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INTRODUÇÃO
As principais complicações da ferida operatória da cesariana são: o seroma (coleção líquida no tecido celular
subcutâneo), hematoma (coleção de sangue intra-abdominal, subaponevrótica ou no tecido celular subcutâneo),
infeção com ou sem abcesso (intra-abdominal, subaponevrótica ou no tecido celular subcutâneo) e a deiscência
superficial ou profunda da cicatriz. As complicações intra-abdominais saem fora do âmbito deste protocolo. As
complicações da ferida operatória afetam 2-15% das mulheres submetidas a cesariana, sendo a maioria relacionadas
com infeção. Esta última ocorre geralmente entre o 4º e o 7º dia pós-operatório e tem como principais fatores de risco:
diabetes, obesidade, rotura prolongada de membranas, corioamniotite, endometrite, pré-eclampsia, anemia, tabagismo
e hemostase deficiente.
SEROMA
DIAGNÓSTICO - Baseia-se na observação de uma tumefação local, geralmente mole, sem cor, sem sinais inflamatórios
acompanhantes, podendo estar associada a dor e drenagem espontânea de material sero-hemático.
ORIENTAÇÃO CLÍNICA
Nos seromas de pequenas dimensões, assintomáticos e que não aumentam de tamanho, adotar uma atitude
expectante.
Nos seromas volumosos, sintomáticos ou que aumentam de tamanho proceder a drenagem percutânea com agulha
20G e anestesia local, sob assepsia, seguida de penso compressivo.
HEMATOMA
DIAGNÓSTICO - Baseia-se na observação de uma tumefação local, geralmente dura e dolorosa à exploração, de cor
violácea, sem sinais inflamatórios acompanhantes, podendo estar associada a dor e drenagem espontânea de material
sero-hemático.
ORIENTAÇÃO CLÍNICA
Avaliação da localização e extensão do hematoma, se necessário com recurso a ecografia.
Nos hematomas com < 5 cm de diâmetro, assintomáticos e que não aumentam de tamanho, adotar uma atitude
expectante.
Nos hematomas com > 5 cm de diâmetro, sintomáticos ou que aumentam de tamanho: abertura, limpeza,
hemostase e desbridamento cirúrgico do hematoma, sob anestesia, com sutura por planos incluindo a pele e penso
compressivo.
INFEÇÃO
Pode afetar a pele, tecido celular subcutâneo (infeção superficial), fáscia ou planos musculares (infeção profunda). Os
agentes mais frequentemente associados são: Streptococus B hemolítico dos grupos A e B (infeções precoces: primeiras
24-48h), Staphilococcus epidermidis, Staphilococcus aureus, Escherichia coli e Proteus mirabilis (infeções tardias).
DIAGNÓSTICO - Baseia-se nos achados locais de eritema, edema, calor e drenagem espontânea de material purulento.
Podem coexistir sintomas sistémicos, alterações do leucograma e proteína C reativa, e deiscência da ferida operatória.
ORIENTAÇÃO CLÍNICA
Infeção superficial sem abcesso
Cefuroxima 500 mg PO 12/12h, 7 dias (se alérgica à penicilina: Clindamicina 300 mg PO 8/8h)
Infeção superficial com abcesso e flutuação ou drenagem purulenta
Cefuroxima 500 mg PO 12/12h, 7 dias (se alérgica à penicilina: Clindamicina 300 mg PO 8/8h)
Abertura, limpeza e desbridamento cirúrgico, sob anestesia, não encerrando a pele.
Internamento se: imunossupressão, diabetes mellitus, corticoterapia, anemia puerperal, mal-estar geral, evidência de
sépsis, impossibilidade de fazer medicação PO ou falência da terapêutica em ambulatório.
Caso exista deiscência relevante, ressuturar quando a ferida estiver sem exsudado e com tecido de granulação.
Infeção profunda ou extensa ou acompanhada de deiscência
Amoxicilina + ácido clavulânico 1000+200mg EV 6/6h (se alérgica à penicilina: Clindamicina 900mg EV 8/8h +
Gentamicina 3-5mg/kg/dia EV)
Abertura, limpeza e desbridamento cirúrgico, sob anestesia, deixando a ferida aberta. Colher exsudado para exame
cultural (posterior ajuste de acordo com antibiograma se não houver melhoria clínica franca).
Penso de pressão negativa a 125 mm Hg.
Desinfeções diárias usando esponjas (e não compressas) com soluto de Dakin e água oxigenada.
Após 48h de apirexia e melhoria clínica: Amoxicilina + ácido clavulânico 875mg+125mg 8/8h PO até completar 10
dias (se alérgica à penicilina: Clindamicina 300 mg PO 8/8h)
Manter internamento até ao encerramento da ferida.
Ressuturar quando a ferida estiver sem exsudado e com tecido de granulação.
DEISCÊNCIA
DIAGNÓSTICO - Baseia-se na observação do afastamento dos bordos da ferida operatória. Deve efetuar-se uma
avaliação cuidadosa da extensão e profundidade e da existência de infeção concomitante.
ORIENTAÇÃO CLÍNICA
Sem sinais de infeção
Desinfeção da ferida. Se a deiscência for de pequenas dimensões colocar fitas adesivas cirúrgicas (Steri-Strips). Se
tiver grandes dimensões – ressutura no Bloco Operatório sob anestesia geral.
Com sinais de infeção
Ver seção acima “Infeção profunda ou extensa ou acompanhada de deiscência”.
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