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ATIVIDADE CICATRIZANTE DA

COLAGENASE E CLORANFENICOL EM
FERIDA CUTÂNEA EM CÃO: RELATO DE
CASO
Diana Lúcia Serpa de Sousa1, Vanessa Carla Lima da Silva2, Marluce de Souza3, Maria Cristina de
Oliveira Cardoso Coelho4; Tânia Maria Mainart Rios5; Ursula Veras Rodrigues6

Introdução comparadas ao meio seco: prevenir a


desidratação do tecido que leva à morte celular;
Ferida é uma lesão que resulta no
acelerar a angiogênese; estimular a epitelização
rompimento da continuidade normal das
e a formação do tecido de granulação; facilitar a
estruturas da pele. E sua reparação tecidual
remoção de tecido necrótico e fibrina; servir
corresponde ao processo de cicatrização, que
como barreira protetora contra microorganismo;
pode ocorrer por primeira e segunda intenção
promover a diminuição da dor; evitar a perda
[1].
excessiva de líquidos; e evitar traumas na troca
A cicatrização das feridas é o meio utilizado
do curativo [6].
pelo organismo para restabelecer a sua
Curativo com Pomada Enzimática –
integridade através de uma combinação de
Colagenase age degradando o colágeno nativo
eventos físicos, químicos e celulares. É um
da ferida. É indicada em feridas com tecido
processo complexo, classicamente dividido em
desvitalizado. E com contra indicação em
um estágio inflamatório seguido por granulação
feridas com cicatrização por primeira intenção
e posteriormente por epitelização [2].
[6].
Nos processos cicatriciais, o tecido de
O uso de antibióticos na prevenção e
granulação e a epitelização sempre motivou
tratamento das infecções de lesões vem
estudos com a finalidade de esclarecer aspectos
promovendo uma redução significativa nas
da neoformação tecidual, como também para
porcentagens de infecção [7].
verificar os efeitos de medicação sistêmica ou
Este trabalho tem por objetivo descrever a
t6pica na evolução do processo cicatricial [3].
evolução clínica de uma perda cutânea profunda
A infecção retarda o processo cicatricial e
ocorrida em toda a circunferência corporal de
muitos microrganismos encontrados nas feridas
um cão e tratada com colagenase e
são usualmente patógenos e podem ser
cloranfenicol.
deletérios à cicatrização apesar de pertencerem à
flora bacteriana da pele [4].
Os curativos são uma forma de tratamento Material e métodos
das feridas cutâneas e sua escolha depende de Foi atendida no Hospital Veterinária na área
fatores intrínsecos e extrínsecos. O tratamento de Clínica Médica de Pequenos Animais do
das feridas cutâneas é dinâmico e depende, a Departamento de Medicina Veterinária da
cada momento, da evolução das fases de Universidade Federal Rural de Pernambuco,
cicatrização. Atualmente são inúmeras as uma cadela de raça Fox Paulistinha, cinco anos
opções de curativos existentes no mercado. de idade. Ao exame físico foi observado uma
Embora haja uma grande variedade de ferida circundando a região abdominal caudal,
curativos, um só tipo de curativo não preenche que segundo o proprietário o animal encontrava-
os requisitos para ser aplicado em todos os tipos se desaparecido a dez dias e quando retornou a
de feridas cutâneas [5]. casa já apresentava tal lesão.
Nas feridas abertas, a antiga controvérsia Na avaliação da lesão observou-se presença
entre curativo seco e curativo úmido deu lugar a de exsudação purulenta com áreas de necrose.
uma proposta atual de oclusão e manutenção do Na avaliação clinica o animal apresentou
meio úmido. A cicatrização através do meio desidratação, apatia e perda de peso.
úmido tem as seguintes vantagens quando

1º autor Médica do Departamento de Medicina Veterinária-Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)


2º autor Aluna de Pós-Graduação em Ciência Veterinária do Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE
3º autor Aluna de Pós-Graduação em Ciência Veterinária do Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE
4ºautor Professora Adjunta do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal
5º autor Médica Veterinária Autônoma
6º autor Aluna de Graduação em Medicina Veterinária da UFRPE
1º autor médica veterinária do hospital veterinário – DMV UFRPE
Foi instituída conduta terapêutica com contra microrganismos. E segundo ROSIN,
fluídoterapia de reposição com solução de 1998 [6], o uso de antibióticos na prevenção e
Ringer com lactato, complexo vitamínico tratamento das infecções de lesões vem
injetável, cefalotina (30mg/kg por via promovendo uma redução significativa nas
endovenosa), meloxican 0,2% (0,1mg/kg via porcentagens de infecção (Fig. 2)
subcutânea). Após estabilização clínica o animal No décimo - sexto dia , a retração cicatricial
foi anestesiado com quetamina (10mg/kg) das bordas das feridas apresentou uma
associado com diazepan (0,1mg/kg) por via mobilização rápida e uniforme. No 24º dia o
endovenosa. tecido de granulação era mais evidente e com
Em seguida foi realizada anti-sepsia da ferida presença marcante da epitelização
seguindo-se o seguinte protocolo: tricotomia da caracterizando a reparação tecidual. Cândido
região circunscrita a lesão, lavagem abundante (2006) [11] e Rodrigues et al. (2001) [12]
com solução de NaCl 0,9% e debridamento das descrevem esta fase como sendo a de
áreas desvitalizadas, nova lavagem com NaCl remodelação da matriz e do colágeno, a qual se
0,9% e Clorexidine a 0,2% e recobrimento da inicia na formação do tecido de granulação e
lesão com gaze umedecida com nitrofurazona. continua progressivamente por meses após ter
Após 24 horas ocorreu a primeira trocado ocorrido a epitelização. FRANCO, 2008 [5]
curativo seguindo-se o mesmo protocolo da menciona que curativo com pomada enzimática
anti-sepssia supracitado e iniciando o tratamento – colagenase age degradando o colágeno nativo
com a aplicação de pomada cicatrizante à base da ferida. É indicada em feridas com tecido
de colagenase e cloranfenicol e oclusão da desvitalizado. E com contra indicação em
ferida com curativo não aderente. O Proprietário feridas com cicatrização por primeira intenção.
foi orientado para realização dos curativos em (Fig. 3).(Fig.4).
casa, seguindo o mesmo protocolo, excluindo o ....Durante tratamento da ferida com a pomada à
debridamente, e retorno a cada oito dias para base de colagenase e cloranfenicol não foi
avaliação clínica da ferida. observada, presença de crostas e sangramento,
Para controle sistêmico da infecção foi provavelmente devido ao curativo proporcionar
prescrito azitromicia (10mg/kg/SID), via oral no leito da ferida um ambiente úmido,
durante cinco dias. lubrificado e conseqüentemente, sem aderência.
A presença de crostas na lesão não é
Resultados e discussão considerada pré-requisito para a cicatrização e
geralmente é formada pela dessecação da
De acordo com a historia de desaparecimento
superfície da ferida, podendo apresentar
do animal e a característica da lesão pode-se
desvantagens para a evolução do processo
supor que a provável causa da ferida tenha sido
cicatricial, achado descrito Swaim, (2001)[ 7].
afligida por um objeto semelhante a uma corda
....A colagenase em associação com o
e com provável atrito constante gerou o
cloranfenicol, quando aplicada topicamente
aparecimento de tal lesão.
favorece o processo cicatricial de feridas
A anti-sepsia da lesão cutânea instituída cutâneas com indicação de cicatrização por
através da tricotomia, lavagem com solução de segunda intenção.
cloreto de sódio 0,9%, clorexidine 0,2% e
debridamento, antes da aplicação da pomada, Referências
podem agir diminuindo o tempo da fase
[1] BATISTA, M.C.S.; VITORINO FILHO, R.N.L.;
inflamatória, através da redução e/ou eliminação VERÇOSA, B.L.A. ; SILVA, S.M.M.S.; MACHADO,
da hipóxia, da carga bacteriana local, das A.S.F.;BONFIM, J.M. 2007. Avaliação do uso de
sujidades e dos tecidos necrosado, fatores pomada à base de sementes de jaqueira (Artocarpus
responsáveis pelo retardo do processo de heterophyllus Lam) na terapêutica tópica de feridas.
Rev. Ciênc. Farm. Básica Apl., v. 28, n.3, p. 279 –
cicatrização, procedimento mencionado por 286.
Swaim 2001, Magalhães 1989, Burr 1978. [7,8. [2] MONTEIRO, V.L.C.; COELHO, M.C.O.C.;
9]. (Fig. 1) CARRAZZONI, P.G.; MOTA, R.A.; MELO,
No oitavo dia após o início do F.A.D.; CARVALHO, E.C.; ANDRADE , L.S.S.
2007. Cana-de-açúcar no tratamento de feridas
tratamento com a pomada à base colagenase e cutâneas por segunda ou terceira intenção. Medicina
cloranfenicol, a lesão apresentava ausência de Veterinária, Recife, v.1, n.1, p.1-8, jan-jun.
secreção, sensibilidade ao toque, a presença de [3] CARVALHO, P. S. P.; OLIVEIRA, G.M. 1990.
tecido de granulação em todo leito da ferida e Cicatrização Cutânea após Aplicação Tópica de
Nebacetin e Gingilone em Feridas Infectadas. Estudo
cicatricial nas bordas, além de contração da área Clínico e Histológico em Ratos. Rev. Odont. UNESP,
cruenta. Concordando com Fossum (2002) [10], São Paulo, v. 19 , p. 75-84.
quando afirma, que a reparação tecidual começa [4] BOWLER, P. 1998. The anaerobic and aerobic
no 3 a 5º dias após a lesão e que o tecido de microbiology of wounds: A review. Wounds, v. 10, n.
6, p. 170 – 178.
granulação caracteriza a fase de fibroplasia,
conferindo à ferida uma barreira protetora
[5] FRANCO, D.; GONÇALVES, L. F. 2008. Feridas [9] BURR, C. 1978. Cirurgia do trauma. São Paulo:
Cutâneas: A Escolha do Curativo Adequado. Rev. Col. EPU,.cap.3, p. 39-46.
Bras. Cir. Vol. 35 - Nº 3, Mai. / Jun. [10] FOSSUM, T.W. 2002. Cirurgia do sistema
[6] ROSIN, E. et al. 1998. Infecção das feridas cirúrgicas tegumentar. In:______Cirurgia de pequenos
e o uso de antibióticos. Manual de Cirurgia de animais, São Paulo: Roca, cap. 13, p. 101-113.
Pequenos Animais. In: SLATTER, d. (Eds). Manual [11] CÂNDIDO, L. M. 2001. Nova abordagem no
de Cirurgia de Pequenos Animais, 2 ed. Ed. Manole: tratamento de feridas. São Paulo: SENAC. Disponível
São Paulo, p. 105-118. em:  http: //
[7] SWAIM, S. F. 2001.Use of vet biosist in wound www.feridologo.com.br/acontecelivro.htm Acesso
management. In: The North American Veterinary em 14 out. 2006.
Conference, 2001, Orlando, Annls....Florida: v. 15, p. [12] RODRIGUES, J.F. et al., Métodos de isolamento de
696. gomas naturais: comparação através da goma de
[8] MAGALHÃES, H.P. 1989. Técnica cirúrgica e cajueiro (Anacardium occidentale L.), Polímero:
cirurgia experimental, São Paulo: Sarvier, cap. 17, p. Ciência e tecnologia, Rio
191-199.

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