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Aleitamento Materno: definições, benefícios e principais desafios.

Índice

1.DEFINIÇÕES
2.Desenvolvimento mamário e a produção láctea
3.Duração ideal da amamentação
4.Benefícios comprovados da amamentação
5.Técnica de amamentação – a pega correta
6.Principais desafios à manutenção do aleitamento materno
7.Crise transitória na lactação
8.CONCLUSÕES

DEFINIÇÕES

O aleitamento materno é uma prática fundamental para o desenvolvimento da


criança. Ele envolve muito mais do que apenas o ato de nutrir, envolve uma grande
interação entre mãe e filho com repercussões importantes sobre o desenvolvimento
cognitivo, estado nutricional e emocional da criança.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divide o aleitamento materno nos subtipos:

Aleitamento materno exclusivo (AME): Envolve oferecer à criança apenas o leite


materno, seja por sucção direta da mama ou por ordenha manual, sem que haja
adição de outros líquidos ou sólidos.

Aleitamento materno predominante (AMP): Quando é oferecido à criança água,


sucos ou outras bebidas, porém sem deixar de lado o aleitamento materno, que
deve ser feito de forma predominante sobre as outras bebidas.

Aleitamento materno: Oferecer leite materno, independentemente de outros


alimentos.

Aleitamento materno complementado: Quando, além do leite materno, há a


inserção de alimentos sólidos ou semissólidos de forma complementar e não
substitutiva.

Aleitamento materno misto ou parcial: Oferecimento de leite materno e outros


tipos de leite (vaca, cabra, etc.).
Atualmente, apesar da grande quantidade de evidências científicas e informações
acerca da importância e dos benefícios de ser realizar o aleitamento materno, ainda
há uma grande número de mães que não o praticam de forma ideal, como é
preconizada pelas diretrizes. Portanto, este artigo busca elucidar alguns aspectos
importantes sobre como deve ser realizada a amamentação, seus benefícios,
duração e os principais desafios que os médicos devem auxiliar as mães a
contornar que podem ser cruciais para o desmame precoce.

Desenvolvimento mamário e a produção láctea

Têm-se três processos principais de preparação da mama para o ato da


amamentação:

● Mamogênese: Fase de desenvolvimento e crescimento mamário. Se inicia


com a puberdade, e durante o período de gravidez esse desenvolvimento se
acelera e se completa.

● Lactogênese: Se refere ao início da formação da secreção láctea. A


produção e secreção do leite se dá com estímulos de dois hormônios
principais, a prolactina (PRL), que é responsável por estimular a produção de
leite pelas glândulas mamárias e pela ocitocina (OT) que estimula a
contração da musculatura lisa e a consequente ejeção do leite pela mama.
● Galactopoiese: se refere à manutenção da secreção láctea. Essa secreção
que requer um meio hormonal adequado (PRL + OT), sucção periódica e
remoção regular do leite. A sucção é fundamental para produzir o leite, caso
contrário, deve-se estimular a ordenha.

O estado mental, a presença de estímulos visuais, táteis, auditivos e olfatórios


podem ter um papel estimulador ou inibidor destes processos. Por isso uma
orientação adequada com enfoque na manutenção de uma boa saúde mental para
as mães pode contribuir para a eficácia do aleitamento materno.

A produção láctea é diferente de mãe para mãe. Cada uma produz um leite com
composição única. A produção passa por um processo de maturação, fazendo com
que o leite passe por três fases principais em sua produção:

● Colostro: É produzido do primeiro ao quinto dia após o nascimento, possui


coloração amarelada e sua composição é rica em proteínas e
imunoglobulinas (IgA, IgG e IgM), sendo considerada a primeira imunização
que o bebê recebe logo após seu nascimento.
● Leite de Transição: É produzido do sexto ao décimo quinto dia após o
nascimento, sendo sua composição rica em gorduras, lactose e outros
nutrientes importantes. Sua coloração é branca, opaca.
● Leite maduro: É considerado o leite ideal, com todos os componentes
essenciais para o desenvolvimento da criança. É produzido a partir do 15º dia
após o nascimento. Sua coloração é de transição entre o amarelo e o branco.

Dúvida frequente: “O meu leite muda de cor com frequência, às vezes está mais
esbranquiçado, outras vezes mais amarelado. Isso é normal?”.

Como contornar: É normal as variações na coloração do leite materno, até mesmo


durante o decorrer da própria mamada. Logo ao início da mamada a coloração do
leite é mais esbranquiçada, devido à maior composição de água, eletrólitos,
vitaminas, minerais e anticorpos, tornando-se mais opaco à medida que aumenta a
concentração de caseína. Logo ao final da mamada ele passa a apresentar uma
coloração mais amarelada devido ao alto teor de betacaroteno, de lipídeos e ácidos
graxos, que darão saciedade à criança. Por isso é importante estimular que seja
oferecido o leite até que a mama seja esvaziada completamente, para que o bebê
fique hidratado e tenha suas necessidades calóricas supridas.

Componentes imunológicos importantes presentes no leite materno:


imunoglobulinas (IgA, IgG e IgM), macrófagos, neutrófilos, linfócitos B e T,
lactoferrina, lisosima e fator bífido.

Duração ideal da amamentação

Até os 6 meses: Aleitamento Materno Exclusivo


6 meses a 2 anos: Aleitamento Materno seguido da inserção da alimentação
complementar.
Após os 2 anos: alimentação conjunta com a família.
Muitos estudos demonstram a possibilidade de ocorrência de prejuízos à saúde da
criança caso seja realizada uma inserção precoceda alimentação complementar,
como uma ocorrência maior de casos de diarreia, problemas respiratórios,
desnutrição, distúrbios na absorção de nutrientes, diminuição do tempo de
amenorreia lactacional como método contraceptivo natural.

Benefícios comprovados da amamentação

● Proteção contra cânceres de mama;


● Menor risco de obesidade, hipertensão, diabetes e hipercolesterolemia para a
criança;
● Promove melhor desempenho cognitivo;
● Auxilia no desenvolvimento da cavidade bucal;
● Se torna um contraceptivo natural para as mães;
● Reduz risco de alergias e infecções na criança;
● Reduz risco de morte súbita;
● Promove vínculo entre a mãe e o filho;
● Diminui custos financeiros.

Técnica de amamentação – a pega correta

● Corpo do bebê voltado para a mãe;


● Queixo encostado no seio;
● Grande parte da aréola na boca do bebê, e não apenas no mamilo;
● Lábios virados para fora;
● Boca aberta como "boquinha de peixe" ;
● Nariz não encosta nos seis e respira livremente
● Bochechas arredondadas quando sugar o leite;

Sete pontos importantes que podem ser observados para garantir que o bebê tenha
uma amamentação eficaz. Caso a pega seja ineficaz, a mão pode ser predisposta a
diversas intercorrências mamárias, desconforto, além de diminuir a produção láctea
e isso ter reflexo no desenvolvimento pondero-estatural do bebê.

Principais desafios à manutenção do aleitamento materno

Intercorrências na glândula mamária

● Ingurgitamento mamário: causado em grande parte pela estase de leite na


glândula (popular “peito empedrado”). Pode ser tratado com a realização de
compressas mornas e evitado com a ordenha de leite e amamentação até
esvaziar a mama.

● Traumas mamilares: Pode ser causada como consequência de uma pega


incorreta. Pode causar fissuras/bolhas mamilares, muito dolorosas à mãe. O
bebê pode vomitar sangue como consequência da ingestão do mesmo
durante o ato de amamentação e dificultar o diagnóstico clínico. As fissuras
podem ser tratadas com hidratantes à base de lanolina, com a aplicação do
próprio leite materno no local e com banho de sol. Estas medidas favorecem
uma boa queratinização no local lesado.

● Monilíase mamária: Candidíase mamária. Causa prurido, dores profundas


(fisgadas) e queimação nas mamas, que persistem após as mamadas. Deve
ser tratada com antifúngicos (Miconazol e Fluconazol).
● Mastite: Infecção aguda da mama, tendo como principal agente etiológico o
Staphylococcus aureus. Deve-se dar preferência à amamentação com a
mama sadia, sempre tendo o cuidado de ordenhar a mama doente para
evitar ingurgitamento mamário, usar sutiãs de alças largas e utilizar
antiinflamatórios ou analgésicos para alívio da dor.

● Abcesso mamário: Geralmente é complicação de uma mastite não tratada.


O tratamento definitivo consiste na drenagem cirúrgica do abcesso e
avaliação da necessidade de antibioticoterapia.

Crise transitória na lactação

É considerado um período de “estirão” do bebê. Aumenta-se nesse período a


demanda por leite materno, porém a produção não acompanha a nova
demanda. Esse é um dos períodos cruciais para a inserção precoce da
alimentação complementar por parte das mães. Porém deve-se orientar a
continuar com a amamentação, pois quanto maior o consumo de leite pelo
bebê, maior será a produção pela mãe, devido aos estímulos constantes pela
prolactina. Este quadro se estabiliza aproximadamente com 7 dias.

Dúvida frequente: “Meu filho vive chorando de fome, parece que meu leite
não o sustenta”.

Como contornar: É importante orientar as mães que nem todo choro da


criança é sinônimo de fome. Uma forma prática de comprovarmos a eficácia
do aleitamento materno exclusivo é mostrar para a mãe que seu bebê está
tendo um ganho ponderal e de estatura ideais para sua idade (se for o caso),
ao analisar as curvas da caderneta da criança. Caso sejam detectadas
anormalidades nesses indicadores, as causas devem ser investigadas.

Como armazenar o leite materno ordenhado corretamente?

O leite deve ser armazenado em um recipiente próprio, selado e esterilizado.


O ideal é que não sejam cheios por completo, e que a data de ordenha seja
anotada junto ao frasco. Pode ser armazenado na geladeira por até 24h, ou
no congelador por até 2 semanas. Caso seja armazenado a fresco, sua
armazenagem dura por 6h. Não é indicado seu aquecimento utilizando
micro-ondas, podendo ser feito em banho-maria para evitar alteração em sua
composição.
CONCLUSÕES

O aleitamento materno é inerente à criança, e possui uma repercussão


importante no seu desenvolvimento. Apesar de possuir benefícios
duradouros, nem sempre sua realização é feita da forma que é preconizada
pelas diretrizes. Cabe aos médicos e profissionais da saúde estimularem a
sua realização da forma correta e evitar que as intercorrências mamárias
estimulem a inserção precoce da alimentação complementar.

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