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CUIDADOS

PÓS-MASTECTOMIA
EM CADELA
Prof. Dr. Jorge Luiz Costa Castro
CUIDADOS PÓS-MASTECTOMIA EM CADELA
As neoplasias mamárias em cadelas são consideradas afecções clínico-cirúr-
gicas de maior ocorrência no atendimento clínico de pequenos animais. (Figuras 1)

1A 1B 1C

Figuras 1: pacientes portadores de neoplasias mamárias. A: paciente canino, fêmea apresen-


tando nódulos mamários nas duas cadeias, sendo em mamas torácicas craniais e caudais a
presença de ulcerações, necrose e sangramento; B: paciente canino, fêmea com mama inguinal
esquerda com neoplasma em crescimento máximo e pele adelgaçada. C: paciente canino, fêmea
apresentando nódulo ulcerado e com necrose em mama torácica caudal esquerda, além de pe-
quenos nódulos em outras mamas nas duas cadeias. (Fonte: Prof. Dr. Jorge Castro)

As pacientes muitas vezes têm o tumor ulcerado, inflamado, com sinais clínicos
de infecção e dor. Em alguns casos a pele apresenta-se bem distendida e delgada
no limite de sua expansão. É importante administrar logo no primeiro atendimento o
anti-inflamatório não esteroidal (IMPORTANTE LEMBRAR QUE O CÂNCER É UMA
INFLAMAÇÃO), pois o uso prévio desse medicamento antes do procedimento ci-
rúrgico colabora para uma intervenção cirúrgica menos cruenta e com menor san-
gramento. A analgesia para controle da dor e a antibioticoterapia profilática também
são preconizadas, principalmente nas pacientes com tumor ulcerado e/ou necrose
tecidual. (Figuras 2)

2
2A 2B 2C

Figuras 2: pacientes portadores de neoplasias mamárias ulceradas. A: paciente canino,


fêmea apresentando nódulos em cadeia regional inguinal bilateral, com ulceração em M4
direita e necrose tecidual em M5 esquerda; B: paciente canino, fêmea apresentando nódulo
com ulceração e necrose tecidual em M5 esquerda; C: paciente canino, fêmea apresentan-
do nódulos em cadeia regional inguinal bilateral (M3 a M5), com ulceração em M5 direita.
(Fonte: Prof. Dr. Jorge Castro)

O tratamento cirúrgico é o indicado para as pacientes que poderão ser


submetidas a técnicas de acordo com a localização anatômica dos tumores.
(Figuras 3)

Figura 3A: mastectomias regional torácica Figura 3B: mastectomia da cadeia mamária
e inguinal. (Fonte: Prof. Dr. Jorge Castro) unilateral. (Fonte: Prof. Dr. Jorge Castro)

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POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES
CIRÚRGICAS

Inflamação e hematoma da ferida cirúrgica

É indicado uso de crioterapia (gelo) na ferida cirúrgica por 10 a 20 minu-


tos no pós-operatório imediato; isso evita e modula a inflamação da ferida ci-
rúrgica. A presença de hematoma normalmente é observada nas primeiras 24 a
48 horas de pós-operatório. É importante na avaliação clínica e troca de cura-
tivos, se houver hematomas, aplicar uma pomada ou gel à base de polissulfato
de mucopolissacarídeo, o qual melhora a absorção de hematomas subcutâneos
e reduz a formação de coágulos sanguíneos. (Figuras 4)

4A 4B

4C

Figuras 4A, 4B e 4C: pacientes submetidos a mastectomia unilateral (A) e bilateral (B e C) apre-
sentando Inflamação e hematoma da ferida cirúrgica. (Fonte: Prof. Dr. Jorge Castro)

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Seroma (líquido inflamatório)

O líquido inflamatório serosanguinolento pode estar presente nos espaços


livres (espaço morto). Para evitar essa complicação, pode ser usado dreno passivo
(Penrose®) ou ativo (de sucção Portovac®). A sutura de avanço (walking suture) evi-
ta a formação de seroma por reduzir o espaço morto, assim como uma bandagem
bem realizada também contribui para a redução do espaço morto no subcutâneo. Na
presença de seroma, a punção é a conduta clínica recomendada e deve ser realiza-
da com técnica asséptica, antissepsia da região cirúrgica, seringa de 20 mL, agulha
e luvas estéreis. (Figura 5)

Figura 5: paciente canino, fêmea com 48 horas de pós-operatório apresentando


líquido serosanguinolento em região inguinal. Realizado punção com seringa e agu-
lha 40x12. (Fonte: Prof. Dr. Jorge Castro)

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Infecção e necrose

O debridamento, retirada do tecido necrosado da ferida, pode ser feito por


meio enzimático (uso de bandagem seca e de pomada à base de enzima colagenase),
ou poderá ser realizado por meio cirúrgico, com sedação ou anestesia venosa com
entubação orotraqueal. A bandagem é realizada até o momento que surge um novo
tecido de granulação, quando deve ser avaliado o fechamento primário retardado ou a
cicatrização por segunda intenção. (Figuras 6)

Figura 6A: paciente canino, fêmea com 5 dias de pós-operatório a qual


observa-se uma grande área com hematoma e necrose tecidual.
(Fonte: Prof. Dr. Jorge Castro)

Figura 6B: paciente canino, fêmea da figura anterior com 10 dias de pós-
-operatório a qual observa-se necrose tecidual extensa e com deiscência de
alguns pontos. (Fonte: Prof. Dr. Jorge Castro)

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Deiscência dos pontos

As deiscências dos pontos podem estar presentes após a necrose das bor-
das da ferida ou na presença de infecção pós-operatória, sendo importante avaliar
a contaminação. A cultura e antibiograma da secreção da ferida cirúrgica auxiliam
no ajuste da terapia antimicrobiana. É importante aguardar a formação do tecido de
granulação (tecido com vascularização abundante) para realizar novamente o fecha-
mento (dermorrafia). É sempre indicado o fechamento cirúrgico frente a cicatrização
por segunda intenção, devido a proteção mecânica da ferida cirúrgica, mesmo sen-
do possível a cicatrização por segunda intenção. (Figuras 7)

Figura 7A: paciente canino, fêmea apresentando cicatrização por segunda intenção na ferida
cirúrgica com deiscência. Observa-se a presença de tecido de granulação em toda a extensão.
(Fonte: Prof. Dr. Jorge Castro)

Figura 7B: paciente canino, fêmea que apresentou deiscência, foi realizado novo fechamento, e
nova deiscência. Cicatrização por segunda intenção com bom tecido de granulação e contração
epitelial. (Fonte: Prof. Dr. Jorge Castro)

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BANDAGEM PÓS-MASTECTOMIA
EM CADELA
Uma conduta clínica cirúrgica pós-operatória que deverá ser realizada nessas
pacientes é a realização de bandagem.

Materiais básicos para a bandagem. (Figura 8)

• Gaze estéril
• Algodão hidrófilo
• Atadura creponada
• Malha tubular
• Esparadrapo

PASSO A PASSO PARA REALIZAÇÃO


DA BANDAGEM EM CADELA
Passo 1: a limpeza da ferida pode ser realizada com gaze e solução fisioló-
gica ou de ringer com lactato. Pode ser utilizado antisséptico como o Sept Clean®
(Clorexidine 1%) para a lavagem das feridas. Se houver necessidade de debrida-
mento enzimático, pode aplicar uma pomada à base de enzima colagenase.

9
Passo 2: primeira camada de contato
com a ferida é a gaze estéril. (Figura 9)

Passo 3: segunda camada após a gaze 10


é a camada de algodão hidrófilo para absorção
de secreções. (Figura 10)

8
Passo 4: coloca-se a malha tubular para 11
manter a gaze e o algodão em contato com a
ferida cirúrgica. Faz-se aberturas para passar os
membros torácicos e pélvicos. (Figura 11)

Passo 5: a atadura creponada é colocada inicialmente pelo abdome em dire-


ção ao tórax. Coloca-se no membro pélvico com cuidado para não cobrir o ânus e a
vulva. (Figuras 12, 13 e 14)

12 13 14

Passo 6: após, coloca-se uma nova atadura iniciando pelo tronco em direção
ao tórax e região cervical. Também cruza a atadura passando pelo membro torácico.
A fixação nos membros pélvicos e torácicos evita que a bandagem saia da ferida ci-
rúrgica. (Figuras 15, 16 e 17)

15 16 17

18
Passo 7: fixa-se a bandagem
com esparadrapo. (Figura 18)

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VANTAGENS DA BANDAGEM
• Reduz o espaço morto da ferida cirúrgica;
• Impede a formação de seroma;
• Protege a sutura da ferida cirúrgica;
• Reduz a sensação dolorosa no pós-operatório.

Os curativos devem ser trocados dependendo da presença de secreção. As


primeiras trocas podem ser realizadas a cada 24 ou 48 horas nos primeiros sete
dias e após, troca-se a cada quatro a sete dias. Retira-se os pontos com 14 dias de
pós-operatório.
AVALIAÇÃO DA FERIDA E CONTROLE DE DOR DA PACIENTE
APÓS A MASTECTOMIA:
Avaliar a ferida e limpeza Avaliar a dor.
2º dia de pós-operatório com antisséptico.
Manter AINE e analgésicos
Realizar o curativo. ( ®
e dipirona).
Avaliar a dor.
Avaliar a ferida e limpeza Aumentar o intervalo
4º dia de pós-operatório com antisséptico. de tempo entre as
administrações dos
Realizar o curativo.
analgésicos ( ®

e dipirona) se necessário.
Avaliar a ferida e limpeza com
antisséptico. Na presença de
deiscência e necrose, pode Avaliar a dor.
ser aplicado pomada à base Suspender / reduzir a
6º dia de pós-operatório de enzima colagenase para dose dos analgésicos se
o debridamento. necessário.
Se houver necessidade de Manter AINE.
curativo úmido, pode-se
aplicar vaselina ou K-SEX®.
Reavaliar a dor /
Inflamação local.
10º dia de pós-operatório Trocar o curativo. Suspender AINE.
Suspender antimicrobiano
se possível.

14º dia de pós-operatório Retirar os pontos.


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SUGESTÕES DE TRATAMENTO AGENER

PROTOCOLO NO CONSULTÓRIO /
HOSPITAL VETERINÁRIO

POSOLOGIA
no primeiro dia 1 mL / 10 kg / IV ou SC / a cada 24 horas; a partir do segundo dia 1 mL / 20 kg /
IV ou SC / a cada 24 horas por até 7 dias ou a critério do médico veterinário.

no primeiro dia 1 mL / 20 kg / SC / a cada 24 horas; a partir do segundo dia 1 mL / 40 kg / SC /


a cada 24 horas por até 4 dias ou a critério do médico veterinário.

USO EXCLUSIVO EM CLÍNICAS VETERINÁRIAS.

POSOLOGIA
1 mL / 20 kg / IV / a cada 8 horas. Aplicação em no mínimo 3 minutos*.

1 mL / 20 kg / IV / a cada 8 horas. Aplicação em no mínimo 1 minuto*.


(*) Recomenda-se a administração acrescida de solução fisiológica a 0,9%.
A duração do tratamento deverá ser estipulada de acordo com a gravidade do quadro e a remissão dos sintomas,
ou a critério do médico veterinário.

USO EXCLUSIVO EM CLÍNICAS VETERINÁRIAS.

Cloridrato de Tramadol

POSOLOGIA
1 mL / 10 kg / IM / a cada 6 horas / 4 dias ou a critério do médico veterinário.

1 mL / 10 kg / IM / a cada 8 horas / 4 dias ou a critério do médico veterinário.

USO EXCLUSIVO EM CLÍNICAS VETERINÁRIAS.


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SUGESTÕES DE TRATAMENTO AGENER

PROTOCOLO EM CASA

POSOLOGIA
no primeiro dia 0,2 mg / kg / VO / a cada 24 horas; a partir do segundo dia
0,1 mg / kg / VO / a cada 24 horas / por até 35 dias ou a critério do médico
veterinário.

no primeiro dia 0,1 mg / kg / VO / a cada 24 horas; a partir do segundo dia


0,05 mg / kg / VO / a cada 24 horas / por até 21 dias ou a critério do médico
veterinário.

POSOLOGIA
Carproflan 25 mg: 1 cp. / 10 Kg / VO / a cada 12 horas ou 1 cp. / 6 Kg /
VO / a cada 24 horas / 14 dias ou a critério do médico veterinário.
Carproflan 75 mg: 1 cp. / 30 Kg / VO / a cada 12 horas ou 1 cp. / 17 Kg /
VO / a cada 24 horas / 14 dias ou a critério do médico veterinário.
Carproflan 100 mg: 1 cp. / 40 kg / VO / a cada 12 horas ou 1 cp. / 22 kg /
VO / a cada 24 horas / 14 dias ou a critério do médico veterinário.

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Amoxicilina Triidratada e Clavulanato de Potássio

POSOLOGIA
Agemoxi CL® 50 mg: 1 a 2 cp. / 4 Kg / VO / a cada 12 horas ou a critério
do médico veterinário.
Agemoxi CL® 250 mg: 1 a 2 cp. / 20 Kg / VO / a cada 12 horas ou a critério
do médico veterinário.

POSOLOGIA
Zelotril® 50 mg: 1 cp. / 10 Kg / VO / a cada 24 horas ou a critério
do médico veterinário.
Zelotril® 150 mg: 1 cp. / 30 Kg / VO / a cada 24 horas ou a critério
do médico veterinário.

Cloridrato de Tramadol

POSOLOGIA
12 mg, 40 mg e 80 mg: 2 mg / Kg / VO / a cada 8 horas /
por até 4 dias ou a critério do médico veterinário.

VENDA SOB PRESCRIÇÃO DO MÉDICO VETERINÁRIO, COM RETENÇÃO OBRIGATÓRIA DA NOTIFICAÇÃO DA RECEITA.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1- Reid, J.: Nolan, A.; Hughes, L.; Scott, E.M. Development of the short-form
Glasgow Composite Measure Pain Scale (CMPS-SF) and derivation of analgesic
intervention score. Anim Welf. v.16, p.97-104, 2007.

2- Brondani, J.T.; Luna, S.P.; Minto, B.W.;Santos, B.P.R.; Beier, S.L.;


Matsubara, L.M.; Padovani, C.R. Validade e responsividade de uma escala
multidimensional para avaliação de dor pós-operatória em gatos (Validity and
responsiveness of a multidimensional composite scale to assess postoperative pain
in cats). Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.64, n.6, p.1529-1538, 2012.

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Prof. Dr. Jorge Luiz
Costa Castro

Doutor em Cirurgia Veterinária pela Universidade Federal de Santa


Maria (2014). Especialista diplomado pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia
e Anestesiologia Veterinária (2019). Professor Adjunto de Técnica e Clí-
nica Cirúrgica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

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Consulte sempre um médico veterinário.
Material dirigido direto e unicamente a profissionais médicos veterinários e equipe de vendas.

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