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Serviço de Obstetrícia

Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução


Centro Hospitalar Lisboa Norte – Hospital de Santa Maria
(protocolo elaborado por Rita Rosado, Maria do Céu Santo – Março 2018)

COMPLICAÇÕES DA CICATRIZ DE CESARIANA

INTRODUÇÃO
As principais complicações da ferida operatória da cesariana são: o seroma (coleção líquida no tecido celular
subcutâneo), hematoma (coleção de sangue intra-abdominal, subaponevrótica ou no tecido celular subcutâneo),
infeção com ou sem abcesso (intra-abdominal, subaponevrótica ou no tecido celular subcutâneo) e a deiscência
superficial ou profunda da cicatriz. As complicações intra-abdominais saem fora do âmbito deste protocolo. As
complicações da ferida operatória afetam 2-15% das mulheres submetidas a cesariana, sendo a maioria relacionadas
com infeção. Esta última ocorre geralmente entre o 4º e o 7º dia pós-operatório e tem como principais fatores de risco:
diabetes, obesidade, rotura prolongada de membranas, corioamniotite, endometrite, pré-eclampsia, anemia, tabagismo
e hemostase deficiente.

SEROMA
DIAGNÓSTICO - Baseia-se na observação de uma tumefação local, geralmente mole, sem cor, sem sinais inflamatórios
acompanhantes, podendo estar associada a dor e drenagem espontânea de material sero-hemático.
ORIENTAÇÃO CLÍNICA
 Nos seromas de pequenas dimensões, assintomáticos e que não aumentam de tamanho, adotar uma atitude
expectante.
 Nos seromas volumosos, sintomáticos ou que aumentam de tamanho proceder a drenagem percutânea com agulha
20G e anestesia local, sob assepsia, seguida de penso compressivo.

HEMATOMA
DIAGNÓSTICO - Baseia-se na observação de uma tumefação local, geralmente dura e dolorosa à exploração, de cor
violácea, sem sinais inflamatórios acompanhantes, podendo estar associada a dor e drenagem espontânea de material
sero-hemático.
ORIENTAÇÃO CLÍNICA
 Avaliação da localização e extensão do hematoma, se necessário com recurso a ecografia.
 Nos hematomas com < 5 cm de diâmetro, assintomáticos e que não aumentam de tamanho, adotar uma atitude
expectante.
 Nos hematomas com > 5 cm de diâmetro, sintomáticos ou que aumentam de tamanho: abertura, limpeza,
hemostase e desbridamento cirúrgico do hematoma, sob anestesia, com sutura por planos incluindo a pele e penso
compressivo.

INFEÇÃO
Pode afetar a pele, tecido celular subcutâneo (infeção superficial), fáscia ou planos musculares (infeção profunda). Os
agentes mais frequentemente associados são: Streptococus B hemolítico dos grupos A e B (infeções precoces: primeiras
24-48h), Staphilococcus epidermidis, Staphilococcus aureus, Escherichia coli e Proteus mirabilis (infeções tardias).
DIAGNÓSTICO - Baseia-se nos achados locais de eritema, edema, calor e drenagem espontânea de material purulento.
Podem coexistir sintomas sistémicos, alterações do leucograma e proteína C reativa, e deiscência da ferida operatória.
ORIENTAÇÃO CLÍNICA
Infeção superficial sem abcesso
 Cefuroxima 500 mg PO 12/12h, 7 dias (se alérgica à penicilina: Clindamicina 300 mg PO 8/8h)
Infeção superficial com abcesso e flutuação ou drenagem purulenta
 Cefuroxima 500 mg PO 12/12h, 7 dias (se alérgica à penicilina: Clindamicina 300 mg PO 8/8h)
 Abertura, limpeza e desbridamento cirúrgico, sob anestesia, não encerrando a pele.
 Internamento se: imunossupressão, diabetes mellitus, corticoterapia, anemia puerperal, mal-estar geral, evidência de
sépsis, impossibilidade de fazer medicação PO ou falência da terapêutica em ambulatório.
 Caso exista deiscência relevante, ressuturar quando a ferida estiver sem exsudado e com tecido de granulação.
Infeção profunda ou extensa ou acompanhada de deiscência
 Amoxicilina + ácido clavulânico 1000+200mg EV 6/6h (se alérgica à penicilina: Clindamicina 900mg EV 8/8h +
Gentamicina 3-5mg/kg/dia EV)
 Abertura, limpeza e desbridamento cirúrgico, sob anestesia, deixando a ferida aberta. Colher exsudado para exame
cultural (posterior ajuste de acordo com antibiograma se não houver melhoria clínica franca).
 Penso de pressão negativa a 125 mm Hg.
 Desinfeções diárias usando esponjas (e não compressas) com soluto de Dakin e água oxigenada.
 Após 48h de apirexia e melhoria clínica: Amoxicilina + ácido clavulânico 875mg+125mg 8/8h PO até completar 10
dias (se alérgica à penicilina: Clindamicina 300 mg PO 8/8h)
 Manter internamento até ao encerramento da ferida.
 Ressuturar quando a ferida estiver sem exsudado e com tecido de granulação.

DEISCÊNCIA
DIAGNÓSTICO - Baseia-se na observação do afastamento dos bordos da ferida operatória. Deve efetuar-se uma
avaliação cuidadosa da extensão e profundidade e da existência de infeção concomitante.
ORIENTAÇÃO CLÍNICA
Sem sinais de infeção
 Desinfeção da ferida. Se a deiscência for de pequenas dimensões colocar fitas adesivas cirúrgicas (Steri-Strips). Se
tiver grandes dimensões – ressutura no Bloco Operatório sob anestesia geral.
Com sinais de infeção
 Ver seção acima “Infeção profunda ou extensa ou acompanhada de deiscência”.

Bibliografia
1. Cunningham FG et al. Puerperal infection in Williams Obstetrics – McGraw-Hill, 23th ed, 2010.
2. Smith F, Dryburgh N, Donaldson J, et al. Debridement for surgical wounds. Cochrane Database Syst Rev 2013 Sep 5;9:CD006214.
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4. Ubbink DT, Westerbos SJ, Nelson EA, et al. A systematic review of topical negative pressure therapy for acute and chronic wounds. Br J Surg
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5. Gregor S, Maegele M, Sauerland S, et al. Negative pressure wound therapy: a vacuum of evidence? Arch Surg 2008;143(2):189e96.
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7. Wechter ME, Pearlman MD, Hartmann KE. Reclosure of the disrupted laparotomy wound: a systematic review. Obstet Gynecol 2005;106(2):376e83.
8. Dodson MK, Magann EF, Meeks GR. A randomized comparison of secondary closure and secondary intention in patients with superficial wound
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