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DIARREIA AGUDA

Aula de Pediatria

Dra. Benedita da Silva


Epidemiologia e Etiologia da diarreia

Sumário:
Introdução

Tipos de diarreia

Epidemiologia

Etiologia

Implicações para o tratamento

Prevenção da diarreia
Introdução

 A diarreia, durante o 1º ano de vida, constitui um


dos maiores problemas pediátricos quer em
termos de mortalidade, quer pela alta
morbilidade: pelo menos 10% de todas as
crianças adoecem com diarreia aguda nos
primeiros 2 anos de vida.

 Diarreia é praticamente endémica nos Países em


desenvolvimento.
Introdução (cont.)
 A diarreia é a causa principal de doença e óbito nos
países em desenvolvimento e um dos mais
importantes problemas de saúde pública
 Cerca de 1,3 mil milhões de episódios e 4 milhões
de óbitos ocorrem anualmente em crianças menores
de cinco anos

 No mundo, estas crianças experimentam uma média


de 3,3 episódios de diarreia por ano

 Cerca de 80% das mortes devido à diarreia ocorrem


nos primeiros dois anos de vida.
Introdução (cont.)
 A diarreia é uma importante causa de
desnutrição
 Cada episódio de diarreia contribui para a
desnutrição; quando os episódios são
prolongados, o seu impacto no crescimento é
maior
 A doença diarreica também representa um peso
económico para os países em desenvolvimento.
Mais de um terço das camas hospitalares em
pediatria são ocupadas por pacientes com
diarreia.
Introdução (cont.)
• Problema associado à falta de saneamento básico
• Acesso limitado à água em quantidade e
qualidade
• Higiene e destino dos dejectos
• Desmame precoce
• Práticas de desmame inadequadas.
Tipos de diarreia
 O número de dejecções diárias varia de acordo
com a idade. De forma geral, a diarrreia é
definida pela ocorrência de três ou mais
dejecções de fezes moles ou aquosas, num
período de 24 horas.
 Foram definidos três tipos de diarreia:
1. aguda
2. disenteria
3. diarreia persistente
Tipos de diarreia (cont.)
 Diarreia aguda- refere-se à diarreia que se inicia de
forma aguda, dura menos de 14 dias e envolve
dejecções de fezes aquosas, sem sangue visível. Pode
ocorrer vómitos e haver febre.
 A diarreia aguda causa desidratação, e quando a
ingestão de alimentos é reduzida, também contribui
para a desnutrição.
 A maioria dos episódios de diarreia aguda é devida a
infecções gastrointestinais, geralmente auto-limitadas.
Tipos de diarreia (cont.)

Causas mais importantes de diarreia aguda: o


Rotavirus, a Escheria coli enterotoxigenica,
Shigella, Campylobacter jejuni e Crytosporidium
Em alguma áreas são causas também importantes

Vibrio cholera 01, Salmonella e E.coli


enteropatogenica.
Tipos de diarreia (cont.)

 Disenteria
é a diarreia com sangue visível nas fezes.
A causa principal de disenteria é a Shigella;
Campylobacter jejuni e, com menos frequência,
a E.coli enteroinvasiva ou Salmonella.
Tipos de diarreia (cont.)

 Diarreia persistente
Esta diarreia inicia-se de forma aguda,
presumivelmente infecciosa, mas é de uma
duração longa (mais de 14 dias)

 Não há uma única causa microbiana de diarreia


persistente: a E. coli enteroagregativa, Shigella e
Cryptosporidium.
Etiologia da Diarreia
Infecção entérica

Bactérias Vírus Parasitas

E. coli Rotavírus Giardia lamblia


Salmonella Adenovírus Entamoeba
Shigella enterico histolytica
Campylobacter Norwalk e outros Trichiuris trichiuria
jejuni virus Cryptosporidium
Yersinia Isospoora belli
enterocolitica
Vibrium cholerae
Clostridium
perfringes
Staphilococcus
Etiologia da diarreia

INFECÇÃO PARENTERAL Factores não infecciosos

• IVRS ( Rinofaringites, • Erros dietéticos


Otites) • Intolerâncias alimentares (a
• Bronquites, Pneumonias dissacáridos, proteínas do
• Infecções urinárias leite de vaca)
• Malária • Factores tóxicos
• Infecções intra (disbacteriose, laxantes)
abdominais, Apendicites, • Factores Psicogénicos
Peritonites • Factores Endócrinos
• Antibióticos
Adenovírus Astrovírus Norwalk

Escherichia coli Shigella Giárdia


Mecanismos patogénicos da diarreia

1. Mecanismo enterotóxico ou secretor

2. Mecanismo enteroinvasivo

3. Mecanismo osmótico
Mecanismo patogénico da diarreia

Mecanismo enterotóxico ou secretor


Afecção do intestino delgado
(E.coli enterotoxigenica,V.cholerae,Clostridium,
Campylobacter)

Aderência a Activação da Activação da Aumento da


mucosa intestinal adenilciclase e bomba secreção
produção da AMPc e electrolítica intestinal
GMP cíclico

As fezes são líquidas, frequentes e abundantes, com


grandes perdas de água e electrólitos.
Mecanismo patogénico da diarreia

Mecanismo enteroinvasivo
Afecção do intestino grosso
(E.coli enteroinvasiva, Shigella, Salmonela, Campylobacter,
E.histolytica)

Aderência às Multiplicação dentro Reacção inflamatória


células epiteliais da do enterócito do aguda, destruição
mucosa intestinal sistema reticulo- celular com
endotelial ulceração

As fezes são em quantidade reduzida, frequentes, com


muco e sangue, acompanhado de cólicas abdominais e
tenesmo rectal, com pús, na presença de infecção
bacteriana e o doente pode apresentar-se com febre.
Mecanismo patogénico da diarreia

Mecanismo Osmótico
Afecção do Intestino Delgado
(E.coli enteropatogenica, Virus, Giardia,Criptosporidium )

Penetração e Destruição com Migração acelerada de


multiplicação no descamação enterócitos imaturos
interior da célula com função secretora,
para superfície das
vilosidades

As fezes são aquosas com PH ácido e pode-se associar a hiperémia


perianal.
Epidemiologia
Transmissão de agentes causadores de diarreia
A transmissão é fecal-oral, por ingestão de água
e comida contaminadas com fezes, e por
contacto directo com as fezes
Comportamentos específicos que promovem a
transmissão dos enteropatogénicos:
 O não aleitamento materno exclusivo nos

primeiros 6 meses de vida


Epidemiologia (cont.)
 A utilização de biberons
 Conservar alimentos cozinhados à temperatura
ambiente
 Utilizar água de beber contaminada com
bactérias fecais
 Não lavar as mãos depois de defecar, depois de
dispôr as fezes ou antes de manusear a comida
 Não dispôr as fezes (incluindo as do lactente)
de forma higiénica.
Epidemiologia (cont.)
Factores do hospedeiro que aumentam a
susceptibilidade à diarreia:
 Não dar aleitamento materno, até pelo menos,
2 anos de idade
 Desnutrição
 Sarampo
 Imunodeficiência ou imunosupressão
Epidemiologia (cont.)
 A Organização Mundial de Saúde estimou que em 2007,
em Moçambique, 26.900 mortes por ano se deviam a
doenças diarreicas relacionadas com água, saneamento e
higiene.
 Os dados do MICS de 2008 indicam que doenças
diarreicas são a 5ª maior causa de mortalidade de
crianças menores de cinco. 
 Esta estimativa é apoiada pelo Estudo Nacional sobre a
Mortalidade Infantil 2009, segundo o qual as doenças
gastro-intestinais infecciosas contribuem com quase sete
por cento do número total de óbitos.
Epidemiologia (cont.)
 O MICS 2008, indica ter havido um aumento na
prevalência de doenças diarreicas em crianças menores
de cinco anos, de 14 por cento em 2003 para 18 por
cento em 2008.
 Quase metade (47 %) das crianças (com idades entre 0-
5 anos) com diarreia foram submetidas a terapia de
rehidratação oral e continuaram com o aleitamento
materno normal. 
 A introdução de Zinco e do manejo de casos a nível da
comunidade por APE treinados melhorará ainda mais os
resultados e acelerará a redução da mortalidade infantil
de menores de cinco anos.
ETIOLOGIA

 Etiologia{ bacteriana-25%; viral-50%; parasita


(Giardia)-5% e outros- 20%
 Não esquecer:
1º- Nem sempre a presença de um germen
patogénico nas fezes significa que esse seja o
responsável pela diarreia
2º- Em caso de diarreia, a coprocultura deve
ser limitada à investigação ou no caso de
epidemia.
Vírus
 Rotavírus- vírus enteropatogénico provoca diarreia
epidémica ou esporádica, mais frequentes nos
meses frios, especialmente em crianças de 6 M aos
3 A.
Presente em cerca de 50% dos episódios diarreicos.
A infecção entérica por rotavírus manifesta-se por
vómitos febris, surgindo diarreia 24h depois, por
vezes com manifestações respiratórias altas
associadas, surgindo nos meses frios e ocasionando
uma diarreia não muito intensa.
Bactérias
 As Shigellas- provocam, regra geral, um tipo de
diarreia, que pode fazer suspeitar da etiologia.
O início é súbito, acompanhado de febre alta, de
vómitos, por vezes de manifestações
neurológicas convulsivas e meningismo.
 A diarreia pode apresentar um aspecto típico
duma diarreia muco-pio-sanguinolenta, o muco e
o sangue são relativamente frequentes.
 São frequentes em ambiente de baixo nível
higiénico.
Bactérias (cont.)
A- As Shigellas têm como hospedeiro exclusivo o
homem e são disseminadas por contaminação
directa pelo material fecal.

B- O Campylobacter jejunii pode causar um


quadro semelhante, tal como a Yersinia
enterocolitica, que nas crianças maiores, pode
causar um quadro de adenite mesentérica
pseudo-apendicular.
Bactérias (cont.)
 C- O Staphilococcus aureus pode causar diarreia
com resultado de toxinas produzidas por este
organismo que são termo-resistentes.
 D- A Escherichia coli pode causar diarreia por
variados mecanismos. As estirpes invasoras
(EIEC) o mecanismo de acção é semelhante ao
da Shigella.
Bactérias
 Há estirpes enterotóxicas (ETEC) que produzem
um enterotoxina semelhante à colérica. As ETEC
são uma das mais frequentes causas de diarreia
aguda nas crianças.
 A E.coli enteropatogénica (EPEC) causa inúmeras
epidemias de diarreia de lactentes. São os germes
mais frequentemente identificados como causa de
diarreia epidémica em RNs nas maternidades. A
disseminação faz-se principalmente pelas mãos de
quem cuida destas crianças.
Bactérias (cont.)
 E- Salmonellas
O quadro clínico da salmonelose é o de uma
banal diarreia aguda febril. Os casos de
epidemias de “Intoxicações alimentares” febris,
horas após a ingestão de alimentos à base de
ovos- em especial nos meses quentes- são
causados por salmonellas não typhi.
(S.enteritidis).
Bactérias (cont.)

 Salmonellas- A via de contaminação é a fecal-


oral directa, por deficiente higiene das mãos e
do pessoal que muda as fraldas e dá os
biberões.
A presença das mães no hospital, cada uma
cuidando do seu filho, evita este problema.
Parasitas
 Giardia- A Giardia lamblia é um parasita
flagelado frequente/ (25%) encontrado nas
fezes de crianças normais vivendo em grupo
(creches). Pode causar diarreia aguda num
primeiro contacto.
 Crytosporidium- é outro protozoário causador
de diarreia, sobretudo em crianças com défice
imunitário.
Diarreia Aguda
 Enquanto as diarreias por Rotavirus
predominam nos meses frios, as bacterianas
predominam nos meses quentes (c/ excepção
de Yersinia que tb. predomina nos meses
frios).
 A diarreia aguda infecciosa deve ser vista
numa perspectiva epidemiológica.
a) a fonte b) a via (sempre fecal-oral)
c) a receptividade do hospedeiro.
Implicações para o tratamento

O tratamento baseia-se nos aspectos clínicos da


doença e na compreensão dos mecanismos
patogénicos subjacentes.
Tratamento da diarreia: princípios

 Diarreia aquosa requer a substituição de fluidos


e electrólitos
 Deve-se continuar com a alimentação
 Não se deve usar por rotina os antibióticos e
antiparasitários. As excepções são: disenteria,
suspeita de cólera com desidratação grave
 Diarreia persistente, com trofozoítos ou quistos
de Giardia ou trofozoítos de E. histolytica são
vistos nas fezes ou no fluido intestinal.
Justificação para antibioterapia

 Invasão sistémica
 Recém-nascidos
 Lactentes do 1° trimestre
 Crianças malnutridas
 Crianças imunodeficientes
Estratégias de prevenção

 Reposição de líquidos para evitar a


desidratação;
 Tratamentos com zinco;
 Rotavírus e vacinas contra o sarampo;
 Promoção do aleitamento materno precoce e
exclusivo e suplementos de vitamina A;
Estratégias de prevenção (cont.)

 Promoção do aleitamento materno exclusivo


 Promoção da lavagem das mãos com sabão;
 Melhorias na quantidade e na qualidade da água
fornecida, incluindo tratamento e armazenamento
seguro da água para consumo doméstico;
 Promoção e expansão do saneamento básico na
comunidade
 Vacina contra Rotavirus com 2 e 4 meses de idade.
Bibliografia
 Behrman, Kliegman, Jenson, Nelson Textbook
of Pediatrics, 20th edition;
 Manual de diarreia da OMS;
 OMS (1994). Readings on Diarrhoea [Student
Manual].
 Blackbook Pediatria, 3a Edição
 Pobreza infantil e disparidades, 2008 UNICEF

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