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Febre Tifóide (Tifo ou Doença das mãos sujas)

1. Aspectos Epidemiológicos

A febre tifóide é uma doença bacteriana infecciosa aguda que ataca principalmente o intestino e depois se
dissemina por todo o corpo, de distribuição mundial, associada á baixos níveis sócio-econômicos,
relacionando-se, principalmente, com precárias condições de saneamento, higiene pessoal e ambiental. Foi
praticamente eliminada em países onde estes problemas foram superados, mas persiste no Brasil de forma
endêmica, com superposição de epidemias, especialmente no Norte e Nordeste, refletindo as condições de
vida dessas regiões.

Agente Etiológico: uma bactéria gram-negativa: Salmonella typhi, da família Enterobacteriaceae.


Reservatório: o homem (doente ou portador).

Modo de Transmissão: A transmissão se dá principalmente de forma indireta através de água e alimentos,


em especial o leite e derivados, contaminados com fezes ou urina de paciente ou portador. A contaminação
de alimentos verifica-se geralmente por manipulação de alimentos feita por portadores ou oligossintomáticos,
sendo por isso a febre tifóide conhecida como a doença das mãos sujas. Raramente as moscas participam da
transmissão. O congelamento não destrói a bactéria, sendo que sorvetes, por exemplo, podem ser veículos
de transmissão. Todavia, só uma grande concentração de bactérias é que determinará a possibilidade de
infecção. Por isso não se costuma verificar surtos de febre tifóide após enchentes, quando provavelmente há
maior diluição de bactérias no meio hídrico, com menor possibilidade de ingestão de salmonelas em número
suficiente para causar a doença. A carga bacteriana infectante, experimentalmente estimada, é 106 a 109
bactérias ingeridas. Infecções subclínicas podem ocorrer com a ingestão de um número bem menor de
bactérias.
Tempo de Sobrevida do Agente nos Diferentes Meios: Particularmente nos Alimentos: Água: varia,
consideravelmente, com a temperatura (temperaturas mais baixas levam a uma maior sobrevida), com a
quantidade de oxigênio disponível (as salmonelas sobrevivem melhor em meio rico em oxigênio), e com o
material orgânico disponível (águas poluídas, mas não tanto a ponto de consumir todo oxigênio, são melhores
para a sobrevida do agente). Em condições ótimas, a sobrevida nunca ultrapassa de 3 a 4 semanas. Esgoto:
em condições experimentais, quase 40 dias. Água do Mar: não é um bom meio. Para haver o encontro de
salmonela na água do mar é necessário uma altíssima contaminação. Ostras, Mariscos e Outros Moluscos:
sobrevida demonstrada de até 4 semanas. Leite, Creme e Outros Laticínios: constituem um excelente meio,
chegando a perdurar até por 2 meses na manteiga, por exemplo. Carnes e Enlatados: são raros os casos
adquiridos através destes alimentos, provavelmente porque o processo de preparo dos mesmos é suficiente
para eliminar a salmonela. Mas, uma vez preparada a carne ou aberta a lata, a sobrevida do agente é maior
do que a vida útil destes alimentos. Obs.:ostras e outros moluscos, assim como leite e derivados, são os
principais alimentos responsáveis pela transmissão da febre tifóide. Praticamente todos os alimentos, quando
manipulados por portadores, podem veicular a Salmonella typhi inclusive havendo registro de transmissão por
suco de laranja.

Período de Incubação: depende da dose infectante. É comumente de 1 a 3 semanas (2 semanas em


média).

Período de Transmissibilidade: ocorre enquanto existirem bacilos sendo eliminados nas fezes ou urina, o
que ocorre geralmente, desde a primeira semana da doença até o fim da convalescença. A transmissão após
essa fase dá-se por períodos variáveis, dependendo de cada situação. Sabe-se que cerca de 10% dos
pacientes continuam eliminando bacilos durante até 3 meses após o início da doença. A existência de
portadores é de extrema importância na epidemiologia da doença: 2 a 5% dos pacientes após a cura se
transformam em portadores (geralmente mulheres adultas). Tanto em doentes quanto em portadores, a
eliminação da Salmonella typhi costuma ser intermitente. · Portadores: indivíduos que, após enfermidade
clínica ou sub-clínica, continuam eliminando bacilos por vários meses. São de particular importância para a
vigilância epidemiológica porque mantêm a endemia e dão origem a surtos epidê micos.

Suscetibilidade e Imunidade: a suscetibilidade é geral, e é maior nos indivíduos com acloridria gástrica. A
imunidade adquirida após a infecção ou vacinação não é definitiva.

Distribuição, Morbidade, Mortalidade e Letalidade: a doença não apresenta alterações cíclicas ou de


sazonalidade que tenham importância prática. Não existe uma distribuição geográfica especial. A ocorrência
da doença está diretamente relacionada às condições de saneamento básico existentes e aos hábitos
individuais. Estão mais sujeitas à infecção as pessoas que habitam ou trabalham em ambientes com
precárias condições de saneamento. A doença acomete com maior freqüência a faixa etária entre 15 e 45
anos de idade em áreas endêmicas. A taxa de ataque diminui com a idade. Observando-se o comportamento
da febre tifóide no Brasil nas últimas décadas, constata-se uma tendência de declínio nos coeficientes de
incidência, mortalidade e letalidade. Estes indicadores apresentam importantes variações quando analisados
por regiões e unidades da federação. As regiões Norte e Nordeste registram sempre números mais elevados
devido à precariedade de suas condições sanitárias, onde menos de 50% de sua população dispõe de algum
tipo de abastecimento de água. É importante que os dados de morbi-mortalidade da febre tifóide sejam vistos
com cautela quanto à sua representatividade e fidedignidade devido às seguintes razões: · 20% do total dos
óbitos no Brasil têm causa básica ignorada; · dificuldades quanto ao diagnóstico laboratorial necessário para
a identificação do agente etiológico; e · precariedades do sistema de informação - comparando os dados de
febre tifóide de fontes distintas, observa-se disparidade entre as mesmas.

2. Aspectos Clínicos

Descrição: a sintomatologia clínica clássica consiste em febre alta, calafrios, astenia, cefaléia, mal-estar
geral, falta de apetite, bradicardia relativa (dissociação pulso-temperatura), esplenomegalia, manchas rosadas
no tronco (roséola tífica), obstipação intestinal ou diarréia, cólicas abdominais e tosse seca, amidalite e
faringite. Atualmente, o quadro clássico completo é de observação rara, sendo mais freqüente um quadro em
que a febre é a manifestação mais expressiva, acompanhada por alguns dos demais sinais e sintomas
citados anteriormente. Nas crianças, o quadro clínico é mais benigno do que nos adultos, e a diarréia é mais
freqüente. Como a doença tem uma evolução gradual (embora seja uma doença aguda), a pessoa afetada é
muitas vezes medicada com antimicrobianos, simplesmente por estar apresentando uma febre de etiologia
não conhecida. Dessa forma, o quadro clínico não se apresenta claro e a doença deixa de ser diagnosticada
precocemente. A salmonelose septicêmica é uma síndrome em cuja etiologia está implicada a associação de
salmonelose com espécies de Schistosoma (no Brasil o Schistosoma mansoni). Nessa condição, o quadro
clínico se caracteriza por febre prolongada (vários meses), acompanhada de sudorese e calafrios. Observa-
se ainda anorexia, perda de peso, palpitações, epistaxis, episódios freqüentes ou esporádicos de diarréia,
aumento do volume abdominal, edema dos membros inferiores, palidez, manchas hemorrágicas,
hepatoesplenomegalia. É rara a ocorrência de salmonelose septicêmica prolongada ocasionada por
Salmonella typhi.

Diagnóstico Diferencial: é uma doença semelhante a várias outras entéricas, de diversas etiologias, por
exemplo, Salmonella paratyphi A, B, C. Há, também, outras doenças que apresentam febre prolongada e que
devem ser consideradas, tais como: pneumonias, tuberculoses (pulmonar, miliar, intestinal, meningoencefalite
e peritonite) meningoencefalites, septicemia por agentes piogênicos, colecistite aguda, periotonite bacteriana,
forma toxêmica de esquistossomose mansônica, mononucleose infecciosa, febre reumática, doença de
Hodgkin, abscesso hepático, abscesso subfrenico, apendicite aguda, infecção do trato urinário, leptospirose,
malária, toxoplasmose, tripanossomiase, endocardite bacteriana. Salmonelose e infecção pelo vírus da
imunodeficiência humana (HIV): A bacteriemia recorrente por Salmonella é uma das condições clínicas
consideradas pelo Ministério da Saúde como marcadora de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS)
em indivíduos HIV positivos. Em regiões onde a Salmonella typhi é endêmica, a incidência de febre tifóide
pode ser de 25 a 60 vezes maior entre indivíduos HIV positivos que em soronegativos. Indivíduos HIV
positivos assintomáticos podem apresentar doença semelhante ao imunocompetente e boa resposta ao
tratamento usual. Doentes com AIDS (doença definida), podem apresentar febre tifóide particularmente grave
e com tendência a recaídas.

Complicações: a hemorragia intestinal é a principal complicação, causada pela ulceração das placas de
Peyer, que, em condições pouco freqüentes, leva à perfuração intestinal. Podem surgir complicações em
qualquer órgão devido à evolução da febre tifóide com bacteremia. Outras complicações menos freqüentes
são retenção urinária, pneumonia, colecistite.

Tratamento Específico: o tratamento é sempre ambulatorial. Só excepcionalmente, quando o estado do


paciente está muito comprometido, indica-se a internação.

Terapia medicamentosa:

a)CLORANFENICOL: ainda é considerada a droga de primeira escolha. Dose: · Adultos: 50mg /kg/dia,
dividida em 4 tomadas (6/6 horas) até dose máxima de 4g/dia. · Crianças: 50mg/kg/dia, dividida em 4
tomadas (6/6 horas) até dose máxima de 3g/dia. As doses serão administradas preferencialmente por via oral
e deverão ser reduzidas para 2g/dia (adultos) e 30mg/Kg/dia (crianças), quando os doentes se tornam afebris,
o que deverá ocorrer até o quinto dia de tratamento. O tratamento é mantido por 15 dias após o último dia de
febre, perfazendo um máximo de 21 dias. Nos doentes com impossibilidade de administração por via oral
será utilizada a via parenteral. Há possibilidade de toxicidade medular que pode se manifestar sob a forma de
anemia (dose-dependente) ou mesmo anemia aplástica (reação idiossincrásica) a qual, felizmente, é rara.
Caso o doente mantenha-se febril após o quinto dia de tratamento, avaliar a possibilidade de troca do
antimicrobiano.

b)AMPICILINA: Dose: · Adultos: 1000 a 1500mg/dose via oral em 4 tomadas (6/6 horas) até dose máxima de
6 g/dia. · Crianças: 100mg/Kg/dia via oral dividida em 4 tomadas (6/6 horas). A administração oral é preferível
à parenteral. A duração do tratamento é de 14 dias.

C)SULFAMETOXAZOL + TRIMETOPRIMA: Dose: · Adultos: 800 a 1600mg de Sulfametoxazol* via oral


dividida em 2 tomadas (12/12 horas). · Crianças: 30 a 50 mg/Kg/dia de Sulfametoxazol* por via oral dividida
em 2 tomadas de 12/12 horas. A duração do tratamento é de 14 dias. Obs.: Trata-se da associação da
Sultametoxazol+Trimetoprima, bastando fazer o cálculo das doses levando-se em conta apenas uma das
drogas. Neste caso Sulfametoxazol.

d)Tratamento de suporte: A febre, a desidratação e o estado geral do doente devem ser monitorados e
tratados. Não devem ser usados medicamentos obstipantes ou laxantes. São recomendados repouso e
dieta conforme aceitação do doente, evitando os alimentos hiperlipídicos ou hipercalóricos; Nos casos graves
devem haver vigilância constante e acesso venoso disponível visando tratamento adequado de desequilíbrios
hidrossalinos e calóricos; Controle da curva térmica (importante parâmetro clínico de melhora do doente e
referência para o tempo de tratamento); Cuidados de higiene; Tratamento das complicações digestivas
graves: Hemorragias: · Dispor de uma veia calibrosa para reposição rápida de volemia e administração de
hemoderivados caso necessário; · manter dieta zero até estabilização do quadro e/ou término da hemorragia;
· Reavaliar freqüentemente o doente, visando a manutenção da estabilidade hemodinâmica; · Caso a
enterorragia seja maciça e haja dificuldade em controlá-la clinicamente, poderá haver necessidade de cirurgia
para a ressecção do segmento ulcerado. Perfuração intestinal: · Uma vez feito o diagnóstico de perfuração,
há que se indicar a cirurgia imediatamente; · Manter dieta zero; · Instalar sonda nasogástrica; · Repor fluidos,
corrigir distúrbios ácido-básicos e, se necessário, administrar hemoderivados.

3. Diagnóstico Laboratorial: O diagnóstico de laboratório da febre tifóide baseia-se, primordialmente, no


isolamento e identificação do agente etiológico, nas diferentes fases clínicas, a partir do sangue
(hemocultura), fezes (coprocultura), aspirado medular (mielocultura) e urina (urocultura).
Hemocultura: apresenta maior positividade nas duas semanas iniciais da doença (75% aproximadamente),
devendo o sangue ser colhido, de preferência, antes que o paciente tenha tomado antibiótico. Recomenda-se
a colheita de 2 a 3 amostras, não havendo necessidade de intervalos maiores que 30 minutos entre as
mesmas;
Coprocultura: a pesquisa da Salmonella typhi nas fezes é indicada a partir da segunda até a quinta semana
da doença, assim como no estágio de convalescença e na pesquisa de portadores. Quando colhidas “in
natura”, as fezes devem ser remetidas ao laboratório num prazo máximo de 2 horas, em temperatura
ambiente, ou 6 horas, sob refrigeração.
Mielocultura: trata-se do exame mais sensível (90% de sensibilidade). Tem também a vantagem de se
apresentar positiva mesmo na vigência de antibioticoterapia previa;
Urocultura: valor diagnóstico limitado, com positividade máxima na terceira semana de doença.

4. Vigilância Epidemiológica

Objetivo: proporcionar informações adequadas ao conhecimento das características epidemiológicas da


doença para permitir alternativas a sua prevenção e controle. ·

Investigação Epidemiológica: tem por objetivo obter informações adequadas sobre as características
epidemiológicas da doença para definir as tendências do seu comportamento, permitindo a proposição de
alternativas para sua prevenção e controle. A investigação epidemiológica visa responder às seguintes
questões básicas. · Quem foi afetado? · Quando? · Onde? · Qual a fonte de infecção? Quais os fatores do
meio que podem ter contribuído para a existência ou a transmissão da doença?

Conduta Frente a um Caso: Caracterizar clinicamente o caso; Verificar se já foi coletado e encaminhado
material para exame diagnóstico (fezes, sangue, urina), observando se houve uso prévio de antibiótico;
Hospitalizar o paciente, se necessário; Determinar as prováveis fontes de infecção; Pesquisar a existência
de casos semelhantes, na residência, no local de trabalho, de estudo, etc; Proceder a busca ativa de casos,
na área; Identificar os comunicantes e, entre esses, pesquisar portadores através da coprocultura. Lembrar
que, muitas vezes, os portadores trabalham em condições adequadas, mas a contaminação ocorre por
quebra acidental e momentânea das normas de higiene, alem de que pode ser através de portador que não é
manipulador habitual de alimentos.

Conduta Frente a um Surto: na ocorrência de um surto, é necessário:


estabelecer, criteriosamente, a cronologia e a distribuição geográfica dos casos. Pela cronologia pode-se
observar duas situações: · aglomerado intenso de casos num período curto de tempo, sugerindo intensa
contaminação por foco único, provavelmente por circulação hídrica; Dirigir a observação para as fontes de
abastecimento de água ou locais disponíveis onde a população se abastece; e · pequenos aglomerados de
casos distribuídos ao longo do tempo, sugerindo contaminação de alimentos por portadores. Voltar a atenção
para alimentos e sua manipulação. No entanto, quando a contaminação através de alimentos manipulados
por portadores se faz num único momento, fica difícil a distinção com a distribuição dos casos por
contaminação hídrica.

Definição de Caso:

Caso Suspeito: Doente com febre persistente, que pode ou não ser acompanhada de um ou mais dos
seguintes sinais e sintomas: cefaléia, mal-estar geral, dor abdominal, anorexia, dissociação pulso
temperatura, constipação ou diarréia, tosse seca, roséolas tíficas (manchas rosadas no tronco) e
esplenomegalia.

Caso Confirmado: Um caso suspeito de febre tifóide pode ser confirmado em duas situações:
Caso confirmado por critério laboratorial Quando os achados clínicos forem compatíveis com a doença e
houver isolamento da Salmonella tiphy ou detecção pela técnica de PCR;
Caso confirmado por critério clínico-epidemiológico:Caso clinicamente compatível que está
epidemiologicamente associado, ou seja, manteve contato com um caso confirmado por critério laboratorial.

5. Ações de Enfermagem nas Medidas de Controle:

Medidas referentes aos doentes: o isolamento não deve ser feito; destino adequado dos dejetos; ·
desinfecção dos objetos que estiveram em contato com excretas: penicos, vasos com solução de hipoclorito
de sódio a 10%, após a limpeza dos mesmos com água e sabão, uma vez que a presença de matéria
orgânica altera a atividade do desinfetante; tratamento adequado. outros cuidados: o paciente deve afastar-
se da manipulação de alimentos; orientações sobre medidas de higiene, principalmente em relação à
limpeza rigorosa das mãos.

Medidas Referentes aos Portadores: na prática é muito difícil a identificação e, conseqüentemente, a sua
eliminação na comunidade, apesar de sua reconhecida importância na manutenção do ciclo de transmissão
da doença.
A pesquisa de portadores é feita através da realização de coproculturas, em número de 7, em dias
seqüenciais. Essa pesquisa está indicada nas seguintes situações:
comunicantes que possam constituir perigo para a comunidade (ex. indivíduos que manipulam alimentos em
creches, hospitais, etc.); e · em coletividades fechadas (asilos, hospitais psiquiátricos, presídios) quando
houverem casos entre as pessoas que freqüentam essas instituições;
quando for indicado um portador, tratar imediatamente e orientar quanto ao destino adequado dos dejetos e
higiene pessoal.

Medidas de Saneamento: sendo a febre tifóide uma doença de veiculação hídrica, seu controle está
intimamente relacionado ao desenvolvimento de adequado sistema de saneamento básico, principalmente de
fornecimento de água em quantidade suficiente, de boa qualidade e, a adequada manipulação dos alimentos.
Não havendo rede pública de água e esgoto, a população deve ser orientada sobre como proceder em
relação ao abastecimento de água e destino de dejetos.
Sistema Público de Abastecimento de Água: Caso não haja desinfecção do sistema, proceder a sua
imediata implantação, mantendo a dosagem mínima de cloro residual livre nas pontas da rede de distribuição
em 0,2 mg/l;Realizar a limpeza e desinfecção dos reservatórios de distribuição, sempre
Sistema Individual de Abastecimento de Água (poços, cisternas, minas, etc.): Proceder à limpeza e
desinfecção do sistema; Reparar possíveis pontos de contaminação (rachaduras, canalizações abertas, etc);
a desinfecção da água.

Medidas gerais: orientar quanto à limpeza e desinfecção periódica das caixas de água de instituições
públicas (escolas, creches, hospitais, centros de saúde, asilos, presídios, etc), a cada seis meses, ou com
intervalo menor, se necessário. Orientar a população para proceder à limpeza e desinfecção das caixas de
água domiciliares, a cada seis meses, ou com intervalo menor, se necessário. Em locais onde a água for
considerada suspeita, orientar a população para ferver ou clorar a água.

Medidas referentes aos dejetos: Proceder à limpeza e reparo de fossas, se necessário. Orientar a
população quanto ao uso correto de fossas sépticas e poços absorventes, em locais providos de rede de
água.

Medidas referentes aos alimentos: Os alimentos desempenham papel relevante na qualidade de vida das
populações em função da sua disponibilidade, acessibilidade, qualidade sanitária e nutricional, condições
fundamentais para a promoção e proteção da saúde.
Os alimentos contaminados por microorganismos patogênicos têm se apresentado como fontes
importantes de agravos ao organismo humano, tornando-se imprescindível a implantação ou implementação
pelas autoridades sanitárias de nível local, das atividades de vigilância sanitária, em especial aquelas
voltadas para a produção e comércio de alimentos, de modo que efetive a prevenção e o controle de doenças
transmitidas por veiculação alimentar ou hídrica como é o caso da febre tifóide. Integrada ao grupo que
desenvolve a vigilância epidemiológica e à frente de um caso suspeito ou confirmado de transmissão de febre
tifóide por alimentos, a equipe de vigilância sanitária deverá ter como meta prioritária a eliminação ou a
redução dos riscos à saúde, intervindo até mesmo se necessário, nos problemas sanitários decorrentes do
meio ambiente e da prestação de serviços que tenham interface com a contaminação do alimento causador
da doença.
São várias as possibilidades de um alimento se contaminar com agente etiológico da febre tifóide, uma
delas poderá ocorrer a partir da própria origem do alimento ou do seu próprio sítio de produção, como é o
caso de ostras ou mexilhões contaminados com Salmonella typhi em função de seus habitat aquáticos
estarem contaminados.
Outras fontes de contaminação que devem ser consideradas são aquelas que poderão ocorrer a partir
da manipulação de alimentos por pessoas doentes e com hábitos de higiene deficientes, ou até mesmo do
uso de água contaminada durante o preparo dos alimentos.
A ocorrência de febre tifóide transmitida por alimentos se manifesta em geral quando nos mesmos
encontramos bactérias em quantidade suficientes para sobreviverem aos processos a que são submetidos
quando de sua produção.
À concentração de bactérias necessárias para causar a doença denominamos de Dose Infectante
Mínima (D.I.M.) e nesse particular a Salmonella typhi inclui-se no grupo das bactérias que necessitam de
D.I.M. considerada baixa para produzir a doença, ou seja, 102/ml. typhi.
Alimentos tais como leite e seus derivados, ostras, mariscos e mexilhões recebem destaque da literatura
como sendo os principais responsáveis pela transmissão da doença, entretanto deve ficar claro que outros
alimentos desde que contaminados e possuidores de características intrínsecas que favoreçam a
sobrevivência e proliferação da Salmonella typhi devem ser considerados quando do desenvolvimento das
ações de vigilância epidemiológica.

Classificação dos alimentos segundo risco :Alimentos de alto risco: Leite cru, moluscos, mexilhões,
ostras, pescados crus, hortaliças, legumes e frutas não lavadas.Alimentos de médio risco: Alimentos
intensamente manipulados logo após o cozimento ou requentados e massas.Alimentos de baixo risco:
Alimentos cozidos que são consumidos imediatamente, verduras fervidas, alimentos secos e carnes cozidas
ou assadas.

OBS: Alguns procedimentos devem ser adotados de modo a evitar-se a doença a partir da ingestão de
alimentos contaminados, dentre as quais destacamos:a origem da matéria prima ou do produto alimentar,
datas de produção e validade devem ser conhecidas;o armazenamento do alimento deve ocorrer em
condições que lhe confira proteção contra a sua contaminação e reduza, ao mínimo, a incidência de danos e
deteriorização;sua manipulação deve ocorrer em ambientes higienicamente saudáveis e por indivíduos
possuidores de bons hábitos de higiene e que não estejam portanto com doença infecto-contagiosa; seu
preparo deverá envolver processos e condições que excluam toda e qualquer possibilidade da presença de
Salmonella typhi no alimento pronto para consumo.Os utensílios e equipamentos que interagem com o
alimentos devem estar cuidadosamente higienizados de modo a evitar-se a contaminação do produto
acabado;a conservação do produto alimentício acabado e pronto para consumo deve ocorrer em ambientes
especiais (refrigeração) de modo que sejam mantidas as suas características e não seja facultada a
proliferação de microorganismos;o alimento pronto para consumo deverá ser armazenado e transportado em
condições tais que excluam a possibilidade de sua contaminação.

Medidas de Educação em Saúde: destacar os hábitos de higiene pessoal, principalmente a lavagem


correta das mãos. Este aspecto é fundamental entre pessoas que manipulam alimentos e trabalham na
atenção de pacientes e crianças.Orientar quanto aos cuidados na preparação, manipulação, armazenamento
e distribuição de alimentos (lavar e cozinhar verduras, mariscos e peixes; só tomar açaí preparado com água
fervida ou tratada com hipoclorito de sódio), na pasteurização ou ebulição do leite e produtos lácteos.pingar 2
gotas de hipoclorito para 1 litro de água e esperar 30 minutos para consumir; não usar sem lavar: roupas,
pratos e talheres de pessoas infectadas; não urinar e defecar próximo a rios, igarapés, poços e praias; lavar
as mãos antes das refeições ou de manusear qualquer alimento; sempre utilizar água fervida ou tratada com
hipoclorito) As moscas podem transportar mecanicamente para os alimentos as bactérias presentes nas
dejeções dos doentes e portadores, embora não desempenhem papel importante na propagação da doença.
Faz-se necessário proteger os alimentos do seu contato, adotar cuidados com relação ao lixo, telar portas e
janelas, etc.

Vacinação: a vacina contra a febre tifóide não é a principal arma no controle da doença, que exige a
concentração de esforços nas medidas de higiene individual e na melhoria do saneamento básico. A vacina,
portanto, não apresenta valor prático para o controle de surtos, não sendo também, recomendada em
situações de calamidade. A experiência tem demonstrado que, quanto maior a diluição das salmonelas,
menor o risco de adquirir a doença. Esse fato parece estar de acordo com a observação geral de que,
embora a febre tifóide seja temida pelas autoridades durante as enchentes, não costuma aparecer surto
nessas ocasiões quando, provavelmente, há maior diluição de bactéria no meio hídrico. Além disso, sabe-se
que a vacina atualmente disponível não possui um alto poder imunogênico e que esta imunidade é de curta
duração,
Indicações da vacina:para pessoas sujeitas a exposições excepcionais como os trabalhadores que entram
em contato com esgotos;para aqueles que ingressem em zonas de alta endemicidade como por ocasião de
viagem; e ainda,para quem vive em áreas onde a incidência é comprovadamente alta. Não há indicação para
uso sistemático da vacina em populações circunscritas (ex. recrutas).
Esquema de vacinação:
-Dosagem:2 doses de 0,5 ml cada uma, via subcutânea, com intervalo de 04 semanas entre as doses; Em
menores de 12 anos, aplicar metade da dose.
-Idade:A vacina contra a febre tifóide pode ser administrada a partir dos seis meses completo.
- Reforço: A revacinação é feita com dose única, administrada após 3 anos da última dose.

Bibliografia utilizada e recomendada

BRASIL, Ministério da Saúde, FUNASA. Doenças infecciosas e parasitárias: aspectos clínicos de vigilância
epidemiológica e de controle – guia de bolso. Brasília: 2006.

BRASIL, Ministério da Saúde, FUNASA. Guia de vigilância epidemiológica. Revisado em mai. 2001.
Disponível: http.funasa.gov.brwww.funasa.gov.br/pub/GVE/GVE0519A.htm
COLOMBRINI, Maria Rosa Ceccato et al. Enfermagem em infectologia: cuidados com o paciente internado.
São Paulo: Atheneu, 2000.

LEÃO, Raimundo N. e colaboradores. Doenças Infecciosas e Parasitárias: enfoque amazônico. 1ª ed.


Belém: CEJUP, 1997.

MARANGONI, Denise V. e SCHECHTER, Mauro. Doenças infecciosas: conduta diagnóstica e terapêutica.


2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.

SOUZA, Márcia de. Assistência de enfermagem em infectologia. São Paulo: Atheneu, 2000.

VERONESI, Ricardo. Doenças infecciosas e parasitárias. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000

Disciplina: Enfermagem em Doenças Transmissíveis


Professora: Iací Proença Palmeira

AÇÕES DE ENFERMAGEM NA
PREVENÇÃO DA FEBRE TIFÓIDE

2007

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