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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


CURSO DE MEDICINA

Beatriz dos Santos Bezerra


Esther Patricia de Souza Borges
Mariana Talgati Terra
Morgana Paiva Borges

FEBRE TIFOIDE

DOURADOS-MS
2023
Beatriz dos Santos Bezerra
Esther Patricia de Souza Borges
Mariana Talgati Terra
Morgana Paiva Borges

FEBRE TIFOIDE

Relatório apresentado para as disciplinas de


Farmacologia e Toxicologia e Base das Doenças
Infecciosas com o objetivo de consolidar o
conhecimento adquirido com os seminários e
para obtenção de nota.

Professores: Dra. Candida Aparecida Leite


Kassuya e Dr. Fábio Juliano Negrão.

DOURADOS-MS
2023
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................................3
2. CARACTERÍSTICAS DO PATÓGENO............................................................................3
3. MECANISMO E FISIOPATOLOGIA................................................................................4
4. FASES DA DOENÇA........................................................................................................... 5
5. SINTOMATOLOGIA CLÁSSICA......................................................................................6
6. PORTADOR.......................................................................................................................... 6
7. DIAGNÓSTICO DOENTE E PORTADOR.......................................................................7
8. EPIDEMIOLOGIA...............................................................................................................7
9. TRANSMISSÃO................................................................................................................... 8
10. COMPLICAÇÕES..............................................................................................................8
11. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO............................................................................ 9
11.1. PORTADOR.................................................................................................................9
11.2. DOENTE....................................................................................................................10
12. OUTROS ANTIBACTERIANOS................................................................................... 10
13. PROFILAXIA....................................................................................................................11
14. CASO CLÍNICO............................................................................................................... 12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................14
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1. INTRODUÇÃO

A doença infecciosa conhecida como febre tifoide é uma moléstia cujo agente
etiológico é a bactéria Gram-negativa Salmonella enterica sorotipo typhi (Salmonella Typhi).
Tal bactéria é um bacilo não esporulado, móvel, com cerca de 2 a 5 μm de diâmetro. O tempo
de sobrevivência desse patógeno depende do meio ao qual ele está inserido. Por exemplo, em
condições ótimas, na água doce, a Salmonella Typhi encontra-se viva por até três a quatro
semanas. Tal doença possui distribuição cosmopolita, entretanto mais incidente em países
com menores índices de cobertura sanitária básica.
Os sintomas mais comuns da infecção por Salmonella typhi são febre alta, mal estar
geral, cefaleia, náuseas, vômitos, diarreia, anorexia, bradicardia relativa, esplenomegalia,
roséola tífica (exantema súbito) e tosse seca. Seu período de incubação compreende de sete a
vinte e um dias, acometimento agudo ou crônico, que pode evoluir para uma forma
autolimitada, para um período de convalescência, com portadores sintomáticos ou portadores
assintomáticos  ou morte.
A susceptibilidade para a infecção por Salmonella enterica sorotipo typhi é maior em
indivíduos que possuem acloridria gástrica, imunodeprimidos e idosos. Além disso, embora
haja vacina disponível, sua imunidade não é definitiva, fato que também ocorre com a
imunidade adquirida após a infecção.

2. CARACTERÍSTICAS DO PATÓGENO

A bactéria Salmonella enterica sorotipo typhi é um bacilo Gram-negativo, que é


flagelada, aeróbia, fermentadora de manitol e não fermentadora de glicose. Tal agente é
pertencente à família Enterobacteriaceae, cujos representantes também são bacilos
Gram-negativos, os quais podem apresentar formato reto ou discretamente curvado. O gênero
pertencente é o Salmonella, o qual caracteriza-se pela produção de sulfeto de hidrogênio
(H2S), por  possuir a enzima lisina descarboxilase, não produzir indol (composto orgânico
heterocíclico aromático, produzido por alguns representantes da família Enterobacteriaceae,
como a Klebsiella pneumoniae  e a Escherichia coli), triptofano-desaminase e urease.
Ademais, a estrutura antigênica da Salmonella enterica sorotipo typhi difere-se das
demais bactérias do gênero Salmonella por meio de técnicas de hibridização do DNA
bacteriano ou técnicas sorológicas. Dessa forma, esse patógeno possui alguns sorotipos de
interesse a esses métodos diagnósticos, para a diferenciação em S. typhi: o antígeno H possui
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morfologia flagelar, constituição proteica, sendo termolábil; O antígeno O é o antígeno


somático específico para a Salmonella enterica sorotipo typhi, cuja constituição é
glicolipídica, altamente tóxica, fato que a identifica como uma endotoxina do tipo O, além de
ser termoestável. O antígeno Vi é termolábil, encontrado na superfície bacteriana, recobrindo,
assim, o antígeno O, a fim de impedir a sua aglutinação. Dessa forma, cada antígeno induz a
produção de um anticorpo específico (anti-H, anti-O e anti-Vi), os quais são úteis no
diagnóstico sorológico da febre tifoide.
O tempo de sobrevida do bacilo causador da febre tifoide varia de acordo com o meio
ao qual está inserido. Assim, tais bactérias possuem preferencialmente maior sobrevivência
em ambientes com temperaturas mais baixas, com maior concentração de oxigênio disponível
(por serem aeróbicas) e com grande quantidade de matéria orgânica (mas não quantidades
superiores à disponibilidade de oxigênio). Dessa forma, em condições ótimas na água doce, a
S. typhi pode sobreviver entre três a quatro semanas. Além disso, em condições
experimentais, no esgoto, tal patógeno encontra-se viável até quarenta dias; em laticínios,
como a manteiga, a sobrevida pode chegar a dois meses.

3. MECANISMO E FISIOPATOLOGIA

A febre tifóide pode ser transmitida por duas formas de transmissão: direta, pelo
contato direto com as mãos do doente ou portador ou indireta, cuja infecção por Salmonella
enterica sorotipo typhi ocorre pela ingestão de alimentos - principalmente legumes, verduras,
frutos do mar e carnes crus ou mal-cozidos e leite e seus derivados, quando não pasteurizados 
- ou água contaminados com a bactéria, o que geralmente ocorre em lugares sem saneamento
básico, nos quais há a contaminação de hortaliças e mananciais hídricos com fezes humanas.
A transmissão também pode ocorrer por contato direto com fezes ou urina de indivíduos
contaminados ou por manipulação de alimentos por pessoas contaminadas (muitas vezes
portadoras assintomáticas).
Assim que ingeridas, as bactérias dirigem-se juntamente com o bolo alimentar pelo
esôfago, estômago e finalmente, intestino delgado, local em que se ligam aos enterócitos,
seguida de penetração da mucosa intestinal e invasão dos fagócitos mononucleares, presentes
nas Placas de Peyer e nos linfonodos mesentéricos. Com isso, esses bacilos atingem a corrente
linfática e ocorre, assim, a disseminação hematogênica do patógeno. Neste momento, ocorre
um período de incubação, que pode durar de sete a vinte e um dias, dependendo da dose
infectante adquirida pelo hospedeiro. Posterior a esse intervalo, com bacteremia significativa,
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há a infecção do sistema reticuloendotelial e a penetração das salmonelas nas células


histiocitárias. Nesta etapa, o indivíduo começa a apresentar sintomatologia inespecífica, como
febre e calafrios, atribuídos principalmente pela produção de pirogênios endógenos, como a
interleucina-1, pelos macrófagos infectados. Em torno de três semanas, as salmonelas
colonizam a vesícula biliar e há a disseminação dos patógenos via intestinal,e, com a chegada
ao intestino grosso, reto e ânus, o hospedeiro começa a transmitir a doença via fezes, além de
apresentar sintomatologia gastrointestinal, como náuseas, vômitos, diarreia ou constipação.
O período de transmissão perdura enquanto existirem S. typhi sendo eliminadas pelas
fezes ou urina. Isso geralmente perdura desde a segunda semana e se estende por todo o
período de convalescência. Após essa etapa, a transmissão ocorre por momentos esporádicos.
É de conhecimento científico que aproximadamente 10% dos doentes continuam a transmitir
esses bacilos por até três meses desde o início da moléstia.

4. FASES DA DOENÇA

As fases da doença são divididas em 4 períodos: período de incubação, de estado, de


declínio e de convalescença. O Período de Incubação (invasivo ou inicial) corresponde à
primeira semana de doença, manifestando sintomas inespecíficos como febre, calafrios,
cefaléia, astenia e tosse seca que aumentam de intensidade progressivamente, acarretando
febre alta, prostração e calafrios, mais constantes ao final da primeira semana. Pode estar
associado a mal-estar geral, astenia, anorexia e mialgia. Nessa fase, a hemocultura geralmente
é positiva.
Já o período de estado acontece na segunda semana da doença e ocorre intensificação
da sintomatologia anterior, especialmente a febre e as manifestações digestivas. A febre atinge
um platô e se faz acompanhar de astenia intensa, ou mesmo, torpor. O nível de consciência
pode se alterar, havendo delírios e indiferença ao ambiente. Na mucosa dos pilares anteriores
da boca, podem aparecer pequenas ulcerações (úlceras de Daguet), sendo essas de ocorrência
rara. Pode-se observar a presença de hepatoesplenomegalia, dor abdominal difusa ou
localizada em quadrante inferior direito, prostração, olhar inexpressivo (olhar tífico), ictérica,
hipotensão, desidratação e meteorismo. Poderá haver diarreia, sobretudo em crianças. Podem
surgir complicações, como enterorragia e perfuração intestinal.
O período de declínio ocorre nos casos de evolução favorável, podendo ser observado
durante e após a quarta semana de doença, uma melhora gradual dos sintomas e o
desaparecimento da febre. Entretanto, deve-se estar atento a complicações como trombose
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femoral, abscessos ósseos e recorrência da doença. Enquanto no período de convalescença, o


doente mostra-se emagrecido e extremamente fraco, adinâmico, podendo haver descamação
da pele e queda de cabelos.

5. SINTOMATOLOGIA CLÁSSICA

Os sintomas clássicos consistem em febre alta, dor abdominal, dor de cabeça,


mal-estar, inapetência, bradicardia relativa, hepatoesplenomegalia, manchas rosadas no
tronco, constipação intestinal, diarréia e tosse seca. Pode estar associado também a calafrios,
fraqueza e tontura. A febre é geralmente mais baixa na parte da manhã, atingindo um pico no
final da tarde ou à noite. Nas crianças, a doença costuma ser menos grave do que nos adultos,
acompanhada frequentemente de diarreia.

6. PORTADOR

As principais fontes de infecção são os portadores e os indivíduos doentes. O contágio


se dá por meio de excreções (fezes e urina) e, em algumas ocasiões, pelo vômito,
expectoração ou pus. Os portadores são os indivíduos que, após a infecção aguda, mantêm
eliminação de bacilos nas fezes e urina por tempo prolongado. São importantes à medida que
propiciam a manutenção das epidemias e podem originar novos surtos epidêmicos.
Aproximadamente 2% a 5% dos doentes passarão ao estado de portador e se dividem em três
classes:
● Portador convalescente: indivíduo que continua eliminando bactérias nos quatro meses
seguintes a infecção aguda (30% dos doentes);
● Portador crônico: indivíduo que, por um ano, continua eliminando bactérias (5% dos
doentes);
● Portador são: indivíduo que elimina bactérias, assintomaticamente, pelas fezes, após
um ano do início da infecção aguda (identificado em busca ativa).
A condição de portador é mais frequente em mulheres, de idade avançada e com litíase
biliar.
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7. DIAGNÓSTICO DOENTE E PORTADOR

O diagnóstico da febre tifoide é baseado em métodos clínicos através da anamnese que


observa a sintomatologia e a epidemiologia em que o paciente se enquadra, e a confirmação
do diagnóstico é realizado com os laboratoriais.
Dessa forma, o diagnóstico diferencial da S. typhi é realizado com todas as doenças
entéricas de diferentes etiologias como a Salmonella enterica Paratyphi e a Yersinia
enterocolitica, além de ser feitos devido em detrimento de outras doenças que possuem o
quadro clínico inespecífico semelhante a essa bactéria. Essas patologias englobam:
pneumonias, tuberculose, meningoencefalites, peritonite bacteriana, febre reumática, abscesso
hepático, apendicite aguda e malária.
O diagnóstico laboratorial da febre tifóide é cerceado em primariamente no isolamento
e na identificação da Salmonella typhi, em todas as fases da doença, por meio do sangue,
aspirado medular, urina e fezes.
Na hemocultura, a positividade é efetiva nas duas primeiras semanas com cerca de
75% de eficácia, sendo o sangue colhido antes do paciente ter iniciado a antibioticoterapia. 
A coprocultura, análise das fezes, pesquisa o agente etiológico da salmonelose da
febre tifóide, sendo indicada a partir da segunda semana e até a quinta semana da doença.
A mielocultura, feito pelo aspirado medular, é o exame mais sensível com 90% de
sensibilidade e pode ser realizado com a antibioticoterapia vigente. A única desvantagem é o
desconforto causado no paciente e necessidade de profissionais capacitados para a coleta em
todos os locais de atendimento.
A urocultura, é o exame mais limitado e com pouca positividade, sendo esta máxima
na terceira semana de infecção, o que limita o diagnóstico já que é difícil a cronologia do
paciente que normalmente não sabe com precisão o início da infecção.

8. EPIDEMIOLOGIA

A febre tifoide não possui uma distribuição geográfica específica e nem ocorre em
sazonalidade. A incidência dos casos estão diretamente relacionados com as condições de
vida de uma população, sendo assim frequente em países em desenvolvimento com grande
aporte populacional que não tem acesso ao saneamento básico, coletas de lixo, água potável e
inspeção sanitária. Sua distribuição é mundial sendo endêmica em países asiáticos como a
Índia e outros da África, além de ser de alta incidência nas regiões norte e nordeste do Brasil.
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As populações que mais são acometidas pela febre tifoide são crianças e jovens devido a
exposição frequente a esse patógeno e riscos de contaminação por ele.

9. TRANSMISSÃO

São possíveis duas formas de transmissão da febre tifoide: forma direta, que ocorre
pelo contato direto com as mãos do doente ou portador, ou a forma indireta, que possui
estreita relação com a água (sua distribuição e utilização) e alimentos, que podem ser
contaminados com fezes ou urina de doente ou portador. A contaminação dos alimentos é
verificada, geralmente, pela manipulação feita por portadores ou oligossintomáticos, sendo a
febre tifoide conhecida, por isso, como a “doença das mãos sujas”. Os legumes irrigados com
água contaminada, produtos do mar mal cozidos ou crus (moluscos e crustáceos), leite e
derivados não pasteurizados, produtos congelados e enlatados podem veicular salmonelas.
Raramente as moscas participam da transmissão. O congelamento não destrói a bactéria, e
sorvetes, por exemplo, podem ser veículos de transmissão. Todavia, só uma grande
concentração de bactérias é que determinará a possibilidade de infecção. Por isso, não se
costuma verificar surtos de febre tifoide após enchentes, quando provavelmente há maior
diluição de bactérias no meio hídrico, com menor possibilidade de ingestão de salmonelas em
número suficiente para causar a doença. A carga bacteriana infectante, experimentalmente
estimada, é de 106 a 109 bactérias ingeridas. Infecções subclínicas podem ocorrer com a
ingestão de um número bem menor de bactérias.

10. COMPLICAÇÕES

As complicações da febre tifoide são raras, mas podem acontecer durante o período de
estado, como resultado do processo séptico, e se desenvolvem em aproximadamente 10% a
15% dos pacientes se não forem tratadas, e isso é impulsionado por métodos diagnósticos
inadequados e pela alta carga de cepas resistentes a antibióticos, complicando o manejo
clínico e, em última análise, o prognóstico. O diagnóstico tardio e a falha terapêutica também
podem ser fatores para maior aparecimento de casos com complicações. As principais
intercorrências são a enterorragia e a perfuração intestinal. A perfuração intestinal representa
uma progressão do quadro de enterorragia, acometendo preferencialmente a região do íleo
terminal, podendo causar sangramentos discretos e até quadro de hemorragia intensa com
falência hemodinâmica, e podendo levar à perfuração intestinal, o que requer maior cuidado
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médico. Qualquer órgão pode ser afetado pela febre tifoide, quando a doença evolui com
bacteremia e outras complicações menos frequentes são: retenção urinária, pneumonia,
colecistite. Os quadros mais graves geralmente representam uma maior susceptibilidade
individual e também demora no diagnóstico e tratamento específicos. Manifesta-se por dor
intensa na fossa ilíaca direita, acompanhada dos sinais clássicos de irritação peritoneal,
hipotensão e taquicardia. Outras complicações mais raras da febre tifóide são os abscessos
viscerais, colecistite acalculosa, pancreatite, bronquite, pneumonia, miocardite, pielonefrite,
artrite, osteomielite, ulcerações, cefalite, flebite, glomerulite, neurite óptica.
A perfuração intestinal é a complicação mais temida, em virtude de sua gravidade.
Ocorre em 3% dos casos, surgindo por volta do vigésimo dia de doença, particularmente nas
formas graves e tardiamente diagnosticadas. Caracteriza-se por dor súbita na fossa ilíaca
direita, seguida por distensão e hiperestesia abdominal. Os ruídos peristálticos diminuem ou
desaparecem, a temperatura decresce rapidamente, o pulso acelera-se, podendo surgir
vômitos. O doente apresenta-se ansioso e pálido. Em poucas horas surgem sinais e sintomas
de peritonite. As dores então atingem todo o abdome, surgem vômitos, sudorese fria e
respiração curta. Desaparece a macicez hepática. A imagem radiológica de pneumoperitônio é
indicativa de perfuração de víscera oca; no entanto, sua ausência não afasta o diagnóstico.

11. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO

11.1. PORTADOR

Tendo em vista que portador se trata do paciente que após a infecção aguda, mantém a
eliminação de bacilos nas fezes e na urina por tempo prolongado, para o tratamento da febre
tifoide nesses indivíduos, utiliza-se a ampicilina ou amoxicilina.
Nos adultos, administra-se de 1000 a 1500mg/dose de ampicilina, de 6 em 6 horas até
a dose máxima diária de 6g. Se a medicação de escolha for a amoxicilina, a dose deve ser de
3g/dia, de 8 em 8 horas até atingir a dose máxima diária de 4g.
Já para as crianças, é administrada 100 mg/kg/dia de ampicilina de 6 em 6 horas, ou
100 mg/kg/dia de amoxicilina, porém de 8 em 8 horas. 
Ambas medicações pertencem à classe das penicilinas de espectro ampliado (matam
bactérias gram positivas e negativas), onde o mecanismo de ação está na inibição da síntese
da parede celular bacteriana e lise osmótica, interferindo na transpeptidação. A amoxicilina é
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administrada via oral e possui boa absorção pelo trato gastrointestinal (TGI). Já a ampicilina
também é administrada de forma oral, mas são mal absorvidas pelo TGI, além de atravessar a
barreira hematoencefálica e poder provocar diarreias.

11.2. DOENTE

Diversas medicações são eficazes para o tratamento do doente na febre tifoide, como
as penicilinas (amoxicilina e ampicilina), as quinolonas (ciprofloxacina e ofloxacina), as
sulfonamidas (sulfametoxazol + trimetoprima) e cefalosporinas de 3ª geração (ceftriaxona).
Entretanto, no Brasil, devido ao baixo custo e boa resposta terapêutica (apesar dos efeitos
adversos), utiliza-se o cloranfenicol como medicamento de primeira escolha para a febre
tifóide. 
O cloranfenicol é um antibiótico pertencente à classe dos anfenicóis e produzido pelo
Streptomyces venezuelae, uma bactéria gram positiva. A atividade bacteriostática do
cloranfenicol resulta de sua ligação aos ribossomos procarióticos 50S em uma região que
bloqueia a etapa da peptidiltransferase na biossíntese de proteínas, ou seja, o cloranfenicol se
liga irreversivelmente à subunidade 50S dos ribossomos das bactérias e impede a síntese de
proteínas nas bactérias e, em menor grau, nas células eucarióticas.
Esse medicamento é administrado preferencialmente via oral, porém quando não for
possível, a via parenteral pode ser utilizada. A posologia nos adultos é de 50 mg/kg/dia, de 6
em 6 horas, até atingir a dose máxima diária de 4g. E nas crianças, a dose é a mesma que nos
adultos, mas a dose máxima diária é de 3g.
Após o início do tratamento com esse antibiótico, até o 5º dia de medicação
geralmente o paciente torna-se afebril. Com isso, deve-se reduzir a dose para 2g por dia em
adultos e 30mg/kg/dia no caso das crianças. Esse protocolo deve ser mantido durante 15 dias
após o último dia de manifestação febril, sendo o tratamento mantido por um máximo de 21
dias.

12. OUTROS ANTIBACTERIANOS

A resistência  ao cloranfenicol não é um problema no Brasil até o momento, mas caso


o paciente mantenha-se febril após o 5º dia de tratamento, pode ser realizada a troca do
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antibiótico por algumas medicações da classe das penicilinas, quinolonas, sulfonamidas e


cefalosporinas.
Da classe das penicilinas, tanto a amoxicilina quanto a ampicilina são eficazes e
administradas via oral, mas a amoxicilina apresenta maior risco de causar uma intolerância
gastrointestinal. O sulfametoxazol é associado à trimetoprima, agindo sinergicamente, e
também são administrados por via oral. 
Na classe das quinolonas, a ciprofloxacina (via oral ou endovenosa) e a ofloxacina (via
oral) possuem eficácia comprovada contra a Salmonella enterica sorotipo Typhi, e apesar de
terem baixa toxicidade, são contraindicadas para gestantes e crianças, além de possuírem
preço elevado. Ademais, são os medicamentos de primeira escolha para os portadores de HIV
ou AIDS.
Por fim, a ceftriaxona também apresenta boa resposta terapêutica e pode ser
administrada por via intravenosa em dose única ou intramuscular.

13. PROFILAXIA

A transmissão da febre tifoide, causada pela Salmonella enterica typhi, é


fecal-oral,normalmente devido a ingestão de alimentos e água contaminada com o patógeno.
Dessa forma, a profilaxia contra o contágio da S. typhi é baseada nas melhores condições de
vida e higiene da população, por ser uma doença conhecida como marcadora da pobreza,
locais com carência de saneamento básico e coleta de lixo padecem frente à contaminação. Os
métodos de evitar a contaminação por salmonelas se baseia em lavar bem as mãos, higienizar
bem os alimentos, consumir água tratada e inspeção sanitária de locais que manuseiam
alimentos para consumo humano. Além disso, é importante pontuar a necessidade da
vacinação dos grupos de risco, que são pessoas que vivem em viagens para áreas endêmicas
como a Ásia ou que ficam em contato frequente com água e alimentos contaminados, como
um método de profilaxia e de evitar surtos de salmonelose em locais não endêmicos. A vacina
é encontrada no Brasil e disponível no SUS, “Typhim Vi”, e é indicada para vacinação a partir
dos 2 anos de idade, com dose de reforço a cada 2 ou 3 anos. A vacina é composta por
polissacarídeo da cápsula bacteriana e aplicada por via intramuscular, sua capacidade de
conferir uma imunidade se dá em uma única dose.
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14. CASO CLÍNICO

Identificação: H.J.R., 19 anos, masculino, branco, universitário, procedente de Caarapó.

HISTÓRIA CLÍNICA: Referiu, o paciente, que desde 24 horas antes da consulta apresentava
calafrios, tendo constatado temperatura axilar de 39º C; sentia-se astênico e queixava-se de
dor abdominal difusa. Informou ter acampado em região selvagem 13 dias antes.

EXAME FÍSICO: Tax: 39,2ºC; FC: 62 bpm; PA: 140/80 mmHg. Dor difusa à palpação do
abdome, temperatura axilar elevada. Frente a este quadro, foi requisitado um leucograma que
evidencia 4.200 leucócitos (N: 5.000 a 10.000), sem evidenciação de eosinófilos na lâmina, e
distribuição dos demais dentro da normalidade. Neste momento, estabeleceu-se a hipótese
diagnóstica de febre tifóide. Foram colhidas várias amostras de sangue para hemocultura e
reação de Vidal, tendo-se decidido por tratamento imediato com antibiótico.

1 - Baseando-se na história natural da doença, por que deve ser ela tratada?

R: A doença deve ser tratada porque pode evoluir e causar uma série de complicações, como
perfuração intestinal e hemorragia intestinal, que são as complicações mais preocupantes.
Além dessas, pode causar colecistite, ulceração de colón, estomatite, pancreatite, abscessos
esplênicos e hepáticos.

2- Explique a fisiopatologia dessa doença e qual(is)principal(is) agente(s) etiológico (s)?

R: O agente etiológico da febre tifoide é a bactéria Salmonella enterica sorotipo Typhi. Sua
transmissão ocorre principalmente pela ingestão de água ou alimentos contaminados com o
patógeno, por meio do contato destes com fezes humanas ou urinas de portadores dessa
bactéria. Após ingeridas, as bactérias invadem as células do intestino e atingem a corrente
sanguínea. A partir dessa etapa, ocorre inflamação e resposta imunológica sistêmica,
resultando em sintomas como dor abdominal, febre, vômitos e diarreia. A doença pode
evoluir para casos mais graves, acometendo também órgãos como o sistema nervoso central,
baço e fígado e levar a complicações como encefalite, septicemia e perfuração intestinal.

3 - Qual o antibiótico de escolha neste caso? Justifique.

R: Cloranfenicol é o antibiótico de escolha, devido ao baixo custo e boa resposta terapêutica.

4- Explique sua forma de administração e as justificativas para tal.


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R: O cloranfenicol é administrado preferencialmente por via oral pois é uma forma


conveniente e eficaz de administrar o medicamento. A administração via oral possibilita que o
paciente seja tratado em casa, sem a necessidade de hospitalização, sendo a internação
necessária apenas nos casos com complicações.

5 - Por que não deve ser utilizado por via intramuscular?

R: O cloranfenicol tem como característica uma rápida absorção no trato gastrointestinal e


ingestão oral com alta biodisponibilidade. A via intramuscular é uma alternativa para
fármacos que não são bem absorvidos por via oral e que possuem absorção mais lenta,
mostrando que a via intramuscular não deveria ser utilizada para administração desse
fármaco.

6 - Discuta os riscos de utilização do fármaco.

R: Alguns dos riscos de utilização do cloranfenicol são as reações alérgicas, incluindo


urticária, erupções cutâneas e anafilaxia, a síndrome do bebê cinzento (condição rara que pode
causar acidose, hipotermia e choque em recém nascidos), a supressão da medula óssea (pois
esse medicamento pode afetar a produção de células sanguíneas na medula, levando a anemia,
leucopenia e trombocitopenia), toxicidade hepática e neuropatia periférica (podendo causar
dormência e perda de sensibilidade).

7 - Qual deve ser a duração do tratamento? Por quê?

R: A duração deve ser de 7 a 21 dias, por conta do tempo de incubação da bactéria.

8 - Cite os antibióticos alternativos para este caso.

R: Ampicilina, Sulfametoxazol + Trimetoprim, Amoxicilina, Ciprofloxacina, Ofloxacina e


Ceftriaxona.

9 - No caso de o paciente tornar-se portador crônico assintomático, qual o antibiótico de


escolha para o seu tratamento?

R: O tratamento vai ser realizado com Ampicilina ou Amoxacilina nas mesmas doses
utilizadas para o tratamento do doente.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual integrado de vigilância e controle da febre


tifoide: série a. normas e manuais técnicos. Brasília: MS, 2010. 94 p. (1). Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_integrado_vigilancia_febre_tifoide.pdf.
Acesso em: 9 mar. 2023.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual técnico de


diagnóstico laboratorial de Salmonella spp.: diagnóstico laboratorial do gênero Salmonella
/ Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Fundação Oswaldo Cruz.
Laboratório de Referência Nacional de Enteroinfecções Bacterianas, Instituto Adolfo Lutz. –
Brasília : Ministério da Saúde, 2011.

IZARD, T. (2001), Base estrutural para tolerância ao cloranfenicol em Streptomyces


venezuelae pela atividade da cloranfenicol fosfotransferase. Protein Science, 10: 1508-1513.
https://doi.org/10.1002/pro.101508.

Khanam F, Ross AG, McMillan NAJ, Qadri F. Toward Typhoid Fever Elimination. Int J
Infect Dis. 2022 Jun;119:41-43. doi: 10.1016/j.ijid.2022.03.036. Epub 2022 Mar 23. PMID:
35338009.

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