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DOENÇAS
CAUSADAS ,
POR BACTERIAS
Mirtes Frei/as Lima
Marisa Alvares da Silva Vel/oso Ferreira
cancros (Figura 3a). Nos cachos, obser- Os sintomas causados por X. campestris
vam-se cancros no engaço e nos pedice- pv. viticola em videira variam em intensi-
los, e nas bagas podem surgir manchas dade, segundo a cultivar afetada. A cv.
necróticas levemente arredondadas (Fi- Red Globe é considerada a mais suscetível
gura 3b). Em cachos já formados, ocorre à doença, podendo apresentar alta inci-
murcha das bagas após necrose da ráquis dência de sintomas em parreirais infectados.
e dos pedicelos. Os sintomas da doença Entre 1998 e 1999, o cancro-bacteriano
são mais severos nos cachos quando a in- foi também constatado em videiras das cul-
fecção ocorre no início da frutificação. tivares Itália, Festival, Brasil, Piratininga,
Uva de Mesa Fitossanidade Frutas do Brasil, 14
por PCR com a utilização dos oligonu- medidas a serem tomadas no manejo e
cleotídeos, pode ser visualizado no gel de controle do cancro-bacteriano na região.
agarose como uma banda de cerca de Essa instrução normativa foi revoga da
240 pares de bases. A ausência dessa ban- em 2006, tendo sido substituída pela
da indica que a amostra não contém o Instrução ormativa n? 9/2006
patógeno, ou que esse se encontra abaixo (BRASIL, 2006).
do limiar de detecção da técnica. As recomendações descritas na Ins-
A utilização de ambas as metodolo- trução ormativa n° 9 envolvem práticas
gias, sorologia e PCR, na detecção de X. corretas de manejo da doença que devem
campestris pv. viticola ainda é objeto de pes- ser adotadas, tais como evitar as opera-
quisa e otimizações, visando à disponibi- ções de poda, desbaste e raleio de cachos
lização de métodos de simples aplicação e no período chuvoso, visando reduzir a
baixo custo. () grande desafio é a sua apli- disseminação da bactéria e o surgimento
cação em material assintomático, seja em de novos focos de infecção. Contudo, no
manejo da doença em pomares afetados,
plantas já infectadas ou simplesmente em
medidas devem ser adotadas não apenas
órgãos da planta que carregam popula-
no período chuvoso, mas também na
ções epífitas em sua superfície.
época seca do ano, dentre as quais, poda
de ramos doentes, eliminação de plantas
severamente afetadas, desinfestação de
Controle
ferramentas de poda, queima de restos de
o Brasil, a bactéria X. campestris cultura e emprego de produtos à base de
cobre nas áreas podadas (CO nssxo
pv. viticola é considerada uma praga qua-
TÉC ICA PARA A CULTURA DA
rentenária A2 pelo Iinistério da Agricul-
UVA, 1998; LIMA, 2000; f\SCIME -
tura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)
TO et al., 2000).
(BRASIL, 1999) ou, segundo a nova ter-
Medidas preventivas são recomen-
minologia da Instrução Normativa n°
dadas para parreirais com cultivares sus-
52/2007, uma praga quarentenária "pre-
cetíveis que ainda não apresentam sinto-
sente" (BRASIL, 2007). Isso signi fica
mas da doença e naqueles que ainda estão
que a ocorrência dessa bactéria é restrita a
em fase de implantação. Entre essas me-
determinadas regiões do País e que a pra-
didas, destacam-se: plantar mudas com-
ga se encontra sob controle oficial.
provadamente sadias, evitar o trânsito de
Quando da primeira ocorrência da
máquinas e implementos agrícolas entre
doença no Submédio do Vale São Francisco, propriedades, instalar pedilúvio com
em 1998, representantes da Secretaria de amônia quaternária 0,1% na entrada do
Defesa Agropecuária, do Departamento pomar, estabelecer quebra-ventos e evitar
de Defesa Sanitária do Mapa, juntamente operações que resultem em ferimento nas
com pesquisadores da Embrapa Serniá- plantas na época chuvosa. As medidas
rido, representantes da Valexport (Asso- descritas devem ser adotadas como parte
ciação dos Produtores e Exportadores de do manejo integrado, visando possibilitar
Hortifrutigranjeiros e Derivados do Vale a convivência com o cancro-bacteriano
do São Francisco) e outros profissionais em áreas de ocorrência da doença.
envolvidos no setor produtivo da videira Na formação de novos parreirais, o
reuniram-se para discutir o problema do emprego de mudas com sanidade com-
cancro-bacteriano. Como resultado dessa provada é a primeira e mais importante
discussão, foi elaborado o documento recomendação para assegurar a estabili-
Instrução ormativa nO233/1998 (BRA- dade fitossanitária inicial do pomar. Essa
SIL, 1998), no qual são recomendadas medida é também obrigatória para que
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A doença foi ainda registrada no Rio dessa doença, podendo ocorrer em raizes,
Grande do Sul, onde a biovar 3 dessa na parte basal do tronco, próximo ou logo
bactéria foi introduzida em material pro- abaixo da linha do solo ou, ainda, na parte
veniente de Israel (OLIVEIRA et al., aérea do tronco das plantas (Figura 4). As
1994). No Submédio do Vale do São galhas são formadas por tecidos desorga-
Francisco, sintomas esporádicos dessa nizados do sistema vascular e do parên-
doença também têm sido detectados em quima. Apresentam, inicialmente, colora-
videira (LIMA; MOREIRA, 2002). ção clara e superficie lisa quando novas,
entretanto, tornam-se escurecidas e áspe-
ras à medida que aumentam em tamanho
Agente causal e envelhecem. Segundo Agrios (2005), as
galhas podem surgir no tronco de videiras
A doença é causada por A. tumifaciens adultas a uma altura de até 1,5 m do solo.
(E. F. Smith ScTouwnsend) Conn, atual- Outros sintomas que podem ser observa-
mente denominada de A. vitis, que per- dos em plantas afetadas pela doença são
tence à familia Rhizobiaceae. Essa bacté- brotações pouco desenvolvidas e morte
ria possui três biovares, sendo a biovar 3 de porções da planta, acima da região de
predominante em videira. É gram-negati- ocorrência das galhas.
va, bastonetiforme com um fl.agelo. O pa- Bactérias pertencentes ao gênero
tógeno é facilmente identificado pela pro- Agrobacterium possuem um amplo circulo
dução de galhas quando inoculado em de plantas hospedeiras, infectando cerca
plantas hospedeiras. Atraida por exsuda- de 600 espécies de dicotiledôneas (BURR,
dos da planta, a bactéria penetra a hospe- 1994). A disseminação desses patógenos
deira via ferimentos e introduz nas célu- ocorre por meio de mudas e material pro-
las vegetais um fragmento especifico do pagativo de videira contaminados, como
DNA (o T-DNA), contido em seu plasmi-
dia Ti. O T-DNA é incorporado às célu-
las como parte do genoma da planta, sen-
do, mais tarde, transcrito por elas.
O T-DNA contém genes que codificam
para a produção de ácido indolacético
(IAA) e citocinina. Quando esses genes
são expressos pelas células da planta, há
produção desses reguladores de cresci-
mento que, por sua vez, induzem ao au-
mento do volume celular, assim como
também estimulam a divisão das células
afetadas. Dependendo da concentração
dos reguladores de crescimento nas célu-
las afetadas, a infecção pode resultar na
produção de galhas desorganizadas (tu-
mores) (AGRIOS, 2005).
Sintomatologia
e epidemiologia
tesoura de poda, água e solo. A penetra- preparo de mudas, utilizar materiais pro-
ção da bactéria na planta ocorre através pagativos de copa e porta-enxerto sadios.
de ferimentos resultantes da desbrota, Plantas afetadas pela doença, incluindo as
poda, manejo da cultura, rachaduras na- raízes, devem ser completamente elimi-
turais e injúrias causadas pelo frio nadas, e o solo tratado com fumigantes
(FLAHERTY et al., 1982). (BURR, 1994; FLAHERTY et al., 1982).
O patógeno pode sobreviver em ga- Em viveiros, deve-se manter todo o
lhas, plantas de videira infectadas e tam- equipamento, a área de trabalho e o solo
bém no solo. Quando as plantas são eli- limpos. Operações de viveiro que resul-
minadas, a sobrevivência da bactéria tam em ferimentos, tais como o preparo
pode ocorrer também em restos de raízes de estacas para enraizamento, enxertia,
que permanecem no solo e na rizosfera, transplante, corte de raízes, união de teci-
podendo infectar mudas replantadas. dos e propagação sob nebulização, propi-
ciam a ocorrência da infecção.
Métodos químicos e biológicos têm
Controle sido empregados no controle da doença.
Erradicantes químicos, como o querose-
Várias medidas são recomendadas ne, utilizados na eliminação de galhas em
para o controle da doença. Entretanto, as plantas de videira têm sido pouco eficien-
mais importantes baseiam-se em práticas tes, uma vez que novas galhas voltam a se
sanitárias e em evitar ferimentos, princi- desenvolver no local tratado. A estirpe 84
palmente nas raízes e colo das plantas. A da bactéria A. radiobacter, produtora de
instalação de parreirais em áreas com his- agromicina, tem sido utilizada no trata-
tórico da doença deve ser evitada, dando mento de mudas. Entretanto, essa estirpe
preferência, nesse caso, à rotação de cul- não é ativa contra a biovar 3, predomi-
turas, antes do replantio com videira. No nante em videira (BURR, 1994).