Você está na página 1de 7

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE


DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA VEGETAL
BVE 230 – ORGANOGRAFIA E SISTEMÁTICA DAS ESPERMATÓFITAS

HERBÁRIO
Alexandre Francisco da Silva*
Milene Faria Vieira*

A maioria dos herbários do mundo é oficialmente registrada no Index Herbariorum


que é publicado a cada seis anos, onde cada um recebe uma sigla. É nesta publicação que se
pode obter informações sobre todos os herbários registrados tais como: endereço, sigla,
número de espécirmens do acervo, equipe de pesquisadores ligados ao herbário e
especialidade de cada um, a flora que está representada na coleção, etc. O herbário oficial da
Universidade Federal de Viçosa, que é da responsabilidade do Departamento de Biologia
Vegetal, é conhecido pela sigla VIC.

A coleção mantida pelo VIC abrange principalmente a flora do Estado de Minas Gerais,
somente nos grandes herbários, como o do Museu Nacional do Rio de Janeiro ( R ), o
do Jardim Botânico do Rio de Janeiro ( RB ) e o do Instituto de Botânica de São Paulo ( IBt ) a
coleção botânica guarda plantas de todo o Brasil e também do exterior. A maioria dos
herbários, no entanto, coleciona plantas de áreas geográficas limitadas.

O trabalho no herbário é dinâmico. As exsicatas (exemplares de plantas conservados·


nos herbários) necessitam de cuidados especiais contra o ataque de fungos e animais que
podem danificá-las. O curador é a pessoa responsável pela conservação e funcionamento
diário das atividades ligadas ao herbário.

Os herbários têm como objetivos: dar suporte à comunicação internacional ligada à


taxonomia por meio da identificação das plantas, contribuindo com o reconhecimento da flora
local regional nacional ou internacional, realizar intercâmbio científico emprestando, doando ou
permutando material subsidiar os trabalhos de pesquisa, guardar exsicatas de trabalhos de
pesquisas pregressas, fornecer material didático e científico para estudantes de graduação e
de pós-graduação.

_______________________________________________________________

* Professores do Departamento de Biologia Vegetal


Coleta do Material Botânico

Sempre que possível se organizam excursões para a coleta de amostras de


plantas com a finalidade de ampliar o acervo botânico da coleção. As coletas são realizadas
por uma equipe que conta com pesquisadores, estagiários, estudantes e técnicos que lidam
com o herbário. A ampliação do acervo faz-se também a partir dos trabalhos de pesquisa,
incluindo-se as dissertações e teses de pós-graduação.

Os principais materiais utilizados em campo são: caderno de coleta, prensa,


tesoura de alta-poda, tesoura de poda ou serra com tubos telescópicos, carabina calibre de 22
a 45 (28 é o mais utilizado), esporas, escada de cordas, escada de alumínio, marimba de
chumbo, facão, sacos plásticos, fita crepe, desplantador e papel higiênico ou lenço de papel,
etc. Cada equipamento tem o uso adequado para cada material.

Quando coletado, para fazer parte do acervo, o material deve estar o mais
completo possível, isto é, com folhas, flores e frutos. Plantas encontradas apenas no estádio de
floração devem ser coletadas posteriormente com folhas e, ou, frutos de forma que a exsicata
fique completa.

Quando se coleta material de arbustos e árvores, os ramos devem ser cortados


nas dimensões de 40 cm de comprimento e os galhos laterais até 25 a 28 cm de largura. No
caso de ervas coleta-se a planta inteira, ou seja, com raiz, caule, folhas, flores e frutos. Os
frutos podem ser mantidos no material coletado ou, quando muito volumosos, colecionados à
parte dessecados ou mantidos em líquido conservador, constituindo o que se
denomina carpoteca (algumas técnicas serão descritas adiante). Em alguns herbários são
colecionadas amostras de madeiras para estudos anatômicos que constituem a xiloteca.

O ramo coletado deve ser suficiente para se obter cinco (5) cópias, no mínimo. Nas
plantas arbóreas, poda-se um pedaço de ramo que é subdividido em cinco partes. Já no caso
de plantas herbáceas, coletam-se cinco plantas completas, certificando - se o coletor, de tratar-
se da mesma espécie. O número de cinco cópias é importante para se ter material suficiente
para identificação posterior, fazer intercâmbio com outros herbários, substituição de exsicata
danificadas por quaisquer razões, etc.

O caderno de campo é um componente fundamental dos coletores. É nele que se


fazem as anotações sobre cada planta coletada, que mais tarde serão transcritas para as
etiquetas das exsicatas, que são as seguintes:

a) número do coletor: as anotações feitas para cada planta coletada, no caderno de campo
do coletor, são organizadas em numeração arábica crescente. Cada coleta, incluindo aqui
todos os exemplares de determinada planta, recebe um único número. De forma que o número
mais elevado de um caderno de coleta, corresponde ao número de plantas coletadas pelo
botânico.
b) procedência ou local de coleta: refere-se à localidade específica da coleta, que deve ser
feita de tal modo, que qualquer pessoa interessada em obter novamente aquele material,
possa chegar ao local certo sem dificuldades. A procedência correta inclui o país, o estado, o
município ou coordenadas geográficas de um local próximo do ponto da coleta. Por exemplo:
Brasil, Minas Gerais, Viçosa, estrada Viçosa-Ponte Nova. km 8, do lado direito, no barranco.

c) data da coleta: é importante porque as vezes é necessário voltar ao local para coleta
complementar e também para trabalhos de fenologia e coleta de sementes em caso de árvores
matrizes, já que assim estaria indicando o período de floração elou frutificação da espécie
naquela região.

d) nome does) coletor(es): a referência do nome do coletor é indicativa da confiabilidade da


procedência do material, bem como uma oportunidade de se obter informações mais
detalhadas e complementares, quando for o caso.

e) observações sobre a planta e, informações gerais: abrangem características que não se


observam nas exsicatas ou que são perdidas depois da secagem da planta. Por exemplo,
deve-se anotar o habitus da planta (árvore, arbusto, subarbusto, erva, trepadeira, etc.); o
habitat (aquática, parasita, epifita, rupicola, paludosa, etc), altura, coloração da flor, do fruto ou
de qualquer outra pante do vegetal que fuja aos, padrões costumeiros; a freqüência com que
aparece no local (rara, freqüente, muito freqüente), dados de solo (argiloso, arenoso,
encharcado). É muito comum incluir-se observações ecológicas como a presença de animais
na planta, tais como abelhas, vespas, formigas, etc. e, sempre que possível anotar o nome
popular pelo qual a planta é conhecida na região.

Acondicionamento para transporte do material no campo:

Usa-se com freqüência amarrar a cada planta coletada, em forma de molho e


envolvendo-o na base com fita crepe, onde anota-se o número do· caderno de coleta
correspondente àquela planta. Depois, os molhos são acondicionados e transportados em
sacos plásticos grandes. Plantas cuja corola desprende-se facilmente, ou de folhas
compostas pinadas ou que murcham rapidamente, devem ser prensadas no ato da coleta.

Atividades de Laboratório

Prensagem

Dependendo do tipo de material a prensagem deve ser feita no ato da coleta; tais
como: plantas aquáticas ( especialmente as flores ); flores delicadas e folhas compostas. Do
contrário, após a jornada de trabalho no campo, o material botânico, que foi transportado no
saco plástico, deve ser prensado. A prensagem é feita utilizando-se duas superfícies planas
(prensas) que servirão de suporte (42crn X 30cm); folhas de jornal, que envolverão o
material botânico; papelão corrugado; chapa de alumínio corrugado e pesos; correias ou
cordões para comprimir fortemente a pilha formada por todo o material. A seqüência para a
formação do conjunto de prensagem é a seguinte: papelão corrugado, corrugado de alumínio,
corrugado de papelão, folha de jornal contendo no interior o material botânico, papelão
corrugado, corrugado de alumínio e papelão corrugado. Esta seqüência forma um conjunto de
prensagem que pode ser repetido quantas vezes permitir a prática de quem estiver
trabalhando.
No momento em que se estiver colocando a planta dentro da folha de jornal, deve-se
ajeitar as folhas e flores dos ramos ou das plantas para que não fiquem amarrotadas e
sobrepostas; do contrário a umidade será retida mais tempo, propiciando o aparecimento .do
mofo, sem contar que a observação posterior será dificultada. Depois de montada a exsicata
não se pode mudar a posição das suas partes. Por isso, no momento da prensagem, é
importante deixar-se folha na face ventral e dorsal voltadas para o mesmo lado, já que muitas
vezes presença de pêlos, tipo de pêlo, glândulas e outros caracteres são de grande
importância para a determinação taxonômica do material.

Plantas aquáticas podem ser preservadas em meio líquido ou herborizadas. Entretanto,


qualquer que seja o método empregado, deve-se primeiro remover a lama ou qualquer outra
sujeira, lavando-a com o auxilio de pincéis, trinchas ou escovas de cerdas macias. As flores,
que são geralmente muito frágeis, devem ter tratamento especial, aliás, como todas as flores
frágeis. Assim, a herborização deve ser feita tão logo tenha sido coletada, pois murcham
rapidamente quando retiradas do ambiente natural. As partes florais devem ser distendidas
cuidadosamente e, em seguida, envolvidas em papel celofane, papel chupão ou papel
higiênico, fixados ao jornal de prensagem com fita adesiva, As flores de peças mais
membranosas, podem ser prensadas separadamente, pois secam muito mais rapidamente do
que as outras partes do vegetal. Deve-se ter o cuidado de numerar as prensas, que contenham
apenas flores, com os números correspondentes do material vegetativo, para que não se
constituam exsicatas que sejam formadas por flores de uma planta e ramos de outra, o que
levaria a erro taxonôrnico inadmissível.

As plantas herbáceas que ultrapassem as dimensões da prensa, devem ser


cuidadosamente dobradas em "V" ou em "W" sobre o jornal. As flores delicadas devem ser
apoiadas e cobertas com lenço de papel ou papel higiênico, no ato da prensagem.

Por fim, os conjuntos de prensagem devem ser colocados entre duas prensas, como se
fossem o recheio de um sanduíche, e todo conjunto apertado o máximo possível com duas
correias ou cordas.

Como foi exposto anteriormente, plantas muito pequenas e muito delicadas podem ser
prejudicadas na prensagem. Por isso, podem ser conservadas em meio líquido conservador.
Este meio de conservação deve ser utilizado também para flores e frutos carnosos, daí
necessidade de frascos de vidro e tubos de tamanhos variados.
O líquido preservador pode ser o álcool etílico a 70%, 80% ou 90%, o formol a 40%
(formalina). Um outro líquido preservador amplamente utilizado, o FAA, tem a seguinte
composição: 5ml de formol a 40%(=formalina) + 5rnl de .ácido acético glacial + 90ml
álcool a 50%. No entanto, esses líquidos preservadores têm como inconveniente
descoloração do material, além de deixarem as partes da planta, que se quer preservar, dura e
Quebradiças.

Existem, porém, algumas técnicas e soluções que preservam a planta com as cores
naturais. Entre elas destaca-se o Líquido de Harnmariund (750ml de sulfato de cobre em
solução saturada + 5ml de formal a 40% + 250ml de água destilada). Nessa técnica, coloca-se
a planta na solução durante oito dias, após o que ela é transferida para uma solução de
formalina a 10%. Caso o material contenha muito óleo essencial, tanino, resina, látex, deve-se
colocá-lo por duas vezes seguidas por dez minutos numa mistura de álcool-éter, e duas horas
em água.

Uma outra técnica preservativa das cores naturais do vegetal é o Processo de


Drummond, no qual se utiliza-se sulfato de cobre em solução aquosa de 5%, ácido sulfuroso
em solução a 5 ou 6% e glicerina. Coloca-se a planta, ou parte dela, na solução de sulfato de
cobre por um período de 6 a 24horas (dependendo da consistência e do volume do material,
ser impregnado). Em seguida lava-se o material por duas horas para retirar o excesso de
sulfato de cobre, após o que transfere-se o material para a solução de ácido sulfuroso.Em
casos de frutos ou tubérculos suculentos, acrescenta-se a essa solução 5Oml de glicerina.

Para a preservação em meio líquido deve-se tomar algumas precauções: 1) os frasco:


não devem ficar totalmente cheios do liquido preservador, isto é, deve existir um pequeno
espaço vazio entre a superfície líquida e a tampa; 2) imergir totalmente o material a ser
preservado; 3) colocar apenas uma espécie em cada frasco; 4) colocar dentro do frasco um
rótulo escrito a lápis com a face escrita voltada para a parede interna do frasco, de modo a
facilitar a leitura ( esse rótulo recebe o número de registro da planta no herbário e indicações
precisas sobre a cor das partes); 5) calafetar a tampa com parafina, ou mistura fundente de
parafina e partes iguais de cera de abelha e breu.

Secagem

As prensas depois de prontas são colocadas em estufa, à temperatura de


aproximadamente 60°C, ali permanecendo até que o material esteja completamente
desidratado. O tempo de permanência na estufa depende do tipo de material. Aqueles com
teor médio de água, que constituem a maioria, permanecem cerca de 72 horas.
No caso de uma secagem sem estufa, a prensa deverá ser' colocada em local
ensolarado, ventilado ou próximo de uma fonte de calor (atrás da geladeira, por exemplo). As
folhas de jornal devem ser trocadas uma vez por dia, pelo menos. Não deixar o material sob
sereno. Uma outra forma consiste em colocar a planta dentro de uma folha de jornal na forma
que será prensada, cobrir com outra folha de jornal e passar com o ferro quente, como se
fosse roupa. Em dias de chuva, o material prensado deve ter o jornal trocado todos os dias
noite, para tentar prevenir o ataque de mofos.

Identificação

Para a identificação do material botânico, utiliza-se bibliografia especializada, chaves


taxonômicas, comparações com outras exsicatas depositadas e já identificadas em herbários, e
quando as ferramentas disponíveis não são suficientes, remete-se a planta para um
especialista do grupo taxonômico de instituições nacionais ou estrangeiras.

Como se salientou anteriormente, os trabalhos no herbário são dinâmicos.


Constantemente novos estudos taxonômicos reagrupam, os taxa, particularmente, os gêneros
e as espécies. Com isto, surge uma nova nomenclatura para os grupos, que deve ser
conhecida pela comunidade científica. As mudanças são publicadas no Index Kewensis, que
consta de fascículos atualizados a cada cinco anos.

Para os trabalhos de identificação, quando se vai utilizar material preservado, seca


ou em líquido, é necessário fervê-lo por alguns minutos para que sejam reidratados,
facilitando, desse. modo, a observação das partes, especialmente das flores e frutos.

Registro

Toda exsicata antes de ser incorporada ao acervo deve ser registrada no "caderno
de registro". Este caderno é organizado por numeração arábica crescente, contendo as
seguintes informações: família, gênero, espécie, nome(s) do(s) coletores, data e local da
coleta.

Armazenamento e preservação da coleção

As exsicatas são guardadas em armários de aço ou de madeira hermeticamente


fechados, com prateleiras, padronizados internacionalmente ( por isto as dimensões da "saia"
e da "blusa" devem ser obedecidas rigorosamente).

Nos herbários localizados em regiões tropicais os cuidados cem a coleção devem ser
redobrados, já que a probabilidade de injúrias no material armazenado é muito maior por
ataque de insetos (larvas de besouros, piolho dos livros, traças), de ácaros e mofos,
principalmente onde a umidade do ar é muito elevada.
Uma medida preventiva é a. colocação e manutenção, no interior dos armários, de
naftalina ou pastilhas de paraformaldeído, que agem como repelentes contra os animais.

O herbário sempre fechado, sem frestas e climatizado evita a entrada de animais e a


formação de mofos. Caso se verifique nas inspeções rotineiras o indício da existência de
quaisquer destes fatores que possam causar prejuízo às exsicatas, utilizam-se métodos de
combate, tais como: aquecimento, congelamento.ou envenenamento.

Os insetos são particularmente danosos às flores, aos caules novos, às partes


carnosas e são, sobretudo, atraídos pelas plantas das famílias Cruciferae, Cornpositae,
Leguminosae, Umbelliferae e plantas que contêm seiva leitosa como Apocynaceae e
Asclepiadace.

Você também pode gostar