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Documentos

ISSN 1516-5582
Setembro, 2012
108
Manual de Identificação de Doenças
de Trigo
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária ISSN 1516-5582
Embrapa Trigo Julho, 2012
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Documentos 108

Manual de Identificação de Doenças de Trigo

Flávio Martins Santana


Douglas Lau
João Leodato Nunes Maciel
José Maurício Cunha Fernandes
Leila Maria Costamilan

Embrapa
Passo Fundo, RS
2012
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Editoração eletrônica
Vera Rosendo
Embrapa Trigo Ilustração da capa
Rodovia BR 285, km 294 - Caixa Postal 451 Fátima de Marchi
99001-970 Passo Fundo, RS Revisão bibliográfica
Telefone: (54) 3316-5800 Fax: (54) 3316-5802 Maria Regina Martins
www.cnpt.embrapa.br
E-mail: vendas.cnpt@embrapa.br 1ª edição
1ª impressão (2012): 1000 exemplares
Comitê de Publicações
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Presidente A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em
Sandra Maria Mansur Scagliusi parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).

Membros Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Anderson Santi Embrapa Trigo
Douglas Lau
Flávio Martins Santana Manual de identificação de doenças de trigo / Flávio Martins Santana... [et
al.] – Passo Fundo : Embrapa Trigo, 2012.
Gisele Abigail M. Torres
Joseani Mesquita Antunes 43 p.; 18 cm x 10 cm. – (Documentos / Embrapa Trigo, ISSN 1516-5582;
Maria Regina Cunha Martins 108).
Martha Zavariz de Miranda
Renato Serena Fontaneli 1. Trigo - Doença. I. Santana, Flávio Martins. II. Lau, Douglas.
III. Costamilan, Leila Maria. IV. Maciel, João Leodato Nunes. V. Fernandes,
José Maurício Cunha.
CDD: 633.1193
 Embrapa Trigo – 2012
Autores

Flávio Martins Santana Leila Maria Costamilan José Maurício Cunha Fernandes
Engenheiro Agrônomo Engenheira Agrônoma Engenheiro Agrônomo
Dr. em Fitopatologia Ms. em Fitotecnia Ph.D. em Fitopatologia
Pesquisador da Embrapa Trigo Pesquisadora da Embrapa Trigo Pesquisador da Embrapa Trigo
BR 285, km 294 BR 285, km 294 BR 285, km 294
Caixa Postal, 451 Caixa Postal, 451 Caixa Postal, 451
99001-970 Passo Fundo, RS 99001-970 Passo Fundo, RS 99001-970 Passo Fundo, RS
E-mail: flávio.santana@embrapa.br E-mail: leila.costamilan@embrapa.br E-mail:
mauricio.fernandes@cnpt.embrapa.br
Douglas Lau João Leodato Nunes Maciel
Biólogo Engenheiro Agrônomo
Dr. em Fitopatologia Dr. em Fitotecnia
Pesquisador da Embrapa Trigo Pesquisador da Embrapa Trigo
BR 285, km 294 BR 285, km 294
Caixa Postal, 451 Caixa Postal, 451
99001-970 Passo Fundo, RS 99001-970 Passo Fundo, RS
E-mail: douglas.lau@embrapa.br E-mail:
joão.nunes-maciel@ embrapa.br
APRESENTAÇÃO

Doenças causadas por fungos, bactérias e vírus causam


danos significativos à cultura do trigo no Brasil. A infecção
por estes agentes patogênicos pode ocorrer em diferentes
estádios de desenvolvimento da planta e os sintomas,
manifestarem-se em diferentes órgãos como raízes,
colmos, folhas e espigas. A distribuição das doenças no
campo também é variável e reflete as estratégias de
disseminação do patógeno. O êxito no manejo das
doenças requer sua correta identificação, entendimento
das condições que favorecem o seu desenvolvimento e
conhecimento das medidas de controle disponíveis. Esta
publicação elaborada pela Embrapa Trigo contém fotos
ilustrativas dos principais sintomas e descrições úteis que
constituem um ponto de partida para uma identificação
mais rápida das principais doenças. As informações de
caráter prático têm o intuito de auxiliar agricultores e
profissionais da área agronômica para o adequado
manejo.

Sergio Roberto Dotto


Chefe-Geral da Embrapa Trigo
Doenças Fúngicas
Manual de Identificação de Doenças de Trigo 10 I
I

Mancha amarela (Pyrenophora tritici-repentis/Drechslera tritici-repentis)


Sintomas do fungo, que causarão infecção. Em da doença está entre 18 e 28°C, com
São mais pronunciados na fase adulta consequência, a área fotossitética será período de molhamento variando de 12
da planta. Plantas jovens podem afetada, em função do número e horas (em cultivares suscetíveis) a 30
apresentar pequenas lesões, que se tamanho das lesões, o que resultará em horas contínuas. É uma doença
iniciam por pontuações escuras e menor enchimento de grãos. importante em todas as regiões onde o
evoluem para necroses, usualmente trigo é cultivado no Brasil.
de coloração marrom com halo
amarelo, resultado da produção de
toxinas pelo patógeno. Em cultivares Condições de desenvolvimento Controle
suscetíveis, ao final do ciclo da planta, A mancha amarela é considerada Indica-se: a) manejo cultural, pela rotação
as lesões tornam-se coalescentes e, doença comum em sistema plantio de trigo com espécies não hospedeiras
junto com infecções concomitantes de direto, pois o agente causal continua o (entre as opções, estão aveia, nabo ou
outros patógenos, todo o limbo foliar ciclo, de forma saprofítica, nos restos canola); b) uso de sementes sadias ou I
torna-se necrosado. Os danos ao culturais. Assim, a principal fonte de tratadas com fungicidas; c) aplicação de
rendimento de grãos podem atingir inóculo são os restos de trigo e de outros fungicida no início do aparecimento de
entre 30 e 40%, geralmente variando cereais, onde pseudotécios do patógeno sintomas. A eficiência do controle químico
entre 3 e 15%. A percentagem de dano, são produzidos como forma de vai depender do momento da aplicação,
em cada caso, dependerá da sobrevivência. Com respingos de chuva, da suscetibilidade da cultivar e das
quantidade de chuvas durante a os pseudotécios liberam ascosporos, que condições climáticas. d) Uso de cultivares
estação de cultivo do trigo, que causam as primeiras infecções na planta. com, pelo menos, moderada resistência
implicará em mais ou menos esporos A temperatura ideal para ocorrência genética à mancha amarela.
Manual de Identificação de Doenças de Trigo
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Foros: Flávio Santana


Manual de Identificação de Doenças de Trigo 12

Mancha marrom (Cochliobolus sativus/Bipo/aris sorokiniana)


Sintomas Condições de desenvolvimento Controle
Os sintomas mrcrars nas folhas são No Brasil, a mancha marrom é mais As medidas de controle indicadas são
lesões pontuais escuras, que comum desde a região central do semelhantes às de outros patógenos
progridem e tomam formato oval Paraná até a região do Brasil Central. necrotróficos causadores de manchas
alongado, de cor marrom escuro. O fungo pode ser transmitido por foliares, que são: utilização de
Ocorrem também nas bainhas e sementes, o que permite a cultivares com resistência parcial,
colmos. Nas espigas causa disseminação a longas distâncias e a rotação de culturas e aplicação de
escurecimento das glumas e atinge os introdução da doença em novas áreas fungicidas. Adicionalmente, indica-se
grãos, que ficam enrugados e com de cultivo. a utilização de sementes sadias, para
sintoma de ponta preta. O patógeno A temperatura ideal para o evitar a transmissão do fungo; ou o
interfere na germinação de sementes, desenvolvimento da doença está entre tratamento de sementes, desde que a
causando podridão em plântulas, seja 20 e 28°C, com período de molhamento incidência de C. sativus não ultrapasse
pelo inóculo em sementes, seja pelo foliar de pelo menos 15 horas. 40%.
inóculo presente em restos culturais.
A planta é mais vulnerável e o
patógeno causa mais danos a partir
do florescimento, quando a planta
necessita de energia (fotossíntese)
para o enchimento de grãos. Os
danos ao rendimento de grãos em trigo
variam de 20 a 80%:
Manual de Identificação de Doenças de Trigo 13

Fotos: Flávio Santana


Manual de Identificação de Doenças de Trigo 14

Mancha da gluma (Phaeosphaeria nodorum/Stagonospora nodorum)


Sintomas Condições de desenvolvimento Controle
A doença ocorre predominantemente O fungo sobrevive em restos de cultura, Assim como os demais patógenos
em glumas, brácteas florais e nós das sendo fonte de inóculo de uma safra necrotróficos, a rotação de culturas é
plantas. Ocorre também nas folhas, para outra. Este fungo é também importante na redução de inóculo de P
onde picnídios, que são pequenos transmitido por sementes. A faixa de nodorum, sendo suficiente um ano sem
pontos escuros, podem ser tem p e r a t u r a i d e a I p a r a o trigo. Também é indicada a utilização
observados sobre as lesões. Dos desenvolvimento da doença está em de cultivares com bons níveis de
picnídios, após um período de alta torno de 20 a 25°C, sendo necessário resistência e tratamento de sementes.
umidade, uma massa de esporos é um período de molhamento foliar de 12
liberada, a qual apresenta aspecto a 18 horas para haver infecção.
pastoso e de coloração parda a
salmão.
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Foto: Flávio Santana Foto: Flávio Santana


Manual de Identificação de Doenças de Trigo 16

Ferrugem da folha (Puccínía tritícína)


Sintomas Condições de desenvolvimento Controle
Caracteriza-se pelo aparecimento de As condições ideais para o A utilização de cultivares resistentes é
pústulas, com esporos de coloração desenvolvimento da doença são sempre indicada, principalmente com
amarelo escuro a marrom, na temperaturas entre 15 e 25°C e alta resistência de planta adulta (RPA), que
superfície das folhas. Os sintomas, em umidade relativa do ar. Para que ocorra se caracteriza por ser parcial e não-
cultivares suscetíveis, podem surgir infecção pelo fungo, são necessárias específica à raça. Como diversas raças
na fase inicial de desenvolvimento da pelo menos 3 horas de molhamento de ferrugem são conhecidas e estão
cultura. Se a planta não for tratada com foliar contínuo. presentes na lavoura, a RPA é mais
fungicidas, o número de pústulas O agente causal da ferrugem da folha segura, por não apresentar o risco de
dissemina para toda a planta até o do trigo é parasita biotrófico, portanto quebra repentina da resistência
estádio de maturação. Em função da sobrevive na fase parasitária em lavouras genética. Para o controle químico,
redução da área fotossintética da e em plantas voluntárias ao longo de indica-se aplicação no aparecimento
planta, que fica recoberta pelas caminhos, estradas e rodovias. dos primeiros sintomas.
pústulas em cultivar suscetível, a Também deve-se considerar que em
produção de grãos é afetada, podendo quase todos os meses do ano pode-se
levar a danos de mais de 50%. encontrar trigo cultivado na América do
Sul. Dessa forma os esporos são
transportados pelo vento e assim se
mantêm viáveis nas plantas hospedeiras,
sejam cultivadas ou voluntárias.
Manual de Identificação de Doenças de Trigo 17

Foto: Leila Costamilan


Foto: Flávio Santana
Manual de Identificação de Doenças de Trigo 18

Ferrugem amarela (Puccinia striiformis f. sp. tritici)


Sintomas Condições de desenvolvimento Controle
A ferrugem amarela, ou ferrugem As condições de sobrevivência do O controle mais indicado e eficiente
estriada do trigo, apresenta estrias de patógeno são semelhantes para todas para ferrugem amarela é o cultivo de
cor amarelada, que são os esporos do as ferrugens, ou seja, o fungo necessita cultivares resistentes. No Brasil é uma
fungo, sobre as folhas. Plantas de hospedeiro vivo para parasitar. No doença de ocorrência rara, não
infectadas apresentam desenvolvimento entanto, o agente causal da ferrugem havendo fungicidas registrados para
prejudicado, produzindo grãos amarela é menos específico que o da uso na cultura do trigo.
menores e mal formados com redução ferrugem da folha. Outros hospedeiros
do peso e de números. Os danos giram podem ser infectados, como cevada e
em torno de 50%, podendo atingir triticale. As condições ambientais
100% em situação de epidemia severa, predisponentes são temperaturas
quando os esporos podem ser entre zero e 23°C, sendo 11 °C o ideal,
observados também em colmos e associadas a água livre na superfície
espigas. foliar por, pelo menos, 3 horas. Devido
a essas condições, a doença é de
ocorrência rara no Brasil, não
constituindo problema para a triticultura
nacional.
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Fotos: Flávio Santana


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Ferrugem do colmo (Puccínía gramínís f. sp. tritíC/)


Sintomas Condições de desenvolvimento Controle
Nas folhas, no colmo e nas espigas As condições de sobrevivência e gama o controle da doença pode ser
podem ser observadas pústulas, de de hospedeiros do patógeno são muito realizado utilizando-se cultivares
cor vermelha a marrom, de forma similares às da ferrugem amarela, os resistentes e fungicidas.
elíptica, dispostas paralelamente às esporos podem ser levados pelo vento
nervuras. Essas pústulas são a quilômetros de distância e infectar
formadas por uredosporos, liberados igualmente cevada e triticale. A faixa
ao longo do ciclo da planta, até que ao de temperatura ideal para o
final, teliosporos são formados, desenvolvimento da doença é de
provocando lesões de aparência 15 a 30°C. Também é requerida alta
escura. No Brasil, as cultivares de trigo umidade relativa, por um período de 6
possuem boa resistência à doença, a 8 h. A dispersão de esporos, como
não sendo, atualmente, problema para para todas as ferrugens, ocorre
a triticultura nacional. Na falta de primariamente pelo vento, sendo
controle, os danos para essa doença depositados na superfície do
variam de 50 a 100%, dependendo do hospedeiro pela água das chuvas.
nível de suscetibilidade do hospedeiro.
Manual de Identificação de Doenças de Trigo 21

Foto: Eduardo Caierão Foto: Flávio Santana


Manual de Identificação de Doenças de Trigo 22

Oídio (Blumeria graminis f. sp, tritici)


Sintomas Condições de desenvolvimento Controle
Os primeiros sintomas podem ser o inóculo primário mantém-se, na O uso de cultivares resistentes é a forma
observados ainda na fase inicial da entressafra, em plantas voluntárias de preferencial de manejo da doença. O
cultura, .antes do perfilhamento. O trigo. Em. condições favoráveis, um controle químico em cultivares
crescimento micelial do fungo sobre as ciclo completo da doença pode ocorrer suscetíveis é mais econômico via
folhas tem aspecto de pó branco ou em5 dias. A doença é favorecida por tratamento de sementes. Adubação
cinza. Sob o micélio, a folha apresenta- temperaturas amenas (entre 15 e com nitrogênio, em qualquer estádio de
se amarelada. Pode afetar espigas e 20 "C) e ausência de água livre. desenvolvimento do trigo, aumenta a
aristas de cultivares suscetíveis. Os suscetibilidade à doença. Semeaduras
esporos, que se desprendem com mais precoces, na região Sul do Brasil
facilidade, são carregados pelo vento a podem contribuir para a diminuição da
grandes distâncias. Danos de 20 a 55% doença, pois as plântulas ficam
podem ocorrer em função do momento expostas a menor quantidade de
do controle químico, das condições inóculo em seu estádio mais suscetível,
meteorológicas e da cultivar plantada. que é o início do desenvolvimento da
cultura.
Manual de Identificação de Doenças de Trigo 23

Foto: Flávio Santana Foto: Leila Costamilan


Manual de Identificação de Doenças de Trigo 24

Podridão radicular (Fusarium spp., Bipolaris sorokiniana)

Sintomas Condições de desenvolvimento Controle


A podridão radicular causa A podridão radicular ocorre de forma A melhor medida de controle é a
escurecimento das raizes, da coroa e generalizada na região Sul e pode ser rotação de culturas. Tratamento de
das porções basais da planta. Em causada simultaneamente por sementes e cultivares resistentes
consequência, as plantas afetadas espécies de Fusarium e de Bipolaris, podem ser utilizados. A aplicação
geralmente são menores que o normal. que sobrevivem em restos culturais. aérea de fungicidas não é eficaz.
Estas plantas baixas, sem vigor e de Restos de cultivos anteriores muito
aspecto dessecado prematuramente, atacados por mancha de Bipolaris
ocorrem de forma aleatória ao longo da podem servir como fonte de inóculo
lavoura. Os sintomas são mais para a podridão comum.
pronunciados em condições de falta de
água para a planta.
Manual de Identificação de Doenças de Trigo 25

Fotos: Flávio Santana


Manual de Identificação de Doenças de Trigo 26

Giberela (Gibberella zeae/Fusarium graminearum)


Sintomas Condições de desenvolvimento Controle
Lavouras afetadas por giberela são A ocorrência de giberela é mais Indica-se o uso de cultivares
facilmente reconhecidas pela evidente e danosa em anos chuvosos e moderadamente resistentes e o
descoloração precoce de espiguetas. com temperaturas não muito baixas, controle químico. Diversos fungicidas
Com o desenvolvimento do patógeno, que são as condições favoráveis à estão indicados, porém, o controle
pode-se observar uma coloração salmão infecção e ao desenvolvimento do químico de giberela apresenta menor
na superfície das glumas. As aristas patógeno no hospedeiro. Precipitação eficiência do que a verificada para
afetadas apresentam-se deslocadas pluvial durante 48 a 72 h é necessária doenças foliares. A tomada de decisão
para fora das espigas, conferindo um para fornecer água livre para que o sobre o uso de fungicidas deve se
aspecto «arrepiado». Os danos ao patógeno se desenvolva. A faixa ideal basear no monitoramento da lavoura e
rendimento de grãos, decorrem da de temperatura está entre 20 e 25°C. em sistemas de previsão de risco de
formação de grãos chochos, com doenças.
menor peso e tamanho. Infecções
tardias 'após o f1orescimento, não
causam o chochamento de grãos, mas
podem resultar no acúmulo de
micotoxinas que são prejudiciais ao
homem e aos animais.
Manual de Identificação de Doenças de Trigo 27

Foto: Pedra Scheeren Foto: Flávio Santana


Manual de Identificação de Doenças de Trigo 28

Brusone (Magnaporthe oryzae/Pyricularia oryzae)


Sintomas Condições de desenvolvimento Controle
A brusone é uma doença de espiga, o patógeno sobrevive em ampla gama Requer o uso de medidas integradas,
caracterizada pela descoloração de de hospedeiros. Chuvas frequentes e como sementes sadias, tratamento
espiguetas acima do local de infecção temperaturas um pouco elevadas de sementes, uso de diferentes
do patógeno no ráquis, onde se criam as condições ideais para o cultivares de trigo e aplicação
observa um ponto de escurecimento. desenvolvimento do patógeno e em de fungicidas. Semeaduras tardias
Devido à interrupção na translocação consequência podem causar podem ser úteis, pois em geral, no
de nutrientes as espiguetas afetadas epidemias severas. Precipitação Centro Oeste, evitam a coincidência
produzem grãos mal formados, pluvial ou irrigação por aspersão a do período de espigamento com dias
menores e enrugados. A brusone partir do início do emborrachamento chuvosos. Devido à alta suscetibilidade
ocorre raramente em folhas, favorecem o desenvolvimento da da maioria das cultivares de trigo no
produzindo lesões elípticas, de cor doença, cuja temperatura ideal é de 25 Brasil, o uso de fungicidas para
acinzentada, com bordas escuras. Os "C. Devido a essa característica, a proteger as espigas é essencial. Em
danos dependem das condições doença é mais comum do norte do ataques severos, a eficiência destes
meteorológicas, podendo chegar a Paraná ao Brasil Central. pode não ser economicamente viável.
100%, em anos chuvosos e com
temperaturas em torno de 25 "C. Não
há formação de grãos, quando a
espiga é infectada logo no início de seu
desenvolvimento.
Manual de Identificação de Doenças de Trigo 29

Fotos: Flávio Santana


Manual de Identificação de Doenças de Trigo 30

Carvão (Ustilago nuda f. sp. tritici)


Sintomas Condições de desenvolvimento Controle
As espigas das plantas afetadas A doença desenvolve-se em A utilização de cultivares resistentes é
apresentam-se completamente temperaturas entre 15 e 22°C, com a principal medida de controle. Pode-
deformadas. No lugar dos grãos e das chuvas leves ou orvalho. A sobrevivência se usar tratamento de sementes com
glumas desenvolve-se uma massa de do fungo ocorre em forma de micélio fungicidas.
esporos de coloração marrom-escura a dormente no embrião das sementes
negra. A membrana que recobre essa infectadas. No processo de germinação
massa é rompida antes da colheita, da semente, o fungo inicia seu
liberando esporos que são facilmente desenvolvimento em direção ao ápice da
disseminados pelo vento, deixando planta e invade os tecidos das
apenas o ráquis preso à planta. No espiguetas quando as espigas são
Brasil, o carvão é considerado uma formadas.
doença de importância secundária.
Manual de Identificação de Doenças de Trigo 31

Foto: José Maurício Cunha Fernandes


Manual de Identificação de Doenças de Trigo 32

Mal-da-pé do trigo (Gaeumannomyces graminis varo ttitici;


Sintomas Condições de desenvolvimento Controle
É uma das mais se nas doenças o fungo sobrevive no solo e a infecção Rotação de culturas com espécies
radiculares do trigo, afetando também pode ocorrer em qualquer época da não-suscetíveis, como aveia e canola,
outros cereais de inverno. Plantas estação de desenvolvimento da evitando-se triticale, cevada e centeio
doentes são facilmente arrancadas do cultura. Elevada umidade em durante uma a duas safras. Não há
solo, pois o sistemaradicular decorrência de dias chuvosos, indicação de cultivares com
apresenta-se necrosado, semelhante temperatura do solo entre 12 e 20°C e resistência genética ao mal-do-pé do
à podridão comum de raízes, porém de alcalinidade dos solos (pH entre 6,5 a trigo.
coloração negra, e encontram-se em 8,5) favorecem o desenvolvimento da
grupos, ou reboleiras, na lavoura. infecção radicular. Monocultura é fator
Causa diminuição da altura, espigas preponderante para seu aparecimento.
vazias e esbranquiçadas e morte
prematura das plantas afetadas.
Manual de Identificação de Doenças de Trigo 33

Foto: Flávio Santana Foto: José Maurício Cunha Fernandes


Manual de Identificação de Doenças de Trigo 34

Cárie comum (Tilletia caries e T. laevis)


Sintomas Condições de desenvolvimento Controle
Transforma o interior dos grãos em um Temperatura baixa, entre 5 e 15 "C, e Tratamento de sementes com
pó preto, causando mau cheiro. boa umidade no solo, são consideradas fungicida.
Plantas doentes tendem a ser condições climáticas que favorecem a
ligeiramente mais baixas do que as instalação da doença.
saudáveis. Espigas afetadas
permanecem verdes por mais tempo,
são menores e mais eretas que as
sadias, com aspecto arrepiado das
aristas. Grãos tornam-se escuros
(pardo-acinzentados). Durante a
colheita, há liberação de nuvem de
esporos escuros.
Manual de Identificação de Doenças de Trigo 35

Foto: José Maurício Cunha Fernandes Foto: Eduardo Caierão


Doenças Bacterianas
Manual de Identificação de Doenças de Trigo 38

Queima da folha (Pseudomonas syringae pv.syringae)


Sintomas Condições de desenvolvimento Controle
Os primeiros sintomas da doença É uma doença esporádica, que O uso de cultivares resistentes é o
aparecem nas folhas superiores ao depende de condições climáticas, as método mais eficiente e econômico de
redor do estádio de espigamento. quais nem sempre são favoráveis à controle da queima da folha do trigo.
Manchas aquosas de diâmetro em doença. As condições ambientais que Por ser bactéria o agente causal, a
torno de 1 mm evoluem rapidamente, favorecem a doença são temperaturas aplicação de fungicidas não terá efeito
adquirindo coloração branco- amenas (15 a 25°C) e alta umidade para o controle da doença.
amarelada com áreas cloróticas, que relativa. A bactéria pode sobreviver
podem coalescer, tomando aspecto sobre sementes, sobre restos de
desidratado. Sob condições cultura e em várias gramíneas. O
ambientais de alta umidade, pequenas impacto dos respingos de chuva, o
gotículas viscosas (exsudatos da contato das plantas durante períodos
bactéria) desenvolvem-se sobre as úmidos e insetos, incluindo afídeos,
lesões. disseminam o microrganismo. Outros
cereais podem ser afetados, incluindo
aveia, centeio e triticale.
Manual de Identificação de Doenças de Trigo 39

Folos: Flávio Sanlana


Manual de Identificação de Doenças de Trigo 40

Estria bacteriana (Xanthomonas campestrís pv. undulosa)


Sintomas Condições de desenvolvimento Controle
Ocorre em todos os estádios e em toda A disseminação, a severidade e os Produção de sementes livres do
a parte aérea da planta, sendo mais danos ao rendimento de grãos são patógeno, rotação de culturas e
comum em folhas, onde se inicia como maiores quando a temperatura diurna eliminação de plantas voluntárias na
manchas pequenas ou como estrias é superior ou igual a 25°C, associada a entressafra. São necessárias
claras ou encharcadas, que se tornam períodos longos (3 a 5 dias) de água rigorosas inspeções em campos de
amarelo ouro, do vértice para as pontas livre na superfície das folhas. Irrigação produção de sementes, associadas à
das folhas. Estas manchas por aspersão propicia ambiente teste de sanidade em laboratório. No
desenvolvem-se e formam estrias favorável. O agente causal da mancha Brasil, a grande maioria das cultivares
longitudinais entre as nervuras, estriada é nucleador de gelo, ou seja, é indicadas é suscetível, havendo
translúcidas quando observadas capaz de formar cristais de gelo, que diferenças no grau de suscetibilidade.
contra uma fonte de luz. Nas espigas, podem intensificar as injúrias Por ser bactéria o agente causal, a
os sintomas aparecem quando a provocadas por geadas, quando a aplicação de fungicidas não terá efeito
severidade nas folhas for acentuada. temperatura do ar estiver em torno para o controle da doença.
Nas glumas, os sintomas aparecem deO°C.
como estrias escuras, que se fundem e
as tornam completamente escuras, de
onde se originou o nome «espiga
preta» (black chaff).
Manual de Identificação de Doenças de Trigo 41

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Manual de Identificação de Doenças de Trigo 44

Mosaico comum (Soil-borne wheat mosaíc vírus)

Sintomas Condições de desenvolvimento Controle


Os sintomas variam em aspecto e em O vírus é transmitido por Po/ymyxa O longo período de sobrevivência do
severidade, dependendo da cultivar de graminis, um microrganismo residente veto r torna ineficiente o controle desta
trigo e das condições ambientais. Nas no solo que, em seu ciclo de vida, virose por meio da rotação de culturas.
folhas e colmos, os sintomas de mosaico produz esporos flagelados que O emprego de cultivares de trigo
são caracterizados pela alternância de necessitam de água livre para se resistentes e tolerantes é a principal
áreas amarelecidas e verdes, que podem movimentar e infecta r as raízes. A medida de controle da doença.
ter um padrão em listras evidentes ou doença ocorre com mais frequência em
mais irregulares. Para alguns cultivares, áreas da lavoura onde o vetor se
o amarelecimento é muito evidente; concentra. Em condições ambientais
para outros, ocorre apenas uma favoráveis, caracterizadas por solos frios
redução da intensidade da tonalidade e encharcados, especialmente após o
verde. Em estádios mais avançados, estabelecimento da cultura, grandes
as áreas amarelecidas tornam-se áreas podem ser comprometidas, no
necrosadas. Plantas de cultivares mais caso de cultivares suscetíveis.
suscetíveis apresentam redução do É predominante nas regiões tritícolas de
porte e podem não produzir espigas ou invemofrio e úmido do sul do Paraná ao Rio
produzem espigas pequenas. No Grande do Sul. Temperaturas baixas (1 O
campo, a doença ocorre normalmente a 17 "C) favorecem a transmissão pelo
em reboleiras. veto r e a expressão de sintomas.
Manual de Identificação de Doenças de Trigo 45

Fotos: Douglas Lau


Manual de Identificação de Doenças de Trigo 46

Nanismo amarelo (Barley/Cereal yellow dwarf vírus)

Sintomas Condições de desenvolvimento Controle

o sintoma típico desta virose é o O nanismo amarelo é causado por O controle da doença pode ser realizado
amarelecimento das folhas, que ocorre espécies do Barley yellow dwarf virus combatendo-se a população de afídeos
do seu ápice em direção à base (esta (BYDV) e do Cereal yellow dwarf virus vetores por meio de controle químico.
normalmente permanece verde). O (CYDV), que são transmitidas por Na fase inicial, o controle químico pode
limbo foliar tende a ficar enrijecido e a várias espécies de afídeos. São ser realizado via tratamento de
enrolar sobre si mesmo. A doença particularmente importantes no sul e sementes. Indica-se o monitoramento
ocorre em reboleiras, mas, sob centro sul do Brasil, o Rhopalosiphum da população de afídeos e aplicação de
condições favoráveis, pode ocupar padi que ocorre ao longo de todo o ano, inseticidas na parte aérea caso a
grandes áreas. A severidade dos e Sitobion avenae, que ocorre população ultrapasse o seu nível de
sintomas e os danos são dependentes principalmente na época de controle (10% das plantas com pulgões
da cultivar de trigo e do estádio em que espigamento do trigo. A doença ocorre da emergência ao afilhamento). Devem-
ocorreu a infecção. Plantas de nas diversas regiões tritícolas se utilizar produtos que tenham ação
cultivares suscetíveis e intolerantes, brasileiras, sendo que invernos com específica e que não afetem a
temperatura amena e clima mais seco população de agentes de controle
que tenham sido infectadas em estádio
biológico (parasitoides e predadores).
inicial de desenvolvimento, favorecem as populações de afídeos e
Há grande variação nos níveis de
apresentam redução da estatura, do a disseminação da doença.
tolerância das cultivares de trigo a esta
número de afilhos e do tamanho e
virose, sendo recomendado o uso de
número de espigas e grãos.
cultivares tolerantes.
Manual de Identificação de Doenças de Trigo 47

Fotos: Douglas Lau


Manual de Identificação de Doenças de Trigo .48

Anexo 1

- Diversos fungicidas possuem registro no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle das
doenças de trigo (www.agricultura.gov.br).

- Para obter informação atualizada sobre os fungicidas mais indicados (com registro no Mapa), reação de cultivares,
momento de aplicação e técnica de aplicação, consulte as informações técnicas para trigo e triticale da Comissão
Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale (www.cnpt.embrapa.br).
--
- C/"Mfnistério da
Agricultura, Pecuária
e Abasteclmen~
'

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