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INFECTOLOGIA

Gustavo de Araujo Pinto

gustavo_ap@rocketmail.com
Infectologia
Área do conhecimento médico que estuda
as enfermidades causadas por microrganismos,
sejam eles bactérias, vírus, protozoários,
fungos, helmintos, assim como animais
peçonhentos e prions.
O infectologista atua na prevenção 1ária
(imunização, educação em saúde etc)
tratamento e prevenção 2ária (prevenção da
incapacidade causada por estas doenças)
Trata-se de uma especialidade que interage
com os diversos ramos de atividade médica
(cirurgia, ortopedia, pediatria etc)
Áreas da Infectologia
• DST
• Infectologia Pediátrica
• Controle de Infecção Hospitalar
• Medicina Tropical
• Imunizações
• Medicina do Viajante
• etc
As Epidemias na História

Wikimedia Commons
As Principais Epidemias

• Peste – bactéria – pulga de ratos – 200M


• Hanseníase – bactéria – interpessoal
• Malária – protozoário - mosquito Miasmas como etiologia
• Varíola – vírus – interpessoal – 56M
• Cólera – bactéria – água e alimentos – 1M
• Febre amarela – vírus – mosquito - 150K

E. Jenner, variolização – DEA Picture Library Paramentação para tratar peste – Getty Images
As Condições Adequadas para as Epidemias

• Falta de conhecimento da etiologia, via de


transmissão e tratamento
• Condições insalubres
• Proximidade com animais
• Aglomerados populacionais
• Oportunismos políticos e religiosos

La danse macabre
No Brasil não foi diferente…

• PESTE – bactéria – pulga do rato Oswaldo Cruz


• FEBRE AMARELA – vírus - mosquitos 1872-1917
• VARÍOLA – vírus - interpessoal
• CÓLERA – bactéria – água e alimentos

Emílio Ribas Adolfo Lutz Vital Brazil Carlos Chagas


1862-1925 1855-1940 1865 - 1950 1878 - 1934
As Epidemias em Tempos Modernos

• Influenza – pandemia (1918/19, 57/58, 68/69, 2009)


• Doença Meningocócica – São Paulo
• Ebola – África, com risco pandêmico
• HIV/AIDS – pandemia
• COVID-19 - pandemia

 Aglomerados populacionais
 Proximidade com animais Gripe Espanhola
Nacional Museum of Health and Medicine
 Preconceitos
 Hipocrisias
 Falsos tratamentos
 Promessas vazias
 Oportunismos
 Mobilidade populacional

New York Historical Society


SIV -> HIV como Modelo

incubator.rockefeller.edu
Dx em Infectologia
Os exames laboratoriais são
recursos fundamentais para
complementar o raciocínio clínico,
levando ao esclarecimento
diagnóstico.
O conhecimento atualizado e a
prática médica alavancam o
raciocínio clínico, enquanto o
intercâmbio clínico-laboratorial o
aperfeiçoa.
1º passo: identificação da amostra
• Data e hora da coleta

• Tipo de amostra

• Nome completo do paciente, número de


registro, procedência e idade

• Exames solicitados

• Dados clínicos
Princípios básicos:
• Procurar coletar amostras antes de iniciar
o uso de antimicrobianos
• Usar técnicas assépticas
• Procurar processar as amostras o mais
brevemente possível
• Notificar ao laboratório a necessidade de
testes especiais diante de suspeitas
clínicas não-usuais
• Considerar todas as amostras como de
alta contagiosidade
O diagnóstico microbiológico
requer sinais e sintomas
clínicos da doença, associados
à identificação do agente
etiológico
Métodos de identificação dos
agentes etiológicos:
• Visualização do agente etiológico a partir de
material corado, obtido do local da infecção
(escarro, LCR, biópsia de linfonodo etc)
• Cultura de material obtido do local da infecção
ou sangue
• Detecção de ácidos nucleicos ou antígenos
(PCR, látex etc)
• Detecção de resposta imune (anticorpos)
contra o agente em investigação (testes
sorológicos)
Colorações - GRAM
• É utilizado para visualizar bactérias em material
obtido do local da infecção (líquor, escarro,
secreção purulenta etc)
• Trata-se de um método de baixo custo, que
permite indicar a característica morfotintorial do
microrganismo, sugerindo as prováveis
bactérias envolvidas no caso.
• As bactérias são classificadas em gram-
negativas e gram-positivas
ESTRUTURA DA BACTÉRIA
Staphylococcus aureus

Streptococcus pyogenes
Neisseria meningitidis
Colorações
Ziehl-Neelsen
• Pesquisa a presença de bacilos álcool-
ácido resistentes (BAAR)
• É especialmente útil na identificação do
Mycobacterium tuberculosis
Outras colorações
• Giemsa
• Nitrato de prata
• Hematoxilina férrica
• Tinta da china
Culturas
• Semeia-se material obtido do local da infecção
em meio próprio de cultura. Após alguns dias
ocorre o crescimento do agente etiológico. O
mesmo será identificado e sua sensibilidade
antibiótica será testada (antibiograma)
• Este método é muito utilizado na identificação
de bactérias aeróbias e fungos. Seu uso é
limitado para a identificação de bactérias
anaeróbias e vírus
Detecção de antígenos
• Imunofluorescência
• Aglutinação pelo latex (Streptococcus
pneumoniae, Haemophilus influenzae,
Neisseria meningitidis, Cryptococcus
neoformans etc)
• etc
Detecção de ácidos nucleicos
(métodos moleculares)

• Reação em Cadeia da Polimerase: É o


protótipo. Identifica se na amostra existe
determinado seguimento gênico do
microrganismo que está sendo
pesquisado
Detecção de anticorpos
(sorologias)
• Imunoensaio enzimático (Elisa)
• Imunofluorescência indireta
• Radioimunoensaio
• etc
Exames inespecíficos que auxiliam
no diagnóstico
• Hemograma: infecções bacterianas ↑
PMN (bastões e segmentados). Infecções
virais ↑ linfócitos, eventualmente com
linfócitos atípicos. Na imunodeficiência
ocorre ↓ de leucócitos
• Plaquetas: Pode ↑ nas infecções
bacterianas
• Exames de imagem: RX, US, TC, RNM
• Outros exames inespecíficos poderão ser
úteis em situações especiais
Caso clínico 1:
Fem, 23 anos é trazida ao hospital devido a
cefaléia intensa e febre. Tal quadro
começou há 24 horas. Ao exame físico:
prostada, rigidez de nuca.
Qual a hipótese diagnóstica e os exames
que deverão ser solicitados?
Caso clínico 2:
Masculino, 34 anos, há 3 dias com intensa
mialgia e febre. Relata que trabalha em uma
oficina onde existem muitos ratos. Além
disto, há 10 dias fez retirada de lixo do local.
Qual a hipótese diagnóstica e os exames
que deverão ser solicitados?
Caso 3:
Fem., 21 anos, há 7 dias com febre,
poliadenomegalia e rash cutâneo.
Relata relação sexual com parceiro
desconhecido sem preservativo há cerca de
2 meses.
Qual a hipótese diagnóstica e os exames
que deverão ser solicitados?
Doenças Emergentes e
Remergentes

Monkeypox
Varíola Símia
MPXV
Diagnóstico: PCR para identificação do
material genético viral
Imunização de Adultos
IMUNIZAÇÃO - Histórico

• Variolização: primeira imunidade induzida


artificialmente. Inoculação de fluídos de lesões de
varíola em indivíduos susceptíveis
• Imunização - 1796 (Jenner): inoculação do conteúdo
de lesões de varíola bovina (Vaccinia virus) induzindo
imunidade contra varíola

Kroger AT. Immunization in Mandell. Principles and practices of infectious diseases, 2014
PORTO, A. e PONTE, C. F.: ”Vacinas e campanhas: imagens de uma história a ser contada”, Histórias, Ciências, Saúde -
Manguinhos, vol. 10: 725-42, 2003. ’
PORTO, A. e PONTE, C. F.: ‘”Vacinas e campanhas: imagens de uma história a ser contada”, Histórias,
Ciências, Saúde - Manguinhos, vol. 10: 725-42, 2003. ’
PORTO, A. e PONTE, C. F.: ‘”Vacinas e campanhas: imagens de uma história a ser contada”, Histórias,
Ciências, Saúde - Manguinhos, vol. 10: 725-42, 2003. ’
PORTO, A. e PONTE, C. F.: ”Vacinas e campanhas: imagens de uma história a ser contada”, Histórias,
Ciências, Saúde - Manguinhos, vol. 10: 725-42, 2003. ’
PORTO, A. e PONTE, C. F.: ”Vacinas e campanhas: imagens de uma história a ser contada”, Histórias, Ciências,
Saúde - Manguinhos, vol. 10: 725-42, 2003. ’
IMUNIZAÇÃO

• O objetivo da imunização é a prevenção de doenças


• Imunização ativa: vacinas e toxóides estimulam o
próprio organismo a elaborar Ac e/ou imunidade
celular
• Imunização passiva: Imunoglobulinas. Os elementos
que conferem proteção são produzidos por um outro
organismo e transferidos para o ser humano.
Imunidade é temporária. Ex: mãe-feto, Ig

Kroger AT. Immunization in Mandell. Principles and practices of infectious diseases, 2014
IMUNIZAÇÃO

• Vacinas: suspensão de microrganismos vivos


atenuados, microrganismos inativados ou frações de
microrganismos
• Toxóide: Toxina modificada. Sem capacidade
patogênica, mas com potencial imunogênico
• Imunoglobulina (Ig): concentrado estéril de Ac. A Ig
específica é obtida a partir de doadores pré-
selecionados

Kroger AT. Immunization in Mandell. Principles and practices of infectious diseases, 2014
COMPONENTES DA VACINA

1. Componentes imunogênicos
2. Suspensão: água destilada ou solução salina.
Eventualmente componentes proteicos do meio de
produção da vacina
3. Preservativos, estabilizadores e antibióticos
4. Adjuvantes: aumentar imunogenicidade. Exemplo:
Sal de alumínio

Kroger AT. Immunization in Mandell. Principles and practices of infectious diseases, 2014
VACINAS VIVAS ATENUADAS

• Microrganismos vivos atenuados, obtidos através da


seleção de cepas naturais (selvagens)
• Poliomielite oral, sarampo, caxumba, rubéola,
varicela, rotavirus, BCG, febre amarela e dengue
• Como provocam infecção similar à natural, possuem
em geral grande capacidade protetora e conferem
imunidade em logo prazo (exceção: VOP)
• Podem provocar doença em imunocomprometidos
• Não usar em gestantes

Kroger AT. Immunization in Mandell. Principles and practices of infectious diseases, 2014
VACINAS – MICRORGANISMOS INATIVADOS,
FRAÇÕES e TOXÓIDES

1. Microrganismos inteiros inativados por meios físicos


ou químicos, de tal forma que perdem sua capacidade
infecciosa, mas mantém suas capacidades protetoras.
Exemplo: hepatite A
2. Toxinas inativadas (toxóide). Exemplo: tétano e difteria
3. Polisacarídeos extraídos da cápsula da bacteriana.
Exemplo: Streptococcus pneumoniae, Haemophilus
influenzae
4. Proteínas recombinantes. Exemplo: HBV, HPV
5. Componentes do microrganismo purificados
quimicamente. Exemplo: pertussis acelular

Kroger AT. Immunization in Mandell. Principles and practices of infectious diseases, 2014
FASES DE PRODUÇÃO DE VACINA
• Pré-Clínica
• Fase I (ensaios de segurança): Pequeno número de
pessoas. Avaliar segurança e confirmar estímulo imune.
• Fase II (expandida): Centenas de pessoas, podendo ser
divididos em grupos. Aprofunda dados de segurança e
eficácia.
• Fase III (ensaios de eficácia): Vacina X placebo.
Milhares de pessoas. Avalia eficácia e EA raros.
• Aprovada (fase IV): vacina registrada continua sendo
avaliada (segurança e eficácia)
• Fases combinadas: para acelerar o desenvolvimento,
p.ex. I/II
sbim.org.br
VACINAÇÃO ADULTO: 20-59 ANOS
SBIM
VACINA ESQUEMA COMETÁRIOS
Tríplice Viral Protegido aquele que tenha recebido • Uso em
(sarampo, duas doses imunocomprometido
rubéola e deve ser avaliado
caxumba) individualmente
• Pode ser aplicada no
puerpério e
amamentação
Hepatite A, B • HAV: 2 doses: 0 – 6 meses Imunocomprometido:
ou A e B • HBV: 3 doses: 0 – 1 – 6 meses HBV 4 doses (0 – 1 – 2
• HAV e HBV: 0 – 1 – 6 meses – 6 meses) com volume
vacinal dobrado
HPV • Três doses: 0 - 1 a 2 - 6 meses. Indivíduos mesmo que
• Duas vacinas estão disponíveis no previamente infectados
Brasil: HPV4: meninas e mulheres de podem ser beneficiados
9 a 45 anos de idade e meninos e com a vacinação.
homens de 9 a 26 anos; e HPV2, para
meninas e mulheres a partir dos 9
anos de idade.
VACINAÇÃO ADULTO: 20-59 ANOS
SBIM

VACINA ESQUEMA COMETÁRIOS


Tríplice • Com esquema de vacinação • A dTpa está
bacteriana básico completo: reforço com recomendada mesmo
acelular do dTpa a cada dez anos para aqueles que tiveram
tipo adulto • Para indivíduos que pretendem a coqueluche, já que a
(difteria, viajar para países nos quais a proteção conferida pela
tétano e poliomielite é endêmica: infecção não é
coqueluche) – recomenda-se a vacina dTpa permanente.
dTpa ou combinada à pólio inativada • O uso da vacina dTpa,
dTpa-VIP (dTpa-VIP). em substituição à dT,
objetiva, além da
Dupla adulto proteção individual, a
(difteria e redução da transmissão
tétano) – dT da Bordetella pertussis.
Varicela Para suscetíveis: duas doses com Uso em
intervalo de um a dois meses. imunocomprometido deve
ser avaliado individualmente
VACINAÇÃO ADULTO: 20-59 ANOS
SBIM
VACINA ESQUEMA COMETÁRIOS
Influenza Anual Desde que disponível, a vacina
influenza 4V é preferível à vacina
influenza 3V, por conferir maior
cobertura das cepas circulantes.
S. pneumoniae Entre 50-59 anos VPC13 à Esquema sequencial de VPC13 e
critério médico VPP23 é recomendado
rotineiramente para indivíduos com
60 anos ou mais, assim como
portadores de determinadas
enfermidades
N. meningitidis Uma dose. A indicação da Na indisponibilidade da vacina
ACWY vacina e necessidade de meningocócica conjugada ACWY,
reforços, dependerão da substituir pela vacina
situação epidemiológica meningocócica C conjugada.
N. meningitidis Duas doses com intervalo Não se conhece ainda a duração
B de um a dois meses. A da proteção e, consequentemente,
indicação depende da a necessidade de dose(s) de
situação epidemiológica. reforço.
VACINAÇÃO ADULTO: 20-59 ANOS
SBIM
VACINA ESQUEMA COMETÁRIOS
Zoster Uma dose. Licenciada a partir dos • Indivíduos a partir de 60 anos de idade,
50 anos, ficando a critério médico mesmo que já desenvolveram a doença.
sua recomendação. Nesses casos, aguardar um ano, entre o
quadro agudo e a aplicação da vacina.
• Ainda não existem dados suficientes para
indicar ou contraindicar a vacina no
zoster oftálmico
• O uso em imunodeprimidos deve ser
avaliado individualmente

Febre Uma dose. Pode ser recomendada • Contraindicada para mulheres


Amarela também para atender exigências amamentando bebês menores de 6
de viagens internacionais. Vacinar meses de idade.
pelo menos dez dias antes da • O uso em imunodeprimidos e gestantes
viagem. deve ser avaliado individualmente

Dengue • 3 doses com intervalo de seis Contraindicada em imunodeprimidos,


meses (0 - 6 - 12 meses) gestantes e mulheres amamentando
• Licenciada para adultos até 45
anos.
VACINAÇÃO ADULTO: ≥ 60 anos
SBIM

• Rotina: Influenza, S. pneumoniae, Zoster, dTpa ou


dTpa-VIP ou dT, Hepatite B

• Dependente da sorologia: Hepatite A

• Dependente da epidemiologia: N. meningitidis e


Febre Amarela
VACINAÇÃO ADULTO: Gestante
SBIM

• Rotina: Influenza, dTpa ou dTpa-VIP ou dT, Hepatite


B

• Situações especiais: Hepatite A, S. pneumoniae, N.


meningitidis, Febre Amarela (geralmente
contraindicada, inclusive nutrizes – 6 meses)

• Contraindicadas: Tríplice Viral, HPV, Varicela e


Dengue (contraindicada inclusive para nutrizes)
Falsas contra-indicações
• Doenças benignas comuns
• Uso de corticóide sistêmico por menos de
2 semanas
• Alergia não relacionada a componentes
da vacina
• Uso de ATB
• Aleitamento
OBRIGADO

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