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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE GRAJAÚ


BACHARELADO EM ENFERMAGEM

LAIZA NOGUEIRA CAPUCHINHO MARTÍNEZ

INFECÇÕES NEUROLÓGICAS

Grajaú - MA
2022
LAIZA NOGUEIRA CAPUCHINHO MARTÍNEZ – 20210026750

INFECÇÕES NEUROLÓGICAS

Atividade apresentada como requisito


para obtenção de nota parcial na
disciplina Infectologia do curso
Bacharelado em Enfermagem ofertado
pelo Centro de Estudos Superiores de
Grajaú da Universidade Estadual do
Maranhão.

Professor: Prof. Msc. Ebenézer De Mello


Cruz

Grajaú - MA
2022
1. Comente sobre os fatores de risco para infecções neurológicas.

Quando falamos em infecção neurológica é possível abranger as


infecções clínicas (meningites e encefalites) e as infecções decorrentes de
procedimentos neurocirúrgicos (infecção do sítio cirúrgico - ISC). Em relação às
infecções clínicas, podemos citar alguns fatores de risco como: idade (crianças
menores de 2 anos); imunossupressão (HIV, ciclêmia, neoplasias malignas);
doenças crônicas sistêmicas (ex: diabetes).
Quando se trata de ISC em neurocirurgia, alguns fatores de risco são
descritos na literatura. O local da cirurgia terá influência nas taxas de infecção, bem
como a causa que motivou a intervenção, influenciando no potencial de
contaminação do procedimento. Um dos fatores que favorecem o surgimento de
infecção é a proximidade aos seios da face. Pacientes colonizados com
Staphilococcus aureus resistente à ampicilina (MRSA) têm maior probabilidade de
desenvolver infecção de sítio cirúrgico por este patógeno. Também representam
fatores de risco para complicações infecciosas o tempo prolongado de
hospitalização, o uso de terapia antimicrobiana prévia, internação em unidade de
terapia intensiva e o contato com outro paciente colonizado por MRSA.
Os fatores associados a infecções em pacientes com derivação
ventricular externa (DVE) incluem tempo de internação maior que 60 dias, tempo de
DVE maior que 30 dias, e ainda, a associação de várias trocas do cateter com maior
taxa de infecção. Os drenos podem se tornar um foco de infecção devido ao
acúmulo de líquidos e secreções, sendo de extrema importância monitorar os sítios
de inserção visualmente ou por palpação, mantendo o curativo intacto de maneira
regular.

2. Explique as ações preventivas para infecções nos casos de craniotomia,


ventriculostomia e cirurgia de coluna.

A prevenção de infecções pós-operatórias inclui adoção de medidas nos


períodos pré-operatório, transoperatório e pós-operatório.
Principais medidas recomendadas relacionadas à avaliação do paciente
no pré-operatório, ao preparo da pele e/ou couro cabeludo, administração da
profilaxia antimicrobiana, relação entre carga de trabalho e infecção, bem como
medidas gerenciais para o controle e prevenção de eventos infecciosos.
A triagem pré-operatória para MRSA, através de swab nasal, é relevante
para guiar os procedimentos de preparo para a cirurgia, sendo indicada a
descolonização da pele e couro cabeludo com clorexidina degermante, e uso de
mupirocina intranasal durante cinco dias. Em relação ao preparo da área a ser
operada, desde 1999 está contra indicado o uso de lâminas para a remoção de
pelos ou cabelos, por aumentar a colonização de microorganismos, favorecendo a
infecção da ferida cirúrgica. Quando necessário, os pelos e/ou cabelos devem ser
aparados com tesouras ou com o uso de tricotomizador elétrico.
Uso de antibiótico profilático nas primeiras vinte e quatro horas de cirurgia
para prevenir infecção de cateter de derivação ventricular externa, independente da
idade do paciente e do tipo de cateter, tem benefícios comprovados.
Outros cuidados pré-operatórios: Identificar e tratar infecções a distância
antes da cirurgia; orientar banho com antisséptico (no dia ou na noite anterior à
cirurgia); controle adequado da glicemia em pacientes diabéticos; orientar a
abstinência ao fumo, pelo menos, 30 dias antes da cirurgia.
No transoperatório podemos citar como medidas de prevenção: iniciar a
profilaxia antimicrobiana até 60 min antes da incisão da pele; realizar o repique do
antimicrobiano a cada 4 h de cirurgia; realizar antissepsia adequada da pele do
paciente; evitar grande número de pessoas dentro da sala cirúrgica; proceder com
técnica asséptica durante toda a cirurgia; manter curativo fechado e estéril.
As medidas pós-operatórias incluem: não ultrapassar 48 h de profilaxia
antimicrobiana pós-operatória; identificar e tratar precocemente infecções em outras
topografias; realizar técnica asséptica na troca de curativos; manter curativo estéril
por 24 a 48 h; higienizar as mãos antes e após o contato com o paciente; retirar os
drenos assim que possível.

3. Cite quais os agentes etiológicos mais comuns na meningites e encefalites.

As meningites agudas comunitárias são frequentemente causadas por


vírus, na seguinte ordem decrescente de frequência: enterovírus (principalmente dos
grupos Coxsackie B e Echovirus), herpes simples tipo 2, varicela-zóster e herpes-
vírus simples tipo 1. As meningites agudas bacterianas, embora menos frequentes
que as virais, apresentam maiores morbidade e mortalidade. As etiologias das
meningites bacterianas comunitárias mais comuns, em ordem decrescente de
frequência, são: Streptococcus pneumoniae, o pneumococo; Neisseria meningitidis,
o meningococo; e Listeria monocytogenes, a listéria. No caso das meningites
nosocomiais, ocorre aumento na incidência de infecções bacterianas estafilocócicas
e por enterobactérias, dependendo da realização de procedimentos neurocirúrgicos
e da flora hospitalar.
Encefalites virais: Herpes-vírus simples, Vírus Epstein-Barr, Varicela-
zóster, Herpes-vírus humanos 6 e 7, Enterovírus, Arbovírus, Raiva, Vírus da
coriomeningite linfocitária, Vírus do sarampo. Encefalites bacterianas:
Mycobacterium tuberculosis, Listeria monocytogenes, Rickettsia. Infecções por
parasitos e por amebas de vida livre: muitos parasitos podem causar encefalite por
invasão direta do cérebro pela corrente sanguínea. Helmintos, incluindo Ascaris,
ancilostomídeos, Gnathostoma spinigerum, Angiostrongylus cantonensis, Spirometra
sp., Alaria sp., entre outros.
4. Esquematize um fluxograma (adaptado) da patogênese da meningite bacteriana.

Colonização nasofaríngea

Invasão local

Bacteremia

Lesão das células


Aumento da endoteliais
permeabilidade
da barreira Invasão meníngea
hematoencefá-
lica
Inflamação do espaço subaracnóideo
Vasculite cerebral

Aumento da resistência ao fluxo do LCR

Hidrocefalia
Edema citotóxico

Edema intersticial

Edema vasogênico Aumento da PIC

Diminuição do fluxo sanguíneo cerebral Infarto cerebral


5. Comente sobre o diagnóstico, conduta inicial e tratamento da meningite.

O diagnóstico consiste em exame clínico e diagnóstico laboratorial. Os


principais exames para o esclarecimento diagnóstico de casos suspeitos são:
1.Cultura: principalmente líquido cefalorraquidiano (LCR), sangue e
raspado de lesões petequeais. É considerada padrão-ouro para diagnóstico da
doença meningocócica por ter alto grau de especi!cidade. Tem como objetivo o
isolamento da bactéria para identi!cação da espécie, e posteriormente o sorogrupo,
o sorotipo e o sorossubtipo do meningococo invasivo.
2.Bacterioscopia direta: pode ser realizada a partir do LCR e de outros
fluidos corpóreos normalmente estéreis e de raspagem de petéquias. A coloração do
LCR pela técnica de Gram permite, ainda que com baixo grau de especi!cidade,
caracterizar morfológica e tintorialmente as bactérias presentes – no caso do
meningococo, um diplococo Gram-negativo.
3.Aglutinação pelo látex: detecta o antígeno bacteriano em amostras de
LCR. Partículas de látex, sensibilizadas com antissoros especí!cos, permitem, por
técnica de aglutinação rápida (em lâmina ou placa), detectar o antígeno bacteriano
nas amostras. Pode ocorrer resultado falso-positivo, em indivíduos portadores do
fator reumático ou em reações cruzadas com outros agentes.
4.Reação em cadeia da polimerase (PCR): detecta o DNA da N.
meningitidis presente nas amostras clínicas (LCR, soro, sangue total e fragmentos
de tecidos). Também permite a genogrupagem dos sorogrupos do meningococo. A
PCR em tempo real (qPCR) é uma modificação da técnica tradicional de PCR que
identifica o DNA-alvo com maior sensibilidade e especificidade e em menor tempo
de reação.
Como conduta inicial é recomendada a realização de tomografia
computadorizada (TC) de crânio antes da punção lombar nos pacientes com
imunodepressão, doença prévia do SNC, convulsão recente, papiledema, nível de
consciência alterado (escala de coma de Glasgow < 10), ou déficit neurológico focal
(exceto paralisias de nervos cranianos). Independentemente da realização da
punção lombar, se existir suspeita clínica de meningite bacteriana aguda, deve-se
coletar duas hemoculturas urgentemente. Após a coleta das hemoculturas e da
eventual punção lombar, deve-se iniciar dexametasona 0,15 mg/kg/dose, de
preferência 15 a 20 min antes da administração da primeira dose da
antibioticoterapia empírica, ou no máximo concomitantemente.
A antibioticoterapia deve ser instituída o mais precocemente possível, de
preferência, logo após a punção lombar e a coleta de sangue para hemocultura. O
uso de antibiótico deve ser associado a outros tipos de tratamento de suporte, como
reposição de líquidos e cuidadosa assistência. O tratamento empírico inicial da
meningite bacteriana aguda deve se basear na idade e na existência de fatores
predisponentes a infecção por patógenos específicos. Para adultos sem fatores de
risco, é recomendado o uso de cefalosporina de terceira geração, enquanto para
pacientes idosos a associação com ampicilina é necessária para a cobertura da
Listeria monocytogenes. Para pacientes com fratura de base de crânio, o uso de
cefalosporina de terceira geração é suficiente. Para pacientes que sofreram traumas
penetrantes, foram submetidos a neurocirurgia recentemente ou são portadores de
derivação ventriculoperitoneal, é necessário cobrir patógenos Gram-positivos e
bacilos Gram-negativos com vancomicina associada a cefalosporina com cobertura
para Pseudomonas aeruginosa ou a carbapenêmico (preferencialmente meropeném,
devido ao seu menor potencial epileptogênico e ao maior espectro in vitro). Quando
os exames realizados permitem o diagnóstico etiológico, o esquema terapêutico
deve ser ajustado. O tempo de duração da terapia antimicrobiana deve se pautar na
resposta clínica do paciente. Apesar da falta de dados científicos, a administração
intravenosa da medicação deve ser mantida durante toda a duração do tratamento,
para garantir que concentrações adequadas dos antimicrobianos sejam atingidas no
LCR.
6. Cite os sinais clínicos das encefalites virais. Elabore um quadro com detalhes
clínicos com cada agente etiológico: HSV, EBV, Enterovírus, Raiva e M.
tuberculosis.

Agente Etiológico Quadro Clínico


HSV A infecção aguda do HSV-1 causa quadro clínico de
gengivoestomatite. Após essa fase inicial, o vírus se aloja no
gânglio trigeminal, onde assume a forma latente. A reagudização
da infecção causa lesões cutâneas papulovesiculares e
pruriginosas em algum ramo do trigêmeo. A ocorrência
concomitante da infecção cutânea e do SNC é relativamente rara.
Após reativação, o HSV-1 pode atingir o SNC por duas vias: a
primeira ocorre através das terminações nervosas do nervo
olfatório, bulbo olfatório e trato olfatório, alcançando a região
rinencefálica, causando intensa necrose hemorrágica da região
inferomedial do lobo temporal e médio-orbital do lobo frontal
(lesões típicas); a segunda ocorre pelas terminações nervosas
trigeminais que inervam as meninges, justificando lesões em
topografias não habituais.
EBV A manifestação clínica inclui pródromo inespecífico de febre (81%)
e dor de cabeça (66%), evoluindo com sintomas sugestivos de
encefalite.
Enterovírus Além de causar paralisia flácida aguda (síndrome pólio-like), EV-71
também tem sido associado a uma forma distinta de encefalite
inicialmente descrita em Taiwan e Malásia. A maioria dos casos
ocorreu com crianças pequenas (com menos de 5 anos de idade),
com síndrome mão-pé-boca, juntamente com ataxia, nistagmo,
mioclonia e paralisias oculomotoras. As crianças frequentemente
evoluem para óbito, consequente a quadro de rombencefalite.
Raiva Aproximadamente 80% dos casos desenvolve uma forma
encefalítica grave, caracterizada por comportamento incomum,
agitação, hidrofobia, delírio e convulsões. A doença geralmente é
fatal.
M. tuberculosis Manifestações clínicas possíveis incluem alteração da consciência,
distúrbios de personalidade e alucinações. É comum haver
comprometimento de nervos cranianos, irritabilidade e hidrocefalia.

REFERÊNCIAS

BORGES, Elsie Storch; FERREIRA, Simone Cruz Machado. Ações no controle das
infecções do sítio cirúrgico em neurocirurgia: revisão integrativa. Online Brazilian
Journal of Nurse. v.15. n.4. p.735-745. 2016.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de


Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. 5. ed.
Brasília. 2022.

DE ABREU, Cláudia de Paula Mucida. Intervenções de enfermagem na


prevenção de infecção de sítio cirúrgico em neurocirurgia: revisão integrativa
da literatura. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal Fluminense.
2014.

MATAS, Sandro Luís de Andrade. Meningites Agudas. In: SALOMÃO, Reinaldo.


Infectologia: Bases clínicas e tratamento. 1. ed. p. Rio de Janeiro. Guanabara
Koogan. 2017

MATAS, Sandro Luís de Andrade; RIBEIRO, Reinaldo Teixeira. Encefalites. In:


SALOMÃO, Reinaldo. Infectologia: Bases clínicas e tratamento. 1. ed. Rio de
Janeiro. Guanabara Koogan. 2017

RODRIGES, Cristhieni. Infecções Neurológicas. In: CARRARA, Dirceu; STRABELLI,


Tânia Mara V.; UIP, David Everson. Controle de Infecção - A Pratica no Terceiro
Milênio. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.

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