Você está na página 1de 119

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE

CATÓLICA DE GOIÁS

Escola Politécnica – Curso de Agronomia


MANEJO DE VIVEIROS E PRODUÇÃO DE MUDAS

Prof.ª Dr.ª Roberta Paula de Jesus


Propagação
Vegetativa
A capacidade de se regenerar integralmente, formando
indivíduos completos, a partir de uma única célula ou de
qualquer parte de tecido do próprio corpo com células
vivas, chamada de totipotência, é a característica dos
vegetais que permite a sua reprodução somática
(reprodução assexuada ou vegetativa), baseada
exclusivamente na mitose.

Mitose é um tipo de divisão celular em que uma célula (a célula-mãe) se divide para
produzir duas novas células (as filhas) que são geneticamente idênticas a ela.
A propagação vegetativa, assexuada, ou clonagem,
consiste na produção de mudas ou novas plantas a
partir de partes ou órgãos vegetativos da planta (ramos,
gemas, estacas, folhas, raízes e outros), sendo
denominada de reprodução assexuada.

É uma antiga técnica, capaz de reproduzir as plantas


selecionadas, usada na floricultura, horticultura,
fruticultura e na silvicultura.
Estacas
Ramos
Gemas
Bulbos
Rizomas
A razão principal para se empregar essa técnica é que permite
obter indivíduos com as mesmas características da planta-mãe
(florescimento, crescimento, forma, produção etc.).

Seu uso é indicado no caso de plantas:

- Com dificuldades ou impossibilidade de produção de


sementes;
- Sementes com altos índices de predação (pragas e/ou
doenças);
- Sementes com baixo poder germinativo;
- Plantas com alto valor genético;
- Redução do porte e tempo para a produção de sementes em
matrizes de espécies arbóreas.
Existem vários métodos para a propagação vegetativa de
plantas, dentre os quais cita-se a estaquia, a microestaquia,
a miniestaquia, a mergulhia, a enxertia, a separação por
bulbos, a divisão de touceiras, rizomas e a propagação por
meio de cultura de tecidos.

A definição do método varia de acordo com os objetivos da


técnica, da espécie envolvida, da época do ano, da
habilidade do executor, do tipo e quantidade de material
disponível e das condições ambientais entre outros fatores.
Essa é a principal forma de produção de mudas em fruticultura.
Praticamente todas as cultivares plantadas comercialmente são
propagadas vegetativamente, ou seja, são clones, assim como
muitos porta-enxertos utilizados na propagação de fruteiras.
Também, em floricultura (ex.: rosas, crisântemo, etc.), em
horticultura (ex.: batatas, batata doce, etc.), assim como em
muitas outras espécies de importância econômica (ex.: cana-de-
açúcar, banana, abacaxi, etc.), os plantios são feitos utilizando-se
clones, obtidos por propagação vegetativa (HARTMANN et al., 2002).
O uso de clones – ou seja, um grupo de plantas que, por serem
provenientes de uma mesma planta matriz, apresenta a mesma
constituição genética, e com idênticas necessidades climáticas,
edáficas, nutricionais e de manejo –, é de extrema importância na
formação dos pomares comerciais.
A multiplicação de frutíferas através da propagação vegetativa é
amplamente utilizado por viveiristas e produtores, pois apresenta
uma série de vantagens, podemos mencionar algumas:

• Proporciona a manutenção de características da espécie


cultivada como produtividade, qualidade de frutos, tamanho do
sistema radicular.

• A fase juvenil da planta é menor, com isso o início da


produção é antecipado.

• Pode ocasionar a diminuição do porte da planta.

• Uniformidade genética, facilitando o manejo da cultura.


Estaquia Caulinar e Foliar
Adotamos o termo “estaquia” na propagação vegetativa onde são
utilizadas estacas segmentadas de uma planta, postas em um
ambiente adequado.
Elas enraízam e originam uma nova planta. As estacas podem
ser de ramos, raízes ou folhas, mas na fruticultura o mais comum
é utilizar estacas de ramos herbáceos, ramos semi-herbáceos ou
ramos lenhosos.

Estaca de ramo de goiabeira (a), estaca de ramo de figueira (b) e estaca de ramo de amoreira (c)
Vantagens da estaquia
Na área da fruticultura a estaquia é utilizada principalmente para propagação
de porta-enxertos e perpetuação de espécies de interesse comercial como a
goiabeira.

As principais vantagens deste método podem ser conhecidas abaixo:

• Conservação das características genéticas e morfológicas.


• Baixo custo na execução do método.
• Pode ser realizado o ano todo (dependendo da espécie frutífera).
• Enraizamento rápido.
Classificação das estacas

De uma mesma planta podemos obter vários tipos de estacas.


Geralmente as estacas são classificadas de acordo com a época
do ano e o estádio de desenvolvimento em que se encontram.

As estacas caulinares podem ser herbáceas, lenhosas ou semi-


lenhosas, o que varia em função do local de coleta e do tipo de
planta.

Dentre os tipos de caule, o que possui maior capacidade de


enraizamento é o herbáceo, e quanto mais herbácea e nova for à
estaca maior será sua capacidade de enraizamento.
Estacas herbáceas
Este tipo de estaca é obtido no período de crescimento vegetativo da
planta (primavera/verão).
Os ramos apresentam pouco teor de lignina, por isso são flexíveis e
apresentam coloração verde.
São propágulos que enraízam muito bem, porém são altamente
susceptíveis a desidratação.
Muito utilizadas na propagação de goiabeira, porta-enxertos de videira
e macieira.

a) Tipo de estaca utilizada. b) Estaca enraizada. c) Muda produzida em saco plástico. d) Mudas
no viveiro. (Goiabeira)
Estacas semilenhosas
São estacas obtidas no final do verão e início do outono.

Já apresentam certo grau de lignificação, porém não se encontram


totalmente lenhosos, podendo apresentar coloração marrom.

Possuem um bom potencial de enraizamento, sendo mais tolerante a


desidratação que as estacas herbáceas.
Estacas lenhosas
Podem ser obtidas durante o período de repouso vegetativo das plantas
(inverno), apresentando um maior teor de lignina, sendo pouco flexíveis
e de coloração escura.

O índice de enraizamento das estacas lenhosas para a maioria das


frutíferas é bom, sendo mais utilizado na propagação da videira e
figueira.
Estacas lenhosas
As estacas lenhosas são, normalmente, coletadas após a queda das
folhas, ou no início da nova brotação, que compreende o período de
menor atividade metabólica da planta.
Existem porém plantas lenhosas que são facilmente propagadas por
estaquia em qualquer época do ano, como por exemplo, o cróton, o
hibisco e o ficus.
Para realizar a estaquia, corta-se um ramo novo, de 7 a 15 cm de
comprimento, retirando-se as folhas da metade inferior e cortando-se o
restante das folhas pela metade.
No caso de estacas lenhosas coletadas no período de repouso, todas
as folhas são removidas.
O corte da base deverá ser feito em forma de bisel (cunha), para
facilitar o enraizamento.
Após a preparação da estaca, promove-se a estaquia em recipiente ou
canteiro em local adequado.
• A estaquia foliar é um método de
propagação utilizado, principalmente,
em plantas herbáceas, muitas delas
ornamentais como violeta-africana,
begônias, etc, onde são utilizadas
diferentes porções da folha.

• Poucas espécies, no entanto,


apresentam folhas como as das
sanseviérias, passíveis de serem
secionadas. Dependendo da espécie,
que determina o tamanho da folha, e do
tamanho da estaca, uma folha de
sanseviéria pode originar entre 10 (dez)
e 15 (quinze) estacas.
Medidas para aumentar
o enraizamento em
plantas
Existem muitas variações quanto à capacidade de enraizamento e
posterior formação de mudas entre as espécies de plantas.

No geral, as plantas herbáceas e arbustivas são mais fáceis de enraizar


do que as lenhosas (árvores frutíferas, florestais e algumas ornamentais),
embora existam exceções.
Para plantas de difícil enraizamento, de forma geral, pode-se lançar mão
de alguns tratamentos para aumentar os índices de enraizamento, ou
seja:

- Escolha da época adequada: geralmente as plantas lenhosas apresentam


maiores índices de enraizamento na saída do inverno, ou seja, antes de
lançarem brotações novas;

Estacas lenhosas de Figueira


- Tratamentos na planta-mãe que vai fornecer as estacas a serem
enraizadas. Ex.: adubações e irrigações adequadas, sombreamento, etc.;

- Coleta de estacas mais próximas à base e ao tronco da planta quanto


possível;
- Melhoria das condições de enraizamento: usar substrato poroso, manter
a umidade relativa do ar acima de 80%, promover sombreamento,
manter a temperatura entre 20 e 30 ºC;

- Aplicação de fitoreguladores para enraizamento;

- Deixar de 1 a 3 pares de folhas recortadas ao meio nas estacas;


- Diminuir ao máximo o tempo entre a coleta das estacas e sua colocação
no substrato, bem como realizar seu transporte em caixas de isopor,
panos ou embalagens umedecidas;
- Enterrar, pelo menos, um entrenó (espaço entre 2 nós consecutivos) no
substrato;
- Não usar estacas muito velhas e duras;
- Fazer subcultivos (estaquia e enxertia consecutiva).

Se após estes tratamentos e cuidados os resultados forem insatisfatórios, devese utilizar outros
métodos de propagação.
Fatores que influenciam o enraizamento das estacas
O sucesso no enraizamento das estacas em um curto período com
formação de um sistema radicular adequado para o desenvolvimento
da muda depende de alguns fatores, é interessante conhecê-los:

• Idade da planta-matriz.
• Condições fisiológicas da planta-matriz.
• Época do ano.
• Tipo de estaca.
• Sanidade das estacas.
Fatores que influenciam o enraizamento das estacas
Alguns fatores que podem influenciar o enraizamento não estão
diretamente relacionados às condições da planta-matriz ou das
estacas, mas sim ao ambiente onde os propágulos serão
acondicionados para o enraizamento.
Fatores ambientais
Temperatura
A temperatura é um dos principais fatores para o sucesso na
propagação por estaquia.

- Temperaturas muito elevadas causam uma perda excessiva de água


no propágulo, causando a desidratação das estacas, em casos
extremos à morte destas.
- Já temperaturas muito baixas podem dificultar a atividade celular da
estaca, impedindo vários processos internos do propágulo.

De modo geral, recomenda-se uma temperatura entre 18 e 25ºC.

Em locais onde o inverno é rigoroso, como na Região Sul, nesta época


o período destinado ao enraizamento das estacas deve ser dentro de
uma casa de vegetação.

Já durante o verão, onde as temperaturas são elevadas, caso seja


utilizada uma casa de vegetação, a temperatura interna deste local não
deve ser superior a 25ºC.
Umidade
Para que ocorra o enraizamento das estacas é necessário que haja
uma divisão das células dos tecidos do propágulo, e isso só é possível
quando as células estão hidratadas (túrgidas).

No momento da propagação, os ramos devem ser colhidos nas horas


de temperatura mais amena do dia, dessa forma estarão hidratados.

Durante o procedimento as estacas prontas devem permanecem em


um recipiente com água, para evitar a desidratação.
Umidade
A umidade do substrato e do ambiente onde estão sendo enraizadas
também é muito importante.

Quando o ambiente de enraizamento for uma estufa, túnel agrícola de


porte médio ou alto ou ainda uma tela de sombreamento, o mais
adequado é a utilização do sistema de irrigação por nebulização. Com
isso as estacas e o substrato estarão sempre úmidos.
Luminosidade

Para que ocorra o enraizamento das estacas é necessário que a parte


basal destas esteja em contato com o substrato, além de umidade
adequada, mas é imprescindível que a parte basal da estaca não esteja
recebendo luz.
Substrato
Na produção de mudas frutíferas, o substrato é um meio sólido onde
são proporcionadas condições físicas e químicas para o
desenvolvimento do sistema radicular de estruturas vegetais
propagadas, tendo como função prover suporte ao propágulo.

A utilização de um substrato que promova a retenção suficiente de água


evitando o acúmulo excessivo, que mantenha uma quantidade
adequada de espaço poroso para fornecer O2, permitindo o
desenvolvimento das radículas e também evitar o desenvolvimento de
patógenos nas estacas é de grande importância para a obtenção de
sucesso no processo de propagação.
Espécie

Cada espécie tem diferente potencial de enraizamento em diferentes épocas do


ano; espécies caducifólias enraízam melhor no outono e inverno, enquanto as
de folhas perenes, na primavera e verão; há evidências que a formação de raízes
de segmentos do caule é genéticamente controlada;
Planta-mãe
Quanto mais jovem, vigorosa e sadia, maior as chances de enraizamento;

Explante
Quanto mais jovem o órgão da planta utilizada, melhor o enraizamento;
explantes de ramos laterais enraizam melhor do que do ápice; num
mesmo ramo, as estacas mais próximas da base enraizam melhor, o que
está relacionado à concentração nas pontas de maior quantidade de
nitrogênio e menor de hidratos de carbono;

Estado fisiológico
Dependendo do tipo de estaca, lenhosa ou herbácea, há maior
capacidade de enraízamento quando colhida em estado de dormência ou
de crescimento, respectivamente; geralmente, estacas herbáceas enraizam
melhor do que as lenhosas;
Hidratos de carbono e nitrogênio
Quanto maior o teor de substâncias de reserva e quanto maior a relação
carbono/nitrogênio melhor o enraizamento; às vezes é necessário
adicionar fontes de carboidratos ao meio de crescimento como a
sacarose, ribose e glicose;
Hormônios e fitoreguladores
Quanto maior a concentração natural dos hormônios: auxina, citocinina,
ácido abscísico e etileno, melhor o enraizamento;
Água
Quanto maior o teor de água retido nos tecidos, melhor o enraizamento;
Envelhecimento
A maioria das plantas arbóreas sofre mudanças morfológicas,
fisiológicas e bioquímicas da fase juvenil para a adulta que afetam o
potencial de clonagem, o vigor de crescimento e a resistência às pragas e
doenças, dificultado a propagação vegetativa
Várias substâncias podem induzir ou inibir o enraízamento, sejam
naturais ou artificiais.

Algumas substâncias alelopáticas, produzidas por espécies com esta


propriedade, estão presentes na matéria orgânica dos solos e podem ser
inibidoras do enraizamento. Portanto, deve-se evitar os solos orgânicos
como meio de cultura de estacas.

Outros inibidores estão presentes na própria planta que se quer


multiplicar.
Algumas substâncias inibidoras do enraizamento podem ter o seu
deslocamento para baixo bloqueado por corte da casca até o floema,
algumas têm sua atividade impedida pela presença de uma segunda,
outras ainda podem ser lixiviadas ou diluidas por lavagens sucessivas da
estaca ou por um banho em água pura.

Substâncias promotoras do enraizamento podem ser adicionadas ao meio


de cultura ou introduzidas nas estacas através de mergulho em solução,
pincelamento, etc; às vezes as estacas já possuem substâncias naturais
indutoras do enraizamento em quantidade suficiente.

Em alguns casos é possivel fazer com que a planta produza grande


quantidade de substâncias indutoras do enraizamento através de algum
tipo de injúria mecânica, antes do corte das partes a multiplicar
Tratamentos
mecânicos
Tratamentos mecânicos que promovem enraizamento geralmente são
representados por algum tipo de injúria mecânica como descascamento,
incisão, ou torção, que induzem a produção de auxinas e carboidratos,
devido ao bloqueio da translocação dessas substâncias próximo ao local
onde se deseja que ocorra a formação de raízes, e do aumento da
quantidade de células parenquimatosas e indiferenciadas.
Tratamentos Fisiológicos
Rejuvenescimento

Consiste na aplicação de tratamentos ou técnicas que visam retornar o


estado fisiológico da planta do estado maduro para o estado juvenil
Estiolamento
O estiolamento é causado pela ausência de luz e se caracteriza por
alterações fisiológicas associadas ao descoramento e amolecimento dos
tecidos e, em algumas espécies, provoca um crescimento apical
exagerado (estiolamento), ou brotações; o estiolamento, às vezes,
aumenta a capacidade de enraizamento das áreas afetadas.
Hormônios e fitoreguladores

Algumas espécies possuem hormônios e fitoreguladores suficientes


para a iniciação radicular, outras necessitam de tratamento com
substâncias naturais ou sintéticas que induzem o enraizamento como o
ácido indol butírico (AIB), naftilacético (ANA), indolacético (AIA),
seus sais e ésteres de potássio, 2,4-D-diclorofenoxiacético (2,4-D) e
2,4,5-T; o tratamento é usado para promover a formação, aumentar o
número e a qualidade das raízes e para obter uniformidade de
enraizamento.
Hormônios e fitoreguladores
A auxina natural encontra-se, principalmente, nas gemas apicais e
folhas novas dos ramos, influindo na formação de raízes adventícias,
movimentando-se da copa para as raízes.
São exemplos de compostos sintéticos com atividade de auxina: AIA,
AIB, ANA e (2,4-D). As citocininas (BAP, CIN, 2iP e ZEA) são
substâncias químicas que estimulam a divisão celular; um exemplo de
substância que têm atividade de citocinina é a quinetina, que em alta
concentração favorece a formação de gemas, mas não de raízes.
Hormônios e fitoreguladores
Auxinas e citocininas são reguladores do crescimento com maior ação
na regeneração de órgãos.

Alta relação auxina / citocinina favorece a formação de raízes


adventícias, o inverso, a formação de brotos.

As giberelinas promovem o crescimento apical e não tem efeito sobre o


enraizamento.

O ácido abscísico é transportado através do floema e xilema, sendo


encontrado nas folhas, nas gemas, nos frutos e nas sementes, tendo efeito
regulador sobre a dormência, estômatos, entre outras funções.

Entre as substâncias que podem ter efeito inibidor do enraizamento estão


o ABA, etileno, ZEA, 2iP, embora qualquer hormônio ou fitoregulador
possa causar inibição de raízes dependendo da concentração.
Tratamentos
Sanitários
A sanidade, obviamente, também influencia o enraizamento.

As medidas de assepsia comuns a muitas espécies constam de


duas fases:
- Inicialmente, as estacas devem ser imersas em solução de
hipoclorito de sódio numa concentração de 0,4% a 0,5% por 5
minutos....
- Seguida de lavagem em água corrente por 5 minutos;

.....Depois, as estacas são colocadas em pé, imersas até a


metade do comprimento em solução de fungicida sistêmico
(benomyl), diluÌdo à base de 0,5 g/l, durante 15 minutos.
(Carpanezzi et al., 1999).
Miniestaquia
A técnica da miniestaquia é uma variação da estaquia
convencional.

Consiste na utilização de brotações de plantas propagadas pelo


método de estaquia convencional como fontes de propágulos
vegetativos.

Miniestacas na produção de mudas clonais de Coffea arabica


Numa seqüência esquemática desta técnica, inicialmente, faz-
se a poda do ápice da brotação da estaca enraizada, e em
intervalos variáveis em função da época do ano, do
clone/espécie, das condições nutricionais, entre outras, há
emissão de novas brotações, que são coletadas e colocadas
para enraizar.

Miniestaquia herbácea de portaenxerto - Pessegueiro


A coleta de miniestacas nas mudas podadas é realizada de
forma seletiva, em períodos a serem definidos conforme o vigor
das brotações, colhendo-se todas aquelas que se enquadram
nos padrões de miniestaca:
- De 3 a 5 cm de comprimento;
- Um a três pares de folhas, recortadas pela metade.
Após serem coletadas, as miniestacas são acondicionadas em recipientes
com água, para que possam chegar ao local de enraizamento em perfeitas
condições de turgor.
As miniestacas são colocadas para enraizamento em casa de
vegetação com umidade relativa acima de 80%, seguindo
posteriormente para a casa de sombra, para uma pré-adaptação às
condições de menor umidade relativa e, finalmente transferidas
para pleno sol para rustificação e posterior plantio.
Os períodos de permanência das miniestacas em casa de
vegetação dependem da época do ano, do clone/espécie envolvido
e do seu estado nutricional.

Miniestacas de Eucalyptus benthamii em casa de vegetação


Mergulhia
A mergulhia é um processo de propagação vegetativa no qual um ramo
é posto a enraizar quando ainda faz parte da planta-mãe, sendo
destacado desta somente após o enraizamento.

Por ser um processo rápido de propagação e por fornecer mudas


enfolhadas, é utilizado com bons resultados na obtenção de plantas.

Por ser um processo de baixo rendimento e necessitar de muita mão-


de-obra, é recomendado para a propagação de plantas de alto valor ou
interesse, difíceis de propagar por outros métodos.
Como regra geral, recomenda-se a utilização de ramos com menos de
um ano para fazer a mergulhia.

A época indicada para a sua realização é o princípio da primavera.


Mergulhia no solo

Quando realizada no solo, a mergulhia é classificada em


simples (normal e de ponta), contínua (chinesa, chinesa
serpenteada) e de cepa.
Mergulhia Simples
O ramo a enraizar é curvado para o solo e uma parte dele, a qual fica em
contato com solo, é fixada – para evitar danos às raízes, causados
principalmente pelo vento – e coberta com solo, deixando-se sua
extremidade descoberta e em posição vertical.
Após o enraizamento, destaca-se a muda da planta-mãe e faz-se o
plantio da nova planta em local definitivo ou em recipiente, para que a
mesma continue seu desenvolvimento.
Mergulhia simples de ponta
Semelhante à mergulhia simples normal, porém, nesse caso, a ponta ou
extremidade do ramo deve ficar coberta com solo.

Após o enraizamento, separa-se a muda da planta-mãe, e a nova planta é


replantada em local adequado.
Mergulhia continua chinesa
É executada curvando um ramo, mergulhando-se o mesmo no solo, de
modo a manter enterrada a maior extensão possível dele, permanecendo
apenas a parte apical fora do solo.
Com a cobertura do ramo, as gemas dispostas em sua extensão
permanecem sob o solo e emitirão brotações, as quais formarão novas
raízes originando novas plantas que serão destacadas da planta matriz e
colocadas em local adequado.
Mergulhia continua chinesa
Mergulhia continua serpenteada
Semelhante a anterior pela forma como é conduzida no solo, porém a
cobertura é feita somente em algumas partes do ramo e não em toda a
extensão dele, ou seja, cobre-se uma parte com solo e deixa- se outra
descoberta, assim sucessivamente em toda a extensão do ramo.
Esses dois últimos métodos (chinesa e chinesa serpenteada) permitem
obter maior número de plantas por ramo.

Após o enraizamento, as novas plantas devem ser destacadas da planta


mãe e replantadas no local definitivo ou em recipiente.
Mergulhia continua serpenteada
Mergulhia de cepa
Primeiramente, é necessário fazer o plantio de uma muda oriunda de
semente ou de propagação vegetativa, seja por estaca ou por mergulhia.
Após o estabelecimento da planta, deve-se fazer uma poda drástica do
tronco, de modo que a planta seja estimulada a emitir inúmeras novas
brotações.
Quando esses brotos apresentarem em torno de 10 cm a 15 cm de altura,
realiza-se a primeira amontoa com terra.
Mergulhia de cepa
A segunda amontoa é realizada quando os brotos atingirem 20 cm a 25 cm,
e a terceira faz-se quando as brotações estiverem com aproximadamente 40
cm.
A amontoa deve ser realizada na primavera, de modo que se forme um
camalhão com 25 cm a 30 cm de altura para possibilitar um bom
desenvolvimento do sistema radicular formado.
A separação das brotações enraizadas da planta-mãe é feita no inverno
seguinte, retirando-se a terra com cuidado para evitar danificar o sistema
radicular.
Mergulhia de cepa

O corte de separação deve ser feito o mais próximo possível da planta-


mãe, a qual deve permanecer descoberta para emissão de novas
brotações.

Esse método é o principal método de propagação de porta-enxertos de macieira e


pereira.
Mergulhia aérea - Alporquia

Esse método também é denominado de alporquia e é utilizado quando o


ramo não pode ser levado até o nível do solo, por não apresentar
comprimento suficiente, por estar localizado na parte superior da planta
ou por não ser flexível.
Na mergulhia aérea, com o objetivo de facilitar o enraizamento, são
feitas incisões, anelamentos, estrangulamentos ou torções no ramo a ser
propagado.

O ponto lesionado é coberto com um substrato umedecido, que pode ser


musgo, substrato orgânico ou qualquer outro formado pela mistura de
materiais que proporcionem uma boa aeração, umidade e temperatura
moderada, envolto por tecidos ou plásticos.
É recomendada a realização da mergulhia aérea em ramos de até um
ano, no qual eliminam-se as brotações laterais em cerca de 15-30 cm
antes da gema terminal.

A mergulhia deve ser feita na época em que as plantas estejam em plena


atividade de crescimento.

No ponto lesionado pode-se aplicar fitoregulador de enraizamento.


Cuidado especial deve ser tomado para manter uma boa umidade do
substrato envolto no galho, por meio de irrigações.
O tempo necessário para realizar a separação da planta-mãe do ramo que
sofreu mergulhia depende da espécie, sendo de aproximadamente dois a
três meses.

A melhor forma de determinar a época de remoção do ramo que sofreu


mergulhia é observar a formação de raízes através do plástico
transparente utilizado para envolver o substrato.
Propagação vegetativa por estruturas especializadas
Estruturas especializadas são caule, folhas ou raízes modificadas que
funcionam como órgãos de reserva e que podem ser utilizados na
propagação vegetativa de plantas.

Em fruticultura, a propagação das plantas por meio de estruturas


especializadas é usada em algumas espécies, como o morangueiro, a
bananeira, o abacaxizeiro, a framboeseira e a amoreira-preta
Tipos de estruturas especializadas
Os principais tipos de estruturas especializadas utilizadas na propagação
de plantas frutíferas são estolões, rebentos e rizomas.
Estolões
São caules aéreos especializados que surgem nas axilas das folhas, na
base ou na coroa das plantas e que enraízam e formam uma nova planta.
Um exemplo característico de planta que pode ser propagada por
estolões é o morangueiro, no qual o número de plantas obtidas de cada
planta mãe é dependente da cultivar.
Estolões
Rebentos
São brotações que surgem das raízes, do caule ou dos frutos que podem
ser utilizados na produção de novas plantas.

O abacaxizeiro, a framboeseira e a amoreira-preta são espécies que


podem ser propagadas por rebentos.
Rebentos
No caso do abacaxizeiro, essas brotações (rebentos) recebem diferentes
nomes (Coroa, Filhote ou Rebentões), dependendo de onde se originam.
Rizomas
São caules modificados que, normalmente, apresentam crescimento
subterrâneo e capacidade de armazenar reservas.

Em fruticultura, as mudas do tipo rizoma são importantes para a


propagação da bananeira.

Outras espécies de importância econômica, tais como o bambu, a cana-


de-açúcar, gramíneas e muitas ornamentais, apresentam rizomas
Rizomas
Na cultura da bananeira, as mudas originadas de rizomas recebem
diversas denominações (Chifrinho, Chifre, Chifrão e Muda alta).
Rizomas
As mudas do tipo Chifrinho medem entre 20 cm e 30 cm, apresentam 2 a
3 meses de idade e peso entre 1 kg e 2 kg, sem folhas.

As mudas do tipo Chifre medem em torno de 50 cm a 80 cm de altura,


com folhas rudimentares na extremidade superior.

As mudas denominadas Chifrão apresentam entre 6 e 9 meses de idade,


têm folhas estreitas e peso médio de 2 kg a 3 kg.

E as chamadas Mudas alta são mudas enraizadas, com folhas inteiras ou


definitivas, constituindo uma planta jovem, e com peso em torno de 5
kg.

Você também pode gostar