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ASSISTÊNCIA À VÍTIMA DE VIOLÊNCIA SEXUAL

DEFINIÇÃO DE VIOLÊNCIA
“Uso intencional de força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio,
contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade que resulte ou tenha
possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de
desenvolvimento ou privação.”

TIPOLOGIA DA VIOLÊNCIA – NATUREZA


● FÍSICA: são atos violentos, nos quais se fez uso da força física de forma
intencional, não acidental, com o objetivo de ferir, lesar, provocar dor e
sofrimento ou destruir a pessoa, deixando, ou não, marcas evidentes no seu
corpo.
● PSICOLÓGICA: é toda forma de rejeição, depreciação, discriminação,
desrespeito, cobrança exagerada, punições humilhantes e utilização da pessoa
para atender as necessidades psíquicas de outrem.
● MAUS TRATOS/NEGLIGÊNCIA: é a omissão pela qual se deixou de prover as
necessidades e cuidados básicos para o desenvolvimento físico, emocional e
social da pessoa atendida/vítima.
VIOLÊNCIA SEXUAL – OMS
É qualquer ação na qual uma pessoa, valendo-se de sua posição de poder e fazendo
uso de força física, coerção, intimidação ou influência psicológica, com uso ou não de
armas ou drogas, obriga outra pessoa, de qualquer sexo e idade, a ter, presenciar, ou
participar de alguma maneira de interações sexuais ou a utilizar, de qualquer modo a
sua sexualidade, com fins de lucro, vingança ou outra intenção.
● Estupro, abuso incestuoso, assédio sexual, sexo forçado no casamento, jogos
sexuais e práticas eróticas não consentidas, impostas;
● Pornografia infantil, pedofilia;
● Voyeurismo;
● Manuseio, penetração oral, anal ou genital, com pênis ou objetos, de forma
forçada;
● Exposição coercitiva/constrangedora a atos libidinosos, exibicionismo,
masturbação, linguagem erótica, interações sexuais de qualquer tipo e material
pornográfico;
● Atos que, mediante coerção, chantagem, suborno ou aliciamento impeçam o
uso de qualquer método contraceptivo ou forcem a matrimônio, à gravidez, ao
aborto, à prostituição; ou que limitem ou anulem em qualquer pessoa a
autonomia e o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos.
Questão de saúde pública, segurança e acesso à justiça, que exige do Estado políticas e
ações integradas para responder a esse problema.
Pode acontecer em espaços públicos e provados, causar traumas e ferimentos visíveis
e invisíveis e, em algumas situações, levar à morte.
Fenômeno multidimensional.
Afeta todas as classes sociais, raças, etnias e orientações sexuais.
Violação dos direitos humanos, atingindo o direito à vida, à saúde e à integridade
física.
ESTUPRO
● Lei n° 12.015, de 7 de agosto de 2009 alterou a antiga definição de estupro,
passando a designá-lo como:
o “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique
outro ato libidinoso: pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.”
● Atualmente, a mulher e o homem podem ser vítimas de estupro, quando
constrangidos, mediante violência (física) ou grave ameaça (psicológica) a
praticar conjunção carnal (penetração do pênis na vagina) ou qualquer outro
ato libidinoso (exemplo: penetração anal ou sexo oral)
CÓDIGO PENAL BRASILEIRO
ESTUPRO: constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção
carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.
VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE: ter conjunção carnal ou praticar outro ato
libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre
manifestação de vontade da vítima.
ASSÉDIO SEXUAL: constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou
favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior
hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.
ESTUPRO DE VULNERÁVEL: ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com
menor de 14 anos.
CORRUPÇÃO DE MENORES: induzir alguém menor de 14 anos a satisfazer a lascívia de
outrem.
SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE:
praticar, na presença de alguém menor de 14 anos, ou induzi-lo a presenciar,
conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de
outrem.
FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL
DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE OU DE VULNERÁVEL: submeter, induzir ou atrair à
prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 anos ou que,
por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a
prática do ato, facilitá-lo, impedir ou dificultar que a abandone.
FLUXOS DE ATENDIMENTO
● Quando a pessoa procura inicialmente o sistema de segurança pública:
o Registram-se todas as informações da ocorrência e a encaminha aos
órgãos de medicina legal (perícia), que irá caracterizar o tipo de lesão
encontrada e coletar os vestígios que podem auxiliar na identificação da
autoria e materialização do crime. Em seguida, a pessoa é encaminhada
ao sistema de saúde para os cuidados pertinentes.
● Quando a pessoa procura inicialmente o sistema de saúde:
o Na saúde, não é necessário o registro de BO para atendimento. Se a
pessoa não deseja registrar BO, sua vontade deverá ser respeitada.
o A equipe de saúde deve orientar sobre a importância da pessoa
registrar o boletim, pois este é um direito de cidadania e contribui para
o enfrentamento da impunidade do(a) agressor(a).
● Os serviços de saúde não substituem as funções e atribuições da segurança
pública, como a medicina legal, posto que atuam de forma complementar e
integrada.
● É importante registrar que não haverá formalização de laudo pericial pelos
profissionais do SUS, mas tão somente a realização do exame físico, a descrição
das lesões e o registro de informações e a coleta de vestígios.
● Se a pessoa em situação de violência decidir pelo registro policial, tais
informações e materiais serão encaminhados à autoridade policial, quando
requisitados.
BOLETIM DE OCORRÊNCIA X ATENDIMENTO NA SAÚDE
● Não há nenhuma previsão legal para exigência de BO para realização do
atendimento na saúde
● Contudo, no caso de crianças, adolescentes e pessoas idosas, os respectivos
conselhos tutelares (ou outro órgão, na ausência destes) deverão ser
imediatamente comunicados para as providências cabíveis
● Cabe à equipe de saúde, acolher e fornecer orientações às pessoas quanto aos
seus direitos e à importância de buscar proteção e demais providências legais
ENTREVISTA NA ATENÇÃO BÁSICA – PROPOSTA DE PERGUNTAS
● Observar possibilidade de violência entre parceiros íntimos
● Sabe-se que mulheres com problemas de saúde ou queixas similares às que
você apresenta, muitas vezes, tem problemas de outra ordem em casa. Por
isso, temos abordados este assunto no serviço. Está tudo bem em sua casa,
com seu(sua) parceiro(a)?
● Você acha que os problemas em casa estão afetando sua saúde ou seus
cuidaods corporais?
● Você está com problemas no relacionamento familiar?
● Já sentiu ou sente medo de alguém?
● Você se sente humilhada?
● Você já sofreu críticas em casa por sua aparência, roupas ou acessórios que
usa?
● Você e o(a) parceiro(a) (ou filho, pai, familiar) brigam muito?
MOTIVOS DE NÃO VERBALIZAÇÃO DA QUEIXA DA VIOLÊNCIA SOFRIDA
● Sentimento de vergonha ou constrangimento
● Receio por sua segurança ou pela segurança de seus filhos
● Experiencias traumáticas prévias ou expectativa de mudança de
comportamento por parte do agressor
● Dependência econômica ou afetiva de parceiro
● Desvalorização ou banalização de seus problemas
● Cerceamento da liberdade pelo parceiro
EXAME FÍSICO – ATENÇÃO BÁSICA
● Atentar para recusa ou dificuldade no exame ginecológico de rotina
● Observar se há presença de ferimentos que não condizem com a explicação de
como ocorreram
● Realizar inspeção detalhada de partes do corpo que podem revelar sinais de
violência: troncos, membros (inclusive parte interna das coxas), nádegas,
cabeça e pescoço, não se esquecendo das mucosas (inclusive genitais), orelhas,
mãos e pés
SINAIS DE ALERTA DE VIOLÊNCIA
● Transtornos crônicos, vagos e repetitivos
● Início tardio do pré-natal
● Parceiro demasiadamente atento, controlador e que reage se por separado da
mulher
● Infecção urinária de repetição (sem causa secundária encontrada)
● Dor pélvica crônica
● Síndrome do intestino irritável
● Complicações em gestações anteriores, aborto de repetição
● Depressão
● Ansiedade
● Transtorno do estresse pós-traumático
● História de tentativa de suicídio ou ideação suicida
● Lesões físicas que não se explicam como acidentes
ATENÇÃO HUMANIZADA ÀS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA SEXUAL
● Instalações e área física adequada para atendimento
o Preferencialmente fora do espaço físico do PS/triagem. Evitar
identificação nominal.
● Equipamentos e instrumentais suficientes
● Recursos humanos qualificados para a atenção – equipe:
o Portaria de 2014:
⮚ 1 médico
⮚ 1 enfermeiro
⮚ 1 técnico de enfermagem
⮚ 1 psicólogo
⮚ 1 assistente social
⮚ 1 farmacêutico
o Portaria de 2020:
⮚ Equipe de saúde multiprofissional deve ser composta (no
mínimo) por:
❖ Obstetra
❖ Anestesista
❖ Enfermeiro
❖ Assistente social e/ou psicólogo
ACOLHIMENTO
● 1ª etapa do atendimento
● Postura humanizada e ética, privacidade, confidencialidade e sigilo
● Relação de respeito e empatia
● Estabelecer comunicação efetiva, atento à comunicação não verbal (gestos,
expressões faciais)
● Iniciar a entrevista com perguntas abertas e evitar conduzir as respostas
● Questionar diretamente somente quando a narrativa livre for esgotada
● Ler termo de consentimento informado e certificar-se se foi compreendido
● Preencher a ficha de atendimento multiprofissional
● Organizar o acesso, priorizando o atendimento de acordo com necessidades
detectadas
EXAME FÍSICO
● Informar os passos do exame, os locais do corpo a serem tocados, explicando
os procedimentos que serão realizados e os materiais que serão coletados
● Descrever as lesões preferencialmente no sentido craniocaudal, inclusive as
genitais e extragenitais, assinalando-as na ficha de atendimento especifica ou
fotografando-as, se possível, com consentimento
● O exame deverá ser realizado pelo médico com presença de outro profissional
de saúde também habilitado
ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE EM SITUAÇÕES
DE VIOLÊNCIA
CONSEQUÊNCIAS PROVÁVEIS NO DESENVOLVIMENTO DAS RELAÇÕES AFETIVO
SEXUAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL
● Distúrbios ou impossibilidade de assumir uma vida sexual adulta saudável:
ausência de desejo sexual, anorgasmia, frigidez, impotência, ejaculação
precoce
● Dificuldades no desenvolvimento sexual: tendências para a assexualidade ou
hipersexualidade
● Desvio do comportamento sexual: promiscuidade, perversões, fetichismo,
exibicionismo, voyeurismo, pedofilia
COLETA DE VESTÍGIOS
● Assinar termo de consentimento informado antes da coleta
● Importante para identificação do agressor por meio de exames de DNA
● Assegurar que o material coletado não seja contaminado
● Utilizar luvas descartáveis, máscara, materiais/instrumentos esterilizados

● Materiais:
o Secreção vaginal
o Secreção anal
o Sêmen, secreções e ou fluidos depositados na pele ou outras regiões do
corpo
o Vestígio subungueal
o Cabelo e pelo
o Vestes e objetos com possível presença de sêmen e/ou outros fluidos
biológicos
o Células da mucosa oral (amostra referência)
PREVALÊNCIA DE IST E VIOLÊNCIA SEXUAL
● Dentre mulheres que sofreram violência sexual, 16 a 58% delas adquirem pelo
menos uma IST
● Risco de infecção depende de:
o Tipo de violência sofrida (vaginal, anal ou oral)
o Número de agressores
o Tempo de exposição (única, múltipla ou crônica)
o Ocorrência de traumatismos genitais
o A idade e a susceptibilidade da mulher
o Condição himenal
o Presença de IST ou úlcera genital prévia
o A exposição a secreções sexuais e/ou sangue
o A carga viral do agressor
o Início precoce da profilaxia ARV, quando indicada

CUIDADOS
● A profilaxia das IST não virais está indicada nas situações de exposição com
risco de transmissão, independentemente da presença ou gravidade das lesões
físicas e idade
o Doenças que podem ser evitadas: gonorreia, sífilis, infecção por
clamídia, tricomoníase e cancro mole
● Algumas IST virais, como herpes simples e papilomavirus humano (HPV) ainda
não possuem profilaxias específicas
● Vaginose bacteriana não é considerada uma IST
● Não deverão receber profilaxia (individualizar):
o Os casos de violência sexual em que ocorra exposição crônica e repetida
– situação comum em violência sexual intrafamiliar
o Quando ocorra uso de preservativo, masculino ou feminino, durante
todo o crime sexual
PROFILAXIA DAS ISTS NÃO VIRAIS

PROFILAXIA DA HEPATITE B
● Está indicada em casos de violência sexual com exposição ao sêmen, sangue ou
outros fluidos corporais do agressor
● Vítima não vacinada ou cm vacinação incompleta: vacinar ou completar a
vacinação
● Imunoglobulina humana anti-hepatite B:
o Não se recomenda o uso rotineiro de IGHAHB, exceto se a vítima for
suscetível e o responsável pela violência seja HBsAg reagente ou
pertencente a um grupo de risco (pessoas que usam drogas, por
exemplo)
o Quando indicada, a IGHAHB deve ser aplicada o mais precocemente
possível – até, no máximo, 14 dias após a exposição.
PROFILAXIA HEPATITE C
● Apesar de o risco de transmissão do HCV estar mais relacionado às exposições
percutâneas, a transmissão sexual desse vírus é possível, principalmente em se
tratando de práticas sexuais traumáticas, presença de doença ulcerativa genital
e proctites relacionadas a IST
● Em exposições com paciente-fonte infectado pelo vírus da hepatite C e
naquelas com fonte desconhecida, está recomendado o acompanhamento da
vítima.
● Período de incubação da hepatite C dura em média 7 semanas (variando entre
2 a 24 semanas)
● Mais de 75% dos casos agudos são assintomáticos, sendo necessária a
investigação laboratorial para o diagnóstico
● O diagnóstico precoce da soroconversão possibilita o tratamento na fase aguda
da infecção pelo HCV, com o objetivo de reduzir o risco de progressão para
hepatite crônica, principalmente nos pacientes assintomáticos
ESQUEMA PREFERENCIAL PARA PROFILAXIA DA INFECÇÃO PELO HIV
● O risco de transmissão em casos de violência sexual está entre 0,8 e 2,7%.
● O primeiro atendimento após a exposição ao HIV é uma urgência. A PEP deve
ser iniciada o mais precocemente possível, tendo como limite as 72 horas
subsequentes à exposição
● Tenofovir (TDF) + Lamivudina (3TC) + Dolutegravir (DTG) -> a duração da PEP é
de 28 dias
ACONSELHAMENTO À PACIENTE
● Considerar os possíveis impactos de um resultado positivo e identificar
alternativas de apoio familiar e social
● No caso da investigação do HIV, é necessário reforçar que os resultados iniciais,
quando negativos, não são definitivos devido à possibilidade de janela
imunológica e não dispensam realização de exames futuros nos períodos
indicados
● Levando em consideração a possibilidade de uma infecção, deve ser reforçada
a necessidade do uso do preservativo (masculino ou feminino) em todas as
relações sexuais
● Orientar o não compartilhamento de seringas e agulhas nos casos de uso de
drogas injetáveis
● Enfatizar a contraindicação de doação de sangue, órgãos, tecidos ou esperma
● Reforçar a importância de evitar a gravidez
ACONSELHAMENTO À PACIENTE LACTANTE
● Mulheres em situação de violência sexual que estejam amamentando deverão
ser orientadas a suspender o aleitamento durante a quimioprofilaxia
antirretroviral, pela possibilidade de exposição da criança aos antirretrovirais
(passagem pelo leite materno) e para evitar o risco de transmissão vertical
● Em tais situações, deve-se orientá-las no sentido da interrupção temporária da
amamentação. Durante o período de janela imunológica, pode-se realizar
extração e descarte do leite. Exame de controle (12ª semana após início da
PEP) com resultado HIV não reagente autoriza a reintrodução do aleitamento
materno
PREVENÇÃO DA GRAVIDEZ NÃO PLANEJADA
● Risco de gravidez entre 0,5 e 5%, considerando-se a aleatoriedade da violência
em relação ao período do ciclo menstrual
● A gravidez decorrente de violência sexual representa, para grande parte das
mulheres, uma segunda forma de violência
ANTICONCEPÇÃO DE EMERGÊNCIA (AE)
● Indicação: mulheres e/ou adolescentes (com sinais de puberdade e não
estejam na menopausa) + violência sexual (contato certo ou duvidoso com
sêmen). Independentemente do período do ciclo menstrual em que se
encontrem
● Considerar o estado de orientação e concentração da pessoa, em função do
trauma causado pelo abuso
● Desnecessária se:
o A mulher estiver usando regularmente método anticonceptivo de
elevada eficácia no momento da violência sexual (anticoncepcional oral
ou injetável, esterilização cirúrgica ou DIU)
o Caso de coito oral ou anal
● Mecanismo de ação:
o Na 1ª fase do ciclo menstrual:
⮚ Altera o desenvolvimento dos folículos, impedindo a ovulação
ou a retardando por vários dias
o Na 2ª fase do ciclo menstrual (após a ovulação):
⮚ Atua modificando o muco cervical, tornando-o espesso e hostil,
impedindo ou dificultando a migração sustentada dos
espermatozóides do trato genital feminino até as trompas em
direção ao óvulo
● Não existe “efeito abortivo” com o uso de AE:
o AE impede somente a fecundação
o Não existem indicadores de que a AE exerça efeitos após a fecundação,
altere o endométrio, prejudique a implantação, ou que resulte na
eliminação precoce do embrião
● Todos os esquemas deverão ser iniciados o mais precocemente possível,
preferencialmente em até 72h e, excepcionalmente, até 120h (5 dias) após a
violência sexual
● A eficácia da AE é elevada:
o AE pode evitar, em média, 3 de cada 4 gestações que ocorreriam após a
violência sexual
o As taxas de falha em função do número de horas entre a violência
sexual e sua administração
ALTERNATIVAS FRENTE A GRAVIDEZ DECORRENTE DE VIOLÊNCIA SEXUAL
● É direito dessas mulheres e adolescentes serem informadas da possibilidade de
interrupção da gravidez
● Da mesma forma e com mesma ênfase, devem ser esclarecidas do direito e da
possibilidade de manterem a gestação até o seu término, garantindo-se os
cuidados pré-natais apropriados para a situação. Receber informações
completas e precisas sobre as alternativas após o nascimento, que incluem a
escolha entre permanecer com a futura criança e inseri-la na família, ou
proceder com os mecanismos legais de doação
ASPECTOS LEGAIS

● O objetivo do serviço de saúde é garantir o exercício do direito à saúde


o Não cabe ao profissional de saúde duvidar da palavra da vítima, o que
agravaria ainda mais as consequências da violência sofrida
o Seus procedimentos não devem ser confundidos com os procedimentos
reservados à Polícia ou Justiça
PROCEDIMENTOS DE JUSTIFICAÇÃO E AUTORIZAÇÃO PARA INTERRUPÇÃO DE
GESTAÇÃO PREVISTA EM LEI
● A realização do abortamento não se condiciona à decisão judicial que sentencie
e decida se ocorreu estupro ou violência sexual
● A lei penal brasileira também não exige alvará ou autorização judicial para a
realização do abortamento em casos de gravidez decorrente de violência
sexual. O mesmo cabe para o BO policial e para o laudo do exame de corpo de
delito e conjunção carnal, do IML

CONSENTIMENTOS
● Segundo o Código Penal Brasileiro é imprescindivel o consentimento por escrito
da mulher para a realização do abortamento em caso de violência sexual, que
deve ser anexado ao prontuário médico
● O Código Civil estabelece que, a partir dos 18 anos, a mulher é considerada
capaz de consentir sozinha para a realização do abortamento
● A ausencia dos pais ou responsável não deve impedir o atendimento á
adolescente pela equipe de saúde em nenhuma consulta
● Quando houver indicação de um procedimento invasivo, como no caso do
aborto, torna-se necessária a presença de um dos pais ou o responsável,
excluindo-se as situações de urgência
● Havendo desejo de continuidade da gravidez pela adolescente e discordância
de pais ou responsáveis que desejam o aborto, o serviço deve respeitar o
direito de escolha da adolescente e não realizar nenhum encaminhamento ou
procedimento que se oponha a sua vontade
● Em casos onde haja posicionamentos conflitantes, onde a adolescente deseja a
interrupção da gravidez e a família não deseja, e estes não estejam envolvidos
na violência sexual, deve ser buscada a via judicial, através do Conselho Tutelar
ou Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude, que deverão, através do
devido processo legal, solucionar o impasse
● Procedimento ao aborto legal:
o Menores de 18 anos grávidas com direito ao aborto legal, devem ser
acolhidas e esclarecidas sobre o seu direito à escolha da opção do
abortamento, sendo necessária a autorização de responsáveis ou
tutores para a solicitação do procedimento
o Menores de 14 anos, necessitam adicionalmente de uma comunicação
ao Conselho Tutelar e acompanhamento do processo, com sua
solicitação de agilização
● O consentimento do representante legal também é necessário se a mulher, por
qualquer razão, não tiver condição de discernimento e expressão de sua
vontade (deficientes mentais)
OBJEÇÃO DE CONSCIÊNCIA
● O médico deve exercer a profissão com autonomia, não sendo obrigado a
prestar serviços profissionais a quem ele não deseje, salvo na ausência de outro
médico, em casos de urgência, ou quando sua negativa possa trazer danos
irreversíveis ao paciente
● Também é direito do médico recusar a realização de atos médicos que, embora
permitidos por lei, sejam contrários aos ditames de sua consciência
● No entanto, é vedado ao médico: descumprir legislação específica nos casos de
transplante de órgãos ou tecidos, esterilização, fecundação artificial e
abortamento conforme o artigo 15 do cap. III.

● Não há direito de objeção de consciência em algumas situações excepcionais:


o Risco de morte para a mulher
o Em qualquer situação de abortamento juridicamente permitido, na
ausência de outro profissional que o faça
o Quando a mulher puder sofrer danos ou agravos á saúde em razão da
omissão do profissional
o No atendimento de complicações derivadas do abortamento inseguro, por
se tratarem de casos de urgência
PROCEDIMENTOS DE INTERRUPÇÃO DE GRAVIDEZ
● Abortamento: interrupção da gravidez até a 20ª semana ou 22ª semana de
gestação, e com produto da concepção pesando menos que 500g
● Aborto: produto da concepção eliminado pelo abortamento
● Alívio da dor: a inadequação do controle da dor provoca sofrimento
desnecessário e injustificado, e aumenta o dano emocional e o risco de
complicações
● Cuidados de coleta e guarda de material: recomenda-se que amostras do
material embrionário do abortamento induzido sejam guardadas, para eventual
investigação de DNA, mediante solicitação do Poder Judiciário
● Determinação da idade gestacional:
o A estimativa da IG deve ser feita em semanas, calculadas a partir da
data da última menstruação (DUM) conhecida e de certeza
o O exame de ultrassonografia é o método mais preciso e adequado para
confirmar a IG
o Determinar a IG é importante para a escolha do método do
abortamento e para estabelecer a concordância entre a IG e o período
da violência sexual
MÉTODOS DE INTERRUPÇÃO
● Até 12 semanas: o abortamento medicamentoso com Misoprostol é opção
válida e segura. O método de escolha recomendado é a aspiração a vácuo
intrauterina. A curetagem uterina deve ser usada apenas quando a aspiração a
vácuo não estiver disponível
● Entre 12 e 22 semanas: recomenda-se a utilização do Misoprostol para a
dilatação cervical e a expulsão ovular, completando-se o esvaziamento uterino
com curetagem nos casos de abortamento incompleto
● Mais de 22 semanas: não há indicação para interrupção da gravidez após 22
semanas de IG. A mulher deve ser aconselhada ao acompanhamento pré-natal
especializado, facilitando-se o acesso aos procedimentos de adoção, se assim o
desejar
PLANO DE CUIDADOS – ATENÇÃO BÁSICA
● Estabelecimento de plano se segurança para mulheres com risco de vida:
o Identificar um ou mais vizinhos para os quais a mulher pode contar
sobre a violência, para que eles ajudem se ouvir brigas em sua casa,
fazendo acordos com algum vizinho em quem possa confiar para
combinar um código de comunicação para situações de emergência
o Se a briga for inevitável, sugerir que a mulher se certifique de estar em
um lugar onde possa fugir e tente não discutir na cozinha ou em locais
em que haja possíveis armas ou facas
o Orientar que a mulher cogite planejar como fugir de casa em segurança,
e o local para onde ela poderia ir nesse caso
o Orientar que a mulher se preocupe em escolher um lugar seguro para
manter um pacote com cópias dos documentos (seus e dos filhos),
dinheiro, roupas e cópia da chave de casa, para o caso de ter de fugir
rapidamente
o Monitorar a usuária após o procedimento de abortamento legal,
levando em consideração os riscos de intercorrências imediatas
(sangramentos, febre, dor pélvica) e intercorrências tardias
(infertilidade, sofrimento psíquicos)
o Educação em saúde:
⮚ Orientar individual ou coletivamente os usuários da Atenção
Básica acerca dos direitos das mulheres, em prol do
fortalecimento da cidadania e de uma cultura de valorização da
paz
⮚ Oferecer serviços de planejamento reprodutivo às mulheres pós-
abortamento, bem como orientações para aquelas que desejam
nova gestação, para prevenção das gestações indesejadas e do
abortamento inseguro
⮚ Orientar sobre os aspectos bipsicossociais relacionados ao livre
exercício da sexualidade e do prazer
CONSIDERAÇÕES FINAIS
● Problema de grande abrangência e com forte impacto na saúde dos indivíduos
acometidos
● Trata-se de uma questão de saúde pública, segurança e acesso à justiça
● Atenção aos sinais indiretos de ocorrência da violência
● É fundamental a interrupção do processo gerador
● Atendimento humanizado das vítimas, para evitar a revitimização das mesmas
● Aquisição de conhecimentos técnico-científicos visando diminuir as
repercussões do ato violento
● Trabalho integrado da equipe multiprofissional promovendo ações
intersetoriais
● Contribuição para o processo de responsabilização do agressor, visando a
diminuição da impunidade

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