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1.

INTRODUÇÃO

O prolapso uterino, uma condição ginecológica debilitante e muitas vezes


subestimada, emerge como um ponto focal crucial na saúde da mulher. Esta introdução
visa contextualizar e justificar a abordagem abrangente que será empreendida para
compreender os diversos aspectos dessa condição.

Ao explorar as causas, factores de risco, classificação, tipos, diagnóstico,


tratamento, complicações e sinais e sintomas associados ao prolapso uterino, buscamos
não apenas ampliar o conhecimento sobre esta condição, mas também destacar sua
relevância no cenário da saúde feminina contemporânea.

Prolapso uterino é uma condição que pode causar apreensão, portanto, precisa
ser bem conhecida e compreendida. É uma dentre tantas alterações que podem afetar a
aparelho genital da mulher, chegando a interferir na função sexual, na possibilidade de
gravidez (em casos mais graves) e na qualidade de vida.

O útero tem relação com a menstruação e tem papel importantíssimo nas funções
reprodutivas, sendo o órgão responsável por sustentar e proteger o feto na gravidez. Sua
formação anatômica e histológica, bem como a posição do útero na cavidade pélvica, é
fundamental para seu funcionamento adequado.

Portanto, o prolapso uterino resulta do enfraquecimento dos músculos e dos


ligamentos que sustentam o útero na cavidade pélvica. Em graus iniciais pode não
causar muito incômodo, mas, em casos de maior deslocamento, os sintomas incluem:
dor, sensação de pressão e de haver uma saliência dentro da vagina, dor lombar,
dificuldade na penetração sexual e alterações urinárias.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O prolapso de órgãos pélvicos afecta milhões de mulheres, porém a prevalência


exacta é difícil de determinar, por diferença quanto à definição e por muitas mulheres
apresentarem o POP, mas serem assintomáticas, o que varia a procura por atendimento
médico.

Nos EUA, a prevalência de mulheres com prolapso sintomático é em torno de


2,9 a 5,7% da população; ou seja, considerando as mulheres nas quais essa condição é
assintomática, a prevalência torna-se bem maior. Apesar disso, a prevalência de POP
aumenta conforme o avanço da idade.

Prolapso uterino é um deslocamento do útero para dentro da vagina. Ocorre


quando os ligamentos que mantem o útero no lugar esticaram muito e estão debilitados.
É mais comum em mulheres pós-menopausa que tiveram múltiplos partos vaginais.

Factores de risco para prolapso uterino incluem a gravidez, parto normal, pressão intra-
abdominal elevada, como o levantamento, tosse ou esforço, tecido conjuntivo
condições, e danos ou fraqueza dos músculos.

O útero é um órgão oco, com formato semelhante ao de uma pera invertida e que
mede entre 6 e 10 cm em estado não gravídico. Existem variações de tamanho, de
acordo com a idade e a actividade reprodutora da mulher.

Anatomicamente, o órgão é dividido em colo uterino ou cérvices, istmo e corpo


do útero. Quanto à sua formação histológica, são três camadas de tecidos que
constituem a parede uterina: superfície serosa, miométrio e endométrio.

Em sua posição normal, o útero está localizado na pelve, atrás da bexiga urinária
e anteriormente ao recto, sendo sustentado na cavidade pélvica pelos ligamentos largos.
Além disso, recebe as duas tubas uterinas nas laterais de sua porção superior e, na parte
inferior, liga-se à vagina.

Todas essas características são importantes para que o órgão possa cumprir
adequadamente suas funções na reprodução.

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3. CLASSIFICAÇÃO

O sistema de quantificação do prolapso de órgãos pélvicos (POPQ) surgiu em


1996 e tornou-se padrão para classificação. Trata-se de um sistema objectivo,
envolvendo a medição de vários pontos representando o prolapso vaginal anterior,
apical e posterior.

Durante muitos anos, os POP foram descritos e a sua gravidade graduada,


utilizando o sistema de Baden-Walker.

A posição mais baixa dos órgãos pélvicos durante o esforço abdominal ou em


ortostatismo (posição de pé) era utilizada para a classificar como:

 Grau 0 - Normal;
 Grau 1 - Prolapso até metade da distância da vagina;
 Grau 2 - Prolapso até ao nível do hímen;
 Grau 3 - Prolapso que ultrapassa hímen;
 Grau 4 - Prolapso máximo de todas as estruturas.
Esta classificação, embora bastante popular e fácil de utilizar, está progressivamente
a ser substituída pelo sistema POP-Q (Q de quantitativo), mais complexo mais preciso e
pormenorizado na descrição dos prolapsos.

3.1 CAUSAS

A causa mais comum do prolapso uterino é o enfraquecimento muscular da pelve


devido ao envelhecimento. No entanto, outras causas que contribuem para a ocorrência
do prolapso podem ser:

 Partos múltiplos;
 Menopausa devido a redução do hormônio estrogênio.
 Sequelas de infecções anteriores na região da pelve;
 Obesidade;
 Levantamento excessivo de pesos;

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Além destas causas, tosse cronica, constipação intestinal, tumores pélvicos, acumulo
de líquido no abdome, causam aumento da pressão no abdômen e na pelve e, por isso
também podem causar o prolapso uterino.

4. TIPOS

Existem vários tipos de prolapsos uterinos, que podem envolver uma ou mais
estruturas, sendo elas:

 Cistocele: prolapso da bexiga, envolve os órgãos da parede frontal da vagina

 Ureterocele: prolapso da uretra, envolve os órgãos da parede frontal da vagina

 Retocele: prolapso de recto, envolve os órgãos da parede posterior da vagina

 Enterocele: prolapso do intestino delgado, também envolve os os órgãos da


parede posterior da vagina.

Todos os tipos de prolapso uterino podem surgir em diferentes graus, do mais leve
ao mais grave. O exame clínico e, se necessário, de imagem, podem diferenciar qual o
órgão mais acometido e graduar o prolapso.

4.1 SINAIS

Os principais sintomas do prolapso uterino são:

 Sensação de peso na pelve e na vagina


 Sensação de ter algo para fora
 Pressão na região da pelve
 Incontinência urinária
 Incontinência urinária ou fecal
 Prisão de ventre
 Dor ou incómodo durante a relação sexual

4.2 SINTOMAS
O prolapso uterino leve é comum após o parto. Geralmente não causa sintomas. Os
sintomas de prolapso uterino moderado a grave incluem:

 Ver ou sentir um pedaço de tecido saindo da vagina


 Sensação de peso ou puxão na pélvis
 Sentir que sua bexiga não está esvaziando completamente quando você vai ao
banheiro
 Problemas com perda de urina, também conhecida como incontinência

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 Sensação de sentar em uma bolinha
 Sensação de tecido vaginal esfregando na roupa
 Pressão ou desconforto na pélvis ou na parte inferior das costas
 Preocupações sexuais, como sentir que o tecido vaginal está solto
5. DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de prolapso uterino é feito através de um exame ginecológico


específico. Muitas vezes é preciso fazer exames para avaliar a função da bexiga e dos
nervos da pelve, como teste urodinâmico e avaliação neurológica.

A inspecção deve ser feita com a paciente em litotomia – posição ginecológica -,


inicialmente relaxada e posteriormente à manobra de Valsalva, para visualização do
grau máximo de prolapso. Para pacientes com prolapso que ultrapassam o hímen, as
paredes vaginais devem ser inspeccionadas à procura de possíveis ulcerações.

5.1 EXAMES

O exame especular garante que as estruturas estejam artificialmente suspensas.


Deve-se utilizar o espéculo bivalve e inseri-lo até o ápice vaginal, depois é retirado
lentamente, para permitir avaliação da descida do ápice.

Para examinar as paredes vaginais anterior e posterior, utiliza-se o afastador


vaginal Sims (espéculo com uma única lâmina). A parede anterior é avaliada inserindo o
afastador na parede posterior, com uma leve pressão; por outro lado, para avaliar a
parede posterior, insere-se o afastador na parede anterior.

O exame bimanual deve ser realizado como de costume no exame ginecológico


para avaliar anormalidades pélvicas também existentes.

O exame retovaginal é realizado para diagnosticar uma enterocele, diferenciar


uma retocele alta de uma enterocele, avaliar a integridade do corpo perineal e detectar o
prolapso retal. Para isso, posicionar o dedo indicador 1 a 3cm para dentro do hímen e
avaliar o tônus e a força muscular em repouso e na contração.

5.2 AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA

A avaliação neurológica da vulva e períneo é feita para identificar possível


doença neurológica. A avaliação sensorial dos dermátomos lombossacrais é feita através

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do toque de um cotonete. Alguns reflexos lombossacrais também são realizados, como o
reflexo do bulbocavernoso e anocutâneo.

6. TRATAMENTO

O tratamento para o prolapso uterino é indicado de acordo com o grau da


descida do útero. A terapia hormonal e a fisioterapia específica podem ajudar a aliviar
os sintomas, além do uso de pessários vaginais, dispositivos de silicone são colocados
na vagina e servem de apoio para os órgãos prolapsados.

Nesse contexto, o tratamento cirúrgico envolve a cirurgia obliterativa e a


reconstrutiva. As abordagens obliterativas incluem a colpocleise de Lefort e a
colpocleise completa. Ambas consistem em remoção do epitélio vaginal, sutura das
paredes vaginais anterior e posterior, obliteração da cúpula vaginal e fechamento
efectivo da vagina. Esses procedimentos são indicados apenas para pacientes idosas ou
clinicamente comprometidas, que não tenham desejo de actividade sexual futura.

Já os procedimentos reconstrutivos têm o objectivo de restaurar a anatomia e são


realizados com maior frequência. Podem ser feitos por via vaginal, abdominal e
minimamente invasiva.

A abordagem abdominal parece ser mais vantajosa em certos casos, como


abordagem vaginal anterior sem sucesso; vagina curta; e maior risco de recorrência.

Os procedimentos obliterativos são mais fáceis e rápidos, com maiores taxas de


sucesso em comparação aos reconstrutivos. O sucesso da cirurgia envolve a melhora
dos sintomas de abaulamento, assim como a recuperação anatómica. A taxa de
recorrência e reoperação estão em torno de 30 a 50% após cirurgia inicial.

6.2 TRATAMENTO CLÍNICO

O tratamento clínico é a primeira opção para todas as mulheres com POP


sintomático. Porém, por ser um problema crónico, muitas pacientes preferem a cirurgia,
já que esta última não requer manutenção contínua.

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O tratamento clínico inclui uso de pessário e exercício para a musculatura do
assoalho pélvico. Geralmente são a melhor alternativa para os prolapsos grau 1 e 2. O
pessário depende da capacidade da paciente de utilizá-lo correctamente.

7. FACTORES DE RISCO

O risco de desenvolvimento do prolapso dos órgãos pélvicos aumenta com a idade e


com condições que alteram a anatomia da pelve ou que aumentam a força intra-
abdominal, tais como:

 Constipação ou tosses crónicas

 Múltiplas gestações

 Obesidade

 Levantamento excessivo de peso ao longo da vida.

Quanto maior a idade, maior a probabilidade da falha de sustentação dos tecidos e


maiores as chances da ocorrência de prolapsos. Estima-se que mais da metade das
mulheres acima dos 80 anos tenha alguma desordem na sustentação da pelve.

Pessoas que apresentam problemas na formação do colágeno, substância que


ajuda na sustentação dos tecidos, também podem apresentar prolapso uterino.

7.1 PREVENÇÃO

Para reduzir o risco de prolapso uterino, tente fazer o seguinte:

 Evite constipação. Beba muitos líquidos e coma alimentos ricos em fibras,


como frutas, vegetais, feijões e grãos integrais.

 Evite levantar coisas pesadas. Se você tiver que levantar algo pesado, faça-o
correctamente. Para levantar algo correctamente, use as pernas em vez da cintura
ou das costas.

 Controle a tosse. Procure tratamento para tosse crônica ou bronquite. Não


fume.

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 Evite ganho de peso. Consulte o seu médico para saber qual é o seu peso ideal e
peça conselhos sobre formas de perder peso, se precisar.

8. COMPLICAÇÕES POSSÍVEIS

Mulheres com graus importantes de prolapso podem apresentar sintomas


compressivos a depender da parede vaginal acometida. Prolapsos severos de parede
vaginal anterior podem levar a sintomas urinários, como:

 Hesitação urinária
 Intermitência
 Sensação de esvaziamento vesical incompleto
 Retenção urinária (raramente).
Já o prolapso que afecta os órgãos da parede posterior podem causar sintomas
intestinais, como:

 Sensação de esvaziamento incompleto

 Obstipação intestinal

 Incontinência de urgência

 Necessidade de pressão digital para auxiliar na defecação.

O maior risco em casos muito graves é a obstrução com dilatação dos ureteres
levando a insuficiência renal.

8.1 CIRURGIA PARA PROLAPSO UTERINO

A cirurgia para prolapso uterino é segura e eficaz, sendo indicada quando a


recuperação não responde às outras formas de tratamento.

De acordo com a indicação do médico, a paciente pode

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 Reparar o útero: nestes casos o cirurgião repõe o útero no seu local, mantendo-
o dentro da vagina através de um aparelho chamado pessário e, procede à
colocação de próteses, chamadas redes, que mantém o o útero na sua posição;

 Retirada do útero: nesta cirurgia ocorre a retirada parcial ou total do útero e,


geralmente é feita em mulheres na menopausa, ou quando o prolapso é muito
grave. A histerectomia é eficaz na cura do prolapso uterino, porém poderá
desencadear menopausa imediata se os ovários também forem retirados.

9. PROLAPSO UTERINO NA GRAVIDEZ

O prolapso uterino na gravidez é muito raro e, pode ocorrer antes da gestação ou


durante a gravidez. Além disso, o prolapso do útero na gravidez pode levar a infecção
cervical, retenção urinária, aborto espontâneo e ao trabalho de parto prematuro. Por isso
deve-se seguir todas as orientações do obstetra para diminuir o risco de complicações.

9.1 CUIDADOS DE ENFERMAGEM

Em casos não cirúrgicos:

– Ensinar a higienização, banhos e redução do prolapso;

– Enfatizar a importância da reposição hormonal prescrita pelo médico, se for o caso;

– Estimular a fisioterapia com exercícios pélvicos, cones vaginais;

– Encorajar a paciente a expressar os sentimentos, especialmente sobre a maneira de ver


a si mesma, proporcionando melhora na auto-estima;

– Gerar oportunidades (formar grupos) para compartilhar experiência com outras


pessoas que tenham problema similar;

– Orientar quanto ao uso de pessários dando ênfase, ao retorno periódico ao serviço


médico. Quanto a esse uso ensinar a esvaziar a bexiga antes de inserir ou retirar o
pessário e ensinar uma posição confortável para retirá-lo ou introduzi-lo, normalmente
(pode ser deitada, em posição ginecológica, agachada ou em pé com uma das pernas
apoiada na cadeira, no banquinho ou no vaso sanitário). Para a introdução dobra-lo após
ter sido lubrificado com solução aquosa ou pelo espermicida gel; com uma mão abrir a
vagina e com a outra introduzir o pessário com movimentos delicados (ele deve ficar

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abaixo do colo cervical e atrás do osso púbico). Quando colocado em posição correta
ele deve ficar indolor e confortável. Para remove-lo introduzir os dois dedos dentro da
vagina, prendendo-o em garra e, delicadamente, girando e puxando para baixo até tirá-
lo. Orientar para lavar o pessário com água e sabão, enxaguando-o bem.

CONCLUSÃO

Depois do trabalho feito podemos concluir que o prolapso uterino é a descida


do útero para o interior da vagina causada pelo enfraquecimento dos músculos que
mantém os órgãos dentro da pelve na posição correta.

Os órgãos exteriorizados podem ser: a bexiga na face anterior da vagina


(cistocelo), útero (prolapso uterino) ou o recto, quer com exteriorização através do canal
anal (prolapso rectal) quer empurrando a parede posterior da vagina (rectocelo).

Apesar de ser mais comum em mulheres idosas, esta alteração também


pode ocorrer antes da menopausa ou durante a gravidez. O tratamento do prolapso
uterino poderá ser feito com exercícios para fortalecer os músculos pélvicos chamados
exercícios de Kegel.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

1. Candoso, Bercina et al. Prolapso dos Órgãos Pélvicos. Maternidade Júlio Dinis,
Porto, p. 1-10, 2010.

2. Hoffman, Schorge, Schaffer, Halvorson, Bradshaw, e Cunningham. Ginecologia de


Williams. 2a edição. New York: Copyright, 2014.

3. Lima, Maria Inês de Miranda et al. Prolapso genital. Femina, 2012.

4. Mascarenhas, Teresa. Disfunções do pavimento pélvico: Incontinência urinária e


prolapso dos órgãos pélvicos. Manual de Ginecologia. Lisboa: Permanyer, v. 2, 2011.

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