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FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO

O processo de cicatrização pode ser dividido em três fases: inflamatória, proliferativa e


reparadora.

· Fase Inflamatória, exsudativa, reativa ou defensiva: caracterizada pelo processo inflamatório


local com sinais típicos de dor, rubor, calor e edema, podendo estar associados à perda da função
local. Tem início no momento que ocorre a lesão tecidual e se prolonga por um período de três a
seis dias. Tem como objetivo preparar o local para o crescimento do novo tecido e divide-se em
três etapas: trombocítica, granulocítica e macrofágica.

- Etapa Trombocítica: nesta etapa ocorre a ativação da cascata de coagulação que faz com que o
colágeno exposto promova aderência na superfície interna e externa do vaso sanguíneo. São
liberadas substâncias vasoativas, quimiotáticos e plaquetários. Ocorre a formação de trombo, que
juntamente com eritrócitos, forma o coágulo.

- Etapa Granulocítica: esta etapa caracteriza-se pela atuação dos granulócitos, que ao chegarem
ao local afetado liberam enzimas proteolíticas (colagenases, elastases e hidrolases ácidas); ocorre
grande concentração de leucócitos polimorfonucleares. Em conseqüência ocorre fagocitose das
bactérias e sujidades, decomposição do tecido necrosado e limpeza local da lesão.

- Etapa Macrofágica: caracterizada pela atuação dos macrófagos, que ao chegarem ao local
afetado liberam substâncias biologicamente ativas, proteases, que atuam na remodelagem da
matriz extracelular; substâncias vasoativas e fatores de crescimento que atuarão nas fases
subseqüentes desde o desbridamento da ferida, angiogênese, proliferação e diferenciação de
células epiteliais e a migração celular.

· Fase Proliferativa, regeneração, reconstrutiva ou fibroblástica: caracterizada pela mitose


celular e pode se estender por aproximadamente três semanas. O desenvolvimento do tecido de
granulação composto por capilares e a reconstituição da matriz extracelular ocorre devido à
deposição de colágeno, fibronectina e outros componentes protéicos, visando ao final a promoção
da contração e da epitelização.

· Fase Reparadora, maturação ou de remodelação: caracterizada pelas transformações que


ocorrem no tecido cicatricial. Seu início é por volta da terceira semana após a ocorrência da ferida
e pode durar até dois anos. As transformações ocorrem devido à diminuição progressiva da
vascularização e dos fibroblastos, do aumento da força tênsil e a reorientação das fibras de
colágeno. A força tensional da cicatriz é determinada pela velocidade, qualidade e quantidade total
da deposição de colágeno. Nesta fase, a cicatriz torna-se mais plana e macia e podem ocorrer
defeitos cicatriciais como quelóides, cicatrizes hipertróficas ou muito finas e friáveis e
hipercromias.

ESTAS INTERCORRÊNCIAS NÃO ACONTECEM DO NADA, NORMALMENTE HÁ UMA


EXPLICAÇÃO QUE DEVE SER INVESTIGADA

TIPOS DE CICATRIZAÇÃO

Na classificação é levado em conta o agente causador da lesão, a quantidade de tecido perdido e o


conteúdo microbiano.

CICATRIZAÇÃO POR PRIMEIRA INTENÇÃO: constitui a melhor forma para o fechamento,


estando associada à lesão por instrumento cortante, ferida limpa com perda mínima de tecido e
reduzido potencial para infecção, sendo permitida a junção dos bordos através de suturas. Ocorre
no tempo fisiológico, reduz incidência de complicações e deixa cicatriz mínima.

CICATRIZAÇÃO POR SEGUNDA INTENÇÃO: está associada a ferimentos infectados, com


grandes perdas teciduais não sendo possível a junção dos bordos e com isso implicando em
retardo no reparo tecidual e uma cicatriz significativa, ocorrendo maior incidência de defeitos
cicatriciais (quelóide, cicatriz hipertrófica).

CICATRIZAÇÃO POR TERCEIRA INTENÇÂO: está associada a lesões que inicialmente foram
submetidas à cicatrização por primeira intenção e que por fatores adversos tornou-se necessário
deixar a incisão aberta para drenagem, sendo posteriormente ressuturada.
FATORES ADVERSOS À CICATRIZAÇÃO

Subdividem-se em Fatores Locais e Fatores Sistêmicos:

A. FATORES LOCAIS:

Pressão contínua: quando ocorre pressão excessiva ou contínua em área de lesão ou sobre
proeminência óssea a irrigação sanguínea torna-se prejudicada, dificultando a irrigação no local da
lesão.

Ambiente seco: feridas mantidas em ambiente úmido cicatrizam três a cinco vezes mais
rapidamente, pois a migração celular neste ambiente é facilitada. Com quadro álgico (doloroso)
menor, devido à umidificação das terminações nervosas, não ocorre à formação de crostas que
interferem na migração celular, devido à ausência de ressecamento.

Trauma e edema: a cicatrização é retardada quando ocorrem traumas freqüentes ou edema, que
geram uma diminuição/interrupção do fluxo sanguíneo e no transporte nutricional celular.

Infecção: sua presença em nível local ou sistêmico prolonga a fase inflamatória, provoca
destruição tecidual, retarda a síntese do colágeno e impede a epitelização. Quando a lesão é
comprometida em todas as camadas, expondo músculos, tendões ou ossos, com presença de
trajetos é necessário cuidados para prevenir riscos de osteomielite e proliferação de
microorganismos.

Tecido desvitalizado ou necrótico: retarda o processo de cicatrização, devendo ser removido


através de desbridamento autolítico, enzimático, mecânico ou cirúrgico. Este tecido é ambiente
propício para a proliferação de microorganismos.

· Incontinência urinária ou fecal: ambas podem alterar a umidade local, propiciando o


rompimento da epiderme e contaminação das lesões que se localizem próximas às áreas de
eliminação vesicointestinais.

· Medicamentos tópicos: são citotóxicos para mitogênese, para a viabilidade celular dos
fibroblastos e queratinócitos e para a atividade funcional dos neutrófilos. Os anti-sépticos em
contato com exsudato e sangue têm sua ação comprometida.

· Antibióticos tópicos: não apresentam efetividade total no tratamento local de infecções e


induzem a resistência bacteriana.

B. FATORES SISTÊMICOS

Idade: o idoso é mais susceptível às lesões e ao retardo das fases de cicatrização, devido a
problemas como deficiência nutricional, comprometimento imunológico, circulatório, respiratório,
ressecamento da pele e fragilidade capilar. Está diminuída a produção de vitamina D, resposta
inflamatória, síntese de colágeno, angiogênese e velocidade de cicatrização. A derme diminui 20%
da espessura.

Doenças concomitantes: doenças metabólicas, hepatopatias, nefropatias, problemas vasculares


e neoplasias retardam ou impedem a evolução do processo de cicatrização.

Condições nutricionais: são os nutrientes que fornecem o substrato necessário para o


organismo realizar o processo reconstrutivo e para fazer frente às infecções. A deficiência de
alguns nutrientes compromete diretamente no processo cicatricial. O paciente deve ser
acompanhado com exames laboratoriais e dados antropométricos.

Drogas sistêmicas: corticóides, agentes citotóxicos e penicilina, entre outras, inibem o processo
de cicatrização. Analgésicos e antiinflamatórios interrompem o processo inflamatório e exsudativo.

CARACTERÍSTICAS DOS EXSUDATOS:

• Exsudato seroso: líquido com baixo conteúdo protéico origina-se do soro sangüíneo ou das
secreções serosas das células mesoteliais.
• Exsudato sanguinolento: é decorrente de lesões com ruptura de vasos ou diapedese de
hemácias. É quase sempre, um exsudato fibrinoso, acompanhado pelo extravasamento de grande
quantidade de hemácias.

Texto de autoria: www.saúde.rj.gov.BR/Docs./cace/MANUALCurativos.pdf a quem parabenizamos


pelo excelente texto.

DEISCÊNCIA

Na medicina chamamos de DEISCÊNCIA a abertura espontânea de suturas cirúrgicas. É uma


separação das bordas dos tecidos que foram unidos por pontos, que ocorre durante o período pós-
operatório. A deiscência total de uma ferida abdominal, por exemplo, pode levar à evisceração
com saída de estruturas (órgãos como o intestino ou às extrusões de próteses). Nas deiscências
parciais onde a pele permanecer íntegra, este evento poderá levar ao desenvolvimento de hérnias
incisionais tardias. Quando não devidamente diagnosticadas ou não corrigidas levam à formação
de hérnias posteriores. As cirurgias contaminadas e infectadas são propensas às infecções e
conseqüentemente à deiscência; incisões longitudinais são também mais susceptíveis de ruptura
que as transversas. Está também associada à deficiência de vitaminas, entre elas a vitamina C
[ácido ascórbico] e tratamento com algumas drogas. Estudos revelam que pacientes que fazem
uso crônico de corticóides, quando submetidos a procedimento cirúrgico, apresentam pele com
comportamento distinto dos demais doentes e respondem ao processo regenerativo de forma
diferente. A deiscência geralmente ocorre nos primeiros dias de pós-operatório. Na maior parte
das vezes a complicação só se torna clinicamente óbvia entre o 5º. e o 10º dia, quando, após a
retirada dos pontos, a pele se abre espontaneamente como um “zíper”. A evisceração é precedida
pela eliminação de secreção sero-sangüinolenta. É comum observa-se ausência de processo
inflamatório típico nas bordas da incisão nas cicatrizações normais.

IMPORTANTÍSSIMO: a Deiscência de sutura é uma complicação particularmente grave, não


acontece só em cirurgias que envolvem a pele, mas podem acontecer em suturas de anastomoses
intestinais, articulações, etc. Ela pode ser parcial em toda a sua extensão de ou total.

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