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Abordagem clínica:
• Equipe multiprofissional (médico, enfermeiro, psicólogo, assistente social)
• Acompanhamento das ISTs, saúde psicossexual, saúde reprodutiva e estresse pós-trauma
• Atendimento médico imediato, que não depende de confirmação de violência ou do
acionamento prévio de autoridade policial ou judicial
Atendimento:
• Registro cuidadoso e minucioso no prontuário da história e exame físico (relatar a fala do
entrevistado, evitando traduzir tecnicamente o que foi relatado)
• Não fechar o diagnóstico nesse momento
• Confidencialidade e sigilo devem ser preservados
Exame físico
• Não deve ser uma nova experiência traumática para a criança ou adolescente. Se for
necessário, o exame deverá ser realizado sob sedação, em centro cirúrgico
• Examinar o corpo inteiro da vítima – procurar por lesões ou cicatrizes indicativas de
violência física
• Na urgência, sempre observar a diurese e excluir hematúria
Profilaxias:
• Anticoncepção de emergência: preferencialmente até 72 horas. Pode ser utilizada até o
5º dia após a relação sexual desprotegida (Quadro 1);
• Início da antibioticoprofilaxia para ISTs não virais (Quadro 2);
• Profilaxia da hepatite B: pacientes que não foram vacinadas contra hepatite B ou com
situação vacinal desconhecida devem receber imunoglobulina específica anti-hepatite B,
além da complementação do esquema vacinal (Quadro 3);
• Quimioprofilaxia antirretroviral (Quadros 4 a 9): uso criterioso e por 28 dias.
o Somente em casos agudos com penetração anal ou vaginal
o Intervalo entre a exposição e o início da tomada da medicação < 72 horas
o Conhecido o status sorológico do agressor
* IGHAHB: Imunoglobulina Humana Anti-hepatite B: dose é 0,06 mL/kg, IM, em extremidade diferente
da vacina e se a dose ultrapassar 5mL, deve- se dividir a aplicação em duas áreas corporais diferentes.
** Tanto a vacina quanto a imunoglobulina devem ser administradas preferencialmente nas primeiras 24
horas após o ocorrido, não excedendo o período de 14 dias após exposição sexual (7 dias para acidente com
material biológico).
*** Se o paciente tem vacinação completa, porém com anti-HBs não reagente, considerar uma dose booster
de vacina de hepatite B e após verificar a resposta vacinal (anti-HBs > 10 U/mL)
* O RAL está indicado a partir da 14a semana de gestação.
** Em caso de gestação com menos de 14 semanas, recomenda-se o uso de ATV/r
NEGLIGÊNCIA
• Internações frequentes
• Negação ao tratamento ou vacinação, ou demora na procura de recursos médicos
• Acidentes repetitivos (com frequência acima do esperado)
• Tratamentos adequados sem resultados ou inadequados
No Exame Físico:
• Alterações comportamentais da criança ou do adolescente
• Existência de enfermidades passíveis de prevenção
• Doenças parasitárias ou infecciosas frequentes
• Alterações nutricionais, como desnutrição ou obesidade, sem doença de base que as
determinem.
• Atrasos de fala e de domínio da linguagem.
• Cáries dentárias ou descuidos de higiene em geral
• Falta de proteção contra intempéries climáticas.
• Uso de vestimentas muito inferiores ou contrastantes com demais membros da família
VIOLÊNCIA FÍSICA
• Incompatibilidade entre dados da história e os achados clínicos
• Omissão total ou parcial da história de trauma
• Pais que mudam a história a cada vez que dão informações
• Histórias diferentes quando os membros da família são questionados isoladamente
• Demora inexplicável da procura de recursos médicos na presença evidente de trauma
• Crianças maiores que não querem relatar o que aconteceu, com medo de represálias, em
especial quando os agentes agressores são os pais
• Evidência de negligência
No Exame Físico:
• Comportamento agressivo, retraído ou apático
• Aspecto desnutrido
• Qualquer lesão em crianças jovens que ainda não deambulam
• Lesões em múltiplos sistemas orgânicos
• Múltiplas lesões em diferentes estágios de cicatrização
• Marcas de objetos
• Lesões em localizações não usuais, tais como tronco, orelhas, face, pescoço ou parte
superior dos braços
• Lesões significativas inexplicadas
• Presença de lesão sentinela
VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA
• Relação permeada de ansiedade e conflitos com responsáveis
• Falta de vontade de ir à escola ou sentir-se mal na hora de sair de casa /queda rendimento
escolar/ solicitação de troca de escola/perda repetida de pertences levados à escola
• Mudanças frequentes no trajeto de ida ou de volta
• Roupas ou livros/cadernos rasgados ao voltar da escola
• Pesadelos frequentes ou eventualmente falar durante o sono expressões como “me larga”,
“socorro” ou equivalentes
• Mudanças abruptas de comportamento
• Desenhos mórbidos, sem o colorido vivo dos desenhos infantis, com imagens riscadas
No Exame Físico:
• Machucados inexplicáveis ou autoinfligidos.
• Hipotrofias de estatura e de peso não orgânicas
• Atrasos psicomotores diversos
• Distúrbios alimentares
• Distúrbios da excreção
• Distúrbios cognitivos
• Distúrbios do comportamento
• Sofrimento depressivo
• Desconfiança paranoica e Incapacidade de empatia
• Pouca comunicação ou comunicação feita sempre de modo destrutivo
• Hiper-reatividade de caráter passivo ou agressivo
MUNCHAUSEN
• Crianças sem malformações, problemas genéticos ou doenças crônicas que apresentarem
prontuário volumoso
• Antecedentes das diferentes violências ou presença de outros fatores ambientais
estressantes na história do agressor
• Agressor (geralmente a mãe) pode ter algum relacionamento com a área da saúde ou
cuidados a crianças ou tem antecedente pessoal de internação hospitalar prolongada
Comportamento do agressor:
• Inteligente, articulada, simpática, comunicativa, aparentemente cuidadosa
• Vocabulário médico adequado, fazendo perguntas e exigindo respostas
• Sugere condutas, manifestando entusiasmo com novos exames e tratamentos
• Comporta-se como uma cuidadora experiente, assume funções e tende a ultrapassar os
limites impostos pelas normas e regulamentos do serviço, criando confusões para
conseguir atenção e desafiar o saber da equipe de saúde.
• Não demonstra preocupação com a gravidade da doença nem com seu prognóstico
• A agressora é particularmente cordial com o pessoal médico e de enfermagem que ela
identifica como chefes, mas evita o contato com os profissionais que manifestam dúvidas,
suspeitas ou questionam os sintomas e sua falta de consistência. Quando confrontadas
abertamente com a hipótese, tornam-se agressivas, ameaçadoras e arrogantes
• Históricos familiares podem revelar várias doenças graves em outros membros da família,
inclusive com mortes súbitas e inexplicáveis
• O pai geralmente é omisso ou ausente e acredita que a mãe é cuidadosa e incapaz de fazer
qualquer mal à criança
• As visitas de outros parentes ao hospital são raras
No Exame Físico
• Avaliação neurológica
• Avaliar alterações Gastrointestinais
• Presença de “Rashes cutâneos” ou sintomas alérgicos
• Transtornos de comportamento ou outros sintomas psiquiátricos, muitas vezes assumidos
pela vítima
• Referência à febre
• Sangramentos simulados ou provocados
• Sintomas que parecem impróprios, inverossímeis e incongruentes, que só ocorrem na
presença da agressora e predominam à noite, quando a supervisão por outras pessoas é
menor
Laboratoriais
• Hemograma completo
• Coagulograma
• CPK (quase sempre aumentado em casos de traumas)
• Amilase (trauma abdominal);
• TGO; TGP; Gama-GT (trauma abdominal).
• Exame qualitativo de urina (Urina tipo I).
• Sangue e urina para intoxicações exógenas
• B-HCG
• Sorologias para DST e repetir em 30, 90 e 180 dias.
De imagem
• Raio X
o Em crianças < 2 anos e que não se comunicam, havendo suspeita, realizar todas
as radiografias, mesmo não havendo evidências de trauma esquelético ao exame
físico
o Em crianças maiores que se expressam verbalmente, radiografar as áreas
suspeitas doloridas ou com limitação de movimentos
• Ultrassom
o Transfontanelar e/ou abdome se houver suspeita de agravo
• Tomografia computadorizada
o Crânio, tórax e/ou abdome se houver suspeita de agravo
• Ressonância nuclear magnética de crânio pode auxiliar na visualização de pequenos
hematomas subdurais, lesões axonais difusas, contusões corticais e hematomas inter-
hemisféricos posteriores.
NOTIFICAÇÃO:
Todos os casos, mesmo que só suspeitos, devem ser notificados ao Conselho Tutelar da
região de moradia da suposta vítima e, na omissão deste, a notificação deverá ser feita à Vara da
Infância e Juventude da região de moradia da suposta vítima ou ao Ministério Público (Artigos
13 e 245 do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA) e, também ao SINAN, que é feita pela
Ficha de Notificação/Investigação Individual de Violência Doméstica, Sexual e Outras
Violências, instituída pela Portaria GM/MS 104/201119, que inclui os casos suspeitos ou
confirmados de violência como doença de notificação compulsória a ser encaminhada à
Vigilância Epidemiológica.
A notificação de suspeita de vítima de maus-tratos é um dever do médico, previsto no
artigo 28 do Código de Ética Médica. Ao juiz da Vara da Infância e da Juventude cabe decidir o
encaminhamento a ser dado ao caso. Em caso de internação, a alta hospitalar dependerá de
critérios clínicos e da decisão judicial.
É importante ressaltar a importância da proteção e preservação física de quem notifica. Por
isto, a notificação deve ser realizada pela instituição onde a suposta vítima está sendo atendida,
pois convém evitar envolvimentos pessoais.
A notificação deve ser codificada e emitida em nome da instituição, que tem o dever
legal de garantir esta denúncia (artigo 245 do ECA). A codificação evita que o agressor venha
intimidar ou ameaçar o profissional responsável pela notificação, mas permite que um juiz solicite
maiores esclarecimentos sobre o caso denunciado, garantindo a proteção da vítima.
Residentes: Preceptor: Data:
Eduarda, Emanuelle, Fernanda, Dr. Fernando Steffen Antunes Junho 2021
Gabriela, Leticia, Osmar e Rafael