Você está na página 1de 33

HEMORRAGIA PÓS-PARTO (HPP)

INTRODUÇÃO

...A HPP é um verdadeiro enigma para os obstetras, pois ela aparece


subitamente, sendo geralmente imprevisível, muitas vezes avaliada
de forma subjectiva e pode ser catastrófica. O quadro clínico se altera
tão rapidamente que se não houver uma acção rápida esta situação
leva à MORTE MATERNA em pouco tempo!

Sangramento Vaginal Depois do Parto


ATENÇÃO: É CRUCIAL uma ACÇÃO RÁPIDA em relação à HPP!

Mais de metade de todos os óbitos maternos ocorre nas primeiras 24 horas após
o parto, em grande parte devido ao sangramento excessivo.

A atonia uterina é o principal factor da hemorragia pós-parto (HPP), o qual causa


mais de 1⁄4 de todos os óbitos maternos em todo o mundo.

1
HPP Constitui as primeiras causas de morte materna:

 30% das 500 000 mortes anuais;

 Em PVΔ ocorrem > 1000M♀/100 000 nascim:

 33,9% devido a HPP.

 A maioria dos casos de HPP não tem factor de risco associado.

 A HPP pode ser prevenida e tratada através de intervenç relativa/


simples.

 O manejo activo do 3º estadio do TP deve ser assegurado a tda ♀


à ↓ da incidencia de HPP por atonia uterina (resp por ¾ das MM
por HPP).

Epidemiologia

 Cerca de 11 mulheres morrem por dia e aprox 4500 mulheres


morrem por ano em Moçambique, devido a casos relacionados
com a gravidez, parto e pós parto.

 Estes números estão basicamente sustentados pela hemorragia


após parto, sépsis puerperal, eclâmpsia, ruptura uterina por TP
arrastado ou obstruído e aborto.

Objectivos do milénio era

 Dados da avaliação Nacional das Necessidades de Saúde


Materna e Neonatal em Moçambique (ANN 2007/2008)
revelam que por cada 100.000 nados vivos, 478 mulheres
morrem.
2
 A meta nacional para 2015 era de 250 mortes por 100.000
nados vivos, um valor ainda difícil de alcançar, mas é possível.

 43% dos óbitos maternos ocorrem durante o parto e nas


primeiras 24 horas após o parto. As principais causas são
ruptura uterina e hemorragia pós-parto.

 Definição de HPP A Perda normal de sangue durante o parto é:

 Parto vaginal à 500ml;

 Cesariana à 1000ml;

 Cesariana + histerectomia à 1500ml.

Definição de HPP

Perdas de sangue >500ml pós parto vaginal ou >1000ml numa


cesariana.

 Todo sangramento produzido no pós-parto capaz de provocar


instabilidade hemodinâmica ou que a ameaça. (sinais de
hipovolémia)

 Aquela que produz uma queda no hematócrito >10%.

Factores a ter em conta

 As perdas de sangue são clinicamente subestimadas em 30-


50% do real à atraso na determinação da gravidade.
 Expansão do Volume plasmático durante gravidez à
compensam as perdas durante e após o parto.
 A HPP tem tendência a ocorrer em partos seguintes.

3
Classificação

 HPP imediata

 Surge nas 1as 24hrs pós-parto.

 + frequente e associada a > perdas e a morbimortalidade.

 Consequente a contracções não eficientes do útero ou a 1a


implantação placentária anormal.

 HPP tardia

 Ocorre entre as 24hrs e as 6S de puerpério.

 Consequente a um relaxamento miometrial transitório


associado a endometrite ou a retenção de fragmentos
placentares ou de membranas.
4
Topografia

 Útero

 Atonia uterina;

 Inversão uterina;

 Rotura uterina;

 Restos placentares.

 Canal de parto

 Lacerações;

 Hematomas.

 Extrauterina

 Coagulopatia de consumo.

Etiologia

 Os mnemônico dos 4 Ts’

1. Tonus- atonia uterina(70%)

2. Tecidos-restos placentários retidos(20%)

3. Trauma-laceração do trato genital(10%)

4. Trombinas- coagulopatia hereditária ou adquirida(1%)

5
Clínica

 Depende da etiologia e do volume perdido

1. Hemorragia leve

2. Schock hemorrágico

3. Hipotensão

4. Alteração da oxigenação irreversível

5. Complicações sistémicas e

6. Morte

6
7
Outras causas:

 Distúrbios metabólicos de céls miometriais: hipóxia, acidose.

 Amniotites: os produtos bacterianos intoxicam o miometrio.

 Disfunção intríseca do miométrio.

 Diagnóstico :

Utero grande hipotónico ou atónico e hemorragia de grau variável.

- Descartar outras causas

Prevenção:Uso de oxitocina 10UI pós parto imediato

8
 ATONIA

Factores de risco:

 Super distensão

 Multiparidade

 Corioaminionite

 Trabalho de parto prolongado

 Utero relaxantes(Nifedipina, ß-miméticos, MSO4,


anestésicos)

 Administrar metilergometrina 0,2 mg trans-abdominal


directamente no miométrio ou intramuscular. A dose pode
repetir-se de 15 em 15 minutos.

9
 Administrar oxitocina 40 unidades num frasco de soro em
perfusão rápida.

 Misoprostol (citotec) rectal 800mcg (4 cp) via rectal -

 Controlar o estado hemodinâmico do doente.

 Exame vaginal para pesquisa de lacerações.

 Exploração manual do utero para diagnóstico de possível ruptura


uterina e remoção de restos placentários.

 Se persistir cirurgia de B-Lynch

 Histerectomia, se hemorragia persistir.

A práctica de tamponamento do utero muitas vezes é ineficaz.

10
Restos placentários

 Interferem com a contracção uterina necessária para a hemostase


- (Os seios venosos no local de implantação placentar
permanecem abertos dando sangramento.

11
 Tardia (1-2d)= amolecimento do tecido placentario necrotico

 Hemorragia Prolongada (1-2smnas) = polipo placentario com


vascularizacao estabelicida (fragil).

Diagnóstico:

Examinar a placenta- ausência de um segmento da superficie materna


sugere a retenção de cotiledones. A presenga de membranas rasgadas
com vasos velamentosos indica a retenção de um lobo acessório.

A hemorragia 1-2 dias após o parto sugere restos placentários com


necrose,1-2 semanas_após o parto sugere pólipo. O utero está sub-
involuido.

Conduta:

Aspiração

Inversão uterina

 O útero inverte-se durante a dequitadura;

 O Fundo do útero pode aparecer na vagina ou na vulva ou


prolapsar para fora desta.

Incidência:

Situação rara: 1 em cada 2000-2500 partos.

Classificação:

1º grau: incompleta Þ vagina.

2º grau: completa Þ vulva.


12
3º grau: prolapso do útero.

13
Causas:
 Aplicação de força excessiva pelo assistente ao parto durante a
dequitadura por:
 Pressão no fundo do útero;
 Tracção do cordão umbilical.
 Tracção excessiva no fundo uterino
 Cordão umbilical curto e
 Placenta acreta.

Rotura uterina

 É uma das complicações mais graves da gestação;

 Relacionada à assistência ao parto;

 Consiste no rompimento parcial ou total do miométrio na


gestação ou no trabalho de parto (TP).
14
 Solução de continuidade do tecido muscular uterino que pode
abranger total ou parcialmente a espessura uterina.
Causas:
 Extensão da laceração cervical;
 Trabalho de parto arrastado (ICP e ap. viciosa);
 Administacção incorrecta de oxitocina;
 Cesareanas anteriores ou outras cirurgias no miométrio;
 Multiparidade / Polihidrâmnios;
 Traumatismo externo;
 Versão externa.
Ocorrência:
 Rotura na cicatriz do seguemento;
 Rotura na cicatriz de uma cesariana clássica;
 Rotura expontânea.
Classificação:
 Rotura Uterina Parcial:
 Preserva a serosa;
 Associa-se a deiscência de cicatriz uterina;
 Assintomática.
 Rotura Uterina Total:
Espontânea ou traumática

15
Sinais de eminência de rotura uterina
• contracções excessivamente dolorosas, taqui e hiperssistolia.
• -palidez, sudorese e agitação,
• -distensão segmentar sinal de Bandl- anel fibromuscular
transversal no segmento inferior-( utero em oito) - e
• sinal de Frommel- ligamentos redondos retesados,
hipercontraidos e desviados para frente).

16
Lacerações do períneo
 Segunda maior causa de hemorragia puerperal precoce;
 Deve-se suspeitar sempre que o sangramento for persistente que
não cessa com as contrações uterinas;
 Os locais mais susceptíveis são: vagina, períneo e colo do útero

Classificação
 No períneo as lacerações classificam em 4 graus:
 1°grau = envolve a furcula, pele, mucosa vaginal.
 2°grau = pele, mucosa e estende-se até musculos
perineais
 3°grau = estende-se até esfíncter anal
 4°grau = atinge a mucosa rectal

17
Na vagina podem ser altas (2/3 superiores) ou baixas (1/3 inferior).
No colo podem ser extensas ou menores.

Causas:
 Parto precipitado
 Episiotomia extensa;
 Feto Macrossômico;
 Manobras de Kristeller intempestiva e/ou inadequada;
 Parto pélvico operatório (fórcipes).
 Extracção por ventosa ou fórcepes particularmente quando
o colo não está dilatado completamente;
 Dilatação manual do colo

18
Diagnóstico: Manobra Kristeller
Hemorragia com útero bem contraído e duro, hemorragia do tracto
genital.
Conduta:
 Revisão sistemática do canal de parto, hemostasia
imediata e correção das lacerações;
 Encerrar as lacerações vaginais e cervicais (de cima para
baixo) com fio crómico.

19
Sutura do colo uterino

Hematomas puerperais
20
Asoluções de continuidade produzidas pela passagem do feto, sem
protecção do períneo.
AEm algumas situações o sangue pode não exteriorizar - hematomas;

Tipos de Hematoma
 Vaginais;
 Vulvar;
 Vulvovaginais;
 Retroperitoniais

Mais comuns: vulvoperineais, vaginais pós-episiotomia e retroperitoniais

Diagnóstico:
 Clínico;
 Tumoração de crescimento rápido, não redutível, de coloração
azul ou violácea, dolorosa;
 Dor, rubor, edema e sangramento ou colecção de sangue.
 Se houver infecção = febre.

21
 Tratamento:
 Pouco volumoso: conduta expectante;
 Volumosos: abertura seguido da hemostasia do vaso sangrento,
colocação de dreno e curativo compressivo;
 Grandes Hematomas Intracavitários: laparotomia e laqueação dos
vasos.
Coagulopatia de Consumo
 Também pode se chamar de coagulopatia de consumo,
Coagulacao intravascular disseminada, Hipofibrinogemia,
Sindrome de desfibrinacao.
 É a diminuição da capacidade de coagulação sanguínea.
 Há Consumo de plaquetas e factores de coagulação
Causas:
 Descolamento precoce da placenta;
22
 Morte fetal (retencao prolongada)
 Pré-eclâmpsia/eclâmpsia
 Infecções intra-uterinas
 Embolia de líquido amniótico.
 Transfusões massivas
 Aborto induzido por meios salinos
 Tto anticoagulante.
Quadro clinico - Anamnese
 Hemorragia
 Vaginal
 Importante- atonia, rotura, laceração alta do canal.
 Ligeira – atonia, miomas.
 Contínua (antes,durante e pós) – rotura
(choque rápido+dor intensa constante hipogastro #TP)
 Tardia – 1-2d =necrose de restos;
1-2smns = pólipo placentar.
 Generalizada – coagulopatia (útero, ferida cirúrgica)
 Transabdominal
 Hemoperitoneu = Blumberg+ - rotura uterina.
Quadro clinico - exame objectivo
 Abdomen

23
 Mole indolor depressível- causas extra
genitais(coagulopatias), laceração do canal
 Tenso, doloroso - rotura (punção/lavagem peritoneal +)
 Útero
 Grande, mole, sem tónus – Atonia
 Subinvoluído – Restos placentários
 Contraído/ duro- Rotura (sinal de bandl),
lacerações,coagulopatia
 Irregular (a palpação)- miomas
 Ausente – 3º grau de inversão uterina.
Quadro clínico - pós-parto
 Canal de Parto
 Marquesa com perneiras= posição ginecológica
 1 assistente = pressão no fundo do colo
 Exame da placenta
 Ausência de cotiledones, membranas rasgadas = restos+
 Revisão uterina
 Manual – hemorragia,rotura,restos/placenta acreta
 Cureta – restos, irregularidades(miomas)
Diagnóstico:
Clínico
• Teste de coágulo

24
• Estudo dos factores de coagulação.
Conduta:èRestabelecimento da volémia com cristalóides
è Transfusão imediata de sangue fresco
è A intervenção cirúrgica está contra-indicada
è Administrar vitamina K para aumentar a produção dos factores de
coagulação

Complicações do choque
Cerebral
 S. Sheehan = necrose lobo anterior da hipófise
 Morte cerebral
Renal
 Insuficiência renal aguda (diurese<30ml/min)=NTA
Cardiovascular
25
 Hipotensão severa
 Paragem cardíaca
 Coagulopatia dilucional
MORTE

Bases de tratamento
 Parar o sangramento ( Identificar a tratar e causa ):
 Útero
 Qualquer outro sítio doTracto genital
 Coagulopatias
 Reposição do volume sanguíneo
Conduta
 Avaliar sinais vitais, mucosas, consciência, tonus uterino
 Estimar as perdas/ Posição de Trenderlemburg
DOENTE EM SHOCK
 A – Manter vias aéreas permeáveis
 B - O2 – 4-6l/min
 C - - Cateterizar veia: Colher sangue para Hemograma/ Bioq./ Test
de compatibilidade/ Grupo sanguíneo
 Uma veia para: L.Ringer 1000ml + Oxitocina 40U 40gotas/min
 Outra veia: Expansor plasmático >> Hemacel, Dextrano 40,
Plasmacel, Sangue

26
Esvaziar a bexiga ( algaliar )/ Aquecer e sossegar o doente
DOENTE ESTÁVEL:
1. Palpação abdominal ( Útero tónico e atónico )
2. Exame do Canal de Parto
3. Revisão Uterina

27
28
29
Prevenção
30
 História Clínica Pregressa ( HPP anterior, gravidez gemelar, grupo
sanguíneo)
 Tratar a anemia durante a gravidez
 MATEP ( Manejo Activo do Terceiro Estadio do Parto )
 Uterotónicos
 Oxitocina ( Infusao continua )
 Misoprostol ( Cytotec )
 Carboprost U ( Asma/ Coracao/ Rim/ Figado )
 Metergine U ( Hipertensao arterial, Doença Cardíaca )
Gestão da HPP
 Trata-se de uma complicação que comporta risco de vida - que
deve ser gerida pronta e eficazmente.
 Deve-se obter toda a ajuda que se puder.
 A prevenção é a melhor gestão.

31
Manejo Activo do Terceiro Período do Trabalho de Parto (MATPTP)
 Provou-se que o MATPTP reduz a incidência da hemorragia pós-
parto, reduz a quantidade de perda de sangue e reduz o uso da
transfusão
 Deve-se oferecer o MATPTP a todas as mulheres que estejam a
ter o parto
 Todo o/a assistente de parto deve possuir os conhecimentos e
habilidades para realizar o MATPTP
Prevenção: Deve-se Estar Preparado
TODAS as mulheres correm risco de HPP!
As mulheres que têm mais predisposição para ter HPP são aquelas que
apresentam:
 Útero sobre-distendido (gémeos, bebé grande,
polihidrâmnios)
 Trabalho de parto prolongado
 Pre-eclâmpsia grave/eclâmpsia
 Morte Fetal intra-uterina
 Hiperestimulação uterina
 Anemia (enfraquece)

32
33

Você também pode gostar