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CANCRO DA VIDEIRA (Xanthomonas citri pv.

viticola)
Willian Bucker Moraes
Breno Benvindo dos Anjos
1. Classificação taxonômica

Classificação Taxonômica
Domínio Bacteria
Filo Proteobacteria
Classe Gammaproteobacteria
Ordem Lysobacterales
Família Lysobacteraceae
Gênero Xanthomonas
Espécie Xanthomonas citri pv. viticola
(Gama et al. 2018)

2. Monitoramento
Apesar da importância do cancro da videira, existem poucos dados disponíveis
em literatura sobre a epidemiologia e manejo da doença. Embora a doença
possa atingir vários órgãos da planta, os sintomas nas folhas é o indicativo
mais forte da intensidade da doença. Neste sentido o monitoramento da
doença pode ser realizado utilizando a escala diagramática proposta por
Nascimento et al. (2005) para verificar a severidade da doença em campo.

3. Levantamento de ocorrência em condições de campo


Na ausência de condições favoráveis para infecção, a bactéria pode sobreviver
epifiticamente ou em cancros na parte aérea das videiras (Araujo 2001). A X.
citri pv. viticola é capaz de sobreviver até 80 dias em tecidos infectados na
superfície do solo (Silva et al. 2012). A bactéria tem sido associada externa e
internamente a sementes de videiras cultivadas em áreas com incidência de
cancro bacteriano, confirmando sua colonização sistêmica e importância das
sementes na sobrevivência do patógeno (Tostes et al. 2014; Villela et al. 2021).
4. Identificação
A Xanthomonas citri pv. viticola anteriormente Xanthomonas campestres pv.
viticola (Gama et al. 2018) é uma bactéria Gram-negatica, com dimensões de
0,6 – 1,2-2,5µm, possui um flagelo polar e metabolismo aeróbico. O diagnóstico
do cancro bacteriano da videia é baseado na observação dos sintomas,
seguidos do isolamento bacteriano e ferramentas de identificação, que incluem
indução da reação de hipersensibilidade (HR) em folhas de tomate, testes de
patogenicidade em variedade suscetíveis, sorologia com anticorpos policlonais
e/ou testes de identificação molecular baseados em PCR (Trindade et al. 2005;
Trindade et al. 2007; Gama et al. 2018)

5. Epidemiologia
A doença é favorecida por condições de umidade e temperaturas elevadas e
presença de ferimentos na planta. A ocorrência de chuva propicia a exsudação
de pus bacteriano a partir de cancros presentes nos ramos, o que favorece a
disseminação do patógeno (Lima, 2000).

6. Sintomatologia
A bactéria é responsável por causar cancro nos galhos, ramos, pecíolos e
nervuras, bem como lesões escuras deprimidas nas bagas (Gama et al. 2018).
Em folhas ocorre manchas angulares pequenas e escuras (1-2 mm de
diâmetro) circundadas ou não por halo amarelo. Com avanço da doença ocorre
coalescência das manchas, causando morte do tecido foliar. Nas nervuras do
tecido foliar e em pecíolos há formação de manchas escuras alongadas e
irregulares, que resultam na formação de cancros. Nos ramos verdes, surgem
manchas escuras irregulares, que se tornam necróticas, com o agravamento da
doença há o desenvolvimento de cancro, fendilhamentos longitudinais de
coloração negra, expondo os tecidos internos. Nas inflorescências, ocorre a
necrose e os sintomas pode ser observado a partir das extremidades das
ráquis. Nas bagas ocorrem lesões escuras e levemente arredondadas. Nos
cachos formados é observado a murcha em bagas, após a necrose da ráquis e
do pedicelo (Lima 2000; Rosa et al. 2004).
7. Plantas hospedeiras
Plantas hospedeiras alternativas desempenham um papel importante na
sobrevivência de bactérias fitopatogênicas e são fontes de inóculo para novas
infecções (Ocimati et al. 2018; Nascimento et al. 2020; Santos et al. 2020). A
bactéria infecta naturalmente a videira (vitis vinifera), nim (Azadirachia indica) e
Phyllanchus maderaspatensis (Euphorbiaceae) (Desai et al. 1996, Trindade et
al. 2005). No Brasil não foi verificada a ocorrência natural de nim, no entanto
inoculações artificiais do patógeno resultaram na infecção de manga
(Mangifera indica), cajueiro (Anacardium occidentale), umbuzeiro (Spondias
tuberosa), cajá-manga (Spondias dulcis) e aroeira (Schiunus terebenthifolius)
(Kamble et al. 2019; Nascimento et al. 2020). A bactéria também pode ser
encontrada em hospedeiro alternativos, entre eles Alternanthera tenella,
Amaranthus sp., Glycine sp., Senna obtusifolia (Peixoto et al. 2007).

8. Ações de prevenção
 Aquisição de mudas e material propagativo com sanidade comprovada
(exigir Certificado Fitossanitário de Origem - CFO);
 Realizar inspeções periódicas visando a detecção dos focos iniciais;
 Evitar ferimentos nas plantas, como desbrota, poda e raleio em períodos de
ocorrência de chuvas;
 Pulverizar produtos à base de cobre logo após a poda e em caso de
ocorrência de ferimentos;
 Desinfestação de tesouras (poda, raleio e colheita) entre cada duas plantas.
9. Método de controle
Os materiais propagativos e mudas constituem os meios mais eficientes de
disseminação do cancro bacteriano, principalmente a longas distâncias. Ao
adquirir mudas ou qualquer material propagativo, exigir sempre o Certificado
Fitossanitário de Origem – CFO. Realizar inspeções periódicas no parreiral, se
possível semanalmente, é extremamente importante para a detecção de
sintomas de cancro bacteriano. A verificação da ocorrência da doença no
parreiral nos estágios iniciais e eliminação de todos os ramos infectados facilita
o seu manejo. Os cortes resultantes da poda ou quaisquer ferimentos na planta
deverão ser pincelados com pasta cúprica. Também deve-se realizar a
desinfestação de tesouras de podas.
REFERÊNCIAS
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