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As Infecções do Trato Urinário (ITU) têm se tornado uma das mais importantes causas de

febre sem foco em lactentes menores de 24 meses.

EPIDEMIOLOGIA:
Estima-se que 8% das meninas e 2% dos meninos apresentam pelo menos um episódio de ITU
até os 6 anos de idade. 30-40% destes pacientes têm algum grau de refluxo vesicoureteral (RVU) e
12 – 30% apresentarão nova ITU dentro de um ano.

ETIOPATOGENIA:

Etiologia Bacteriana
• Meninas - 75-90% bactérias Gram-negativas da flora intestinal (E. coli)
• Meninos > 1 ano – Proteus e E. coli
• Período neonatal - Klebsiella, Enterobacter e Streptococcus do grupo B
• Puberdade – Chlamidia trachomatis, Ureaplasma urealticum e Mycoplasma hominis
• Procedimentos de manipulação das vias urinárias → Pseudomonas sp
• Infecções nosocomiais, cateterismo e bexiga neurogênica → Enterococcus e Staphylococcus
• Infecções crônicas – Proteus
Etiologia Fúngica
• Rara
• Candida albicans e Candida tropicalis
Etiologia viral
• Vírus tipo 11 e 21 e o poliomavírus
• Adenovírus → cistite hemorrágica – curso autolimitado (4 dias)

QUADRO CLÍNICO:
RN Lactentes Pré-escolares e escolares Adolescentes
- Quadro de sepse ou - Quadro clínico inespecífico - Polaciúria, disúria, - Polaciúria, disúria e
texemia - Ganho ponderoestatural estrangúria, urgência, dor em baixo ventre
- Hipo/hipertermia, ganho insuficiente, febre, Hiporexia, enurese, dor lombar, febre, - Hematúria
ponderal insuficiente, recusa alimentar, náuseas, calafrios, náuseas e
sucção débil, vômitos, vômitos, diarreia, dor vômitos O início da atividade
diarreia, distensão abdominal - Manobra de Giordano + sexual nas adolescentes
abdominal, irritabilidade, - Choro às micções e pode vir acompanhado
hipoatividade, moteamento alterações do odor urinário de surtos de ITU
da pele, palidez, cianose e
icterícia prolongada A pielonefrite é a infecção
- Dor à palpação abdominal bacteriana grave que mais
e urina com odor fétido comumente causa febre de
origem obscura em < 2 anos

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL: EQU + Urocultura

Como obter a amostra de urina:


• Crianças com controle de esfíncter:
o Coleta do jato médio
o Positiva se ≥ 100.000 UFC/ml
• Lactente ou crianças sem controle de esfíncter:
o Cateterismo vesical
▪ Positiva se ≥ 50.000 UFC/ml
Se entre 10.000 a 50.000 UFC/ml → repetir
Se ≥ 10.000 UFC/ml + piúria → ITU
o Punção suprapúbica:
▪ Positiva se ≥ 1 UFC/ml (bactéria única)
Obs: Saco coletor NÃO confirma (falso positivo ≥ 85%) os resultados só devem ser valorizados
quando a cultura resultar negativa.

Sensibilidade e Especificidade dos componentes de exames de urina


Esterase leucocitária 83% 78%
Nitritos 50% 92%
Contagem leucocitária 73% 81%
Bacterioscopia 81% 83%
Gram 93% 95%

CRITÉRIOS DE INTERNAÇÃO:
Idade < 3 meses Incapacidade de tolerar medicação via
Urosepse clínica oral
Resposta inadequada à terapia Inadequado acompanhamento
ambulatorial ambulatorial
Imunocomprometidos Inadequado suporte social
Vômitos

TRATAMENTO
Iniciar empiricamente após a coleta da urina (85% Escherichia coli)

Terapia Oral/Ambulatorial:

Antimicrobiano Dose
Cefalexina 50 – 100 mg/kg/dia 6/6h
Axetil Cefuroxima 20 – 30 mg/kg/dia 12/12h
Amoxicilina + Clavulanato 20 – 40 mg/kg/dia 8/8h (lactentes ≥ 2 meses e ≤ 2 ananos)
Nitrofurantoína 6 – 8 mg/kg/dia 6/6h
Sulfafetoxazol-Trimetoprim 40mg + 8mg/kg/dia 12/12h (cistites em crianças maiores)

Terapia Parenteral:

Antimicrobiano Dose
Ceftriaxona 50 mg/kg/dia 12/12h ou 24/24h EV ou IM
Cefotaxima 150 mg/kg/dia 8/8h
Cefepime 100 – 150 mg/kg/dia 8/8h
Ampicilina 100 mg/kg/dia 6/6h (se Enterococo provável)
Amicacina 15 mg/kg/dia 8/8h ou 12/12h EV ou IM
TEMPO DE TRATAMENTO:
• ITU baixa (afebril): 3 a 5 dias
• ITU febril: 10 dias

SE AUSÊNCIA DE MELHORA EM 48H:


• Rever antibioticoterapia
• Realizar USG aparelho urinário (afastar obstrução ou abscesso)
• Colher nova cultura + EQU + hemograma

PROFILAXIA

As crianças que têm infecção urinária de repetição com trato urinário normal e disfunção
miccional são candidatas à quimioprofilaxia, por período de 3 a 6 meses, até que estas disfunções
sejam corrigidas.

• Se refluxo vesicoureteral (RVU): profilaxia se grau ≥ 3 e/ou presença de cicatriz renal


• Se processos obstrutivos (estenose de JUP ou uretero vesical): profilaxia até correção cirúrgica

Antimicrobiano Dose Obs:


Nitrofurantoína 1-2 mg/kg/dia Não usar em < 2 meses
Sulfafetoxazol-Trimetoprim 20 mg/kg/dia
Cefalexina 20 – 30 mg/kg/dia Para neonatos e < 2 meses

INVESTIGAÇÃO POR IMAGEM DO TRATO URINÁRIO

Toda criança, independentemente de idade e sexo, que tenha diagnóstico de certeza de ITU
merece uma investigação por imagem.

ULTRASSONOGRAFIA DO APARELHO URINÁRIO E BEXIGA:

• Deve ser realizado em todos os que apresentaram ITU com o intuito de confirmar e/ou detectar
má formações.
• USG normal não exclui a existência de alterações
• Rastreamento da anatomia (hidronefrose, dilatação ureteral, alteração do parênquima renal,
espessamento da parede vesical, volume urinário pré e pós-miccional, ureterocele

CINTILOGRAFIA RENAL COM DMSA

• Padrão ouro na detecção da cicatriz renal e deve ser realizado em todos os lactentes com ITU
febril, crianças que apresentaram quadro clínico de pielonefrite (mesmo naquelas crianças
com USG normal de rins e vias urinárias) e pacientes com RVU.
• Deverá ser realizado após quatro a seis meses do episódio inicial de ITU.

URETROCISTOGRAFIA MICCIONAL

• Reservada àqueles pacientes que apresentam USG de rins e vias urinárias e/ou cintilografia
com DMSA alterada e/ou quadros repetitivos de infecção urinária associados à disfunção
miccional.
Residente: Preceptora: Data:
Emanuelle Bernardi Mozzer Dra. Fabiana Sartor Janeiro 2023

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