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Phatryck Pinheiro

FMC – 2024.2

Sepse neonatal
INTRODUÇÃO:
É a infecção sistêmica que ocorre no RN. Quanto ao momento de início da infecção, a sepse pode
ser dividida em:
1. Sepse neonatal precoce → início na primeira semana de vida, mas principalmente nas
primeiras 48 ou 72 horas de vida.
2. Sepse neonatal tardia → início após a primeira semana de vida

SEPSE NEONATAL PRECOCE – SNNP:


É aquela que ocorre na primeira semana de vida do RN, principalmente nas primeiras 48-72 horas,
decorrente de infecção adquirida intraútero ou durante a passagem pelo canal de parto. Os
principais agentes etiológicos são as bactérias que colonizam o trato geniturinário da mãe:
Streptococcus agalactiae - GBS (estreptococo do grupo B) e as bactérias gram-negativas entéricas,
como: Escherichia coli e Listeria monocytogenes (não é tão frequente no Brasil).

QUADRO CLÍNICO DE SNNP:


1. Instabilidade térmica:
1.1. Hipotermia → < 36,5ºC → mais comum em RNPT
1.2. Hipertermia → > 37,5ºC
2. Desconforto respiratório (taquipneia, apneia, cianose, gemência, retrações torácicas e
batimento de asa nasal.
3. Manifestações neurológicas: hipotonia, convulsões, irritabilidade ou letargia
4. Manifestações gastrointestinais: recusa alimentar, vômitos e distensão abdominal. Pensar
em enterocolite necrosante (aula bônus 3)
5. Icterícia idiopática (predomínio de BD)
6. Palidez cutânea
7. Sinais de sangramento: petéquias e púrpuras
8. Avaliação subjetiva: “RN não está bem”.

DIAGNÓSTICO DE SNNP:
Se baseia em 3 aspectos principais:
1. Fatores de risco maternos e neonatais
2. Manifestações clínicas do RN → Vide quadro clínico de SNNP
3. Exames laboratoriais sugestivo de sepse

O diagnóstico de sepse pode ser feito pela presença de 3 sinais clínicos no RN (vide quadro clínico
de SNNP) ou 2 ou mais sinais clínicos associados aos fatores de risco, sejam eles maternos ou
neonatais, indicando o início da antibioticoterapia mesmo sem análise laboratorial.

FATORES DE RISCO MATERNO E NEONATAL PARA SNNP:


Materno Neonatal
Febre materna > 37,5ºC Taquicardia fetal > 180bpm
Infecção urinária no parto Prematuridade
Colonização por GBS Apgar 5º minuto < 7
Ruptura de membranas ovulares > 18 horas Sexo masculino
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Infecção de trato genital (herpes, leucorreia) Primeiro gemelar
Parto prematuro sem causa
Corioamnionite: febre materna >38ºC + 2 fatores
1. Hipotonia uterina
2. Líquido amniótico purulento ou fétido
3. Leucocitose materna > 20.000/mm3
4. Taquicardia materna > 100bpm
5. Taquicardia fetal > 160bpm

EXAMES LABORATORIAIS:
Isolamento do microrganismo:
1. Hemocultura → padrão-ouro para o diagnóstico da sepse (sensibilidade de 80%), deve ser
colhida em veia periférica pelo alto índice de contaminação da veia umbilical.
2. Líquor → colher apenas em RN sintomáticos com indicação de tratamento com atb, desde que
em boas condições clínicas para a coleta.
3. Urocultura → difícil coleta, recomendada apenas em RN sintomáticos com diagnóstico pré-
natal de malformação do trato urinário.
4. Cultura de aspirado traqueal → Indicada nas primeiras 8 horas de vida do RN intubado ao
nascimento para o diagnóstico etiológico da pneumonia congênita.

Exames laboratoriais propriamente dito → valor preditivo negativo


1. Hemograma completo → alterações sugestivas: leucocitose > 25.000/mm3, leucopenia <
5.000/mm3, neutropenia < 1.500/mm3, relação I/T (neutrófilos imaturos / neutrófilos totais)
> ou = 0,2 e trombocitopenia < 100.000/mm3.
2. PCR → baixo valor preditivo negativo e sensibilidade. Utilizada principalmente de forma seriada
para o acompanhamento do RN.
3. Procalcitonina → mais sensível pois eleva após 6 horas da invasão bacteriana. Tem meia vida
de 24 horas.

TRATAMENTO DA SNNP:
O tratamento antibiótico IV deve ser instituído de forma precoce e empírica após a coleta de culturas,
visando à cobertura do GBS e dos gram-negativos entéricos.
1. Penicilina cristalina + amicacina ou gentamicina → por 7-10 dias
2. Ampicilina (GBS e Listeria) + gentamicina (gram-negativos entéricos) → por 7-10 dias

Se a suspeita clínica de sepse for fraca e os exames laboratoriais forem normais, considerar
suspensão precoce dos atb.

Além da atbterapia, algumas medidas gerais devem ser instituídas: monitorização (FC e FR, PA,
diurese e Oximetria de pulso), controle da temperatura corporal, manutenção da glicemia, suporte
ventilatório (oxigenioterapia, CPAP ou ventilação invasiva) e de suporte nutricional adequado.

SEPSE NEONATAL TARDIA – SNNT:


É aquela que ocorre após a primeira semana de vida ou após as primeiras 48-72 horas de vida,
frequentemente relacionado a infecção hospitalar, embora também possa ser adquirida na
comunidade após a alta hospitalar.

Na maioria dos casos, estamos diante de uma infecção nosocomial associada a fatores de risco
específicos como: prematuridade, baixo peso (principalmente < 1000g), uso de atb de amplo espectro,
nutrição parenteral ou ventilação prolongada.

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Os principais agentes etiológicos são as bactérias de flora hospitalar gram-positivas como
Staphylococcus aureus, Staphylococcus coagulase negativa e Enterococcus e os bacilos gram-
negativos como Klebsiella, Enterobacter, Serratia e Pseudomonas aeruginosa. Mas a SNNT também
pode ser causada por fungos (principalmente em < 1000g), como a Candida albicans e a Candida
parapsilosis.

QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO DE SNNT:


Os principais achados clínicos da SNNT também são inespecíficos, e os exames laboratoriais a serem
solicitados são praticamente os mesmos realizados na SNNP, não esquecendo da coleta de
cultura de todos os dispositivos invasivos utilizados (cateter de longa permanência e cânula
orotraqueal). A meningite é mais comum na SNNT, portanto a coleta de líquor deve ter uma
importância especial, desde que estejam em condições clínicas para coleta. A urinocultura deve
ser colhida.

TRATAMENTO DA SNNT:
O tratamento antimicrobiano deve ser direcionado pelo perfil de resistência das bactérias hospitalares,
principalmente com relação à existência de Staphylococcus aureus resistente a meticilina (MRSA)
que indica o uso de vancomicina. Em geral é associado a esta cobertura para gram-positivos, uma
cefalosporina de amplo espectro para cobertura também de gram-negativos, como cefepima ou
cefotaxima. Na presença de meningite, o tempo de atb deve ser prolongado para 14 dias se
causada por gram-positivos, ou 21 dias, se causada por gram-negativos. Para cobertura fúngica,
a droga de escolha é a anfotericina B, tomando cuidado com a nefrotoxicidade, anemia e
plaquetopenia.

A prevenção da SNNT inclui medidas de higiene: lavar as mãos, controle da superlotação das
unidades neonatais, manuseio mínimo do RN e cuidados com os dispositivos invasivos (cateteres
centrais e cânula orotraqueal).

Pneumonia neonatal
INTRODUÇÃO:
É um processo inflamatório pulmonar resultante de infecção bacteriana, viral ou fúngica ou de origem
química. Com frequência é o primeiro sinal de infecção sistêmica, estando associada a quadros de
sepse e meningite neonatal.

Pode ser classificada em:


1. Congênita → pela passagem transplacentária de agentes etiológicos (STORCHS, listeriose,
tuberculose e HIV) ou por aspiração de líquido amniótico infectado (Corioamnionite). Muito
associado ao trabalho de parto prematuro, natimortalidade ou asfixia e IR grave ao nascimento.
2. Neonatal → de aquisição perinatal ou pós-parto, podendo ou não se associar a asfixia ao
nascimento. O RN evolui com quadro respiratório que é frequentemente indistinguível das
outras causas de SDR em RN.
2.1. Precoce → primeiras 48 horas, predominando gram-negativas, como: GBS
2.2. Tardia → decorrente de infecção nosocomial, predominando gram-positivas e bactérias
atípicas, como Chlamydia trachomatis.

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QUADRO CLÍNICO E LABORATORIAL:
FATORES DE RISCO:
1. Corioamnionite clínica: febre materna > 38ºC, taquicardia materna > 100bpm, leucocitose
materna > 20.000/mm3, taquicardia fetal > 160bpm, útero doloroso e amolecido e fisometria.
2. Rotura de membranas amnióticas > 18 horas
3. Trabalho de parto prematuro sem causa aparente
4. Colonização materna por GBS
SINAIS CLÍNICOS SUGESTIVOS DE SEPSE:
1. Intolerância alimentar
2. Letargia
3. Hipotonia
4. Hipo ou hipertermia
5. Distensão abdominal

TRIAGEM LABORATORIAL POSITIVA PARA SEPSE:


1. Escore hematológico de Rodwell > ou = 3
2. PCR elevada

QUADRO RADIOLÓGICO:
O aspecto radiológico da pneumonia neonatal é indistinguível da SDR, se manifestando com uma
consolidação bilateral com broncograma aéreo.

TRATAMENTO:
O tratamento é direcionado para a cobertura das bactérias de canal de parto (GBS e Listeria), sendo
os esquemas possíveis:
1. Penicilina cristalina + amicacina ou gentamicina → por 14 dias
2. Ampicilina + gentamicina → por 14 dias

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Prescrição: sepse neonatal


DIETA E HIDRATAÇÃO:
1. Leite materno via sonda orogástrica ou nutrição parenteral (conforme gravidade do paciente)
2. SF 0,9% 10-20ml/kg EV em 30 minutos, podendo repetir 3 vezes, em caso de choque
hemodinâmico

ANTIBIOTICOTERAPIA:
ESQUEMA A: SEPSE NEONATAL PRECOCE – ASSOCIAÇÃO POR 10-14 DIAS:
➔ Ampicilina (1g/frasco) dose dependente da idade gestacional e dias de vida
+
➔ Gentamicina (40mg/ml) dose dependente da idade gestacional e dias de vida

ESQUEMA B: SEPSE NEONATAL PRECOCE COM INFECÇÃO DE SNC – ASSOCIAÇÃO POR 10-14 DIAS:
➔ Ampicilina (1g/frasco) dose dependente da idade gestacional e dias de vida
+
➔ Gentamicina (40mg/ml) dose dependente da idade gestacional e dias de vida
+
➔ Cefotaxima (500mg/frasco) dose dependente da idade gestacional e dias de vida

ESQUEMA C: SEPSE NEONATAL TARDIA – ASSOCIAÇÃO POR 10-14 DIAS:


➔ Vancomicina (500mg/frasco) dose dependente da idade gestacional e dias de vida
+
➔ Gentamicina (40mg/ml) dose dependente da idade gestacional e dias de vida

Opções de posologia para Ampicilina:


IG < ou = 34 semanas e < ou = 7 dias de vida: 50mg/kg/dose EV de 12/12h
IG < ou = 34 semanas e > 7 dias de vida: 75mg/kg/dose EV de 12/12h
IG > 34 semanas: 50mg/kg/dose EV de 8/8h

Opções de posologia para Gentamicina:


IG < 30 semanas e 0-14 dias de vida: 5mg/kg/dose EV 48/48h
IG < 30 semanas e > 14 dias de vida: 5mg/kg/dose EV de 36/36h
IG 30-34 semanas e 0-14 dias de vida: 5mg/kg/dose EV de 36/36h
IG 30-34 semanas e > 14 dias de vida: 5mg/kg/dose EV de 24/24h
IG > ou = 35 semanas e 0-7 dias de vida: 4mg/kg/dose EV de 24/24h
IG > ou = 35 semanas e > 7 dias de vida: 5mg/kg/dose EV de 24/24h

Opções de posologia para Cefotaxima:


IG < 29 semanas: 50mg/kg/dose EV de 12/12h
IG 30-34 semanas e 0-7 dias de vida: 50mg/kg/dose EV de 12/12h
IG 30-34 semanas e > 7 dias de vida: 50mg/kg/dose EV de 8/8h
IG > ou = 35 semanas e 0-7 dias de vida: 50mg/kg/dose EV de 12/12h
IG > ou = 35 semanas e > 7 dias de vida: 50mg/kg/dose EV de 8/8h

Opções de posologia para Vancomicina:


IG < ou = 34 semanas e < ou = 7 dias de vida: 50 mg/kg/dose EV 12/12h
IG < ou = 34 semanas e > 7 dias de vida: 75 mg/kg/dose EV12/12h
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IG > 34 semanas: 50 mg/kg/dose EV 8/8h

TRATAMENTO FARMACOLÓGICO:
AMINAS VASOATIVAS:
1. Dopamina (5mg/ml): 10ml + 240ml de SG 5% (concentração de 200microgramas/ml).
Administrar 0,6-6 ml/kg/hora (2-20 microgramas/kg/minuto) EV em BI
2. Dobutamina (12,5 mg/ml): 20ml + 230 ml de SG 5% (concentração 10 micrograma/ml).
Administrar dose inicial de 0,03-0,06 ml/kg/hora (0,5-1 micrograma/kg/minuto). A dose usual é
de 0,12-1,2 ml/kg/hora (2-20 micrograma/kg/minuto) EV em BI
3. Adrenalina (1mg/ml): 1 ml + 99ml de SG 5% (concentração de 10 micrograma/ml). Administrar
0,3-1,8 ml/kg/hora (0,05-0,3 micrograma/kg/minuto) EV em BI. Dose máxima: 3ml/kg/hora (0,5
micrograma/kg/minuto).

SINTOMÁTICOS:

ANALGÉSICOS E ANTITÉRMICOS:
1. Paracetamol gotas: (200mg/ml): 0,75-1,1 gota/kg/dose (10-15 mg/kg/dose) VO de 4/4h ou 6/6h
1.1. Dose máxima < 12 anos: 35 gotas/dose ou 5,6 gotas/kg/dia (75 mg/kg/dia)
1.2. Dose máxima > 12 anos: 55 gotas/dose ou 300 gotas/dia (4000 mg/dia)
2. Dipirona gotas – solução oral (500mg/ml). Administrar 0,8-1 gota/kg/dose (20-25mg/kg/dose)
até 6/6h VO. Dose máxima 50 gotas/dose (5g/dia)
3. Dipirona – solução injetável (500mg/ml). Administrar 0,04-0,05ml/kg/dose (20-25mg/kg/dose)
até 6/6h EV. Dose máxima (5g/dia)

ANTIEMÉTICO:
1. Ondansetrona (2mg/ml): administrar 0,15mg/kg/dose EV de 8/8h (off-label)
2. Evitar os inibidores da bomba de prótons ou dos receptores H2 das células parietais:
pois reduzem a acidez gástrica, o que favorece o crescimento e translocação bacteriana

CUIDADOS GERAIS:
1. Suporte ventilatório: O2 suplementar, CPAP, VM invasiva conforme necessidade
2. Sinais vitais, diurese e balanço hídrico de 3/3h

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