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Medicina do Trabalho
Edson Lopes Mergulhão
Thaís Minett
Marcos Rodrigo Souza Fernandes
Fábio Roberto Cabar
João Victor Fornari

Este capítulo visa tratar de temas inerentes à prevenção de acidentes de trabalho, bem como das doenças relacionadas a ele, dividindo-se em
doença profissional, produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho (como saturnismo), e doença do trabalho, adquirida ou
desencadeada devido às condições em que ele é executado (como surdez). O capítulo aborda, ainda, temas relacionados à organização política e
às normas que regulamentam a saúde, a segurança do trabalhador e também trata de riscos, doenças e acidentes ligados ao trabalho exercido.
As principais doenças ocupacionais são as pneumoconioses decorrentes da deposição de partículas sólidas no parênquima pulmonar, a PAIR
(Perda Auditiva Induzida por Ruído), a silicose e a asbestose e, por fim, as Lesões por Esforços Repetitivos (LERs)/Doenças Osteomusculares
Relacionadas ao Trabalho (DORTs). Um ponto importante diz respeito à emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) para as
doenças ocupacionais, que deve seguir esta sequência: realizar um acompanhamento médico do trabalhador para avaliar se é, de fato, uma
doença ocupacional e, caso seja constatada a doença, fazer a emissão da CAT e o encaminhamento ao INSS. Após isso, será realizada uma
avaliação pericial, e, em caso de incapacidade do paciente, deverá ser feito o encaminhamento ao auxílio-doença. Trata-se de um tema bastante
cobrado em prova, daí a necessidade de estar familiarizado com os procedimentos para a emissão desse documento.

1. Conceito e importância
A Medicina do Trabalho é a especialidade médica que lida com as relações entre homens e mulheres trabalhadores e seu trabalho, visando não
somente à prevenção dos acidentes e das doenças do trabalho, mas à promoção da saúde e da qualidade de vida. Também tem por objetivo
assegurar ou facilitar aos indivíduos e ao coletivo de trabalhadores a melhoria contínua das condições de saúde, nas dimensões física e mental, e a
interação saudável entre as pessoas e com o seu ambiente social e o trabalho.
Está construída sobre 2 pilares: a Clínica e a Saúde Pública. Sua ação está orientada para a prevenção e a assistência do trabalhador vítima de
acidente, de doença ou de incapacidade relacionados ao trabalho e, também, para a promoção da saúde, do bem-estar e da produtividade dos
trabalhadores, das suas famílias e da comunidade.
Isso é importante para diminuir os acidentes em locais de trabalho e, principalmente, para proporcionar a identificação e a redução dos riscos que
levam a eles. Ainda há um trabalho árduo a ser desenvolvido por essa especialidade no sentido de contribuir para esses objetivos. Trata-se de um
desafio que devemos ter em mente não só para as provas de Residência, mas também para a nossa vida diária, pois muitos dos recém-formados
desenvolverão ações dentro da Medicina do Trabalho no início da carreira.
O médico do trabalho tem atuação diversa, abrangendo os mais diferentes aspectos da saúde do trabalhador. A atuação da Medicina do
Trabalho, que se iniciou na Revolução Industrial, e o associado processo de transição demográfica trouxeram um impacto considerável na
morbimortalidade, afetando a transição epidemiológica. Dentre as atuações do médico do trabalho, destacamos:
- Avaliar as principais consequências ou danos para a saúde dos trabalhadores, bem como identificar os principais fatores de risco presentes no
ambiente de trabalho decorrentes do processo de trabalho e das suas formas de organização;
- Controlar os fatores de risco presentes nos ambientes e nas condições de trabalho e identificar as principais medidas de prevenção e,
inclusive, a correta indicação e os limites do uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs);
- Efetuar exames (admissionais, periódicos, demissionais), considerando a história médica e ocupacional, a avaliação clínica e laboratorial, a
avaliação das demandas profissiográficas e o cumprimento dos requisitos legais vigentes – Ministério do Trabalho (NR 07); Ministério da Saúde
(SUS); Conselhos Federal/Regional de Medicina etc.;
- Tratar e diagnosticar as doenças e os acidentes relacionados com o trabalho, incluindo as providências para a reabilitação física profissional, e
prover atenção médica de emergência na ocorrência de agravos à saúde, não necessariamente relacionados ao trabalho;
- Juntamente aos trabalhadores e empregadores, implementar atividades educativas;
- Organizar e participar da inspeção e da avaliação das condições de trabalho com vistas ao seu controle e à prevenção dos danos para a saúde
dos trabalhadores;
- Opinar sobre o potencial tóxico de risco e avaliar o perigo para a saúde de produtos químicos mal conhecidos ou insuficientemente avaliados
quanto à sua toxicidade;
- Cumprir e interpretar regulamentos legais e normas técnicas, colaborando, sempre que possível, com os órgãos governamentais, no
desenvolvimento e no aperfeiçoamento dessas normas;
- Em acidentes de grandes proporções ou situações de desastres, planejar e implantar ações;
- Participar da implementação de programas de reabilitação de trabalhadores com dependência química;
- Para fins da vigilância da saúde e do planejamento, implementar e avaliar programas de saúde;
- Gerenciar as informações estatísticas e epidemiológicas relativas à mortalidade, morbidade e incapacidade para o trabalho, bem como planejar
e implementar outras atividades de promoção da saúde, priorizando o enfoque dos fatores de risco relacionados ao trabalho.

2. Organização política da saúde do trabalhador


De acordo com a Lei nº 13.341/2016, o Ministério do Trabalho e a Previdência Social foram convertidos em Ministério do Trabalho.
No Brasil, atualmente 3 órgãos executivos participam diretamente da saúde do trabalhador:
- O Ministério do Trabalho é responsável pela normatização de toda a atividade laborativa, fiscalização e investigação de denúncias e de
acidentes graves e óbitos;
- O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é o responsável pelos benefícios pecuniários dos trabalhadores (acidentados e/ou aposentados)
com registro em Carteira Profissional;
- O Ministério da Saúde é responsável pelo cuidado à saúde de todos os trabalhadores, desde a prevenção do adoecimento ao seu tratamento,
como um direito garantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a toda a população.
Como podemos perceber, o número de acidentes de trabalho continua alto, e a maior parte das vítimas é de jovens entre 25 e 29 anos. Segundo
dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), os acidentes de trabalho são responsáveis pela morte de 3 pessoas a cada minuto no
mundo todo. No Brasil, em 2014, 704.136 pessoas sofreram acidentes de trabalho. O número absoluto de notificações está praticamente estável,
inclusive com uma queda em 2014, já que em 2013 o número absoluto de acidentes de trabalho chegou a 725.664 e, em 2012, a 713.984.
Entretanto, proporcionalmente, os acidentes vêm diminuindo, já que a base de trabalhadores está aumentando. O indicador de 2014 aponta uma
média de 16,06 acidentes de trabalho por 1.000 vínculos empregatícios; em 2013, a taxa foi de 16,75 acidentes por 1.000 trabalhadores. Em 2014,
foram registradas 395 mortes em cada 100.000 ocorrências de acidentes de trabalhos. Em 2013, foram 390 óbitos por 100.000 ocorrências.
Um dado importante que você nunca pode esquecer é que a efetiva fiscalização e o controle das condições e dos riscos do trabalho por parte dos
empregadores, das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPAs) e dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em
Medicina do Trabalho (SESMTs), e mesmo dos trabalhadores, são um fator primordial para a redução dos acidentes e das doenças relacionadas ao
trabalho, muitas vezes fatais.

DICA

A faixa etária mais comum de trabalhadores que sofrem acidentes está entre os 25 e 29 anos. O número de notificações de acidente de trabalho
no Brasil diminuiu e o de mortes por acidente aumentou.

- Normas regulamentadoras
São normas relativas à Segurança e à Medicina do Trabalho, aprovadas pela Portaria nº 3.214, de 8 de junho de 1978 e que devem ser cumpridas
pelas empresas privadas e públicas que tenham empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). As Normas Regulamentadoras
(NRs) são elaboradas por uma comissão tripartite, composta por representantes do governo, dos empregadores e dos empregados. Além de
regulamentarem, fornecem parâmetros e instruções sobre Saúde e Segurança do Trabalho. Existem NRs gerais e rurais.

Tabela 1 - Normas regulamentadores


Estabelece o campo de aplicação de todas as Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho do
NR 01 - Disposições trabalho urbano, bem como os direitos e as obrigações do governo, dos empregadores e dos trabalhadores no
gerais tocante a esse tema específico. A fundamentação legal, ordinária e específica são os Arts. 154 a 159 da CLT.

Estabelece as situações em que as empresas devem solicitar ao Ministério do Trabalho a realização de inspeção
NR 02 - Inspeçãoprévia
Inspeçãoprévia prévia em seus estabelecimentos, bem como a forma de sua realização. A fundamentação legal, ordinária e
específica é o Art. 160 da CLT.

Estabelece as situações em que as empresas se sujeitam a sofrer paralisação de seus serviços, máquinas ou
NR 03 - Embargo ou equipamentos, bem como os procedimentos a serem observados, pela fiscalização trabalhista, na adoção de tais
interdição medidas punitivas no tocante à Segurança e à Medicina do Trabalho. A fundamentação legal, ordinária e específica
é o Art. 161 da CLT.

Estabelece a obrigatoriedade das empresas públicas e privadas que tenham empregados regidos pela CLT de
NR 04 - SESMTs organizarem e manterem, em funcionamento, SESMTs, com a finalidade de promover a saúde e proteger a
integridade do trabalhador no local de trabalho. A fundamentação legal, ordinária e específica é o Art. 162 da CLT.

Estabelece a obrigatoriedade das empresas públicas e privadas de organizarem e manterem em funcionamento,


por estabelecimento, uma comissão constituída exclusivamente por empregados, com o objetivo de prevenir
NR 05 - CIPAs infortúnios laborais, por meio da apresentação de sugestões e recomendações ao empregador para que melhore
as condições de trabalho, eliminando as possíveis causas de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. A
fundamentação legal, ordinária e específica são os Arts. 163 a 165 da CLT.

Estabelece e define os tipos de EPIs que as empresas estão obrigadas a fornecer a seus empregados, sempre que
NR 06 - EPIs as condições de trabalho exigirem, a fim de resguardar a sua saúde e integridade física. A fundamentação legal,
ordinária e específica são os Arts. 166 e 167 da CLT.

NR 07 - Programas de Estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições
Controle Médico de que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO),
Saúde Ocupacional com o objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto dos seus trabalhadores.

Dispõe sobre os requisitos técnicos mínimos que devem ser observados nas edificações para garantir segurança e
NR 08 - Edificações conforto aos que nelas trabalham. A fundamentação legal, ordinária e específica que dá embasamento jurídico à
existência desta NR são os Arts. 170 a 174 da CLT.

Estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições


que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), visando
NR 09 - Programas de à preservação da saúde e da integridade física dos trabalhadores, por meio da antecipação, do reconhecimento, da
Prevenção de Riscos avaliação e do consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no
Ambientais ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. A
fundamentação legal, ordinária e específica que dá embasamento jurídico à existência desta NR são os Arts. 175 a
178 da CLT.

Estabelece as condições mínimas exigíveis para garantir a segurança dos empregados que trabalham em
instalações elétricas, em suas diversas etapas, incluindo elaboração de projetos, execução, operação, manutenção,
NR 10 - Instalações e reforma e ampliação, assim como a segurança de usuários e de terceiros, em quaisquer das fases de geração,
serviços em eletricidade transmissão, distribuição e consumo de energia elétrica, observando-se, para tanto, as normas técnicas oficiais
vigentes e, na falta destas, as normas técnicas internacionais. A fundamentação legal, ordinária e específica são os
Arts. 179 a 181 da CLT.

NR 11 - Transporte, Estabelece os requisitos de segurança a serem observados nos locais de trabalho no que se refere ao transporte, à
movimentação, movimentação, à armazenagem e ao manuseio de materiais, tanto de forma mecânica quanto manual,
armazenagem e manuseio objetivando a prevenção de infortúnios laborais. A fundamentação legal, ordinária e específica são os Arts. 182 e
de materiais 183 da CLT.

Estabelece as medidas prevencionistas de segurança e higiene do trabalho a serem adotadas pelas empresas com
NR 12 - Máquinas e relação à instalação, operação e manutenção de máquinas e equipamentos, visando à prevenção de acidentes de
equipamentos trabalho. A fundamentação legal, ordinária e específica são os Arts. 184 a 186 da CLT.

Estabelece todos os requisitos técnico-legais relativos à instalação, operação e manutenção de caldeiras e vasos de
NR 13 - Caldeiras e vasos pressão, de modo a prevenir a ocorrência de acidentes de trabalho. A fundamentação legal, ordinária e específica
de pressão que dá embasamento jurídico à existência desta NR são os Arts. 187 e 188 da CLT.

Estabelece as recomendações técnico-legais pertinentes à construção, operação e manutenção de fornos


NR 14 - Fornos industriais nos ambientes de trabalho. A fundamentação legal, ordinária e específica que dá embasamento jurídico
à existência desta NR é o Art. 187 da CLT.

Descreve as atividades, operações e os agentes insalubres, inclusive seus limites de tolerância, definindo, assim, as
situações que, quando vivenciadas nos ambientes de trabalho pelos trabalhadores, ensejam a caracterização do
NR 15 - Atividades e exercício insalubre e, também, os meios de proteger os trabalhadores de tais exposições nocivas à sua saúde. A
operações insalubres* fundamentação legal, ordinária e específica que dá embasamento jurídico à existência desta NR são os Arts. 189 e
192 da CLT.

Regulamenta as atividades e as operações legalmente consideradas perigosas, estipulando as recomendações


prevencionistas correspondentes. Especificamente, no que diz respeito ao Anexo nº 01: atividades e operações
perigosas com explosivos; e ao Anexo nº 02: atividades e operações perigosas com inflamáveis têm a sua
existência jurídica assegurada pelos Arts. 193 a 197 da CLT. A fundamentação legal, ordinária e específica que dá
embasamento jurídico à caracterização da energia elétrica como sendo o 3º agente periculoso é a Lei nº 7.369, de
NR 16 - Atividades e 20 de setembro de 1985, que institui o adicional de periculosidade para os profissionais da área de eletricidade.
operações perigosas Essa lei foi revogada pela Lei nº 12.740, de 8 de dezembro de 2012, que estabelece adicional a trabalhadores
expostos a roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou
patrimonial (por exemplo, vigilantes). A Portaria do MTE nº 3.393, de 17 de dezembro de 1987, numa atitude
casuística e decorrente do famoso acidente com o césio-137 em Goiânia, veio a enquadrar as radiações ionizantes,
que já eram insalubres de grau máximo, como o 4º agente periculoso, o que é controvertido legalmente, já que não
existe lei autorizadora para tal.

Visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às condições psicofisiológicas
dos trabalhadores, de modo a proporcionar máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. A
NR 17 - Ergonomia fundamentação legal, ordinária e específica que dá embasamento jurídico à existência desta NR são os Arts. 198 e
199 da CLT.

NR 18 - Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção


Estabelece as disposições regulamentadoras acerca do depósito, manuseio e transporte de explosivos,
objetivando a proteção da saúde e integridade física dos trabalhadores em seus ambientes de trabalho. A
NR 19 - Explosivos fundamentação legal, ordinária e específica que dá embasamento jurídico à existência desta NR é o Art. 200, Inciso
II da CLT.

NR 20 - Líquidos Estabelece as disposições regulamentares acerca do armazenamento, manuseio e transporte de líquidos


combustíveis e combustíveis e inflamáveis.
inflamáveis

NR 21 - Trabalho a céu Tipifica as medidas relacionadas com a prevenção de acidentes nas atividades desenvolvidas a céu aberto, como
aberto em minas ao ar livre e em pedreiras.

NR 22 - Segurança e saúde ocupacional na mineração


Estabelece as medidas de proteção contra incêndios, que os locais de trabalho devem dispor, visando à prevenção
NR 23 - Proteção contra da saúde e da integridade física dos trabalhadores. A fundamentação legal, ordinária e específica que dá
incêndios embasamento jurídico à existência desta NR é o Art. 200, Inciso IV da CLT.

Disciplina os preceitos de higiene e de conforto a serem observados nos locais de trabalho, especialmente no que
NR 24 - Condições se refere a banheiros, vestiários, refeitórios, cozinhas, alojamentos e água potável, visando à higiene dos locais de
sanitárias e de conforto trabalho e à proteção à saúde dos trabalhadores. A fundamentação legal, ordinária e específica que dá
nos locais de trabalho embasamento jurídico à existência desta NR é o Art. 200, Inciso VII da CLT.

NR 25 - Resíduos industriais
Estabelece a padronização das cores a serem utilizadas como sinalização de segurança nos ambientes de trabalho,
NR 26 - Sinalização de de modo a proteger a saúde e a integridade física dos trabalhadores. A fundamentação legal, ordinária e
segurança específica,que dá embasamento jurídico à existência desta NR é o Art. 200 Inciso VIII da CLT.

NR 27 - Registro Estabelece os requisitos a serem satisfeitos pelo profissional que desejar exercer as funções de técnico de
profissional do técnico Segurança do Trabalho, em especial no que diz respeito ao seu registro profissional como tal, junto ao Ministério
de Segurança do do Trabalho. A fundamentação legal, ordinária e específica tem seu embasamento jurídico assegurado por meio
Trabalho no Ministério do Art. 3º da Lei nº 7.410, de 27 de novembro de 1985, regulamentado pelo Art. 7º do Decreto nº 92.530, de 9 de
do Trabalho abril de 1986.

Estabelece os procedimentos a serem adotados pela fiscalização trabalhista de Segurança e Medicina do Trabalho,
tanto no que diz respeito à concessão de prazos às empresas para a correção das irregularidades técnicas, como
no que concerne ao procedimento de autuação por infração às Normas Regulamentadoras de Segurança e
Medicina do Trabalho. A fundamentação legal, ordinária e específica tem a sua existência jurídica assegurada, em
NR 28 - Fiscalização e nível de legislação ordinária, por meio do Art. 201 da CLT, com as alterações que lhe foram dadas pelo Art. 2º da Lei
penalidades nº 7.855, de 24 de outubro de 1989, que institui o Bônus do Tesouro Nacional (BTN) como valor monetário a ser
utilizado na cobrança de multas e, posteriormente, pelo Art. 1º da Lei nº 8.383, de 30 de dezembro de 1991,
especificamente no tocante à instituição da Unidade Fiscal de Referência (Ufir), como valor monetário a ser
utilizado na cobrança de multas em substituição ao BTN.

NR 29 - Norma regulamentadora de segurança e saúde no trabalho portuário


NR 30 - Norma regulamentadora de segurança e saúde no trabalho aquaviário
NR 31 - Norma regulamentadora de segurança e saúde nos trabalhos em espaços confinados
NR 32 - Norma Tem por finalidade estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à
regulamentadora de saúde dos trabalhadores em estabelecimentos de assistência à saúde, bem como daqueles que exercem atividades
Segurança e Saúde no de promoção e assistência à saúde em geral.
Trabalho em
estabelecimentos de
assistência à saúde
* Trabalho insalubre é aquele prestado em condições que expõem o trabalhador a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância
fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos (CLT, Art. 189 e NR 15). O exercício de
trabalho em condições de insalubridade assegura ao trabalhador o recebimento de adicional, incidente sobre o salário-mínimo da região,
equivalente a 40% para insalubridade de grau máximo, 20% para insalubridade de grau médio e 10% para insalubridade de grau mínimo.

Observação: a periculosidade é percebida no trabalho em que o empregado fica exposto a pelo menos 1 destes agentes: radiação, inflamáveis,
explosivos ou eletricidade. O exercício de trabalho em condições de periculosidade assegura ao trabalhador a percepção de adicional de 30%,
incidente sobre o salário, sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou participação nos lucros da empresa.

O PCMSO é parte integrante do conjunto mais amplo de iniciativas da empresa no campo da Saúde dos Trabalhadores. Deve-se considerar as
questões de risco coletivo e individual, utilizar abordagem epidemiológica e ter caráter de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos
agravos à saúde relacionados ao trabalho. No caso de a empresa estar desobrigada de manter médico do trabalho, de acordo com a NR 04, deverá
o empregador indicar médico do trabalho, empregado ou não da empresa, para coordenar o programa, o qual deve incluir, entre outros, a
realização obrigatória dos exames médicos:

IMPORTANTE

“PCMSO” são as iniciais do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional. Trata-se de uma legislação federal, especificamente a Norma
Regulamentadora número 07, emitida pelo Ministério do Trabalho e Emprego no ano de 1994, que determina a obrigatoriedade de elaboração
e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, com base no programa,
com o objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto dos seus trabalhadores.

a) Admissional
É uma avaliação médica antes do registro em carteira e do efetivo início de suas atividades, direcionada para riscos específicos como esforço ou
características próprias do trabalho. O médico deve averiguar se o candidato não apresenta patologia que pode ser agravada pelo trabalho, se não
apresenta doenças ou condição física que possam colocar terceiros em risco e se está fisicamente capacitado às tarefas a ele propostas.

b) Outros exames
- Periódico;
- De retorno ao trabalho;
- De mudança de função;
- Demissional.
Todos esses exames devem compreender avaliação clínica, abrangendo anamnese ocupacional, exames físico e mental e exames complementares.
Para cada um desses exames médicos realizados será emitido um Atestado de Saúde Ocupacional (ASO), onde deverão constar a identificação do
trabalhador e do profissional, os riscos ocupacionais específicos existentes ou a ausência deles, a indicação dos procedimentos médicos a que foi
submetido o trabalhador, incluindo os exames complementares e a definição de apto ou inapto para a função específica que o trabalhador vai
exercer, exerce ou exerceu. Todos esses dados, além das informações de doenças não relacionadas ao trabalho, devem estar presentes no
prontuário da saúde do trabalhador, cuja guarda é obrigatória pela empresa até 20 anos após o desligamento deste.

Tabela 2 - Obrigações do médico responsável pelo PCMSO


- Solicitar à empresa a emissão da CAT e indicar, quando necessário, o afastamento do trabalhador da exposição ao risco ou do trabalho;
- Encaminhar o trabalhador à Previdência Social para estabelecimento de nexo causal, avaliação de incapacidade e definição da conduta
previdenciária em relação ao trabalho;
- Orientar o empregador quanto à necessidade de adoção de medidas de controle no ambiente de trabalho;
- Realizar os primeiros socorros em caso de acidente.

3. Riscos ocupacionais
O conceito de risco representa a possibilidade de um efeito adverso ou dano e a incerteza da ocorrência, distribuição no tempo ou na magnitude
do resultado adverso. Assim, de acordo com essa definição, situação ou fator de risco é “uma condição ou conjunto de circunstâncias que têm o
potencial de causar um efeito adverso, que pode ser: morte, lesões, doenças ou danos à saúde, à propriedade ou ao meio ambiente”. Cabem ao
profissional envolvido na saúde do trabalhador:
- Reconhecer o risco, o que significa identificar, no ambiente de trabalho, fatores ou situações com potencial de dano;
- Avaliar o risco, o que significa estimar a probabilidade e a gravidade de que o dano ocorra.

A - Físicos
- Ruídos;
- Vibrações;
- Radiações ionizantes;
- Radiações não ionizantes;
- Frio;
- Calor;
- Pressões anormais;
- Umidade.

Tabela 3 - Exemplos de agentes físicos que podem oferecer risco para a saúde dos trabalhadores expostos
Agentes físicos Situações de exposição
Caldeiras, prensas, serras, rebitagem, utilização de martelos pneumáticos, fiação e tecelagem, aeroportos,
Ruído
construção civil etc.

Vibrações Utilização de marteletes pneumáticos, tratores, construção civil etc.

Calor Fundição, forjas, fábricas de vidro, fornalhas, construção civil etc.

Pressão atmosférica
Trabalhos em tubulões de ar comprimido, altitude, mergulhos etc.
anormal

Radiações ionizantes Serviços de saúde, utilização de raio x industrial

Radiações não ionizantes Solda elétrica, trabalhos ao sol, radares, construção civil etc.

Fonte: Ministério da Saúde/representação da OPAS (Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde).

B - Químicos
- Poeiras: partículas sólidas, produzidas mecanicamente por ruptura de partículas maiores;
- Fumos: partículas sólidas produzidas por condensação de vapores metálicos;
- Névoas: partículas líquidas produzidas mecanicamente, por exemplo, em processo spray;
- Neblinas: partículas líquidas produzidas por condensações de vapores;
- Gases: dispersões de moléculas no ar, misturadas completamente com este;
- Vapores: são, também, dispersões de moléculas no ar que, ao contrário dos gases, podem condensar-se para formar líquidos ou sólidos em
condições normais de temperatura e pressão. Outra diferença importante é que os vapores, em recintos fechados, podem alcançar concentração
máxima no ar, que não é ultrapassada, chamada de saturação. Os gases, por outro lado, podem chegar a deslocar totalmente o ar de um recinto.

DICA

Toda vez que nos depararmos com uma questão de riscos ocupacionais de natureza química, devemos lembrar que químico = partículas ou/+
moléculas de dispersão como fatores de risco ocupacional.

Tabela 4 - Exemplos de agentes químicos e outros contaminantes atmosféricos que podem oferecer risco à saúde dos trabalhadores expostos

Formas Agentes Situações de produçãoe/ou


produçãoe/ou Clínica
utilização
Ácido Galvanoplastia, fumigação Dispneia, taquicardia, mucosas cianóticas,
cianídrico sialorreia, tremores musculares intensos, andar
cambaleante, nistagmo

Ácido Decomposição de matéria Irritação das mucosas, corrosão dos dentes,


sulfídrico orgânica, indústria de raiom pelo dificuldade para respirar, bronquite, edema na
processo de viscose laringe e nos pulmões e perda de sentido (na
pele, soluções diluídas causam dermatites
irritativas, e soluções concentradas, alterações e
destruição dos tecidos)

Arsênio Refinação do cobre, fabricação e Fraqueza, emagrecimento por perda de apetite


uso de pesticidas, fabricação de e anemia, quadros de neuropatia periférica de
vidro, produtos farmacêuticos, predomínio sensitivo e sintomas de
preservação da madeira, encefalopatia crônica
indústria do couro etc.

Benzeno Coquerias, indústria química e Lesões na medula óssea, anemia, leucopenia,


petroquímica ou como impureza alteração no tempo de coagulação (o efeito
em certos solventes etc. tardio pode provocar anemia
aplástica/leucemia)
Líquida, gasosa ou de partículas
Chumbo Mineração, refinação, fundição, Encefalopatia como a mais importante e grave
fabricação de baterias e pilhas, manifestação
tintas e pigmentos, cerâmica,
recuperação de sucata, indústria
química etc.

Mercúrio Processo cloro-álcali, Bronquite, edema pulmonar, salivação


equipamentos eletrônicos, excessiva, gosto metálico na boca, lesões renais,
fabricação de pilhas, indústria tremores, convulsões, sede, dor abdominal,
farmacêutica, de pesticidas, vômito, diarreia, alucinações, irritabilidade,
termômetros, manômetros, perda de memória, confusão mental,
barômetros etc. anormalidades nos reflexos, coma e morte

Monóxido de Formado em processos de Desmaio, sensação de confusão, cefaleia,


carbono combustão incompleta, motores vertigens (exposições longas podem conduzir a
de combustão interna etc. uma toxicidade grave no sistema nervoso
central e no coração)
Solventes Indústria química, lavanderia com Sonolência (o contato pode causar queimaduras
(hidrocarbonetos limpeza a seco, desengraxamento na pele e nos olhos, e há risco de
alifáticos, clorados, de peças, limpeza de metais etc. envenenamento)
aromáticos)

Asbesto (utilizado Mineração, beneficiamento, Sintomas respiratórios, câncer de pulmão


ou removido) manufatura de produtos têxteis
de amianto e de lonas de frios,
cimento–amianto e sua utilização
na construção civil etc.

Sílica livre Mineração (de ouro, cobre), Dificuldades respiratórias, febre e cianose
cristalina pedreiras de granito ou de
arenito, fabricação de abrasivos,
fundições, construção civil,
Poeiras minerais e utilização de jato de areia etc.
vegetais
Carvão mineral Mineração de carvão Inespecíficos

Algodão Preparação, carda e fiação Inespecíficos

Sisal Fabricação de cordas Sintomas respiratórios

Poeira de madeira Serraria, fábricas de móveis e Sintomas respiratórios


outros artefatos de madeira,
construção civil etc.

Fonte: Ministério da Saúde/representação da OPAS (Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde).

C - Biológicos
- Vírus;
- Bactérias;
- Protozoários;
- Fungos;
- Parasitas;
- Bacilos.

Tabela 5 - Exemplos de agentes biológicos que podem oferecer risco à saúde dos trabalhadores e as respectivas situações de exposição
Agentes biológicos Situações de exposição
Bacilo (carbúnculo ou antraz) Trabalho com carcaça, couro ou peles de animais infectados

Fungo (alveolite alérgica extrínseca) Trabalho em silos (bagaço de cana, cereais), trabalhos em locais fechados com ar-condicionado

Platelminto (S. mansoni) Trabalho na água, em plantações de arroz, na abertura e na limpeza de canais, barragens etc.

Vírus (hepatite B e HIV) Trabalho em hospitais e laboratórios, bancos de sangue etc.

Fonte: Ministério da Saúde/representação da OPAS (Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde).

PERGUNTA
2015 - UEL
1. Fernanda, residente de Clínica Médica, estava em estágio no pronto-socorro do Hospital Universitário, quando chegou
uma aluna de enfermagem que havia se ferido com uma agulha durante a coleta de sangue em uma Unidade Básica de Saúde.
Considerando que os trabalhadores da saúde estão expostos a acidentes de trabalho com material biológico, assinale a
alternativa correta:
a) a Profilaxia Pós-Exposição (PPE) é efetiva mesmo quanto iniciada com 72 horas após a exposição
b) no caso de o paciente comprovar a vacinação para hepatite B, torna-se desnecessária a comprovação de imunidade por meio do anti-HBs
c) deve-se obter o consentimento do acidentado para a realização de exames sorológicos e comprometê-lo com seu acompanhamento durante
6 meses
d) os equipamentos de proteção individual constituem-se na proteção determinante dos acidentes de trabalho com material biológico
e) profissionais que já tiveram hepatite B não estão imunes à reinfecção e necessitam de profilaxia pós-exposição

Resposta no final do capítulo

D - Ergonômicos
- Esforço físico e intenso;
- Levantamento e transporte manual de peso;
- Exigência de postura inadequada;
- Controle rígido de produtividade;
- Imposição de ritmos excessivos;
- Trabalho em turno e noturno;
- Jornadas de trabalho prolongadas;
- Monotonia e repetitividade;
- Outras situações causadoras de estresse físico e/ou psíquico.

E - Riscos de acidentes
- Arranjo físico inadequado;
- Máquinas e equipamentos sem proteção;
- Ferramentas inadequadas ou defeituosas;
- Iluminação inadequada;
- Eletricidade;
- Probabilidade de incêndio ou explosão;
- Armazenamento inadequado;
- Animais peçonhentos;
- Outras situações de risco que poderão contribuir para a ocorrência de acidentes.

4. Acidentes de trabalho
Trata-se de agravo à saúde pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, afetando o empregado segurado, o trabalhador avulso, bem como o
segurado especial, provocando lesão corpórea ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução, temporária ou permanente, da
capacidade para o trabalho.
Os acidentes de trabalho, típicos e de trajeto, geralmente se constituem de fenômenos traumáticos e são, respectivamente, os que ocorrem a
serviço da empresa ou no percurso da residência ou da refeição para o local de trabalho e vice-versa. Também se incluem nessa categoria a doença
profissional, isto é, aquela produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade, constante da relação publicada
pelo Ministério da Saúde, e ainda a doença do trabalho, assim entendida como aquela adquirida ou desencadeada em função de condições
especiais em que ele é realizado e que com ele se relacione diretamente, desde que também constante em regulamentação.
IMPORTANTE

Os acidentes em que profissionais de saúde se expõem a sangue e outros fluidos biológicos devem ser considerados emergência médica,
havendo, portanto, necessidade de se priorizar o atendimento no mais curto espaço de tempo possível. As condutas específicas a serem
tomadas visam evitar a disseminação do HIV e dos vírus das hepatites B e C no ambiente de trabalho.

São tipos de exposição envolvendo material biológico consideradas de risco:


- Exposições percutâneas: lesões provocadas por instrumentos perfurantes ou cortantes (exemplo: agulhas, lâminas de bisturi, vidrarias etc.);
- Exposições de mucosas: ocorrência de respingos na face envolvendo olho, nariz ou boca; ou exposição de mucosa genital;
- Exposição de pele não íntegra: contato com locais onde a pele apresenta dermatites ou feridas abertas;
- Arranhaduras e/ou mordeduras: são consideradas de risco quando envolvem a presença de sangue.
Acompanhamento pós-exposição
- Coleta e realização das sorologias para HIV e hepatites B e C do profissional acidentado e do paciente-fonte. Outras sorologias podem ser
solicitadas de acordo com a situação epidemiológica, tais como sorologia para doença de Chagas, HTLV, sífilis;
- Indicação de profilaxia quando recomendado.
Caracterização do acidente
- Acidente leve: contato com secreções, urina ou sangue em pele íntegra;
- Acidente moderado: contato com secreções ou urina em mucosas; sem sangue visível;
- Acidente grave: contato de líquido orgânico contendo sangue visível com mucosas ou exposição percutânea com material perfurocortante.
Profilaxia
Logo após o acidente deverá se proceder à descontaminação do sítio exposto, limpando a ferida com água e sabão ou irrigando as membranas
mucosas com água limpa.
- Acidente leve: solicitar sorologias de HIV e hepatites virais do profissional acidentado e sorologia de HIV do paciente-fonte. Não prescrever
antirretroviral. Encaminhar à Coordenadoria de DST/AIDS para acompanhamento;
- Acidente moderado: comunicar a enfermeira para proceder à notificação do caso. Solicitar sorologias de VIH e hepatites virais do acidentado e
sorologia de HIV do paciente-fonte. Prescrever: AZT (zidovudina), 100mg, 2cps, VO, 12/12h; e Epivir® (lamivudina), 150mg, 1cp, VO, 12/12h;
- Acidente grave: seguir as mesmas recomendações do acidente moderado e prescrever: AZT (zidovudina), 100mg, 2cps, VO, 12/12h; Epivir®
(lamivudina), 150mg, 1cp, VO, 12/12h; e Viracept® (nelfinavir), 250mg, 3cps, VO, 8/8h.

- Equiparam-se também a acidente de trabalho:


- Acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, tenha consequência significativa de saúde;
- Acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho por causas diversas às laborais;
- Doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade;
- Acidente sofrido, ainda que fora do local e do horário de trabalho, desde que a serviço da empresa ou durante o trajeto para ida e volta do
trabalho.

- Não são consideradas doenças de trabalho:


- Doença degenerativa;
- Inerente a grupo etário;
- Aquela que não produz incapacidade laborativa;
- Doença endêmica adquirida por segurados habitantes de região onde ela se desenvolva, salvo se comprovado que resultou de exposição ou
de contato direto determinado pela natureza do trabalho.

TEMA FREQUENTE DE PROVA

Atualmente, nas questões de prova de Residência Médica, um dos temas aos quais devemos ficar atentos é a relação entre o que é acidente de
trabalho e o que não é. Convém atentar-se, também, às doenças que não são consideradas acidentes de trabalho, como doenças degenerativas
(hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus), inerentes a grupo etário (gripe, resfriado comum) e que não produzem incapacidade
laborativa (miopia).
- Comunicação de acidente de trabalho:
As ocorrências de acidentes de trabalho são comunicadas ao INSS pelo documento de registro oficial desse tipo de ocorrência no Brasil,
denominado Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). Esse documento deve ser preenchido pelo departamento de pessoal da empresa ou
empregador e entregue ao posto do seguro social até o 1º dia útil após a ocorrência do acidente. No caso de morte, a comunicação deve ser feita
imediatamente. Na falta de comunicação por parte da empresa, podem preencher a CAT o próprio segurado acidentado ou seus dependentes,
sindicato a que seja filiado, o médico que o atendeu ou ainda qualquer autoridade, sem que isso, no entanto, isente a empresa da sua
responsabilidade.

PERGUNTA
2012 - UEL
2. Um médico atende um jovem de 28 anos em unidade básica de saúde, com queixas de dor lombar após o carregamento de
um cofre pesando 50kg. Não existem antecedentes patológicos pessoais. Quanto à Comunicação de Acidente de Trabalho
(CAT), assinale a alternativa correta:
a) não deve ser aberta pelo médico assistente, pois não foi enviada pela empresa e não há evidências de acidente de trabalho
b) é uma notificação médica obrigatória, mas, nesse caso, não deve ser aberta, porque o médico assistente não presenciou o suposto acidente
c) apesar de não ser obrigatória nesse caso, pode ser aberta se solicitada pelo paciente, independentemente de comprovação de acidente de
trabalho
d) na suspeita de doença ocupacional ou acidente de trabalho típico, mesmo sem visita ao local de trabalho, a CAT deve ser aberta ou
preenchida pelo médico, pois se trata de notificação compulsória
e) o médico assistente pode recusar-se ao preenchimento da CAT ou sua abertura, pois não há obrigatoriedade no preenchimento desse
documento

Resposta no final do capítulo

PERGUNTA
2011 - UEL
3. Marina foi contratada por uma empresa terceirizada para trabalhar como auxiliar de enfermagem em uma unidade básica
de saúde. Ao fazer a coleta de sangue de uma paciente, fura-se com a agulha ao descartá-la. Procura imediatamente o
serviço de referência do município para acidentes com material biológico. O residente que está de plantão deve tomar as
seguintes providências:
a) atender ao acidentado, dando-lhe prioridade, como a um paciente infartado; conferir o preenchimento da ficha de notificação de Acidente
com Material Biológico; verificar se foi trazido o sangue do paciente-fonte
b) orientá-la para procurar a empresa da qual é contratada para que seja emitida a Comunicação de Acidentes de Trabalho e, em seguida,
retornar ao serviço a fim de tomar as providências cabíveis
c) lavar com antisséptico o local do ferimento, preencher a Comunicação de Acidentes de Trabalho e solicitar exame para HIV, a ser realizado em
data agendada pela triagem
d) preencher a Comunicação de Acidentes de Trabalho e encaminhá-la para a empresa contratante, para que ela subsidie os custos do
atendimento à servidora acidentada
e) conversar com a trabalhadora, dizer que esse foi um acidente de pequeno risco e que, em casos como tal, a conduta recomendada é lavar o
local com água e sabão e atualizar a vacina antitetânica

Resposta no final do capítulo

Nos casos de doença ocupacional, o médico do trabalho responsável comunica o caso ao INSS após constatação da doença e emissão da CAT.
Então, o trabalhador é encaminhado ao INSS para perícia e estabelecimento do nexo causal. Este se refere ao estabelecimento de uma relação de
causa e consequência entre as condições e histórico de trabalho e o quadro clínico apresentado. Por exemplo, não bastam constatar e quantificar a
perda auditiva neurossensorial que caracteriza a perda auditiva induzida por ruído; é necessária a constatação da exposição aos riscos físicos de
excesso de ruído no local de trabalho.
IMPORTANTE

Em caso de suspeita de doença ocupacional, deve-se realizar um acompanhamento médico do trabalhador para avaliar se é realmente uma
doença ocupacional. Caso seja constatada a doença, é preciso fazer a emissão da CAT e o encaminhamento ao INSS. Após isso, será realizada
uma avaliação pericial e, em caso de incapacidade, deverá ser feito o encaminhamento ao auxílio-doença.

Em caso de acidentes típicos e de trajeto, é emitida a CAT e estabelecido o tempo de afastamento para tratamento e recuperação. Se esse tempo
for menor do que 15 dias, o pagamento do auxílio-doença será de responsabilidade da empresa. Caso seja maior do que 15 dias, esse benefício é de
responsabilidade do INSS.
Em caso de doença não ocupacional, deverá ser estabelecido o tempo de afastamento para tratamento e recuperação. Se esse tempo for menor
do que 15 dias, o pagamento do auxílio-doença será de responsabilidade da empresa. A partir do 16º dia, o benefício é de responsabilidade do
INSS, em semelhança ao acidente de trabalho.

A - Tipos de CAT
Tabela 6 - Tipos de Comunicação de Acidente de Trabalho
Ocorrências Tipos
Acidente de trabalho, típico ou de trajeto, ou doença profissional ou do trabalho CAT inicial

Reinício de tratamento ou afastamento por agravamento de lesão de acidente de trabalho ou doença profissional ou
CAT de reabertura
do trabalho, já comunicado ao INSS

CAT de comunicação
Falecimento decorrente de acidente ou doença profissional ou do trabalho, após a emissão da CAT inicial
de óbito

A comunicação será feita ao INSS por intermédio do formulário CAT, preenchido em 6 vias, com a seguinte destinação:
- 1ª via: ao INSS;
- 2ª via: à empresa;
- 3ª via: ao segurado ou dependente;
- 4ª via: ao sindicato de classe do trabalhador;
- 5ª via: ao SUS;
- 6ª via: à Delegacia Regional do Trabalho (DRT).

B - Preenchimento dos campos relativos à doença


- Campo 30: data do acidente – informar a data em que o acidente ocorreu. No caso de doença, informar data do acidente, da conclusão do
diagnóstico ou do início da incapacidade laborativa, devendo ser consignada aquela que ocorre primeiramente. A data deve ser completa,
utilizando-se 4 dígitos para o ano. Exemplo: 23.11.1998;
- Campo 31: hora do acidente – informar a hora da ocorrência do acidente, utilizando-se 4 dígitos (exemplo: 10:45). No caso de doença, o campo
deve ficar em branco;
- Campo 32: após quantas horas de trabalho – informar o número de horas decorridas desde o início da jornada de trabalho até o momento do
acidente. No caso de doença, o campo deve ficar em branco;
- Campo 33: houve afastamento? – informar se houve ou não afastamento do trabalho;

IMPORTANTE

É importante ressaltar que a CAT deve ser emitida para todo acidente ou doença relacionados ao trabalho, ainda que não haja afastamento ou
incapacidade.

- Campo 34: último dia trabalhado – informar o último dia em que, efetivamente, houve trabalho do acidentado, ainda que a jornada não tenha
sido completa. Exemplo: 23.11.1998;
DICA

Só preencher a data do último dia trabalhado, no campo 34 da CAT, no caso de constar 1 (sim) no Campo 33.

- Campo 35: local do acidente – informar o local onde ocorreu o acidente, sendo:
· Em estabelecimento da empregadora;
· Em empresa onde a empregadora presta serviço;
· Em via pública;
· Em área rural;
· Outros.
- Campo 40: parte(s) do corpo atingida(s) – para acidente de trabalho, deverá ser informada a parte do corpo diretamente atingida pelo agente
causador, externa ou internamente; para doenças profissionais, do trabalho, ou equiparadas, informar o órgão ou o sistema lesionado;

DICA

Deverá ser especificado, no campo 40 da CAT, o lado atingido (direito ou esquerdo) quando se tratar de parte do corpo que seja bilateral.

- Campo 41: agente causador – informar o agente diretamente relacionado ao acidente, podendo ser máquina, equipamento ou ferramenta, como
prensa ou injetora de plásticos; ou produtos químicos, agentes físicos ou biológicos como benzeno, sílica, ruído ou salmonela. Pode ainda ser
consignada situação específica, como queda, choque elétrico, atropelamento (em se tratando de acidente de trabalho, de doenças profissionais ou
do trabalho);
- Campo 42: descrição da situação geradora do acidente ou doença – descrever a situação ou a atividade de trabalho desenvolvida pelo acidentado
e por outros diretamente relacionados ao acidente. Tratando-se de acidente de trajeto, especificar o deslocamento e informar se o percurso foi ou
não alterado ou interrompido por motivos alheios ao trabalho. No caso de doença, descrever a atividade de trabalho, o ambiente ou as condições
em que o trabalho era realizado.

IMPORTANTE

Dos itens que mais são cobrados nas provas, no que se refere ao preenchimento da doença que levará ao afastamento do trabalho, podemos
citar o agente causador e a situação geradora do acidente e se houve afastamento. Caso tenha lido esses temas e não tenha dado tanta
atenção, convém voltar e revisar esses temas em específico.

No ano de 2013, dentre os 50 códigos da CID com maior incidência nos acidentes de trabalho, os de maior participação foram ferimento do punho
e da mão (S61), fratura ao nível do punho ou da mão (S62) e traumatismo superficial do punho e da mão (S60) com, respectivamente, 9,59% 6,91%
e 4,84% do total. Nas doenças do trabalho os códigos mais incidentes foram lesões no ombro (M75), sinovite e tenossinovite (M65) e dorsalgia
(M54), com 21,91%, 13,56% e 6,36% do total.
As partes do corpo com maior incidência de acidentes de motivo típico foram o dedo, a mão (exceto punho ou dedos) e o pé (exceto artelhos) com,
respectivamente, 29,93%, 8,60% e 7,67%. Nos acidentes de trajeto, as partes do corpo mais atingidas foram partes múltiplas, joelho e pé (exceto
artelhos) com, respectivamente, 11,27%, 8,67% e 8,62%. Nas doenças do trabalho, as partes do corpo mais incidentes foram o ombro, o dorso
(inclusive músculos dorsais, coluna e medula espinal) e os membros superiores, com 20,21%, 11,52% e 8,79%, respectivamente.
Figura 1 - Acidentes de trabalho no Brasil, de 1980 a 2003

PERGUNTA
2011 - UEL
4. Leia as afirmativas a seguir e classifique-as em (V), se Verdadeiras, ou (F), se Falsas:
( ) Acidentes de trabalho são aqueles ocorridos no exercício de atividades profissionais a serviço da empresa (típico),
doenças adquiridas no trabalho e/ou acidentes ocorridos no trajeto casa–trabalho–casa (de trajeto).
( ) O atestado médico da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) deverá ser preenchido pelo médico da empresa, e, em
caso de sua impossibilidade, o campo do Laudo Médico deverá ser preenchido pelo médico perito do INSS. No caso de
acidente com morte, o preenchimento é indispensável, e deve ser apresentada a certidão de óbito e, quando houver, o laudo
de necrópsia.
( ) Têm direito ao auxílio-doença acidentário trabalhadores com carteira assinada, trabalhadores temporários, diretores-
empregados. A concessão do auxílio-doença acidentário não exige tempo mínimo de contribuição.
( ) A CAT ou doença profissional será feita à Previdência Social em formulário próprio (CAT), preenchido em 6 vias: 1ª via
(INSS), 2ª via (empresa), 3ª via (segurado ou dependente), 4ª via (sindicato de classe do trabalhador), 5ª via (Sistema Único
de Saúde) e 6ª via (Delegacia Regional do Trabalho).
( ) Segundo a CLT (art. 71), em qualquer trabalho contínuo cuja duração exceda 6 horas, é obrigatória a concessão de um
intervalo de repouso ou alimentação de, no mínimo, 30 minutos.
Assinale a sequência correta:
a) F, F, V, F, V
b) F, V, F, V, F
c) F, V, V, F, V
d) V, F, F, V, V
e) V, F, V, V, F

Resposta no final do capítulo


Figura 2 - Óbitos por acidentes de trabalho no Brasil, de 1980 a 2003

5. Doenças do trabalho e profissionais


A doença profissional é aquela produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva
relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pelo da Previdência Social. Exemplos: saturnismo (intoxicação provocada pelo chumbo)
e silicose (sílica).
Já a doença do trabalho é aquela adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se
relacione diretamente (também constante da relação supracitada). Exemplo: disacusia (surdez) em trabalho realizado em local extremamente
ruidoso.
Pode-se dizer que o perfil de morbidade e mortalidade dos trabalhadores se caracteriza pela coexistência de agravos:
- Alguns têm relação direta com as condições de trabalho específicas, como os acidentes de trabalho típicos e as doenças profissionais;
- Doenças relacionadas ao trabalho, que têm sua frequência, surgimento e/ou gravidade modificados pelo trabalho;
- Doenças comuns ao conjunto da população, que não guardam relação etiológica com o trabalho, embora este possa agravá-las.

IMPORTANTE

A doença profissional é aquela produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho (como saturnismo), enquanto a doença do trabalho é
aquela adquirida ou desencadeada devido às condições em que ele é executado (como surdez).

É importante ter em mente a classificação a seguir do grupo de doenças do trabalho, pois ainda é muito cobrada pelas instituições.
A Tabela 7 resume e exemplifica os grupos das doenças relacionadas, de acordo com a classificação proposta por Schilling (1984).

Tabela 7 - Classificação das doenças segundo sua relação com o trabalho


Categorias Exemplos
- Intoxicação por chumbo;

I - Trabalho como causa necessária - Silicose;


- Doenças profissionais legalmente
reconhecidas.
- Doença coronariana;
- Doenças do aparelho locomotor;
II - Trabalho como fator contributivo, mas não necessário
- Câncer;
- Varizes dos membros inferiores.
- Bronquite crônica;

III - Trabalho como provocador de um distúrbio latente, ou agravador de doença já - Dermatite de contato alérgica;
estabelecida
- Asma;
- Doenças mentais.
Fonte: SCHILLING, 1984.

São exemplos de doenças que têm, como causa necessária, fatores de exposição relacionados ao trabalho:

A - Perda auditiva induzida por ruídos


A Perda Auditiva Induzida por Ruídos (PAIR) é o agravo mais frequente à saúde dos trabalhadores, presente em diversos ramos de atividade,
principalmente siderurgia, metalurgia, gráfica, têxteis, papel e papelão, vidraria, entre outros. Atualmente, vem sendo utilizado um novo termo:
Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevados (PAINSPE).
A Tabela 8 mostra a relação entre o nível de ruído e o tempo máximo de exposição. Exemplo: quando o ruído é intenso e a exposição a ele é
continuada, em média 85dB(A) por 8h/d, ocorrem alterações estruturais na orelha interna que determinam a PAIR.

Tabela 8 - Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente


Níveis de ruído dB(A) Máxima exposição diária permissível
85 8 horas

90 4 horas

95 1 hora e 45 minutos

100 1 hora

105 30 minutos

110 15 minutos

115 7 minutos

DICA

Entende-se por limite de tolerância a concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao
agente, que não causará dano à saúde do trabalhador durante a sua vida laboral.

DICA

Para não esquecer, um esquema é memorizar que, para 85dB, o tempo máximo de exposição é de 8 horas e que, acima de 100dB, o tempo de
exposição é reduzido para minutos. Muitas provas colocam esses períodos como tempos de corte em relação à exposição em dB.

O manual técnico sobre o assunto, publicado pelo Ministério da Saúde em 2006, indica, como sinais e sintomas da PAIR:

a) Auditivos
- Perda auditiva;
- Zumbidos;
- Dificuldades no entendimento da fala;
- Outros sintomas auditivos menos frequentes: algiacusia (sensação dolorosa frente a ruído de alta intensidade), sensação de audição “abafada”,
dificuldade na localização da fonte sonora.

DICA

Uma regra mnemônica para gravar os sintomas de PAIR é o “PAZA”, que representa, respectivamente, Perda auditiva, Algiacusia, Zumbidos e
Abafada.

b) Não auditivos
- Transtornos da comunicação;
- Alterações do sono;
- Transtornos neurológicos;
- Transtornos vestibulares;
- Transtornos digestivos;
- Transtornos comportamentais.
O mesmo documento aponta, como características importantes da PAIR:
- Ser sempre neurossensorial, uma vez que a lesão está localizada no órgão de Corti da orelha interna;
- Normalmente bilateral, com padrões similares. Em algumas situações, observam-se diferenças entre os graus de perda das orelhas;
- A sua progressão cessa com o fim da exposição ao ruído intenso;
- A perda tem seu início e predomínio nas frequências de 3, 4 ou 6kHz, progredindo, posteriormente, para 8, 2, 1, 0,5 e 0,25kHz.

B - Silicose
A mais antiga, mais grave e mais prevalente das doenças pulmonares relacionadas à inalação de poeiras minerais é a silicose. As pneumoconioses
são definidas pela OIT como “doenças pulmonares causadas pelo acúmulo de poeira nos pulmões e reação tissular à presença dessas poeiras”.
Visando solucionar esse problema, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a OIT lançaram um programa conjunto de erradicação da silicose no
ano de 1995. Especialmente nos países menos desenvolvidos, apesar de ser potencialmente evitável, apresenta altos índices de incidência e
prevalência e pode resultar em sério impacto socioeconômico. E, não sendo passível de tratamento e totalmente irreversível, pode cursar com
graves transtornos à saúde do trabalhador.
É vasta a relação das atividades de risco: mineração subterrânea e de superfície; corte de pedras, britagem, moagem, lapidação, cerâmicas,
fundições que utilizam areia no processo, vidro industrial de abrasivos, marmorarias, corte e polimento de granito, cosméticos, protéticos,
cavadores de poços; artistas plásticos e jateadores de areia. Dentre as principais atividades, com respectivos registros de prevalência de silicose,
podemos citar indústria cerâmica (3,9%), atividades em pedreiras (3 a 16%), jateamento de areia na indústria naval (23,6%) e perfuração de poços
no Nordeste (17%).

DICA

Boa parte dos casos só será diagnosticada anos depois de o trabalhador estar afastado da exposição, já que a silicose é, em geral, uma doença
de desenvolvimento lento, com progressão independente do término da exposição, praticamente assintomática na fase inicial.

Os sintomas característicos e predominantes começam a aparecer com a progressão da doença:


- Fase inicial: dispneia de esforço, astenia, tosse e/ou expectoração constantes e dor torácica à inspiração profunda e aos esforços;
- Fase avançada: insuficiência respiratória grave, dor torácica progressiva, dispneia aos mínimos esforços e até em repouso, comprometimento
cardíaco, astenia grave e até cor pulmonale crônico.
IMPORTANTE

Caso os sintomas da fase inicial da silicose se apresentem antes dos 10 anos de exposição à sílica cristalina, podem ser atribuídos ao tabagismo
ou a outras doenças associadas, como a silicotuberculose.

Em conjunto com história clínica ocupacional (inquérito rigoroso sobre profissão, ramo industrial, atividades específicas detalhadas, presentes e
passadas) coerente, o diagnóstico da silicose se baseia na radiografia de tórax – específico, recomendado pela OIT e que permite identificar
pequenas lesões no pulmão.
Figura 3 - Silicose

C - Asbestose
Observa-se, atualmente, grande polêmica em torno da utilização do amianto, por ser uma substância indiscutivelmente cancerígena. O Brasil é um
dos grandes produtores mundiais de asbesto, principalmente na fabricação de produtos de cimento-amianto, materiais de fricção como pastilhas
de freio, materiais de vedação, piso e produtos têxteis, como mantas e tecidos resistentes ao fogo. O asbesto possui ampla utilização industrial; os
trabalhadores expostos ocupacionalmente a esses produtos são aqueles vinculados à indústria extrativa ou à indústria de transformação.
Também estão expostos trabalhadores da construção civil (especialmente os encanadores), trabalhadores que se ocupam da colocação e reforma
de telhados, do isolamento térmico de caldeiras, de tubulações e da manutenção de fornos (tijolos refratários).

IMPORTANTE

Podendo ser considerada doença eminentemente ocupacional, a asbestose é a pneumoconiose associada ao asbesto ou amianto. A doença, de
caráter progressivo e irreversível, pode se manifestar alguns anos depois de cessada a exposição, com período de latência superior a 10 anos.
Clinicamente, caracteriza-se por dispneia de esforço, estertores crepitantes nas bases pulmonares, baqueteamento digital, alterações funcionais
e pequenas opacidades irregulares na radiografia de tórax.

É a partir da história ocupacional, do exame físico e das alterações radiológicas que o diagnóstico é realizado. O raio x de tórax, assim como a sua
leitura, deverá ser realizado de acordo com o preconizado pela OIT.

- Procedimento
- Afastamento imediato e definitivo da exposição, mesmo nas formas iniciais;
- Notificação e investigação do caso;
- Solicitação de emissão de CAT pela empresa e preenchimento do Laudo de Exame Médico (LEM) pelo médico.

IMPORTANTE

Além da asbestose, a exposição às fibras de asbesto está relacionada ao surgimento de outras doenças, como as alterações pleurais benignas, o
câncer de pulmão e os mesoteliomas malignos, que podem acometer a pleura, o pericárdio e o peritônio.
Figura 4 - Corpos de asbesto do tipo anfibólio: fibras finas e retas no tecido pulmonar

D - Lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho


É possível afirmar que Lesões por Esforços Repetitivos (LERs) e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORTs) abrangem diversas
patologias; podemos citar, dentre as mais conhecidas, a tenossinovite, a tendinite e a bursite.
Trata-se da 2ª causa de afastamento do trabalho no Brasil. Somente nos últimos 5 anos, foram abertas 532.434 CATs, geradas pelas LERs/DORTs.
Sem contar os trabalhadores que pleiteiam na Justiça o reconhecimento do nexo causal, em milhares de ações movidas em todo o país. As
LERs/DORTs atingem o trabalhador no auge de sua produtividade e experiência profissional. A maior incidência está na faixa etária de 30 a 40
anos, e as mulheres são as mais atingidas.
Podemos evidenciar que as categorias profissionais que encabeçam as estatísticas são bancários, digitadores, operadores de linha de montagem,
operadores de telemarketing, secretárias, jornalistas, entre outros. Não há uma etiologia única e determinada para a ocorrência de LERs/DORTs.
Vários fatores existentes no trabalho contribuem para a sua existência:
- Repetitividade de movimentos;
- Manutenção de posturas inadequadas por tempo prolongado;
- Esforço físico;
- Invariabilidade de tarefas;
- Pressão mecânica sobre determinados segmentos do corpo, em particular membros superiores;
- Trabalho muscular estático;
- Choques e impactos, vibração, frio e fatores organizacionais.

DICA

Não podemos esquecer que LERs/DORTs formam a 2ª causa de afastamento no Brasil e que a faixa etária mais prevalente vai dos 30 aos 40
anos, sobretudo no sexo feminino.
Devem-se observar sempre a frequência, a duração e a intensidade em que são realizados.
São caracterizadas pela exigência de ritmo intenso de trabalho, conteúdo pobre das tarefas, existência de pressão, autoritarismo das chefias e
mecanismos de avaliação de desempenho baseados em produtividade. Por isso, ressaltamos a importância da organização do trabalho.

PERGUNTA
2011 - UEL
5. A ocorrência de Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT) em
grande número de pessoas, em diferentes países e em atividades consideradas leves, provocou uma mudança no conceito
tradicional de que o trabalho pesado, envolvendo esforço físico, é mais desgastante do que o leve. As polêmicas em diversos
países e as lutas pelo reconhecimento como agravos relacionados ao trabalho propiciaram a abertura de trincheiras para a
afirmação de um conceito mais amplo do adoecimento no mundo do trabalho. Em relação à LER/DORT, assinale a
alternativa correta:
a) a principal razão para o paciente com LER/DORT procurar assistência médica é a limitação dos movimentos do braço
b) o padrão mais comum de dor nas lesões por esforços repetitivos é o inflamatório
c) os casos de LER/DORT têm em comum o fato de não se relacionarem com sobrecarga muscular estática
d) as dores em casos de LER/DORT não se irradiam para o todo o corpo; tendem a ser localizadas
e) os sintomas sensitivos em casos de LER/DORT podem estar relacionados à compressão de nervos periféricos ou de raízes nervosas

Resposta no final do capítulo

E - Intoxicações exógenas
a) Agrotóxicos
Todo produto agrotóxico é classificado, pelo menos, quanto a 3 aspectos:

- Quanto aos tipos de organismos que controlam


Inseticidas, acaricidas, fungicidas, herbicidas, nematicidas, moluscicidas, raticidas, avicidas, columbicidas, bactericidas e bacteriostáticos são termos
que se referem à especificidade do agrotóxico com relação aos tipos de pragas ou doenças.

- Quanto à toxicidade da substância


Quanto ao grau de toxicidade, a classificação adotada é aquela preconizada pela OMS, que distingue os agrotóxicos em classes I, II, III e IV, sendo a
classificação utilizada na definição da coloração das faixas nos rótulos dos produtos agrotóxicos: vermelho, amarelo, azul e verde, respectivamente.
Temos, assim:

Tabela 9 - Classificação toxicológica dos agrotóxicos


Classe I Extremamente tóxico Tarja vermelha

Classe II Altamente tóxico Tarja amarela

Classe III Medianamente tóxico Tarja azul

Classe IV Pouco tóxico Tarja verde

É importante registrar que essa classificação diz respeito apenas aos efeitos agudos causados pelos produtos agrotóxicos.

- Quanto ao grupo químico ao qual pertencem


- Organofosforados;
- Carbamatos;
- Organoclorados;
- Piretroides;
- Dietilditiocarbamatos;
- Derivados do ácido fenoxiacético.
No grupo dos inseticidas, os organofosforados e carbamatos, inibidores das colinesterases, têm causado o maior número de intoxicações (agudas,
subagudas e crônicas) e mortes no Brasil e no mundo.
Os organofosforados penetram por vias dérmica, pulmonar e digestiva, causando sudorese, sialorreia, miose, hipersecreção brônquica, colapso
respiratório, tosse, vômitos, cólicas, diarreia, miofasciculações, hipertensão arterial fugaz, confusão mental, ataxia, convulsões e choque
cardiorrespiratório, podendo levar a coma e óbito.
A ação tóxica e a sintomatologia dos carbamatos são semelhantes às dos organofosforados, embora o quadro clínico provocado por aqueles seja
de menor gravidade em relação ao destes.
Ainda no grupo dos inseticidas, apesar da proibição restritiva de uso, dada a capacidade de acumulação no ambiente, os organoclorados (aldrina,
BHC, DDT) ainda são usados para controle de formigas e em campanhas de Saúde Pública.
Os organoclorados penetram no organismo por vias dérmica, gástrica e respiratória, são lipossolúveis (contraindicado o uso de leite nas
intoxicações) e eliminados pela urina e pelo leite materno. Em sua ação tóxica, comprometem a transmissão do impulso nervoso nos níveis central
e autônomo, provocando alterações comportamentais, sensoriais, do equilíbrio, da atividade da musculatura voluntária e de centros vitais,
principalmente do bulbo respiratório.
Os inseticidas piretroides causam, principalmente, irritação nos olhos, nas mucosas e na pele. São muito utilizados em “dedetizações” de domicílios
e prédios de uso público (grandes lojas, shoppings etc.) por firmas especializadas e têm sido responsabilizados pelo aumento de casos de alergia em
adultos e crianças. Em altas doses, podem levar a neuropatias (agem na bainha de mielina e a desorganizam, promovendo a ruptura de axônios).
Os fungicidas do grupo dietilditiocarbamatos são proibidos no exterior, mas aqui são usados na cultura do tomate, do pimentão e de frutas. A
absorção se dá pela via dérmica. Alguns deles contêm manganês, o que possibilita o surgimento de sintomas de parkinsonismo. Sua impureza, ETU
(etileno-etilureia), é tida como carcinogênica, teratogênica e mutagênica. A exposição intensa provoca dermatite, conjuntivite, faringite e bronquite.
Os herbicidas são produtos de uso crescente, por serem substitutivos de mão de obra. O produto mais conhecido e usado é o paraquat
(Gramoxone®), que provoca lesões hepáticas, renais e fibrose pulmonar (insuficiência respiratória e óbito). Ainda nesse grupo estão o ácido 2,4-
diclorofenoxiacético (2,4-D) e o 2,4,5-triclorofenoxiacético (2,4,5-T). A mistura de 2,4-D e 2,4,5-T representa o principal componente do agente
laranja, utilizado como desfolhante na guerra do Vietnã.
São bem absorvidos pelas 3 vias já citadas. O primeiro produz neurite periférica e diabetes transitório; o segundo leva a abortamentos,
teratogênese, carcinogênese (está relacionado à dioxina, que aparece como uma impureza do processo de fabricação) e cloroacnes. Provocam,
ainda, neurite periférica retardada, lesões do sistema nervoso central e lesões degenerativas – hepáticas e renais.
Vale ressaltar que, na prática agrícola brasileira, em sua maioria, utilizam-se múltiplos produtos, por longos períodos de tempo e em jornadas
prolongadas, sem o cumprimento das normas de segurança na comercialização, no uso, no armazenamento e no descarte de embalagens, o que
expõe não só os trabalhadores, como também a população em geral.

IMPORTANTE

Dentre as intoxicações químicas relacionadas ao trabalho, podemos citar, como de maior importância, os organofosforados e carbamatos,
tendo, como sintomatologia, sudorese, sialorreia, miose, hipersecreção brônquica, colapso respiratório, tosse, vômitos, cólicas, diarreia,
miofasciculações, hipertensão arterial fugaz, confusão mental, ataxia, convulsões e choque cardiorrespiratório, podendo levar a coma e óbito.
Lembrando que o carbamato se diferencia por apresentar sintomatologia mais leve.

- Procedimento
Estabelecido o nexo pela avaliação clínico-ocupacional, os casos devem ser notificados ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(SINAN) e encaminhados para a rede de referência para atendimentos especializados, quando necessário. Os exames laboratoriais, como dosagem
de colinesterase, deverão ser realizados em função do produto ao qual esteve exposto o trabalhador. Caso o trabalhador intoxicado tenha carteira
de trabalho assinada, deverá ser solicitada a emissão da CAT pela empresa, sendo o médico responsável pelo preenchimento do LEM. Deverá ser
procedida a notificação nos instrumentos do SUS e ser feita a investigação da situação que ocasionou a intoxicação, a partir de então, deverão ser
desencadeadas as medidas de controle.

b) Chumbo (saturnismo)
O chumbo é um dos metais mais presentes na Terra e pode ser encontrado, praticamente, em qualquer ambiente ou sistema biológico, inclusive no
homem. As principais fontes de contaminação ocupacional e/ou ambiental são as atividades de mineração e industriais, especialmente fundição e
refino.
A doença causada pelo chumbo é chamada saturnismo. A exposição ocupacional ao chumbo inorgânico provoca, em sua grande maioria,
intoxicação em longo prazo, podendo ser de variada intensidade. A contaminação do organismo pelo chumbo depende das propriedades físico-
químicas do composto, da concentração no ambiente, do tempo de exposição, das condições de trabalho (ventilação, umidade, esforço físico,
presença de vapores etc.) e dos fatores individuais do trabalhador (idade, condições físicas, hábitos etc.).
As principais atividades profissionais em que ocorre exposição ao chumbo são: fabricação e reforma de baterias; indústria de plásticos; fabricação
de tintas; pintura à pistola/pulverização com tintas à base de pigmentos de chumbo; fundição de chumbo, latão, cobre e bronze; reforma de
radiadores; manipulação de sucatas; demolição de pontes e navios; trabalhos com solda; manufatura de vidros e cristais; lixamento de tintas
antigas; envernizamento de cerâmica; fabricação de material bélico à base de chumbo; usinagem de peças de chumbo; manufatura de cabos de
chumbo; trabalho em joalheria etc.
As intoxicações podem causar danos aos sistemas sanguíneo, digestivo, renal, nervoso central e, em menor extensão, ao nervoso periférico. O
contato com os compostos de chumbo pode ocasionar dermatites e úlceras na epiderme.

- Sinais e sintomas na intoxicação crônica


- Cefaleia, astenia;
- Alterações do comportamento (irritabilidade, hostilidade, agressividade, redução da capacidade de controle racional);
- Alterações do estado mental (apatia, obtusidade, hipoexcitabilidade, redução da memória);
- Alteração da habilidade psicomotora, com redução da força muscular, dor e parestesia nos membros;
- Queixas de impotência sexual e diminuição da libido (comuns);
- Hiporexia, epigastralgia, dispepsia, pirose, eructação;
- Dor abdominal aguda, às vezes confundida com abdome agudo, pode ser sintoma de intoxicação crônica por chumbo;
- Modificação da frequência e do volume urinários, das características da urina, aparecimento de edema e hipertensão arterial;
- O exame orológico pode revelar a existência da orla gengival de Burton. É um sinal relativamente frequente e constitui-se numa linha azulada da
gengiva imediatamente por cima da implantação dos dentes. Aparece mais nas áreas dos caninos, mas nos casos de má higiene (tártaro) ou cáries
junto ao colo costuma incidir mais nas áreas correspondentes aos dentes com patologia. A orla azulada é ocasionada pelo sulfeto de chumbo
formado nos intoxicados pela presença do chumbo eliminado na saliva, que age com o ácido sulfídrico normalmente existente na boca, vindo a
formar o sulfeto de chumbo. Este sulfeto, que tem a coloração azulada, deposita-se na gengiva (Figura 5).
As intoxicações agudas por sais de chumbo são raras e, em geral, acidentais. Caracterizam-se por náuseas, vômitos, às vezes de aspecto leitoso,
dores abdominais, gosto metálico na boca e fezes escuras.
Figura 5 - Orla gengival de Burton (linha azulada na gengiva, próxima à região de implantação dos dentes)

c) Mercúrio (hidrargirismo)
O mercúrio e os seus compostos tóxicos (mercúrio metálico ou elementar, mercúrio inorgânico e os compostos orgânicos) ingressam no organismo
por inalação, por absorção cutânea e pela via digestiva. As 3 formas são tóxicas, sendo que cada uma delas possui características próprias.
O mercúrio metálico é utilizado principalmente em garimpos, na extração do ouro e da prata, em células eletrolíticas para a produção de cloro e
soda, na fabricação de termômetros, barômetros e aparelhos elétricos e em amálgamas para uso odontológico. Os compostos inorgânicos são
utilizados principalmente em indústrias de compostos elétricos, eletrodos, polímeros sintéticos e como agentes antissépticos. Já os compostos
orgânicos são utilizados como fungicidas, fumigantes e inseticidas.
Assim, os trabalhadores expostos são aqueles ligados à extração e à fabricação do mineral, na fabricação de tintas, barômetros, manômetros,
termômetros, lâmpadas, no garimpo, na recuperação do mercúrio por destilação de resíduos industriais etc.
Vale o registro de casos de intoxicação no setor de Saúde, especificamente na esterilização de material utilizado em cirurgia cardíaca e, também, no
setor odontológico.
Os vapores de mercúrio e seus sais inorgânicos são absorvidos, principalmente, pela via inalatória, sendo que a absorção cutânea tem importância
limitada.
O mercúrio lançado na atmosfera pode precipitar-se nos rios e, por meio da cadeia biológica, transformar-se em metilmercúrio, que contamina os
peixes. Sua principal ação tóxica se deve à sua ligação com grupos ativos da enzima monoaminoxidase (MAO), resultando no acúmulo de
serotonina endógena e na diminuição do ácido 5-hidroxindolacético, com manifestações de distúrbios neurais.
Em exposições prolongadas, em baixas concentrações, produz sintomas complexos, incluindo cefaleia, redução da memória, instabilidade
emocional, parestesias, diminuição da atenção, tremores, fadiga, debilidade, perda de apetite, perda de peso, insônia, diarreia, distúrbios de
digestão, sabor metálico, sialorreia, irritação na garganta e afrouxamento dos dentes. Podem ocorrer proteinúria e síndrome nefrótica.
De maneira geral, a exposição crônica apresenta 4 sinais, que se destacam, entre outros:
- Gengivite;
- Sialorreia;
- Irritabilidade;
- Tremores.
d) Solventes orgânicos
Neste grupo químico, estão os hidrocarbonetos alifáticos (n-hexano e benzina), os hidrocarbonetos aromáticos (benzeno, tolueno, xileno), os
hidrocarbonetos halogenados (di/tri/tetracloroetileno, monoclorobenzeno, cloreto de metileno), os álcoois (metanol, etanol, isopropenol, butanol,
álcool amílico), as cetonas (metilisobutilcetona, ciclo-hexanona, acetona) e os ésteres (éter isopropílico e éter etílico).
Ocupacionalmente, as vias de penetração são a pulmonar e a cutânea. A primeira é a mais importante, pois, ao volatilizarem-se, os solventes
podem ser inalados pelos trabalhadores expostos e atingir os alvéolos pulmonares e o sangue capilar. Havendo penetração e, consequentemente,
biotransformação e excreção, os efeitos tóxicos dessas substâncias nos níveis hepático, pulmonar, renal, hemático e do sistema nervoso podem
manifestar-se.

- Benzenismo
É o nome dado às manifestações clínicas ou alterações hematológicas compatíveis com a exposição ao benzeno.
Os processos de trabalho que expõem trabalhadores ao benzeno estão presentes no setor siderúrgico, nas refinarias de petróleo, nas indústrias de
transformação que utilizam o benzeno como solvente ou nas atividades onde se utilizem tintas, vernizes, seladores, tíneres etc.
Os sintomas clínicos são pobres, mas pode haver queixas relacionadas às alterações hematológicas, como fadiga, palidez cutânea e de mucosas,
infecções frequentes, sangramentos gengivais e epistaxe. Podem ser encontrados sinais neuropsíquicos como astenia, irritabilidade, cefaleia e
alterações da memória.
O benzeno é considerado substância mielotóxica, pois, nas exposições crônicas, atua sobre a medula óssea, produzindo quadros de hipoplasia ou
displasia. Laboratorialmente, esses quadros podem se manifestar por meio de mono, bi ou pancitopenia, caracterizando, nesta última situação,
quadros de anemia aplástica. Ou seja, pode haver redução do número de hemácias e/ou leucócitos e/ou plaquetas.
Vários estudos epidemiológicos demonstram a relação do benzeno com a leucemia mieloide aguda, a leucemia mieloide crônica, leucemia
linfocítica crônica, doença de Hodgkin e hemoglobinúria paroxística noturna.

- Procedimento
Estabelecer o nexo causal pela investigação clínico-ocupacional, fazer no mínimo 2 hemogramas com contagem de plaquetas e reticulócitos no
intervalo de 15 dias, dosar ferro sérico, capacidade de ligação e saturação do ferro e, ainda, 2 amostras de fenol urinário, uma ao final da jornada e
outra antes dela (no momento da consulta).

e) Cromo
As maiores fontes de contaminação no ambiente de trabalho são as névoas ácidas. A exposição acontece principalmente nas galvanoplastias
(cromagem), na indústria do cimento, na produção de ligas metálicas, na soldagem de aço inoxidável, na produção e na utilização de pigmentos nas
indústrias têxtil, de cerâmica, vidro e borracha, na indústria fotográfica; e em curtumes.
Os sintomas associados à intoxicação são prurido nasal, rinorreia e epistaxe, que evoluem com ulceração e perfuração de septo nasal; irritação de
conjuntiva com lacrimejamento e irritação de garganta; na pele, se observam prurido cutâneo nas regiões de contato, erupções eritematosas ou
vesiculares e ulcerações de aspecto circular com dupla borda, a externa rósea e a interna escura (necrose), o que lhe oferece o aspecto característico
de “olho de pombo”; a irritação das vias aéreas superiores também pode manifestar-se com dispneia, tosse, expectoração e dor no peito. O câncer
pulmonar é, porém, o efeito mais importante sobre a saúde do trabalhador.

- Procedimento
Havendo suspeita de intoxicação por cromo, os trabalhadores devem ser encaminhados ao serviço especializado em saúde do trabalhador para
monitorização biológica – pesquisa do cromo no sangue e tecidos – e tratamento especializado. Uma vez detectada a presença do cromo no
ambiente, se não houver segurança quanto ao limite legal para a duração da exposição, a vigilância ou os trabalhadores poderão pedir a verificação
do nível de exposição. Os trabalhadores com intoxicação devem ser acompanhados por longos períodos, uma vez que o câncer pulmonar se
desenvolve de 20 a 30 anos após a exposição.

PERGUNTA
2012 - SANTA CASA-SP
6. Assinale a alternativa que apresenta a associação correta da doença à respectiva exposição ocupacional:
a) pneumoconiose associada a tuberculose - benzeno
b) síndrome mielodisplásica - benzeno
c) mesotelioma de pleura - mercúrio
d) ataxia cerebelar - sílica livre
e) anemia aplástica – amianto

Resposta no final do capítulo

F - Síndrome do túnel do carpo


O túnel do carpo é um canal situado ao nível do punho e formado, em sua base, pelos ossos do carpo, e em sua parte superior ou teto, pelo
ligamento transverso do carpo. É através dele que passa o nervo mediano, responsável pela inervação do polegar (1º dedo), do indicador (2º dedo),
do dedo médio (3º dedo) e a face interna do anular (4º dedo).
Pelo interior do canal do carpo passam os tendões flexores dos dedos e o nervo mediano.
A Síndrome do Túnel do Carpo (STC) é a neuropatia de origem compressiva mais frequente, incidindo em cerca de 1% da população geral. Os
pacientes são predominantemente do sexo feminino, numa proporção de 4:1, geralmente na faixa etária entre 40 e 60 anos. Em cerca de 50% dos
casos, a STC é bilateral, iniciando-se na mão dominante, na qual os sintomas geralmente são mais intensos.
As manifestações iniciais são dor, queimação, formigamento e dormência na mão, geralmente de evolução insidiosa, acometendo território de
inervação do nervo mediano. De forma clássica, os sintomas acentuam-se no período noturno, por vezes de forma intensa, chegando a despertar o
paciente. Alguns autores consideram essa manifestação como um sinal da doença que sugere o diagnóstico. Movimentos repetitivos podem
exacerbar os sintomas.
São fatores ocupacionais contribuintes para a STC:
- Fadiga de baixa frequência;
- Esforço e repetitividade;
- Postura;
- Fatores mecânicos externos.
Sendo assim, vários fatores associados ao trabalho concorrem para a ocorrência desta síndrome, como a repetitividade de movimentos, a
manutenção de posturas inadequadas, o esforço físico, a invariabilidade de tarefas, a pressão mecânica sobre determinados segmentos do corpo,
o trabalho muscular estático, impactos e vibrações.

- Diagnóstico
- Teste de Phalen:
- Posição do paciente: sentado ou em pé, com os cotovelos fletidos a 90° e com os punhos e o dorso em contato e a 90° de flexão;
- Descrição do teste: o terapeuta instrui o paciente para realizar uma flexão do punho e colocar o dorso da mão em contato com a outra mão,
permanecendo por 1 minuto;
- Sinais e sintomas: o aparecimento de formigamento ou dormência na mão, principalmente na região que vai até o 3º dedo, demonstra
positividade do teste.
O sinal de Tinel, obtido a partir da percussão leve sobre a prega flexora do punho, tem valor diagnóstico questionável devido ao elevado índice de
resultados falso-positivos. O sinal da compressão geralmente é positivo e é obtido por meio da compressão da região do punho na altura do osso
pisiforme, o que piora os sintomas.
Embora as alterações na eletroneuromiografia sejam consideradas importantes na definição da STC, esse exame pode ser normal em cerca de 5 a
8% dos pacientes.

G - Outras patologias
Podemos citar, ainda, patologias desencadeadas por fatores ocupacionais:
- Distúrbios mentais;
- Alcoolismo;
- Dermatoses ocupacionais: dermatite de contato;
- Radiações ionizantes: catarata, neoplasias;
- Pressão atmosférica: osteonecrose;
- Picadas por animais peçonhentos.

6. Benefícios
A - Previdência Social
Os beneficiários do Regime Geral de Previdência Social são os segurados e os dependentes. Os primeiros são as pessoas físicas: empregado pela
CLT, empregado doméstico e contribuinte individual (atividade agropecuária ou pesqueira, mineradora, religioso, sócio-empresário e autônomo).
Os benefícios do Regime Geral de Previdência Social para o segurado são:
- Aposentadoria por invalidez;
- Aposentadoria por idade;
- Aposentadoria por tempo de serviço;
- Aposentadoria especial;
- Auxílio-doença;
- Salário-família;
- Salário-maternidade;
- Auxílio-acidente.

a) Os benefícios para o dependente são:


- Pensão por morte;
- Auxílio-reclusão.

b) Os benefícios para ambos são:


- Serviço social;
- Reabilitação profissional.
A aposentadoria por invalidez será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e insuscetível de
reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e lhe será paga enquanto permanecer nessa condição. A doença ou lesão
preexistente somente garantirá o benefício em caso de progressão ou agravamento.
O auxílio-doença será devido ao segurado se ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 dias
consecutivos, por acidente de trabalho ou doença não relacionada ao trabalho.
O auxílio-acidente será concedido como indenização ao segurado quando, após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer
natureza, aparecem sequelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia.
A quantificação da incapacidade laboral é realizada por uma perícia. Muitas vezes, o perito baseia-se em tabelas para estimar a perda da capacidade
laboral. A tabela da SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) é uma das utilizadas nessa quantificação.
O segurado pode, também, obter isenção de carência para concessão de aposentadoria por invalidez caso sejam constatadas, em perícia médica, as
seguintes doenças: tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia
grave, doença de Parkinson, espondilite anquilosante, nefropatia grave, estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante), síndrome da
deficiência imunológica adquirida (AIDS) e contaminação por radiação.

B - Centro de Referência em Saúde do Trabalhador


Os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CERESTs) promovem ações para melhorar as condições de trabalho e a qualidade de vida do
trabalhador por meio da prevenção e vigilância. Existem os CERESTs estaduais e os regionais, e cabem a eles capacitar a rede de serviços de saúde,
apoiar as investigações de maior complexidade, apoiar a estruturação da assistência de média e alta complexidades para atender aos acidentes de
trabalho e agravos.
A equipe de profissionais dos CERESTs regionais é composta por, pelo menos, 4 profissionais de nível médio (2 auxiliares de enfermagem) e 6
profissionais de nível universitário (2 médicos e 1 enfermeiro). No caso dos estaduais, a equipe é integrada por 5 profissionais de nível médio (2
auxiliares de enfermagem) e 10 profissionais de nível superior (2 médicos e 1 enfermeiro).

7. Siglas
Tabela 10 - Siglas
ASO Atestado de Saúde Ocupacional

CAT Comunicação de Acidente de Trabalho

LEM Laudo de Exame Médico

CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

EPI Equipamento de Proteção Individual

PCMAT Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho

PCMSO Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

PPRA Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

SESMT Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho

RESUMO
QUADRO-RESUMO
- A organização política da área de saúde do trabalhador é regida pelo:
· Ministério do Trabalho e Emprego;
· Ministério da Previdência Social;
· Ministério da Saúde.
- A saúde do trabalhador é um conjunto de ações de:
· Promoção;
· Proteção;
· Recuperação;
· Reabilitação.
Dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho.
- As normas regulamentadoras:
· São responsáveis por regulamentar, fornecer parâmetros e instruções sobre Saúde e Segurança do Trabalho:
* NR 04 - SESMT: o SESMT tem a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade física dos trabalhadores no local de trabalho.
O seu dimensionamento depende do grau de risco e do número de empregados da empresa;
* NR 05 - CIPA:
¤ No geral, empresa com 20 ou mais funcionários;
¤ Representantes do empregador (inclui-se o presidente) e dos empregados, conforme o dimensionamento da empresa;
¤ Reuniões ordinárias mensais;
¤ SIPAT (Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho) e campanhas de prevenção de AIDS;
¤ Elaboração do Mapa de Risco;
¤ Ligação com SESMT, quando houver, e PCMSO e PPRA.
* NR 06 - EPI: é todo dispositivo de uso individual, de fabricação nacional ou estrangeira, destinado a proteger a saúde e a integridade
física dos trabalhadores. Todo trabalhador exposto a riscos é obrigado a utilizá-lo corretamente, responsabilizando-se por sua guarda e
conservação e devendo avisar o empregador sempre que apresenta defeitos ou problemas;
* NR 07 - PCMSO: visa promover e preservar a saúde do conjunto dos seus trabalhadores. Consultas ocupacionais (admissionais,
periódicas, demissionais, de mudança de função e de retorno ao trabalho);
* NR 09 - PPRA:
¤ Prevenção da saúde e segurança dos trabalhadores;
¤ Levantamento dos riscos ambientais existentes nos locais de trabalho;
¤ Medidas para neutralização;
¤ Engenheiro do trabalho/técnico de segurança.
* NR 17 - Ergonomia: visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características
psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.
- Riscos ocupacionais:
· Químicos: exposição a substâncias tóxicas por intermédio de gases, fumos, névoas, poeiras, contato térmico ou ingestão;
· Físicos: ruídos, vibração, calor, frio, luminosidade, ventilação, umidade, pressões anormais, radiação etc.;
· Biológicos: bactérias, fungos, vírus, contato com lixo e esgotos;
· Ergonômicos e psicossociais: divisão do trabalho, pressão da chefia por produtividade ou disciplina, jornada, ritmo, pausas, trabalho
noturno ou diurno, organização dos espaços físicos, esforço físico intenso, levantamento manual de peso, postura e posições inadequadas,
repetitividade de movimentos;
· Mecânicos e de acidentes: arranjo físico inadequado, falta de proteção em máquinas perigosas, ferramentas defeituosas, possibilidade de
incêndios e explosão, presença de animais peçonhentos.
- Patologias ocupacionais:
· Pneumoconioses: deposição de partículas sólidas no parênquima pulmonar, levando ao quadro de fibrose, isto é, ao endurecimento
intersticial do tecido pulmonar;
· PAIR;
· Silicose;
· Asbestose;
· LERs;
· DORTs;
· Intoxicações exógenas.
- Acidente de trabalho:
· É o agravo à saúde pelo exercício do trabalho e serviço da empresa, afetando o empregado segurado, o trabalhador avulso, bem como o
segurado especial, provocando lesão corpórea ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou a redução, temporária ou
permanente, da capacidade para o trabalho:
* Acidente típico decorrente das características da atividade profissional por ele desempenhada;
* Acidente de trajeto ou percurso da residência e do local de trabalho.
- Doença do trabalho desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente;
- Doença profissional produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho, peculiar a determinado ramo de atividade constante de relação
existente no Regulamento dos Benefícios da Previdência Social;
- Previdência Social:
· Os beneficiários do regime geral de previdência social são os segurados e os dependentes.
- Segurados (pessoas físicas):
· Empregado pelo CLT;
· Empregado doméstico;
· Contribuinte individual.
- Auxílio-doença: indivíduo que após um acidente ou doença fique incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais
de 15 dias consecutivos;
- Acidentário/previdenciário;
- Aposentadoria por invalidez: indivíduo que após um acidente seja considerado incapaz e insuscetível de reabilitação para o exercício de
atividade que lhe garanta a subsistência, e será paga enquanto permanecer nessa condição;
- Auxílio-acidente: deve-se ao segurado como indenização quando, após consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza,
aparecem sequelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia.

Respostas das questões do capítulo


1. C
2. D
3. A
4. E
5. E
6. B
02
CID-10
Marina Gemma

A 10ª revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) consiste em um sistema de categorias no qual as doenças e eventos em saúde
são ordenados de acordo com critérios estabelecidos. O objetivo da CID é possibilitar o registro sistemático, a análise, a interpretação e a
comparação dos dados de morbimortalidade coletados em diferentes países e regiões e em diferentes momentos no tempo. Dessa forma, a
CID é utilizada para traduzir diagnósticos de doenças e outros problemas de saúde de palavras para códigos alfanuméricos, de forma a
possibilitar análises estatísticas das situações de saúde das populações.

1. CID-10: o que é?
A 10ª revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID) é conhecida, na prática clínica, como CID-10. Embora reconhecida por esta sigla, a
publicação é denominada de Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (LAURENTI, 1994). A CID é uma
ferramenta diagnóstica padrão para a epidemiologia, gestão de saúde e prática clínica, que agrupa doenças análogas, semelhantes ou afins e é
utilizada para monitorar a incidência e prevalência de doenças e outros problemas de saúde, de forma a fornecer um panorama da situação de
saúde dos países e populações (LAURENTI, 1991; WHO, 2016).
Além de servir de instrumento estatístico para análises de âmbito nacional, a CID é cada vez mais utilizada para o cuidado clínico e desenvolvimento
de pesquisas que têm como objetivo definir doenças e/ou estudar os padrões das doenças, bem como na gestão dos cuidados em saúde, visando
monitorar os desfechos e a alocação de recursos (WHO, 2016).
Dessa forma, trata-se de uma classificação utilizada por médicos, enfermeiros, pesquisadores, formuladores de políticas públicas, seguradoras,
gestores de saúde, entre outros profissionais interessados no conhecimento de uma doença específica quanto a sua história natural e maneiras de
diagnóstico, tratamento e/ou prevenção. A CID foi traduzida em 43 línguas e, atualmente, está sob processo de atualização para a 11ª revisão, que
tem lançamento previsto para 2017 (WHO, 2016).

IMPORTANTE

Como o próprio nome sugere, a CID não equivale somente a uma classificação de doenças: consiste em uma sistematização de doenças, sinais,
sintomas e motivos de consultas, englobando, inclusive, definições usadas em estatísticas vitais e de saúde.

PERGUNTA
2016 - MEDCEL
1. Com relação à 10ª revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), assinale a alternativa correta:
a) a CID-10 define os componentes da saúde e alguns componentes do bem-estar relacionados com a saúde (tais como educação e trabalho),
que são descritos com base na perspectiva do corpo, do indivíduo e da sociedade em 2 listas básicas: (1) Funções e Estruturas do Corpo e (2)
Atividades e Participação
b) a CID-10 é uma ferramenta diagnóstica padrão utilizada somente pela epidemiologia, visto que possibilita o registro sistemático, a análise, a
interpretação e a comparação dos dados de morbimortalidade coletados em diferentes países e regiões e em diferentes momentos no tempo
c) a 10ª revisão da CID, visando satisfazer plenamente aos vários usos em análises de morbidade, foi aprovada em 1989 e consiste em uma
classificação de 77 doenças que são causas de morte, apresentada sobre a forma de 2 volumes
d) a CID-10 consiste em uma sistematização de doenças, sinais, sintomas e motivos de consultas, englobando, inclusive, definições usadas em
estatísticas vitais e de saúde. Trata-se de uma ferramenta diagnóstica padrão para a epidemiologia, gestão de saúde e prática clínica, que
possibilita a identificação dos problemas de saúde e a forma como estes se distribuem na população

Resposta no final do capítulo


PERGUNTA
2016 - MEDCEL
2. Sobre a Classificação Internacional de Doenças, analise as assertivas a seguir e assinale a alternativa correta, marcando
(V) para as assertivas verdadeiras e (F) para as falsas:
( ) Além de servir de instrumento estatístico para análises de morbidade e mortalidade de âmbito nacional, a CID é utilizada
para o cuidado clínico e para o desenvolvimento de pesquisas que têm como objetivo definir doenças e/ou estudar os
padrões das doenças, bem como na gestão dos cuidados em saúde, visando monitorar os desfechos e a alocação de recursos.
( ) Trata-se de uma classificação utilizada somente por médicos, que tem como objetivo a uniformização da terminologia
utilizada para os diagnósticos em saúde, de forma a possibilitar melhor troca de informação entre os pares sobre a história
natural e maneiras de diagnóstico, tratamento e/ou prevenção das doenças.
( ) A CID consiste em uma sistematização de doenças, sinais, sintomas e motivos de consultas, englobando, inclusive,
definições usadas em estatísticas vitais e de saúde. Este documento é revisto a cada 10 anos pela Organização Mundial da
Saúde e, atualmente, está em vigência a 10ª revisão da Classificação.
( ) A 10ª revisão da Classificação Internacional de Doenças CID-10 está organizada em 22 capítulos, sendo exclusiva para
classificar morbidade e mortalidade relacionadas à causas externas, tais como acidentes, agressões e complicações de
assistência médica e cirúrgica.
a) V, V, V, F
b) V, F, V, F
c) F, V, F, V
d) V, F, F, V
e) F, V, V, V

Resposta no final do capítulo

2. Breve histórico da CID


Para cumprir o principal objetivo da Saúde Pública, que é evitar doenças, prolongar a vida e promover a saúde mediante a atividade organizada da
sociedade, é preciso identificar os problemas de saúde e a forma como estes se distribuem na população. Neste contexto, para analisar
estatisticamente a frequência de doenças, é necessário o uso de um instrumento que as agrupe ou classifique segundo determinados critérios. Ao
se obter uma uniformização terminológica (nomenclatura de doenças ou nosografia), é possível ter uma linguagem comum que favoreça uma
melhor troca de informações sobre a doença, possibilitando, ainda, a realização de comparações da sua frequência em áreas distintas, de forma a
contribuir à sua prevenção (LAURENTI, 1991).
Nomeadas as doenças, o agrupamento destas segundo características comuns (nosologia) constitui, então, uma classificação, que serve,
basicamente, para fins estatísticos de análises das situações de saúde das populações. Em uma classificação estatística de doenças, o interesse
principal está, portanto, nos agrupamentos e não nos casos individualizados (LAURENTI, 1991). A busca por uma classificação ordenada de
doenças é secular, mas em meados do século XVIII e ao longo do século XIX houve um interesse mais expressivo na obtenção de um instrumento
estatístico que sistematizasse as causas de morte e que fosse de uso internacional, principalmente para possibilitar comparações (LAURENTI, 1991,
1994).
Após diversas tentativas com aceitações bastante limitadas, houve, em 1893, um acordo internacional para o uso de uma classificação de doenças
que eram causas de morte (77 causas de mortes) e uma recomendação para que esta fosse revista decenalmente, de modo a incorporar novas
causas que fossem sendo descritas. A 1ª revisão ocorreu em 1900 e, até a 5ª revisão em 1938, havia um reduzido número de códigos, visto que era
somente uma classificação de doenças que causavam morte. A partir da 6ª revisão, aprovada em 1948, este documento passou a englobar
classificações de doenças, lesões e causas de morte e suas revisões tornaram-se responsabilidade da Organização Mundial da Saúde – OMS
(LAURENTI, 1994).
Da 6ª à atual 10ª revisão, a CID ampliou enormemente o número de categorias e, principalmente, subcategorias, visando satisfazer plenamente aos
seus vários usos em análises de morbidade. Além disso, também foram incorporadas à Classificação diversas definições usadas em estatísticas
vitais e de saúde (LAURENTI, 1991, 1994).
A 10ª revisão da CID foi aprovada em 1989 e recomendada para entrar em vigor em 1º de janeiro de 1993 pela 43ª Assembleia Mundial de Saúde.
No entanto, por diversos motivos, especialmente de ordem operacional, muitos países a implementaram entre 1995 e 1997. No Brasil, a CID-10 foi
introduzida em 1º de janeiro de 1996, em cumprimento à Portaria nº 1.832/94 (GRASSI e LAURENTI, 1998).

DICA
A CID começou a adquirir as características que possui atualmente a partir de 1948, com a 6ª revisão, quando incluiu classificações além de
doenças que eram causas de morte e se tornou responsabilidade da Organização Mundial da Saúde. A CID é revisada a cada 10 anos e a 10ª
revisão está em vigência, com lançamento da 11ª revisão previsto para 2017.

3. CID-10: apresentação e modo de uso


A CID-10 apresenta 3 volumes, diferentemente das revisões anteriores, que possuíam apenas 2. O Volume I contém a classificação propriamente
dita, chamada de Lista Tabular. Tal lista é formada por categorias (códigos de 3 dígitos – uma letra e 2 algarismos) e subcategorias (código da
categoria acrescido de um ponto e mais um algarismo – .0 a .9). Dessa forma, um conjunto de categorias com doenças semelhantes constitui um
agrupamento e vários agrupamentos formam um capítulo (Tabela 1 – CBCD, 2008).

Tabela 1 - CID-10: composição da Lista Tabular


Capítulos: Agrupamentos: Categorias: Subcategorias:
contêm vários que são conjuntos de códigos alfanuméricos código da categoria + .0 a .9

Fonte: CBCD, 2008.

A CID-10 apresenta, então, 22 capítulos (5 a mais do que a CID-9). Além da Lista Tabular, o Volume I também apresenta a classificação da
morfologia de neoplasias, as listas especiais de tabulação para mortalidade e para morbidade, bem como as definições e os regulamentos das
nomenclaturas (CBCD, 2008).
O Volume II consiste no Manual de Instruções, contendo toda a parte referente ao Atestado Médico da Causa de Morte, além de uma breve
descrição da CID, instruções práticas para os codificadores de morbidade e mortalidade e diretrizes para a apresentação e interpretação dos dados.
Contém, também, as definições relativas a mortalidade fetal, perinatal, neonatal, infantil e materna (WHO, 2016).
Por fim, o volume III apresenta o Índice Alfabético, com uma introdução e maior quantidade de instruções sobre o seu uso. Este volume está
dividido em 3 seções: a I, que corresponde ao índice alfabético de doenças e natureza da lesão; a II, que corresponde ao índice alfabético de causas
externas da lesão; e a III, que contém a tabela de drogas e compostos químicos (CBCD, 2008).
Em uma nova revisão, novas doenças, quando existentes, são inseridas (por exemplo, a inclusão da síndrome da imunodeficiência adquirida na 10ª
revisão); determinadas doenças ou agrupamentos de doenças afins podem ser transferidos para outro capítulo; uma doença com apenas uma
categoria pode passar a ser representada por um agrupamento (por exemplo, o caso da hipertensão arterial, que passou a ser o agrupamento
“doenças hipertensivas”), dentre outras alterações que podem, consequentemente, fazer com que as análises de tendência de determinadas
doenças sejam alteradas com a introdução da nova revisão (GRASSI e LAURENTI, 1998).
As atualizações dos volumes da CID-10 estão disponíveis, em inglês, na forma de listas anuais de modificações no site da OMS
(http://www.who.int/classifications). A tradução em português da Lista Tabular pode ser consultada por meio da instalação de programas no
microcomputador ou através do navegador da Internet (http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/cid10.htm). Na Tabela 2 será apresentado um
resumo da Lista Tabular, com seus capítulos e agrupamentos.

PERGUNTA
2016 - MEDCEL
3. Sobre a organização e o modo de utilização da CID-10, é correto afirmar que:
a) a Classificação está organizada em 22 capítulos, que contêm os agrupamentos de categorias – formadas por códigos alfanuméricos de 3
dígitos (1 letra e 2 algarismos) – e subcategorias (código da categoria acrescido de um ponto e mais um algarismo – .0 a .9 – formando o código
completo da doença)
b) a CID-10 está dividida em 3 volumes: o primeiro compreende o manual de instruções, o segundo corresponde à classificação propriamente
dita, chamada de Lista Tabular de categorias e subcategorias, e o terceiro consiste no índice alfabético
c) em uma nova revisão, novas doenças, quando existentes, são incluídas à Classificação, não sendo possível, no entanto, nenhuma modificação
nas categorias, agrupamentos e capítulos já existentes, como, por exemplo, uma doença passar a ser representada por um agrupamento ou um
agrupamento ser transferido de capítulo
d) a revisão da Classificação Internacional de Doença compete à Organização Mundial da Saúde (OMS), desde 1948, quando foi aprovada a 6ª
revisão. As revisões ocorrem quinquenalmente e estão disponíveis, em inglês, no sítio eletrônico da OMS
e) o Volume I da CID-10, além da Lista Tabular, apresenta a classificação da morfologia de neoplasias, listas especiais de tabulação para
mortalidade e para morbidade, bem como as definições e os regulamentos das nomenclaturas. Tal volume pode ser consultado somente
através da instalação de programas no microcomputador
Resposta no final do capítulo

Tabela 2 - Lista Tabular simplificada: capítulos e agrupamentos


Cap. I – Algumas doenças infecciosas e parasitárias (A00-B99)
- A00-A09 Doenças infecciosas intestinais;

- A15-A19 Tuberculose;

- A20-A28 Algumas doenças bacterianas zoonóticas;

- A30-A49 Outras doenças bacterianas;

- A50-A64 Infecções de transmissão predominantemente sexual;

- A65-A69 Outras doenças por espiroquetas;

- A70-A74 Outras doenças causadas por clamídias;

- A75-A79 Rickettsioses;

- A80-A89 Infecções virais do sistema nervoso central;

- A90-A99 Febres por arbovírus e febres hemorrágicas virais;

- B00-B09 Infecções virais caracterizadas por lesões de pele e mucosas;

- B15-B19 Hepatite viral;

- B20-B24 Doença pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV);

- B25-B34 Outras doenças por vírus;

- B35-B49 Micoses;

- B50-B64 Doenças devidas a protozoários;

- B65-B83 Helmintíases;

- B85-B89 Pediculose, acaríase e outras infestações;

- B90-B94 Sequelas de doenças infecciosas e parasitárias;

- B95-B97 Agentes de infecções bacterianas, virais e outros agentes infecciosos;

- B99 Outras doenças infecciosas.

Cap. II – Neoplasias (tumores – C00-D48)


- C00-C97 Neoplasias malignas;

- D00-D09 Neoplasias in situ;

- D10-D36 Neoplasias benignas;


- D37-D48 Neoplasias de comportamento incerto ou desconhecido.

Cap. III – Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns transtornos imunitários (D50-D89)
- D50-D53 Anemias nutricionais;

- D55-D59 Anemias hemolíticas;

- D60-D64 Anemias aplásticas e outras anemias;

- D65-D69 Defeitos da coagulação, púrpura e outras afecções hemorrágicas;

- D70-D77 Outras doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos;

- D80-D89 Alguns transtornos que comprometem o mecanismo imunitário.

Cap. IV – Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (E00-E90)


- E00-E07 Transtornos da glândula tireoide;

- E10-E14 Diabetes mellitus;

- E15-E16 Outros transtornos da regulação da glicose e da secreção pancreática interna;

- E20-E35 Transtornos de outras glândulas endócrinas;

- E40-E46 Desnutrição;

- E50-E64 Outras deficiências nutricionais;

- E65-E68 Obesidade e outras formas de hiperalimentação;

- E70-E90 Distúrbios metabólicos.

Cap. V – Transtornos mentais e comportamentais (F00-F99)


- F00-F09 Transtornos mentais orgânicos, inclusive os sintomáticos;

- F10-F19 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de substância psicoativa;

- F20-F29 Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes;

- F30-F39 Transtornos de humor (afetivos);

- F40-F48 Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o estresse e transtornos somatoformes;

- F50-F59 Síndromes comportamentais associadas a disfunções fisiológicas e a fatores físicos;

- F60-F69 Transtornos da personalidade e do comportamento do adulto;

- F70-F79 Retardo mental;

- F80-F89 Transtornos do desenvolvimento psicológico;

- F90-F98 Transtornos do comportamento e transtornos emocionais que aparecem habitualmente durante a infância ou adolescência;
- F99 Transtorno mental não especificado.

Cap. VI – Doenças do sistema nervoso (G00-G99)


- G00-G09 Doenças inflamatórias do sistema nervoso central;

- G10-G13 Atrofias sistêmicas que afetam principalmente o sistema nervoso central;

- G20-G26 Doenças extrapiramidais e transtornos dos movimentos;

- G30-G32 Outras doenças degenerativas do sistema nervoso;

- G35-G37 Doenças desmielinizantes do sistema nervoso central;

- G40-G47 Transtornos episódicos e paroxísticos;

- G50-G59 Transtornos dos nervos, das raízes e dos plenos nervosos;

- G60-G64 Polineuropatias e outros transtornos do sistema nervoso periférico;

- G70-G73 Doenças da junção mioneural e dos músculos;

- G80-G83 Paralisia cerebral e outras síndromes paralíticas;

- G90-G99 Outros transtornos do sistema nervoso.

Cap. VII – Doenças do olho e anexos (H00-H59)


- H00-H06 Transtornos da pálpebra, do aparelho lacrimal e da órbita;

- H10-H13 Transtornos da conjuntiva;

- H15-H22 Transtornos da esclerótica, da córnea, da íris e do corpo ciliar;

- H25-H28 Transtornos do cristalino;

- H30-H36 Transtornos da coroide e da retina;

- H40-H42 Glaucoma;

- H43-H45 Transtornos do humor vítreo e do globo ocular;

- H46-H48 Transtornos do nervo óptico e das vias ópticas;

- H49-H52 Transtornos dos músculos oculares, do movimento binocular, da acomodação e da refração;

- H53-H54 Transtornos visuais e cegueira;

- H55-H59 Outros transtornos do olho e anexos.

Cap. VIII – Doenças do ouvido e da apófise mastoide (H60-H95)


- H60-H62 Doenças do ouvido externo;

- H65-H75 Doenças do ouvido médio e da mastoide;


- H80-H83 Doenças do ouvido interno;

- H90-H95 Outros transtornos do ouvido.

Cap. IX – Doenças do aparelho circulatório (I00-I99)


- I00-I02 Febre reumática aguda;

- I05-I09 Doenças reumáticas crônicas do coração;

- I10-I15 Doenças hipertensivas;

- I20-I25 Doenças isquêmicas do coração;

- I26-I28 Doenças cardíaca pulmonar e da circulação pulmonar;

- I30-I52 Outras formas de doença do coração;

- I60-I69 Doenças cerebrovasculares;

- I70-I79 Doenças das artérias, das arteríolas e dos capilares;

- I80-I89 Doenças das veias, dos vasos linfáticos e dos gânglios linfáticos, não classificados em outra parte;

- I95-I99 Outros transtornos, e os não especificados do aparelho circulatório.

Cap. X – Doenças do aparelho respiratório (J00-J99)


- J00-J06 Infecções agudas das vias aéreas superiores;

- J09-J18 Influenza (gripe) e pneumonia;

- J20-J22 Outras infecções agudas das vias aéreas inferiores;

- J30-J39 Outras doenças das vias aéreas superiores;

- J40-J47 Doenças crônicas das vias aéreas inferiores;

- J60-J70 Doenças pulmonares devidas a agentes externos;

- J80-J84 Outras doenças respiratórias que afetam principalmente o interstício;

- J85-J86 Afecções necróticas e supurativas das vias aéreas inferiores;

- J90-J94 Outras doenças da pleura;

- J95-J99 Outras doenças do aparelho respiratório.

Cap. XI – Doenças do aparelho digestivo (K00-K93)


- K00-K14 Doenças da cavidade oral, das glândulas salivares e dos maxilares;

- K20-K31 Doenças do esôfago, do estômago e do duodeno;

- K35-K38 Doenças do apêndice;


- K40-K46 Hérnias;
- K50-K52 Enterites e colites não infecciosas;

- K55-K63 Outras doenças dos intestinos;

- K65-K67 Doenças do peritônio;

- K70-K77 Doenças do fígado;

- K80-K87 Transtornos da vesícula biliar, das vias biliares e do pâncreas;

- K90-K93 Outras doenças do aparelho digestivo.

Cap. XII – Doenças da pele e do tecido subcutâneo (L00-L99)


- L00-L08 Infecções da pele e do tecido subcutâneo;

- L10-L14 Afecções bolhosas;

- L20-L30 Dermatite e eczema;

- L40-L45 Afecções papulodescamativas;

- L50-L54 Urticária e eritema;

- L55-L59 Transtornos da pele e do tecido subcutâneo relacionados com a radiação;

- L60-L75 Afecções dos anexos da pele;

- L80-L99 Outras afecções da pele e do tecido subcutâneo.

Cap. XIII – Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (M00-M99)


- M00-M25 Artropatias;

- M30-M36 Doenças sistêmicas do tecido conjuntivo;

- M40-M54 Dorsopatias;

- M60-M79 Transtornos dos tecidos moles;

- M80-M94 Osteopatias e condropatias;

- M95-M99 Outros transtornos do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo.

Cap. XIV – Doenças do aparelho geniturinário (N00-N99)


- N00-N08 Doenças glomerulares;

- N10-N16 Doenças renais tubulointersticiais;

- N17-N19 Insuficiência renal;

- N20-N23 Calculose renal;

- N25-N29 Outros transtornos do rim e do ureter;


- N30-N39 Outras doenças do aparelho urinário;

- N40-N51 Doenças dos órgãos genitais masculinos;

- N60-N64 Doenças da mama;

- N70-N77 Doenças inflamatórias dos órgãos pélvicos femininos;

- N80-N98 Transtornos não inflamatórios do trato genital feminino;

- N99 Outros transtornos do aparelho geniturinário.

Cap. XV – Gravidez, parto e puerpério (O00-O99)


- O00-O08 Gravidez que termina em aborto;

- O10-O16 Edema, proteinúria e transtornos hipertensivos na gravidez, no parto e no puerpério;

- O20-O29 Outros transtornos maternos relacionados predominantemente com a gravidez;

- O30-O48 Assistência prestada à mãe por motivos ligados ao feto e à cavidade amniótica e por possíveis problemas relativos ao parto;

- O60-O75 Complicações do trabalho de parto e do parto;

- O80-O84 Parto;

- O85-O92 Complicações relacionadas predominantemente com o puerpério;

- O94-O99 Outras afecções obstétricas não classificadas em outra parte.

Cap. XVI – Algumas afecções originadas no período perinatal (P00-P96)


- P00-P04 Feto e recém-nascido afetados por fatores maternos e por complicações da gravidez, do trabalho de parto e do parto;

- P05-P08 Transtornos relacionados com a duração da gestação e com o crescimento fetal;

- P10-P15 Traumatismo de parto;

- P20-P29 Transtornos respiratórios e cardiovasculares específicos do período perinatal;

- P35-P39 Infecções específicas do período perinatal;

- P50-P61 Transtornos hemorrágicos e hematológicos do feto e do recém-nascido;

- P70-P74 Transtornos endócrinos e metabólicos transitórios específicos do feto e do recém-nascido;

- P75-P78 Transtornos do aparelho digestivo do feto ou do recém-nascido;

- P80-P83 Afecções comprometendo o tegumento e a regulação térmica do feto e do recém-nascido;

- P90-P96 Outros transtornos originados no período perinatal.

Cap. XVII – Malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas (Q00-Q99)


- Q00-Q07 Malformações congênitas do sistema nervoso;
- Q10-Q18 Malformações congênitas do olho, do ouvido, da face e do pescoço;

- Q20-Q28 Malformações congênitas do aparelho circulatório;

- Q30-Q34 Malformações congênitas do aparelho respiratório;

- Q35-Q37 Fenda labial e fenda palatina;

- Q38-Q45 Outras malformações congênitas do aparelho digestivo;

- Q50-Q56 Malformações congênitas dos órgãos genitais;

- Q60-Q64 Malformações congênitas do aparelho urinário;

- Q65-Q79 Malformações e deformidades congênitas do sistema osteomuscular;

- Q80-Q89 Outras malformações congênitas;

- Q90-Q99 Anomalias cromossômicas não classificadas em outra parte.

Cap. XVIII – Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte (R00-
R99)
- R00-R09 Sintomas e sinais relativos ao aparelho circulatório e respiratório;

- R10-R19 Sintomas e sinais relativos ao aparelho digestivo e ao abdome;

- R20-R23 Sintomas e sinais relativos à pele e ao tecido subcutâneo;

- R25-R29 Sintomas e sinais relativos aos sistemas nervoso e osteomuscular;

- R30-R39 Sintomas e sinais relativos ao aparelho urinário;

- R40-R46 Sintomas e sinais relativos à cognição, à percepção, ao estado emocional e ao comportamento;

- R47-R49 Sintomas e sinais relativos à fala e à voz;

- R50-R69 Sintomas e sinais gerais;

- R70-R79 Achados anormais de exames de sangue, sem diagnóstico;

- R80-R82 Achados anormais de exames de urina, sem diagnóstico;

- R83-R89 Achados anormais de exames e de outros líquidos, substâncias e tecidos do corpo, sem diagnóstico;

- R90-R94 Achados anormais de exames para diagnóstico por imagem e em estudos de função, sem diagnóstico;

- R95-R99 Causas mal definidas e desconhecidas de mortalidade.

Cap. XIX – Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas (S00-T98)
- S00-S09 Traumatismos da cabeça;

- S10-S19 Traumatismos do pescoço;


- S20-S29 Traumatismos do tórax;
- S30-S39 Traumatismos do abdome, do dorso, da coluna lombar e da pelve;

- S40-S49 Traumatismos do ombro e do braço;

- S50-S59 Traumatismos do cotovelo e do antebraço;

- S60-S69 Traumatismos do punho e da mão;

- S70-S79 Traumatismos do quadril e da coxa;

- S80-S89 Traumatismos do joelho e da perna;

- S90-S99 Traumatismos do tornozelo e do pé;

- T00-T07 Traumatismos envolvendo múltiplas regiões do corpo;

- T08-T14 Traumatismos de localização não especificada do tronco, membro ou outra região do corpo;

- T15-T19 Efeito da penetração de corpo estranho através de orifício natural;

- T20-T32 Queimaduras e corrosões;

- T33-T35 Geladuras (frostbite);

- T36-T50 Intoxicação por drogas, medicamentos e substâncias biológicas;

- T51-T65 Efeitos tóxicos de substâncias de origem predominantemente não medicinal;

- T66-T78 Outros efeitos de causas externas e os não especificados;

- T79 Algumas complicações precoces de traumatismos;

- T80-T88 Complicações de cuidados médicos e cirúrgicos, não classificados em outra parte;

- T90-T98 Sequelas de traumatismos, de intoxicações e de outras consequências das causas externas.

Cap. XX – Causas externas de morbidade e de mortalidade (V01-Y98)


- V01-X59 Acidentes;

- V01-V99 Acidentes de transporte;

- W00-X59 Outras causas externas de traumatismos acidentais;

- X60-X84 Lesões autoprovocadas intencionalmente;

- X85-Y09 Agressões;

- Y10-Y34 Eventos (fatos) cuja intenção é indeterminada;

- Y35-Y36 Intervenções legais e operações de guerra;

- Y40-Y84 Complicações de assistência médica e cirúrgica;


- Y85-Y89 Sequelas de causas externas de morbidade e de mortalidade;
- Y90-Y98 Fatores suplementares relacionados com as causas de morbidade e de mortalidade classificados em outra parte.

Cap. XXI – Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de saúde (Z00-Z99)
- Z00-Z13 Pessoas em contato com os serviços de saúde para exame e investigação;

- Z20-Z29 Pessoas com riscos potenciais à saúde relacionados com doenças transmissíveis;

- Z30-Z39 Pessoas em contato com os serviços de saúde em circunstâncias relacionadas com a reprodução;

- Z40-Z54 Pessoas em contato com os serviços de saúde para procedimentos e cuidados específicos;

- Z55-Z65 Pessoas com riscos potenciais à saúde relacionados com circunstâncias socioeconômicas e psicossociais;

- Z70-Z76 Pessoas em contato com os serviços de saúde em outras circunstâncias;

- Z80-Z99 Pessoas com riscos potenciais à saúde relacionados com história familiar e pessoal e algumas afecções que influenciam o estado de
saúde.

Cap. XXII – Códigos para propósitos especiais (U00-U99)


- U00-U49 Designação provisória de novas doenças de etiologia incerta;

- U80-U89 Agentes bacterianos resistentes a antibióticos.

RESUMO
QUADRO-RESUMO
CID-10: o que é?
- Sistematização de doenças, sinais, sintomas e motivos de consultas, englobando, inclusive, definições usadas em estatísticas vitais e de saúde;
- Ferramenta diagnóstica padrão para a epidemiologia, gestão de saúde e prática clínica.

Objetivo da CID
- Uniformização terminológica para fins estatísticos;
- Visa possibilitar o registro sistemático, a análise, a interpretação e a comparação dos dados de morbimortalidade coletados em diferentes
países e regiões e em diferentes momentos no tempo.

Histórico da CID
- 1893: 1º acordo internacional para o uso de uma classificação de 77 doenças que eram causas de morte;
- 1900: 1ª revisão da Classificação, de modo a incorporar novas causas de morte descritas;
- 1948: aprovação da 6ª revisão, que passou a englobar classificações de doenças, lesões e causas de morte, além de se tornar responsabilidade
da Organização Mundial da Saúde;
- 1989: aprovação da 10ª revisão, que foi implementada pelos países em diferentes anos (entre 1993 e 1997), devido, principalmente, a questões
operacionais;
- 1996: introdução da CID-10 no Brasil, em cumprimento à Portaria Nº1.832/94.

CID-10: organização e modo de uso


- Apresenta 3 volumes:
· Volume I: contém a classificação propriamente dita, chamada de Lista Tabular. Além disso, apresenta a classificação da morfologia de
neoplasias, listas especiais de tabulação para mortalidade e para morbidade, bem como as definições e os regulamentos das nomenclaturas;
· Volume II: consiste no Manual de Instruções, contendo toda parte referente ao Atestado Médico da Causa de Morte, além de uma breve
descrição da CID, instruções práticas para os codificadores de morbidade e mortalidade e diretrizes para a apresentação e interpretação dos
dados;
· Volume III: apresenta o Índice Alfabético.
- Organizada em 22 capítulos, que contêm os agrupamentos de categorias (códigos alfanuméricos de 3 dígitos) e subcategorias (código da
categoria acrescido de um ponto e mais um algarismo - .0 a .9).

Respostas das questões do capítulo


1. D
2. B
3. A
03
Medicina Legal
André Ribeiro Morrone / Edson Lopes Mergulhão
Thaís Minett / Marcos Rodrigo Souza Fernandes
Fábio Roberto Cabar / João Victor Fornari

O capítulo de Medicina Legal, como é próprio desta área da Medicina, visa abordar temas tanto da área médica quanto do campo do Direito,
que envolvem as lesões corpóreas com seus graus de gravidade e suas causas, aborto e morte encefálica, dando enfoque para a legislação
pertinente a cada um desses assuntos, além do tema declaração de óbito, que envolve seu correto preenchimento a partir da causa-base de
morte, bem como as condutas a serem tomadas diante de cada caso de morte (fornecer o atestado de óbito, encaminhar ao Serviço de
Verificação de Óbitos ou ao Instituto Médico-Legal). As lesões corpóreas são divididas em leves, graves ou gravíssimas, dependendo do grau de
lesão, comprometimento ou morte do sujeito envolvido, e podem ser dos tipos puntiforme, inciso, contuso, perfuroinciso, perfurocontuso e
cortocontuso, sendo que as mais comuns no dia a dia são as perfurocontusas, causadas por projéteis de arma de fogo. Outro ponto importante
abordado é o referente à questão da morte encefálica, que necessita de 2 observações clínicas feitas por médicos diferentes não pertencentes a
equipe de transplantes em um intervalo de 6 horas quando acima de 2 anos. Há a necessidade de avaliação de parâmetros clínicos como coma
aperceptivo com ausência de atividade motora supraespinal, apneia e ausência de hipotermia (temperatura ≥32,5°C) ou drogas depressoras do
sistema nervoso central ou bloqueadores neuromusculares para que se tenha o diagnóstico de morte encefálica. Este capítulo é de grande
importância, pois aborda temas comuns da rotina médica e envolvidos em aspectos médico-legais, sendo comuns nas provas de Residência
Médica.

1. Introdução
A Medicina Legal compreende o ramo da Medicina que utiliza conhecimentos das Ciências Médicas para atender às demandas da Justiça, ou seja,
realiza as perícias necessárias para a elucidação de um fato relevante para o Direito. O médico-legista utiliza conhecimentos da Medicina e de outras
ciências correlatas para realizar as perícias requisitadas pela autoridade competente.

Tabela 1 - Divisão disciplinar da Medicina Legal


Disciplinas Áreas de atuação
Antropologia Forense Identificação médico-legal e judicial

Tanatologia Estudo da morte e dos fenômenos correlatos

Traumatologia Forense Estudo das energias vulnerantes em relação à pessoa humana (efeitos)

Asfixiologia Forense Estudo das asfixias em geral

Toxicologia Forense Estudo das substâncias capazes de lesarem o corpo humano

Sexologia Forense Estudo da sexualidade normal e suas alterações

Psiquiatria Forense Estudo do comportamento criminoso e da capacidade civil e penal das pessoas

Infortunística Estudo das doenças e dos acidentes relacionados com o trabalho

A Tanatologia Forense é o ramo da Medicina Legal que, partindo do exame do local, oferece informação acerca das circunstâncias da morte e,
atendendo aos dados do exame de necrópsia, procura estabelecer:
- A identificação do cadáver;
- O mecanismo da morte;
- A causa da morte;
- O diagnóstico diferencial médico-legal (acidente, suicídio, homicídio ou morte de causa natural).
Esses são os objetivos mais importantes da Tanatologia Forense, nem sempre fáceis de atingir. Algumas vezes, as dificuldades com que se depara o
médico responsável pela autópsia são muitas e de natureza diversa. Portanto, para se chegar a uma conclusão correta e com fundamentação
científica, o médico-legista deve utilizar conhecimento amplo nas diversas áreas da Medicina Assistencial, da Medicina Forense e das Ciências
Forenses (Criminalística, Balística, Toxicologia etc.).

IMPORTANTE

A Tanatologia Forense é um ramo da Medicina Legal que, por meio do exame do local, fornece informações acerca das circunstâncias da morte,
além de buscar determinar a identificação do cadáver, o mecanismo da morte, a causa da morte e o diagnóstico diferencial médico-legal
(acidente, suicídio, homicídio ou causa natural), por meio de necrópsia.

2. Lesões corpóreas
Estudadas quanto à quantidade e à qualidade do dano, as lesões corpóreas têm o significado jurídico de configurar, no dolo (o autor tem a
intenção de provocar lesão) ou na culpa (o autor não tem a vontade de lesar, mas por imprudência, imperícia ou negligência a lesão ocorre na
vítima), um crime contra a pessoa.
As lesões corpóreas dolosas, consideradas quanto à quantidade e à qualidade do dano, classificam-se em leves, graves e gravíssimas. O crime de
lesão corpórea está previsto no Art. nº 129 do Código Penal (CP).

IMPORTANTE

As lesões corpóreas podem ser leves (danos com pouca repercussão orgânica de fácil recuperação individual), graves (causam incapacidade
para as ocupações habituais por mais de 30 dias, perigo de vida, debilidade permanente de membro, sentido ou função e aceleração do parto) e
gravíssimas (resultam em incapacidade permanente para o trabalho, enfermidade incurável, perda ou inutilização de membro, sentido ou
função, deformidade permanente e aborto).

A - Leves
São representadas por danos de pouquíssima repercussão orgânica ou por perdas superficiais, de fácil recuperação individual.

B - Graves
São as lesões que tiveram, como consequência:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias.
II - Perigo de vida.
III - Debilidade permanente de membro, sentido ou função.
IV - Aceleração de parto.

C - Gravíssimas
São aquelas que resultaram em:
I - Incapacidade permanente para o trabalho.
II - Enfermidade incurável.
III - Perda ou inutilização de membro, sentido ou função.
IV - Deformidade permanente.
V - Aborto.

3. Traumatologia ForenseA - Conceito


A Traumatologia Forense é o ramo da Medicina Legal que se ocupa das implicações jurídicas dos traumatismos e trata de todas as energias
potencialmente vulnerantes ao corpo humano. É uma área extensa que abrange enorme gama de agentes vulnerantes capazes de lesar o
organismo ou prejudicar, de algum modo, o seu funcionamento.
A palavra “trauma”, do ponto de vista semântico, vem do grego trauma (plural: traumatos, traumas), cujo significado é “ferida”. A terminologia
“trauma”, em Medicina, admite vários significados, todos ligados a acontecimentos não previstos e indesejáveis que, de forma mais ou menos
violenta, atingem indivíduos neles envolvidos, produzindo-lhes alguma forma de lesão ou dano. Trauma é definido como “um evento nocivo que
advém da liberação de energia ou de barreiras físicas ao fluxo normal de energia”. Qualquer forma de energia física em quantidade suficiente pode
causar danos ao tecido. O corpo pode tolerar transferência de energia dentro de certos limites; se esse limiar for ultrapassado, ocorrerá um trauma
cujo resultado será uma lesão morfologicamente demonstrável.
Em geral, a energia existe em 5 formas físicas: mecânica, química, térmica, por irradiação ou elétrica. As energias vulnerantes podem ser
classificadas, segundo Borri, em:
- Mecânica;
- Física (calor, frio, elétrica etc.);
- Química (venenos e cáusticos);
- Físico-química (asfixias);
- Bioquímica (intoxicações alimentares e autointoxicações);
- Biodinâmica (estados de “choque”);
- Mista.

B - Energia vulnerante mecânica


a) Características
A maior parte das lesões corpóreas é causada pela energia vulnerante mecânica, a qual modifica o estado inercial (repouso ou movimento) de um
corpo, produzindo lesões em todo o corpo ou em parte do corpo. Tem-se o contato direto da energia com área de tegumento corpóreo. São
agentes que atuam pela energia mecânica e abrangem os estudos dos tipos de instrumentos e ações no organismo, de forma simples e combinada.
A energia mecânica pode apresentar-se em 2 formas:
- Instrumento: tem forma definida e pode ser manipulado pelo homem, de forma que ele consiga gerar por sua vontade uma lesão (conceito
específico);
- Agente: é tudo que provoca trauma ou lesão (conceito genérico).
Quanto ao modo da ação da energia vulnerante, pode se apresentar como ativo (ação da energia sobre o corpo da vítima), passivo (ação do corpo
da vítima sobre a energia) e misto (um atua sobre o outro).
A ação da energia pode ser em um ponto, uma reta ou um plano. A partir desses mecanismos de ação, as lesões podem ser classificadas em
simples ou mistas (combinadas). A lesão tecidual dependerá dos seguintes fatores:
- Quantidade de energia transmitida;
- Velocidade de transmissão de energia;
- Superfície da área corpórea em que a energia é aplicada;
- Propriedades elásticas dos tecidos.
O trauma pode ser contuso ou penetrante. A transferência de energia e a lesão produzida são semelhantes em ambos os tipos de trauma. A única
diferença real é a penetração na pele. Se toda a energia de um objeto está concentrada numa única área pequena, provavelmente a pele será
lacerada e o objeto entrará no corpo, criando transferência de energia mais concentrada. Isso poderá resultar numa força destruidora maior em
uma única área. Um objeto maior, cuja energia é dispersa por uma área muito maior da pele, pode não penetrar nela. O dano será distribuído por
uma área maior do corpo, e o tipo de lesão será menos localizado.
A transferência de energia está diretamente relacionada com a densidade e o tamanho da área frontal no ponto de contato entre o objeto e o
corpo da vítima. No trauma contuso (ou fechado), as lesões são produzidas à medida que os tecidos são comprimidos, desacelerados ou
acelerados. No trauma penetrante, as lesões acontecem conforme os tecidos são esmagados e separados ao longo do caminho do objeto
penetrante. Ambos os tipos criam cavidade, forçando os tecidos para fora de sua posição normal.
O trauma contuso cria tanto lacerações por cisalhamento quanto por cavitação. Cavitação é, frequentemente, apenas uma cavidade temporária e é
afastada do ponto de impacto. O trauma penetrante cria tanto uma cavidade permanente (cujo diâmetro é menor do que o do instrumento devido
à elasticidade dos tecidos) quanto uma temporária. A energia de um objeto em movimento rápido com área de superfície frontal pequena será
concentrada numa única área e poderá exceder a força extensível do tecido e penetrar nele. A cavidade temporária criada se dispersará afastando-
se do caminho desse míssil nas direções frontal e lateral.
No trauma contuso, 2 forças estão envolvidas no impacto: cisalhamento e compressão. Cisalhamento é o resultado da mudança de velocidade
mais rápida de um órgão ou estrutura (ou parte dele) do que de outro órgão ou estrutura (ou parte dele). Compressão é o resultado de um órgão
ou estrutura (ou parte dela) serem comprimidos diretamente entre outros órgãos ou estruturas.
Tabela 2 - Tipos de lesões geradas por diferentes instrumentos durante o ato lesivo
Ações Instrumentos Ações Feridas Exemplos
Perfurante Pressão num ponto Punctória ou puntiforme Agulha, estilete, espinho

Simples Cortante Deslizamento numa linha Incisa Bisturi, papel, navalha, capim

Contundente Pressão num plano Contusa Soco, pedra, cassetete, explosão

Perfurocortante Perfuração e corte Perfuroincisa Faca, baioneta, adaga

Mista Perfurocontundente Perfuração e contusão Perfurocontusa Ponteiro do guarda-chuva, projétil de arma de fogo

Cortocontundente Corte e contusão Cortocontusa Motosserra, dentada, machado, guilhotina

IMPORTANTE

As lesões podem ser simples, causadas por instrumentos perfurantes, cortantes e contundentes, causando feridas punctórias ou puntiformes,
incisas e contusas, respectivamente, ou podem ser lesões mistas causadas por instrumentos perfurocortantes, perfurocontundentes e
cortocontundentes, que causam lesões perfuroincisas, perfurocontusas e cortocontusas, respectivamente.

b) Estudo das lesões- Ferida punctória (puntiforme)


Geralmente é causada pela ação de instrumentos perfurantes, os quais têm as seguintes características:
- Os instrumentos são finos, alongados, pontiagudos, de diâmetro transversal extremamente reduzido em relação ao seu comprimento;
- Podem ser de pequeno ou médio calibre;
- Produzem as lesões punctórias ou puntiformes;
- Atuam por pressão sobre determinado ponto, geralmente afastando as fibras dos tecidos atingidos, como espinho, agulha, estilete, garfo,
espeto (de churrasco), seta, florete, furador de gelo;
- São geralmente acidentais e, eventualmente, causam homicídio.

Tabela 3 - Características da ferida punctória


- Ponto de entrada na pele com pouco sangramento de forma circular ou fusiforme;
- Trajeto geralmente retilíneo;
- Prevalência da profundidade (comprimento) sobre o diâmetro (largura);
- Término em “fundo cego” (fundo de saco – lesão penetrante);
- Possibilidade de ser transfixante (lesão “em túnel”) – com orifício de saída semelhante ao de entrada;
- Respeito pelo plano ósseo;
- Instrumento perfurante de médio calibre que segue a elasticidade e a contratilidade da pele (lei de Filhós e Langer), lesão “em botoeira”
(biconvexa).

DICA

As feridas punctórias são causadas por agulha, estilete, espinho, espeto etc.
Figura 1 - Feridas punctórias (puntiformes)

- Ferida incisa
A ferida incisa é causada pela ação de instrumento cortante que age por pressão e deslizamento com “gume afiado” ou fio (bordo de ataque) e
atinge a superfície, em ângulos variáveis. Fibras dos tecidos são seccionadas (exemplos: navalha, gilete, bisturi, lâminas metálicas afiladas, “papel”,
estilhaços de vidros, capim-navalha). É geralmente homicida, mas pode ser suicida ou acidental, e apresenta as seguintes características:

Tabela 4 - Características da ferida incisa


- Regularidade e nitidez de margens ou bordas e do fundo da lesão;
- Ausência de traumatismos perilesionais (lesão limpa);
- Sangramento (hemorragia) quase sempre abundante;
- Predomínio do comprimento sobre a profundidade;
- Afastamento das bordas da ferida;
- Início mais profundo (pressão inicial maior);
- Parte média mais profunda do que as extremidades;
- Presença de cauda (final) em superficialização continuada que orienta o sentido da lesão e com “leve” escoriação (cauda de escoriação ou de
saída);
- Angulação de extremidades (ação perpendicular) ou aspecto “em bisel” (ação oblíqua).
Figura 2 - Características da fenda incisa, como profundidade e comprimento: (A) bordas regulares; (B) afastamento das bordas da ferida e ausência
de trabéculas e (C) extensão maior do que profundidade
Tabela 5 - Designações especiais de algumas feridas incisas
- Defesa (mãos, antebraços, pés e pernas);
- Hesitação (superficiais localizadas nos pulsos ou no antebraço);
- Degola (região posterolateral do pescoço);
- Esgorjamento (região anterolateral do pescoço);
- Decapitação (secção completa do pescoço com separação completa da cabeça);
- Emasculação (amputação do pênis);
- Castração (retirada dos testículos);
- Incisão cirúrgica.

DICA

As feridas incisas são causadas por instrumentos como navalha, gilete, bisturi, estilhaços de vidro etc.
Figura 3 - Diferentes feridas incisas: (A) agressão; (B) esgorjamento e (C) autoprovocadas no punho esquerdo (hesitação)

- Lesão contusa
A lesão contusa é causada pela ação de instrumento ou agente contundente sólido, líquido ou gasoso, sem borda (rombo). Age por pressão
(impacto), torção, percussão, distensão, sucção, deslizamento (arrasto) ou misto. A grande maioria dos agentes lesivos mecânicos está nesse grupo,
como cabeça e extremidades do homem e dos animais; instrumentos próprios para ataque e defesa (“soco inglês”, borduna, cassetete etc.);
ferramentas de trabalho (martelo, marreta e outros utensílios, desde que utilizados por impacto); objetos no seu estado natural (pedras, paus etc.);
objetos dos mais variados (qualquer estrutura, pouco importando se é ela que vem de encontro ao corpo da vítima ou se é este que se choca
contra ela, como paredes, solo etc.).

DICA

As lesões contusas são causadas por instrumentos como martelo, pau, pedra, cassetete, “soco inglês” etc.

A lesão contusa produz alteração de cor, volume ou continuidade na superfície (nesse caso, serão chamadas feridas contusas). As espécies de
lesões contusas são:
- Eritema ou hiperemia ou rubefação
· Vasodilatação de capilares e vênulas da pele causada pela liberação de mediadores químicos (histamina);
· Ausência de saída de sangue dos vasos;
· Desaparecimento, pressionando a lesão;
· Curta duração (10 minutos a 2 horas);
· Ausência de marcas.

Figura 4 - Eritema na face lateral da coxa direita: observar a forma do instrumento – chinelo

- Edema ou tumefação
· Inchaço e elevação;
· Palidez da pele na área do impacto;
· Surgimento depois de 1 a 3 minutos;
· Tríplice reação de Lewis (rubor, tumor e calor);
· Coleção de líquido transudato;
· Ausência de extravasamento de sangue e de lesão de vasos sanguíneos.
Figura 5 - Edema na face dorsal de pés (A) esquerdo e (B) direito, no qual se pode ver o sinal de Godet positivo

- Escoriação
· Arrancamento da camada superior da pele (epiderme) por ação tangencial da força (atrito) com exposição da derme;
· No processo de cicatrização, formação de crosta.
Figura 6 - Diferentes níveis de escoriações com formação de crostas: (A) retalho arrancado da epiderme; (B) direção da força escoriativa; (C)
epiderme e (D) derme

- Equimose
· Ruptura de vasos sanguíneos (capilares, vênulas e arteríolas), com extravasamento de sangue e infiltração nos tecidos;
· Coloração avermelhada no início;
· Pele íntegra (sem solução de continuidade);
· Forma e tamanho:
* Petéquia (forma de ponto ou “cabeça de alfinete”);
* Sugilação (pequenos grãos formados pela confluência de numerosas lesões puntiformes). Exemplo: “chupão”;
* Víbices (forma de estrias). Exemplo: cassetete;
* Sufusão (hemorragia mais extensa).
· Mecanismo de lesão: compressão, tração ou sucção (“chupão”);
· Podem surgir de imediato ou mais tardiamente.
· Espectro equimótico de Legrand Du Saulle:
* Depende das dimensões e da localização das equimoses e de fatores intrínsecos da vítima;
* Em média, as equimoses desaparecem em 15 a 20 dias.

IMPORTANTE

Esta é a sequência cronológica da equimose: 1º dia, vermelha; 2º e 3º dias, violácea; do 4º ao 6º dia, azul; do 7º ao 10º dia, esverdeada; e do 11º ao
15º dia, amarelada.
Figura 7 - Formação de víbices violáceos no dorso e múltiplas fases de equimose no globo e periocular

- Hematoma
· “Tumor de sangue”;
· Ruptura de um número maior de vasos (mais calibrosos) que forma uma coleção de sangue afastando os tecidos vizinhos e ocupa espaço
próprio (neocavidade);
· Ausência de infiltração do sangue nas malhas do tecido.
* Localização:
¤ Superficial (subungueal, subperiostal);
¤ Órgãos e tecidos (fígado, baço, músculo e encéfalo);
¤ Regiões anatômicas (mediastino, retroperitônio, espaços extradural e subdural do crânio, cervical).
Figura 8 - Formação de hematomas: (A) subgaleal e (B) extradural
- Ferida contusa
· Compressão da pele entre 2 superfícies rígidas;
· Lesão da pele com bordas irregulares (solução de continuidade), escoriadas e equimosadas;
· Fundo e vertente irregulares;
· Presença de pontes de tecido íntegro ligando as vertentes;
· Pouco sangrante;
· Integridade de vasos, nervos e tendões no fundo da lesão;
· Ângulos obtusos e irregulares.
Figura 9 - Ferimento contuso com bordas irregulares e equimosadas: (A) bordas irregulares; (B) margens contundidas; (C) pontes de tecidos e (D)
fundo irregular, contuso e hemorrágico
DICA

As feridas contusas envolvem a compressão da pele entre 2 superfícies rígidas, causando lesões com bordas irregulares, escoriadas e
equimosadas.

- Fraturas
· Solução de continuidade óssea;
· Classificação: fechada ou aberta (exposta); completa ou incompleta; cominutiva ou simples; diafisária ou epifisária;
· Cicatrização que produz “calo ósseo”.

Figura 10 - Diferentes níveis de fraturas em ossos longos

- Luxações
· Deslocamento permanente das superfícies articulares de 2 ossos com ruptura da cápsula articular e de ligamentos;
· Pode ser completa ou incompleta (subluxação);
· Comum em homens e nos membros superiores (articulação escapuloumeral).
Figura 11 - Luxação de articulação umeroulnar

- Entorses
· Estiramento da cápsula de uma articulação, com ou sem rotura ligamentar;
· Dor intensa, impotência funcional, edema, rubor, equimose, hematomas e derrame articular.

Figura 12 - Espectro de diferentes lesões no tornozelo

- Lesões internas
São causadas por impacto direto, aumento súbito da pressão no interior das vísceras e cavidades, compressão lenta ou
aceleração/desaceleração (traumatismo cranioencefálico, trauma abdominal, trauma torácico).
Figura 13 - Imagens de ferida perfuroincisa

- Ferida cortocontusa
A ferida cortocontusa é resultado da ação mista. Os instrumentos cortocontundentes apresentam um gume que age no 1º momento e um peso
que exerce a ação contundente pelo esmagamento e pela destruição dos tecidos, podendo causar fraturas e até amputações. A lesão resulta do
próprio peso do agente, intensificada pela força (ativa) de quem o maneja. Exemplos: foice, facão, machado, enxada, serra elétrica, motosserra,
rodas de trem, dentes.
A ferida cortocontusa tem característica mista, com predomínio muitas vezes da ação contundente, de bordas irregulares e fundo trabeculado,
com frequência acompanhada de escoriações, equimoses e fraturas. As lesões são graves, por atingirem planos profundos.

DICA

As feridas cortocontusas são causadas por instrumentos cortocontundentes como foice, facão, machado, enxada, serra elétrica, dentes etc.
Figura 14 - Ferimento cortocontuso: (A) equimoses em torno da lesão; (B) trabéculas; (C) borda irregular e (D) fundo anfractuoso

- Ferida perfurocontusa
As feridas perfurocontusas são resultantes da ação de instrumentos perfurocontundentes que atuam por meio de uma ponta romba e produzem
lesão em forma de túnel. Exemplo: Projétil de Arma de Fogo (PAF), flecha, lança, tesoura fechada, vergalhas etc. O mecanismo de ação é misto:
pressão contínua e contundente. As feridas perfurocontusas, na maior parte dos casos, são decorrentes da ação de PAFs. Ao redor do ferimento
de entrada por PAF, teremos as orlas e as zonas, de acordo com a distância do disparo.

DICA

As feridas perfurocontusas são causadas por instrumentos como projétil de arma de fogo, flecha, lança, tesoura fechada etc.

As orlas, pela ação do PAF perfurando e contundindo os tecidos, dividem-se em:


- Orla de escoriação (contusão): arrancamento da epiderme;
- Orla de enxugo: impurezas (sujidades) do PAF que ficam aderidas à derme;
- Orla (auréola) equimótica: na vizinhança da ferida, pela ruptura de vasos sanguíneos, causada pela onda de choque.
As zonas são formadas pelos resíduos que saem pela boca do cano da arma e atingem o alvo, dividindo-se em:
- Zona de queimadura ou chamuscamento: queimadura causada pelos gases em combustão. Atinge pele, pelos e roupas;
- Zona de esfumaçamento: resíduos da combustão (fuligem) depositados na pele ou na roupa, de cor acinzentada ou escura;
- Zona de tatuagem: grãos de pólvora incombusta que atingem o alvo; na pele, penetram na derme. Podem ficar na roupa.
Figura 15 - Formação de zonas e orla: (A) orla de contusão; (B) orla de enxugo; (C) zona de tatuagem verdadeira e (D) zona de esfumaçamento ou
zona de tatuagem falsa

IMPORTANTE

Lesões causadas por projéteis de arma de fogo causam zonas e orlas no local onde atingem. As orlas se dividem em orla de escoriação
(contusão), de enxugo (“sujeiras” que ficam aderidas à derme) e equimótica, enquanto as zonas são divididas em: zonas de queimadura ou
chamuscamento, de esfumaçamento (fuligem depositada na pele ou roupa) e zona de tatuagem (grãos de pólvora incombusta que penetram a
derme, por exemplo).

De acordo com a distância entre a boca do cano da arma e os vestígios encontrados no alvo, os disparos de arma de fogo podem ser classificados
em:

- Disparo (tiro) encostado (ou de contato)

Figura 16 - Feridas perfurocontusas por disparo encostado no corpo

- Disparo (tiro) a curta distância


Figura 17 - Feridas perfurocontusas por disparo a curta distância

- Disparo (tiro) a longa distância

Figura 18 - Feridas perfurocontusas por disparo a longa distância

O trajeto é o caminho percorrido pelo PAF dentro do corpo da vítima, desde a entrada até a saída ou o local de retenção no corpo da vítima. A
trajetória é o caminho percorrido pelo PAF da boca do cano da arma até atingir o alvo (fora do corpo da vítima). São estudados pela balística
externa. O orifício de saída do PAF tem as seguintes características:
- Forma irregular e variada (estrelada, “em fenda” etc.);
- Bordas evertidas;
- Maior sangramento;
- Ausência de orlas e de zonas.
Figura 19 - Lesão irregular, sangrante e com bordas evertidas, gerada por projétil de arma de fogo

Os objetivos da perícia médico-legal nos casos de PAF são determinar:


- Características, número e localização dos ferimentos;
- Individualização dos trajetos;
- Análise da letalidade individual de cada PAF no seu trajeto;
- Resgate individual dos PAFs;
- Radiografias;
- Fotografias;
- Gráficos;
- Outros exames.

- Ferida perfuroincisa
A ferida perfuroincisa decorre da ação mista de instrumento perfurocortante com “ponta e gume” que age por pressão (perfuração) e corte
(bordas afiadas – deslizamento), atingindo profundidade variável, de acordo com a forma do agente. Produz feridas perfuroincisas também
chamadas “em botoeira” ou biconvexas, com um ângulo agudo com exígua cauda de escoriação (gume) e o outro arredondado, nos instrumentos
com 1 gume. A profundidade é maior do que a largura (e pode ser maior do que o comprimento do instrumento), com bordas regulares e sem
trabéculas no fundo da lesão.

TEMA FREQUENTE DE PROVA

Nas provas, as questões sempre descrevem o tipo de lesão e o material utilizado, ou seja, convém ficar atento ao tipo de material e ao tipo de
lesão que ele mais provoca; exemplo: a ferida perfurocortante é mais provocada por projétil de arma de fogo.

C - Outras energias de ordem física


Dentre as energias físicas mais encontradas na prática da Medicina Legal, estão a energia térmica e a energia elétrica.

a) Térmica
Tanto o calor como o frio são capazes de lesar o corpo humano. O calor pode lesar pelo contato direto (ação local): chama ou corpos aquecidos
(sólidos, líquidos e gases); ou pelo calor irradiado (ação difusa): solar (insolação) ou industrial (intermação). Do ponto de vista médico-legal, as
queimaduras podem ser classificadas em 4 graus, segundo Hoffmann e Lussena:
- 1º grau: eritema
· Vasodilatação com pele vermelha, edemaciada e dolorosa;
· Não deixa cicatriz.
- 2º grau: bolhas (flictena)
· Formação de bolhas com conteúdo rico em proteínas;
· Eritema, edema e dor;
· Não lesa a camada basal;
· Não deixa cicatriz.
- 3º grau: escara
· Destruição da epiderme e da derme;
· Aspecto endurecido e indolor;
· Deixa cicatriz.
- 4º grau: carbonização
· Destruição da pele e de tecidos moles por ação direta do fogo;
· Posição “do boxeador” (braços repuxados).
O frio também age de forma local e difusa. Sua ação local se chama geladura e classifica-se em 4 graus:
- 1º grau: palidez ou eritema e aspecto anserino da pele;
- 2º grau: bolhas com conteúdo hemorrágico e dolorosas;
- 3º grau: necrose de tecidos moles;
- 4º grau: gangrena ou desarticulação.

b) Elétrica
A energia elétrica pode ser dividida em 2 tipos: natural (raios) e artificial (industrial).
A eletricidade natural pode causar lesões corpóreas (fulguração) ou morte (fulminação). A ação lesiva da eletricidade natural ocorre pelas ondas de
choque (efeito blast) e pela corrente elétrica, e podem-se encontrar roupas rasgadas e objetos metálicos derretidos, queimaduras na pele e pelos
enovelados, figuras arborescentes de Lichtenberg e, nos sobreviventes, surdez e cegueira.
As lesões produzidas pela eletricidade industrial são chamadas eletroplessão. A corrente flui pelo caminho mais curto entre os 2 polos do circuito, e
o efeito Joule é a transformação da corrente elétrica em calor ao atravessar uma resistência. A eletricidade artificial produz, no local de contato com
o corpo humano, uma lesão de bordas elevadas e coloração amarelo-esbranquiçada e indolor, denominada marca elétrica de Jellinek.
A energia elétrica artificial pode ser classificada em:
- Baixa voltagem (até 400V);
- Média voltagem (400 a 4.000V);
- Alta voltagem (>4.000V).

IMPORTANTE

A eletricidade artificial produz, no local de contato com o corpo humano, uma lesão de bordas elevadas e coloração amarelo-esbranquiçada e
indolor, denominada marca elétrica de Jellinek.

O mecanismo de morte nos casos de eletroplessão depende da voltagem à qual o indivíduo foi exposto:
- Baixa voltagem: altera o batimento cardíaco levando a fibrilação ventricular;
- Média voltagem: leva a tetania e parada respiratória periférica;
- Alta voltagem: semelhante ao calor, provoca queimaduras (carbonização) e parada respiratória central.
Figura 20 - Lesão elétrica (marca elétrica de Jellinek) na face plantar do hálux direito

D - Energia vulnerante físico-química (asfixias)


A palavra asfixia vem do grego a (falta) + sphyzo (palpitar), que significa “falta de pulso”. É a síndrome caracterizada pela supressão da respiração e
pela cessação das trocas gasosas por causa patológica (natural ou interna) ou violenta (externa). A fisiopatologia decorre de ↓O2 e ↑CO2. Os sinais
gerais de asfixias são:
- Sinais externos: manchas de hipóstase mais escuras e precoces, cianose e petéquias na pele e nas mucosas;
- Sinais internos: petéquias viscerais (manchas de Tardieu), aspecto do sangue escuro e fluido, congestão polivisceral e distensão e edema dos
pulmões.
As modalidades (espécies) de asfixias são afogamento, soterramento, confinamento, sufocação direta, sufocação indireta, enforcamento,
estrangulamento e esganadura.

a) Afogamento
- Definição: asfixia mecânica, produzida pela penetração de um meio líquido nas vias respiratórias, impedindo a passagem de ar até os pulmões;
- Mecanismo de ação: havendo a submersão, ocorre a morte na sequência das seguintes fases:
· Fase de defesa:
* Surpresa ou inspiração inicial;
* Dispneia de submersão;
* Fase de resistência;
* Apneia;
* Inspiração profunda;
* Fase de exaustão;
* Perda da consciência;
* Insensibilidade;
* Convulsão;
* Morte.
· Lesões externas:
* Hipotermia;
* Pele anserina;
* Retração do mamilo, do escroto e do pênis;
* Maceração da epiderme;
* Tonalidade vermelha dos livores cadavéricos;
* Cogumelo de espuma;
* Erosão dos dedos;
* Presença de corpos estranhos sob as unhas;
* Equimoses da face e das conjuntivas;
* Mancha verde de putrefação (tórax);
* Lesões post mortem produzidas por animais aquáticos.
- Lesões internas:
* Líquidos nas vias respiratórias;
* Corpos estranhos no líquido das vias respiratórias;
* Lesões dos pulmões: aumentados, distendidos, enfisema aquoso e equimoses;
* Sinal de Brouardel: enfisema aquoso subpleural (“esponja molhada”);
* Manchas de Tardieu: equimose subpleural (raras);
* Manchas de Paltauf: hemorragias subpleurais (equimoses vermelho-claras com ≥2cm de diâmetro, devido à ruptura das paredes
alveolares);
* Diluição do sangue (hidremia);
* Crioscopia (temperatura de congelamento): aumentada (água doce) e diminuída (água salgada);
* Sinal de Wydler: presença de espuma, líquido e sólido no estômago;
* Sinal de Niles: hemorragia temporal;
* Sinal de Vargas Alvarado: hemorragia etmoidal;
* Sinal de Étienne Martin: congestão hepática;
* Equimoses nos músculos e no pescoço.

- Diagnóstico
O diagnóstico do afogamento torna-se possível pelos exames externo e interno do cadáver e por exames complementares. A presença de lesões
intra vitam e post mortem concorre para o diagnóstico diferencial entre o afogado verdadeiro e a simulação de afogamento, assim como a causa
jurídica da morte.

b) Soterramento
- Definição: asfixia pela permanência do indivíduo em um meio sólido ou semissólido, de modo que as substâncias ali contidas penetram na árvore
respiratória, impedindo a entrada de ar e levando à morte;
- Mecanismo de ação: a causa da morte no soterramento varia, portanto é necessário muito cuidado no exame da vítima, para explicar o
mecanismo da morte. Pode ocorrer pela penetração de corpos estranhos do local em que a vítima ficou soterrada na árvore respiratória,
produzindo, então, asfixia mecânica por mudança do meio gasoso para sólido;
- Diagnóstico: obtido pela existência da substância pulverulenta nas vias respiratórias, sendo indispensável excluir a possibilidade de sua
penetração post mortem, em outras causas de morte. Para isso, têm importância a penetração profunda dessa substância nas vias respiratórias
com indícios de reação vital e a sua penetração nas vias digestivas, nos movimentos de deglutição;
- Natureza jurídica: pode ser acidente e, com relativa frequência, acidente de trabalho; pode ser, também, homicídio (praticado, em geral, em casos
em que a vítima não pode se defender ou em casos de infanticídio). O estudo de reações vitais e o grau de penetração profunda da substância nas
vias respiratórias falam a favor de soterramento em vida.

c) Confinamento
- Definição: asfixia causada pela permanência do indivíduo num ambiente restrito e/ou fechado, sem condições de renovação do ar respirável,
sendo consumido o oxigênio pouco a pouco, e o gás carbônico, acumulado gradativamente;
- Mecanismo de ação: na respiração normal, exige-se um ambiente externo contendo ar respirável, com oxigênio em quantidade próxima de 21%.
Quando, no ar atmosférico, o oxigênio atinge 7%, surgem distúrbios relativamente graves, sobrevindo a morte se essa taxa está em torno de 3%.
No confinamento, há diminuição progressiva do suprimento de oxigênio do organismo, concomitante ao aumento do teor de anidro carbônico no
sangue (hipercapnia). Simultaneamente, o ar satura-se de vapor d’água, dificultando a eliminação deste pelos pulmões e pela transpiração, o que
contribui consideravelmente para que se instale a asfixia;
- Lesões externas:
· Manchas de hipóstases: precoces, abundantes e de tonalidade escura;
· Cianose de face: sinal mais frequente;
· Equimoses de pele: arredondadas e de pequenas dimensões, não maiores do que uma lentilha, formando agrupamento em determinadas
regiões, principalmente na face, no tórax e no pescoço, tomando tonalidade mais escura nas partes de declive;
· Equimoses de mucosas: encontradas, mais frequentemente, nas conjuntivas palpebral e ocular, nos lábios e, mais raramente, na mucosa nasal.
- Lesões internas:
· Equimoses viscerais (manchas de Tardieu);
· Congestão polivisceral;
· Distensão e edemas dos pulmões;
· Sangue: escuro e líquido (fluidez).

DICA

É necessário entender que não existe nenhum sinal que, isoladamente, faça o diagnóstico das asfixias mecânicas. Portanto, deve-se ter um
critério com base no somatório das lesões estudadas, associando-se sinais e o estudo das circunstâncias do acontecimento.

d) Sufocação direta
- Oclusão direta das narinas e da boca
· Acidental: ocorre em recém-nascidos que, dormindo com as mães, são sufocados por elas ou por panos que estão sobre o leito. Nos adultos,
o acidente pode resultar de ataques epilépticos, síncopes, embriaguez etc., caindo a vítima sobre o leito, com o rosto fortemente apoiado
contra o travesseiro ou contra panos que impeçam a respiração;
· Criminosa: mais comum em recém-nascidos, mas pode ser encontrada também em adultos;
· Suicida: o paciente coloca, sobre o corpo e a cabeça, cobertores, panos etc., até asfixiar-se.
- Oclusão direta dos orifícios da faringe e da laringe
· Acidental: modalidade mais frequente, surge especialmente entre crianças, que colocam botões, bolinhas de gude, pedaços de carne e outros
corpos estranhos dentro da boca. Os recém-nascidos podem sufocar-se com líquido amniótico e restos de membranas. Entre adultos, esse tipo
de morte é ainda encontrado nos que ingerem fragmentos grandes de alimentos sem as devidas cautelas;
· Criminosa: pode ser produzida pela introdução na boca de tampões de panos, dedos, papel ou qualquer outro objeto. · É comum no
infanticídio, mas também pode ser encontrada nos adultos;
· Suicida: é um tipo raro, mas a literatura relata casos de indivíduos que se mataram introduzindo na garganta panos ou objetos.

e) Sufocação indireta
- Definição: asfixia mecânica por impedimento dos movimentos respiratórios devido à compressão do tórax ou do abdome;
- Lesões externas: as manifestações de sufocação indireta nem sempre se apresentam com sinais evidentes de asfixia. Um dos sinais mais
importantes é a máscara equimótica de Morestin, ou cianose cervicofacial, produzida pelo refluxo sanguíneo da veia cava superior em face da
compressão torácica. Caracteriza-se por cor violácea intensa da face, do pescoço e da parte superior do tórax;
- Lesões internas: os pulmões mostram-se distendidos (sinal de Valentin), congestos, com sufusões hemorrágicas subpleurais, podendo ocorrer,
também, rupturas. O fígado é congesto, e o sangue do coração, escuro e fluido. Pode ocorrer fratura dos arcos costais;
- Diagnóstico: é dado pelas lesões externas e internas observadas durante o exame clínico ou a necrópsia.

f) Enforcamento
- Definição: constrição do pescoço causada por um laço acionado pelo peso da própria vítima;
- Sinais externos:
· Sulco cervical oblíquo ascendente e interrompido;
· Cianose e congestão facial;
· Protrusão da língua e dos olhos;
· Petéquias conjuntivais;
· Hipóstases nas extremidades dos membros.
- Sinais internos:
· Lesão da parte profunda da pele, do subcutâneo e da musculatura do pescoço;
· Lesão do feixe vasculonervoso do pescoço:
* Sinal de Amussat: secção transversal da túnica íntima da artéria carótida comum;
* Sinal de Friedberg: hemorragia na túnica externa da artéria carótida comum;
* Sinal de Ziemke: rotura da túnica interna da veia jugular;
* Sinal de Dotto: rotura da bainha de mielina do nervo vago;
* Lesão do aparelho laríngeo;
* Fratura do enforcado: espondilolistese traumática do áxis, que é considerada uma das mais frequentes formas de lesão da coluna cervical
alta. Embora seja popularmente descrita como fratura “do enforcado”, em alusão ao dano * cervical causado pelos enforcamentos, este tipo
de lesão pode ocorrer também em decorrência de acidentes automobilísticos;
* Lesão da coluna vertebral.

g) Estrangulamento
- Definição: constrição do pescoço causada por um laço acionado por força muscular externa;
- Sinais externos:
· Sulco cervical horizontal e contínuo;
· Petéquias conjuntivais;
· Cianose e congestão facial.
- Sinais internos:
· Lesão da parte profunda da pele, do subcutâneo e da musculatura do pescoço;
· Lesão do feixe vasculonervoso do pescoço;
· Lesão do aparelho laríngeo.

h) Esganadura
- Definição: constrição do pescoço com as mãos (típica) ou com outras partes do corpo, como pés, joelhos e golpes –“gravata”, “mata-leão”
(atípica);
- Sinais externos:
· Marcas ungueais no pescoço;
· Equimose no pescoço;
· Cianose e congestão facial;
· Petéquias conjuntivais.
- Sinais internos:
· Infiltração hemorrágica das estruturas profundas do pescoço;
· Lesão do aparelho laríngeo e fratura do osso hioide;
· Lesão do feixe vasculonervoso;
· Fratura de processo estiloide do crânio.

4. Aborto
A Organização Mundial da Saúde define abortamento como sendo a interrupção da gestação antes de 20 a 22 semanas ou feto com peso inferior a
500 gramas. Para o Direito, aborto é a interrupção da gestação, com a morte do produto conceptual, haja ou não expulsão, qualquer que seja o seu
estado evolutivo, desde a concepção até o parto; sendo assim, a legislação, ao contrário da medicina, não define tempo limite para a ocorrência de
aborto, aceitando a denominação desde a concepção até o termo.
No Código Penal Brasileiro, o aborto provocado é considerado crime, exceto nas seguintes situações:

- Aborto praticado por médico (Art. nº 128)


1 - Se não há outro meio de salvar a vida da gestante (aborto terapêutico – necessário).
2 - Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante (aborto
sentimental – piedoso ou moral).

- Resolução nº 1.989/12
Autoriza a interrupção da gestação nos casos de feto anencéfalo.

IMPORTANTE

À luz da legislação atual, só se permite o aborto em casos de estupro ou de comprovado risco de morte para a mãe, diretamente relacionado às
alterações fisiológicas da gravidez. Com a resolução nº 1.989/12, o aborto é consentido quando se tem diagnosticado, por meio de exame
ultrassonográfico, a partir da 12ª semana de gestação, a presença de feto anencéfalo, com laudo assinado por 2 médicos.

Tabela 6 - Tipos de aborto e consequências jurídicas


Tipos de Repercussões jurídicas
abortamento
Espontâneo Fato natural (não há repercussão jurídica criminal)

Acidental Fato natural (não há repercussão jurídica criminal)

Realizado quando o feto é portador de anomalia fetal grave e irreversível (dentre todas as anomalias, a que é prevista por
Eugênico
lei é a anencefalia – resolução nº 1.989/12)

Criminoso - Autoaborto – Art. 124º (CP);


- Sem consentimento – Art. 125º (CP);
Violento - Com consentimento – Art. 126º (CP).
Legal Art. 128º CP - Art. 128º, I – terapêutico ou necessário para salvar a vida da gestante;
- Art. 128º, II – sentimental ou humanitário, caso a gravidez resulte de estupro.

5. Morte encefálica
A - Características clínico-jurídicas
PERGUNTA
2015 - UFF
1. Uma mulher, anteriormente hígida, é internada na maternidade com a pressão arterial muito elevada, edema, cefaleia
intensa, sem informação da idade gestacional (vinha com ciclo irregular), dando à luz um bebê de 480g, Apgar 1/0, que
morre em 5 minutos na sala de parto. A puérpera evolui com convulsões refratárias, sofre parada cardiorrespiratória que
não responde às manobras de reanimação e morre no mesmo dia. Nesse caso, será necessário preencher declaração de:
a) óbito fetal, declaração de óbito materno (causa-base: convulsões), notificação de óbito materno por causa indireta
b) óbito fetal, declaração de óbito materno (causa-base: convulsões), notificação de óbito materno por causa direta
c) nascido vivo, declaração de óbito do bebê (causa-base: doença hipertensiva da gravidez), declaração de óbito materno (causa-base: doença
hipertensiva da gravidez), notificação de óbito materno por causa direta
d) nascido vivo, declaração de óbito do bebê (causa-base: prematuridade extrema), declaração de óbito materno (causa-base: doença
hipertensiva da gravidez), notificação de óbito materno por causa direta
e) óbito do bebê (causa-base: prematuridade extrema), declaração de óbito materno (causa-base: convulsões), notificação de óbito materno
por causa direta

Resposta no final do capítulo

O conceito de morte mudou nas últimas décadas com o advento dos transplantes de órgãos; antigamente, considerava-se morte como a cessação
definitiva das atividades respiratória e cardíaca. Atualmente, o conceito de morte é a encefálica, cujos parâmetros foram definidos pelo Conselho
Federal de Medicina (CFM).
A Lei Federal nº 9.434/97 regulamenta a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para transplantes e tratamento. A doação de
tecidos, órgãos e partes do corpo humano deve ser gratuita, e a remoção e o transplante somente serão realizados em estabelecimentos de saúde,
públicos ou privados, por equipes médico-cirúrgicas previamente autorizadas pelo órgão nacional do Sistema Único de Saúde.
A doação post mortem deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por 2 médicos não participantes das
equipes de remoção e transplante, sendo que 1, no mínimo, tenha título de especialista em Neurologia (Art. nº 16, § 1º, do Decreto nº 2.268/97),
mediante critérios clínicos e tecnológicos previstos na Resolução CFM nº 1.480/97.
A morte encefálica é caracterizada por meio de exames clínicos e complementares durante intervalos de tempo variáveis e próprios para
determinada faixa etária. Todos os dados devem ser registrados em um documento chamado Termo de Declaração de Morte Encefálica. Ela deve
ter causa conhecida e ser irreversível.

IMPORTANTE

Os parâmetros clínicos para a definição de morte encefálica são coma aperceptivo com ausência de atividade motora supraespinal, apneia e
ausência de hipotermia (temperatura ≥32,5°C) ou drogas depressoras do sistema nervoso central ou bloqueadores neuromusculares. Os
intervalos mínimos entre as 2 observações clínicas (feitas por médicos diferentes e não pertencentes à equipe de remoção e de transplante)
estão de acordo com a faixa etária: de 7 dias a 2 meses incompletos: 48 horas; de 2 meses a 1 ano incompleto: 24 horas; de 1 a 2 anos
incompletos: 12 horas; acima de 2 anos: 6 horas.

Os exames complementares para a caracterização da morte encefálica deverão demonstrar, de forma inequívoca, ausência de atividade elétrica
cerebral (eletroencefalograma – EEG), ausência de atividade metabólica cerebral (PET ou extração cerebral de oxigênio) ou ausência de perfusão
sanguínea cerebral (angiografia ou Doppler transcraniano). Os exames complementares variam com a faixa etária:
- Acima de 2 anos: qualquer um dos exames citados;
- De 1 a 2 anos incompletos: qualquer um dos exames citados, mas, quando optar-se por EEG, serão necessários 2 exames com intervalo de 12
horas entre eles;
- De 2 meses a 1 ano incompleto: 2 EEGs com intervalo de 24 horas entre um e outro;
- De 7 dias a 2 meses incompletos: 2 EEGs com intervalo de 48 horas entre um e outro.
Não há consenso sobre a aplicabilidade desses critérios em crianças menores de 7 dias e prematuros.
O Termo de Declaração deverá ser arquivado no prontuário do paciente, juntamente com os exames complementares utilizados para o diagnóstico
de morte encefálica.
A doação dependerá da autorização da família, cônjuge ou parente, maior de idade, obedecendo à linha sucessória, reta ou colateral, até o 2º grau
inclusive, firmada em documento subscrito por 2 testemunhas. É proibido a doação post mortem de pessoas não identificadas.
A doação em vida de órgãos duplos ou de partes de órgãos ou tecidos, cuja retirada não impeça o organismo do doador de continuar a viver e não
represente comprometimento de suas funções vitais nem cause mutilação ou deformação inaceitável, é permitida à pessoa juridicamente capaz,
para o cônjuge ou parentes consanguíneos até 4º grau. No caso de doação para receptor não consanguíneo (sem parentesco), deverá haver
autorização judicial.
A gestante só poderá doar medula óssea (não outros órgãos e tecidos) caso não ofereça riscos à sua saúde ou ao feto. O doador vivo deverá
autorizar por escrito preferencialmente, e diante de testemunhas, a doação. E o transplante ou enxerto só serão feitos com o consentimento
expresso do receptor ou do responsável legal.
Todos os estabelecimentos de saúde têm a obrigação legal de notificar todos os casos com diagnóstico de morte encefálica (notificação
compulsória).

B - Resolução CFM nº 1.480/97


Art. 1º: a morte encefálica será caracterizada por exames clínicos e complementares durante intervalos de tempo variáveis, próprios para
determinadas faixas etárias.
Art. 2º: os dados clínicos e complementares observados quando da caracterização da morte encefálica deverão ser registrados no Termo de
Declaração de Morte Encefálica anexo a essa Resolução.
Parágrafo único: as instituições hospitalares poderão fazer acréscimos ao presente termo, que deverão ser aprovados pelos Conselhos Regionais
de Medicina da sua jurisdição, sendo vedada a supressão de quaisquer de seus itens.
Art. 3º: a morte encefálica deverá ser consequência de processo irreversível e de causa conhecida.
Art. 4º: os parâmetros clínicos a serem observados para a constatação de morte encefálica são coma aperceptivo com ausência de atividade
motora supraespinal e apneia.
Art. 5º: os intervalos mínimos entre as 2 avaliações clínicas necessárias para a caracterização da morte encefálica serão definidos por faixa etária,
conforme a seguir especificado:
- a) De 7 dias a 2 meses incompletos – 48 horas.
- b) De 2 meses a 1 ano incompleto – 24 horas.
- c) De 1 a 2 anos incompletos – 12 horas.
- d) Acima de 2 anos – 6 horas.
Art. 6º: os exames complementares a serem observados para constatação de morte encefálica deverão demonstrar, de forma inequívoca:
- a) Ausência de atividade elétrica cerebral.
- b) Ausência de atividade metabólica cerebral.
- c) Ausência de perfusão sanguínea cerebral.
Art. 7º: os exames complementares serão utilizados por faixa etária, conforme especificado:
- a) Acima de 2 anos – 1 dos exames citados no Art. 6º, alíneas “a”, “b” e “c”.
- b) De 1 a 2 anos incompletos – 1 dos exames citados no Art. 6º, alíneas “a”, “b” e “c”. Quando optar-se por eletroencefalograma, serão
necessários 2 exames com intervalo de 12 horas entre um e outro.
- c) De 2 meses a 1 ano incompleto – 2 EEGs com intervalo de 24 horas entre um e outro.
- d) De 7 dias a 2 meses incompletos – 2 EEGs com intervalo de 48 horas entre um e outro.
Art. 8º: o Termo de Declaração de Morte Encefálica, devidamente preenchido e assinado, e os exames complementares utilizados para o
diagnóstico da morte encefálica deverão ser arquivados no próprio prontuário do paciente.
Art. 9º: constatada e documentada a morte encefálica, deverá o diretor clínico da instituição hospitalar, ou quem for delegado, comunicar tal fato
aos responsáveis legais do paciente, se houver, e à Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos a que estiver vinculada a unidade
hospitalar onde o paciente estava internado.

C - Resolução CFM nº 1.826/07


Dispõe sobre a legalidade e o caráter ético da suspensão dos procedimentos de suportes terapêuticos quando da determinação de morte
encefálica de indivíduo não doador.
Art. 1º: é legal e ética a suspensão dos procedimentos de suportes terapêuticos quando determinada a morte encefálica em não doador de órgãos,
tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante, nos termos do disposto na Resolução CFM nº 1.480, de 21 de agosto de 1997, na forma
da Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997.
§ 1º: o cumprimento da decisão mencionada no caput deve ser precedido de comunicação e esclarecimento sobre a morte encefálica aos familiares
do paciente ou seu representante legal, fundamentada e registrada no prontuário.
§ 2º: cabe ao médico assistente ou seu substituto o cumprimento do caput deste artigo e seu parágrafo 1º.
Art. 2º: a data e a hora registradas na Declaração de Óbito serão as mesmas da determinação de morte encefálica.
Art. 3º: esta resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogando-se as disposições em contrário.
O objetivo é otimizar a escassez de recursos nas UTIs, em vista do diagnóstico de morte encefálica (critério técnico baseado na Resolução CFM nº
1.480/97), critério jurídico da morte do indivíduo. Não é razoável manter um corpo destituído da vida humana sob os cuidados intensivos (com
altos custos e falta de leitos) se o indivíduo está clínica e juridicamente morto.

PERGUNTA
2010 - UFF
2. A Resolução CFM nº 1480/97, após definir os critérios para diagnóstico de morte encefálica, determina, para a faixa
etária indicada à esquerda, o seguinte intervalo mínimo entre 2 avaliações clínicas:
a) acima de 2 anos – 24 horas
b) de 2 meses a 1 ano incompleto – 12 horas
c) de 1 ano a 2 anos incompletos – 24 horas
d) de 7 dias a 2 meses incompletos – 48 horas
e) menor de 7 dias – 96 horas

Resposta no final do capítulo

6. Declaração de óbito
A Declaração de Óbito (DO) é o documento-base do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS). É composta de 3
vias autocopiativas, pré-numeradas sequencialmente, fornecidas pelo Ministério da Saúde e distribuídas pelas Secretarias Estaduais e Municipais
de Saúde conforme fluxo padronizado para todo o país. Além da sua função legal, os dados de óbitos são utilizados para conhecer a situação de
saúde da população e gerar ações visando à sua melhoria e, para tanto, devem ser fidedignos e refletir a realidade. As estatísticas de mortalidade
são produzidas com base na DO emitida pelo médico. A emissão da DO é um ato médico, segundo a legislação do país. Portanto, ocorrida uma
morte, o médico tem a obrigação legal de constatar e atestar o óbito, usando o formulário oficial “Declaração de Óbito” mencionado. O documento
tem, por finalidade:
- A inumação (enterramento) do cadáver, pois nenhum enterramento pode ser feito sem certidão oficial do cartório, extraída após lavratura do
assento de óbito feito à vista do atestado médico (Lei dos Registros Públicos);
- A certidão de óbito é prova cabal e incontestável do desaparecimento do indivíduo e extingue a personalidade civil da pessoa;
- A determinação da causa jurídica da morte (natural ou violenta);
- O esclarecimento de questões de ordem sanitária, elaboração de estatísticas para serem usadas em Saúde Pública.

A - Resolução CFM nº 1.779/05


Regulamenta a responsabilidade médica no fornecimento da DO e revoga a Resolução CFM nº 1.601/00.
- Considerando:
· A DO como parte integrante da assistência médica;
· A DO como fonte imprescindível de dados epidemiológicos;
· A morte natural tendo como causa a doença ou lesão que iniciou a sucessão de eventos mórbidos que diretamente causaram o óbito;
· A morte não natural como aquela que sobrevém de causas externas violentas;
· A necessidade de regulamentar a responsabilidade médica no fornecimento da DO;
· Finalmente, o decidido em sessão plenária realizada em 11 de novembro de 2005.
- Resolve:
· Art. 1º: o preenchimento dos dados constantes da DO é de responsabilidade do médico que atestou a morte;
· Art. 2º: os médicos, quando do preenchimento da DO, obedecerão às seguintes normas:
a) Morte natural
I - Morte sem assistência médica
a) Nas localidades com Serviço de Verificação de Óbitos (SVO):
A DO deverá ser fornecida pelos médicos do SVO.
b) Nas localidades sem SVO:
A DO deverá ser fornecida pelos médicos do serviço público de saúde mais próximo do local onde ocorreu o evento e, na sua ausência, por
qualquer médico da localidade.

II - Morte com assistência médica


a) A DO deverá ser fornecida, sempre que possível, pelo médico que vinha prestando assistência ao paciente.
b) A DO do paciente internado sob regime hospitalar deverá ser fornecida pelo médico assistente e, na sua falta, por médico substituto pertencente
à instituição.
c) A DO do paciente em tratamento sob regime ambulatorial deverá ser fornecida por médico designado pela instituição que prestava assistência,
ou pelo SVO.
d) A DO do paciente em tratamento sob regime domiciliar (Programa Saúde da Família, internação domiciliar e outros) deverá ser fornecida pelo
médico pertencente ao programa ao qual o paciente estava cadastrado, ou pelo SVO, caso o médico não consiga correlacionar o óbito com o
quadro clínico concernente ao acompanhamento do paciente.

b) Morte fetal
Em caso de morte fetal, os médicos que prestaram assistência à mãe ficam obrigados a fornecer a DO quando a gestação tem duração ≥20
semanas ou o feto tem peso corpóreo ≥500g e/ou estatura ≥25cm.

PERGUNTA
2014 - CREMESP
3. A morte fetal é definida como:
a) a expulsão ou extração completa do corpo da mãe, com menos de 28 semanas de gravidez, de um produto de concepção que apresente
respiração ou qualquer outro sinal de vida por poucos minutos após o nascimento
b) a morte de um produto de concepção antes da expulsão do corpo da mãe, independente da duração da gravidez
c) produto de concepção com menos de 22 semanas de gestação que venha a morrer algumas horas depois do nascimento
d) a expulsão ou extração completa do corpo da mãe, independentemente da duração da gravidez, de um produto de concepção considerado
morto ou que apresente respiração ou qualquer outro sinal de vida por poucos minutos após o nascimento
e) produto de concepção com menos de 28 semanas de gestação que tenha morrido antes da expulsão do corpo da mãe ou que venha a
morrer algumas horas depois do nascimento

Resposta no final do capítulo

c) Mortes violentas ou não naturais


A DO deverá ser fornecida pelos serviços médico-legais.
Parágrafo único: nas localidades onde existir apenas 1 médico, este será o responsável pelo fornecimento da DO.
Art. 3º: esta resolução entra em vigor na data de sua publicação e revoga a Resolução CFM nº 1.601/00.
Figura 21 - Fornecimento da Declaração de Óbito

B - Aspectos éticos
a) O que o médico deve fazer
1 - Preencher os dados de identificação com base em um documento da pessoa falecida. Na ausência de documento, caberá, à autoridade policial,
proceder ao reconhecimento do cadáver.
2 - Registrar os dados na DO, sempre, com letra legível e sem abreviações ou rasuras.
3 - Registrar as causas da morte, obedecendo ao disposto nas regras internacionais, anotando um diagnóstico por linha e o tempo aproximado
entre o início da doença e a morte.
4 - Revisar se todos os campos estão preenchidos corretamente, antes de assinar.

b) O que o médico não deve fazer


1 - Assinar DO em branco.
2 - Preencher a DO sem, pessoalmente, examinar o corpo e constatar a morte.
3 - Utilizar termos vagos para o registro das causas de morte, como parada cardíaca, parada cardiorrespiratória ou falência de múltiplos órgãos.
4 - Cobrar pela emissão da DO.

DICA

O ato médico de examinar e constatar o óbito pode ser cobrado desde que se trate de paciente particular a quem não vinha prestando
assistência.

c) Em que situação emitir


1 - Em todos os óbitos (natural ou violento).
2 - Quando a criança nascer viva e morrer logo após o nascimento, independentemente da duração da gestação, do peso e do tempo que tenha
permanecido viva.
3 - No óbito fetal, se a gestação teve duração ≥20 semanas, ou o feto com ≥500g, ou estatura ≥25cm.

d) Em que situações não emitir


1 - No óbito fetal, com gestação <20 semanas, ou peso <500g, ou estatura <25cm.
2 - Peças anatômicas amputadas.

DICA

No caso de peças anatômicas retiradas por ato cirúrgico ou de membros amputados, o médico elaborará um relatório em papel timbrado do
hospital descrevendo o procedimento realizado. Esse documento será levado ao cemitério, caso o destino da peça venha a ser o sepultamento.

C - Definições
Estas definições foram adotadas pela Assembleia Mundial da Saúde (resoluções WHA 20.19 e WHA 43.24), de acordo com o Art. nº 23 da
Constituição da Organização Mundial da Saúde, e constam da CID-10.

a) Causas de morte
As causas de morte a serem registradas na DO são todas as doenças, estados mórbidos ou lesões que produziram a morte, ou que contribuíram
para ela, e as circunstâncias do acidente ou da violência que provocou essas lesões.

b) Causa-base de morte
É a doença ou lesão que iniciou a cadeia de acontecimentos patológicos que conduziram diretamente à morte;
São as circunstâncias do acidente ou a violência que causou a lesão fatal.

IMPORTANTE

Segundo a Organização Mundial da Saúde, causa-base da morte é “a doença ou lesão que iniciou a sucessão de eventos mórbidos, os quais
levaram diretamente à morte ou às circunstâncias do acidente ou violência que produziu a lesão fatal”.

c) Definições com relação às mortalidades fetal e neonatal


- Nascimento vivo: é a expulsão ou extração completa do corpo da mãe, independente da duração da gravidez, de um produto de concepção que,
depois da separação, respire ou apresente qualquer outro sinal de vida, como batimentos do coração, pulsações do cordão umbilical ou
movimentos efetivos dos músculos de contração voluntária, estando ou não cortado o cordão umbilical e desprendida a placenta. Considera-se
cada produto de um nascimento que reúna essas condições uma criança viva;
- Óbito fetal: é a morte de um produto de concepção antes da expulsão ou da extração completa do corpo da mãe, independente da duração da
gravidez; indica o óbito quando o feto, depois da separação, não respira nem apresenta nenhum outro sinal de vida, como batimentos do coração,
pulsações do cordão umbilical ou movimentos efetivos dos músculos de contração voluntária;
- Óbito neonatal: começa no nascimento e termina após 28 dias completos depois do nascimento. As mortes neonatais, entre nascidos vivos
durante os primeiros 28 dias, podem ser subdivididas em neonatais precoces, que ocorrem durante os primeiros 7 dias de vida, e neonatais tardias,
que ocorrem após o 7º dia, mas antes dos 28 dias completos.

d) Como preencher o atestado


A DO é formada por 9 partes:
- Parte I: cartório;
- Parte II: identificação do falecido;
- Parte III: residência;
- Parte IV: ocorrência;
- Parte V: óbito fetal ou menor de 1 ano;
- Parte VI: condições e causas de óbito;
- Parte VII: médico;
- Parte VIII: causas externas;
- Parte IX: localidades sem médico.
Deve-se lembrar que o médico é o responsável pelo preenchimento de todas as partes da DO.
A Organização Mundial da Saúde definiu como causa-base “a doença ou lesão que iniciou a sucessão de eventos mórbidos, os quais levaram
diretamente à morte ou às circunstâncias do acidente ou violência que produziu a lesão fatal”.
Figura 22 - Ficha de Declaração de Óbito nacional

Na Parte VI, que trata das Condições e Causas do Óbito, o campo 49 é dividido em Parte I e Parte II.
A Parte I é subdividida em 4 itens (“a”, “b”, “c” e “d”), e seu preenchimento deve seguir uma ordem lógica e cronológica dos acontecimentos sofridos
pelo paciente, iniciando-se pela causa terminal ou imediata e terminando com causa-base. Esta deve ser colocada em último lugar, ou seja, deve ser
o último item da Parte I. Antecedendo a causa-base, são colocados os outros eventos (“devido a ou como consequência de”), até chegar à causa
terminal ou imediata.
A Parte II deve ser usada para informar outras condições significativas que interferiram no curso do processo mórbido, chamadas de causas
contribuintes ou contributórias.

Figura 23 - Campos das causas de morte primária (parte I) e contribuintes (parte II)

O modelo de DO adotado permite, pelas suas características, facilitar a seleção da causa-base quando são informados 2 ou mais diagnósticos. Isso
porque o médico, ao registrar os diagnósticos no atestado, deveria colocar a causa-base em último lugar da Parte I. Assim, a causa-base do
exemplo da Figura 23, registrada dessa forma (último lugar da Parte I, linha “d”), dá origem a algumas complicações (causas e consequências), que
devem ser registradas nas linhas acima (“c” e “b”). A última causa consequencial, registrada na linha “a”, é chamada causa terminal ou imediata.
Caso a morte ocorra por causa não natural ou, como mais usualmente se diz, por causas violentas ou causas externas, também deve constar da
última linha a causa-base, no caso, as circunstâncias da violência (queda, homicídio por arma de fogo, afogamento etc.) e, acima da causa-base, as
consequenciais (fratura de crânio, rotura de fígado, esmagamento de tórax etc.). As DOs, nos casos de causa externa, são sempre preenchidas por
médicos-legistas.
Alguns exemplos de preenchimento do atestado de óbito:
Exemplo 1 (causa natural): sexo masculino, 65 anos. Há 35 anos sabia ser hipertenso e não fez tratamento. Há 2 anos, começou a apresentar
dispneia de esforço. Foi ao médico, que diagnosticou hipertensão arterial e cardiopatia hipertensiva, e iniciou o tratamento. Há 2 meses, teve
insuficiência cardíaca congestiva e, hoje, edema agudo de pulmão, falecendo após 5 horas. Há 2 meses, foi diagnosticado câncer de próstata.

Figura 24 - Preenchimento da Declaração de Óbito por causa natural

Exemplo 2 (causa não natural): sexo masculino, 25 anos, pedreiro, estava trabalhando quando sofreu queda de andaime (altura correspondente a
2 andares). Foi recolhido pelo serviço de resgate e encaminhado ao hospital, onde fez cirurgia em virtude de traumatismo cranioencefálico. Morreu
após 3 dias.

Figura 25 - Preenchimento da Declaração de Óbito por causa não natural

Exemplo 3: sexo masculino, 42 anos. Pedreiro estava trabalhando em um andaime, à altura do 12º andar, quando caiu acidentalmente. Teve morte
instantânea. O relatório de necrópsia (IML) evidenciou traumatismos múltiplos (crânio, bacia, membros).

Tabela 7 - Preenchimento da Declaração de Óbito acrescentando intervalos enunciados no exemplo 3


Intervalo
I - a) Politraumatismo Segundos

b) Queda acidental de andaime Segundos

c) Deixar em branco
II -

Exemplo 4: sexo masculino, 26 anos. Há 3 anos, foi diagnosticado portador do vírus HIV, não tendo nenhuma manifestação até 10 meses antes,
quando começou a ter febre, emagrecimento intenso e muita tosse. Foi feito diagnóstico de AIDS com tuberculose pulmonar. Evoluiu muito mal,
não respondendo à terapêutica, e teve o quadro confirmado de broncopneumonia, vindo a falecer após 4 dias.

Tabela 8 - Preenchimento da Declaração de Óbito considerando apenas causas de morte do exemplo 4


Intervalo
I - a) Broncopneumonia 4 dias

b) Tuberculose pulmonar 4 dias

c) Síndrome da imunodeficiência adquirida 10 meses

II - Emagrecimento
A seguir, alguns exemplos de DOs preenchidas incorretamente e sua correção:
Exemplo 1: uma mulher foi atendida na Emergência às 22 horas, com quadro de queda da pressão arterial, hemoglobina de 7g/L, volume globular
de 28%, dor à palpação de abdome, distensão abdominal e macicez de decúbito. Às 23 horas, foi encaminhada para laparotomia e recebeu 2
unidades de concentrado de hemácias. Durante a cirurgia, ocorreu parada cardíaca. Durante a laparotomia, foi constatado o quadro de gravidez
ectópica rota.
- Causas da morte na DO:
· Parte I (incorreto):
a) Parada cardiorrespiratória.
b) Insuficiência renal aguda.
c) Choque hipovolêmico.
- Comentário: nesse caso, ainda que o médico tivesse cuidado do caso e diagnosticado a gravidez ectópica rota, isso não foi declarado na DO, que
deveria ter sido preenchida da seguinte maneira:
· Parte I (correto):
a) Falência de órgãos.
b) Choque hipovolêmico.
c) Gravidez ectópica rota.
Exemplo 2: uma parturiente de 23 anos, G3P1A1, fez 10 consultas de pré-natal desde janeiro. Internada no dia 28.09.97 às 2 horas, com história de
gestação no curso do 9º mês em trabalho de parto, apresentação cefálica, dilatação cervical de 6cm, PA = 110x60mmHg, deu à luz às 5h45 do
mesmo dia. Às 8 horas, detectou-se hemorragia pós-parto, sendo a puérpera submetida a histerectomia subtotal e evoluindo para óbito materno
às 9h40 no transoperatório.
- Causas da morte na DO:
· Parte I (incorreto):
a) Anemia aguda.
b) Hemorragia intensa.
c) Coagulopatia intravascular disseminada.
Comentário: foi omitido, na DO, que a coagulopatia foi decorrente de quadro grave de hemorragia puerperal. Ela deveria ser preenchida da
seguinte maneira:
· Parte I (correto):
a) Choque hemorrágico.
b) Coagulopatia intravascular disseminada.
c) Hemorragia pós-parto.
· Parte II: Gestação de 9 meses.
Exemplo 3: uma parturiente de 15 anos, casada há 2 anos, primigesta, fez 9 consultas de pré-natal desde o 2º mês. No final da gestação,
diagnosticou-se, pela ultrassonografia, posição fetal pélvica. A gestante, nessa ocasião, apresentava quadros hipertensivos. Segundo os familiares,
quando as dores apertaram, o marido a levou para o hospital pela madrugada, e a médica deu uma injeção e disse que ainda não era hora. A
gestante passou toda a madrugada com dor e, como não melhorou pela manhã, retornou ao hospital, onde ficou em observação. Segundo o
prontuário, a parturiente foi admitida, às 7 horas, em trabalho de parto com idade gestacional de 40 semanas, mais doença hipertensiva específica
da gravidez leve. Evoluiu, na sala de pré-parto, apresentando pico hipertensivo de 190x110mmHg, sendo medicada com Aldomet® 750mg/d e
hidralazina. Às 14h15, indicou-se cesárea, devido à apresentação pélvica, e constataram-se feto morto em primigesta e evolução de doença
hipertensiva específica da gravidez leve para grave. Por ocasião da indução anestésica, apresentou convulsões generalizadas, que persistiram no
transoperatório, evoluindo com parada cardiorrespiratória irreversível. Foi encaminhada para o SVO, cujo laudo foi:
· Parte I (incorreto):
a) A esclarecer, dependendo de exames complementares.
Comentário: o médico patologista não recebeu as informações médicas sobre a história de saúde da paciente e, assim, não conseguiu determinar a
causa de óbito. Na realidade, o próprio médico que atendeu a paciente já tinha feito o diagnóstico. A DO deveria ser preenchida da seguinte forma:
· Parte I (correto):
a) Convulsões eclâmpticas.
b) Eclâmpsia grave.
· Parte II: Gestação de 9 meses
Feto morto.
Exemplo 4: uma paciente de 19 anos, casada há 1 ano, primigesta, fez pré-natal desde o 2º mês de gestação, e a partir do 4º mês foi diagnosticada
gestação de alto risco. Esteve internada e, no 5º mês, foi aconselhada a interromper a gravidez. Antes da data prevista para a interrupção, teve
parada cardíaca. Foi internada com diagnóstico de cardiopatia reumática descompensada. No 3º dia de internação, teve nova parada cardíaca,
respondendo a manobras de ressuscitação, e foi feita cesárea para a retirada do feto morto. Às 20 horas, teve outra parada cardiorrespiratória em
assistolia, sem resposta às manobras.
· Parte I (incorreto):
a) Edema e congestão pulmonar.
b) Cardiopatia dilatada.
c) Cardiopatia reumática crônica com estenose mitral acentuada.
Comentário: o médico na DO omitiu o estado gestacional, e, na realidade, houve descompensação de seu estado de saúde pela presença da
gestação; assim, o atestado deveria ser preenchido da seguinte forma:
· Parte I (correto):
a) Edema e congestão pulmonar.
b) Cardiopatia dilatada.
c) Cardiopatia reumática crônica complicada pela gestação.
· Parte II: Cardiopatia reumática crônica com estenose mitral acentuada.
· Gestação de 5 meses.
Exemplo 5: uma paciente de 21 anos, branca, solteira, estudante, com última gestação em 20.08.97, G2A2, usava anticoncepcional hormonal.
Admitida em 23.01.98, às 11h30, com 3 a 4 meses de gestação e sangramento vaginal, no momento da admissão apresentava quadro de choque
hipovolêmico, com PA = 60x30mmHg, pulso = 120bpm, mucosas hipocoradas. Por ocasião do internamento, negava que estava grávida. Foi
diagnosticado aborto incompleto infectado, sendo indicada curetagem uterina. Sob anestesia peridural, foram administradas 30 unidades de
Syntocinon®. Após a curetagem, apresentava hemorragia uterina e, às 12h45, perdeu o acesso venoso, sendo transferida para a UTI do hospital B,
com diagnóstico de choque hipovolêmico e septicemia, por abortamento infectado. O óbito ocorreu às 15h05.
· Parte I (incorreto):
a) Choque septicêmico.
b) Endometrite.
Comentário: o preenchimento da DO foi incorreto: a causa-base do óbito (aborto não especificado complicado com hemorragia – CID O06.1) não
está referida na letra “c” na DO.
· Parte I (correto):
a) Choque septicêmico.
b) Endometrite.
c) Aborto incompleto infectado.

PERGUNTA
2015 - UFG
4. Um paciente de 18 anos, motofretista, condutor de motocicleta, sofreu colisão lateral com um veículo do tipo automóvel.
Foi levado para o Hospital de Urgência de Goiás, onde foi realizado o diagnóstico de fratura fechada do fêmur direito. Ficou
hospitalizado durante 5 dias antes de ser submetido a procedimento cirúrgico para fixação do fêmur. Após 24 horas da
cirurgia, o paciente apresentou forte dor torácica do lado esquerdo e dispneia aguda. Fez raio x e tomografia de urgência,
que mostraram quadro radiológico de colabamento do pulmão esquerdo, tendo diagnóstico compatível com embolia
pulmonar. Foi medicado para embolia com anticoagulantes, porém a insuficiência respiratória se agravou, levando a parada
cardiorrespiratória. Foram realizadas manobras de ressuscitação cardiopulmonar sem êxito. A Declaração de Óbito do
paciente deve ser preenchida da seguinte forma:
a) Parte I: Linha a: insuficiência respiratória aguda; Linha b: embolia pulmonar; Linha c: fratura do fêmur direito; Linha d:
colisão lateral de motocicleta com automóvel. Parte II: em branco
b) Parte I: Linha a: insuficiência respiratória aguda; Linha b: embolia pulmonar; Linha c: fratura do fêmur direito; Linha d: em branco. Parte II:
colisão lateral de motocicleta com automóvel
c) Parte I: Linha a: fratura do fêmur direito; Linha b: insuficiência respiratória, Linha c: embolia aguda pulmonar; Linha d: desidratação. Parte II:
em branco
d) Parte I: Linha a: colisão lateral de motocicleta com automóvel; Linha b: fratura do fêmur direito; Linha c: embolia pulmonar; Linha d:
septicemia. Parte II: em branco

Resposta no final do capítulo

PERGUNTA
2013 - SANTA CASA-SP
5. Um homem de 70 anos, hipertenso desde os 40, evoluiu há 8 anos com dispneia aos esforços, ortopneia, dispneia
paroxística noturna e edema nos membros inferiores. Foi iniciada terapia específica na ocasião com betabloqueadores,
vasodilatadores e diuréticos, com melhora dos sintomas. Com o passar dos anos, a doença progrediu e o paciente
manifestava dispneia em repouso apesar do tratamento clínico. Há 6 meses descobriu adenocarcinoma de cólon por quadro
de hematoquezia. Hoje, foi levado ao hospital às pressas por quadro de edema agudo pulmonar e insuficiência respiratória
seguida de óbito. Você, como médico da família, foi chamado para preencher a declaração de óbito. Qual dessas alternativas
corresponderia ao preenchimento adequado da declaração de óbito?
a) insuficiência respiratória – causa-base
b) insuficiência cardíaca – causa imediata
c) hipertensão arterial sistêmica – causa-base
d) adenocarcinoma de cólon – causa intermediária
e) edema agudo pulmonar – causa-base

Resposta no final do capítulo

e) Algumas dúvidas mais comuns


1 - Óbito ocorrido em ambulância com médico. Quem deve fornecer a DO?
A responsabilidade do médico que atua em serviço de transporte, remoção, emergência, quando dá o 1º atendimento ao paciente, equipara-se à
do médico em ambiente hospitalar e, portanto, se a pessoa vier a falecer, caberá ao médico da ambulância a emissão da DO, se a causa for natural e
se existirem informações suficientes para tal. Se a causa for externa, chegando ao hospital, o corpo deverá ser encaminhado ao Instituto Médico-
Legal (IML).
2 - Óbito ocorrido em ambulância sem médico é considerado sem assistência médica?
Sim. O corpo deverá ser encaminhado ao SVO na ausência de sinais externos de violência ou ao IML em mortes violentas. A DO deverá ser emitida
por qualquer médico em localidades onde não houver SVO, em caso de óbito por causa natural, sendo declarado na parte I “causa da morte
desconhecida”.
3 - Médico do serviço público emite DO para paciente que morreu sem assistência médica. Posteriormente, por denúncia, surge suspeita de
que se tratava de envenenamento. Quais são as consequências legais e éticas para esse médico?
Ao constatar o óbito e emitir a DO, o médico deve proceder a cuidadoso exame externo do cadáver, a fim de afastar qualquer possibilidade de
causa externa. Como o médico não acompanhou o paciente e não recebeu informações sobre essa suspeita, não tendo, portanto, certeza da
causa-base do óbito, deverá anotar, na variável causa, “óbito sem assistência médica”. Mesmo se houver exumação e a denúncia de
envenenamento vier a ser comprovada, o médico estará isento de responsabilidade perante a justiça se tiver anotado, na DO, no campo
apropriado, “não há sinais externos de violência” (campo 59 da DO vigente).
4 - Paciente chega ao pronto-socorro e, em seguida, tem parada cardíaca. Iniciadas as manobras de ressuscitação, estas não têm sucesso. O
médico é obrigado a fornecer DO? Como proceder com relação à causa da morte?
Primeiramente, deve-se verificar se a causa da morte é natural ou externa.
Se a causa for externa, o corpo deverá ser encaminhado ao IML. Se for morte natural, o médico deverá esgotar todas as possibilidades para
formular a hipótese diagnóstica, inclusive com anamnese e história colhida com familiares. Caso persista dúvida e na localidade exista SVO, o corpo
deverá ser encaminhado para esse serviço. Caso contrário, o médico deverá emitir a DO esclarecendo que a causa é desconhecida.
5 - Idoso, vítima de queda de escada, sofre fratura de fêmur, é internado e submetido a cirurgia. Evoluía adequadamente, mas adquire
infecção hospitalar, vindo a falecer 12 dias depois por broncopneumonia. Quem deve fornecer a DO e o que deve ser anotado com relação à
causa da morte?
Segundo a definição, óbito por causa externa é aquele em consequência direta ou indireta de um evento lesivo (acidental, não acidental, ou de
intenção indeterminada). Ou seja, decorre de lesão provocada por violência (homicídio, suicídio, acidente ou morte suspeita), qualquer que seja o
tempo decorrido entre o evento e o óbito. O fato de ter havido internação e cirurgia e o óbito ter ocorrido 12 dias depois não interrompe essa
cadeia.
O importante é considerar o nexo de causalidade entre a queda que provocou a lesão e a morte. O corpo deve ser encaminhado ao IML, e a DO,
emitida por médico-legista. Este deve anotar na DO:

Figura 26 - Preenchimento da Declaração de Óbito por causa externa

6 - Médico de um município onde não existe IML é convocado pelo juiz local a fornecer atestado de óbito de pessoa vítima de acidente. O
médico pode se negar a fazê-lo?
Embora a legislação determine que a DO para óbitos por causa externa seja emitida pelo IML, a autoridade policial ou judicial, com base no Código
de Processo Penal Brasileiro, pode designar qualquer pessoa (de preferência as que tiverem habilitações técnicas) para atuar pontualmente como
perito legista em municípios onde não existe esse tipo de serviço. Em face de essa designação não ser opcional, deve-se obedecer à determinação.
O perito eventual (ad hoc) prestará compromisso, e seu exame ficará restrito a um exame externo do cadáver, com descrição das lesões externas,
se existirem, no laudo necroscópico. Na DO, deverá anotar as lesões, o tipo de causa externa, fazendo menção ao número do Boletim de Ocorrência
Policial e preenchendo os campos de 56 a 60 do bloco VIII da DO.

PERGUNTA
2012 - SANTA CASA-SP
6. Um paciente de 72 anos, paraplégico há 27, devido a ferimento por arma de fogo, foi hospitalizado devido a úlceras de
pressão infectadas, acabando por evoluir para sepse e óbito. A conduta correta a ser feita é:
a) atestar sepse como 1ª causa da morte
b) atestar úlceras de pressão infectadas como 1ª causa da morte
c) atestar paraplegia como 1ª causa da morte
d) encaminhar o corpo ao Serviço de Verificação de Óbitos
e) encaminhar o corpo ao Instituto Médico-Legal

Resposta no final do capítulo

7. Legislação
Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei dos Registros Públicos), com as correções da Lei nº 6.216, de 30 de junho de 1975 – Capítulo IX.

- Relacionado ao óbito
Art. 77º: nenhum sepultamento será feito sem certidão oficial de registro do lugar do falecimento, extraída após a lavratura do assento de óbito,
em vista do atestado de médico se houver no lugar, ou, em caso contrário, de 2 pessoas qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a
morte.
1º - Antes de proceder ao assento de óbito de criança de menos de 1 ano, o oficial verificará se houve registro de nascimento que, em caso de falta,
será previamente feito.
2º - A cremação de cadáver somente será feita daquele que houver manifestado a vontade de ser incinerado ou no interesse da saúde pública e se
a DO tiver sido firmada por 2 médicos ou por 1 médico-legista, no caso de morte violenta, depois de autorizada pela autoridade judiciária.
RESUMO
QUADRO-RESUMO
Lesões corpóreas
- São consideradas graves as lesões que tiveram, como consequência:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias.
II - Perigo de vida.
III - Debilidade permanente de membro, sentido ou função.
IV - Aceleração de parto.
- São consideradas lesões gravíssimas aquelas que resultaram em:
I - Incapacidade permanente para o trabalho.
II - Enfermidade incurável.
III - Perda ou inutilização de membro, sentido ou função.
IV - Deformidade permanente.
V - Aborto.
- A energia existe em 5 formas físicas: mecânica, química, térmica, por irradiação ou elétrica. As energias vulnerantes podem ser classificadas,
segundo Borri, em:
· Mecânica;
· Física (calor, frio, elétrica etc.);
· Química (venenos e cáusticos);
· Físico-química (asfixias);
· Bioquímica (intoxicações alimentares e autointoxicações);
· Biodinâmica (estados de “choque”);
· Mista.
- Quanto ao modo da ação da energia vulnerante, pode se apresentar como ativo (ação da energia sobre o corpo da vítima), passivo (ação do
corpo da vítima sobre a energia) e misto (um atua sobre o outro);
- A ação da energia pode ser em um ponto, uma reta ou um plano. A partir desses mecanismos de ação, as lesões podem ser classificadas em
simples ou mistas (combinadas);
- A lesão tecidual dependerá dos seguintes fatores:
· Quantidade de energia transmitida;
· Velocidade de transmissão de energia;
· Superfície da área corpórea em que a energia é aplicada;
· Propriedades elásticas dos tecidos.
Aborto
No Código Penal Brasileiro, o aborto provocado é crime, exceto se não há outro meio de salvar a vida da gestante; se a gravidez resulta de
estupro e o aborto é precedido de consentimento; e se o feto em questão é diagnosticado como anencéfalo.

Morte encefálica
- A doação post mortem deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica feito por 2 médicos (um deles neurologista) não participantes
das equipes de remoção e transplante;
- Os parâmetros clínicos da morte encefálica são: coma aperceptivo, com ausência de atividade motora supraespinal, apneia e ausência de
hipotermia (temperatura ≥32,5°C) ou drogas depressoras do sistema nervoso central ou bloqueadores neuromusculares;
- Os exames complementares para a caracterização da morte encefálica são EEG, PET, angiografia ou Doppler transcraniano.
Declaração de óbito
- Em caso de morte fetal, a DO é fornecida se feto ≥20 semanas, ou peso corpóreo ≥500g ou estatura ≥25cm;
- Causa-base de morte é o agravo que iniciou a cadeia de acontecimentos patológicos que conduziram diretamente à morte;
- Parte VI - Condições e causas de óbito: dividida em I e II.
· Parte I: registrar os acontecimentos em ordem lógica e cronológica, iniciando-se pela causa terminal ou imediata e terminando com a causa-
base;
· Parte II: outras condições significativas que interferiram no curso do processo mórbido.
- Nos casos de causa externa, é sempre preenchida por médico-legista;
- A causa a ser tabulada nas estatísticas de mortalidade é chamada de causa-base de morte.

Respostas das questões do capítulo


1. C
2. D
3. B
4. A
5. C
6. E
04
Ética médica
André Ribeiro Morrone
Edson Lopes Mergulhão
Thaís Minett
Marcos Rodrigo Souza Fernandes
Fábio Roberto Cabar
João Victor Fornari

Neste capítulo, serão abordados os principais temas envolvendo o assunto, como os princípios e as normas que regem a profissão, constantes
do Código de Ética Médica de 1988, o qual considera as mudanças sociais, jurídicas e científicas dos dias atuais. Foi levado em conta os atuais
códigos de ética médicos de outros países e considerou elementos de jurisprudência, posicionamentos que já integram pareceres, decisões e
resoluções da Justiça, das Comissões de Ética locais e resoluções éticas do Conselho Federal de Medicina e dos Conselhos Regionais de Medicina
editadas desde 1988. Além disso, o Código de Ética Médica normatiza as pesquisas na área médica, os documentos médicos como os
prontuários, bem como regulamenta o fornecimento de atestados médicos e prevê punições caso as informações constantes não sejam
verdadeiras. Os aspectos éticos e legais, como sigilo médico e responsabilidade médica, também se aplicam aos documentos médicos, porém a
Constituição de 1988 permite o habeas data, que é o direito de saber ou ter conhecimento das informações relativas à pessoa que busca as
informações. Em 2010, o Código foi substituído, e as principais considerações dizem respeito ao direito de escolha do paciente em relação a seu
tratamento ou aos procedimentos a serem realizados, bem como determinam que, para pacientes sem perspectiva de cura, o médico deve
evitar procedimentos desnecessários e, em caso de doenças incuráveis, oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis, levando sempre em
conta a opção do paciente. Por abordar temas atuais e polêmicos, é importante ter em mente os principais tópicos sobre ética médica e as
recentes modificações, pois podem ser assuntos cobrados nas provas de Residência Médica.

1. Introdução
A Ética estuda o comportamento moral dos homens dentro de uma sociedade, isto é, estuda uma forma específica de comportamento humano.
Baseia-se nos atos humanos voluntários e conscientes e que podem envolver outros indivíduos, grupos sociais e até mesmo toda a sociedade.
Embora estejam profundamente relacionados, os termos “ética” e “moral” não devem ser confundidos, mas entendidos como complementares.
“Ética”, do grego ethos, significa “modo de ser”, “caráter”; e “moral”, do latim mos, significa “costume”, “conjunto de normas adquiridas pelo
homem”. Portanto, esses termos se referem a 2 qualidades especificamente humanas: o “modo de ser” ou o “caráter” de cada um, sobre o qual se
assentam os “costumes” ou as “normas adquiridas”, plasmando o comportamento moral do homem.
A Ética Médica é responsável pelo estudo do comportamento moral dos médicos durante o exercício profissional, ou seja, enquanto estão em
atividade médica. A Deontologia Médica, por sua vez, é responsável pelos estudos dos deveres dos médicos, enquanto a Diceologia estuda os
direitos dos médicos. Essas 2 vertentes estão ordenadas no Código de Ética Médica: os Princípios Fundamentais, os Direitos dos Médicos e os
capítulos relativos às vedações ao médico.
A Bioética, termo criado pelo oncologista e biólogo americano Van Rensselaer Potter em seu livro Bioethics: bridge to the future, é o estudo
sistemático da conduta humana na área das Ciências da Vida e dos Cuidados da Saúde, na medida em que essa conduta é examinada à luz dos
valores e dos princípios morais. Esse conceito é o atualmente empregado e foi lançado pela Encyclopedia of Bioethics em 1978. Como campo
emerso da Ética Médica, a Bioética é fruto da evolução do saber e de concepções novas geradas pelas atuais realidades da Medicina, da Biologia, da
Sociologia e da Filosofia.

Tabela 1 - Princípios da Bioética


Autonomia Respeito à vontade, às crenças e aos valores morais do paciente ou do seu responsável, reconhecendo o domínio deste sobre a
própria vida e o respeito à sua intimidade

Beneficência Atendidos os interesses do paciente e evitados danos, como professam os princípios hipocráticos e o princípio da justiça, que
exige equidade na distribuição de bens e benefícios tanto no exercício da Medicina como nas demais profissões da área da
Saúde

Não A obrigação de não infligir dano intencional (o princípio deriva da máxima da Ética Médica primum non nocere)
maleficência
TEMA FREQUENTE DE PROVA

Os conceitos de autonomia, beneficência e não maleficência devem estar sempre em nossas mentes, uma vez que esses temas são sempre
cobrados nas provas.

A Bioética analisa os problemas éticos (dos pacientes, dos médicos e de todos os envolvidos na assistência) relacionados com o início e o fim da
vida, com a Engenharia Genética, com os transplantes de órgãos, com a reprodução humana assistida com embriões congelados, com a fertilização
in vitro, com o prolongamento artificial da vida, com os direitos dos pacientes terminais, com a morte encefálica, com as diversas formas de
eutanásia etc.
A atividade médica, assim como todas as outras atividades humanas, é regulamentada por normas jurídicas. As normas jurídicas gerais são comuns
a todos os cidadãos, dentro do espaço territorial brasileiro, e as normas jurídicas especiais regulamentam matérias específicas.
Assim, o médico, em sua atividade, está sujeito a diversas normas jurídicas gerais e especiais. As normas gerais são a Constituição Federal de 1988,
o Código Civil de 2002, o Código Penal, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e outras leis estaduais e municipais. As normas especiais que
regulamentam a atividade médica são elaboradas pelo Ministério da Saúde, pelo Conselho Nacional de Saúde, pelo Conselho Federal de Medicina
(CFM) e pelos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), por meio de resoluções e portarias.
Devemos lembrar que há uma hierarquia entre as normas e que nenhuma pode ser contrária à Constituição Federal (Lei Magna).
- Valor: o conceito está ligado às noções de preferência ou de seleção. Rokeach (1973) define valor como uma crença duradoura em um modelo
específico ou estado de existência, pessoal ou socialmente adotado e embasado em uma conduta preexistente. Exemplos de valores individuais:
escolha profissional, autonomia ou paternalismo; valores universais: religião, crime, proibição de incesto etc.;
- Moral: para Barton e Barton (1984), o estudo da Filosofia Moral consiste em questionar-se sobre o que é correto ou incorreto, o que é virtude ou
maldade nas condutas humanas. A moralidade é um sistema de valores do qual resultam normas consideradas corretas por determinada
sociedade. Exemplos: 10 mandamentos, Código Penal etc. A lei moral ou os seus códigos usualmente objetivam ordenar um conjunto de direitos e
deveres do indivíduo e da sociedade; porém, para ser exequível, é necessário que uma autoridade a imponha e castigue o infrator. A moral
pressupõe, além da punição ao infrator, que seus valores sejam impostos e que não possam ser questionados.
Como em todos os códigos de moral, as proibições vêm sempre precedidas de um “não”, ficando implícito que todos têm ou podem ter esses
desejos e que estes devem ser reprimidos, senão ocorrerá castigo.

Tabela 2 - Conceitos de eticidade em pesquisas


Autonomia Consentimento livre e esclarecido dos indivíduos-alvo e proteção a grupos vulneráveis e aos legalmente incapazes (nesse
(respeito à sentido, a pesquisa envolvendo seres humanos deve sempre tratá-los em sua dignidade, respeitá-los em sua autonomia e
individualidade) defendê-los em sua vulnerabilidade)

Beneficência Ponderação entre riscos e benefícios, tanto atuais como potenciais, individuais ou coletivos, comprometendo-se com o
(fazer o bem) máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos

Não Garantia de que danos previsíveis serão evitados


maleficência
(não fazer o
mal)

Justiça e Relevância social com vantagens significativas para os sujeitos da pesquisa e minimização do ônus para os sujeitos
equidade vulneráveis, o que garante a igual consideração dos interesses envolvidos, não se perdendo o sentido de sua destinação
sócio-humanitária

Dentre os fundamentos formais e obrigatórios relacionados à bioética, à eticidade e à pesquisa, destacamos:

A - Consentimento livre e esclarecido

IMPORTANTE

O termo de consentimento livre e esclarecido tem, como finalidade, documentar as possíveis consequências e complicações do ato médico e
cumpre finalidade ético-jurídica em casos de processos médicos.

O médico tem o dever de informar ao paciente os riscos do ato médico, dos procedimentos e das consequências dos medicamentos prescritos.
Além disso, tem responsabilidades civil, penal e disciplinar sobre seus atos, devendo essa responsabilidade ser avaliada em cada caso. O termo de
consentimento livre e esclarecido tem, como finalidade, formalizar ou documentar ao médico e ao paciente as possíveis consequências do ato
médico, inclusive hipóteses de caso fortuito e de força maior, desconhecidas da Ciência e que fogem ao controle da Medicina. Desta forma, o termo
não tem a virtude de excluir a responsabilidade do médico. Não pode ser entendido, pois, como excludente de responsabilidade ou cláusula de não
indenização. O documento cumpre finalidade ético-jurídica e pode ser apreciado como prova da lisura do procedimento médico. Assim, jamais
deve ser de cunho impositivo, devendo ser grafado em linguagem acessível e simples para o entendimento do paciente que subscreverá o
documento, ou de seu representante legal.

PERGUNTA
2015 - UNICAMP
1. Uma mulher de 55 anos é acompanhada com o diagnóstico de câncer. No planejamento terapêutico, é proposta a uma
nova droga que, em outro país, está em experimentação. Considerando o Código de Ética Médica, a prescrição dessa nova
droga é permitida:
a) quando houver aprovação no país de origem
b) quando o Ministério da Saúde autorizar
c) se houver superioridade clínica em relação às drogas em uso no Brasil
d) em situação de terminalidade

Resposta no final do capítulo

B - Comitês de ética em pesquisa


Hospitais e instituições de saúde que realizam pesquisas clínicas devem constituir os Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs), conforme a Resolução
nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que traz as normas regulamentadoras de experimentos com seres humanos no país. O CEP deve
ser constituído por colegiado com número não inferior a 7 membros. Deve haver, também, a participação de profissionais das áreas de Saúde e de
Ciências Exatas, Sociais e Humanas, incluindo, por exemplo, juristas, teólogos, sociólogos, filósofos, bioeticistas e, pelo menos, 1 membro da
sociedade representando os usuários da instituição. Terá sempre caráter multi e transdisciplinar, não devendo haver mais do que metade dos
membros pertencentes à mesma categoria profissional. Poderá, ainda, contar com consultores ad hoc, pessoas pertencentes ou não à instituição,
com a finalidade de fornecer subsídios técnicos. São atribuições dos CEPs:
- Revisar todos os protocolos de pesquisa envolvendo seres humanos, inclusive os multicêntricos, cabendo-lhes a responsabilidade primária
pelas decisões sobre a ética da pesquisa a ser desenvolvida na instituição, de modo a garantir e a resguardar a integridade e os direitos dos
voluntários participantes nas referidas pesquisas;
Emitir parecer consubstanciado por escrito, no prazo máximo de 30 dias, identificando com clareza o ensaio, os documentos estudados e a data de
revisão.
Em princípio, o paciente tem plena capacidade de entender e determinar se, de acordo com o seu entendimento, tem a autonomia de decidir sobre
seu tratamento. Sua vontade como regra geral deve prevalecer, exceto se ele não está com a sua capacidade plena e em casos de iminente perigo
de morte.

2. Conselhos de Medicina
O Conselho Federal e os Conselhos Regionais, em conjunto, constituem uma autarquia dotada de personalidade jurídica de direito público com
autonomia administrativa e financeira. São os órgãos supervisores da ética profissional em toda a República e, ao mesmo tempo, julgadores e
disciplinadores da classe médica, cabendo-lhes zelar e trabalhar, por todos os meios ao seu alcance, pelo perfeito desempenho ético da Medicina e
pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exerçam legalmente. Há, em Brasília, o CFM com jurisdição em todo o território brasileiro, ao
qual ficam subordinados os CRMs, e, em cada capital de estado e no Distrito Federal, há um CRM, cuja jurisdição alcançará a do estado ou do
Distrito Federal.
Os médicos só poderão exercer legalmente a Medicina, em quaisquer dos seus ramos ou especialidades, após o prévio registro de seus títulos,
diplomas, certificados ou cartas no Ministério da Educação e de sua inscrição no CRM sob cuja jurisdição se achar o local de sua atividade. Se o
médico exercer sua atividade por mais de 90 dias em outra jurisdição, ficará obrigado a requerer inscrição secundária no quadro do CRM dessa
jurisdição.

3. Comissões de Ética Médica


As Comissões de Ética Médica compreendem uma extensão do CRM, eleitas pelo corpo clínico das instituições médicas, estando a ele vinculadas.
Devem ser instaladas em unidades de saúde e são órgãos com funções opinativas, educativas e fiscalizadoras do desempenho ético da Medicina.
São atribuições das Comissões de Ética Médica:
- Orientar e fiscalizar o desempenho ético da profissão dentro da instituição;
- Atuar como controle de qualidade das condições de trabalho e prestação de assistência médica na instituição, sugerindo e acompanhando as
modificações necessárias;
- Denunciar às instâncias superiores, inclusive ao CRM, as eventuais más condições de trabalho na instituição;
- Colaborar com o CRM, divulgando resoluções, normas e pareceres;
- Assessorar as diretorias clínica, administrativa e técnica da instituição, dentro da sua área de competência;
- Proceder à sindicância a pedido de interessados, médicos, do próprio CRM ou por iniciativa própria.

4. Código de Ética Médica


O 1º Código de Ética Médica (CEM) do Brasil foi elaborado em 1965 pelo CFM e refletia a Medicina Liberal praticada na época com ênfase nas
relações médico–paciente (4 artigos) e médico–médico (12 artigos), além de um capítulo apenas sobre conferências médicas com 9 artigos, muito
semelhante a um código de etiqueta médica.
Em 1984, esse Código foi substituído pelo Código Brasileiro de Deontologia Médica, elaborado sigilosa e exclusivamente pelo CFM, o qual
enfrentou resistências generalizadas, tendo vida curta e dando origem ao código de 1988. Este apresenta, ao todo, 145 artigos, divididos em 14
capítulos, e é mais extenso e detalhado do que os anteriores.
O CEM, elaborado com a tentativa da participação de vários setores da sociedade e da classe médica, configura-se como uma mescla de código de
moral com código administrativo que regula aspectos práticos da profissão e prevê sanções a quem o infringir. O Código está, portanto,
subordinado à Constituição e às leis.
O CFM, no uso de suas atribuições, reuniu sua plenária em 12 de abril de 2010 e aprovou o novo CEM, o qual traz uma série de questionamentos
importantes acerca do exercício profissional no que se refere aos deveres e aos direitos dos médicos. Pela 1ª vez, temas importantes e polêmicos
são levados em consideração.
O novo CEM é composto de um preâmbulo com 6 incisos, 25 incisos de princípios fundamentais, 10 incisos sobre “direitos”, 118 artigos de normas
deontológicas (sobre “deveres”) e 4 incisos de disposições gerais. Ou seja, foi mantido o esquema de Princípios, Direitos e Deveres; preserva a
essência do anterior, em vigor desde 1988, documento que surgiu na esteira das conquistas da sociedade brasileira e da convivência democrática
que também resultou na Constituição Federal, na consagração da dignidade humana, dos direitos fundamentais, do Estado de Direito, da
liberdade, da igualdade e da Justiça. O Código trata, dentre outros temas, dos direitos dos médicos, da responsabilidade profissional, dos direitos
humanos, da relação com pacientes e familiares, da doação e de transplantes de órgãos, da relação entre médicos, do sigilo profissional, dos
documentos médicos e do ensino, da pesquisa e da publicidade médicos.

IMPORTANTE

O novo Código de Ética Médica, de 2010, além de considerar as mudanças sociais, jurídicas e científicas, levou em conta os atuais códigos de
ética médicos de outros países e considerou elementos de jurisprudência, posicionamentos que já integram pareceres, decisões e resoluções da
Justiça, das Comissões de Ética locais e resoluções éticas do Conselho Federal de Medicina e dos Conselhos Regionais de Medicina editadas
desde 1988.

Relativamente conciso, o novo CEM não entra em detalhes nem considera todas as circunstâncias que envolvem a prática e a ética médica: são
mantidos os princípios tradicionais que regem a prática médica, desde o juramento de Hipócrates – a honestidade e a dedicação do médico, sua
obrigação de preservar a vida, de não prejudicar os pacientes, mas sim respeitar seus interesses, sua privacidade e a confidencialidade. Foi mantida
a dupla finalidade da Deontologia Médica, que supõe a autonomia da prática profissional e a sua regulação. O CEM serve de referência para a
atuação judicante dos Conselhos de Medicina, ao mesmo tempo em que é o guia dos médicos em sua prática cotidiana a serviço dos pacientes,
bem como enfatiza que o respeito pela vida não é exclusividade do médico, mas particularmente aplicável a ele.
O princípio de liberdade do indivíduo é outro pilar do atual Código. O sujeito é livre para escolher seu médico, para aceitar ou rejeitar o que lhe é
oferecido: exames, consultas, internações, atendimento de qualquer espécie, prontuários médicos, participação em pesquisa clínica, transmissão
de dados etc. Mas o exercício da liberdade depende de o paciente receber informações justas, claras e adequadas. Daí a importância do
consentimento informado, livre e esclarecido; o princípio de liberdade do médico deve estar concatenado com a liberdade do paciente. Esse é o
contrato tácito e implícito de todo ato médico e que permeia o novo Código.
O médico deve exercer a Medicina sem discriminação de qualquer natureza, praticando a solidariedade entre seus companheiros e, pessoalmente
responsável pelos seus atos, preservar a sua independência profissional, livrando-se, em benefício do paciente, de influências pessoais ou materiais
de empregadores, pagadores, instituições, indústria e outros interesses.
Outra categoria de princípios ressaltada pelo novo Código diz respeito às habilidades e qualidades exigidas do médico, pois é essa a missão que a
sociedade lhe confere. Para cumprir a sua missão, o médico deve ser competente para tanto. Daí a relevância da habilidade profissional e do
compromisso do médico com a Ciência, reconhecendo, obviamente, seus limites.
O médico tem no Código a preservação de sua independência profissional, daí a preocupação ética de eliminar conflitos, de afastar o médico de
influências desmedidas de empregadores, da indústria e dos interesses puramente empresariais e mercantis.
Por fim, o novo CEM posiciona-se sobre grandes debates contemporâneos no campo da Bioética, como a questão dos transplantes de órgãos, os
ensaios clínicos, a eutanásia, a reprodução assistida e a manipulação genética.

A - Destaques (importantes temas de prova)


A seguir, estão compilados os principais temas abordados nas provas de Residência Médica. Os artigos em que esses princípios estão inseridos são
citados para possibilitar a consulta do dispositivo legal na íntegra.
- Abandono de paciente: o médico não pode abandonar o paciente (Cap. 5, Art. 36);
- Anúncios profissionais: é obrigatório incluir o número do CRM em anúncios (Cap. 12, Art. 118);
- Apoio à categoria: o médico deve apoiar os movimentos da categoria (Cap. 1, XV);
- Condições de trabalho: o médico pode recusar-se a exercer a Medicina em locais inadequados (Cap. 2, IV);
- Conflito de interesses: o médico é obrigado a declarar conflitos de interesses (Cap. 12, Art. 109);
- Consentimento esclarecido: o paciente precisa dar o consentimento (Cap. 4, Art. 22);
- Denúncia de tortura: o médico é obrigado a denunciar prática de tortura (Cap. 4, Art. 25);
- Descontos e consórcios: o médico não pode estar vinculado a cartões de desconto e consórcios (Cap. 8, Art. 72);
- Direito de escolha: o médico deve aceitar as escolhas do paciente (Cap. 1, XXI);
- Falta em plantão: abandonar o plantão é falta grave (Cap. 3, Art. 9);
- Letra legível: a receita e o atestado médico têm de ser legíveis e com identificação (Cap. 3, Art. 11);
- Limitação de tratamento: nada pode limitar o médico em definir o tratamento (Cap. 1, XVI);
- Manipulação genética: o médico não pode praticar a manipulação genética (Cap. 3, Art. 16; Cap. 1, XXV);
- Métodos contraceptivos: o paciente tem direito de decidir sobre métodos contraceptivos (Cap. 5, Art. 42);
- Pacientes terminais: o médico deve evitar procedimentos desnecessários em pacientes terminais (Cap. 5, Art. 41; Cap. 1, XXII);
- Participação em propaganda: o médico não pode participar de propaganda (Cap. 13, Art. 116);
- Prontuário médico: o paciente tem direito a cópia do prontuário médico (Cap. 10, Art. 85; Cap. 10, Art. 87; Cap. 10, Art. 89; Cap. 10, Art. 90);
- Receita sem exame: o médico não pode receitar sem ver o paciente (Cap. 5, Art. 37);
- Relações com farmácias: o médico não pode ter relação com comércio e farmácia (Cap. 8, Art. 69);
- Responsabilidade: a responsabilidade médica é pessoal e não pode ser presumida (Cap. 3, Art. 1º);
- Segunda opinião: o paciente tem direito a uma 2ª opinião e a encaminhamento a outro médico (Cap. 5, Art. 39; Cap. 7, Art. 53; Cap. 7, Art. 52);
- Sexagem: a escolha do sexo do bebê é vedada na reprodução assistida (Cap. 3, Art. 15);
- Sigilo médico: o sigilo médico deve ser preservado, mesmo após a morte (Cap. 1, XI; Cap. 9, Art. 73);
- Uso de placebo: é proibido em pesquisa quando há tratamento eficaz (Cap. 12, Art. 106).

PERGUNTA
2013 - UNICAMP
2. O Código de Ética Médica que passou a vigorar em 2010 traz um direcionamento com relação ao cuidado do paciente
terminal. É correto afirmar que:
a) transfere os cuidados para os familiares do paciente
b) transfere os cuidados para as comissões de cuidados paliativos
c) promove a distanásia
d) promove a ortotanásia

Resposta no final do capítulo


B - Código de Ética Médica na íntegra
- Resolução CFM nº 1.931, de 17 de setembro de 2009
· Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 24 set. 2009. Seção I, p. 90 a 2 Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília, DF, 13 out.
2009. Seção I, p. 173 – retificação:
* Aprova o CEM;
* O CFM, no uso das atribuições conferidas pela Lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto nº 44.045, de 19 de
julho de 1958, modificado pelo Decreto nº 6.821, de 14 de abril de 2009, e pela Lei nº 11.000, de 15 de dezembro de 2004, e
consubstanciado nas Leis nº 6.838, de 29 de outubro de 1980 e Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999;
* Considerando que os Conselhos de Medicina são ao mesmo tempo julgadores e disciplinadores da classe médica, cabendo-lhes zelar e
trabalhar, por todos os meios ao seu alcance, pelo perfeito desempenho ético da Medicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão e
dos que a exerçam legalmente;
* Considerando que as normas do CEM devem submeter-se aos dispositivos constitucionais vigentes;
* Considerando a busca de melhor relacionamento com o paciente e a garantia de maior autonomia à sua vontade;
* Considerando as propostas formuladas ao longo dos anos de 2008 e 2009 e pelos CRMs, pelas entidades médicas, pelos médicos e por
instituições científicas e universitárias para a revisão do atual CEM;
* Considerando as decisões da IV Conferência Nacional de Ética Médica, que elaborou, com participação de delegados médicos de todo o
Brasil, um novo CEM revisado;
* Considerando o decidido pelo Conselho Pleno Nacional, reunido em 29 de agosto de 2009;
* Considerando, finalmente, o decidido em sessão plenária de 17 de setembro de 2009.
· Resolve:
* Art. 1º: aprovar o CEM, anexo a esta Resolução, após sua revisão e atualização;
* Art. 2º: o CFM, sempre que necessário, expedirá resoluções que complementem esse CEM e facilitem sua aplicação;
* Art. 3º: o Código anexo a esta Resolução entra em vigor 180 dias após a data de sua publicação, e, a partir daí, revoga-se o CEM aprovado
pela Resolução CFM nº 1.246, publicada no Diário Oficial da União, no dia 26 de janeiro de 1988, Seção I, páginas 1.574 a 1.579, bem como as
demais disposições em contrário.
· Preâmbulo:
* I - O presente CEM contém as normas que devem ser seguidas pelos médicos no exercício de sua profissão, inclusive no exercício de
atividades relativas ao ensino, à pesquisa e à administração de serviços de saúde, bem como no exercício de quaisquer outras atividades em
que se utilize o conhecimento advindo do estudo da Medicina.
* II - As organizações de prestação de serviços médicos estão sujeitas às normas deste Código.
* III - Para o exercício da Medicina, impõe-se a inscrição no Conselho Regional do respectivo estado, território ou Distrito Federal.
* IV - A fim de garantir o acatamento e a cabal execução deste Código, o médico comunicará ao CRM, com discrição e fundamento, fatos de
que tenha conhecimento e que caracterizem possível infração do presente Código e das demais normas que regulam o exercício da
Medicina.
* V - A fiscalização do cumprimento das normas estabelecidas neste Código é atribuição dos Conselhos de Medicina, das Comissões de Ética
e dos médicos em geral.
* VI - Este CEM é composto de 25 princípios fundamentais do exercício da Medicina, 10 normas diceológicas, 118 normas deontológicas e 4
disposições gerais. A transgressão das normas deontológicas sujeitará os infratores às penas disciplinares previstas em lei.

a) Capítulo I – Princípios fundamentais


I - A Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e será exercida sem discriminação de nenhuma natureza.
II - O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor da sua
capacidade profissional.
III - Para exercer a Medicina com honra e dignidade, o médico necessita ter boas condições de trabalho e ser remunerado de forma justa.
IV - Ao médico cabe zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da Medicina, bem como pelo prestígio e bom conceito da profissão.
V - Compete ao médico aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente.
VI - O médico guardará absoluto respeito pelo ser humano e atuará sempre em seu benefício. Jamais utilizará seus conhecimentos para causar
sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade.
VII - O médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a
quem não deseje, excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer
danos à saúde do paciente.
VIII - O médico não pode, em nenhuma circunstância ou sob nenhum pretexto, renunciar à sua liberdade profissional, nem permitir quaisquer
restrições ou imposições que possam prejudicar a eficiência e a correção de seu trabalho.
IX - A Medicina não pode, em nenhuma circunstância ou forma, ser exercida como comércio.
X - O trabalho do médico não pode ser explorado por terceiros com objetivos de lucro, finalidade política ou religiosa.
XI - O médico guardará sigilo a respeito das informações de que detenha conhecimento no desempenho de suas funções, com exceção dos casos
previstos em lei.
XII - O médico empenhar-se-á pela melhor adequação do trabalho ao ser humano, pela eliminação e pelo controle dos riscos à saúde inerentes às
atividades laborais.
XIII - O médico comunicará às autoridades competentes quaisquer formas de deterioração do ecossistema, prejudiciais à saúde e à vida.
XIV - O médico empenhar-se-á em melhorar os padrões dos serviços médicos e em assumir sua responsabilidade em relação à saúde pública, à
educação sanitária e à legislação referente à saúde.
XV - O médico será solidário com os movimentos de defesa da dignidade profissional, seja por remuneração digna e justa, seja por condições de
trabalho compatíveis com o exercício ético-profissional da Medicina e seu aprimoramento técnico-científico.
XVI - Nenhuma disposição estatutária ou regimental de hospital ou de instituição, pública ou privada, limitará a escolha, pelo médico, dos meios
cientificamente reconhecidos a serem praticados para o estabelecimento do diagnóstico e da execução do tratamento, salvo quando em benefício
do paciente.
XVII - As relações do médico com os demais profissionais devem basear-se no respeito mútuo, na liberdade e na independência de cada um,
buscando sempre o interesse e o bem-estar do paciente.
XVIII - O médico terá, para com os colegas, respeito, consideração e solidariedade, sem se eximir de denunciar atos que contrariem os postulados
éticos.
XIX - O médico se responsabilizará, em caráter pessoal e nunca presumido, pelos seus atos profissionais, resultantes de relação particular de
confiança e executados com diligência, competência e prudência.
XX - A natureza personalíssima da atuação profissional do médico não caracteriza relação de consumo.
XXI - No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com seus ditames de consciência e as previsões legais, o médico aceitará as
escolhas de seus pacientes, relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos por eles expressos, desde que adequadas ao caso e
cientificamente reconhecidas.
XXII - Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e
propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos apropriados.
XXIII - Quando envolvido na produção de conhecimento científico, o médico agirá com isenção e independência, visando ao maior benefício para
os pacientes e a sociedade.
XXIV - Sempre que participar de pesquisas envolvendo seres humanos ou qualquer animal, o médico respeitará as normas éticas nacionais, bem
como protegerá a vulnerabilidade dos sujeitos da pesquisa.
XXV - Na aplicação dos conhecimentos criados pelas novas tecnologias, considerando-se suas repercussões tanto nas gerações presentes quanto
nas futuras, o médico zelará para que as pessoas não sejam discriminadas por nenhuma razão vinculada a herança genética, protegendo-as em sua
dignidade, identidade e integridade.

b) Capítulo II – Direitos dos médicos


- São direitos do médico:
I - Exercer a Medicina sem ser discriminado por questões de religião, etnia, sexo, nacionalidade, cor, orientação sexual, idade, condição social,
opinião política ou de qualquer outra natureza.
II - Indicar o procedimento adequado ao paciente, observadas as práticas cientificamente reconhecidas e respeitada a legislação vigente.
III - Apontar falhas em normas, contratos e práticas internas das instituições em que trabalhe quando as julgar indignas do exercício da profissão
ou prejudiciais a si mesmo, ao paciente ou a terceiros, devendo dirigir-se, nesses casos, aos órgãos competentes e, obrigatoriamente, à Comissão
de Ética e ao CRM de sua jurisdição.
IV - Recusar-se a exercer sua profissão em instituição pública ou privada onde as condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar a
própria saúde ou a do paciente, bem como a dos demais profissionais. Nesse caso, comunicará imediatamente sua decisão à Comissão de Ética e
ao CRM.
V - Suspender suas atividades, individual ou coletivamente, quando a instituição pública ou privada para a qual trabalhe não oferecer condições
adequadas para o exercício profissional ou não o remunerar digna e justamente, ressalvadas as situações de urgência e emergência, devendo
comunicar imediatamente sua decisão ao CRM.
VI - Internar e assistir seus pacientes em hospitais privados e públicos com caráter filantrópico ou não, ainda que não faça parte do seu corpo
clínico, respeitadas as normas técnicas aprovadas pelo CRM da pertinente jurisdição.
VII - Requerer desagravo público ao CRM quando atingido no exercício de sua profissão.
VIII - Decidir, em qualquer circunstância, levando em consideração sua experiência e capacidade profissional, o tempo a ser dedicado ao paciente,
evitando que o acúmulo de encargos ou de consultas venha a prejudicá-lo.
IX - Recusar-se a realizar atos médicos que, embora permitidos por lei, sejam contrários aos ditames de sua consciência.
X - Estabelecer seus honorários de forma justa e digna.

c) Capítulo III – Responsabilidade profissional


- São vedados ao médico:
Art. 1º: causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência.
Parágrafo único. A responsabilidade médica é sempre pessoal e não pode ser presumida.
Art. 2º: delegar a outros profissionais atos ou atribuições exclusivos da profissão médica.
Art. 3º: deixar de assumir responsabilidade sobre procedimento médico que indicou ou do qual participou, mesmo quando vários médicos tenham
assistido o paciente.
Art. 4º: deixar de assumir a responsabilidade de qualquer ato profissional que tenha praticado ou indicado, ainda que solicitado ou consentido pelo
paciente ou por seu representante legal.
Art. 5º: assumir responsabilidade por ato médico que não praticou ou do qual não participou.
Art. 6º: atribuir seus insucessos a terceiros e a circunstâncias ocasionais, exceto nos casos em que isso possa ser devidamente comprovado.
Art. 7º: deixar de atender em setores de urgência e emergência, quando for de sua obrigação fazê-lo, expondo a risco a vida de pacientes, mesmo
respaldado por decisão majoritária da categoria.
Art. 8º: afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo temporariamente, sem deixar outro médico encarregado do atendimento de seus
pacientes internados ou em estado grave.
Art. 9º: deixar de comparecer a plantão em horário preestabelecido ou abandoná-lo sem a presença de substituto, salvo por justo impedimento.
Parágrafo único. Na ausência de médico plantonista substituto, a direção técnica do estabelecimento de saúde deve providenciar a substituição.
Art. 10º: acumpliciar-se com os que exercem ilegalmente a Medicina ou com profissionais ou instituições médicas nas quais se pratiquem atos
ilícitos.
Art. 11º: receitar, atestar ou emitir laudos de forma secreta ou ilegível, sem a devida identificação de seu número de registro no CRM da sua
jurisdição, bem como assinar em branco folhas de receituários, atestados, laudos ou quaisquer outros documentos médicos.
Art. 12º: deixar de esclarecer o trabalhador sobre as condições de trabalho que ponham em risco sua saúde, devendo comunicar o fato aos
empregadores responsáveis.
Parágrafo único. Se o fato persistir, será dever do médico comunicar o ocorrido às autoridades competentes e ao CRM.
Art. 13º: deixar de esclarecer o paciente sobre as determinantes sociais, ambientais ou profissionais de sua doença.
Art. 14º: praticar ou indicar atos médicos desnecessários ou proibidos pela legislação vigente no país.
Art. 15º: descumprir legislação específica nos casos de transplantes de órgãos ou de tecidos, esterilização, fecundação artificial, abortamento,
manipulação ou terapia genética.
§ 1º: no caso de procriação medicamente assistida, a fertilização não deve conduzir sistematicamente à ocorrência de embriões supranumerários.
§ 2º: o médico não deve realizar a procriação medicamente assistida com nenhum dos seguintes objetivos:
I - Criar seres humanos geneticamente modificados.
II - Criar embriões para investigação.
III - Criar embriões com finalidades de escolha de sexo, eugenia ou para originar híbridos ou quimeras.
§ 3º: praticar procedimento de procriação medicamente assistida sem que os participantes estejam de inteiro acordo e devidamente esclarecidos
sobre ele.
Art. 16º: intervir sobre o genoma humano com vista à sua modificação, exceto na terapia gênica, excluindo-se qualquer ação em células
germinativas que resulte na modificação genética da descendência.
Art. 17º: deixar de cumprir, salvo por motivo justo, as normas emanadas dos Conselhos Federal e Regionais de Medicina e de atender às suas
requisições administrativas, intimações ou notificações no prazo determinado.
Art. 18º: desobedecer aos acórdãos e às resoluções dos Conselhos Federal e Regionais de Medicina ou desrespeitá-los.
Art. 19º: deixar de assegurar, quando investido em cargo ou função de direção, os direitos dos médicos e as demais condições adequadas para o
desempenho ético-profissional da Medicina.
Art. 20º: permitir que interesses pecuniários, políticos, religiosos ou de quaisquer outras ordens, do seu empregador ou superior hierárquico ou do
financiador público ou privado da assistência à saúde, interfiram na escolha dos melhores meios de prevenção, diagnóstico ou tratamento
disponíveis e cientificamente reconhecidos no interesse da saúde do paciente ou da sociedade.
Art. 21º: deixar de colaborar com as autoridades sanitárias ou infringir a legislação pertinente.

d) Capítulo IV – Direitos humanos


- São vedados ao médico:
Art. 22º: deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em
caso de risco iminente de morte.
Art. 23º: tratar o ser humano sem civilidade ou consideração, desrespeitar sua dignidade ou discriminá-lo de qualquer forma ou sob qualquer
pretexto.
Art. 24º: deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua
autoridade para limitá-lo.
Art. 25º: deixar de denunciar práticas de tortura ou de procedimentos degradantes, desumanos ou cruéis, praticá-las, bem como ser conivente com
quem as realize, ou fornecer meios, instrumentos, substâncias ou conhecimentos que as facilitem.
Art. 26º: deixar de respeitar a vontade de qualquer pessoa, considerada capaz física e mentalmente, em greve de fome, ou alimentá-la
compulsoriamente, devendo cientificá-la das prováveis complicações do jejum prolongado e, na hipótese de risco iminente de morte, tratá-la.
Art. 27º: desrespeitar a integridade física e mental do paciente ou utilizar-se de meio que possa alterar sua personalidade ou sua consciência em
investigação policial ou de qualquer outra natureza.
Art. 28º: desrespeitar o interesse e a integridade do paciente em qualquer instituição na qual esteja recolhido, independente da própria vontade.
Parágrafo único: caso ocorram quaisquer atos lesivos à personalidade e à saúde física ou mental dos pacientes confiados ao médico, este estará
obrigado a denunciar o fato à autoridade competente e ao CRM.
Art. 29º: participar, direta ou indiretamente, da execução de pena de morte.
Art. 30º: usar da profissão para corromper costumes, cometer ou favorecer crime.

e) Capítulo V – Relação com pacientes e familiares


- São vedados ao médico:
Art. 31º: desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou
terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte.
Art. 32º: deixar de usar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento, cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do
paciente.
Art. 33º: deixar de atender paciente que procure seus cuidados profissionais em casos de urgência ou emergência, quando não haja outro médico
ou serviço médico em condições de fazê-lo.
Art. 34º: deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta
lhe possa provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a comunicação a seu representante legal.
Art. 35º: exagerar a gravidade do diagnóstico ou do prognóstico, complicar a terapêutica ou exceder-se no número de visitas, consultas ou
quaisquer outros procedimentos médicos.
Art. 36º: abandonar paciente sob seus cuidados.
§ 1º: ocorrendo fatos que, a seu critério, prejudiquem o bom relacionamento com o paciente ou o pleno desempenho profissional, o médico tem o
direito de renunciar ao atendimento, desde que o comunique previamente ao paciente ou a seu representante legal, assegurando-se da
continuidade dos cuidados e fornecendo todas as informações necessárias ao médico que lhe suceder.
§ 2º: salvo por motivo justo, comunicado ao paciente ou aos seus familiares, o médico não abandonará o primeiro por ser este portador de
moléstia crônica ou incurável e continuará a assisti-lo ainda que para cuidados paliativos.
Art. 37º: prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em casos de urgência ou emergência e
impossibilidade comprovada de realizá-lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente após cessar o impedimento.
Parágrafo único: o atendimento médico a distância, nos moldes da telemedicina ou de outro método, dar-se-á sob regulamentação do CFM.
Art. 38º: desrespeitar o pudor de qualquer pessoa sob seus cuidados profissionais.
Art. 39º: opor-se à realização de junta médica ou 2ª opinião solicitada pelo paciente ou por seu representante legal.
Art. 40º: aproveitar-se de situações decorrentes da relação médico–paciente para obter vantagem física, emocional, financeira ou de qualquer
outra natureza.
Art. 41º: abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal.
Parágrafo único: nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis, sem empreender
ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua
impossibilidade, a de seu representante legal.
Art. 42º: desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre método contraceptivo, devendo sempre esclarecê-lo sobre indicação,
segurança, reversibilidade e risco de cada método.

f) Capítulo VI – Doação e transplante de órgãos e tecidos


- São vedados ao médico:
Art. 43º: participar do processo de diagnóstico da morte ou da decisão de suspender meios artificiais para prolongar a vida do possível doador,
quando pertencente à equipe de transplante.
Art. 44º: deixar de esclarecer o doador, o receptor ou seus representantes legais sobre os riscos decorrentes de exames, intervenções cirúrgicas e
outros procedimentos nos casos de transplantes de órgãos.
Art. 45º: retirar órgão de doador vivo quando este for juridicamente incapaz, mesmo se houver autorização de seu representante legal, exceto nos
casos permitidos e regulamentados em lei.
Art. 46º: participar direta ou indiretamente da comercialização de órgãos ou tecidos humanos.

g) Capítulo VII – Relação entre médicos


- São vedados ao médico:
Art. 47º: usar de sua posição hierárquica para impedir, por motivo de crença religiosa, convicção filosófica, política, interesse econômico ou
qualquer outro, que não técnico-científico ou ético, que as instalações e os demais recursos da instituição sob sua direção sejam utilizados por
outros médicos no exercício da profissão, particularmente se são os únicos existentes no local.
Art. 48º: assumir emprego, cargo ou função para suceder médico demitido ou afastado em represália à atitude de defesa de movimentos legítimos
da categoria ou da aplicação deste Código.
Art. 49º: assumir condutas contrárias a movimentos legítimos da categoria médica com a finalidade de obter vantagens.
Art. 50º: acobertar erro ou conduta antiética de médico.
Art. 51º: praticar concorrência desleal com outro médico.
Art. 52º: desrespeitar a prescrição ou o tratamento de paciente determinados por outro médico, mesmo quando em função de chefia ou de
auditoria, salvo em situação de indiscutível benefício para o paciente, devendo comunicar imediatamente o fato ao médico responsável.
Art. 53º: deixar de encaminhar o paciente que lhe foi enviado para procedimento especializado de volta ao médico assistente e, na ocasião, deixar
de fornecer-lhe as devidas informações sobre o ocorrido no período em que se responsabilizou por ele.
Art. 54º: deixar de fornecer a outro médico informações sobre o quadro clínico do paciente, desde que autorizado por este ou por seu
representante legal.
Art. 55º: deixar de informar ao substituto o quadro clínico do paciente sob sua responsabilidade ao ser substituído ao fim do seu turno de trabalho.
Art. 56º: utilizar-se de sua posição hierárquica para impedir que seus subordinados atuem dentro dos princípios éticos.
Art. 57º: deixar de denunciar atos que contrariem os postulados éticos à Comissão de Ética da instituição em que exerce seu trabalho profissional e,
se necessário, ao CRM.

h) Capítulo VIII – Remuneração profissional


- São vedados ao médico:
Art. 58º: o exercício mercantilista da Medicina.
Art. 59º: oferecer ou aceitar remuneração ou vantagens por paciente encaminhado ou recebido, bem como por atendimentos não prestados.
Art. 60º: permitir a inclusão de nomes de profissionais que não participaram do ato médico para efeito de cobrança de honorários.
Art. 61º: deixar de ajustar previamente com o paciente o custo estimado dos procedimentos.
Art. 62º: subordinar os honorários ao resultado do tratamento ou à cura do paciente.
Art. 63º: explorar o trabalho de outro médico, isoladamente ou em equipe, na condição de proprietário, sócio, dirigente ou gestor de empresas ou
instituições prestadoras de serviços médicos.
Art. 64º: agenciar, aliciar ou desviar, por qualquer meio, para clínica particular ou instituições de qualquer natureza, paciente atendido pelo sistema
público de saúde ou dele utilizar-se para a execução de procedimentos médicos em sua clínica privada, como forma de obter vantagens pessoais.
Art. 65º: cobrar honorários de paciente assistido em instituição que se destina à prestação de serviços públicos, ou receber remuneração de
paciente como complemento de salário ou de honorários.
Art. 66º: praticar dupla cobrança por ato médico realizado.
Parágrafo único: a complementação de honorários em serviço privado pode ser cobrada quando prevista em contrato.
Art. 67º: deixar de manter a integralidade do pagamento e permitir descontos ou retenção de honorários, salvo os previstos em lei, quando em
função de direção ou de chefia.
Art. 68º: exercer a profissão com interação ou dependência de farmácia, indústria farmacêutica, óptica ou qualquer organização destinada à
fabricação, manipulação, promoção ou comercialização de produtos de prescrição médica, qualquer que seja sua natureza.
Art. 69º: exercer simultaneamente a Medicina e a Farmácia ou obter vantagem pelo encaminhamento de procedimentos, pela comercialização de
medicamentos, órteses, próteses ou implantes de qualquer natureza, cuja compra decorra de influência direta em virtude de sua atividade
profissional.
Art. 70º: deixar de apresentar separadamente seus honorários quando outros profissionais participarem do atendimento ao paciente.
Art. 71º: oferecer seus serviços profissionais como prêmio, qualquer que seja sua natureza.
Art. 72º: estabelecer vínculo de qualquer natureza com empresas que anunciam ou comercializam planos de financiamento, cartões de descontos
ou consórcios para procedimentos médicos.

i) Capítulo IX – Sigilo profissional


- São vedados ao médico:
Art. 73º: revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou consentimento,
por escrito, do paciente.
Parágrafo único: permanece essa proibição:
· Mesmo que o fato seja de conhecimento público ou o paciente tenha falecido;
· Quando de seu depoimento como testemunha. Nessa hipótese, o médico comparecerá perante a autoridade e declarará o seu impedimento;
· Na investigação de suspeita de crime, o médico estará impedido de revelar segredo que possa expor o paciente a processo penal.
Art. 74º: revelar sigilo profissional relacionado a paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou representantes legais, desde que o menor tenha
capacidade de discernimento, salvo quando a não revelação possa acarretar dano ao paciente.
Art. 75º: fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos
médicos, em meios de comunicação em geral, mesmo com autorização do paciente.
Art. 76º: revelar informações confidenciais obtidas quando do exame médico de trabalhadores, inclusive por exigência dos dirigentes de empresas
ou de instituições, salvo se o silêncio puser em risco a saúde dos empregados ou da comunidade.
Art. 77º: prestar informações a empresas seguradoras sobre as circunstâncias da morte do paciente sob seus cuidados, além das contidas na
Declaração de Óbito, salvo por expresso consentimento do seu representante legal.
Art. 78º: deixar de orientar seus auxiliares e alunos a respeitar o sigilo profissional e zelar para que seja por eles mantido.
Art. 79º: deixar de guardar o sigilo profissional na cobrança de honorários por meio judicial ou extrajudicial.

j) Capítulo X – Documentos médicos


- São vedados ao médico:
Art. 80º: expedir documento médico sem ter praticado ato profissional que o justificasse, que seja tendencioso ou que não corresponda à verdade.
Art. 81º: atestar como forma de obter vantagens.
Art. 82º: usar formulários de instituições públicas para prescrever ou atestar fatos verificados na clínica privada.
Art. 83º: atestar óbito quando não o tenha verificado pessoalmente, ou quando não tenha prestado assistência ao paciente, salvo, no último caso,
se o fizer como plantonista, médico substituto ou em caso de necrópsia e verificação médico-legal.
Art. 84º: deixar de atestar óbito de paciente ao qual vinha prestando assistência, exceto quando houver indícios de morte violenta.
Art. 85º: permitir o manuseio e o conhecimento dos prontuários por pessoas não obrigadas ao sigilo profissional quando sob sua responsabilidade.
Art. 86º: deixar de fornecer laudo médico ao paciente ou a seu representante legal quando aquele for encaminhado ou transferido para
continuação do tratamento ou em caso de solicitação de alta.
Art. 87º: deixar de elaborar prontuário legível para cada paciente.
§ 1º: o prontuário deve conter os dados clínicos necessários para a boa condução do caso, sendo preenchido, em cada avaliação, em ordem
cronológica com data, hora, assinatura e número de registro do médico no CRM.
§ 2º: o prontuário estará sob a guarda do médico ou da instituição que assiste o paciente.
Art. 88º: negar ao paciente acesso a seu prontuário, deixar de lhe fornecer cópia quando solicitada, bem como deixar de lhe oferecer explicações
necessárias à sua compreensão, salvo quando ocasionem riscos ao próprio paciente ou a terceiros.
Art. 89º: liberar cópias do prontuário sob sua guarda, salvo quando autorizado, por escrito, pelo paciente, para atender ordem judicial ou para a sua
própria defesa.
§ 1º: quando requisitado judicialmente, o prontuário será disponibilizado ao perito médico nomeado pelo juiz.
§ 2º: quando o prontuário for apresentado em sua própria defesa, o médico deverá solicitar que seja observado o sigilo profissional.
Art. 90º: deixar de fornecer cópia do prontuário médico de seu paciente quando de sua requisição pelos CRMs.
Art. 91º: deixar de atestar atos executados no exercício profissional, quando solicitado pelo paciente ou por seu representante legal.

k) Capítulo XI – Auditoria e perícia médica


- São vedados ao médico:
Art. 92º: assinar laudos periciais, auditoriais ou de verificação médico-legal quando não tenha realizado pessoalmente o exame.
Art. 93º: ser perito ou auditor do próprio paciente, de pessoa de sua família ou de qualquer outra com a qual tenha relações capazes de influir em
seu trabalho ou de empresa em que atue ou tenha atuado.
Art. 94º: intervir, quando em função de auditor, assistente técnico ou perito, nos atos profissionais de outro médico, ou fazer qualquer apreciação
na presença do examinado, devendo reservar suas observações para o relatório.
Art. 95º: realizar exames médico-periciais de corpo de delito em seres humanos no interior de prédios ou de dependências de delegacias de polícia,
unidades militares, casas de detenção e presídios.
Art. 96º: receber remuneração ou gratificação por valores vinculados à glosa ou ao sucesso da causa, quando na função de perito ou de auditor.
Art. 97º: autorizar, vetar, bem como modificar, quando na função de auditor ou de perito, procedimentos propedêuticos ou terapêuticos
instituídos, salvo, no último caso, em situações de urgência, emergência ou iminente perigo de morte do paciente, comunicando, por escrito, o fato
ao médico assistente.
Art. 98º: deixar de atuar com absoluta isenção quando designado para servir como perito ou auditor, bem como ultrapassar os limites de suas
atribuições e de sua competência.
Parágrafo único: o médico tem direito a justa remuneração pela realização do exame pericial.

l) Capítulo XII – Ensino e pesquisa médica


- São vedados ao médico:
Art. 99º: participar de qualquer tipo de experiência envolvendo seres humanos com fins bélicos, políticos, étnicos, eugênicos ou outros que
atentem contra a dignidade humana.
Art. 100º: deixar de obter aprovação de protocolo para a realização de pesquisa em seres humanos, de acordo com a legislação vigente.
Art. 101º: deixar de obter do paciente ou de seu representante legal o termo de consentimento livre e esclarecido para a realização de pesquisa
envolvendo seres humanos, após as devidas explicações sobre a natureza e as consequências da pesquisa.
Parágrafo único: no caso de o sujeito de pesquisa ser menor de idade, além do consentimento de seu representante legal, é necessário seu
assentimento livre e esclarecido na medida de sua compreensão.
Art. 102º: deixar de utilizar a terapêutica correta, quando seu uso estiver liberado no país.
Parágrafo único: a utilização de terapêutica experimental é permitida quando aceita pelos órgãos competentes e com o consentimento do paciente
ou de seu representante legal, adequadamente esclarecidos da situação e das possíveis consequências.
Art. 103º: realizar pesquisa em uma comunidade sem antes informá-la e esclarecê-la sobre a natureza da investigação e deixar de atender ao
objetivo de proteção à Saúde Pública, respeitadas as características locais e a legislação pertinente.
Art. 104º: deixar de manter independência profissional e científica em relação a financiadores de pesquisa médica, satisfazendo interesse comercial
ou obtendo vantagens pessoais.
Art. 105º: realizar pesquisa médica em sujeitos direta ou indiretamente dependentes ou subordinados ao pesquisador.
Art. 106º: manter vínculo de qualquer natureza com pesquisas médicas, envolvendo seres humanos, que usem placebo em seus experimentos,
quando houver tratamento eficaz e efetivo para a doença pesquisada.
Art. 107º: publicar em seu nome trabalho científico do qual não tenha participado; atribuir-se autoria exclusiva de trabalho realizado por seus
subordinados ou outros profissionais, mesmo quando executados sob sua orientação, bem como omitir do artigo científico o nome de quem dele
tenha participado.
Art. 108º: utilizar dados, informações ou opiniões ainda não publicados, sem referência ao seu autor ou sem sua autorização por escrito.
Art. 109º: deixar de zelar, quando docente ou autor de publicações científicas, pela veracidade, clareza e imparcialidade das informações
apresentadas, bem como deixar de declarar relações com a indústria de medicamentos, órteses, próteses, equipamentos, implantes de qualquer
natureza e outras que possam configurar conflitos de interesse, ainda que em potencial.
Art. 110º: praticar a Medicina, no exercício da docência, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, sem zelar por sua
dignidade e privacidade ou discriminando aqueles que negarem o consentimento solicitado.

m) Capítulo XIII – Publicidade médica


- São vedados ao médico:
Art. 111º: permitir que sua participação na divulgação de assuntos médicos, em qualquer meio de comunicação de massa, deixe de ter caráter
exclusivamente de esclarecimento e educação da sociedade.
Art. 112º: divulgar informação sobre assunto médico de forma sensacionalista, promocional ou de conteúdo inverídico.
Art. 113º: divulgar, fora do meio científico, processo de tratamento ou descoberta cujo valor ainda não esteja expressamente reconhecido
cientificamente por órgão competente.
Art. 114º: consultar, diagnosticar ou prescrever por qualquer meio de comunicação de massa.
Art. 115º: anunciar títulos científicos que não possa comprovar e especialidade ou área de atuação para a qual não esteja qualificado e registrado no
CRM.
Art. 116º: participar de anúncios de empresas comerciais, qualquer que seja sua natureza, valendo-se de sua profissão.
Art. 117º: apresentar como originais quaisquer ideias, descobertas ou ilustrações que na realidade não o sejam.
Art. 118º: deixar de incluir, em anúncios profissionais de qualquer ordem, o seu número de inscrição no CRM.
Parágrafo único: dos anúncios de estabelecimentos de saúde devem constar o nome e o número de registro no CRM do diretor técnico.

n) Capítulo XIV – Disposições gerais


I - O médico portador de doença incapacitante para o exercício profissional, apurada pelo CRM em procedimento administrativo com perícia
médica, terá seu registro suspenso enquanto perdurar sua incapacidade.
II - Os médicos que cometerem faltas graves previstas neste Código e cuja continuidade do exercício profissional constitua risco de danos
irreparáveis ao paciente ou à sociedade poderão ter o exercício profissional suspenso mediante procedimento administrativo específico.
III - O CFM, ouvidos os CRMs e a categoria médica, promoverá a revisão e a atualização do presente Código quando necessárias.
IV - As omissões deste Código serão sanadas pelo CFM.

C - Comentários ao Código de Ética Médica


De modo geral, muitos princípios foram mantidos, outros atualizados, e alguns inovaram no novo CEM, e o conteúdo de algumas resoluções do
CFM também foi trazido ao novo Código. Podemos destacar os seguintes tópicos:
Há a separação clara dos princípios fundamentais e dos direitos dos médicos em relação aos deveres mandamentais;
- Deixa claro que o não cumprimento das normas deontológicas sujeitará os infratores às penas disciplinares;
- A natureza do ato médico é personalíssima e não caracteriza relação de consumo;
- A responsabilidade profissional é pessoal, e a culpa não pode ser presumida;
- Traz, tacitamente, o conceito da ortotanásia e dos cuidados paliativos aos pacientes em situações clínicas irreversíveis e terminais;
- Proíbe o médico de abreviar a vida do paciente mesmo com o consentimento e limita o uso de ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou
obstinadas nos casos de doença incurável e terminal, sempre em sintonia com a vontade do paciente;
- No caso da ausência de plantonista substituto, a direção técnica do estabelecimento de saúde deverá providenciar a substituição;
- Regulamenta alguns tópicos da reprodução assistida e terapia genética;
- O atendimento médico a distância por telemedicina ou outro método é regulamentado pelo CFM;
- Veda o mercantilismo na Medicina, a dupla cobrança de honorários, o vínculo com empresas que comercializem planos de financiamento, cartões
de desconto ou consórcios para procedimentos médicos;
- Proíbe a quebra do segredo profissional nos casos de investigação criminal quando possa expor o paciente a processo penal;
- O sigilo profissional só pode ser revelado por motivo justo, dever legal ou consentimento por escrito do paciente;
- Proíbe o médico de fazer referências a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou fotos em anúncios ou divulgação de assuntos médicos nos
meios de comunicação em geral, mesmo com autorização dos pacientes;
- Regulamenta o prontuário médico quanto à forma, à guarda e ao fornecimento de cópias;
- Veda a realização de exames médico-periciais de corpo de delito em seres humanos em delegacias de polícia, unidades militares, casas de
detenção e presídios;
- O médico perito ou auditor não pode ter sua remuneração ou gratificação vinculada à glosa ou ao sucesso da causa;
- Nas pesquisas em menor de idade, além do consentimento do responsável legal, é necessária a concordância do menor na medida de sua
compreensão;
- Veda o uso de placebo nas pesquisas envolvendo seres humanos quando houver tratamento eficaz e efetivo para a doença pesquisada;
- O médico nas pesquisas deve zelar pela veracidade, clareza e imparcialidade, assim como declarar conflitos de interesse com relação a indústrias
de remédios, próteses, equipamentos etc.;
- Os anúncios médicos devem conter o número da inscrição no CRM;
- Há a suspensão cautelar do exercício profissional nos casos de faltas graves, para evitar danos irreparáveis ao paciente e à sociedade.

DICA

O que não se pode deixar de atentar é para o fato de que as provas-teste colocam situações referentes a determinado artigo e perguntam se
referem aos capítulos em específico, como direito médico, disposição geral etc. O principal não é memorizar cada um dos capítulos, e sim
identificá-los no enunciado.

5. Tópicos relacionados
A - Alta médica
O médico pode negar-se a conceder alta a paciente sob seus cuidados quando considerar que isso possa acarretar-lhe risco de morte. Se o
paciente, os responsáveis ou os familiares tomarem a decisão de transferência, deverão responsabilizar-se, por escrito, pelo ato. Nesse caso, o
médico também tem o direito de passar a assistência que vinha prestando para outro profissional indicado, ou aceito pelo paciente, ou pela família,
documentando as razões da medida. A decisão sobre a alta é técnica, ou seja, só o médico pode manifestar-se tecnicamente sobre a necessidade
ou não de o paciente permanecer internado e, portanto, o termo “alta a pedido” não tem qualquer relação com o julgamento técnico do médico,
sendo apenas um ato administrativo.
Ao médico compete fazer o que julgar melhor para assistir o paciente. Porém, esse poder é limitado e se subordina à aceitação deste, se tiver
capacidade de autodeterminar-se ou de alguém que possa falar por ele – por consanguinidade ou delegações legítimas de outra natureza, inclusive
as constituídas por decisão judicial. O Código Civil traz no Art. 15 o seguinte preceito legal: “ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com
risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica”, que vai ao encontro do princípio da autonomia da vontade do paciente.

IMPORTANTE

A questão da alta a pedido deve ser bem discutida, pois no nosso dia a dia vemos essa situação com frequência e não nos atentamos que, do
ponto de vista do julgamento técnico do médico, ela não tem valor na avaliação, sendo considerada um problema muito comum na vida
médica.

B - Abandono do paciente
Iniciado o tratamento, o médico não pode abandonar o paciente, a menos que tenham ocorrido fatos que comprometam a relação entre ambos e
o desempenho profissional. Nesse caso, o paciente (ou o responsável) deve ser previamente informado. O médico, por sua vez, deve expor os
motivos do desligamento e assegurar-se de que haverá continuidade na assistência prestada, sem prejuízo ao tratamento.

C - Exames compulsórios
Compõem-se de teste sorológico ou outros exames (para HIV ou outro exame qualquer).
O exame anti-HIV deve ser voluntário, após informações completas e adequadas ao paciente quanto à finalidade.
O paciente que se recusa a ser testado não deve ter prejuízos em sua assistência em decorrência de tal decisão.
O CFM decidiu que é vedada a realização compulsória de sorologia para HIV, em especial como condição necessária a internamento hospitalar, pré-
operatório, ou exames pré-admissionais ou periódicos e, ainda, em estabelecimentos prisionais.

D - Terapias alternativas
O CEM veda ao médico “usar experimentalmente qualquer tipo de terapêutica ainda não liberada para uso no país, sem a devida autorização dos
órgãos competentes e sem o consentimento do paciente ou do responsável legal, devidamente informado da situação e das possíveis
consequências”.

E - Sigilo profissional
Este é um tema bastante abordado no CEM no Capítulo IX, bem como no Código Penal Brasileiro.
É vedado ao médico:
“Revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou consentimento, por
escrito, do paciente.
Parágrafo único: permanece essa proibição:
Mesmo que o fato seja de conhecimento público ou o paciente tenha falecido;
Quando de seu depoimento como testemunha. Nessa hipótese, o médico comparecerá perante a autoridade e declarará o seu impedimento;
Na investigação de suspeita de crime, o médico estará impedido de revelar segredo que possa expor o paciente a processo penal.”
“Revelar sigilo profissional relacionado a paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou representantes legais, desde que o menor tenha
capacidade de discernimento, salvo quando a não revelação possa acarretar dano ao paciente”.
O médico deve manter sigilo quanto às informações confidenciais de que tem conhecimento no desempenho de suas funções. O mesmo se aplica
ao trabalho em empresas, exceto nos casos em que seu silêncio prejudique ou ponha em risco a saúde do trabalhador ou da comunidade.
Art. 154 do Código Penal: “revelar a alguém, sem justa causa, segredo de que tem ciência em razão de função de ministério, ofício ou profissão, e
cuja revelação possa produzir dano a outrem”. A pena compreende detenção de 3 meses a 1 ano ou multa.

a) Código de Processo Penal


Art. 207: “são proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se,
desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho”.

b) Código de Processo Civil


Art. 407: “a testemunha não é obrigada a depor de fatos: II – a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo”.

c) Quebra do sigilo
A quebra do sigilo profissional pode ocorrer em 3 situações: motivo justo, dever legal ou consentimento por escrito do paciente.
O sigilo profissional deve ser rigorosamente respeitado em relação aos pacientes com HIV. Isso se aplica, inclusive, aos casos em que o paciente
deseja que a condição não seja revelada sequer aos familiares, persistindo a proibição de quebra de sigilo mesmo após a sua morte. No caso de
possível contaminação de um terceiro (por exemplo, parceiro sexual), podemos configurar motivo justo e revelar ao contactuante.
O médico que presta serviços a uma empresa está proibido de revelar o diagnóstico do funcionário ou candidato a emprego, inclusive ao
empregador e à seção de pessoal da empresa, cabendo-lhe informar, exclusivamente, quanto à capacidade ou não de exercer determinada função.
O dever legal da quebra do sigilo profissional está previsto em lei como nos casos das doenças de notificação compulsória, declaração de óbito,
casos de morte encefálica (Lei de Transplantes), maus-tratos contra a criança e o adolescente (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA),
doenças e acidentes relacionados ao trabalho, maus-tratos contra idosos (Estatuto do Idoso) e violência contra a mulher (Lei nº 10.778/03).

IMPORTANTE

A quebra de sigilo profissional pode ocorrer por motivo justo, consentimento por escrito do paciente e por dever legal, sendo esses temas
importantes para a sua preparação.

PERGUNTA
2014 - HSPE
3. Um médico está no pronto-socorro e atende uma adolescente de 15 anos, acompanhada do namorado, de 17 anos. A
adolescente refere ter vida sexual ativa e que, nos últimos 5 dias, apresenta corrimento esbranquiçado, com odor fétido,
que piora após o coito. Você a questiona sobre a presença de algum familiar, e a adolescente lhe revela que seu pai é falecido
e que ela não quer que sua mãe saiba dos seus problemas de saúde. Ela lhe garante que fará o tratamento que for proposto e
se dispõe para retornar para avaliação. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente e as normas do Código de Ética
Médica, assinale a alternativa que apresenta a postura a ser tomada pelo médico:
a) como ela tem menos de 16 anos, informaria que não a examinaria e não prescreveria nenhum tratamento, solicitando o retorno com a
presença de um responsável legal; faria orientações sobre medidas de proteção e orientação sexual
b) como ela tem menos de 16 anos, realizaria exame físico, acompanhado de outro profissional da saúde, mas solicitaria a presença de um
responsável legal, para que haja garantia da realização do tratamento proposto; faria orientações sobre medidas de proteção e orientação
sexual
c) realizaria o exame físico, acompanhado de outro profissional da saúde, prescreveria o tratamento necessário e, depois que a paciente fosse
dispensada, solicitaria que o serviço social entrasse em contato com a família para alertá-los sobre a situação atual da adolescente
d) negaria o atendimento e acionaria o Conselho Tutelar para acompanhamento dessa adolescente, já que ela está sob grave risco de adquirir
uma doença sexualmente transmissível
e) julgando que a adolescente está consciente sobre a necessidade de tratar seu problema de saúde e com capacidade intelectual de realizar seu
autocuidado, realizaria o exame físico, acompanhado de outro profissional da saúde, prescreveria o tratamento necessário, orientaria sobre
medidas de proteção e solicitaria que ela procurasse um serviço de saúde para criação de vínculo e acompanhamento

Resposta no final do capítulo

F - Responsabilidade médica
O médico deve ser responsável por todos os seus atos nas esferas ética, administrativa, cível e criminal, principalmente ao realizar atos médicos e
assinar documentos médicos. Apesar de a assinatura ser atividade rotineira em sua vida, o profissional não pode se esquecer da responsabilidade
que ele assume com esse ato: um atestado, uma receita ou um laudo.
O novo CEM traz como novidade que a responsabilidade profissional nunca é presumida, portanto deve ser provada dentre uma das modalidades
de culpa (imperícia, imprudência ou negligência). A atuação profissional do médico não caracteriza relação de consumo. Exceção se faz aos
procedimentos estéticos (cirurgias plásticas, por exemplo).

6. Documentos médicos

IMPORTANTE

Os aspectos éticos e legais, como sigilo médico e responsabilidade médica, também se aplicam aos documentos médicos, porém a Constituição
de 1988 permite o habeas data, que é o direito de saber ou ter conhecimento das informações relativas à pessoa que busca as informações.

Entende-se por documento qualquer base de conhecimento fixada materialmente e disposta de maneira que se possa utilizar para consulta,
estudo, prova etc. Nessa definição, documentos médicos são todos aqueles diariamente elaborados e guardados pelo médico.
Os aspectos éticos e legais são muito importantes e devem ser lembrados; dentre os quais, destacam-se o sigilo médico e a responsabilidade
médica.
As fichas clínicas, os arquivos ou os prontuários médicos constituem elemento fundamental para a prática clínica cotidiana, pois neles estão
guardadas todas as informações sobre os pacientes. São, portanto, documentos sigilosos, e todo cuidado tem de ser tomado para que o seu
conteúdo não seja revelado por todos que os manuseiam. Convém lembrar que a Constituição de 1988 prevê o habeas data, isto é, o direito de
conhecer os elementos relativos à sua pessoa que constem de registros ou banco de dados.

A - Fichas clínicas
As fichas clínicas são documentos cujas responsabilidades de redigir e de arquivar são do médico. A utilização é exclusiva deste em nova consulta,
em pesquisa clínica, ou para atestar fatos verificados no atendimento clínico. São documentos decorrentes, diretamente, da relação médico–
paciente, portanto, em caso de falecimento do médico, devem ser destruídos ou devolvidos ao paciente.

B - Prontuário clínico
Prontuário clínico é o registro feito pelo(s) médico(s) dos comemorativos do paciente, de um hospital, de uma clínica ou de grupos de médicos.
Estes, diferentemente do consultório particular, são centralizados na instituição, e esta é a responsável pela sua guarda. É o conjunto de
documentos padronizados, destinados ao registro da assistência prestada ao paciente desde a sua matrícula até a sua alta. O médico incorrerá em
falta ética grave se deixar de elaborá-lo.
Atualmente, com a grande quantidade de informações anexadas a tal registro, muitas instituições se utilizam de registros informatizados, os quais
devem seguir as diretrizes gerais de confidencialidade e armazenagem.

C - Receituários e prescrições médicas


São documentos de que constam os medicamentos utilizados em determinado quadro, como devem ser ministrados, diretrizes de dietas e
orientações gerais ao paciente.
O receituário comum deve ter um cabeçalho de que constem os dados da instituição e do médico, o endereço, o número de inscrição no CRM etc.

- Receituários especiais, receita A (amarela) e receita B (azul)


Além dos itens constantes do receituário comum, o receituário especial deve ser feito em 2 vias carbonadas, devendo constar nome e endereço do
paciente, e a sua utilização é limitada a 6 caixas por paciente. A receita A, impressa na cor amarela, é fornecida por autoridade sanitária local
(Vigilância Sanitária), pessoalmente aos profissionais habilitados, e poderá conter até 5 ampolas ou uma apresentação comercial do medicamento
receitado. A receita B, na cor azul, é impressa pelo próprio médico ou instituição segundo modelo padronizado, e sua numeração de controle é
fornecida pela autoridade sanitária local. Nela poderão ser prescritas até 5 ampolas injetáveis ou 3 unidades de apresentação comercial (3 caixas)
para uso oral. Em linhas gerais, os medicamentos entorpecentes são controlados via receituário amarelo (morfina, por exemplo), e os
psicotrópicos, receituário azul (como benzodiazepínicos).

7. Atestados médicos
Trata-se da afirmação simples e por escrito de um fato médico e suas consequências. São sempre de muita responsabilidade, não importando a
sua finalidade e incorrendo nas penas da lei. Assim, de acordo com o Código Penal fica vedado ao médico:
Art. 302: “dar o médico, no exercício de sua profissão, atestado falso”. A pena compreende detenção de 1 mês a 1 ano.
O novo CEM prevê no Art. 80 que é vedado ao médico “expedir documento médico sem ter praticado ato profissional que o justificasse, que seja
tendencioso ou que não corresponda à verdade”.

A - Classificação
- Idôneo: expedido pelo profissional habilitado, e o seu conteúdo expressa a veracidade do ato;
- Gracioso: fornecido sem a prática do ato profissional que o justifique, não importando se gratuitamente ou pago, ou ainda por “caridade,
humanidade, amizade, motivos políticos”. É sempre antiético e pode transformar-se em imprudente ou falso;
- Imprudente: fornecido por um médico particular para fins administrativos, sabendo-se que a empresa ou repartição têm serviço médico próprio;
- Falso: aquele que, na sua expressão, falta com a verdade, dolosamente. É crime previsto no Código Penal como falsidade ideológica.

B - Boletim médico
Consiste em um pequeno escrito noticioso no qual o médico presta informações sobre a situação de saúde do paciente. Neste tópico, é
fundamental ressaltar os artigos do CEM que regem sobre a revelação do sigilo médico, sendo a revelação do estado de saúde de imprescindível
autorização do paciente ou seu responsável legal.
C - Notificações compulsórias
São comunicações compulsórias feitas pelos médicos às autoridades competentes de um fato profissional, por necessidade social ou sanitária,
como acidente do trabalho, doenças infectocontagiosas, uso habitual de substâncias entorpecentes ou crime de ação pública, de que tiverem
conhecimento, e que não exponham o cliente a procedimento criminal. O não cumprimento desses dispositivos incorre em infração ética e penal
do profissional passível de punição.

D - Parecer médico
É a resposta à consulta feita por interessado a 1 ou mais médicos, à comissão de profissionais ou à sociedade científica sobre fatos referentes à
questão a ser estabelecida, e a sua resposta visa apresentar fundamentos legais e éticos para uma conclusão que tenta esclarecer as dúvidas em
questão.

E - Perícia e relatório médico-legal


A perícia médico-legal é toda sindicância promovida por autoridade policial ou judiciária na qual a natureza do exame prescinde de realização por
médico.
O Relatório Médico-Legal expressa todas as operações de uma perícia médica. Receberá o nome de auto quando ditado ao escrivão logo após o
exame ou laudo caso seja redigido pelo próprio perito. Dele devem constar preâmbulo, quesitos, histórico, descrição, discussão, conclusões e
respostas aos quesitos solicitados.

PERGUNTA
2013 - HCPA
4. Um servente de pedreiro veio à Unidade Básica de Saúde queixando-se de dor em ombro e punho direitos. Informou não
apresentar condições de voltar ao trabalho temporariamente. O exame físico foi compatível com as queixas referidas, e o
médico assistente forneceu um atestado de afastamento do trabalho por 5 dias. Ao ler o atestado, o paciente afirmou que
seu chefe somente o aceitaria se nele constasse o código da Classificação Internacional de Doenças (CID). Diante desta
observação, o médico deve:
a) explicar que, neste caso, o código da CID somente será revelado para outro médico e que, portanto, não poderá ser registrado mesmo que o
paciente autorize
b) fornecer novo atestado, deixando registrado o código da CID, sem necessidade de autorização do paciente
c) explicar que, embora não seja obrigatório, poderá fornecer novo atestado com o registro do código da CID, sendo suficiente a concordância
verbal do paciente
d) explicar que, embora não seja obrigatório, poderá fornecer novo atestado com o registro do código da CID somente se a concordância do
paciente estiver expressa no atestado
e) explicar que, nesse caso, o atestado com o código da CID será entregue diretamente à empresa

Resposta no final do capítulo

8. Código de Processo Ético-Profissional (Resolução CFM nº 1.464/96)

DICA

Os processos ético-profissionais são regidos pelo Código de Ética Médica, e a competência para julgar infrações éticas será do Conselho
Regional de Medicina em que o médico estiver inscrito.

Assim como no Direito, os processos administrativos contra médicos devem seguir uma norma estabelecida e amplamente divulgada, na qual se
destaca o direito fundamental da ampla defesa do acusado.
O processo ético-profissional se regerá por esse código. A competência para julgar infrações éticas será do CRM em que o médico estiver inscrito.
No caso de a infração ética ter ocorrido em local onde o médico não tenha inscrição, a apuração será realizada onde ocorreu o fato.
A sindicância é um procedimento informativo com o objetivo de verificar a ocorrência de uma infração ética. Pode ter início a partir de uma
denúncia escrita ou tomada a termo da qual constem o relato dos fatos e a identificação completa do denunciante. O CRM pode instaurar a
sindicância de ofício (ex officio) por sua própria deliberação, ao tomar conhecimento de denúncia formulada por conselheiro. As Comissões de
Ética Médica, Delegacias Regionais ou Representações poderão instaurar sindicância quando tiverem ciência do fato com supostos indícios de
infração ética. Concluída a sindicância, é elaborado um relatório a ser apresentado ao presidente do Conselho, e este designará a inclusão em pauta
de Sessão Plenária para apreciação do fato. Do julgamento do relatório da sindicância pode resultar arquivamento da denúncia ou instauração de
processo ético-profissional.
O processo ético-profissional segue um rito processual determinado:
- O denunciado receberá notificação para apresentar defesa prévia com rol de testemunhas (até 5), no prazo de 30 dias. - - Se o denunciado não
for encontrado ou for revel, o presidente do Conselho designará defensor dativo;
- O conselheiro instrutor poderá determinar diligências que julgar necessárias;
- Concluída a instrução, será aberto prazo de 15 dias para a apresentação das razões finais;
- O conselheiro instrutor proferirá relatório circunstanciado, que será encaminhado ao presidente do CRM;
- Depoimento do denunciante e, posteriormente, do denunciado;
- Oitiva (depoimento) de testemunhas;
- O presidente do Conselho, após o recebimento do processo devidamente instruído, designará o conselheiro relator e o revisor que elaborarão
relatórios;
- Sessão de Câmara ou Pleno para julgamento. Após as exposições efetuadas pelo relator e revisor, o presidente dará a palavra ao denunciante
e ao denunciado, por 10 minutos para sustentação oral. Depois, há a votação; proferidos os votos, o presidente anuncia o resultado do
julgamento, e, posteriormente, é elaborado o acórdão. O julgamento disciplinar será a portas fechadas, permitida a presença das partes e dos
seus procuradores;
- Das decisões da Câmara, cabe recurso ao Pleno; das decisões dos Plenos Regionais, cabe recurso ao CFM.
- Transitada em julgado a sentença, isto é, quando não couber mais recursos, as penalidades impostas serão executadas pelos CRMs e pelo
CFM.
As penas disciplinares aplicáveis aos infratores de ética profissional estão previstas no Art. 22 da Lei Federal nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, e
são:
- Advertência confidencial, em aviso reservado;
- Censura confidencial, em aviso reservado;
- Censura pública em publicação oficial;
- Suspensão do exercício profissional, por até 30 dias;
- Cassação do exercício profissional.

9. Normas de publicidade médica


Os anúncios médicos devem conter dados referentes à inscrição do profissional no CRM. Só pode ser anunciada especialidade reconhecida pelo
CRM por médicos registrados no quadro de especialistas do órgão. Por ocasião de entrevistas, comunicações, publicações de artigos e informações
ao público, o médico deve evitar a autopromoção e o sensacionalismo.
Os boletins médicos devem ser elaborados de modo sóbrio, impessoal e verídico, rigorosamente fiel ao segredo médico.
É proibido ao médico anunciar cura de determinadas doenças para as quais não haja tratamento próprio, tratamento para evitar gravidez ou
interromper gestação, exercício de mais de 2 especialidades, consultas por meio de correspondência, por imprensa, caixa postal, rádio ou processos
análogos, prestação de serviços gratuitos em consultórios particulares e especialidade ainda não reconhecida pelo respectivo ensino profissional.

10. Reprodução humana assistida


A Resolução CFM nº 1.957/10, publicada em 6 de julho de 2010, substituiu a Resolução CFM nº 1.358/92 na íntegra e contém as normas éticas para
as técnicas de Reprodução Assistida (RA):

A - Princípios gerais
1 - As técnicas de RA têm o papel de auxiliar na resolução dos problemas de reprodução humana, facilitando o processo de procriação quando
outras terapêuticas tenham se revelado ineficazes ou consideradas inapropriadas.
2 - As técnicas de RA podem ser utilizadas desde que exista probabilidade efetiva de sucesso e não se incorra em risco grave de saúde para a
paciente ou o possível descendente.
3 - O consentimento informado será obrigatório a todos os pacientes submetidos às técnicas de reprodução assistida, inclusive aos doadores. Os
aspectos médicos envolvendo as circunstâncias da aplicação de uma técnica de RA serão detalhadamente expostos, assim como os resultados
obtidos naquela unidade de tratamento com a técnica proposta. As informações devem atingir também dados de caráter biológico, jurídico, ético e
econômico. O documento de consentimento informado será expresso em formulário especial e estará completo com a concordância, por escrito,
das pessoas submetidas às técnicas de RA.
4 - As técnicas de RA não devem ser aplicadas com a intenção de selecionar o sexo (sexagem) ou qualquer outra característica biológica do futuro
filho, exceto quando se trate de evitar doenças ligadas ao sexo do filho que venha a nascer.
5 - É proibida a fecundação de oócitos humanos com qualquer outra finalidade que não a procriação humana.
6 - O número máximo de oócitos e embriões a serem transferidos para a receptora não pode ser superior a 4. Com relação ao número de embriões
a serem transferidos, são feitas as seguintes determinações: a) mulheres com até 35 anos: até 2 embriões; b) mulheres entre 36 e 39 anos: até 3
embriões; c) mulheres com 40 anos ou mais: até 4 embriões.
7 - Em caso de gravidez múltipla decorrente do uso de técnicas de RA, é proibida a utilização de procedimentos que visem à redução embrionária.

B - Pacientes das técnicas de RA


Todas as pessoas capazes que tenham solicitado o procedimento e cuja indicação não se afaste dos limites desta resolução podem ser receptoras
das técnicas de RA, desde que os participantes estejam de inteiro acordo e devidamente esclarecidos, de acordo com a legislação vigente.

C - Referente a clínicas, centros ou serviços que aplicam técnicas de RA


As clínicas, os centros ou os serviços que aplicam técnicas de RA são responsáveis pelo controle de doenças infectocontagiosas e coleta, manuseio,
conservação, distribuição, transferência e descarte de material biológico humano para a paciente de técnicas de RA, devendo apresentar, como
requisitos mínimos:
1 - Um diretor técnico responsável por todos os procedimentos médicos e laboratoriais executados, que será, obrigatoriamente, um médico
registrado no CRM de sua jurisdição.
2 - Um registro permanente (obtido por meio de informações observadas ou relatadas por fonte competente) das gestações, dos nascimentos e
das malformações de fetos ou recém-nascidos, provenientes das diferentes técnicas de RA aplicadas na unidade em apreço, bem como dos
procedimentos laboratoriais na manipulação de gametas e embriões.
3 - Um registro permanente das provas diagnósticas a que é submetido o material biológico humano que será transferido aos pacientes das
técnicas de RA, com a finalidade precípua de evitar a transmissão de doenças.

D - Doação de gametas ou embriões


1 - A doação nunca terá caráter lucrativo ou comercial.
2 - Os doadores não devem conhecer a identidade dos receptores, e vice-versa.
3 - Obrigatoriamente, será mantido sigilo sobre a identidade dos doadores de gametas e embriões, bem como dos receptores. Em situações
especiais, as informações sobre doadores, por motivação médica, podem ser fornecidas exclusivamente para médicos, resguardando-se a
identidade civil do doador.
4 - As clínicas, os centros ou os serviços que empregam a doação devem manter, de forma permanente, um registro de dados clínicos de caráter
geral, características fenotípicas e uma amostra de material celular dos doadores.
5 - Na região de localização da unidade, o registro dos nascimentos evitará que um(a) doador(a) venha a produzir mais do que 1 gestação de criança
de sexo diferente numa área de 1 milhão de habitantes.
6 - A escolha dos doadores é de responsabilidade da unidade. Dentro do possível, deverá garantir que o doador tenha a maior semelhança
fenotípica e imunológica e a máxima possibilidade de compatibilidade com a receptora.
7 - Não será permitido ao médico responsável pelas clínicas, unidades ou serviços, nem aos integrantes da equipe multidisciplinar que nelas
trabalham, participarem como doadores nos programas de RA.

E - Criopreservação de gametas ou embriões


1 - As clínicas, os centros ou os serviços podem criopreservar espermatozoides, óvulos e embriões.
2 - Do número total de embriões produzidos em laboratório, os excedentes, viáveis, serão criopreservados.
3 - No momento da criopreservação, os cônjuges ou companheiros devem expressar sua vontade, por escrito, quanto ao destino que será dado
aos pré-embriões criopreservados em caso de divórcio, doenças graves ou falecimento de um deles ou de ambos, e quando desejam doá-los.

F - Diagnóstico e tratamento de embriões


As técnicas de RA também podem ser utilizadas na preservação e no tratamento de doenças genéticas ou hereditárias, quando perfeitamente
indicadas e com suficientes garantias de diagnóstico e terapêutica.
1 - Toda intervenção sobre embriões in vitro, com fins diagnósticos, não poderá ter outra finalidade que não a de avaliar sua viabilidade ou detectar
doenças hereditárias, sendo obrigatório o consentimento informado do casal.
2 - Toda intervenção com fins terapêuticos sobre embriões in vitro não terá outra finalidade que não a de tratar uma doença ou impedir a sua
transmissão, com garantias reais de sucesso, sendo obrigatório o consentimento informado do casal.
3 - O tempo máximo de desenvolvimento de embriões in vitro será de 14 dias.

G - Sobre a gestação de substituição (doação temporária de útero)


As clínicas, os centros ou os serviços de reprodução humana podem usar técnicas de RA para criarem a situação identificada como gestação de
substituição, desde que exista um problema médico que impeça ou contraindique a gestação na doadora genética.
1 - As doadoras temporárias de útero devem pertencer à família da doadora genética, num parentesco até o 2º grau, sendo os demais casos
sujeitos à autorização do CRM.
2 - A doação temporária de útero não poderá ter caráter lucrativo ou comercial.

H - Reprodução assistida post mortem


Não constitui ato ilícito ético a RA post mortem desde que haja autorização prévia específica do(a) falecido(a) para o uso do material biológico
criopreservado, de acordo com a legislação vigente.

PERGUNTA
2015 - SURCE
5. O Conselho Federal de Medicina, em abril de 2013, publicou uma nova resolução (2013/13) que adota as normas éticas
para a utilização das técnicas de reprodução assistida no Brasil. De acordo com essa nova resolução, assinale a alternativa
correta:
a) a idade máxima das candidatas à gestação é de 52 anos
b) o número máximo de embriões a serem transferidos varia de 2 a 4, de acordo com a idade da receptora
c) em caso de gravidez múltipla, é permitida a redução embrionária, quando exceder o número máximo de embriões permitidos
d) as doadoras temporárias de útero devem pertencer à família de um dos parceiros num parentesco consanguíneo até o 3º grau

Resposta no final do capítulo

11. Ato médico


Ato médico ou ato profissional de médico é a ação ou o procedimento profissional praticado por um médico com os objetivos gerais de prestar
assistência médica, investigar as enfermidades ou a condição de enfermo ou ensinar disciplinas médicas. Toda ação ou procedimento devem estar
voltados para a melhoria do bem-estar das pessoas, a profilaxia ou o diagnóstico de enfermidades, a terapêutica ou a reabilitação de enfermos. O
ato médico deve ser exercido sempre de boa fé e em benefício de quem dele necessita.
O exercício é função privativa de quem é formado em Medicina em estabelecimento educacional oficial ou oficialmente reconhecido. Exige-se
também a inscrição no CRM da região de exercício profissional. E os atos médicos podem ser privativos de profissional médico ou compartilhados
com outros profissionais.
Temos 2 características essenciais da atividade médica que a diferenciam das outras atividades: a vulnerabilidade do paciente frente ao médico e a
incerteza deste perante as medidas terapêuticas que o caracterizam como profissional responsável pelo empenho, e não pelo resultado que elas
alcançam.
A Medicina deve lidar com 2 complexidades: a do seu objeto (as enfermidades, os seres humanos e as interações entre eles) e a dos seus recursos e
dos métodos diagnósticos e terapêuticos utilizados.
A relação médico–paciente tem 3 aspectos fundamentais:
- Uma relação socioeconômica, pois todo ato profissional presume a existência de um contrato de prestação de serviço (explícito ou não);
- Uma relação técnico-científica, pois todo ato médico deve ser uma atividade cientificamente fundamentada;
- Uma relação intersubjetiva de ajuda, entre alguém que dela necessita e quem possa exercê-la.
A Medicina tem 5 funções sociais: assistência aos enfermos, pesquisa sobre as doenças e sobre os doentes, ensino das matérias médicas, exercício
da perícia e supervisão das auditorias técnicas médicas. E o CFM, na Resolução nº 1.627/2001, definiu o ato médico como “todo e qualquer
procedimento técnico-profissional praticado por médico legalmente habilitado é dirigido” para:
- A promoção da saúde e a prevenção da ocorrência de enfermidades ou profilaxia (prevenção primária);
- A prevenção da evolução das enfermidades ou a execução de procedimentos diagnósticos ou terapêuticos (prevenção secundária);
- A prevenção da invalidez ou reabilitação dos enfermos (prevenção terciária).
Em 2013, a então presidente Dilma Rousseff sancionou, com 10 vetos, a lei que disciplina o exercício da Medicina no país. A questão mais polêmica,
referente à responsabilidade pela formulação do diagnóstico e pela prescrição terapêutica, foi vetada pela presidente com a justificativa de evitar
prejudicar inúmeros programas do Sistema Único de Saúde. A norma determina que são privativas do médico atividades como indicação e
execução de intervenção cirúrgica, sedação profunda e procedimentos invasivos (terapêuticos ou estéticos), como biópsias, endoscopias e acessos
vasculares profundos.
No entanto, os vetos permitem que a aplicação de injeção, além de sucção, punção e drenagem, sejam feitas por outros profissionais, bem como a
“invasão da epiderme e derme com o uso de produtos químicos ou abrasivos” (peeling facial, por exemplo). A justificativa é que o projeto de lei
transformaria a prática da acupuntura em privativa dos médicos, o que iria contra a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do
Sistema Único de Saúde.
Com os vetos presidenciais, outros profissionais de saúde podem formular o diagnóstico e a respectiva prescrição terapêutica, além de indicar o
uso de órteses e próteses e de prescrever órteses e próteses oftalmológicas. Também são privativos do médico perícia e auditoria médicas, ensino
de disciplinas especificamente médicas e coordenação dos cursos de graduação em Medicina, dos programas de Residência Médica e dos cursos de
pós-graduação específicos para médicos. A direção administrativa de serviços de saúde, porém, pode ser exercida por outro profissional.

DICA

Os vetos presidenciais sancionados em 2013 para a lei que disciplina o exercício da Medicina no país prevê que outros profissionais de saúde
formulem o diagnóstico e a respectiva prescrição terapêutica.

RESUMO
QUADRO-RESUMO
Em 2010, o CEM foi substituído, e os principais destaques foram:

Letra legível A receita e o atestado médico devem ser legíveis e ter a identificação do médico.

Direito de escolha O médico deve apresentar todas as possibilidades terapêuticas – cientificamente reconhecidas – e aceitar a escolha do
paciente.

Consentimento O paciente precisa dar o consentimento a qualquer procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de
esclarecido morte.

Abandono de O médico não pode abandonar seu paciente.


paciente
Pacientes sem O médico deve evitar procedimentos desnecessários. Em caso de doenças incuráveis, deve oferecer todos os cuidados
perspectiva de cura paliativos disponíveis, levando sempre em conta a opção do paciente.

Prontuário médico O paciente tem direito a receber a cópia do prontuário médico.

Segunda opinião O paciente tem direito a uma 2ª opinião e a ser encaminhado a outro médico.

Anúncios É obrigatório incluir o número do CRM em anúncios dessa natureza.


profissionais
Participação em O médico não pode participar de propaganda.
propaganda
Receita sem exame O médico não pode receitar sem ver o paciente, por meio de veículo de comunicação ou internet.
clínico
Relações com O médico não pode ter relação com o comércio e a farmácia.
farmácias
Sigilo médico O sigilo médico deve ser preservado, mesmo após a morte do paciente.

Condições de O médico pode recusar a exercer a Medicina em locais inadequados.


trabalho
Denúncia de tortura O médico é obrigado a denunciar tortura. Isso vale para o atendimento de possíveis vítimas de violência doméstica, por
exemplo.

Descontos e O médico não pode estar vinculado a cartões de descontos e consórcios, em especial na área de Cirurgia Plástica.
consórcios
Falta em plantão Abandonar plantão é falta grave.

Manipulação O médico não pode participar de manipulação genética.


genética
Sexagem A escolha do sexo do bebê é vedada na reprodução assistida.

Métodos O paciente tem direito de decidir sobre os métodos contraceptivos que deseja usar.
contraceptivos

Respostas das questões do capítulo


1. B
2. D
3. E
4. D
5. B

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