da célula T, ou
torna as células T sensíveis à supressão pelas
células T reguladoras. Para que um sinal seja
deflagrado, devem haver sinais para sua indução e
multiplicação, sendo o primeiro a ligação entre o
antígeno e o receptor LTCD4+, ligação do B7 da APC ao
CD28 da T CD4+ e ligação da citocina ao seu respectivo
receptor na célula imune.

Os linfócitos T com receptores para os antígenos


próprios são capazes de reconhecer os antígenos e,
assim, recebem sinais dos seus receptores de antígenos
(sinal 1), mas as células T não recebem forte
coestimulação, porque não existe nenhuma resposta
imune inata acompanhante.

Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015 ANERGIA


A anergia ocorre quando as células T, ativadas pelo
Algumas células T CD4+ autorreativas que encontram primeiro sinal, não conseguem se multiplicar e se tornar
autoantígenos no timo não são deletadas, mas, ao completamente ativas porque não há níveis suficientes
contrário disso, diferenciam-se em células T regulatórias de coestimuladores para manter a resposta. Apesar das
específicas para esses antígenos. Essas células são células anérgicas sobreviverem, elas se tornam não
responsáveis por inibir resposta imunes específicas a responsivos ao antígeno.
autoantígenos.
Quando as células T reconhecem os antígenos sem
coestimulação, o complexo TCR pode perder sua
TOLERÂNCIA PERIFÉRICA DOS LINFÓCITOS T
habilidade em transmitir os sinais de ativação. Em
A tolerância periférica dos linfócitos T é induzida quando alguns casos, isso está relacionado com a ativação das
as células T maduras reconhecem os antígenos próprios enzimas (ligases de ubiquitina) que modificam as
nos tecidos periféricos, levando à inativação funcional proteínas de sinalização e direciona-as para destruição
(anergia) ou morte, ou quando os linfócitos autorreativos intracelular pelas proteases. Pode acontecer a ativação
são suprimidos pelas células T reguladoras. Os de quinases que impedem a formação de contato
mecanismos de tolerância periférica são (1) anergia
(não responsividade funcional), (2) supressão pelas
células T regulatórias e (3) deleção (morte celular).

114
Os pacientes com câncer tratados com anticorpos
que bloqueiam o CTLA-4 ou PD-1, com o intuito de
remover a inibição e impulsionar suas respostas
imunes antitumorais, também desenvolvem reações
autoimunes contra muitos tecidos.

SUPRESSÃO IMUNE POR CÉLULAS T REGULADORAS


Células T reguladoras podem-se desenvolver no
timo ou nos tecidos periféricos no reconhecimento
de antígenos próprios e bloquear a ativação de
linfócitos potencialmente prejudiciais específicos
para esses antígenos próprios.

A maior parte das células T reguladoras se desenvolve


no timo, mas também podem surgir nos órgãos linfoides
periféricos. Em sua maioria, são células T CD4+ que
apresentam quantidades elevadas de CD25 (cadeia alfa
do receptor da IL-2) na membrana. Para que essas
células funcionem e se desenvolvam corretamente é
necessário o fator de transcrição Foxp3.

No caso de mutação do gene, pode ocorrer o


desenvolvimento da doença conhecida pelo acrônimo
IPEX para síndrome de desregulação imune,
Imunologia Básica, Abbas, 2014 poliendocrinopatia e enteropatia, ligada ao X (do
inglês, immune dysregulation, polyendocrinopathy,
Quando ocorre esse processo, no reconhecimento de enteropathy, X-linked syndrome).
antígenos próprios, dois receptores inibitórios da família
CD28 podem estar envolvidos, tanto o antígeno As CT reguladoras são dependentes de IL-2, logo, a
associado ao linfócito T citotóxico 4 (CTLA-4 ou deleção do gene que codifica essa citocina pode causar
CD152) ou a proteína de morte programada 1 (PD-1), doença autoimune. O fator transformante de
que podem finalizar a finalizar a ativação do linfócito T. crescimento -β (TGF-β) também toma parte na geração
O resultado disso é a anergia de longa duração. de células T reguladoras, talvez pela estimulação da
expressão do fator de transcrição FoxP3.
Um ponto importante é que a célula apresentadora pode
se ligar, pelo B7, tanto ao CD28 quanto ao CTLA-4. O
B7 se liga mais fortemente ao CTLA-4 porque,
provavelmente, em estados em que não há infecção, ele
pode indicar uma possível apresentação de
autoantígeno e, em um estado de invasão de um corpo
estranho, a oferta súbita de B7 faz com que ele se ligue
ao receptor de menor afinidade.

O CTLA-4 age bloqueando e removendo as


moléculas B7 da superfície das APC, reduzindo
posteriormente a coestimulação e evitando a
ativação das células T; o CTLA-4 também deve
distribuir os sinais inibitórios para as células T.

Ao se analisar a quantidade de B7 expressos


forçadamente em tecidos de camundongo por meio de
engenharia genética, observa-se a incidência de
ataques autoimunes com muito mais frequência do que
quando esses receptores estavam em quantidades
normais.

Se as moléculas CTLA-4 ou PD-1 são bloqueadas


(por tratamento com anticorpos) ou eliminadas (pelo
gene knockout) de um camundongo, este
desenvolve reações autoimunes contra seus
próprios tecidos.

Imunologia Básica, Abbas, 2014


115
As células reguladoras podem suprimir a resposta crianças com mutações nos genes que codificam a
imune de diversas formas. Uma delas é liberando caspase 8 ou 10, que estão a jusante da sinalização de
citocinas que podem inibir a resposta imune, como IL-10 FAS, também têm doenças autoimunes semelhantes.
e TFG-β, ao bloquear a ativação de linfócitos, células As doenças humanas, coletivamente chamadas de
dendríticas e macrófagos. Também, por causa de CTLA- síndrome linfoproliferativa autoimune, são raras e
4, podem esgotar ou bloquear as moléculas de B7 na são os únicos exemplos conhecidos de defeitos na
superfície das APC e tornando essas células incapazes apoptose que causam um complexo fenótipo autoimune.
de deflagrar o sinal dos coestimuladores, ao se ligar ao
CD28. Também, por terem grande afinidade com a IL-2,
podem captar muitas dessas citocinas e diminuir sua
disponibilidade para as células efetoras.

DELEÇÃO: APOPTOSE DE LINFÓCITOS MADUROS


Quando o linfócito se liga a seus autoantígenos, ele
pode estimular vias de apoptose que resultam na
eliminação (deleção) dessas células.

Ao entrar em contato com um antígeno, e ao reconhecê-


lo, a célula imune produz proteínas pró-apoptóticas, que
são neutralizadas por outras produzidas quando existe
o contato com os coestimuladores e fatores de
crescimento. Quando estimulados por antígenos
próprios, não ocorre a ação de coestimuladores e a
deficiência de sinais de sobrevida causam a morte das
células que reconheceram esses antígenos. Isso se dá
porque esses pró-apoptóticos induzem a morte por via Imunologia Básica, Abbas, 2014
mitocondrial, causado pela ação da via das enzimas
caspases, causadoras de apoptose. TOLERÂNCIA DOS LINFÓCITOS B
Os polissacarídeos próprios, os lipídios e os ácidos
A outra ação se dá por meio de receptores de morte. nucleicos são antígenos independentes de T que não
Quando uma célula T se liga a seus antígenos próprios, são reconhecidos pelas células T. Esses antígenos
ela pode ela pode expressar coestimuladores de morte devem induzir tolerância nos linfócitos B para prevenir a
que induz a sua destruição e da célula ligante. Quando produção de autoanticorpos.
esse receptor é ativado, ele inicia a atuação da via das
caspases. O mais bem definido par receptor de morte-
ligante envolvido na tolerância própria consiste em uma TOLERÂNCIA CENTRAL DOS LINFÓCITOS B
proteína chamada Fas (CD95), que é expressa em Quando os linfócitos imaturos se ligam fortemente a
muitos tipos celulares, e no ligante Fas (FasL), que é autoantígenos na medula óssea, podem ser destruídas
expresso principalmente em células T ativadas. O FasL (seleção negativa) ou pode editar a especificidade de
ligado ao Fas pode induzir a morte de ambas as seu receptor ao expressar, novamente o gene RAG e
células,T e B, expostas aos antígenos próprios. retornar à recombinação da cadeia leve de
imunoglobulina. Essa cadeia leve se liga à cadeia
pesada, expressando uma especificidade diferente de
inicial.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

Camundongos com mutações nos genes fas e fasl e


crianças com mutações no FAS também desenvolvem
doenças autoimunes com acúmulo de linfócitos. As Imunologia Básica, Abbas, 2014
116
Se a edição falhar, as células B imaturas que por causa da sua grande variedade. Também, as
reconhecem os antígenos próprios com alta avidez doenças autoimunes são muito heterogêneas.
recebem os sinais de morte e morrem por apoptose. Se
responderem aos autoantígenos com baixa avidez,
expressam menos receptores e tornam-se anérgicas.

TOLERÂNCIA PERIFÉRICA DAS CÉLULAS B


Linfócitos B maduros que encontram antígenos
próprios nos tecidos linfoides periféricos ficam
incapazes de responder novamente àquele antígeno
próprio. Existe a hipótese de que as células B que não
são estimuladas pelos linfócitos T auxiliares (que são
tolerantes ou ausentes) morrem, já que o estímulo de
sobrevida é ausente.

As células B que reconhecem os antígenos próprios na


periferia também podem sofrer apoptose, ou os
receptores inibitórios nas células B podem estar
envolvidos, evitando assim a ativação.

Imunologia Básica, Abbas, 2014

FATORES GENÉTICOS
O risco hereditário para a maior parte das doenças
autoimunes é atribuído a inúmeros loci genéticos, dos
Imunologia Básica, Abbas, 2014 quais a maior contribuição é a dos genes que expressam
MHC.
AUTOIMUNIDADE
A autoimunidade é definida pela resposta imune a A incidência de uma doença autoimune em particular
antígenos próprios (autólogos) e está associada a frequentemente é maior em indivíduos que herdaram um
fatores genéticos e ambientais. Prevalência de 2 a 5% alelo do HLA em particular do que na população em
em países desenvolvidos. Em casos de doenças geral. Apesar da associação clara dos alelos do MHC a
associadas a resposta imune descontrolada, também diversas doenças autoimunes, o papel desses alelos no
são chamadas de autoimunes, embora não tenham desenvolvimento das doenças permanece
ligação direta com o reconhecimento de antígenos desconhecido.
próprios.
Uma possível explicação é que as moléculas de MHC
são importantes para a apresentação de antígenos
PATOGÊNESE
próprios no timo, que pode atrapalhar a seleção negativa
Os principais fatores no desenvolvimento da das células defeituosas. Também, os peptídeos
autoimunidade são a herança de genes suscetíveis e os antigênicos apresentados por esses alelos do MHC
estímulos ambientais como infecções. A lesão tecidual podem falhar em estimular as células T reguladoras.
pode ocorrer em virtude de anticorpos para os próprios Logo, mutações nos alelos HLA podem causar inúmeras
tecidos ou de linfócitos T reativos aos antígenos condições.
próprios. Os fatores externos, como lesões podem ativar
linfócitos autorreativos e dar início ao dano tecidual. Os polimorfismos nos genes não HLA são
associados a diversas doenças autoimunes e
Embora existam várias doenças do tipo caracterizadas, podem contribuir com a falha de autotolerância ou
os antígenos em si, que são responsáveis pela indução ativação anormal dos linfócitos.
de resposta, são muito difíceis de serem identificados

117
Fonte:
http://www.doencasdofigado.com.br/Autoimunidade.pdf

PAPEL DAS INFECÇÕES E DE OUTRAS INFLUÊNCIAS


AMBIENTAIS
As infecções podem ativar os linfócitos
autorreativos e levar ao desenvolvimento de
doenças autoimunes. Quando uma infecção pré-
Imunologia Básica, Abbas, 2014 existente aumenta os níveis de APCs, coestimuladores
e interleucinas, ela pode também, por causa da oferta
PTPN22: os polimorfismos na codificação genética da desses compostos, gerar o estímulo para células T
tirosina fosfatase N22 podem regular a ativação das autorreativas que encontram antígenos próprios no
células T e B, estando associados, também, a doenças organismo.
como diabetes melito tipo 1, artrite reumatoide e lúpus
eritematoso sistêmico.

NOD-2: sensor microbiano citoplasmático. Se variantes


desse receptor forem menos resistentes (variação no
gene CARD15) a microrganismos intestinais, pode se
iniciar uma resposta inflamatória persistente, que pode
dar origem à síndrome de Cronn (com a proliferação de
TNF-α, IFN-α, IL-12 e IL-17).

Imunologia Básica, Abbas, 2014

Neo-antígeno: quando uma substância se liga a


alguma outra natural do corpo e a torna estranha
para o sistema imune. Como no caso da anemia Imunologia Básica, Abbas, 2014
hemolítica induzida por droga, na 118
hipersensibilidade tipo II. (Imun. Ilustrada)
Algumas infecções microbianas podem produzir Essas doenças são caracterizadas por lesões em
peptídeos antigênicos que são similares e que reagem órgãos ou sistemas e podem ser resultado da reação de
de maneira cruzada com antígenos próprios. A resposta autoanticorpos ou da ação mediada por linfócitos T
imune aos peptídeos microbianos pode resultar no contra os próprios antígenos. Geralmente, atingem
ataque imune contra antígenos próprios. As reações pessoas da mesma família e gêmeos monozigóticos
cruzadas entre os antígenos microbianos e próprios são podem ter a mesma doença com mais frequência do que
denominadas mimetismo molecular. EXEMPLOS: os dizigóticos.

Espondilite anquilosante: reação cruzada entre


LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO (LES)
epítopos de HLA B27 e da Klebsiella pneumonia;
Artrite reumatoide: Reação cruzada entre epítopos de O LES é uma doença autoimune que possui
HLA- DR4 e Proteus mirabilis; manifestações diversas, afeta vários órgãos e pode ter
Febre reumática: Reação cruzada entre epítopos de comportamento clínico variável. É uma doença
Proteína M de Esptreptococcus β hemolítico e proteínas imprevisível, remitente e recorrente, de início súbito ou
do sarcolema do miocárdio e miosina (cardite). insidioso, que pode envolver virtualmente qualquer
órgão; entretanto, ela afeta sobretudo pele, rins,
serosas, articulações e coração.

Pela perspectiva imunológica, a condição está


associada a uma grande variedade de autoanticorpos
antinucleares (AANs). Os AANs são dirigidos contra di-
versos antígenos nucleares e podem ser agrupados em
quatro categorias: (1) anticorpos contra o DNA, (2)
anticorpos contra histonas, (3) anticorpos contra outras
proteínas não histonas ligadas ao RNA e (4) anticorpos
contra antígenos nucleolares.

Estudos têm demonstrado vários componentes do


sistema imune inato e adaptativo na patogenia do LES.

• Interferons tipo I. As células do sangue mostram


notável assinatura molecular que indica exposição ao
interferon a (IFN-a), um tipo de interferon do tipo que
é produzido principalmente por DCs plasmocitoides.
Alguns estudos mostraram que tais células de
Oldstone, 1987 – Adaptado pacientes com LES também produzem quantidades
anormalmente elevadas de IFN-a.
Outro estimulador, por exemplo, pode ser a ação da luz • Sinais de TLR. Estudos em modelos animais
solar, que pode dar início para o desenvolvimento do mostraram que TLRs que reconhecem o DNA e o
lúpus eritematoso sistêmico. RNA, notavelmente o DNA reconhecendo a TLR9 e o
RNA reconhecendo o TLR7, produzem sinais que
DOENÇAS AUTOIMUNES ativam as células B específicas para autoantígenos
nucleares.
• Falha de tolerância das células B. Estudos com as
células B a partir de pacientes com LES sugerem a
presença de defeitos na tolerância central e periférica,
resultando em frequência mais elevada de células B
autorreativas do que a típica para as pessoas
saudáveis.
Radiação ultravioleta (UV) (exposição ao sol) agrava
as lesões do LES. Um mecanismo postulado desse
efeito é que a radiação UV provoca a apoptose de
células hospedeiras, levando a uma carga aumentada
de fragmentos nucleares e respostas inflamatórias para
os produtos de células mortas.

O LES é uma doença multissistêmica altamente variável


na sua apresentação clínica. Tipicamente, o paciente é
mulher jovem com algumas, mas raramente todas as
características a seguir: lesão vermelha “em borboleta”
na face, febre, dor e edema em uma ou mais
Patologia Básica, Robbins, 2013
119
articulações periféricas (mãos e pulso, joelhos, pés, A DM-1 tem sido considerada uma doença com herança
tornozelo, cotovelos, ombros), dor pleurítica e poligênica complexa. Cerca de 20 genes podem estar
fotossensibilidade. Em muitos pacientes, entretanto, a associados com susceptibilidade à doença, mas apenas
13 apresentam evidências estatisticamente significantes
apresentação de LES é sutil e confusa, variando de uma
de associação. A maior contribuição vem da região onde
desordem febril de origem desconhecida, achados estão localizados os genes do MHC, situado no
urinários anormais ou doenças das articulações cromossomo 6p21, contribuindo em cerca de 40% na
mascaradas como RA ou febre reumática. susceptibilidade à doença (genes IDDM1).
Contribuições de menor valor são conferidas por genes
de fora do MHC (22).

Os primeiros estudos acerca da susceptibilidade


imunogenética ao DM-1 datam da década de 70, sendo
encontradas associações com as moléculas HLA-B8 e
B15. Posteriormente, foi verificado que as associações
mais importantes eram com as moléculas de classe II
HLA-DR3 e HLA-DR4, em desequilíbrio de ligação com
os antígenos HLA-B8 e B15, respectivamente.
Subsequentemente, os genes DQA1*0301 e *0501 e os
DQB1*0201 e *0302 se revelaram os mais fortemente
associados à doença (23). Atualmente, tem sido
sugerido que ambos genes DR e DQ influenciam na
susceptibilidade ou proteção à DM-1, promovendo
efeitos sinérgicos ou antagonistas de acordo com o
haplotipo (24,25).
Google imagens
O DM1 é uma doença caracterizada pelo
TIREOIDITE DE HASHIMOTO (TH) desenvolvimento de uma resposta imune adaptativa
específica contra antígenos das células β pancreáticas.
A Tireoidite de Hashimoto (TH) é um distúrbio autoimune Essa doença é um dos exemplos clássicos de doença
decorrente de resposta imune anormal à glândula autoimune órgão-específica caracterizada por infiltração
tireóide, tanto do ponto de vista humoral como celular. linfocítica ou inflamação nas ilhotas do pâncreas
Assim como na DG, a demonstração de que parentes de provocando a “insulite”, que, geralmente, conduz à
casos índices têm maior probabilidade para destruição das células pancreáticas produtoras de
desenvolverem a doença indica a existência de insulina, resultando em diabetes.
predisposição genética. Tireoglobulina (Tg), peroxidase
tiroideia (TPO) São as proteínas mais atacadas.

Jenkins e cols. (56) encontraram evidências para a


associação entre TH e HLA-DR3 e -DR4 com RR de 2,3
e 1,6, respectivamente, em caucasianos. Outros
estudos também indicam uma associação fraca e
heterogênea entre HLA-DR3, -DR4 e -DR5 no
hipotireoidismo auto-imune, seja ele com bócio ou não,
o que reflete uma maior heterogeneidade das tireoidites
auto-imunes ou uma diferença real entre os genes de
susceptibilidade à doença, quando comparados com a
DG (57-59).

Google imagens
Sousa, A.A. et al,2016

DIABETES MELLITUS TIPO 1 (DM1)


120
O DM1 é caracterizado pela presença de anticorpos e junção neuromuscular. Embora apenas os
autoanticorpos, geralmente no estágio pré-clínico, autoanticorpos antirreceptores de acetilcolina e
contra constituintes da célula beta pancreática. anticorpos antiquinase músculo-específica tenham sido
Marcadores como o anticorpo anti-ilhota (ICAs), anti- demonstrados como patogênicos, vários outros
insulina (IAAs), ácido glutâmico descarboxilas (GAD-65) anticorpos que reconhecem autoantígenos podem
e as tirosinas fosfatases IA-2 e 1A-2B, estão também ser encontrados em pacientes com miastenia
relacionados com o desenvolvimento dessa doença grave.
(ORBAN et al., 2009).
Os distúrbios miastênicos têm características
específicas em comum, ou seja, fraqueza muscular,
DOENÇA DE GRAVES (DG)
fatigabilidade e flutuação dos sinais e sintomas e
anormalidades neurofisiológicas semelhantes.

Os anticorpos antirreceptores da acetilcolina pertencem


às subclasses 1 e 3 de imunoglobulina G (IgG), as quais
ativam o sistema complemento e se ligam, em sua maior
parte, à região imunogênica principal, que está
localizada na parte extracelular da subunidade α.

Os anticorpos antirreceptores da acetilcolina podem ser


de três tipos: ligador, bloqueador e modulador. O ligador
é o mais comum dos três e se liga ao receptor da
acetilcolina. O anticorpo bloqueador impede a ligação da
Google imagens acetilcolina ao receptor acetilcolínico ou desloca a
acetilcolina do complexo acetilcolina-receptor
Nessa doença, as células T reagem a peptídeos acetilcolínico. Já o anticorpo modulador acelera a taxa
processados provenientes de antígenos da tireoide. de internalização e degradação do receptor de
Essa estimulação faz com que os linfócitos T ativem os acetilcolina.
linfócitos B, promovendo o aumento da secreção de
anticorpos. A auto-imunidade mediada pelos linfócitos B Anticorpos anti-RRi-1 (antirreceptor de rianodina–
e T na DG é dirigida a 4 antigénios tiroideanos: músculo esquelético) são detectados, principalmente,
tireoglobulina (Tg), peroxidase tiroideia (TPO), co- em pacientes com miastenia grave de início tardio.
transportador de sódio-iodo e receptor de tireotropina
(TSH). ANEMIA HEMOLÍTICA (AIHA)
Autoimmune hemolytic anemia (AIHA) is a
O receptor de TSH é o principal antigénio da DG; a sua
decompensated acquired hemolysis caused by the
ativação é responsável pelo hipertiroidismo nesta
host’s immune system acting against its own red cell
doença. Os anticorpos anti-receptor da tireotropina
antigens. The autoantibodies and/or complement
(antirTSH) ligam-se a este receptor e activam-no,
fragments are detected on the RBC surface using the
estimulando a actividade da adenilato ciclase tiroideia,
direct antiglobulin test (DAT).
levando à síntese e secreção hormonais, ao
crescimento da glândula (bócio difuso) e ao aumento da
sobrevivência celular. ARTRITE REUMATOIDE (AR)
A inflamação da membrana sinovial, iniciada por algum
Os anti-rTSH, tal como a própria TSH, estimulam a fator desconhecido, atrai linfócitos autorreativos e
síntese do cotransportador de sódio-iodo, contribuindo macrófagos ao sítio da inflamação. Células T CD4
para o aumento da captação de iodo pelo tecido tiroide. efetoras autorreativas ativam os macróf agos, com a
Os anticorpos anti-rTSH, ao contrário dos anticorpos produção de citocinas pró-inflamatórias como
anti-TPO e anti-Tg, são específicos da DG. interleucina (IL)-1, IL-6, IL-17 e fator de necrose tumoral
(TNF)-a.
Na tiroidite auto-imune podem existir anti-rTSH com
atividade bloqueadora que promovem o hipotiroidismo. Os fibroblastos ativados pelas citocinas produzem
Alguns doentes com DG têm uma mistura de anticorpos metaloproteinases de matriz (MMPs), que contribuem
estimulantes e bloqueadores e a apresentação clínica para a destruição do tecido. A citocina RANK,
pode depender do balanço entre estes anticorpos. pertencente à família do TNF e expressa pelas células T
e fibroblastos nas articulações inflamadas, é o ativador
MIASTENIA GRAVE (MG) primário das células destruidoras de tecidos, os
osteoclastos. Anticorpos contra várias proteínas das
A miastenia grave é uma doença autoimune, mediada
articulações são também produzidos (não mostrado),
por anticorpos, que afeta a membrana pós-sináptica da
porém, seu papel na patogênese ainda não está claro.

121
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acessos

Imunologia Ilustrada
123
PROBLEMA 9
RESPOSTA IMUNE A PARASITAS
As doenças infecciosas causadas por agentes parasitas
animais, especialmente, por protozoários, helmintos e
ectoparasitas. Geralmente, as respostas imunes inatas
são insuficientes para esses patógenos e eles possuem
inúmeros mecanismos de evasão à resposta adaptativa Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015

A maioria dos parasitas passa por ciclos de vida PROTOZOÁRIOS


complexos, parte dos quais ocorrem em seres humanos
O principal mecanismo de defesa contra os
(ou em outros vertebrados) e a outra parte ocorre em
protozoários que sobrevivem dentro de macrófagos
hospedeiros intermediários, tais como moscas,
é a resposta imunológica mediada por células, em
carrapatos e caracóis. Os seres humanos são
particular pela ativação de macrófagos por citocinas
geralmente infectados por picadas de hospedeiros
derivadas de células TH1. A diferença da ação principal
intermediários infectados ou através do
vai ser definida por qual subtipo de linfócito T CD4+
compartilhamento de um habitat especial com um
assume protagonismo (TH1 ou TH2).
hospedeiro intermediário.

Por exemplo, a malária e tripanossomíase são


transmitidas por picadas de insetos, e a
esquistossomose é transmitida através da exposição à
água em que os caramujos infectados residem.
RESPOSTA INATA A PARASITAS
Justamente pela diversidade de parasitas, com
diferentes morfologias e peculiaridades químicas,
existem respostas específicas para cada tipo.

PROTOZOÁRIOS
A principal resposta imune a protozoários é a
fagocitose. Entretanto, muitos representantes desse
reino podem ser resistentes aos macrófagos e inclusive
se replicar no interior deles. Eles podem ser identificados
graças a expressão de moléculas de superfície que
podem ser identificadas pelos TLRs.
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015
As espécies de Plasmodium (o protozoário responsável
pela malária), o Toxoplasma gondii (o agente que causa O perfil TH1 é responsável pela liberação de IFN-γ e
a toxoplasmose), e espécies de Cryptosporidium (o TNF-α. Isso faz com que macrófagos M1 (cuja função
principal parasita que causa a diarreia em pacientes principal é a citotoxicidade), ativados pela via clássica, e
infectados pelo HIV), todos expressam lipídios glicosil estimuladores de IL-1, IL-12, IL-23, TNF-α, NO e
fosfatidilinositol que podem ativar TLR2 e TLR4. CXCCL10, expressem atividade específica contra os
patógenos. (Neves, 2015)
HELMINTOS
Para helmintos a resposta inata consiste na ação de O perfil TH2 é responsável pela inibição de uma resposta
fagócitos que podem atacar esses parasitas ao secretar imune e agravamento dos danos ao corpo pelo avanço
substâncias digestivas que degradam suas membranas da ação do patógeno. A ativação alternativa dá-se
e causam dano nos seres que são grandes demais para quando os macrófagos estão expostos a um
serem fagocitados. Alguns, também podem ativar a via microambiente constituído por interleucinas do tipo IL-4,
do complemento, que pode causar a lise. IL-13, IL-10 ou corticosteroides, podendo ter a influência
de TGF-β ("transforming growth factor-beta") e de PGE2
RESPOSTA ADAPTATIVA A PARASITAS (prostaglandina E2). (Neves, 2015) IL-10 inibe M1.
A resposta adaptativa para parasitos, assim como a
A ação supressora das citocinas liberadas pelo perfil T H2
resposta inata, varia de acordo com características
promove o agravamento dos danos causados pelo
químicas e morfológicas, assim como o ciclo de vida, de
aumento da sobrevivência do parasita graças à inibição
cada tipo específico de patógeno.
da via clássica. Esse perfil está relacionado à fibrose e
cicatrização, assim como restauração do estado original.
A citocina IFN-γ tem sido apresentada como protetora
124
em muitas infecções por protozoários, incluindo malária, MECANISMOS DE EVASÃO À RESPOSTA IMUNE
toxoplasmose e criptosporidiose, enquanto a liberação
de IL-4 em resposta a protozoários pode aumentar a
suscetibilidade maior de dano. O macrófago M2 age
removendo detritos, resolução da inflamação e
aumentando a contratilidade do músculo liso. Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015

• Variação antigênica: por exemplo, no caso da


HELMINTOS
malária, os esporozoítos possuem epítopos
A defesa contra muitas infecções por helmintos é diferentes daqueles presentes no merozoítos, o
mediada pela ativação das células TH2, o que resulta que confere uma alteração antigênica. No caso
na produção de anticorpos IgE e ativação de de espécies africanas de tripanossomos, ocorre
eosinófilos. Os helmintos podem estimular a uma variação frequente de antígenos de
diferenciação para o perfil TH2 que secreta IL-4 (que membrana. Em ambos os casos, quando o
estimula a produção de IgE) e IL-5 (que estimula a corpo consegue responder a certo antígeno, o
ativação e amadurecimento de eosinófilos). Além disso, patógeno já apresenta outros antígenos de
a IL-4 aumenta o peristaltismo, de forma a facilitar a membrana.
expulsão do helminto. • Resistência ao Complemento e às CTLs: os
parasitos podem se tornar resistentes a danos
Os eosinófilos e mastócitos se ligam ao IgE pelo do complemento e a CTLs. Esse mecanismo
receptor Fc, que está ligada à superfície dos vermes. ainda não está bem descrito.
Isso dispara o sinal que induz a liberação de seus • Inibição das Respostas Imunes: Alguns
conteúdos granulares, que destroem os helmintos, ou parasitos podem inibir a resposta imune, como,
causam lesão considerável. por exemplo, a anergia de células T associada
à esquistossomose grave. Os mecanismos
ainda não são bem entendidos. No caso da
filariose linfática, a infecção de linfonodos
associados à ruptura pode causar doença
autoimune. A Leishmania, assim como outros
parasitas, pode induzir a diferenciação de
células T reguladoras, de forma a suprimir a
resposta imune. De forma mais ampla, na
malária e na tripanossomíase africana, pode
haver a produção de citocinas
imunossupressoras por macrófagos ativados e
células T.
• Perda antigênica: alguns mecanismos, como a
conversão para uma forma de cisto, residência
no interior de células do hospedeiro, expulsão
das suas capas antigênicas ao se ligarem a
anticorpos e etc. O Entamoeba histolytica é um
dos membros dos protozoários que é capaz de
lançar antígenos e se converter a uma fase de
cisto.
GIARDIA LAMBLIA
O gênero Giardia inclui flagelados parasitos do intestino
Imunologia Celular e Molecular, Abbas, 2015 de mamíferos, aves e anfíbios. Graças à diversidade
envolvida, são muito difíceis de se classificar, já que
Assim como as do perfil TH1, as do perfil TH2 podem dar existem variações a depender do parasito e do
início à lesão tecidual. A ocorrência de lesões hospedeiro. O trofozoíto tem formato de pera, com
granulomatosas com fibrose concomitante pode estar simetria bilateral e mede 20 µm de comprimento por
presente, mesmo sendo geralmente causada por ação 10µm de largura.
de TH1 contra antígenos persistentes. Ovos de
Schistosoma mansoni no fígado podem iniciar uma A face dorsal é lisa e convexa, enquanto a face ventral
resposta pelo TH2, de forma a causar fibrose por causa é côncava, apresentando uma estrutura semelhante a
dos granulomas induzidos e culminar em cirrose uma ventosa, que é conhecida por várias
hepática, interrupção venosa e hipertensão portal. denominações: disco ventral, adesivo ou suctorial.
Abaixo do disco, ainda na parte ventral, é observada a
Na filariose linfática, o alojamento dos parasitas nos presença de uma ou duas formações paralelas, em
vasos linfáticos leva a reações imunológicas crônicas forma de vírgula, conhecidas como corpos medianos.
mediadas por células e, por fim, à fibrose. Isso resulta
na obstrução linfática e linfedema severo.
125
No interior do trofozoíto, e localizados na sua parte encistamento do parasito (no íleo) e sua eliminação para
frontal, são encontrados dois núcleos. O trofozoíto o meio exterior.
possui ainda quatro pares de flagelos.
Ao redor do trofozoíto é secretada pelo parasito uma
O cisto é oval ou elipsóide, medindo cerca de 12 µm de membrana cística resistente, que tem quitina na sua
comprimento por 8µm de largura. O cisto, quando composição.
corado, pode mostrar uma delicada membrana
destacada do citoplasma. No seu interior encontram- se
dois ou quatro núcleos, um número variável de fibrilas IMUNIDADE
(axonemas de flagelos) e os corpos escuros com forma O desenvolvimento de resposta imune tem sido
de meia-lua e situados no polo oposto aos núcleos. sugerido a partir de evidências, como:
1. a natureza autolimitante da infecção;
2. a detecção de anticorpos específicos anti-
Giardia nos soros de indivíduos infectados;
3. a participação de monócitos citotóxicos na
modulação da resposta imune;
4. a maior suscetibilidade de indivíduos
imunocomprometidos à infecção,
principalmente os que apresentam
hipogamaglobulinemia;
5. a menor suscetibilidade dos indivíduos de áreas
endêmicas à infecção, quando comparados com
os visitantes;
6. a ocorrência de infecção crônica em modelos
Google Imagens animais atírnicos ou tratados com drogas que
deprimem a resposta humoral.
CICLO
Também, pode-se identificar a ação de IgA na mucosa
A Giardia lamblia é um parasito monoxeno (um intestinal, de forma com que seja reduzida a aderência
hospedeito apenas) que causa infecção ao ser ingerido no lúmen intestinal, de acordo com algumas pesquisas.
na forma de cistos. Também, em pessoas com baixa secreção de IgA,
existe um indício para maior suscetibilidade.
Após a ingestão do cisto, o desencistamento é iniciado
no meio ácido do estômago e completado no duodeno e Quando a giárdia sai do cisto, ela pode se aderir ao
jejuno, onde ocorre a colonização do intestino delgado epitélio e invadir a mucosa. Nesse estágio, as células T
pelos trofozoítos. podem agir liberando linfocinas que agem contra os
parasitos. No caso da sobrevivência do patógeno,
anticorpos anti-Giardia (IgG), serão importantes para o
ataque a ele por meio de granulócitos.

PATOGENICIDADE
Os trofozoítos da Giardia podem causar a deformação e
o rompimento das vilosidades intestinais graças à sua
aderência. Sabe-se que esses protozoários podem
secretar várias substâncias citopáticas, incluindo
proteases, inclusive capazes de agir sobre
glicoproteínas das vilosidades. Entretanto, o mecanismo
mais conhecido é a relação com o sistema imune.

Quando o parasito entra em contato com os macrófagos,


que ativam os linfócitos T a liberarem substâncias que
estimulam os linfócitos B a secretar IgA e IgE. Esse
segundo anticorpo induz a degranulação de mastócitos
e a liberação de substâncias como a histamina. Isso
causa uma reação anafilática local, que induz ao edema
na mucosa e contração do músculo liso, que aumenta a
Google Imagens motilidade intestinal.
Os trofozoítos se multiplicam por divisão binária Por outro lado, os mastócitos também liberam fatores
longitudinal: após a nucleotomia (divisão nuclear) e ativadores de eosinófilos e neutrófilos, que agem mais
duplicação das organelas, ocorre a plasmotomia tardiamente, provocando um aumento dessas células no
(divisão do citoplasma), resultando assim dois local da reação, dando origem a uma reação inflamatória
trofozoítos binucleados. O ciclo se completa pelo local, que pode ocasionar a lesão das células epiteliais.
126
Também, durante a ação da giárdia, os mastócitos Pré-cisto: intermediário entre o cisto e o trofozoíto.
ativados podem secretar prostaglandinas, que podem Possui forma oval a ligeiramente arredondada e é menor
dar origem à diarreia ao ativar a adenilciclase da que o trofozoíto. No citoplasma podem ser encontrados
mucosa, provocando diarreia. Também, existe a corpos cromatoides.
possibilidade do crescimento de bactérias, na porção
proximal do intestino delgado. Metacisto: multinucleada, vêm dos cistos no intestino
delgado, sofrendo divisões e dando origem aos
trofozoítos.
DIAGNÓSTICO
Clínico: Em crianças de oito meses a 10-12 anos, a Cistos: são esféricos ou ovais, medindo de 8 a 20 µm
sintomatologia mais indicativa de giardíase é diarreia de diâmetro. Possui cariossoma pequeno e, quando
com esteatorreia, irritabilidade, insônia, náuseas e possui corpos cromatoides, eles são em forma de
vômitos, perda de apetite (acompanhada ou não de bastonetes ou pequenos charutos, com pontas
emagrecimento) e dor abdominal. arredondadas. Possuem pequenos aglomerados,
quando corados com lugol, chamados de “vesículas de
Laboratorial: FAUST- exame de fezes (em fezes glicogênio”, que servem como reservatórios.
diarreicas, ocorre a presença de trofozoítos), à procura
de cistos. Também pode ser usado o ELISA e PCR.
CICLO
Os trofozoítos da E. histolytica normalmente vivem na
EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO luz do intestino grosso podendo, ocasionalmente,
No Brasil sua prevalência varia de 12,4% a 50%. Acusa penetrar na mucosa e produzir ulcerações intestinais ou
principalmente crianças de 8 meses a 12 anos de idade, em outras regiões do organismo, como fígado, pulmão,
em virtude das questões higiênicas. Também, pode ser e, mais raramente, no cérebro.
transmitida por contato oral-anal, contato com animais
contaminados e por alimentos contaminados por cistos. Os trofozoítos, ficam, preferencialmente no intestino
grosso e são anaeróbios, porém, são hábeis utilizadores
ENTAMOEBA HISTOLYTICA
de oxigênio, podendo sobreviver em ambientes
Todas as espécies do gênero Entamoeba vivem no contendo até 5% de O2. Como não possuem
intestino grosso de humanos ou de animais, à exceção mitocôndrias, utilizam mecanismos celulares diferentes
da Entamoeba moshkoviskii, que é uma ameba de para a obtenção anaeróbica de energia. Dessa forma,
vida livre. são liberados CO2, etanol e ATP. Os alimentos são
ingeridos tanto por pinocitose quanto por fagocitose, e a
Esse gênero se caracteriza por possuir núcleo esférico locomoção se dá mediante a pseudópodes.
ou arredondado e vesiculoso, com a cromatina periférica
formada por pequenos grânulos justapostos e
distribuídos regularmente na parte interna da membrana
nuclear, lembrando uma roda de carroça; o cariossoma
é relativamente pequeno, central ou excêntrico.

Dentro desse gênero, existem subdivisões quanto à


quantidade de núcleos no cisto maduro (E. histolytica
com quatro e E. coli com oito) e quanto aos que
aparentemente não possuem cisto (E. gengivalis).

MORFOLOGIA
Apresenta as fases: trofozoíto, cisto, pré-cisto e
metacisto.

Trofozoíto: mede cerca de 20 a 40µm, podendo atingir


60 µm na sua forma invasiva. Geralmente, se apresenta
mononucleada, com emissão rápida de pseudópodes
hialinos, com movimentação unidirecional e, quando
proveniente de desinteria, pode vir acompanhado de
eritrócitos no citoplasma.

O citoplasma apresenta-se em ectoplasma, que é claro


e hialino, e endoplasma, que é finamente granuloso,
com vacúolos, núcleos e restos de substâncias
alimentares. No centro do núcleo está o cariossoma, que
pode estar acompanhado de grânulos centrais, que
podem parecer uma “roda de carroça”.
Parasitologia Humana – Neves, 13ª ed., 2004
127
Quanto ao ciclo, a E. histolytica é monoxênica e possui
quatro estágios, como representado na figura anterior.

Ele se inicia com a ingestão de cistos, com a passagem


pelo estômago (os cistos são resistentes à ação da
acidez estomacal) e chega até o final do intestino
delgado ou à primeira porção do intestino grosso, onde
ocorre o desencistamento, com a saída do metacisto.

Após essa etapa, o metacisto sofre divisões nucleares e


citoplasmáticas, de forma a dar origem a quatro e depois
oito trofozoítos, chamados trofozoítos metacísticos.
Eles, então, se dirigem ao intestino grosso, formando
colônias aderidas à parede intestinal, obtendo nutrientes
de bactérias e de restos de alimentos.

Em situações de quebra do equilíbrio entre o hospedeiro


e o parasita, o entamoeba pode invadir a submucosa
intestinal e se multiplicar, formando úlceras e, por meio
Google Imagens
da invasão da circulação, podem chegar em outros
órgãos como fígado, rim, pulmão, cérebro e pele.
As lesões amebianas são mais frequentes no ceco e na
região retossigmodiana. As úlceras variam muito em
tamanho e forma e podem estender-se a grandes
proporções do intestino grosso. Ocasionalmente, os
trofozoítos podem induzir uma resposta inflamatória
proliferativa com formação de uma massa
granulomatosa, chamada "ameboma".

Google Imagens

PATOGENICIDADE
Sabe-se, hoje, que a patogenicidade atrelada à
amebíase está relacionada ao ciclo dos trofozoítos
invasivos. Acredita-se que a E. histolytica consiga
invadir a mucosa intestinal mediante a lesão da célula
subjacente.

A ameba, inicialmente, se ligaria fortemente à célula por


meio de lectinas, com o auxílio de formações filopódicas
que ampliam a adesão, e, logo após, segue a fagocitose.
Após a lesão epitelial, o avanço da patogenia se dá com
a liberação de enzimas proteolíticas (hialuronidade,
protease e mucopolissacaridases). Como a ameba
parece ter dificuldade de penetrar o epitélio intacto, ela,
provavelmente, inicia a invasão da mucosa por regiões
intraglandulares.

Na mucosa, os trofozoítos se multiplicam e migram,


pelos tecidos, até a muscularis mucosae. Daí, podem
prosseguir até outras partes do corpo, determinando
uma ulceração em “botão de camisa” ou em “colo de
garrafa”.

128
IMUNIDADE Alimentos também podem ser contaminados por cistos
veiculados nas patas de baratas e moscas (essas
A E. histolytica induz respostas celular e humoral em
também são capazes de regurgitar cistos anteriormente
humanos e animais, mas isto não é indicativo de
ingeridos).
imunidade efetiva após a infecção. A exacerbação da
doença pela imunossupressão sugere, por outro lado, a
Estima-se que existam cerca de 480 milhões de pessoas
função protetora dos desconhecidos mecanismos de
no mundo infectadas com a E. histolytica, das quais
defesa. Anticorpos específicos locais e circulantes são
lO% apresentam formas invasoras, isto é, alterações
produzidos regulamente durante a amebíase invasiva.
intestinais ou extra- intestinais. Essa incidência,
entretanto, é muito variável dentro de cada país,
A existência de reação de tipo imediato na pele (intra-
independentemente das condições climáticas.
dermorreação), a elevação de títulos de IgE e as IgE
específicas antiamebianas sugerem a ocorrência de
No Brasil, a amebíase apresenta grande diversidade no
anafilaxia. Também é observada hipersensibilidade
número de indivíduos infectados ou com sintomatologia
retardada, paralelamente com a amebíase hepática. A
da doença, variando de região para região. No Sul e
elucidação da reação antiamebiana é complicada pelo
Sudeste do país, a prevalência varia de 2,5% a 11%, na
grande número de componentes antigênicos existentes
Região Amazônica atinge até 19%, e nas demais
na E. histolytica que podem induzir respostas diversas.
regiões fica em tomo de 10%.

DIAGNÓSTICO Dados estatísticos indicam que de cada 1.000 pacientes


As principais manifestações clínicas do abscesso com ameba, cerca de dez apresentam disenteria e
hepático amebiano são representadas pela tríade: dor, apenas um, úlcera hepática.
febre e hepatomegalia. A dor se localiza no quadrante
FAMÍLIA ANCYLOSTOMIDAE
superior direito do abdome, com hepatomegalia
dolorosa em 90% dos pacientes. Inclui, entre outros Ancylostomidae é uma das mais importantes famílias de
sintomas, febre intermitente e irregular, variando de Nematoda cujos estágios parasitários ocorrem em
38°C a 40°C com calafrio, anorexia e perda de peso. A mamíferos, inclusive em humanos, causando
amebíase possui período de incubação de sete dias a ancilostomose.
quatro meses. Pode ser intra e extra-intestinal.
A família Ancylostomidae (do gr. ankylos = curvo + gr.
A disenteria amebiana aparece mais frequentemente de tomma = boca), sendo que as mais expressivas
modo agudo, acompanhada de cólicas intestinais e subfamílias são:
diarreia, com evacuações mucossanguinolentas ou com • Ancylostominae: espécies que apresentam
predominância de muco ou de sangue, acompanhadas dentes na margem da boca (ex.: A. duodenale e
de cólicas intensas, de tenesmo ou tremores de frio. A. ceylanicum);

Clínico: o diagnóstico clínico é bastante complicado,


principalmente na fase aguda, em que os sintomas são
bem parecidos com a Salmonelose, disenteria bacilar,
síndrome do colon irritado e esquistossomose. Logo,
somente o achado de cistos nas fezes pode ser utilizado
para confirmação.

Laboratorial: o exame de fezes é o método mais eficaz,


já que identifica cistos ou trofozoítos. Com o uso de
purgantes, a presença de trofozoítos é facilitada.

O exame direto das fezes sem conservador é muito Google Imagens. A. duodenale
importante na distinção entre a disenteria amebiana e a • Bunostominae: espécies que possuem
bacilar. Nesta última, o número de evacuações é sempre lâminas cortantes circundando a margem da
maior, com tenesmo intenso e grande número de boca (ex.: N. americanus).
piócitos e hemácias intactas. Isto normalmente não
ocorre na disenteria amebiana.

EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO
O mecanismo de transmissão ocorre através de
ingestão de cistos maduros, com alimentos (sólidos ou
líquidos). O uso de água sem tratamento, contaminada
por dejetos humanos, é um modo frequente de
contaminação; ingestão de alimentos contaminados
(verduras cruas - alface, agrião; frutas - morango) é
importante veículo de cistos.
Google Imagens. N. americanus
129
MORFOLOGIA Após entrar na pele, ele escapa da cutícula externa e se
movimentando, entram nos tecidos liberando enzimas
Necator americanus: forma cilíndrica, com extremidade
parecidas com colagenases, facilitando o acesso aos
cefálica bem curvada dorsalmente, cápsula bucal
tecidos. Da pele, vai para a circulação sanguínea ou
profunda, com duas lâminas cortantes, semilunares, em
linfática, e chegam ao coração, indo, pelas artérias
regiões mais externas e internas.
pulmonares, para os pulmões. Fica de dois a sete dias
em fase L3 e perdem a cutícula, se transformando em
Macho menor do que a fêmea, medindo 5 a 9mm de
larva de quarto estádio (L4).
comprimento por 300µm de largura; bolsa copuladora
bem desenvolvida, com lobo dorsal simétrico aos dois
Atingindo os bronquíolos, “pegam carona” na secreção
laterais; gubernáculo ausente.
e nos movimentos ciliados da árvore brônquica em
direção à traqueia, faringe e laringe, onde são engolidos
Fêmeas medem 9 a 11 µm de comprimento por 350p de
e chegam ao intestino.
largura, com abertura genital próxima ao terço anterior
do corpo; extremidade posterior afilada, sem processo
No intestino delgado, após oito dias, inicia-se o
espiniforme terminal; ânus antes do final da cauda.
parasitismo hematófago, prendendo-se à mucosa do
intestino pela capsula bucal. O parasito então entra na
CICLO fase final L5, iniciando a reprodução e isso e ocorre
depois de 15 dias depois do início da infecção. No
estágio final, iniciam a postura.

Quando a penetração por L3 é oral, as larvas perdem a


cutícula no estômago, sob a ação do suco estomacal.

PATOGENICIDADE
As causas primárias da doença podem ser: migração de
larvas e implantação do parasito ao intestino. A etiologia
secundária se refere à permanência dos parasitos no
intestino delgado e estão também associados a
questões bioquímicas e fisiológicas da infecção.

No local da penetração do ancilostomídeo podem


aparecer lesões traumáticas e inflamação associada. A
infecção pode causar reação de hipersensibilidade,
podendo até haver pápula eritematosa ou formação de
Google Imagens
vesículas. Também pode haver infecção secundária à
Os ancilostomídeos, assim como outros nematoides do verme.
parasitos, é monoxeno, possui duas fases básicas: uma
de vida livre, e uma no hospedeiro definitivo. Os ovos Logo, dor epigástrica, somada à diminuição do apetite,
dos ancilostomídeos depositados pelas fêmeas (após a indigestão, cólica, desconforto abdominal, náuseas,
cópula), no intestino delgado do hospedeiro, são indisposição, vômitos, flatulência e até mesmo diarreia
eliminados para o meio exterior através das fezes. sanguinolenta. A anemia é causada pelo imenso
hematofagismo exercido pelos vermes.
Para que os cistos eclodam, é necessário que a umidade
seja alta (>90%), boa oxigenação (não eclodem nas Temos, pois, dois aspectos distintos na ancilostomose:
fezes) e a temperatura, elevada. A embrionia dá origem
• uma fase aguda, determinada pela migração
à larva de primeiro estádio (L1), do tipo rabditoide, que
das larvasno tecido cutâneo e pulmonar e pela
apresenta movimentos serpentiformes e se alimenta de
instalação dos vermes adultos no intestino
matéria orgânica e microrganismos. 4 dias depois:
delgado (duodeno);
• uma fase crônica, determinada pela presença
Ela pode ganhar uma nova cutícula externa, perder a
do verme adulto que, associado à expoliação
anterior, continua com a mesma alimentação, sendo
sanguínea e à deficiência nutricional irão
referida como larva de segundo estádio (L2).
caracterizar a fase de anemia.
Após, essa mudança, pode produzir uma cutícula
Com a instalação e persistência da anemia (microcítica
interna, que passa a ser coberta pela antiga, sendo que
e hipocrômica), da leucocitose, da eosinofilia e da baixa
uma está mais exterior e a outra mais interior, e fica
taxa de hemoglobina, várias mudanças fisiológicas e
chamada larva de terceiro estádio (L3), do tipo
bioquímicas agravam o estado orgânico do hospedeiro.
filaroide, denominada larva infectante. Não se alimenta
Nos casos fatais, pode-se observar, na maioria dos
e apresenta movimento serpentiforme, de modo que
casos, inflamação na parede do jejuno, do íleo e
pode infectar ao penetrar a pele.
inúmeras micro hemorragias nos locais nos quais os
vermes se fixavam.

130
IMUNIDADE
Na fase aguda, a eosinofilia é o marco mais importante,
com uma elevação discreta nos níveis de IgE e IgG. Na
fase crônica, observa-se, além da eosinofilia, el0evação
de IgE, IgA, IgG e IgM. Os anticorpos só aparecem
nessa fase e conseguem garantir imunidade às
infecções posteriores.

DIAGNÓSTICO
Os exames de fezes, por método qualitativo que
indica ou não presença de ovos de ancilostomídeos,
são feitos pelos métodos de sedimentação
espontânea (Hoffman, Pons e Janner), de
sedimentação por centrifugação (Blagg e cols.,
método de MIFC), e de flutuação (Willis).

Através de exame por método de coprocultura,


utilizado para obtenção de L3, é possível se fazer,
além do diagnóstico genérico, o específico para A.
duodenale e N. americanus, e também quantificar o
nível de infecção do paciente, ela contagem de L3, por
grama de fezes.

EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO
Nos seres humanos, a ancilostomose ocorre
preferencialmente em crianças com mais de seis anos,
adolescentes e idosos. Nos idosos, podem sobreviver
mais e, no caso do A. duodenale, são postos cerca de
22 mil ovos, enquanto no N. americanos, 9 mil ovos.

No Brasil, o escritor Monteiro Lobato descreveu a


doença com base no “Jeca Tatu” com a frase “o Jeca
não é assim – ele está assim.”

No caso do A. duodenale, a infecção por L3 pode ser


transcutânea ou oral, mas a última é mais eficaz. Para o
N. americanus, a transcutânea parece ser mais efetiva.

REFERÊNCIAS
1. NEVES, David Pereira. Parasitologia Humana.
11. ed. São Paulo: Atheneu, 2004.
2. NEVES, Emília Maria dos Santos Ferreira
Trindade. Macrófago: biologia, diversidade e
função. 2015. Tese de Doutorado. [sn].
3. SANTANA, Luiz Alberto; VITORINO, Rodrigo
Roger; ANTONIO, Vanderson Esperidião;
MOREIRA, Tiago Ricardo; GOMES, Andréia
Patrícia. Atualidades sobre giardíase / Updates
on giardiasis. J. Bras. Med, v. 102, n. 1, jan-fev.
2014.

131
Entretanto, diferentemente de outras imunoglobulinas,
PROBLEMA 9 as concentrações, mesmo após infecções são muito
difíceis de medir. Isso ocorre devido:
• À menor meia-vida (quando ligado a mastócitos,
REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE pode chegar a 10 dias);
Se referem a respostas imunes exageradas ou • À produção ocorre em menores quantidades
inapropriadas a antígenos inofensivos, por exemplo. (geralmente em resposta a alérgenos e a
parasitos);
Existem quatro tipos: • À disponibilidade reduzida graças ao sequestro
• Tipo I: alérgeno reage com Ig; de IgE garantido pelos mastócitos e basófilos.
• TipoII: antígeno da superfície celular induz
inflamação (IgG ou IgM);
• Tipo III: deposição de complexos imunes (com
ativação do complemento ou não);
• Tipo IV: antígeno ativa células T, que ativam
macrófagos que liberam mediadores.

Doenças autoimunes podem se relacionar diretamente


aos tipos de hipersensibilidade. Abaixo estão listados
alguns exemplos.

Associadas à resposta humoral:


• Anemia hemolítica autoimune: hipersensibili-
dade tipo II;
• Síndrome de Goodpasture: hipersensibilidade
tipo II;
• Tireoide de Hashimoto: hipersensibilidade tipo
III; Imagem autoral
• Febre reumática: hipersensibilidade tipo II;
Quanto à degradação, isso ocorre nos lisossomos e
• Artrite rematoide: hipersensibilidade tipo III;
essa classe de anticorpo é incapaz de atravessar a
• Lúpus eritematoso sistêmico: hipersensibili- placenta. A parte em cinza, na imagem, é a região que
dade tipo II e tipo III. apresenta variabilidade.
Associadas às reações mediadas por células T (tipo IV): A produção de IgE pode ser estimulada pela
• Diabetes melito dependente de insulina (tipo I) diferenciação do TH0 em TH2. O perfil TH1 estimula a
• Esclerose múltipla; produção de IFN-γ, que, na presença de adjuvantes
• Artrite reativa; (podem ser paredes celulares bacterianas ou DNA
• Síndrome de Sjögren; bacteriano, por exemplo, e são potentes ativadores dos
• Artrite reumatoide. macrófagos.
HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO I O perfil TH2 pode ser estimulado por IL-4, IL-13 (que
Nesse tipo de hipersensibilidade, a injeção de qualquer estimula a produção de muco), IL-5 e IL-10, de forma a
proteína em um indivíduo com hipersensibilidade estimular células B a produzir anticorpos. O perfil TH1 é
imediata à mesma, pode causar anafilaxia. Nesse estimulado por IL-12 e IFN-γ.
contexto, alérgeno (termo criado por von Pirquet) se
refere às substâncias estranhas capazes de causar uma
resposta imune. Logo, é aplicável a antígenos capazes
de induzir hipersensibilidade imediata. Geralmente são
proteínas de 10 a 40 kDa de peso molecular e são
livremente solúveis em água.

IMUNOGLOBULINA E
Em 1921, Küstner, alérgico a peixe, inoculou seu soro
em Prausnitz, alérgico a pólen e não a peixe e viu que
havia transferência de hipersensibilidade. O teste P-K
recebe esse nome por causa deles.

Pesquisadores, em 1967, descobriram que se tratava de


uma nova imunoglobulina. Em primeiro momento, as Imagem autoral
células que possuem receptores FcεRI são mastócitos e
basófilos, que são possuidores de grandes quantidades OBS.: Alergia à abelha – A IL-10, produzida por células
de histamina. T, pode induzir o aumento da produção de IgG4 e
132
diminuir a expressão de IgE. Logo, em pacientes com
alergia à toxina da abelha ou pelo de gato, a expressão
de IL-10 estimula a produção de IgG, que é reativo ao
antígeno. Essa forma, a interleucina pode induzir
tolerância aos alérgenos.

Alguns alérgenos são capazes de potencializar


respostas imunes. Por exemplo, a cisteína protease Der
p1, presente nas partículas fecais do ácaro doméstico,
pode clivar CD23 ou CD25 nos linfócitos e potencializar
respostas imunes. Nesse caso, a cisteína rompe junções
epiteliais e facilita a entrada de proteínas.

Alérgenos inaláveis, como pólen, partículas fecais de


ácaros, partículas de hifas, esporos de fungos e pelos
de animais podem ser comuns iniciadores de uma
reação alérgica. Os alérgenos mais comuns nos
alimentos estão presentes no ovo, leite, amendoim, soja,
frango e mariscos. Raramente ocorre interação com IgE
nesse caso, já que a absorção é mínima e o contato
geralmente se dá com mastócitos que são ativados por
antígenos não digeridos ou que caíram na corrente
sanguínea.

CÉLULAS ENVOLVIDAS
Mastócitos: apresentam histamina (característica Fonte: Imunologia – Roitt, 6ª Ed.
exclusiva deles e dos mastócitos, nos humanos).
Expressam FcεRI de alta afinidade mesmo em estado de
repouso (assim como os basófilos e essa é outra TESTES CUTÂNEOS PARA O DIAGNÓSTICO E
característica exclusiva). Não podem ser identificados INVESTIGAÇÃO
na circulação, estão somente em tecidos As respostas podem ser induzidas por puntura cutânea
conjuntivos e nas membranas das mucosas. Nas com agulha calibre 25 para introduzir 0,1 µL de extrato
mucosas, apresenta grânulos com triptase (age como na pele. A resposta cutânea característica da
um fator de crescimento para fibroblastos) e sem hipersensibilidade tipo I é a pápula com eritema. A
quimase (age degradando mediadores inflamatórios) e pápula é causada pelo extravasamento de soro dos
nos tecidos conjuntivos, apresenta tanto quimase como capilares sanguíneos da pele, o que é resultado da ação
triptase. histamínica. O eritema é causado por um reflexo axonal
e o prurido também é causado pela ação da histamina.
Basófilos: apresentam histamina e FcεRI de alta
afinidade no repouso. São circulantes e geralmente não A resposta positiva é confirmada pela presença de
estão presentes nos tecidos normais, mas podem ser eritema de 3x3 mm em crianças e 4x4 mm em adultos.
recrutados na presença de citocinas. Apresentam Em 80% dos casos, o paciente apresenta IgE nos
pequenas quantidades triptase e quimase. mastócitos da pele. O resultado positivo indica
probabilidade maior de apresentar a hipersensibilidade.
A degranulação dessas duas células ocorre com a fusão
de bolsas de histamina à membrana com subsequente Resposta lenta e tardia: podem ocorrer após a resposta
secreção, geralmente associada com a reação cruzada imediata na pele ou pulmões. Só é comum após
de IgE. Esse reconhecimento leva ao influxo de cálcio, resposta intensa com eritema 10x10 mm, de 2 a 3 horas
que leva à produção de citocinas, que ativam a após a pápula, podendo perdurar por até 24 horas.
fosfolipase A2, que hidrolisa fosfolipídeos da membrana Geralmente, estão associadas a inflamações
em ácido araquidônico, que é convertido em persistentes.
prostaglandinas e leucotrienos. O cromoglicato
dissódico bloqueia o influxo de cálcio e pode ser usado
para o tratamento de alergias. O cromoglicato sódico e SINTOMAS DA DOENÇA ALÉRGICA
a teofilina inibem a liberação de histamina dos À priori, acontece, depois de 15 minutos da reação com
mastócitos, mas não dos que estão presentes nas o antígeno, a liberação de mediadores como a
mucosas. Isso é importante para a reação da asma. histamina. Geralmente, as respostas alérgicas
apresentam TH2, IgE, IgG4, IgA e IgG. Nos asmáticos,
Existem fatores genéticos associados à doença alérgica, as paredes brônquicas caracterizam-se por alto nível de
já que se um dos pais possuir a sensibilidade, a chance linfócitos TH2, eosinófilos e produtos de eosinófilos.
de o filho também ter é de 30%. Se ambos possuírem, Também, há alta de NO.Alguns fatores desencadeiam
50%. os sintomas, como:

133
• IL-5 e TNF-α atraem mastócitos –que liberam ação da fosfolipase A, que aumenta a síntese de
histamina e LTD4, que causam broncoespasmo prostaglandinas e leucotrienos.
imediato, ao induzi edema, aumento da
secreção de muco e contração da musculatura
REAÇÕES CONTRA ERITRÓCITOS E PLAQUETAS
lisa– e basófilos, que liberam seus conteúdos;
• Mastócitos e basófilos liberam quimiocinas Uma reação transfusional pode ocorrer quando o
(que atraem eosinófilos, neutrófilos, linfócitos e receptor possui anticorpos reagentes aos eritrócitos do
macrófagos) LTB4 (leucotrieno B4, quimiotáxico doador. Por exemplo.
para neutrófilos e mediador da inflamação), IL-5 • No ABO: antígeno é um carboidrato das
e TNF- α; glicoproteínas (IgM);
• Células T liberam citocinas inflamatórias. • No Rh: antígeno é uma proteína da membrana,
de 30kDa (IgG);
Hiper-reatividade brônquica não específica (BHR): • No MN: antígeno é um segmento N-terminal
está presente nos pacientes com asma e é uma glicosilado daglicoforina A, presente na
característica importante da doença. A obstrução pode membrana (IgG);
ser induzida por ar frio ou atividade física e tem • No Ss: antígeno na glicoforina B(IgG);
participação dos neutrófilos (enzimas lisossomais), • No Kell: antígeno Kell, uma zinco-
basófilos (histamina e citocinas), eosinófilos (MBP- endopeptidase (IgG).
proteína basal principal e ECP- enzima catiônica dos
eosinófilos) e monócitos (prostaglandinas). PROVA CRUZADA:
Forma de garantir que o soro do receptor não contenha
↑[MBC] e ↑[ECP] = ↑Infiltração eosinofílica anticorpos contra os eritrócitos do doador.

PAPEL DOS ESTEROIDES REJEIÇÃO HIPERAGUDA DO ENXERTO


Os esteroides não inibem a liberação de histamina, mas Pode acontecer, por exemplo, quando o receptor tem
bloqueiam a resposta tardia e lenta nos pulmões, anticorpos pré-existentes a antígenos do sistema ABO e
impedem a produção de eosinófilos na medula óssea e entra em contato com algumas hemácias no órgão do
inibe a transcrição de citocinas como a IL-5 e TNF- α. doador.

DESSENSIBILIZAÇÃO E IMUNOTERAPIA DHRN


Proposta por Noon e Freeman em 1911, a Ocorre quando uma mãe de Rh negativo sensibilizada
hipossensibilização consiste na aplicação de sucessivas tem uma outra gravidez, sendo que o filho possui Rh
doses crescentes de alérgeno como forma de positivo, e ela produz anticorpos anti-Rh da classe IgG
imunização contra toxinas pela estimulação da produção contra as células sanguíneas do feto.
e liberação de IgG específicas.
ANEMIA HEMOLÍTICA AUTOIMUNE OU INDUZIDA POR
HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO II DROGAS
São mediadas por anticorpos IgG ou IgM ligados a Primeiro, deve-se falar sobre anticorpos quentes
células ou tecidos específicos. Os anticorpos dirigidos a (T>37ºC), que são reativos ao calor e causam a
antígenos de superfície celular são patogênicos, depuração acelerada de eritrócitos, principalmente
enquanto dos direcionados para os antígenos relacionados ao sistema Rh. Também existem os
intracelulares não são. anticorpos frios (T<37ºC), que são reativos ao frio, de
classe IgM, ótimos fixadores de complemento e são
MECANISMOS DE DANO mais comuns no sistema Ii. Podem causar trombose
periférica graças à eritrólise periférica associada ao
Os anticorpos podem desencadear a ativação do complemento.
complemento por meio de receptores Fc e C3.
• Fragmentos C3a e C5a gerados pela ativação Quanto às reações droga-induzidas contra os
do complemento são quimioatraentes para componentes sanguíneos, podem acontecer por
macrófagos e polimorfonucleares, também reação de anticorpo com o medicamento absorvido
estimulando mastócitos e basófilos a ou por rompimento da autotolerância.
produzirem citocinas e quimiocinas.
• Ativação da via lítica do complemento. Medicamentos, como a penicilina, quinina, sulfonas e
Sedormid (reage com plaquetas) podem se ligar a
As células de defesa podem agir danificando seus alvos elementos dos eritrócitos ou das plaquetas e criarem
por exocitose, assim como em resposta a parasitas. neoantígenos (quando uma proteína ou ligante próprio é
Inicialmente, os neutrófilos expressam receptores Fc e alterado e passa a ser reconhecido como estranho). Isso
C3 (do complemento) e se ligar aos tecidos com leva à reatividade imune.
moléculas estranhas e os fagocitar. Como não
conseguem, liberam seu conteúdo enzimático sobre o No caso de alergia ao medicamento (como em 0,3% dos
local. Também, a reação cruzada de Fc e C3 estimula a casos com α-metildopa) os anticorpos são dirigidos aos

134
próprios eritrócitos. O complexo droga-anticorpo complexos, que saturam os mecanismos de
adsorvido com a ativação do complemento causa lise. remoção. Nesse ponto, eles se acumulam nos
tecidos. Ex.: Glomerulonefrite.
REAÇÕES CONTRA CÉLULAS SANGUÍNEAS: LÚPUS • Inalação de material antigênico: os
ERITEMATOSO SISTÊMICO E TROMBOCITOPENIA complexos podem ser formados nas superfícies
corporais após o contato com antígenos
Antígenos citoplasmáticos de neutrófilos (ANCAs): a
extrínsecos. Pode ocorrer com o contato com
proteinase-3 (C-ANCA), por exemplo, quando
fungos, plantas ou animais. Nesse caso, a
reconhecida por um anticorpo, pode dar origem à
resposta primária é com IgG. Ex.: Pulmão de
Granulomatosa de Wegener.
fazendeiro e de criador de pombos, em que o
antígeno são fungos actinomicetos presentes no
No caso do LES, anticorpos contra a mieloperoxidade,
feno e nas fezes.
presente nos grânulos perinucleares (P-ANCA), podem
ser causadores de reação hipersensível.
MECANISMOS DE REAÇÃO
Anticorpos contra plaquetas, como encontrados em 80% Os complexos induzem a liberação de aminas
dos casos de púrpura trombocitopênica. Ocorre vasoativas pelos basófilos e plaquetas. Os macrófagos,
depuração acelerada das plaquetas circulantes, por sua vez, são estimulados a liberar interleucinas e
mediada por macrófagos esplênicos. No LES, pode outras citocinas (IL-1 e TNF-α) importantes para a
haver reação contra a cardiolipina e outros fosfolipídeos, resposta inflamatória.
o que pode interromper a coagulação
Essas citocinas ativam o complemento, originando
REAÇÕES CONTRA ANTÍGENOS TECIDUAIS anafilatoxinas C3a eC5a, que estimulam a liberação de
histamina e 5-hidroxiptidamina. O C5a é um
Na síndrome de Goodpasture, há anticorpos,
quimiotáxico para neutrófilos, basófilos e eosinófilos, e
geralmente IgG, contra o colágeno tipo IV, um
sua ação pode causar microtrombos.
componente da membrana basal glomerular, de forma
com que haja reação e consequente nefrite.

No pênfigo, uma doença ulcerativa da pele, há


anticorpos para desmogleína 1 e 3, desmoplaquinas e
desmocolinas dos desmossomos (junções entre células
epidermais). Os anticorpos levam ao rompimento da
adesão, que leva à desintegração da epiderme. Essa
doença é um caso de haplótipo raro HLA-DR4
(DRB1*0402), que apresenta um peptídeo da
desmogleína-3, ausente nos outros subtipos de
DR4.

Na miastenia grave, há anticorpos para receptores da


acetilcolina. IgG e C3 e C9 do complemento nas pregas
pós-sinápticas.

Na síndrome de Lambert-Eaton, há anticorpos que


impedem a liberação eficiente de acetilcolina. Anticorpos
IgG contra canais de cálcio voltagem-dependentes ou Fonte: Google Imagens
contra a proteína sinaptogamina.
HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO III DOENÇAS POR COMPLEXOS IMUNES: MODELOS
EXPERIMENTAIS
Complexos imunes são formados quando há anticorpo
Doença do soro: é causada quando doses maciças de
se se encontrando com antígeno. São removidos,
anticorpos são aplicadas e essa quantidade é capaz de
geralmente, pelos fagócitos mononucleares.
saturar os mecanismos de eliminação dos anticorpos.
Estudada em coelhos utilizando-se de BSA (Albumina
TIPOS DE DOENÇA POR COMPLEXO IMUNE bovina sérica).
• Infecção persistente: quando há infecção Autoimunidade: em camundongos híbridos NZB/NZW,
persistente e resposta imune inadequada por existe a produção de inúmeros autoanticorpos e sofrem
anticorpos, há deposição de anticorpos nos de uma doença por complexos imunes muito parecida
tecidos. Ex. Hanseníase, malária, febre com o LES.
hemorrágica da dengue, hepatite viral e Inoculação de Antígeno na Pele de Sensibilizados –
endocardite estafilocócica. Reação de Arthus: Após imunizar sucessivamente um
• Doença autoimune: a produção contínua de indivíduo até atingir quantidades de anticorpos IgG
anticorpos leva à deposição prolongada, elevadas, é injetado antígeno na região cutânea ou
associada à formação de um maior número de subcutânea. Desenvolve-se reação com edema,
associada à hemorragia (reação de Arthus). Estudos
135
com imunofluorescência demonstraram deposição de HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO IV
antígeno, anticorpo e complemento na parede do vaso,
seguida pela infiltração neutrofílica e agregação De acordo com Coombs e Gell, as reações do tipo IV (ou
plaquetária intravascular. O TNF potencializa as do tipo tardio) se relacionam a reações mediadas por
respostas imunes, então propôs-se que ele inibiria o células em vez de respostas humorais. Existem três tipo:
agravamento da reação de Arthus e seria útil na artrite contato, tuberculínica e granulomatosa. Quando o
reumatoide. antígeno é próprio, pode causar inflamação localizada e
doença autoimune, como o DM 1. Podem haver
Hipersensibilidade Reação Tempo variações com resposta rápida mediada por anticorpo e
cutânea resposta tardia, mediada por célula.
Tipo I Pápula 5-7 mm 15min
Tipo III Arthus >50mm 5-12horas A resposta granulomatosa é a mais grave, ocasionada
Tipo IV Eritema 24-48 pela proliferação e macrófagos e é dependente do TNF-
α.
indurado 5mm horas
ESSA RESPOSTA NÃO PODE SER TRANSFERIDA
O SISTEMA COMPLEMENTO MANTÉM OS
PELO SORO, JÁ QUE OS PROTAGONISTAS SÃO
COMPLEXOS SOLÚVEIS, DE FORMA A EVITAR QUE
CÉLULAS T.
ELES SE PRECIPITEM. LOGO, ELE É
IMPRESCINDÍVEL PARA EVITAR A ACORRÊNCIA DE
Tipo de reação Tempo máximo
AGRAVOS.
Contato 48-72 horas
Tuberculínica 48-72 horas
DEPOSIÇÃO NOS TECIDOS Granulomatosa 21-28 dias
O aumento da deposição pode ser causado pelo Diferença de duração das respostas tardias
aumento da permeabilidade vascular. Também, a
turbulência do vaso influencia diretamente o aumento da
HIPERSENSIBILIDADE DE CONTATO
probabilidade de deposição.
Geralmente, ocorre reação eczematosa no local de
A afinidade dos antígenos por tecidos específicos pode contato com o alérgeno, observado principalmente com
direcionar os complexos para determinados locais. A o contato com o níquel, cromo, aceleradores de
aplicação e endotoxina que causa dano celular leva à borracha e pentadecacatecol (plantas tóxicas).
liberação de DNA, que se liga à membrana basal
glomerular saudável. Os animais produzem anti-DNA O hapteno é o nome dado às porções
por ativação das células B, que podem influenciar a imunologicamente ativas doas alérgenos citados. São
velocidade de deposição. pequenas estruturas de nebis de 1 kDa que penetram a
pele e conjugam-se com proteínas do corpo, geralmente
O IgG pode se precipitar nos vasos, enquanto o IgA se por ligações covalentes.
liga mais fracamente aos eritrócitos e pode precipitar nos
rins, pulmões e cérebro. A deposição pode ser As células de Langerhans são células dendríticas que
reduzida com o uso de antagonistas de aminas atuam como APCs em vários tecidos, apresentado MHC
vasoativas, como clorfeniramida e metil-sergida. de classe II, CD1, receptor Fc e receptores de
complemento. São capazes de internalizar proteínas
modificadas por haptenos e, sob a influência de IL-1 e
DESTRUIÇÃO DE COMPLEXOS TNF dos ceratinócitos (célula epitelial), maturam-se e
O complemento se liga aos complexos, que são aumentam a expressão de MHC de classe II. Os
reconhecidos pelo baço, já que o complexo antígeno- ceratinócitos apresentam MHC classe II e ICAM-1 na
anticorpos-complemento se liga à CR1 nos eritrócitos. membrana, além de liberar as ILs 1,3,6,8 e
Dessa forma, ficam expostos na superfície celular. No estimuladores de macrófagos e fatores de crescimento.
fígado e no baço, são destruídos por macrófagos, junto
com os CR1. Os complexos maiores são destruídos O hapteno, ao entrar nos tecidos, liga-se a um carreador,
mais facilmente, e são liberados das células sanguíneas formando um complexo. As células de Langerhans se
por meio do fator I. ligam aos complexos por meio de proteínas, internalizam
eles e migram pelos linfáticos até os linfonodos. Lá,
apresentam os antígenos aos LT CD4+, induzindo
DETECÇÃO DOS COMPLEXOS linfócitos de memória, além e T CD8. No local de
• Imunofluorescência: análise de contato, a IL-1 e TNF-α, especialmente provenientes dos
imunoglobulinas e complemento sobre macrófagos, são potentes estimuladores das moléculas
composição, padrão e área particular do tecido de adesão ao endotélio.
afetado.
• Ensaios de Detecção de Complexos Imunes Assim, monócitos se dirigem à epiderme e à junção
Circulantes: os complexos ligados a eritrócitos dermo-epitelial. Em aproximadamente 4 a 8 horas,
não causam danos. Logo, a determinação de aparecem células mononuclelares e, após 48 horas, os
complexos livres se dá pelo delicado isolamento macrófagos. O pico da ação ocorre em cerca de 48 a 72
do soro sem a presença de eritrócitos. horas após o conato, tendo protagonismo de células T

136
CD4+, sendo que as T CD8 são menos expressivas e as REFERÊNCIA
CD4+ de memória representam menos de 1%.
ROITT, Ivan; BROSTOFF, Jonathan; MALE,
Um fato interessante é que as células de Langerhans, David. Imunologia. 6. ed. Barueri: Manole, 2003. 481 p.
ao se locomoverem, liberam quimiocinas que atraem o
perfil TH1. Isso se chama efeito chamariz.

A supressão (regulação negativa) ocorrem em cerca de


48-72 horas após o início da resposta, com macrófagos
e ceratinócitos liberando PgE, que inibe as IL-1 e IL-2.
Então, as células T se ligam aos ceratinócitos ativados
e estimulam a degradação do complexo hapteno-
carreador. Também, os mastócitos dérmicos,
ceratinócitos ativados e linfócitos liberam TGF-β, que
inibe a inflamação e os efeitos proliferativos da IL-1 e IL-
2.

A IL-1, produzida pelos ceratinócitos, nos macrófagos,


inibe o metabolismo oxidativo e deprime a produção de
pró-inflamatórios, enquanto a IL-10 inibe a expressão de
MHC de classe II e a diferenciação do perfil TH1.

HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO TUBERCULÍNICA


Observada por Koch ao observar que pacientes
tuberculosos, inoculados com filtrado de tuberculina,
avançam com febre e doença generalizada, com
enduração e edema no local da inoculação. Em pessoas
sensíveis, M. tuberculosis, M. leprae e L. tropica
podem causar reações semelhantes. O nome para a
reação cutânea é reação de Fernandez, que é uma
área edematosa firme e avermelhada na pele após 48 a
72 horas após o desafio, na qual há muitos leucócitos e
macrófagos (com muito mais MHC II do que o normal).

Geralmente, a reação tuberculínica cede de 5 a 7 dias,


mas, com a persistência do antígeno, pode evoluir para
reação granulomatosa. O sinal de reação tuberculínica
não quer dizer doença ativa, mas sim, uma infecção
prévia.

HIPERSENSIBILIDADE GRANULOMATOSA
Também causada por M. tuberculosis e M. leprae, e
pode ocorrer em reação ao zircônio, berílio e
hipersensibilidade na sarcoidose. O granuloma de
corpo estranho pode ocorrer com o talco, sílica e outros
agentes particulados que os macrófagos são incapazes
de digerir. Nesse caso, os macrófagos secretam
citocinas cronicamente, e, inclusive, TNF, de forma com
que surgem lesões e aparecem células epitelioides
pela junção dos monóciotos. Essas células, por sua
vez, podem se unir formando células gigantes
multinucleadas. Na lesão fibromatosa, há células
epitelioides, macrófagos e, ao redor, uma bainha de
células T, podendo apresentar fibrose graças à
proliferação de fibroblastos.

Reação de Mitsuda: aos antígenos de m. leprae.


Reação de Kveim: pacientes com sarcoidose reagem a
antígenos esplênicos (desconhecidos) derivados de
outrso pacientes portadres da doença.

137
RESUMÃO DE CITOCINAS

Fonte: Scribd (clique aqui), Cássia Gabriela

Fonte: Google Imagens


138
Fonte: Roitt, 6ª Ed.

139
Fonte: Roitt, 6ª Ed.

Regulação da Resposta imune. Fonte: Teixeira, Henrique C & Dias, Lavínia & Menão, Tauane & Oliveira, Erick. (2019).
Proteínas de checkpoint imunológico como novo alvo da imunoterapia contra o câncer: revisão da literatura. HU Revista. 45.
325-333. 10.34019/1982-8047.2019.v45.28820.

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