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INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO

Vênera Etienne Gonçalves e Silva


Ginecologista e Obstetra
MED 604
2024/2
OBJETIVOS

• Conhecer dados epidemiológicos e etiológicos da infecção urinária;


• Perceber as características das infecções urinárias assintomáticas;
• Compreender a sistemática das infecções urinárias recorrentes;
• Entender as características e o desenvolvimento da infecção urinária na mulher;
• Diagnosticar e tratar os quadros de disúria e a polaciúria;
• Conhecer os objetivos e a sistemática do tratamento farmacológico nos casos
comuns e específicos de infecção urinária.
INTRODUÇÃO

• 150 milhões de casos anuais – global.

• Afeta mais de 10% das mulheres.


o 50% apresentam pelo menos um episódio durante a vida.
o 15% das gestações, constituindo o tipo mais frequente de infecção no ciclo gravídico-
puerperal.

• A infecção urinária de repetição ocorre entre 10% e 15% das mulheres com mais de
60 anos de idade.

• Bacteriúria assintomática ocorre entre 2% e 10% das mulheres.


INTRODUÇÃO

• Agente etiológico da ITU em mulheres:


o Escherichia coli ( 75%),
o Klebsiella,
o Enterobacter,
o Proteus mirabilis,
o Sthaphylococcus saprophyticus,
o Streptococcus agalactiae.
INTRODUÇÃO

• Em cerca de 15-20% das mulheres adultas jovens com vida sexual ativa,
infecções do trato urinário inferior são causadas pelo Staphylococcus
saprophyticus.

• Esses quadros são par­ticularmente prevalentes nas pacientes que fazem


contracepção com agentes tópicos espermicidas ou diafragmas, que são
reconhecidos fatores de risco para cistites agudas.
CLASSIFICAÇÃO

• CDC - Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos:


o ITU não complicada.
o ITU complicada – Cistite e Pielonefrite.
o Bacteriúria assintomática.
o Infecção recorrente do trato urinário.
o Urossepse.
ITU NÃO COMPLICADA

Quadro agudo, esporádico ou recorrente, no trato urinário inferior


(cistite) ou superior (pielonefrite), limitado a mulheres não grávidas, sem
anormalidades anatômicas e funcionais no trato urinário ou comorbidades.
ITU COMPLICADA

Ocorre em pacientes com chance aumentada de evolução desfavorável,


ou seja, grávidas, pacientes com anormalidades anatômicas ou funcionais do trato
urinário, presença de cateteres urinários de demora, doenças renais ou
concomitantes, como diabetes mellitus, imunossupressão ou transplante renal.
BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA

Caracterizada pela presença de bactérias em meio de cultura


(consideram-se 100 mil unidades formadoras de colônia por mL como bacteriúria
significativa) na ausência de sinais e sintomas de ITU.
ITU RECORRENTE

Ocorrência de dois episódios de ITU em seis meses ou três nos últimos


12 meses, com confirmação com urocultura.
UROSSEPSE

É definida como disfunção orgânica com risco de morte causada por


resposta desregulada do hospedeiro à infecção originada do trato urinário.
FISIOPATOLOGIA

A ITU resulta da interação de fatores biológicos e comportamentais do hospedeiro


e da virulência do microrganismo.

Uropatógeno
(Flora Fecal)

Colonização
ITU
da vagina

Colonização Ascensão para


da uretra distal a bexiga
FISIOPATOLOGIA NA GESTAÇÃO

• Ação relaxante da prostaciclina e progesterona na musculatura lisa, com


consequente hipotonicidade, dilatação (hidronefrose e refluxo vesicoureteral
fisiológicos) e além de hipomotilidade do trato urinário;

• Aumento fisiológico de 30% a 50% no fluxo plasmático renal e na taxa de


filtração glomerular, com aumento do débito urinário, menos concentração da
urina, alcalinização, glicosúria e aminoacidúria;
FISIOPATOLOGIA NA GESTAÇÃO

• Dextrorrotação uterina, com ação mecânica compressiva sobre o trato urinário,


aumentando as afecções em ureter e rim direitos, principalmente;

• Estase de urina abundante, menos concentrada e rica em nutrientes,


configurando microambiente adequado à proliferação de microrganismos e ao
estabelecimento de ITU.
FATORES DE RISCO - RECORRÊNCIA

• Pré menopausa:
Fatores comportamentais:
o Frequência das relações sexuais;
o Número de parceiros;
o Novos parceiros;
o Uso de espermicidas e diafragma.
FATORES DE RISCO - RECORRÊNCIA

• Pós menopausa:
o Deficiência de estrogênio;
o Diminuição de lactobacilos vaginais;
o Prolapso genital;
o Cirurgia vaginal prévia;
o Volume urinário residual elevado;
o ITU prévia.
REPERCUSSÃO NA GESTAÇÃO

• Trabalho de parto prematuro (TPP) - corioamnionite subclínica + prostaglandinas,


• Prematuridade - Baixo peso ao nascer,
• Rotura prematura de membranas,
• Corioamnionite,
• Sepses materna e neonatal,
• Anemia – disfunção medular em acometimentos sistêmicos?
• Pré-eclâmpsia,
• Insuficiência renal - abscessos, microabscessos e pielonefrite supurativa.
DIAGNÓSTICO

• Sintomas clássicos:
o Disúria,
o Aumento da frequência urinária, Anamnese completa
Exame físico detalhado
o Urgência miccional,
o Dor suprapúbica,
o Hematúria.
o Febre + Giordano positivo – comprometimento do Trato superior.
o Vômitos, náusea, cefaleia e prostração – gestante.

• Diagnósticos diferenciais: vaginite, uretrite aguda, síndrome da bexiga dolorosa,


síndrome da bexiga hiperativa e doença inflamatória pélvica.
DIAGNÓSTICO

• EAS: piúria; hematúria; nitrito positivo, aumento da flora.

• Teste de nitrito (Dipstick): reagente; positivo – altamente específico!

• Cultura de urina:
o Somente para ITU recorrente, na presença de complicações associadas ou na vigência
de falha do tratamento inicial, devendo ser feita com jato médio.
o Em pacientes com ITU não complicada é dispensável pela natureza previsível da
bactérias causadoras!
DIAGNÓSTICO

• Ultrassonografia, tomografia computadorizada helicoidal das vias urinárias ou


urorressonância magnética:
o Mulheres com sintomas atípicos de doença aguda,
o Falha à antibioticoterapia adequada,
o Permanecem febris após 72 horas de tratamento.

• Hemograma, eletrólitos, função renal, gasometria, lactato, função hepática e


hemoculturas – se suspeita de sepse.
TRATAMENTO

ITU NA GESTANTE:

Se suspeita de Pielonefrite: ambiente


hospitalar, bem monitorizada, coleta de
cultura e demais exames, com ATB
venoso pelos menos 48h e
escalonamento para medicação oral
após resultado da cultura até 10 a 14
dias.
TRATAMENTO

CISTITE AGUDA NÃO COMPLICADA:


• 1ª ESCOLHA:
o Nitrofurantoína (100 mg, de 6/6 h, por cinco dias);
o Fosfomicina / trometamol (3 g em dose única).

• OPÇÕES:
o Cefuroxima (250 mg, de 12/12 h, por sete dias);
o Amoxacilina/clavulanato (500/125 mg, de 8/8 h, durante sete dias).
o Sulfametoxazol/trimetropim (160/800 mg, de 12/12 h, durante três dias).
TRATAMENTO
TRATAMENTO

PIELONEFRITE NÃO COMPLICADA


• 1ª ESCOLHA:
o Ciprofloxacino (500 mg, de 12/12 h, durante sete dias);
o Levofloxacino (750 mg/dia, durante cinco dias).

Internação, esquema endovenoso:


o Ciprofloxacino (400 mg, duas vezes ao dia);
o Levofloxacino (750 mg/dia);
o Ceftriaxona (2 g/dia) - cefalosporina de terceira geração.
TRATAMENTO

• PIELONEFRITE COMPLICADA:
Tratamento hospitalar!!
• 1ª ESCOLHA:
o Amoxicilina;
o Aminoglicosídeo;
o Cefalosporina de terceira geração.

• OPÇÕES: Ceftolozano + Tazobactam, Imipeném, Ceftazidima + Avibactam,


Meropenem
TRATAMENTO
TRATAMENTO

ITU RECORRENTE:
• Mudanças comportamentais:
Adequar ingesta hídrica, micção pós-coito, enxugar de frente para trás após defecar,
evitar ducha vaginal e uso de roupa íntima oclusiva.

• Imunomoduladores: ImunoterapiaOM-89 (Uro-Vaxom®) – cepas de E. coli.


( 01 cápsula/ dia, durante 90 dias, três meses de pausa e tratamento adicional do sétimo
ao nono mês: 01cápsula/dia, durante dez dias por mês).

• Antibioticoprofilaxia:
o Pós coito: Nitrofurantoína (100mg, dose única).
o Profilaxia contínua: Nitrofurantoína (100 mg ao dia) ou Fosfomicina (3 g a cada dez dias, por
seis meses).
TRATAMENTO

ITU RECORRENTE:
Gestantes:
TRATAMENTO

ITU RECORRENTE:
Pós menopausa:
• Estrogênio por via vaginal estimula a proliferação de lactobacilos no epitélio
vaginal, reduz o pH e evita a colonização vaginal por uropatógenos.
• Reduz a recorrência de ITUs em 36% a 75% e tem mínima absorção sistêmica.
• Posologia:
Estriol (1 mg) ou Promestrieno (10 mg) (1x/dia, durante 15 dias; manter 2 a 3x/
semana.)
TRATAMENTO

ITU RECORRENTE:
• Cranberry
o Evita a adesão de fímbrias bacterianas no urotélio.
o Diferentes apresentações (suco, cápsula),
o Praticamente ausência de efeitos adversos.
o Não é recomendado pela FEBRASGO nem pela EAU – uso empírico.
NÃO ESQUECER!!

• Bacteriúria assintomática:
Rastreamento e tratamento:
• Gestantes: a presença de bactérias na urina, nessa situação, eleva o risco de
pielonefrite, prematuridade e baixo peso ao nascer.
• Pacientes que vão se submeter à cirurgia urológica eletiva.

• NÃO REALIZAR em mulheres diabéticas, com ITU de repetição, na pós-


menopausa, transplantadas renais, idosas, com neutropenia e cateter urinário de
demora.
REFERÊNCIAS

• Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia


(FEBRASGO). Infecção do trato urinário. São Paulo: FEBRASGO; 2021
(Protocolo FEBRASGO-Ginecologia, n. 49/ Comissão Nacional Especializada
em Uroginecologia e Cirurgia Vaginal).
• Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia
(FEBRASGO). Infecções do trato urinário durante a gravidez. São Paulo:
FEBRASGO; 2021. (Protocolo FEBRASGO Obstetrícia, n. 43/ Comissão
Nacional Especializada em Gestação de Alto Risco).

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