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 Cólera: Quando suspeitar clinicamente que o paciente

possa apresentar cólera? Qual a diferença das outras


enterocolites bacterianas?
.

Enterite — Inflamação do Trato Intestinal.

Enterite significa inflamação, em geral, ocasionada por vírus ou por bactérias do


trato intestinal. Na diarreia infecciosa comum, a infecção é mais extensa, no
intestino grosso e na parte distal do íleo. Em todos os lugares em que a infecção
esteja presente, ocorre irritação da mucosa, cuja secreção aumenta muito.
Ademais, a motilidade da parede intestinal costuma ficar muito aumentada.
Como resultado, existe no lúmen grande quantidade de líquido para a remoção
do agente infeccioso e, ao mesmo tempo, fortes movimentos propulsores
impelem esse líquido na direção do ânus. Esse mecanismo é importante para
livrar o trato intestinal de infecção debilitante. De especial interesse é a diarreia
causada pelo cólera (e menos frequentemente por outras bactérias, como os
bacilos patogênicos do cólon). A toxina do cólera estimula diretamente a
secreção excessiva de eletrólitos e líquido pelas criptas de Lieberkühn no íleo
distal e no cólon. A quantidade pode ser de 10 a 12 litros por dia, e o cólon em
geral reabsorve o máximo de 6 a 8 litros por dia. Portanto, a perda de líquido e
de eletrólitos por muitos dias pode ser fatal.

 Quando suspeitar clinicamente que o paciente possa apresentar cólera?

 Qualquer indivíduo, independentemente da faixa etária, proveniente de


áreas onde estejam ocorrendo casos de cólera, que apresente diarreia
aquosa aguda até o décimo dia de sua chegada (tempo correspondente a
duas vezes o período máximo de incubação).

 Os comunicantes domiciliares do caso suspeito (de acordo com o item


anterior) que apresentarem diarreia.
 Qualquer indivíduo com diarreia, independentemente da faixa etária, que
coabite com pessoas que retornaram de áreas endêmicas ou epidêmicas de
cólera há menos de 30 dias (tempo correspondente ao período de
transmissibilidade do portador somado ao dobro do período de incubação).

 Todo indivíduo com mais de 10 anos de idade que apresentar diarreia


súbita, líquida e abundante. A presença de desidratação rápida, acidose e
colapso circulatório reforça a suspeita
Aspectos clínicos

Diarreia e vômito são as manifestações clínicas mais frequentes.

Na forma leve (em mais de 90% dos casos), o quadro costuma se iniciar de
maneira insidiosa, com diarreia discreta, sem distinção das diarreias comuns,
podendo também apresentar vômitos. Tal fato tem importância epidemiológica
por constituir a grande maioria dos casos, participando significativamente da
manutenção da cadeia de transmissão. Esse quadro é comum em crianças,
podendo ser acompanhado de febre, o que o torna ainda menos característico,
razão pela qual são exigidos métodos laboratoriais para a sua confirmação.

Nos casos graves, mais típicos, embora menos frequentes (menos de 10% do
total), o início é súbito, com diarreia aquosa, abundante e incoercível, com
inúmeras dejeções diárias. As fezes podem se apresentar como água
amarelo-esverdeada, sem pus, muco ou sangue. Em alguns casos, pode
haver, de início, a presença de muco. Embora isto não seja comum em nosso
meio, as fezes podem apresentar um aspecto típico de “água de arroz”
(riziforme).

 Qual a diferença das outras enterocolites bacterianas?


A cólera é uma doença infecciosa intestinal aguda causada pela enterotoxina do
Vibrio cholerae, e sua principal diferença em relação as outras enterocolites
bacterianas consiste no seu potencial de causar casos graves com diarreia
profusa, podendo assinalar desidratação rápida, acidose e colapso circulatório,
devido a grandes perdas de água e eletrólitos corporais em poucas horas, caso
tais perdas não sejam restabelecidas de forma imediata.

Referência:

 GUYTON, A.C. e Hall J.E.– Tratado de Fisiologia Médica. Editora Elsevier.


13ª ed., 2017.
 BRASIL; MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS). Manual Integrado de Vigilância
Epidemiológica da Cólera. 2008.

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