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REPÚBLICA DE ANGOLA

GOVERNO DA PROVÍNCIA DE LUANDA


GABINETE PROVINCIAL DA SAÚDE/EDUCAÇÃO
ESCOLA DE FORMAÇÃO DE TÉCNICOS DE SAÚDE DE LUANDA

PROJECTO TECNOLÓGICO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO MÉDIO TÉCNICO DE


ENFERMAGEM

CÓLERA

CONHECIMENTOS, ATITUDES E PRÁTICAS DOS MORADORES DO


BAIRRO CASSEQUEL SOBRE A CÓLERA, NO PERÍODO DE
MARÇO À OUTUBRO DE 2019.

LUANDA-2019
Conhecimentos, atitudes e práticas dos moradores do bairro Cassequel sobre a cólera,
no período de Março à Outubro de 2019

Trabalho apresentado à Escola de


Formação de Técnicos de Saúde
de Luanda como um dos requisitos
para a obtenção do título de
Técnico de Enfermagem

Integrantes do grupo nº 4
1 Catarina Bondo Samuel Simão
2 Clarice Canda Massango
3 Cristina Teresa Soy Salote
4 Eduardo Mongani Quintas
5 Isabel Kembi Pedro Dongala
6 Jurelma Neto Pedro
7 Kieza Mbinda Dongala Joaquim
8 Maria Augusto Marinho Batalha
9 Vânia Kubanza Albano Caculo
O Orientador
Dedicatória

Dedicamos este trabalho a Deus que nos guiou com sua mão poderosa até a
finalização deste projeto. Dedicamos este trabalho ao nosso querido Director geral e
também professor Dadi Bocusso Netemo, que no alto de sua sabedoria, soube ser tão
humilde ao repassar todo o seu conhecimento, aos professores também que estiveram
connosco em todo o período de produção do projecto e aos nossos pais que nos
apoiaram do início ao fim para que esse dia chegasse.
Agradecimento
EPÍGRAFE
Resumo
Sumário

1. Introdução …………………………………………………………..
1.1 Epidemiologia …………………………………… ………..……...
1.2 Formulação do Problema …………………………….……………
1.3 Justificativa ………………………………………………………...
2. Objetivos …………... ……………………………………………….
2.1Objectivo Geral ……………………………………………..………
2.2 Objectivo Específico ……………………………………………….
3. Fundamentação Teórica ……………………………..……………….
3.1 Agente causal …………………………………..………………….
3.2 Patogenia ……………………………………..……………………
3.3 Reservatório ………………………………….……………………
3.4 Transmissão …………………………………….…………………
3.5 Disseminação …………………………………………….………..
3.6 Suscetibilidade à cólera ……………………………….…………..
3.7 Quadro clínico ……………………………………….…………….
3.8 Complicações……………………………………………..………..
3.9 Prevenção …………………………………………….……………
3.10 Medidas de controlo da cólera …………………………………..
3.11 Tratamento ……………………………………………………….
3.12 Cuidados de Enfermagem ………………………………………..
3.13 Diagnóstico clinico ………………………………….……………
3.14 Diagnóstico laboratorial ………………………………..….……
4. Metodologia …………………………………………………………
1. Introdução

Em 1854, o anatomista italiano Filippo Pacini observou pela primeira vez a


bactéria Vibrio cholerae em amostras de fezes de vítimas da cólera. No entanto, devido
às crenças do momento, o seu trabalho foi ignorado durante muitos anos. Em 1883,
Robert Koch, de viagem ao Egipto e a Índia para estudar a cólera, identifica a bactéria
Vibrio cholerae e a caracteriza como sendo a causadora da doença, confirmando-o que
havia sido descrito pelo pioneiro da descoberta. (COURA. 2008)

A cólera teve como reduto tradicional endêmico os vales dos rios Ganges e
Brahmaputra na Índia. A partir dessa área, no período de 1817 a 1862, a doença
expandiu-se por outras regiões sob a forma de epidemias maciças. Em um desses surtos,
em meado do XIX, a doença atinge de forma dramática os moradores da cidade de
Londres. Data dessa época o tão citado episódio da Broad Street onde, em espaço e
tempo restritos, sucederam centenas de mortes por cólera. Essa ocorrência, descrita
detalhadamente por John Snow (1854) seu trabalho foi fundamental do ponto de vista
epidemiológico sobre “ A forma de transmissão da cólera pela água” (On de mode of
communication of Cholera), tem sido relatada como a mais valiosa contribuição para o
conhecimento médico-científico desta enfermidade, por suas conclusões sobre a origem
hídrica da transmissão e por suas significativas.

1.1. Epidemiologia
Supõe-se que a cólera seja uma doença da antiguidade, com descrições claras
que antecedem 500 a.C. A actual disseminação mundial ( i.e.,7ª Pandemia ) é
causada por um biótipo El Tor, identificado pela primeira vez em 1911 na estação de
quarentena El Tor, no Golf pérsico. As epidemias devidas a este organismo
surgiram primeiramente em Celebes, nos anos de 1930, disseminaram-se para o
Oeste a partir do Sudeste Asiático, e chegaram ao mediterrâneo e à África na década
de 1970. No Delta do Gangis, as epidemias do V.cholerae clássico foram
substituídas pelo El Tor em fins dos anos de 1960. Desde 1975, ocorreram surtos
pequenos mas regulares, de cólera nos Estados Unidos, nas regiões do delta do
Mississippi. Entre as cepas isoladas, a do El Tor predominou. Desde o período de
1990-1994, tem havido um declínio, principalmente devido à diminuição dos casos
relacionados a viagens à América Latina. Em 1991, o V. Cholerae O 1 El Tor
provocou surtos explosivos de cólera no Peru e, consequentemente, disseminou-se
pela América Latina.
1.2.FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

No nosso quotidiano é corrente ouvir falar sobre a cólera que é uma doença
transmitida por contaminação feco-oral directa ou pela ingestão de água ou alimentos
contaminados.

No nosso país os casos de cólera continuam sendo controlados, mas as


condições precárias de saneamento básico têm vindo contribuindo no surgimento de
novos casos.
De acordo com a falta de saneamento básico encontrado no bairro do
Cassequel que é um problema preocupante para a saúde, levou-nos a desenvolver a
nossa pesquisa partindo da seguinte questão:

Que conhecimentos, atitudes e práticas que os moradores do bairro Cassequel têm


sobre a cólera?
1.3.JUSTIFICATIVA

A cólera continua representando como um grave problema de saúde pública


na atualidade, apesar que a doença é de fácil contenção, a falta de saneamento básico e
higiene tem sido fatores contribuintes para o aparecimento da cólera. Sendo ela, uma
doença bacteriana infecciosa intestinal aguda, transmitida por contaminação feco-oral
directa ou pela ingestão de água ou alimentos contaminados.
2. Objectivos

2.1 Objectivo Geral

Descrever os conhecimentos, atitudes e práticas dos moradores do bairro Cassequel sobre


a cólera de Março à Outubro de 2019.

2.2 Objetivos Específicos


 Caracterizar o perfil sócio – demográfico dos moradores (sexo, idade e nível
académico);
 Identificar os conhecimentos dos moradores do bairro Cassequel sobre o conceito
da cólera, a causa, forma de transmissão, sinais e sintomas;
 Questionar os moradores do Bairro Cassequel sobre as medidas de prevenção
 Questionar a população sobre o tratamento da água de consumo e a higiene dos
alimentos.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEORÍCA

Cólera é uma doença diarreica aguda, causada pelo Vibrio Cholerae 01 que
se transmite ao homem pela água ou alimentos contaminados, produzindo uma entero
toxina lábil (toxina colérica) que interage no sistema Adenil-ciclase no interior dos
enterócitos, provocando um acúmulo de líquido e eletrólitos no lúmen intestinal
(COURA 2008).

Nas áreas endémicas a doença é mais comum nos meses de verão e outono,
esta sazonalidade talvez seja provocada pelas condições ambientais que afetam a
multiplicação dos vibriões (HARRISON 2006).

A cólera existe em forma esporádica, endémica, epidémica e pandémica, a


transição da forma epidémica para endémica pode estar relacionada a resistência imune
adquirida da população. Durante o período epidémico ocorrem altas taxas de
disseminação intra familiar (HARRISON 2006).

3.1.AGENTE CAUSAL

O Vibrio Cholerae, também conhecido como Vibrio colérico, é o agente


causador da cólera. Esta bactéria é membro do género Vibrio, da família Vibrionaceae.
Foi descoberto em 1883 por Robert Koch, e deve seu nome à sua aparência quando
observado ao microscópio óptico. Às cerca de 30 espécies incluídas nesse género são
bastonetes gram-negativos, anaeróbios facultativos, móveis, curvados em forma de
vírgula, possuindo de 1,4 a 2,6 micrómetros de comprimento (TAVARES 2008).

Existe relativa resistência do biótipo clássico, o que lhe dá condições de


sobreviver por mais tempo no meio ambiente. Multiplica-se melhor e mais rápido em
meios de cultura, além de apresentar menor suscetibilidade aos agentes químicos e
maior tendência a endemização (GONÇALVES et al. 2016).

O Vibrio Cholerae é um micro organismo autóctone natural do ecossistema


aquático e pode ser encontrado em forma livre na água ou associado ao zooplâncton, as
plantas e aos organismos marinhos, como peixes (ARRUDA et al. 2010).
3.2.PATOGENIA
O V.cholerae pertence a família Vibrionaceae apresentando-se como um
bastonete gram-negativo, móvel, exibindo um flagelo polar único; tem uma estrutura
antigénica composta pelo antígeno flagelar ‘H’ de natureza proteica e antígeno somático
‘O’ lipossaridico, com mais de 150 sorogrupos, dos quais o sorogrupo 01 e o agente da
cólera epidémica, apresentando 2 biótipos: o clássico e o El-Tor.

Após a ingestão e vencendo a barreira do suco gástrico, onde o inóculo inicial


se reduz, o V.cholerae adere as células M do epitélio do revestimento intestinal através
da fimbria ou pili. A exotoxina colérica secretada é composta das subunidades B que
aderem a recetores específicos do epitélio intestinal. Depois é catalizada a ativação da
enzima Adenil-ciclase, transformando o ATP em AMP cíclico nas células que passam a
excretar excessivamente agua e cloretos e dificultam ou bloqueiam a reabsorção do
sódio, da água e de cloretos, com acúmulo de líquido isotónico na luz intestinal, levando
consequentemente a uma diarreia profusa, com desidratação e desequilíbrio
hidroeletrolítico em poucas horas. Nos casos graves pode haver perda de potássio e
bicarbonato (COURA 2008).

3.3.RESERVATÓRIO

Os principais reservatórios do Vibrio Cholerae são o homem e as fontes de


água. O homem é o reservatório usual de Vibrio Cholerae toxigénico. Contudo, vários
estudos têm demonstrado que o Vibrio Cholerae O1 pode ser isolado de ambientes
aquáticos, principalmente associados a estuários, indicando que animais marinhos
(como, por exemplo, moluscos e crustáceos) podem ser reservatórios naturais do Vibrio
Cholerae (GONÇALVES et al. 2016).

São fontes de infeção, os doentes no período de incubação, na fase das


manifestações clinicas e na convalescença, bem como os portadores assintomáticos. Os
bacilos são eliminados pelas fezes e pelo vómito (GONÇALVES et al. 2016).

3.4. TRANSMISSÃO

Os homens doentes ou os portadores eliminam os vibriões pelas fezes ou


pelos vómitos por período variável de alguns dias até vários meses. A transmissão corre
em geral, através da ingestão de água contaminada; mas também por alimentos e
utensílios contaminados por água, pelo manuseio ou pelos insectos, em especial as
moscas. A propagação de pessoa a pessoa através do contacto directo é comum
(WALTER et al. 2010).

3.5.DISSEMINAÇÃO

Durante epidemias, a cólera é transmitida principalmente pela água. Um


grande número de vibriões atinge as fontes de água através de volumosas fezes líquidas
que embebem roupas pessoais e de cama e contaminam o ambiente. As condições para
o desenvolvimento de epidemias são, frequentemente, pobreza extrema e ausência de
água potável. Ocasionalmente, alimentos contaminados espalham a doença. Mariscos
crus ou mal cozidos ou vegetais frescos lavados com água contaminada são
normalmente os responsáveis. Durante os intervalos entre as epidemias, o V.Cholerae
aloja-se em superfícies de água salobra sob uma forma que não se desenvolve em
cultura, e que pode ser detetado por métodos específicos de ampliação genética
(ATOUGUIA 2009).

3.6.SUSCETIBILIDADE À COLÉRA

Em áreas onde a cólera ocorre anualmente, as taxas mais altas de infeção


incidem sobre crianças com menos de 5 anos de idade. Os índices sobre as crianças
mais velhas e adultos são menores devido a imunidade intestinal local, que diminui o
risco. Entretanto, a maior parte da população é de pessoas com mais idade, e muitos dos
pacientes tem mais de 5 anos. Crianças em fase de amamentação raramente contraem
cólera porque recebem anticorpos protetores do leite materno. A cólera tende, mais
frequentemente, a acometer pessoas do grupo sanguíneo O, sendo mais violenta neste
do que nos outros grupos; por outro lado, a doença é menos severa em indivíduos com
sangue do tipo AB. Populações com fornecimento de água encanada potável e com
tratamento efetivo do lixo apresentam menor risco de contrair a doença, a despeito da
suscetibilidade do hospedeiro (BEERS et al, 2006).

3.7.QUADRO CLINÍCO

O período de incubação da cólera vária de algumas horas até cinco dias


dependendo do biótipo do bacilo, do inóculo, de sua capacidade toxigénica, da acidez
gástrica no momento de ingestão e de sua neutralização pelos alimentos ingeridos. O
quadro clínico da doença pode ter um inicio súbito ou progressivo com diarreia aquosa
leve ou moderada, indistinguível das demais gastroenterites, ou grave com diarreia
volumosa tipo `água de arroz´, sem sangue logo no início, acompanhados de febre e dor
abdominal. Nos casos graves, onde o volume de fezes líquidas pode ultrapassar 1.000
ml/hora, pode ocorrer hipotensão arterial, choque hipovolemico e necrose tubular renal
aguda, se não tratados imediatamente. Nestes casos o desequilíbrio hidroeletrolítico é
acompanhado por cãibras, fraqueza geral (COURA 2008).

A diarreia e os vómitos são as manifestações mais frequentes. Na forma leve


(em mais de 90% dos casos), o quadro costuma se iniciar de maneira insidiosa, com
diarreia discreta, sem distinção das diarreias comuns, podendo também apresentar
vómitos. Esse é o quadro mais comum em crianças, podendo ser acompanhado de febre,
o que o torna ainda menos característico, razão pela qual são exigidos métodos
laboratoriais para a sua confirmação (ARRUDA et al. 2010).

Nos casos mais graves, mais típicos, embora menos frequentes, o início é
súbito, com diarreia aquosa, abundante e irreprimível, com inúmeras dejeções diárias, as
fezes podem apresentar-se amarelo-esverdeado sem pus, muco ou sangue (ARRUDA et
al. 2010).

A diarreia e os vómitos dos casos graves determinam uma extraordinária


perda de líquido, tal quadro decreta rápida e intensa desidratação, que se não tratada
precoce e adequadamente, leva a graves complicações e até o óbito (ARRUDA et al.
2010).

A evolução desse processo pode se apresentar com muitas manifestações de


desequilíbrio hidroeletrolítico e metabólico, constatadas por: sede, rápida perda de peso,
perda do turgor da pele, principalmente das mãos (sintoma conhecido como "mãos de
lavadeira"), prostração, olhos fundos com olhar parado e vago, voz sumidiça e cãibras.
O pulso torna-se débil, surge hipotensão, há cianose e esfriamento de extremidades. As
cãibras decorrem do distúrbio hidroeletrolítico no nível muscular e podem atingir a
musculatura abdominal, a musculatura dos membros superiores e dos membros
inferiores (pantorrilhas, principalmente) (ARRUDA et al. 2010).
3.8.COMPLICAÇÕES

As complicações decorrem, fundamentalmente, da depleção hidro-salina


causada pela diarreia e pelos vómitos. Ocorrem mais frequentemente nos indivíduos
idosos, diabéticos ou com patologia cardíaca prévia. A desidratação não corrigida levará
a uma deterioração progressiva da circulação, da função renal e do balanço
hidroeletrolítico, produzindo dano a todos sistemas do organismo. Em consequência,
sobrevém choque hipovolemico, necrose tubular renal, íleo paralítico, hipocalemia
(levando a arritmias), hipoglicemia (com convulsão e coma em crianças)
(GONÇALVES et al. 2016).

Alterações do sistema nervoso central, que variam de torpor até convulsões


graves, ocorrem em até 10% das crianças, não sendo comuns nos adultos.
Eventualmente surge também anúria por insuficiência pré- renal, que pode se tornar
irreversível (BATISTA et al. 2003).

O aborto é comum no 3°trimestre de gestação, em casos de choque


hipovolémico. As complicações podem ser evitadas com hidratação adequada
(GONÇALVES et al. 2016).

3.9.PREVENÇÃO
A profilaxia da cólera depende da existência de infraestruturas sanitária
adequada, incluindo sistema público ou doméstico de abastecimento de água,
recolhimento do lixo e dejetos humanos, aliada a vigilância sanitária e epidemiológica e
as adequadas práticas de higiene pessoal. Em situações de epidemia, na ausência das
condições mencionadas, medidas de tratamento de água e da comida devem ser
tomadas, visando reduzir a disseminação do bacilo.

3.9.1Água potável

Porque a água contaminada é a fonte habitual de transmissão da cólera é


crucial o fornecimento de água potável, para o consumo e preparação de alimentos e em
particular para lavar as mãos. Nas áreas urbanas, deve ser disponibilizada água potável
através dum sistema de abastecimento de água, contudo em situações de emergência, a
água pode ser fornecida por camiões-cisterna. Nas zonas rurais onde não há nenhuma
fonte de água tratada e, onde a água existente é a de poços, rios, deve ser feito o
tratamento de água adicionando produtos químicos a base de cloro ou pela fervura até a
ebulição, ou, outros métodos existentes, para o tratamento da água. A cloração
(processo de adição de cloro à água como um método de purificação) deve ser
recomendada, principalmente em situações de emergência, mesmo quando a água
potável é segura (GONÇALVES et al. 2016).

3.9.2Segurança e higiene dos alimentos

Os alimentos contaminados constituem uma fonte de transmissão secundária


da doença, que se deve ter em conta.

As atividades de promoção da saúde devem ser intensificadas quando há uma


ameaça de cólera, sublinhando a importância de:

• Evitar comer alimentos crus (exceção: frutas e legumes que devem ser bem lavados
com água potável);

• Cozinhar alimentos cuidadosamente;

• Lavar as mãos com água e sabão depois de defecar, ou após o contacto com as fezes,
após mudar as fraldas das crianças, antes de preparar ou comer alimentos e de preparar a
alimentação das crianças;

• Lavar e secar cuidadosamente todos os utensílios com água potável (GONÇALVES et


al. 2016).

Dessa forma em cada litro de água destina a lavagem dos utensílios


domésticos e limpeza de superfícies deve ser acrescido de 15 ml (colher de sopa) de
hipoclorito de sódio 2% ou água sanitária, contendo 2% de cloro ativo (GONÇALVES
et al. 2016).

Os cuidados com a comida incluem o aquecimento adequado, tendo-se em


vista que o patógeno não sobrevive a temperaturas superiores a 60ºC. Os alimentos
devem ser consumidos ainda quente. Se forem destinados a consumo posterior, devem
ser mantidos sob refrigeração ou congelados e reaquecidos antes do consumo.

É indispensável manter os alimentos longe de insectos e roedores, bem como


lavar as mãos antes das refeições e apos o uso do sanitário. O lixo deve ser
acondicionado em recipientes fechados até a coleta ou incinerado em locais apropriados.
(BATISTA et al, 2003).
3.9.3.Saneamento ambiental

O adequado saneamento do meio pode reduzir significativamente o risco de


transmissão do vibrião. O saneamento deficiente pode levar à contaminação das fontes
da água. As populações devem conhecer a importância de construir e usar corretamente
as latrinas, conhecendo os perigos de defecar a céu aberto, ou próximo de fontes de
água, e da importância de mãos com sabão depois de qualquer contacto com
excrementos. É necessário enfatizar a importância do uso das latrinas entre as crianças
(GONÇALVES et al. 2016).

No caso de grandes grupos de pessoas que se reúnem para convívios,


nomeadamente comícios, funerais, festas religiosas, deve-se ter o cuidado especial para
assegurar a distribuição de alimentos seguros, cumprindo todas as regras de higiene, e
também a eliminação segura de dejetos humanos, bem como, a disponibilização de
instalações adequadas para a lavagem das mãos (GONÇALVES et al. 2016).

3.9.4.Vacinação

Em situações que se prevê de risco elevado da doença, poderá recorrer-se à


vacinação. Trata-se de uma vacina oral e consiste na administração de 2 doses antes da
exposição. Pode ser administrada a crianças com idades superiores a um ano
(GONÇALVES et al. 2016).

Vários tipos de vacinas vem sendo desenvolvidos, não havendo ainda


proteção adequada- há baixa eficácia, não prevenindo infeção assintomática (BATISTA
et al, 2003).

3.10.MEDIDAS DE CONTROLO DA COLÉRA

• A notificação de casos suspeitos é fundamental no controlo de surtos;

• Garantir o acesso da população aos serviços de diagnóstico e tratamento;

• Garantir o destino e o tratamento adequado das fezes;

• Garantir a recolha e a destruição adequada do lixo;

• Promover medidas que visem à redução do risco de contaminação de alimentos, em


especial por meio do comércio ambulante;
• Definir procedimentos para garantir a qualidade dos processos de limpeza e
desinfeção, principalmente para serviços de saúde e áreas onde se confecionam
alimentos (ROUQUAYROL et al. 2003)

3.11. TRATAMENTO

Uma reposição hidroeletrolítica precoce e completa previne a morte e todas as


complicações. Modernas soluções de reidratação oral, baseadas em arroz ou em outros
alimentos ricos em carbohidratos, hidratam eficientemente e reduzem substancialmente
os vómitos e a diarreia (30% a 50%) quando comparadas com os tratamentos
intravenosos ou baseado em reidratação oral com glicose. Com exceção dos casos mais
graves para tratar a cólera, principalmente se iniciada assim que a diarreia começar.
Todas as variedades de diarreia aquosa levam à perda de fluido com composições
similares, que variam de acordo com a taxa de perda. A terapia de hidratação oral e o
tratamento indicado para todas as situações, exceto quando o paciente está em choque
ou em coma. A terapia de reidratação em campo, porque apresenta poucos riscos, e
muito mais barata, a sua administração não requer pessoal com treinamento médico e
mostra-se eficaz. A descoberta de que a absorção de sódio pelas vias de co-transporte na
mucosa intestinal é mantida durante a cólera e outras doenças diarreicas abriu caminho
para o desenvolvimento de soluções de reposição oral seguras, de baixo custo e
eficientes (ATOUGUIA 2009).

O tratamento com reposição hidroeletrolítica deve ser iniciada imediatamente


em qualquer caso suspeito de cólera antes do isolamento do bacilo. Nos casos leves ou
moderados pode ser iniciada a reposição através do soro caseiro por via oral livremente
apos cada evacuação. Nos casos mais graves deve ser imediatamente instalada a
reposição intravenosa com soro fisiológico e Ringer lactato na base de 30ml/kg a cada
meia hora, seguida de 70ml/kg em cada duas a três horas até a melhora do paciente,
quando deve se reiniciar a reposição oral.

Substituição rápida de líquidos e eletrólitos, bases com alto teor de sódio para
corrigir as perdas de sódio nas fezes ou lactacto de Ringer para doentes com ˃ de 10%
de perda de peso (HARRISON 2006).

O tratamento antibiótico (visando a evitar a disseminação do bacilo no meio


ambiente) deve ser feito com tetraciclina 500mg de 6 em 6 horas, durante 3 dias, ou
doxiciclina 300mg dose única para adultos, devendo ser iniciado tão logo o paciente
tolere o medicamento por via oral (COURA 2008).

3.12.CUIDADOS DE ENFERMAGEM

• Registrar os sinais, sintomas e o plano de tratamento instituído;

• Verificar os sinais vitais do paciente, principalmente o pulso, e anotar o resultado da


verificação na ficha individual do paciente;

• Iniciar administração de soro de reidratação oral de acordo com a conduta terapêutica


adequada;

• Observar a aceitação oral;

• Instalar, nas crianças, sonda nasogástrica se forem constadas as seguintes condições:

- Perda de peso após as 2 primeiras horas de tratamento com soro de reidratação oral

- Vómitos persistentes

- Dificuldades de ingestão de soro de reidratação oral

• Realizar balanço hídrico, observando atentamente as perdas;

• Orientar os pacientes e/ou os acompanhantes sobre os cuidados de prevenção e


controlo das doenças diarreicas;

A avaliação do estado de hidratação do paciente determinará a possibilidade


de alta, que será dada sempre que o paciente estiver com a hidratação reestabelecida
(GONÇALVES 2002).

3.13.DIAGNÓSTICO CLINÍCO

Quanto da ingestão de água ou alimentos contaminados com o vibrião


colérico, o indivíduo poderá ter infeção inaparente ou iniciar o quadro clinico na doença
após um período de incubação que vai de poucas horas, aqueles que desenvolvem a
doença são catalogados em casos leves, moderados ou graves, dependendo
principalmente da intensidade da diarreia. Costuma-se a classificar as formas clínicas
em:
• Sem sinais de desidratação;
• Com sinais de desidratação leve ou moderada;

• Com desidratação grave.

Os pacientes da forma clinica começam com discreta diarreia, leve dor


abdominal e mal-estar, assemelhando-se a outras gastroenterites. É o quadro mais
frequente, de fácil recuperação, porem de importância epidemiológica, pois eles são os
que mantém a infeção (WALTER et al, 2010).

Os pacientes com sinais de desidratação leve ou moderada têm diarreia de


maior intensidade, acompanhada por náuseas e vómitos aquosos, que se instalam mais
rapidamente. Sede, pele fria e sinais evidentes de desidratação estão presentes; pode
haver evolução para situações mais graves (WALTER et al, 2010).

Os poucos que evoluem com desidratação grave apresentam diarreia aquosa e


volumosa, com numerosas dejeções diárias, e as fezes têm aspecto de água amarelo-
esverdeado e odor característico de `peixe´, sem muco e sangue, e em alguns casos as
fezes podem ter características de " água de arroz". Vómitos, consequentes à acidose
metabólica, vinculados a grande perda hidroeletrolítica, são semelhantes às fezes e com
frequência variável. A febre habitualmente está ausente. A desidratação resultante da
perda hidroeletrolítica através da diarreia e dos vómitos é acompanhada por sede
intensa, astenia, rápida perda de peso, diminuição da turgência cutânea, dando as mãos
o aspecto de "mãos de lavadeira". Olhar parado e vago, prostração, voz sumida e cãibras
musculares também fazem parte da sintomatologia. O paciente deverá receber
atendimento rápido e adequado, caso contrario choque hipovolemico grave e óbito são
esperados (WALTER et al, 2010).

3.14.DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

Consiste, habitualmente, no cultivo de fezes e ou vómitos em meios


apropriados, objetivando o isolamento e a identificação bioquímica do Vibrio Cholerae
01 toxigénico, bem como a sua subsequente caracterização sorológica.
Recomenda-se a pesquisa laboratorial de todos os casos suspeitos apenas em áreas sem
evidencia de circulação do Vibrio Cholerae 01 toxigénico.

Em áreas de circulação comprovada, o diagnóstico laboratorial deverá ser


feito em torno de 10% dos casos em adultos e 100% em crianças menores de 5 anos.
Porém o tamanho da amostra dependera do volume dos casos e da capacidade
operacional do laboratório. Tais exames objetivam aferir a propriedade do diagnóstico
clinico, monitorizar a circulação do Vibrio Cholerae patogénico na população e avaliar
sua resistência aos antibióticos e às possíveis mudanças do sorotipo em casos
importados. Outros patógenos devem ser pesquisados, principalmente nos casos
negativos de Vibrio Cholerae (WALTER et al. 2010).
4.METODOLOGIA

4.1.Tipo de estudo
Realizou-se um estudo observacional, descritivo e transversal sobre os conhecimentos,
atitudes e práticas dos moradores do bairro Cassequel sobre a cólera.

4.2.Local de estudo:
O estudo foi realizado no bairro Cassequel no distrito urbano do Kilamba Kiaxi, Luanda

4.3.População em estudo:
Os moradores do bairro Cassequel

4.4.Amostra:
Os moradores do bairro Cassequel, formando um total de 80 pela técnica aleatória
simples.

4.5.Critério de inclusão:
Englobamos os moradores, com idades iguais e superiores à 18 anos, que estavam
disponíveis para o preenchimento do inquérito.
4.6.Recolha de dados:
Os dados foram obtidos mediante à um questionário feito com perguntas fechadas
usando o método de entrevista.

4.7.Procedimentos éticos:

4.8. Variáveis em estudo:

Variáveis sócio demográficas:


Idade;
Sexo;
Nível de escolaridade.
Variáveis em estudo:

Conceito da cólera;
Causa da cólera;
Transmissão da cólera;
Sintomas da cólera;
Sinais da cólera;
Prevenção contra a cólera;
Consumo da água tratada;
Destino do lixo doméstico; 
O tratamento da água para o consumo;
Onde adquires as frutas e legumes;
Após a compra de um alimento cru (frutas e legumes), o que fazer;
Que medida tomar quando se tem um parente em casa com cólera.
Tabela nº 1 – Distribuição da amostra dos moradores do bairro Cassequel, quanto a
idade
Idade Frequência Percentagem
18-24
25-31
32-38
39-45
> 46
Total

Fonte: fichas de inquérito realizada em moradores do Bairro Cassequel, de 2019.


Interpretação:

Sexo Frequência Percentagem


Feminino
Masculino
Total
Tabela nº 2 – Distribuição da amostra dos moradores do bairro Cassequel, quanto ao
sexo

Fonte: fichas de inquérito realizada em moradores do Bairro Cassequel, de 2019.


Interpretação:

Nível de escolaridade Frequência Percentagem


Ensino fundamental
Ensino médio
Ensino superior
Total
Tabela nº 3 – Distribuição da amostra dos moradores do bairro Cassequel, quanto ao
nível de escolaridade
Fonte: fichas de inquérito realizada em moradores do Bairro Cassequel, de 2019.
Interpretação:

Tabela nº 4 – Distribuição da amostra dos moradores do bairro Cassequel, quanto ao


conceito da cólera

Conceito da cólera Frequência Percentagem


É uma doença sexualmente
transmissível
É uma doença infecciosa
causada por picada de
mosquito
É uma doença infecciosa
que se contrai através do
consumo de água e
alimentos contaminados
pelo Vibrio Cholerae
Total

Fonte: fichas de inquérito realizada em moradores do Bairro Cassequel, de 2019.


Interpretação:

Causa da cólera Frequência Percentagem


É causada pela
contaminação pela bactéria
Vibrio Cholerae
É causada pela
contaminação pelo vírus
Vibrio Cholerae
É causada pela
contaminação pelo bacilo
de koch
Total
Tabela nº 5 – Distribuição da amostra dos moradores do bairro Cassequel, quanto a
causa da cólera

Fonte: fichas de inquérito realizada em moradores do Bairro Cassequel, de 2019.


Interpretação:

Tabela nº 5 – Distribuição da amostra dos moradores do bairro Cassequel, quanto a


transmissão da cólera

Transmissão da cólera Frequência Percentagem

Comer alimentos expirados

Apartir da água e alimentos


contaminados com fezes
humanas com a presença
das bactérias vibrio
cholerae

Beber água do tanque

Total

Fonte: fichas de inquérito realizada em moradores do Bairro Cassequel, de 2019.


Interpretação:

Tabela nº 6 – Distribuição da amostra dos moradores do bairro Cassequel, quanto os


sintomas da cólera

Sintomas da cólera Frequência Percentagem

Febre

Diarreia volumosa

Dor de cabeça

Total

Fonte: fichas de inquérito realizada em moradores do Bairro Cassequel, de 2019.


Interpretação:

Tabela nº 7 – Distribuição da amostra dos moradores do bairro Cassequel, quanto os


sinais da cólera

Sinais da cólera Frequência Percentagem

Presença de borbulhas na
pele

Olhos côvados e
enrugamento da pele das
mãos e dos pés

Comichão

Total

Fonte: fichas de inquérito realizada em moradores do Bairro Cassequel, de 2019.


Interpretação:
Tabela nº 8 – Distribuição da amostra dos moradores do bairro Cassequel, quanto a
prevenção contra a cólera

Prevenção contra a cólera Frequência Percentagem

Vacina contra a cólera

Lavar os alimentos e tratar


a água

Alimentação equilibrada

Total

Fonte: fichas de inquérito realizada em moradores do Bairro Cassequel, de 2019.


Interpretação:

Tabela nº 9 – Distribuição da amostra dos moradores do bairro Cassequel, quanto o


consumo da água tratada

Consomes água tratada Frequência Percentagem

Sim

Não

Total

Fonte: fichas de inquérito realizada em moradores do Bairro Cassequel, de 2019.


Interpretação:

Tabela nº 10 – Distribuição da amostra dos moradores do bairro Cassequel, quanto o


destino do lixo doméstico

Destino do lixo doméstico Frequência Percentagem

Levar ao contentor
Queimar

Deitar no chão

Total

Fonte: fichas de inquérito realizada em moradores do Bairro Cassequel, de 2019.


Interpretação:

Tabela nº 11 – Distribuição da amostra dos moradores do bairro Cassequel, quanto o


tratamento da água para o consumo

Tratamento da água para o Frequência Percentagem


consumo

Fervura

Cloração

Não trata a água

Total

Fonte: fichas de inquérito realizada em moradores do Bairro Cassequel, de 2019.


Interpretação:

Tabela nº 12 – Distribuição da amostra dos moradores do bairro Cassequel, quanto o


lugar onde adquires as frutas e legumes

O lugar onde adquires as frutas e legumes Frequência Percentagem

No mercado informal

Na rua

No mercado formal

Total

Fonte: fichas de inquérito realizada em moradores do Bairro Cassequel, de 2019.


Interpretação:

Tabela nº 13 – Distribuição da amostra dos moradores do bairro Cassequel, quanto as


medidas a tomar após a compra de um alimento cru (frutas e legumes)
Após a compra de um alimento cru Frequência Percentagem
(frutas e legumes)

Consumir sem lavar

Lavar com água e lixívia e consumir

Total

Fonte: fichas de inquérito realizada em moradores do Bairro Cassequel, de 2019.


Interpretação:

Tabela nº 14 – Distribuição da amostra dos moradores do bairro Cassequel, quanto as


medidas a tomar quando se tem um parente em casa com cólera

Medida tomar quando se tem um Frequência Percentagem


parente em casa com cólera

Dar medicamentos tradicionais

Dar bastante água e levar ao hospital ou


um centro médico mais próximo

Esperar que passe

Total

Fonte: fichas de inquérito realizada em moradores do Bairro Cassequel, de 2019.


Interpretação:
Referências Bibliográficas

JORGE ATOUGUIA. Doenças transmitidas por águas e alimentos 6ª ed. Universidade


aberta.2009
RODRIGO BATISTA. Manual de infetologia, 1ª ed. Revinter. 2003
JOSÉ RODRIGUES COURA. Síntese das doenças infecciosas e parasitás, 1ª ed.
Guanabara Koogan. 2008
MARIA ROUQUAYROL e NAOMAR DE ALMEIDA FILHO. Epidemiologia e Saúde
, 6º ed. Guanabara Koogan. 2003
HARRISON. Medicina Interna, 15ª ed. MC graw Hill.2002
HARRISON. Medicina interna, 17ª, ed. Anthony. S. Fausci. 2008
JOSÉ RODRIGUES COURA. Dinâmica das doenças infeciosas e Parasitárias, 2ª ed.
Editora Guanabara
TAVARES, WALTER. Rotinas de diagnóstico e tratamento das doenças infeciosas e
parasitárias, 2ª ed. Editora Atheneu, 2009
GONÇALVES et al. Manual de prevenção e controlo da cólera e de outras doenças
diarreicas agudas, 1ª ed. Ministério da saúde. 2016
ARRUDA et al. Manual integrado de vigilância epidemiológica da cólera, 2ª ed Editora
MS. 2010

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