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Qual a melhor forma para

o fechamento da
cavidade abdominal após
uma laparotomia, levando
em consideração os tipos
de fios e técnicas de
suturas?

8.1 CLASSIFICAÇÃO
Quadro 8.1 - Tipos de feridas
8.2 MÉTODOS DE FECHAMENTO DAS
FERIDAS
Para o fechamento primário, a técnica aplicada, o material de
sutura e o tipo de agulha precisam ser avaliados previamente.
Há várias técnicas de sutura. A pele deve ser fechada com suturas
que reaproximem as bordas, com pontos simples ou técnicas
interruptas ou contínuas. Os nós aplicados não devem ser muito
apertados, para evitar edema da pele com o desenvolvimento de
processo inflamatório e prevenir necrose das bordas. Suturas
intradérmicas proporcionam melhores aproximações das bordas
e resultados estéticos favoráveis, mas devem ser evitadas em
áreas com contaminação anterior à sutura.
O material de sutura ideal deve ser escolhido de acordo com o
tipo de tecido a ser manipulado.
A agulha deve transfixar os tecidos causando a menor lesão
tecidual possível. Para escolha da agulha, devem-se considerar o
tipo e a acessibilidade do tecido que será suturado, conferindo
maior ou menor facilidade em sua transecção (por exemplo,
intestino delgado/agulha cilíndrica; pele/agulha triangular
cortante), além do diâmetro do fio de sutura. Já quanto aos fios, as
propriedades que devem ser avaliadas são: força de tensão,
elasticidade, diâmetro, reatividade tecidual, absorção de fluidos e
pliabilidade (facilidade de manuseio).
Quadro 8.2 - Principais materiais e características dos fios de sutura
A seguir, são descritos os principais fios utilizados e suas
principais características.
Quadro 8.3 - Componentes dos fios de sutura e média de duração das tensões na
ferida
Os fios absorvíveis biológicos, como o categute, são absorvidos
por processos biológicos, e os fios absorvíveis sintéticos, como a
polidioxanona, são absorvidos por hidrólise.
8.3 TÉCNICA BÁSICA
Figura 8.1 - Posicionamento correto do instrumento e da pinça
Fonte: acervo Medcel.

Figura 8.2 - Passagem do fio

Legenda: (A) primeira passagem do fio; (B) preparo do nó com o porta-agulha.


Fonte: acervo Medcel.

Figura 8.3 - Montagem do nó, para evitar que o fio fique cruzado


Fonte: acervo Medcel.

Figura 8.4 - Utilização de três a quatro nós, em sentido contrário, para evitar que o
fio “corra”

Fonte: acervo Medcel.

8.4 TÉCNICAS
8.4.1 Preparo da ferida e escolha do fechamento
Feridas irregulares, com áreas desvitalizadas, devem ser
previamente debridadas. Toda ferida contaminada ou infectada
deve ser adequadamente lavada, mesmo que para isso seja
necessário anestesiar o paciente. Nesses casos, deve-se,
também, considerar o uso de antibióticos após o procedimento.
Em casos de grandes perdas de tecido, devem ser consideradas
opções como retalhos ou enxertos. O fechamento primário deve
ser empregado quando puder ser realizado sem grande tensão
entre as bordas, a menos que se utilizem técnicas como pontos
em polia.
8.4.2 Pontos
Pontos restritos à pele determinam a formação de coleções
profundas na ferida reparada (Figura 8.5 - A). Por isso, devem-se
aplicar pontos profundos para fechar o “espaço morto” e evitar
coleções (Figura 8.5 - B).
Figura 8.5 - Tipos de pontos

Legenda: (A) pontos restritos à pele e à derme com a formação de “espaço morto”;
(B) ponto profundo evitando a formação de coleções.
Fonte: acervo Medcel.

8.4.3 Pontos separados


Na técnica de sutura com pontos separados, a entrada e a saída
da agulha na pele devem acontecer em ângulo perpendicular,
determinando a eversão das bordas da ferida. Note, na Figura 8.6,
como a passagem do fio de sutura abrange todas as camadas da
ferida (pele/derme/subcutâneo — Figura 8.6 - A). Essa técnica é
válida para locais de pouca espessura de tecido celular
subcutâneo. É necessária uma sutura com distância bem regular
entre os pontos (Figura 8.6 - B). As bordas da ferida estarão bem
coaptadas quando estiverem no mesmo nível ou evertidas (Figura
8.6 - C).
Figura 8.6 - Pontos separados

Legenda: (A) fio de sutura abrangendo todas as camadas da ferida; (B) pontos


com distância regular; (C) bordas da ferida coaptadas no mesmo nível ou
evertidas; (D) bordas da ferida invertidas.
Fonte: acervo Medcel.

8.4.4 Pontos separados em laço (Donatti e falso


Donatti ou Allgöwer)
A técnica de sutura com pontos separados em laço ou polia
(“longe-longe e perto-perto”) é ideal para feridas com tensão. Tal
técnica é capaz de conter as camadas profundas e as superficiais.
Na primeira passagem da agulha, mais distante das bordas e
abrangendo a profundidade, tem a saída também distante da
borda. Na volta da agulha, a passagem estará mais próxima da
borda da ferida e em menor profundidade, formando, assim, a
eversão das bordas (Figura 8.7).
Figura 8.7 - Representação dos pontos

Legenda: (A) pontos separados em laço — ponto de Donatti; (B) representação da


sutura com as bordas coaptadas.
Fonte: acervo Medcel.

8.4.5 Sutura contínua


Utilizada em planos profundos, como aponeuroses ou tecido
celular subcutâneo, é pouco utilizada em estruturas superficiais,
exceção feita ao couro cabeludo.
Figura 8.8 - Sutura contínua

Fonte: acervo Medcel.

#importante
Nos nós cirúrgicos os fios não podem se
cruzar, pois podem arrebentar. Os nós
devem ser apertados o suficiente para
manter a tensão de aproximação dos
tecidos, mas não exageradamente
apertados, pois podem causar isquemia
dos tecidos.

8.4.6 Laceração triangular (ponto de Gilles)


Aplicam-se três pontos de sutura, de forma a trazer as bordas do
ângulo da ferida. Essa técnica alivia o suprimento vascular da
ponta do retalho.
Figura 8.9 - Sutura em laceração triangular

Fonte: acervo Medcel.

8.4.7 Pontos subdérmicos e intradérmicos


Na técnica de sutura intradérmica, os pontos “correm” por
intermédio da linha subdérmica. Inicialmente, ancora-se a sutura
em um dos ângulos da ferida e faz-se a passagem progressiva e
contínua, borda a borda, até a outra extremidade. O fechamento
por camadas facilita o fechamento da pele com essa técnica,
além de oferecer melhor resultado estético. Apesar da
recomendação clássica de se realizar suturas cutâneas com fios
inabsorvíveis (exemplo: poliamida), modernamente tem-se usado
com muita eficácia a sutura intradérmica com fios absorvíveis
sintéticos de curta duração, como o poliglecaprona, com
excelentes resultados. A vantagem é que não há necessidade de
se retirar as suturas.
Figura 8.10 - Sutura intradérmica
Fonte: acervo Medcel.

8.4.8 Correção das bordas da ferida (“orelha de cão”)


Deve-se suspender a borda saliente e fazer uma excisão,
contornando-a. As bordas estarão alinhadas para serem
aproximadas.
Figura 8.11 - Correção da borda da ferida
Fonte: acervo Medcel.

8.4.9 Tempo de remoção de suturas não absorvíveis


Quadro 8.4 - Tempo de remoção de suturas

8.4.10 Situações especiais


Quadro 8.5 - Técnicas cirúrgicas específicas para cada sistema
#importante
As suturas de pele devem ser feitas com
pontos inabsorvíveis, ao passo que as
suturas de mucosas, com pontos
absorvíveis de curta duração.

8.5 PROFILAXIA DO TÉTANO


Feridas contaminadas e com tecidos desvitalizados devem ser
debridadas e limpas antes de se realizar a sutura. Em alguns
casos, quando houver a necessidade de debridamentos mais
extensos, a ferida poderá ser deixada para granular e cicatrizar
por segunda intenção. Geralmente, um curso básico de, no
mínimo, 3 doses da vacina contra o tétano com reforço a cada 10
anos é o padrão internacional de vacinação. Entretanto, os
pacientes podem estar deficientes em 1 ou mais doses.
A profilaxia do tétano na Emergência consiste em:
▶ Pacientes com ferida limpa, com a última dose de reforço há
mais de 10 anos: requerem a aplicação de dupla bacteriana tipo
adulto (dT) ou Toxoide Tetânico (TT);
▶ Pacientes com ferida limpa, com a última dose de reforço há
menos de 10 anos: não necessitam de vacinação;
▶ Pacientes que não receberam o esquema de vacinação de 3
doses: devem iniciar as aplicações programadas, porém devem
receber, imediatamente, a imunoglobulina do tétano e dT ou TT;
▶ Pacientes com ferida grosseiramente contaminada, com a
última dose de reforço há mais de cinco anos: requerem apenas
dT ou TT.
Quadro 8.6 - Profilaxia do tétano acidental
1 Serpentes dos gêneros Micrurus e Leptomicrurus (corais verdadeiras).
2 Serpentes dos gêneros Bothrops e Bothrocophias (jararacas, caiçara).
3 Serpentes do gênero Lachesis (pico de jaca, surucutinga).
4 Serpentes do gênero Crotalus (cascavéis).
Nota: Para crianças com menos de 7 anos, utiliza-se a vacina tríplice bacteriana
(DTP), DT ou DTP acelular.

Qual a melhor forma para


o fechamento da
cavidade abdominal após
uma laparotomia, levando
em consideração os tipos
de fios e técnicas de
suturas?
Para a aponeurose, a preferência é por fios
inabsorvíveis monofilamentares como nylon,
comumente por sutura contínua (chuleio). O
subcutâneo pode ser aproximado com pontos simples
ou chuleio de fio absorvível como Monocryl®. A pele
pode ser fechada com pontos simples ou Donatti de
nylon ou por meio de suturas intradérmicas de fios
absorvíveis.
Universidade Federal de São Paulo
Para o processo seletivo da Unifesp há duas fases. A primeira é
uma prova com 100 questões de múltipla escolha, enquanto a
segunda combina uma prova prática informatizada, com questões
de múltipla escolha baseadas em vídeos, imagens, esquemas e
gráficos, além de uma entrevista com análise de currículo e
arguição do candidato.
Estude com mais cuidado os temas de bioestatística aplicada à
análise de estudos epidemiológicos, estudos epidemiológicos em
si, Sistema Único de Saúde (SUS), Neonatologia, atenção primária
à saúde e Estratégia Saúde da Família, parto, medidas de
frequência, choque, infecções congênitas e análise dos métodos
diagnósticos. Foram esses temas que mais se repetiram nas
últimas avaliações.
Porém, na hora de estudar para a prova é preciso ficar muito
atento aos detalhes. Essa é uma avaliação muito densa, e são
grandes as chances de encontrar questões que exigem um
conhecimento mais específico, casos de exceção e até mesmo
doenças raras.
UNIFESP | 2021
Motorista, 32 anos de idade, utilizando cinto de segurança de 3
pontos, foi vítima de acidente automobilístico, sendo atendido no
Pronto-Socorro (PS) com dor abdominal importante. A tomografia
abdominal evidenciou grande quantidade de líquido abdominal,
sendo indicada laparotomia exploradora, com achado de
laceração intraperitoneal da bexiga urinária de aproximadamente
5 cm de extensão. assinale a alternativa correta quanto à escolha
do fio a ser utilizado na sutura vesical.
a) poliamida
b) poliglactina
c) polipropileno
d) poliéster
Gabarito: b
Comentários:
a) A poliamida é um fio inabsorvível (matéria prima do nylon),
sendo inadequado fios inabsorvíveis para rafia de bexiga pela
relação de formação de cálculos vesicais.
b) A poliglactina é um fio absorvível, multifilamentar que mantém
a sua força de tensão mais de 7 dias, sendo considerado um
excelente material para suturas do trato urinário, onde há a
contraindicação de fios inabsorvíveis, pelo risco de formação de
cálculos.
c) O polipropileno é um fio inabsorvível, monofilamentar, usado
muito em anastomoses vasculares e gastrintestinais. como é
inabsorvível, está contraindicado em vias urinárias.

É
d) É outro exemplo de fio inabsorvível, portanto contraindicado
em vias urinárias.

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