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INTRODUÇÃO

A doença é uma pandemia exclusiva em seres humanos, sendo endêmica na


América Latina, na África, Europa Oriental e sul da Ásia. A OMS estima que ocorrem
entre 16 e 33 milhões de casos de febre tifoide por ano, resultando em 216.000 mortes
em áreas endêmicas. Sua incidência é maior em crianças e adultos jovens entre 5 e 19
anos.

O termo "tifoide" significa "semelhante ao tifo". No entanto, embora os sintomas


sejam semelhantes, o tifo é uma doença diferente.

A hospitalização é feita entre 10% a 40% dos casos e dura geralmente de 10 a 15


dias ou mais. Sem tratamento 10% a 30% morrem em menos de um mês, e com
tratamento a mortalidade diminui para cerca de 1% a 4% em áreas endêmicas,
geralmente crianças.

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FUNDAMENTAÇÃO TEORICA

História

A Salmonella typhi é também conhecida como bacilo de Elberth, assim chamado


em homenagem a Karl Joseph Elberth que o descreveu pela primeira vez em 1880.

Em 1907, Mary Mallon (a original "Maria Tifoide") foi a primeira portadora a


ser identificada após uma epidemia, nos EUA.

A febre tifoide vitimou várias personagens históricas, incluindo o compositor


Franz Schubert, o consorte da Rainha Vitória do Reino Unido, Alberto de Saxe-
Coburgo-Gota, Wilbur Wright, um dos primeiros aviadores, Péricles (governante de
Atenas), D. Pedro V de Portugal, a princesa do Brasil Leopoldina de Bragança e
Bourbon, o renomado físico italiano Evangelista Torricelli, que criou o barômetro de
Mercúrio (Hg) e descobriu a pressão atmosférica, Florence Nightingale, inventora da
ciência de Enfermagem, e também José Alvalade, fundador do Sporting Clube de
Portugal.

O ácido gástrico é o primeiro a reagir contra a salmonela, mas a bactéria


normalmente resiste a esse ataque e se dirige ao intestino delgado, onde invade a parede
intestinal e alcança a circulação sanguínea. A partir do momento em que a salmonela
chega à corrente sanguínea, os sintomas começam a aparecer. A salmonela pode entrar
em qualquer órgão e se multiplicar no interior das células de defesa. Normalmente, a
salmonela invade o fígado, o baço, a medula óssea, a vesícula e o intestino.

O contágio com a salmonela é global, mas, no Brasil, a maior quantidade de


casos registrados concentra-se no Norte e no Nordeste, sendo a Bahia e o Amazonas os
estados de maior ocorrência. A febre tifoide pode ser mais grave em pessoas com saúde
precária. O tratamento se baseia em antibióticos e processos de reidratação do
organismo. Dependendo do quadro clínico do paciente, o tratamento poderá ser feito em
casa com medicação oral.

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FEBRE TIFOIDE

A Febre Tifoide é uma doença bacteriana aguda, causada pela Salmonella


enterica sorotipo Typhi, de distribuição mundial. A doença está diretamente associada a
baixos níveis socioeconômicos, principalmente em regiões com precárias condições de
saneamento básico, higiene pessoal e ambiental.

Se não tratada adequadamente, a Febre Tifoide pode matar. Nesse contexto, a


Febre Tifoide está praticamente eliminada de países onde esses problemas foram
superados. No Brasil, a doença ocorre sob a forma endêmica em regiões isoladas, com
algumas epidemias onde as condições de vida são mais precárias, especialmente nas
regiões Norte e Nordeste.

A infecção recorrente por Salmonella é uma das condições clínicas marcadoras


da AIDS/HIV. Em regiões onde a bactéria causadora da Febre Tifoide é endêmica, a
incidência da doença pode ser de 25 a 60 vezes maior entre indivíduos HIV positivos
que em soronegativos. Os indivíduos HIV positivos assintomáticos podem apresentar
doença semelhante ao imunocompetente e boa resposta ao tratamento usual. Doentes
com aids (doença definida) podem apresentar Febre Tifoide particularmente grave e
com tendência a recaídas.

Importante: A Febre Tifoide não apresenta sazonalidade ou outras alterações cíclicas,


assim como distribuição geográfica, que tenham importância prática. A sua ocorrência
está diretamente relacionada às condições de saneamento básico existentes e aos hábitos
individuais. Em áreas endêmicas, acontecem com maior frequência á indivíduos de 15 a
45 anos e a taxa de ataque diminui com a idade.

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Sintomas

Os sintomas da Febre Tifoide podem se manifestar entre o 5º e o 21º dia (em


média 12 dias) após a ingestão do microrganismo via alimentos ou água contaminados.
Quando a quantidade de microrganismos inoculados for pequena, o período de
incubação pode ser maior. Os sintomas duram até 4 semanas.

A maioria dos pacientes com Febre Tifoide apresenta-se com dor abdominal,
febre, calafrios e outros sintomas sistêmicos como mialgia, cefaleia, astenia e mal-estar.
Na primeira semana de doença, os pacientes apresentam quadro de febre com piora
progressiva, podendo ocorrer bacteremia. Bradicardia relativa ou dissociação de pulso-
temperatura pode ser observada, o que é chamado de sinal de Faget, que é um sinal
relativamente específico da doença, mas que também é descrito na febre amarela.

Os principais sintomas da Febre Tifoide são:

 Febre alta;  Aumento do volume do baço;


 Dores de cabeça;  Manchas rosadas no tronco;
 Mal-estar geral;  Prisão de ventre ou diarreia;
 Falta de apetite;  Tosse seca.
 Retardamento do ritmo cardíaco;

Complicações

A hemorragia intestinal, principal complicação da Febre Tifoide, pode levar,


inclusive à perfuração intestinal, o que requer maior cuidado médico.

Qualquer órgão pode ser afetado pela Febre Tifoide, quando a doença evolui com
bacteremia e outras complicações menos frequentes são:

 Retenção urinária;
 Pneumonia;
 Colecistite.

Nas crianças, a doença costuma ser menos grave do que nos adultos, sendo
acompanhada frequentemente de diarreia. Embora seja uma doença aguda, a febre
tifoide evolui gradualmente e a pessoa afetada, muitas vezes, é medicada com
antimicrobianos, simplesmente por estar apresentando uma febre de etiologia não
conhecida. Dessa forma, o quadro clínico fica mascarado e a doença deixa de ser
diagnosticada precocemente.

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Diagnóstico

O diagnóstico da Febre Tifoide é feito por cultura do microrganismo causador


na configuração de uma doença clínica compatível. A Febre Tifoide deve ser
considerada em um paciente que retorna após viagem para uma área endêmica que se
apresenta com quadro de dor abdominal, febre e calafrios. Além disso, casos autóctones
ou surtos podem ocorrer devido à transmissão através de portadores crônicos. Testes
sorológicos são de utilidade clínica limitada. O diagnóstico de Febre Tifoide é muitas
vezes baseado em manifestações clínicas isoladamente.

O diagnóstico da Febre Tifoide é feito com base na avaliação clínica do


paciente, histórico de onde esteve e o que consumiu, nos hábitos de higiene e se vive em
regiões com pouco saneamento básico ou não.

Com base nos sintomas tradicionais, que podem se confundir com os de outras
doenças, como infecções por Salmonellaentérica sorotipo Paratyphi ou doenças que
apresentam febre prolongada (pneumonias, tuberculose, meningite, doença de
chagas, malária, toxoplasmose, esquistossomose, entre outras), o médico pode solicitar
exames específicos para diagnosticar a doença, como, por exemplo:

 Exame de sangue
 Exame de fezes
 Exames de urina
 Aspirado / Punção Medular (técnica mais eficaz)

Transmissão

A transmissão da Febre Tifoide pode ocorrer de duas maneiras principais:

 Pela forma direta: contato com as mãos do doente ou portador;


 Pela forma indireta: ingestão de água ou de alimentos contaminados com
fezes ou urina.

A contaminação de alimentos geralmente acontece pela manipulação por


portadores ou pacientes oligossintomáticos (com manifestações clínicas discretas), que
não são afastados das atividades de preparo dos alimentos. Legumes irrigados com água
contaminada, frutos do mar (crustáceos e moluscos) retirados de água poluída e
consumidos mal cozidos ou crus, leite e derivados não pasteurizados, produtos
congelados e enlatados também podem veicular salmonelas.

O indivíduo infectado elimina a bactéria nas fezes e na urina, independentemente


de apresentar os sintomas da doença. O tempo de eliminação da bactéria varia de uma a
três semanas, podendo chegar a três meses. Entre 2 a 5% dos pacientes transformam-se
em portadores crônicos da Febre Tifoide e podem transmitir a doença por até um ano.

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Tratamento

Assim que tiver o diagnóstico da Febre Tifoide, o tratamento deve ser iniciado o
mais rapidamente possível, de acordo com as prescrições e orientações médicas, que
seguirão conforme cada caso.

No entanto, normalmente o paciente é tratado em nível ambulatorial,


basicamente com uso de antibióticos específicos e reidratação. Em raras exceções, o
caso pode ser mais grave e ser necessária uma internação.

O tratamento dura, via de regra, em torno de 14 dias, mas o período pode ser
maior ou menor, conforme a gravidade da doença. Além disso, é possível que com o
uso dos antibióticos, que são bastante fortes, a pessoa apresente sintomas de intolerância
gastrointestinal.

O repouso e a hidratação constante são fundamentais e essenciais para a boa


recuperação da Febre Tifoide. É importante que as pessoas em tratamento lavem bem as
mãos com água e sabão depois de usar o banheiro e evitem preparar ou servir alimentos
para outras pessoas, a fim de diminuir a chance de transmitir a infecção para outras
pessoas. Pacientes com litíase biliar ou anomalias biliares, que não respondem ao
tratamento com antibióticos, devem ser colecistectomizados.

Prevenção

O saneamento básico, o preparo adequado dos alimentos e a higiene pessoal são


as principais medidas de prevenção da Febre Tifoide. A vacina atualmente disponível
não possui um alto poder imunogênico e a imunidade é de curta duração, sendo indicada
apenas em situações específicas, como para recrutas em missão em países endêmicos ou
pessoas sujeitas a exposições excepcionais, como trabalhadores que entram em contato
com esgotos, ou pessoas que vivem em áreas de alta endemicidade.

O Regulamento Sanitário Internacional da Organização Mundial da Saúde não


recomenda a vacinação contra a febre tifoide para viajantes internacionais que se
deslocam para países onde estejam ocorrendo casos da doença. Em se tratando de
alimentos, observar os seguintes aspectos:

 Consuma água tratada.


 Selecione alimentos frescos com boa aparência e, antes do consumo, esses
alimentos devem ser lavados e desinfetados.
 Para desinfecção, os alimentos crus como frutas, legumes e verduras devem
ser mergulhados durante 30 minutos em uma solução preparada com 1 colher
de sopa de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água tratada.
 Consuma leite e derivados pasteurizados.
 Não utilize alimentos depois da data de vencimento.
 Lave as mãos regularmente antes, durante e após a preparação dos alimentos,
ao manusear objetos sujos, depois de tocar em animais, depois de ir ao
banheiro, após a troca de fraldas e antes da amamentação.
 Lave e desinfete todas as superfícies, utensílios e equipamentos usados na
preparação de alimentos.

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MICROBIOLOGIA

A S. entérica sorotipo Typhimurium tem 90% dos genes compartilhados. Outras


salmonelas que podem provocar uma síndrome clínica semelhante incluem, mas não estão
limitados a:

 Salmonella paratyphi A;
 Salmonella paratyphi B;
 Salmonella paratyphi C;
 Salmonella choleraesuis.

Fisiopatologia

Os microrganismos do gênero da S. Typhi são ingeridos e sobrevivem à exposição ao


ácido gástrico antes de obter acesso para o intestino delgado, onde penetram o epitélio e
invadem o tecido linfoide e se proliferam nas placas de Peyer e progridem através do sistema
linfático ou via hematogênica. No início do quadro, observa-se uma hipertrofia importante das
placas de Peyer, onde se observam macrófagos grandes com citoplasma vacuolizado. Cortes
tratados com corantes específicos revelam salmonelas no interior destes macrófagos. Com a
evolução do quadro, as placas de Peyer se tornam tão hipertrofiadas que se insinuam para a luz
intestinal, o que pode levar à isquemia da mucosa, provocando ulcerações e fazendo com que o
germe se estenda aos linfonodos mesentéricos.

A S. typhi causa hipertrofia de placas de Peyer através do recrutamento de células


mononucleares e linfócitos. Hipertrofia e posterior necrose dos tecidos submucosos são,
provavelmente, responsáveis por dor abdominal e posterior perfuração ileal, uma complicação
potencialmente fatal. A hipertrofia linfoide destes pacientes justifica a presença de
hepatoesplenomagalia encontrada nestes pacientes.

Pacientes com Febre Tifoide podem desenvolver bacteremia "secundária" com outros
organismos devido a quebras microscópicas ou macroscópicas na barreira mucosa intestinal. A
S. typhi causa a doença apenas nos seres humanos; não tendo reservatório animal conhecido,
portanto, a infecção implica em contato direto individual através de alimentos ou água
contaminados.

Algumas características patológicas da infecção incluem:


 Os genes phoP / phoQ, que modulam a ativação da transcrição de proteínas bacterianas
dentro de macrófagos, são importantes para a virulência total; eliminação destes genes
diminui a virulência da infecção.
 Análise do proteoma de S. typhi mostra que algumas proteínas podem aumentar a
virulência da infecção.
 Deleção de genes que facilitam a colonização dos tecidos profundos modulam os níveis
da adenilato-ciclase, ou codificam a síntese de nutrientes essenciais, tais como purinas
ou aminoácidos aromáticos.

As salmoneloses não tifoides também podem causar doença grave consistente com
febre entérica, em um estudo na África representaram 7% das amostras isoladas. A patogênese
da febre entérica depende de um número de fatores, incluindo as espécies que infectam e dose
infecciosa. Os organismos ingeridos podem sobreviver à exposição ao ácido gástrico antes de
obter acesso para o intestino delgado, onde penetram o epitélio, progridem pelo tecido linfoide,
através do sistema linfático ou via hematogênica, portanto uma fisiopatologia semelhante a da
Febre Tifoide. Um estado de portador crônico é estabelecido em cerca de 1 a 5% dos casos.

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CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E EPIDEMIOLÓGICAS

Agente Etiológico

A Salmonella typhi, bactéria gram-negativa da família Enterobacteriaceae. O


tempo de sobrevida deste agente varia de acordo com o meio em que se encontra, e o
conhecimento desta informação é importante para o controle da doença.

Tempo de sobrevida do agente nos diferentes meios:

 Água – em condições ótimas, a sobrevida nunca ultrapassa 3 a 4 semanas.


Entretanto, varia consideravelmente com a temperatura (temperaturas mais
baixas levam a uma maior sobrevida), com a quantidade de oxigênio disponível
(as salmonelas sobrevivem melhor em meio rico em oxigênio) e com o material
orgânico (águas poluídas, mas não a ponto de consumir todo o oxigênio, são
melhores para a sobrevida do agente);
 Esgoto – em condições experimentais, quase 40 dias;
 Água do mar – não é um bom meio, sendo necessária uma altíssima
contaminação;
 Ostras, mariscos e outros moluscos – sobrevida demonstrada de até 4
semanas;
 Leite, creme e outros laticínios – constituem um excelente meio, chegando a
perdurar até por dois meses na manteiga, por exemplo;
 Carnes e enlatados – são raros os casos adquiridos através destes alimentos,
provavelmente porque o processo de preparo dos mesmos é suficiente para
eliminar a Salmonella. Mas, uma vez preparada a carne ou aberta a lata, a
sobrevida do agente é maior do que a vida útil destes alimentos.

Ostras e outros moluscos, assim como leite e derivados, são os principais


alimentos responsáveis pela transmissão da Febre Tifóide. Praticamente todos os
alimentos, quando manipulados por portadores, podem veicular a Salmonella typhi.

Classificação de Alguns Alimentos, segundo Risco de Contaminação pela


Salmonella typhi:

Alto risco – leite cru, moluscos, mexilhões, ostras, pescados crus, hortaliças,
legumes e frutas não lavadas.

Médio risco – alimentos intensamente manipulados logo após o cozimento ou


requentados e massas.

Baixo risco – alimentos cozidos ou assados que são consumidos imediatamente,


verduras fervidas e alimentos secos.

Período de Incubação

Frequentemente, de 1 a 3 semanas (em média, 2 semanas), a depender da dose


infectante.

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Período de Transmissibilidade

A transmissão ocorre enquanto os bacilos estiverem sendo eliminados nas fezes


ou urina, o que geralmente se dá desde a primeira semana da doença até o fim da
convalescença. Após essa fase o período varia, dependendo de cada situação. Sabe-se
que cerca de 10% dos pacientes continuam eliminando bacilos até 3 meses após o início
da doença e que 2% a 5% (geralmente mulheres adultas) transformam-se em portadores
crônicos após a cura, o que os torna de extrema importância por seu potencial de
disseminação da doença. Tanto entre os doentes quanto entre os portadores, a
eliminação da Salmonella typhi costuma ser intermitente.

Susceptibilidade e Imunidade

A susceptibilidade é geral e maior nos indivíduos com acloridria gástrica. A


imunidade adquirida após a infecção ou vacinação não é definitiva.

Diagnóstico Laboratorial

Baseiam-se, primordialmente, no isolamento e identificação do agente etiológico,


nas diferentes fases clínicas, a partir do sangue (hemocultura), fezes (coprocultura),
aspirado medular (mielocultura) e urina (urocultura).

Hemocultura – apresenta maior positividade nas duas semanas iniciais da doença


(75% aproximadamente), devendo o sangue ser colhido, de preferência, antes que o
paciente tenha tomado antibiótico. Recomenda-se a coleta de 2 a 3 amostras, não
havendo necessidade de intervalos maiores que 30 minutos entre as mesmas.

Coprocultura – a pesquisa da Salmonella typhi nas fezes é indicada a partir da


segunda até a quinta semanas da doença, bem como no estágio de convalescença e
pesquisa de portadores. No estado de convalescença, é indicada a coleta de amostras do
material com intervalos de 24 horas. No caso de portadores assintomáticos,
particularmente aqueles envolvidos na manipulação de alimentos, recomenda-se a coleta
de 7 amostras sequenciadas.

Mielocultura – trata-se do exame mais sensível (90% de sensibilidade). Tem


também a vantagem de se apresentar positiva mesmo na vigência de antibioticoterapia
prévia. As desvantagens são o desconforto para o doente e a necessidade de pessoal
médico com treinamento específico para o procedimento de punção lombar.

Urocultura – tem valor diagnóstico limitado e a positividade máxima ocorre na


terceira semana de doença.

Efeitos colaterais – há possibilidade de toxicidade medular que pode se


manifestar sob a forma de anemia (dose-dependente) ou mesmo anemia aplástica
(reação idiossincrásica) – a qual, felizmente, é rara.

Quanto à resistência da Salmonella typhi ao cloranfenicol, apesar de amplamente


discutida na literatura, não parece ser problema no Brasil até o momento. Os insucessos
terapêuticos não devem ser atribuídos à resistência bacteriana, sem comprovação
laboratorial e sem antes afastar outras causas.

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Drogas de segunda escolha

 Ampicilina – dose

Adultos: 1 mil a 1.500 mg/dose, via oral, em 4 tomadas (6/6 horas) até a
dose máxima de 6 g/dia.

Crianças: 100 mg/kg/dia, via oral, dividida em 4 tomadas (6/6 horas).

A administração oral é preferível à parenteral. A duração do tratamento é de


14 dias.

 Sulfametoxazol + trimetoprima – dose

Adultos: 800 a 1.600 mg de sulfametoxazol/trimetoprima, via oral, dividida


em 2 tomadas (12/12 horas).

Crianças: 30 a 50 mg/kg/dia de sulfametoxazol/trimetoprima, por via oral,


dividida em 2 tomadas (12/12 horas).

A duração do tratamento é de 14 dias.

 Amoxicilina–dose

Adultos: 3 g/dia, via oral, dividida em 3 tomadas (8/8 horas) até a dose
máxima de 4 g.

Crianças: 100 mg/kg/dia, via oral, dividida em 3 tomadas (8/8 horas).

A duração do tratamento é de 14 dias. Com o uso deste antimicrobiano, pode


haver maior freqüência de intolerância gastrointestinal.

 Quinolonas – há pelo menos duas quinolonas com eficácia comprovada contra a


Salmonella typhi: a ciprofloxacina e a ofloxacina. São drogas pouco tóxicas, mas
têm como principal desvantagem a contra-indicação para uso em crianças e
gestantes e, como fator limitante, o preço elevado. Em nosso país, estão
particularmente indicadas para casos comprovados de resistência bacteriana aos
antimicrobianos tradicionalmente utilizados. Provavelmente são as melhores
opções para os portadores de HIV ou aids.

Ciprofloxacina – dose: 500mg/dose, via oral, em duas tomadas (12/12 horas) durante
10 dias. Caso não seja possível a via oral, utilizar a endovenosa na dose de 200mg, de
12/12 horas.

Ofloxacina – dose: 400mg/dose, via oral, em duas tomadas (12/12 horas) ou 200 a
400mg/dose, via oral, em 3 tomadas (8/8 horas).

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A duração do tratamento é de 10 a 14 dias.

 Ceftriaxona – trata-se de uma droga com boa atividade contra a Salmonella


typhi, constituindo-se em outra alternativa ao tratamento.

 Os pacientes devem receber adequado tratamento de suporte. Atentar para o


aparecimento de complicações graves como hemorragia e perfuração intestinal,
pois, para a última, a indicação cirúrgica é imediata.

 Tratamento específico para o estado de portador – ampicilina ou amoxicilina


nas mesmas doses e frequência para tratamento do caso clínico.

Sete dias após o término do tratamento, iniciar a coleta de três coproculturas, com
intervalo de 30 dias entre cada uma. Caso uma delas seja positiva, essa série pode ser
suspensa e o indivíduo deve ser novamente tratado, de preferência com quinolona
(ciprofloxacina, 500 mg, via oral, de 12/12 horas durante 4 semanas) e esclarecido
quanto ao risco que representa para os seus comunicantes íntimos e para a comunidade
em geral. O tempo ideal de tratamento para portadores crônicos ainda não está bem
definido. Pacientes com litíase biliar ou anomalias biliares, que não respondem ao
tratamento com antimicrobianos, devem ser colecistectomizados.

Na salmonelose septicêmica prolongada, as salmonelas têm nos helmintos um


local favorável para sua proliferação. De modo geral, o tratamento
antiesquistossomótico, ao erradicar a helmintíase, faz cessar a septicemia e promove a
cura da salmonelose.

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VACINAÇÃO
A vacina contra a febre tifoide previne entre 40% e 90% dos casos nos dois anos
seguintes à vacinação. A vacina mantém alguma eficácia ao longo de sete anos. Está
recomendada para pessoas em grupos de risco ou viajantes para destinos em que a
doença é comum. Entre outras medidas de prevenção estão o consumo exclusivo de
água potável, boas condições de saneamento e a lavagem das mãos. Até ser confirmada
a eliminação da doença, a pessoa infetada não deve preparar alimentos para outras
pessoas. O tratamento consiste em antibióticos como a azitromicina, fluoroquinolonas
ou cefalosporinas de terceira geração.

A resistência antibiótica a estes medicamentos tem vindo a aumentar, o que


dificulta o tratamento da doença. Sem tratamento, o risco de morte pode atingir os 20%.
Com tratamento, é de apenas 1–4%.

Em 2015 registaram-se 12,5 milhões de casos de febre tifoide em todo o mundo.


A doença é mais comum na Índia. As crianças são o grupo etário mais afetado. No
mesmo ano, a doença foi responsável por cerca de 149 000 mortes, uma diminuição em
relação às 181 000 em 1990 (cerca de 0,3% do total mundial). Desde a década de 1940
que a doença tem vindo a diminuir nos países desenvolvidos como resultado da
melhoria das condições de saneamento e do tratamento com antibióticos.

O paciente pode desenvolver choque séptico ou um nível alterado de


consciência, que é denominado por alguns autores de “estado tífico”. Na ausência de
complicações agudas ou morte por sepse, os sintomas gradualmente se resolvem ao
longo de semanas a meses, com a grande maioria dos casos se resolvendo em 4
semanas. Cerca de 10-15% dos pacientes podem ter recidiva dos sintomas, em particular
da febre após a quarta semana de sintomas; outro sintoma que pode ocorrer é
meningoencefalite.

Perfuração intestinal geralmente ocorre com mais frequência entre os adultos


do que entre as crianças e está associada com altas taxas de mortalidade. Embora a
cefaleia seja um sintoma relatado em cerca de 65% dos casos, foram observadas outras
manifestações neurológicas, incluindo alterações do padrão do sono, psicose aguda,
mielite e rigidez de nuca, mas são incomuns. Pacientes com Febre Tifoide severa podem
desenvolver um quadro de encefalopatia pela tifoide. Tosse não é rara e tem sido
observada em aproximadamente 20 a 45%; artralgias e mialgias ocorrem em cerca de
20% dos pacientes. Manifestações extraintestinais focais incluindo o envolvimento
hepatobiliar, cardiovascular, respiratório, genito-urinário, músculo-esquelético e
nervoso central têm sido descritos como uma complicação da disseminação
hematogênica da S. typhi, mas são relativamente raros.

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Deve-se:

Filtrar e ferver (por 5 minutos) a água (e aguardar 30 minutos antes de consumir); ou


Filtrar e desinfetar a água com o uso do hipoclorito de sódio a 2,5% (2 gotas para cada 1
litro de água).

Viajantes

 Orientar viajantes a consumir água e gelo apenas de procedência conhecida.


 Caso tenham dúvidas, clorar a água com hipoclorito de sódio 2,5% (duas gotas
de hipoclorito para cada litro de água);
 Escolher alimentos seguros, verificando prazo de validade, acondicionamento e
suas condições físicas (aparência, consistência, cheiro, dentre outros);
 Evitar rios e lagos.
 Evitar o consumo de alimentos crus, mal cozidos/assados (hortaliças, ovos,
carnes, dentre outros); evitar o contato entre alimentos crus e cozidos;
 Evitar comer alimentos prontos para o consumo deixados à temperatura
ambiente por várias horas;
 Reaquecer bem os alimentos que tenham sido congelados ou refrigerados antes
de consumí-los;
 Manter os alimentos fora do alcance de insetos, roedores e outros animais;
 Evitar o consumo de alimentos vendidos por ambulantes ou de procedência
duvidosa e observar as informações contidas nos rótulos dos alimentos;
 Lavar as mãos com frequência e, em situações de risco, utilizar água mineral
para ingestão e higiene oral;
 Não tomar banho/nadar em rios, lagos, piscinas com água contaminada;
 Evitar praias poluídas.
 Armazenar adequadamente os alimentos cozidos que serão consumidos mais
tarde;

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EXAMES LABORATORIAIS
Os pacientes com Febre Tifoide geralmente têm anemia, mas devido à
desidratação pode ocorrer hemoconcentração e em relação aos leucócitos podem
apresentar tanto leucopenia como leucocitose; a leucopenia com desvio à esquerda
normalmente é vista em adultos, enquanto leucocitose é mais comum em crianças.

Se observada na terceira semana de doença, leucocitose deve levar a suspeita


de perfuração intestinal. Alterações de exames hepáticos são frequentes e incluem
elevação de enzimas hepáticas, usualmente em níveis menores que cinco vezes o limite
da normalidade, mas ocasionalmente elevações maiores com aumento de bilirrubinas
podem sugerir quadros de hepatites agudas virais, alterações de função hepática com
alteração de INR e albumina podem ocorrer. A análise do líquido cefalorraquidiano
geralmente é normal ou revela uma pleocitose leve com < 35 células / mm 3, mesmo em
pacientes com sintomas neuropsiquiátricos. Alterações de função renal são frequentes,
mas em geral associadas à desidratação e posterior necrose tubular aguda.

As hemoculturas são positivas em 40 a 80% dos pacientes, com a sensibilidade


sendo de 80% na primeira semana. As hemoculturas podem necessitar de vários dias de
incubação. O diagnóstico pode também ser efetuado por cultura de fezes, urina ou
conteúdo duodenal. A cultura de fezes é positiva em até 30 a 40% dos casos, podendo
permanecer positiva até 5 semanas após o diagnóstico, mas é muitas vezes negativa no
momento em que os sintomas sistêmicos trazem pacientes para atendimento médico.
Cultura de medula óssea é relativamente sensível, mas considerada um procedimento
relativamente invasivo. Isto pode ser particularmente importante em casos complicados
ou quando a terapia antimicrobiana já foi iniciada e o diagnóstico permanece incerto.
Culturas de medula óssea podem ser positivas em até 50% dos pacientes após até 5 de
antibióticos.

Testes sorológicos, como o teste de Widal, são de utilidade clínica limitada em


áreas endêmicas porque os resultados positivos podem representar infecção anterior. O
teste de Widal é um teste de hemaglutinação, que detecta anticorpos anti-O. Quando as
amostras de fase aguda após 4 semanas são estudadas, um aumento de quatro vezes ou
maior é considerado positivo. Os resultados positivos foram relatados em 46-94% dos
casos. Os exames sorológicos mais recentes utilizando o ensaio imunoabsorvente ligado
à enzima (ELISA) têm uma alta sensibilidade, que se aproxima de 100%, mas a
especificidade é menor. Um novo exame ELISA dirigido para anticorpos contra o
antígeno polissacárideo capsular Vi é útil para a detecção de portadores, mas não para o
diagnóstico de doença aguda.

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Atualmente as medicações recomendadas para o tratamento em adultos
incluem:

xiprofloxacina (500 mg duas vezes por dia) ou ofloxacina (400 mg duas vezes
por dia), quer por via oral ou parenteral durante 7 a 10 dias. As fluoroquinolonas não
devem ser usadas como um tratamento de primeira linha para a Febre Tifoide em
pacientes do Sul da Ásia ou outras regiões com altas taxas de resistência
fluoroquinolona.

 Ceftriaxona 2g uma vez por dia ou cefixima 20 mg / kg por dia por via oral em
duas doses divididas durante 7 a 14 dias.
 Azitromicina 1g por via oral uma vez seguida de 500mg uma vez ao dia durante
5 a 7 dias, ou de 1g por via oral uma vez ao dia durante 5 dias.
 Cloranfenicol 2 a 3g por dia por via oral em quatro doses divididas durante 14
dias.

As quinolonas são, portanto, consideradas a medicação de escolha para o


tratamento destes pacientes. A ciprofloxacina e a ofloxacina estão amplamente
disponíveis e são eficazes.

A norfloxacina é muito pouco absorvida e não deve ser usada. O tratamento de


organismos totalmente susceptíveis, as quinolonas, pode resultar em defervescência
mais rápida do que os agentes beta-lactâmicos ou cloranfenicol, por causa da eliminação
mais rápido de bactérias intracelulares.

A azitromicina é capaz de alcançar excelentes concentrações intracelulares, e


seu uso para o tratamento da Febre Tifoide tem aumentado como resultado do aumento
da resistência à fluoroquinolona.

Em crianças é recomendado que o tratamento seja por pelo menos 10 dias, pois
estudos com 7 dias de tratamento tiveram pior performance terapêutica.

Em pacientes graves pode se considerar o uso de corticoesteroides em


pacientes com doença grave definida pela presença de alterações significativas do nível
de consciência ou hipotensão, em dose de 1mg/Kg de prednisona.

Pacientes com perfuração ileal apresentam-se com aumento da dor abdominal,


distensão, peritonite e bacteremia por vezes secundária com microrganismos aeróbios e
anaeróbios entéricos. Intervenção cirúrgica imediata é geralmente indicada, assim como
ampliação da cobertura antimicrobiana para cobrir peritonite fecal. A extensão da
intervenção cirúrgica ainda é controversa; o melhor procedimento cirúrgico parece ser a
ressecção segmentar do intestino envolvido, quando possível.

Recidiva de Febre Tifoide após a cura clínica pode ocorrer em indivíduos


imunocompetentes; em tais casos, ocorrem tipicamente duas a três semanas após a
resolução da febre, o tratamento das infecções com quinolonas é menos associado a
recidivas, quando comparado a outras medicações.

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CONCLUSÃO

Apesar de ser uma doença de escala pandemica exclusiva em seres humanos, a


febre tifoide continua vitimando enumeras pessoas a nivél mundial.

A doença está diretamente associada a baixos níveis socioeconômicos,


principalmente em regiões com precárias condições de saneamento básico, higiene
pessoal e ambiental. É importante reforçar que embora exista uma vacina como meio de
tratamento ou prevenção e extremamente necessário observar as medidas estabelecidas
pela OMS (Organização Mundial de Saúde).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

1-Wain J et al. Typhoid fever. The lancet 2015; 385: 1136-1145.

2- Parry CM, Hien TT, Dougan G, et al. Typhoid fever. N Engl J Med 2002; 347:1770.

3- Lynch MF, Blanton EM, Bulens S, et al. Typhoid fever in the United States, 1999-
2006. JAMA 2009; 302:859.

ARAGUAIA, Mariana. "Febre Tifoide"; Brasil Escola. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/doencas/febre-tifoide.htm. Acesso em 25 de outubro de
2022.

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