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Conjunto Hospitalar do Mandaqui

Programa de Residência de Pediatria

Manejo e prevenção de infecções corrente


sanguínea relacionadas ao cateter

Bárbara Santos Rocha – R3


Isabela Marques Hygino – R3

Sã o Paulo - SP
2022
INTRODUÇÃO - ICS
● As infecções da corrente sanguínea relacionadas ao cateter venoso central (CR-BSI)
são um evento frequente no ambiente da unidade de terapia intensiva (UTI).

● Em contraste com outras infecções nosocomiais, a maioria dos fatores de risco para
CR-BSI está ligada ao dispositivo e pode ser prevenida de forma eficiente.

● Cateteres venosos centrais (CVCs) são essenciais no cuidado de pacientes críticos para
permitir a administração endovenosa segura de medicamentos, auxiliar no
monitoramento dos parâmetros hemodinâmicos e auxiliar na administração
intravenosa de ressuscitação volêmica.
ICS - DIMENSÃO DO PROBLEMA
É a infecção associada a
cuidados em saúde de maior
potencial preventivo que
existe!!

3° lugar entre as infecções Aumento da mortalidade Aumento dos custos /


relacionadas à assistência à impacto econômico
saúde (IRAS)

60% das bacteremias


Aumento do tempo de Aumento do uso de
nosocomiais estão
internação ( 7 para 21 dias antibioticoterapia
relacionadas ao cateter
em média)
vascular
FATORES DE RISCO - RELACIONADOS AO
PACIENTE
● Doença crônica
● Imunossuprimidos, especialmente neutropenia
● Desnutrição
● Administração de nutrição parenteral
● ICS anterior
● Extremos de idade
● Perda de integridade da pele, como nas queimaduras
FATORES DE RISCO - RELACIONADOS
AO CATETER
● Duração do cateterismo (embora não haja indicação para troca rotineira com base no
número de dias do cateter)
● Sítio do cateter (femoral > jugular> subclávia)
● Condições de inserção
● Habilidade do médico na inserção do cateter
● Cuidados com o cateter
MECANISMOS DE INFECÇÃO
● A colonização do cateter pode ocorrer por duas vias principais:

a. Colonização extraluminal: microrganismos contaminantes da pele,


provavelmente auxiliados por ação da capilaridade, penetram através da pele
durante a inserção do cateter ou nos dias que se seguem após a inserção.

b. Colonização intraluminal: migração do patógeno pela corrente sanguínea, por


infecções originárias em outro local, como pneumonia, ou, ainda, a infusão
de soluções contaminadas. A entrada dos microrganismos pode acontecer
pelo canhão (hub) do cateter, ou pelo seu lúmen (através do guia utilizado
durante a inserção do cateter) ou durante a manipulação do cateter, ou dos
conectores com as linhas de infusão, ou pela administração de soluções
intravenosas.
DEFINIÇÕES
ICS associada ao cateter ICS relacionada ao cateter
Manifestação clínica + Manifestação clínica +
Uma hemocultura positiva periférica +
Uma única hemocultura positiva para um
Ponta de cateter positiva
patógeno típico
OU
OU
Duas hemoculturas positivas para comensal de Tempo de positividade maior de 120 min e
pele nenhuma outra possível fonte de bacteremia
OU OU
Sem ponta de cateter positiva, nem hemocultura Culturas quantitativas simultâneas com
periférica positiva proporção >3:1 ufc/ml de sangue (cateter VS
periférico)
OUTRAS DEFINIÇÕES
QUAIS SÃO OS AGENTES?
● Estafilococos coagulase-negativo: 16,4%
● Enterococos spp.: 15,2% Gram positivos
● S.aureus: 13,2%
● Candida spp.: 13,3%
● Klebsiella spp.: 8,4%
● E.coli: 5,4%
Gram negativos
● Enterobacter spp.: 4,4%
● Pseudomonas spp.: 4%
QUADRO CLÍNICO
● Febre (estafilococos coagulase negativo pode não ter febre)

● Secreção purulenta ou sinais de inflamação na inserção do cateter


o Baixa sensibilidade (< 5%)
o Boa especificidade (94-99%)

● Sepse/ choque séptico

● Achados laboratoriais (leucocitose com desvio à esquerda, aumento de PCR)


QUANDO SUSPEITAR?

o Febre + sinais inflamatórios no local de inserção


o Febre + ausência de sinais inflamatórios + ausência de outro foco aparente
o Hemocultura positiva + ausência de outro foco aparente

Atenção: inspeção diária do local da


inserção é importante para detectar
infecções!
DIAGNÓSTICO

Sinais no local de inserção


estão ausentes em mais de
50% dos casos de infecção!
DIAGNÓSTICO
● Hemocultura pareadas de sítios diferentes (periférica e cateter) devem ser coletadas
antes de início/ troca de antibioticoterapia

● Se não for possível coleta de veia periférica, recomenda-se coleta de 2 amostras


através de diferentes lúmens do cateter

● Limpeza prévia com álcool ou clorexidina alcoólica


DIAGNÓSTICO

Deve crescer o mesmo microrganismo em pelo Em hemoculturas quantitativas: a contagem de


menos 1 hemocultura percutânea e de uma colônias do sangue obtido do hub do cateter
cultura da ponta do cateter (AI) deve ser pelo menos 3 vezes maior do que a
obtida de uma veia periférica (AII)

Tempo diferencial para positividade (TDP): Em hemoculturas quantitativas obtidas através de 2


crescimento de micróbios de uma amostra lúmens do mesmo cateter: a contagem de colônias
retirada do hub de cateter deve acontecer pelo de um lúmen deve ser pelo menos 3 vezes maior
menos 2 h antes do crescimento microbiano que a contagem de colônias obtida do segundo
da amostra periférica (AII) lúmen para ser considerada uma possível ICS (B-
II).
DIAGNÓSTICO
Importante!
● Os resultados de HMC devem ser interpretados em contexto clínico

● Por exemplo, febre sem outras fontes pode ser atribuída uma infecção
por cateter

● A presença de febre persistente requer repetidas HMC e repetida


avaliação clínica para fontes alternativas de febre
Manejo e prevenção
MANEJO
● Suspeita de ICS relacionada ao cateter →instabilidade hemodinâmica,
imunossupressão ou sinais locais de infecção →remover o cateter

● Duração do tempo de antibioticoterapia

● Gravidade do paciente

● Fatores de risco para infecção


QUANDO REMOVER O CATETER?
● Em casos de sepse grave, tromboflebite supurativa, endocardite, persistência da
infecção após 72h de ATB para patógenos susceptíveis

a. Cateter de longa permanência

o Em infecções por S. aureus, Pseudomonas aeruginosa, fungos ou micobactéria.

a. Cateter de curta permanência

o Em infecções por S. aureus, enterococos, bacilos gram negativos, fungos e


micobactéria.
TERAPIA EMPÍRICA INICIAL
● Individualizada

● Suspeita de infecção por cateter intravascular + sinais clínicos ou laboratoriais →


culturas → terapia antimicrobiana empírica !

● O D1 do tratamento corresponde ao dia da primeira hemocultura negativa


TERAPIA EMPÍRICA INICIAL
● Patógenos mais prováveis (ex: estafilococos coagulase negativos →meticilino
resistentes → vancomicina)

● Infecções fúngicas → pacientes imunocomprometidos sépticos e gravemente doentes,


vários locais colonizados NPP ou antibioticoterapia prolongada de amplo espectro.
TERAPIA ANTIMICROBIANA
DIRECIONADA

01 02 03
Padrão de
Agente isolado suscetibilidade Adequação de
antimicrobiana terapia com o
definida espectro mais
estreito possível
Infecção do cateter

IDSA Guidelines for Intravascular Catheter-Related Infection • CID 2009:49


Infecção de corrente sanguínea
relacionada a cateter de curta
permanência

IDSA Guidelines for Intravascular Catheter-Related Infection • CID 2009:49


Infecção de corrente
sanguínea relacionada a
cateter de longa
permanência

IDSA Guidelines for Intravascular Catheter-Related Infection • CID 2009:49


TERAPIA PROPOSTA
Achados microbiológicos Duração do antimicrobiano Fatores de risco → complicações
• Instabilidade hemodinâmica
Staphylococcus aureus, Candida spp. • Neutropenia (<500/mm3)
Hemoculturas negativas 3 – 5 dias imunossupressão
• Presença de outros dispositivos
Hemoculturas positivas, sem complicações 14 dias intravasculares
• Sinais flogísticos (pus ou
Hemoculturas positivas, com complicações 4 – 6 semaas vermelhidão >0,5 cm)
Enterococcus spp., Staphylococcis coagulase negativo, enterobactérias
Serratia spp. Em ponta de cateter sem
Hemoculturas negativas Sem terapia hemoculturas positivas → considerar
Hemoculturas positivas, sem complicações 5 – 7 dias antibioticoterapia por curto tempo

Hemoculturas positivas, com complicações 4 – 6 semanas

Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumannii

Hemoculturas negativas 3 – 5 dias

Hemoculturas positivas, sem complicações 7 dias

Hemoculturas positivas, com complicações 4 – 6 semanas


COMPLICAÇÕES
● Febre persistente ou bacteremia → remoção do cateter e apesar de uma terapia
antimicrobiana adequada → foco de infecção persistente.

● Busca ativa por outra infecção da linha vascular, abscesso metastático, tromboflebite
séptica ou endocardite

● Curso prolongado de antibióticos combinado com o manejo adequado da complicação


- terapia de 4 a 6 semanas.
PREVENÇÃO
● Inserção
- Higiene das mãos
- Gluconato de clorexidina (CHG)-álcool para preparação do local
- Precauções máximas de barreira estéril durante a inserção do cateter central
- Seleção do local
- Orientação por ultrassom
PREVENÇÃO
● Manutenção
- Desinfete o hub do cateter antes de acessar o cateter.
- Remova os cateteres imediatamente quando não forem mais necessários.
- Dar banho diariamente em pacientes da unidade de terapia intensiva com mais de 2
meses de idade com CHG.
- Troque o curativo transparente e realize o cuidado do local com um produto à base de
CHG a cada 5 a 7 dias, ou a cada 2 dias para um curativo de gaze.
- Substitua o curativo imediatamente se o curativo ficar úmido, solto ou visivelmente
sujo.
LOCK
● Terapia que utiliza ATB para preencher o lúmen do cateter enquanto ele não é usado
● Indicado para infecção de corrente sanguínea relacionada a cateter de longa
permanência
● Paciente estável, com patógeno identificado e de baixa virulência (ex:coagulase
negativo)
● Deve ser realizada em associação com terapia sistêmica (7-14 dias)
● Nunca realizar apenas lock !
LOCK
● ATB mais utilizados: vancomicina, teicoplanina, daptomicina, ciprofloxacino e
amicacina, todos em concentrações altas
● Duração: cerca 10 a 14 dias
● Deve ser trocado entre 24 e 48h
● Em pacientes em hemodiálise deve ser trocado após cada sessão.
LOCK
Lock com etanol

● Alternativa ao lock com ATB


o Etanol: bactericida e fungicida
o Sem efeitos sob a resistência antimicrobiana

● Efeitos adversos sistêmicos importantes como tonturas, aumento de enzimas hepáticas


e confusão mental

● Efeitos sobre a composição dos cateteres é considerável, com perda de partículas de


silicone e alteração na resistência e elasticidade do poliuretano.
REFERÊNCIAS

● Leonard A. Mermel, Michael Allon, Emílio Bouza, Donald E. Craven, Patrícia Flynn, Naomi P. O'Grady,
Issam I. Raad, Bart JA Rijnders,; Robert J. Sherertz,; David K. Warren; Clinical Practice Guidelines for the
Diagnosis and Management of Intravascular Catheter-Related Infection: 2009 Update by the Infectious
Diseases Society of America; IDSA Guidelines for Intravascular Catheter-Related Infection; 1 July, 2009

● Niccolò Buetti, MD. Jean-François Timsit, MD, PhD; Management and Prevention of Central Venous
Catheter-Related Infections in the ICU; Seminars in Respiratory and Critical Care Medicine. Vol. 40 No. 4,
2019.
Obrigada

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