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PROPÓSITO
Compreender a importância e correta identificação dos agentes etiológicos responsáveis pelas
principais infecções sistêmicas, do trato gastrointestinal, do sistema nervoso central e as
infecções sexualmente transmissíveis, a fim de fornecer um melhor prognóstico e tratamento
para o paciente.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
INTRODUÇÃO
As bactérias podem causar infecções em diferentes sítios no hospedeiro, como infecções
sistêmicas, gastrointestinais, no trato respiratório superior e inferior, infecções urinárias,
sistema nervoso, na pele, dentre outros. Ao longo dessa jornada, vamos conhecer as infecções
sistêmicas, as gastrointestinais e as que afetam o sistema nervoso central. E qual a
importância dessas infecções?
As infecções sistêmicas são uma das complicações mais preocupantes durante uma infecção
bacteriana, a presença de bactéria no sangue aumenta significativamente as taxas de óbitos.
As infecções gastrointestinais (diarreia) causadas por bactérias, apesar de acometer todas as
idades, são um problema maior para crianças menores de 5 anos, onde é estimado uma
ocorrência de um bilhão de casos no mundo e cerca de 5 milhões de óbitos. No Sistema
Nervoso Central, as infecções, conhecidas como meningite, podem trazer danos irreversíveis
para o paciente se não for diagnosticada e tratada rapidamente. Por fim, vamos falar das ISTs
bacterianas mais importantes, que ainda acometem muitos pacientes.
Como sabemos, essas infecções podem ser causadas por uma variabilidade de bactérias. Para
conhecer a espécie bacteriana, é necessário um diagnóstico laboratorial que empregue um
conjunto de técnicas e procedimentos para a correta e rápida identificação do agente causador
da doença, bem como a melhor opção de tratamento e sua epidemiologia. O diagnóstico de
uma infecção se inicia na suspeita e coleta da amostra e continua no laboratório, com as
técnicas de culturas, provas bioquímicas e colorações.
Como é possível perceber, o seu papel no diagnóstico laboratorial é crucial, pois envolve a vida
dos pacientes. Esteja sempre atento aos procedimentos corretos, às normas de biossegurança
e consulte outro profissional sempre que tiver dúvidas. Agora, vamos nos aprofundar um pouco
mais sobre esse assunto.
MÓDULO 1
INTRODUÇÃO
As doenças infecciosas são quase tão diversas quanto os microrganismos capazes de causá-
las. Infecções sistêmicas são desencadeadas pela presença da bactéria na corrente sanguínea
(bacteremia) podendo ser de forma transitória, intermitente, contínua ou de escape de acordo
com o tempo que o microrganismo fica na corrente sanguínea. Os casos mais graves de
bacteremia envolvem uma resposta imunológica sistêmica grave chamada de sepse, podendo
causar a falência múltipla de órgão e consequente a morte do paciente, condição conhecida
como choque séptico.
COLETA DE SANGUE
O primeiro passo para a solicitação de uma hemocultura é a identificação de quais pacientes
necessitam deste exame. O médico deve solicitar o exame toda vez que existir suspeita de
sepse, o que vai incluir um quadro caracterizado por febre alta (>38°C) e calafrios. No entanto,
em alguns casos, os pacientes podem apresentar temperatura baixa (<36°C), junto com um ou
mais dos seguintes sintomas: diminuição da pressão arterial, aumento da frequência cardíaca,
número muito alto ou muito baixo de glóbulos brancos no sangue.
Alguns fatores de risco devem ser considerados na escolha do exame: idade avançada, recém-
nascidos, sistema imunológico debilitado, tempo de hospitalização, procedimentos invasivos,
tais como uso de cateter, infusões, agulhas, entre outros, suspeita de endocardite (infecção do
tecido interno do coração), doenças crônicas como diabetes e cirrose, além de pacientes com
câncer ou AIDS.
A coleta de sangue pode ser realizada através de punção venosa, utilizando agulha e seringa,
ou pelos métodos a vácuos (os mais recomendados). No momento da coleta, devemos sempre
respeitar: os procedimentos de descontaminação do local da coleta para que não ocorra
contaminação do material; os procedimentos de biossegurança e o uso correto de EPI
(Equipamentos de proteção individual) para evitar possíveis problemas.
RECOMENDAÇÃO
A antissepsia é fundamental para que não ocorra contaminação da amostra, e pode ser
realizada utilizando soluções de clorexidina alcoólica (0,5%), tintura de iodo (1-2%), PVPI
(10%), álcool isopropanol 92% ou álcool 70%. Deve-se preparar o material para coleta com a
devida identificação dos frascos (nome do paciente, data e hora da coleta, via de coleta, sítio
de coleta e tomar cuidado para não cobrir o código de barras do frasco de hemocultura),
realizar a assepsia da tampa do frasco e, lembre-se, não apalpar o local após a antissepsia.
É recomendado evitar coleta do cateter (alto risco de contaminação), punção venosa é a mais
recomendada. O cateter somente é coletado quando existe suspeita de infecção sanguínea
pelo uso dele. A coleta, sempre que possível, deve ser realizada antes da antibioticoterapia
(para não ocorrer morte bacteriana antes da sua detecção), antes do pico febril (pois, a febre é
uma resposta do sistema imunológico contra a infecção) e, se houver outro foco infeccioso,
fazer uma coleta deste também. Caso o paciente já esteja tomando antibióticos, a coleta deve
ser feita antes da administração da próxima dose.
RECOMENDAÇÃO
O primeiro frasco é utilizado para procura de bactérias anaeróbicas e outro para cultura de
bactérias aeróbicas, após a coleta deve-se homogeneizar o meio. Cada frasco possui meios de
cultura que vão favorecer o crescimento de cada tipo de bactéria. Quando existe suspeita de
infecção por dispositivos intravenosos, como o cateter, pode-se coletar a ponta do cateter e
mandar para análises microbiológicas também. Para isso, deve-se cortar o segmento que
estava inserido no paciente com tesoura estéril e colocar em frasco estéril, mandar para o
laboratório. Após a coleta, o material deve ser levado imediatamente para o laboratório em
temperatura ambiente.
ATENÇÃO
BIOFILME
Os meios de culturas podem ser comerciais ou não, devendo sempre se respeitar as condições
de armazenamento, biossegurança e preparo para se garantir um resultado confiável.
Microrganismos apresentam exigências nutricionais diversas e, como não se sabe o agente
causador da infecção, é necessário utilizar meios ricos em nutrientes que permitirão o
crescimento da maioria dos microrganismos. Entre eles, temos os caldos (meios líquidos),
como o caldo BHI (Brain Heat Infusion), caldo TSB (Trypticase Soy Broth), Caldo Columbia,
todos meios ricos em nutrientes que permitem o crescimento da maioria dos microrganismos.
Geralmente, os frascos para coleta de sangue para aeróbicos conterão caldo BHI ou Caldo
TSB; e os frascos para anaeróbicos, o Caldo Columbia. Ambos terão um anticoagulante,
geralmente, o SPS.
Os meios sólidos pela presença de Ágar, incluem o Ágar Chocolate (com sangue hemolisado,
para microrganismos fastidiosos), Ágar Sangue (com sangue de cavalo ou carneiro), Ágar
MacConkey ou Ágar EMB (seletivo para bactérias gram-negativas e diferencial pela
fermentação da lactose). Existem diferentes meios de culturas para isolamento e identificação
bacteriana, sua escolha dependerá do meio padronizado pelo laboratório de microbiologia.
HEMOCULTURA
Após a coleta, os frascos são enviados ao laboratório de microbiologia e incubados a 35-37°C
em estufa. Existem diferentes formas de processamento das hemoculturas e a escolha
dependerá de cada laboratório, bem como a demanda de solicitação. Podemos ter
hemoculturas manuais, semiautomatizadas e automatizadas.
HEMOCULTURA MANUAL
Na hemocultura manual, os frascos coletados são incubados por 7 dias por 35-37°C com 3
subcultivos dos frascos. Sempre observar a aparência da hemocultura no frasco a fim de se
detectar turbidez, produção de gás, bolhas, grumos etc, pois são indicativos de crescimento
bacteriano no frasco. Após 24 horas de incubação, é realizada a primeira semeadura nos
meios Ágar chocolate, Ágar Sangue e Ágar McConkey ou Ágar EMB pela técnica de
esgotamento. Os frascos e os meios de cultura são incubados por 24 horas à 35-37°C, ou
seja, é realizado o subcultivo do frasco em meios de cultura sólidos. Se, após 24 horas, for
observado crescimento bacteriano nos meios, através da formação de colônias, segue-se para
a identificação (provas bioquímicas e coloração de Gram) e o antibiograma. Se for negativo,
um outro subcultivo deve ser realizado semeando a amostra no meio de cultura e incubando
por mais 24 horas a 35-37°C (aqui já temos 48 horas desde a coleta). Se no segundo
subcultivo tiver crescimento microbiano, seguimos para a identificação e antibiograma. Se der
negativo, ele segue para um terceiro subcultivo nos meios de cultura e incubação novamente
por mais tempo a 35-37°C.
SUBCULTIVOS
Os subcultivos consistem em semear a amostra dos frascos de coleta nos meios de cultura
para observar se há crescimento bacteriano.
TÉCNICA DE ESGOTAMENTO
Técnica de semeadura em meio de cultura sólido para se obter colônias isoladas. Com uma
alça estéril, passar na amostra e realizar estrias sobre o meio de cultura de modo que uma
estria não encoste na anterior.
COLÔNIAS
Aglomerado de bactérias visível em um meio de cultura sólido, obtido por uma única célula
bacteriana.
ANTIBIOGRAMA
Teste para saber qual melhor opção de tratamento para determinada bactéria.
ATENÇÃO
HEMOCULTURA AUTOMATIZADA
Nos sistemas automatizados, o frasco vai para o aparelho que é capaz de detectar o
crescimento mínimo de microrganismos no frasco. Quando o crescimento é detectado, o
aparelho emite um sinal e assim é realizada a semeadura nos meios de cultura Ágar
Chocolate, Ágar Sangue e Ágar McConckey ou Ágar EMB, seguindo para identificação e
antibiograma.
Quando há suspeita de infecção por uso de cateter, a cultura é feita em paralelo à hemocultura,
onde, com auxílio de uma pinça estéril, o segmento do cateter é rolado sobre a superfície do
Ágar Sangue e incubado por 24 horas a 35-37°C, logo após é visualizado o crescimento
microbiano. Recomenda-se deixar o meio de cultura incubado por mais 48 ou 72 horas caso
não haja crescimento.
HEMOCULTURA AUTOMATIZADA
Os principais focos de infecções secundárias são o trato geniturinário, trato respiratório, trato
intestinal, pele e abscessos. Na maioria das vezes, as bacteremias são causadas por uma
única bactéria, infecções ditas polimicrobianas (mais de uma bactéria) são raras.
Microrganismos com valores preditivos positivos variáveis, ou seja, diferentes chances de ser
uma bacteremia verdadeira, incluem Streptptococcus viridans (38%), Enterococcus spp. (78%)
e Staphylococcus coagulase negativa (15%). Enquanto a presença de Corynebacterium spp.,
Micrococcus spp., Bacillus spp., e Propionibacterium acnes são constantemente associadas à
contaminação, com apenas 5% de chance de ser uma bacteremia verdadeira.
EXEMPLO
Um paciente com infecção urinária confirmada para a bactéria E. coli realizou 2 coletas de
hemocultura em braços diferentes, utilizando 2 frascos, um para cada coleta. Após o
procedimento de incubação e cultura, é identificado em 1 frasco a bactéria Staphylococcus
coagulase negativa. Imediatamente, devemos pensar em contaminação no momento da coleta,
pois houve crescimento em apenas 1 frasco de uma bactéria comum da pele, no exemplo
Staphylococcus coagulase negativa, indicando que a assepsia foi realizada de maneira errada.
De forma diferente, quando ocorre uma bacteremia verdadeira ou uma endocardite, na maioria
dos frascos, após incubação e cultivo, apresentam positividade para a mesma bactéria.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
Identificar as principais bactérias associadas a infecções do trato gastrointestinal
(coprocultura)
INTRODUÇÃO
Podemos definir a diarreia como um quadro de fezes aquosas com mais de duas evacuações
ou fora do que é habitual do indivíduo. As diarreias são comuns, principalmente, em países em
desenvolvimentos, podendo ser 2 a 3 vezes mais frequentes, estando ligada ao quadro
socioeconômico e de saneamento básico.
Podemos classificar as diarreias em: diarreia aguda (<14 dias), diarreia persistente (>14
dias) e diarreia crônica (>30 dias), sendo a aguda a mais comum. Apesar de todas as idades
serem cometidas por este quadro, existe uma prevalência em crianças menores de 5 anos e
gestantes. A maioria dos quadros de diarreia são autolimitantes, alguns podem evoluir para
casos mais graves e requerem atenção médica e exames adicionais para o seu diagnóstico e
tratamento.
As diarreias infecciosas possuem uma gama de agentes causadores, entre elas, vírus,
protozoários, helmintos e bactérias, as mais graves, geralmente, são causadas por bactérias. A
diarreia de origem bacteriana pode gerar um quadro grave de desidratação, problemas
neurológicos, insuficiência renal e até a morte se não for tratada.
Agora, vamos observar como essas infeções ocorrem e como proceder para o seu diagnóstico.
SÍNDROME DISENTERIFORME E
COLERIFORME
De acordo com os sintomas, podemos dividir a diarreia causada por bactérias em dois quadros
clínicos, chamados de síndrome disenteriforme e coleriforme. Essas síndromes ocorrerão de
acordo com o tipo de patógeno ou toxinas acometidas.
SÍNDROME DISENTERIFORME
É caracterizada por uma diarreia do tipo inflamatória, com visível sangue nas fezes, dor
abdominal, perda de peso, podendo gerar febre (com exceção da E. coli enterohemorragica). O
sangue nas fezes é proveniente de citotoxinas ou bactérias enteroinvasivas que destroem ou
invadem o trato gastrointestinal.
SÍNDROME COLERIFORME
Tem como característica uma diarreia aquosa aguda, com três ou mais fezes líquidas ou
semilíquidas por dia dentro de um intervalo de até 14 dias (a maioria dura menos de 7 dias),
não apresentam sangue visível, podendo apresentar vômito, náuseas, febre e falta de apetite.
Suas consequências são desidratação grave. São processos característicos de bactérias que
produzem enterotoxinas (toxinas que agem sobre o intestino).
Causam diarreia aquosa pela troca iônica e interação com as funções dos enterócitos (células
epiteliais do intestino grosso e delgado).
PATÓGENOS PRODUTORES DE CITOTOXINAS
PATÓGENOS QUE INVADEM A MUCOSA INTESTINAL E
SE ADEREM A ESTA:
As principais formas de transmissão destes patógenos é pela via oral, de animais para
pessoas, de pessoa-pessoa ou pela ingestão de alimentos contaminados. Alguns indícios
(fatores de riscos) podem estar associados, como membros da família ou pessoas próximas
com diarreia, viagem recente, atendimento médico frequente, fontes de abastecimento de
água, dieta (contaminação de alimentos, bem comum) e uso anterior de antimicrobiano.
PATOGENIA
COPROCULTURA
Na copropocultura, estamos falando de pesquisa de bactérias nas fezes, mas não é qualquer
bactéria, afinal, sabemos que as fezes contêm uma grande quantidade destes microrganismos
(incluindo a E. coli).
RESPOSTA
Sabemos que algumas bactérias não fazem parte da microbiota intestinal e sua detecção pode
sinalizar um quadro infeccioso, enquanto outros fazem parte da microbiota intestinal e podem
causar infecção quando ocorre um descontrole no seu crescimento, como, por exemplo, pelo
uso de antimicrobianos, que podem levar à morte de algumas bactérias da microbiota. O
descontrole da microbiota intestinal é chamado de disbiose e pode favorecer o crescimento de
algumas espécies, é o que acontece com infecções por C. difficile, em que a intensa
proliferação dessa bactéria acaba produzindo uma grande quantidade de toxinas que leva ao
quadro diarreico.
COLETA DE FEZES PARA A COPROCULTURA
A coleta é feita utilizando um coletor de fezes universal estéril, evitando contato da amostra
com urina ou água do vaso sanitário. A coleta deve ser feita, preferencialmente, antes do uso
de antibióticos, sem a necessidade de encher o pote de coleta, deve-se tomar cuidado para
não vazar material.
RECOMENDAÇÃO
O pote coletor deve ser encaminhado para o laboratório dentro de uma hora, se não for
possível, deixar refrigerado por até 6 horas. Existem alguns meios de cultura de transporte que
possuem conservantes, dando tempo de análise de 24 a 48 horas. Na análise, deve-se dar
prioridade a porções contendo muco, sangue ou pus, quando presentes, pois neles estão
grande quantidade do patógeno causador. Não deverá ser aceita amostras provenientes de
fraudas, com urina ou qualquer outro líquido e após 3 dias de quadro infeccioso.
A escolha dos meios de cultura utilizados para pesquisa de bactérias depende da suspeita
clínica e incluem Ágar McConkey e Ágar EMB para pesquisa de Enterobactérias Gram-
negativas, Ágar SS (Salmonella Shigella), Ágar HE (Entérico de Hektoen) e Ágar XLD
(Desoxicolato-Lisina-Xilose) para detecção de Salmonela spp. e Shigella spp., Ágar Campy
para detecção de Campylobacter spp., Ágar CIN (Novobiocina-Irgasan-Cefsulodina) para
detecção de Yersinia spp., Ágar RCBS (Tiossulfato, Citrato, Bílis e Sacarose) para detecção de
Vibrio spp. Além dos meios de cultura sólidos, a amostra também é semeada em um meio
enriquecido e seletivo para patógenos entéricos, como caldo Selenito, Caldo Tetrationato, caldo
Campy-tioglicolato (para Campylobacter spp.) e caldo GN (para Shigella e Salmonella).
Como é possível perceber, utilizamos meios de cultura que favorecem o crescimento dos
principais patógenos associados a essas infecções e que inibem ou diminuem o crescimento
de bactérias provenientes da microbiota.
Em caso de amostra líquida ou swab, deve ser semeado direto nos meios de cultura. Em caso
de fezes sólidas, deve-se diluir a amostra em solução salina 10% tamponada. Após semear as
amostras nos meios de cultura selecionados, elas são incubadas a 35-37°C por 18 a 24 horas.
Caso exista crescimento no meio de cultura, a amostra segue para a identificação e
antibiograma. Caso não haja crescimento, uma nova amostra é semeada do caldo de
enriquecimento e incubada novamente por 35-37°C por 18 a 24 horas. Após esse período, em
caso positivo (observado o crescimento), segue-se para a identificação e, em caso negativo, o
resultado é liberado como negativo.
DIAGNÓSTICO BIOQUÍMICO
Devido à grande diversidade de microrganismos encontrados na coprocultura, faz-se
necessária a realização de provas bioquímicas para confirmação se o crescimento microbiano
visualizado é, de fato, um enteropatógeno. Assim, as provas bioquímicas são grandes aliadas
para a identificação de patógenos nestas infecções e se baseiam na capacidade de as
bactérias utilizarem determinados substratos para seu crescimento, ou seja, através do seu
metabolismo é possível identificar gêneros ou espécies bacterianas e seu real papel na
patogênese das infecções gastrointestinais.
Entre as principais provas bioquímicas, podemos destacar:
TESTE DE OXIDASE
FERMENTAÇÃO DE AÇÚCARES
Esse teste é utilizado para saber qual é o metabolismo bacteriano para obtenção de energia:
via oxidativa (aeróbica) ou via fermentativa (anaeróbica). Para isso, podem ser utilizadas
diferentes fontes de açúcares, como a glicose, a sacarose e a lactose. Bactérias que realizam a
fermentação obtêm menos energia e produzem um ácido como produto do seu metabolismo,
com possível formação de gás.
Bactérias não-fermentadoras crescerão no meio de cultura, mas não produzem ácido no final
e, portanto, não alteram o pH do meio. Bactérias fermentadoras crescerão no meio e
produzirão ácido, mudam o pH e alteram a coloração do meio. O meio mais utilizado é o Ágar
TSI. A cor original do meio é vermelha, se o meio possui crescimento sem alteração da cor
indica que a bactéria é não-fermentadora.
Quando temos a acidificação do meio, este fica amarelado, indicando uma alteração de pH
pela produção de ácido e que a bactéria apresenta um metabolismo fermentativo. Também é
possível ver a produção de gás e H2S neste meio. A E. coli fermentam a glicose, sacarose e
Esse teste detecta a capacidade da bactéria em liberar o enxofre, por ação enzimática, de
determinados aminoácidos. Ao realizar esta reação, ocorre a produção de gás sulfídrico ou
sulfeto de hidrogênio que reage com íons de ferro ou chumbo contidos no meio, formando um
precipitado negro e resultando em positividade para o isolado em questão. Podem ser
utilizados para o teste o Ágar TSI (Triplo Açúcar de Ferro), meio SIM (Sulfato de hidrogênio,
Indol e Motilidade), meio AIL (Instituto Adolfo Lutz). Grupo bacteriano mais importante em
infecções gastrointestinais positivo para este teste inclui a Salmonella spp. e C. difficile.
Ágar TSI do lado esquerdo, negativo para o teste. Ágar TSI lado direito (negro), positivo
para o teste.
MOTILIDADE
Este teste não é uma prova bioquímica propriamente dita, mas, sim, fisiológica. Testa a
capacidade da bactéria em se mover em meio semissólido devido à presença de flagelos. Os
meios mais utilizados para isso incluem o meio SIM, meio MILI (Motilidade, Indol e Lisina).
Apresentam motilidade no meio: E. coli, Salmonella spp., Compylobacter spp., Vibrio spp.
Mobilidade bacteriana em meio SIM.
PRODUÇÃO DE INDOL
DEGRADAÇÃO DA UREIA
A degradação da ureia ocorre pela ação da enzima urease, bactérias que possuem esta
enzima têm a capacidade de degradar a ureia em amônia e CO2. Os meios utilizados para este
teste incluem ureia e um indicador de pH. Conforme a ureia é quebrada, o meio torna-se mais
alcalino e muda de cor para rosa, mostrando positividade do teste.
Degradação da ureia.
Prova VM.
UTILIZAÇÃO DE CITRATO
A prova detecta a capacidade de algumas bactérias em utilizar o citrato como única fonte de
carbono. O meio comumente utilizado para este teste é o Citrato de Simmons, um meio sólido
contendo citrato que tem como indicador de pH, o azul de bromotimol. A entrada do citrato na
bactéria e sua degradação pela citratase resulta em oxaloacetato e acetato, alcalinizando o
meio. O meio é originalmente verde e, ao ser alcalinizado, muda de cor para o azul. B. cereus,
indicando ser positivo.
Citrato de Simmons.
DESCARBOXILAÇÃO DE AMINOÁCIDOS
utilizados neste teste são a lisina, arginina e ornitina (LAO). São preparados um tubo para cada
aminoácido e um tubo controle, sem aminoácidos. Assim as diferentes bactérias podem ter
lisina-descarboxilase, arginina-descarboxilase e/ou ornitina-descarboxilase. A atividade de
cada uma dessas enzimas será detectada no meio pela alteração de pH e da coloração e
comparado com o grupo controle (sem aminoácidos). O meio mais utilizado é o de Moller, que
apresenta uma cor violeta quando positivo. E. coli são lisina positiva e variável para arginina e
ornitina.
Descarboxilação da lisina. Tubo 1: Cor original do tubo com aminoácido. Tubo 2: Tubo
controle, sem aminoácido. Tubo 3: Tubo positivo para descarboxilação da lisina.
ATENÇÃO
SOROTIPAGEM
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
Reconhecer os principais procedimentos para o diagnóstico de meningite e das ISTs
INTRODUÇÃO
Apesar do surgimento dos antimicrobianos e de métodos de prevenção, as infecções do
Sistema Nervoso Central (SNC) e as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) continuam
sendo um risco para muitas pessoas. A detecção dessas doenças tem aumentado de maneira
cada vez mais agressiva devido à reemergência da resistência ao tratamento. As infecções do
SNC podem apresentar consequências drásticas, pois deixam sequelas, afinal, os neurônios
são células que não se regeneram após uma lesão.
As ISTs são todas as infecções transmitidas por contato sexual (oral, vaginal ou anal), mas não
só, existem casos de transmissão da mãe para a criança por via transplacentária, durante o
parto ou amamentação, além de casos de infecções por contato com lesão ou feridas sobre a
pele ou mucosa. Uma ampla gama de patógenos podem estar associados a estas infecções.
Agora, vamos olhar algumas das principais e mais problemáticas bactérias que apresentam
uma elevada preocupação nestas infecções.
LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO
Também conhecido como líquor, é um fluido corporal estéril presente entre as membranas
aracnoide e pia-máter.
As meninges revestem todo esse sistema e são compostas por 3 membranas. Após o crânio
(tecido ósseo), temos a primeira membrana a dura-máter, no meio temos a aracnoide e em
contato com o encéfalo temos a pia-máter. Esse conjunto de membrana formam as meninges
que ajudam a proteger este sistema.
A coleta do líquor é realizada por punção lombar e segue para análises bioquímicas,
microbiológicas e citológicas no laboratório. Na análise microbiológica, o tubo é centrifugado e
o sedimento utilizado para as análises. Inicialmente, realiza-se uma coloração de Gram e Ziehl
e meios de cultura de enriquecimentos são utilizados para o crescimento, como Ágar Sangue e
Ágar chocolate. Para suspeita de micobactérias, devemos realizar o cultivo nos meios Ogawa-
Kudoh ou Lowentein Jesen. Para anaeróbicos, utilizar o caldo Tioglicolato, com as devidas
condições de anaerobiose.
Coleta do líquor.
Os agentes etiológicos mais comuns nas causas da meningite bacteriana podem variar de
acordo com a idade do paciente:
STREPTOCOCCUS GRUPO B
Existem mais de 30 agentes etiológicos de ISTs que incluem bactérias, vírus e parasitas.
Dentre as diversas ISTs, as mais comuns incluem as causadas por clamídias e a gonorreia,
ambas causadas por bactérias. Podendo ocorrer a coinfecção. Isso acontece, pois estas ISTs
possuem os mesmos fatores de risco, que incluem sexo com vários parceiros e o não uso de
preservativos, e a presença de uma doença parece favorecer uma segunda infecção pela
outra.
Como é possível perceber, os sinais e sintomas destas ISTs são similares, sendo necessário
um diagnóstico para sua correta identificação. A coleta para o diagnóstico de ambas as ISTs
ocorrem de modo similar. Pode se utilizar secreção uretral, secreção endocervical, esperma,
secreção ocular para conjuntivite em recém-nascido, secreção anal para infecção anal, a urina
pode ser utilizada quando a secreção uretral estiver escassa.
RECOMENDAÇÃO
C. trachomatis é uma bactéria de difícil cultivo devido ao fato de viver dentro das células do
hospedeiro. Desse modo, para este patógeno, é recomendado o uso de testes imunológicos ou
testes moleculares, sendo os testes moleculares ainda mais capazes de detectar a bactéria do
que os imunológicos. Métodos de coloração direta não são possíveis devido ao pequeno
tamanho da bactéria e sua vida intracelular.
A cultura de Chlamydia em laboratório é algo dispendioso e requer muitos cuidados. Pelo fato
de ser uma bactéria intracelular, o cultivo de uma célula eucarionte é necessário para que elas
consigam crescer. Assim, é realizada a cultura de células das linhagens McCoy, HeLa 229 ou
BHK, em que a amostra coletada é inoculada sobre a superfície destas células. Após 3 dias de
incubação, é realizada a coloração por iodo ou Giemsa, buscando as alterações celulares
causadas pela presença da Chlamydia, como a presença de corpúsculos de inclusão
citoplasmáticos (vacúolos citoplasmáticos). Por esse motivo, os testes moleculares se tornam
úteis para o diagnóstico na maioria dos laboratórios, tendo boa sensibilidade e especificidade.
CÉLULAS MCCOY
CÉLULAS BHK
morfologia), prova da catalase (resultado positivo pela formação de bolhas), prova da oxidase
(oxidase positiva) e fermentação de açúcares (fermenta a glicose). Sendo então confirmado o
diagnóstico para N. gonorrhoeae.
PROVA DA CATALASE
ATENÇÃO
As uretrites podem ter diferentes causas, sendo a mais comum as ISTs causadas pela N.
gonorrheae. Aquelas que não são causadas por este agente etiológico são ditas não
gonocócicas. A uretrite não gonocócica mais comum é a causada pela C. trachomatis já
comentada aqui, enquanto outros microrganismos menos frequentes podem causar este
quadro infeccioso incluem Ureoplasma ureatylium, Trichomonas vaginalis, Mycoplasma
homins, Staphylococcus aureus, Candida albicans (fungo), Gardnerella vaginalis. Para
exclusão de diagnóstico por estes agentes etiológicos, pode-se usar a semeadura em meios de
cultura como Ágar Sangue e Ágar MacConkey e coloração de Gram.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observamos as principais bactérias associadas a infecções sistêmicas e suas possíveis
consequências, os principais patógenos associados a casos de diarreia no Brasil e no mundo,
a problemática das infecções do SNC e os sinais clínicos similares de algumas ISTs
prevalentes e sua importância no diagnóstico por cultura, tanto para epidemiologia, quanto para
determinação da melhor opção de tratamento pelo antibiograma. A cultura bacteriana continua
a ser usada por muitos laboratórios e com algumas particularidades, dependendo do local de
diagnóstico.
PODCAST
REFERÊNCIAS
ANVISA. Detecção e Identificação de Bactérias de Importância Médica. Módulo V. 2004.
MENEZES e SILVA. Coprocultura, parte 1 Salmonella e Shigella. 86. ed. NewsLab, 2008.
MENEZES e SILVA. Coprocultura, parte 2 outros enteropatógenos. 86. ed. NewsLab, 2008.
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CONTEUDISTA
Ivson Cassiano de Oliveira Santos
CURRÍCULO LATTES