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SISTEMA RESPIRATÓRIO

PNEUMONIAS BACTERIANAS
E SUAS COMPLICAÇÕES

PROF TATIANA KURTZ


MEDICINA UNISC
RX DE TÓRAX AP normal
RX TÓRAX PERFIL normal

1 = corpo vertebral
2 = esterno
3 = artéria pulmonar
direita
4 = artéria pulmonar
esquerda
5 = aorta
descendente
6 = aorta ascendente
7 = coração
OBJETIVOS

■ Abordar as Pneumonias Bacterianas


em Pediatria: características,
diagnóstico e tratamento.

■ Estudar suas possíveis complicações


BIBLIOGRAFIA

▪ OSKI- Fundamentos de Pediatria


▪ Swischuk, Leonard E.- Radiologia do RN,Lactente e
da Criança pequena.
▪ ARTIGOS:
▪ Fatores associados às complicações em crianças pré-escolares
com pneumonia adquirida na comunidade.-J Bras Pneumol.
2012;38(5):614-621
▪ Community-acquired pneumonia among children: the latest
evidence for an updated management. J Pediatr (Rio J).
2020;96(S1):29-38. Nascimento-Carvalho CM
▪ Pneumonia adquirida na Comunidade na Infância. Departamento
Científico de Pneumologia • Sociedade Brasileira de Pediatria- 2018
■ A infecção respiratória
aguda é uma das cinco
principais causas de óbito em
crianças menores de 5 anos
de idade nos países em
desenvolvimento, com
aproximadamente três
milhões de mortes/ano.

■ A pneumonia adquirida na
comunidade (PAC)
corresponde à forma mais
grave das infecções
respiratórias agudas, sendo
responsável por 80% das
mortes por essa causa.
Entre o fim do século passado e o início do
atual, mudanças ocorreram no cenário da PAC
na infância.

■ Em primeiro lugar, a implantação progressiva de vacinas


bacterianas conjugadas, especificamente a vacina contra
o Haemophilus influenzae tipo b (Hib) e as vacinas
pneumocócicas conjugadas (PCV), os agentes causadores
bacterianos mais frequentes da PAC na faixa etária de 5
anos até o momento.
■ ..., o sucesso na difusão de técnicas de amplificação de
ácido nucleico (PCR, do inglês Polymerase Chain Reaction)
teve um impacto na estimativa da proporção de infecções
por vírus respiratórios na PAC infantil.
INTRODUÇÃO
O diagnóstico de pneumonia foi definido por
características:

■ apresentação clínica (presença de febre, tosse e


dificuldade respiratória),
■ exame físico (retração torácica, presença de
diminuição de murmúrio vesicular ou estertoração)
■ exame radiológico (presença de imagem de
consolidação homogênea uni ou bilateral na
radiografia de tórax).
QUAIS ALTERAÇÕES NESTAS IMAGENS RX DE TÓRAX SÃO
PERCEBIDAS POR VOCÊ ?
TRANSMISSÃO
■ Ocorre pela propagação de gotículas, conseqüência de
um contato relativamente estreito com um caso.
■ O uso crescente da creche, por pais que
trabalham,tem sido associado a um aumento na
transmissão de certos patógenos respiratórios!

■ “Age is a good predictor of the likely pathogens”

CAP in infants and children. AAFP


ETIOLOGIA
Pneumococo
Mycoplasma pneumoniae
Chlamydia pneumoniae

Haemophilus influenza B
Staphylococcus aureus
Haemopilus influenza não B
Moraxella catarrhalis

Mycobacterium tuberculosis
Chlamydia trachomatis
Escherichia coli
Streptococcus tipo B
Listeris monocytogenes

Streptococcus pneumoniae (pneumococo) é o


agente mais comum de pneumonias bacterianas em
crianças.
BTS Guidelines for the Management of CAP in Childhood
ETIOLOGIA por faixas etárias:
Lactente: 29 dias a 2 anos de idade, exclusive;
Pré-escolar: 2 a 6 anos de idade, exclusive;
escolar: 6 a 10 anos de idade, exclusive.

0 aos 28 dias de vida

Escherichia coli
Streptococcus tipo B
Listeria monocytogenes
4 semanas a 3 meses de idade
Chlamydia trachomatis
Streptococcus pneumoniae
Vírus respiratórios
3 meses até 2 anos de idade:

Streptococcus pneumoniae
EM PRÉ-ESCOLARES E ESCOLARES

Streptococus pneumoniae
Mycoplasma pneumoniae
Chlamydia pneumoniae

BTS Guidelines for the Management of CAP in Childhood.


Crianças maiores (acima de 5 anos)
e adolescentes

Mycoplasma pneumoniae
Chlamydia pneumoniae.
INVESTIGAÇÃO
■ Rx de Tórax incidências específicas para
cada situação a ser investigada
■ Hemograma completo
■ Proteína C Reativa
■ Gasometria Arterial
■ Hemocultura com teste
■ Coleta de escarro (demais culturais
disponíveis
.

Classicamente, as pneumonias causadas por bactérias piogênicas são de


distribuição lobar e exibem consolidação na radiografia.

Associação de infecção bacterêmica a febre alta e leucocitose significativa,


em crianças de pouca idade, favorecem uma causa bacteriana de
pneumonia
Hemograma
■ Leucocitose
■ Predomínio de neutrófilos
■ PCR positiva ou quantitativo elevado

Gasometria Arterial
Ph = 7,35 – 7,45  Acidose! Alteração Ph
pCO2 = 35 – 45 mmHg  Hipóxia! Alteração PO2
HCO3 = 22 – 26 mEq/L
 Hipercapnia! Alteração PCO2
pO2 = acima de 70 mmHg
*Valores de referência
 Oximetria de Pulso! Sat. O2
Seguimento e investigação!

■ Oximetria de pulso deve ser realizada rotineiramente


em todas crianças internadas por pneumonias(PMN).

■ Hemocultura com teste deve ser solicitada em toda a


criança com suspeita de pneumonia bacteriana na
internação hospitalar.
Diagnóstico
Demonstração de opacificações na radiografia de tórax de incidência ântero-
posterior e/ou lateral.

A presença de consolidação lobar ou derrame pleural sugere uma infecção


bacteriana, enquanto as complicações como pneumatoceles e cavidades
de abscessos são praticamente diagnósticas.
CARACTERÍSTICAS DE ALGUNS
PATÓGENOS ESPECÍFICOS:

■ Haemophilus influenzae tipo B = consolidação ,derrame pleural.


Complicações:pneumatoceles, meningite, celulite e pericardite

■ Staphylococcus aureus = mais freqüente até 3 meses de vida; coco gram + =


alta toxicidade; Complicações:pneumatoceles,derrame pleural e abscesso;
febre prolongada

■ Mycoplasma pneumoniae = tosse com caráter coqueluchóide, persistente.


Complicações: meningoencefalite, ataxia cerebelar ou Sínd Guillain Barré.
Streptococcus pneumoniae
consolidação lobar com broncograma aéreo
No tratamento da pneumonia atentar para:
■ a gravidade da doença
■ a presença ou ausência da doença crônica
subjacente
TRATAMENTO:
primeira tomada de decisão!

■ Domiciliar = preferencial
reavaliar paciente em 48hs de ATB, nutrir e
hidratar.

■ Hospitalar = menores de 2 meses de vida;


necessidade de oxigenioterapia
(Sat O2 ideal >92%) Hidratação,
antibioticoterapia e fisioterapia.
TRATAMENTO:

■ Antibioticoterapia via oral é segura e efetiva em


crianças.

■ Antibioticoterapia EV deve ser reservada para


crianças com vômitos ou sinais marcadores de
severidade.

■ Nos pacientes que estiverem recebendo tratamento


EV, a troca para ATB VO deve ser considerada logo
que ocorrerem sinais de melhora.
■ A amoxicilina administrada por via oral é a opção
de primeira linha para tratar pacientes ambulatoriais
■ A ampicilina ou penicilina G cristalina,
administrada inicialmente por via intravenosa, são as
opções de primeira linha para tratar pacientes
hospitalizados.

Pacientes que não estão totalmente


imunizados contra H. influenzae!

Administrar um fármaco beta-lactamase estável


ou uma cefalosporina de segunda geração
(cefuroxima, cefadroxil)

Mycoplasma pneumoniae e Chlamydia pneumoniae: fármaco preferível é


o Macrolídeo (azitromicina, claritromicina ou eritromicina)
Tratamento: segunda decisão!
Antibioticoterapia recomendada/posologia
Indicadores de gravidade!

Indicadores de admissão hospitalar:

■ Saturação de O2 <92%, cianose


■ FR > ou igual a 70 /min
■ Dificuldade respiratória
■ Apnéia intermitente

BTS Guidelines for the Management of CAP in Childhood.


Casos Clínicos!

Menino 6 anos, com febre
39,6C há 1 dia, tremores,
pálido, prostrado,
resp. difícil, pouca tosse.
Hmg = Leuc 22.000
14.000 neutrófilos
Hb 11,6 Hcto 36
PCR 12
Rx de tórax …

AUSCULTA?
DIAGNÓSTICO?
TRATAMENTO?
PNM BACTERIANA
■ Idade Escolar!
■ Estertores crepitantes ou bolhosos
■ Área de consolidação em terço superior hemitórax direito
(LSD)
■ Pneumococo = germe prevalente
■ Hidratação /antitérmico/ ATB

Domiciliar?
• ou

Hospitalar?

■ Amoxacilina VO ou Penicilina Cristalina EV = primeira


escolha;
■ Amoxa+Clavulanato ou Cefuroxima = segunda escolha
■ Menino 7 anos, tosse persistente,
pouco produtiva, febre 38 C, leve
tiragem intercostal
■ Hmg= Leuc 14.900 Bast. 4 Seg
47 Linf 44 Eos1 Hb 11 HCTO
34,5 PCR 0,6
■ Rx tórax AP…

■ ETIOLOGIA?
■ TRATAMENTO?
Mycoplasma pneumoniae
Macrolídeo
■ Lactente, febre 39C,
hipocorado, com dispnéia,
tosse produtiva, gemência há
24 hs e aparência toxêmica.
Traz Rx tórax AP do CEMAI
■ Crepitantes bilaterais, sem
broncoespasmo
■ Sat O2 AA 86%
■ ETIOLOGIA?
■ TRATAMENTO?
■ Padrão consolidações
bilaterais
■ Hipóxia

Staphilococcus aureus
Oxacilina ou Vancomicina
Resumo
Critérios de internação/ gravidade:

■ Hipoxemia: SatO2 < 92%, cianose


■ FR ≥ 70 rpm /Dificuldade respiratória/ Apnéia intermitente,
gemido
■ Impossibilidade de se alimentar
■ Incapacidade da família em tratar o paciente no domicílio
■ < 2 meses de idade
■ Falha da terapêutica ambulatorial
■ Doença grave concomitante
■ Sinais radiológicos de gravidade (derrame pleural,
pneumatoceles, abscesso)
COMPLICAÇÕES EM PNEUMONIAS
QUANDO PENSAR? COMO DIAGNOSTICAR ?
TRATAMENTO ESPECÍFICO?

Paciente que permanece


com febre ou
clinicamente instável após
48-72 h de ATB!
■ Os fatores associados às complicações da
PAC vêm sendo estudados há alguns anos,
com destaque para
❖ a idade e escolaridade maternas,
❖ desnutrição aguda,
❖ ausência de aleitamento materno
❖ e idade da criança.
■ A resposta clínica deve ocorrer em 48-72 h após inicio
do tratamento instituído adequadamente: a redução da
febre e da dispnéia devem ocorrer e no caso da não
resposta clínica devem ser procurados os motivos de falha!

■ São consideradas complicações da PAC:


1. Derrame pleural
2. Pneumatoceles
3. Pneumotórax
4. Abscesso pulmonar
•Pneumotórax

•Derrame pleural

•Pneumatocele

•Abscesso Pulmonar
1. PNEUMOTÓRAX
A cavidade pleural é um espaço virtual
normalmente preenchido por pequena
quantidade de líquido (60ml).

■ Não existe ar no espaço


pleural
■ Quando esse surge no
espaço pleural teremos o
pneumotórax.

• Espontâneo: *Primário x *Secundário


• Traumático
Pneumotórax Espontâneo
Primário Secundário
■ É o pneumotórax do ■ Ocorre em pessoas com alguma
adolescente e do adulto doença pulmonar que predispõe
jovem, sendo raro após os 40 ao pneumotórax, como:
anos. pneumonias, tuberculose, d.
■ Ocorre em pessoas hígidas intersticiais (infecções
sem doença pulmonar pulmonares,DPOC).
conhecida.
■ Há uma tendência maior ao
pneumotórax nas pessoas
magras e altas e ainda nos
fumantes.
DIAGNÓSTICO

• Exame clínico: inspeção, percussão e ausculta


• Rx de Tórax AP e P
• Ecografia Pulmonar
• CT de Tórax
Assimetria torácica, desvio da traquéia para o
lado contralateral, engurgitação de vasos do
pescoço.
Dor em ombro, de início súbito seguido de dispnéia = crianças
maiores.
Dificuldade respiratória, de inicio súbito, irritabilidade, taquipnéia
e taquicardia = crianças menores
O que ocorre?
“… desvio do mediastino para o lado
contralateral, ocasionando
compressão do pulmão contralateral e
distorsão de veia cava, com
diminuição do retorno venoso e do
débito cardíaco.”
RX TÓRAX
• Desvio de traquéia
• Ar no espaço pleural= sulco costofrênico profundo
• Redução ou colapso de campo pulmonar
TRATAMENTO
■ Drenagem imediata de urgência

Punção com
agulha no 2 E.I.

• Oxigênio (O2) suplementar

• ATB (adequado para a PNM em


atividade)
2. DERRAME PLEURAL

Líquido no espaço pleural

❖ Pus = INFECÇÕES
❖ Sangue = HEMOTÓRAX (traumático,lesão
vascular,PO cardíaco)
❖ Neoplásico ( células neoplásicas)
❖ Linfa = QUILOTÓRAX (lesão ducto torácico)
SINAIS E SINTOMAS
• Febre contínua
• Dor torácica e dispnéia
• Taquicardia
• Macicez à percussão
• Diminuição dos ruídos respiratórios/entrada de ar
RX TÓRAX / Exame Físico

• Opacificação ou velamento(borramento) de
sulco costofrênico
• Tiragem costal
• Macicez à percussão
• Redução de murmúrio vesicular pulmonar
• Presença de estertores sugerindo secreção
DIAGNÓSTICO
• Rx de Tórax AP, P e decúbito lateral com raios horizontais
• Ecografia: para dirigir a punção
• CT de Tórax
• Material para Microbiologia
• Líquido Pleural: Ph, aspecto, Glicose, Proteínas, LDH, Leucócitos.
O MATERIAL (líquido) obtido por punção no 5 espaço
intercostal, pode se apresentar como:

• Transudato: seroso e fino;proteína baixa;poucos leucócitos e PH


acima de 7,2; Glicose e LDH normais ou pouco alteradas.

• Exsudato: purulento e espesso;PROTEÍNAS ACIMA DE 3,0 g/dl;


leucócitos acima de 15.000 céls./mm3 e Ph inferior a 7,2; Glicose
baixa; LDH elevada (EMPIEMA)
3. PNEUMATOCELE
• Cavidade de paredes finas que se forma nos pulmões PNM
Bacteriana
• 40% nos casos de PNM Staphilococcica
• Assintomática, porém quando sofre ruptura causa pneumotórax ou
piopneumotórax
• Tende a apresentar resolução espontânea em 2 a 3 meses.
4. ABSCESSO PULMONAR

▪ PNM necrosante
▪ Anaeróbios
▪ Mais comum em pacientes com RDNPM,
convulsões e higiene oral precária
QUADRO CLÍNICO/ DIAGNÓSTICO
• Febre
• Hálito fétido
• Tosse e taquipnéia
• Rx Tórax AP e P: infiltrado focal em torno de cavidade que pode conter
nível hidroaéreo
• CT de Tórax
• Broncoscopia pode obter amostra direta do local

• TRATAMENTO: ATB adequado


CONSIDERAÇÕES FINAIS!

■ Ecografia Pulmonar: complicações como derrame pleural,...

■ Tomografia Computadorizada do Tórax: justifica o seu uso


apenas se houver suspeita de complicações, como adenopatia,
empiema, abscesso ou cavitação.

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