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Salmonelose

Zoonoses, Saúde Pública e Saneamento

Discentes: Ana Beatriz da Silva Santos e Beatriz Barone Martins


Docente: Prof. Dr. Fábio Carvalho Dias
INTRODUÇÃO

Definição e caracterização da doença


→ Infecção sistêmica

→ Salmonella typhi

→ Ingestão de alimentos ou água contaminada


INTRODUÇÃO

Definição e caracterização da doença


→ Precárias condições de higiene e a falta de saneamento básico

→ Quadros entéricos agudos ou crônicos

→ Infecções septicêmicas, osteomielite, artrite e hepatite


INTRODUÇÃO

Sinonímia

PORTUGUÊS INGLÊS
→ Febre Tifóide → Typhoid fever

ESPANHOL
→ Fiebre tifoidea
INTRODUÇÃO

Distribuição Geográfica e Prevalência


→ Cosmopolita

→ Relacionada às condições de saneamento existentes e hábitos individuais


INTRODUÇÃO

Importância Social e em Saúde Pública


→ Zoonose

→ Maior impacto na saúde pública

→ Alta endemicidade, morbidade, mortalidade e dificuldade no seu controle

→ Países emergentes e nos desenvolvidos

→ Consumo de alimentos de origem animal, ovos, aves, carnes e produtos lácteos.


INTRODUÇÃO

Aspectos Históricos Relevantes


→ O gênero Salmonella → homenagem ao pesquisador Dr. Daniel Elmer Salmon

→ 1855 - primeiro isolamento realizado por Theobald Smith (assistente de


pesquisa do Dr. Daniel Elmer Salmon)

→ 1926 - foi proposta a classificação do gênero Salmonella em


sorovares/sorotipos por White
INTRODUÇÃO

Aspectos Históricos Relevantes


→ 1941 - a classificação foi expandida por Kauffmann denominado esquema de
Kauffmann-White, que se baseia na identificação de antígenos somáticos (O),
flagelares (H), e capsulares (Vi)

→ 1973 a 1987 - segundo dados do Center for Disease Control (CDC), nos EUA, as
bactérias do gênero Salmonella foram responsáveis por 43% dos surtos de
doença em seres humanos causados por agentes bacterianos presentes em
alimentos contaminados
INTRODUÇÃO

Aspectos Históricos Relevantes


→ 2004 - na União Européia, 192.703 casos de salmonelose humana foram
registrados

→ 2007 a 2017 - no Brasil, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da


Saúde, notificou surtos de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA). Dentre
os agentes envolvidos 90,5% eram bactérias, sendo a Salmonella (7,5%)

→ 2017 - a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) constatou-se 133 surtos


INTRODUÇÃO

Aspectos Atuais
→ Atualmente - vacina injetável de uma dose, imunidade de curta duração,
reforço a cada três anos, caso haja continuidade de maior exposição ao agente

→ Indicada: Militares Brasileiros que participam das missões de paz

→ 2008 - relatado os primeiros cinco casos de resistência a fármacos nos


Estados Unidos entre pacientes que passaram algum tempo no Paquistão
INTRODUÇÃO

Aspectos Atuais
→ Jan/2016 a Ago/2019, o CDC identificou 96 infecções por febre tifóide entre
viajantes dos EUA para o Paquistão

→ Mar/2018, o CDC iniciou vigilância aprimorada para pacientes com febre


tifoide resistentes à ceftriaxona em resposta a um surto contínuo de resistência
à fármacos no Paquistão
INTRODUÇÃO

Aspectos Atuais
→ Autoridades de saúde pública no Iraque notaram um aumento nos casos de
febre tifóide no outono de 2018, que coincidiu com Arbaeen

→ Nov/2019, 9,4 milhões de crianças com idade de 9 meses a 15 anos na


província de Sindh foram vacinados contra febre tifóide pela OMS
ETIOLOGIA

Bactéria

Gênero:
→ Salmonella

Família:
→ Enterobacteriaceae

Agente etiológico:
→ Salmonella enterica sorotipo Typhi
ETIOLOGIA

Caracterização do Agente
→ Bacilo gram-negativo não esporulado

→ Móvel de 2 a 5µ de diâmetro

→ Bacilos são aeróbios

→ Estrutura antigênica -> identificada por meio de técnicas sorológicas


(técnicas de hibridização do DNA bacteriano)
ETIOLOGIA

Características de Sensibilidade do Agente


Sensibilidade:
→ Temperatura superior a 70° C

→ Inativada em temperatura de pasteurização em alimentos com atividade de


água ≥ 0,95
ETIOLOGIA

Características de Resistência do Agente


Resistência:
→ Vários fatores ambientais

→ Sobrevida no meio ambiente -> muito longa (matéria orgânica)

→ Fezes secas: mais de 28 meses nas fezes de aves e 30 meses no estrume


bovino
ETIOLOGIA

Características de Resistência do Agente


Resistência:
→ 280 dias no solo cultivado e 120 dias na pastagem efluentes de água de
esgoto -> contaminação fecal

→ Proliferação -> pH entre 7.0 e 7.5 (extremos 3.8 e 9.5)

→ Resistem a temperaturas de 35° C a 43° C (extremos 5° C a 46° C)


EPIDEMIOLOGIA

Cadeia Epidemiológica
Fonte de infecção:
→ Portadores e indivíduos doentes.

Vias de eliminação:
→ Urogenital
→ Oral
EPIDEMIOLOGIA

Cadeia Epidemiológica
Meio de transmissão:
Direta:

→ Mãos do doente ou do portador.


EPIDEMIOLOGIA

Cadeia Epidemiológica
Meio de transmissão:
Indireta:

→ Manipulação de água e alimentos pelo portador

→ Legumes irrigados com água contaminada, produtos do mar mal cozidos ou


crus, leite e derivados não pasteurizados, produtos congelados e enlatados
podem veicular S. Typhi
EPIDEMIOLOGIA

Cadeia Epidemiológica
Meio de transmissão:
Indireta:

→ Enquanto houver eliminação de bacilos nas fezes ou na urina, geralmente a


partir da 1ª semana da manifestação de sintomas até o fim do período de
convalescença. Em algumas ocasiões, pelo vômito, expectoração ou pus

OBS: Eliminação de bacilos até três meses após o início da doença.


EPIDEMIOLOGIA

Cadeia Epidemiológica
Porta de entrada:
→ Via oral
EPIDEMIOLOGIA

Diversidade de Hospedeiros
→ Ser humano
EPIDEMIOLOGIA

Fatores Predisponentes Condicionantes


Em relação aos alimentos:
→ Falhas quanto ao manuseio

→ Transporte em condições inadequadas

→ Ausência de critérios básicos de higiene


,
Saneamento
PATOGENIA

Mecanismo de Patogenicidade
As bactérias penetram por via oral

Invadem a mucosa intestinal e se disseminam para a submucosa

Monócitos e macrófagos fagocitam

Resultando em resposta inflamatória (o microorganismo é transportado,


através do sistema retículo endotelial)
PATOGENIA

Mecanismo de Patogenicidade
Disseminação da bactéria no organismo por possuir capacidade de
multiplicação no interior dos macrófagos (que possibilita sua manutenção)

Resultando em enterocolite aguda.


PATOGENIA

Mecanismo de Patogenicidade
→ Quadro diarréico moderado -> sem a presença de sangue

→ Tenesmo -> com presença de sangue

→ Virulência multifatorial: mobilidade, habilidade de penetrar e replicar nas


células epiteliais, resistência à ação do sistema complemento, produção de
entero, cito e endotoxina
PATOGENIA

Mecanismo de Patogenicidade
Tropismo
→ Tecido intestinal

Período de incubação
→ Uma a três semanas

→ Em média duas semanas - depende da dose infectante que varia de 10⁵ a


10⁸ células
SINAIS CLÍNICOS

Formas Clinícas
Quatro síndromes clínicas distintas:
→ Gastrenterite

→ Febre entérica

→ Septicemia com ou sem infecções localizadas


SINAIS CLÍNICOS

Formas Clinícas
Infecções gastrointestinais:

→ Fezes diarreicas de características aquosas, semelhante à diarreia colérica, a


fezes consistentes com sangue oculto, ou visível, e muco

→ Regride de três a quatro dias

→ Febre (39ºC) de curta duração


SINAIS CLÍNICOS

Formas Clinícas - Homem


Infecções gastrointestinais:

→ Cólicas abdominais leves a intensas

→ Invasão dos linfonodos (linfadenite mesentérica) -> apendicite

→ Desenvolvimento de síndrome de cólon irritado -> diarreia branda persistente


seguida de quadro agudo de gastrenterite
SINAIS CLÍNICOS

Formas Clinícas
Bacteremia:

→ Mais frequente -> sexo masculino

→ 1% a 4% dos pacientes imunodeprimidos (doenças do sistema


reticuloendotelial, linfoma, leucemia, câncer, lúpus sistêmico e outras doenças
vasculares)
SINAIS CLÍNICOS

Formas Clinícas
Bacteremia:

→ 20% dos pacientes apresentam quadro posterior diarreico

→ Prevalência em adultos -> uso prévio de drogas imunossupressoras

→ Complicação -> pneumonia


SINAIS CLÍNICOS

Formas Clinícas
Infecções do SNC:

→ Meningites, abscessos, empiema subdural

→ Complicações -> raro

→ Maior prevalência -> pacientes de longo período de hospitalização, drenagem


cirúrgica e terapia antimicrobiana prolongada
SINAIS CLÍNICOS

Formas Clinícas
Infecções em outros sistemas:

→ Bacteriúria ao comprometimento de juntas, ossos e tecidos e endocardites


(< 1% a 0.1%)

→ Baço e trato genital

→ Complicações pulmonares
SINAIS CLÍNICOS

Formas Clinícas
Infecções em outros sistemas:

→ Trato urinário -> Mulheres, 50% apresentam quadro diarreico

→ Imunossupressão, cistite, pielonefrite e abscesso renal

→ Lesões endovasculares e osteomielite -> 7% a 10% dos pacientes > 50 anos


SINAIS CLÍNICOS

Sintomas e Sinais Clínicos


→ Febre alta → Cefaléia

→ Mal estar geral → Dor abdominal

→ Falta de apetite → Bradicardia relativa

→ Esplenomegalia → Manchas rosadas no tronco (roséolas tíficas)

→ Obstipação intestinal ou diarreia → Tosse seca

→ Calafrio → Astenia
SINAIS CLÍNICOS

Lesões
→ Exantema em ombros, tórax e abdome
São lesões pápulo-eritematosas, com 1 mm a 5 mm de diâmetro

→ Úlceras de Daguet: região anterior da boca podem aparecer


pequenas ulcerações de 5 mm a 8 mm de diâmetro -> ocorrência
rara
SINAIS CLÍNICOS

Evolução do Quadro
Primeira semana:

→ Após período de incubação (7 a 21 dias)

→ Sintomas inespecíficos: febre, calafrios, cefaléia, astenia e tosse seca


SINAIS CLÍNICOS

Evolução do Quadro
Segunda semana:

→ A febre atinge um platô e é acompanhada de astenia intensa

→ O nível de consciência pode se alterar, havendo delírios e indiferença ao ambiente

→ Pode haver hepatoesplenomegalia, dor abdominal difusa ou localizada


SINAIS CLÍNICOS

Evolução do Quadro
Segunda semana:

→ Pode haver diarreia em crianças, sendo frequente que ocorra constipação intestinal

→ A febre tifoide pode evoluir para óbito


SINAIS CLÍNICOS

Prognóstico
Reservado
→ Se tratamento for instituído

→ Gravidade dos sinais clínicos

→ Prevalência no paciente
DIAGNÓSTICO

Clínico
Sinais clínicos inespecíficos
DIAGNÓSTICO

Epidemiológico
Analisar histórico, e condições de saneamento e higiene

→ Contribui para o diagnóstico o relato da pessoa que manteve contato com um


caso confirmado por critério laboratorial.
DIAGNÓSTICO

Laboratorial
Amostras de eleição:

→ Sangue, fezes, aspirado medular e urina


DIAGNÓSTICO

Laboratorial
Técnicas diagnósticas:

Hemocultura (sangue)
→ Cerca de 75% de positividade nas duas semanas iniciais da doença

→ Sangue deve ser colhido, de preferência, antes de antibioticoterapia

→ Coleta de 2 a 3 amostras, nas duas semanas iniciais da doença


DIAGNÓSTICO

Laboratorial
Técnicas diagnósticas:

Coprocultura (fezes)
→ Indicada a partir da 2a até a 5a semana da doença, com intervalo de 3 dias cada
uma
DIAGNÓSTICO

Laboratorial
Técnicas diagnósticas:

Mielocultura (aspirado medular)

→ Mais sensível (90%) -> Técnica diagnóstica padrão

→ Se apresenta positivo mesmo em antibioticoterapia prévia

OBS: Hemocultura e mielocultura -> isolamento do agente etiológico em placas


de Petri com meios de cultura
DIAGNÓSTICO

Laboratorial
Técnicas diagnósticas:

Urocultura (urina)
→ Valor diagnóstico limitado

→ Positividade máxima na terceira semana de doença


TRATAMENTO

Indicações

→ Tratamento ambulatorial

→ Internação
TRATAMENTO

Fármacos
→ Cloranfenicol

→ Amoxicilina

→ Trimetoprim-sulfametoxazol
- São opções quando as quinolonas estão indisponíveis

Resistência a estes fármacos: utilizar quinolonas (ciprofloxacino e ofloxacino),


azitromicina ou cefalosporina de terceira geração (ceftriaxona).
TRATAMENTO

Fármacos
→ Ampicilina
- Febre persistente após o 5° dia de tratamento -> trocar do antimicrobiano.
TRATAMENTO

Recomendações
→ Não utilizar medicamentos obstipantes ou laxantes

→ Realizar repouso e dieta (evitar alimentos hiperlipídicos ou


hipercalóricos)

→ Ter cuidados com a higiene

→ Acesso venoso disponível nos casos graves (internação)


PROFILAXIA

Medidas de Prevenção
→ Correta higiene pessoal e alimentar

→ Descarte adequado de fezes humanas

→ Se possível obter fornecimento de água potável, caso não se obtenha, tratar a


água com cloro

→ Conhecer a origem da matéria-prima ou do produto alimentício e as datas de


produção e vencimento
PROFILAXIA

Medidas de Prevenção
→ Higienizar os utensílios e equipamentos utilizados na produção de alimentos

→ Conservar os produtos alimentícios prontos para consumo refrigerados ou


aquecidos para evitar a proliferação de microrganismos

→ Atentar para a higiene dos manipuladores de alimentos e as condições dos


locais onde são adquiridos
PROFILAXIA

Medidas de Controle
→ Desenvolvimento adequado do sistema de saneamento básico

→ Fornecimento de água potável

→ Adequada manipulação dos alimento

Na ausência de rede pública de água e esgoto, a população deve ser orientada


sobre como proceder em relação ao abastecimento de água e ao destino de
dejetos
PROFILAXIA

Medidas de Controle
→ Praticar ações de educação em saúde

→ Realizar a limpeza e desinfecção das caixas-d’água de instituições públicas e


domiciliares a cada seis meses

→ Fervura ou cloração da água pela população em caso da não disponibilização


de água potável ou tratada
PROFILAXIA

Medidas de Controle
→ Se o portador for manipulador de alimentos:

→ Realizar coprocultura uma vez por semana, durante três semanas

→ Resultado positivo -> indivíduo deve ser novamente tratado, de preferência,


com uma quinolona

→ Nessa situação o profissional deve se afastar de suas tarefas, se possível


PROFILAXIA

Medidas de Erradicação
→ Difícil erradicação

→ Ainda há locais no mundo em que as pessoas não possuem acesso ao


saneamento básico, nem às informações acerca da doença
REFERÊNCIAS
MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasilia - DF). Departamento de Vigilância
Epidemiológica. MANUAL INTEGRADO DE VIGILÂNCIA E CONTROLE DA
FEBRE TIFÓIDE. 1a. ed. Ministério da Saúde: Editora do Ministério da
Saúde, 2008. 92 p.

MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasilia - DF). Secretaria de Vigilância em Saúde


e Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde. GUIA
DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE 5ª edição revisada e atualizada. 5a. ed.
Brasilia - DF: Editora do Ministério da Saúde, 2022. 1128 p.

MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasilia - DF). Secretaria de Vigilância em Saúde


e Departamento de Apoio à Gestão de Vigilância em Saúde. Manual
Técnico de Diagnóstico Laboratorial da Salmonella spp. 1a. ed. Brasilis -
DF: Editora do Ministério da Saúde, 2011. 64 p.
REFERÊNCIAS
WATKINS, Louise K. François Watkins et al. Update on Extensively Drug-
Resistant Salmonella Serotype Typhi Infections Among Travelers to or
from Pakistan and Report of Ceftriaxone-Resistant Salmonella Serotype
Typhi Infections Among Travelers to Iraq — United States, 2018–2019.
Morbidity and Mortality Weekly Report, [s. l.], v. 69, ed. 20, p. 618-622,
22 maio 2020

SILVA, Antônia Jhanyelle Hilario da et al. SALMONELLA SPP. UM AGENTE


PATOGÊNICO VEICULADO EM ALIMENTOS. Encontro de Extensão,
Docência e Iniciação Científica (EEDIC), [S.l.], v. 5, n. 1, mar. 2019. ISSN
2446-6042.
Obrigada!

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