Você está na página 1de 70

1

MICROBIOLOGIA:

@focanaciencia
2

SUMÁRIO

1. Conceito de Microbiologia .............................................................................. 3


1.1. Breve histórico da Microbiologia......................................................................................... 5
1.2. Grupos de microrganismos .............................................................................................. 13
1.3. Importância da microbiologia ........................................................................................... 16
2. Reino Monera – as bactérias ....................................................................... 18
2.1. Estrutura das bactérias .....................................................................................................21
2.2. Morfologia bacteriana .......................................................................................................28
2.3. Metabolismo energético das bactérias .............................................................................35
2.4. Reprodução das bactérias ................................................................................................48
2.5. Importância das bactérias .................................................................................................58
3. Referências Bibliográficas ............................................................................63

@focanaciencia
3

1. MICROBIOLOGIA

Microbiologia é o ramo da ciência que estuda os microrganismos,


ou seja, seres vivos de tamanho pequeno, cujas dimensões não
permitem que sejam observados a olho nu pelo homem. Assim, eles só
podem ser visualizados ao microscópio.

O termo microbiologia vem do grego mikros, que significa “pequeno”


e bio e logos, “estudo da vida”. Dessa forma, essa área da Biologia
pesquisa todos os aspectos dos microrganismos e suas atividades
biológicas, isto é, verificam as diversas formas, estruturas, reprodução,

@focanaciencia
4

aspectos bioquímico-fisiológicos, e seu relacionamento entre si e com o


hospedeiro, podendo ser benéficos e prejudiciais.

Independente da complexidade de um organismo qualquer, a célula


é a unidade básica da vida. Todas as células vivas são constituídas,
basicamente, por: protoplasma ou citoplasma (do grego: primeira
substância formada), complexo orgânico coloidal constituído
principalmente de proteínas, lipídeos e ácidos nucléicos; membranas
celulares ou plasmáticas, podendo existir uma estrutura externa a ela
denominada parede celular; e um núcleo ou uma região nuclear
equivalente, onde se pode encontrar o material genético daquele
organismo.

@focanaciencia
5

De forma geral, todos os sistemas biológicos possuem as seguintes


características comuns: 1) capacidade de reprodução, visando
perpetuar a espécie; 2) capacidade de ingestão ou assimilação de
substâncias alimentares, visando a obtenção de energia e de
crescimento; 3) habilidade de excreção de produtos tóxicos; 4)
capacidade de reagir ou se adaptar às alterações do meio ambiente; e
5) susceptibilidade a mutações.

1.1. Breve histórico da Microbiologia

@focanaciencia
6

Mesmo sem saber do que se tratava, a microbiologia sempre


despertou a curiosidade dos homens, desde a época primitiva, quando
tentavam entender doenças e seus modos de transmissão.

Com o passar do tempo e a observação inerente à espécie, os seres


humanos notaram que alguns alimentos se modificavam quando
guardados em solo úmido ou frio, mas ainda o que estava ocorrendo não
era conhecido. Um exemplo clássico é a produção de vinho e laticínios,
que data da antiguidade, e a humanidade já se utilizavam dos
microrganismos, mesmo sem ter consciência daquele fato.

Em 1546, o monge e médico italiano Girolamo Fracastoro (1483-


1553) divulgou o livro “De contagione et contagionis” que tratava de seus

@focanaciencia
7

estudos sobre doenças contagiosas. A existência de germes vivos seria


responsável pelas doenças contagiosas, segundo ele. No entanto, suas
teorias não tiveram sucesso pois as doenças eram consideradas
“castigos divinos” e, por isso, a origem das
doenças contagiosas ficou apenas no campo das
especulações.

Em 1665, com o aprimoramento (e a


popularização) do microscópio, o cientista inglês
Robert Hooke publicou a obra “Micrographia”,
onde desenvolveu importantes estudos sobre

@focanaciencia
8

Microbiologia. Ele foi o primeiro cientista a observar tecidos vivos no


microscópio aprimorado por ele.

Réplica do microscópio desenvolvido por Hooke, desenho feito por ele ao analisar pedaços de cortiça e uma lâmina de cortiça. Os compartimentos
visualizados por Hooke eram, na verdade, apenas o envoltório das células vegetais, pois a cortiça é um tecido morto.

@focanaciencia
9

“Micrographia” era uma obra de extrema peculiaridade onde se


encontravam postulados sobre o estudo de organismos vivos e, ao
mesmo tempo, descrevia a eficácia de alguns instrumentos criados para
o desenvolvimento de pesquisas laboratoriais. As mesmas páginas que
descreviam estruturas de aves e insetos, também se destacavam pela
construção de um microscópio móvel e outros diversos instrumentos
laboratoriais de medição e leitura. Em parte do livro, Hooke ainda
trabalha com um primeiro conceito de célula ao descrever a estrutura
constitutiva de uma cortiça e sugere que animais e plantas, por mais
complexos que sejam, eram compostos de partes elementares
repetidas.

@focanaciencia
10

Porém, considera-se que a Microbiologia deu


seus primeiros passos, de fato, entre 1673 e 1723,
com o comerciante de tecidos e cientista holandês
Antonie van Leeuwenhoek (1632-1723), que
também observou tudo que lhe caia nas mãos em
um outro microscópio (simples, mas eficaz) por
ele inventado.

Leeuwenhoek é, para alguns, considerado o inventor do microscópio


e, para outros, o aperfeiçoador deste aparelho. Foi também ele que, ao
final do século XVII, identificou pela primeira vez a levedura como um
ser vivo, parte integrante da produção de bebidas fermentadas. Desta

@focanaciencia
11

forma, considerá-lo como o precursor da microscopia – ou, pelo menos,


um importante pesquisador desta área – é um referencial justo e
coerente.

Seu microscópio consistia em uma lente simples e bastante pequena


e foi com esse modelo que descreveu: os procariontes; o
espermatozoide de insetos, cães e
humanos; fibras musculares; glóbulos
vermelhos; capilares sanguíneos;
protozoários; rotíferos e o parasita intestinal
Giardia lamblia, isolada de suas próprias
fezes. Além disso, realizou os primeiros

@focanaciencia
12

estudos descritivos da embriologia de alguns animais marinhos e


conseguiu provar que até os seres mais simples se reproduzem.

O químico francês Louis Pasteur (1822-1895) foi o primeiro a estudar


os microrganismos de maneira mais sistemática, criando os primeiros
métodos preventivos de doenças, como a vacinação, a soroterapia,
entre outros. Considerado o “Pai da Microbiologia”, ele ajudou a
esclarecer muitas questões relacionadas ao surgimento dos seres
microscópicos e cura das doenças. A partir daí, a ciência continuou

@focanaciencia
13

evoluindo, os microscópios se desenvolveram, surgiram, por exemplo,


as técnicas de esterilização, de citologia e o cultivo de
microrganismos.

1.2. Grupos de Microrganismos

Os microrganismos são seres invisíveis à olho nu,


sendo necessários instrumentos de aumento para que

@focanaciencia
14

possam ser vistos. Fazem parte desse universo microscópico os vírus,


as bactérias, os protozoários e
algumas espécies de fungos.

Os vírus são seres acelulares,


considerados parasitas
obrigatórios, que se instalam no
interior das células a fim de usar o
aparato metabólico delas em seu favor. São responsáveis por causar
diversas doenças graves no homem, como HIV, febre amarela,
caxumba, varíola, entre outras. Porém, também podem ser usados em

@focanaciencia
15

benefício dos homens como em controles biológicos de pragas, por


exemplo.

As bactérias são seres unicelulares e procariontes, encontradas em


praticamente todos os ambientes terrestres e dentro de outros seres
vivos. Apresentam formas parasitas que causam doenças importantes
no homem, como tuberculose e sífilis, mas também estão presentes no
cotidiano da humanidade sendo utilizadas na fabricação de queijos,
iogurtes, vinhos e outras atividades de grande importância.

Os protozoários fazem parte do Reino Protoctista, são eucariontes,


unicelulares e heterotróficos. Também causam algumas doenças de

@focanaciencia
16

grande importância para o homem, como a amebíase, doença de chagas


e malária.

Já os fungos podem ser micro ou macroscópicos, dependendo da


sua espécie. Além disso, podem ser unicelulares ou pluricelulares,
eucariontes e heterótrofos. Alguns tipos de fungos são encontrados em
diversos ambientes, como água, vegetais, solo, detritos, e utilizados
para diversos fins, como culinária, medicina e produtos. Outros são
considerados parasitas e transmitem patogêneses como candidíase,
micose, histoplasmose, entre outros.

1.3. Importância da Microbiologia

@focanaciencia
17

A Microbiologia é uma área da Biologia que tem grande importância


seja como ciência básica ou aplicada. Quando destacada como ciência
básica, pode-se incluir os estudos fisiológicos, bioquímicos e
moleculares dos microrganismos.

Quando é considerada como ciência aplicada, pode-se destacar os


processos industriais, controle de doenças, de pragas, produção de
alimentos, dentre outras.
Sem dúvidas, o desenvolvimento da humanidade foi impactado
positivamente com o estudo dos dessa área. A partir da descoberta das

@focanaciencia
18

causas e formas de transmissão das doenças, além dos métodos


preventivos como vacinas, medicamentos e soros, por exemplo, foi
possível aumentar a qualidade e a expectativa de vida dos seres
humanos.

Outro benefício importante tem relação com a tecnologia de


alimentos, por meio dos processos de conservação e fermentação dos
produtos alimentícios. Além disso, a possibilidade de evitar patologias
nos animais, bem como a microbiologia do solo, que permite a
conservação dos fatores biológicos e uma degradação menor do solo,

@focanaciencia
19

também foram importantes para a evolução de todos os seres vivos que


compõem o planeta.

@focanaciencia
20

2. REINO MONERA – AS BACTÉRIAS

@focanaciencia
21

O Reino Monera é formado por bactérias, cianobactérias e


arqueobactérias (também chamadas arqueas), todos seres muito
simples, unicelulares e com célula procariótica (sem núcleo
diferenciado). Esses seres microscópios são geralmente menores do
que 8 micrômetros (1µm = 0,001 mm).
Os primeiros fósseis encontrados na natureza são de procariontes:
micro fósseis de cianobactérias, presentes na Austrália, com 3,5 bilhões
de anos e também de bactérias, na África do Sul, com idade estimada
em 3,1 bilhões de anos.
Em virtude da contribuição da Biologia Molecular, atualmente o
termo Monera encontra-se em desuso, e seus integrantes foram

@focanaciencia
22

divididos em outra forma de agrupamento, formando o sistema de


domínios.

Esses domínios foram esquematizados por Carl Woese em 1977.


Ele adicionou mais uma classificação acima dos reinos no sistema
taxonômico. De acordo com o Woese, todos os organismos existentes
podem ser agrupados em três grandes domínios:
● Bacteriya ou Eubacterya: composto por organismos procariontes,
como as bactérias e cianobactérias.
● Archaea: composto pelas arqueas, procariontes mais primitivos;

@focanaciencia
23

● Eukarya ou Eukaryota: composto pelos organismos eucariontes,


como protistas, plantas, fungos e animais.
Ainda assim, o termo Reino Monera pode ser encontrado em vários
livros como o grupo constituinte dos organismos procariontes. Aqui,
como nos livros didáticos, ele será utilizado também.

2.1. Estrutura das bactérias

As bactérias (do grego bakteria: 'bastão') são microrganismos


unicelulares que estão entre os menores, mais simples e mais
abundantes organismos do planeta. A maioria não ultrapassa um
micrômetro – a milésima parte do milímetro.

@focanaciencia
24

Elas são encontradas em uma grande diversidade de ambientes,


como no solo, na água doce, no mar, no ar, na superfície e no interior
dos organismos e nos materiais em decomposição.
As bactérias não possuem uma carioteca (membrana nuclear que
envolve o DNA), são seres muito frágeis, mesmo possuindo membrana
plasmática envolvida pela parede celular ou, às vezes, por uma cápsula.
Dentro da cápsula, existem estruturas que ajudam no deslocamento
desses seres, como os cílios e flagelos. Os cílios são filamentos, que
aparecem em menor quantidade nesses seres, já os flagelos são
filamentos que aparecem em maior quantidade.

@focanaciencia
25

Além disso, essas células possuem outros componentes


fundamentais para qualquer célula como a membrana plasmática, o
hialoplasma, os ribossomos e a cromatina, que forma uma molécula de
DNA circular, originando o único cromossomo bacteriano.
A região ocupada por esse cromossomo é classificada como
nucleoide. As bactérias possuem ainda o plasmídeo, que também é uma
molécula de DNA. Porém, na maioria das vezes, esses genes do
plasmídeo, espalhados no hialoplasma, são responsáveis por produzir
resistência aos antibióticos e servem para a troca de genes entre as
bactérias durante a “reprodução sexuada”.

@focanaciencia
26

Vale deixar registrado cada estrutura da bactéria em separado e sua


respectiva função. Assim, além da membrana plasmática e do
hialoplasma, nesses microrganismos é possível encontrar:

@focanaciencia
27

● Nucleoide: a região central onde está o material genético, já


que não tem um núcleo delimitado pela carioteca.
● Parede celular: estrutura que reveste a membrana plasmática
dando o formato da bactéria. De acordo com sua constituição,
podem ser distribuídas em dois grandes grupos: as Gram-
positivas e as Gram-negativas. As que retêm o corante de Gram
(deixando-se corar pela coloração de Gram, técnica criada pelo
microbiologista dinamarquês Hans Christian Joachim Gram, em

@focanaciencia
28

1884) são denominadas Gram-positivas, enquanto aquelas que


não retêm são classificadas como Gram-negativas.
● Ribossomo: é a única organela citoplasmática que possui e é
responsável pela síntese de proteínas.
● Plasmídeo: nem todas
possuem, mas sempre é uma
molécula de DNA que não
está ligado ao material
genético da célula, apenas
possui informações de resistência aos antibióticos e são trocados
durante a “reprodução sexuada”.

@focanaciencia
29

● Cápsula: Algumas espécies possuem este envoltório que


garante maior resistência nos meios em que estão. Dentre as
bactérias que causam doenças, as que possuem cápsula são
mais letais.
● Flagelo: um filamento que se movimenta
rapidamente impulsionando a bactéria se mover, nem todas
possuem.
● Fímbrias: também chamadas de pili, não servem para locomoção
e sim para reprodução. Essa estrutura também é responsável
pela +.

@focanaciencia
30

● O material genético das bactérias podem ser DNA ou RNA e ela


possuem sempre apenas um cromossomo.

2.2. Morfologia bacteriana

As bactérias podem viver isoladamente ou construir agrupamentos


coloniais de diversos formatos. As denominações variam de acordo com

@focanaciencia
31

o formato em que são apresentadas. Com isso, elas recebem o nome


de:

● Cocos: forma esférica. Geralmente encontrados na forma de


agregados, como
estreptococos,
estafilococos etc;
● Bacilos: forma de
bastonete. Exemplo:
lactobacilos, responsáveis
pela fermentação do leite, e

@focanaciencia
32

rizóbios, bactérias que auxiliam na fixação de nitrogênio em vegetais;


● Vibrião: forma de vírgula, como Vibrio cholerae, bactéria causadora
da cólera;
● Espiral: forma de espiral. Quando assumem um formato de espiral
rígido, elas são chamadas de espirilos; caso seja um espiral flexível,
espiroquetas. Exemplo: Helicobacter pylori (responsável por
algumas úlceras, gastrites e até cânceres estomacais) e Treponema
pallidum (responsável pela sífilis).

@focanaciencia
33

@focanaciencia
34

Quanto à agregação
bacteriana, apenas bacilos e
cocos formam colônias. Essas
colônias podem ser
classificadas em:

● Diplococo: pares de cocos


agrupados. Exemplo: Neisseria gonorrhoeae (responsável pela
gonorreia, uma infecção sexualmente transmissível);

@focanaciencia
35

● Estreptococos: cocos agrupados formando algo semelhante a um


"colar". Exemplo: Streptococcus pyogenes (responsável por
doenças como a faringite bacteriana);
● Estafilococos: cocos agrupados de forma desorganizada,
semelhantes a cachos. Exemplo: Staphylococcus aureus
(responsável por vários tipos de infecções);
● Sarcina: cocos agrupados de forma cúbica, formado por 4 ou 8
cocos simetricamente emparelhados. Exemplo: Sarcina ventriculi
(responsável por algumas infecções generalizadas);
● Diplobacilos: bacilos agrupados em pares. Exemplo: Diplobacillus
variabilis;

@focanaciencia
36

● Estreptobacilos: bacilos alinhados em cadeia formando algo


semelhante a um "colar". Exemplo: Bacillus anthracis (causadora da
doença de Anthrax).

@focanaciencia
37

2.3. Metabolismo energético das bactérias

Se há um grupo de seres que apresenta grande diversidade


metabólica, sem sombra de dúvidas é o das bactérias.
Existem espécies heterótrofas e espécies autótrofas. Dentre as
primeiras, destacam-se as parasitas, as decompositoras de matéria
orgânica e as que obtêm matéria orgânica de outros seres vivos, com os
quais se associam de maneira benéfica, sem prejudicá-los. Dentre as
autótrofas, existem espécies que produzem matéria orgânica por
fotossíntese e outras que produzem por quimiossíntese.

@focanaciencia
38

Bactérias Heterótrofas

As bactérias parasitas são as que, por meio de inúmeros


mecanismos, agridem outros seres vivos para a obtenção de alimento
orgânico e causam inúmeras doenças. As decompositoras
(frequentemente denominadas sapróvoras, saprofíticas ou
saprofágicas) obtêm o alimento orgânico recorrendo à decomposição da
matéria orgânica morta e são importantes na reciclagem dos nutrientes
minerais na biosfera.

@focanaciencia
39

As que são associadas as outros seres vivos são denominadas


simbiontes, e não agridem os parceiros. É o caso das bactérias
encontradas no estômago dos ruminantes (bois, cabras), que se nutrem
da celulose ingerida por esses animais, fornecendo, em troca,
aminoácidos essenciais para o metabolismo protéico do mesmo.

Muitas bactérias heterótrofas são anaeróbias obrigatórias, como o


bacilo do tétano. São bactérias que morrem na presença de oxigênio.
Nesse caso a energia dos compostos orgânicos é obtida por meio de
fermentação. As anaeróbicas facultativas, por outro lado, vivem tanto
na presença como na ausência de oxigênio.

@focanaciencia
40

Outras espécies só sobrevivem em presença de oxigênio – são as


aeróbias obrigatórias. Nessa modalidade de metabolismo energético
existem todas as etapas típicas da respiração celular. Muda apenas o
aceptor final de elétrons na cadeia respiratória. No lugar do oxigênio,
essas bactérias utilizam nitrato, nitrito ou sulfato, obtendo no final,
praticamente o mesmo rendimento energético verificado na respiração
celular aeróbia. É o que ocorre com as bactérias desnitrificantes que
participam do ciclo do nitrogênio na natureza. Nelas o aceptor final de
elétrons é o nitrato.

As outras duas classificações são bactérias microaerofílicas e


bactérias aerotolerantes. Os microaerófilos podem viver em habitats

@focanaciencia
41

com níveis mais baixos de oxigênio em comparação com a atmosfera.


Exemplos de microaerófilos são Helicobacter pylori, que causa úlceras
pépticas, e Borrelia burgdorferi, que causa a doença de Lyme.

Bactérias anaeróbias aerotolerantes não têm nenhum uso de


oxigênio, mas não são afetadas adversamente por sua presença. Um
exemplo é o gênero Lactobacillus, normalmente é encontrado no
intestino, na pele e no aparelho genital feminino de humanos. Quando
as populações de Lactobacillus no aparelho genital feminino se
esgotam, bactérias como Gardnerella vaginalis se multiplicam, levando
à vaginose bacteriana.

@focanaciencia
42

Identificar se uma bactéria é aeróbia ou anaeróbia é importante no


tratamento de infecções bacterianas. O tratamento de infecções
causadas por bactérias anaeróbicas costuma ser mais desafiador, pois
são resistentes às terapias antibióticas usuais. Por exemplo, o
tratamento de bactérias como Bacillus fragilis geralmente inclui
antibióticos combinados, como piperacilina/tazobactam,
imipenem/cilastatina, amoxicilina/clavulanato e metronidazol mais
ciprofloxacina ou gentamicina.

Bactérias Autótrofas

@focanaciencia
43

Fotossintetizantes

Nas bactérias que realizam fotossíntese, a captação da energia solar


fica a cargo de uma clorofila conhecida como bacterioclorofila. A partir
da utilização de substâncias simples do meio, ocorre a síntese do
combustível biológico. De maneira geral, não há liberação de oxigênio.
Como exemplo, podemos citar as bactérias sulforosas do gênero
Chlorobium, que efetuam esse processo com a utilização de H2S e CO2,
segundo a equação:

@focanaciencia
44

Observe que é o gás sulfídrico (H2S), e não a água, que atua como
fornecedor dos hidrogênios que servirão para a redução do gás
carbônico. Não há a liberação de oxigênio. O enxofre permanece no
interior das células bacterianas sendo, posteriormente eliminado para o
meio em que vivem esses microrganismos, em geral fontes sulfurosas.
Nesse processo, CH2O representa a matéria orgânica produzida.

Quimiossintetizantes

@focanaciencia
45

A quimiossíntese é uma reação que produz energia química,


convertida da energia de ligação dos compostos inorgânicos oxidados.
Sendo a energia química liberada, empregada na produção de
compostos orgânicos e gás oxigênio (O2), a partir da reação entre o
dióxido de carbono (CO2) e água molecular (H2O), conforme
demonstrado abaixo:

● Primeira etapa

● Segunda etapa

@focanaciencia
46

Esse processo autotrófico de síntese de compostos orgânicos ocorre


na ausência de energia solar. É um recurso normalmente utilizado por
algumas espécies de bactérias e arqueobactérias (bactérias com
características primitivas ainda vigentes), recebendo a denominação
segundo os compostos inorgânicos reagentes, podendo ser:
ferrobactérias e nitrobactérias ou nitrificantes (nitrossomonas e
nitrobacter, gênero de bactérias quimiossíntetizantes).

@focanaciencia
47

As ferrobactérias oxidam substâncias à base de ferro para


conseguirem energia química, já as nitrificantes, utilizam substâncias à
base de nitrogênio.

Presentes no solo, as nitrossomonas e nitrobacter, são importantes


organismos considerados biofixadores de nitrogênio, geralmente
encontradas livremente no solo ou associadas às plantas, formando
nódulos radiculares.

A biofixação se inicia com a assimilação no nitrogênio atmosférico


(N2), transformando-o em amônia (NH3), reagente oxidado pela
nitrossomona, resultando em nitrito (NO2-) e energia para a produção de
substâncias orgânicas sustentáveis a esse gênero de bactérias.

@focanaciencia
48

O nitrito, liberado no solo e absorvido pela nitrobacter, também passa


por oxidação, gerando energia química destinada à produção de
substâncias orgânicas a esse gênero e nitrato (NO3-), aproveitado pelas
plantas na elaboração dos aminoácidos.

Reação quimiossintética nas Nitrossomonas:

NH3 (amônia) + O2 → NO2- (nitrito) + Energia

6 CO2 + 6 H2O + Energia → C6H12O6 (Glicose - Compostos Orgânicos) + 6 O2

Reação quimiossintética nas Nitrobacter:

@focanaciencia
49

NO2- (nitrito) + O2 → NO3- (nitrato) + Energia

6 CO2 + 6 H2O + Energia → C6H12O6 + 6 O2

Assim, podemos perceber que o mecanismo de quimiossíntese,


extremamente importante para a sobrevivência das bactérias
nitrificantes, também é bastante relevante ao homem. Conforme já
mencionado, o nitrito absorvido pelas plantas, convertidos em
aminoácidos, servem como base de aminoácidos essenciais à nutrição
do homem (um ser onívoro: carnívoro e herbívoro).

@focanaciencia
50

Dessa forma, fica evidente a interdependência existente entre os


fatores bióticos (a diversidade dos organismos) e os fatores abióticos
(aspectos físicos e químicos do meio ambiente).

2.4. Reprodução das bactérias

As bactérias podem se reproduzir com grande rapidez, dando origem


a um número muito grande de descendentes em apenas algumas horas,
mostrando um potencial reprodutivo considerável, quando encontram
condições favoráveis. Isso ocorre porque a maioria delas reproduz-se

@focanaciencia
51

assexuadamente, por cissiparidade, também chamada de divisão


simples ou bipartição. Nesse caso, ocorre a duplicação do DNA
bacteriano e uma posterior divisão em duas células.

A separação dos cromossomos irmãos conta com a participação dos


mesossomos, pregas internas da membrana plasmática nas quais
existem também as enzimas participantes da maior parte da respiração
celular.

Como não existe a formação do fuso de divisão e nem de figuras


clássicas e típicas da mitose. Logo, não é mitose.

@focanaciencia
52

Algumas espécies de bactérias originam, sob condições ambientais


desfavoráveis, estruturas resistentes denominadas esporos. A célula
que origina o esporo se desidrata, forma uma parede grossa e sua
atividade metabólica torna-se muito reduzida. Certos esporos são

@focanaciencia
53

capazes de se manter em estado de dormência por dezenas de anos.


Ao encontrar um ambiente adequado, o esporo se reidrata e origina uma
bactéria ativa, que passa a se reproduzir por divisão binária.

Os esporos são muito resistentes ao calor e, em geral, não morrem


quando expostos à água em ebulição. Por isso os laboratórios, que
necessitam trabalhar em condições de absoluta assepsia, costumam
usar um processo especial, denominado autoclavagem, para esterilizar
líquidos e utensílios.

A indústria de enlatados toma medidas rigorosas na esterilização dos


alimentos para eliminar os esporos da bactéria Clostridium botulinum.
Essa bactéria produz o botulismo, infecção frequentemente fatal.

@focanaciencia
54

Mas vale
lembrar que a
esporulação
em bactérias
não é um meio
de reprodução.
Ou seja, esse
processo não
aumenta o
número de
células, visto

@focanaciencia
55

que uma célula vegetativa forma um único endósporo que permanece


uma célula única após a germinação.

Para alguns autores, qualquer troca de material genético realizada


por uma célula bacteriana é considerada um caso de reprodução
sexuada. Nesse processo, fragmentos de DNA são passados de uma
célula (bactéria doadora) para outra (bactéria receptora), levando à
junção do material das duas. Após esse processo, a bactéria divide-se,
assim como observado na reprodução assexuada. Como após a troca
de material as células separam-se para depois se dividir, muitos autores
consideram que há apenas uma recombinação genética, e não uma
reprodução sexuada.

@focanaciencia
56

A transferência de DNA de uma bactéria para outra pode ocorrer de


três maneiras: por transformação, transdução e por conjugação.

TRANSFORMAÇÃO

Na transformação, a bactéria absorve moléculas de DNA dispersas


no meio e são incorporados à cromatina. Esse DNA pode ser
proveniente, por exemplo, de bactérias mortas. Esse processo ocorre
espontaneamente na natureza.

Os cientistas têm utilizado a transformação como uma técnica de


Engenharia Genética, para introduzir genes de diferentes espécies em
células bacterianas.

@focanaciencia
57

TRANSDUÇÃO

Na transdução, moléculas de DNA são transferidas de uma bactéria


a outra usando vírus como vetores (bactériófagos). Estes, ao se montar

@focanaciencia
58

dentro das bactérias, podem eventualmente incluir pedaços de DNA da


bactéria que lhes serviu de hospedeira. Ao infectar outra bactéria, o vírus
que leva o DNA bacteriano
o transfere junto com o seu.
Se a bactéria sobreviver à
infecção viral, pode passar
a incluir os genes de outra
bactéria em seu genoma.

CONJUGAÇÃO

@focanaciencia
59

Na conjugação bacteriana, pedaços de


DNA passam diretamente de uma bactéria
doadora, o "macho", para uma receptora, a
"fêmea". Isso acontece através de
microscópicos tubos protéicos, chamados pili,
que as bactérias "macho" possuem em sua
superfície.

O fragmento de DNA transferido se


recombina com o cromossomo da bactéria
"fêmea", produzindo novas misturas

@focanaciencia
60

genéticas, que serão transmitidas às células-filhas na próxima divisão


celular.

2.5. Importância das bactérias

Não é raro que as bactérias sejam associadas às doenças que essas


podem causar, tais como tuberculose, pneumonia, otites, faringites,
meningites e muitas outras mais. No entanto, grande parte destes
organismos desempenham funções muito importantes para o meio
ambiente e à vida humana.

@focanaciencia
61

Bactérias saprofágicas, por exemplo, ao se alimentarem da matéria


orgânica sem vida, transformam-na em compostos inorgânicos mais
simples, que serão incorporados em outros níveis tróficos da cadeia
alimentar. Assim, juntamente com outros decompositores, como os
fungos, exercem um papel de extrema
importância para a manutenção da
vida na Terra. Outras bactérias, ainda,
são capazes de fixar nitrogênio,
fertilizando o solo e fornecendo
compostos nitrogenados a diversas
plantas.

@focanaciencia
62

Indivíduos fermentadores são aqueles que degradam parcialmente


moléculas orgânicas ricas em energia, podendo resultar em diversos
produtos, dependendo da substância e do microrganismo que
desempenhou tal função. O álcool etílico e o ácido lático podem ser
resultantes deste processo; e desses são fabricadas bebidas, por
bactérias do gênero Acetobacter; e coalhadas e iogurtes, pelos gêneros
Lactobacillus e Streptococcus. Outras espécies fermentadoras, ainda,
podem viver de forma harmônica em nosso organismo, controlando a

@focanaciencia
63

população de outros microrganismos, inclusive os patogênicos, como é


o caso dos lactobacilos que vivem na flora vaginal das mulheres.

Quanto às biotecnologias, genes bacterianos são um dos mais


utilizados no
desenvolvimento de
organismos transgênicos;
sendo que algumas
espécies, como as do
gênero Agrobacterium,
auxiliam no transporte dos
novos genes ao genoma

@focanaciencia
64

do indivíduo a ser modificado. Na indústria, estes seres vivos são


utilizados na fabricação de antibióticos e substâncias, como a acetona e
o ácido glutâmico.

Tais organismos, ainda, podem auxiliar na limpeza de substâncias


prejudiciais ao meio ambiente, como pesticidas e até mesmo petróleo e
substâncias radioativas. Estações de tratamento de esgoto utilizam
amplamente bactérias anaeróbicas para a conversão da matéria
orgânica em produtos que podem ser utilizados, após o devido
tratamento, como fertilizantes; e, em um estágio próximo, as aeróbicas
se encarregam de degradar as partículas menores da parte líquida do

@focanaciencia
65

esgoto, permitindo com que a água resultante seja tratada e devolvida


aos rios e oceanos.

@focanaciencia
66

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLACK, J. G. Microbiologia: Fundamentos e Perspectivas. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 4ed, 2002.

PELCZAR, Michel; CHAN, E. C. S; KRIEG, Noel R. Microbiologia: conceitos e


aplicações. 2.ed. Sao Paulo: Pearson Makron Books, 2009. 2v.

TORTORA, Gerard J.; FUNKE, Berdell R.; CASE, Christine L. Microbiologia. Porto
Alegre: Artmed, 10º ed, 2012.

@focanaciencia
67

TRABULSI, Luiz Rachid; ALTERTHUM, Flávio. Microbiologia. 5.ed. São Paulo: Atheneu,
2008. 760 p.

American Society of Microbiology. Página inicial. Disponívem em <https://asm.org/>.


Acesso em: 01 set. 2020.

NOGUEIRA, André. Robert Hook, o Leonardo da Vinci inglês. Uol. Disponível em


<https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/robert-hooke-o-leonardo-
da-vinci-ingles.phtml>. Acesso em: 25 ago. 2020.

ARAGUAIA, Mariana. Anton Leeuwenhoek. Brasil Escola Disponível em


<https://brasilescola.uol.com.br/biologia/anton-leeuwenhoek.htm>. Acesso em: 25 ago.
2020.

@focanaciencia
68

PERCíLIA, Eliene. Robert Hooke; Brasil Escola. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/biografia/robert-hooke.htm. Acesso em: 30 ago. 2020.

FUKS, Rebeca. Robert Hooke. Ebiografia. Disponível em


<https://www.ebiografia.com/robert_hooke/>. Acesso em: 04 ago. 2020.

Educa Mais Brasil. Microbiologia. Disponível em


<https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/biologia/microbiologia>. Acesso em: 07 de
set. 2020.

@focanaciencia
69

Saúde Humana. Bactérias são fundamentais para o equilíbrio do corpo. Disponívem em


<http://www.humanasaude.com.br/noticias/bacterias-sao-fundamentais-para-equilibrio-
do-corpo,17158>. Acesso em: 03 set. 2020.

AVILA-CAMPOS, Mario Julio. Introdução à microbiologia. Disponívem em:


<http://www.icb.usp.br/bmm/mariojac/arquivos/Aulas/Introducao_Microbiologia_Texto.p
df>. Acesso em: 03 set. 2020.

SOUSA, Rainer. Robert Hooke. Mundo Educação. Disponível em


<https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/robert-hooke.htm>. Acesso em 16 ago.
2020.

@focanaciencia
70

FAPESP. Página inicial. Disponível em <https://revistapesquisa.fapesp.br/>. Acesso em:


17 set. 2020.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE MICROBIOLOGIA. Página inicial. Disponível em


<https://sbmicrobiologia.org.br/>. Acesso em: 20 set. 2020.

MAGALHÃES, Lana. Microbiologia. Toda Matéria. Disponível em


<https://www.todamateria.com.br/microbiologia/>. Acesso em: 11 set. 2020.

UOU. Bactérias placentárias poderiam moldar a saúde humana. Disponível em


<http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/bacterias_placentarias_poderiam_moldar_a_sa
ude_humana.html>. Acesso em: 02 set. 2020.

@focanaciencia

Você também pode gostar