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AMOSTRAGEM E COLETA DE MATERIAL PARA DIAGNOSE DE DOENÇAS DE

PLANTAS

Willian Bucker Moraes¹, Fábio Ramos Alves, André da Silva Xavier

¹ Setor de Fitopatologia, NUDEMAFI, Departamento de Agronomia, Centro de Ciências Agrárias e Engenharias,


Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, 29500-000, Alegre, ES, Brasil. willian.moraes@ufes.br,
fabio.alves@ufes.br, andre.s.xavier@ufes.br

A amostragem e coleta de material vegetal doente é um dos mais importantes passos para
o diagnóstico de doenças de plantas, pois uma vez realizada de forma equivocada compromete
todo o processo.
Em relação às informações que devem acompanhar a amostra, é essencial, na medida do
possível, elaborar um histórico detalhado de cada área de plantio afetada, incluindo os
procedimentos adotados desde a produção das mudas, preparo do solo e tratos culturais até a
data em que a doença foi constatada.
Ademais, é necessário realizar o acompanhamento periódico da qualidade das operações
agronômicas ou florestais, o que pode, em muitas situações, fornecer informações que
permitem o diagnóstico imediato de problemas simples, como é o caso de uma “queima foliar”
que possa ocorrer em razão da deriva de determinado herbicida ou de falta de uniformidade na
distribuição de fertilizantes. As perguntas mais frequentes nesta etapa dizem respeito ao que,
como, quando e quanto coletar. As respostas a esses questionamentos podem variar muito e,
por esse motivo, normalmente uma consulta prévia a um especialista é necessária para
otimizar a amostragem. Independentemente do tipo de doença, normalmente são requeridos
ferramentas ou instrumentos para realizar a coleta e as anotações:
Caneta esferográfica, lápis e caneta de retroprojetor;
Sacos plásticos incolores de vários tamanhos;
Sacos de papel;
Etiquetas de plástico;
Pá e enxadão;
Tesoura de poda, faca e facão, devidamente afiado;
Serra de poda, podão e, motosserra para coleta de órgãos lenhosos;
Trado para retirada de amostras do solo;
Lente de aumento (10-20x);
Jornais, prensas de madeira com tiras de barbante ou borracha, para herborização e
prensagem de amostras vegetais;
Caixas de isopor, papelão, e, formulário de clínica fitopatológica.
Não há uma amostragem que possa ser considerada ideal. Todavia, em qualquer
situação devem prevalecer o bom senso e o conhecimento básico de fitopatologia. Em muitas
situações a doença se expressa na parte aérea, mas o agente causal encontra-se no sistema
radicular. Por isso, é fundamental diferenciar os sintomas quanto à posição em relação ao local
de ação do patógeno.
Quanto à localização, os sintomas podem ser primários ou secundários ou reflexos.
Enquanto os sintomas primários são expressos no local de ação do patógeno, os secundários
ou reflexos manifestam-se à distância do local de ação do agente causal da doença. Os
seguintes critérios devem ser seguidos, na prática:
a) Para plantas de pequeno porte, sempre que possível, coletar a planta inteira e realizar
uma amostragem adicional do solo rizosférico. No caso de mudas no viveiro, a planta pode ser
mantida no próprio recipiente de produção e encaminhada para análise.
b) Coletar amostras em diferentes estádios de evolução da doença, incluindo planta
aparentemente sadia. É importante que estas amostras, no entanto, sejam mantidas
individualizadas, visando impedir a contaminação mútua.
c) Em se tratando de sintomas localizados, pode-se coletar apenas o órgão doente, como
caule, folhas e/ou ramos individuais.
d) Nos casos em que ocorrem sintomas de arroxeamento, secamento ou murcha seguida
de morte, devem-se coletar plantas inteiras, incluindo o sistema radicular e o solo adjacente às
raízes. Para plantas adultas, coletam-se amostras de galhos, lenho e raízes.
e) A amostragem deve também ser realizada em diferentes partes do talhão quando a
doença aparece no campo, ou em diferentes posições no canteiro quando a doença ocorre em
viveiro. Tal procedimento pode facilitar a diagnose, sobretudo, de doenças de causa abiótica.
f) As amostras devem ser coletadas assim que a doença for observada. Em se tratando de
órgãos tenros, evite a coleta nas horas mais quentes do dia para reduzir a perda excessiva de
água dos tecidos.
g) É difícil estabelecer o tamanho ideal da amostra. No entanto, deve prevalecer o bom
senso, de modo que a quantidade do material amostrado seja suficiente para análise
laboratorial. Além dos exames microscópicos, a amostra deve ser suficiente para isolamentos
dos possíveis patógenos e para depósito em coleções ou herbários para estudos posteriores
e/ou com finalidades didáticas. É importante ressaltar, entretanto, que amostras coletadas em
excesso, sem a devida preocupação com a representação dos diferentes estádios de
desenvolvimento da doença, podem atrasar o diagnóstico ou até mesmo gerar equívocos.
Uma amostra inadequada pode não permitir o diagnóstico correto da doença ou até
mesmo conter uma doença secundária. As principais deficiências na amostragem são
relacionadas com tamanho, condição de degradação, representatividade e ausência dos
sintomas primários. O reduzido número de plantas ou órgãos vegetais coletados pode dificultar
as análises microscópicas, o isolamento do patógeno ou impedir a realização de outros
procedimentos necessários ao diagnóstico.
Amostras de plantas ou órgãos vegetais em estado avançado de deterioração não
permitem a observação dos sinais típicos da doença ou isolamento do agente causal em
cultura pura. Amostras que não contemplam os diversos estádios de evolução da doença
também dificultam a diagnose. Além disso, a amostragem pode não conter o agente etiológico
principal, nos casos em que mais de uma doença ocorre simultaneamente. A ausência de
amostras com sintomas primários da enfermidade tende a dificultar sobremaneira a diagnose.
Por exemplo, sintomas secundários de arroxeamento e murcha, expressos na copa podem ser
causados por problemas no sistema radicular (sintomas primários). Nessas situações, a coleta
somente de ramos e folhas não permite o diagnóstico preciso.
Algumas recomendações para que sejam evitadas amostras inadequadas são:
 Amostras de ramos, folhas e/ou raízes finas para exame imediato: a amostra deverá
ser acondicionada, preferencialmente, em sacos de papel, de modo a evitar a formação de
câmara úmida (comumente formada pelo uso de saco plástico). Para preservar ao máximo as
características do material coletado, as amostras devem ser acondicionadas em saco de papel
envolvidos por um saco plástico e em seguida acondicionadas numa caixa de isopor, contendo
gelo misturado com pedaços de jornal, a fim de manter a temperatura baixa durante o
transporte até o laboratório. A caixa de isopor deve ser hermeticamente fechada, com fita
adesiva ou similar.
 Amostras de ramos, folhas e/ou raízes finas para exame posterior: aconselha-se, nesta
situação, realizar prensagem e secagem do material vegetal (herborização) logo após a coleta.
Para isso, utilize prensas com cerca de 30 x 40 cm, produzidas com dois suportes de madeira,
lisos, normalmente tábuas de compensado. Sobre uma das partes, coloque um pedaço de
papelão do mesmo tamanho das tábuas de compensado e sobre este, quatro a seis folhas de
jornal. Deposite as amostras de forma a evitar a sobreposição do material vegetal e sempre
intercalando de quatro a seis folhas de jornal entre as amostras vegetais. Finalmente, coloque
o outro pedaço de papelão e sobre este a outra parte da prensa. Amarre todo o material com
barbante ou similar. Realize periodicamente a troca das folhas de jornal, a fim de favorecer a
secagem das amostras. Mantenha a prensa em local seco, ventilado e protegido do sol. Caso
realize a secagem em condições artificiais, mantenha as amostras a temperaturas na faixa de
30-40 °C. O material estará seco quando as folhas se tornarem quebradiças. Para evitar a
fragmentação excessiva, essas amostras poderão ser encaminhadas dentro de envelopes de
cartolina, papelão ou similar.
 Amostras de troncos e raízes grossas: amostras de órgãos lenhosos geralmente não
requerem maiores preocupações quanto ao acondicionamento e transporte. No entanto, devem
ser coletados e acondicionados em caixas de papelão ou isopor, após uma ligeira secagem ao
ar livre, para reduzir o desenvolvimento de microrganismos saprófitas; e enviados
imediatamente para análise. Além disso, após a coleta não é recomendado lavar a amostra,
devendo, no caso de raízes, apenas retirar o excesso de solo aderido a estas.

 Amostras de solo ou substrato: diferentemente das amostras vegetais, o solo ou


substrato deve ser acondicionado em saco plástico, e a seguir, vedado, a fim de manter a sua
umidade natural. Quando não for possível enviar imediatamente para análise, as amostras
acondicionadas nos sacos plásticos podem ser mantidas sob refrigeração em geladeira comum
ou câmaras frias, em temperaturas de 5 a 10 °C. Após coletado, o material deverá ser
encaminhado à Clínica, acompanhado do formulário de informações complementares para o
diagnóstico, distribuído aos requerentes dos serviços de diagnose .

Endereço para envio de amostras:


Laboratório de Epidemiologia e Manejo de Doenças de Plantas Agrícolas e Florestais
Clínica Fitopatológica/Setor de Fitopatologia/NUDEMAFI
Departamento de Agronomia/Centro de Ciências Agrárias e Engenharias
Universidade Federal do Espírito Santo
Alto Universitário, s/nº, Guararema, Cx. postal 16, Alegre/ES - CEP 29500-000
https://www.lemp-ufes.com/clinica-fitopatologica

BIBLIOGRÁFIAS CONSULTADAS
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RODRIGUES, C. Serviço de Clínica Fitossanitária (diagnose de doenças de plantas) prestado
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