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12 CIRURGIA AMBULATORIAL

tensão local, secundário à reação inflamatória (ede ma e exsudato). qual o microrganismo estabelece interações com o hospedeiro após
Quando a dor é de grande intensidade, é imprescindível diagnosti- sua penetração e multiplicação no interio r do organismo. Exceto
car e tratar suas causas, dentre e las: edemas, seromas, hematomas, nos traumatismos acidentais, nos quais a contaminação por rnicror-
infecção e pontos de sutura muito apertados. ganismos começa no momento em que se ro mpeu a barreira cutâ-
A analgesia deve se inic iar logo em seguida à suspensão da neo-mucosa, a penetração das bactérias nos tecidos do doente acon-
anestesia ou após o término do efeito do anestésico local. Atual- tece na sala de cirurgia, por exemplo, a partir dos seres humanos
mente, existem diversos tipos de analgésicos com potência e vias e nvolvidos no ato cirúrgico. No entanto, a flora do próprio doente
de administração diferentes, podendo-se optar pela via intraveno- é o foco em do is terços dos casos. A não ser em casos de negligên-
sa, intramuscular, subcutânea, oral ou reta!. A dipirona, o ácido cia com drenos ou curativos, o pós-operatório não contribui de
acetilsalicílico e o acetaminofen são os medicamentos mais pres- maneira significativa para a contaminação da área cruenta. O tra-
critos devido à sua boa e ficácia e baixo custo. Entretanto, geral- tamento da infecção incisional vai depender do estado da ferida
mente prestam-se para o controle da dor de pequena intensidade. operatória, a saber: I) As infecções simples, circunscritas, como a
A associação com anti inflamatórios não-esteró ides aumenta a po- celulite, podem ser conduzidas conservadoramente, através de apli-
tência analgésica, mas também os efeitos colaterais. Estes atuam cação de calor seco, que, aumentando o flu xo sangüíneo local pela
como analgésicos de ação periférica, através da inibição da síntese vasodilatação, auxil ia a fagocitose; e levação do membro quando o
de prostaglandinas, que são os mais potentes estimuladores dos processo infeccioso aí se localiza; repou o da área acometida etc.
receptores da dor. A prescrição destes e de outros medicamentos Nas celulites extensas, impõe-se a antibioticoterapia. 2) Quando
deve ser realizada de forma clara e detalhada. ocorre a formação de pus em tomo de um ponto da sutura da pele,
o tratamento consiste na s ua remoção precoce. 3) Nos abscessos
ANTITÉRMICOS de ferida cirúrg ica, deve-se remover alguns pontos para propiciar
Quando há febre, seu tratamento sintomático é feito com os a drenagem e ficiente da coleção purulenta. Pode-se colocar um
anal$ésicos já c itados, os quais possuem também ação antitérmi- dreno laminar de látex e compleme ntar o tratamento, em alguns
ca. E imprescindível, porém, tentar diagnosticar a causa da febre a casos, com cobertura antibiótica. 4) Por fim, nas infecções necro-
ftm de que seu fator etiológico seja combatido ou removido,9 como tizantes, o tratamento é baseado no desbridamento local rigoroso e
se observa numa infecção supurativa da ferida operatória q ue ~­ na escolha e emprego criterioso de antibiótico.
quer drenagem e, às vezes, antibioticoterapia. Neste caso, ela ocorre, Um tratamento largamente utili zado em no so meio para o tra-
geralmente, entre o quarto e sétimo dias de pós-operatório. tamento local da ferida infectada é o açúcar cri stal. Apresenta
efeito bactericida por ação osmótica, destruindo a membrana e
parede celular bacteriana. Por dispe nsar a esterilização e ser de
ANTIINFLAMATÓRIOS fác il utili zação e baixo cus to e não apresentar efe itos colate ra is,
Quando há ede ma traumático, a aplicação de calo r é, às vezes, o açúcar tem demonstrado excelente ação no tratamento local das
eficiente. O antiinflarnatórios não-esteró ides são inibidores da sín- feridas operatórias infectadas.
tese das prostag landinas. Juntamente com os fibrino lftico , têm
indicação em casos selecionados de cirurgia ambulatorial. Por causa
de seus e feitos colaterais e da discutível eficácia terapêutica de DEISCÊNCIA DE SUTURA
muitos deles, deve m ser prescritos com cuidado. A cicatrização incomple ta resulta da ação combinada de dois
o u mais fato res, anteriormente d iscutidos. Quando a lise do co-
lágeno sobrepuja a sua síntese, ocorre a deiscência. Diante do
ANTffiiÓTICOS défic it de c icatrização, deve-se re mover ou contro lar os fa to res
Em apenas a lg uns casos de infecção da ferida cirúrg ica está que a afetam e manter a sutura cutânea por um período ma is lon-
indicado o emprego de antibioticoterapia. Eles incluem pac ie n- go. O tratamento da deiscênc ia se constitui na ress íntese cutâ-
tes imunodeprirnidos, com reperc ussão sistêmica ou apresentan- nea ou na opção pela c icatrização por segunda inte nção, depen-
do fer idas infectadas com áreas de necrose, o u, ainda, em casos de ndo de a de iscência ser parc ial ou total, do local da ferida e da
em que a infecção possa causar seqüe las de extrema gravidade presença ou não de infecção, de ntre outros.
para a saúde do pac iente. De princípio, a escolha do antibiótico
deve ser feita de forma empírica, recaindo a escolha sobre a dro-
ga q ue poss ui maio r po ss ibil idade de a tu a r sobre o(s) HEMATOMAS E SEROMAS DA
provável(is) microrganis mo(s) que esteja(m) cau ando a infec- FERIDA OPERATÓRIA
ção. Pesam também na escolha do antirnicro biano o q uadro clí- Os hema to mas da ferida o peratória resulta m de falha na téc-
nico do pacie nte e os possíveis efeitos tóx icos e cus to do fár- nica de hemostasia, exceção aos casos de di stúrbios he mo rrági-
maco. Nas infecções po li micro bianas, devemos assoc iar do is o u cos. Manifesta-se po r sensação de compressão e aumento da do r
mais antibióticos de largo espectro. Alterações na antibio tico- local, pode ndo haver a saída de pequena q uantidade de lfquido.
terapia poderão ser fe itas a partir ( I ) da resposta clínica, (2) dos serosang uino le nto entre os po ntos da sutura. Pequenos hema-
resultados das culturas e antibiogramas, (3) do aparecimento de tomas pode m ser tratados conservadoramente; contudo, he ma-
reações tóxicas ou efe itos colaterais. to mas de maiores pro po rções devem ser ex plo rados, conside-
rando o risco pote ncial de infecção e retardo no processo re pa-
rador. Após drenagem do he mato ma, a hemostasia deve serre-
Complicações Pós-Operatórias vista c uidadosamente.
Os sero mas resulta m do acúmulo de secreção serosa ou sere-
INFECÇÕES INCISIONAIS he mo rrágica e ntre os pla nos de di ssecção operatória. São mais
A infecção da ferida operatória é a complicação pós-operatória freqüentes após grandes descolamentos c utâneo e e m pacien-
mais freqüente em cirurgia ambulatorial. Constitui processo pelo tes o besos. Nestes casos, pod em ser prevenidos através da co-
PRÉ, PER E Pós-OPERA TÓRIO 13

locação de drenos de sucção convencionaL O tratamento con- métodos: injeção de corticóides, ressecção e sutura primária se-
siste na aspiração, sob rigorosos cuidados de anti-sepsia, do lf- guida da aplicação de corticóides e radioterapia. A cicatriz hi-
quido acumulado com o auxílio de uma agulha e seringa, seguida pertrófica tem sido tratada através da injeção de corticóides dentro
da colocação de um curati vo compressivo. Os seromas podem do tecido cicatricial abundante.
recoletar, exigindo novas punções. Sero mas de grandes propor- A cicatri z retrátil tem como uma de suas principais causas a
ções podem ser tratados através da colocação de drenos lami- incisão cirúrgica perpendicular às linhas de força da pele, espe-
nares ou de ucção. cialmente nas áreas cutâneas muito móveis, como ocorre nas
pregas de flexão. Ela é corrigida com a z-plastia.
CICATRIZAÇÃO HIPERTRÓFICA,
QUELOIDIANA OU RETRÁ TIL REAÇÃO POR CORPO ESTRANHO
Pode resultar da não-obediência aos princfpios fundamentais Em decorrência da presença de corpos estranhos, freqüentemen-
da técnica cirúrgica e de fatores inerentes ao próprio paciente. A te fios inabsorvfveis presentes na intimidade dos tecidos, observa-
cicatriz queloidiana, por exemplo, é mais freqüente em pessoas se a formação de pequeno trajeto fistuloso desde o fio até a super-
de cor negra ou morena, e provavelmente está relacionada a um fície cutânea, com a elirrúnação crônica de pus. A cura acontece
mecanismo auto-imune. Em sua terapêutica incluem diferentes com a eliminação espontânea ou cirúrgica do corpo estranho.

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