Você está na página 1de 602

A DOENÇA COMO

LINGUAGEM DA

ALMA NA CRIANÇA
Rüdiger Dahlke

Vera Kaesemann

A DOENÇA COMO

LINGUAGEM DA

ALMA NA CRIANÇA

Interpretação e significado de quadros clínicos

em crianças e seu tratamento holístico

Tradução

KARINA JANNINI
Título original: Krankheit als Sprache der Kinderseele.
Copyright © 2009 C. Bertelsmann Verlag, uma divisão da Verlagsgruppe Random House GmbH,
Munique, Alemanha.
Copyright da edição brasileira © 2014 Editora Pensamento-Cultrix Ltda.
Texto de acordo com as novas regras ortográ cas da língua portuguesa.
1ª edição 2014.
 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou usada de qualquer
forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópias, gravações ou sistema de
armazenamento em banco de dados, sem permissão por escrito, exceto nos casos de trechos curtos citados
em resenhas críticas ou artigos de revistas.
 
A Editora Cultrix não se responsabiliza por eventuais mudanças ocorridas nos endereços convencionais
ou eletrônicos citados neste livro.
 
Editor: Adilson Silva Ramachandra
Editora de texto: Denise de C. Rocha Delela
Coordenação editorial: Roseli de S. Ferraz
Produção editorial: Indiara Faria Kayo
Assistente de produção editorial: Estela A. Minas
Editoração Eletrônica: Join Bureau
Revisão: Liliane S. M. Cajado e Nilza Agua
Produção de ebook: S2 Books

CIP-Brasil Catalogação na Publicação


Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

D129d
Dahlke, Rüdiger
A doença como linguagem da alma na criança : interpretação e signi cado de quadros clínicos em
crianças e seu tratamento holístico / Rüdiger Dahlke, Vera Kaesemann ; tradução: Karina Jannini. – 1.
ed. São Paulo : Cultrix, 2014.
544 p. : il. ; 23 cm.
 
Tradução de: Krankheit als sprache der kinderseele
ISBN 978-85-316-1264-0
 
1. Pediatria. 2. Medicina. 3. Medicamentos. 4. Saúde Holística. I. Kaesemann, Vera. II. Título.
 
14-09262 CDD: 618.92
CDU: 616.053.2

1ª edição digital: 2014


e-ISBN: 978-85-316-1276-3

Direitos de tradução para o Brasil adquiridos com exclusividade pela


EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA., que se reserva a
propriedade literária desta tradução.
Rua Dr. Mário Vicente, 368 – 04270-000 – São Paulo – SP
Fone: (11) 2066-9000 – Fax: (11) 2066-9008
http://www.editoracultrix.com.br
E-mail: atendimento@editoracultrix.com.br
Foi feito o depósito legal.
Para Jens, Hanna e Lara. Com amor da mamãe.
 
Para Naomi,
Atlanta, Parmita
e todas as outras crianças deste mundo.
Do Papap

“Lidar com crianças faz bem à alma.”


Fiodor M. Dostoiévski
Sumário

Capa

Folha de rosto

Ficha catalográfica

Dedicatória

1 Introdução
1.1 Como surgiu este livro
1.2 Como usar este livro
1.3 A utilização de medicamentos homeopáticos
1.4 Sobre “os riscos e os efeitos colaterais” deste livro!

2 Fundamentos gerais
2.1 Amor como fundamento da vida
2.2 Critérios da infância
2.2.1 O afeto dos pais
2.2.2 Critérios da puberdade e da juventude como marcos
deste livro
2.2.3 Problemas sociais
2.3 Três pilares da saúde
2.3.1 Alimentação
2.3.1.1 Leite materno como alimento e remédio
2.3.1.2 A alimentação infantil
2.3.1.3 Outras dicas de alimentação para uma vida saudável
2.3.1.4 A alimentação da criança doente
2.3.2 Movimento
2.3.3 Relaxamento
2.4 Contato físico como base da vida
2.4.1 Desenvolvimento da inteligência e contato físico
2.4.2 A criança imatura
2.4.3 Contato físico e amamentação
2.4.4 Terapia através da pele
2.4.5 O “método canguru”
2.4.6 Do Reiki ao Deeksha – imposição das mãos e bênção
2.4.7 Moderna magia por contato
2.5 Pais e filhos no espelho da alma
2.6 Filhos e sugestão ou A história da verruga-mãe
2.7 Proibições e o desenvolvimento cerebral
2.8 A Lua – o princípio primário da infância e do aspecto
materno
2.9 Educação
2.9.1 Campos que geram formas
2.9.2 Formação do caráter através de exemplos
2.10 Ferramentas para os pais entenderem melhor os filhos
2.10.1 A família representada em figuras de animais
2.10.2 Desenhando a figura de uma ilha
2.10.3 Colocando ou desenhando a família em figuras
2.11 Conversando com Deus ou rezando antes de dormir
2.12 Meditações induzidas
2.13 Ritmos e rituais
2.14 Confiança no reino mágico-mítico
2.15 As regras do jogo da vida
2.16 Exercícios para o crescimento, o desenvolvimento e o bem-
estar
2.16.1 Riso
2.16.2 Exercícios de confiança
2.16.3 Todo dia uma boa ação ou espírito de equipe para
iniciantes
2.16.4 Animais como companheiros de vida
2.16.4.1 Os animais e o sétimo sentido
2.16.4.2 Animais como terapeutas
2.16.5 Encontrando o próprio animal totem
2.17 Terapias especiais para crianças
2.17.1 Constelação familiar sistêmica segundo Hellinger
2.17.2 Essências florais para crianças
2.17.3 Superando o trauma por meio dos movimentos
oculares
2.17.4 Outros exercícios fáceis e eficazes
3 Febre
3.1 A febre pode ser tolerada sem problemas?
3.2 Argumentos contra a diminuição da febre
3.3 Auxílio homeopático e médico em caso de febre?
3.4 Remédios homeopáticos para a febre
3.5 Convulsões febris
3.5.1 O que é uma convulsão febril?
3.5.2 Quais crianças correm esse risco?
3.5.3 Sinais perigosos e esclarecimento médico

4 Doenças infecciosas
4.1 Doenças infantis – o pequeno ser humano no grande mundo
4.1.1 Doenças infantis fortalecem
4.1.2 História da vida e da humanidade
4.2 Lidando, na prática, com as doenças infantis
4.3 Sarampo
4.4 Caxumba
4.5 Rubéola
4.6 Coqueluche
4.7 Catapora
4.8 Febre dos três dias
4.9 Escarlatina
5 Vacinas
5.1 Vacinar ou lavar? Erro de pensamento no exemplo da vacina
do câncer de colo do útero
5.2 Verdadeira prevenção em vez de diagnóstico precoce

6 Cefaleias e enxaquecas
6.1 Cefaleias
6.1.1 A corrida cabeça com cabeça
6.1.2 O local do acontecimento (da dor)
6.2 Enxaqueca

7 Doenças oculares e distúrbios da visão


7.1 Conjuntivite
7.2 Terçol
7.3 Estenose do canal lacrimal
7.4 Estrabismo
7.4.1 Falta de capacidade de coordenação
7.4.2 Tipos de estrabismo

8 Doenças relativas à garganta, ao nariz e ao ouvido


8.1 Predisposição a infecções – baixa imunidade
8.2 Graus de escalada da agressividade
8.3 Otite
8.3.1 O que acontece na otite?
8.3.2 Pressão de dentro e de fora
8.4 Medicamentos homeopáticos para dor de ouvido
8.5 Dor de garganta
8.6 Resfriado
8.7 Sinusite
8.8 Anel de Waldeyer, pólipos
8.9 Complementação homeopática a partir da concha
8.10 Hemorragia nasal

9 Problemas nos órgãos respiratórios


9.1 Tosse e bronquite
9.2 Medicamentos homeopáticos para tosse e bronquite
9.3 Pneumonia
9.4 Pseudocrupe
9.5 Asma brônquica
9.5.1 Polaridades
9.5.2 Medo como tema central
9.5.3 O aprendizado a partir de modelos e um ambiente
natural

10 Problemas no trato digestório, doenças gastrointestinais


10.1 Dor abdominal
10.1.1 Cólica dos três meses
10.1.2 Medicamentos homeopáticos em casos de dores
abdominais
10.2 Gases
10.3 Vômito
10.3.1 Vomitando o leite materno
10.3.2 Indicações para as mães
10.3.3 Homeopatia: Silicea, lágrimas de anjo em cristal de
rocha ou a parede de vidro entre a mãe e a criança
10.4 Diarreia
10.5 Medicamentos homeopáticos para vômito e diarreia
10.6 Diarreia e vômito
10.7 Constipação
10.8 Fungos
10.9 Vermes

11 Doenças alergênicas
11.1 Alergias
11.1.1 Guerras de fronteiras
11.1.2 Jogos de poder
11.1.3 O estranho e o próprio
11.1.4 A alergia e a reconciliação com a mãe (natureza)
11.1.5 Prevenindo-se contra as alergias
11.1.6 Possibilidades e oportunidades terapêuticas
11.1.7 A simbologia dos alérgenos na infância ou uma
interpretação dos objetivos da guerra
11.1.7.1 Alérgenos do grande círculo (a simbologia da
sujeira)
11.1.7.2 Alérgenos do pequeno círculo (da simbologia da
fertilidade e da sensualidade)
11.2 Dermatite atópica e crosta láctea

12 Problemas do aparelho locomotor


12.1 Postura e desenvolvimento
12.2 Cifose e lordose
12.3 Escoliose
12.4 Doença de Scheuermann
12.5 A síndrome KISS
12.6 Dores do crescimento
12.7 Sinovite do quadril

13 Doenças de pele
13.1 Piolho
13.2 Verrugas

14 Problemas do metabolismo: Diabetes mellitus


14.1 O doce e a energia da vida
14.2 A falta de insulina e suas consequências
14.3 Tarefas
14.4 “Diabete senil” em crianças
14.5 Desafios para os pais e para o ambiente

15 Problemas espirituais e emocionais


15.1 Medo
15.1.1 A nova epidemia do medo: os ataques de pânico
15.1.2 O nascimento como chave para o medo
15.1.3 Medos típicos das crianças nos vários estágios do
desenvolvimento
15.1.3.1 Medo do escuro
15.1.3.2 Medo de fantasmas
15.1.3.3 Medo de ficar sozinho
15.1.3.4 Medo de trovões
15.1.3.5 Medo de cães, insetos, aranhas e cobras
15.1.3.6 Medo do novo
15.1.3.7 Medo de repetir o ano ou de não conseguir
progredir
15.1.3.8 Medo de ladrões, sequestradores e de estranhos de
modo geral
15.1.3.9 Medo de guerras e catástrofes ambientais
15.1.3.10 Medo de doenças e da morte
15.1.3.11 Medo da água e do fogo
15.1.3.12 Medo pela família, medo da família
15.1.4 O medo e o reflexo de Moro (da doutora Wibke
Bein-Wierzbinski)
15.1.5 Princípios gerais sobre a terapia do medo
15.2 Enurese
15.2.1 Enurese noturna
15.2.1.1 Base evolutiva do “quadro clínico”
15.2.1.2 Choro no nível mais inferior
15.2.1.3 Compensação noturna da pressão
15.2.1.4 Ajuda em vez de vingança
15.2.2 O reflexo de Galant: déficit de endireitamento como
causa da enurese (da doutora Wibke Bein-Wierzbinski)
15.2.3 Enurese diurna
15.3 Distúrbios do sono
15.3.1 Ritmos e rituais confiáveis
15.3.2 Problemas específicos do sono da criança
15.3.2.1 Sonambulismo ou lunatismo
15.3.2.2 Pavor nocturnus
15.3.2.3 Falar durante o sono
15.3.2.4 Pesadelos
15.4 Sobrepeso
15.4.1 A epidemia do futuro
15.4.2 O corpo como espelho da alma[33]
15.4.3 A armadilha moderna da gordura
15.4.4 Soluções
15.5 Distúrbios da fala
15.5.1 Gagueira
15.5.1.1 Subcategorias da gagueira
15.5.1.2 Soluções
15.5.2 Ceceio
15.6 Tiques
15.6.1 Redimindo o princípio uraniano
15.6.2 Diversos tipos de tiques e seu pano de fundo
15.7 Maus hábitos
15.7.1 Estalar os dedos
15.7.2 Enfiar o dedo no nariz
15.8 Distúrbios comportamentais
15.8.1 Distúrbios comportamentais na infância
15.8.1.1 Ciúme
15.8.1.2 Competição
15.8.1.3 Rompantes de agressividade
15.8.1.4 Prazer com a desgraça alheia
15.8.1.5 Pedantismo
15.8.1.6 Tortura de animais
15.8.1.7 Agarramento
15.8.1.8 Fugas
15.8.1.9 Balançar-se com a cadeira
15.8.1.10 Mascar chiclete
15.8.1.11 Arroto contínuo
15.8.1.12 Fugir da mesa
15.8.1.13 Roer as unhas
15.8.1.14 Morder o lápis
15.8.1.15 Dependência da televisão
15.8.1.16 Dependência do computador
15.8.1.17 A dependência do telefone celular
15.8.1.18 Inapetência
15.8.1.19 Pequenas personalidades que atraem acidentes
15.8.1.20 Dislexia
15.8.1.21 Discalculia
15.8.1.22 Masturbação
15.8.1.23 Brincar de médico
15.8.1.24 Timidez
15.8.1.25 Hipersensibilidade à dor
15.8.1.26 Insensibilidade à dor
15.8.1.27 Colocar os cabelos na boca
15.8.1.28 Enrolar os cabelos
15.8.2 Distúrbios comportamentais na adolescência
15.8.2.1 Ravers ou techno-kids
15.8.2.2 Os tecktoniks
15.8.2.3 Os punks
15.8.2.4 Os emos
15.8.2.5 Góticos
15.8.2.6 Os hip-hoppers
15.8.2.7 Piercing
15.8.2.8 Escarificações

16 Temas especiais
16.1 Autismo
16.1.1 Conhecendo outros mundos
16.1.2 Possibilidades e limites da terapia do abraço para
autistas
16.2 Síndrome de Down ou deficiência mental como
oportunidade?
16.2.1 Naomi
16.2.2 Tornem-se como as crianças
16.2.3 Dúvidas a respeito da sociedade meritocrática

17 Epílogo

18 Agradecimentos

19 Anexos
19.1 Farmácia homeopática de emergência
19.1.1 Eritema alérgico
19.1.2 Feridas por mordidas
19.1.3 Hematoma
19.1.4 Hemorragias
19.1.5 Intoxicação sanguínea
19.1.6 Concussão cerebral
19.1.7 Picadas de insetos
19.1.8 Fraturas
19.1.9 Distúrbios circulatórios
19.1.10 Intoxicação alimentar
19.1.11 Desmaio
19.1.12 Lacerações (na cabeça)
19.1.13 Contusões
19.1.14 Enjoo em viagens
19.1.15 Cortes
19.1.16 Escoriações
19.1.17 Queimadura de sol
19.1.18 Insolação
19.1.19 Lascas, farpas, estilhaços
19.1.20 Choque elétrico
19.1.21 Torções em geral, torção do pé
19.1.22 Choque traumático
19.1.23 Queimaduras
19.1.24 Luxação
19.1.25 Constipação em viagens
19.2 Bibliografia
19.3 Publicações de Rüdiger Dahlke

Próximos lançamentos
1 Introdução

1.1 Como surgiu este livro

A ideia deste livro resultou de nosso encontro, meu e de Vera Kaesemann. Há


muito tempo eu já estava interessado em cobrir todo o campo da medicina e,
se possível, investigar e interpretar todos os distúrbios e quadros sintomáticos
em sua dimensão psíquica. O livro Der Weg ins Leben[1] trata do início da
vida, desde a concepção até o nascimento. Como a loso a espiritual parte do
princípio de que tudo está no início e de que o caminho decisivo é preparado
no começo da vida, era evidente que eu também teria de me dedicar a
interpretar a pediatria. No entanto, faltava-me experiência para tanto. Essa
experiência foi trazida por Vera Kaesemann, que não apenas manteve seus três
lhos afastados da orgia química da medicina acadêmica, como também, a
partir de 1984, fez cursos de formação em homeopatia, a m de dirigir um
consultório exclusivamente pediátrico. No mesmo ano, ela também deparou
com o livro Krankheit als Weg[2] e, posteriormente, fez o curso de formação em
“medicina arquetípica”. A base deste livro foi preparada graças ao nosso bom
convívio de dois anos. No entanto, surgiu apenas no período posterior.
Discutimos e interpretamos juntos os sintomas mais importantes da
infância, e Vera Kaesemann contribuiu com relatos sobre crianças doentes. A
maioria das dicas práticas e todos os quadros medicamentosos também provêm
de sua experiência em consultório. Minha tarefa foi interpretar e formular.
Nesse sentido é que escrevi o livro. Quando falo de “nós”, é nessa situação que
penso. Em vez do “se” impessoal, muitas vezes utilizei o termo “criança”, pois
me pareceu um contrassenso escrever sobre crianças, que correspondem tão
bem ao princípio arquetípico feminino, na forma supostamente masculina do
“se”.
Em seguida, oferecemos o manuscrito a terapeutas, colaboradores e aos
respectivos especialistas para que zessem uma leitura e uma revisão crítica.

1.2 Como usar este livro

Embora preferíssemos que os capítulos teóricos do início do livro fossem


realmente lidos primeiro, as experiências com meus outros livros mostraram
que, muitas vezes, na prática, se começa por consultar os capítulos que tratam
dos próprios problemas; neste caso, aqueles dos próprios lhos. O ideal seria
que isso só ocorresse após a leitura inicial da introdução geral, uma vez que
assim se evitaria uma grande quantidade de equívocos.
Sintomas que não foram tratados neste livro encontram-se em outras obras
do autor, elencadas na seção 19.3 (Publicações de Rüdiger Dahlke). Por
exemplo, se um sintoma tão importante quanto o TDAH, a hiperatividade,
não aparece aqui é porque ele foi explicado em um capítulo do livro A Agressão
como Oportunidade.[3] Muitos dos sintomas também se encontram nos
verbetes do manual A Doença como Símbolo.[4]
Quanto ao modo de usar este livro, é recomendável que se empregue uma
estratégia dupla. Por certo, os pais que sentem maior urgência porque estão
com o lho doente logo recorrerão às dicas práticas, que, dependendo da
di culdade da situação, discutirão com seu médico ou terapeuta de con ança e
poderão empregar de imediato. Em seguida, seria importante dedicar-se às
interpretações, a m de conhecer o sentido mais profundo dos respectivos
sintomas. Ambos os aspectos nunca devem ser entendidos como alternativas;
ao contrário, eles se complementam. Isso vale, sobretudo, em relação à
homeopatia clássica, uma vez que o próprio pensamento da interpretação dos
quadros clínicos é essencialmente homeopático. Entre as explicações e as dicas
naturopáticas também há uma relação de apoio. Mesmo para as intervenções
necessárias da medicina acadêmica, as interpretações trazem subsídios coerentes
e, não raro, também outras indicações.
Muitas vezes, sobretudo as crianças pequenas não estarão acessíveis para as
interpretações. Por isso, é ainda mais importante para os pais reconhecer os
sinais do tempo e preparar o caminho para seus lhos ou sua família em uma
direção que estimule o desenvolvimento. Nesse sentido também foram
elaboradas as questões que se encontram no nal da maioria dos capítulos.
Quanto mais nova a criança, tanto mais claramente elas re etem os pais e a
situação familiar. Nem sempre é fácil aceitar esse fato, que tampouco deveria
ser vivido como culpa, e sim exclusivamente no sentido de uma
responsabilidade. Trata-se de encontrar as respostas correspondentes para o
desa o de cada momento.
Uma vez que, desde o início, os pais evitam encarar a questão da culpa, as
perguntas ao nal dos capítulos especiais, dirigidas a eles, facilitam sua
consulta. Por outro lado, as perguntas formuladas em seguida representam o
fundamento em que se assentam muitas das questões ulteriores. Talvez nem
todas sejam fáceis de responder. Quando o são, podem esclarecer muita coisa e,
eventualmente, também levar a buscar auxílio terapêutico:
 
– Em que circunstâncias internas e externas e com que sentimento nosso
lho foi gerado? Ou: Como tudo começou?
– Que consequências poderiam resultar disso?
–Como essas circunstâncias in uenciam nosso relacionamento um com
o outro e com o nosso lho?
– Como foi e é nosso relacionamento com os pais, os nossos próprios e os
do parceiro, nossos sogros?
– Como convivemos com ambas as famílias e quais conclusões tiramos dessa
convivência?
– Que grandes e importantes temas familiares existiram em nossas famílias?
Como eles nos in uenciam hoje? Que papel desempenham esses temas em
nossa família?
– Que tabus marcaram nossas famílias de origem? Como lidamos com esses
temas hoje?
– Até que ponto a atual situação familiar pode compensar as de ciências
sofridas em nossas famílias de origem?
– Como foi o nascimento do nosso lho e o que ele poderia nos mostrar
simbolicamente?
– Como se passou o nosso nascimento? Existem paralelos com o do nosso
lho?

1.3 A utilização de medicamentos homeopáticos

A homeopatia clássica, que in uencia este livro como nenhuma outra loso a
– uma vez que as explicações também são, inicialmente e sobretudo, pensadas
do ponto de vista da homeopatia –, é uma medicina particularmente
individual, o que torna difícil apresentá-la em um livro de maneira prática. Os
quadros medicamentosos e os sintomáticos são de fácil apresentação. No
entanto, ambos fornecem apenas uma moldura; por isso, em ambos os casos, a
verdadeira terapia deve ser feita sempre de modo individual. Uma interpretação
também só pode oferecer uma moldura, enquanto os quadros medicamentosos
oferecem muitas. Portanto, cabe aos homeopatas e psicoterapeutas fazer com
que essas molduras universalmente válidas coincidam com a originalidade de
cada indivíduo.
A medicina interpretativa nos encoraja a perguntar: “Por que isso está
acontecendo justamente comigo, justamente desse modo, justamente agora,
nessa fase da minha vida?” E ainda: “O que o sintoma me impede de fazer, o
que me força a fazer?” A homeopatia clássica tem de fazer uma individualização
bastante diferenciada para que, nesse caso, não se apresente nenhum tipo de
pergunta típica.
Nesse sentido, sem nenhuma pretensão à precisão ou à perfeição, as
descrições dos quadros medicamentosos e as indicações são pensadas, antes,
com a nalidade de mostrar a genialidade dessa orientação de pensamento
fundamentalmente nova, introduzida na medicina por Samuel Hahnemann, e
que muitas vezes pode substituir e quase sempre complementar a alopatia.
Grande parte dos especialistas, tanto homeopatas quanto pediatras da
medicina acadêmica, bem como as mães, que leram e revisaram previamente
nosso manuscrito, podem testemunhar nossa tentativa de construir uma ponte
entre essas orientações da medicina e as mães em favor das crianças doentes.
Todos os medicamentos sugeridos neste livro devem ser tomados na
potência C30 (trigésima centesimal), diluição comprovadamente e caz para
casos agudos. Essa potência elevada exige uma administração correta.
Medicamentos homeopáticos não podem simplesmente ser tomados de
maneira indiscriminada. Faça sua escolha com cuidado e, se tiver dúvidas,
consulte um homeopata experiente. As tabelas inseridas aqui ajudarão a
diferenciar os medicamentos apresentados; por isso, elas se limitam aos
respectivos sintomas característicos. Vale a pena prestar atenção também aos
sintomas emocionais, que podem ser decisivos na escolha do medicamento
correto.
Posologia: coloque dois grânulos (glóbulos) do medicamento diretamente
na língua do seu lho; em seguida, dissolva outros dois glóbulos em um copo
com água natural usando uma espátula de madeira ou uma colher de plástico.
Faça-o beber um gole da mistura a cada dez minutos (sempre mexendo bem
antes). Assim que perceber uma melhora, interrompa o processo! Caso haja
uma piora ou uma estagnação, continue a administrar o medicamento.
Se após duas horas não houver nenhuma reação no sentido de uma
melhora, possivelmente você terá escolhido o medicamento errado. Veri que
mais uma vez a tabela e, eventualmente, escolha outro remédio. No sentido
homeopático, também se deve considerar uma melhora, por exemplo, um sono
(reparador) profundo ou um alívio em nível emocional; ou seja, talvez seu lho
que mais bem-disposto e consiga lidar sem di culdade com as dores, embora
os sintomas físicos talvez não se tenham alterado visivelmente.

1.4 Sobre “os riscos e os efeitos colaterais” deste livro!

Na época moderna, o peso de educar e cuidar dos lhos em caso de doença


costuma recair com frequência cada vez maior sobre as mães, principalmente
quando solteiras. Assim, o que em outras circunstâncias poderia trazer alegria,
logo se torna uma sobrecarga. Nesse sentido, muitas das indicações aqui
fornecidas podem agravar a situação ou provocar um efeito parcial se a
responsabilidade que, em uma situação ideal, deveria ser compartilhada, recair
sempre em ombros que, sozinhos, não são largos o su ciente. Porém, com uma
taxa de divórcio que nos últimos 50 anos subiu de 10% para quase 50%, são
pequenas as possibilidades de os cônjuges se tornarem avós juntos, tal como
ocorreu quando se tornaram pais. Em relação às situações problemáticas que
decorrem dessa tendência e das famílias “patchwork”, compostas por lhos de
pais diferentes, muita coisa pode dar errado no desenvolvimento psíquico da
criança. Obviamente, isso também pode acontecer nas chamadas famílias
“saudáveis”. Em todo caso, este livro não pretende absolutamente exacerbar o
desequilíbrio que muitas vezes surge com a distribuição parcial da
responsabilidade ou com a intervenção do sentimento de culpa.
Por outro lado, assumimos uma posição radical, ou seja, que busca as raízes
do problema em favor das crianças doentes. Sobretudo a m de lhes conferir
voz no caso de doença, uma vez que muitas vezes são mal compreendidas ou
avaliadas de maneira totalmente errônea, mas de modo algum com o intuito de
atribuir culpa a alguém. Em regra, os pais fazem o melhor que podem por seus
lhos. Não obstante, muitas vezes isso não é su ciente ou pode até ser
prejudicial. Nesse sentido, o que pode soar como atribuição de culpa é, antes,
pensado com o objetivo de corrigir, ajudar ou questionar. Mesmo que às vezes
possamos parecer advogados das crianças doentes, queremos envolver as mães
e, de preferência, também os pais e apoiá-los em seu esforço para fazer a
melhor escolha para seus lhos por meio de uma compreensão mais profunda
do signi cado e da interpretação dos sintomas. Uma grande quantidade de
sugestões e indicações comprovadas deverá fornecer auxílios rápidos e práticos,
enquanto as interpretações muitas vezes podem deparar com reformulações
mais demoradas e, por isso, mais duradouras.
Temos plena consciência de que, com frequência e especialmente em
tempos pouco solidários no que se refere a crianças e, sobretudo, a crianças
doentes, é muito difícil fazer tudo corretamente. Chega a ser impossível.
Porém, por outro lado, também nunca é tarde para nos prepararmos para uma
situação melhor. Nossa intenção é encorajar as pessoas para que isso possa ser
feito.
Quem se encontra em um círculo vicioso difícil de dominar poderia,
justamente, tomar como provocação indicações de como dar mais ritmo à
própria vida e à vida da criança por meio da meditação e do tai chi.
Provavelmente, mães solteiras que, por exemplo, não encontraram uma
moradia adequada, porque são discriminadas no mercado imobiliário, terão
outras preocupações que não o yoga e o qi gong pela manhã. A lógica de quem
cede um imóvel em locação é clara: o que lhe importa é o pagamento pontual
do aluguel e a máxima preservação do seu imóvel. Na Alemanha, as crianças
passaram a correr risco de pobreza, sobretudo quando a mãe tem de sustentá-
las sozinha. Como essas famílias não podem ser despejadas quando se veem em
di culdades nanceiras, muitos proprietários de imóveis preferem mantê-las a
distância. Nesse caso, acontece muitas vezes de uma das regras pensada como
medida de auxílio para proteger do despejo acabar sofrendo um efeito
bumerangue. Quando, então, a mãe não pode ir de manhã para o trabalho do
qual depende porque não pode deixar o lho doente no jardim de infância,
muitas indicações deste livro, bem como as questões discutidas ao nal de cada
capítulo, poderiam soar como provocação. Obviamente, não é essa nossa
intenção, mas, por outro lado, não queremos renunciar à possibilidade de
tornar ideais situações que já são favoráveis.
Por natureza, interpretações de sintomas, que sempre revelam pontos
obscuros, podem facilmente ser confundidas com atribuições de culpa, o que,
no entanto, nunca é intencional. Trata-se, antes, de responsabilidade no sentido
descrito. O fato de que os adjetivos “responsável” e “culpado” possam ser
usados como sinônimos é sintomático e possui, igualmente, uma importância
simbólica. Obviamente, ninguém mais quer ser responsável quando isso
também signi ca ser “culpado”. Todavia, temos de assumir a responsabilidade
por nossos lhos – de acordo com a lei e além dela –, pelo menos até eles
aprenderem a encontrar as próprias respostas para a vida. Não obstante,
podem-se cometer erros que, mais tarde, se revelarão como auxílios. Como
bem diz o ditado popular, “errando é que se aprende”. Nunca é tarde para
mudar o rumo e ver o futuro com novos conhecimentos, além de agir de
maneira diferente.
As mães obrigadas a administrar situações complicadas poderão ver nosso
alinhamento sempre ao lado da criança doente e de seus direitos primários
como algo ambicioso em relação às suas responsabilidades. Contudo, apenas
partimos do ideal para a criança doente e não podemos in uir em sua situação
social nem em circunstâncias individuais.
Se fôssemos uma sociedade mais amiga das crianças, poderíamos dispensar
muitas coisas e nos poupar de outras terríveis. De fato, não temos a escolha de
“regressar na vida e voltar a ser crianças”, para usar as palavras da Bíblia, mas
apenas de fazê-lo em algum nível. Sempre que o nível da consciência for
negado, o corpo deve fazer-se presente no sentido descrito em A Doença como
Símbolo. No entanto, quando o “voltar a ser criança” se reduz ao nível do
corpo, ele passa a ser chamado de “doença de Alzheimer”, um quadro clínico
contra o qual (ainda) não há ou não foi encontrado nenhum remédio. Em
sociedades menos hostis às crianças ou até mesmo amigas delas, em que as
pessoas se preocupam cada vez mais com sua criança interior, os números de
pacientes com Alzheimer são nitidamente menores.
O objetivo deste livro é tornar a vida mais satisfatória, compreensível e
agradável para pais e lhos, em seus aspectos bons e naqueles desa adores. Por
outro lado, hoje temos uma situação em que “ter lhos” deixou de ser a coisa
mais natural do mundo para se tornar uma ocasião bastante rara, o que reserva
aos poucos e cada vez mais numerosos lhos únicos uma posição que lhes
confere um poder prejudicial no sentido descrito no livro Kleinen Tyrannen [O
Pequeno Tirano], de Jirina Prekop (ver “19.2 Bibliogra a”). O culto à
juventude, quase cômico em nossa sociedade e que, em contrapartida, despreza
a velhice, contribui ainda mais para reforçar essa moda preocupante. Uma
posição de poder, em que crianças pequenas participam de todo tipo de
conversa e dominam os pais e, especialmente, as mães, além de querer e estar
autorizadas, por exemplo, a in uir na escolha do novo parceiro, não é vantajosa
para nenhuma das partes.
Nesse sentido, hoje vivemos uma polarização: de um lado, as mães, que
fazem um enorme sacrifício no que diz respeito à sua energia vital para criar
seus lhos sozinhas ou quase sozinhas, de modo que, muitas vezes, tornam-se
verdadeiras vítimas; de outro, as crianças também se tornam vítimas, pois há
pouco tempo para elas na sociedade moderna do turbocapitalismo, inserida na
armadilha da globalização. Quando as crianças transformam seus pais e,
sobretudo, suas mães em suas vítimas, tudo se complica ainda mais.
Contudo, na longa história da humanidade, as mães quase sempre criaram
os lhos sozinhas.
Obviamente, crianças doentes têm direito a receber compreensão por sua
situação e pela tarefa de aprender, o que não signi ca que podem dispor
antecipadamente de todos os direitos do mundo. Não nos cabe aqui discutir o
fato de em certos países já poderem dirigir aos 16 anos e votar aos 15. As
experiências com essas questões podem até combinar com uma sociedade com
mania de cultuar a juventude; porém, de modo geral, não são animadoras.
2 Fundamentos gerais

2.1 Amor como fundamento da vida

O amor, especialmente aquele da mãe, do qual se trata aqui, torna-se o


principal fundamento vital da alma de toda criança. Somente sobre esse
fundamento é que se podem enraizar os pilares da saúde. A criança vem ao
mundo – não apenas àquele cristão – com a necessidade fundamental de ser
amada e de amar a si mesma e ao próximo.
Estamos nos referindo aqui ao amor incondicional. “Me ame, mesmo que
eu esteja sujo. Pois, se eu soubesse me lavar, todos me amariam.” Essa frase de
Fiodor Dostoiévski é citada por Jirina Prekop em seu livro Ich halte dich fest,
damit du frei wirst [Eu te seguro para que você que livre]. Desde sempre, em
toda parte e independentemente de serem portadoras de de ciência ou não,
todas as crianças vêm ao mundo com essa necessidade. Quando não recebem
amor, choram e chamam a atenção com sua infelicidade em forma de doenças
psíquicas e psicossomáticas. No entanto, quando desfrutam do amor, sentem-
se felizes para se desenvolverem livremente de acordo com suas potencialidades.
Contudo, há também circunstâncias de vida favoráveis e temas como os que
seguem, que vão de áreas pertencentes à ética a outras tão sólidas como os
pilares da saúde.

2.2 Critérios da infância

Algumas considerações fundamentais sobre a infância podem ajudar a


compreender melhor os princípios da interpretação dos quadros clínicos aqui
apresentados. As crianças são a base da sociedade; tudo se constrói sobre elas.
Nesse sentido, é natural preocupar-se com qual deveria ser o objetivo da
infância e com quais devem ser as tarefas dos pais.
O que nos transforma em seres humanos, em verdadeiros seres humanos, do
modo como formulam as tradições espirituais? Por certo, a essa transformação
pertencem o comportamento social e a disponibilidade para ajudar não apenas,
mas sobretudo, os mais fracos; a capacidade e a prontidão para dividir e agir
contra uma injustiça manifesta; a caridade e o respeito pela vida alheia ou,
segundo as palavras de Buda, por todos os seres capazes de sentir; a compaixão
pelos mais fracos e a vontade de perdoar, mas também a capacidade de admitir
os próprios erros e a prontidão para pedir desculpas em caso de eventuais erros
cometidos, bem como demonstrar sinceridade e gratidão por muitas coisas, em
vez de tomar tudo como natural.
Nossa ética deveria nos permitir a grandeza de não fazer tudo que parece
factível, e sim re etir sobre nossa ação diante do pano de fundo das possíveis
consequências e transmitir valores e educação, inclusive aquela relativa ao
coração. Nosso mundo deveria ser determinado não apenas pelo QI, mas
também pelo QE (quociente emocional): trata-se de desenvolver capacidades
emocionais. Os sentimentos têm de poder crescer e desenvolver-se, e é preciso
aprender a lidar com eles. A cultura do debate tem de ser aprendida e, com
frequência, conquistada, para que discussões justas sejam possíveis. A coragem
tem de receber oportunidades para crescer, para que depois, convertida em
ações, possa cuidar da justiça. Igualmente importante é a coragem de, em caso
de necessidade, também nadar contra a corrente, ser autêntico e defender as
próprias convicções quando necessário. Ideias independentes e originais não
ocorrem simplesmente, mas podem ser aprendidas; e uma de nossas esperanças
seria que este livro contribuísse para esse aprendizado.
Uma criança está autorizada a sentir-se o centro do mundo e abrir-se a
todos os lados e a todas as opções. Se possível, deveria brincar muito para
desenvolver a própria criatividade e seu respectivo modo de expressar-se. No
interior do lar, ela pode e deve sentir-se à vontade em suas fantasias e estimar,
na mesma medida, o mundo interior e o exterior. O que antes era representado
pelo Menino Jesus e pelo Papai Noel hoje costuma ser representado por
pequenos magos como o “Harry Potter”. As crianças aprendem por imitação e
devem ser estimuladas nesse sentido. No entanto, os pais são os modelos mais
importantes. As crianças podem observar o mundo com os olhos surpresos do
Pequeno Príncipe e ainda experimentar muitas coisas pela primeira vez: desde a
primeira neve, passando pela primeira mentira até o primeiro dia de aula. Não
devem assumir responsabilidades nem justi car-se, mas estão autorizadas a
experimentar uma proteção não merecida e a contar com o fato de serem
amadas, independentemente do que zerem – pelo menos em nosso tempo e
em nosso mundo moderno, em que poucas crianças desempenham um papel
proeminente. O amor dos pais estabelece a autoestima e capacita para o amor.
Pois uma coisa é certa: como nos países industrializados o número de
crianças é cada vez menor, as poucas crianças existentes recebem um status cada
vez mais exposto, que traz consigo algumas oportunidades, mas também
múltiplos perigos. Não raro, os direitos das crianças nas modernas famílias com
um único lho ultrapassam os dos adultos. Isso prejudica ambos os lados, mas
sobretudo as crianças, que precisam de limites e de um espaço demarcado, não
determinado por elas, pois, do contrário, esse espaço poderia perder suas
margens e, por conseguinte, fazer com que as crianças se perdessem.
Os pequenos devem saber que os pais estão prontos para ajudá-los e
disponibilizar para eles o espaço para o aprendizado. Contudo, eles já têm de
aprender na infância a assumir a responsabilidade por seu modo de ser e por
suas ações, de acordo com sua idade, pois, do contrário, como poderão fazê-lo
na adolescência e como adultos? A responsabilidade tem de ser dosada com
cuidado e ser assumida de acordo com a idade. Senão, a atitude da criança
conservará a seguinte projeção: se os pais não são os culpados, então o são os
parceiros, a sociedade, o Estado ou o destino. Quando essas estruturas infantis
de vitimização permanecem, a vida corre o risco de decorrer de modo pueril, e
a passagem para a idade adulta ca bloqueada.
Nos primeiros anos de vida até o ingresso na escola, aos 6 anos, poderia
predominar um campo de proteção em que a criança pode crescer livremente.
Esse campo seria sobreposto por outro, relativo à educação, que transmitiria
valores acima de tudo. As crianças precisam, podem e querem aprender cedo
que não estão sozinhas no mundo, que partilhar traz alegria, que o respeito
pelos mais fracos as fortalece e que ajudar o próximo pode fazê-las felizes. Isso é
importante sobretudo para os lhos únicos, que se tornam cada vez mais
frequentes devido à redução na taxa de natalidade e que, ao mesmo tempo,
também são sempre os primogênitos que chegam com todos os respectivos
temas – portanto, são crianças que crescem sem modelos infantis na própria
família e que dependem ainda mais dos adultos.
Quando esse campo de proteção e educação é forte e vivo, toda educação
restante pode ser simples, pois todo elemento construtivo e necessário é
espontaneamente compreendido pelas crianças. Precisamos reaprender quase
tudo na vida, inclusive a adoecer. É para isso que existem as doenças infantis,
como a febre. Portanto, a doença torna-se uma parte essencial, signi cativa e
necessária do desenvolvimento humano.
Esses pensamentos fundamentais podem ajudar a sair dos conceitos de
“errado” e “correto”, que ferem com tanta facilidade através de sua valoração.
Não obstante, se isso ocorrer ao longo deste livro, não é intencional e já
pedimos desculpas de antemão – até por nós mesmos, pois pedir des-culpa
também signi ca liberar-se da própria culpa.
Este livro pretende e deve ajudar as crianças e seus pais. Temos aqui uma
situação clássica e magní ca, em que todos só têm a ganhar: o que faz bem às
crianças e as auxilia ao longo de sua vida costuma ser o melhor também para os
pais.
Um problema é que as assistências oferecidas dependem da idade, e não
podemos nem queremos car passando dados sobre a idade porque as crianças,
e não apenas os adultos, já são seres incrivelmente individuais e originais,
contra os quais quase sempre se comete alguma injustiça quando se tenta
igualá-las. Todas as normatizações e padronizações contêm, no mínimo, tantos
perigos quantos auxílios e evoluíram até alcançar o programa mais efetivo de
criação de empregos para médicos acadêmicos. Con amos na sensibilidade dos
pais e, algumas vezes, também lhes fornecemos auxílios bastante abrangentes.
Obviamente, o resultado costuma ser muito melhor não apenas quando a
família é retratada pelos seus pequenos na gura de animais, mas também
quando a obra é interpretada por um especialista em simbologia. Todavia, por
certo, nada é melhor do que os olhos dos pais e, sobretudo, seu coração. Pois,
quem olha com os olhos do amor di cilmente erra. A esse respeito, a raposa
em O Pequeno Príncipe diz: “[...] só se consegue ver bem com o coração. O
essencial é invisível para os olhos”. E o amor materno se aproxima muito do
amor mais elevado e celestial.
2.2.1 O afeto dos pais

A questão sobre a medida correta de afeto por parte dos pais toca em um
problema central das famílias modernas. A multitarefa, também conhecida
pelo termo inglês “multitasking”, e que, em geral, acomete sobretudo as mães é
excessiva, deletéria e – conforme demonstraram recentes pesquisas – não chega
a ser produtiva nem e ciente.
Diante desse pano de fundo, esboçaremos aqui apenas brevemente a
concepção ideal daquilo que as crianças precisam para crescer melhor, com base
nas concepções de Peter Lang, pedagogo waldor ano:
 
– Tanto ele quanto muitos outros que se ocuparam intensivamente de
crianças, de seu desenvolvimento e de seus problemas colocam em
primeiro lugar o amor de que toda criança precisa e que lhe garante a
melhor posição de partida.
– Em segundo lugar vem a proteção, expressa no conceito de “ninho”.
–Em terceiro lugar, Lang vê relações sociais mais seguras.
–No quarto, a necessidade de compreender o próprio mundo.
–Na quinta posição, é importante que a criança pequena viva
em seu ambiente o decorrer de ações compreensíveis,
signi cativas e imitáveis.
– Em sexto lugar, é importante experimentar a “maneabilidade” do mundo,
ou seja, ganhar con ança para conseguir dominar, com as próprias forças
ou com o auxílio de pessoas próximas, as tarefas propostas.
– O sétimo lugar cabe ao signi cado do próprio modo de vida: a criança
tem de aprender a se esforçar e a se engajar por objetivos e projetos
importantes e a assumir a responsabilidade por eles, para que sua vida dê
certo.
2.2.2 Critérios da puberdade e da juventude como marcos deste livro

É difícil traçar uma separação entre infância e juventude. Atualmente, mais do


que nunca, pois muitas coisas impelem as crianças cada vez mais cedo para a
vida, enquanto a verdadeira maturidade, por sua vez, costuma demorar a
chegar. Por isso, mencionaremos aqui mais alguns critérios do início da
puberdade, ainda que este não seja especi camente nosso tema.
Os jovens precisam afastar-se da proteção da infância e, assim, também dos
pais, da família e de todas as pessoas mais velhas. Seu principal desejo é a busca
de identidade, que passa pela associação a determinados grupos e pela
preferência por determinadas roupas, hoje chamadas de “out- t”. No entanto,
na verdade, é óbvio que ainda não estão fora (out) e menos ainda em forma
( t); contudo, querem e devem sentir-se assim. Portanto, buscam uma roupa
com a qual ousam sair e se sentem em forma em relação à própria vida.
Querem aprender a sentir o próprio corpo. Na visão dos pais, esse
aprendizado tem como pano de fundo as terríveis automutilações, que vão
desde o piercing até as escari cações, e até mesmo o coma alcoólico
desempenha um papel.
Por intermédio do corpo, querem conhecer e aprender a experimentar a
primeira manifestação do amor sob a forma de sua sexualidade. “Eu sou
mulher”, “eu sou homem”, esses são os temas, e os papéis devem ser praticados.
Não apenas nesse contexto, mas também nele, a responsabilidade e as
consequências para a própria vida devem ser assumidas.
Eles querem e devem conhecer limites e aprender a questioná-los, a m de
encontrar seus próprios limites e harmonizá-los com aqueles da família e da
sociedade. Nesse momento, trata-se de reforçar a realidade concreta em relação
aos mundos da imaginação, de desenvolver e impor seu próprio modo de ser,
sua originalidade e sua individualidade. Sentimentos têm de ser
experimentados através da música, do primeiro amor e das preocupações a ele
pertencentes; além disso, devem ser familiarizados com a dor do mundo e com
a tese fundamental budista de que toda vida também é sofrimento.
Porém, depois de toda a rebeldia, também há que se aprender a adaptar-se
às condições dadas de vida e a se tornar (mais) razoável. O grande tema da
polaridade tem de ser vivido, aceito e idealmente compreendido no mundo dos
opostos. Uma nova e grande liberdade terá de ser experimentada, mas também
há que se aprender que só se pode dispor dela ao preço da proteção e da
segurança familiar.
A entrada na sociedade meritocrática começa a ser traçada – com todas as
suas possibilidades, suas armadilhas e suas oportunidades.
2.2.3 Problemas sociais

A Alemanha, um dos países mais ricos do mundo, que, aparentemente, não


tem di culdade para desembolsar centenas de bilhões de euros para sanar as
dívidas de banqueiros levianos, não teria – segundo as declarações de seus
“proeminentes” políticos – dinheiro para jardins de infância, creches, formação
nem trabalho juvenil. Desse modo, as crianças são as que mais estão expostas à
pobreza. Com base nesse dado, que só é aludido nesse âmbito, surgem muitos
problemas sociais, que facilmente marginalizam as famílias e os lhos únicos.
Aqui se inicia um problema que cresce rapidamente, para o qual neste livro
não podemos oferecer quase nenhum auxílio nem solução. Nesse sentido, a
sociedade deveria estabelecer outras prioridades. Quem investe somas
inimagináveis em uma guerra contra terroristas, que é tão sem perspectiva
quanto sem sentido, e concede bilhões a especuladores da economia,
praticamente por vontade própria, tem outros problemas que não a
preocupação com as crianças do país. Por conseguinte, essas crianças e seus pais
cam por conta própria e, muitas vezes, fracassam.
Em nosso tempo cada vez mais materialista, quem não consegue vangloriar-
se entre seus coetâneos das verdadeiras roupas de marca já tem os primeiros
problemas. Quando marcas mais baratas de roupa, como a L.O.G.G., da
empresa H&M, são traduzidas como “infelizmente nasci sem dinheiro”,[5] isso
é mais do que simbólico e mostra como é pobre, cínico e desdenhoso o
julgamento de muitas mães supostamente “em melhor situação nanceira” ou
também de alguns jovens. Quando então o celular ca ultrapassado ou é
inexistente e o computador é de três anos atrás, antes de se darem conta os
jovens já estão out. Nesse caso, os pais sofrem uma considerável pressão
nanceira, cuja encenação é tão certa quanto ausente é o auxílio da sociedade
às famílias. Mesmo quem, como mãe ou pai, reconhece os métodos por trás
dessa pressão, acaba caindo na armadilha, e as crianças vão parar na esteira dos
marginalizados, que exige muita força e coragem.
Nesse caso, resta apenas ajudar a criança a desenvolver suas qualidades
especiais, estimulando sua própria originalidade e encorajando-a a ser como
apenas uma criança pode ser, e não como se pretende que ela seja. Disso
também faz parte aprender a brigar e a rebater verbalmente, defender-se
energicamente e impor-se quando for importante para seguir o próprio
caminho.

2.3 Três pilares da saúde

2.3.1 Alimentação

2.3.1.1 Leite materno como alimento e remédio

É o primeiro e mais valioso alimento para as crianças. Especialmente útil é o


colostro, forma mais precoce do leite materno que é produzida logo após o
parto e também é designada como “pré-leite”. Antigamente era jogado fora,
mas hoje se conhece sua importância, que se mostra na grande riqueza de
nutrientes e anticorpos. Nesse meio-tempo, mesmo entre médicos acadêmicos
eliminaram-se aqueles trágicos erros de pensamento que zeram com que se
rejeitasse a amamentação por mais de duas décadas. Crianças amamentadas
têm vantagens em todos os sentidos, vantagens essas que foram cienti camente
comprovadas até mesmo em seus lhos, ou seja, uma geração mais tarde.
Crianças amamentadas são favorecidas não apenas do ponto de vista físico –
através do reforço do sistema imunológico –, mas também em muitos outros
aspectos. O vínculo entre elas e a mãe pode desenvolver-se com mais facilidade
e profundidade, pois a amamentação aumenta a produção de oxitocina,
hormônio da ligação. Por sua vez, normalmente isso gera melhores condições
iniciais de vida. Através do contato físico mais intenso, todas as vantagens
descritas anteriormente passam para a nova vida. Assim, o leite materno é não
apenas o melhor alimento no primeiro ano de vida, mas também um excelente
remédio pro lático em quase todos os sentidos.
Potencializado de acordo com as regras da homeopatia, o leite materno
também pode alcançar bons efeitos terapêuticos. A sabedoria de Paracelso,
segundo a qual para cada enfermidade existe um remédio que pode ser
encontrado no ambiente mais próximo do enfermo, encontra aqui sua mais
bela con rmação. Mais próximo e melhor é difícil de encontrar.
Segundo seu quadro farmacêutico e as regras da homeopatia aplicadas
individualmente, o medicamento homeopático Lac humanum também pode
ajudar. No entanto, em caso de coriza, o leite materno normal também pode
tornar-se um medicamento quando pingado no nariz. Ainda vamos deparar
com ele várias vezes nas dicas ao nal de diferentes capítulos.
Mesmo o leite precoce de vaca, também chamado de “colostro”, é um
remédio especial e pode, por exemplo, ter resultados surpreendentes em
crianças com dermatite atópica. Hoje ele pode ser encontrado com excelente
qualidade biológica.[6]
2.3.1.2 A alimentação infantil

No que se refere à alimentação, vale para as crianças o mesmo que para os


adultos. O primeiro dos quatro pilares da alimentação saudável é o alimento
adequado à espécie. Como onívoro com forte orientação vegetariana, o ser
humano deveria obter metade das suas calorias de carboidratos, enquanto a
outra metade ca por conta da proteína e da gordura. Para a maioria dos
nossos contemporâneos, isso signi ca reduzir a gordura e a proteína animal em
favor dos carboidratos.
O segundo pilar requer um alimento integral, simplesmente porque nos
milhões de anos da nossa evolução não aprendemos nada além disso. Para as
crianças, esse aspecto é ainda mais importante, pois elas não apenas precisam
manter o organismo, como os adultos, mas também construí-los a partir do
zero. Para tanto, obviamente necessitam dos melhores nutrientes, que só
podem ser obtidos através de alimentos integrais, se possível frescos.
O seguinte episódio, presenciado por uma participante do meu curso que
trabalha em uma loja de produtos orgânicos, dá uma ideia clara do ponto a que
chegamos quanto a esse assunto: uma dona de casa chega à loja com uma
sacola de plástico cheia de verduras e deixa a sacola no caixa para ir pegar duas
cenouras orgânicas e um pé de alface. Quando a moça do caixa lhe pergunta
por que ela havia comprado tanta verdura no supermercado e, naquele
momento, estava levando tão pouca coisa saudável, ela respondeu: “Ah, isto
que estou levando agora é para os coelhinhos das crianças; senão eles
morrem...”
Para desenvolver as defesas do organismo da criança e manter sua saúde, é
necessária a ingestão de alimentos integrais. A todos os produtos re nados
sempre falta uma parte de seu todo. Por isso, alimentos re nados sempre
requerem uma compensação. Crianças nutridas com alimentos integrais
dispõem fundamentalmente de uma base mais equilibrada e conseguem
encontrar seu centro.
O terceiro pilar seria a alimentação adequada ao próprio tipo constitucional.
Com um teste simples, como o descrito no livro Richtig essen [Comer
Corretamente], em poucos minutos é possível descobrir o próprio tipo e,
dependendo de qual for, suprir-se de alimentos que refresquem, aqueçam ou
sejam neutros. Este é um ponto bastante essencial, por exemplo, no caso das
chamadas crianças com TDAH, que, além do tratamento com homeopatia
clássica e um adequado programa de exercícios físicos e mentais, devem,
necessariamente, ter o excesso de nível de energia reduzido através de uma
alimentação refrescante.
Quando as exigências desses três pilares básicos da alimentação são
respeitadas, geralmente a quarta, aquela do equilíbrio entre ácido e base, resulta
por si só. Quem cobre metade das suas calorias com carboidratos integrais
abastece com su ciência as partes alcalinas através de elevadas porções de frutas
e verduras.
Quase como quinto pilar, a bebida também é importante. A água é um
alimento decisivo e a base de todas as bebidas. Ao mesmo tempo, também é
nossa bebida mais importante, e as crianças devem “desfrutar” dela com
abundância; portanto, dependendo da quantidade adicional de fruta e vegetais
crus, deve beber de um a dois litros por dia. Contudo, se já não é fácil
convencer as crianças a beber água pura, menos ainda é fazer com que
“desfrutem” dela. Sucos de fruta diluídos em bastante água seriam uma
substituição possível. Limonadas feitas em casa também seriam uma
alternativa: um pouco de suco de limão ou de laranja com mel ou, melhor
ainda, estévia, um adoçante tão natural quanto inofensivo de uma pequena
planta. A maioria das crianças gosta de experimentar; assim, por exemplo, um
chá gelado, preparado com ervas frescas e bagas, rapidamente se torna uma
atração competitiva.
Devido ao açúcar, deve-se evitar rigorosamente dar refrigerante para
crianças, pois eles prejudicam não apenas os dentes e o sistema ósseo, mas
também a saúde como um todo. Por essa razão, hoje existem as versões “light”
com adoçante, que provavelmente são ainda menos saudáveis por causa de
substâncias como aspartame, entre outras. Um adoçante natural e inofensivo
seria a já mencionada estévia vegetal.
Contudo, apesar de todas as vantagens da alimentação saudável, deveríamos
evitar transferir nossos medos ou nossas ideologias para as crianças no que diz
respeito à alimentação saudável ou não. Uma boa dose de exibilidade e
con ança, mostrando que o corpo também é capaz de lidar com certa porção
de “venenos”, seria útil. Provavelmente, ele até precisa desse con ito, tal como
dos vírus e das bactérias. Precisamos de uma vida inteira para aprender a
integrar e encontrar o equilíbrio correto. Cada criança tem suas peculiaridades,
e cada nova fase da vida exige uma nova orientação e novos critérios – desde o
tamanho dos sapatos até o estilo de vida de modo geral.
Assim, nos primeiros anos de vida, uma alimentação saudável é ainda mais
importante do que mais tarde. Quando as crianças começam a ir para a escola,
ocorre um relaxamento forçado das regras de alimentação, uma vez que elas
di cilmente conseguem resistir ao espaço dado às comidas prontas,
solidamente ancorado na consciência da população pela indústria da junk food.
No entanto, quando uma base saudável é instalada, o organismo consegue
tolerar esse campo com mais facilidade. Não obstante, no que se refere à saúde
das crianças, bem como aos custos do sistema de saúde, seria útil se esse campo
fosse reelaborado e, na idade em que ocorre uma avalanche de casos de
obesidade e diabete tipo 2, a alimentação saudável se tornasse uma matéria
escolar.
2.3.1.3 Outras dicas de alimentação para uma vida saudável

Para a medicina tradicional chinesa, hoje como no passado, uma refeição


regular e quente durante o dia é extremamente importante, tanto quanto um
cardápio elaborado de acordo com a estação do ano. Na época de nossos avós,
esses fatores também eram levados em conta, bem como a presença de toda a
família à mesa e uma boa atmosfera durante a refeição. Embora hoje o espírito
da época exija uma atitude diferente, o valor de uma posição como essa
durante a refeição ainda é muito grande.
À situação atual correspondem, antes, as seguintes medidas, sobretudo
porque elas se tornaram possíveis graças a novos conhecimentos cientí cos.
Para que o organismo da criança (e do adulto) possa produzir uma quantidade
su ciente de hormônio do crescimento, deve-se evitar comer, ou mesmo
beliscar, após o jantar. Somente quando o café da manhã for realmente um
breakfast, como dizem os anglo-saxões, ou seja, quando se quebrar um jejum de
pelo menos 12 horas, é que o crescimento pode se realizar durante a noite com
base no relativo HGH (Human Growth Hormone ou Hormônio do
Crescimento Humano). Além disso, seria útil se o quarto da criança estivesse
livre de radiação eletromagnética e permanecesse realmente no escuro. Além do
crescimento, o HGH é responsável por um estado de espírito criativo, bem-
disposto e até alegre, que anima a encarar a vida. Esse estado de espírito
também é conhecido como euforia do jejum, nos períodos em que é praticado.
Outro truque do hormônio refere-se à serotonina ou hormônio do bem-
estar, formado a partir do aminoácido L-triptofano e que, por sua vez, é o
estágio anterior da melatonina, o hormônio noturno. Nossos antepassados, que
eram obrigados a se deslocar muito para obter escassos alimentos crus, já
dispunham desse hormônio. É provável que se arrastassem pelo território,
mastigando quase sem parar o que conseguiam apanhar de plantas comestíveis,
obviamente cruas. Hoje, é muito difícil reproduzir esse modo de vida. Quem
vai querer praticar jogging, mastigando sem parar algum vegetal cru e
mantendo o nível de oxigênio em equilíbrio?
Atualmente, uma variante simples de vegetais crus triturados em bras nas
e conhecida como Aminas,[7] que, além de tudo, não custa caro, pode nos
ajudar nesse sentido. Graças à mistura de vegetais, essa variante contém o L-
triptofano, estágio anterior da serotonina, que nossos antepassados buscavam
consumir diariamente, e, por ser triturada em bras nas, substitui a
mastigação sem m. Portanto, não se trata absolutamente de uma
complementação alimentar, mas apenas de um alimento em uma composição
especial.
Contudo, para que a combinação funcione, é necessário considerar mais um
fator na ingestão, pois, do ponto de vista bioquímico, não é muito fácil fazer
com que o aminoácido L-triptofano chegue ao cérebro, onde ele mais falta a
nós, homens modernos. Desse modo, meia hora antes de toda refeição, deve-se
tomar em jejum uma colher de sopa dessa mistura diluída em um pouco de
suco e, em seguida, um copo cheio d’água ou, melhor ainda, dois em seguida.
A água garante que a mistura seja enxaguada em todo o estômago, e o jejum,
que o aminoácido L-triptofano passe sem impedimentos pela barreira
hematoencefálica.[8]
Somente assim se consegue alcançar como resultado uma disposição melhor,
um sono melhor e uma pele melhor depois de um longo tempo de uso das
Aminas. Como adoçante, mostrou-se e caz acrescentar uma colher de chá de
mel à mistura.
Informações mais detalhadas sobre esses truques hormonais, mas também
sobre os pilares da alimentação saudável, você encontra no livro Richtig essen
[Comer Corretamente], e receitas com dados sobre ingredientes, o teor ácido-
base e o efeito térmico no livro Vom Essen, Trinken und Leben [Sobre Comer,
Beber e Viver].
2.3.1.4 A alimentação da criança doente

A regra mais importante diz: “Não obrigue ninguém a comer” – muito menos
ainda uma criança doente. Em casos de febre, mas também com outros
sintomas, muitas vezes sente-se uma necessidade natural de jejuar, que também
pode ser tolerada por crianças. O jejum alivia em muito o intestino, que, do
contrário, consome uma parte considerável de energia no trabalho de digestão.
No jejum, a digestão ca livre para as nalidades de regeneração e cura. Deve-
se dar à criança essa oportunidade caso ela demonstre tal necessidade. Quanto
mais um ser reage de modo intuitivo em caso de doença, mais ele tende a
recusar alimento, a m de ter à disposição todas as suas energias para o
restabelecimento. Nesse sentido, a carência de alimento também é frequente
em animais doentes, que ainda vivem de acordo com a natureza.
2.3.2 Movimento

Para as crianças, o movimento é algo natural e, antigamente, quase não era


levado em conta. Pelo menos os rapazes mostravam um condicionamento
sólido quando frequentavam a escola. Entre as moças da classe média,
geralmente educadas para dançar nos “bailes”, essa condição já era menos
garantida. Hoje, as crianças, sobretudo as que vivem nas cidades, onde
dispõem de pouco espaço para correr e brincar, apresentam sintomas de
inatividade física, que vão desde um condicionamento ruim até problemas de
postura.
Entre as crianças, os movimentos também contêm uma simbologia de fácil
compreensão. As semelhanças com a vida são evidentes. Geralmente, aqueles
que desde o início se movimentam muito também são os que, na vida,
movimentam alguma coisa. Se com as crianças treinamos, por exemplo, a saltar
barreiras, a atravessar valas ou a equilibrar-se, além do aspecto do movimento,
esses exercícios também possuem um signi cado simbólico, que seria o de
testar sua coragem, superar obstáculos, não se deixar abater por depressões
profundas, bem como a capacidade para manter seu equilíbrio interior.
Contudo, o aspecto mais importante no movimento é o “fator prazer”.
Quem cria os lhos em um ambiente tão inatural quanto uma cidade
grande deveria cuidar ativamente de seu programa de exercícios físicos, para
mais tarde não ter de se preocupar com jovens que sofrem dos típicos
problemas do sedentarismo, como sobrepeso, diabete tipo 2 e postura física
anormal. O mais simples seria fazer com que corressem e brincassem com
crianças da mesma idade. Mas é claro que os pais, que também carecem de
exercícios por causa de sua vida pro ssional moderna, também podem levá-las
junto para fazer jogging e caminhadas. Contudo, na melhor das hipóteses, o
resultado seria uma compensação cansativa. Férias adequadamente
movimentadas tampouco são su cientes – se já não o são para os adultos,
menos ainda o são para as crianças. Além de seus efeitos bené cos, programas
de exercícios divertidos, como a ginástica consciente, poderiam proporcionar
prazer e estimular a coordenação, a exibilidade e até a inteligência da criança.
Você encontrará mais informações sobre esse assunto no livro Das
Gesundheitsprogramm[9]. Um exercício simples pode dar uma ideia de como
funciona. Com uma mão, desenha-se o número oito no ar e, ao mesmo tempo,
com a outra, o número oito no plano horizontal. No início é difícil, mas assim
que a criança aprende o exercício, os efeitos chegam a ser incríveis. Depois que
realiza esse exercício, ela pode passar para o próximo, que é desenhar um
triângulo com uma mão e um círculo no ar com a outra. Assim, com o tempo,
podem-se acrescentar exercícios com os pés ou passar para malabarismos, que
oferecem uma multiplicidade de variantes e que, do mesmo modo, desdobram
seus efeitos bené cos – sobretudo quando ainda não tiverem sido dominadas.
Outro bom resultado desses exercícios é que, depois de no máximo 90 minutos
de concentração mental, eles representam uma interrupção ideal. Em seguida,
o trabalho mental pode ser realizado novamente com uma visível melhora. Em
relação às crianças, existe a vantagem de que a maioria delas se diverte ao
praticá-los. Outra vantagem é que, com esses exercícios simples, aos quais no
início não se dava muito crédito, se aciona um desenvolvimento que amplia a
consciência.
2.3.3 Relaxamento
Em uma época em que a pressa é sentida em toda parte, já na infância o
relaxamento recebe um lugar de destaque. A vida começa com muitas horas de
sono, que somente aos poucos vão sendo reduzidas. Seria ideal que a sesta,
ainda comum entre crianças pequenas, fosse mantida ao longo de toda a vida.
Estudos de universidades americanas comprovam, de maneira bastante
impressionante, o quanto uma sesta ou, melhor ainda, um bom relaxamento
depois do almoço levam a uma profunda regeneração e dão mais energia para
enfrentar o período da tarde. Se os pais também participassem, o descanso dos
lhos depois do almoço caria mais fácil, e os pais poderiam ter mais energia
para acompanhá-los. Assim, à noite, pais totalmente esgotados não precisariam
tentar “embalar” crianças despertas. Não é raro que depois a criança volte e
chame a mãe para dizer que o pai conseguiu dormir. Se uma criança se cansar
durante o dia, ela não custará a pegar no sono à noite, como naturalmente
também acontece com os adultos em situação semelhante. Pais habilidosos
estimulam o sono dos lhos contando histórias antes de eles dormirem ou
conduzindo-os à meditação.
Na maioria das vezes, mantras cantados em forma de ritual são excelentes
para acalmar e relaxar rapidamente crianças e adultos. Graças aos sons
familiares e repetitivos, adultos e crianças entram naturalmente primeiro em
um ritmo respiratório tranquilo e, depois, costumam adormecer sem
di culdade.
Atualmente, o desa o dos pais é fazer com que os lhos se cansem mental e
sicamente para que tenham uma noite boa e inteira de sono.
Contudo, apesar de todos os esforços, são poucas as crianças acima de 4
anos que conseguem dormir regularmente depois do almoço. Antes que os pais
se envolvam em discussões constantes, é melhor motivar as crianças a ver ou ler
livros em silêncio, a concentrar-se em uma brincadeira ou ouvir um CD de
contos de fadas ou de meditação. Quando o sono se instala sozinho, o objetivo
terá sido alcançado; quando isso não ocorre, um período de repouso também é
normal. Do contrário, surge aqui uma disputa quase impossível de vencer a
longo prazo, com o risco de se condicionar, já na juventude, o sono ou o
adormecimento como um problema.
Quando estão agitadas, as crianças, assim como os adultos, precisam de
períodos de tranquilidade e voltar à rotina. O símbolo do tai-chi exempli ca
esse modelo. O período noturno, com suas fases do sonho e as ondas cerebrais
beta em ação, é representado pelo ponto branco no campo preto do yin; para o
período do dia, seria necessário um descanso após o almoço ou uma meditação
correspondente que marcasse o ponto preto no campo branco do yang.
O ideal é que a criança não se esqueça de manter o repouso após o almoço,
assim como não deveria desistir de sonhar nem de entrar cedo em contato com
suas imagens anímicas, contato esse que, inicialmente, talvez lhe proporcione o
acesso a seu anjo da guarda ou a seu animal aliado e, mais tarde, a seu médico e
à sua voz interiores, que, ao longo de uma vida espiritualmente plena, possa
converter-se na voz de Deus.

2.4 Contato físico como base da vida

2.4.1 Desenvolvimento da inteligência e contato físico

De quanto contato físico o bebê precisa? Essa pergunta acaba se traduzindo em


quanto uma criança poderá se tornar inteligente e capaz de amar, pois um
contato físico desde cedo estimula não apenas o desenvolvimento da
capacidade de amar, mas também a inteligência. Essa dimensão pode até
surpreender; no entanto, é comprovada cienti camente. Todo toque estabelece
estímulos que são respondidos pelos nervos, uma vez que novas ligações
nervosas são criadas. A ligação complexa de vários milhões de células nervosas é
outra medida objetiva para a inteligência. Nesse sentido, o número herdado de
nervos e gânglios é menos decisivo do que suas ligações entre si. Na era do
computador, isso é fácil de entender. Obviamente, quem tem a maioria das
calculadoras não é o que está mais bem informado, e sim aquele que, com uma
única máquina, é capaz de produzir a maioria das ligações e combinações, que
entra na rede e “participa on-line”. Porém, é claro que inteligência é apenas um
aspecto da importância do contato físico.
2.4.2 A criança imatura
Por que a criança precisa de tanto contato? Em sua fundamentação, Jirina
Prekop apoia-se nas pesquisas de antropólogos e biólogos, que partem do
princípio de que as crianças, à diferença de todos os outros mamíferos, em
geral nascem precocemente. Tal como o canguru, que durante muito tempo
ainda carrega seu lhote na bolsa que tem no ventre, as mães humanas são
convocadas a possibilitar um período mais longo de amadurecimento posterior.
Para atingir o amadurecimento, a criança teria de ser carregada por cerca de dez
meses no ventre da mãe. Mas então por que ocorre o nascimento precoce
justamente com os humanos, que, ao que parece, desenvolvem e cultivam bens
supremos, como o amor, a ética e a linguagem? Teria o Criador talvez errado a
conta nesse caso? Ao contrário, pois é justamente nesse ponto que se codi ca a
sabedoria da criação. Para que o ser humano aprenda a sentir empatia e a
colocar-se no lugar do outro como condição para sua capacidade de amar, ele
teria de vivenciá-la não apenas no ventre materno por meio do diálogo do
toque com a mãe (e o útero), mas também após o nascimento.
No entanto, o que acontece no útero já é fascinante o su ciente. No fundo,
nas últimas semanas de gravidez, a criança é mantida de tal maneira no ventre
materno que já não consegue mudar de posição. Em compensação, ela sente
todo carinho feito pela mãe como resposta a seus movimentos. Essa posição
pré-natal em que é mantida transmite uma espécie de proteção e de con ança
primitivas após as primeiras semanas de gravidez. Na livre suspensão em que
ca no útero, o bebê vive a situação ideal de experiências extáticas de unidade e
se sente em união com o mundo, tal como comprovaram as pesquisas de
Stanislav Grof e nossas experiências desenvolvidas ao longo de trinta anos com
a terapia da reencarnação.
Entretanto, nem sempre o diálogo do toque no último terço da gravidez é
su ciente. Outros sentidos também devem participar da percepção mútua. No
ventre materno, eles são percebidos apenas parcialmente. Embora a criança
consiga ouvir a voz da mãe, ela própria não é ouvida. Pode sentir o cheiro da
mãe, mas não pode ter seu cheiro sentido por ela. Ambas ainda não podem se
ver. Para viver a empatia com todos os sentidos, a criança vem ao mundo o
mais cedo possível. Nesse momento, tanto na mãe quanto na criança são
despertados os neurônios-espelho, ou seja, aquelas condições, também
descobertas pela ciência, para que mãe e lho se ajustem reciprocamente. Esses
neurônios-espelho fazem com que a mãe imite todo som e toda manifestação
mímica emitidos pelo lho. Como consequência, num caso ideal, ambos ainda
permanecem no mínimo mais dez meses em contato simbiótico após o
nascimento. A condição básica para que isso aconteça é que, depois do parto, o
bebê seja colocado junto ao coração da mãe ainda sem ter sido lavado e com o
cordão umbilical pulsando. Essa união íntima sobrevive de modo totalmente
natural e praticável quando a mãe mantém e carrega com frequência o lho no
canguru, tal como desde sempre e por toda parte fazem as pessoas de círculos
culturais ligados à natureza e conforme foi introduzido na pediatria pela
médica austríaca Marina Marcovich com o “método canguru”.
Além disso, aparentemente o plano da criação prevê que os seres humanos e
seus lhos pertençam à espécie biológica dos primatas, ou seja, dos lhotes que
são carregados. Assim, no mundo ainda ligado à natureza, até o segundo ou
terceiro ano de vida, as crianças ainda são carregadas junto ao corpo da mãe ou
por outras pessoas de seu parentesco. Contudo, o sentido não está no ato de
carregar em si, mas nas experiências emocionais transmitidas com esse ato. A
criança recebe continuamente calor, dedicação, proteção e amor incondicional.
Pois é carregada e suportada em toda situação, mesmo quando ca irritada. O
canguru impede tanto a fuga quanto ataques brutais.
Um exemplo pode explicar isso melhor: quando o lho de uma mãe
esquimó ca com raiva dela, porque na geleira ela não pode lhe dar liberdade
de movimento nem o peito, ele pode expressar sua raiva gritando e não será
punido por isso. Ambos se bene ciam de seu confronto emocional. Cada um
está autorizado a expressar livremente seus sentimentos feridos de ventre para
ventre, de coração para coração e de rosto para rosto. Na situação ideal,
conseguem sentir-se no lugar do outro e renovar seu amor. A essas reações –
que, como bem sabemos hoje, são determinadas pelos hormônios –, tanto a
criança quanto a mãe tendem a reagir da mesma maneira.
O que a criança aprendeu e xou em seu cérebro jovem como experiência
fundamental também a ajudará mais tarde, quando ela não conseguir dominar
um con ito através da linguagem. Por certo, não mais através do canguru, e
sim por causa de sua consciência, ela não se permitirá fugir e, em vez disso, se
recolherá em seu refúgio interior, a m de confrontar sua dor e se reconciliar.
Uma experiência bastante semelhante, vivida com o próprio marido, tornou-se
crucial para Jirina Prekop, pois a fez compreender o sentido do abraço e, a
partir disso, desenvolver uma terapia especializada.
Muita coisa está relacionada ao contato físico, como a capacidade que surge
mais tarde de sentir prazer sensorial. Esse prazer facilita a aceitação do amor,
fazendo com que a pessoa se abra para ele e o receba bem. Por isso, muitas
pessoas – sobretudo mulheres – não se dão muito bem com ele. A razão para
tanto poderia estar no fato de que as meninas são menos tocadas por suas mães
do que os meninos, conforme mostrou um estudo. Infelizmente, o tema
“contato físico e capacidade posterior para amar” em uma sociedade que,
comparativamente, se interessa pouco pelo amor, também é bem menos
pesquisado do ponto de vista cientí co do que o nexo com a inteligência. Por
outro lado, é evidente que a pele tem mais a ver com o sentimento de amor do
que com a inteligência. Tudo leva a crer que nossa capacidade para receber
amor e de desfrutá-lo é melhorada com contatos físicos intensos e precoces,
que simpli cam o acesso ao amor e estimulam a coragem de desfrutar mais
tarde do amor físico.
Sabemos da existência de povos primitivos que conservam o contato físico
com os lhos carregando-os sempre junto ao corpo. Desse modo, é formada a
base para uma consciência ilimitada do direito de existir, que se exprime em
uma maravilhosa “capacidade de ser feliz”. Provavelmente, muitas das causas
do sofrimento físico e psíquico residem no fato de que nossa civilização já não
conhece esse contato corporal contínuo ou o interrompeu por períodos muito
longos. Esta poderia ser uma das pedras fundamentais assentadas já na infância
para que muitas pessoas passem a vida toda à procura de sua razão de ser e a
terminem em um vício (mais detalhes a respeito desse assunto você encontra
no livro de Jean Liedloff, Auf der Suche nach dem verlorenen Glück [Em Busca
da Felicidade Perdida]).
De todo modo, a maioria das pessoas sempre sonha em receber amor e
encontrar o grande amor. A in nita di culdade de muitas pessoas para recebê-
lo e encontrá-lo poderia ter como causa o fato de nunca terem aprendido
direito a aceitar demonstrações de amor. Entretanto, o aprendizado precoce da
criança passa praticamente de maneira exclusiva pelas experiências sensoriais da
pele e das mucosas. Quanto mais pegarmos e “apertarmos” a criança desde
cedo, tanto mais ela será exigida e estimulada, e mais prazeroso poderá ser seu
desenvolvimento nesse campo.
Em nossa “sociedade Maxi-Cosi”,[10] que tem especial prazer em colocar as
crianças em assentos de plástico em forma de concha, facilmente
transportáveis, as crianças são sentadas ou afastadas muito cedo. Embora
sempre estejam por perto, no período inicial não conseguem aprender muito
através dos olhos e do olhar como através do toque e da sensação, que no
“sistema compacto Maxi-Cosi” é impedido ao máximo.
2.4.3 Contato físico e amamentação

Atualmente, diversos estudos mostram como a amamentação é importante


para a criança e a mãe. Eis por que até mesmo os médicos acadêmicos, que
durante vinte anos a rejeitaram e impediram devido a substâncias nocivas no
leite materno, voltam a recomendá-la. Sua composição ideal é um fator seguro
para as crianças. Por outro lado, se hoje o leite materno de fato possui tantas
substâncias nocivas, ele não poderia simplesmente ser extraído e jogado fora, e
sim, por lei, ser depositado em um reservatório especial. Se os estudos sempre
demonstraram que, não obstante, amamentar é muito melhor do que dar
mamadeira, a razão fundamental também tem a ver com o fator do contato
físico. Com efeito, do seio materno, os recém-nascidos recebem não apenas
calorias e substâncias nocivas, mas também amor materno, e isso lhes dá
vantagens decisivas (para sua vida) em relação a crianças que recebem
mamadeira.
Além disso, por meio da amamentação e da sucção no mamilo materno, é
estimulada a produção de oxitocina na mãe. Essa substância, nesse meio-tempo
reconhecida como “hormônio de ligação”, tem grande participação no
desenvolvimento do amor materno e na profunda ligação entre mãe e lho.
2.4.4 Terapia através da pele

A pele também é o mapa ou o espelho de nossa alma. A re exologia esclarece o


quanto o interior se re ete no exterior. Assim, na sola dos pés vemos
novamente reproduzida a pessoa como um todo, tal como na orelha, nas mãos
e ao longo da coluna vertebral. A medicina acadêmica também tem sua própria
re exologia nas chamadas zonas de Head, que ela não desenvolveu nem
aperfeiçoou. Isso signi ca que, através da pele, podemos entrar em contato
com os órgãos internos e, quando isso ocorre com amor, os órgãos têm seu
desenvolvimento estimulado.
O psicanalista Alexander Mitscherlich diz em seu livro Krankheit als Kon ikt
[A Doença como Con ito] que, se subtrairmos a consciência de um órgão, ele
adoece do ponto de vista psicossomático. Todavia, o toque sempre irá
direcionar consciência aos locais tocados, possuindo, portanto, segundo essa
lógica psicanalítica, propriedades de cura. Além disso, o toque da mão materna
poderia gerar verdadeiros milagres e, em todo caso, acalmar em grande medida.
Quem costuma fazer carinho no próprio lho, se possível em todo o corpo,
estimula seu desenvolvimento e, além da pele, provê todo o mundo interior de
estímulo e afeto. Esta poderia ser uma das razões pelas quais as crianças gostam
tanto de fazer carinho, por exemplo, em animais. No zoológico, elas se
interessam, sobretudo, pelos animais “comuns” que podem ser acariciados. Mas
também sua paixão por fazer cócegas umas nas outras também poderia ser
explicada como desejo por contato físico. Elas adoram o contato com cães e
gatos e permitem que estes – apesar dos grandes temores das mães modernas –
se aproximem bastante delas, até mesmo de seu rosto.
Nos últimos tempos, os recém-nascidos chegam a ser bem “embrulhados”,
para que consigam ter uma percepção melhor do próprio corpo e sentir-se
amparados. Outra incrível possibilidade nos foi transmitida por Frédérick
Leboyer, o reformador da obstetrícia moderna: massagear o bebê com óleo
aquecido, a partir da antiga tradição indiana. Felizmente, esse recurso tem se
tornado cada vez mais popular entre nós. Quem já teve a oportunidade de ver
a carinha de felicidade dos pequenos quando são massageados irá entender
muito melhor o que queremos dizer.
Nas unidades americanas de bebês prematuros, comprovou-se que as
crianças que eram afagadas na incubadora tinham visivelmente mais chances de
sobrevivência do que aquelas que só eram tratadas com a melhor técnica. A
partir dessa conclusão, desenvolveu-se a pro ssão – tipicamente americana –
do chamado baby-handler, cuja tarefa é “tocar” (do inglês to handle) recém-
nascidos que estão em incubadoras, transmitindo-lhes afeto através das mãos.
Igualmente típica é a falta de uma pesquisa para saber se o afeto dos próprios
pais daria resultados ainda melhores. Em geral, os baby-handler são
aposentados que, desse modo, ganham um dinheiro a mais para afagar recém-
nascidos, já que, aparentemente, para essa atividade, ninguém mais no mundo
moderno tem tempo, menos ainda os pais, cujo lho “funciona” tão mal que
precisa permanecer na incubadora. Na verdade, só de pensar na necessidade de
contratar aposentados para fazer carinho no próprio recém-nascido já deveria
fazer o alarme soar...
2.4.5 O “método canguru”

A já mencionada neonatologista austríaca Marina Marcovich deu um grande


passo na direção correta com o “método canguru”. Ela substituiu a incubadora
pela própria mãe e fez com que esta carregasse o lho junto ao próprio corpo,
em uma espécie de bolsa, tal como os cangurus e outros marsu-piais. Os
resultados se mostraram muito melhores do que todas as possibilidades das
incubadoras, e o método foi adotado em quase todas as partes do mundo.
Apenas na Áustria demorou anos para que a corajosa médica encontrasse
reconhecimento.
A observação das populações arcaicas, que erroneamente chamamos de
“primitivas”, já poderia nos ter levado a essa pista. Em quase todos os povos
que até hoje vivem próximos da natureza, as mães amarram panos na barriga
ou nas costas para carregar seus lhos, o que parece fazer bem a ambos. Como
efeito colateral, esse método também impede o asco difundido na Europa
Central, referente à criação de hábitos de higiene, que gerou personalidades
compulsivas em grande estilo. Quando as crianças precisam fazer suas
necessidades, as mães indígenas as tiram do canguru, dispensando todo o
aparato de fraldas e faixas. As crianças cam limpas desde o início e, nesse
sentido, não precisam treinar nem condicionar o esfíncter como entre nós.
Quando um missionário viu pela primeira vez uma mãe dessas segurando o
bebê na barriga, perguntou-lhe – provavelmente preocupado com as questões
de higiene – como ela fazia para saber quando a criança estava “apertada”.
Surpresa, a mãe teria respondido com outra pergunta: como ele fazia para saber
quando estava “apertado”. Além disso, essa circunstância mostra quão estreito
se torna o vínculo entre mãe e lho nesse método de contato físico. Ela sente a
necessidade da criança como se fosse sua própria – de modo totalmente
semelhante à época em que o bebê ainda utuava no líquido amniótico em seu
ventre.
Há muito tempo, os panos amarrados no corpo da mãe para carregar o bebê
saíram das lojas do terceiro mundo para conquistar o primeiro. Obviamente,
logo foram desenvolvidos modelos caros como o canguru “Snugli”, que na
Alemanha é vendido por preços relativamente altos. Contudo, o erro decisivo
em tudo isso foi a possibilidade que surgiu com esses cangurus de evitar o
contato com a pele. Era justamente nesse contato que residia a vantagem desse
modo de cuidar das crianças. No “método canguru”, ele também é o ponto
crucial. Na maioria das vezes, apresentam-se a temperatura e problemas de
higiene como argumentos principais contra o contato com a pele. Desse modo,
tudo é devidamente racionalizado, até o verdadeiro efeito essencial desaparecer.
As mães que con am (e acreditam) no método primitivo dão um enorme
presente a seus lhos, um presente cuja profundidade e cuja extensão
geralmente só se manifesta de fato mais tarde na vida. É particularmente
signi cativo o fato de que, em Bali, não se ouvem crianças gritar. A razão
poderia estar no fato de que as balinesas partem do princípio de que, até os 2
anos de idade, a criança não deve tocar o chão, pois ainda seria um ser muito
celestial. Por isso, as crianças são sempre carregadas pela mãe ou por um irmão
mais velho.
Por certo, não se pode simplesmente transferir um hábito como esse para
nossa cultura, considerando-se também que uma criança que goste da
liberdade sofreria com o excesso de proximidade. Nesse contexto, por certo
seria ideal se os pais tivessem uma ideia fundamental do modelo de vida de seu
lho. Nesse sentido, pode ser útil a astrologia psicológica que o psicanalista
Fritz Riemann, autor de Grundformen der Angst [Formas Fundamentais do
Medo], tentou introduzir, já em 1977, na medicina com seu livro Lebenshilfe
Astrologie [O Aconselhamento da Astrologia]. Provavelmente, ambas as coisas
são importantes: por um lado, a proximidade, transmitida pelo contato físico,
e, por outro, o apoio ao desejo precoce de movimento e conquista, que
também contribui de maneira essencial para o desenvolvimento do cérebro,
para uma boa coordenação motora e para uma ulterior autonomia. Além disso,
as experiências sensoriais através da sola dos pés, como a coordenação motora
ao engatinhar, são muito importantes.
Portanto, nesse sentido, muito cedo os pais serão confrontados com a
polaridade entre segurança e liberdade, que persiste durante a vida inteira. Em
seu livro Die Furcht vor der Freiheit [O Medo da Liberdade], Erich Fromm já
apontava para esse con ito do ser humano.
2.4.6 Do Reiki ao Deeksha – imposição das mãos e bênção

A imposição das mãos tem efeitos curativos, segundo nos descrevem as curas
bíblicas de nossa tradição. O fato de a enfermeira norte-americana Dolores
Krieger poder ter comemorado um sucesso tão grande e cienti camente
comprovado com sua abordagem sobre o therapeutic touch [toque terapêutico]
deve-se simplesmente ao efeito curativo do contato físico. Ela encorajou as
enfermeiras a tocar mais os pacientes.
Hoje, no cenário espiritual, temos sistemas mais elaborados, como o Reiki.
Essa técnica, que no passado era muito dispendiosa para quem quisesse atingir
seus diversos níveis, transmite, sobretudo, um afeto direto a outra pessoa, com
resultados surpreendentes. Deixando de lado todo o aparato pseudoesotérico, o
Reiki permanece um bom modo de curar através do afeto, e, provavelmente, os
símbolos e pensamentos que acompanham o uxo da energia de cura parecem
estimulá-la ainda mais. Pelo menos nos trinta anos em que venho aplicando a
técnica do Reiki, essa é a impressão que tenho.
Ainda mais moderno parece ser o Deeksha, a transmissão de energia divina,
graça ou simplesmente bênção com a imposição das mãos na cabeça. Seu
funcionamento é impressionante, e não haveria nada mais belo para uma
criança do que a graça divina, ainda que a atualidade tenha um temor até
mesmo sagrado a esse tipo de palavras. Os pais não precisam de um curso na
Índia para fazer com que esta ou outra energia chegue a seus lhos através de
suas mãos. De resto, antigamente também era comum entre nós que os pais
dessem a bênção aos lhos.
Larry Dossey, especialista em medicina interna, fez uma pesquisa cientí ca
que rompe a imagem moderna de mundo e cujos resultados podem
perfeitamente ser aplicados nas crianças. Ele dividiu em dois grupos pacientes
com graves patologias cardíacas. Pediu a todos que escrevessem seu nome em
um pedaço de papel. No entanto, entregou apenas os nomes da metade a um
círculo de oração, como é comum haver nos Estados Unidos, e pediu para que
rezassem por eles. Embora os participantes do círculo não conhecessem os
pacientes e estes não soubessem que estavam rezando por eles, esse grupo teve
uma melhora estatisticamente visível e, em pouco tempo, destacou-se do outro
grupo em muitos aspectos, que sofreu mais complicações e teve até casos de
morte. O resultado é muito claro: rezar ajuda – e isso é comprovado
cienti camente.
Nesse sentido, em situações difíceis, seria natural não apenas pegar a criança
no colo, mas também rezar por ela, contanto que se tenha condições para
tanto. O ideal seria animar até mesmo a criança a rezar, embora, nesse caso,
(ainda) não se tenha comprovado cienti camente algum efeito...
2.4.7 Moderna magia por contato

Experimentei pessoalmente o efeito combinado desses métodos tradicionais em


um local onde eles não eram esperados: no ambulatório cirúrgico de um
moderno hospital de cidade grande. Nosso procedimento normal em casos de
feridas com sangramento em crianças, geralmente meninos depois de alguma
queda, era simples. Enquanto um enfermeiro segurava o menino no colo – se
necessário, até mesmo usando força física –, o médico aplicava a injeção de
anestesia, cuidava da ferida, costurava-a e dava outra vacina antitetânica – pura
rotina...
Certa noite, uma mãe chegou com um menino que havia caído da cama e
tinha um corte com forte sangramento na cabeça. Eu estava de plantão com
uma enfermeira mais velha e estava a ponto de pedir reforço, quando ela me
deu a entender que daríamos conta sozinhos. Com prazer, passei-lhe o bastão.
Para minha surpresa, ela fez o menino entrar com a mãe, tranquilizou a mulher
com palavras claras e, sobretudo, limpando o sangue que escorria da cabeça da
criança. O menino também logo se acalmou quando ela conseguiu lhe mostrar
que ele já não sangrava e que não morreria por causa de um corte tão pequeno.
Para a mãe isso também cou claro. Por m, a enfermeira pediu que ela
segurasse o menino no colo e dissesse algo como “sare, sare, meu menininho”.
Até então, eu havia sido dispensável. Mesmo assim, preparei a anestesia e quei
surpreso quando ela me perguntou se eu realmente achava necessário, pois,
para suturar o corte, que a essa altura era pouco visível, bastavam dois pontos,
exatamente o número de picadas da injeção de anestesia. Espantado com tanta
lógica, abri mão da anestesia e deixei-me conduzir por ela. A enfermeira me
aconselhou a falar com o menino “de homem para homem” e a aplicar os
pontos durante a fase de expiração, o que, diga-se de passagem, ocorreu sem
problemas e sem dor.
Muitas vezes re eti sobre essa experiência e agradeci à enfermeira uma das
mais importantes lições de como lidar com crianças na clínica. Em vez de
submeter um menino em pânico a um enfermeiro sicamente mais forte, o que
equivaleria a uma “violência” e envenenaria sua relação com a medicina por
muito tempo, além de excluir a mãe e deixá-la igualmente em pânico e
preocupada, instituímos paz e tranquilidade recorrendo a costumes antigos e
e cazes. Tivemos apenas de renunciar ao grande gesto de devolver
completamente são e salvo a uma mãe preocupada seu lho abatido e esgotado,
após uma luta heroica por sua saúde. Certamente ambos não esqueceriam tão
rápido essa noite traumática, e pelo menos a mãe caria grata a essa medicina
heroica depois de sua experiência. Todavia, do outro modo, possivelmente
zemos com que ambos con assem em suas próprias capacidades. Embora os
comentários da enfermeira – como “esse corte fecha sozinho”, “em uma semana
você não vai ver mais nada” – minimizassem nossa atividade, por outro lado
certamente conferiram con ança e certeza. Pelo menos em pediatria, é fácil
responder se o médico deve fazer uma encenação especial ou, em vez disso,
trazer a medicina para um nível mais terreno.
É uma grande arte tirar sangue de crianças sem fazê-las chorar. Entretanto,
na prática, sempre tivemos essa experiência quando, procedendo com o devido
cuidado, consideramos a criança em sua particularidade e evitamos ir contra
sua vontade. Contudo, algumas mães tinham de voltar três vezes até a criança
concordar em tirar sangue. Em geral, esse é um ritual que não precisa ser
repetido a cada vez, pois as crianças criam con ança nesse caminho em
comum.
Quais foram os fatores de cura que entraram no lugar da autoridade
médica? Por um lado, certamente a presença da mãe, que inspirou con ança, e,
sobretudo, seu colo. Atualmente, pegar a criança com carinho e colocá-la no
colo é quase uma medida terapêutica, que, na prática, sempre transmite
proteção e segurança. Assim, a criança recebe uma base, o colo no qual cresceu
e que, mais uma vez, com toda a consciência, está à sua disposição. Ela sentirá
essa energia materna de modo quase instantâneo, mesmo quando for uma
terapeuta a pegá-la no colo para realizar a anamnese. Obviamente, o pré-
requisito para tanto é que a terapeuta de fato consiga transmitir essa sensação –
será ainda mais fácil quando ela já tiver lhos e os tiver segurado muito no
colo. Por m, no consultório de homeopatia pediátrica, em algum momento
até mesmo a criança mais inquieta e hiperativa acaba parando no colo, o que
lhe transmite uma sensação bem melhor.
Por outro lado, a antiga magia do traço também desempenhou um papel na
ocasião anteriormente mencionada. A mãe fez um traço com a mão no ar, por
cima do local ferido, murmurando “sare, sare, meu menininho”. No plano
energético, ela reparou a aura perturbada, o que muitas vezes já é o su ciente
para dissipar o medo.
Por m, foi uma ideia genial, simples e e caz por parte da enfermeira fazer
cessar o sangue como que por mágica, simplesmente limpando-o. O sangue,
essa seiva especial, como já evocado em Fausto, é capaz de assustar
sobremaneira mães e lhos, principalmente porque é muito impressionante.
Algumas gotas na água já simulam uma profusão.

2.5 Pais e filhos no espelho da alma

“As crianças podem ter problemas psíquicos ou psicossomáticos?” Esta é uma


pergunta que se faz com frequência. “Elas ainda não podem ter desenvolvido as
condições para tanto. Por que, então, têm tantas doenças?” Há muitas respostas
para essas perguntas. As crianças não são absolutamente folhas em branco, no
sentido de pequenos anjos inocentes. A maioria das pessoas e suas religiões
partem do princípio de que a alma sempre retorna até alcançar a perfeição.
Mesmo o cristianismo conheceu esse pensamento, até ele ser banido no século
VI, sob o imperador Justiniano, no segundo Concílio de Constantinopla
(553). Todavia, ainda encontramos na Bíblia antigos vestígios dele, por
exemplo, quando os discípulos de Cristo perguntam se ele era Elias que havia
retornado e ele responde que não, que este era São João Batista. Na
comunidade cristã antroposó ca, a ideia da reencarnação vive até hoje de
maneira bastante tranquila sob o teto do cristianismo.
Mesmo os médicos de hoje partem do princípio de que a criança é
fortemente marcada pelo patrimônio genético dos pais. Além disso, a pesquisa
moderna nos mostra que as circunstâncias precoces de vida intrauterina têm
uma in uência importante, bem como a amamentação. Filhos de mães que se
alimentaram mal ou fumaram durante a gravidez permanecem marcados pela
vida toda, e o efeito pode ser – cienti camente – comprovado até mesmo em
seus lhos. Portanto, a in uência do corpo da mãe alcança a geração dos netos.
Por conseguinte, as crianças são a soma das tarefas (de aprendizado) que
trouxeram consigo e que se re etem tanto no patrimônio genético como nos
primeiros imprintings. Esse conhecimento deveria nos estimular a tirar
conclusões com consciência, por exemplo permitindo que o recém-nascido, se
possível, marcasse em sua memória o rosto da mãe ou o do pai, e não o de
parteiras ou ginecologistas estranhos, como acontecia antigamente por
ignorância. O que a criança percebe logo depois do nascimento é de suma
importância; porém, ainda mais importante é o que ela sente durante a
gravidez, e aqui, vale repetir, sobretudo no período inicial. Ao utuar sem
gravidade no líquido amniótico, que tem o calor do corpo, e em união com a
mãe, ela está ligada a uma unidade e sente a con ança primitiva, a base de toda
a autocon ança posterior (saiba mais a esse respeito no livro O Caminho para a
Vida). Portanto, o dote mais importante lhe é dado já no início da existência
na Terra.
Consequentemente, já no início da vida, a criança é, por um lado, expressão
das experiências prévias que carrega consigo e, por outro, dos pais por meio do
patrimônio genético. Quer isso nos agrade, quer não, está cienti camente
comprovado que, do ponto de vista material, toda criança é 100% uma
mistura de seus pais. Há muitos indícios de que, mesmo posteriormente – mais
no início de sua vida na Terra do que depois –, ela re ete seus pais.
De acordo com nossa observação, temos de partir do princípio de que, não
raro, as crianças têm os mesmos temas, problemas e tarefas de aprendizado,
personi cando-os e ilustrando-os também para seus pais, do mesmo modo
como os pais re etem os problemas dos lhos. Assim, a ressonância para os
con itos dos pais pode se manifestar em forma de in amações. Quanto maior
a proximidade temporal com o nascimento e aquela emocional com os pais,
tanto mais claro é esse fenômeno. Por conseguinte, em recém-nascidos o
paralelismo é ainda mais marcado.
Isso não seria nenhum problema se julgamentos de valor e questões de culpa
não entrassem em jogo. De acordo com nossa proposta para este livro, o ideal
seria substituir a culpa pela responsabilidade e deixar a temática da culpa para a
equipe cristã e terrena e outros especialistas em religião, que já têm muito
trabalho com isso e se distanciaram bastante de fontes como a Bíblia. Os pais
são responsáveis pelos lhos, mas não são culpados por aquilo que as crianças
carregam consigo. Os lhos receberam tarefas, no sentido do conceito oriental
de karma, e os pais deveriam enfrentá-las junto com eles.
É evidente que pais que aceitam e controlam a própria vida com todos os
seus desa os e todas as suas tarefas podem oferecer mais liberdade e
oportunidade de desenvolvimento aos lhos do que aqueles que se perdem nos
próprios problemas. Nesse sentido, o desenvolvimento pessoal dos pais sempre
é importante e, muitas vezes, melhor para os lhos do que “tentar consertá-
los”. Quando os pais levam a própria vida de maneira honesta, sincera e com
responsabilidade, geralmente os lhos re etem sua autoestima em seu modo de
ser individual e corajoso. Di cilmente cam agarrados à barra da saia da mãe;
ao contrário, conquistam o mundo de maneira própria e original.
Somente no amor incondicional por nossos lhos é que conseguimos
oferecer-lhes espaço ilimitado para um desenvolvimento pessoal, pois, nesse
caso, não sentimos a necessidade de igualá-los a nós. E poderíamos sempre nos
questionar com o que sonha a alma das crianças – nossa alma sonha com o
mesmo.
Inversamente, os pais que não dão conta de si mesmos nem de suas tarefas
também poderão ver essa situação em seus lhos. Por certo, isso ca mais
evidente no caso da mãe ou pai que cria o lho sozinho, uma vez que a
problemática, nesse caso, encontra apenas uma superfície de projeção, o que
não signi ca que a criança não tenha, na mesma medida, a parte do pai ou da
mãe que não está presente. Todavia, eventualmente isso ainda é mais difícil de
aceitar do que o re exo dos próprios problemas, pois as razões para a outra
parte faltar são sempre julgadas de maneira negativa.
Portanto, quando os lhos adoecem, os pais também podem sempre
perguntar que relação a doença teria com eles, não no sentido horrível de “É
culpa minha?”, e sim naquele de “Que lição podemos tirar juntos disso?” e “O
que devemos melhorar em nós para facilitar a vida de nosso lho, para que ele
cresça conosco e do nosso lado?” Em uma época de crescente individualismo,
há muito que se aprender a esse respeito, com aqueles que nos são mais
próximos e, em geral, mais queridos. Ninguém precisa ter medo de associar a si
mesmo coisas que não lhe dizem respeito, pois só entramos em ressonância
com aquilo com que também temos alguma relação e que representam alguma
tarefa. Experiências do consultório de pediatria homeopática, que incluem o
nível interpretativo, evidenciam isso de maneira bastante clara, e a maioria dos
pais se mostra aberta a essa confrontação com temas em comum.
É compreensível que hoje, nos países industrializados, onde as crianças se
tornam cada vez mais raras, elas transmitam mais tarefas de aprendizado, pois
não é fácil para o destino fazer-nos entender essas tarefas em tempos tão hostis
ao desenvolvimento. Quase todos são garantidos e vacinados contra tudo. Por
conseguinte, a instância responsável por nosso desenvolvimento tem de
escolher caminhos cada vez mais extravagantes. Se antigamente havia muitas,
hoje costuma haver apenas uma criança a quem cabe essa tarefa.
Contudo, para nós, nada é mais importante nem merece mais nossa
consideração do que nossos lhos. Desse modo, podemos ter um bom
aprendizado sobre eles. E ninguém é capaz de ter um relacionamento mais
estreito conosco, mas também nos enlouquecer mais e nos atingir de maneira
mais dramática. Muitas vezes, os pais pensam que seus lhos podem perturbar
os outros com seu choro ou com seu grito. Em geral, de longe são eles próprios
os mais atingidos.
A esse respeito, vale contar uma anedota: um pai carrega nos braços, de um
lado para outro, seu bebê que chora a plenos pulmões, e diz constantemente:
“Calma, Fritz, calma, Fritz!” Uma mulher que observa a cena opina: “É bonito
ver a paciência com que o senhor cuida do seu pequeno Fritz”. – “Oh”,
respondeu o pai desesperado, “o menino se chama Franz; Fritz sou eu”.
Ninguém, nem mesmo o melhor psicoterapeuta, tem mais facilidade e
habilidade para tocar em nossas feridas do que nossos próprios lhos. E,
quando o fazem, deveríamos ser-lhes gratos – contanto que queiramos
aprender e evoluir. Quando eles colocam suas mãozinhas nos pontos fracos do
relacionamento, podemos sentir di culdade, mas também nesse caso se trata de
uma psicoterapia entre parceiros especialmente vantajosa, e as crianças sempre
encontram o momento em que suas intervenções são mais e cazes e mais
difíceis de suportar. Em comparação, o repertório e as possibilidades temporais
até mesmo dos melhores psicoterapeutas são modestos.

2.6 Filhos e sugestão ou A história da verruga-mãe


A magia e a sugestão estão sempre presentes na pediatria, quer se tenha
consciência delas, quer não. Contudo, isso também vale, em medida
totalmente desconhecida, para a medicina voltada aos adultos. Uma vez que a
fé é capaz de mover montanhas, médicos de verdade sempre a empregaram,
fazendo do medicamento “médico” o mais importante de todos, além da
própria força do paciente de curar a si mesmo. Em todo caso, é muito melhor
conscientizar o paciente desde o princípio a respeito desse assunto. Não é
necessário explicar às crianças que o sangue é nossa seiva vital. Elas sabem e,
por si sós, lhe conferem capacidades incríveis. Isso vai desde a irmandade de
sangue entre meninos pequenos até o medo irracional de perder sangue e
morrer por septicemia. Hoje, praticamente ninguém mais morre da septicemia,
que parte de uma ferida periférica e atinge o coração através de uma via
vermelha em forma de tecido linfático in amado. Não obstante, essa história
ultrapassada tem uma durabilidade semelhante à lenda de que espinafre é rico
em ferro e, por isso, é importante para a formação do sangue. Em todos os
casos, a puri cação do sangue é sempre um grande passo rumo à cura em
crianças, pois, quando o medo perde a intensidade, a cura já pode começar.
No início, a concepção de mundo infantil é, sobretudo, mágica, tal como
foi a de crianças em épocas arcaicas durante toda a vida. Quando essa
compreensão mágica do mundo por parte da criança se mantém, ainda que de
maneira inconsciente, mesmo em adultos será possível curar verrugas, por
exemplo, com as palavras mágicas, pronunciadas em noite de Lua cheia.
Cheguei a vivenciar isso com crianças em uma clínica moderna. Durante um
estágio no ambulatório dermatológico, em que eu me ocupava sobretudo em
cauterizar verrugas, vi uma mãe que trazia sua lhinha com mais de cem
verrugas pelo corpo. Nesse caso, o método normal de cauterização de verrugas
levaria a uma situação intensa e demoraria horas. O médico-chefe, chamado
para ajudar, fez as duas esperar até meio-dia e, até então, me encorajou a criar
uma situação mágico-mítica na sala de tratamento. Na sala escurecida
brilhavam fontes especiais de luz, que contribuíam para criar uma atmosfera
espectral, enquanto com uma lâmpada de inspeção procurávamos no corpo da
menina a chamada verruga-mãe. Eu não fazia a menor ideia de como ela era,
mas, naturalmente, colaborei. Por m, o médico-chefe encontrou a tal verruga,
que eu tive de circular imediatamente com uma caneta permanente e extrair do
modo convencional segundo a medicina acadêmica. De resto, sem nenhum
comentário, pediu-se à mãe e à lha que retornassem em uma semana. De fato,
a essa altura, todas as verrugas tinham desaparecido, conforme a mãe
comunicara entusiasmada pelo telefone.
O que havia acontecido? A criança vira como a verruga-mãe fora eliminada
e, aparentemente, decidira (por analogia) que as verrugas- lhas não poderiam
continuar a existir sem a mãe. Por conseguinte, seu inconsciente tirou a base
das verrugas, e estas se extinguiram.
De modo semelhante, certa vez “comprei” de um menino uma verruga
espessa, que estava alojada bem no meio de sua mão. Obviamente, a condição
para tanto foi o fato de que, em primeiro lugar, a criança já tinha
compreendido o signi cado mágico do dinheiro e sabia que com ele é possível
obter quase tudo; em segundo lugar, era educado o bastante para saber que
simplesmente não podia car com uma verruga pela qual recebera cinco euros.
Entre as crianças, essas ideias mágicas transformam-se com muito mais
facilidade em sugestões para a cura do que entre os adultos.

2.7 Proibições e o desenvolvimento cerebral

Assim como é fácil conquistar a compreensão mágica das crianças para a


convalescença, é difícil lidar com as proibições. Ambas estão interligadas. O
pensamento infantil depende diretamente de imagens, enquanto as capacidades
de abstração ainda são muito escassas. Nos primeiros anos, por exemplo no
âmbito da educação para a higiene pessoal, que é marcada por muitas
proibições, isso ca dramaticamente claro. Quando se diz a uma criança: “Hoje
você não vai derrubar de novo seu chocolate” ou diretamente: “Hoje você vai
derrubar de novo seu chocolate”, o resultado é o mesmo. Nos três primeiros
anos, a criança ainda não dispõe da capacidade de abstração requerida para
compreender a noção do “não”. Portanto, ela só ouve a mensagem: “derrubar
chocolate”.
Podemos imaginar esse fato quando tentamos não pensar numa árvore ou
num carro. A imagem é tão forte que também desconsideramos facilmente a
negação abstrata. Nesse sentido, os dez mandamentos, que são, antes,
proibições para as crianças reais e para aquelas que existem dentro dos adultos,
também redundam em instruções diretas para fazer o contrário. Nesse nível de
compreensão, “não roubarás” é uma instrução direta do contrário. Talvez
também por isso as pessoas sempre tenham tido di culdade para lidar com os
dez mandamentos.
Quem estiver convencido de que seus lhos já entenderam desde muito
cedo todas as proibições é porque simplesmente os adestrou. Mas, por certo, os
pais não gostam de ouvir uma coisa dessas. A verdade não agrada nem um
pouco. É claro que o lho percebe quando a mamãe olha brava depois que ele
derruba o chocolate; e, como ele ama sua mamãe, no futuro tentará evitar
derrubá-lo. Se ele chegasse a levar um tapa, o condicionamento seria ainda
mais evidente. No futuro, funcionaria como desejado, mas não porque ele
entendeu, e sim porque foi condicionado ou adestrado como os famosos cães
de Pavlov: sempre que toca uma campainha, os animais recebem sua comida.
Depois de um breve período, só de ouvirem a campainha já começam a salivar,
mesmo que não haja comida.
Como no relacionamento os adultos também não se educam
reciprocamente, mas talvez se deixem condicionar e treinar, quando se tornam
pais, em geral já alcançaram alguns êxitos e reprimiram por muito tempo a
diferença entre treinamento e educação baseada em compreensão.
Portanto, quem quiser se comunicar com as crianças de modo apropriado
deveria servir-se de uma linguagem rica em imagens e bastante explícita, tal
como fazem os psicoterapeutas, que conduzem seus pacientes ao mundo das
imagens anímicas. O arquétipo da Lua, que vale tanto para o aspecto infantil
quanto para o feminino, deveria dominar esse nível de linguagem e ser
moldado de maneira suave e branda, com ritmo e guras de linguagem uentes
e melódicas. Contudo, é claro que, ocasionalmente, linhas claras também
devem ser traçadas: minha liberdade termina onde começa a do outro. Isso as
crianças podem aprender a respeitar do terceiro ao quinto ano de vida.
2.8 A Lua – o princípio primário da infância e do aspecto

materno

A Lua está presente nos dois temas mais importantes deste livro, que são o
aspecto infantil e o materno, mas também em tudo que diz respeito ao
feminino, ao que cuida. A este aspecto pertencem a cavidade acolhedora do
ventre materno e o líquido amniótico, mas também os seios que amamentam,
com seu tecido macio e uido e seu leite que alimenta – e o próprio lactente,
com suas formas macias e seus doces traços de bebê no rosto. O ritmo de
vaivém também entra nesse aspecto, bem como a água, entendida em sentido
concreto e simbólico, mas também as imagens anímicas que alimentam os
sonhos noturnos e as viagens diurnas ao próprio interior. A força da fertilidade
e a dedicação amorosa das deusas da Lua Deméter/Ceres e Selene/Luna (nomes
em grego e em latim para “Lua”) também fazem parte desse tema tal como seus
caprichos e melindres. Sob o princípio da Lua encontram-se, assim, quase
todos os aspectos simbólicos da gestação, do período de lactação e da primeira
infância.
A “Lua” é o tema comum da mãe e da criança. Em tempos remotos, esses
anos – pelo menos nas famílias abastadas – orientavam-se muito mais para esse
arquétipo, enquanto hoje ele é bastante curto, o que se mostra claramente pela
típica licença-maternidade e pelas determinações de proteção à mãe, no caso
daquelas que trabalham. Algumas semanas antes e alguns meses depois do
parto devem bastar. Mas esse período não é su ciente, pois a Lua precisa de
tempo e vive de seus ritmos.
Só pode entender esse tempo marcadamente feminino quem se prepara a
fundo para o arquétipo da Lua. Mas depois ca claro de onde vêm todos os
estados de espírito durante a gestação, que também se estendem ao período de
amamentação. Por que às vezes as lágrimas simplesmente caem sem razão e por
que o parto sempre vem seguido de um pouco de baby blues. O fato de que
hoje este se tornou um tema tão dominante tem a ver justamente com a pouca
atenção e o pouco tempo dedicados ao tema da Lua, que se mostra, sobretudo,
em aspectos como o humor e as lacunas de disposição.
Nesse ponto também pode car claro por que a carreira é tão pouco
compatível com a maternidade, como se chamava anteriormente esse período.
A carreira pertence a um âmbito de princípio primário totalmente diferente, ou
seja, o Sol, que não poderia ser mais oposto.
Somente agora o princípio da Lua volta a ser descoberto e avança
lentamente com seu ritmo, mas de forma cada vez mais intensa, na vida da
mulher. Sobretudo quando os lhos se tornam mais raros e cada vez menos
mulheres se sentem atraídas pela maternidade, simplesmente porque não têm
vontade de fazer coisas para as quais não há salário nem reconhecimento, como
cuidar, se preocupar e consolar, transmitir proteção e tornar um lar
aconchegante e acolhedor, é que chega, então, o grande período do princípio
da Lua. Os políticos passam a criar prêmios para novas crianças, a distribuir
amplas recompensas para famílias com lhos, e os tempos passarão, uma vez
que eles descobrem as famílias apenas durante as campanhas eleitorais e, em
geral, logo depois voltam a esquecê-las. A lei da polaridade cuidará disso.

2.9 Educação

Depois de trinta anos de aconselhamento e psicoterapia, por um lado, e um


longo trabalho com imagens internas e a interpretação de quadros clínicos, por
outro, minha con ança em conceitos pedagógicos e diretrizes educativas já não
é tão marcada. Ainda me parece muito pouco conhecido o fato de que as
crianças passam seus primeiros anos inteiramente no mundo de suas imagens
internas e externas e, assim, no início, não têm condição – e mais tarde a têm
apenas lentamente – de compreender abstrações intelectuais. Nestas repousa,
porém, a maioria das medidas educativas. Como já foi dito, toda recusa e toda
proibição constituem uma abstração. Se pensarmos na quantidade de
proibições e recusas com que nós adultos do mundo ocidental confrontamos
nossas crianças, os problemas delas resultantes se tornarão claros.
No ramo publicitário, o segredo das imagens é algo há muito tempo
evidente para os especialistas; nele, os erros que ainda caracterizam a educação
não aconteceriam. Nunca os produtos da concorrência seriam rebaixados; ao
contrário, os próprios é que são enaltecidos com imagens e cores reluzentes, de
uma maneira da qual o inconsciente di cilmente consegue escapar.
Em relação ao treinamento descrito, a educação através do próprio modelo
tem muitas vantagens. Nesse caso, é a imagem que se torna imprinting. O
poder desse imprinting já foi demonstrado por Konrad Lorenz em seus famosos
experimentos com gansos. Depois de mostrar a gansos recém-saídos do ovo seu
próprio retrato, e não o da mãe, eles o tomaram como pessoa de referência e,
evidentemente, passaram a segui-lo até o escritório e quando nadava no lago.
De uma dessas idas ao lago provém a famosa imagem com o bando de gansos
que, nadando, segue o velho mestre da pesquisa comportamental. Desde então,
sabemos que também no reino animal tudo reside no começo. Por isso, é
muito importante que, logo após o nascimento, a criança possa ver os próprios
pais ou, pelo menos, a mãe. Esse primeiro imprinting seria, portanto, o passo
mais importante para uma educação na primeira infância. Obviamente, somos
pessoas, e não gansos; no entanto, se observarmos melhor, perceberemos cada
vez mais como a primeira impressão e, com ela, o primeiro imprinting são
importantes também para nós.
A linguagem popular já está familiarizada com a importância dessa temática
e sabe avaliar a função dos modelos: por isso se diz que é importante dar um
bom exemplo. Também por causa do efeito no exemplo negativo, já sabemos
há muito tempo como esses princípios atuam. É muito provável que pais
fumantes tenham lhos fumantes. Médicos fumantes são tão e cazes como
exemplo negativo que, na prática, di cilmente conseguem fazer seus pacientes
parar de fumar. Também no que se refere às chamadas TPMs, as tensões pré-
menstruais, sabemos hoje que não são herdadas geneticamente, mas
transmitidas de geração a geração através dos efeitos de exemplos negativos.
Durante muito tempo se pensou em herança, pois, na prática, sempre se
encontrava uma mãe que sofria dessa síndrome. Entretanto, podemos partir do
princípio de que uma moça que tenha passado a infância e a adolescência
vendo a própria mãe sofrer por sua condição de mulher assume
inconscientemente esse modelo e se torna, ela própria, paciente.
2.9.1 Campos que geram formas

Inconscientemente, estamos sempre criando os chamados campos de


desenvolvimento – designados pelo biólogo inglês Rupert Sheldrake (ver “19.2
Bibliogra a”) de “morfogenéticos”, ou seja, “campos que geram formas” – que
são muito mais importantes do que costumamos supor. Pais leitores têm lhos
leitores não porque, a princípio, os exortam a ler, e sim porque os lhos os
imitam. Contudo, em parte, conscientemente ou não, os pais também criam
um campo que deixa poucas alternativas. Quando mais tarde pais acadêmicos
perguntam a seus lhos não se querem fazer faculdade, mas que carreira
querem seguir, criam um campo unívoco. Assim, à criança resta apenas a
possibilidade de escolher sua disciplina. O que é parafraseado de forma tão
lapidar com o termo “imitar”, refere-se não apenas à relação entre macacos pais
e macacos lhos, mas a todo relacionamento entre pais e lhos.
É um truísmo dizer que pais que encontram o sentido de sua vida visitando
campos de futebol e desde cedo já levam os lhos consigo, muito
provavelmente têm meninos apaixonados por esse esporte. Por isso, felizes
daqueles poucos, cujos pais jogam ativamente, e infelizes de todos aqueles,
cujos pais são consumidores passivos, pois, também nesse sentido, com grande
probabilidade irão segui-los.
Por certo, também se torna problemático quando a criança não tem
absolutamente nenhuma ressonância com o entusiasmo dos pais, preferindo,
por exemplo, ler ou tocar violino em vez de jogar futebol. Nesse caso, os pais
são solicitados em sua atenção e sua consciência, a m de descobrir e aceitar o
que têm naturalmente em comum com os lhos ou não. Se isso não for feito, a
criança seguirá o interesse dos pais, alienando-se de si mesma, ou então não se
sentirá compreendida nem levada a sério em suas necessidades e preferências. A
consciência do próprio percurso existencial, tal como entendido pela
astrologia[11] psicológica, seria muito útil nesses casos.
Com seus modelos, a atmosfera familiar causa um imprinting ainda muito
subestimado. Crianças provenientes de famílias que tomam chá tendem,
posteriormente, a beber chá, assim como crianças de famílias que tomam café
também precisarão da mesma bebida. Infelizmente, isso também vale para as
famílias que bebem álcool e seus descendentes.
Walter Lechler, que introduziu os grupos dos Alcoólicos Anônimos (AA) na
Alemanha depois da guerra, conta uma história esclarecedora. Quando
perguntado sobre o que gostaria de ser quando crescesse, um menino
respondeu espontaneamente: “Alcoólatra, como meu pai!” Ele julgava o fato
totalmente positivo, uma vez que usufruía da atmosfera familiar e marcada pela
solidariedade nos encontros das famílias promovidos pelos grupos do AA.
De maneira semelhante, as bases para uma vida determinada por formação e
cultura são lançadas tão cedo quanto aquelas para uma alimentação saudável, a
atenção ao lidar com os mais fracos ou de cientes, etc. Nelas deveriam residir
as vantagens dos conceitos pedagógicos, como aqueles de Maria Montessori
com o lema “ajude-me a fazer isso sozinho” e das escolas Waldorf, de Rudolf
Steiner. Mesmo que ambas estejam distantes em muitas coisas, têm a ideia em
comum de que seus pedagogos também devem ter vivido pessoalmente os
conteúdos e, sobretudo, o modo de pensar que transmitem às crianças. Assim,
poderiam atuar como exemplo e modelo e, no caso ideal, realmente ter algum
efeito.
Na pedagogia montessoriana, mostrou-se que as crianças que desde o início
aprendem a lidar de maneira cuidadosa e compreensiva com os mais fracos e
prejudicados pelo destino tornam-se adultos mais atenciosos e compreensivos.
De acordo com a possibilidade, o conceito de Steiner difundido pelas escolas
Waldorf cuida para que cada classe tenha mais ou menos o mesmo número de
alunos com todo tipo de temperamento, para que desde cedo as crianças se
conciliem com a extensa gama de seres humanos.
2.9.2 Formação do caráter através de exemplos

Por outro lado, no que se refere à formação do caráter, programas pedagógicos


de ensino são um conceito realmente pouco e caz; do contrário, nas escolas
regulares, por exemplo, a introdução das aulas de ética deveria trazer alguns
frutos. Todavia, o que se vê é que os costumes nas escolas públicas se tornam
cada vez mais rudes e cada vez menos marcados por ponderações éticas.
Nelas, certamente o mais importante é a função exemplar da própria
família, o chamado peergroup e as imagens transportadas inconscientemente
pela equipe de ensino. No que se refere às imagens, hoje à televisão também
cabe uma enorme função exemplar e de imprinting. Embora eu não acredite
que imagens agressivas, passadas na TV, possam transformar um ser meigo em
um monstro, estruturas inerentes podem ser resgatadas e reforçadas de forma
impressionante. Contudo, principalmente sobre essa fonte central de imagens
são construídos campos de grande alcance. Hoje podemos ver muito bem o
resultado, embora, naturalmente, nunca seja possível esclarecer com certeza o
que veio primeiro, se o ovo ou a galinha.
É provável que a brutalização crescente das crianças e dos jovens tenha
diversas fontes. Por um lado, eles recebem muito pouca noção de
responsabilidade e compreensão pelas consequências de seus atos. A pressão
reside na educação voltada à motivação, em vez de promover com convicção os
valores no campo humanístico e religioso.
Por outro lado, a indústria do entretenimento produz as necessidades que,
posteriormente, se tornam visíveis nos índices de audiência. Não houvesse uma
demanda por lmes de horror e violência, eles não seriam produzidos. Nas
famílias em que a televisão ganha o status de único entretenimento disponível e
degenera-se em principal babá, suas imagens imprimem-se com mais força do
que qualquer outra coisa. Quando uma criança pequena cresce em um
ambiente em que as noites são dedicadas à brutalidade na tela ou à agitação da
constante mudança de programação, isso in uirá como um imprinting e
reforçará os aspectos agressivos e agitados da personalidade, como já vimos na
avalanche de crianças com o transtorno do dé cit de atenção e de
hiperatividade (TDAH).
Exemplos extremos podem esclarecer ainda mais como as crianças são
marcadas pelo ambiente doméstico. Em prantos, uma mãe suíça buscou
conselho porque sua lha de 14 anos, em seu primeiro relacionamento sexual,
engravidara de um rapaz que não merecia sequer comentários. Ao ser indagada
se não tinha conversado sobre sexo com a lha, ela respondeu: “Não, mas ela
também nunca perguntou”. Isso não exime a mãe de sua responsabilidade, pois
é ela quem cria o ambiente doméstico em que a lha se sentirá à vontade ou
não para perguntar. Quando o interesse pela sensualidade e pelo erotismo
determina a atmosfera familiar, surge um ambiente de prazer correspondente.
Quando, porém, predominam a inibição e a hostilidade ao prazer, o respectivo
ambiente também irá cortar pela raiz todas as perguntas pertinentes. Desse
modo, essa mãe, que vivera sua própria sexualidade apenas como algo repulsivo
e penoso, acabou criando um ambiente doméstico correspondente à sua
experiência, a partir do qual sua lha provavelmente repetiu o mesmo drama
que ela sofrera quando jovem. Ela foi induzida a ter exatamente a mesma vida
que a mãe, sem que esta tenha desejado isso ou agido de modo consciente.
Determinamos o mundo em que vivemos, muito além dos modelos e
campos que, com intenção ou não, criamos em nosso ambiente. Por isso, seria
evidente ter consciência desses campos e tratá-los com muito cuidado e muita
cautela, ou melhor, criar campos que estimulem o desenvolvimento. (O que é
importante nesse caso é apresentado com mais detalhes em livros como
Lebenskrisen als Entwicklungschancen e Woran krankt die Welt?)[12]
Como já foi dito, mais determinante do que os conceitos de educação é a
antiga sabedoria sobre a e cácia do bom exemplo. Quem trata os outros como
gostaria de ser tratado pode ter certeza de que os próprios lhos nada lhe farão
que ele não goste. Outra sabedoria de vida, igualmente importante, diz que,
neste mundo, só podemos colher o que semeamos. Nesse sentido, seria óbvio
semear apenas o que gostaríamos de colher. Com efeito, a linguagem popular
sabe que o eco que vem da oresta reproduz o que a ela foi dito.
Contudo, há que se considerar que quase todas as crianças passam por
determinadas fases de oposição. Quase toda criança, alguma vez na vida, irá
roubar, mentir, usar um tom impertinente, mostrar satisfação com a desgraça
alheia, etc. Isso ainda não signi ca que a casa dos pais seja exatamente assim.
As crianças podem manifestar esse tipo de comportamento, por exemplo, com
o intuito de testar a reação dos pais e, assim, querer uma tomada de posição
clara ou um limite de nido.
Portanto, seria necessário distinguir se a criança está re etindo temas, por
exemplo, se emprega o tom errado quando está com raiva ou se está passando
por uma fase do desenvolvimento. Trata-se de ajudar a criança a lidar com o
mundo, de esclarecer-lhe que certos comportamentos não são aceitáveis. Ou os
pais procedem com um bom exemplo, ou – quando possível, porque se trata de
um problema pessoal – enfrentam a questão juntos e trazem a consciência
adequada para a situação.
O maior perigo na educação está em usar dois pesos e duas medidas,
segundo o lema latino “Quod licet Iovi, non licet bovi”, que signi ca: “O que é
lícito a Júpiter não é lícito a um boi”. Entre esses conceitos (muitas vezes
inconfessados), mesmo as medidas mais autoritárias não poderão impedir que
as crianças podadas de acordo com outra medida obedeçam, no fundo de sua
psique, não aos mandamentos e às proibições, e sim ao “modelo de injustiça”
demonstrado pelo modo de vida dos pais. Porém, a partir desse modelo se
formarão os outros, que as crianças adotarão posteriormente em seu ambiente
– inclusive em relação aos próprios pais, que na velhice sentirão e colherão o
que semearam em seus lhos.

2.10 Ferramentas para os pais entenderem melhor os

filhos

Quase todos os pais querem o melhor para seus lhos, pelo menos aqueles que
leem um livro como este. Só que, muitas vezes, eles não sabem o que é o
melhor para os pequenos. Perguntar a eles não costuma ser ideal, pois, de
acordo com a experiência, as crianças tendem mais do que os adultos a se
decidir pela solução mais simples e pela satisfação momentânea de sua vontade.
Normalmente, também são bastante conservadoras; apesar da curiosidade em
muitas esferas da vida, preferem deixar tudo por conta dos adultos no que se
refere a questões essenciais. Com relação a isso, também costumam ser
surpreendentemente egoístas. Nesse sentido, a educação requer muito mais do
que simplesmente condescender com os pequenos adoráveis.
Em alguns aspectos, seria bom tratar as crianças como se tratam os adultos,
sabendo muito bem que não são como eles, principalmente porque ninguém
pode dizer com certeza qual a idade da alma. Defender esse tratamento
igualitário seria defender a igualdade de direitos; porém, em outros aspectos,
isso simplesmente não funciona. Para descobrir do que a alma infantil precisa e
o que ela quer, comprovou-se como e caz recorrer a auxílios simbolicamente
relevantes e a pequenos truques, que só à primeira vista dão a impressão de
serem divagações, mas à segunda conferem uma visão bastante orientada à
vivência infantil.
A maioria das crianças precisa e até quer ser educada. Elas reagem muito
bem a acordos como: “Você será tratado do mesmo modo como está se
comportando”. À medida que a criança pode e quer assumir uma
responsabilidade, ela também recebe mais liberdade e direito de
autodeterminação. Assim, as crianças aprendem no cotidiano, de maneira
totalmente concreta, que suas palavras, suas ações e suas decisões acarretam
consequências – e que a liberdade também sempre tem a ver com a
responsabilidade.
2.10.1 A família representada em figuras de animais

Um método simples para diagnosticar a situação da criança pode ser feito


através de um psicoteste muito antigo para crianças, ligeiramente modi cado.
Quando eu aconselhava mães na presença do lho, sempre me via diante do
problema de que, mesmo com a maior boa vontade, elas não podiam me
fornecer os fatores psíquicos decisivos. Obviamente, toda mãe quer o melhor
para seu lho, mas com frequência não sabe como esse melhor poderia ser. Na
maioria das vezes, é muito difícil conversar com a criança na presença da mãe,
sobretudo porque, nesse caso, ela sempre fala tendo a mãe em vista.
Entretanto, pedir para a mãe sair da sala e conversar sozinho com a criança é
e caz no máximo em casos isolados, pois geralmente ambas não se sentem à
vontade.
Para mim, a solução ideal foi utilizar a simples brincadeira de desenhar.
Enquanto eu conversava com a mãe, pedia à criança que se desenhasse como se
fosse um animal – usando grossas canetas coloridas e uma folha de papel
tamanho A3. Em seguida, ela deveria pintar a mãe na forma de animal. Só era
preciso evitar que a mãe interferisse no desenho, tentando corrigi-lo. Em
seguida, chegava a vez do pai e, por m, de toda a família na respectiva forma
de animal. Enquanto a mãe achava que o essencial estava acontecendo na
conversa, a criança pintava sua situação psíquica com uma honestidade
simbólica impressionante e revelava coisas sobre si própria e sua família que a
mãe nunca poderia ter expressado de maneira tão direta.
Em uma dessas experiências, via-se no desenho pronto um gigantesco tigre-
de-Bengala que dominava o centro do papel e, com as fauces bem abertas,
quase não deixava espaço para os outros membros da família, imortalizados na
forma de aves. Portanto, foi uma brincadeira de criança que dirigiu a
consciência da mãe para a imagem do problema central de seu lho. O menino
representara com toda a clareza como todos na família sofriam com esse
problema. O tigre-de-Bengala era uma reprodução do “pequeno tirano”, que,
por meio do desenho, se revelara insuperável. O pequeno grande animal
precisava de ajuda para defender-se de si mesmo, pois, para um menino de 4
anos, aquela situação não era adequada nem estimulava seu desenvolvimento;
ao contrário, era uma sobrecarga terrível o fato de ele poder dominar a família
inteira. Durante a longa conversa e enquanto o desenho assumia a forma da
família, a mãe nada revelara a respeito dessa dramaticidade. Somente nas
entrelinhas foi possível intuí-la. O desenho tornou toda argumentação
super cial, de tão clara que havia sido a representação feita pelo lho da
complicada situação.
No desenho de outra criança, o pai, que a mãe nem chegara a mencionar,
foi representado como uma ave no canto superior da folha. Depois de uma
breve menção a essa situação tão esclarecedora, pintada pela lha, estava
representado o ponto decisivo na problemática familiar. A lha, que havia sido
“planejada” pela mãe com o intuito de prender o marido que vivia tentando
escapar, representou o problema que levara à sua concepção ao mesmo tempo
com sinceridade infantil e extrema clareza. Desarmada, a mãe se permitiu
chorar e trazer à tona a verdade junto com a consciência pesada a ela ligada.
Histórias semelhantes de desenhos com surpreendente simbologia foram
antes a regra do que a exceção, e, no início do meu trabalho de
aconselhamento de mães, essa brincadeira, pensada como ocupação para as
crianças e, na melhor das hipóteses, como auxílio adicional do diagnóstico,
acabou se transformando secretamente no objeto principal. Desse modo, com
o tempo, a conversa com a mãe tornou-se mais uma manobra de digressão,
para que ela não perturbasse o processo central e importante do desenho
infantil com intervenções que pudessem trazer alguma adulteração.
Quando os próprios pais empregam esse auxílio de diagnóstico, que
também diverte as crianças, obviamente alguns cuidados precisam ser tomados.
O importante é não se intrometer. Trata-se apenas de uma descrição curta e
clara, e, quando o desenho estiver em andamento, os pais devem se retirar. De
preferência, devem observar o resultado apenas no nal. Em seguida, seria de
esperar um elogio, pois, mesmo que o resultado não agrade, ele contém
mensagens importantes.
Quando muito, talvez seja necessário estimular as crianças a acrescentar
membros esquecidos da família em forma de animais. Nessa circunstância,
naturalmente é muito simbólico quando um irmãozinho é totalmente
ignorrado e, em vez dele, é desenhado o Nintendo em forma de animal,
conforme já me ocorreu certa vez. Não raro animais domésticos aparecem com
importantes formas simbólicas e também deveriam ser considerados
importantes e levados a sério. Muitas vezes, o resultado é tão expressivo que
nem é necessário instruir-se em simbologia para interpretá-lo. Quando isso não
ocorre, de todo modo vale a pena aplicar a agradável brincadeira de desenhar, e
depois sempre se pode submeter o desenho à interpretação e ao esclarecimento
de um especialista. Obviamente, este ainda poderia abrir dimensões totalmente
diferentes, mas o desenho super cial também é muito útil para pais capazes de
fazer uma autocrítica.
In uenciar o resultado durante o desenho para tentar embelezá-lo é uma
forma de (auto)enganação. Há que se ter coragem para se fazer um diagnóstico
autêntico e honesto. Em seguida, o modelo que se tornou comum e claro a
todos poderia ser modi cado, o que se mostra em desenhos posteriores.
Em uma analogia, isso pode car mais evidente: o estudo PISA[13] abalou e
sacudiu a Alemanha. Preparar melhor as crianças para responderem as questões
do teste, a m de se obter um resultado melhor no próximo estudo, seria
igualmente uma forma de enganar o sistema e as próprias crianças. Em vez de
ajudar os estudantes, isso só teria serventia para o ego nacional, que da próxima
vez passaria menos vergonha diante do mundo. Ou então: a m de sair-se
melhor nas estatísticas de avarias, seria preferível que a Mercedes, em vez de
melhorar seu sistema antiavarias, produzisse veículos melhores ou mais
con áveis. Em última instância, embelezar o sistema é sempre uma evidência
de incapacidade que, a longo prazo, traz prejuízos.
Se a brincadeira de desenhar a família em forma de animais se repetir em
intervalos maiores, ela pode se transformar numa reprodução e num per l da
evolução dos progressos infantis em sentido psíquico e social. Quase todos os
pais medem minuciosamente o crescimento de seus rebentos no batente da
porta e cam felizes com os progressos. Os desenhos dos familiares em forma
de animais poderiam desempenhar uma função semelhante para o crescimento
intelectual, psíquico e, sobretudo, social, só que de maneira muito mais
essencial e abrangente.
Mais tarde, esses desenhos também seriam um belo presente para as crianças
que já cresceram e amadureceram para a vida.
2.10.2 Desenhando a figura de uma ilha

Esta simples brincadeira de desenhar sempre se revela como um re exo


elucidativo da alma, sobre o qual os pais podem, em seguida, ter uma boa
conversa com o lho, a m de aprenderem a entender melhor seu mundo
interior. A instrução para o desenho é muito simples e clara:
 
– Desenhe os contornos do seu corpo como se fosse uma ilha, sem
interrupção, com um só traço e uma cor da sua escolha.
– Agora, esta é sua ilha. Nela e em torno dela, desenhe tudo que gostaria de
ter por perto e que é importante para você, de modo que tudo se torne sua
ilha.
 
A primeira coisa a fazer é observar a impressão geral, que já permite certo
esclarecimento sobre como a criança se encontra e se sente no mundo. Até nos
menores detalhes da gura é possível encontrar temas, problemáticas e, muitas
vezes, também soluções, sobretudo quando a criança pode expressar-se
verbalmente. Posteriormente, os pais terão uma informação mais clara, os
lhos terão aliviado sua alma, e todos terão se divertido. É óbvio que se pode
observar com um intervalo de tempo maior como a vida da ilha vai evoluindo.
2.10.3 Colocando ou desenhando a família em figuras

A constelação familiar, segundo Hellinger (ver também a seção “2.17.1


Constelação familiar sistêmica segundo Hellinger”), é um método muito
popular que também pode ser usado no círculo familiar; contudo, nesse caso,
seria adequado um auxílio terapêutico. Pode-se utilizar o procedimento do
exemplo mencionado acima com os animais simbólicos, fazendo com que a
criança desenhe uma espécie de zoológico familiar, ou então – o que é ainda
melhor por ser mais vivo e dinâmico –, com cuidado, os pais recortam as
guras junto com o lho e permitem que, a partir delas, a criança coloque a
família em um modelo que, obviamente, pode ser alterado com discrição.
De preferência, também deveriam ser levadas em conta pessoas de fora da
família, que podem igualmente fornecer esclarecimentos sobre a percepção da
vida na respectiva posição. Em todo caso, a partir das guras deitadas ou
posicionadas, podem-se tirar conclusões sobre a situação da criança na família.
Obviamente, isso não faz sentido no dia a dia, mas, depois de alguns meses,
uma mãe poderia descobrir desse modo o que se fez por seu lho no modelo
familiar e em que direção ele se desenvolveu.
Se parecer muito complicado arranjar todas as guras necessárias, esse jogo
de diagnóstico também pode ser perfeitamente realizado com os sapatos das
pessoas em questão. Você deve mostrar com clareza como os donos dos sapatos
estão em pé um em relação ao outro. E os sapatos combinam muito bem com
seus usuários. Qualquer cachorro os reconheceria com certeza.
Naturalmente, nas duas sugestões aqui mencionadas, é bastante útil poder
consultar um terapeuta competente, a m de manter-se nos limites das
avaliações e das interpretações errôneas.
2.11 Conversando com Deus ou rezando antes de dormir

Com a decadência da religião, a boa e velha oração antes de dormir corre o


risco de sair totalmente de moda. Por isso, em muitos aspectos, também hoje
ela ajudaria muitas crianças, para além de todas as ponderações religiosas, uma
vez que, por intermédio de Deus, introduz em sua vida uma instância superior,
que transmite proteção. Sem levarmos em conta o mencionado fato de que
rezar ajuda do ponto de vista médico, a partir dela, como efeito secundário, é
possível desenvolver um excelente sistema de diagnóstico.
O ideal seria que a criança não recitasse mecanicamente uma oração
estereotipada e pré-formulada, mas se dirigisse em pessoa a Deus, ou seja, no
sentido de uma troca ou conversa. Na maioria das vezes, não é muito difícil
motivar as crianças a se dirigirem a Deus, à Virgem Maria ou a seu anjo (da
guarda), contar-lhe como foi seu dia e comunicar as próprias preocupações. Se
isso ocorrer não apenas em pensamento, mas também em palavras expressas, os
pais poderiam car sabendo o que se passa no íntimo de seu lho. Desse
modo, a criança expressará com muito mais sinceridade o que sente.
Se ela tiver um estreito relacionamento de con ança com a mãe, será tanto
mais fácil transferir a conversa para a mãe de Deus. Quando este não for o
caso, a Grande Mãe pode “vir em auxílio”. No caso de um pai pouco ou
totalmente ausente, com o tempo, o Pai do Céu pode crescer cada vez mais
nesse papel. Muitas vezes, os Grandes Pais ou avós são uma instância muito útil
de mediação.
Geralmente, guras internas das imagens anímicas assumem o papel de
representantes e, além disso, transformam-se em verdadeiros professores e
advogados do eu. Assim, durante crises de separação e outros desa os e tensões
da vida moderna, muitos caminhos e (muitas soluções) se ofereceriam ao
ânimo infantil.
No que se refere a anjos da guarda ou outras guras anímicas, como o
“médico interno”, que é adequado sobretudo para crianças maiores e
adolescentes, aqui também se mostram excelentes oportunidades de entrar em
contato precoce com capacidades anímicas mais desenvolvidas. Quanto mais
cedo esse contato ocorrer, melhor. Assim, paralelamente ao mundo exterior, as
crianças podem desenvolver o interior, que em todas as situações difíceis
proporcionam apoio. Todavia, um crescimento também pode ser iniciado com
mais facilidade se a criança souber que a Grande Mãe, o Grande Pai, um
“irmão de sangue” ou a Grande Irmã, a deusa da natureza ou um espírito
protetor do mundo xamânico, como aqueles ligados aos animais, está do seu
lado. Com esse auxílio do outro mundo, que logo se torna tão importante
quanto o do mundo real, tudo ocorre de maneira mais fácil e melhor.
Uma breve história pode ilustrar bem esse fato. Uma mulher de classe média
alta, mãe de uma menina pequena, extremamente mimada, sentia-se com a
consciência pesada, talvez por levar uma vida tranquila em uma mansão no
melhor ponto da cidade e dispor de serviçais para qualquer eventualidade.
Como na época predominava a guerra na Bósnia-Herzegovina, ela decidiu
acolher por um tempo duas crianças oriundas da guerra em sua casa.
Comunicou ao marido e anunciou à lha, com muita gentileza, que ela
ganharia dois irmãozinhos. Nenhum dos dois apresentou objeção. À noite,
porém, durante a oração, a menina disse diretamente a Deus que não estavam
precisando de nenhum irmãozinho na casa dela.
Por esse caminho indireto, a verdade veio à tona de maneira bastante franca.
Ao que parece, a lha havia percebido a necessidade da mãe de ajudar (as
crianças estrangeiras e sua consciência pesada), mas não queria ou não podia
contradizê-la abertamente. Em contrapartida, à noite, “junto a Deus”, sentiu-se
livre dessa consideração e disse com franqueza o que estava sentindo. Portanto,
em vez de amor ao próximo mostrou seu ciúme. Entretanto, o ciúme expresso
com honestidade é sempre melhor do que o amor ngido pelo próximo.
Obviamente, a situação dos pais é melhor quando estão a par da situação e
podem se preparar.

2.12 Meditações induzidas

As meditações induzidas, que podem muito bem evoluir para histórias antes de
dormir, oferecem eventualmente uma possibilidade mais praticável. Quando a
história toma um rumo que faz a criança fechar os olhos e imaginar todo o
cenário, ela própria também pode começar a falar e a descrever suas imagens
mentais. A maioria das crianças ca feliz em fantasiar e revestir seus desejos
com imagens. Mesmo no que se refere a âmbitos muito livres, vê-se muito
rapidamente o que ocupa o mundo de imagens anímicas da criança.
Obviamente, tudo que é concebível externamente pode ser realizado nesse
plano interno de imagens, mas, além disso, uma in nidade de coisas. A família
em forma de animais também pode apresentar-se nesse plano; por isso, é
melhor ter em seguida um modelo xo, como uma folha de papel, as guras
dispostas ou sapatos, que podem ser fotografados para esse m.
No plano interno das imagens anímicas, quase tudo é possível, do
planejamento de uma grande festa de aniversário até terapias futuristas e
incrivelmente e cazes, ainda não disponíveis na medicina real. Uma criança
que tenha tido precocemente acesso a essa dimensão terá condições de
encontrar um inestimável apoio, que em situações patológicas mais graves
poderá até salvar sua vida.
Se as crianças aprenderem desde cedo esse tipo de fantasia, mais tarde terão
vantagens em muitos níveis. Quase não há campo na vida que não lucre com a
possibilidade, no plano interno, de olhar retrospectivamente para a superfície
das aparências. Com o tempo, ca mais familiar e mais fácil lidar com as
imagens anímicas; as próprias imagens tornam-se mais expressivas e claras.
Assim, consegue-se cada vez mais penetrar a essência das coisas. Quando então
as imagens míticas e de contos de fadas do inconsciente coletivo se unem ao
próprio imaginário pessoal, toda a vida se inspira e se torna mais plena. Os
sonhos noturnos tornam-se mais vivos e direcionados, e a vida pode ser
vivenciada como outra forma de sonho. Assim, desde cedo já se pode preparar
o caminho para uma vida de sonho. Quem abre ou mantém aberto para seu
lho o mundo das imagens anímicas, presenteia-o com um tesouro precioso. E,
ao mesmo tempo, os pais, nesse caso, dispõem do método mais elegante para
ter acesso à alma da criança.
Através das histórias contadas antes de dormir, entre outras, dos contos de
fadas, das lendas e dos mitos, consegue-se um acesso mais fácil e pessoal.
Também há CDs com histórias predeterminadas ou meditações, que há muitos
anos se mostram e cazes.[14]

2.13 Ritmos e rituais

Tanto os ritmos quanto os rituais con áveis dão segurança e aliviam a vida
sobretudo de crianças pequenas, mas às vezes também das maiores, de um
modo que os pais modernos geralmente já não conseguem entender. Rudolf
Steiner dizia: “Toda vida é ritmo”.
Traduzida na prática, essa questão é a base ideológica da empresa
farmacêutica Wala, cujos medicamentos não têm sua duração prolongada com
conservantes químicos; ao contrário, mantêm sua vitalidade porque respeitam
os diversos ritmos naturais. Richard Alpert, ex-professor de Harvard, que
posteriormente se tornou o guru Ram Dass, disse: “Toda vida é dança”. Com
isso, ele formulou a mesma verdade com outras palavras, pois a dança também
vive de ritmo. E muito mais antiga é a formulação “tudo ui”: panta rhei – um
princípio fundamental atribuído ao pré-socrático Heráclito. Mas o que ui
desencadeia ritmo, que é visível nas ondas. Por m, a física moderna mostra
que toda vibração é o que, por sua vez, o ritmo traz para a vida.
Para a vida da criança, os ritmos têm uma importância decisiva. Ela precisa
deles para permanecer saudável e se desenvolver. A forma mais simples de
conferir-lhe um ritmo estável é embalando-a nos braços, o que toda mãe faz
espontaneamente e já fez de maneira inconsciente com sua respiração durante a
gravidez. A passagem para o mundo exterior, onde, nesse sentido, a criança está
mais por conta própria, é facilitada quando ela consegue, desde o princípio, ter
acesso a seu próprio ritmo. Segundo minha experiência, uma possibilidade
ideal é oferecida por um sistema de vibração suíço chamado de “Sleepy”. Ele
consiste em quatro pequenas semiesferas azuis, que são colocadas nas hastes
verticais de sustentação ou no canto do berço. Só isso já é su ciente para fazer
com que todo o berço, através da mistura do ritmo da respiração e do
batimento cardíaco da criança vibre de maneira suave, quase imperceptível,
mas muito e caz. Assim, o estímulo ao sono é impressionante e facilita os
rituais para que o bebê adormeça e que costumam ser tão trabalhosos.
Além disso, esse sistema traz excelentes resultados para lactentes que sofrem
de cólicas aos três meses e para crianças com TDAH, o que se explica da
seguinte maneira: crianças com TDAH sentem muito pouco o próprio corpo,
por isso têm a constante necessidade de se movimentar. A sensação do próprio
corpo compõe-se de diversos fatores, entre os quais o sistema vestibular no
ouvido interno é especialmente importante. Com o sistema de vibração, o
ouvido interno recebe durante toda a noite um leve estímulo, o que deveria ser
determinante para o mencionado efeito bené co.
No que se refere ao ritmo, também é importante que as crianças possam
crescer em um ambiente con ável, com regras temporais e uma rotina regular,
que já poderia começar com os devidos períodos de amamentação. Ritmos de
sono e vigília também devem fazer parte dessa rotina. Obviamente, esses ritmos
sofrerão adaptações com o avançar da idade; entretanto, mesmo mais tarde,
para muitas crianças continua sendo importante poder con ar em uma rotina
regrada.
Entretanto, é imperativo fazer uma distinção entre a cadência apagada e xa
e o ritmo vivaz. O ritmo vive, conhece exceções, e os tempos não devem ser
mantidos de forma rígida; o ideal é que se deem como esfera da vida a partir da
necessidade do convívio. Assim como os ritmos respiratório e cardíaco sempre
se adaptam às necessidades atuais, os ritmos do dia no contato vivo entre as
pessoas também se renovam constantemente. E, apesar disso, ou justamente
por causa disso, eles transmitem segurança.
Regras xas, como são conhecidas nos internatos rigorosos e nas escolas
severas, signi cam o oposto do ritmo vivaz, obrigam a uma cadência que é
estranha à vida. Na medicina, um batimento cardíaco rígido é sinal de ausência
de regulação autônoma e fornece um prognóstico muito ruim quanto à
expectativa de vida.
Seria um bom conselho aos pais se eles criassem um ambiente em que
houvesse espaço para necessidades individuais, ou seja, por assim dizer, como
uma estrada com seus guard-rails, que preestabelecem a direção, mas são as
crianças que devem escolher a faixa por onde circular.
Rituais exíveis e conciliados individualmente ajudam os ritmos naturais a
conseguir uma brecha também no mundo moderno. Eles vivem de campos
estáveis. Quando muitas pessoas fazem a mesma coisa ao mesmo tempo, um
campo se desenvolve. A seguinte sentença exprime essa relação com clareza:
“Quando uma pessoa sonha, tem-se um sonho; quando muitas sonham,
desenvolve-se uma nova realidade”. Os campos se fortalecem à medida que
muitas pessoas se ajustam a eles, ou seja, os carregam com mais intensidade.
Nesse sentido, é importante que todos na família não apenas participem dos
campos, mas também os carreguem emocionalmente consigo. Um ritual bem
estruturado antes de dormir pode anular o estresse de ir para a cama ou, pelo
menos, aliviá-lo em parte. De modo semelhante, rituais no início do dia
podem tornar mais fáceis atividades tão pouco inspiradoras como escovar os
dentes e lavar-se. Mesmo as atividades vistas como desagradáveis, como a
arrumação, podem tornar-se um ponto alto no mundo familiar quando são
relacionadas a um belo ritual em conjunto. Para tanto, pode contribuir uma
música adequada ou uma conversa enquanto se lava e seca a louça. Na era das
máquinas de lavar, talvez seja difícil encontrar rituais de trabalho em conjunto,
mas quem procura também nesse caso encontrará.
Em geral, somente mais tarde as crianças conseguirão avaliar o quanto esses
rituais reforçam a estrutura familiar. Portanto, os pais não devem desanimar
muito rápido se, no início, apesar do grande empenho e da motivação bem-
intencionada, as crianças se mostrarem recalcitrantes e contrariadas. Qual a
criança que prefere lavar a louça ou arrumar o quarto a fazer justamente o que
lhe dá prazer? Que o trabalho em conjunto pode proporcionar alegria é algo
que deve ser aprendido e, mais tarde, consolidado com rotulações pretensiosas
como “espírito de equipe”.
Mas, naturalmente, os rituais e os campos também podem ser mal
utilizados, tanto nas famílias como na política. Eles não são bons nem ruins;
tudo depende de como são utilizados e com que objetivo.
Quando a vida da criança adquire uma esfera con ável através de um ritual
matutino ou noturno, muito se ganha – para a infância, mas também para toda
a vida futura. Do ponto de vista espiritual, trata-se, em última instância, de
viver a vida inteira como um grande ritual consciente. Contanto que outros
pequenos rituais se acrescentem, as chances aumentam. Se todo ato de lavar as
mãos, amplamente superestimado por seu valor higiênico, se transformasse em
um ato de “lavar as mãos na inocência”, ele voltaria a adquirir grande valor e,
precedendo as refeições, estas teriam igualmente mais chances de se
transformarem em um verdadeiro ritual.
Em vez de se aprontar de manhã na frente do espelho, o que quase toda mãe
faz e transmite à lha, sem reconhecer esse ato em seu terrível duplo sentido,
também podem ser encontrados rituais construtivos para iniciar o dia. Em
todo caso, xingar-se diante do espelho e sobre a balança é a pior maneira
concebível de começar o dia. Sensato seria, antes, uma meditação, por
exemplo, com os movimentos do qi gong e do tai chi, uma série de exercícios
como a oração ao Sol, praticada no yoga ou no campo da já mencionada
ginástica consciente. Esses exercícios são rápidos e, de tempos em tempos,
sempre aumentam a exibilidade e a capacidade de adaptação, além de
signi carem um acréscimo mensurável à inteligência.
Se esses rituais não forem possíveis por motivos de tempo, muitas vezes
basta respirar conscientemente por cinco minutos embaixo do chuveiro ou
desenvolver hábitos que não custem nenhum tempo adicional, como iniciar o
dia sempre de maneira agradável, por exemplo, sendo despertado pela música
preferida, e não pelo despertador.
Para encerrar o dia, recomenda-se um ritual como a “meditação de retorno”,
que passa em revista os momentos mais importantes do dia. Assim, a criança
aprende desde cedo a encerrar regularmente seu dia. Mesmo quando tarefas e
trabalhos caram incompletos, a aceitação desse fato é sempre uma boa
possibilidade de terminar o dia, o que possibilita um adormecimento e um
sono tranquilos. Em crianças maiores, escrever um diário também pode trazer
alívio.
Quanto mais vezes e mais cedo uma criança aprende a fazer de hábitos
conscientes seus rituais, tanto melhor será seu desenvolvimento e tanto mais
facilidade terão os pais para educá-la. Quando isso se estabelece, também ca
fácil atualizar os rituais, caso o envelhecimento e as progressivas fases de
desenvolvimento assim exijam.
No que se refere ao tema “ritmo”, todos os respectivos exercícios, de dança à
equitação, mas também a simples caminhada, são uma boa possibilidade. Se as
crianças tiverem di culdade com seu próprio ritmo, é bom ensiná-las desde
cedo a caminhar com bastões de apoio, como é comum nas caminhadas em
montanhas e atualmente também se tornou moda com o nordic walking
(caminhada nórdica). Se os braços e as pernas entram em um ritmo comum, a
criança acaba praticando a coordenação motora, o que a ajudará, mesmo em
outras áreas, a encontrar mais facilmente o próprio ritmo e o próprio caminho.
Por certo, só o fato de marcar os compassos de uma música já é um
exercício de ritmo adequado, que está no sangue de todos nós. Adultos
também tamborilam os dedos a qualquer momento todos os ritmos possíveis
no volante do carro e balançam os pés em toda ocasião, apropriada ou não.
Ainda hoje, a maioria das pessoas em sociedades arcaicas é de músicos e,
essencialmente, percussionistas. Como todos nós temos esses ancestrais, o
ritmo do tambor logo se torna nossa segunda natureza. Quando as crianças
vivem essa referência desde o início, isso também as ajudará mais tarde em
muitas situações. Nesse sentido, tocar instrumentos de percussão seria,
obviamente, o acesso mais fácil.
Acalentar os bebês também é sempre uma forma de conferir ritmo, e é desse
ritmo que viria o efeito tranquilizador. Bem mais tarde, ainda reagimos
positivamente a esses impulsos: sentamos em cadeiras de balanço, em balanços
de jardim, dormimos em camas que balançam e dançamos balançando os
braços. Apaixonados passeiam de canoa ou nas clássicas gôndolas de Veneza em
acalentadoras viagens de lua de mel. Como toda vida é ritmo, damos mais vida
à vida de nossos lhos quando os induzimos a vibrar e a balançar. Mas, na
maioria das vezes, isso não é necessário, pois eles buscam gangorras e balanços
de maneira totalmente espontânea e por puro prazer, trazendo movimento para
a vida. Com efeito, assim também se preparam. Essas considerações podem até
parecer simples, quase evidentes e banais, mas ajudam a prevenir distúrbios do
sono e outros distúrbios do ritmo, e até de modo divertido. A pergunta: “Você
quer ir comigo?” signi ca, antes: “Você consegue me acompanhar no mesmo
ritmo?” Ela também mostra claramente quão importante é o ritmo conjunto e
permite perceber se duas pessoas conseguem participar juntas de alguma coisa e
vibrar juntas. O exercício mais fácil de ritmo é dormir em uma cama que oscile
ou balance (“Sleepy”), o que é possível fazer em todas as idades.

2.14 Confiança no reino mágico-mítico

A humanidade viveu parte predominante de sua história em um mundo


mágico-mítico. E, sejamos honestos, ainda hoje o faz amplamente. Em
primeiro lugar, de fato a maior parte de nossa espécie ainda não chegou à era
cientí ca; em segundo, entre nós, a superstição ainda domina a vida de muitos
contemporâneos. Isso pode ser manifestado em anedotas como a do secretário
de um partido comunista, que, ao ser perguntado se acreditava em astrologia,
respondeu: “Não, nós virginianos somos céticos”. Com efeito, aparentemente,
nem sequer periódicos críticos e de esquerda conseguem renunciar aos
horóscopos semanais, que realmente têm mais a ver com a superstição do que
com uma astrologia carregada do conhecimento de princípios primitivos.
Também na população de países industrializados ainda predomina uma visão
de mundo bastante primitiva, com simpatias e pensamentos mágicos.
Em todo caso, depois de todos nós já termos passado por uma fase de
desenvolvimento como essa e de a maioria, em parte, ainda estar nela,
poderíamos, desde o início, conseguir para nossos lhos o acesso para o mundo
mítico de nossos antepassados. Isso aprofundaria e, ao mesmo tempo, aliviaria
consideravelmente sua vida. As guras lendárias dos mitos e contos de fadas
ainda estão vivas em nossa alma, seja como arquétipos enterrados e submersos,
que nos assombram vindo das sombras, ou como partes conscientemente
integradas da personalidade. Obviamente, nisso se fundamenta a importância
dos contos de fadas e mitos nos antigos sistemas educativos. É evidente que a
última opção é muito mais vantajosa para a criança. Uma ligação com o
subsolo da própria cultura é sempre mais sensato e importante, além de
con gurar uma espécie de alimentação da alma, à qual não se renuncia
impunemente.
Se hoje sofremos com o fato de que os valores de nossa cultura caíram no
esquecimento, de que a juventude já não tem objetivos e de que os exemplos e
os ídolos, pelo menos do ponto de vista das gerações mais velhas, deixam a
desejar, isso também tem a ver com a falta de alimentação da alma a partir do
campo mítico. De tudo isso resulta a espantosa falta de sentido que ameaça
muitas vidas modernas. Os adultos da atual geração espelham nessa
circunstância apenas seus pais, que de muitas maneiras também já perderam o
acesso à própria base primária e mítica da alma em períodos de guerra e pós-
guerra. Em muitos, essa base foi obstruída mediante o abuso inefável que os
nazistas exerceram com os mitos germânicos.
Ainda antes da fase mítica, a humanidade viveu uma fase mágica, que,
contudo, se manteve por muito tempo na época mítica, cuja compreensão do
mundo permaneceu essencialmente mágica. O quanto ainda hoje essa ideia
determina os mundos da alma é o que demonstra a moderna pesquisa sobre os
placebos. Como as crianças estão passando novamente por todas essas fases do
desenvolvimento, elas têm fácil acesso não apenas às histórias, mas também a
representações mágicas. Provavelmente, é nisso que reside o fundamento para o
enorme êxito das histórias do Harry Potter.
Quando as crianças preservam essa referência, elas conseguem compreender
mais rápida e profundamente coisas mágicas como o dinheiro, que, de maneira
extraordinária e, no início, quase incompreensível, cria acesso a todas as
possibilidades. De todo modo, como o mundo mágico se revela em seus efeitos
negativos e, na maioria das vezes, assustadores à alma infantil, por exemplo no
medo de fantasmas ou do escuro, obviamente é melhor entrar em contato
também com as possibilidades positivas desse plano. Quem já sentiu o efeito
surpreendente de placas com inscrições como “Proibida a entrada de
fantasmas!” ou a possibilidade de “comprar” das crianças suas verrugas não irá
querer renunciar a esse tipo simples e gratuito de intervenção terapêutica. As
mães podem ajudar seus lhos se, por exemplo, no início de uma viagem,
traçarem um círculo (mágico) ao redor deles ou os benzerem com água benta,
pois, assim, a excursão inteira ocorrerá sob uma boa estrela. De acordo com a
experiência, se acreditarem que desse modo estão protegidos, muito menos
coisas lhes acontecerá.
Muitos pais também usam a compreensão mágica do mundo assumida na
vida cristã, por exemplo quando, no Advento, fazem vir São Nicolau,[15] que
passa um sermão às crianças que não se comportaram direito, as elogia por suas
boas ações e lhes dá esperanças para o futuro, para que elas deem o melhor de
si e mostrem seu lado bom. Nesse sentido, amuletos também podem ajudar,
quer se orientem pela cruz cristã, quer por símbolos xamânicos.

2.15 As regras do jogo da vida

O que é evidente no esporte e nos jogos de sociedade, ou seja, o aprendizado


das regras desde o início, não costuma ser comum em relação às regras da vida,
muito mais importantes. Mas a vida se sai tanto melhor quanto mais cedo suas
regras são aprendidas. No futebol, quem não é substituído no primeiro tempo
ainda acaba fazendo gol contra no segundo. Na vida ocorre algo semelhante:
quem deixa de fazer as mudanças necessárias na metade da vida,
posteriormente também só fará gol contra. No futebol, quem não conhece a
regra do impedimento terá pouco êxito e não encontrará nenhum
reconhecimento para seus gols. Na vida, quem age sempre a partir de posições
de impedimento também terá pouco êxito, e seus esforços encontrarão pouco
reconhecimento. No entanto, o que no futebol é praticamente excluído, na
vida se tornou rotina. A maioria das pessoas vive sem sequer imaginar as regras
da vida e, portanto, tem pouco sucesso em seu jogo.
Quem deseja fazer algo bom a seus lhos deveria ensinar-lhes o mais rápido
possível as regras do jogo. Quanto mais cedo, tanto mais rápido e melhor eles
conseguirão encontrar sua felicidade em “Lila”, o jogo cósmico, tal como os
indianos denominam a vida.
As formas básicas dessas regras podem ser encontradas em praticamente
todas as escrituras sagradas de quase todas as religiões. Elas formam a espinha
dorsal da loso a hermética e se encontram resumidas, por exemplo, no Livro
das Leis.
Em primeiro lugar está a lei da polaridade, que, por exemplo, faz com que
muitos matrimônios de casais apaixonados, contraídos diante do padre,
terminem em puro ódio diante do juiz. Em segundo lugar na hierarquia está a
lei da ressonância, à qual está relacionado o fato de que dinheiro atrai dinheiro,
e felicidade atrai felicidade, mas também infelicidade atrai infelicidade. Em
seguida vêm regras essenciais, como aquelas para os campos da consciência,
modelos e rituais e, por m, a combinação dos princípios primitivos.

2.16 Exercícios para o crescimento, o desenvolvimento e

o bem-estar

2.16.1 Riso

Infelizmente, as pesquisas referentes ao riso ainda são tão escassas quanto


recentes. No entanto, até agora, todas mostram que uma boa risada representa
um verdadeiro elixir para a vida. Por certo, os adultos simplesmente não
perdem todo o seu duro sofrimento já com a primeira boa risada, mas as
crianças não são tão seletivas. Gostam de rir pra valer, com todo o rosto, ou se
sacodem de tanto rir, e pelo menos uma vez por dia precisam de uma dessas
experiências verdadeiramente alegres. Não há dúvida: “dobrar-se de tanto rir” é
um dos mais importantes e belos tipos de ginástica. Quanto mais, melhor. O
medo de que elas possam rir demais ou morrer de rir é infundado. Até hoje,
nunca aconteceu. Muito pelo contrário – rir é o melhor remédio e
extremamente contagioso. Nesse sentido, seria muito mais perigoso entediar-se
até a morte ou de nhar lentamente por rabugice. Os pais devem empenhar-se
em proteger as crianças disso através de desa os adequados, que as solicite e
estimule tanto física quanto psiquicamente.
Há muito tempo se sabe e, a essa altura, tornou-se incontestável o fato de
que quem solicita seus músculos os estimula. O mesmo vale para o trato
intestinal, e é por isso que devemos comer alimentos ricos em bras, mas
também vale para o cérebro, ao qual faz bem pensar e praticar a já mencionada
ginástica consciente.
Mesmo que ainda não saibamos exatamente por que rir é tão saudável,
podemos con ar nessa evidência. Sabe-se que uma boa risada aciona um
grande número de músculos; porém, mais importante deve ser o efeito
curativo, ainda pouco pesquisado, sobre a alma. Simplesmente faz bem quando
as tensões são descarregadas em uma sonora gargalhada e quando uma risada
libertadora soa do fundo da alma. Quem tem muitas ocasiões para rir tem
sorte; quem nada tem do que rir, está no reverso da vida boa. Por isso, é bom
rir muito e fazer as crianças rir. Elas gostam disso; deixam que nelas façam
cócegas e gostam de fazer cócegas umas nas outras.
Quando os pais olham para os olhos sorridentes dos lhos, isso sempre
desencadeia um sentimento de felicidade. Os nativos de Bali riem mais com os
olhos do que outras pessoas e chamam esse riso superior de celestial; em
contrapartida, o riso do coração é considerado por eles um riso individual e
pessoal. Com efeito, a criança também pode rir e, sobretudo, sorrir com o
coração. Porém, segundo a lei da ressonância, quem se encaminha para a vida
com o coração sorridente e os olhos radiantes desencadeará sorrisos por toda
parte, além de reações radiantes e sublimes. Com um sorriso no coração e
outro em cada olho, o mundo assume um aspecto totalmente diferente e,
principalmente, também enxerga a pessoa de modo totalmente diferente. Por
conseguinte, um exercício simples para os pais é sorrir para pessoas
desconhecidas na rua e ver como isso (na maioria das vezes) conduz a um
“sorriso de retribuição” espontâneo. Normalmente também se fala do sorriso
aberto daquelas pessoas que nada têm a esconder...
2.16.2 Exercícios de confiança

O ideal seria que uma criança já viesse equipada com uma boa porção de
con ança primária, sobre a qual pudesse construir sua autocon ança para
conquistar o mundo com coragem e determinação. Se nos primeiros meses
decisivos da gestação houver de ciências nesse sentido, da falta de con ança
primária resultará facilmente uma falta de autocon ança, difícil de ser
compensada mais tarde na vida. De grande auxílio podem ser os exercícios que
apresento no livro Schwebend die Leichtigkeit des Seins erleben [Experimentando
a Leveza do Ser na Levitação]. Porém, infelizmente, crianças pequenas e,
sobretudo, lactentes quase não têm condições para isso.
Em substituição, recomendo aqui exercícios adequados para desenvolver a
con ança (mais do que isso eles não podem ser, pois a verdadeira con ança
primária cresce apenas a partir da experiência de unidade, que só pode ser
vivida nos primeiros meses de gestação). Eles ocorrem nas chamadas peak
experiences ou experiências de pico, aqueles momentos mágicos em que, por
exemplo, como cavaleiro, a pessoa se sente unida ao cavalo e percebe que a
felicidade deste mundo está, de fato, no dorso do animal, ou em que, após uma
longa caminhada na montanha com a mochila nas costas, todo o peso da
existência cai de seus ombros e a pessoa se sente unida a Deus e ao mundo e
profundamente ligada a eles.
Para crianças pequenas, consideram-se exercícios como pular ou deixar-se
cair de um muro baixo nos braços do pai ou da mãe. Deixar-se cair em uma
coberta, que é segurada como uma cama elástica, pode intensi car essa
experiência. As crianças que aprenderam a utuar na água também devem ser
encorajadas a pular ou deixar-se cair lenta e conscientemente na água. Por m,
cair de maneira totalmente consciente, e até de cabeça, na água, que é o
elemento da alma, pode ser um exercício libertador para uma criança, contanto
que ela seja adequadamente preparada e convidada a isso como a um ritual. As
possibilidades são cada vez maiores, e o importante é que não surjam nem
ambição nem concorrência, que ambas pertençam ao polo masculino e não
favoreçam o surgimento da con ança (primária). Quando as crianças ousam,
por exemplo, pular nas águas escuras de um lago pantanoso é porque alguma
coisa aconteceu no plano psíquico.
O chamado “círculo de con ança”, no qual a criança ca no meio e se
enrijece, para em seguida, ao cair, sempre se deixar segurar por um círculo de
outras crianças ou também de adultos pode ajudá-la igualmente a se soltar. Já
pela postura das pernas é possível ver se elas estão rígidas ou se denunciam
pequenos passos de medo, até onde a criança chega e até que ponto consegue
con ar em alguém.
Um exercício prazeroso para soltar-se em qualquer idade é também o
inventado pelo terapeuta norte-americano Milton Trager, no qual cinco pessoas
se reúnem ao redor de outra e cada uma movimenta suave e delicadamente
uma parte do corpo dela. Duas se ocupam das pernas e outras duas dos braços,
e a última, da cabeça. Por meio desses exercícios totalmente individuais e nada
sincronizados – eventualmente acompanhados por uma música suave e
delicada – a criança perde o controle sobre as partes de seu corpo e pode, por
m, sentir prazer e con ança ao soltar-se. O exercício termina em uma
magní ca disposição de serenidade e profundo relaxamento. Essa disposição
torna-se ainda melhor dentro d’água, à temperatura do corpo e com uma
atmosfera adequada, que lembre aquela do nascimento.
Em geral, os exercícios do chamado trabalho na água, que, na realidade, são
tudo menos trabalho, mostram-se muito apropriados para dar con ança às
crianças (e a adultos que buscam contato com sua criança interior). Por um
lado, porque fazem lembrar o período intrauterino, uma vez que a água
(termal) deve ter a temperatura corporal de 36 graus como o líquido
amniótico. Por outro, porque visam a que a pessoa se solte e alcançam esse
objetivo de modo suave, feminino e lunar; portanto, totalmente adequado às
crianças. Estamos falando de “aqua-e-motion”, pois a água evoca todas as
emoções possíveis que estão ligadas ao mundo aquático anterior. Como bem
diz o nome “e-motion”, essas emoções emergem a partir de dentro (o verbo
latino emovere signi ca “mover-se para fora”), colocam-nos em movimento e,
em seguida, permitem que nos soltemos e nos deixemos cair.
Por m, todos os desa os assumidos pela criança são adequados para criar
con ança em um mundo a ser dominado. Nesse sentido, os pais podem
facilitar muitas coisas por meio de um acompanhamento sensível. Quem
aprende desde cedo a resistir em vez de recuar, a posicionar-se em vez de fugir,
irá avançar com con ança e integridade, em vez de passar furtiva e
timidamente pela grande oportunidade da vida. Isso tem efeitos não apenas na
postura externa, que se abate na coluna vertebral, nosso eixo no mundo, mas
também, sobretudo, na postura interna, que determinará como essa pessoa se
posicionará mais tarde na vida perante todas as outras.
Um exemplo adequado nesse caso seria uma variação da “cabra-cega”, que
também se mostrou muito e caz com adultos em meus seminários: um
acompanhante conduz a criança, que tem os olhos vendados, a diferentes
lugares e faz com que ela sinta e exercite, além da con ança, diferentes
estímulos sensoriais.
2.16.3 Todo dia uma boa ação ou espírito de equipe para iniciantes

Essa antiga regra de escoteiro parece há muito ultrapassada. Hoje estão na


moda os tipos que pouco ou nada se preocupam com o próximo; ao contrário,
mostram-se ainda mais arrogantes e esclarecidos do que na verdade são. Mas
qual a situação de sua alma e daquela em geral? Nesse sentido, ela é antiquada e
ainda se sente bem quando pode apoiar e ajudar os outros a levar a vida.
Portanto, de modo totalmente independente do espírito da época, a alma ca
muito melhor com a antiga loso a de escoteiro.
Para a vida em família, o apoio mútuo também só traz vantagens. Nesse
caso, é ideal que se exercite para mais tarde dar às crianças a base para seus
próprios relacionamentos. Não apenas a comunidade familiar tira proveito
disso, mas também toda criança.
Em última instância, obviamente isso também vale para toda comunidade
ou equipe, bem como para todo time. Mesmo no futebol moderno, dominado
por times absurdamente caros de milionários, sabe-se que o dinheiro não cria o
espírito de equipe; ao contrário. Estrategistas da economia moderna exigem
dos colaboradores a capacidade de trabalhar em equipe. Mas onde essa
capacidade deve ser aprendida, se não na família, no jardim de infância ou na
escola? Nesse sentido, as antigas brincadeiras de criança, que envolviam todos
os membros do grupo e, de algum modo, também os unia, têm uma
importância que ultrapassa em muito a mera transmissão de conhecimento. As
equipes, mesmo as mais modernas, vivem essencialmente de apoio mútuo – ou
então simplesmente não vivem. Mas, nesse caso, na maioria das vezes têm uma
bela surpresa. Assim, no contexto geral, a ideia de escoteiro tem uma
importância muito maior do que o tempo atual reconhece.
Um pedagogo social, que há muitos anos trabalhava com o
acompanhamento de jovens, contou-me sua experiência. Entre todos os jovens
fracassados que ele acompanhara, nunca houvera nenhum que tivesse jogado
em um time, participado de um coro ou de uma orquestra ou sido um
escoteiro ativo. Ainda que esta não seja uma declaração cienti camente
relevante, ela não deixa de mostrar uma tendência. Quem aprendeu a se inserir
em um grupo e a participar dele não agirá tão facilmente contra a comunidade.
Portanto, teríamos a possibilidade de resolver os problemas dos jovens, e a
solução reside, naturalmente, no início, na infância.
Disso também resulta, em parte, a problemática dos lhos únicos, que
raramente têm a oportunidade precoce de se inserir. Por conseguinte, para eles
seria importante participar de outros grupos o mais cedo possível, de
preferência já em idade pré-escolar. Entretanto, se no jardim de infância já
surgirem os “pequenos tiranos”, sobre os quais Jirina Prekop escreve de maneira
comovente em seu já citado livro, eles terão di culdade para aprender a se
inserir e, assim, tornarem-se “sociáveis ou socialmente competentes”. Esse
fracasso costuma ocorrer, sobretudo, quando uma mãe solteira se vê
confrontada com um lho que supera suas forças e em relação ao qual ela sente
a consciência pesada porque o pai o deixou. Nessa situação, seria de central
importância fazer com que a criança tenha logo cedo acesso a grupos nos quais
consiga encontrar seu lugar e, eventualmente, também conquistá-lo.
Em geral, a consciência pesada não é boa conselheira para a educação,
mesmo no caso de pais que trabalham muito, que não conseguem controlar
sua preocupação ou que conduzem mal a própria vida. Quando então a
interação familiar fracassa, todos acabam por isolar-se, e a preocupação com o
outro, bem como a relação com ele, entra na monotonia da rotina.
Um bom time vive da autocon ança saudável dos membros e, por sua vez,
também tem a capacidade de apoiá-los em períodos de crise. A de nição de um
bom time ou de uma parceria adequada é: “Ao nal, cada um recebe mais do
que dá”. Quando isso deixa de ser verdade, o sistema do grupo se fragmenta
com mais ou menos rapidez.
2.16.4 Animais como companheiros de vida

Provavelmente, em épocas mais remotas, os animais já conviviam conosco e,


além de sua utilidade, sempre trouxeram um aspecto de amizade para nosso dia
a dia. Os pastores alemães e os cães de caça de hoje são os últimos exemplos
dessa antiga comunidade de trabalho, que, na mudança dos tempos, se
desenvolveu cada vez mais, passando do aspecto de utilidade para aquele de
relacionamento. Progressivamente, o cão de guarda é deslocado dos postos de
alarme e se torna um animal de estimação, como um bicho de pelúcia. Assim,
embora alguns cães policiais e aqueles utilizados para encontrar droga ainda
façam seu trabalho, a maioria cumpre tarefas de relacionamento. À primeira
vista parece estranho ver um gato sentado à mesa e comendo azeitonas, como
eu já vi. Mas, na verdade, a cena combina com essa louca época (urânica), em
que os padrões de relacionamento mudam rapidamente e, muitas vezes, de
maneira inesperada. E por que não fazer de tudo e dar tudo a um ser com o
qual partilhamos a vida?
Muitas pessoas teriam uma vida mais pobre sem a companhia de seus
animais de estimação. Mesmo em nossas cidades grandes, deliberadamente
hostis aos animais e às crianças, o cão como acompanhante de pessoas idosas
constitui uma cena familiar. Para as crianças ele teria a mesma importância, e,
para essas pequenas pessoas que têm a vida pela frente, teria consequências
ainda mais decisivas.
Quão estreita a relação entre o homem e o animal pode ser é o que nos
ilustram os cegos e seus cães. Nesse caso, por ressonância, o animal empresta a
seu parceiro humano seus olhos, seu nariz e muitas vezes também suas patas,
tornando sua vida não apenas mais suportável, mas também mais rica em
termos de relacionamento. Quando um cão como esse morre, é quase sempre
um drama para as pessoas que cam sozinhas e voltam a ser cegas. Nesse meio-
tempo, até os minúsculos pôneis com sapatos antiderrapantes preenchem essa
tarefa como condutores de cegos. Eles vivem por muito mais tempo e podem
acompanhar uma pessoa por 25 anos ou mais.
Em muitos lugares, cães adestrados facilitam a vida de crianças com
de ciência. Certa vez, um menino de ciente formulou, de maneira muito
clara, que tudo havia cado mais fácil para ele e que, graças a seu cão, ele
sempre cava à frente de seus colegas. Esses animais, geralmente os Golden
Retriever, aprendem a apertar o interruptor e até a acender e apagar o fogão.
Não apenas protegem seu parceiro, mas também cuidam dele. São, sobretudo,
companheiros de alma e, por isso, logo se tornam insubstituíveis.
Um pouco mais à frente estão os cães para epilépticos nos Estados Unidos.
Eles aprendem a avisar antecipadamente o ataque de seus “clientes”, pois o
sentem claramente antes dos próprios doentes. Assim, possibilitam-lhe uma
vida quase normal. Com os minutos ganhos, o epiléptico pode preparar-se para
o ataque, tomando medicamentos, repousando na posição adequada, etc. Nesse
sentido, as crianças teriam uma enorme possibilidade de car bem sem uma
medicação a longo prazo que as incapacite. Contudo, esse método exemplar
requer uma vida de estreito companheirismo com o amigo cão.
2.16.4.1 Os animais e o sétimo sentido

De acordo com o provérbio, os ratos deixam o navio no último porto antes que
ele naufrague. Com efeito, os animais são capazes de sentir o perigo de
erupções vulcânicas, terremotos e tsunamis e de fugir em tempo. Eles também
teriam um “nariz” para as coisas importantes da vida (e da sobrevivência) e
talvez até um sentido especial. Foi o que Rupert Sheldrake, descobridor dos
campos morfogenéticos, documentou e provou com elementos su cientes em
seu livro Der siebte Sinn der Tiere [O Sétimo Sentido dos Animais]. Portanto,
se os animais nos são semelhantes em muitas coisas e ainda mais sensíveis do
que nós, é evidente que podemos con ar-lhes métodos de cura baseados na
sensibilidade, sobretudo porque, em regra, seus sistemas energéticos são menos
bloqueados do que os dos homens modernos.
No campo restrito do centro médico em Johanniskirchen, pudemos
observar que dois de nossos quatro gatos sempre procuravam car perto dos
pacientes na sala de espera e preferiam aninhar-se em regiões do corpo deles
afetadas por algum problema. Quem alguma vez já sentiu a suave vibração de
um gato ronronando sobre a barriga dolorida perde suas dúvidas iniciais sobre
a e cácia dessa “terapia”. De resto, se até os pelos de gatos mortos são utilizados
em casos de reumatismo, quanto não devem ser ainda mais e cazes os bichanos
vivos que ronronam alegremente? Em todo caso, no centro médico desistimos
de todas as nossas tentativas iniciais de afugentá-los da sala de espera e
acabamos por aceitá-los como “coterapeutas” bem-vindos, para não falar da
alegria que davam às crianças pequenas e grandes da cidade.
Os animais nos mostram, principalmente, a forma mais e caz da terapia,
que é dar e receber amor. Fazem de tudo por seus parceiros humanos e, muitas
vezes, mantêm-se éis a eles depois da morte. Na relação entre crianças e
animais, vê-se claramente quão forte o amor pode ser. Quanto maior o abismo
que o amor deve superar, tanto mais forte ele se torna. Romeu e Julieta
amavam-se muito além dos abismos sociais, e a lenda mostra que esse amor foi
mais forte do que a morte. Muitas histórias de amor que se tornaram famosas
seguem esse modelo até os nossos dias, como no lme Titanic. As crianças
amam seus animais para além de um abismo muito maior, que é o que separa
um reino da natureza de outro.
É preciso ter matado a criança interior para se comportar com os animais
como costumam fazer os adultos no mundo moderno. A minoria das crianças
deseja consumi-los ou torturá-los. A maioria quer acariciá-los, alimentá-los e
amá-los. Também nesse aspecto deveríamos voltar a ser como as crianças. Elas
ainda parecem sentir que somos de espécie semelhante e, como os irmãos e as
irmãs mais velhos se responsabilizam pelos menores, gostam de fazer o mesmo
com os animais. O budismo e o cristianismo franciscano correspondem àquilo
que, por um lado, é a compaixão por todos os seres sencientes e, por outro, é o
desejo de voltar a ser como as crianças.
Praticamente toda criança tem um profundo anseio de ter um irmão mais
novo na gura de um animal. Esta seria uma oportunidade especial para os
lhos únicos. Em regra, de maneira bastante concreta, as crianças também
querem ter a seu lado um animal que seja seu aliado, e para os pais nem sempre
é fácil dissuadi-las justamente desse animal. Transformar esse desejo pelo
animal adorado como totem em uma grande quantidade de animais de pano,
fáceis de cuidar, é mais perversão do que caricatura, mas corresponde à moda
moderna, que não quer saber de animais vivos, que se adapta ao que está morto
e que é inadequado. Porém, mesmo um animal de pano pode se tornar um
acompanhante útil. Quando o bicho de pelúcia assume um lugar no mundo
mágico da criança, embora não possa lhe transmitir capacidade de
relacionamento e empatia, em tempos de crise pode lhe transmitir o
sentimento de segurança que é tão necessário.
Na verdade, quem, por interesses de “adultos”, impõe a uma criança a vida
na atmosfera hostil da cidade grande deveria car feliz por escapar dela de
modo oportuno ao adquirir um animal aliado. Obviamente, o ideal seria se a
criança pudesse viver internamente com esse animal da alma e senti-lo
externamente. Quando externamente isso não for possível, o nível interno se
tornará ainda mais importante e irrenunciável.
Atualmente, os aspectos positivos desse tipo de relação entre homens e
animais podem ser alicerçados até mesmo pela ciência. James Lynch,
psico siólogo norte-americano, recomenda cães como parceiros terapêuticos
para hipertensos, pois esses pacientes costumam ter problemas com a
autoridade, tendendo a ser ríspidos com quem lhes é subalterno e submissos
com quem lhes é superior, o que só intensi ca seus problemas. Com animais
domésticos como cães, eles poderiam, por assim dizer, comunicar-se no mesmo
nível, sem se irritarem.
Hoje é comum encontrarmos distúrbios de comunicação entre as gerações.
Entretanto, na prática, os animais domésticos sempre viabilizam para as
crianças uma comunicação saudável e responsável. Elas aprendem a assumir a
responsabilidade pelos mais fracos, a estar ao lado de alguém, a cuidar de
alguém com alimento e afeto, e recebem esse afeto de volta de maneira
extraordinária. Quando os pais trabalham fora, necessariamente se produzem
dé cits que os animais conseguem captar com sua maneira cativante. As boas
histórias de animais, de antigamente até hoje, com cavalos que vão de Fury a
Flicka, gol nhos e baleias que vão de Flipper a Willy, mas também com cães,
desde Lassie, passando por Rin-Tin-Tin, até Rex, comprovam a necessidade de
encontrar no animal um verdadeiro parceiro, um companheiro para a vida
toda.
2.16.4.2 Animais como terapeutas

Na terapia moderna, aprendemos gradualmente a aceitar e estimar os animais e


seu sexto sentido e até a “utilizá-los”, a m de desenvolver esse sentido e forças
da alma que o ultrapassem. Na terra dos caubóis, onde durante séculos os
cavalos foram brutalmente adestrados ou exauridos para serem montados,
desenvolveu-se o caminho sensível de “cochichar ao ouvido do cavalo”, que se
difundiu pelo mundo. Agora os empresários e as mães conhecem a força de
seus pensamentos e de sua vontade em colaboração com os cavalos, sentem até
que ponto vai sua compreensão e o que podem obter dos animais quando se
dedicam ilimitadamente a eles. Também reconhecem seu efeito real em outros
seres incorruptíveis.
Na equitação terapêutica, as crianças aprendem com os cavalos coisas que as
pessoas di cilmente podem lhes transmitir. Por experiência própria, com os
seminários de equitação denominados “Equilíbrio em movimento”, sei que
cavalgar de modo consciente é uma possibilidade extraordinária de encontrar o
equilíbrio interior. Entre outras coisas, os cavalos conseguem nos transmitir
uma sensação impressionante de centro. Depois de uma semana passada
predominantemente sobre a sela, já não se é o mesmo; sente-se um equilíbrio
maior e melhor, devido ao longo tempo passado com o cavalo.
Mais popular ainda é a moda que surgiu nesse meio-tempo no mundo dos
animais aquáticos. Não importa se são baleias, gol nhos, jamantas ou raias.
Cada vez mais pessoas engajadas espiritualmente retornam ao mundo aquático
dos primórdios e deixam-se inspirar pelos seres do mar. Em termos coloquiais,
a cena espiritual gosta de nadar com gol nhos, sobretudo para desenvolver
uma espécie de consciência delfínica própria. E, de fato, por experiência, posso
dizer que nadar ou mergulhar com esses parentes maravilhosos, que há milhões
de anos voltaram ao elemento anímico que é a água, podem causar efeitos em
nós. Quem já teve a oportunidade de nadar com gol nhos em uma escola terá
tido uma maravilhosa sensação de união com esses grandes mamíferos
marinhos. Certa vez me aproximei com um amigo de um cardume de cerca de
vinte gol nhos que nadavam e brincavam lado a lado e, aparentemente, se
divertiam. Nós dois, seres humanos, éramos como que de cientes entre os
elegantes nadadores, mas logo fomos tratados e integrados por eles com
carinho. Nossa emoção e nosso entusiasmo eram tão grandes que camos
muito mais tempo na água do que realmente podíamos. Raramente senti esse
tipo de proximidade com os animais, embora tenha andado muito a cavalo e os
adore. Evidentemente, o espaço de experiência do elemento anímico água
desencadeou sentimentos ainda mais profundos, tocou camadas mais
profundas de nosso ser, talvez porque o elemento água seja mais primário do
que o elemento ar, que na história da evolução também só se tornou
importante para a vida muito mais tarde.
Além disso, poderíamos aprender muito com os gol nhos sobre como lidar
com as crianças e com o polo feminino da realidade. Sua hierarquia é
exatamente contrária, e eles privilegiam o princípio arquetipicamente feminino
da Lua. Assim, entram em contato, sobretudo, com de cientes, como autistas e
crianças portadoras da Síndrome de Down; secundariamente, com outras
crianças, mais com as meninas do que com os meninos, depois com as
mulheres grávidas, outras mulheres e, somente por m, com os homens e os
homens intelectuais, somente quando não lhes resta alternativa.
Na sociedade moderna predomina exatamente a hierarquia oposta. O
intelecto arquetipicamente masculino é dominante, e crianças com alguma
de ciência são marginalizadas e dela excluídas. Isso leva a muito trabalho e
pouco prazer. Os gol nhos, ao contrário, parecem organizar sua vida em torno
dos temas “brincadeira” e “prazer”. Quando brincamos e aprendemos com eles,
aproximamo-nos do polo feminino dentro de nós, como ocorre no parto na
água, que o médico e obstetra francês Michel Odent teria aprendido
observando os gol nhos. Mas o mesmo se pode dizer de quando nos
entregamos ao elemento da alma, a água, no chamado tanque samadhi ou
oatarium e utuamos sem sentir nosso peso.
No convívio com os animais, as crianças ainda podem entrar em contato
com a vida como em um lme acelerado e, por exemplo, conciliar-se mais cedo
com a morte. Devido à vida curta de praticamente todos os animais
domésticos, com exceção dos papagaios, elas podem aprender a se adaptar ao
ritmo dos vivos, a se despedir e a se desapegar.
Ideal também seria se as próprias crianças tivessem de se responsabilizar
pelos animais e cuidar deles. Ao alimentá-los, aprendem a cuidar deles, mas
também a manter limpos os locais onde eles cam, e as visitas ao veterinário
poderiam prepará-las muito bem para temas e tarefas posteriores.
Os pais só precisam prestar atenção para que os animais não sejam relegados
à condição de brinquedos e “objetos de uso”, pois, nesse caso, se obteria
justamente o contrário do que se pretende. Na sociedade moderna,
infelizmente os animais são cada vez mais reduzidos a meios de produção e
artigos de consumo. Na indústria farmacêutica e de cosméticos, são
“explorados” às centenas de milhares, e há muito tempo o uso de animais em
testes tornou-se aceitável e institucionalizado. Ele é justi cado pelo valor da
vida humana, considerado mais elevado. Assim, mais de 90% dos testes em
animais – mesmo do ponto de vista médico – são totalmente super ciais e
servem apenas a áreas como a indústria de cosméticos.
No âmbito da sociedade dos descartáveis, quem assume essa postura
também sente pouco remorso ao abandonar animais que já perderam sua
serventia, como se vê às margens das rodovias alemãs no início das férias ou,
como nos Estados Unidos, onde eles simplesmente são “descartados”: nesse
país há comunidades que oferecem instalações apropriadas onde as pessoas
podem se desfazer dos animais que se tornaram incômodos ou “supér uos”.
Eles são empurrados através de uma portinhola e escorregam em uma gaiola
comum, na qual, sem água nem comida, passam dias se dilacerando e
devorando uns aos outros. Seus restos são incinerados uma vez por semana. No
Japão e nas ilhas dinamarquesas Faroé, gol nhos são igualmente dizimados de
forma indescritivelmente cruel. As águas nas baías cam vermelhas com seu
sangue durante horas.
Essa extrema falta de piedade e de consciência mostra o outro lado da
medalha. O homem tem a escolha entre seu lado de luz e seu lado de sombra.
Como pais, deveríamos conhecer este último em toda a sua extensão, a m de
podermos escolher com mais segurança o lado de luz para nossos lhos. Nesse
caso, tanto as crianças quanto os adultos poderiam aproveitar em grande
medida o convívio com os animais.
2.16.5 Encontrando o próprio animal totem

Mesmo quando circunstâncias externas impedem o convívio com animais


(domésticos) ou, em todo caso, com o animal totem desejado, ainda resta o
nível interior. Quanto mais cedo as crianças aprenderem a entrar em contato
com suas imagens anímicas, tanto melhor será seu desenvolvimento. Em
muitas sociedades arcaicas, elas já aprendiam isso no ventre materno, quando
participavam, como parte do mundo materno, de suas viagens interiores e
meditações. Mais tarde, esse contato podia ser revivido ou reconstruído por
meio de histórias contadas antes de dormir. Quando as crianças descobrem essa
ligação com suas imagens anímicas já no início da vida, conseguem não apenas
encontrar seu anjo da guarda, como também o próprio animal aliado.
O caminho prático para isso é mais do que simples. Ao fazer a criança
relaxar para adormecer, o pai ou a mãe que conta a história insere-a em um
ritual em que se trata sempre de perceber e tomar como importantes os
pensamentos que emergem do próprio interior. Como em um jogo, aprende-se
a apanhar a primeira ideia logo que ela surge. Depois de uma preparação
adequada e certo suspense, encoraja-se a criança a pensar no primeiro animal
que lhe ocorre e a dizer seu nome. Assim, ela encontra seu animal aliado. No
futuro, quando ele for convidado a participar das histórias narradas antes de
dormir, rapidamente surgirão uma con ança e uma relação que, em muitas
situações da vida, terão grande valor.
Em meio às di culdades da vida em uma cidade grande, às vezes as crianças
também encontram seu animal aliado no mundo exterior em forma de animal
de pano, com o qual desenvolvem uma relação muito especial ou que está
presente desde o início. Não raro, as crianças o tratam como se fosse vivo e
tivesse alma, e o animal pode mais tarde tornar-se o verdadeiro guardião de
seus sonhos e acompanhá-las em viagens desa adoras. Um garotinho bastante
corajoso que se ferira em um curso de esqui longe de casa e tivera de car
sozinho no quarto, enquanto todos os outros iam para a pista, explicou quando
indagado que não cara absolutamente sozinho, e apontou decidido para o
ursinho de pelúcia que tinha a seu lado. Como professor de esqui, vi na época
apenas um ursinho desgrenhado, mas que era o que o ajudara muito a superar
um dia difícil. Ursos são clássicos animais que dão força; basta pensarmos nos
inúmeros ursinhos de pelúcia em tantos quartos infantis.
Quando a história antes de dormir progride aos poucos para a “meditação
conduzida”, pelo menos no aspecto das imagens anímicas a criança está no
bom caminho. O ideal seria se o contato com essas imagens fosse resgatado da
gestação para a infância. Obviamente, todas as noites antes de dormir, a mãe
pode contar uma história tanto para o embrião quanto para o recém-nascido e,
com o tempo, ambos a distinguirão cada vez menos da meditação conduzida.
Manter uma coisa boa em bom estado é sempre melhor e mais fácil do que ter
de revigorá-la.
Analogamente, por certo é muito melhor preservar o mundo aquático da
fase intrauterina desde o início do que reconquistá-lo mais tarde com penosas
tentativas de nado. Uma criança nascida na água, de preferência na
temperatura do corpo, é capaz de nadar desde o início da vida, conforme
mostram algumas experiências em “escolas de natação para bebês”. Se sempre
lhe for dada essa oportunidade de experimentar a água, obviamente ela não
terá de aprender a nadar, pois será capaz de fazer isso desde o princípio. Irá
mover-se como um peixe dentro d’água e, mais tarde, integrar facilmente
alguns movimentos da natação.
Mesmo que perca o contato com a água, como ocorre com a maioria das
crianças, poderá retomá-lo com brincadeiras e de acordo com o princípio da
Lua, em vez de conquistar o mundo aquático de maneira arquetipicamente
masculina. Quem entra em contato com a água sem medo consegue nadar
porque seu corpo nela utua. A partir disso, a qualquer momento a natação
pode evoluir com facilidade.
Uma criança que preserve o acesso ao mundo aquático terá mais facilidade
não apenas para lidar com a vida, mas também com todo o mundo anímico,
que simbolicamente está ligado à água. Algo semelhante se dá com a criança
que desde o início da vida aceita o contato com o mundo das imagens
anímicas, proporcionado pela mãe. Desde o princípio, ela irá aprender a
apoiar-se nessas imagens internas e sempre terá um segundo nível
complementar para o intelecto e suas inspirações.

2.17 Terapias especiais para crianças

Gostaríamos de apresentar aqui, separadamente, mais algumas terapias que se


mostraram muito e cazes quando aplicadas a crianças.
2.17.1 Constelação familiar sistêmica segundo Hellinger

Quando a homeopatia e a psicoterapia parecem não fazer efeito por períodos


mais longos, o problema pode estar em “emaranhados” no sistema familiar, que
têm sua origem em um passado mais distante do que muitos pais acreditam.
Nesse caso, para esferas mais amplas da população, a constelação familiar ou
terapia sistêmica segundo Hellinger criou mais conhecimento e abertura do
que a terapia espiritual da reencarnação, na qual estamos acostumados a
observar e resolver emaranhados kármicos. Por m, con rmam-se as
experiências em ambas as abordagens.
Comprovou-se que crianças apenas raramente ousam ter e tomar mais da
vida e, por conseguinte, ser mais felizes do que seus pais, por mais que estes
também desejem exatamente o mesmo. Em vez disso, quase todas as crianças
permanecem éis e iguais ao modelo familiar, independentemente de quão
inadequado ou até terrível ele possa ser, e repetem o exemplo dado pelos pais.
Isso acontece mesmo quando a família está há muito desintegrada no sentido
jurídico ou as crianças aparentemente se afastaram dos pais.
Com o auxílio da terapia sistêmica e de suas constelações, Bert Hellinger
descobriu um meio simples e de rápida aplicação para tornar conscientes esses
“emaranhados” dos chamados vínculos familiares. Por outro lado, o caminho
que passa pela terapia da sombra necessita de uma psicoterapia
incomparavelmente mais dispendiosa, que, no entanto, não deixa de ser, ao
mesmo tempo, uma terapia, o que o trabalho sistêmico não a rma de si
mesmo.
Quando esses vínculos, que agem praticamente a qualquer momento, não
alcançam a consciência, eles costumam prender os envolvidos para o resto da
vida. Desse modo, é possível compreender que surjam muitos problemas
graves, que acometem cada vez mais a infância e vão da depressão, passam por
distúrbios psíquicos, como o sentimento de culpa, e chegam à tendência ao
suicídio.
A experiência da terapia da sombra, segundo a qual tudo que foi reprimido
em uma família ou em um clã permanece preservado, con rma-se aqui de
maneira impressionante. O espectro é amplo e alcança desde os sentimentos
reprimidos, passando pela culpa profunda até os membros familiares que foram
excluídos ou exilados. Aparentemente, essas “energias que rondam” o sistema
(familiar) serão assimiladas e vividas pelas crianças que nascerem
posteriormente. Desse modo, modelos e destinos inteiros passam para outras
gerações. O que à primeira vista pode parecer sem sentido e arbitrário, à luz da
terapia da reencarnação se mostra perfeitamente compreensível. De fato, por
esse caminho também se descobre nas crianças uma relação com a respectiva
temática.
Entretanto, este não é o objetivo da constelação familiar, que se limita a
tornar conscientes os “emaranhados” surgidos, a m de conseguir que as
pessoas em questão possam se libertar deles. Em todo caso, o conhecimento de
que existe um sentimento estranho que prende e pesa sobre a pessoa é
espontaneamente libertador.
Por conseguinte, as crianças carregam consigo, desde o início, o modelo ou
o destino da família, à medida que assumem em sua própria vida sensações
como culpa, raiva e dor e quando não recebem nenhum outro espaço no
sistema. A solução através da constelação familiar está em restituir a
responsabilidade e a culpa ao seu causador – respeitando seu destino.
Segundo Hellinger, a gratidão e o respeito também são os únicos
fundamentos con áveis para libertar a criança dos pais. Quando uma criança
corta a relação com os pais em meio à raiva, ela apenas impele a temática para
o subsolo. Segundo a concepção de Hellinger, as crianças não têm o direito de
assumir a culpa dos pais, mas tampouco de tornarem-se seus juízes. Ambas as
coisas não lhes competem. O ideal seria que não se intrometessem. No
entanto, geralmente as crianças são éis aos pais – no mais verdadeiro sentido
do termo – e se dedicam a eles até a morte. Assim, como já foi dito, em geral
não ousam ser mais felizes que seus pais, pois sentem isso como uma traição.
Quando os lhos se transformam em “crianças-problema”, apesar de
receberem muito amor e dedicação, e quando todos os esforços dos pais, dos
professores e dos terapeutas se mostram inúteis, deve-se pensar em um
emaranhado no sistema familiar. Outro indício típico é quando as crianças
sorriem quando ouvem o relato de experiências terríveis. Com o sorriso, elas
exprimem que, na realidade, sentem-se felizes por entregar-se a seu destino
aparentemente predeterminado.
Se o ritual instintivo da constelação familiar realmente ocorrer de maneira
espontânea, são grandes as oportunidades de conhecimento que podem
facilitar em muito para os pais a compreensão da situação familiar. Contudo, a
pré-condição para isso é que o terapeuta reconheça quando alguém trabalha de
modo não espontâneo e estabelece (na consciência) um conceito que traz
consigo. Nesse caso, os condutores especializados recusarão trabalhar com a
pessoa em questão, uma vez que, devido a um conceito pré-fabricado, não
conseguem construir o chamado “campo de conhecimento”, no qual as pessoas
colocadas podem perceber as sensações de maneira representativa. Por meio de
intervenções orientadas, o condutor tenta encontrar uma solução melhor para
todos os membros da família.
Um exemplo talvez possa esclarecer essa situação. Uma mãe se apresenta à
constelação com o lho, cujo rendimento escolar é cada vez menor, embora o
menino seja comprovadamente inteligente. Incentivos especiais não deram
resultado. Depois do casamento, o pai interrompeu a faculdade de medicina e
passou a trabalhar como enfermeiro em um hospital.
Como resultado, a constelação mostra que a mãe despreza o pai. Ela
transmite ao lho: “Não se torne como seu pai, que é um fracassado”. A
criança obedece, mas apenas super cialmente. No fundo de sua alma,
permanece el ao pai e expressa seu amor por ele com rendimento escolar ruim
– torna-se um “fracassado” como ele. Nesse caso, uma solução melhor seria se a
mãe dissesse: “Você pode ser como eu e também como seu pai”. Assim, a
criança não teria de assumir o lado problemático do pai e poderia voltar a ter
um bom rendimento na escola. Melhor ainda seria se tivesse a permissão de ser
“ela mesma”.
Hellinger parte do princípio de que todo sistema almeja a perfeição. Mesmo
que não o formule desse modo, esse é o pensamento fundamental das
abordagens espirituais, que partem do desenvolvimento até a perfeição ou
libertação. Porém, isso signi ca que tudo que obstrui o caminho para a
completude tem de desaparecer. Desse modo, até mesmo distúrbios e sintomas
transformam-se em indicadores que levam à felicidade e à cura. Assim, por trás
de muitos sintomas podem esconder-se emaranhados, que se tornam bastante
claros em casos de distúrbios comportamentais inexplicáveis, anseio pela morte
ou sintomas concretos, como o diabete juvenil.
2.17.2 Essências florais para crianças

Atualmente, as mais conhecidas são os originais orais de Bach, que remontam


ao médico inglês Edward Bach e que já estão radicados na consciência das
pessoas modernas graças ao incansável trabalho de Mechthild Scheffer. A
principal combinação nessa área – preparada pelo próprio doutor Bach – é o
Rescue Remedy, que se comprovou e caz para milhões de crianças e adultos.
O sonho de Bach era encontrar um medicamento para a alma que fosse
simples e e caz, a m de que toda mãe recebesse em mãos uma ferramenta que
lhe permitisse ajudar sua família em casos de doença e em situações de con ito.
O objetivo dessa forma de terapia é trazer a alma e seu mais elevado eu de volta
à harmonia e, assim, resolver problemas espirituais que possivelmente
poderiam levar a doenças físicas. Isso faz da terapia oral de Bach um excelente
recurso para prevenir doenças já na infância, uma vez que a alma das crianças,
ainda relativamente informes, é bastante receptiva a essas terapias sutis.
Em relação aos originais ingleses, há outros orais, como o californiano, que
é menos conhecido. Um sistema que, por sua espécie, é excelente para crianças
provém das “pessoas dos primórdios”, os aborígines da Austrália. Nos países de
língua alemã, esse sistema é representado pelo médico Ingo Hobert. Por ser
especialmente apropriado para crianças, irei apresentá-lo com mais detalhes.
As combinações de ores e arbustos também são ideais para as crianças dos
tempos modernos, que expõem a sensibilidade infantil a grandes desa os.
Muitas emoções, sensações e necessidades, que hoje encontram pouca atenção e
expressão, podem ser integradas com mais e cácia, e os desequilíbrios e
bloqueios no uxo de energia podem ser corrigidos. Como resultado, observa-
se uma melhora nos distúrbios comportamentais, nos sintomas físicos e em
todos os quadros clínicos.
Devido ao método especial de colheita, que não causa nenhum mal às
plantas, os orais também são chamados de “Love Remedies – essências do
amor”. Com base em antigos rituais dos aborígines, é amarrado um recipiente
ao redor das ores de uma planta medicinal, a m de colher sua essência. Com
esse método, obtém-se a essência da planta viva, sem feri-la de modo algum
nem interferir em seu crescimento. A pequena quantidade de líquido colhido
em 24 horas contém a essência da planta ou toda a sua vibração, uma vez que a
água partiu do solo, passou pelas raízes, pelo caule e pelos ramos, até chegar às
ores por meio de forças osmóticas.
O saber em torno das “verdadeiras” plantas medicinais baseia-se nos
conhecimentos de cura transmitidos pelos aborígines, que atribuíam a cada
planta um caráter especí co. Muitos estudos e muitas observações atestam sua
e cácia como catalisadoras e impulsoras, que atuam dissolvendo os bloqueios
em situações psíquicas de estresse e, de maneira natural, recolocam em ordem
os equilíbrios que sofreram algum distúrbio. Com esse método brando, as
diferentes formas de medo e distúrbios comportamentais podem ser tratadas de
modo particularmente e caz.
Como método de seleção, ele se mostrou bastante e caz ao fazer com que a
própria criança encontre “intuitivamente” o oral ou a combinação atual entre
os 38 orais de Bach ou os 45 Love Remedies. É oportuno introduzir esse
processo na alma, por exemplo, fechando os olhos e pedindo às fadas e aos
elfos das ores que lhe indiquem a essência oral adequada. Na infância, é
espantosa a precisão desse método. Quando não há à disposição nenhum
programa completo dos orais, também se pode recorrer a um conjunto de
chas com o descritivo das plantas.
Obviamente, o terapeuta também pode procurar especi camente entre os
38 orais de Bach ou os 45 orais de arbustos, ou ainda entre suas 18
combinações, seguindo um processo que se assemelha à anamnese
homeopática.
Cada combinação dos orais de arbustos (Love Remedy Blends) contém a
essência de cinco diferentes plantas medicinais. Sua fundadora, Juta Stepanovs,
classi cou 18 preparados diferentes para determinadas circunstâncias e
situações problemáticas. Na infância, mostraram-se e cazes sobretudo as
combinações seguintes, que, naturalmente, uma mãe atenta também saberá
selecionar para seus lhos. Apresento aqui as dez mais importantes para as
crianças, que também se encontram no livro de Vera Kaesemann, Kinder-Haus-
Apotheke [Farmácia Pediátrica Caseira]:
 
1. Atenção: Coral Tree, Fan Flower, Guava, Jacaranda, Sunshine Wattle.
Indicações: di culdades para tomar decisões em situações do cotidiano;
falta de concentração; incerteza; lapsos; crianças agitadas ou hiperativas
com excesso de movimentação, muitas vezes em razão de um excesso
caótico de estímulo; di culdade para permanecer concentrado em
alguma coisa; distração e impaciência; espontaneidade e inconstância;
tendência a car sonhando; busca de atenção ou aprovação; muitas
vezes, tendência a isolar-se e a afastar-se da vida social.
Efeitos: reforça a autopercepção; ajuda a criança a centrar-se e a dedicar-
se com mais concentração às atividades efetivas; ajuda a fazer uma
pausa, a estabilizar o polo interior da tranquilidade e a encontrar
imaginação para uma única coisa.
2. Alteração ou Mudança: Pittosporum, Lantana, She Oak Female, Silky
Oak, Worrai.
Indicações: em situações de estresse ligadas a viagens e mudanças;
quando a criança começa a frequentar o jardim da infância ou a escola;
mudança de escola; mudança de professor ou de sala; excursão escolar;
quando devem tomar decisões; medo de não conseguir ir adiante; medo
do novo; problemas da puberdade.
Efeitos: reforça e proporciona coragem e con ança para envolver-se com
algo novo; reforça a autocon ança em mudanças iminentes.
3. Con ança: Coral Tree, Fig, Lantana, Papaya, Worrai.
Indicações: apego excessivo; exigência de dedicação e atenção constantes;
quando a criança se prende muito à mãe; medo de passar vergonha;
medo de animais; timidez; dislexia; medo da perda.
Efeitos: ajuda a criança a reencontrar a con ança e a fé em si mesma,
bem como seus potenciais; reforça a autoestima e a con ança; estimula
a clareza, a presença e a segurança na comunicação com amigos e
colegas de escola; ajuda a aceitar novos desa os.
4. Compaixão: Everlasting, Passion Flower, Plumbago, Silky Oak, Stinging
Tree.
Indicações: tristeza; depressão em casos de rompimento de relações e
colapso nervoso; doença e todas as situações difíceis da vida.
Efeitos: abre o coração para a empatia, a compaixão e a compreensão
dos outros e de si mesmo; ajuda a sentir a comunicação e a ligação com
as outras pessoas.
5. Feminilidade: She Oak Female, Pittosporum, Illawarra Flame, Wild
Rose, Waratah.
Indicações: puberdade; perturbação dos sentimentos; confusão
emocional; bloqueios.
Efeitos: revigora por meio de uma ligação retrospectiva com o próprio
potencial feminino de energia; ajuda a con ar mais nas próprias
intuições e a aceitar as mudanças; os aspectos femininos (Anima ou
Yin) são reforçados; permite que os sentimentos uam.
6. Concentração: Coral Tree, Fig, Ribbon Gum, Silky Oak, Worrai.
Indicações: quando a inteligência está excessivamente enfatizada,
sobrecarregada e é solicitada por muitas informações e estímulos.
Efeitos: ajuda a distinguir o que é importante do que não é importante;
valioso no aprendizado, na preparação para provas e ao longo delas;
estabelece a ligação com a própria força interior; ajuda a perceber mais
claramente o próprio potencial; reforça a capacidade de se concentrar e
evita a distração.
7. Masculinidade: Coral Tree, Everlasting, Grey Mangrove, She Oak (M),
Silky Oak.
Indicações: medo de homens; acanhamento; falta de consciência
masculina; insensibilidade ou hipersensibilidade à dor.
Efeitos: retoma a coragem e a con ança no que se refere aos aspectos
masculinos; maior desenvoltura para demonstrar os sentimentos;
capacidade de resolver problemas masculinos; adquire interesse e prazer
no campo sexual.
8. Relaxamento: Passion Flower, Pittosporum, Fig, Manna Gum, Pigface.
Indicações: medo; tensão nervosa; distúrbios do sono e inquietação.
Efeitos: ajuda a distinguir melhor o que é importante do que não é
importante; estimula o relaxamento; reforça a tranquilidade e a paz
interiores; ajuda a reencontrar e a estabilizar o próprio centro.
9. Primeiros socorros: Grey Mangrove, Manna Gum, Mistletoe, Sensitive
Plant, Tea Tree.
Indicações: acontecimentos inesperados que abalam o sistema.
Efeitos: tal como o Rescue Remedy dos orais de Bach, que lhe é
semelhante, essa combinação é um “imperativo” em toda farmácia
pediátrica. Ela confere consolo e alívio em situações de estresse e crises,
como acidente, choque, ferimento emocional, trauma, pânico e medo.
Ajuda a recuperação e a suportar as tormentas que irrompem.
10. Amor-próprio: Everlasting, Grey Mangrove, Papaya, Passion Flower,
Silky Oak.
Indicações: todos os medos típicos da infância, bem como medo de
trovões; distúrbios do sono; todos os distúrbios graves de
comportamento, bem como problemas de sobrepeso e peso insu ciente.
Efeitos: estimula as forças autorreguladoras do organismo e a
autoconsciência; preenche a vida com con ança e paz; ajuda a descobrir
a própria beleza interior e a se alegrar com ela; reforça a capacidade de
aceitar-se como criança.
2.17.3 Superando o trauma por meio dos movimentos oculares

A chamada técnica EMDR (Eye Movement – Desensitization and Reprocessing


[Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares]) mostrou-se
muito e caz na superação de traumas. Com ela, a criança é instruída a
desenhar um oito na horizontal com o globo ocular, uma barriga do oito com
o olho esquerdo e a outra com o direito. Em seguida, é encorajada a fazer com
que a situação não superada se passe do começo ao m diante do seu olho
interior, ou melhor, em sua imaginação. Analogamente aos movimentos
oculares durante os sonhos à noite, os movimentos nas chamadas fases REM
(rapid eye movement [movimento rápido dos olhos]), essas imitações simples
podem claramente ajudar a neutralizar traumas em retrospectiva. Ainda não se
conseguiu explicar realmente por que isso acontece de maneira tão simples,
mas já podemos empregar essa técnica. No pequeno livro Notfallapotheke für
die Seele [Farmácia de Emergência para a Alma], há um resumo desses
exercícios fáceis, inclusive essa técnica dos movimentos oculares, que podem
ajudar a superar as situações de emergência da alma.
2.17.4 Outros exercícios fáceis e eficazes

Igualmente simples é ensinar às crianças o sentido das batidas, com as quais,


por exemplo, podem ser introduzidos no sistema energético dos meridianos os
resultados obtidos. Só o fato de bater as pontas dos dedos umas nas outras já
permite que se alcancem bons resultados. Normalmente, as crianças até se
divertem ao fazer esse exercício. Como outros exercícios para superar o medo,
resistir e superar as di culdades, este também é descrito no livro
Notfallapotheke für die Seele.
Um método bastante instrutivo, que, no entanto, necessita de auxílio
terapêutico é também a psicocinesiologia, desenvolvida a partir do Touch for
Health (Toque para Saúde).
3 Febre

“Estou cozinhando.”
 
“Dai-me o poder de criar a febre, e eu curarei toda doença”, já sabia o lósofo
grego Parmênides muito antes de nossa época. Febre não é doença, embora
todo o organismo seja acometido e prejudicado. A criança está preparada para
combatê-la e quer colocar à prova as próprias capacidades (de defesa),
confrontando-se com a ameaça vinda do mundo exterior (bactérias, vírus, etc.).
Em princípio, esse calor do combate é bom e somente possível em um
organismo saudável, que ainda pode ter febre e está pronto para assumir a luta
pela vida em sentido gurado. O objetivo ansiado é lutar contra agentes
patogênicos, aniquilá-los, cozinhar por dentro, queimar esses perturbadores da
paz e, assim, restaurar o equilíbrio no corpo. Na maior parte dos casos, já não
encontramos febre nos antecedentes de doentes crônicos, como os alérgicos, os
imunode cientes ou os pacientes que sofrem de câncer. As crianças modernas,
que hoje são tratadas praticamente desde o nascimento com vacinas,
antibióticos e outras medidas repressoras, muitas vezes já carecem logo cedo
desse sinal de uma defesa saudável. Falta-lhes essa reação vital e, com ela, o
amadurecimento do sistema imunológico, a disposição para o combate, bem
como a proteção natural a partir de suas próprias forças.
A cada grau de febre duplica-se o desempenho do sistema imunológico, e
toda febre o treina para ações posteriores. Assim, a disposição ativa de defesa do
corpo contra agentes patogênicos torna-se uma formação rumo a uma
personalidade independente e apta para a vida. Muitos pais vivenciam isso na
autoconsciência reforçada da criança após uma crise de febre. Realizou-se um
processo de amadurecimento. Essas crianças podem assumir sua vida de forma
totalmente diferente, testar seus limites ou também protestar e brigar. Têm
respostas prontas, são cheias de entusiasmo e conseguem tomar decisões com
coragem, seguindo perfeitamente o lema “desde cedo se exercita quem
pretende se tornar mestre”. Pré-requisito para isso é que a criança possa ter
febre – eventualmente alta – e, assim, superar o problema de base. Nesse
processo, ela precisa lidar com sua capacidade de sofrer e com seus próprios
limites. Tal como os adultos, as crianças aprendem não quando todas as
di culdades são retiradas do seu caminho. Ao contrário, elas precisam ser
acompanhadas e apoiadas com amor e total con ança enquanto passam por
suas crises e as dominam. Assim, conseguem sair amadurecidas e fortalecidas
das doenças infecciosas superadas com seus acessos de febre.
Expressões como “ansiar febrilmente por alguma coisa” deixam muito claro
o tema agressivo da febre, a mobilização geral do corpo como uma preparação
para uma grande insurgência. Na prática, é relativamente frequente encontrar
crianças que adoecem em datas como Natal ou aniversário, porque aguardaram
a festa ou a comemoração com tanta ansiedade que literalmente caram febris.
Não viam a hora de convidar os amigos e comemorar, mas não conseguiram
expressar essa alegria adequadamente. Assim, o tema se personi ca como febre
no palco que é o corpo.

3.1 A febre pode ser tolerada sem problemas?

O grau da febre é relativamente sem importância. Mais signi cativa é a


necessidade de a criança beber água su ciente e eliminá-la através da urina, do
suor e, eventualmente, das fezes; de falar e estar consciente; de conseguir
dormir, relaxar e se recuperar. Em geral, mesmo temperaturas acima de 40°C
não costumam ser perigosas se a criança for observada com atenção. Contudo,
nesse momento é imprescindível o auxílio de um homeopata experiente. Já a
partir de 38,5°C é necessário um acompanhamento. A qualidade da febre é
mais importante do que a quantidade.
Há alguns anos, examinei um garotinho que, apesar dos 40,5°C de febre,
das bochechas vermelhas e dos olhos vítreos, entrou todo serelepe no
consultório. Logo começou a brincar e, após um exame minucioso, constatou-
se que não era necessário nenhum tratamento, apenas aconselhar e tranquilizar
a mãe.

3.2 Argumentos contra a diminuição da febre

Não deveríamos tirar o trabalho do sistema imunológico, senão, ele se torna


fraco e destreinado e, em um caso grave, pode já não reagir adequadamente.
Tanto os lhos quanto os pais têm de aprender a suportar certa frustração até o
sistema imunológico passar por suas experiências.
Desse modo, os pais podem aprender a con ar nas forças autorreguladoras
do organismo da criança e auxiliar o processo de amadurecimento apenas
conduzindo-o de acordo com a antiga regra da medicina, que diz: medicus
curat, natura sanat (“O médico cuida, a natureza cura”).
 
Perguntas para os pais:
► Que confrontos ou con itos nosso lho não vive diretamente?
► Como ele pode enfrentar seus con itos de maneira mais construtiva do
que até agora?
► Contra o que ele não está se defendendo de maneira su ciente? – Como
podemos ajudá-lo em sua defesa efetiva?
► Qual processo de desenvolvimento está para ser realizado?
► Como podemos ajudá-lo nesse processo de amadurecimento?
► Como transmitir-lhe con ança para superar sozinho suas crises?
► Estamos lhe dando o calor necessário e permitindo que ele se exalte em
uma discussão?
 
Medidas de apoio:
► Os pais ou a pessoa de referência mais próxima devem transmitir seu amor ao
cuidar da criança, ajudando-a e sentindo suas necessidades: bebês e crianças
pequenas poderiam dormir à noite na mesma cama ou, pelo menos, no
mesmo quarto dos pais para sentir sua proximidade e seu amor.
► Manter a tranquilidade na cama ou, pelo menos, no quarto: a criança deve
ser exortada a manter-se tranquila ou a ouvir em silêncio os pais lerem ou
contarem histórias.
► Proteção contra estímulos externos: nada de luz clara nem de barulhos altos
(TV, rádio, walkman, iPod, etc.); contato físico, apenas se solicitado pela
criança.
► Evitar temperaturas extremas: não sair para uma área externa. A adaptação
à temperatura externa requer uma energia desnecessária. Não aquecer
demais os espaços internos, mas também não deixar que haja corrente de
ar. Apenas arejar o ambiente por cinco minutos a cada hora, enquanto a
criança está deitada sob as cobertas.
► Não dar banho: com calor extremo e seco e/ou se não houver erupção
cutânea, todo o corpo pode ser friccionado com uma solução morna de
água salgada, a m de auxiliar as excreções.
► Dar bastante líquido: chá de tília e de sabugueiro com um pouco de mel
estimulam a sudação e a excreção de toxinas através da pele. Mas também
podem ser oferecidos sucos de fruta diluídos. O principal é que a criança
tome líquido. Torne a bebida “atrativa”, por exemplo com um copo
especial, copinhos pequenos de aguardente ou um canudo. Quando a
criança não tiver vontade de tomar líquido, você pode auxiliar a absorção
de líquidos através de um clister (ver abaixo), como se estivesse fazendo
com que ela “bebesse por baixo”, uma vez que o líquido também pode ser
absorvido através do reto.
► Permitir o jejum, mas apenas a pedido expresso da criança; do contrário,
oferecer uma alimentação leve, com pouca ou sem proteína.
► Sono: estimular o sono da criança, independentemente do período do dia.
Em geral, a necessidade de dormir aumenta quando a criança está doente.
Mesmo que a criança durma pouco à noite por ter dormido muito
durante o dia, não a desperte. O lema é: “O sono é o melhor remédio”.
► Roupa: providenciar roupas leves de algodão, que absorvem melhor o
suor. Calçar meias quentes de lã apenas se os pés estiverem frios
(eventualmente, usar bolsa de água quente junto aos pés). Apesar do
custo adicional, fraldas descartáveis deveriam ser trocadas por fraldas de
pano, devido ao risco de retenção do calor.
► Clister: a experiência mostra que quase todas as crianças toleram essa
medida, que traz muito alívio quando aplicada no momento oportuno e
com con ança e quando se lhes tira a sensação de repulsa. Muitas vezes,
são os pais que recuam diante da ideia do clister. Antigamente, ele estava
entre os primeiros métodos de tratamento, antes mesmo das compressas
de água morna em torno da panturrilha, em casos de mal-estar e antes
que a febre se instalasse. Portanto, converse gentilmente com seu lho,
para que depois não haja resistência.
Como se faz: compre na farmácia um clister de borracha (trata-se de uma
bola de borracha com uma ponta igualmente de borracha). Para lactantes,
o clister vai de 75 a 100 mililitros; para crianças maiores, até 200
mililitros. Preencha-o com chá de camomila morno e coado e um pouco
de glicose. Em seguida, unte a ponta de borracha com um creme neutro
ou, melhor ainda, com azeite, para que ela possa deslizar suavemente no
reto. Em seguida, pressione delicadamente o clister para a saída do líquido
e peça a seu lho que comprima um pouco as nádegas ou, caso se trate de
um lactante, ajude-o a comprimi-las. Depois de alguns minutos, a
necessidade de evacuar será tão grande, que ele não se negará a ir ao
banheiro, usar o penico ou fazer na própria fralda. Elogie seu lho por ter
conseguido e deite-o na cama ou segure-o por mais um tempo nos braços,
sob uma coberta quente. Em geral, após o uso do clister, as crianças cam
cansadas e querem repousar. Antes disso, ofereça-lhe ainda um pouco mais
de líquido. O clister abaixa a febre ou torna-a mais suportável, além de
aliviar a criança graças à excreção.
► As compressas de água morna só devem ser colocadas em torno da
panturrilha se as pernas e os pés da criança estiverem quentes. Nunca se a
criança estiver com calafrios ou com os pés gelados! Embeba dois panos
nos de algodão em água morna (nunca fria, só um pouco mais fria do
que a temperatura do corpo da criança) e, depois de torcê-los e alisá-los,
envolva-os em torno da perna. Fixe os panos com uma toalha de rosto ou
com meias de lã e cubra a criança com uma coberta leve. Assim que os
panos estiverem bem aquecidos – geralmente após dez minutos –, você
poderá trocá-los até três vezes. Em seguida, faça uma pausa de cerca de
uma hora e volte a colocar novas compressas.
Espere sempre um dia inteiro e uma noite inteira sem febre para que a
criança possa sair de casa.

3.3 Auxílio homeopático e médico em caso de febre?

O auxílio homeopático é sempre oportuno, e o médico é indicado quando


 
– a criança mudar tanto seu comportamento que os pais passam a notar
traços estranhos;
– já não responder, car apática e não reconhecer os pais;
–delirar por um período maior ou sentir medos inexplicáveis;
–não tiver sede nem suar;
–a febre durar mais de três dias (em crianças abaixo de seis
meses, já no segundo dia de febre deve-se consultar um
terapeuta experiente);
– a criança sentir dores inexplicáveis, tiver convulsões ou se sua nuca se
enrijecer.

3.4 Remédios homeopáticos para a febre

Aconitum C30 Belladonna C30

Disposição Inquieto, com muito medo, agitado Hipersensível a todos os

estímulos e ao contato físico,

irritadiço, irado, delírio, delírio

decorrente da febre, pesadelos,

medo de cães

Agentes Susto, choque, frio seco, Frio úmido, corrente de ar,

desencadeadores vento frio vento frio, hipotermia,

hipertermia, sol
Aconitum C30 Belladonna C30

Febre Repentina, alta, intensa Sobe e desce rapidamente,

curva de febre bifásica

Sede Muita sede e vontade de tomar Sem vontade de beber água

bebidas frias

Dor nos membros ++* +

Suor Ausente Intenso ou ausente, variável

Aparência Vermelhidão quando deitado; Com muito calor, vermelhidão,

palidez quando sentado inchaço, olhos vítreos e

projetados, veias do pescoço

pulsantes

Melhora com Ar fresco, repouso Compressas frias locais e

uma coberta quente

Piora com À noite, até à zero hora, quarto Ruído, luz, barulho, contato

quente, luz, vento físico, sacudidela

Peculiaridades Primeiro antipirético antes de a Mãos e pés geralmente frios,

criança suar, calafrio intenso dores fortes de cabeça,

estira-se em demasia, pupilas

dilatadas, febre depois de lavar

a cabeça/cortar os cabelos

* + = fraco, ++ = mais forte, +++ = forte, ++++ = muito forte.


 
Ferrum phosphoricum C30 Gelsemium C30

Disposição Fraco, nervoso, sensível, Fraqueza, tremor,

obediente, paciente atordoamento, indiferença,

cansado, sem vontade,

sonolento, apático, como

que paralisado

Agentes Nenhum Agitação excessiva, por

desencadeadores exemplo, por nervosismo,

notícias ruins
Ferrum phosphoricum C30 Gelsemium C30

Febre Não muito alta, até 39°C, Às vezes intermitente,

tranquilo alternância entre ondas de

calor e calafrios, alta a

moderada

Sede Pouca Geralmente ausente

Dor nos membros Nenhuma ++

Suor Alternado, geralmente ausente Ausente

Aparência Palidez, bochechas vermelhas Pálpebras pesadas e cansadas,

quando agitado rosto muito vermelho, pupilas

dilatadas, lábios escuros e

rachados

Melhora com Compressas locais frias, Repouso, movimentos

movimentos lentos moderados, excreção de

urina, consolo

Piora com Frio no quarto, em repouso Tempo quente e úmido,

antes de um temporal,

emoções, agitação

Peculiaridades Sangramento nasal quando há Intensa sensação de frio,

febre; do contrário, nenhuma pernas fracas, sem firmeza

peculiaridade quando em pé ou caminhando

 
Bryonia C30 Apis C30

Disposição Irritado, quer ser deixado em Rigidez sonolenta, delírio,

paz, rejeita aproximação, grito agudo, apatia

fechado

Agentes Irritação, frio repentino em Nenhum

desencadeadores estação quente

Febre Início lento, alta, constante Alta e intensa

Sede Muita sede de água gelada Ausente


Dor nos membros +++ Ausente

Suor Suor quente apenas no Seco e úmido alternadamente

começo; em seguida, ausente

Aparência Cor púrpura, aflito, desvia-se Rosto e lábios inchados

para proteger-se

Melhora com Repouso, deitado do lado Repouso, frio, cobrindo-se,

que está doendo ar fresco

Piora com Qualquer movimento, contato Movimento, calor, de manhã,

leve, calor, tempo muito após a sesta

quente, quando alguém lhe

dirige a palavra

Peculiaridades Lábios e mucosa secos, Séria diminuição na excreção

constipação intestinal frequente de urina, deixa objetos cair

quando há febre

 
Eupatorium perfoliatum C30 Rhus toxicodendron C30

Disposição Irrequieto, desanimado, Inquietação, alternância

resignado, fraqueza progressi constante de posição,

va, fadiga, tristeza sonolento, triste, tende a

chorar, não consegue relaxar

Agentes Frio Frio úmido, estar

desencadeadores completamente molhado,

esforço excessivo

Febre Fortes calafrios Adinâmica, com inquietação

Sede Muita sede de bebidas geladas, Muita sede, sobretudo de

que muitas vezes são leite frio

vomitadas

Dor nos membros ++++ ++

Suor Pouco a nenhum Seco


Eupatorium perfoliatum C30 Rhus toxicodendron C30

Aparência Exausto, aflito Com frequência, bolhas de

febre e herpes

Melhora com Suor Tempo quente e seco,

movimento continuado,

mudança de posição, calor

Piora com Ar frio À noite, em repouso, no início

de um movimento, tempo frio

e úmido

Peculiaridades Fortes dores nos músculos e Língua geográfica, triângulo

nos ossos, como que ferido vermelho na ponta da língua,

e abatido, couro herpes

cabeludo sensível

 
Pulsatilla C30 Nux vomica C30

Disposição Chora, queixa-se sem fazer Nervoso, muito irritado, difícil

barulho e para si mesmo, de suportar, irascível, não quer

geme, quer consolo, humor ser visto nem tocado, muito

muito variado, de irritado a sensível, mal-humorado

sensível, tímido, amável

Agentes Frio, umidade, sorvete, pés Ira, falta de sono,

desencadeadores gelados, calor excessivo superexcitação

Febre Calafrios, febre alternada: Com calafrios

ora alta, ora baixa

Sede Ausente Sede de bebidas quentes

Dor nos membros + +

Suor Apenas no rosto e na cabeça Azedo

Aparência Veias dilatadas Rosto azulado, extremidades

marmorizadas
Pulsatilla C30 Nux vomica C30

Melhora com Ar fresco, cobrindo-se, À noite, em repouso, tempo

movimentando-se, compressas úmido e chuvoso, calor,

frias, companhia cobrindo-se

Piora com Calor, no fim da tarde, à noite, Frio, corrente de ar, depois de

quando está sozinho, e comer, quando se despe,

locais abafados quando tira a coberta, depois

da meia-noite

Peculiaridades Todas as secreções são Não consegue evacuar, dor

brandas para evacuar

3.5 Convulsões febris

“Estou cozinhando e lutando.”


Em geral, a convulsão febril é inofensiva para a criança e não causa nenhum
dano à saúde. Estudos[16] mostram que o desenvolvimento mental também
não é afetado. Mas os pais se assustam quando presenciam uma convulsão
febril e, em seguida, cam preocupados, uma vez que, na maioria das vezes,
não recebem explicações adequadas de terapeutas experientes e que, nessa
situação, os médicos acadêmicos veem um indício para fazer com que os pais
quem mais exíveis quanto à terapia que pretendem impor. A convulsão pode
acometer toda a musculatura, causando rigidez persistente (convulsão tônica)
ou uma mudança constante da tensão muscular (convulsão clônica), o que
requer um enorme dispêndio de energia. Na fase de aumento da febre, em que
o organismo assume a luta contra a ameaça vinda de fora através de agentes
patogênicos, de repente chega-se a um esforço generalizado, convulsivo e
incontrolável, que se assemelha a uma luta pela sobrevivência. A temperatura
sobe repentinamente, o que signi ca um verdadeiro golpe contra os agentes
patogênicos. Essa reação indica di culdades na regulação de calor da criança,
que devem ser compensadas o mais rápido possível. Nesse caso, as compressas
de água morna em torno da panturrilha podem ajudar.
O grande dispêndio de energia durante a convulsão poderia ser interpretado
como uma reação de curto-circuito. A luta passa, por assim dizer, para o nível
dos músculos, que é onde, em geral, se travam as lutas, mas que, nessa situação,
é de pouca ajuda. Também pode acontecer de os pequenos pacientes carem
antecipadamente na defensiva.
Como as convulsões febris se repetem apenas raramente, deve-se partir do
princípio de que a criança aceita e domina a tarefa a ser aprendida, ou seja,
encara a vida e suas ameaças com coragem. Para prevenir esse tipo de escalada,
seria necessário fazer com que a criança se familiarizasse antecipadamente com
os temas da tensão e do relaxamento (por exemplo, por meio do relaxamento
progressivo dos músculos segundo Jakobsen [a partir da idade pré-escolar] ou,
de maneira ainda mais aprofundada, com a terapia do abraço, segundo Jirina
Prekop).
3.5.1 O que é uma convulsão febril?

Acomete crianças entre o primeiro e o sétimo ano de vida. A convulsão febril


típica inicia-se na fase em que a febre aumenta e a criança ca pálida, com
sensação de frio pelo corpo e nas mãos. Em seguida, alguns músculos começam
a contrair-se (possivelmente também os músculos da face), a criança pode
gritar ou gemer; revira os olhos e, eventualmente, seu olhar torna-se xo. É
possível que ocorra até mesmo uma perda da consciência. Os músculos se
contraem na fase tônica, que geralmente dura apenas alguns segundos até, no
máximo, cinco minutos. Em seguida, ocorre a fase clônica, caracterizada por
movimentos descontrolados dos braços e das pernas, que dura, no máximo, 15
minutos. A fase subsequente de recuperação ou sono pode durar meia hora ou
um período signi cativamente maior.
3.5.2 Quais crianças correm esse risco?

De 2% a 4% de todas as crianças pequenas sofrem de convulsão febril ao


menos uma vez na vida. Um terço dessas crianças sofre uma segunda
convulsão, e um sexto, uma terceira. Apenas uma a cada dez crianças tem mais
de três convulsões febris. Apenas em 1% das crianças, com a convulsão febril se
manifesta um problema cerebral preexistente, como a epilepsia. Portanto, de
maneira alguma as convulsões febris causam epilepsia, mas muito raramente
podem apenas manifestá-la. Como não são nem um pouco perigosas como
a rmam muitos médicos acadêmicos, não se justi ca absolutamente ministrar
antipiréticos de imediato.
3.5.3 Sinais perigosos e esclarecimento médico

Se aparecerem os seguintes sintomas, deve-se recorrer a um atendimento


especializado:
– convulsões que atingem apenas um lado do corpo;
–convulsões que se repetem após algumas horas ou no mesmo dia;
–quando a fase clônica durar mais de dez minutos;
–convulsões que aparecem não na fase em que a febre
aumenta, mas com febre alta e constante;
– se a criança que tiver convulsão for maior de 7 anos;
–possíveis sintomas de meningite, como enrijecimento da nuca.
 
Perguntas para os pais:
► Como nosso lho pode tornar-se mais corajoso?
► Que medos estamos transmitindo ao nosso lho?
► Podemos permitir discussões acaloradas em nosso convívio?
► Nosso lho re ete nossa necessidade de harmonia e nosso horror a
con itos?
► O que o deixa tenso, e como podemos providenciar o relaxamento de que
precisa?
► Em que âmbito ele carece de estabilidade?
 
Medidas de apoio:
► Posição lateral: se possível, deite a criança de lado, em uma posição
estável, para que, em caso de vômito, ela não o engula nem se sufoque.
Em seguida, apesar de todo pânico ou medo, permaneça sentado ao lado
do seu lho e apenas aguarde. Em geral, a convulsão febril já terá passado
antes de o médico de emergência chegar, de você ir a uma clínica ou
ministrar um medicamento anticonvulsivo (por exemplo, Diazepam,
Valium). Depois dela, qualquer exame seria desnecessário e cansativo e
poderia perturbar a criança na fase de regeneração e, na maioria das vezes,
não trazer nenhum benefício.
► Clister: se seu lho já teve convulsão febril alguma vez, na próxima vez
que adoecer e tiver febre é imprescindível utilizar o clister no início desta
(ver acima), uma vez que, com ele, a criança terá alívio e a febre será
atenuada. Ao mesmo tempo, a propensão à convulsão diminui.
► Tratamento homeopático: depois de superada a convulsão febril, descreva
ao homeopata todo o processo e todos os sintomas com precisão. Para o
caso raro de uma nova convulsão febril, ele lhe dará um medicamento de
emergência adequado especialmente para seu lho.
4 Doenças infecciosas

4.1 Doenças infantis – o pequeno ser humano no grande

mundo

“Estou pronto para algo novo.”


 
Atualmente, as doenças infantis clássicas, como sarampo, caxumba, rubéola,
coqueluche e, mais recentemente, cada vez mais catapora, praticamente não
desempenham nenhuma função, pois logo cedo a maioria das crianças é
vacinada contra elas e, por conseguinte, essas doenças quase não aparecem. No
entanto, o que é festejado pela medicina acadêmica como um grande
progresso, infelizmente tem um considerável lado obscuro.
Mesmo do ponto de vista pediátrico, as vacinações no primeiro ano de vida
não se justi cam, pois, nessa fase, o desenvolvimento cerebral é muito sensível
e pode ser facilmente prejudicado, sobretudo pelos excipientes e conservantes
presentes na vacina. É provável que as vacinas sejam aplicadas em crianças
ainda muito pequenas principalmente por razões logísticas, uma vez que os
chamados exames preventivos contínuos criam a estrutura temporal ideal para
vacinar o maior número possível de crianças.
Segundo a lógica da medicina acadêmica, deveríamos ter hoje apenas
crianças saudáveis, cheias de força e energia, uma vez que não são acometidas
pelas doenças infantis nem por outras enfermidades; nelas, até mesmo qualquer
febre e quase todo sintoma é combatido com sucesso. Entretanto, infelizmente
a realidade é outra. Em geral, as crianças modernas, “tratadas” com toda sorte
de vacina, têm tudo menos vitalidade. Enquanto antigamente padecíamos das
doenças infantis mas éramos saudáveis, hoje, embora boa parte dessas doenças
tenha desaparecido, as crianças não podem ser chamadas de saudáveis; ao
contrário, adoecem ao longo dos primeiros anos de vida. Infecções
inespecí cas, alergias, TDAH, sobrepeso, entre outros, determinam a situação.
No consultório, vemos com frequência mães desesperadas querendo saber por
que seus lhos não conseguem se ver livres do lenço e sempre acabam com
otite toda vez que vão à piscina.
Nos Estados Unidos, que é o grande modelo do mundo (ocidental), 50%
dos jovens estariam acima do peso e 40% seriam hiperativos. Como os
hiperativos di cilmente se tornam obesos, isso signi ca que nem mesmo 10%
dos jovens são saudáveis em relação a esses dois problemas. Quando se
consideram todos os outros quadros clínicos, desses 10% não sobra quase
ninguém saudável. Por certo, nesse sentido, a situação nos Estados Unidos é
claramente pior, mas nós também estamos muito distantes da saúde por
seguirmos um caminho ruim, marcado por esse modelo. No entanto, seria
muito fácil preparar o caminho rumo a uma vida saudável.
Na medicina antiga predominava uma concepção totalmente diferente das
doenças infantis, com a qual nós, modernos, poderíamos muito bem aprender
algumas coisas. Consideravam-se necessários esses acontecimentos agudos, e
atribuía-se a eles certa proteção contra sintomas crônicos e posteriores, como
alergias, doenças autoimunes e até mesmo câncer. Se pensarmos que, no início,
o sistema imunológico é estruturado de maneira muito rudimentar, essa ideia
se mostra evidente. A criança recebe da mãe um “dote” de anticorpos para
medidas de defesa especí cas e, mais tarde, é ideal que continue a ser tratada
por ela por meio da amamentação. Esta também é necessária, pois no primeiro
ano de vida apenas o sistema de defesa inespecí co da criança está constituído,
o que justamente torna a vacinação sem sentido nesse período, mesmo do
ponto de vista da medicina acadêmica.
Segundo os médicos antigos, as doenças infantis valiam como exercícios de
treinamento para um sistema de defesa em desenvolvimento, tal como,
analogamente, todo exército precisa de suas manobras, sobretudo na fase de sua
estruturação. A vacinação tira do organismo essas possibilidades e o enfraquece
a longo prazo. O que não é aprendido no início da vida, mais tarde só poderá
ser recuperado com muita di culdade.
Se toda febre que surge for combatida com antipiréticos, o organismo
desaprende, no verdadeiro sentido da palavra, a desenvolver a febre e, por
conseguinte, também perde sua autoproteção. De fato, hoje no consultório
vemos muitos adultos que já não conseguem ter febre, o que, do nosso ponto
de vista, representa um problema sério a ser tratado e do qual poderíamos
facilmente poupar nossos lhos. No histórico de pacientes com câncer, é muito
frequente encontrarmos as chamadas anamneses vazias, ou seja, por muitos
anos esses pacientes não adoeceram nem tiveram febre. Assim, não é por acaso
que, para quem tem câncer, a hipertermia mostra-se uma terapia
complementar muito promissora, na qual o paciente é submetido a uma febre
alta e arti cial. Mesmo no histórico de pacientes que sofrem de alergia, faz-se
notar a ausência de febre. Nesse sentido, as doenças infantis, que geralmente
decorrem com a presença de febre, têm uma clara e cácia de proteção e
preparam o organismo para a vida no mundo, com sua abundância de agentes
patogênicos. Por certo é boa a intenção de privar as crianças desses quadros
sintomáticos, em geral amplamente inofensivos quando tratados corretamente;
porém, a longo prazo, trata-se de uma decisão problemática.
Na verdade, as supostas complicações, usadas pela medicina acadêmica
como argumento para a necessidade imprescindível da vacinação, costumam
ser o resultado das medidas repressivas. Quando os sintomas são reprimidos e,
por exemplo, os acessos de febre são privados de seu pico, muitas vezes as
erupções cutâneas não conseguem chegar à superfície como deveriam e nela
“desabrochar”. Para os médicos antigos, e até hoje para os homeopatas
clássicos, essas erupções são consideradas um bom sinal, pois enfatizam o
caminho das secreções de dentro para fora e, a longo prazo, livram a criança
justamente desses incômodos. Segundo essa concepção, as crianças devem
expelir com as próprias forças o que impede seu desenvolvimento. Quando isso
dá certo, geralmente também se mostra uma libertação no nível psíquico e
social, por exemplo, quando, depois de superarem uma doença infantil,
tornam-se mais independentes dos pais e trilham seu próprio caminho com
mais autonomia.
No entanto, muitas vezes esse corte do cordão umbilical, que é natural e
importante, acaba sendo frustrado pelos pais e pelos pediatras, pois lhes dá
uma sensação de que não é importante. Obviamente, isso vale para pais e,
sobretudo, para mães que não têm outra razão de ser na vida além dos lhos, e
infelizmente também para médicos que veem sua atividade na repressão a
sintomas clínicos. Geralmente, as crianças que encontraram força dentro de si
mesmas quase não precisam da medicina acadêmica durante a vida toda.
4.1.1 Doenças infantis fortalecem

De modo geral, com as doenças infantis, as crianças podem aprender a


suportar certa medida de sofrimento e a desenvolver em diferentes níveis a
tolerância às frustrações, que na vida futura poderá ser de importância decisiva.
O domínio de uma crise e a experiência de resistir a tal desa o são claramente
úteis para a vida futura e fazem com que elas con em nas próprias forças. O
padrão da crise, tal como se con gura em toda crise febril, permanecerá
signi cativo por toda a vida. Quanto mais cedo isso se tornar um hábito, tanto
melhor; signi ca ter con ança em “conseguir” e, assim como a Fênix renasceu
das cinzas, também conseguir sair do abismo, para depois abrir ainda mais as
próprias asas e alçar voos mais altos.
Quando se auxiliam as crianças nesse campo, deixando, por exemplo, que
sua febre aumente sob rigoroso controle, seu organismo irá se livrar daquilo
que já não quer, vencer essas guerras precoces e não apenas reforçar o sistema
imunológico para a vida inteira, mas também adquirir imunidade vitalícia para
a doença em questão. Portanto, terá aprendido do ponto de vista físico e
corporal e feito avançar a inteligência de seu corpo.
Paralelamente a esses aprendizados corporais, ocorrem aqueles espirituais, tal
como a toda forma corresponde um conteúdo. Quase sempre após a superação
da doença na criança, é possível reconhecer uma evolução rumo à
individuação. A criança torna-se mais si mesma, desenvolve sua personalidade
e, a cada doença, sai um pouco mais do mundo infantil.
Elas também saem psiquicamente fortalecidas e mais maduras das doenças –
o que muitas vezes é possível perceber logo em seguida, com a nova aquisição
de capacidades psíquicas e sociais. Guerras vencidas naturalmente fortalecem a
autoconsciência. Guerras rejeitadas e não travadas ou lutas reprimidas são vistas
como perdidas para a experiência. Também o fato de que as próprias forças não
podem receber uma chance, pois logo se recorre a exércitos mercenários, por
exemplo na forma de antibióticos, é visto como uma oportunidade perdida
para as defesas do organismo.
Pela simbologia, ca claro que se trata realmente de uma guerra. Em todas
as doenças infantis, trata-se de processos infecciosos, ou seja, o sistema
imunológico luta contra agressores externos, ou melhor, agentes patogênicos
que, no caso ideal, são vencidos e eliminados. Sempre se trata de um
acontecimento agudo, que normalmente não se torna crônico. Em geral, as
doenças só se tornam crônicas em idade avançada, quando as defesas se
enfraquecem e a capacidade de ter febre já se esgotou. Do ponto de vista
psíquico, muitas vezes por trás disso estão a mudança de nível, a chegada a
uma nova fase do desenvolvimento ou então con itos que, na melhor das
hipóteses, in amam-se nos sete primeiros anos e são controlados.
Após a infância, as doenças infantis são mais difíceis de serem dominadas.
As participações extremamente problemáticas do cérebro chegam a ser
frequentes. Depois da puberdade, a caxumba leva – ainda que raramente – à
esterilidade; nos adultos, a coqueluche aparece muito ligada à pneumonia; para
a gravidez, a rubéola representa um grave risco; a catapora é seguida por
herpes-zóster como doença tardia e, o que é interessante, este é tão mais raro
quanto mais frequente for o contato com a doença, de maneira que pediatras
quase nunca contraem herpes-zóster. Tudo isso pode estar relacionado ao fato
de que, na maioria das vezes, os adultos modernos já não têm condições de
reagir a febres tão altas como as crianças saudáveis. Esta seria outra razão para
viver as doenças infantis na infância em vez de reprimi-las.
Atualmente, não raro as doenças infantis se tornam verdadeiras ameaças
para os adultos. Quem foi vacinado na infância acaba se infectando mais tarde,
depois de passado o efeito de proteção da vacina, com as crianças ou os
próprios lhos e muitas vezes passam por um verdadeiro inferno. O fato de a
proteção da vacina ter prazo de validade é o que demonstra o argumento de
seus próprios defensores quando insistem nas revacinações, que, no entanto,
quase ninguém faz até a morte. Quem passou pelas doenças da infância tem
uma imunidade incomparavelmente maior do que por meio de vacinações.
Nesse sentido, o retorno da infecção é lógico, uma vez que as vacinas contra
as doenças infantis não são renovadas. A revacinação nem sequer é exigida pela
medicina acadêmica; entretanto, deveria ser obrigatória em seu sistema. Porém,
obviamente, esse tipo de “exigência” apenas demonstra o contrassenso dessa
abordagem. Quem se revacinaria aos 70 anos contra sarampo e caxumba?
Do ponto de vista da homeopatia, as doenças infantis são con itos internos
que se re etem na parte externa da pele em suas respectivas e orescências e são
consideradas muito importantes para o desenvolvimento. Já o fundador da
homeopatia, Samuel Hahnemann, partia do princípio de que o organismo da
criança precisa dessas batalhas para se reconciliar com o que herdou em termos
patológicos, ou melhor, para eliminar essa herança.
Se imaginarmos que ainda há poucos séculos 90% de nossa população
estava contaminada com sí lis e há menos de um século a maioria sofria de
tuberculose, esse pensamento torna-se mais fácil de entender. Toda criança
deveria vencer com as próprias forças essa predisposição herdada para certas
doenças, a m de poder viver sua própria vida incondicionalmente livre delas.
A prática da pediatria homeopática con rma de modo impressionante esse
ponto de vista.
4.1.2 História da vida e da humanidade

Em muitas histórias de vida individuais, que, em muitos aspectos,


correspondem à história da vida, encontram-se exortações para que se repita
uma parte da história da humanidade. Assim, toda criança tem de se esforçar
para conseguir dar o passo há muito tempo já conquistado pela humanidade: a
posição ereta. Esses paralelos entre a história individual e a coletiva são
expressos pelos cientistas com a equação “ontogênese = logênese”. Ela
signi ca, por exemplo, que a vida individual começa exatamente no líquido
(amniótico), tal como a vida de modo geral, e que as crianças percorrem de
novo a fase dos quadrúpedes e assim por diante.
Sob esses aspectos, não é de surpreender que toda criança tem de lidar
novamente com temas patológicos que desempenharam um papel na história
do desenvolvimento de seus antepassados. O que antigamente ainda causava
espanto, pois a herança parecia xada nos genes, hoje é mais facilmente
concebível, pois descobrimos que informações e características marcantes
também são transmitidas de geração a geração por outros caminhos.
Para conceber a predisposição a doenças hereditárias, que os homeopatas
chamam de “miasmas”, é adequado que as doenças infantis sejam vistas como
ocorrências cíclicas, que se sucedem a ritmos regulares, além do indivíduo,
como o decurso do sarampo, que abrange um ciclo lunar, ou o da coqueluche,
que dura um ciclo lunar e meio. Além disso, quando, por exemplo, o sarampo
se propaga, muitas crianças são infectadas ao mesmo tempo. Entre elas,
algumas não manifestam o início visível da doença. Homeopatas partem do
princípio de que, em sua linha ancestral, o tema a ser elaborado e resolvido
através dessa doença não desempenhou um papel relevante, ou de que o tempo
para a elaboração não foi amadurecido. No entanto, crianças que não adoecem,
mesmo convivendo com irmãos doentes, mostram como é importante a
constituição individual.
Portanto, a partir dessa perspectiva, as doenças infantis são uma
oportunidade ideal para a criança se preparar para o con ito com as
predisposições hereditárias dos ancestrais que in uem em sua vida e, de
preferência, no primeiro ciclo de sete anos, ou seja, antes de iniciar a escola.
Antes de passar a frequentar o mundo exterior, as crianças precisam encontrar-
se em si mesmas, ou melhor, no próprio corpo. A imunidade assim adquirida é
o resultado de um equipamento ideal para a vida. Assim como Siegfried, que,
com suas próprias forças, venceu a luta banhando-se no sangue do dragão e
tornou-se imune aos mais diferentes ferimentos,[17] ao vencerem as batalhas
dos primeiros sete anos, as crianças também podem se libertar da luta pela vida
e esperar por um futuro estando bem preparadas. Se Siegfried pudesse ter
recorrido a um batalhão de artilheiros fortemente armados para acabar com o
dragão, o resultado não teria sido o mesmo.
Nestes tempos de desa o, a tarefa dos pais reside, sobretudo, em
proporcionar aos lhos o afeto necessário, possibilitar a tranquilidade e
aprender a con ar nas forças inerentes aos lhos. Contrariamente ao atual
espírito de época, seria importante fazer com que a criança tivesse um tempo
de reconvalescença e não fosse requisitada muito cedo. De modo geral,
(também) vale aqui a boa e antiga regra médica nil nocere (“sobretudo, não
prejudicar”).
Hoje, um ponto importante é ter em conta que a criança receba afeto
su ciente, mas, se possível, não mais do que quando está saudável, pois, do
contrário, poderá reforçar os sintomas tendo em vista o “ganho secundário com
a doença”: quando uma criança percebe que, quando tosse, sua mãe ca por
perto, enquanto em uma situação normal vai para o trabalho, ela acaba sendo
estimulada a tossir. Assim, muitas crianças aprendem a fazer da tosse uma
bronquite. Aprendem até mesmo a produzir a respiração asmática, conforme
mostram certos exames. Nesse caso, é importante encontrar um meio-termo
adequado, impedindo que a fase da doença se transforme em momento
agradável e, por outro lado, garantir à criança todas as condições de
regeneração e reconvalescença de que ela necessita.

4.2 Lidando, na prática, com as doenças infantis

As doenças infantis fazem parte da infância e, pelo menos quando há boas


condições e tratamento homeopático, curam-se sem deixar sequelas. Se adiadas
para a idade adulta, podem transcorrer com di culdade e levar a lesões
duradouras através das mais diversas complicações. Sabemos muito bem que
tudo tem seu tempo e que, fora dessa fase do desenvolvimento, essas doenças
podem se tornar um problema. Se déssemos à infância aquilo que lhe cabe, tal
como fazem os povos arcaicos, e à idade adulta aquilo que lhe corresponde,
poderíamos nos poupar de muitas coisas. Nossa tendência moderna de quase
não deixar que as crianças sejam crianças, para que depois, na idade adulta, não
se tornem realmente adultas, traz consigo muitas di culdades.
As antigas doenças típicas da infância são, sem exceção, infecções e, como
tais, de fácil interpretação. Inimigos externos, ou melhor, agentes patogênicos
ativam as medidas de defesa do organismo. Inicialmente, o corpo tenta cercar
os agentes patogênicos no local com combatentes não especí cos do grupo dos
glóbulos brancos ou granulócitos. Ele constrói uma verdadeira parede ao redor
dos agentes patogênicos, independentemente de sua espécie – bactérias, vírus
ou esporos fúngicos. Se os agentes patogênicos, cujo método de luta é a
proliferação desmedida, conseguem quebrar esse cerco, o organismo tem de
recorrer a contramedidas mais abrangentes. Aqui, há que se mencionar
primeiramente a febre, que corresponde a uma mobilização geral. Nesse
momento, todas as forças estarão a serviço da defesa, mais uma razão por que
não é muito inteligente simplesmente fazê-la baixar. Com essa medida, vai-se
justamente contra as tentativas de defesa do corpo, enfraquecendo-o a longo
prazo, com o único intuito de não precisar sentir os sintomas agudos de sua
luta, como calor e acessos de suor. No mais, como já dito, a febre não é
prejudicial; ao contrário, é muito mais favorável ao organismo em seu con ito
com o mundo.
Portanto, infecções signi cam guerra no nível físico. No nível psíquico, há
por trás delas um con ito incontrolável, que, ao se aprofundar no corpo,
pressiona por uma solução. Idealmente, nessa solução física o tema psíquico
também volta a se tornar claro, chega à consciência e pode ser esclarecido.
Nesse sentido, já nas doenças infantis os pais são convocados a levar em conta
esse nível psíquico.
No entanto, como só conseguimos resolver nossos próprios problemas, mas
não aqueles dos nossos lhos, somos desa ados a preparar-lhes o espaço
interno e externo para a experiência e a depositar con ança necessária na
sabedoria da alma infantil para que, também no momento de crise, eles
tenham a oportunidade de conhecer a cura. É cansativo e contraria nossa
natureza ocidental tomar ativamente as rédeas da situação, em vez de
simplesmente estar presente “apenas” do ponto de vista emocional.
A pele, que é a superfície na qual sobretudo as doenças infantis se tornam
visíveis, é também nosso órgão de contato e de limite; ou seja, nas doenças
infantis, trata-se prioritariamente de questionar primeiro os próprios limites de
dentro para fora e depois tornar a determiná-los e possibilitar uma nova forma
de contato com o mundo exterior. No início da vida, o corpo parte do
princípio de que o novo se mostra inicialmente em nossa superfície, antes de se
manifestar na alma. As chamadas e orescências, que são erupções cutâneas,
evidenciam simbolicamente a irrupção da nova energia e da etapa de
desenvolvimento que está por vir. A criança quer desabrochar novamente, e sua
alma precisa do corpo como órgão de expressão ou como palco. Por isso, é
compreensível quando muitas crianças buscam sossego e até preferem a
escuridão enquanto o novo tema persistir no escuro. Assim que ele irrompe e
atravessa a superfície da pele em forma de erupção cutânea, o pior já terá sido
superado, e a alma precisará apenas de um pouco mais de tempo para
completar a etapa. Nesse momento, o tema – ainda que de forma
simbolicamente codi cada – está marcado na pele, onde reproduz seu desejo.
Desse modo, tanto os pais quanto os lhos aprendem que, na vida, muitas
vezes os recomeços implicam crises e precisam do seu tempo. Para que o
desenvolvimento possa continuar a transcorrer bem, esses recomeços têm de ser
superados com as próprias forças. O ideal seria que os pais pudessem encarar
abertamente esse acontecimento, estimulando seus lhos a questionar com
espontaneidade os próprios limites e ajudando-os quando eles estiverem
prontos para o con ito de conquistar novos espaços de experiência e novos
níveis de vivência. Muitas vezes, o atrito – sicamente na forma de coceira –
está presente quando se chega a con itos nas superfícies limítrofes. Pelo modo
como as crianças se coçam com vontade e se lesionam com o que restou de suas
unhas, percebe-se visivelmente o quanto a manifestação do novo as provoca.
Aquilo que acaba de irromper causa-lhes forte comichão, e elas insistem com
ênfase e, muitas vezes, se autolesionando, em sua libertação, mesmo quando
isso deixa marcas de sangue. Para um con ito que é profundo e talvez até
sangrento, isso pode parecer apropriado, mesmo que os pais advirtam como
um mantra que elas não devem se coçar. Não querem que seus lhos estraguem
a superfície da pele: como caria seu aspecto? Mas como se sente aquele cuja
tensão interna é imensa e que tem algo em seu íntimo que o incita
profundamente, insistindo para que ele se salve e se liberte, e que lhe causa
tanta comichão que ele tem vontade de sair da sua (antiga) pele? Às vezes, essa
comichão atenua-se com o atrito rme, não muito brando, mas com a pressão
da mão. O contato físico e a consciência de que a pele é um limite costumam
atenuar o desespero.

4.3 Sarampo

Além da pele como órgão limítrofe e de contato, no sarampo também entram


em jogo os olhos, que não raro cam inchados e lacrimejam. Com eles, toca-se
não apenas nos temas “visão” e “revisão”, mas, como espelhos e janelas da alma,
eles possuem uma relação abrangente com a visão de mundo, bem como com a
impressionabilidade psíquica. A conjuntivite, que é frequente no caso do
sarampo, mostra o con ito que se trava com a nova visão de mundo. Toda
conjuntivite ilustra o desejo de fechar os olhos e não ter de ver mais nada.
Durante toda a fase do sarampo, essa tendência ao recuo torna-se
extremamente clara.
No total, o decurso da doença segue o ritmo de 28 dias do ciclo da Lua,
cujo arquétipo também imprime sua imagem externa nos olhos inchados e
lacrimejantes. Após o período de incubação, que é de dez a onze dias, durante
o qual a criança não se sente nem totalmente enferma, nem totalmente
saudável na terra de ninguém da crise, manifesta-se um forte resfriado: ela
perde o apetite, seu nariz ca bastante congestionado, não responde quando
solicitada e, assim, descarrega sua agressividade. Com os olhos inchados e
fechados, já não quer ouvir nem ver e, com muito sofrimento, busca refúgio na
escuridão. Quartos escurecidos reduzem os estímulos externos e possibilitam
novas experiências, sonhos e fantasias.
O todo pode ser facilmente interpretado como uma regressão no sentido do
retorno ao ventre materno. Por puro medo da irrupção incontrolável do novo,
a criança retira-se em um nível em que tudo se dá facilmente e como que por si
mesmo – a saber, no reino composto pelo líquido amniótico e que pertence ao
arquétipo da Lua. As pessoas sempre sentem fotofobia quando estão incubando
alguma coisa, e este é o caso aqui. Todo o efeito submergiu, irrompeu e foi
repelido (para si mesmo). A isso sobrevêm a tosse e, não raro, dores de cabeça.
Enquanto isso, interiormente, inicia-se a guerra total, que se manifesta em
forma de febre alta. O corpo inteiro está preparado para o con ito, e a febre
indica a mobilização geral de todas as forças para a vitória. Inchada pelo choro
e pela constipação nasal, a criança expressa todo o seu desânimo com os
excessos da nova tarefa.
Somente quando as e orescências aparecem nos limites, inicia-se um novo
período. As chamadas manchas de Koplik na mucosa interna das bochechas, na
altura dos molares, e que se originam a partir de depósitos calcários, são os
arautos da erupção cutânea, que na parte externa da pele se inicia com
pontinhos avermelhados atrás das orelhas e se alastram pelo tronco de cima
para baixo, para depois desaparecerem também pelas extremidades. No ápice
da doença, as erupções cutâneas con uem, provocando um leve inchaço na
pele até sua parte interna e, no nal, causam o efeito de um manto vermelho,
que ilustra a energia escondida por trás de todo o acontecimento. O novo
manto, a nova pele da criança cresce sob dores debilitantes.
Por m, depois de passada a erupção cutânea, não raro sobrevém a
descamação das mãos e dos pés. Aparentemente, trata-se de uma mudança de
pele, uma espécie de muda. A criança trocou de roupa; ela pode e quer
recomeçar como se tivesse renascido.
De fato, o que se vê aqui é quase a imagem de um processo de nascimento.
A incubação em forma de dores da dilatação é seguida pelas dores da expulsão,
com as e orescências que fazem pressão para sair. Portanto, as doenças da
infância poderiam ser uma repetição e uma renovação simbólicas do processo
de nascimento. A única coisa trágica é quando as crianças modernas, nascidas
de cesariana, têm o desdobramento de sua força vital interior impedido pelos
diversos tipos de vacinas.
Do ponto de vista homeopático, trata-se de um típico estado de Pulsatilla,
que, não por acaso, também é um oxitócico clássico usado antes do parto. A
criança ca mal-humorada, se lamenta, pendura-se na mãe e não quer car
sozinha de modo algum. Seu humor varia e se alterna como o tempo na
primavera, ou seja, do excessivo entusiasmo à desolação total. Quando se
encontram sob forte estresse psicológico, as crianças necessitam
manifestamente de atenção, embora ao mesmo tempo chorem e sejam
afetuosas quando nada as satisfaz. Em um completo regresso, querem colo e ser
protegidas. Às vezes, renunciam a tudo que aprenderam antes, precisam de
ajuda para tudo e em toda parte e tornam-se totalmente dependentes – como
no ventre materno. Naturalmente, a Pulsatilla pode auxiliar e melhorar muitos
quadros de sarampo.
Quanto aos pais, muito de sua sensibilidade é exigida para ajudar a criança.
Eles têm de se abrir com espontaneidade para o próximo passo – mesmo
quando a criança manifesta claramente seu desânimo – e de restabelecer os
limites quando ela já está farta do velho, mas ainda não (re)conhecer o novo.
 
Medidas de apoio:
► Repouso na cama: enquanto houver febre, nada de tomar banho de
chuveiro ou banheira nem sair de casa.
► Atenda às necessidades individuais de seu lho quanto a escurecer o
quarto, proteger de estímulos externos, ingerir algum líquido e alimento
de sua preferência, proximidade, repouso e cuidados.
► Arejamento: os cômodos devem ser sempre bem arejados.
► Não utilize antipiréticos da medicina tradicional, a m de evitar
complicações!
► Em caso de erupções cutâneas mal desenvolvidas, lavar todo o corpo com
água morna e salgada. Logo em seguida, cobrir bem a criança.
► Clister: a cada dois dias, proceder ao clister como medida de alívio
(conforme descrito no capítulo sobre a febre) e acompanhar a evacuação.
► Apoio toterápico e tratamento homeopático em caso de tosse, conjuntivite,
otite e febre (ver os respectivos capítulos).
► Reconvalescença: depois de superada a doença, são aconselháveis de duas a
três semanas de reconvalescença, nas quais a criança não deve ir ao jardim
de infância ou à escola e, aos poucos, acostumar-se novamente com o dia
a dia.

4.4 Caxumba

O quadro clínico também conhecido como papeira ou parotidite epidêmica


manifesta-se através do inchaço das parótidas, levando à deformação do local,
com inchaço do rosto, que às vezes pode car des gurado. Uma característica
dessa des guração é a saliência dos lobos da orelha. Ambos os lados podem ser
alternadamente atingidos. Junto com a coqueluche, trata-se da única doença
infantil sem manifestações cutâneas.
O rosto inchado realmente impressiona. Do ponto de vista simbólico, trata-
se, evidentemente, de mostrar mais e inchar as próprias bochechas – a criança
está treinando gestos ameaçadores. Nesse sentido, trata-se de uma tentativa de
desenvolver uma personalidade mais poderosa. Em casos normais, o inchaço
do rosto deve-se a uma mastigação intensa ou à compressão crônica dos
maxilares. O tema por trás disso seria “praticar bhoga” ou, como dizem os
budistas, “digerir o mundo”. No entanto, justamente isso lhes é negado. O
apetite desaparece, as bochechas incham até carem doloridas e apenas
simulam a boa mordida. Na verdade, a criança acabou de perder toda
capacidade de morder e não consegue reduzir sua vida a pequenos pedaços
adequados à digestão.
Por trás de tudo isso há uma in amação, portanto, um con ito. A tarefa das
parótidas tem menos a ver com as orelhas, sob as quais se localiza, do que com
a produção do líquido viscoso, arquetipicamente feminino, da glândula salivar.
Também é possível que o con ito se alastre para as outras glândulas salivares,
até mesmo ao pâncreas, o que pode levar a fortes dores abdominais. Nesse
sentido, trata-se aqui realmente de um con ito que diz respeito à digestão da
vida. A função da saliva é fazer com que tudo deslize corretamente, o que deixa
de acontecer na caxumba, para não falar da falta de apetite condicionada pela
doença.
Outras glândulas também podem ser acometidas. Nesse caso, a temática se
estende aos problemas de coordenação, direção e transmissão de informações
relativas a toda a área do corpo. Nos homens em idade adulta, algumas vezes os
testículos são atingidos, o que pode gerar infertilidade. Portanto, nesse caso,
trata-se de uma extensão do con ito para os temas “fertilidade” e
“masculinidade”. Muitas vezes, nos adultos, a caxumba se expande até as
meninges. O con ito atinge, portanto, o sistema nervoso central. Segundo
Friedrich Graf, isso ocorre em uma a cada duas crianças, mas é “normal” e
benigno. Nesse caso, ca claro o quão importante é ter esse quadro clínico
como doença da infância em suas variantes inofensivas e que estimulam o
crescimento, e não, por exemplo, após a puberdade.
Como doença infantil, a caxumba geralmente decorre sem problemas. O
perigo de esterilidade por meio da in amação dos testículos não existe antes da
puberdade. Desde a introdução da vacina contra a caxumba, nos anos 1980,
observou-se um aumento dos casos de orquite, mas que, de modo geral,
permanece muito raro. Isso provavelmente se explica pelo fato de que a média
de idade de pessoas acometidas pela caxumba agora é maior do que
antigamente.[18] Quem pensa em vacinar meninos, primeiro deveria pensar
bem em determinar o título, como se faz com a rubéola no início da
puberdade. Do nosso ponto de vista, as meninas não devem absolutamente ser
vacinadas contra a caxumba. Segundo Friedrich Graf, seus ovários também
podem adoecer, embora com menor frequência.
Como em todas as doenças da infância, os pais podem estimular a futura
etapa de crescimento da personalidade infantil. Ao que parece, seu lho quer
ter mais controle sobre seu próprio eu e in a as bochechas. Como a saliva, o
lubri cante no mecanismo da digestão, tornou-se um problema, nessa fase, é
difícil para a criança digerir sua própria vida. Nem tudo desliza como desejado.
Se o pâncreas for atingido, é importante não subestimar uma di culdade maior
na digestão das impressões materiais. Nos adultos, o envolvimento do cérebro
também pode indicar problemas com a digestão imaterial.
A pergunta que se impõe é a seguinte: “Em que contextos (familiares) co
com o pescoço tão inchado?” Às vezes, os animais se eriçam para impressionar
ou sobretudo assustar os adversários. Por conseguinte, a pergunta seria: “Quem
meu gesto ameaçador deve assustar?” Ou então: “Quem deve impressionar?”
Com efeito, em sentido gurado, trata-se de lutar com coragem para dar
outro passo e se desvencilhar da infância, devendo-se aceitar con itos com o
polo feminino e materno, como ocorre claramente na mucosa. O quadro
clínico também poderia ser entendido como um passo da apoderação de si
mesmo. Ainda que no início apenas simbolicamente e sob o efeito das dores, a
criança mostra seu poder de vencer as di culdades e assumir um aspecto feroz.
Como terapia concreta, devem ser levados em consideração o repouso na
cama – caso desejado – e uma alimentação leve. Se as crianças não
demonstrarem apetite, é melhor não insistir. Seja como for, a alimentação deve
ser sem gordura nem proteína. Se o pâncreas tiver sido afetado e provocar dores
abdominais, esquentar o centro do corpo costuma fazer bem.
 
Medidas de apoio:
► O repouso na cama deve ser absolutamente mantido, mesmo na ausência
de febre.
► Não fazer a febre baixar; do contrário, podem surgir complicações, como
otite, etc.
► Tratamento externo do inchaço: unguento de Archangelica compositum
(da Weleda).
► Compressa com queijo quark: colocar 0,5 centímetro de queijo quark
magro em uma toalha limpa e aplicá-la na face acometida de inchaço.
Fixar com uma faixa. Tirar depois de meia hora e, se necessário, repetir o
procedimento.
► Bochecho ou chá: o bochecho com essência de calêndula (dez gotas para
um copo d’água) ou o chá de sálvia têm efeito anti-in amatório.
► Renunciar a alimentos e bebidas ácidos, a m de não estimular a salivação
desnecessariamente e, assim, aliviar as parótidas.

4.5 Rubéola
A rubéola apresenta um quadro clínico inofensivo, pelo menos se comparada
ao sarampo. Após duas ou três semanas de incubação, ela geralmente decorre
sem complicações, de forma atenuada, com um pouco de mal-estar e sintomas
não especí cos, semelhantes aos da gripe. Algumas vezes, notam-se inchaços
nos gânglios linfáticos do pescoço, atrás do esternoclidomastoídeo, músculo
responsável pelo movimento rotatório da cabeça. Mais raramente ocorrem
inchaços na região inguinal. Contudo, de modo geral, esse fenômeno também
é irrelevante e não necessita de terapia. A temperatura do corpo eleva-se um
pouco, sempre abaixo dos 39°C. A leve erupção cutânea inicia-se quase sempre
atrás das orelhas, com pequenas manchas, e, na maioria das vezes, desaparece
em algumas horas.
Embora geralmente não precise de tratamento, a rubéola é uma doença
necessária, pelo menos para as meninas, uma vez que, durante a gravidez, pode
causar doenças devastadoras para o embrião. O perigo dessa embriopatia torna
necessário determinar o título nas meninas antes da puberdade, e nunca
ministrar diretamente a vacina. Como em geral a rubéola transcorre de forma
tão atenuada que pode passar totalmente despercebida, pode acontecer que já
haja anticorpos su cientes que protegem mais do que uma vacina. Qualquer
médico pode realizar a determinação do título. Em vez disso, muitos médicos
tradicionais que não levam em conta os perigos da vacina costumam aconselhar
logo a vacinação. Nesse caso, é recomendável procurar outro médico.
 
Medidas de apoio:
► Nenhum tratamento: na maioria das vezes, a rubéola não necessita de
tratamento.
► Nenhuma vacina: apenas se não houver nenhum anticorpo, para as
meninas é fundamental a vacinação ainda antes da puberdade. Para os
meninos, a vacinação é irrelevante.

4.6 Coqueluche
A coqueluche ou pertussis é desencadeada pela bactéria Bordella pertussis. Além
do pulmão, são tratados os temas “contato”, “comunicação” e a necessidade
nascente de liberdade, sentida pela criança. Especialmente à noite – e por isso
se enfatiza o mundo do inconsciente –, surge a tosse seca, incessante e,
portanto, não libertadora. A criança ainda não quer nem pode trazer para fora
a agressividade que se impõe a partir do reino inconsciente da alma. Desse
modo, no início, a tosse é improdutiva, ou seja, quase não promove a
expectoração.
Por um período que pode durar de uma a mais de três semanas, uma luta
crescente, muitas vezes intensa e desesperada, é conduzida por ímpetos de
agressividade incontroláveis. Acessos de tosse que mais parecem latidos e são
exaustivos – interrompidos por uma inspiração tipicamente ofegante –
costumam desencadear outros acessos mais fortes ainda. A criança oferece um
quadro agressivo, rumoroso; ela tosse alguma coisa ao mundo (ao ambiente) e
até cuspindo e vomitando nele quando a tosse é muito forte. Assim, ela logo se
torna o centro de atenção da vida em família. Mesmo um pai que, em outras
circunstâncias, é menos afetuoso não consegue car alheio a essa saraivada de
tosse vinda de pulmões esgotados. A verdadeira guerra no âmbito da
comunicação também pode ser sentida na família, na qual tudo se torna mais
difícil quando um membro luta no campo mais externo. De acordo com sua
ressonância, obviamente todos se lembrarão de algum problema de
agressividade ou liberdade não resolvido.
O que acontece nos pulmões, muitas vezes acompanhado de convulsões,
também atinge a região do estômago e do esôfago, causando ânsia de vômito e
sensação de sufocamento. É como se a alma da criança quisesse expelir pela
tosse e pelo vômito tudo que é estranho a seu interior, promovendo, assim,
uma limpeza abrangente. Em casos extremos, até mesmo o ar respirado com
tanto esforço é vomitado junto com o muco ou expelido com os acessos de
tosse.
A criança expõe claramente sua agressividade represada e concentrada e
pratica a revolta, quando não a guerra. Ela luta por sua própria expressão e
liberdade, conquista com muito barulho o centro do interesse e, durante
semanas, não o abandona. Desse modo, não poupa nem os pais nem a si
mesma, menos ainda seus pulmões, que sofrem grave falta de ar com as
contrações e os acessos de tosse. Por conseguinte, esses testes de resistência para
os nervos de todos os envolvidos podem levar ao rompimento de tecidos e à
bronquiectasia, ou seja, à dilatação dos brônquios através do rompimento de
estruturas internas dos pulmões. Contudo, em geral, nas crianças essas
estruturas também voltam a se refazer. Em contrapartida, a febre no sentido da
mobilização geral só aparece raramente. Ao que parece, a temática da
agressividade é revelada por acessos de tosse.
O fator mais tranquilizador nesse período de acirrada luta é saber que, na
maioria das vezes, a doença tem um decurso típico, que prevê uma piora nas
três primeiras semanas e, por m, atenua-se lentamente. Com o tratamento
homeopático nunca presenciamos os terríveis efeitos colaterais acima
mencionados.
Do ponto de vista da homeopatia, a coqueluche é uma doença infantil
importante, que não apenas ajuda as forças de agressividade em sua
manifestação nal – forças essas que, de maneira igualmente “incômoda”,
começaram com o nascimento dos dentes –, mas também compõe um quadro
clínico que pode levar a uma mudança de constituição. Não raro, crianças que
tiveram coqueluche tornam-se nitidamente mais vivazes e aptas para a vida.
Em termos homeopáticos, a herança tuberculínica costuma enfraquecer-se
posteriormente.
De modo geral, trata-se de uma manifestação acompanhada por intensas
explosões de agressividade em um novo estágio do desenvolvimento – a criança
tem de lutar para dar esse passo rumo a si mesma e à sua nova liberdade.
Obviamente de forma inconsciente, ela quer conquistar uma nova posição na
família e na vida, colocando-se no centro através da dura decorrência de sua
doença. Assim, de maneira igualmente inconsciente, ela reivindica o tempo
integral dos pais ou, pelo menos, da mãe.
Nessa fase do desenvolvimento, os pais podem reconhecer, em si mesmos e
na vida do lho, a agressividade como princípio (primordial) vital e ajudá-la
ativamente a se manifestar. Obviamente, acessos de tosse que duram semanas
também podem provocar toda a agressividade represada da mãe, especialmente
quando ela está por conta própria em períodos de luta tão acirrada. O ideal
seria resolver com igual coragem os próprios con itos interpessoais. Isso
esclareceria indiretamente às crianças que elas podem iniciar sua vida com
engajamento e luta e devem aprender a se impor.
Como geralmente, no período de doenças infantis graves, as mães têm de
lutar com a escassez de sono e o esgotamento e cam cronicamente
sobrecarregadas, esses con itos interpessoais precisam ser adiados para depois
da doença. Do pai se exige uma grande porção de tolerância, bem como a
disposição emocional ativa para ajudar a resolver esse con ito. Se o tema for
tratado de modo construtivo na família, para todos ele proporcionará um passo
rumo à união.
Seria importante fazer com que crianças que não demonstram (ou não
conseguem demonstrar) nenhuma agressividade conhecessem esportes
adequados. Estes podem ir do rugby e do futebol, passando pelo hóquei no
gelo, até um saco de boxe pendurado em casa. Em princípio, todos são esportes
ligados à ideia de agressividade, mas também, e sobretudo, esportes de luta,
que cada vez mais são praticados também pelas meninas.
Em todo caso, o tema básico nesse período exige muita força e coragem. Ele
gravita em torno de uma educação que visa um uso corajoso da energia, bem
como em torno da ideia de arriscar a vida para enfrentar incisivamente seus
desa os e lançar os alicerces para aquela preciosa atitude que se mostra mais
tarde na vida como coragem civil.
A coqueluche é realmente perigosa para lactentes nos seis primeiros meses
de vida. Na visão da maioria dos terapeutas, nesse caso deve-se rapidamente
fazer uso de um antibiótico. Em contrapartida, o pediatra Martin Hirte trata
também os lactentes que sofrem de coqueluche sem antibiótico, pois o único
efeito desse medicamento seria abreviar a fase contagiosa. Depois da primeira
semana da doença, os antibióticos já não fazem sentido, uma vez que a tosse é
desencadeada não pelas bactérias, mas pelos danos já causados aos brônquios.
A vacina contra coqueluche – assim como todas as vacinas que sempre
pressupõem um sistema de defesa especí co – desenvolve tarde, a saber, um
ano depois, sua total e cácia. Aos lactentes, que ainda não produzem
anticorpos, as vacinas não podem trazer nenhum benefício. Com essas vacinas
duplamente perigosas em uma fase precoce em que o cérebro ainda está se
desenvolvendo, alguns médicos transmitem aos pais uma suposta segurança
que falta até mesmo aos fundamentos da medicina tradicional. Por essa razão,
no primeiro ano de vida, as vacinas não deveriam ser aplicadas simplesmente
por serem perigosas. Todo o restante que se diz a respeito é ilusão de quem as
produz.
Nesse sentido, é imprescindível e necessário manter os lactentes afastados de
crianças com tosse. Uma distância de cinco metros seria aconselhável como
precaução. Medidas como cobrir a cabeça com fraldas de pano são bem menos
seguras.
Medidas naturopáticas de acompanhamento seriam, por exemplo, as
compressas feitas com queijo quark. De resto, o repouso, quando possível entre
os acessos de tosse, é decisivo. Também tem efeito bené co a mudança de ares,
que geralmente é muito bem aceita pelas crianças, como férias na praia ou nas
montanhas, visitas a grutas impressionantes (com estalactites e estalagmites) ou
ainda estábulos com vacas e cavalos. Nesse caso, pouco importa se o que
predomina é a atmosfera especial ou a mudança de humor. Mesmo alterações
abruptas de pressão atmosférica podem ter um efeito bené co, por exemplo, a
decolagem ou o pouso rápido de um avião.
Do ponto de vista psicológico, é útil transigir excepcionalmente com a
criança em questões con ituosas, ou melhor, sempre que possível, não deixar
que surjam diferenças nem lutas pelo poder, uma vez que os con itos
aumentam a disposição para a tosse ou os “ataques”, o que evidencia a relação
com o tema da agressividade ou de Marte. Depois de longos períodos de
reconvalescença, é sempre recomendável planejar uma mudança de clima.
 
Medidas de apoio:
► Repouso e relaxamento: em geral, os ataques ocorrem de maneira mais
atenuada quando os pais proporcionam um ambiente tranquilo e
relaxado. Eles não devem transmitir nenhuma ansiedade à criança, uma
vez que isso poderia piorar consideravelmente os acessos de tosse.
► Postura positiva e con ante: os pais devem adotar uma postura positiva e
con ante, a m de apoiar a criança em seu processo de amadurecimento.
► Alimentação: oferecer com frequência refeições leves e em pequenas
porções, como frutas, verduras e arroz.

4.7 Catapora

A catapora é uma doença infantil inofensiva, que só quando adiada para a


idade adulta pode assumir uma decorrência difícil, como muitas outras
doenças da infância. Por isso, os pais devem resistir à tentação da nova vacina,
que é completamente desnecessária. Conforme já descrito, ela simplesmente
põe em risco os adultos.
Nomen est omen.[19] Os agentes patogênicos chegam a ser carregados pelo
vento, alastrando-se rapidamente e de maneira incontrolável. O vento, como
criança celestial, é capaz de transportá-los a todos os lugares, no verdadeiro
sentido da palavra, e não pode ser detido. Ainda que inofensiva na infância, a
catapora é incômoda e deixa as crianças inquietas, agitadas e algumas vezes
realmente histéricas. Pois, além dos poucos sintomas genéricos, a erupção
cutânea que causa prurido e se alastra por todo o corpo provoca uma intensa
vontade de se coçar, que, embora momentaneamente ofereça algum alívio, a
longo prazo só piora e favorece a formação de cicatrizes devido a superinfecções
bacterianas. Nesse sentido, a difícil tarefa dos pais é impedir que as crianças se
cocem, o que, por outro lado, estimula reações histéricas por parte delas.
Simbolicamente, é compreensível que elas cocem as bolhas, pois desejam
abrir seus limites e, para tanto, chegam a rasgar a pele com o que resta de suas
unhas. A solução está apenas em plano metafórico, em que se trata de abrir os
limites para deixar que saia o velho (e venenoso) e entre o novo, que promove o
desenvolvimento.
Aos poucos, as pápulas convertem-se em bolhas, que, por m, se
transformam em crostas. Estas, por sua vez, geralmente saram sem formar
cicatrizes. Medidas prévias para reprimir a defesa, como tratamentos à base de
cortisona, estimulam a infecção secundária das bolhas.
Na tradução simbólica, a criança se aproxima aos poucos do novo, que nela
provoca coceira, ou seja, a excita consideravelmente. Além da pele, são tratados
os temas “descoberta do limite”, “disposição para o contato” e, sobretudo,
“carinho”, em cujo campo são exigidos os passos a serem dados para o
crescimento.
Os pais são convocados a ajudar a criança a se posicionar positivamente em
relação aos novos impulsos, que já provocam coceira e estimulam, a ajudá-la a
ousar ultrapassar os próprios limites de maneira corajosa, aberta e decidida.
 
Medidas de apoio:
► Repouso na cama somente se a criança tiver febre.
► Manter as unhas curtas.
► Não se coçar: estimular a criança a apertar as pústulas em vez de coçá-las.
► Aplicações externas: talco Wecesin e Combudoron líquido da Weleda.
Essência de calêndula (dez gotas em um copo d’água para passar
levemente nas feridas).
Aspergir chá de folhas frescas de hortelã-pimenta com um spray sobre as
partes da pele afetadas.
Não fazer aplicações que contenham zinco, cortisona e antibióticos.
► Uso interno: auto-hematoterapia potencializada (ver a seção “11.2
Dermatite atópica e crosta láctea”).
► Tratamento homeopático: Rhus toxicodendron C30, dois glóbulos uma
vez ao dia. Os sintomas do Rhus toxicodendron são grande inquietação,
inclusive à noite na cama, bolhas que causam forte coceira, ardência após
a coceira e desejo de movimentar-se.

4.8 Febre dos três dias

Esse quadro clínico, que costuma ser o primeiro em lactentes ou bebês, pode
ser considerado o primeiro treino imunológico da vida. Ele não oferece perigo.
Como na maioria das vezes a febre dos três dias se torna relativamente intensa e
a temperatura do corpo pode chegar a 40°C, infelizmente os médicos
tradicionais costumam aplicar vacina, em detrimento do desenvolvimento da
criança.
Sobretudo mães jovens com o primeiro lho se assustam com essa febre, que
não é tão dramática para crianças pequenas, e buscam auxílio médico. Todavia,
praticamente não há necessidade de tratamento. Quase sempre, os sintomas se
limitam à febre; raras vezes ocorre além dela um exantema com leve
descamação, que também não deveria dar motivo para preocupação. Nesse
caso, para a febre, vale o que já foi dito anteriormente. Seria recomendável
permitir à criança esse treino para sua defesa e observar como ela vence a sua
primeira luta nessa área com as próprias forças, ou seja, auxiliada apenas pelas
células de defesa que – é de esperar – ela recebe regularmente por intermédio
do leite materno.
 
Medidas de apoio:
► Não fazer a febre baixar: a única coisa perigosa da febre dos três dias seria
adotar um tratamento da medicina tradicional com o uso de
antipiréticos.
► Outras medidas: ver o Capítulo 3 “Febre”.

4.9 Escarlatina

Esse quadro clínico já não pertence às doenças infantis clássicas e só aparece de


forma variada depois que a criança passa a frequentar a escola. Dos mais de
cem tipos do estreptococo beta-hemolítico do grupo A, apenas três produzem a
toxina que desencadeia a verdadeira escarlatina. Por essa razão, quando se colhe
material da garganta e se encontram estreptococos desse grupo, não faz sentido
falar de escarlatina. Não obstante, com frequência, é exatamente o que ocorre.
A diferença é importante, pois, quando se trata da verdadeira escarlatina, a
criança precisa ser mantida afastada da escola ou do jardim de infância por pelo
menos três e, de preferência, por quatro semanas. Em caso de febre, o repouso
na cama é obrigatório! Quando não há febre, basta que ela que em casa.
Naturalmente, tanto tempo de recuperação não é necessário em caso de
amigdalite.
As três cepas mencionadas, ou melhor, sua toxina, levam ao exantema pouco
extenso por todo o corpo, que começa no pescoço ou na região inguinal,
fazendo com que a pele seja afetada como órgão de limite e de contato. A
língua com aspecto de framboesa e a conhecida erupção cutânea de cor
vermelho-escarlate, com inúmeras manchas vermelho-escuras em todo o corpo,
revelam a energia de agressividade vital e fortemente avermelhada que irrompe
para fora e se descarrega por todo o limite do corpo.
Contudo, em primeira instância vem a garganta avermelhada e in amada,
com inchaço das tonsilas palatinas e dos gânglios linfáticos do pescoço.
Simbolicamente, exprime-se aqui um difícil con ito no portão de entrada para
o mundo físico interior. Dor de garganta e di culdade para engolir são as
consequências dessa in amação. A criança engoliu o su ciente, e toda tentativa
ulterior de engolir dói terrivelmente.
A isso se acrescentam o inchaço dos gânglios linfáticos localizados e a
vermelhidão intensa do palato posterior e da garganta, bem como o triângulo
descorado na boca, com vermelhidão intensa nas bochechas e dor de garganta.
A febre alta revela o estado genérico de ameaça no sentido de uma mobilização
geral do organismo em vista da etapa do desenvolvimento a ser controlada. De
modo geral, a pele ca seca e, no nal, descama na palma das mãos e na sola
dos pés. Depois de vencida essa etapa, a criança terá se desenvolvido, o que se
vê claramente em seu corpo.
Em todos os outros casos em que a cultura de material da garganta revela a
presença de estreptococos, tem-se simplesmente uma amigdalite, mas não a
escarlatina! Se em todas as vezes utilizarem-se antibióticos, a melhora até pode
ser rápida, mas, por outro lado, haverá recidivas, conforme a medicina
tradicional vergonhosamente nomeia o recrudescimento da doença em recaídas
constantes.
Teoricamente, uma criança pode ter a verdadeira escarlatina três vezes, pois
existem três diferentes agentes patogênicos, que deixam de herança sua
respectiva imunidade. Em geral, porém, a criança já desenvolve uma
imunidade para a vida toda quando vive e supera a doença corretamente pela
primeira vez, sem o auxílio de antibióticos.
No período que antecede a escarlatina, geralmente o desenvolvimento
mental da criança é antecipado, e o intelecto domina sua vida. Durante a
doença, o rosto adquire uma aparência séria e com traços fortes, ao contrário
do que ocorre durante o sarampo, em que o semblante da criança ca um
pouco inchado, diluído, como o de um bebê. Crianças com escarlatina
geralmente são sobrecarregadas com as exigências do ambiente, como a escola,
o que, antes do adoecimento, pode ser notado por meio de uma
intelectualidade aguçada, de quem tudo sabe, ou de um abatimento. A doença
surge com especial frequência quando as crianças que estão no terceiro e no
quarto ano escolares são distribuídas entre outras escolas, onde continuarão
seus estudos e terão seu desempenho avaliado.
Nesse sentido, o pescoço é o ponto de ligação entre a desorientada central
nervosa e sensorial da cabeça e a região torácica, responsável pela sensibilidade
psíquica, que tem o coração como órgão central do cenário predestinado desse
drama. A criança se agarra a esse ponto de intersecção entre o intelecto e o
sentimento e nele experimenta seu principal con ito.
Depois de superada a doença, muitas vezes o lado cordial da criança se
fortalece e pode se abrir para o entendimento. Quando bem-sucedido, esse
equilíbrio se mostra até mesmo nas pinturas infantis, que com frequência
passam a ser feitas de outra forma. Podemos partir do princípio de que essas
imagens externas são um bom espelho das imagens anímicas internas,
conforme comprovou claramente Elisabeth Kübler-Ross. A mudança pode ir
tão longe que, depois de superada a escarlatina, meninos malcriados, com
tendência a maltratar animais, passam a ter compaixão e amor pelos bichos.
O perigo da propagação dos con itos in amados para outras regiões
praticamente não existe com o tratamento homeopático. Entretanto, no caso
da inibição exercida pela medicina tradicional, pode ocorrer um desvio da
problemática para palcos secundários. In amações nas articulações anunciam
di culdades para articular-se; o envolvimento dos rins indicam problemas de
relacionamento e harmonia. A febre reumática evidencia a batalha geral de
defesa que pode afetar todas as articulações. In amações nas válvulas cardíacas,
com as respectivas anomalias cardíacas resultantes, mostram o quanto o mundo
dos sentimentos foi afetado, enquanto o envolvimento das meninges indica
problemas centrais de regulação e deixa claro o já mencionado campo de
tensão desse quadro clínico entre o cérebro e o coração. Não é à toa que a
medicina tradicional conhece a expressão “a escarlatina lambe as articulações e
morde o coração”.
Também cabe aos pais a tarefa essencial de estimular e auxiliar no controle
desse equilíbrio entre cabeça e coração. Muitas vezes, não é fácil assistir à luta
solitária dos próprios lhos. A melhor terapia é conseguir por si mesmo, ter
segurança ao car em pé nas próprias “pernas de adulto” e atravessar a vida.
Obviamente, é muito mais fácil dar-lhes a mão e aquele afeto que também
ajuda a atravessar situações difíceis e permite se livrar de antigos modelos e do
estilo de vida já superado.
Quando os temas correspondentes são trabalhados do ponto de vista
psíquico e, sobretudo, levados em consideração, o perigo de que haja um
desvio para os palcos secundários e extremamente problemáticos reduz-se
bastante. Nesse sentido, vale a pena encorajar a criança a travar a luta que,
externamente, se torna visível na pele e, internamente, se enfurece na alma até
a descamação da epiderme, estimular sua capacidade infantil de articulação,
satisfazer suas necessidades de amor e harmonia, bem como prestar atenção em
questões centrais que regulam sua vida. Especialmente desa ador para a vida da
classe média, mas absolutamente necessário, é o estímulo para desenvolver a
agressividade saudável, incentivando uma vida com coragem, pensamento
incisivo e sentimentos inabituais ou até mesmo críticos.
 
Medidas de apoio:
► É indispensável manter o repouso na cama!
► Não fazer a febre baixar: ver Capítulo 3 “Febre”.
► Limpar a pele com água e sal: diariamente, duas colheres cheias de sopa de
sal para um litro de água.
► Outras medidas: ver a seção “8.5 Dor de garganta”.
► Tratamento homeopático: Belladonna C30 (dois glóbulos, três vezes ao
dia) é o primeiro medicamento caso a criança sinta dor de garganta
repentina e forte. Outros sintomas: vermelhidão intensa e inchaço das
tonsilas palatinas, muita dor para engolir, sintomas frequentes do lado
direito, inchaço dos gânglios linfáticos do pescoço, febre alta com olhos
vítreos, braços e pernas frios, eventual falta de sede, hipersensibilidade de
todos os sentidos (luz, ruído, toque).
5 Vacinas

No que se refere a esse tema, não con e de maneira acrítica em médicos nem
em farmacêuticos, pois ambos podem lhe dar conselhos que visam promover
seu próprio negócio e que, por conseguinte, prejudicarão seu lho. É melhor
pensar por si mesmo!
Além do que foi dito até agora, essa frase provocadora já revela que, a partir
de nossa experiência, desenvolvemos uma aversão às vacinas, que, no entanto,
não é generalizada. Por exemplo, quando uma menina antes da puberdade não
teve nenhum contato com a rubéola, nós também – tendo em vista uma
eventual gravidez – vacinamos oportunamente, contanto que já não tenha
havido um contato despercebido com a doença, o que pode ser con rmado
através da determinação do título.
Não consideramos adequada uma oposição categórica às vacinas; antes,
somos favoráveis a uma vigilância crítica. Nossa preocupação é fornecer aos
pais informações sobre o tema, bem como suas consequências, para que eles
realmente possam decidir com responsabilidade, e não intimidados por uma
propaganda parcial, que os impele a uma direção, da qual mais tarde podem se
arrepender. As incríveis possibilidades de manipulação da opinião, que vão das
multinacionais farmacêuticas até a corrupção rotineira de supostas revistas
especializadas, foram reveladas, por exemplo, por um relatório do programa
“Frontal 21”, da rede de televisão Zweites Deutsches Fernsehen, em 9 de
dezembro de 2008.
Portanto, somos convocados a re etir sobre o sentido da vacinação. Após a
descoberta da relação com o destino na loso a espiritual, não podemos
absolutamente nos negar a olhar para a esquerda e para a direita antes de
atravessar a rua, seguindo o lema “O que tiver de acontecer acontecerá”.
Segundo um provérbio árabe, “Con e em Alá, mas não deixe de amarrar seu
camelo”. Portanto, podemos vacinar, desde que ponderemos cada vacinação.
Entretanto, após nossas experiências com as vacinas aplicadas hoje em dia,
somos obrigados a desaconselhá-las em ampla medida – especialmente aquelas
em doses múltiplas.
Com o tempo, isso pode mudar. Pelo menos, a indústria começou, com
algum investimento, a substituir o iomersal, conservante com mercúrio de
muitas vacinas, supostamente inofensivo, mas há muito tempo considerado
inadequado pelos homeopatas. Seja como for, termômetros com mercúrio
também merecem ir para o lixo especial. A nal, o que essa substância tem a ver
com o corpo da criança?
Também nos perguntamos por que agora sua substituição gerou custos, se
durante décadas foi considerada inofensiva. Muitas questões sobre esse tema
não foram esclarecidas. Como se justi ca, por exemplo, o fato de que,
antigamente, a vacina Salk contra a poliomielite, substituída pela forma oral,
foi retirada do mercado devido à ocorrência de várias mortes e hoje retorna por
supostamente já não oferecer nenhum perigo? Teria alguma coisa a ver com o
fato de que, nesse meio-tempo, muito mais pessoas morreram em consequência
da vacina oral, de maneira que a Organização Mundial de Saúde foi obrigada a
proibi-la, e espera-se que a população já não se lembre dos argumentos contra a
vacina Salk? Ou então, por que a indústria precisa encenar um pânico como o
ocorrido em torno da chamada gripe aviária? Por que os médicos não
contradizem esse teatro? Seria pelo fato de que esta foi a ocasião ideal para
superar a chamada má vontade da população em se vacinar?[20]
Em princípio, a história da medicina ocidental infelizmente mostra
reiteradas vezes que a opinião cientí ca de hoje é o erro de amanhã. Contudo,
aqueles pais que pretendem trilhar o corajoso caminho (quase) sem vacinas têm
de saber que caminharão contra o vento da medicina tradicional e, não raro,
serão vítimas de acusações e até de verdadeiras ameaças. Na Itália, as vacinações
são obrigatórias e contam até com força policial. Entretanto, de modo geral, a
pediatria italiana está entre as mais deploráveis que conhecemos. Na França
não é diferente. Ao que consta, nesse país, crianças sem vacina não podem
frequentar o jardim da infância, e os pais que se recusam a vacinar seus lhos
em idade escolar podem até perder sua guarda.
Nos países mais liberais de língua alemã, quem não quiser vacinar seu lho
tem de criar para ele um lar que lhe transmita proteção e saúde su cientes para
que ele possa desenvolver suas próprias forças com toda a tranquilidade. Nesse
sentido, a vida moderna, que a criança passa a conhecer melhor aos oito meses
na creche, a m de não impedir que a mãe tenha uma carreira, é pouco
adequada. Em contrapartida, quando existe um ninho protetor ideal, que
compreende o aleitamento por longo período e poucas pessoas de referência
em um ambiente caseiro e que seja mantido nos três primeiros anos com
ritmos seguros e alimentação integral, as crianças podem se desenvolver
incomparavelmente melhor sem as vacinas e encontrar uma vitalidade sem
igual. Mesmo o excesso de estímulos que faz parte da vida moderna precisa
car longe desse ninho. Nesse sentido, os pais prestam o melhor serviço até a si
mesmos se renunciarem à televisão.
Viagens longas também são desaconselhadas no caso de crianças pequenas,
uma vez que em outras regiões do mundo predominam situações
microbiológicas totalmente diferentes, que podem sobrecarregar o sistema
imunológico da criança. Na África, por exemplo, a poliomielite é endêmica
como diarreia, ou seja, ocorre em toda parte; mas isso não implica que leve
automaticamente ao quadro patológico completo, que inclui a paralisia.
Além disso, não faz diferença se a caixa de areia se encontra na própria casa
ou no playground do hotel em um continente distante. Por outro lado, do
ponto de vista psicológico, é problemático renunciar a muitas coisas, pois uma
criança pequena também percebe isso na forma de repreensões implícitas.
De extrema importância para um caminho sem vacinas é a assistência
con ável por meio de homeopatas experientes, uma vez que parte dos pediatras
que seguem a medicina tradicional recusa-se até mesmo a tratar de crianças não
vacinadas e, de modo geral, recorrem rápido demais à artilharia pesada, como
cortisona e antibióticos.
Se as crianças já tiverem sido vacinadas, nem tudo está perdido, mesmo que
sejam necessárias algumas ações por parte da homeopatia, a m de compensar
danos que tenham surgido em decorrência das vacinas e que podem determinar
uma vida inteira. Entretanto, essas ações são possíveis e sempre valem a pena.
Muito diferente seria se, depois de consumada toda a orgia de vacinas, a
criança continuasse a ser tratada com antibióticos e antipiréticos em suas crises
ao longo da infância e da adolescência. Embora em tempos recentes esses
recursos ainda funcionem – e neles residem os verdadeiros “sucessos” de uma
medicina baseada na química –, eles logo lançam os alicerces de todas as
doenças crônicas, contra as quais a medicina tradicional luta relativamente em
vão em uma fase posterior da vida, no que se refere a soluções e, de modo mais
lucrativo, aos custos. A repressão à ocorrência de doenças graves leva – em
muitos casos, de maneira comprovada – a sintomas posteriores.
Excepcionalmente, até estudos realizados pela medicina tradicional provam
isso. Por exemplo, se nos dois primeiros anos de vida a criança é submetida a
um tratamento à base de antibióticos, ela correrá um risco 50% maior de se
tornar alérgica no futuro. Portanto, o enorme aumento de alergias é totalmente
explicável e marcadamente produzido pelo uso indiscriminado de antibióticos.
Estes devem ser reservados apenas a situações em que haja algum risco de vida;
do contrário, são eles que ameaçarão a vida através das alergias e outros
sintomas crônicos.

5.1 Vacinar ou lavar? Erro de pensamento no exemplo da

vacina do câncer de colo do útero

Depois de ter sido venerada durante décadas, a chamada “prevenção” contra o


câncer é cada vez mais debatida. A Evidence Based Medicine, orientação
introduzida pelo médico e epidemiologista britânico Archibald Cochrane, que
submete a medicina acadêmica e seus efeitos a um rigoroso exame cientí co,
levanta muitas questões críticas. Quem ainda mal conhece a diferença entre
pro laxia e diagnóstico precoce carece cada vez mais de explicações. Ingrid
Mühlhauser, professora e doutora em Ciências da Saúde na Universidade de
Hamburgo, ainda formula com frequência essa ideia.[21] Segundo ela, no que
se refere à maioria dos exames para diagnóstico precoce, atualmente não se sabe
dizer com exatidão se eles são úteis. Além disso, sobretudo exames de
diagnóstico de câncer em pessoas saudáveis causam mais danos do que ajudam.
Sabe-se que a prevenção é melhor do que a cura; por conseguinte, os
pacientes esperam, com razão, que a medicina os ajude com a pro laxia.
Entretanto, quem se volta de maneira tão sistemática e alopática contra todos
os sintomas, tentando debelá-los com um arsenal de medicamentos “anti”
alguma coisa, dos antibióticos, passando pelos antiácidos até chegar aos
antidepressivos, sem sequer saber como funcionam, obviamente não consegue
fazer uma prevenção de fato; a nal, não sabe como fazê-la nem contra o quê.
Para tanto, seria necessário entender a essência dos sintomas no sentido da
medicina interpretativa, tratada no livro Krankhei als Symbol[22], e antecipar-se
a eles com um comportamento adequado. Por certo, o diagnóstico precoce é
sempre melhor do que o tardio, mas também é preciso levar em conta a
proporcionalidade dos medicamentos, o que com frequência é esquecido na
medicina acadêmica. De acordo com a professora e doutora Mühlhauser, no
exame do câncer de mama, é necessário partir do princípio de que, a cada cem
diagnósticos, pelo menos trinta são “superdiagnósticos”, ou seja, diagnostica-se
um câncer que ainda não pode ser considerado tal ou que, em todo caso, nem
de longe é tão agressivo quanto apresentado por quem examina. Porém,
quando se diagnostica um câncer que jamais daria problema se não tivesse sido
encontrado, realizam-se tratamentos errôneos, que vão desde operações,
passando por radioterapia e chegam à quimioterapia.
Edmund Lengfelder, professor e doutor em radioterapia, considera que um
a cada dois raios X na Alemanha seja desnecessário, em especial muitas
mamogra as. Ele estima a taxa de mortalidade em decorrência desses exames
de 20 mil a 30 mil pessoas por ano – na grande maioria, mulheres.
Supostamente, há mais radiologistas em Berlim do que em toda a Itália, e
todos querem radiografar.
Um exemplo especialmente dramático são os recentes exames em série,
realizados em crianças em idade escolar para a detecção de tuberculose.
Antigamente, milhões de crianças passaram por raios X, uma radiação
inimaginável nos dias atuais e que só deixou de existir graças a um estudo
sueco. Antes ainda, era costume radiografar, de modo totalmente desnecessário,
os pés das crianças a cada prova de sapato – e no aeroporto, os viajantes.
No início de suas descobertas, a medicina acadêmica costuma acreditar na
total inofensividade delas e as vende como tais – um erro fatal, como muitas
vezes se constata mais tarde. Como já dito, isso nada mais signi ca além do
fato de que os processos e os medicamentos empregados hoje são aqueles que
amanhã serão proibidos. Por isso, no meu caso particular, falta a con ança de
fazer prescrições alopáticas inescrupulosamente, pois, para tanto, a meia-vida
do conhecimento da medicina acadêmica é curta demais. Se hoje eu ainda
prescrevesse os medicamentos que há trinta anos receitava mecanicamente nas
provas de farmacologia para ser aprovado, estaria cometendo um crime.
Grande parte deles é proibida ou, pelo menos, está ultrapassada. O mesmo vale
para os procedimentos.
Hoje, felizmente os médicos se recusam a fazer das operações de apêndice e
tonsilas palatinas em crianças uma rotina. A indescritível moda da
histerectomia também encontrou seu merecido m. Em oposição a tudo isso,
em mais de duzentos anos, nem um único medicamento de todo o tesouro
homeopático foi proibido.
No campo da “prevenção” do carcinoma cervical (câncer de colo do útero),
há muitos anos é fornecido um quadro igualmente problemático, que passa a
repercutir nas crianças. Só na Alemanha, 6.500 mulheres adoecem por ano de
carcinoma cervical. Há décadas se transmite insegurança às mulheres
submetidas ao exame de Papanicolaou. Do ponto de vista da Evidence Based
Medicine, a situação se apresenta da seguinte maneira: para encontrar cerca de
40 mulheres com carcinoma cervical, 600 mil devem ser regularmente
submetidas ao chamado rastreamento. Infelizmente, em 15 o carcinoma não
pode ser encontrado por meio desse método. Porém, enquanto nas 25 restantes
ele é descoberto, quase 100 mil recebem um diagnóstico de câncer falso
positivo. Essas mulheres, que são rendidas e in uenciadas pelo diagnóstico,
submetem-se à cirurgia e à conização (retirada do óstio em uma operação
menor) – com todos os efeitos colaterais resultantes. Muitas ainda cam gratas
a seus médicos pela terrível combinação de medo, operação, radioterapia e
tortura química que lhes foi oferecida, pois simplesmente não enxergam toda a
cena. Quem, como médico, cura um câncer que não existiu pode até entrar
para estatísticas impressionantes, mas falha com a pro ssão e degenera-se ao
praticar uma “medicínica”.
Mais uma vez, a professora e doutora Mühlhauser apresenta uma sóbria
conclusão: do ponto de vista analítico, no grupo das mulheres que são
regularmente mamografadas, o rastreamento do câncer de mama não prolonga
a vida, e, na maioria das vezes, os dados que deveriam justi car o uso da
prevenção são enganosos. Como expressão típica de sua pro ssão, ela emprega
o termo “prevenção”, quando na verdade refere-se claramente ao diagnóstico
precoce da medicina acadêmica.
Nessa terrível situação, na qual cada vez mais mulheres recusam esse tipo de
“prevenção”, que, na realidade, não passa de mais um terrível diagnóstico
precoce, tirou-se da cartola a vacina contra o câncer de colo do útero. Por
conseguinte, meninas entre 12 e 18 anos devem submeter-se a uma vacinação,
com a qual não se tem nenhuma experiência de longo prazo e cujos lados
obscuros ninguém é capaz de expor, como já se queixava, com razão, um
professor vienense de higiene. Entretanto, ninguém lhe deu ouvidos. Os
médicos acadêmicos cam felizes por poder substituir uma desgraça por outra,
supostamente mais inofensiva. Contudo, nesse meio-tempo, uma jovem
morreu na Áustria Setentrional depois de ter tomado essa vacina, de maneira
que, pelo menos nessa região, surgiram certo cuidado e certa reserva entre os
colegas médicos e pôde-se impedir que essa vacina fosse adotada no programa
de vacinação austríaco.
No entanto, no caso do carcinoma cervical, tudo seria extremamente
simples. Em países em que os homens são circuncidados, essa doença não
existe; dela também são poupadas as freiras. Para o surgimento do carcinoma, é
decisivo que o óstio cervical entre em contato com o esmegma, substância
pastosa e malcheirosa sob o prepúcio não lavado. Esse esmegma é o único a
apresentar o solo fértil para o papilomavírus, que o câncer põe em
funcionamento e contra o qual se orienta a vacinação. Entretanto, a solução é
extremamente simples. Os homens deveriam circuncidar-se ou lavar-se com
água e sabão antes do ato sexual. Como a circuncisão apresenta desvantagens,
como a redução da sensibilidade da glande, que caria constantemente exposta
ao atrito com a roupa, lavar o local seria a melhor medida, que não ofereceria
nenhum risco e seria bastante e caz. Essa higienização só tem vantagens e
nenhuma desvantagem, a não ser aquela de não render nenhum lucro à
indústria nem aos médicos, muito pelo contrário. De uma campanha de
higiene pessoal como essa, para evitar a contaminação através do esmegma, não
se falou em lugar algum. E por que se falaria? A nal, ninguém lucraria nada
com ela.
A respeito das campanhas de seus colegas em favor do exame de
“prevenção”, a professora e doutora Mühlhauser diz: “Eles a superestimam
totalmente, mas estão bem informados ou então têm con itos de interesse. Se
os médicos fossem mais críticos, o mito da prevenção não existiria nessa
medida”. No entanto, por experiência própria, posso dizer que os médicos
acadêmicos nunca são mal-intencionados em suas ações; ao contrário,
geralmente chegam a acreditar que elas são boas. Todavia, nesse caso, vale a
frase de Bertolt Brecht, segundo a qual o contrário do bom não é o ruim, mas
o bem-intencionado. Infelizmente, mesmo as boas intenções podem ter efeitos
ruins. Nesse sentido, quem tem amor por si mesmo e por seus lhos, tem de
permanecer muito crítico.
Para Ellis Huber, médico e ex-presidente do Conselho de Medicina de
Berlim, o excesso de exames de prevenção o faz pensar em uma espécie de
exorcismo moderno. A professora e doutora Mühlhauser é lapidar: “Muitas
coisas em nossa medicina moderna são vodu”. Nesse sentido, deveríamos
sempre levar em conta que os médicos modernos empregam instrumentos
muito mais perigosos do que os sacerdotes no vodu das culturas arcaicas. Estes
dispõem de penas, cristais e ervas, enquanto aqueles usam raios X,
quimioterapia e escalpelos para dar ênfase à sua magia.
Também temos de ter claro em mente que, em princípio, a medicina
alopática, apesar dos termos so sticados e correntes de “pro laxia” e
“prevenção”, não tem condição de oferecer nenhuma prevenção. Ela só pode
oferecer o diagnóstico precoce, que obviamente é melhor do que o tardio, mas
também apenas quando não emprega nenhum método perigoso como a
mamogra a.

5.2 Verdadeira prevenção em vez de diagnóstico precoce

Diante de todo sofrimento causado por esse modo exagerado do diagnóstico


precoce, com seus respectivos superdiagnósticos, resta saber como se faz a
verdadeira prevenção. Como é uma prevenção real para merecer esse nome?
Seria uma medicina que enxerga a essência do câncer e instrui as pessoas a fazer
com que as energias que podem se expressar em forma de câncer encontrem
outros canais e outras válvulas de escape. O câncer aponta para um problema
de crescimento. Quem vive seu potencial de crescimento em planos mais
convenientes do que o físico acaba praticando uma autêntica pro laxia do
câncer. De um livro como A Doença como Símbolo podem ser extraídos temas
de cada tipo diferente de câncer e dicas para uma prevenção e caz.
Obviamente, para uma doença como o câncer, não é su ciente um livro
nem CDs; é preciso recorrer a todos os meios e, certamente, incluir a medicina
acadêmica, a medicina complementar e a homeopatia para aumentar as defesas
do organismo, bem como a psicoterapia no sentido da terapia da sombra. No
entanto, a prevenção poderia muito bem começar com um livro como esse
e/ou com meditações induzidas. Quem trilha seu próprio caminho, se realiza e
se desenvolve rumo ao que constitui sua necessidade interna, tendo consciência
de suas potencialidades, pratica a prevenção mais e caz contra o câncer, pois
em seu corpo não deverá ocorrer a redução de nenhum crescimento. Em tal
pessoa, o crescimento recebe espaço su ciente no sentido psíquico e espiritual.
Os processos que requerem espaço e desencadeiam a suspeita de câncer
realizam-se melhor no contexto psíquico e espiritual. O crescimento seria algo
maravilhoso. Políticos de todas as orientações sonham com ele. Temos “apenas”
de nos preocupar com o nível correto. Desse modo, seria extremamente
importante que as crianças já fossem educadas nesse sentido.
Em uma próxima etapa, viria a prevenção do câncer de colo do útero por
meio da higiene. Pois já seria su ciente se os rapazes aprendessem a se lavar
uma vez por dia com sabão depois de recolherem o prepúcio. Entretanto, hoje
em dia os rapazes se veem em uma situação difícil e, em virtude de sua
profunda insegurança, estão no caminho que leva ao sentido contrário. Em
pleno início do século XXI, não ousam tomar um “banho quente”, pois, para
seu grupo de referência (peergroup), quem toma banho quente é chamado de
“covarde”. Além disso, para o grupo, os rapazes não devem compreender as
mulheres nem seus desejos, pois, se o zerem, serão considerados uns
“bananas” e perderão totalmente seu prestígio. No livro A Agressão como
Oportunidade, que também se dedica em pormenores à problemática da
vacinação, um capítulo sobre a socialização com o homem revela os problemas
dos rapazes de hoje nesse sentido. No momento, não há que se esperar muita
cooperação da parte deles a esse respeito.
Por conseguinte, há que se apostar nas meninas. Toda adolescente deveria
aprender cedo com os pais a minimizar o risco de câncer de colo do útero sem
a vacinação e exigindo de seu parceiro que se lave bem antes do ato sexual. De
preferência, ela deve mostrar a ele como proceder, o que já proporcionará
prazer. Além disso, em tempos de Aids e outras doenças sexualmente
transmissíveis, por certo deve-se usar preservativo.
De modo geral, ca claro como é importante desenvolver cedo a
autoconsciência, pois apenas com sua ajuda as mulheres e as adolescentes
conseguirão ousar fazer perguntas decisivas: “Vamos fazer amor ou câncer?” –
“Você já se lavou hoje?” Obviamente, os pais também poderiam tentar ensinar
desde cedo seus meninos a se lavarem corretamente.
6 Cefaleias e enxaquecas

6.1 Cefaleias

“O principal, a cabeça, dói.”


 
Quando têm dor de cabeça ou, na maioria das vezes, dor de barriga, crianças
com menos de 6 anos declaram sintomas que não facilitam o diagnóstico.
Somente aos 6 anos as queixas de dores de cabeça são precisas. Ou, em outras
palavras, os excessos que até os 6 anos dão dor de barriga causam dor de cabeça
em crianças maiores. Até os 6 anos, tudo afeta a barriga se os pequenos não
conseguem digerir sua própria vida. Em seguida, as coisas sobem mais
rapidamente à cabeça ou até mesmo disparam nela. A cabeça ca sobrecarregada
e causa problemas. Crianças em idade escolar têm di culdade para digerir a
vida intelectualmente. Nesse contexto, a semelhança entre as circunvoluções
cerebrais e aquelas do intestino delgado se destaca: as primeiras digerem o
mundo imaterial, as segundas, o mundo material.
Quase tudo pode causar dor de cabeça. A vida começa a passar cada vez
mais pela cabeça a partir da inscrição na escola. Até então, a sensação e a
percepção estavam em primeiro plano, mas agora são suplantadas pelo
pensamento. Ficar quebrando a cabeça sem chegar a nenhuma solução é uma
ocupação típica do período que antecede a puberdade e ao longo dela. O que
prejudica alguém pode mostrar-se na cabeça e junto a ela, que agora se tornou
decididamente a principal parte do corpo, como antes era a barriga. Do ponto
de vista primário, crianças são “seres ventrais”, e, em todos os aspectos, o
ventre, que pertence ao princípio da Lua, encontra-se no centro, enquanto a
cabeça segue, antes, princípios como Mercúrio ou Marte e, a partir do período
escolar, assume os papéis de liderança para não abandoná-los mais ao longo da
vida. A cabeça se torna a capital do país que é o corpo e defende essa posição
obstinadamente contra o coração e o ventre, que, em geral, com sua sensação
de ventre e de Lua, já não recebe nenhuma oportunidade, com exceção de uma
eventual gravidez em um período posterior. Com o coração, que está
submetido ao princípio do Sol, a cabeça ainda tem problemas na fase do
enamoramento e, sobretudo, naquela do amor, mas, em geral, em tempos
modernos, a cabeça (intelectualmente) fria também tem a primazia sobre um
coração quente ou a reconquista com rapidez.
Expressões como “manter a cabeça erguida”, “ser cabeça-dura”, “quebrar a
cabeça”, “dar tratos à bola” ou “espremer a cabeça” evidenciam o quanto essa
parte do corpo está no centro de esforços agressivos, que sempre sobrecarregam
o indivíduo. Expressões como “cabeças vão rolar”, “estar sem cabeça”, ou
também “meter uma coisa na cabeça”, “tirar uma ideia da cabeça”, “en ar a
cabeça na areia” ou simplesmente “estar com a espada na cabeça” mostram os
perigos que a cabeça vive em tempos em que dela tanto se exige.
Se tudo passa por essa parte do corpo e a criança precisa constantemente
“oferecer a própria cabeça em sacrifício”, “tomando na cabeça” a cada ocasião,
pode acontecer de a cabeça sofrer todo tipo de dor que se pode imaginar. É de
“arrancar os cabelos”.
Com tudo isso, não se pode absolutamente “deixá-la na mão”. Ao contrário,
deve-se sempre levar em conta o lema: “Cabeça erguida!” Se não houver
alternativa, vale embelezar um pouco, como no exemplo: “Cabeça erguida,
mesmo que o pescoço esteja um horror” – ou seja, mesmo que a base não seja
sólida, a cabeça deve permanecer erguida. Isso pode ser difícil, mas é o mais
certo a fazer.
Felizmente, também se pode “perder” a cabeça por amor ou, o que é
lamentável, arriscar o próprio pescoço por alguma coisa que se diz em juízo.
Seja como for, a cabeça vive perigosa e marcialmente de acordo com seu
princípio primordial. Nesse sentido, não é de admirar que ela tenda a ter dores
que, de igual modo, pertencem ao princípio de agressividade.
Atualmente, toda criança quer e precisa ter uma cabeça esclarecida, ou seja,
não pode ter ideias tolas nem mirabolantes, mas também não pode ser cabeça-
dura nem cabeça-oca. Ao contrário, tem de a rmar-se e, se possível, impor sua
vontade.
Quando a nova fase da vida e as novas liberdades a ela relacionadas sobem à
cabeça das crianças, elas podem se tornar bastante maduras, arrogantes,
presunçosas, superiores e, atualmente, até megalomaníacas, sobretudo quando
estão sob pressão. Nesse caso, parecem “não estar com a cabeça no lugar” ou
“não ser muito boas da cabeça”.
Na adolescência, os jovens quebram a cabeça, sem sucesso, para dominar
questões emocionais e sentimentais. Nessa fase, não sabem “onde estão com a
cabeça” e tudo lhes parece “sem pé nem cabeça”; só “têm uma coisa na cabeça”
e sempre querem “virar a cabeça de alguém”. Em pouco tempo, tudo parece ser
questão de vida ou morte e até custar a própria vida. Sua mente vibra de ideias
e pensamentos que não encontram o caminho para a realidade, mas nem por
isso lhes “saem da cabeça”. Uma cabeça tão pesada de preocupações pode
culminar em um(a) “cabeça-dura”, que relega o coração ao segundo plano,
driblando-o, superando-o e fazendo com que o polo material da vida, que é o
corpo, não seja levado em conta, para que a cabeça possa permanecer no alto, o
que também repercute na situação social alterada.
Se a vida na infância foi dominada pelas brincadeiras, a inversão de
polaridade, em que a cabeça passa a ser o centro, começa a se desenvolver com
o ingresso na escola. Geralmente, ela se completa aos 10 anos. Os programas
de ensino de nossas escolas re etem esse deslocamento para a cabeça e sua
sobrecarga de maneira dramática. Oitenta por cento das aulas destinam-se à
cabeça e ao intelecto. Para o programa, duas horas de ginástica têm como que o
efeito de inimigas do corpo.
Não obstante, nesse período favorável à cabeça, mas que ao mesmo tempo a
sobrecarrega, é difícil “manter a cabeça fria e esclarecida”, pois ela será cobrada
sem piedade. Diante de todas essas circunstâncias, muitas vezes o ego alcança
precocemente seu melhor desempenho e começa a proteger sua posição. “Hoje,
mais do que nunca, uma cabeça brilhante é bastante requisitada”, mas “o
sucesso também pode subir à cabeça”.
Quando os primeiros impulsos de pensamento deparam com um obstáculo
que impede sua concreta realização, obrigando o indivíduo a quebrar a cabeça;
quando as pessoas querem impor sua vontade, seguindo o lema “querer é
poder”, e a cabeça se torna um aríete para a imposição impiedosa do ego, a m
de que tudo corra de acordo com a própria vontade, as dores de cabeça
originadas pela tensão ameaçam se manifestar já na infância. Quando os
impulsos (do pensamento) permanecem presos na cabeça, vive-se forçosamente
nela o que pertence a outro lugar. Nesses “cabeças-duras”, que se
superestimam, “metem coisas na cabeça” que os sobrecarregam, uma forte força
de vontade, aliada a uma excessiva reivindicação de poder, leva à dor de cabeça
no sentido de uma advertência de que eles estão no caminho errado com um
pensamento errado. Não é nada fácil “tirar a cabeça dessa corda que eles
mesmos fabricaram” e “salvá-la”. Se crianças já “quebram constantemente a
cabeça”, obviamente terão cefaleia. Do mesmo modo, um cérebro em contínuo
esforço também é passível de dor e conduz à respectiva “cabeça pesada”.
6.1.1 A corrida cabeça com cabeça

A sobrecarga devida à forte pressão para o desempenho, bem como a ambição


forçada e introduzida cada vez mais cedo pelos pais e pelo ambiente, que
sempre converge na ideia de carreira a ela relacionada, pode bastar como causa.
Se a isso ainda se acrescentar uma exigência pessoal de perfeição, e as
possibilidades de ascensão e de carreira forem ruins, a situação se torna crítica.
Por si só, o esforço cada vez maior e as exigências não cumpridas costumam
desembocar diretamente em problemas maciços de cefaleia já nos anos da
infância.
Na predominante “corrida cabeça com cabeça”, que a criança precisa ou, no
pior dos casos, até quer ganhar pelo menos “por uma cabeça de diferença”,
muitos se arriscam. E “o que a criança não tem na cabeça precisa ter nas
pernas”. Desse modo, às vezes, esportes competitivos na infância transformam-
se em um eldorado para pais ambiciosos e em cefaleia para crianças
sobrecarregadas. Nesse caso, muitas vezes não é o uso precoce de drogas, e sim
a pressão semelhante às drogas e exercida de todos os lados que leva às dores. A
pequena e graciosa ginasta ou a princesa da patinação no gelo quer vencer por
vontade própria ou tem de alcançar a vitória para a mãe e o pai. Se não
conseguir, a pressão aumentará; se conseguir, o sucesso poderá subir-lhe à
cabeça.
Muitas vezes, em condições sociais piores, a pressão pelo desempenho por
parte dos pais, da escola, da igreja ou de instituições estatais é ainda maior.
Segundo o lema “cada vez mais do mesmo”, cursos intensivos extras são
oferecidos para aumentar as chances individuais e contornar a miséria coletiva.
Justamente nessas situações podem se desenvolver com mais facilidade tensões
com os professores e outros alunos que podem chegar ao mobbing. Continuar
quebrando a cabeça não trará nenhuma solução; ao contrário, exercerá uma
pressão ainda maior sobre o centro de interesse.
Situações em que a pressão é alta ou excessiva resultam de uma ênfase do
polo masculino e superior já nos pequenos “trabalhadores intelectuais”, que
muito cedo “não podem mais ter cabeça de criança”. Com toda essa cefaleia
resultante do excesso de pressão, a tarefa estaria em aprender a con ar nos
primeiros impulsos e trabalhar no nível do coração, do ventre ou dos músculos
aquilo que não cabe ao nível da cabeça. Uma disposição mais favorável ao
corpo e um campo correspondente seriam muito úteis nesse sentido. De resto,
trata-se de encontrar soluções em vez de sempre quebrar a cabeça.
Especialmente importante é transmitir à criança a consciência de que ela nos
dá alegria quando consegue alguma coisa, mas que sempre iremos amá-la,
independentemente de como ela se comportar ou de ser bem-sucedida ou não
em determinado momento.
Se a criança já tiver condições, seria bom fazer com que ela se
conscientizasse da própria superestima e sentisse a pressão sob a qual se
encontra. “Coroa não é remédio para a dor de cabeça.” Quando os jovens
aprendem a encarar o ego em seus limites e desejos restritos e reconhecem que
o pensamento “cada vez mais do mesmo” não traz boas soluções, podem
poupar-se de muitas visitas a becos sem saída. Nesse caso, a cefaleia pode
ajudar e fornecer as primeiras indicações.
Se as crianças aprendessem a estimar seu eu em vez de cultivarem a
superestima de si mesmas no sentido de enfatizarem o ego, poderiam evitar a
unilateralidade da vida moderna introduzindo precocemente o polo feminino
em sua existência. Quem se liberta espontaneamente da pobreza de espírito do
“eu quero”, da ambição, da teimosia e da obstinação, poupa-se da sensação de
limitação na testa e na cabeça. Inicialmente, limitação produz medo e, com o
tempo, também dores (de cabeça). O melhor seria concentrar-se a tempo em
suas raízes na forma dos pés, mas também de todo o corpo, a m de aliviar a
cabeça. Quem desenvolve fantasias e pensamentos leves de brincadeira e dá os
primeiros passos corajosos em novos relatos, tomando decisões ao
desembainhar, em sentido gurado, a espada (sua língua) e impor-se com sua
fala e seus argumentos, consegue aliviar a cabeça e liberar as tensões.
Quando a própria agressividade predomina no pensamento e na fala e há
estratégias de imposição disponíveis, o polo contrário também pode ajudar sob
a forma de uma atitude solta e espontânea, que permite fazer as coisas
conscientemente com facilidade e, do mesmo modo, obter soluções intuitivas.
Nesse caso, um jovem que tenha se desfeito de um pesado lastro de vontade
também pode caminhar com as próprias pernas e de cabeça erguida.
Assim, já nos primeiros anos de vida, é possível obter uma harmonia
agradável entre as exigências da cabeça, do coração e do ventre, que permitisse
uma a rmação em cenários não intelectuais, a m de que o indivíduo pudesse
avançar na vida com a mente livre.
6.1.2 O local do acontecimento (da dor)

Há ainda que se mencionar algumas diferenças quanto à localização das dores


de cabeça, das quais resultam campos especí cos de tarefas: a típica dor frontal,
que parte do lobo frontal do cérebro, no qual se aloja nosso raciocínio, leva-nos
a confrontar a vida real, a fazer frente aos problemas e nos posicionarmos
diante deles, a não apenas “re etir” e viver mentalmente. Isso se mostra
especialmente quando a dor piora com a re exão e o estudo. A testa enrugada
de uma pessoa obstinada revela a tensão e o esforço de uma atitude que, a
longo prazo, irá provocar sofrimento. Se a dor melhorar com a re exão, isso
indica que se deve re etir novamente e ir a fundo nas coisas. Desse modo, a
testa se torna a tela para o tipo de pensamento.
Quando a dor ocorre nas duas têmporas, a cabeça se sente como se estivesse
em um torno. As pessoas afetadas sentem-se literalmente no aperto, muitas
vezes não sabem o que fazer, pois não conseguem ir para a frente nem para trás
e perdem totalmente a esperança. Nesse caso, o melhor a fazer é procurar não
se mexer e esperar, em vez de combater a dor.
Cefaleias latejantes indicam que a vida real está batendo à porta, lembrando
um con ito e uma luta a ser travada, que deveria corresponder ao ritmo do
próprio coração.
Dores occipitais partem daquela área do cérebro, o chamado cerebelo, que
se ocupa do equilíbrio na vida. Quem “tem alguma coisa em mente” ou cultiva
segundas intenções irá registrá-las para jogar na cara de alguém mais tarde.
Problemas que não foram resolvidos e contas em aberto, que devem ser
quitadas, podem gerar atenção. Portanto, é aconselhável dar espaço e
reconhecimento para questões mal resolvidas e ir buscar as coisas no fundo da
consciência.
A dor no centro do crânio indica que a pressão vem de cima. Pessoas
acometidas por essa dor sentem-se oprimidas e sempre prontas para “receber
um duro golpe”. Nesse tipo de situação, já não se espera nenhuma inspiração
vinda de cima; ao contrário, as pessoas afetadas por essa dor geralmente cam
bloqueadas para cima e não querem deixar que nada entre. A tarefa seria
deixar-se in uenciar conscientemente pelo que vem de cima, aceitar
abertamente inspirações superiores e até enfatizá-las na própria vida.
Ao contrário das situações descritas até agora, todas desencadeadas por alta
pressão, uma circulação sanguínea de ciente e situações de baixa pressão
também podem predispor à dor de cabeça. A sensação de “ser tapado” é um
exemplo disso e leva a um raciocínio vago e a uma visão de ciente.
Geralmente, os jovens acometidos tendem a se enganar, conforme indica a
tontura comumente associada a esse distúrbio. Ainda não têm o controle da
situação, fato que pode ser causado por um crescimento acelerado e pela
insegurança física e psíquica que o acompanha.
A pressão psíquica também pode desencadear dor de cabeça, por exemplo,
quando a preocupação estressante pesa sobre as crianças ou quando elas temem
pela própria família. Aparentemente, a solução estaria em controlar a
preocupação e em poder “deitar a cabeça no ombro de alguém”. “Chorar como
um bezerro desmamado” e a própria dor de cabeça são sempre melhores do que
“estourar os próprios miolos”.
No entanto, dores de cabeça também podem ser sinal de anemia. O
oxigênio não chega em quantidade su ciente ao cérebro, tal como quando nos
levantamos muito rapidamente. Contudo, nesse caso, a razão estaria no sangue
“muito no”. A seiva vital não contém portadores su cientes de energia. Seria
útil aqui não exigir demais de si mesmo e, em muitas ocasiões, colocar os pés
para cima. Especialmente à noite, isso proporciona uma espécie de transfusão
de sangue, que melhora sensivelmente o sono e aumenta o abastecimento de
energia da central. Falta de sono e, de maneira geral, uma regeneração e um
reconhecimento de citários do polo feminino da realidade podem terminar em
cefaleia.
Pouca ingestão de líquido leva à falta do elemento anímico água e, por
conseguinte, à incapacidade do corpo de liberar-se das substâncias não
absorvidas e das toxinas. Bebidas indevidas, como aquelas com altas doses de
água açucarada em forma de horríveis refrigerantes podem agravar o problema.
Essas dores de cabeça seguem o mesmo caminho daquelas nos primeiros dias
de jejum. Para uma desintoxicação, o organismo precisa de muita água como
solvente.
Nesse sentido, uma alimentação inadequada, com alimentos desnaturados,
também contribui para o surgimento de cefaleia. Assim, por um lado,
sobrevêm substâncias nocivas e toxinas; por outro, o organismo recebe poucas
vitaminas e poucos minerais importantes para poder criar uma base saudável
para a vida.
Quando se fala em inundação por ondas em ambientes contaminados por
redes de internet sem o, trata-se de outro tipo de cefaleia por desintoxicação.
A essas ondas, muitos adultos, especialmente as mulheres, reagem com
distúrbios do sono e dores de cabeça. Em geral, crianças e jovens são
igualmente sensíveis. Assim, o excesso de estímulos através do barulho, da luz,
dos meios de comunicação de massa, do computador, da televisão, do cinema,
do celular e da “agenda das crianças” também contribui para o problema da
cefaleia crescente. Por um lado, a base da existência se enfraquece; por outro,
esses estímulos também agem como um excesso de exigências.
Nos jovens, as dores de cabeça também surgem devido a distúrbios não
corrigidos da visão, muitas vezes como um primeiro sinal da necessidade do
uso de óculos. Quem já não consegue reconhecer o mundo claramente pode e
tenta resolver o dilema da visão imprecisa concentrando-se com mais
obstinação, exercendo uma pressão sobre si mesmo e, não raro, sentindo os
efeitos com uma revolta em sua central. Problemas nas costas e defeitos de
postura também podem causar cefaleia e sempre devem ser esclarecidos.
Um nariz cronicamente entupido e, por conseguinte, cheio de muco, com
uma constipação psíquica em segundo plano, pode associar-se sicamente a
uma sinusite crônica, deixando a cabeça “pesada”. As cavidades da face devem
estar sempre desobstruídas, para que a cabeça possa se sentir, por um lado, livre
e, por outro, leve. Se estiverem repletas de líquido, a cefaleia se instalará.
Nos alérgicos, muitas vezes as dores de cabeça são desencadeadas pelos
respectivos alimentos que o corpo rejeita. Sensibilidade à histamina, ou seja, a
substância que, com muitas outras, provoca o prurido nas alergias, também é
capaz de sitiar a cabeça com dores. A maior parte das dicas alopáticas tem por
objetivo eliminar rapidamente a dor de cabeça provocada pela tensão. Do
ponto de vista homeopático, também é importante pensar que essas energias de
tensão querem e devem se descarregar, bem como lutar para resolver o
problema de base.
 
Perguntas para os pais:
► Como nosso lho pode assimilar melhor e de maneira mais relaxada as
impressões intelectuais?
► O que lhe acontece quando ele quebra a cabeça?
► O que não tem solução para ele? Como ele pode lidar construtivamente
com seus problemas?
► Quando ele se sente sob pressão?
► Em que situações ele teima com alguma coisa? Como posso ajudá-lo a
julgar quando ele deve se impor ou quando é melhor ceder?
► Como está nossa própria autoa rmação?
 
Medidas de apoio:
► Postura relaxada: muitas vezes, as crianças desenvolvem, de maneira
totalmente intuitiva, uma postura adequada ao relaxamento quando estão
sentadas ou deitadas, exercendo leve pressão com as mãos nos respectivos
locais doloridos da cabeça. Se não o zerem por si mesmas, podem ser
incentivadas a fazê-lo.
► Água fria: comprovou-se e caz segurar um cano de água fria com água
corrente, imaginando que a dor passe para a água.
► Exercícios de relaxamento: a dor de cabeça resultante de tensão desaparece
rapidamente com o relaxamento. Nesse sentido, consideram-se todas as
técnicas de relaxamento que forem adequadas às crianças.
► Fitoterapia: o solidéu (Scutellaria lateri ora) tem efeito relaxante e
antiespasmódico, além de fortalecer o sistema nervoso central. É
recomendável misturá-lo à melissa. A betônica (Stachys officinalis) tem
efeito calmante em situações de medo e preocupação, além de estimular a
circulação no cérebro. É possível misturá-la a outros tranquilizantes,
como a lavanda, a erva-de-são-joão e a verbena.

6.2 Enxaqueca

“Tenho de ser perfeito.”


 
A enxaqueca sempre foi um sintoma de adultos; porém, como muitas outras
dores, agora irrompe cada vez mais cedo na vida. Como muitos colegas, o
médico homeopata Friedrich Graf acha que a razão é gerada por nós mesmos, e
diz: “As anamneses de pacientes jovens que sofrem de dor de cabeça sempre
mostram o início de uma autêntica enxaqueca após revacinações no início da
puberdade”. Em grande parte, o problema das vacinações reside na supressão
de impulsos vitais.
Muitas vezes, crianças com enxaqueca estão submetidas a uma exigência
manifestamente alta em relação si próprias e, por essa razão, têm uma imagem
perfeccionista de si mesmas. Com frequência, as exigências dos pais também
vão de altas a muito altas. Quando não há uma transformação das próprias
exigências ou das alheias, pode surgir o medo de errar, que faz com que as
crianças se torturem em grande medida para cumpri-las.
A enxaqueca também parece surgir com mais frequência em crianças que
não se sentem amadas ou que obedecem ao lema “(só) serei amado se trouxer
notas boas para casa”. De fato, “amor (apenas) em troca de desempenho”
parece ser um conceito que adoece.
Nas pessoas acometidas, também se nota uma grande sensibilidade em
relação aos estímulos externos. Luz, barulho, contato e toda forma de (excesso
de) estímulos são pouco tolerados. A criança se fecha totalmente e procede
segundo o lema “não me toque”. A cabeça, que abriga todos os sentidos, é
sensorialmente vedada – a criança não quer ver, ouvir, cheirar nem sentir o
gosto de nada. O apetite desaparece, os odores provocam náusea, sentir e ser
tocado são tabus. As aberturas do corpo são vedadas como se fossem anteparas.
O enjoo e o vômito mostram que a pessoa acometida está “insuportável”. Nada
consegue digerir nem ingerir; ao contrário, tudo faz força para sair.
O distúrbio de visão conhecido como escotoma cintilante (ponto cego), que
costuma acompanhar a enxaqueca e com o qual se anunciavam as enxaquecas
desenfreadas, ou melhor, as visões de Hildegard von Bingen, indica que a
pessoa acometida já não consegue enxergar nem controlar sua vida normal
nesse momento. A visão exterior lhe é tirada, e a atenção é desviada para uma
luz interior imaginária. De fato, veem uma luz, mas no plano errado. A luz do
conhecimento seria tarefa de uma luz interior, que ilumina a vida e poderia
desencadear sensações totalmente diferentes, ou seja, sensações extáticas,
segundo o lema: “Quando já não se consegue enxergar, sentir não é nenhuma
vergonha”. A enxaqueca, que nos adultos costuma imitar um orgasmo, só que
no plano inábil da cabeça, dirigiria a atenção para dentro, razão pela qual todos
os estímulos externos precisam ser evitados e o corpo entra em imobilismo.
Assim, assimila o alívio e a regeneração de que precisa. Na infância ou, em
todo caso, na puberdade, a enxaqueca seria uma indicação dramática para que
se integrem aspectos extáticos e prazerosos à vida e se dê menos importância ao
tema do desempenho.
 
Perguntas para os pais:
► Como nosso lho pode aprender a con ar em voos do pensamento ou da
imaginação?
► Como integrar à vida sentimentos e experiências extáticos?
 
Medidas de apoio:
► Evitar ou, pelo menos, reduzir o excesso de estímulo, a pressão pelo
desempenho e a alimentação errada.
► Chás que promovem o metabolismo do ferro: rosa-canina, urtiga.
► Tomar bastante líquido.
► Usar fontes externas de calor ou frio, dependendo das necessidades da
criança.
► Fazer com que a criança durma o su ciente.
► Fazer com que a criança se movimente o su ciente ao ar fresco.
► Fitoterapia: aos primeiros sintomas, massagear as têmporas com óleo de
lavanda (dez gotas de óleo de lavanda com 25 mililitros de óleo neutro).
7 Doenças oculares e distúrbios da

visão

7.1 Conjuntivite

“Já não consigo abrir os olhos!”


 
A conjuntivite é comum em crianças, o que não nos surpreende, pois, até
1986, a vida sempre começava com uma conjuntivite prescrita por lei que, com
o nome de “pro laxia de Credé”, era um direito civil de todo novo cidadão
alemão. Para evitar uma infecção dos olhos da criança ao passar pela vagina,
caso a mãe sofresse de gonorreia, por lei os olhos do recém-nascido eram
corroídos com uma solução contendo de 1 a 2% de nitrato de prata. O nitrato
de prata é a pedra-infernal. Nos olhos, esse medicamento realmente arde como
o inferno. Como tudo já se encontra no início, segundo a concepção da
loso a hermética, com essa primeira conjuntivite programada se criou um
campo para esse quadro clínico. Seja como for, todos aqueles que, no momento
da impressão deste livro, tinham mais de 23 anos iniciaram sua vida com um
con ito pela visão de mundo, ou seja, com uma conjuntivite.
A saudação infernal neste mundo por meio do batismo com o nitrato de
prata chega a ser (mito)lógica; a nal, Cristo designa o diabo como o senhor
deste mundo. Com “sua substância”, as crianças são recebidas sentindo dores.
O que originariamente parecia fazer sentido, do ponto de vista médico já era
irrelevante há muito tempo. Com gotas de antibiótico, teria sido possível obter
o mesmo efeito sem dor. Um teste prévio de gonorreia na mãe, e todo esse
teatro teria sido banido do mundo.
Entretanto, os médicos acadêmicos preferiam partir do princípio de que os
recém-nascidos não têm muita sensibilidade. Seria porque eles próprios não
têm sensibilidade? Hoje, continuam partindo do princípio de que o feto no
ventre materno nada sente, ainda que ginecologistas ingleses tenham exigido há
duas décadas a anestesia para embriões antes do aborto. Porém, mesmo
seguindo esse tipo de conhecimento, não se poderia simplesmente continuar a
proceder como até agora, sem nenhuma crítica. Por isso, até hoje e enquanto
for possível, essas vozes serão reprimidas. Esta é uma das principais razões pelas
quais os médicos acadêmicos se queixam tanto da migração em massa de
pacientes para os chamados charlatães sem estudo que, no entanto, costumam
dispor de mais sensibilidade, compreensão e tempo.
A maioria das crianças reagia de modo espontâneo e assustado, fechando as
pálpebras para as boas-vindas “infernais” e, posteriormente, sofrendo uma
in amação nos olhos e nas pálpebras. Primeiro, devido à dor infernal, perdiam
a vontade de ver este mundo; em seguida, surgia um con ito para reabrir os
olhos.
Tanto na primeira quanto em todas as conjuntivites subsequentes, os
sintomas são marcados por ardência nos olhos, lacrimejamento e vermelhidão
visível no branco dos olhos. Com frequência, as pálpebras também incham e se
grudam devido à formação de pus, de maneira que, às vezes, crianças pequenas
não conseguem abri-las.
Do ponto de vista simbólico, os olhos grudados e sensíveis à luz têm um
signi cado extremamente claro. De fato, como espelhos e janelas da alma,
responsáveis pela visão e pela compreensão, na conjuntivite são completamente
privados de sua tarefa. As pessoas acometidas já não querem ver nem olhar.
Fecham os olhos para o mundo e retiram-se atrás de suas persianas. A
sensibilidade à luz indica que não querem ver a claridade nem deixá-la entrar.
Assim, limitam-se à escuridão em seu interior, atrás de cortinas que cobrem as
janelas da alma. Os olhos já não irradiam nada nem querem permitir que a
alma seja vista. Simplesmente se fecham e interrompem a comunicação em
ambas as direções. “Fechado por con ito!”
Nessa circunstância, também é possível reconhecer logo a tarefa de vedar-se
para o que vem de fora e dedicar-se aos próprios interesses, ou seja, àquela área
que, quando adultos, chamamos de “sombras”. Nas crianças, trata-se, antes, de
preocupações e medos ocultos.
Tive uma luz a respeito dessa doença depois de observar, em um seminário,
nove dentre oitenta participantes desenvolverem conjuntivite ao mesmo
tempo. A razão não foi a contaminação através do agente patogênico. As
pessoas acometidas se fechavam inconscientemente para o tema a ser tratado,
oferecendo, assim, um solo fértil para a doença e para seus agentes patogênicos.
Trata-se de um con ito altamente infeccioso, que afeta a visão e o modo de
lidar com o mundo; um con ito também entre olhar e desviar o olhar. Quem
costuma fechar os olhos para discussões e, assim, não encarar o con ito, e
busca sua salvação (ou desgraça) bancando o avestruz e en ando a cabeça na
areia precisa contar com o fato de que o organismo, versado em honestidade,
escolhe representar o problema através de uma conjuntivite.
Nos adultos e, às vezes, também nas crianças, a conjuntivite costuma
incorporar uma tensão tão inconfessada quanto insuportável entre as próprias
opiniões e a visão de mundo alheia; uma tensão que se in ama nos olhos e ca
claramente escrita no rosto de quem por ela é acometido. Nas crianças, muitas
vezes essa circunstância ainda esconde pouca con ança na visão própria das
coisas.
Con itos sobre a visão de mundo logo se espalham, ou melhor, são
facilmente contagiosos. As crianças não podem ir ao jardim de infância devido
ao risco de contaminação. A medicina acadêmica emprega antibióticos, a m
de ajudar o organismo em seus esforços de guerra.
A tarefa que “salta aos olhos” é a de fazer com que os olhos exteriores
repousem, sejam poupados e não quem simplesmente olhando tudo que há
para ser visto no mundo. Enquanto isso, deve-se abrir mais os olhos interiores,
tornando-os mais corajosos e até aptos ao con ito. Nesse período em que as
janelas exteriores da alma permanecem fechadas, os sentidos também podem
aguçar-se.
Em sentido gurado, trata-se de revelar com coragem as estratégias infantis
e até pueris segundo o lema “se não o vejo, você não me vê” ou justamente o
“comportamento do avestruz”, contemplá-las e, por m, praticar uma
observação corajosa e uma confrontação incisiva. Uma vez que, como pais,
temos poucas possibilidades de ensinar a crianças pequenas esse
posicionamento e essa disposição ao confronto de maneira pedagógica, resta,
sobretudo, a opção de nós mesmos encararmos os fatos com coragem, o que
nunca faz mal e acaba transmitindo nossa ação por ressonância às crianças.
Quem olha de frente para a vida interior da própria alma com seus con itos
ardentes e nela toma conhecimento dos próprios padrões evita a conjuntivite.
Contudo, ao fazer isso, terá de encontrar tanto seus lados iluminados quanto
aqueles sombrios, o que também é difícil para as crianças. É preciso ter uma
coragem especial para lutar contra o hábito de desviar o olhar ou não ver, até
de maneira consciente, e, em vez disso, posicionar-se ofensivamente perante as
imagens e os con itos.
 
Perguntas para os pais:
► O que nosso lho já não quer ver? O que ele não consegue discernir?
► Podemos ajudá-lo a lidar de modo consciente com os con itos?
► Neste momento, qual o nosso problema?
► O que nosso lho está querendo esconder de nós e do mundo? Devemos
respeitar esse segredo ou observá-lo para ajudar?
► Diante de qual con ito (não vivido) ele fecha os olhos?
 
Medidas de apoio:
► Proteção contra estímulos externos, como luz, sol, frio, ar empoeirado,
corrente de ar, computador e televisão.
► Escurecer os cômodos.
► Fazer usar óculos escuros.
► Melhor ler ou contar histórias do que deixar ver televisão.
► Tratamento homeopático (uso externo): colírio Euphrasia, da Wala: pingar
uma gota, de uma a duas vezes ao dia, no saco conjuntival superior e
inferior; se necessário, aumentar a frequência para três a cinco vezes ao
dia.
► Fitoterapia (uso externo): deixar esfriar dois saquinhos de chá-preto depois
da infusão e colocá-los sobre os olhos fechados por 15 minutos.
Para lactentes: usar o efeito antisséptico do leite materno pingando-o com
um conta-gotas comprado em farmácia no olho afetado.
► Uso interno: chá de eufrásia (Herba Euphrasia): verter uma xícara de água
quente em meia colher (de chá) desse chá, deixar em infusão por dez
minutos, coar e fazer beber três xícaras ao longo do dia.

7.2 Terçol

“Não consigo enxergar direito.”


 
A primeira sensação é apenas a de ter areia nos olhos, um grão de areia que
incomoda e é desagradável – quase como o grão de areia no molusco que, com
dor, gera uma pérola. O grão de areia é algo que não pertence àquele lugar,
coloca a pessoa acometida sob pressão, provoca-a, tende a deslocar sua visão e a
estimular um con ito in amado, que força uma explosão para fora. O que isso
exprime? A nal, todo movimento ocular causa dor e evidencia um con ito
pelo olhar e não olhar. Sem nenhuma dúvida, uma questão relativa à alma
enrijeceu-se ao redor dos olhos. Estes representam, ao mesmo tempo, o espelho
e a janela da alma e, naturalmente, também remetem à perspectiva, ao
discernimento e à introspecção. A in amação na borda da pálpebra leva a um
enrijecimento isolado, que inicialmente cresce até formar o terçol e passa a ser
sentido como enrijecimento e corpo estranho na totalidade da região branca do
olho. Por trás do grão esconde-se o germe de um con ito junto ao portão de
entrada e saída da alma. Além disso, o olho também é parte do cérebro, a única
parte que conseguimos ver. Nesse sentido, o terçol desloca o olhar para dentro
da alma e do cérebro como central de nosso modo de agir. Ele mostra um
con ito de mediação entre a alma e a central, por um lado, e o mundo exterior,
por outro. As pessoas acometidas não querem ser vistas em sua alma nem em
sua central. Quando o terçol se desenvolve, logo todo o olho ca irritado.
Entretanto, o con ito tem claramente seu ponto central e de partida no
enrijecimento, o chamado grão.
Somente a imobilidade do olho traz algum alívio. De preferência, a criança
deve manter o olho fechado. Por conseguinte, a tarefa reside na introspecção.
Especialmente de manhã cedo isso se torna evidente quando ela sente
di culdade para abrir o olho, pois as pálpebras estão realmente grudadas.
Portanto, algo nas pessoas acometidas não quer abrir os olhos, mas continuar a
dormir e sonhar.
Essas pessoas colam as pálpebras de um olho para não ver nem ter de
enxergar em ocasiões que as colocam em situações de con ito. Por outro lado,
às vezes também se trata de desviar o olhar e não reparar em coisas que não
interessam, ou seja, trata-se de “fechar um olho” para algo. Com frequência,
isso se refere a crianças que são muito curiosas e metem o nariz em tudo,
mesmo em questões alheias que (ainda) não lhes fazem bem.
Por outro lado, a in amação indica que, no fundo, também se trata de se
inquietar e ousar o con ito, a m de usar o “olho ardente” em interesse
próprio. Os pequenos con itos na borda da pálpebra, à margem da área de
percepção, reproduzem o acontecimento psíquico com muita precisão e
revelam certa agressividade no olhar, que às vezes causa o efeito quase de um
olhar malvado.
A região bastante delimitada da in amação aponta para uma “mancha cega”
bem de nida, que antes não era notada, uma barreira, que a criança não
abrange com o olhar. Mas o terçol também poderia representar um con ito
enclausurado que ameaça explodir. Por conseguinte, o inchaço das in amações
seria uma forti cação que tira algo do olhar. Nesse caso, seria conveniente que
o medicamento homeopático Staphisagria, muitas vezes útil, fosse usado como
uma espécie de “armamento” que auxilia nas agressões reprimidas atrás da
muralha.
No nível corporal, o con ito encontra alívio quando o grão, o nó ou o
germe do con ito irrompe e o pus, ou melhor, a sucata de guerra pode ser
descarregada para fora. Obviamente, essas descargas em sentido gurado
também se dariam no sentido da solução psíquica.
A pálpebra superior representa simbolicamente o fecho do olho, e a inferior
torna o con ito bastante visível. O olho esquerdo evidencia o polo feminino e
a visão feminina de mundo; o direito, o masculino. Assim, por exemplo, temas
relacionados às imagens anímicas encontram expressão no olho esquerdo, e
aqueles ligados à razão, mais no olho direito.
A Staphisagria, medicamento homeopático mais importante para esse
sintoma, pode contribuir para compreendermos a situação fundamental de
aspectos subsequentes. É indicada para crianças que abrem precocemente os
olhos e captam temas que ainda não são adequados para sua idade. Muitas
vezes, trata-se de crianças morti cadas e humilhadas, que tiveram de passar por
experiências horríveis e até por abusos nas mais diversas formas, a m de
preservar a harmonia em família ou apaziguar con itos. Tendem a emudecer e
a aprisionar agressividade dentro de si. Essa agressividade vem isoladamente à
tona por intermédio do terçol, lembrando o germe do con ito que
sobrecarrega a alma da criança. Com frequência, o terçol mostra que agora o
“ponto crucial” foi alcançado e a criança precisa de uma conversa “de adulto”, a
m de ampliar sua visão de mundo. Quem põe de lado suas próprias
necessidades pelo bem comum reprime facilmente con itos, que, mais tarde,
recrudescem como pequenas guerras circunscritas quando se trata da visão de
mundo da criança. Apenas isoladamente a criança consegue ousar expressar as
questões reprimidas; já o todo, ela nunca consegue questionar.
 
Perguntas para os pais:
► O que nosso lho já não consegue ou já não quer ver?
► A partir de agora, o que ele consegue ver de modo diferente? Ele precisa
de nossa ajuda para isso ou apenas de tempo para si mesmo?
► A que ele fecha os olhos?
► Como podemos instruí-lo a respeito da dura realidade de uma maneira
adequada e sensível para crianças?
► Existem con itos não manifestados que o ocupam?
► Quais preocupações ele não consegue expressar?
► Como podemos apoiá-lo para expressar de outra maneira os con itos ou
as preocupações de sua alma?
 
Medidas de apoio:
► Exposição à luz vermelha: algumas crianças gostam do calor da luz
vermelha, o que provoca o amadurecimento do terçol e, possivelmente, a
diminuição do inchaço, proporcionando alívio. Sente ou deite seu lho
com os olhos fechados a uma distância de cinquenta centímetros de uma
lâmpada de luz vermelha, três vezes ao dia por 15 minutos. O mais
adequado é segurá-lo no colo e conversar com ele ou ler alguma coisa
para ele durante a aplicação da luz. Além disso, o calor dos pais auxilia no
processo de cura.
► Compressas nos olhos com eufrásia: faça infusão com um saquinho ou meia
colher de chá de eufrásia (comprado em farmácias ou em lojas de
produtos naturais) em água fervente por cinco a sete minutos. Em
seguida, embeba um lenço macio de pano ou uma gaze com a infusão e
torça-o. Coloque-o se possível quente sobre o olho afetado e xe-o com
uma faixa, um lenço ou um tapa-olho. Se seu lho achar essa medida
desagradável porque não consegue enxergar com um olho, sugiro que
você relacione esse tratamento a uma “brincadeira de pirata”, o que
geralmente faz com que o tapa-olho seja tolerado pelo tempo necessário.
Esfriada a compressa, troque por outra quente ou deixe o olho sem nada.
Se a criança sentir alívio, você pode repetir o tratamento três vezes ao dia.
► Anel de ouro: um recurso oriundo da crença popular e preservado de
vários modos é passar um anel de ouro de quilate elevado no terçol. Antes
disso, a criança deve lambê-lo e passá-lo ela própria no terçol. Contudo,
isso ajuda apenas no começo. Se o terçol já estiver bem formado, será
tarde demais “para essa magia”. As crianças também gostam do ritual
porque excepcionalmente podem usar a aliança valiosa da mãe ou do pai.
Esses métodos não apenas parecem, mas são superstição; contudo,
costumam funcionar bem. Pelo menos, os especialistas em princípios
primitivos notam que o valioso, o nobre é unido ao que é sujo, escuro e
doente. Tanto o reino da terra, as pedras preciosas e os metais quanto as
verrugas do reino das bruxas e os segredos obscuros por trás do terçol
pertencem ao arquétipo de Plutão.
► Tratamento homeopático: a Staphisagria C30 é o medicamento mais e caz.
A criança sente dores como se tivesse algo duro embaixo da pálpebra
(geralmente na superior esquerda). Tocar o local é insuportável; o terçol
não supura e não irrompe direito. O agente desencadeador é uma briga
ou uma preocupação reprimida. A criança ca taciturna e internamente
irritada. Mostra-se muito sensível a críticas e a conversas.
Hepar sulfuris C30: a in amação já está avançada, e o terçol começa a
supurar. As crianças cam muito sensíveis à luz e a correntes de ar.
Importante! Em caso de terçol reincidente, é aconselhável um tratamento
homeopático constitucional com um homeopata experiente.

7.3 Estenose do canal lacrimal

“Sou uma única lágrima.” – “Tenho sempre vontade de chorar.”


 
Um estreitamento (em grego: sténosis) do canal lacrimal impede o escoamento
do líquido lacrimal, fazendo com que as crianças pareçam estar sempre
chorando. Os olhos sempre banhados em lágrimas como que transbordam.
Nesses olhos, ou melhor, nesses rostos, o princípio da Lua festeja triunfos
irremissíveis. Os sintomas surgem apenas em recém-nascidos e crianças
pequenas, na maioria das vezes desaparecem com o crescimento e raramente
levam à necessidade de perfurar o canal lacrimal.
Em todo caso, com esses sintomas, um período que já costuma ser de
muitas lágrimas acaba por produzi-las ainda mais. As janelas da alma são
limpas constantemente; as crianças enxergam como que através de um véu e
parecem estar sempre chorando. Seja como for, desse modo mobilizam a
compaixão de seus pais e do restante do mundo. Não têm uma visão clara
deles; ao contrário, veem tudo velado, como se estivessem embaixo d’água.
Nesse sentido, torna-se evidente certa necessidade de regressão. Por um
período, a visão de mundo da perspectiva do ventre materno é mantida. Do
ponto de vista óptico, as crianças como que se refugiam no mundo interior das
últimas dez luas, com o qual estão familiarizadas. Do ponto de vista
mitológico, é de supor que, para elas, o mundo exterior ainda esteja escondido
atrás do véu de Ísis.
Será que ainda não querem se abrir direito para o mundo exterior? Deve seu
olhar permanecer ainda velado e encantado até elas estarem maduras o
su ciente para rejeitar o efeito de difusão e olharem de frente para a realidade
dura e de contornos precisos? Deve o efeito do esquema de aspectos infantis,
que se intensi ca dessa forma, fazer com que elas recebam a compaixão de que
precisam nesse início de vida?
No estreitamento do canal lacrimal – como em qualquer estreitamento –
também se torna evidente certo medo de encarar a dura realidade do mundo,
que é um vale de lágrimas. O olhar que irradia brandura e sentimento, como se
tivesse sido colocado debaixo d’água, ainda não quer enxergar tudo de maneira
tão realista nem com tanta clareza e conquistar a última perspectiva.
A tarefa dos pais deveria ser a de preservar a tranquilidade e permitir que seu
bebê extravase seus sentimentos. Com seus olhos cheios d’água, eles se
transformam duplamente em espelho para os pais. Será que estes deveriam
demonstrar mais sentimento para com a criança e entre si, além de darem mais
vazão às próprias lágrimas? Em todo caso, devem munir-se de paciência, a m
de poupar as crianças da perfuração precoce do canal lacrimal, apostar em
alternativas como a homeopatia clássica e simplesmente dar-lhes mais tempo
no mundo aquático do início da vida.
 
Perguntas para os pais:
► Por que nosso lho está chorando?
► Como podemos intermediar um contato mais intenso de nosso lho com
seus sentimentos?
► Quando e como podemos ajudá-lo a entrar em um contato mais
familiarizado com a realidade?
►Que tipo de situação ele não quer encarar?
► Somos capazes de demonstrar nossos próprios sentimentos e dar livre
curso a eles?
 
Medidas de apoio:
► Tratamento homeopático: um medicamento e caz é a Silicea C30, dois
glóbulos uma vez ao dia.

7.4 Estrabismo

“Não quero olhar os fatos nos olhos.”


 
Com o estrabismo abordam-se temas como “visão” e “compreensão”. Como
nossos olhos também são espelhos e janelas da alma, esse sintoma nos atinge
com muito mais profundidade do que se supõe à primeira vista. De fato, os
estrábicos não conseguem olhar para ninguém diretamente. Expressões como
“não ter visão das coisas” ou “ter de olhar duas vezes” mostram como é decisivo
ter uma visão clara nos dois olhos. Os estrábicos não conseguem ver nada “à
primeira vista”. Muito mais do que os outros, eles precisam calcular tudo com a
ajuda de seu cérebro para assim conseguirem adquirir certa visão geral das
coisas.
O momento em que ambos os olhos “se direcionam”, ou seja, se colocam
em determinada direção e se ajustam a essa perspectiva, reside na primeira
infância. Nesse período, traumas psíquicos podem limitar ou, pelo menos,
perturbar o “ajuste” a um objetivo e, com ele, a orientação na direção de um
modo de ver claramente tridimensional. Esses olhos cam “desorientados” e
desajustados, e a visão, discrepante. Mais tarde, quando esse tema for tratado, a
criança precisa posicionar-se frente ao trauma de base e olhá-lo com a máxima
precisão, a m de encontrar uma visão adequada.
Provavelmente, não conseguir olhar ninguém nos olhos está relacionado ao
fato de que as pessoas acometidas de estrabismo têm medo de terem sua alma
reconhecida (internamente) e serem punidas por alguma coisa. Nesse sentido,
com esse sintoma, tentam desviar-se dos erros e da consciência pesada. Entre
elas também há muitos daqueles que encontram pretextos e que têm medo de
que suas desculpas e mentiras venham à tona. Suspeita-se que, em sua
educação, os padrões de duplo vínculo foram e cazes, ou seja, aqueles duplos
vínculos que não deixaram às crianças nenhuma oportunidade de decidir
direito; portanto, situações em que tudo só podia dar errado para elas. Por
conseguinte, essas situações não lhes permitiram estabelecer pontos de vista
xos. O olhar que é arrebatado para direções diferentes e que não consegue se
xar em nada é o que lhes dá expressão.
Por m, revela-se no estrabismo certa busca insatisfeita, pois
constantemente um olho se volta para algo ausente, que está isolado ou
faltando.
Fisiologicamente, o estrabismo é um circuito de proteção no cérebro em
virtude da ametropia, ou melhor, da incapacidade de coordenar os dois lados
da realidade. Ele conduz à visão monocular funcional, pois as imagens do olho
desviante são reprimidas. Precisamos dos dois olhos para ver em perspectiva;
somente com imagens a partir de dois ângulos de visão diferentes é que se
produz a ideia de espaço. Os dois olhos um pouco separados um do outro
asseguram essa informação, e o córtex visual no cérebro calcula a partir das
imagens das duas câmeras oculares uma única imagem plástica, que permite
perceber o espaço.
No estrabismo, o cérebro rejeita as informações de um dos olhos devido ao
seu problema, o que faz com que a visão perca a terceira dimensão e a segunda
se torne plana. Assim, perdem-se também a profundidade e, naturalmente, a
profundidade de campo. Portanto, os estrábicos veem um mundo plano, sem
relevo, e já não conseguem avaliar nenhuma distância. Por assim dizer,
resvalam em uma regressão, pois o mundo lhes parece mais um disco do que
uma esfera; até mesmo uma bola lhes parece plana. Quando se tira a
profundidade de uma esfera, obtém-se um círculo. Isso já pode atrapalhar as
crianças em seus primeiros jogos com bola e fazê-las parecer desastradas.
Com o tempo, contudo, o cérebro consegue compensar algumas coisas, de
maneira que, aos poucos, os estrábicos aprendem a avaliar corretamente as
distâncias. O cérebro é tão hábil que, gradualmente, consegue, por exemplo,
medir cada vez melhor as distâncias a partir do número indicado nas
sinalizações pelo caminho, do intervalo entre as árvores de uma alameda ou da
quantidade de linhas tracejadas no asfalto das vias públicas. Entretanto, no
deserto, onde falta tudo, essas compensações voltam à tona, conforme observei
certa vez em uma viagem que z em companhia de uma pessoa estrábica.
Contudo, mesmo nesse caso, depois de algum tempo o cérebro é capaz de tirar
conclusões a respeito das distâncias a partir do tamanho do rastro de poeira,
entre outras coisas. Portanto, os estrábicos são totalmente capazes de aprender a
dirigir.
Embora os romanos já conhecessem procedimentos para reproduzir
situações espaciais, não deram continuidade a esse conhecimento. Somente no
Renascimento é que a perspectiva central foi (re)descoberta. Talvez somente a
partir desse período é que as pessoas realmente passaram a ter consciência de
sua visão tridimensional. Com ambos os olhos, nossos antepassados podiam até
dispor de tudo que era necessário para ter uma visão do espaço, mas
eventualmente utilizavam muito menos essas possibilidades. Uma vez que
levavam uma vida ainda muito lenta em um mundo muito mais simples,
também conseguiam proceder sem a grande perspectiva, mesmo que,
obviamente, já tivessem de fazer estimativas de distância nas caçadas ou nas
fugas.
Isso signi ca que, possivelmente, nesse aspecto os estrábicos regridem à
situação daquela época, quando as pessoas ainda tinham menos perspectivas e,
em todo caso, não conseguiam reproduzi-la na pintura. Bebês estrábicos
também estão aquém desse estágio do desenvolvimento. É possível igualmente
supor que, “ao verem a luz do mundo”, os bebês ainda sejam seres tão celestiais
que ainda não se incomodem com a polaridade “e ainda não tenham de ver a
realidade de frente”. De fato, ainda não têm de “lançar nenhum olhar a algo
determinado ou concreto”. Tão logo se cansam, recaem no nível anterior e
mais relaxado, em que os olhos ainda não precisam se coordenar. Até o quarto
mês de vida, isso é normal, pois somente o desenvolvimento incipiente no
nível do cérebro torna possível a coordenação dos olhos. Posteriormente, só há
reincidências em caso de cansaço. Mais tarde, o estrabismo ainda pode voltar
raras vezes em períodos de fraqueza, sobretudo em situações em que “resta
apenas um olhar fugaz” e não há energia nem força su cientes para manter a
coordenação dos olhos e sincronizá-los. Esse tipo de estrabismo permanece na
respectiva temática fundamental.
Analogamente, o estado de pessoas alcoolizadas pode ajudar nossa
compreensão. Muitas vezes, elas veem as coisas duplicadas, pois, devido à
intoxicação de seu cérebro pelo álcool, ambos os lados da realidade já não se
combinam. Elas também perdem em outros níveis a capacidade de
coordenação, por exemplo, ao caminhar ou falar. Se esse estado permanecesse
por muito tempo, o cérebro teria de desligar um olho, pois não conseguiria ir
adiante com imagens duplicadas.
7.4.1 Falta de capacidade de coordenação

No nível do signi cado, a falta de capacidade de coordenação permite concluir


que os estrábicos já não conseguem harmonizar nem conciliar ambos os lados
de sua personalidade, o emocional e o racional, o coração e a razão. Analogias
correspondentes revelam que o lado materno e o paterno ou justamente o Yin e
o Yang também se desintegram. Caso outros problemas venham a se
acrescentar, isso pode produzir o risco de um desenvolvimento assimétrico da
personalidade.
Muitas vezes, o estrabismo conduz a um olhar não direcionado e à
di culdade de conferir uma direção clara à própria vida. A criança é impedida
de desenvolver um olhar crítico. Por outro lado, quem sempre exclui um polo e
enxerga a realidade com um só olho facilmente adquirirá a unilateralidade em
vez do discernimento. Crianças que já não conseguem conciliar imagens e
percepções experimentadas acabam por retirar-se a um único polo. Por
exemplo, se a discrepância entre a imagem materna e a paterna for muito
grande e as crianças forem constantemente atraídas por uma e outra, sem
conseguirem se decidir, os olhos manifestam essa condição no nível do corpo, e
cada um segue seu próprio caminho. Então, com base na alma, o cérebro
decide qual olho se tornará determinante para a vida e qual será
desconsiderado.
Quando é o olho direito a sofrer de estrabismo, o pai, suas opiniões e visões
de mundo são excluídos, e o olho esquerdo, voltado ao arquétipo do feminino,
torna-se aquele que conduzirá a vida. Quando o estrabismo se dá no olho
esquerdo, a visão materna cai para segundo plano, e o olho direito,
comprometido com o arquétipo do masculino, torna-se aquele que conduzirá e
determinará a vida. O resultado é uma percepção unilateral sem perspectiva.
Ambos os lados da realidade já não podem ser mantidos ao mesmo tempo, e as
contradições se tornam insuportáveis. Inconscientemente, essas crianças não
querem enxergar um dos pais; por isso, desviaram o olhar para o outro. Desse
modo, o pai ou a mãe que não é visto “ ca com cara de bobo”. É sempre
melhor do que dirigir-lhe um “olhar fulminante”, “pungente” ou “aniquilador”,
ou até desenvolver em relação a ele um “olhar de maldade”. “Simplesmente já
não ocorre a troca de olhares.” Isso permite “ver com profundidade” como é o
relacionamento com o pai ou a mãe que não é olhado, o que certamente não
ocorre “por descuido”. Muito poucas coisas na vida acontecem
“inadvertidamente”. Nesse caso, a língua mostra-se em uma combinação
extremamente clara com a linguagem corporal.
Se apenas o pai ou a mãe recebe o olhar do lho, isso aponta para um tema
que requer especial atenção e consciência. A direção do olhar da criança revela
a que parte da polaridade ela dirige seu olhar “orientado” e de que parte se
ocupa, sem se deixar desviar de sua tarefa pelo outro polo.
Como crianças estrábicas realmente não conseguem ver uma das duas
pessoas, o pai ou a mãe sente-se relegado por elas e não confrontado pelo
contato visual que falta. Assim, também surge um sentimento de uma ligação
pessoal menor. O fato de que, por sua vez, o pai ou a mãe também não se
deixam olhar nos olhos, pois sempre os desviam, também é sentido pelos
outros como algo incômodo: “Eles não permitem ser olhados”.
Por que para nós é tão importante que, em um encontro ou em uma
conversa, alguém nos olhe com ambos os olhos? Provavelmente porque, do
contrário, não nos sentimos realmente considerados quando o outro olha em
outra direção e talvez “apanhe” outros olhares. Queremos estar no centro de
seu interesse, e o estrábico já não obtém esse tipo de centro.
Quem desvia o olhar ou simplesmente olha em outra direção não está
concentrado, não está “no momento”, como di cilmente consegue estar, do
ponto de vista técnico do olhar, junto de alguém. Através das orientações
divergentes do olhar, voltadas para fora, produz-se uma espécie de multitasking
corporal, que, no entanto, é menos e caz do que o multitasking social, pois o
cérebro simplesmente desliga as imagens do olho desviante, a m de evitar
tontura e mal-estar.
Quem enxerga o mundo como um disco plano, quem não consegue
reconhecer o que vem em sua direção e em que momento nem é capaz de
avaliar as distâncias provavelmente tampouco conseguirá “prever” alguma coisa.
Sua relação com o mundo permanece vaga e unilateral – tal como sua visão.
Ele terá di culdades para ver ambos os lados de um problema e, sobretudo, de
uma questão e, desse modo, também para “discernir alguma coisa”.
Nossa visão do mundo corresponde às nossas próprias convicções. Em uma
situação ideal, pode-se ver o mundo e comparar a realidade com as próprias
convicções, a m de conciliar ambos. Assim, a observação do mundo sempre
corrigirá as próprias convicções. Este deveria ser o ponto sobre o qual
Alexander von Humboldt dizia que a pior visão do mundo é aquela das pessoas
que não viram o mundo.
Assim, do ponto de vista ( sio)lógico, aos estrábicos resta apenas uma visão
de mundo unilateral e, respectivamente, convicções unilaterais. Em todo caso,
é alta a probabilidade de que, a partir disso, se desenvolvam, também em
sentido gurado, convicções unilaterais que levem a uma imagem unilateral do
mundo. Em geral, resta-nos apenas a seguinte esperança: “Cada um vê um
pedacinho do mundo; juntos, vemos o todo”. Os estrábicos precisam ter claro
em mente que, para eles, isso tem peso ainda maior e que seu pedacinho de
mundo necessita absolutamente de complementação através de outras visões.
Em seu caso, poder-se-ia falar até mesmo de vistas, visões e perspectivas
“desviantes”. Desse modo, os estrábicos cam com a pior parte.
O estrabismo é uma espécie de caricatura da visão ou uma visão da espécie
irremissível. Por sua natureza, os estrábicos têm di culdade para reconhecer a
profundidade das coisas e dos sentimentos, por exemplo, a profundidade do
amor. Como não conseguem ver o mundo em sua profundidade, precisam
con ar em outros níveis de percepção, como seu sentimento. No amor, este
poderia até mesmo ser o melhor caminho.
De modo geral, porém, di cilmente encontram perspectivas concordantes e
honestas para sua vida. Em um mundo plano, sem profundidade, muitas vezes
a visão estrábica se estrutura sobre dúvidas, pois lhe falta a outra metade.
Entretanto, quem não tem nenhuma dúvida a respeito de suas perspectivas
unilaterais acaba se transformando facilmente em um problema para si mesmo
e seu ambiente. Hoje, o estrabismo é reconhecido e corrigido a tempo em
quase todas as crianças, o que, no entanto, em nada muda a tarefa fundamental
do aprendizado.
De fato, também existe uma interpretação remissível, que permite “ver algo
bom na situação”. Visões e perspectivas unilaterais também poderiam visar à
unidade. Muitas vezes, as crianças olham apenas para os anjos e seu reino, por
exemplo, quando seus olhos se orientam para o ponto do sexto chakra (Ajna),
do terceiro olho, aquele centro etéreo de energia que, segundo a concepção
hinduísta, reside na raiz do nariz. Na Baviera, os mais sensitivos dizem: “Eles
olharam para os anjos”; e os mais grosseiros falam de “castelos de loucos”. Em
todo caso, esta seria uma “perspectiva bem-vinda” em outra dimensão.
Para as crianças, o estrabismo poderia indicar que elas devem reaprender
justamente o seguinte: a olhar nessas esferas e desfrutar de sua respectiva visão
interior. Nesse sentido, é conveniente que, do ponto de vista ( sio)lógico, elas
tenham estrabismo nos primeiros meses – a nal, elas ainda são elementares e, à
sua maneira, perceptivas.
Quem atrela sua felicidade a este mundo sempre corre o risco de
permanecer unilateral. No entanto, quem desde o princípio consegue
perscrutar o mundo como Maya, ou seja, como re exo plano da verdadeira
realidade, sempre vendo a unidade por trás do mundo da dualidade polar e
permitindo que a verdadeira visão cresça a partir da visão unilateral, poderia
desenvolver a experiência da unidade através de certa simplicidade. Esta seria a
grande missão por trás do estrabismo.
7.4.2 Tipos de estrabismo

Dois tipos de estrabismo são distinguíveis a partir da posição dos olhos. No


chamado estrabismo convergente, o olho desviante volta-se para dentro. Dele
resulta uma tendência a permanecer em casa e continuar sendo criança, com
uma nítida e elevada necessidade de segurança. A situação psíquica de base é,
antes, introvertida.
A tarefa especial desse tipo de estrabismo está em ocupar-se de si mesmo até
conhecer-se profundamente e encontrar tudo em si próprio, pois seu interior é
o espelho perfeito do exterior. Portanto, quando no mundo interior estiver
tudo claro, no exterior também haverá clareza, e a visão será possível.
No estrabismo divergente, o olho desviante volta-se respectivamente para
fora. Aqui se revela uma tendência a escapar da família e do lar, bem como da
pátria, a fugir de situações difíceis e a não encontrar o próprio centro com
muita facilidade. Também se revela a preferência para evitar os problemas em
vez de resolvê-los, a bordejar, a evadir-se em vez de ir ao ponto. A palavra grega
para “pecar”, hamartanein, também signi ca “errar o ponto”, isolar-se. A
situação psíquica de base é extrovertida.
A tarefa também consiste em encontrar a si mesmo pela experiência que se
tem com o mundo exterior. Quem observar o mundo desenvolverá uma visão
clara dele. Dessa visão pode resultar o autoconhecimento.
Existem também formas leves de estrabismo. Nas mulheres, antigamente
esse tipo de estrabismo era visto como atraente e, portanto, “valioso”;
entretanto, parecia revelar certa fraqueza na percepção do mundo e, com isso,
necessidade de ajuda, que os homens costumavam sentir como um atrativo.
Contudo, as mulheres modernas di cilmente querem ser amadas por suas
fraquezas.
No estrabismo, a tarefa geral consiste em se conscientizar das tendências
divergentes e ambivalentes do próprio ser e reconhecer as di culdades para
encontrar a direção certa. Quem aprende a reconhecer que precisa de ajuda e
mostra abertamente o que e quanto falta para a perfeição causa um efeito de
simpatia. Mesmo quem aprende conscientemente a se limitar à metade da
realidade, sem deixar de compreendê-la como um todo, em algum momento
amadurecerá para o outro polo que ainda falta. Aquele que, voltado para uma
parte do mundo, e não para o mundo como um todo, conseguir reconhecer a
totalidade da vida em cada aspecto isolado estará no caminho do
discernimento e da unidade.
 
Perguntas para os pais:
► Como ajudar nosso lho na sua necessidade de enxergar o todo?
► Como podemos ajudá-lo a aprender a avaliar o que vê?
► Em que pontos lhe faltam visão geral e discernimento?
► Como poderíamos libertar nosso lho da pressão pela perspectiva e
simplesmente estarmos presentes?
► Como ele adquire acesso à profundidade da vida?
► Até que ponto ele pode lidar com a polaridade e como podemos ajudá-lo
a aprender o máximo possível com ela?
► Que fatos ele não consegue/quer encarar?
► Onde reside um trauma (talvez familiar) que a alma da criança (ainda)
não ousa enxergar, desviando seu olhar? Sob estresse psíquico, o olho
estrábico desvia-se com mais frequência.
► Quais são os temas que causam mais estresse ao nosso lho?
► Por que ele não nos permite ver seu interior?
 
Medidas de apoio:
► Tampar o olho: ao se tampar temporariamente um olho da criança, ela
sentirá a necessidade de orientar seu foco para o lado negligenciado. Isso
força uma ocupação intensa e consciente “com a outra visão”,
possibilitando, assim, um tratamento e caz.
8 Doenças relativas à garganta, ao nariz

e ao ouvido

8.1 Predisposição a infecções – baixa imunidade

“Não consigo me defender.”


 
No nível físico, o sistema de defesa serve para proteger o corpo de todos os
possíveis agentes patogênicos e germes que fazem do organismo sua colônia e,
por conseguinte, o ameaçam constantemente. Nesse sentido, as temperaturas
de 36°C na superfície do corpo e de 37°C dentro dos tecidos são ideais para a
proliferação de inúmeros micro-organismos. Acrescente-se a isso que o
ambiente e o mundo são repletos de diversas formas de vida. Só com um
normal aperto de mão chegam a ser trocados 35 milhões de germes; quando o
cumprimento é feito com um beijo em cada face, esse número pode alcançar
50 milhões. Isso não é razão para se temer um ambiente em que vivam esses
micro-organismos; ao contrário, é razão para se querer ter força e capacidade
para resistir neste mundo.
Uma defesa intacta do corpo é importante para a (sobre)vivência e
pressupõe uma abertura psicoespiritual e uma disposição saudável para se
defender. Os epidemiologistas do passado podiam permitir-se encontrar e
entrar em contato direto com os pacientes terminais sem adoecerem quando o
faziam por convicção íntima e vocação. Quanto mais aberta e forte for a
consciência, tanto mais e ciente e produtiva é a defesa. Algo semelhante é
vivido por muitas mães quando todos ao redor delas adoecem e apenas elas
permanecem de pé para que possam cuidar de todos. Muitas vezes, elas só
adoecem depois que os outros já estão curados.
Quem já não se deixa estimular no nível da consciência porque se fechou de
modo excessivo deverá contar com o fato de que seu não para a vida e a
incapacidade de se abrir internamente favorecerá uma abertura para todos os
possíveis agentes patogênicos.
Como sempre, a tarefa seria excluir esse tema do corpo, ou seja, em vez de
abri-lo para todos os possíveis germes, abri-lo conscientemente para todos os
possíveis temas, as ideias e os impulsos a esse respeito e permitir que eles
germinassem, crescessem e vivessem. Ou, em outras palavras: quem se permite
uma vida (anímica) interior e ativa não precisa admitir que entrem em si tantos
germes ativos. Onde já há e brota muita vida, os agentes patogênicos externos
não têm muita chance de sobrevivência. Por outro lado, o vazio interno no
sentido de tédio e falta de vivacidade, mas também de sobrecarga, falta de sono
e de esperança são um convite para que os agentes patogênicos entrem no
corpo e nele se espalhem.
Por conseguinte, uma abertura exagerada a (diversos) agentes patogênicos
no nível da defesa imunológica deve ser entendida como um desa o de se abrir
mais para a vida no nível da consciência. Portanto, seria preciso enriquecer a
vida anímica dessas crianças ajudando-as a se tornarem mais abertas e
receptivas, aumentando seu prazer com a vida e com as respectivas experiências
e estimulando sua coragem de se abrir para a vida com seus desa os e seus
temas estimulantes. Quando a vida interior é atiçada e oresce, o organismo
ca claramente menos aberto a agentes patogênicos. Uma vida animada,
corajosa e incisiva, repleta de surpresas e pronta para adaptar-se também é uma
boa proteção contra ameaças externas vindas do reino dos micro-organismos.
Ainda mais e caz é o amor. Como demonstra Erich Fromm, o verdadeiro
amor é um “ato criativo da alma”, o que indica uma relação saudável com o eu.
A partir disso, o amor também é sempre um ato de abrir-se e permitir a
entrada do outro. Quem estiver habituado a abrir suas fronteiras para o “você”,
partindo de uma atitude básica de amor, e estiver pronto para se unir com o
outro não precisará temer tanto os ataques dos agentes patogênicos inimigos.
Nesse sentido, o amor que tudo abrange e que até pressupõe a espontaneidade
da alma seria a base ideal para um sistema imunológico forte e maduro para
enfrentar todas as ameaças. O máximo possível de espontaneidade no nível da
consciência produz a máxima defesa necessária no corpo.
Entretanto, é óbvio que, mais uma vez, se trata de encontrar a medida
correta para a criança como indivíduo. Tanto o excesso quanto a falta de
exigências enfraquecem as defesas. Assim como os adultos podem se prejudicar
com o burn-out e o bore-out, o mesmo pode acontecer com as crianças. Ser
constantemente coberto de impulsos e estímulos pode levar a uma
predisposição a infecções devido a esse excesso. Contudo, também as crianças
que se entediam demais no sentido do bore-out (do inglês bore, “aborrecer-se”)
estão predispostas. Desse modo, nenhuma diretriz geral pode ser tomada como
universal. O que é demais para uma criança pode ser su ciente para outra.
No nível do corpo, medidas fortalecedoras, como os exercícios de Kneipp
ou dormir com a janela aberta, também têm efeitos que aumentam as defesas
do organismo. Portanto, expor as crianças ao vento e ao clima pode ser um ato
muito consciente e responsável. Para que consiga defender-se dos adversários
da vida, o corpo precisa receber a oportunidade de aprender a lidar com as
adversidades. Segundo Friedrich Graf, é necessário transmitir coragem e
con ança em vez de medo; atividade em vez de passividade; autonomia em vez
de dependência.
Perguntas para os pais:
► Como podemos ajudar nosso lho a se defender de modo saudável e a
reconquistar o mundo com a coragem adquirida?
► Em que circunstâncias nosso lho não é aberto para o mundo
circunstante?
► Como podemos despertar sua curiosidade?
► Como estimular seu prazer com a vida?
► Como podemos dar mais con ança ao nosso lho para que ele consiga
viver com mais coragem?
► Quando estamos dando proteção demais? Quando a criança está sendo
“superprotegida”? O que ele consegue controlar sozinho e o que podemos
exigir dele?
 
Medidas (preventivas) de apoio:
► Amamentação: com o leite materno, a criança recebe nos primeiros seis
meses todos os nutrientes importantes e necessários para a sua vida, bem
como calor, proteção e anticorpos que a protegerão de doenças. Por isso,
a amamentação é necessária.
► Manter o equilíbrio térmico da criança nas estações frias: roupas de lã,
gorros, meias ou pantufas grossas. À noite, massagens para aquecer os
braços e as pernas com óleo de malva. O óleo e a massagem aquecem o
corpo; o toque e a proximidade aquecem a alma.
► Escalda-pés: descrito no tema “Enurese” (seção 15.2).
► Sauna: conforme a idade, frequentar a sauna. Não se deve forçar, e sim
deixar ao critério da criança por quanto tempo ela quer car na sauna.
► Caminhar na água: esta é uma boa brincadeira para as crianças. Com
“passo de cegonha” e a água na altura da panturrilha, caminhar na água
fria, a uma temperatura de 10 a 18 graus. De preferência, ao ar livre.
► Ducha alternada: molhar várias vezes os braços e as pernas no chuveiro,
alternando a temperatura entre quente e frio. As próprias crianças podem
pôr esse “enrijecimento” em prática ao tomarem banho de manhã.
► Caminhar no orvalho: no campo, no inverno e na neve e realizando
outros exercícios segundo Kneipp.
► Sesta: mesmo no que se refere aos adultos, há provas cientí cas detalhadas
que comprovam a e cácia desse “exercício” primitivo. Com a sesta se
ganha, por assim dizer, a segunda metade do dia, uma vez que o nível de
energia volta a se elevar. Para muitos, melhor ainda é a e cácia do
relaxamento profundo, uma vez que, com ele, depois de algumas semanas
é possível alcançar estados de relaxamento mais profundos e até de transe.
O ideal seria que nunca se perdesse o hábito de fazer a sesta e que, com o
tempo, fosse substituída pelo relaxamento profundo.
Alimentação adequada: mais a respeito na seção “2.3.1 Alimentação”.
► Beber muita água: a água é nosso alimento mais valioso. Conseguimos
resistir um bom tempo sem comida; contudo, a partir do terceiro dia sem
água a situação ca difícil. Toda vida começa na água, e nosso corpo
consiste de 70% dela. A água se ocupa do metabolismo, regula a
temperatura corporal e a digestão, estimula a circulação e ajuda na
desintoxicação. Desde cedo, as crianças deveriam aprender a tomar
quantidades su cientes de água, enquanto outras bebidas, como
refrigerantes, Coca-Cola e sucos não diluídos, devem car
excepcionalmente reservadas a situações especiais (aniversários, festas,
etc.). Isso soa mais rigoroso do que na realidade é se os pais derem um
bom exemplo. A quantidade correta de líquido varia de acordo com o
peso corporal, a atividade física e a estação do ano. As seguintes
indicações valem para o consumo diário médio de água:
Crianças a partir de 2 anos – cerca de 400 a 600 mililitros.
Crianças de 3 a 6 anos – cerca de 500 a 800 mililitros.
Crianças de 7 a 10 anos – cerca de 600 a 1.000 mililitros.
Crianças de 11 a 14 anos – cerca de 600 a 1.300 mililitros.
Copos coloridos ou com estampas, copinhos de aguardente, canudos,
pequenos guarda-chuvas de papel ou objetos semelhantes podem deixar a
bebida mais interessante.
Para melhorar o gosto, podem-se acrescentar à água o suco de dois limões,
um pouco de mel, sumo de pera ou estévia.
Não beber durante as refeições, pois isso perturba a digestão e, muitas
vezes, leva à sensação antecipada de saciedade.
Em geral, bebidas geladas não são bem toleradas. O corpo precisa gastar
muita energia para aquecê-las, o que enfraquece o organismo. Ofereça
bebidas em temperatura ambiente ou quentes. Nunca adoce as bebidas
com adoçante; no máximo, com estévia. Sucos de fruta consistem quase
exclusivamente de água açucarada, enquanto néctares de fruta contêm
apenas metade do suco da fruta. Pre ra sucos 100% concentrados ou
diretamente o sumo da fruta e o dissolva em água.
Diluir apenas sucos de boa qualidade em uma proporção de 1:3 de água.
Dilua igualmente sucos recém-espremidos, uma vez que a criança nunca
poderia comer a mesma quantidade de frutas ou verduras presentes em
um copo de suco.
► Exercícios físicos: ao ar livre, independentemente do clima. (“Não existe
tempo ruim, apenas roupa ruim.”)
► Extrato de espinheiro-marítimo, da Weleda: diariamente, de uma a duas
colheres de chá em um copo de suco ajudam e fortalecem as defesas do
organismo.
► Eleutherococcus sentinosus (ginseng siberiano): crianças que já frequentam o
jardim de infância ou a escola e que se contaminam com frequência
podem ser prevenidas com o extrato Eleu-Kokk M (de uma a duas
colheres de chá diárias).
► Auto-hematoterapia potencializada segundo Imhäuser: produção e
aplicação, ver a seção “11.2 Dermatite atópica e crosta láctea”.
► Limpeza individual do cólon ou controle simbiótico de acordo com a
coproscopia anterior.
 
Suporte homeopático ou vegetal durante uma infecção:
► Echinacea ( or-de-cone): três glóbulos (D3/D6) a cada uma ou duas
horas.
► Umckaloabo (Pelargonium reniforme) ou Kaloba (Pelargonium sidoides):
bom medicamento para infecções, especialmente quando há
envolvimento dos brônquios. Não serve para prevenção, uma vez que seu
uso progressivo pode fazer mal ao fígado!
► Angocin anti-infeccioso: folha de capuchinha, raiz de rábano; aplicação de
acordo com a idade (ver informação na embalagem).
► Sambucus nigra, da Ceres (tintura-mãe de sabugueiro): de duas a quatro
gotas três vezes ao dia têm efeito diaforético, aumentam a secreção dos
brônquios e estimulam o sistema imunológico.
► Chá de tília: estimula a formação de suor, age como desintoxicante e
alivia.

8.2 Graus de escalada da agressividade


No exemplo do princípio primário da agressividade, ca evidente uma
concatenação substancial de sintomas em casos de suscetibilidade a infecções,
concatenação essa que se produz quando o indivíduo abre o próprio
pensamento aos arquétipos ou princípios primários, mas que se fecha para o
pensamento cientí co. Se juntarmos os dois modos de observação, tornam-se
claras as possibilidades terapêuticas que melhoram consideravelmente as
chances do paciente.
O ato de roer as unhas, típico em crianças, é uma demonstração direta de um
problema de agressividade. A criança mostra os dentes e, com essa arma
presente na boca, rói as unhas, o resto de suas garras (do ponto de vista da
história do desenvolvimento). Isso é tão evidente que os pais logo se irritam e
estabelecem punições em vez de alterar as condições básicas do campo familiar
no que se refere a uma vida menos hostil à agressividade ou à vitalidade. Quem
impede com punições draconianas que as unhas sejam roídas apenas impele a
energia contida no sintoma a um nível mais profundo do corpo.
In amações frequentes das vias respiratórias superiores, como tosse, resfriado e
rouquidão, conduzem a um grau superior de escalada. A criança passa a lutar
em várias frentes, que regulam sua comunicação com o mundo. Ela trava uma
guerra que mantém a energia da agressividade em fogo baixo. Se nesse
momento se zer uma intervenção “auxiliar” com medicamentos antipiréticos
e, na pior das hipóteses, se recorrer desnecessariamente a antibióticos, haverá a
chance de que todo o evento se aprofunde em mais um grau.
Na bronquite, por exemplo, o caminho rumo ao fundo ca um pouco mais
evidente. Como em todos os casos terminados em “-ite”, aqui também o
caráter in amatório de uma batalha torna-se evidente. O sistema imunológico
do corpo luta contra agentes patogênicos externos, potencialmente perigosos.
Se a criança for impedida repetidas vezes de ganhar essa batalha com as
próprias forças, na medida em que se aposta na alopatia e em seu arsenal
“antiarmas”, o próximo grau de escalada poderá dar-se na direção da chamada
bronquite asmática. Quando se ataca a in amação com anti-in amatórios e a
febre, que é uma defesa da criança, com antipiréticos, sempre se obterá uma
breve vitória de Pirro; porém, a longo prazo, o sistema imunológico irá
enfraquecer e se afundará cada vez mais, ou seja, o evento descerá cada vez
mais, nível por nível, e, por m, será classi cado como asma infecciosa ou até
como asma alérgica.
Obviamente, também se podem produzir outras vias de escalada, e da
repressão ao ato de roer as unhas pode surgir, através de uma predisposição
geral a infecções, outro evento alérgico, tal como um problema de pele, por
exemplo, no sentido de uma dermatite atópica. Posteriormente, se a repressão
continuar, essa predisposição a infecções também pode, como ocorre com
frequência, se transformar em asma. Os graus de escalada dependem da
respectiva ressonância da criança adoentada. Médicos acadêmicos falam de
“Locus minoris resistentiae”, ou seja, do local em que a resistência é menor.
Segundo a sabedoria popular, a corrente seria tão forte quanto seu elo mais
fraco, e o bom senso sabe que somos mais suscetíveis em nossos pontos fracos
pessoais.
O mencionado estudo deixou claro de que maneira chegamos a criar
alergias reprimindo in amações. Segundo esse estudo, todo tratamento com
antibiótico nos dois primeiros anos de vida aumentam a tendência a alergias
em mais de 50%.
Se na infecção já se falava de germes potencialmente mais perigosos, que se
transformam em inimigos do sistema imunológico, no caso das alergias se
trata, objetivamente, de substâncias na maioria das vezes inofensivas, como
pólen, poeira doméstica e todo o arsenal dos alérgenos, que, devido à sua
simbologia, de certo modo podem ser combatidos de modo representativo. Em
contrapartida, se a alergia for abatida com “antiarmas”, como os anti-
histamínicos e a cortisona, todo o evento tende a escalar cada vez mais na
direção de doenças autoagressivas, como o reumatismo ou a tireoidite de
Hashimoto (que leva à destruição da tiroide). Sobretudo esta última teve um
aumento dramático nos últimos anos.
Nessa visão relacionada aos princípios primários, não faz muito sentido
reprimir os sintomas, pois, no fundo, as respectivas energias encontram outros
caminhos para expressar o mesmo tema. Só que, nesse caso, o evento é cada vez
mais iminente ou, como dizem os homeopatas, desce cada vez mais fundo.
Por conseguinte, em seu tratamento, as vias de escalada devem ser
percorridas em sequência inversa. Assim, na fase de tratamento, a asma
brônquica infantil pode manifestar-se na pele, caso anteriormente tenha havido
uma repressão. Inversamente, como o evento é deslocado pela medicina
acadêmica de fora para dentro e de cima para baixo, em uma terapia que
realmente vise a cura, ele terá de regredir de dentro para fora ou na sequência
contrária ao modo como se manifestou. É recomendável que homeopatas e
psicoterapeutas chamem a atenção dos pais para esse fato antecipadamente.

8.3 Otite

“Não quero ouvir!”


 
A otite é uma das doenças agudas mais comuns em crianças pequenas, e sua
difusão continua a crescer. Isso certamente se deve a problemas ligados ao
nosso tempo e que não são resolvidos.
Em geral, essa doença vem acompanhada de dores extremas no ouvido e
febre alta, o que, por um lado, indica o con ito interno em relação ao tema
“ouvir”, “escutar” e “obedecer” e, por outro, aponta para a mobilização geral do
organismo.
O principal período das otites é, de fato, aquela fase da infância em que se
trata dos temas “escutar” e “obedecer”. O ouvido pertence ao princípio
saturnino da redução ao essencial, às regras e proibições, bem como aos limites
e à imposição de limites. Assim, é evidente que as dores de ouvido re itam
problemas de educação e reproduzam a revolta contra o excesso de “Você tem
de!”, “Você não pode!”. Na linguagem do livro A Doença como Símbolo, as
dores são gritos de ajuda, e as in amações são con itos.
Muitas vezes, as otites também coincidem com os períodos de dentição,
que, de certo modo, são marcados por problemas que detonam agressividade.
A criança, por assim dizer, põe pra quebrar, à medida que seu médico interno
encena uma guerra na cavidade timpânica como se fosse uma ação desesperada,
pois o tema, no sentido gurado, foi ignorado. Uma criança, cujas necessidades
foram ignoradas, com frequência as grita, incitada pela dor, talvez no sentido
de “Não aguento mais ouvir isso” – por exemplo, brigas contínuas. Esse é o
difícil período em que a criança aprende a ouvir para fora e para dentro. Ela
precisa aprender a obedecer aos outros, mas também à própria voz interior.
Desse modo, o respeito tanto em relação às necessidades do mundo exterior
quanto em relação a si mesma é anunciado. A este último cabe aprender a se
delimitar de maneira sensata (por exemplo, em relação aos pais e educadores).
Se os con itos dos pais desencadeiam uma otite ou outra doença na criança,
a tentativa de ter esse tipo de discussão na ausência do lho ajuda menos do
que os pais imaginam, pois, com sua sensibilidade e sua capacidade de
ressonância, a criança não deixa de perceber a desarmonia e de se sentir ainda
mais excluída. Mais importante do que isso é dar ao lho o exemplo de um
domínio construtivo dos con itos. Problemas são parte deste mundo e
pertencem à nossa vida. No entanto, podemos evitar carmos entregues a eles,
sem nenhum amparo, e deixar a criança sozinha com seus temores. Conversas
adequadas à idade são importantes nesse caso para que a criança sinta que
continua ligada aos pais e que não precisa atribuir-se nenhuma culpa. Quando
ela percebe que os pais voltam a fazer as pazes depois de uma briga, é de esperar
que ela perca o medo das discussões e se torne mais preparada para os con itos.
No entanto, obviamente, o domínio construtivo dos con itos não signi ca
estressar as crianças com temas adultos e envolvê-las em toda sorte de situações.
Em todo caso, quando a criança está com otite, ela não pode ser ignorada; é
preciso ouvi-la. Nesses períodos, quando os dentes irrompem ameaçando os
tímpanos, as defesas estão enfraquecidas. O represamento da linfa, bem como
inchaços e in amações na região da boca, favorece a propagação da in amação
e do con ito no ouvido médio, comprometendo, assim, a audição.
8.3.1 O que acontece na otite?

O espaço realmente reservado ao elemento ar e que une o tímpano, aonde


chegam as ondas sonoras, ao ouvido interno, onde se realiza a audição,
funciona repleto de líquido, o que forma a base física para a in amação. Na
verdade, esse espaço – preenchido com ar – deveria servir ao tema da mediação
de oscilações e, com ele, da produção de informação. Os três ossículos
auditivos presentes nesse espaço conseguem cumprir melhor sua tarefa na
atmosfera arejada do vazio, tarefa essa que é retransmitir mecanicamente as
ondas sonoras e as oscilações. Quando esse espaço é invadido por líquido, a
atividade é refreada, e as consequências são uma transmissão menos e ciente
das ondas sonoras e a redução da capacidade de audição. A partir disso, pode-se
concluir que o campo da audição, da atenção e da obediência exige mais do
aspecto anímico (por conseguinte, do elemento água).
Na prática, para os pais isso poderia signi car que devem observar com mais
sensibilidade o que seu lho consegue ouvir. Talvez durante muito tempo ele
tenha ouvido o su ciente, recebendo o que lhe era ou não destinado. Se os pais
se colocarem no lugar da criança, poderão sentir melhor o que é proveitoso
para ela e o que a estressa. Questões sobre o que a criança pode ouvir e sobre o
que já é capaz de assimilar também ajudam a fazer com que a alma, e não o
líquido que causa in amação no ouvido médio, in ua nesse campo sensível.
Preocupar-se com o que e quando pode ser compreendido também produz,
quase automaticamente, uma sensação melhor no campo da obediência. Se
estiver claro o que a criança já pode compreender nesse período precoce e,
sobretudo, o que não pode, as primeiras tentativas, que de todo modo acabam
conduzindo a um treinamento, cessam como que por si sós. Em compensação,
ganhamos tempo para formular perguntas e esclarecimentos de maneira
afetuosa e adequada à idade, fazendo com que as coisas percam sua dimensão
ameaçadora.
Para a criança, a audição reduzida chama a atenção para o fato de que ela
deseja estar mais por conta própria e de que precisa de mais tranquilidade para
conseguir obedecer aos impulsos internos e estimular o desenvolvimento de sua
voz interior. Na ocorrência de doenças agudas, a voz alta e exterior fala pela
interior, que (ainda) se sente muito fraca. Trata-se aqui de encontrar uma
concordância. Por isso, os pais devem dar apoio aos lhos pequenos e
permanecer ao lado deles. Não se trata de car cantarolando, por exemplo, nas
brincadeiras ou antes de dormir, para acompanhar canções ou histórias via
CDs ou vídeos e DVDs. Mais necessária seria a voz dos pais chegando
individualmente à criança e estimulando suas próprias fantasias e ideias.
Crianças modernas di cilmente ouvem canções originais ou sons autênticos,
nem de pessoas de referência nem de instrumentos musicais, que estimulem a
vibração e a integração anímicas enquanto ouvem. Sons “enlatados” funcionam
como a comida enlatada em relação ao alimento integral, oferecendo apenas
um substituto fraco.
Contudo, não é su ciente proibir o acesso aos meios de comunicação de
massa. De fato, às vezes eles também representam uma possibilidade de fuga
para as crianças que buscam escapar das discórdias domésticas, entre outras
coisas. Uma proibição que não ofereça alternativas melhores costuma levar
justamente à escalada.
De modo geral, na otite aguda a criança é seriamente afetada, o que requer
auxílio rápido. A doença também afeta todo o seu ambiente, quando ela luta
aos berros por atenção e quer ser ouvida a todo custo e em sua necessidade
interna. Ela já não quer ouvir e ser “toda ouvidos”, mas expressar sua opinião,
por exemplo segundo o lema: “Ouçam-me! E parem (de brigar?); expliquem-
me!” Mesmo que esse evento se dirija dramaticamente para fora e tenha um
caráter nitidamente apelativo, muitas vezes por trás dele está o desejo de
silêncio e de poder estar presente sem a obrigação de ouvir.
Ambas as tendências – apelo ao mundo exterior, de um lado, e necessidade
de sossego, de outro – são apenas aparentemente contraditórias e podem muito
bem ser harmonizadas. Quando grita, uma criança deixa claro que está farta e a
ponto de explodir por causa de tudo aquilo que é obrigada a ouvir. Como
reação, seu con ito se in ama no ouvido, que é o órgão que recebe o mundo
de oscilações.
Tal como a criança, os ouvidos cam à mercê das oscilações externas; não
são como os olhos, que podem ser fechados. Nesse sentido, a ordem “abra os
ouvidos!” é bastante super cial, pois eles estão sempre abertos. Obviamente,
essa instrução se refere à audição interna. Por conseguinte, é muito difícil ter
disposição e controle sobre os ouvidos. Primeiro é preciso aprender, muitas
vezes com a dor, a emprestar conscientemente “seu ouvido” a alguém ou a
torná-lo inacessível aos outros.
Quando uma criança já ouviu demais, sobretudo daquilo que não lhe faz
bem, quando foi sobrecarregada com estímulos que exigem muito dela, tal
como o mundo moderno os oferece em profusão, e quando desde muito cedo
tem ocupações em demasia, ela pode já não querer ouvir nem prestar atenção e
muito menos obedecer. Às vezes, as crianças afetadas chegam a tampar os
ouvidos, quase de modo demonstrativo. Elas se fazem de surdas e se fecham
aparentemente a um mundo exterior, com o qual (já) não querem lidar e, por
conseguinte, tampouco se comunicar. O termo “desarmônico” em latim é
absurdus, e, de fato, a situação se torna um pouco absurda. A criança passa a
fazer barulho porque precisa de sossego. Obviamente, o todo também pode se
dar de maneira mais branda, quando, por exemplo, ela se faz de surda apenas
com um ouvido. Seria o caso de perguntar, então, em qual e para qual tema. As
razões para o bloqueio podem ser múltiplas; no gesto inequívoco de tampar os
ouvidos, a situação fundamental é clara: a criança se fecha agressivamente para
o mundo exterior. Se estivesse livre, ela teria coragem e determinação para
ouvir seu interior e tomar consciência de si mesma – o que, naturalmente,
apenas os adolescentes e os adultos conseguem realizar de modo ativo e
consciente.
Os bebês são um espelho ainda mais nítido de seus pais. Já conseguem
ouvir, mas não obedecer, e os pais muitas vezes já não aguentam ouvir seus
gritos. Devido à pressão social crescente, eles próprios quase já não ouvem sua
voz interior em relação aos temas pendentes e, não raro, sobrecarregam seus
lhos e a si mesmos, por exemplo, colocando-os cedo demais no jardim de
infância, onde aos 3 anos já aprendem a obedecer e recebem programas de
adaptação, o que, para muitas crianças, é cedo demais e, para outras, uma boa
forma de sair aos poucos do ambiente familiar para que possam experimentar
um pouco de liberdade e aprender a ter autonomia. Possivelmente, os pais
também são vítimas de um excesso impiedoso de estímulos, dos quais eles mal
tomam conhecimento, pois, no mundo moderno, eles são automáticos com o
cantarolar constante de músicas super ciais e a falta igualmente notável de
profundidade.
Atualmente, tanto para crianças quanto para adultos, a exigência budista de
colocar guardiões junto aos portões dos sentidos para não deixar que tudo
entre é mais importante do que nunca. E os “portões” dos ouvidos representam
aqui um desa o especial. O que para as crianças é otite, para os pais é
zumbido. Essa discrepância também informa que eles tinham muitas
preocupações e, devido ao sintoma, foram obrigados a ouvir sua voz interior
para obedecer-lhe em algum momento. Infelizmente, já tivemos de tratar duas
crianças com zumbido. Também nesse caso há que se temer no futuro um
aparecimento cada vez mais precoce desse sintoma.
No isolamento doloroso da otite aguda e da efusão do tímpano, o mundo
exterior é bloqueado. Resta direcionar a atenção para dentro e voltar-se à voz
interior depois que as exteriores se calam. Para tanto, a criança precisaria ter a
ocasião e o respectivo espaço. Os pais que compreendem essa mensagem
poderiam preparar o caminho para que a criança não fosse obrigada a se
refugiar por muito tempo no sossego e no silêncio internos da efusão do
tímpano. É o que acontece quando os médicos falam de “otites recidivas” –
uma expressão so sticada para uma recusa terapêutica.
As crianças já não ouvem nem “pertencem ao ambiente”. Em vez disso,
entregam-se a um isolamento forçado pelo corpo. Não estariam elas se
fechando e recusando-se a ouvir e pertencer a um ambiente que as deixa tão
doentes a ponto de fazê-las estourar? Não teriam absorvido coisas demais e
extravasado muito pouco no que diz respeito às manifestações de vida, que
agora descarregam gritando?
8.3.2 Pressão de dentro e de fora

O tema “obedecer” é vivido e trabalhado sob a máxima dor. Muitas vezes, ele é
aprendido em períodos em que a criança pequena ainda não consegue entender
as coisas no sentido dos adultos. A consequência é o treinamento comum.
Segundo o lema “quem não quer ouvir tem de sentir”, muitas crianças
aprendem a obedecer por necessidade e à força. A linguagem não deixa dúvidas
quanto ao dilema. Quando se obedece à força, no máximo desespero da dor, se
aprende no sentido do re exo condicionado, e não por compreensão.
Os que têm mais vitalidade poderiam expressar o con ito na resistência
vivida; os que têm menos, em sua representação como otite. Com isso, sempre
sinalizam que a mediação entre as exigências externas e a compreensão interna
não funciona. Os mais fracos simplesmente se deixam treinar e, junto com a
resistência, também desistem de muita con ança e esperança.
No ápice das queixas, quando a pressão sobre o tímpano sensível se torna
muito grande, pode ocorrer uma ruptura espontânea no sentido da chamada
perfuração do tímpano. Esta não é tão ruim quanto muitas vezes interpretam
os médicos acadêmicos; ao contrário, a perfuração do tímpano alivia
momentaneamente a dor, desativando o sintoma agudo.
Quem sente que vai estourar deveria, como sempre, tentar resolver o
problema no nível gurado. Quem não consegue extravasar suas necessidades,
na melhor das hipóteses terá o tímpano perfurado e sentirá, pela primeira vez,
um alívio imediato. Outros tipos de “estouro” no corpo logo se tornam
ameaçadores para a vida.
Uma criança que se sente pressionada e talvez de fato esteja sob pressão em
seu ambiente porque, por exemplo, desde cedo os pais enfatizaram a questão
da obediência, acaba por se libertar dessa pressão, ainda que,
momentaneamente, apenas no nível físico do ouvido. Em última instância,
trata-se, naturalmente, de alcançar esse alívio e a redução da pressão em sentido
gurado. O ideal é que os pais ajudem seu lho nesse processo, colocando-se
em seu lugar e compreendendo seus desejos e suas necessidades.
A otorreia que, por m, geralmente acaba se estabelecendo não deve ser
reprimida de modo algum. Ela alivia o organismo e, do ponto de vista
homeopático, também é uma excreção desejável. A sucata de guerra que se
produziu no ouvido médio durante o con ito tem de ser desviada. Mesmo no
sentido gurado, aquilo que é velho, ultrapassado e gasto deve car para trás.
Simbolicamente, a otorreia mostra com muita clareza a que ponto uma pessoa
pode “ car farta” de alguma coisa. Quando isso acontece, a criança quer se ver
de nitivamente livre do que a estorva.
Em geral, o tímpano se fecha sozinho depois de algumas semanas, sem
causar problemas. Por meio de seus procedimentos, os médicos acadêmicos
também deveriam constatar que o todo é pouco afetado. Em otites de
reincidência crônica, eles até utilizam uma técnica para romper o tímpano,
cortando-o em um ponto especí co para a inserção do chamado tubo de
ventilação na membrana do tímpano. Na maioria das vezes, porém, os recursos
naturais são melhores; pelo menos, é a natureza ou o médico interno a escolher
o momento mais favorável.
Logo após a otite, a audição pode sofrer uma redução considerável devido à
efusão do tímpano. Essa redução na audição revela que o problema (ainda) não
está resolvido e que a criança sente a necessidade de continuar a isolar-se no
nível corporal, pois, no sentido gurado, ainda não consegue preservar
su cientemente seu espaço interno em relação às exigências externas.
Além do trabalho psíquico, no sentido de compreender que, em seu íntimo,
a criança se volta para si mesma ao mesmo tempo em que se fecha (através dos
ouvidos) para o mundo exterior, que ela tenta penetrar novos espaços da
consciência e que se esforça para ouvir vozes interiores e exteriores e aprender a
obedecer-lhes, nessas situações deveriam ser empregados medicamentos
homeopáticos especí cos e escolhidos individualmente. Desse modo, é mais
fácil garantir que a audição ruim não prejudicará a longo prazo o
desenvolvimento da linguagem nem o contato social.
Muitas in amações começam parcialmente, sendo que o ouvido esquerdo
indica o estresse mais emocional enquanto o direito indica aquele mais
racional. Contudo, elas também podem passar de um lado para outro ou
atingir os dois ouvidos ao mesmo tempo, o que impede a criança de ouvir e
participar de tudo aquilo que lhe interessa. Obviamente, nessa situação, ela
tampouco irá obedecer.
No consultório pediátrico, as mães quase sempre relatam uma evolução
típica em relação a seu lho, o que simpli ca a escolha dos medicamentos
homeopáticos. Assim, muitas mães aprendem a encontrar sozinhas, logo no
início da otite reincidente, o medicamento adequado. Se isso já é bom, ter
sensibilidade para compreender a situação subjacente é ainda melhor.
Segundo as descobertas mais recentes da medicina acadêmica, ministrar
antibióticos é um erro, sobretudo porque, em geral, é totalmente desnecessário
e quase sempre acarreta efeitos colaterais no trato digestório, sem contar o
aumento terrível da predisposição a alergias. Mesmo pediatras de orientação
alopática conseguem bons resultados com analgésicos e descongestionantes;
porém, de modo geral e comparativamente à homeopatia clássica, esses
medicamentos não são su cientes.
Como agentes desencadeadores externos da escalada do con ito que implica
a audição, a atenção e a obediência, são considerados banhos de piscina, car
com a roupa molhada, vento frio, excesso de esforço físico, irritação, con itos
na educação. Vacinações precoces também favorecem o inchaço dos órgãos
internos de defesa, como as tonsilas palatinas faríngeas e as mucosas em geral, o
que, por sua vez, favorece a obstrução do nariz, bem como congestões, que
acabam se propagando no órgão da audição. Acrescente-se a isso uma
intolerância latente ou manifesta à proteína do leite ou uma alergia. O
consumo habitual e elevado de produtos lácteos em países industrializados
também contribui para a escalada.
Como possível complicação, deve-se considerar a mastoidite ou in amação
da apó se mastoide, que provoca um abaulamento do pavilhão auditivo das
crianças. Com o tratamento homeopático adequado, ela quase sempre pode ser
evitada, o que é absolutamente necessário devido ao perigo da propagação da
in amação para as estruturas sensíveis da região, como o cérebro. Em quase
todos os casos, isso pode ser evitado com uma interpretação sensível e um
acompanhamento homeopático adequado. Obviamente, também aqui seria
melhor agir preventivamente, fazendo com que as crianças possam encontrar
outras válvulas de escape que não o tímpano, que pode estourar, e outras
expressões corporais.
 
Perguntas para os pais:
► O que nosso lho já não aguenta ou não quer ouvir (brigas, discussões,
excesso constante de estímulos através do rádio ou da televisão)?
► Como ele pode se defender ou deixar claro o que quer?
► Como podemos ouvi-lo melhor?

Em que circunstâncias lhe impusemos situações para as quais ele ainda
não está maduro e que o sobrecarregaram, e como podemos mudar isso?
► Como podemos criar para ele as possibilidades necessárias para que ele se
“liberte”?
► No que se refere à obediência, nossas exigências são adequadas ou
excessivas e restritivas?
► Como podemos permitir-lhe liberdades novas e adequadas?
► Será que ele precisa de mais tranquilidade? O que ele já não consegue
deixar que se aproxime dele ou tenha acesso a ele?
► Em que situações ele se encontra sob pressão?
► Como podemos ajudá-lo a lidar de modo construtivo com os problemas
(a partir dos 2 anos)?
► Nosso lho consegue ouvir sons autênticos, por exemplo, através de
instrumentos musicais ou do canto?
► Quando não prestamos atenção na vida?
 
Medidas de apoio:
► O “saquinho de cebolas”: pique uma cebola fresca e coloque-a num lenço
de pano, de maneira que este absorva todo o seu sumo. Feche o lenço
com ta adesiva, para que os pedacinhos de cebola não caiam. Também é
possível encher uma pequena meia de algodão com cubinhos de cebola, o
que corresponde mais a um saquinho. Em seguida, coloque o lado
umedecido sobre a orelha afetada e xe-o com uma faixa, para que a
criança possa mover-se livremente ou para que o saquinho não escorregue
enquanto ela estiver dormindo. Muitas crianças também gostam de
manter uma bolsa de água não muito quente na orelha, o que auxilia na
saída dos óleos etéreos. Algumas crianças, porém, rejeitam totalmente o
tratamento com bolsa de água.
As substâncias ativas da cebola atuam detendo a in amação e aliviando a
dor. Deixe o saquinho com a cebola na orelha durante a noite ou troque-o
durante o dia a cada uma ou duas horas por um novo. Esse procedimento
pode ser realizado durante todo o dia, até as dores melhorarem. Em minha
prática diária, observei verdadeiros milagres quando esse tratamento era
aplicado ao primeiro sinal de dor. Em algumas crianças, a situação já se
atenua depois de poucas horas. Desde que comecei a trabalhar no
consultório, nunca foi necessário prescrever antibióticos para esse caso!
► Exposição à luz vermelha: a uma distância segura de cerca de cinquenta
centímetros, pode-se expor a criança à luz vermelha por até vinte
minutos. Esse procedimento pode contribuir aliviando a dor, mas precisa
ser aceito pela criança. No caso de crianças pequenas, é útil contar
histórias que envolvam a luz vermelha. É aconselhável distrair a criança
lendo para ela em voz alta.
► Gotas para o ouvido só são adequadas se houver a certeza de que o
tímpano não está rompido, pois, do contrário, o líquido pode chegar ao
ouvido médio. Para tanto, é necessário fazer um exame com o otoscópio.
Soluções caseiras para pingar nos ouvidos, feitas de óleo de oliva e sumo
de cebola, mas também as gotas de levístico ou acônito (ambas da Wala)
podem auxiliar. Aqueça o frasco da solução na mão ou no bolso da calça e
pingue apenas de uma a duas gotas no ouvido da criança. Faça com que
ela permaneça deitada e imóvel por alguns minutos, para que as gotas não
saiam do ouvido.
► Gotas para o nariz: é necessário manter o nariz desobstruído para que o
ouvido médio possa ser mais bem arejado. Nesse sentido, preparados
prontos a partir de uma solução siológica de sal de cozinha, mas
também de gotas de eufórbio para o nariz, da empresa Heel, mostraram-
se e cazes. Mantenha os pés aquecidos com uma bolsa de água quente.
► Perfuração do tímpano: não raro, o tímpano estoura, produzindo secreções
aquosas, com pus ou sangue. Não há razão para preocupar-se. Não se
deve interromper nem impedir o escorrimento da otorreia. Ela pode
acontecer durante algumas semanas com intensidade variável e é uma
indicação importante para a escolha de um medicamento homeopático
de apoio, a ser prescrito pelo homeopata.
► Febre: ver o Capítulo 3 “Febre”.

Di culdade de audição após a otite: nesse caso, recomenda-se um
tratamento homeopático constitucional. Como medida de apoio,
empregam-se as velas Hopi sempre nos dois ouvidos, três vezes por
semana. As velas acesas devem ser colocadas na criança deitada (de
preferência, à noite, antes de dormir). Por meio delas, o tímpano é
suavemente massageado e aquecido, o que pode aliviar a retenção de
secreção e trazer “movimento” para a situação crônica de congestão. O
tratamento com velas nos ouvidos deve ser realizado durante, no mínimo,
de quatro a seis semanas e não representa nenhum problema quando se
esclarece com carinho à criança sobretudo para que serve o procedimento
com a pequena chama. Na maioria das vezes, a criança ca tão relaxada
que acaba adormecendo durante o tratamento, o que o facilita ainda
mais. De maneira alguma retire os restos da vela com cotonete! Ao longo
de todo o tratamento, é recomendável que o procedimento seja
acompanhado de escalda-pés (descrito no tema “enurese” [seção 15.2]), a
m de estimular o sistema imunológico.
► Auto-hematoterapia potencializada: ver a seção “11.2 Dermatite atópica e
crosta láctea”.

8.4 Medicamentos homeopáticos para dor de ouvido

Aconitum C30 Belladonna C30

Tipo de dor Repentina, noturna, provocada Repentina, intensa, contrativa,

por vento frio e seco, intensa latejante, pulsante, geralmente

à direita

Aspecto Rosto vermelho, Cabeça vermelha, pupilas

eventualmente apenas uma dilatadas, pele úmida e

bochecha vermelha, pavilhão quente, mãos e pés frios

auditivo vermelho

Melhora com Repouso Cabeça levantada, repouso

Piora com Deitar do lado dolorido Cabeça abaixada; frio; à tarde;

à noite; estímulos como


barulho, toque, corrente de ar

Disposição Ansioso, inquieto, com Sensível, irritado

palpitações, sensível ao

barulho, assustadiço

Sintomas Febre alta, muita sede, Estiramento devido à dor,

colaterais sem suor dor de garganta frequente,

geralmente sem sede

 
Ferrum phosphoricum C30 Chamomilla C30

Tipo de dor Início lento, poucos sintomas, Intenso, insuportável

à direita

Aspecto Geralmente pálido Uma bochecha vermelha;

a outra, pálida; pele quente

e úmida

Melhora com Aplicações frias, ar fresco, Ser carregado no colo

gotas frias para o ouvido, ao

longo do dia

Piora com À noite Toque, à noite, calor

Disposição Quase não é afetada Histeria, não se contenta

com nada, rejeita tudo, irado,

furioso, de mau humor

Sintomas Em algumas fases, bochechas A criança não se deixa

colaterais com manchas vermelhas, examinar; durante a dentição

apenas febre moderada

 
Apis C30 Pulsatilla C30

Tipo de dor Pungente, ardente, gritos Pungente, em ondas, não tão

estridentes intensa, à esquerda

Aspecto Inchaços edematosos no Nada que chame a atenção

rosto, junto às pálpebras, ou

no pescoço, junto à úvula


Melhora com Compressas frias, ar frio, Consolo, ar fresco

bebidas frias

Piora com Calor, à noite Quarto quente, calor da cama

Disposição A criança parece A criança fica chorosa, precisa

visivelmente doente da atenção da mãe

Sintomas Totalmente sem sede, urina Sem sede, sensação de

colaterais pouco, o tímpano está estirado ouvido congestionado, dores

em alto grau e disposição variáveis

 
Lachesis C30

Tipo de dor Inicialmente, intensa do lado  


esquerdo; depois, também do

lado direito

Aspecto Nada que chame a atenção  

Melhora com Ar fresco, ficar deitado sobre a  


orelha afetada, bebidas frias

Piora com À noite, ao acordar, calor,  


toque na barriga

Disposição Sequências de ciúme e  


rivalidade com os irmãos,

emoções intensas, fala muito

Sintomas Não tolera roupas apertadas  


colaterais na barriga e no pescoço; põe

o dedo no ouvido

8.5 Dor de garganta

“Engoli o su ciente.”
 
A garganta é o local por onde o ar e o alimento são assimilados e onde ocorrem
a ligação e a comunicação com o mundo exterior através da linguagem.
Quando há dor de garganta, a passagem estreita é palco de uma árdua batalha.
Um caso agudo de amigdalite pode provocar dores consideráveis e bloquear
amplamente a deglutição. Em casos crônicos, com as tonsilas palatinas muito
inchadas, a qualidade de vida é constantemente prejudicada. A vida torna-se
estreita na região da garganta. Com o inchaço e o fechamento do espaço, surge
naturalmente um estreitamento que produz medo.
As tonsilas palatinas são como fortes que protegem um vau. Quando nelas
ocorre uma rebelião, elas incham e tornam a deglutição dolorosa. Essa dor
pode ser tão intensa que a criança, por m, se recusa a deglutir. Em sentido
gurado, ela não aceita mais nada, ou melhor, já não quer engolir como até
então. A pobre criança, a quem até agora nada mais resta, começa a lutar
agressivamente. Nesse período precoce, é natural que se tenha de deglutir em
muitos níveis e que as repreensões dos pais sejam determinantes. Mas os
tempos mudam para as crianças mais rápido do que para seus grandes
protetores, que às vezes só percebem isso tarde demais.
Para os pais, trata-se de descobrir o que seu lho luta para recusar e o que
“ ca entalado em sua garganta”. Eles veri cariam as poucas possibilidades de
que a criança dispõe para se servir de sua opinião ou manifestar sua falta de
vontade. Com o tempo, ela precisa aprender a expressar sua agressividade não
apenas sicamente, por meio da febre, mas também a defender-se de outro
modo e aceitar novos desa os e provocações, isolando-se e fechando-se
declaradamente quando sentir necessidade. O objetivo a longo prazo precisa
ser o de aprender a dizer logo cedo, de modo incisivo e corajoso, “não” ou
“sim, eu quero”. (Outras interpretações encontram-se na seção “4.9
Escarlatina”.)
 
Perguntas para os pais
► O que nosso lho já não consegue deglutir ou aceitar?
► Por que ele se fecha?
► Como podemos ajudá-lo a decidir sozinho o que ele quer “engolir” e
contra o que tem de se defender?
► O que está entalado na garganta do nosso lho?
► Por que ele não consegue se defender de outra forma?
► Do que ele precisa se isolar?
 
Medidas de apoio:
► Renunciar ao leite e ao iogurte.
► Dar para a criança chupar sorvete de fruta feito em casa, com suco de
frutas diluído.
► Fazer gargarejo com chá de sálvia (impede o crescimento de bactérias,
vírus e fungos). Dar três gotas de Symbio or 1. Deixar que a criança
chupe balas de sálvia sem açúcar.
► Tintura de própolis: dez gotas em um copo d’água para fazer gargarejo.
► Tintura-mãe de tormentilha: dez gotas em um copo d’água para fazer
gargarejo.
► Chá de tília: para fazer suar.
► Umckaloabo: dosagem de acordo com a idade (ver instrução na
embalagem).
► Bandagens: com queijo quark, cebola ou sal, compressas com a solução
pronta “Retterspitz”. Bandagens com batatas: amassar batatas muito
quentes ou quentes e com elas fazer uma compressa (para estimular o
escoamento da linfa e obter um bom efeito em dores de garganta que
reagem ao calor).

8.6 Resfriado

“Estou com o nariz muito entupido.”


 
Quem tem o nariz congestionado ca indiferente à vida e não encontra gosto
em mais nada, pois está “constipado”. A ansiada fuga da situação de crise
ocorre com a “vedação” de todas as entradas, para “nada mais ouvir nem ver”.
Nos bebês, acrescenta-se o agravante de que, com o resfriado e o nariz
constipado, eles não conseguem mamar direito no seio materno. Com a
mamadeira é um pouco mais fácil. Antigamente, as crianças emagreciam
visivelmente por causa disso; hoje, as gotas para o nariz costumam impedir seu
emagrecimento.
Identi car um con ito no lactente não é tão fácil. Às vezes, ocorre uma
perturbação da simbiose com a mãe. O mais provável é que o bebê esteja farto
da mãe, pois ainda nada é muito importante para ele. Possivelmente, ele já não
consegue sentir o cheiro nem o gosto da mãe (do seu leite). Ao contrário do
que acontece com os adultos, ele só consegue expressar essa repugnância ou até
aversão através do corpo. Só que isso aumenta a dramaticidade daquela que
talvez seja a primeira doença em sua vida. Quando o bebê não se desenvolve,
geralmente a relação com a mãe tampouco é bem desenvolvida, e ele só
consegue expressar isso se fechando, uma vez que não consegue articular-se de
outra forma.
A limitação da comunicação é evidente. O nariz está tampado, os brônquios
também tendem a se fechar, a garganta está cheia. Igualmente nesse caso, a
recusa é clara. Quando um bebê, cujas principais ocupações na vida são dormir
e mamar, “já não quer engolir”, a profundidade do distúrbio não deixa
dúvidas.
Quando essa situação vem acompanhada de tosse, a resistência agressiva é
ainda mais clara. O bebê “tosse” alguma coisa para seu ambiente, ou seja, para
a mãe. O resfriado obstrui o olfato; a amigdalite obstrui a deglutição; o catarro
auricular, ao fechar a tuba auditiva, bloqueia a audição. Quando a criança
ainda é acometida pelo calor da febre, tudo volta a uir mais rapidamente, e o
nariz que estava constipado passa a escorrer continuamente. Assim, a vida da
criança também pode voltar a uir.
Os bebês encontram-se em elevada ressonância com a mãe e, muitas vezes,
por meio dessa proximidade, vivenciam coisas de que mães exaustas não
conseguem dar conta – por exemplo, quando se retraem devido ao excesso de
exigência e às poucas horas de sono. Esse “isolamento espontâneo” logo
preenche dois critérios: ele re ete a problemática da mãe e garante sua
preocupação e sua atenção redobradas, que, nessa idade, são uma questão de
sobrevivência. Nesse caso, é importante não confundir trocar a quantidade de
tempo com a qualidade emocional, ou seja, por um lado, a mãe deve dedicar-se
de fato, mas, por outro, não deve sentir a consciência pesada ao deixá-lo com
alguém para cuidar de si própria por um tempo.
A tarefa dos pais consiste em fazer a vida da criança e sua própria uir
novamente e perceber os con itos que a criança só consegue expressar por meio
de sua linguagem de sintomas. O nariz escorrendo e a expectoração devem ser
entendidas e estimuladas como formas de limpeza, e não impedidas. Os bebês
normalmente espirram muito, a m de liberar o nariz, o que deve ser
entendido como um re exo siológico, uma vez que ainda não conseguem
assoar. As gotículas saem do nariz com a velocidade de projéteis, o que enfatiza
o efeito de alívio do espirro. Uma indicação tão banal quanto importante é a de
aquecer os pés da criança.
Outra dica ainda mais importante é pingar leite materno (ou Symbio or)
no nariz do bebê para normalizar a situação no que diz respeito aos vírus
envolvidos ou restabelecer a simbiose em nível microbiológico. Obviamente, é
decisivo que essa simbiose seja restaurada do ponto de vista psíquico.
 
Perguntas para os pais e medidas de apoio:
► Ver a seção “8.7 Sinusite”.

8.7 Sinusite

“Continuo com o nariz entupido!”


 
Os seios paranasais são câmaras de ar que fazem parte do crânio e que, ao
permitirem a entrada do ar, tornam-no mais leve e o arejam. Se não existisse e
seu lugar fosse ocupado por ossos maciços, a cabeça seria insuportavelmente
pesada. Com os seios nasais livres e arejados, a percepção da vida também ca
mais leve. A boa circulação de ar traz vitalidade e leveza para a vida. Se, ao
contrário, estiverem cheios de secreção e permanecerem muito tempo
constipados, a vida ca pesada e nos “puxa para baixo”.
Friedrich Graf descreve os seios paranasais como os porões da alma para as
lágrimas contidas. Quando a criança chora, é natural que seu nariz que
constipado. Quando seu nariz se mantém constipado no sentido de uma
sinusite crônica, ele também se fecha para um represamento de lágrimas,
especialmente na fase em que nada ui ainda. A sensação é de estar “tampado”.
Quando o nariz volta a funcionar, ou seja, quando as secreções voltam a uir, a
pressão nos seios paranasais também cede. Nesse momento, o represamento
psíquico também deve escoar. Naturalmente, é muito mais difícil descobrir na
criança pequena por que o nariz ca sempre constipado. A esse respeito,
remetemos ao capítulo sobre a predisposição a infecções. Também trato esse
tema com mais detalhes no livro A Agressão como Oportunidade.
O importante é ter claro em mente que o resfriado em bebês ainda pode
não ser uma sinusite, pois, geralmente, neles os seios paranasais não são
arejados. Como esses seios se desenvolvem apenas no decorrer da infância, uma
sinusite maxilar, por exemplo, só é possível a partir do quarto ano de vida. As
células do etmoide já existem no nascimento e, a partir do segundo ano de
vida, podem ser acometidas por agentes patogênicos. No entanto, uma sinusite
frontal só é possível a partir do sexto ano de vida, e uma infecção do seio
esfenoide, dos 8 aos 10 anos. Por conseguinte, uma criança com menos de 2
anos ainda não pode ter uma verdadeira sinusite. Portanto, nariz constipado
em recém-nascidos e bebês corresponde a um resfriado “banal”.
 
Perguntas para os pais, especialmente para a mãe (de crianças acima de 1 ano):
► O que meu lho (ou eu mesma) já não aguenta?
► O que faz com que ele se feche em tantos níveis?
► Por que ele demonstra essa agressividade (contra mim)?
► Quando reprimo minha agressividade?
► Para o que ele quer ser fechar? Para o que eu quero me fechar?
► O que perturba nossa ligação?
 
Medidas de apoio:
► São e cazes as mesmas medidas mencionadas nos temas “predisposição a
infecções” (8.1), “tosse e bronquite” (9.1), “otite” (8.3) e “dor de
garganta” (8.5).
8.8 Anel de Waldeyer, pólipos

“Deixem-me em paz!” – “Não me olhe com essa cara de bobo!”


 
A natureza protegeu bem os portões superiores de entrada do organismo com o
chamado anel de Waldeyer, cuja função é impedir que um corpo estranho e
nocivo à saúde possa entrar. Essa fortaleza em forma de anel, que protege o
espaço interno e tem a característica de também consistir essencialmente em
tecidos linfáticos, pertencentes ao sistema imunológico, conta com adenoides e
tonsilas palatinas, responsáveis pela clássica amigdalite. Com frequência, ambas
causam problemas, e, ao extraírem as primeiras, os cirurgiões aproveitam para
extrair as outras também. Quando saudáveis, passam despercebidas na cavidade
faríngea; porém, quando incham e se proliferam, podem causar irritação em
forma de pólipos. Estes podem aparecer em diversos pontos, mas nada mais são
do que as adenoides cronicamente ampliadas.
Por ocuparem certo espaço em um local sensível, as adenoides podem
favorecer a otite (Otitis media). De fato, elas obstruem as chamadas trompas
de Eustáquio (tubas auditivas), que são responsáveis pelo arejamento do ouvido
médio até a faringe. Como essa obstrução pode estender-se à abertura dos seios
paranasais, muitas vezes as adenoides também são responsáveis pela sinusite
crônica. Na prática, é comum que os pólipos venham acompanhados por um
aumento crônico das tonsilas palatinas, o que bloqueia em grande medida os
acessos superiores do corpo e torna bastante evidente o problema já existente
de defesa.
Por trás do acréscimo desses problemas pode estar, em grande parte, a
política excessiva de vacinação. As vacinações devem proteger as crianças, mas,
na prática, acabam conduzindo a reações excessivas do tecido imunológico
dessa região, que podem chegar a uma proliferação descontrolada. Por outro
lado, a vacinação tira o trabalho das defesas do corpo e, nesse sentido, tem a
desvantagem de impedir que elas sejam treinadas. Nesse fato poderia residir
uma das causas que contribuem para o aumento das alergias, que, por sua vez,
também se baseiam em respostas imunológicas excessivas. A autodefesa do
corpo, na qual a medicina acadêmica con a tão pouco, mostra, por assim dizer,
todo o seu repertório. Visualmente, ela se forma de maneira grandiosa, mas,
funcionalmente, pouco e caz em alguns pontos, que, embora importantes do
ponto de vista simbólico, logo se tornam problemáticos para o corpo.
Pediatras antroposó cos partem do princípio de que, nas crianças afetadas,
ocorre uma discrepância entre o crescimento psíquico e aquele físico. Por
conseguinte, elas permanecem atrasadas no que se refere à alma. Quando
interpretamos o quadro sintomático, vemos que o corpo mostra um
crescimento que deve ser substituído pelo desenvolvimento psíquico ausente,
tal como ele sempre se torna palco para aqueles temas que são desfavorecidos
na consciência. Portanto, a tarefa seria aprender a defender-se animicamente,
ou melhor, a defender seus acessos. Além disso, a criança tem de conseguir
observar por si própria o que ela permite entrar e sair em termos de energia
mental, mesmo que, muitas vezes, isso seja difícil para muitos adultos. Mundos
mentais são simbolizados pelo elemento ar, e aqui nos referimos aos pólipos,
que obstruem as vias de arejamento tanto do nariz quanto do ouvido médio.
Mais abaixo, na região das tonsilas palatinas, que, quando dilatadas, di cultam
a deglutição, trata-se mais da entrada de coisas materiais, ou seja, de alimento e
outros fragmentos sólidos.
Outras expressões para o sintoma dos pólipos são “a proliferação das
adenoides”, “hiperplasia adenoideana” ou simplesmente “adenoides dilatadas”.
Trata-se de uma ocorrência crônica típica para a idade. Tudo se desenvolve
devagar, assim como as crianças. Nesse caso, dar-se tempo é uma das grandes
tarefas de aprendizado que custam tanto, especialmente aos pais em nossa
sociedade moderna.
Nessas situações, geralmente a mucosa nasal encontra-se cronicamente
inchada, ou seja, nessa base, as crianças estão sempre com o nariz
congestionado. Os pólipos podem ser em forma de gotas, mas também
estruturas planas ou até mesmo pedunculadas, feitas de mucosa, tecido
conjuntivo ou linfático, que obstruem os seios nasais e paranasais.
Até agora, o tema foi atual principalmente entre o quarto e o sexto ano de
vida; porém, nesse meio-tempo, aparece cada vez mais já a partir dos 2 anos;
ou seja, a situação de defesa das nossas crianças torna-se problemática cada vez
mais cedo, e os mundos das ideias são bloqueados já no início da vida.
Como as crianças afetadas precisam respirar de boca aberta, as vias
respiratórias se ressecam, sobretudo à noite, aumentando a predisposição a
infecções. Nada resseca mais do que o vento e, naturalmente, o ar da
respiração. Durante o dia, o ar frio e seco, que não é pré-aquecido nem
umedecido pelo nariz, agrava ainda mais a situação. De modo geral, por um
lado, o sono se torna menos reparador e, por outro, com a respiração, a
principal fonte de energia tende a perder força. Desse modo, entram em ação
aqueles círculos viciosos de que sofrem tantas crianças e tantos pais de nosso
tempo.
Um dos principais problemas subjetivos para os pais em questão é a
expressão facial, que, devido à boca sempre aberta, sugere poucas capacidades
intelectuais nos lhos e quase um retardo mental. Essa expressão um pouco
apática e estupidi cada magoa muitos pais. Desse modo, seria importante
compreender que essas crianças que têm um desenvolvimento atrasado podem
ser muito inteligentes e recuperar-se em grande medida quando tratadas
corretamente.
Elas não apenas causam essa impressão, mas são de fato atrasadas e têm
di culdade de compreensão; no entanto, não são bobas. Esse efeito está
relacionado sobretudo ao fato de que ainda vivem muito mais da intuição do
que do intelecto. A tarefa prioritária, resultante dessa situação, é dar-lhes
tempo para que cresçam no nível mental, talvez estimulando-o, mas sem forçar
a criança a nada. Nesses casos, é de grande auxílio aceitar as repetições das
crianças e aprender a avaliar seu modo ingênuo e manifestamente infantil.
Quando os pais admitem a lentidão com consciência, geralmente, em um
ambiente cercado de amor, essas crianças com desenvolvimento tardio
conseguem recuperar muito melhor os passos atrasados do desenvolvimento
mental do que com auxílio pro ssional. Os pequenos príncipes e as pequenas
princesas precisam do seu tempo, tal como Antoine de Saint-Exupéry
descreveu de modo inimitável; só precisamos conceder-lhes esse tempo.
Pela aparência, muitas vezes se trata de típicas “crianças lunares”, um pouco
gordinhas e apáticas, que gostam de car agarradas à barra da saia da mãe.
Extremamente afeiçoadas, costumam se apegar à situação em que se encontram
(aos primeiros estágios). Quando o problema persiste no período escolar,
naturalmente também tendem a não avançar, ou seja, não passam de ano e,
portanto, não são promovidas nem estimuladas. Em vez disso, cam à toa, tal
como expressa metaforicamente sua mandíbula hipotônica ( ácida e
distendida). Quem tem a mandíbula caída e “já não consegue fechar a boca”
causa uma impressão de surpresa e extremo cansaço, e ambos acontecem com
essas crianças.
Antes de tudo, elas precisam de tempo, como o pequeno príncipe, que
também encara o mundo adulto, singularmente hiperativo, sobretudo com
surpresa e perplexidade, mas também com pouco dinamismo. Com seu
desamparo evidente e sua tendência a apegar-se, elas reclamam ajuda e apoio,
atraindo os pais a fazer muito nesse sentido. Fracas e carentes de apoio, o que
se abate até mesmo em seu tecido hipotônico, sua primeira tarefa, com o
auxílio dos pais, seria deixar que sua criança interior vivesse e crescesse, a m
de reaproximar seu corpo e sua alma.
Além disso, seus órgãos de defesa ampliados (hipertro ados) indicam outras
tarefas: aprender a defender-se mais do ponto de vista psíquico e desenvolver a
autonomia. Quando a criança toma consciência de si mesma, ela também
precisa estar em condições de se isolar do que é estranho e de reconhecer “o
que é bom e o que é ruim”.
Esse tema, bem como um ou outro aspecto adicional, também pode ser
bem identi cado no nariz e em seu signi cado simbólico. Enquanto nos
adultos o nariz incorpora o poder, o orgulho e a sexualidade, o nariz pequeno e
arrebitado das crianças em geral é considerado gracioso, mas quase não é
percebido individualmente como pertencente ao esquema de aspectos infantis.
Na criança, o nariz ainda é pouco característico, ou seja, ainda não é
exatamente algo próprio a ela, mas re ete, antes, a tarefa da criança de crescer a
partir do coletivo e soltar-se da mãe, a m de desenvolver sua própria
autonomia. Quando muito, um nariz arrebitado, que aponta de modo
impertinente para a vida, poderia representar uma criança especialmente
atenta. Mas este não é o caso quando há problemas com pólipos.
Essas crianças não chegam sequer a desenvolver o paladar, pois, estando
sempre com o nariz congestionado, não percebem os aromas. A mãe segue
sentindo o gosto da comida por elas, que não conhecem o sabor da vida. Em
outros termos, a mãe continua a determinar, e a criança recebe poucos
impulsos de crescimento. Ela ainda não descobriu o próprio gosto e confunde
o apego à barra da saia da mãe com a vida.
Estar com o nariz congestionado, não sentir o cheiro nem o gosto de nada e
ouvir mal é uma estratégia (infantil) de recusa. A razão poderia estar em
diversos estímulos estressantes, que a vida moderna oferece em profusão.
Contudo essas crianças não precisam de uma multiplicidade de tarefas
modernas; ao contrário, têm de aprender uma após a outra. Conforme
demonstrado não apenas por pesquisas recentes, esta seria, de resto, uma
estratégia mais bem-sucedida também para os adultos.
Quem não consegue sentir o cheiro da vida e (desde cedo) já tem o nariz
congestionado, também acaba revelando uma aversão a determinadas pessoas, a
circunstâncias atuais de vida ou a todo um ambiente. Isso mostra que as
pessoas afetadas já se sentem fartas e sobrecarregadas desde cedo. O perigo
reside no boicote inconsciente à própria vida, o que se exprime na estagnação
ou na hesitação do desenvolvimento e, caso não seja notado, pode levar a uma
obstinação considerável. As crianças fazem greve, por assim dizer, contra um
mundo que as sobrecarrega e superestimula com sua pressa e sua pressão.
Nesse ponto, é interessante notar que, embora os sintomas aumentem, as
crianças que frequentam jardins de infância Waldorf são amplamente poupadas
desse efeito. Em vez de sobrecarga e agitação, essas escolas oferecem exercícios
leves de ritmo, dedicação e atenção com sensibilidade em relação à velocidade
individual de desenvolvimento, seguindo a doutrina de Rudolf Steiner, que
partia do princípio de que toda vida é ritmo.
O elemento crônico desse quadro clínico aponta para um con ito
duradouro com a respectiva falta de energia, que sai da imobilidade e, na
prática, do obstáculo à respiração, para seguir por caminhos errôneos. A
comunicação bloqueada indica a necessidade de se limitar ao essencial.
De certo modo, as pessoas afetadas permitem que seu nariz se feche. Já não
cam fungando como um coelho curioso e intrometido, mas estão bloqueadas.
Já não recebem ar fresco o su ciente e, com ele, intercâmbio e comunicação.
Quem não respira pelo nariz tampouco consegue cheirar, fungar ou farejar.
Não desenvolve um “bom nariz” para as coisas importantes da vida. Por
conseguinte, tampouco sente seu gosto. Escapam-lhe o “bom faro”, a intuição e
a percepção. Como lhe falta a capacidade de sentir os aromas, todo alimento
lhe parece igualmente insosso. Quem tem di culdade para sentir o cheiro e o
gosto das coisas porque está sempre com o nariz congestionado tende a uma
vida monótona, pois lhe falta o “sal”.
Os ouvidos podem ser comprometidos, devido à má ventilação e, portanto,
à tendência ao bloqueio da cavidade timpânica. Com um ouvido médio
prejudicado, entra em questão a temática da audição, da atenção e da
obediência, e o contato com o ambiente torna-se indistinto e problemático.
Não raro, a expressão lânguida e desconcentrada de quem “tem di culdade
para compreender” tem sua origem em certa di culdade de audição, provocada
pela situação. Quando este é o caso, a criança ca apartada das vibrações e, em
última análise, de todas as percepções sensoriais originais e vive uma vida
manifestamente insensível aos sentidos que, portanto, logo se torna absurda.
 
Perguntas para os pais:
► Ver a seção “8.9 Complementação homeopática a partir da concha”.
 
Medidas de apoio:
► Possibilitar o amadurecimento interno e disponibilizar o tempo necessário
para isso como tarefa prioritária dos pais.
► Nessa fase, poupar a criança de exigências excessivas e frustrações ou,
eventualmente, de limitações muito grandes e superproteção, que
também poderiam contribuir para a boca aberta e a expressão perplexa;
em vez disso, disponibilizar um lar ideal.
► Descobrir os con itos crônicos na comunicação com o ambiente e, quando
possível, eliminá-los. No lugar deles, tentar limitar com sabedoria os
estímulos e a comunicação.
► No jardim de infância, com a consciência adequada, o crescimento
psíquico poderia ser incentivado para que as crianças conseguissem se
defender sozinhas. Além disso, esse é o local em que provavelmente elas
perceberão pela primeira vez que nem sempre podem contar com a mãe e
que sua vida sai ganhando e torna-se mais bonita quando elas próprias
desenvolvem sua curiosidade em relação ao novo – como convém a
crianças interessadas e que tudo querem saber. Para tanto, porém, o
mundo anímico precisa primeiro se tornar acessível no verdadeiro sentido
do termo, ou seja, aberto, para que a criança o perceba e o conquiste com
todos os sentidos.
Muitas vezes, essas crianças não têm vontade de ir ao jardim de infância,
não querem car por conta própria nem sem a mãe; gostam de ser
dependentes, demoram-se em qualquer atividade e, pelo que demonstram,
cam intencionalmente para trás. Isso vale, pelo menos, enquanto a
primeira fase da proteção e do calor do ninho para os pequenos príncipes
e princesas ainda tiver de ser mantida. Nesse caso, seria ideal buscar
auxílio na homeopatia para o desenvolvimento, a m de harmonizar o
crescimento psíquico e o físico.
► Deve-se protelar o máximo possível a extração dos pólipos através de cirurgia,
pois, na maioria das vezes, eles voltam a crescer dentro de um ano e, a
partir do sétimo ano de vida, se reduzem por si sós. Contudo, é preciso
seguir um tratamento de apoio no sentido da interpretação e da
homeopatia. Por certo, deixar que uma criança passe um ano inteiro com
uma expressão facial estupidi cada e abobalhada não é uma solução e, a
longo prazo, só prejudica o desenvolvimento.
Em vez disso, seria importante estimular a capacidade de surpreender-se,
permitir a obstinação, cuidar para que haja tranquilidade e silêncio em
meio ao uxo da vida familiar, compensar o crescimento exagerado no
nível do corpo com estímulos no nível da alma e ajudar a criança a entrar
em contato e aproveitar o mundo com todos os sentidos. Desse modo, ela
também conseguirá se abrir, em sentido gurado, com as próprias forças –
a nal, a boca cronicamente aberta já revela que é isso o que ela quer –
para absorver novas impressões e ter as próprias experiências, desenvolver
um bom “faro” e encontrar gosto pela vida. Quando voltar a ouvir bem,
também obedecerá espontaneamente e conseguirá desenvolver sua
intuição.

8.9 Complementação homeopática a partir da concha

De acordo com a ideia de Paracelso, que muito antes de Hahnemann formulou


o princípio da homeopatia “Similia similibus curentur” (“o semelhante se cura
pelo semelhante”), para tudo e todos é possível encontrar uma erva que cresce
em sua proximidade ou um meio para o respectivo quadro sintomático. De
Paracelso também provém o conhecimento de que a melhor farmácia do
médico são os campos e prados do ambiente. Nesse sentido, o medicamento
homeopático Calcium carbonicum, que se encontra por toda parte em nosso
ambiente como calcário comum, é um medicamento ideal. Em sua
representação, as crianças descritas anteriormente tornam-se ainda mais
evidentes. Hahnemann obtinha o calcário a partir das conchas, e as crianças de
cálcio precisam de sua concha, da casca dura, para que seu núcleo macio possa
amadurecer lentamente. Elas querem permanecer em casa e desfrutar de seu
ritmo familiar; adoram repetir os mesmos rituais. As histórias antes de dormir e
a comida igual criam aquela con ança de que precisam para crescer. Sua
necessidade de proteção é proverbial, a mãe que as alimenta deve estar sempre
por perto, e sempre no momento certo. Com seus sintomas, as crianças freiam
os pais, que devem examinar a própria rapidez e, sobretudo, a ambição em
relação ao lho.
Ainda que as crianças tenham uma aparência estupidi cada, geralmente elas
não o são; ao contrário, costumam ser muito inteligentes, mesmo com um
desenvolvimento tardio. Com seu simples modo de ser, elas questionam as
pretensões dos pais e a pressão da sociedade. Atualmente, todos querem coisas
demais e com demasiada rapidez. As crianças de cálcio não são assim. Mark
Twain expressou isso com precisão em uma frase das Aventuras de Huckleberry
Finn: “Mal tínhamos perdido o objetivo de vista, dobramos a velocidade”. As
crianças de cálcio precisam exatamente do contrário, ou seja, de um objetivo e
de tempo para alcançá-lo.
Desse modo, em muitos aspectos, o período inicial da vida para todas as
crianças é um período de cálcio. Se nessa fase do ninho ou da concha houve
pouco ritmo e ritual, mais tarde será preciso recuperá-los e obtê-los por meio
da hesitação da criança. A criança de cálcio pode ser muito obstinada. Precisa
do seu tempo e do seu espaço e, paulatinamente, também de estímulos leves
para seu crescimento. No momento certo, é preciso cortar o cordão umbilical
com cuidado, para que, aos poucos, ela aprenda a andar sozinha e a traçar seu
próprio caminho (na vida).
Seus passos têm de conduzi-la para longe da mãe, que, nesse momento,
também precisa aprender a se soltar da criança. Se a criança permanecer
agarrada à barra da saia da mãe, continuará tola por toda a vida, pois sempre
contará com ela. Se não aprender a caminhar sozinha, irá se fechar ainda mais
para a amplidão do mundo, e este lhe fechará as portas.
Tal como a ostra amorfa, no início, a criança precisa da concha como
suporte, lar, pátria e casulo. Nesse período, as crianças sentem muita falta do
lar, ainda vivem totalmente do ventre (amorfo), e não das circunvoluções
cerebrais diferenciadas, que se formarão posteriormente e, de todo modo,
podem predominar. A tarefa torna-se clara na imagem da casca e reside na
separação da mãe, a m de adquirir sua própria forma e sua própria rmeza.
Outros sintomas se adaptam irrestritamente a esse modelo. As crianças são
eumáticas e até lentas, têm uma aversão pronunciada a toda alteração e, por
isso, temem con itos. Tendem em grande medida a resfriar-se, mas será que
sofrem realmente com isso? Ter o nariz congestionado corresponde à sua
natureza, assim como a constipação frequente tampouco lhes causa dor. Ser
segurado no colo é sentido como algo agradável, e car agarrado à mãe dá
prazer. É interessante notar que essas crianças tendem a gostar de ovos pouco
cozidos, nos quais a gema mole se encontra dentro da casca dura. Assim,
naturalmente também adoram leite (materno), que, na verdade, deveria ser
deixado de lado com a infância, e, por conseguinte, tampouco querem deixar
de mamar no peito. Como crianças que se desenvolvem tardiamente, sua
fontanela, a junção para cima, costuma permanecer muito tempo aberta. No
nível gurado, elas se ocupam cedo de anjos e outras entidades, bem como da
morte. Todo o restante tem de esperar, como o nascimento dos dentes, mas
também aprender a andar e falar. Elas têm e muitas vezes mantêm uma forte
ligação com a Lua, e geralmente a Lua cheia piora sua situação, assim como o
aspecto materno piora tudo quando seu período já foi ultrapassado.
Quando recebem os tempos necessários e exíveis, o consolo de que
precisam, o cuidado harmonioso e proteção em sintonia com suas exigências,
nelas pode se desenvolver uma pérola, e seu esforço e sua capacidade se
mostrarão mais tarde na vida, quando o intelecto predominar sobre o ventre.
Talvez permaneçam lentas, mas se tornarão inteligentes e persistentes e poderão
brilhar à sua maneira especial. Assim como se deve colocar a pérola sob a luz
certa para se poder desfrutar de seu brilho, as crianças de cálcio também
querem ser olhadas do modo adequado. Mas isso elas compartilham com todas
as crianças do mundo.
 
Perguntas para os pais:
► Por que nosso lho está com a boca sempre aberta e o nariz sempre
congestionado? Como podemos ensinar nosso lho a se surpreender?
► Do que ele se defende?
► Reconhecemos seu estágio de desenvolvimento de maneira realista? Até
que ponto somos dependentes de normas?
► Como podemos ajudá-lo a usar as vantagens de sua velocidade
individual? Por que ele é mais devagar do que esperamos?
► Quais outras formas de defesa ele pode aprender?
► O que ele quer nos dizer com tudo isso? Como ele se comporta com os
temas “paciência” e “impaciência” em nossa família?
 
Medidas de apoio:
► Lavar o nariz com sal: colocar uma colher de chá cheia de sal em meio
litro de água morna (temperatura do corpo) em um pote para lavagem
nasal. Inclinar a cabeça para o lado e introduzir o bico do pote em uma
das narinas, levantando-o o su ciente para que a solução passe pelo nariz,
lave a extremidade posterior do septo nasal e saia pela narina oposta.
Enquanto se realiza a lavagem, deve-se respirar pela boca. Caso a água
caia na garganta, deve-se cuspi-la. Por m, assoar bem o nariz e, em
seguida, repetir o procedimento do lado oposto. Essa medida é muito
e caz, embora no início seja sentida como incômoda por todos que a
empregam.
► Aplicações de Kneipp: ver a seção “8.1 Predisposição a infecções – baixa
imunidade”.
► Beber com canudo e deixar fazer bolhas de sabão: para que a boca seja
fechada.
► Reforçar o sistema imunológico: ver a seção “8.1 Predisposição a infecções –
baixa imunidade”.
► Escalda-pés: descrito no tema “enurese” (seção 15.2).
► Evitar leite e produtos lácteos.
► Mastigar intensamente: alimentação à base de vegetais crus, produtos
integrais e gomas de mascar adequados, a m de reagir contra a hipotonia
muscular.
► Limpeza do cólon: para reforçar a imunidade.
► Fricção com pomada de bérberis (fruto) da Weleda na região sobre a
bexiga.
► Brincadeiras adequadas à idade: com os olhos fechados, ouvir ruídos,
cheirar e provar objetos ou alimentos para aguçar a percepção.
 
De resto, valem aqui todas as dicas descritas nos capítulos sobre predisposição a
infecções, otite e resfriado.

8.10 Hemorragia nasal


“Meu nariz está pingando (e minha vitalidade está indo embora).” – “Estou
transbordando.” – “Estou sob pressão! Para onde vai minha energia agora?”
 
A energia de vida simbolizada no sangue, essa linfa especial, escorre
literalmente do nariz das crianças. No que se refere a uma ameaça à vida, esse
escorrimento é tão inofensivo quanto impressionante para os pais e para a
criança. Uma pequena quantidade já é su ciente para dar a impressão de ser
um verdadeiro banho de sangue, quando derramada no travesseiro da criança
amada.
O nariz é uma região carregada de simbolismo e que representa poder e
orgulho, mas também sexualidade. A criança sinaliza inconscientemente,
porém de forma bastante dramática, sua ameaça e o risco que corre. O
sacrifício demonstrativo da própria linfa vital mostra que ela parece não estar
nada bem. Normalmente, a criança ca muito perturbada ao ver o próprio
banho de sangue, mas essa má impressão logo diminui quando os pais tomam
como primeira medida lavar ou limpar os sinais de sangue.
Do ponto de vista siológico, por trás desse sangramento pode estar um
aumento brusco de pressão na rede de vasos dentro do nariz. No sentido
gurado, isso ocorre quando o sangue sobe para a cabeça e a pressão (em
excesso) que surge tem de ser descarregada.
De todo modo, a explicação que remete a uma fraqueza física no âmbito de
um crescimento acelerado poderia esclarecer por que o sangramento nasal
geralmente termina na adolescência. Quando persiste em idade mais avançada,
na maioria das vezes está relacionado a oportunidades perdidas de crescimento.
Em regra, os adultos têm outras possibilidades de dirigir o interesse para si
próprios e para seus desejos. Quando isso não funciona, resta a possibilidade,
como entre as crianças, de fazer o sangue escorrer do nariz, o que quase sempre
provoca compaixão, e as pessoas acometidas voltam a ser o centro das atenções.
Contudo, isso ca tão evidente que, na maioria das vezes, com o tempo elas
passam a escolher estratégias diferenciadas.
Em todo caso, o sintoma aumenta com esforço físico, estresse e febre – e,
obviamente, quando a criança apanha ou quando simplesmente as coisas não
acontecem conforme ela esperava, o que faz com que o tema da agressividade
se torne evidente. Esse caso mostra, de modo inofensivo, que a criança tem um
problema de vitalidade.
Do ponto de vista alopático, o sangramento nasal requer repouso com uma
toalha fria e úmida na nuca. Em geral, também ajuda tamponar ou
simplesmente tampar o nariz, fazendo com que surja uma espécie de curativo
de compressão para os vasos rompidos.
Do ponto de vista homeopático, as crianças devem deixar uir sua
vitalidade e sua alegria de viver e se exaurir. Se na puberdade a energia vital
continuar a pingar do nariz, que é um símbolo de força fálica, o caráter de
desa o do sintoma já não pode ser ignorado. Quando o órgão fálico, bem no
meio do rosto e à vista de todos, começa a sangrar, algumas pessoas
familiarizadas com a simbologia reconhecem nisso um signi cado. O tema é
controverso, envolve um órgão carregado de simbolismo, que sofre uma
pressão e se descarrega, mostrando com isso, de forma apelativa, que tudo é
muito perigoso e que a pessoa em questão se sente mal. O incitamento a
descarregar sua raiva torna-se evidente.
Quando o sangramento nasal ocorre à noite, durante o sono, deve-se partir
do princípio de que os sonhos oprimiram a criança em sua tentativa de
assimilar o que não foi assimilado durante o dia. Junto com o alívio da pressão,
que libera o que é irrelevante para o corpo, esse tipo de sangria também é uma
dissipação de linfa e de energia vital.
Contudo, os pais reagem espontaneamente mais no sentido alopático,
cuidando para que o sangue da criança não suba com muita frequência à
cabeça, em vez de animá-la, em sentido gurado, para deixar sua força vital sair
por todas as válvulas. No entanto, seria natural estimular atividades físicas e
incentivar o desenvolvimento de certa resistência por meio do esporte e das
brincadeiras, em vez de apostar exclusivamente em atividades intelectuais.
Sobretudo quando a criança é de constituição delicada, como é frequente entre
aquelas que têm sangramento nasal, esse incentivo lhes seria favorável. Chama
a atenção o fato de que muitas crianças sensíveis, do tipo fosfórico, tendem a
ter sangramento nasal e a se sobrecarregarem (intelectualmente), esquecendo-se
de cuidar do corpo. Qualquer pequeno ferimento faz com que sangrem em
profusão. Rapidamente também cam cobertas de hematomas (hemorragias
subcutâneas), o que evidencia a que ponto são “impressionáveis”. Para os pais,
um sintoma tão inofensivo como o sangramento nasal, que causa medo, seria
uma boa ocasião para que se reconciliassem com as ameaças da vida (que lhes é
con ada).
 
Perguntas para os pais:
► Quando nosso lho está sob pressão? Como ele pode aprender a lidar
melhor com a pressão?
► Por que ele quer chamar atenção dessa forma, tentando se colocar no
centro?
► Como nosso lho pode exaurir-se de modo pertinente?
► Por que ele dissipa tanto sua energia e sua força?
 
Medidas de apoio:
► Com a criança sentada, manter seu nariz fechado por até cinco minutos
(apertar as asas do nariz contra o septo nasal) e colocar compressas frias
em forma de bolsa fria, saco de gelo ou toalhas frias e molhadas na nuca.
Em seguida, não se deve assoar logo o nariz; manter a respiração por um
breve período pela boca, para que o coágulo formado não se solte
novamente.
► Colocar um papel embaixo da língua: colocar um pedaço de papel toalha
ou lenço de papel, até o sangramento parar.
► Segundo a medicina popular, uma corrente de prata ajuda quando usada
permanentemente.
► Tratamento homeopático: em caso de sangramento nasal frequente, deve-se
realizar um tratamento constitucional.
Arnica C30: quando o sangramento nasal ocorrer após esforço físico
intenso ou golpe no nariz.
Ferrum Phosphoricum C30: crianças pálidas com bochechas
avermelhadas, eventualmente no início de uma infecção ou em caso de
febre.
Phosphorus C30: crianças esguias, de cabelos claros e pele clara e que são
altas para sua idade. São radiantes, abertas, compassivas e têm inúmeros
medos (de escuridão, trovoada, de carem sozinhas).
9 Problemas nos órgãos respiratórios

9.1 Tosse e bronquite

“Estou com tosse. Vão às favas!” – “Estou com muco. Preciso bajulá-los!”
 
Quando há tosse e bronquite, trata-se de um con ito típico na área de
comunicação das vias respiratórias. Além dos brônquios, os canais de ligação
entre o mundo interior e o exterior são afetados. A diferença em relação à
pneumonia reside no fato de que, na bronquite, são acometidas as vias de
transporte do ar, enquanto na primeira são acometidos os alvéolos, ou seja, as
pequenas cavidades pulmonares como locais em que ocorre a verdadeira troca
de ar. Já não é possível desviar do problema, e o perigo de falta de ar na
pneumonia é muito maior. Contudo, há transições, como as
broncopneumonias, que naturalmente têm suas características inerentes e
indicam que a comunicação está bloqueada em várias vias. A criança pode, de
fato, sentir-se sufocada por falta de comunicação.
Por conseguinte, na bronquite, con itos reprimidos se estabelecem
simbolicamente nos locais adequados para eles. A criança tosse em vez de
mandar alguém às favas. Nas crianças pequenas, a chamada bronquite
obstrutiva produz muco em demasia devido aos processos metabólicos
excessivos. Esse muco preenche as vias respiratórias e provoca como reações os
respectivos acessos de tosse e falta de ar. Portanto, as vias de comunicação são
obstruídas com temas psíquicos em forma de muco. Na bronquite espástica,
trata-se de agressividade contraída, que cou por muito tempo represada.
Devido ao esforço, as vias respiratórias são comprimidas, e a criança tenta
respirar de maneira patética. Em crianças pequenas, não raro por trás disso se
encontram con itos crônicos dos pais, que não conseguiram resolvê-los e os
transferiram para os lhos. Isso se torna evidente especialmente entre pais
fumantes, que, sem exceção, também sofrem de bronquite e já sobrecarregam
os lhos no ventre materno.
Já vimos mães que se deixam prender pelos lhos quando estes sofrem um
acesso de tosse. Isso acontece, sobretudo, quando a criança, diante da
problemática da mãe, percebe que, com a tosse e a secreção de muco, recebe
mais da mãe do que em razão do trabalho que lhe dá ou da concorrência com
os irmãos. Nesse sentido, a bronquite pode, de fato, ser aprendida como uma
fonte mais segura de tosse e muco. Infelizmente, o mesmo também se pode
dizer de todas as transições da bronquite asmática até a asma brônquica.
Para os pais, o desa o está em submeter as próprias estruturas de
comunicação a uma revisão e em avaliar se não estão buscando a discussão de
modo mais ofensivo, se estão travando seus con itos em nível verbal e se não
deveriam ousar contrariar um ao outro. Além disso, poderiam tentar melhorar
a ligação anímica interna com seu lho, para que a troca entre eles fosse mais
fácil e a comunicação uísse melhor. Com a disposição para o con ito e a
coragem para aceitar desa os, seria possível ajudar muito mais cedo a criança
que, no que diz respeito à comunicação, ainda está totalmente abandonada.
(Outras interpretações podem ser encontradas nas seções “9.3 Pneumonia” e
“4.6 Coqueluche”.)
 
Perguntas para os pais:
► Ver a seção “9.3 Pneumonia”.
 
Medidas de apoio:
► Podem-se escolher diversas bandagens torácicas, de acordo com as
necessidades de cada criança:
Compressa com queijo quark: espalhar o queijo quark magro em um pano
de prato, na proporção da espessura do cabo da faca, e colocar o pano
sobre o tórax. Cobrir todo o tronco com uma toalha de rosto e,
eventualmente, manter a temperatura moderada com uma bolsa de água,
pois a criança não deve sentir frio em hipótese alguma. As bandagens
podem ser trocadas de três a quatro vezes por hora ou aplicadas por mais
tempo durante a noite.
Bandagem de suco de limão diluído: aquecer o suco de meio limão em
três quartos de litro de água quente, mergulhar uma toalha no líquido,
torcê-la e enrolá-la no tronco da criança. Cobri-la com outra toalha e,
eventualmente, reforçar o aquecimento com uma bolsa de água quente ou
travesseiro de caroço de cereja.
Bandagem de tomilho: fazer chá de tomilho e proceder conforme descrito
na bandagem de suco de limão.
Bandagem de folhas de repolho: cozinhar folhas grandes de repolho por
um a dois minutos em água fervente, até amolecerem. Em seguida,
colocá-las se possível quentes no tronco da criança, cobri-la com uma
toalha e, conforme descrito acima, reforçar o aquecimento.
Bandagem de óleo de lavanda: pingar óleo de lavanda (10%) em uma
toalha e com ela cobrir o tronco da criança. Conforme descrito
anteriormente, reforçar o aquecimento. A toalha embebida em óleo pode
ser reutilizada por cerca de uma semana; deve-se apenas pingar mais
algumas gotas do óleo de vez em quando.
Bandagem de cera de abelha, adquirida em farmácia.
Bandagem de manteiga: friccionar o tórax da criança com manteiga
derretida, colocar um pano atoalhado seco e quente ou uma toalha de
rosto por cima, vestir o pijama e pôr a criança para dormir.
► Oferecer bastante líquido.
► Chás para a tosse: duas colheres de chá de ervas para um quarto de litro de
água; deixar pousar por dez minutos e coar. Para crianças acima de um
ano, dar uma xícara três vezes ao dia. Crianças menores de 1 ano ainda
não suportam grandes quantidades de chá para a tosse. É melhor recorrer
a chá de funcho.
Anticonvulsivos: tomilho, anis, cavalinha.
Expectorantes em caso de tosse seca: tanchagem, raiz de prímula.
Calorí cos: ores de sabugueiro, raiz de gengibre.
Calmante para a mucosa: malva.
Para aquecer bem e relaxar: ores de tília.
► Inalação: apropriada para crianças maiores, a partir da idade escolar, e
para crianças menores quando a mãe também se colocar embaixo da
toalha de rosto. Possíveis suplementos são o tomilho (duas colheres de
chá), sal (quatro colheres de sopa) ou óleo de raiz de angélica (três gotas).
Aplicação: colocar em uma tigela o suplemento escolhido e dois litros de
água quente, mas não fervente. Cobrir a cabeça com uma toalha de rosto
e mantê-la inclinada sobre a tigela. Por dez minutos, inspirar
alternadamente pelo nariz e pela boca o vapor bené co. Atenção: devido
ao risco de queimaduras, crianças não devem ser deixadas sozinhas
durante a inalação.
► Fitoterapia: a Hedera helix, da Ceres (tintura-mãe de hera), age como
anticonvulsivo.
ymus vulgaris, da Ceres (tintura-mãe de tomilho), age como
expectorante e anticonvulsivo.
Xarope Bronchicum para a tosse (raiz de prímula, tomilho) age como
expectorante e anticonvulsivo.
Extrato de plantago, da Wala (tanchagem), detém o crescimento das
bactérias e acalma a tosse.
Mel de funcho: calorí co e expectorante.
Chá de raiz de gengibre: aquece e fortalece.
► Escalda-pés: descrito no tema “enurese” (seção 15.2).

9.2 Medicamentos homeopáticos para tosse e bronquite

Bryonia C30 Phosphorus C30

Agentes Preocupação, irritação Resfriado, esforço excessivo,

desencadeadores agitação, falar demais

Tipo Aguda, seca, muito dolorida, Seca, incômoda, ardente,

mantém a mão sobre o tórax opressora, com coceira

quando tosse na garganta


Bryonia C30 Phosphorus C30

Melhora com Repouso, pressão, ficar Pratos e bebidas frias,

deitado sobre o lado afetuosidade, sono breve

dolorido

Piora com Movimento, toque, a Ar frio, ficar deitado do

cada respiração lado esquerdo, pratos e

bebidas quentes

Peculiaridades Muita sede, mucosas secas Rouquidão, bochechas

vermelhas, tremor em todo

o corpo

Disposição Irritável Temeroso

 
Rumex C30 Drosera C30

Agentes Ar frio, coceira na laringe Nada específico

desencadeadores

Tipo Tosse com coceira na Acessos de tosse que se

garganta, tosse seca e sucedem rapidamente, com

incessante sensação de falta de ar;

seca, incômoda

Melhora com Fechando ou cobrindo a Ao longo do dia, ao ar livre

boca, calor

Piora com Inspirar ar frio, inverno, ficar Após a meia-noite, cantar,

deitado do lado esquerdo, falar, deitar, aquecer-se

às 23 h

Peculiaridades Sensação de aspereza e Principal medicamento em

queimação sob o esterno caso de coqueluche;

acessos aumentam até

causar ânsia e vômito

Disposição Abatido, sério, indiferente Ligeiramente irritado, fica

fora de si por pequenas

coisas
 
Pulsatilla C30 Cuprum metallicum C30

Agentes Tempo instável, falta de Frio, decepções amorosas

desencadeadores afeto por parte das pessoas

de referência

Tipo Tosse incômoda, seca Convulsiva, sufocante,

ou com catarro, com repentina, expectoração

respiração curta com gosto metálico

Melhora com Ar frio e fresco, sentar-se na Bebidas frias, suor, colocar

cama, movimento leve a mão no tórax

Piora com Calor, espaços abafados, à Respirar fundo, às

tarde ou à noite na cama 3 h, toque

Peculiaridades Não consegue ficar longe da Lábios e dedos roxos,

mãe, falta de sede punhos com o polegar

para dentro, convulsões,

vômito convulsivo

Disposição Afetuoso, choroso, instável Nervoso, inquieto, fechado,

acessos repentinos de raiva

 
Spongia C30 Causticum C30

Agentes Costuma aparecer na Preocupação, resfriamento

desencadeadores primavera e no outono

Tipo Cavernosa, rouca, dolorida, Ferida, dolorida,

seca, ao modo de crupe, incômoda, exaustiva

sensação de sufocamento

Melhora com Deitado, pratos e Calor úmido, engolir

bebidas quentes água fria

Piora com Frio seco À tarde, de manhã cedo,

vento frio, deitado, calor

da cama
Spongia C30 Causticum C30

Peculiaridades Importante medicamento Exaustão, incontinência

para pseudocrupe, urinária quando há tosse

necessidade constante de

pigarrear, rouquidão

Disposição Medo e temor, toda agitação Dor no corpo todo

aumenta a tosse

9.3 Pneumonia

“Minhas asas estão doendo muito.”


 
Nas dez luas da gestação, os pulmões do feto ainda não estão desenvolvidos.
Ainda não precisam participar dos eventos do metabolismo, uma vez que a
mãe assume a respiração e transmite oxigênio à criança através da troca de
sangue na placenta. Com o nascimento e a primeira respiração por conta
própria, os pulmões são in ados, e o elemento ar entra na vida jovem. Este é o
passo dado pelo ser na passagem da vida na água para a vida no ar, superado ao
longo da história evolutiva e novamente exigido de toda criança ao nal da
gestação. Os “anjinhos” precisam desdobrar suas asas por iniciativa própria.
Nesse sentido, o auxílio vindo “de cima” não deve ser subestimado. Até mesmo
a Adão, o primeiro ser humano, Deus enviou seu sopro. A partir de então, a
criança torna-se, ainda mais, um ser anímico. É signi cativo que o termo grego
psyché para “alma” também seja “sopro (de vento)”.
Na pneumonia, há uma inversão no sentido do desenvolvimento. As asas
internas que, desde a primeira respiração por conta própria, cam
comprometidas com o elemento ar, voltam a se encher parcialmente com água
e matéria, sofrendo uma recaída, uma regressão ao período anterior ao
nascimento, quando toda a responsabilidade ainda era da mãe e o feto podia
permanecer em uma situação de unicidade paradisíaca. Tudo de que precisasse
recebia em abundância sem ter de fazer nada. Unido à mãe, podia abastecer-se
de con ança primária e assegurar-se de si mesmo e do mundo.
Portanto, a tarefa da pneumonia seria garantir à criança um período de
retrocesso, para que ela novamente atinja sua força primordial, volte-se para
dentro e (na unidade) experimente a con ança primária. A ocorrência da
doença impõe isso de maneira muito evidente por meio de sua gravidade.
Segundo o livro A Doença como Símbolo, trata-se de tirar o encargo da
doença física no nível psíquico para que o corpo seja aliviado desse trabalho de
representação. Na pneumonia – ocasião em que, na região dos alvéolos,
preenchida por ar, penetram uidos e células –, isso signi caria, em sentido
gurado, arraigar-se mais no campo da comunicação e lançar raízes na matéria,
isto é, vivenciar uma comunicação mais substancial. Na prática, isso poderia
signi car, por exemplo, apostar mais em intercâmbios autênticos do que assistir
à televisão e a DVDs. Os meios modernos de comunicação de massa já são, em
grande medida, vias de mão única, mas a verdadeira comunicação também
sempre precisa do tráfego oposto, ou seja, do intercâmbio com as outras
pessoas.
O que há por trás da recaída física da pneumonia? Como os pulmões são
um local de intercâmbio entre o mundo exterior e o interior e, por
conseguinte, junto com a pele, nosso segundo órgão de contato, possivelmente
há um con ito insolúvel no plano da comunicação e que passou para o corpo.
Na pneumonia, a troca sofre um distúrbio não apenas no nível dos gases
oxigênio e carbono. Na batalha realizada pelos agentes patogênicos contra as
células de defesa, os alvéolos, que podem ser imaginados como pequenos balões
de ar, enchem-se de líquido e se in amam. Além disso, na pior das hipóteses,
podem car tão preenchidos com a sucata de guerra que a troca de gases é
bloqueada por mais tempo.
A mobilização geral da febre mostra que a guerra nos alvéolos ameaça todo
o organismo, e todo o restante que não for decisivo deve ser adiado.
Naturalmente, isso também vale no sentido gurado. Nesse momento, no
ambiente da criança, tudo deve ser colocado a serviço da solução desse
problema.
Pouco importa qual agente patogênico é o causador. A luta impiedosa com
as defesas do corpo revela que, para ambos os lados, o todo é que está em jogo.
Quando as defesas e, portanto, a criança, vencem pelas próprias forças,
conquista-se uma grande vitória e dá-se um claro passo na direção do
desenvolvimento, enquanto os agentes patogênicos são derrotados e
aniquilados. Se a batalha for vencida com o auxílio de antibióticos, como hoje
é tão comum, a vitória é reduzida, e o passo rumo ao desenvolvimento, menos
impressionante. Muitas vezes, ele terá de ser repetido. No consultório
pediátrico isso se mostra nas chamadas recidivas. É assim que os médicos
nomeiam o reaparecimento de sintomas que acreditavam superados e, com ele,
seus fracassos. É lamentável que, na maioria das vezes, os pais não tenham
como mensurar o quanto eles poupam a si mesmos e a seus lhos com lutas
autênticas e honestas de longo prazo, que podem ser amparadas pela
homeopatia ou, no melhor dos casos, pela naturopatia.
A longo prazo, o resultado é uma determinação do caminho a ser trilhado.
Crianças que aprenderam a con ar em sua própria força (de defesa) se
comportarão de um modo totalmente diferente na vida e disporão de reservas
seguras. Por outro lado, se forem constantemente amparadas por antibióticos,
suas defesas se adaptarão a eles e permanecerão dependentes de auxílio externo
– infelizmente, os “donos” desses sistemas de defesa também. Ao mesmo
tempo, já são maioria as pessoas que pedem formulários em caso de problemas
e necessidade de ajuda. Todavia, também as sociedades modernas vivem
daqueles que sabem se ajudar e tomar as rédeas da situação e, assim, enfrentar a
vida.
Dores no peito indicam que algo no centro (energético) – o local para onde
o ser humano aponta quando diz “eu” – grita por socorro. Nesse centro da
condição humana encontra-se a atenção, e é para ele que as dores se dirigem.
Às vezes, depois de superada a pneumonia, as crianças dizem “eu” pela
primeira vez, o que, obviamente, também depende da idade. De modo geral,
uma pneumonia superada com êxito traz consigo um reforço do eu, como
ocorre com toda doença superada com sucesso e pelas próprias forças.
O centro do tórax também poderia ser chamado de “centro da
comunicação”. Em vez de despejar sua agressividade no ambiente, a criança a
vivencia com a pneumonia em ataques incisivos de tosse e em seus respectivos
acessos. No nível físico, a tosse faz com que o material que obstrui os alvéolos
seja transportado para fora; no nível gurado, trata-se de uma expressão vital.
As crianças precisam aprender a lutar para se libertar e a fazer alguma coisa
para conseguir expandir novamente suas asas (seus pulmões).
A respiração curta revela quão ameaçadora é essa situação de bloqueio no
âmbito da comunicação para todo o organismo e para a vida. A dilatação das
narinas, devido ao esforço para respirar, mostra que aqui é preciso chegar ao
limite das próprias possibilidades. Quando se chega a uma cianose, ou seja,
quando a criança começa a car roxa, a todos ca claro que se trata de uma
luta pela vida.
O con ito subjacente de comunicação pode ter muitas razões.
Possivelmente, também é um problema de comunicação entre os pais, que, em
sua situação de ameaça e em sua sinceridade ainda presente, a criança percebe
como um problema seu e o re ete do ponto de vista físico. Todavia, também se
pode tratar da sensação de estar isolada e de já não ter contato com os pais, os
amigos, consigo mesma ou com a vida.
A linguagem é uma válvula que ainda não está à disposição das crianças
pequenas, mas que muitas vezes também não é su ciente para crianças mais
velhas, adolescentes nem para adultos, pois o con ito de base é inconsciente.
Nesse caso, os sintomas, entendidos como linguagem da alma da criança,
poderiam exprimir o seguinte: “Estou quase sufocando porque não consigo me
comunicar!”, “... porque não consigo dizer o que está acontecendo comigo e
me atormentando!” Antroposo stas partem do princípio de que à pneumonia
sempre precede uma friagem. Contudo, não se deve interpretar isso na prática,
e a criança não precisa estar sicamente com frio ou molhada para pegar
pneumonia. Ela pode perfeitamente sentir-se “abandonada” ou sentir a frieza
ou ainda uma falta de calor anímico. Na febre, como em uma resposta ao nível
físico de substituição, ela mobiliza o próprio calor interno contra o frio que
sente.
Tanto entre crianças quanto entre adultos, o frio “interno” também pode ser
o problema. Quando uma pessoa, em razão de sobrecargas, frustrações, solidão
ou tristeza, constrói uma distância interna em relação a si mesma e ao ambiente
e, por isso, mobiliza pouca energia interior de vida, ou seja, calor físico e
emocional, deve-se oferecer-lhe a oportunidade terapêutica de re etir sobre si
mesma e de buscar força, energia e calor em seu próprio interior. A febre
também cumpre esse sentido, pois, ao aumentar a força de defesa, faz com que,
no âmbito de uma mobilização geral, um novo nascimento, ou melhor, um
renascimento possa ser realizado na recente batalha pela vida. Os nascimentos
também sempre precisam do calor da energia do fogo, para que a irrupção no
novo mundo seja bem-sucedida. Assim como a água dos primórdios, que nas
clínicas modernas de obstetrícia é aspirada, o exsudato também precisa ser
retirado dos pulmões. Para tanto, eles precisam da tosse e do calor da febre.
Obviamente, não é por acaso que o fósforo, medicamento homeopático
mais usado para a pneumonia infantil, encobre muitos desses sintomas. Muitas
vezes, o tipo fosfórico já não consegue se comunicar com o mundo porque não
teve calor, dedicação e carinho su cientes. Ele tem de ser obrigado a retirar-se
em si mesmo, tal como faz quando tem pneumonia. Pois, de fato, é muito
voltado para fora e muito extrovertido para satisfazer as necessidades da própria
alma. Do ponto de vista psíquico, como passa muito tempo com os outros, é
muito compassivo, gosta de estar em contato com as outras pessoas, é
entusiasmado e atento apenas ao que ocorre do lado de fora, ele busca amor.
Quando decepcionados, não raro os tipos fosfóricos refugiam-se em regressões
que, como na recaída dos pulmões, podem exprimir-se em um estágio anterior
ao nascimento. Na pneumonia, o tipo fosfórico faz entrar o elemento anímico
água no nível físico, e não no gurado. A adoção do medicamento pode ajudá-
lo a recriar esse elemento também no sentido anímico.
O quadro orgânico da pneumonia evidencia com clareza e honestidade a
situação do tipo fosfórico. Antes de adoecerem, os afetados se extenuam
exteriormente; sentem-se muito pouco inspirados e assimilam poucas coisas.
Isso chega a ser audível através do rumor que produzem ao inspirar.
Como asas internas, os pulmões realmente nos tornam seres inspiradores,
semelhantes a anjos. Crianças com pneumonia perdem esse aspecto de leveza
(como pluma), bem como a possibilidade de uma inspiração leve e livre.
Outro medicamento homeopático típico para casos de pneumonia, a
Bryonia ou norça, pode contribuir para entendermos a situação psíquica. Nesse
quadro, as causas são o frio (de isolamento ou sensação) ou a irritação. Ambos
podem deixar a pessoa insegura ou fazê-la adoecer. Nesse caso, o problema de
comunicação é tão evidente que os tipos Bryonia não suportam a menor
pressão em sua pele, nosso primeiro órgão de comunicação. Por outro lado,
sentem muita sede e bebem muita água, o elemento anímico que lhes falta.
Depois da ingestão do medicamento – contanto, é claro, que tenha sido
apropriado –, não raro se observa que as crianças voltam a se comunicar, a se
movimentar e até a entrar espontaneamente em contato com o ambiente.
Por m, na pneumonia, como dizem os indianos, trata-se de desenvolver
asas e raízes de maneira corajosa e batalhadora nos momentos de desa o da
crise. O tipo fosfórico ainda não está enraizado o su ciente em seu próprio
território (anímico) e, com a pneumonia, recebe essa oportunidade de
trabalhar novamente nessas raízes. Se isso não der certo de imediato, sabe-se
que esse quadro sintomático pode ressurgir. Contudo, se a criança já dominou
essa tarefa uma vez, ela não precisa que o destino lhe envie novamente a
salvação. Uma criança que, desde o início, pode formar raízes con áveis poderá
mais tarde ousar expandir suas asas e, com coragem, sair voando pela vida. Ela
sempre pousará com segurança e encontrará terra rme. Ou, para citar os
indianos mais uma vez: “Somente quem se encontra profundamente enraizado
na mãe Terra pode ousar erguer a cabeça para o pai Céu”. Isso não quer dizer,
porém, que as crianças que atravessam a vida de cabeça erguida se tornarão
arrogantes e presunçosas. Estas são, antes, tentativas de compensação de
crianças modernas, às quais muitas vezes falta a con ança primária. Quem se
sente considerado pela vida e nela entra com segurança se sentirá honrado pela
criação e, evidentemente, também a honrará – de cabeça erguida, essa criança
se comunicará com a vida com muito amor. Os casos de pneumonia poderão
prepará-la para isso se forem compreendidos e tiverem suas exigências levadas
em conta.
 
Perguntas para os pais:
► Como transmitir ao nosso lho mais daquela con ança primordial que,
aparentemente, lhe faltou na gestação?
► Como podemos ajudá-lo a encontrar a si mesmo e a desenvolver a
autocon ança?
► Onde falta comunicação? O que não é manifestado (entre nós)? Como
fazer com que nosso lho diga abertamente o que o atormenta? Estamos
ouvindo o su ciente o que ele tem a dizer?
► Em que nível não conseguimos nos comunicar e nos entender
corretamente?
► Pelo que luta nosso lho?
► Em que situações temos um tema semelhante e como podemos
acompanhá-lo?
► Em que circunstância ele está travando, talvez em nosso lugar, uma
batalha que não vivemos? Como podemos encorajá-lo a reconhecer seus
desejos com mais liberdade?
 
Medidas de apoio:
► Ver seção “4.6 Coqueluche”.

9.4 Pseudocrupe

“Estou sem ar e sem voz.”


 
O palco dessa doença angustiante é a laringe, órgão de expressão da voz e do
estado de espírito (da vida) na região do pescoço e local de ligação,
comunicação e incorporação. Na infância, a voz aguda demonstra falta de
ligação com a terra, bem como sonhos e ideias que voam alto, típicos da idade,
mas também uma disposição de vida que é tudo, menos rme; por isso, a
criança parece muito frágil. Somente na puberdade é que, com a laringe, se
desenvolve o sentido da realidade e de ligação com a terra; depois de algumas
escapadas, a voz desce e encontra sua profundidade – nos meninos, isso ca
bastante claro com a mudança de voz.
Se a voz falha por completo, como em casos extremos de rouquidão no
(pseudo)crupe, quando nem o mais ín mo som sai da boca, isso signi ca um
esgotamento do estado de espírito. A criança já não pede para falar e, por assim
dizer, não tem voz em seu ambiente nem encontra quem lhe dê atenção,
correndo o risco de não ser notada.
Porém, mais do que a falta de voz da rouquidão, o medo de sufocamento,
que se desenvolve com a falta de ar, mostra-se em primeiro plano. Na prática,
ele só ocorre à noite, no ápice da inconsciência, da sombra. Durante o sono,
vigiado pelo deus Hipnos da Antiguidade, seu irmão, Tânatos, a morte,
também entra em jogo, pois, de fato, crianças que sofrem de crupe podem
morrer sufocadas. Contudo, o verdadeiro crupe tornou-se tão raro quanto a
difteria, quadro sintomático correspondente. Hoje, quase sempre o tratamento
é voltado para o chamado pseudocrupe, que, embora imite o crupe autêntico,
normalmente não decorre de modo tão explosivo e ameaçador.
Em geral, são acometidas crianças entre 2 e 6 anos, quando também
ganham irmãos; um período em que a expressão verbal ainda é difícil, em que
as necessidades psíquicas podem ser vivenciadas, mas ainda não formuladas.
Uma tosse rouca, seca e dolorida revela a agressividade que, normalmente, não
chega a se manifestar e nada tem a liberar. Durante o dia, as crianças mal
conseguem falar e não encontram quem lhes dê atenção; à noite, porém, pode-
se ver que querem expressar alguma coisa, que estão em di culdade e correm o
risco de sufocar por causa de sua situação.
A respiração convulsiva que ocorre à noite é desencadeada por um inchaço
na mucosa sob as cordas vocais. Esse inchaço con ituoso na mucosa da laringe,
que na difteria é chamado de “crupe” e, em outras in amações, de
“pseudocrupe”, representa a batalha pela vida que as crianças acometidas
travam na garganta.
Todo con ito agressivo no campo da voz e da deglutição pode ameaçar a
vida em razão de sua localização, provocando o risco de sufocamento. Nesse
caso, a garganta se fecha a ponto de as crianças já não conseguirem gritar por
causa do inchaço e da rouquidão. Queixar-se “em alto e bom som” não é
possível, mas engolir também se torna difícil devido às dores na região inchada.
A única coisa que conseguem pôr para fora são as descargas agressivas na tosse
tipicamente rouca do crupe. A garganta da criança estreita-se demais para que
ela consiga respirar, o que, do ponto de vista da linguagem, soa como a
problemática psíquica correspondente. A ligação entre a cabeça e o pescoço
corre o risco de ser interrompida – uma verdadeira ameaça de morte. As
crianças realmente estão “fartas até o pescoço”.
O inchaço, que se intensi ca durante o sono e as acorda com a sensação de
falta de ar, ocorre de modo tão abrupto e, muitas vezes, tão agudo e perigoso,
que as crianças nem sequer conseguem gritar por socorro. Os sinais de alarme
provêm, sem exceção, do campo psíquico e social e, com muita frequência, são
ignorados.
Especialmente traiçoeira é a maneira como o ataque extremamente agudo e
ameaçador surge sem nenhum aviso prévio, fazendo com que os pais sejam
confrontados inesperadamente com o medo da morte. A pergunta “E se nosso
lho deixar de viver?” invoca o maior medo dos pais que é o de perder seu
lho.
Nesse caso, tornam-se evidentes, com toda dramaticidade, as tendências
infantis à fuga. As crianças poderiam fugir clandestinamente. Assim, o acesso
de crupe deve ser entendido como um tiro de advertência, que à noite
surpreende os pais, de modo inesperado e brutal, em uma fase sensível. À
noite, também os pais modernos têm tempo para observar como seu lho é
ameaçado pela falta de ar – e, felizmente, nada de ruim acontece. É o
momento em que já não têm tantos afazeres e podem cuidar dele.
Entre as causas, devem-se mencionar coisas concretas, como a poluição nas
grandes cidades, mas também a di culdade de expressar a agressividade e de
dizer de uma vez por todas a própria opinião aos pais. Em geral, mudar para o
campo resolve de imediato os problemas do pseudocrupe. Desse modo, com o
sintoma, as crianças afetadas também transmitem aos pais o sentimento de
culpa, pois, com um ar e uma atmosfera apropriados a elas e aos adultos, o
problema logo desapareceria. Mas poucos pais podem recorrer a essa solução de
mudar para o campo, caso de fato o queiram.
Seja como for, em diversos aspectos as crianças se sentem no lugar errado,
onde não conseguem respirar, e recebem pouquíssima energia boa. Correm o
risco de sufocar em uma atmosfera abafada, apertada e seca do ponto de vista
psíquico. Na rouquidão, elas se sentem como se tivessem gritado por horas,
quando, na verdade, não emitiram nenhum som. Isso mostra que a medida de
emergência precisa ser aplicada urgentemente ao corpo. Na maioria das vezes,
os interesses da alma são ignorados por muito tempo. Possivelmente, as
crianças também receberam cedo demais muitas responsabilidades e se fecham
de maneira impressionante.
Ar poluído e, em sentido gurado, pensamentos sujos pioram sua condição;
ar fresco e pensamentos limpos a melhoram. Ar úmido também a alivia
rapidamente. Em sentido gurado, a isso corresponderiam os pensamentos
ligados à energia da alma, que fazem “o coração da criança bater na garganta”.
Um esclarecimento antroposó co da doença parte do princípio de que, à
noite, a atividade dos rins diminui e a do fígado aumenta. A primeira lava, e a
segunda promove a retenção de líquido. Durante o dia, o escoamento da alma
pode uir perfeitamente; à noite, ao contrário, não. De fato, à noite passamos
um longo tempo sem eliminar nada. Nesse represamento, o problema se torna
evidente. Sensações de sufocamento, medo, aperto e o respectivo pavor se
expandem.
Essa teoria é asseverada pelo fato de que um fortalecimento na função dos
rins realmente melhora o quadro clínico da criança. No sentido de uma
“medicina arquetípica”, isso aponta para um problema de Vênus já existente e,
portanto, a uma temática de relacionamento ou parceria, muito provavelmente
com a mãe.
Quem nunca está satisfeito nesse caso? Será que a criança não está querendo
comunicar à mãe que esta não deve importuná-la nem sufocá-la (mãe
superprotetora)? Por conseguinte, o despertar noturno seria uma medida de
legítima defesa da criança, pois, assim, seus rins podem funcionar melhor e, no
nível psíquico, a relação com a mãe poderia melhorar: a mãe poderia saber dos
problemas do lho e compreender seu próprio comportamento problemático.
Uma medida bastante simples, porém insu ciente, seria arejar bem o quarto
em que a criança dorme, permitindo a entrada de ar fresco e usando
umidi cadores e ionizadores de ar. Contudo, essa é apenas uma primeira
medida emergencial, que reage super cialmente à necessidade da criança.
Auxílios mais substanciais, cujos efeitos cheguem ao nível psíquico, são
necessários e urgentes.
Com frequência, há situações em que as crianças pequenas têm medo à
noite porque se sentem entregues a poderes obscuros, que, porém, elas não
conseguem expressar. Nesse caso, às vezes ajuda deixar que durmam em um
ambiente em que elas possam estar “presentes”. Mesmo a sala, com sua
atmosfera menos tranquila, pode ser um “quarto” melhor para elas, pois nela se
sentem parte da família, em vez de serem empurradas para a escuridão.
O fator decisivo é que (a longo prazo) as pessoas afetadas aprendem a lidar
de maneira aberta com os con itos, a se defender conscientemente e a lutar
pela sobrevivência. As lutas iminentes poderiam ser resolvidas com mais
e cácia através da linguagem no campo da voz e da deglutição, assim que as
crianças começassem a expressar sua opinião e a se impor. De preferência, a
criança deveria liberar-se da agressividade, colocando-a para fora, o que, no
entanto, pode ser uma iniciativa “ousada”. Entretanto, a longo prazo, ela estaria
arriscando a própria vida se não reunisse a mente e o corpo em suas
necessidades e só continuasse ameaçando com sua interrupção duradoura.
Como tanto os órgãos respiratórios quanto os rins estão envolvidos, em ambos
os órgãos, que em essência têm a ver com o tema “eu – você”, trata-se, em
última instância, do equilíbrio entre “O que quero e como digo isso?” e “O
que o outro quer e como lido com isso?”
 
Perguntas para os pais:
► O que nosso lho está querendo expressar e talvez ainda não consiga?
Estaríamos dando-lhe pouca oportunidade para tomar a palavra?
Estaríamos prestando pouca atenção a seus sinais?
► Em que circunstâncias o restringimos demais, talvez porque nos
preocupemos em demasia?
► Que perguntas podemos fazer para que nosso lho aprenda a re etir
sobre si mesmo e a se expressar (a partir dos 5 anos)?
► Do que ele tem medo?
► Do que quer fugir?
► Como podemos ajudar nosso lho a se impor e a se aproximar dos
outros?
 
Medidas de apoio:
► Acalmar a criança.
► Respirar junto com a criança, tranquilamente e devagar.
► Providenciar ar úmido (abrindo a torneira ou ligando o chuveiro no
banheiro) ou fresco.
► Florais de Bach: pingar diretamente na língua da criança e dos pais
algumas gotas do Rescue Remedy do doutor Bach.
► Tratamento homeopático: em casos agudos, a seguinte mistura mostrou-se
e caz: Aconitum D6, Hepar sulfuris D6, Spongia D6. Quebrar as
ampolas, inserir seu conteúdo em uma seringa e espirrá-lo de duas a três
vezes diretamente na boca da criança.
Aconitum C30, dois glóbulos: se as dores aparecerem repentinamente
durante o sono, sem pré-aviso. A criança ca ansiosa e inquieta. A tosse
torna-se rouca, seca, como um latido, e violenta.

9.5 Asma brônquica

“Cuspo aos seus pés.”


 
Na asma, trata-se predominantemente de uma ocorrência alérgica. Tossir,
cuspir e expectorar em abundância apontam para o tema “agressividade”. No
verdadeiro sentido da expressão, o asmático “cospe aos pés” dos outros.
As crianças são extremamente sensíveis; na verdade, um conceito puramente
psíquico, que aqui se incorpora nas vias respiratórias. Elas reagem a substâncias
que entram no corpo com o uxo respiratório. Metaforicamente, o elemento ar
também é responsável pelo mundo intelectual; por isso, não é de admirar que
as crianças asmáticas já possam reagir alergicamente a determinados símbolos.
Essa hipersensibilidade pode transformar-se repentinamente em
impermeabilidade tanto emocional quanto física se a criança buscar se defender
da sua hipersensibilidade através de muros de proteção. Portanto, a
impermeabilidade e a política de se fechar com um anteparo representam aqui
não necessariamente a falta de sensibilidade, mas descrevem, ao contrário, um
estado para a sensibilidade mais elevada e entregue ao desamparo.
Quanto aos outros aspectos, a vida das crianças asmáticas é realmente de
“tirar o fôlego”, no verdadeiro sentido da expressão, pois elas estão sempre “sem
ar” ou, em todo caso, “sem fôlego”. Entretanto, no uso corrente da linguagem,
o que remete para aspectos positivos da vida aparece aqui em sentido concreto
e negativo. “Tira-lhes o fôlego” em um sentido mais profundo e agressivo.
Durante a crise, chegam a sentir-se compelidas a “prender a respiração”, para,
em seguida, voltarem a lutar por ela. Assim, sua vida torna-se uma longa
batalha pelo ar necessário. Quando “perdemos a respiração”, isso ocorre depois
de um susto ou por medo. Será que as crianças asmáticas passam a vida
sentindo medo e se assustando? De fato, apenas raramente podem “inspirar e
respirar aliviadas” e participar plenamente da troca com a vida. Na maioria das
vezes, sua respiração é pesada e ofegante e ilustra a dura luta pela vida. Com
chiados, assobios e ruídos no peito, querem ser ouvidas e protestar contra a
resistência da respiração, ou melhor, contra aquilo que as impede de chamar a
atenção.
Nem por um instante conseguem esquecer sua falta de ar, e isso, de certo
modo, faz com que se sintam em suspensão. Com frequência, constroem
castelos de vento, que geralmente se desfazem no ar; sonham com mundos
distantes além das nuvens ou perto do céu, que as libertam de seu problema
com a polaridade e com o tomar e o dar. Normalmente, nesses casos o ar não é
su ciente nem mesmo para um pequeno pulo de alegria, de tão ocupadas que
estão em recuperar o fôlego com di culdade, e grande parte de sua vida é gasta
em pausas necessárias para respirar.
O psicanalista Arthur Jores parte do princípio de que 50% dos “asmáticos”
sofrem de uma sensibilidade extrema do olfato, que poderia desencadear crises
de asma. Além dessa hipersensibilidade, seu colega ure von Uexküll também
vê a falta de sociabilidade, a coerção e uma grande exigência de
respeitabilidade. Os asmáticos fazem algumas coisas conscientemente para não
chamarem a atenção e permanecerem em meio à sociedade sem serem
descobertos; por outro lado, ao in arem os pulmões, demonstram claramente
uma elevada aspiração de seu ego.
A análise psicossomática caracteriza os pacientes de asma como agressivos a
briguentos e, por outro lado, como pessoas que rejeitam con itos. Com a
autoestima em baixa, eles seriam ambiciosos e enfatizariam o desempenho,
provavelmente para compensar sua agressividade.
O pulmão remete a temas como “contato”, “comunicação” e “liberdade”. Ao
respirar, a criança asmática faz de tudo para tomar mais (ar) do que está pronta
para dar. Nesse sentido, trata-se de um distúrbio típico, que se encontra
justamente no espírito da época, ou seja, o distúrbio da polaridade do tomar e
do dar. Com a grande quantidade de ar inspirado, que faz com que os pulmões
se in em, os asmáticos correm o risco de se sufocarem em duplo sentido. De
fato, com essa inspiração, correm risco no nível psíquico, e objetivamente o
estado do asmático também pode levar à morte.
Ao mesmo tempo, o asmático sente, ao contrário, uma sensível falta de ar
na inspiração, mas, do ponto de vista objetivo, tem uma limitação siológica
na expiração. Os esforços para dar algo de si e se conectar deliberadamente
com o mundo são impedidos e perturbados, sem que ele perceba de maneira
consciente. De fato, ele tomou demais e, portanto, se esforçou ou in ou em
demasia, mas isso foge à sua percepção, que, ao contrário, se xou em receber
muito pouco. Com isso, as crianças asmáticas estão em ampla sintonia com a
sociedade moderna, que está repleta de pessoas que sempre requerem mais,
porém ainda cam com a sensação de receberem muito pouco.
No que se refere ao elemento ar, ao qual correspondem os mundos
intelectual e espiritual, as crianças asmáticas deveriam aprender a dar muito
mais para, em seguida, poderem tomar de volta. Sem perceberem, elas estão
repletas do elemento ar e, no entanto, sentem falta dele. Assim, de fato elas não
recebem nem têm ar para respirar, tampouco a oportunidade de mudar essa
situação enquanto desconhecerem completamente a realidade e se tornarem
vítimas clássicas da polaridade.
9.5.1 Polaridades

Do ponto de vista oriental, os problemas do pulmão estão relacionados à


sensação de estar separado da dimensão sensorial ou daquela divina. Isso se
re ete no Gênese, segundo o qual Deus inspira os homens com seu sopro,
despertando-os, assim, para a vida. Muitas vezes, os asmáticos sofrem de um
desarraigamento interno e de um desamparo, o que ca claro no tema da
separação e também pode exprimir-se como sensação de profunda nostalgia.
De fato, o retorno à unidade através da proximidade da morte está no tema
que desencadeia um medo constante e enorme através da sensação de que, a
qualquer momento, poderia ocorrer a última respiração.
Todos nós vivemos na polaridade, mas carregamos a profunda nostalgia da
unidade e de sua respectiva sensação de felicidade. Nas crianças asmáticas,
supõe-se que essa nostalgia mire retrospectivamente a unidade do ventre
materno, onde predominava uma sensação de completa e incondicionada
proteção e toda exigência era satisfeita pela mãe – uma condição que nunca
está disponível na polaridade.
Durante uma crise, os asmáticos quase já não expiram e, portanto, não
conseguem expressar suas emoções, pois a linguagem só pode ser ouvida
quando modulamos adequadamente o uxo expiratório. Quando queremos
fazer alguém se calar, dizemos de modo agressivo: “Nem mais um pio!” Os
asmáticos fazem isso espontaneamente, cando mudos.
Evidentemente, não dominam a polaridade (da respiração), levam
dramaticamente ao extremo um dos polos (do tomar e, portanto, o Yin) sem
perceber e negligenciam o outro (o do dar e, portanto, o Yang).
Assim, em crises que, muitas vezes, são “extorsivas” e, ao mesmo tempo,
uma ameaça à vida, ocorre claramente uma combinação entre o exercício
inconsciente do poder e o sacrifício de si mesmo. A tensão entre a aspiração ao
poder e a impotência real no confronto com as intenções de dominar os outros
pode chegar a níveis dramáticos, e “o ar pode faltar por completo”.
Com frequência, a aversão a tudo que é sujo, escuro e à pretensão alheia de
dominação torna-se clara no anseio dos asmáticos por ar puro na praia ou na
montanha. Nesses lugares, eles podem estar acima das coisas e das outras
pessoas e conceder-se uma melhora.
Na maioria das crianças cerebrais, a simbologia dos sintomas da asma revela
ainda um choro para dentro, que indica uma tristeza não vivida, colocada em
primeiro plano pela medicina chinesa: “Estou totalmente sozinho e, depois de
mim, o dilúvio”. Chorar para dentro também revela uma falta de con ança
para se mostrar externamente.
Assim, produz-se uma espécie de choro dos pulmões, com lágrimas e
secreção da mucosa. A criança grita e chora internamente por medo de perder a
proteção e, por outro lado, fecha-se em seu muco. Os processos conscientes e
inconscientes de luto também se confrontam com o domínio da perda e da
despedida. Soltar-se e respeitar o uxo da vida, sem se prender ao que passou,
torna-se in nitamente difícil.
Uma criança asmática, que quer car com tudo, acaba por se excluir da
plenitude. Por um lado, ela não consegue satisfazer-se, pois está sempre
ansiando por ar e lutando por amor; contudo, por outro, não pode dar ar nem
amor. Essa situação faz com que surja a necessidade de ser cuidado e de receber
carinho de mãe – sem nenhuma troca. No sentido cristão, dar chega a ser mais
bem-aventurado do que tomar. A criança asmática precisaria, no mínimo, da
aproximação de ambos os polos. Clemens Brentano formulou do seguinte
modo a solução para o tema: “Só o amor compreende o segredo de presentear
os outros e, ao mesmo tempo, car rico”.
9.5.2 Medo como tema central

Como a independência é sentida, ao mesmo tempo, como perda dos cuidados


recebidos e ameaça, nos asmáticos muitas vezes existe justamente o medo de
caminhar rumo à liberdade e à autonomia, o que pode produzir uma aversão a
todo tipo de contato, a ponto de “perderem a fala”. Intimamente, predomina a
sensação do medo e da limitação. Quem não consegue respirar livremente
tampouco conseguirá viver sua própria natureza. Às vezes, as mães também não
dão espaço su ciente para o desenvolvimento, e a exigência de autonomia
acaba sendo sacri cada muito cedo, fazendo com que a liberdade e o espaço
(vital) se tornem problemas.
O desencadeamento de acessos de asma se dá através de situações e vivências
de transição, como na maioria dos traumas de separação da mãe, dos pais e das
pessoas de referência, bem como através da mudança de residência ou
localidade, etc. Toda situação de separação é um momento de tristeza e
despedida a ser dominado. Mas também o ingresso na escola, as provas ou o
início da vida pro ssional são vivências incisivas de transição, que podem
induzir à asma ou produzir uma nova crise. Por um lado, esses acontecimentos
são carregados de medo; por outro, implicam uma alteração tal como a
separação do ambiente habitual e das pessoas de referência. Nesse caso, ca
claro que, depois da puberdade, é mais difícil tratar e, sobretudo, curar a asma
se nesse período o jovem não aprender a se desprender da mãe ou dos pais. O
con ito ativo com os pais, o “ser do contra” por princípio, seria uma
oportunidade para arejar a agressividade reprimida.
Portanto, o medo é um tema central na asma. Por um lado, a personalidade
já pode conter o medo em sua estrutura fundamental e, por outro, pode ser
acrescida de um medo especí co da asma. Os pacientes são vistos como
descon ados e inibidos. Sua situação comum de respiração, com os ombros
levantados devido à sobrecarga da musculatura que ajuda na respiração, ilustra
a situação de medo de forma bastante impressionante. Os pequenos pacientes
lembram tartarugas, que encolhem a cabeça, ou caramujos, que se recolhem
dentro da própria casa, pois do lado de fora sentem medo ou, pelo menos, não
se sentem nem um pouco confortáveis.
Entre as mães de crianças asmáticas, encontram-se muitas vezes
personalidades dominantes, em relação às quais a criança reprime sua
agressividade e se adapta de modo extremo. Muitas vezes, essas mães também
só são capazes de transmitir pouca proteção. A criança reage então com uma
discrepância entre atração e rejeição. Ela busca aproximar-se o máximo possível
da mãe e satisfazer suas necessidades com ela, mas, de certo modo, a evita e se
defende dela por medo da frustração e da decepção. Em seguida, sofre ao
mesmo tempo do desejo de fusão – crianças asmáticas também necessitam
muito de harmonia – e de impulsos agressivos de destruição. Como resultado,
sentem-se culpadas, mas também sentem medo de serem rejeitadas.
No âmbito da alergia, geralmente o que é vivaz e escuro acaba sendo
repelido. Não raro, desse ato de fechar-se e encapsular-se resulta a fuga para o
idealismo e o formalismo, o que pode sobressair como precocidade e
maturidade, causando desagrado.
Por m, nos pulmões excessivamente in ados, a exigência de domínio e
poder torna-se evidente, podendo continuar a se desenvolver na idade adulta
em um tórax que, externamente, tem a impressionante forma de um barril e
mais tarde pode progredir para um en sema pulmonar.
Nesse desejo de “in ar o peito” e “encontrar uma válvula de escape”, a
energia da agressividade torna-se visível, porém permanece presa aos pulmões.
A criança “tosse” alguma coisa para o mundo e, “de raiva, tenta apanhar o ar”;
se não procedesse assim, caria totalmente presa à sua agressividade.
Geralmente, a resistência a ambientes escuros de vida torna-se evidente logo
cedo. Na produção excessiva de muco pelos pulmões, os psicanalistas também
veem uma transferência da sexualidade de baixo para cima, ou melhor, da área
dos genitais para o tórax e, portanto, para um plano problemático.
9.5.3 O aprendizado a partir de modelos e um ambiente natural

Em resumo, trata-se, sobretudo, do círculo de problemas que comporta


“agressividade”, “tomar e dar”, “isolar-se do mundo”, “necessidade de domínio
versus sensação de inferioridade”, “sujeira ou sexualidade” e “liberdade e espaço
de vida”. Portanto, as crianças devem ser instruídas – de preferência através de
modelos e exemplos – a expressar e viver sua agressividade e suas exigências de
modo saudável. Elas precisam aprender a encontrar respostas, a se “desafogar”
com palavras e atos e a encarar a vida como um todo de maneira mais incisiva.
Esse processo também inclui os pais, que nas fases de cura de todas as alergias,
mas especialmente da asma brônquica, têm de suportar algumas coisas.
A terapia da respiração integrada pode ajudar crianças mais velhas a
experimentar a compensação das tensões entre dar e tomar e não apenas
receber, mas até a desfrutar plenamente (da respiração). Assim como a
respiração asmática pode, de fato, ser aprendida, também é possível aprender a
realizar uma troca saudável por intermédio de um exercício cuidadoso.
Aproximar-se abertamente do mundo e pôr a honestidade em primeiro
lugar nos relacionamentos são coisas que as crianças aprendem o mais cedo
possível com o exemplo dos pais, cujas discussões, quando travadas com
coragem e sinceridade, conduzindo a progressos efetivos, produzem a lição
prática ideal.
Quando as crianças aprendem a confrontar o que até então era evitado e
rejeitado como sendo a própria “sujeira”, estão no caminho certo. No sentido
concreto, considera-se aqui o êxito frequente da urinoterapia, que, no entanto,
para as crianças, deve ser “vendida” com re namento. Pura, obviamente não
será ingerida, mas pode ser misturada a um suco depois de colhida, talvez com
a desculpa de algum exame clínico a ser feito.
A vida em uma fazenda, com todas as suas manifestações tão naturais
quanto primitivas de alimento até o polo oposto, tal como aparecem no
mundo animal de modo ainda inalterado, pode ter um efeito nitidamente
salutar. As pessoas sempre suspeitaram disso. Por exemplo, na estância termal
suíça de Heiden, fazia-se com que o ar dos estábulos chegasse aos sanatórios.
Atualmente, tenta-se desenvolver medicamentos antialérgicos a partir do pó
dos estábulos. No entanto, talvez tudo isso seja pensado de forma muito
materialista; os benefícios estariam simplesmente ligados à proximidade
saudável com a natureza. Assim se explicaria o fato de que a febre do feno e
todas as alergias ao pólen, que não raro terminam em asma, são muito mais
comuns no ambiente urbano do que no rural.
Pais que dão e tomam espaço e liberdade para a autorrealização, que levam
uma vida amplamente natural e que concedem e transmitem ambas as coisas
aos lhos seriam a resposta ideal para a asma brônquica infantil. Nessa
disposição também residiria a excelente oportunidade de melhorar o
relacionamento muitas vezes sobrecarregado entre as mães e seus lhos
asmáticos.
A meta deveria ser a ampliação da consciência para campos até agora
rejeitados e excessivamente combatidos. Quando um espaço novo torna-se
acessível também no aspecto metafórico, surgem amplidão e abertura. Algo
semelhante acontece quando castelos no ar são articulados e realizados com
consciência. Assim, seria bom trazer esses castelos para o chão ou começar a
articulá-los em vez de fugir para o topo das montanhas.
 
Perguntas para os pais:
► Que impulsos agressivos nosso lho está reprimindo?
► Por que se mostra tão conformado?
► Somos dominantes?
► Damos e tomamos com equilíbrio de maneira equilibrada?
► Como devemos lidar com temas como “sexualidade”, “raiva” e “medo”?
 
Medidas de apoio:
► Ver as seções sobre a tosse (9.1), a predisposição a infecções (8.1) e
alergias (11.1).
10 Problemas no trato digestório,

doenças gastrointestinais

10.1 Dor abdominal

“Estou fora do centro.”


 
As dores abdominais são o sintoma por excelência na infância, pois, nesse
período precoce, é sempre o abdômen a indicar problemas. Ele é o centro do
corpo, e a criança ainda é totalmente um ser corporal e, portanto, ventral.
Quando tem dor abdominal, ela se sente fora do seu centro, que é
sensivelmente perturbado. De fato, mesmo quando estão com dor de ouvido,
crianças pequenas apontam para o abdômen. Elas sentem todo mal-estar como
um distúrbio de seu centro. Quanto aos adultos, o zen-budismo fala de “hara”,
o centro do corpo, localizado pouco abaixo do umbigo, mas geralmente
considerado “centro mental”. Na criança, esse centro domina a vida por
completo. Ela ainda não pensa com a cabeça, vive menos das emoções do
coração; ao contrário, é no ventre (em sua sensação), ou seja, no reino dos
instintos que ela se sente à vontade e, portanto, na região primariamente
subordinada à Lua.
Nesse período precoce encontra-se, de fato, o umbigo do mundo, e a
criança também se sente como tal. Tudo gira em torno dela. O umbigo, por
sua vez, é a ligação com a mãe, o local onde até pouco antes o cordão umbilical
estava acoplado e providenciava tudo que era necessário para a vida. Portanto,
nesse período, quase todos os problemas também estão relacionados à mãe.
Quando o pai, por exemplo, perde o emprego, a criança só sente se a mãe
reagir e for atraída pela “compaixão”. Em tudo isso, a criança também é
totalmente “egoísta” e voltada apenas para si mesma e para a mãe. O próprio
ventre e, em sentido mais amplo, a mãe representam seu pequeno mundo; ou
seja, por trás das dores abdominais pode se esconder de tudo, não apenas
complexos temáticos diretamente relacionados ao ventre, como apendicite
aguda, vólvulo ou até obstrução intestinal, parasitas ou hérnias, como a
inguinal ou a umbilical. Poderia tratar-se de intolerância a certos tipos de
alimentos, como aquela à lactose, mas também de otite ou amigdalite. Já por
essa razão, as crianças devem sempre passar por um exame completo. Por isso,
não há nada menos adequado do que a medicina acadêmica, cuja consulta
costuma durar cinco minutos. Todo pediatra sabe disso e, em regra, não se
limita a examinar apenas o abdômen.
Mesmo que os quadros sintomáticos por trás das dores abdominais se
alterem, externamente sempre permanece o elemento visível e determinante.
Por exemplo, Friedrich Graf parte do princípio de que, desde a supressão da
vacinação contra a varíola, a apendicite (in amação do apêndice) regride em
favor das disfunções adenoides e linfáticas, como a formação de pólipos, e de
amigdalites mais intensas. O último exemplo também mostra como foi
importante reinstaurar a vacinação contra a varíola, pois ela facilitou o
tratamento dos problemas linfáticos no início da vida ao aproximá-los da
superfície do corpo. É melhor tratar as tonsilas palatinas, que são de acesso
relativamente mais fácil e reproduzem os con itos infantis não superados no
corpo, do que o apêndice vermiforme, que é mais profundo e só é acessível por
meio da cirurgia. Esta foi uma das razões que, durante décadas, animou a
medicina acadêmica a suprimir o apêndice vermiforme em larga escala. Na
geração dos que hoje têm 50 anos, quem ainda tem o apêndice é um caso raro.
Nesse meio-tempo, as pessoas se tornaram muito mais cuidadosas a esse
respeito e, o que é muito louvável, já não usam automaticamente o apêndice
como ocasião para cirurgias. Esse novo procedimento, que, de resto, durante
muito tempo foi comum na medicina russa, mostra o quanto essas cirurgias
eram desnecessárias.
10.1.1 Cólica dos três meses
“É tão difícil para mim digerir o novo mundo!”
 
Um recém-nascido tem pouquíssimas necessidades, que, no entanto, são
importantes. Para ele, seria melhor que tudo continuasse como na gestação,
com a tranquilidade, a escuridão e o calor do ventre materno. A proximidade
com a mãe era máxima e, portanto, também sua proteção. O contato físico era
constante e disponível em toda parte graças ao líquido amniótico e aos
batimentos cardíacos, que eram ouvidos e, sobretudo, sentidos. Eis por que se
mostrou e caz dar à luz em água quente e colocar o recém-nascido sobre o
ventre nu da mãe. Aqui também reside o segredo do sucesso do já mencionado
“método canguru”, no qual a mãe continua a transmitir à criança presa ao seu
abdômen o contato ideal pela pele. O recém-nascido precisa o tempo todo de
calor, amor e afeto; por isso, o carinho e o toque que recebe nunca são
su cientes, conforme mostram estudos mais recentes e como toda mãe sabe
por instinto. Crianças que dormem à noite com a mãe ou entre os pais
também sofrem nitidamente menos de cólicas.
Os sintomas da cólica são espasmos, que mostram que a criança tem uma
necessidade intensa e obstinada de segurar – não importa se a razão é o leite
mal digerido, o amor ou outros sentimentos. A necessidade é tão grande que a
criança não consegue deixar uir aquilo que absorveu. Querer manter as coisas
consigo mesma opõe-se aqui a deixá-las uir e causa o con ito, ou melhor, o
espasmo, a luta. Isso aponta para uma necessidade de proximidade, calor e
amor que geralmente não é satisfeita. Para essas crianças, o “método canguru”
pode ampliar um pouco a gestação, mas, em última instância, trata-se de ousar
esse salto do nascimento para a autonomia. A mãe tem a possibilidade de
aliviar essa transição para a criança; portanto, não é de admirar que afeto e
calor de sua parte melhoram tudo de imediato e são as únicas coisas que
certamente ajudam.
Quando a mãe – por exemplo, por estresse – já não consegue aceitar nem
amar seu lho, a necessidade da criança torna-se tão grande e urgente que
acaba produzindo sintomas. A criança lança, por assim dizer, um grito visceral
pedindo ajuda. Seu ventre, atormentado por dores espasmódicas, reproduz sua
luta interior.
Os recém-nascidos modernos, que, como seus antecessores através de
milhões de anos de evolução, nos primeiros três meses quase só querem beber,
digerir e dormir, hoje passam por um excesso de estímulos muitas vezes
impiedoso. Contra esse excesso de tudo – do alimento à música –, as crianças
se defendem de diversas maneiras e com variados sintomas, mas a maioria luta
contra eles e grita, mostrando que, desse modo, não consegue digerir a própria
vida.
Quando o excesso de estímulos não pode ser evitado, a mãe pode atenuá-lo
e aumentar a tolerância de seu lho à frustração, transmitindo segurança com
sua presença e dando-lhe força emocional. O caos produzido por irmãos mais
velhos e a conversa normal entre os pais nunca são sentidos como perturbação;
ao contrário, transmitem o importante sentimento de comunhão e proteção
familiar.
Quanto aos sintomas, o que a cólica dos três meses revela com mais clareza é
que a criança ainda não consegue absorver o mundo que lhe é oferecido e o
considera indigerível. Isso não é motivo para grande preocupação, pois algumas
crianças têm mais di culdade para aprender a andar, outras, para aprender a
falar, e outras ainda, para aprender a digerir. Nesse sentido, a melhor precaução
a ser tomada pela mãe seria, por natureza, ingerir muito ferro durante a
gestação, para que a alma da criança consiga se ancorar melhor ao corpo. O
etnobotânico Wolf-Dieter Storl parte do princípio de que as moléculas de ferro
também são importantes como minúsculas agulhas magnéticas para que o
organismo possa se orientar no sentido norte-sul.
Ao nal da gestação, a concentração de cobre no sangue da mãe aumenta
siologicamente, enquanto a concentração de ferro cai de modo natural. A
ancoragem no ventre materno deve ser dissolvida aos poucos, e a taxa de ferro
regride. Em compensação, com o aumento da taxa de cobre, sobe também o
metal de Vênus-Afrodite. Simbolicamente, isso signi ca que a mãe e a criança
devem entrar mais no campo do amor e do desprendimento, o que é
extremamente importante para o nascimento, que, do ponto de vista primário,
não deixa de ser um desprendimento. O cobre simboliza o princípio primário
de Vênus e, portanto, do amor e da paz, e inclui no princípio da Lua outro
princípio arquetipicamente feminino (da vida). Em contrapartida, o ferro
representa o princípio masculino da agressividade ou de Marte, que tem a ver
com a luta e a guerra, a agressividade e a imposição. Portanto, a mãe deixaria
em ampla medida o campo da luta e da autoa rmação e passaria a se dedicar ao
campo sensível de Vênus. Não é por acaso que Vênus e Marte representam o
aspecto feminino e o masculino, respectivamente, por exemplo quando se trata
de ilustrar hoje de modo simbólico os movimentos das mulheres e dos homens.
Infelizmente, a medicina acadêmica é totalmente contra essa importante
transposição natural e prescreve às mães preparados de ferro durante toda a
gestação, tornando-a mais lutadora e resistente do que o necessário, em vez de
torná-la macia e receptiva perto do nal da gestação, conforme planejado pela
natureza. Desse modo, geramos a necessidade de cesarianas, bem como
intervenções por fórceps e ventosa obstétrica. Seria mais inteligente alterar os
padrões para a gravidez e adequá-los às circunstâncias naturais e individuais.
Não é nada sensato tratar toda mulher como um homem de 1,80 metro de
altura e 80 quilos. Entretanto, antes do parto, essa normatização que não leva
em conta a natureza nem a individualidade torna-se totalmente inadequada.
Infelizmente, a medicina moderna faz ambas as coisas – como sempre, não por
maldade, mas por desconhecimento.
Contudo, no início de uma gestação, a situação é outra, pois a mãe tem de
manter fechado o óstio uterino, precisando para tanto de força e resistência. Eis
por que a concentração de ferro se reduz com a evolução da gravidez, quando a
mãe em formação se encontra cada vez mais nessa esfera do feminino primitivo
e tem de se preparar para o grande desprendimento que é o parto.
A criança herda essa situação, como todo o restante, e, nos primeiros três
meses após o nascimento, também apresenta uma concentração
siologicamente muito alta de cobre, que evidencia, de modo concreto e
simbólico, sua necessidade de calor físico, de colo, de proximidade e de ser
cercado de amor. Quando então é lançada de maneira muito abrupta – para
sua constituição individual – em outro mundo, ela pode reagir com protestos e
com resistência a digerir esse novo ambiente. Os gases que surgem com
frequência nesses casos mostram como ela está confusa e “desgostosa”. Quando
reage com verdadeira irritação e raiva, os homeopatas pensam na camomila,
medicamento que se comprovou muito e caz nessas situações.
As contrações das cólicas são como ondas de ataques que sempre se
renovam. Com elas, a criança luta contra esse mundo que lhe é estranho e
hostil e que penetrou em seu abdômen. O ambiente é sentido como
perturbador e até como um obstáculo, que ela tenta afastar e eliminar com
esforços rítmicos que correspondem a tentativas de expulsão semelhantes às
dores do parto. As dores do nascimento semelhantes ao parto expressam o
quanto se trata aqui de sua luta pela vida. Ao mesmo tempo, essa espécie de
peristaltismo extremo torna-se quase uma caricatura do ato de digestão, que
normalmente só começa a funcionar de fato nesse período.
O cérebro, que elaboraria as impressões imateriais em suas circunvoluções,
ainda dispõe de certa tranquilidade, enquanto as circunvoluções do intestino
delgado, bastante semelhantes por seu formato, só despertariam lentamente
para a vida, em vista de seu trabalho de diferenciação. Quando elas realizam
esse trabalho de maneira excessiva, causando cólicas, o estresse se torna
evidente. “Muita coisa cedo demais” seria uma descrição para a situação.
Tudo na vida tem seu tempo, e toda criança também precisa do seu.
Inicialmente, ela não consegue nem quer conquistar o mundo através dos
olhos, dos ouvidos ou do cérebro, mas deseja e deveria vivenciá-lo através da
boca e do intestino. Por isso, durante muito tempo as crianças colocam tudo
que é novo na boca para poder experimentá-lo, o que pode levar as mães ao
desespero. Mas como a criança ainda não dispõe de experiências de abstração,
nessa fase precoce, esta é sua única possibilidade de aproximação. Assim como
precisam de tempo para tudo, também precisam encontrar seu ritmo na vida.
No que se refere à cólica dos três meses, é importante não alimentar ou
amamentar as crianças quando elas estão irrequietas, exaustas ou apresentam
di culdade para dormir. No início da vida, as crianças dormem dois terços do
tempo, período que aos poucos vai se reduzindo a um terço. Nos primeiros
meses, o ritmo sono-vigília tem de se equilibrar. Isso pode causar problemas,
sobretudo quando as crianças são obrigadas a dormir porque os pais precisam
de descanso, e não porque estão cansadas. A situação se torna mais difícil
porque esses valores são apenas medianos, e a necessidade de sono varia muito
de um indivíduo para outro. O re exo de sempre dar o peito a uma criança
que grita é tão compreensível quanto inadequado. Mesmo as dores ou a
necessidade de afeto e proximidade são respondidas erroneamente com a oferta
sempre automática de alimento.
Essa espécie de amamentação por demanda perturba a digestão do bebê e
faz com que o leite se acumule no intestino a cada estágio da digestão,
provocando um verdadeiro pandemônio. Embora a amamentação estimule
muito a proximidade e a relação entre a mãe e a criança, pois nela é liberada a
oxitocina, o hormônio da ligação, quando a mãe amamenta por muito tempo
prevalece o efeito negativo dos diversos estágios do leite.
René Spitz, psicanalista austro-americano, observa que lhos de mães na
prisão têm nitidamente menos problemas de cólicas. Segundo ele, a razão disso
seria o fato de que essas crianças são amamentadas apenas a cada quatro horas,
dispondo, assim, de um ritmo razoável para a digestão. Para esse efeito pode ter
contribuído o fato de que as presas, no breve tempo que passavam com os
lhos, transbordavam de amor por eles, uma vez que, enquanto pagavam por
sua pena na prisão, dispunham de poucos bons momentos em que pudessem
dedicar-lhes sua atenção.
Isso mostra como é importante dar estruturas para a criança e não responder
a toda queixa sua com alimento. Outras necessidades da criança devem ser
apaziguadas de modo diferente. Além disso, responder a tudo com comida
pode predispor à obesidade no futuro. Pois, de fato, muitos obesos, que se
tornam cada vez mais numerosos, ainda na idade adulta respondem a todo
estímulo com comida, o que acaba intensi cando seu problema de sobrepeso,
mesmo que este não tenha esse fator como causa.
Além disso, essa resposta automática com alimento pode fazer com que as
crianças queiram sempre ter alguma coisa. Desse modo, elas aprendem a ser
menos tolerantes com as frustrações e se tornam “cansativas”.
A tarefa dos pequenos mimados, que, na realidade, são os que mais sofrem,
seria atrair atenção para si, lutar pelo contato que lhes é negado em outros
níveis, por exemplo fazendo com que sejam carregados de um canto para outro
ao longo do dia. Com o método canguru, isso seria mais fácil desde o
princípio. Como já foi dito, é interessante notar que em Bali, onde as crianças
são sempre carregadas desde o primeiro ano, não se observam o problema da
cólica dos três meses nem crianças pequenas gritando.
Todavia, as ações inconscientes de luta, sentidas na região intestinal e até
visíveis no abdômen enrijecido, também mostram que a criança quer e deve
conquistar seu mundo e até lutar por ele. Por sua vez, a criança consegue fazer
isso melhor quando recebe mais liberdade de movimento no canguru. No
âmbito da digestão, ela quer se livrar do que a bloqueia, daquilo que deve tê-la
atravessado, mesmo que para tanto tenha de ser enfática e de sentir dores.
Porém, mesmo se esforçando, não sente nenhum alívio. O pequeno abdômen
tenso torna-se evidente em seus esforços sofridos. Alguma coisa tem de entrar
em movimento. O movimento rítmico de contração e distensão mostra como
os bloqueios ocorreram com esforços e exercícios de desprendimento sempre
reincidentes. Em última instância, trata-se de livrar-se, de modo mais ou
menos doloroso, daquilo que estorva a vida. Obstáculos pelo caminho devem
ser superados. A criança faz o seu melhor para consegui-lo no único nível que
se encontra tão precocemente à sua disposição: o corpo. Com o auxílio dos
pais, ela quer, antes, adquirir outros níveis.
Pais e lhos têm de aprender juntos a lidar com a nova situação. As crianças
devem e precisam expressar sua inquietação a respeito e mostrar sua
agressividade e seu desamparo. Precisam aprender a dominar esse ambiente
totalmente novo, assim como os pais precisam aprender a controlar essa
situação, que também é nova para eles. Nunca a discrepância entre o período
intra e extrauterino foi tão grande como em nossa época, quando a
importância da vida da alma e da vida interior foi quase totalmente reprimida
por uma atenção exagerada ao que vem de fora.
Uma contribuição maravilhosa, embora também técnica, nessa situação que
ameaça a paz doméstica é oferecida pelo já mencionado sistema de balanço
“Sleepy”, que confere um ritmo excelente não apenas à cama infantil, mas
também àquela de adulto. Quando as crianças se embalam em seu próprio
ritmo, são ajudadas com mais rapidez e e cácia. Em todos os casos, essa é uma
medida de apoio que não prejudica, mas pode ajudar muito.
Os homeopatas enfrentam essa difícil situação com uma ampla oferta de
medicamentos, dos quais cinco se sobressaem. A já mencionada Chamomilla
(camomila) é adequada quando a irritação e a raiva predominam na criança e
os pais desesperados já não sabem o que fazer para acalmá-la. Não raro, essas
crianças-camomila também re etem em sua raiva seu ambiente, que é repleto
de inquietação, agitação e agressividade. Nessas crianças, os pais poderiam
enxergar melhor seu próprio problema.
O Cuprum (cobre) pode ser designado como o “medicamento para os
espasmos de amor”. A mãe tenta, desesperadamente, fazer tudo certo e com
perfeição; teme ataques e críticas do ambiente e tem medo de dizer não. A
criança mostra-se carente, precisa de calor e quer ser amada. Dorme mal e tem
de certi car-se de que a mãe ainda está presente, de preferência em contato
físico constante.
O Magnesium carbonicum (magnésio carbônico) é o medicamento a ser
escolhido quando as crianças se sentem abandonadas pela mãe que tem de
trabalhar muito cedo ou, em todo caso, tem de sair, mas também para crianças
que permanecem sem a mãe em unidades de terapia intensiva, como até hoje
acontece em clínicas pouco adequadas a crianças. Sentem falta da mãe, que
naturalmente representa para elas o centro da vida, tal como o Sol para o
sistema solar. Essas crianças reagem com irritação, desde o campo psíquico até
aquele físico, o que, por sua vez, se mostra na acidez de seu suor azedo, de seu
vômito e até de suas fezes.
A Colocynthis (coloquíntida) é o medicamento clássico para cólica. A
lactante adoece devido a algum acontecimento e reage com raiva, indignação e
irritação. Esse estado de espírito é transmitido à criança, que responde com
fortes cólicas. Estas melhoram quando a criança é deitada de bruços sobre o
antebraço ou os ombros, sentindo uma pressão rme no abdômen.
Na maioria das vezes, bebês-Lycopodium (licopódio) nascem delicados e
frágeis. Dão a impressão de serem mais velhos e, não raro, franzem a testa.
Tipicamente, sofrem de icterícia prolongada. Muitas vezes, os pais têm a
sensação de que seu lho, que emite gritos de raiva entre as 16 e as 20 horas,
quer controlá-los.
 
Perguntas para os pais:
► O que poderia perturbar nossa ligação com nosso lho?
► Como podemos transmitir-lhe proximidade, proteção e contato físico
com mais e cácia ou de outra forma?
► Como podemos ajudá-lo a digerir o que está por vir?
► O que ele não consegue absorver nem digerir (por exemplo, em relação
aos alimentos que a mãe consome)?
► Em que situações me sinto estressada como mãe e como eu também
posso me desprender de vez em quando, nem que seja por cinco
minutos?
► Que ritmo é adequado para nosso lho e para nós?
 
Medidas de apoio:
► Aplicações de calor: mostraram-se e cazes compressas quentes no
abdômen. Prepare um chá forte de cominho, milefólio e/ou melissa e
nele embeba uma na toalha de algodão. Torça a toalha e a coloque se
possível quente sobre o abdômen nu da criança. Cubra-o com outra
toalha, envolvendo-o rmemente com uma coberta de lã. Segure a
criança por cerca de meia hora no colo ou deite-a na cama para dormir.
Se necessário, também é possível colocar uma bolsa de água quente não
muito cheia sobre o abdômen. Assim, o calor da compressa dura mais
tempo, podendo chegar a uma hora.
Advertência: não utilize cobertas nem travesseiros elétricos, pois eles
podem facilmente represar o calor. Além disso, utensílios que dependem
de corrente elétrica não devem ser usados em camas de criança, não
apenas por motivos de segurança, mas também devido à carga de radiação
eletromagnética.
► As massagens devem ser sempre feitas de modo circular, no sentido
horário ao redor do umbigo. Nela pode ser utilizado óleo de cominho,
hipérico ou melissa, aquecido com as mãos. Caso não esteja disponível,
também se pode empregar um óleo suave para bebês ou azeite de oliva.
Cuide para que o ambiente esteja aquecido e para que os pés da criança
estejam quentes durante a massagem.
► Chá: recomenda-se uma mistura de cominho, funcho, anis e coriandro.
Dê à criança o chá sempre sem açúcar, com uma colher ou na mamadeira
com um furo pequeno no bico, para que ela se esforce e não se acostume
mal. Do contrário, a amamentação pode se ameaçada.
► Um clister, como descrito no capítulo 3 “Febre”, também pode
proporcionar relaxamento e alívio em casos de gases ou evacuação
dolorida.
► Amamentação tranquila: enquanto amamenta, evite ser incomodada.
Nesse período, o telefone e outras fontes de ruído, como rádio e televisão,
devem permanecer desligados. Permita-se uma pausa antes, na qual possa
evitar a pressa, o estresse ou qualquer distração. Beba uma xícara de chá
quente e encontre uma posição confortável para amamentar. Esse
importante período em que você não apenas alimenta seu lho, mas
também lhe dá o calor, o afeto e o amor de que ele precisa deve pertencer
a você e a ele. Desfrute dessas horas de intimidade. Tente reagir de
maneira relaxada e converse com seu parceiro sobre as prioridades. As
crianças crescem rápido demais e talvez já não queiram ser abraçadas nem
receber carinhos de forma tão intensa. Com frequência, as mães dizem:
“Ah, se eu tivesse aproveitado melhor essa fase! Ela passa tão rápido, e
agora meu lho já está grande”. As fases de gritos entre os períodos de
amamentação devem ser contornadas sem alimentos. Procure consolar ou
distrair seu lho de outra maneira.
► “Andar de bicicleta”: a cada troca de fralda ou fase de dor, recomenda-se
executar movimentos suaves com as pernas da criança, como se ela
estivesse pedalando. Durante esses movimentos, muitas vezes ela solta
gases, que, naturalmente, trazem alívio.
10.1.2 Medicamentos homeopáticos em casos de dores abdominais

Chamomilla C30 Cuprum C30

Disposição Irritada, mal-humorada, irada, Inquietação; a criança sofre

hipersensível; gritos altos; com a proximidade insuficiente

desenfreada, insatisfeita; atira da mãe; é extremamente

os brinquedos preferidos carente

Dor Convulsiva, irregular Repentina, intensa, pungente;

espasmos; abdômen duro

e tenso

Melhora com Ser carregada no colo a acalma Pressão, bebidas frias, calor

apenas por um breve período;

aplicações de calor

Piora com Ficar deitada, ficar coberta, Frio, levantar os braços, susto

estímulos externos

Período À noite, até as 24h De 0h a 1h, 3h

Peculiaridades A criança puxa as pernas; sente Cerra os punhos com os

dores logo após a refeição e polegares para dentro; ruídos

durante a dentição; fezes com no intestino; náusea

cheiro de ovo podre

Agentes Raiva, ira, dentição, mãe Decepção afetiva, irritação, falta

desencadeadores hipersensível na amamentação de sono

Aparência Cabeça quente, vermelha; Pálida, braços e pernas

uma bochecha vermelha e a azulados, fria, rosto pontiagudo

outra pálida

 
Magnesium Colocynthis C30 Lycopodium C30

Carbonicum C30
Magnesium Colocynthis C30 Lycopodium C30

Carbonicum C30

Disposição Mal-humorada e Irada, irritada, Com raiva, irada,

irritada; quer ficar impaciente chorosa

com a mãe sem ser

perturbada; mãe e

filho não dormiram

o suficiente

Dor Fulgurante Como uma onda, Espasmódica, com

cólica, intermitente, eructação

intensa

Melhora com Movimento, ao ar Forte pressão; Breve melhora com

livre, à luz do sol encolhendo-se; a eliminação dos

puxando os joelhos; gases ou com

ficar deitada por eructação;

cima dos ombros; afrouxando

eructando; soltando as roupas

os gases

Piora com Frio, silêncio, na Após a Roupa apertada no

cama, no escuro amamentação; ficar abdômen; após a

deitada de costas; amamentação

calor excessivo

Período A partir das 3h À tarde Das 16h às 20h

Peculiaridades Fezes como ovas Frio, irritação e Vontade de comer

de rã, duras, raiva da mãe algo específico;

gelatinosas, do satisfação rápida;

tamanho de icterícia

lentilhas a ervilhas,

espumosa,

secreção ácida

Agentes A mãe tem muito Ira, indignação, Ambição frustrada,

desencadeadores pouco tempo e decepção, ofensa humilhação

está estressada
Magnesium Colocynthis C30 Lycopodium C30

Carbonicum C30

Aparência Palidez Contorce-se de dor, Fraqueza; parece

sente medo mais velha; testa

franzida; pele seca;

criança delicada com

cabeça grande

10.2 Gases

“Estou fedendo!”
 
A criança que sente seu próprio mau cheiro libera sua agressividade
indiretamente. Ela se opõe a alguém, descarrega sua raiva (por trás) e,
“empesteando o ar”, procura manter afastadas pessoas desagradáveis, o que não
raro ofende a própria mãe. Quem afugenta os outros com bombas caseiras de
mau cheiro recorre a uma retórica fétida, bastante repugnante e desrespeitosa
no verdadeiro sentido do termo. A causa física super cial reside com frequência
em um meteorismo bem desenvolvido, que desafoga a tensão e a pressão
sofrida pelo abdômen. Por trás desse sintoma estão um intestino grosso
sobrecarregado e um inconsciente que lhe corresponde, sendo que o intestino
grosso representa o inferno, o Hades ou o reino dos mortos no corpo. Muitas
vezes, uma ora intestinal dani cada é a base física mais profunda do
sofrimento, cuja causa nos tempos modernos não raro são os tratamentos à
base de antibióticos. Só o termo já revela que são voltados contra (anti) a vida
(bios) – do ponto de vista da medicina acadêmica, é claro que se destinam a
combater a vida de bactérias; porém, na prática, muitas vezes combatem a vida
do indivíduo, que sai prejudicado com o enfraquecimento das próprias defesas.
Por meio dos gases, a criança se expressa por trás, porque, pela frente,
(ainda) não consegue ou não é ouvida. Com os gases, a energia desaparece pela
saída dos fundos. Isso é sinal de uma força de integração anímica insu ciente e
de que a criança incorpora coisas que não lhe são salutares e que, ao contrário,
cheiram mal. Nesse caso, o alimento não é digerido, e sim gasei cado, o que o
torna menos proveitoso e extremamente problemático.
A tarefa estaria em encontrar caminhos mais produtivos para que a criança
possa se expressar. Ela precisa e deve mostrar quando sente que alguma coisa
está cheirando mal, pois isso melhora toda a situação. Na prática, embora a
saída dos gases seja desagradável para o indivíduo em seu ambiente mais
imediato, para a criança é um alívio. Desse modo, ela deixa escapar o excesso
de pressão do centro do seu mundo e, com o consequente alívio, passa a sentir-
se melhor. Em contrapartida, quem segura os gases sempre acaba sofrendo mais
pressão e corre o risco de explodir como uma panela de pressão com a válvula
entupida.
As dores sentidas por causa dos gases devem ser interpretadas como um
grito de socorro da criança que perdeu seu centro. A inquietação que
acompanha o meteorismo na criança demonstra sua vontade de tornar-se mais
ativa e, em última instância, de conhecer a vida. Os distúrbios do sono,
também frequentes, representam o desejo de acordar para este mundo, mesmo
que ela exprima isso de modo ainda muito contido.
Em geral, em todas as idades, os gases pressupõem o aprendizado de soltar
oportunamente a pressão que surge e também de se exprimir de maneira
agressiva, direta e frontal, a m de não apenas empestear o ar e ser obrigado a
agir apenas por trás. Quem desenvolve a coragem para um confronto direto
pode poupar-se dos desvios e transmitir, de maneira igualmente direta, até
mesmo os conteúdos mais sombrios de seu inferno. Em última instância, como
dizem os budistas, trata-se de exercer o bhoga, ou seja, de aprender a “comer o
mundo”, o que nada mais signi ca além de digerir, ou melhor, elaborar a vida
que cabe a cada um – tudo a seu tempo e em seu lugar. Portanto, as crianças
que sofrem de excesso de gases e de agressividade represada precisam entrar em
contato com a vida e com o mundo. Assim, é aconselhável oferecer-lhes
estímulos de acordo com a idade, torná-las curiosas e sempre proporcionar
espaço para que possam espernear e dar chutes, sem com isso provocar uma
avalanche de agressividade contra os pais.
Para a maioria dos pais, os gases dos lhos não são nenhum problema. Na
amamentação, chegam a ser vistos como muito agradáveis. É uma questão de
empatia de quanto a criança é amada ou, ao contrário, desperta repugnância.
De acordo com o caráter deste livro, temos aqui de nos ocupar mais dos
“problemas”, mas também queremos dar espaço às oportunidades. Assim, até
mesmo os gases fortes das crianças, sobretudo quando elas os seguram por
muito tempo, podem transformar-se na máxima forma de amor.
No entanto, para muitos pais, a situação também pode signi car um
desa o, submetendo seu amor a uma dura prova, pois, nesses casos de excesso
de gases, eles se veem muitas vezes sob pressão. Desse modo, são desa ados a
despertar para seu lho e seu papel como pais, justamente em uma situação em
que ele causa repugnância a eles próprios e a todos, talvez de modo
constrangedor. O amor da mãe ou dos pais (livre de expectativas e exigências) é
a forma mais desenvolvida de amor na Terra e o campo de treinamento ideal
para o amor celestial (a Deus), que também é incondicional. Assim, os próprios
lhos se tornam uma grande prova, um desa o e uma oportunidade, pois
justamente nas di culdades embaraçosas que os pais têm com eles é que se
poderia desenvolver a forma especial e incondicional do amor. Nesse caso, a
criança tornaria fecundo o amor dos pais e, com ele, a união de que é fruto, em
vez de colocar esse amor à prova.
No entanto, com muito mais frequência, a gravidez sobrecarrega e prejudica
o relacionamento, e crianças que sofrem de atulência crônica mais ainda, pois
essa oportunidade de crescer dentro de um amor abnegado é desperdiçada, e os
nervos dos pais, sobretudo os da mãe, sofrem muita pressão e são expostos a
verdadeiras provas de resistência. Porém, quando ela consome todos os seus
nervos com seu lho que sofre de atulência, que incha e empesteia o ar, eles
lhe faltam no relacionamento com seu parceiro. Ela chega a se irritar com ele e
também consegue mostrar-lhe o que reprime com a criança, tal como os
adultos reprimem seus próprios gases, em geral em detrimento próprio e por
consideração ao ambiente.
Todavia, não raro o parceiro se irrita com a situação de viver com uma
criança que cheira mal em vez de sorrir e que absorve a mãe por completo,
fazendo com que ela cumpra apenas secundariamente seu papel de esposa, para
não falar naquele de amante. Assim, muitas vezes ele foge para outro quarto,
para o esporte ou para o trabalho, em vez de estar presente como pai. Essa
função exigiria dele amadurecer emocionalmente como pai, em vez de
permanecer dependente da mãe nesse campo, queixando-se de ser deixado de
lado e afastando-se.
Muitas vezes, apenas a mãe se familiariza com essa forma elevada de amor,
apesar ou justamente por causa de todos os desa os, que não apenas podem ser
exigidos, mas também estimulados do ponto de vista da alma. Depois, pode
acontecer de seus desejos mais profanos de amor a irritarem porque, cansada e
esgotada, já não lhe resta energia. Para o parceiro, que, aparentemente, nada
recebe porque nada tem e não está pronto para receber esse vazio como
aprendizado, esse amor de mãe, que lhe dá a impressão de ser provocador e
justamente atua como uma demonstração, pode lhe dar literalmente o que
sobra. Assim, para ele, não apenas a criança cheira mal, mas também toda a
situação, a tal ponto que, não raro, ele a questiona.
Nesse caso, caberia aos pais a tarefa de deixar ao critério da criança a
necessidade e a expectativa, sem dirigir cobranças um ao outro, e sim, se
possível, desenvolver juntos uma autonomia no amor: uma tarefa que muitas
vezes supera as forças dos pais modernos, que também são sobrecarregados,
embora de maneira diferente.
 
Perguntas para os pais:
► Como reagimos ao cheiro dos gases do nosso lho?
► Como podemos possibilitar ao nosso lho experiências adequadas à sua
idade?
► De que outro modo ele pode descarregar sua raiva?
► O que ele está reprimindo? Como pode conquistar o mundo?
► Contra quem ele está se opondo? O que eleva sua alegria de viver?
► O que ele não consegue digerir no sentido concreto e naquele gurado?
► Como podemos ajudá-lo, para que ele aprenda a enfrentar esse con ito
com coragem?
► O que nos revolta? O que nosso lho demonstra por trás porque ainda
não consegue demonstrar pela frente?
► Sentimos seus odores como sinais ou perturbação?
► Esses odores alteram a atmosfera de modo agradável ou sentimos esses
gases como “bombas pér das de mau cheiro”?
► Que tipo de ar fresco gostaríamos de ter em vez de seus gases? O que
esperamos das crianças como contribuição para o “clima” familiar?
 
Medidas de apoio:
► Exame de fezes: em casos de gases recorrentes ou duradouros, é
aconselhável fazer um exame de fezes, a m de se obter um quadro da
ora intestinal e dos resíduos da digestão. Dependendo do diagnóstico,
deve-se realizar uma limpeza do cólon.
► Todas as medidas apresentadas nas seções sobre dores abdominais (10.1) e
cólica dos três meses (10.1.1) também devem ser consideradas aqui.

10.3 Vômito

“Estou enojado.”
 
Há que se distinguir aqui entre o vômito ocasional e o frequente, bem como
aquele causado pelo leite materno, que acaba por perturbar a simbiose entre a
mãe e o lho. Em si, o vômito é uma reação saudável e, como evento isolado,
não necessita de tratamento. Com ele, o organismo expulsa aquilo que não
suporta e que deixou penetrá-lo erroneamente devido a uma falha da visão e do
olfato. O vômito chegava a ser um método da medicina antiga, com o qual não
raro se visava ao alívio. De fato, depois de vomitar, sentimo-nos nitidamente
bem melhor do que antes. Nesse sentido, não se trata aqui de uma doença nem
de um sintoma, mas de uma reação natural e importante de autodefesa.
Melhor ainda seria não ingerir algo que não poderemos suportar, pois uma
sensação oportuna de repugnância já seria um aviso su ciente. Por isso, o
vômito precoce é a segunda melhor reação e deve ser preferida à possibilidade
posterior da diarreia.
Vomitar também signi ca “entregar-se”, “deixar acontecer” e “con ar em
um acontecimento mais poderoso”. Em um navio, o indivíduo pode entregar-
se à situação do mar com suas ondas e seus altos e baixos, ou então tentar
resistir e vomitar por cima da balaustrada. Quando o estômago está revirado, o
indivíduo vomita porque não se sente livre. O estômago revira-se porque quer
livrar-se a tempo de um conteúdo inadequado, antes de causar danos maiores.
Também é possível querer devolver desse modo alguma coisa que se tomou e
com a qual não se consegue car, como no caso da bulimia, que antigamente
era chamada de “mania de ingerir e vomitar”.
Vomitar signi ca expulsar uma matéria de dentro de si, esvaziar-se, talvez
para conseguir entregar-se melhor à vida. A experiência mostra que pessoas que
praticam o jejum – ou seja, que estão acostumadas com esse vazio –
familiarizam-se melhor com novas situações, encontram muito mais facilmente
seu próprio ritmo e entram em sintonia.
Muitas vezes, o vômito infantil também tem como fundamento o excesso de
agitação. Quando uma criança não está absolutamente preparada para a
digestão, mas, apesar disso, é alimentada, ela acaba caindo em um vínculo
duplo, pois pode apresentar uma reação nervosa. Ela se encontra em uma
situação dominada pelo sistema nervoso simpático, que é o pedal do acelerador
do organismo, em vez de estar naquele do sistema nervoso parassimpático,
necessário para a digestão e que atua como um freio no organismo. Ou, em
outras palavras, a atmosfera não é propícia para a criança, pois a mãe está
agitada, inquieta e não consegue se dedicar a ela. Há muita agitação em torno
da refeição, o que, obviamente, é problemático no momento da amamentação.
Nesse caso, o vômito resulta da excitação que se re ete no estômago.
O enjoo também denota que o processo do vômito em si é algo saudável.
Quem sente náusea traz algo ruim dentro de si, e quando isso é posto para
fora, o indivíduo sente alívio e, geralmente, bem melhor do que mantendo o
conteúdo em seu organismo. Por certo, seria mais habilidoso livrar-se do mal-
estar em sentido gurado, por exemplo, “vangloriando-se” ou até “estragando
os planos de alguém” do que cuspir verdadeiramente no mundo. Mesmo
quando se expele pela boca alguma coisa com di culdade, ela sempre é
revelada.
Quem se encheu de coisas inapropriadas e indigeríveis tem de contar com o
fato de que as colocará para fora novamente. Porém, o indivíduo também sente
repugnância quando absorve muitas impressões errôneas e experiências
indigeríveis. Em seguida, tudo vem à tona e evidencia a revolta: “A situação é
insuportável”. Quando um problema vai parar no estômago como se fosse uma
pedra, arruinando o apetite, é melhor para a saúde que tudo seja posto para
fora – em caso de necessidade, também no nível físico. Do contrário, é possível
que ocorra uma irrupção em outros níveis. Quem sente muita raiva e destila
seu fel também consegue ter alívio, uma vez que libera o que o oprime. Outra
possibilidade, que não é melhor, é quebrar a cabeça até sentir dor.
Obviamente, melhor seria perceber em tempo a incapacidade de assimilar o
que está por vir e, assim, poupar-se do vômito. A tarefa consistiria em
reconhecer conscientemente a resistência e a aversão ao que é sentido como
indigerível. Portanto, é preferível aprender a revoltar-se no campo social e não
aceitar tudo que lhe oferecem, ou seja, é melhor interromper alguém a tempo,
a fazer o corpo vir em seu auxílio através do vômito. Quem reconhece a
própria raiva e a própria maldade consegue liberar com mais facilidade a
agressividade represada e reprimida. É importante aprender, desde criança, que
não faz sentido engolir e digerir tudo que lhe apresentam sob todas as
condições. Quando a pessoa se engana e permite que temas e objetos a
penetrem mais profundamente, como se fossem lhe fazer bem, vomitar no
sentido concreto e gurado é a melhor alternativa.
10.3.1 Vomitando o leite materno

“Não gosto do seu gosto.”


 
Por longos períodos, o bebê é um espelho perfeito da mãe. Porém, o que na
maioria das vezes é sentido como a maior felicidade do mundo também pode
virar do avesso, quando a criança põe constantemente para fora o leite (da
própria mãe). Muitas vezes, de acordo com a lei do espelhamento e da
ressonância, naturalmente isso afeta a mãe, que talvez seja mesmo repugnante,
não consegue lidar com a (nova) situação e, não raro, conduz uma luta
desesperada. Quando a criança vomita seu único alimento, a mãe precisa dar
de mamar ainda mais vezes e enfrentar mais ainda a rejeição evidente.
Contudo, esse círculo vicioso tem um lado bom, pois, com o aumento da
amamentação, a criança irá sugar com mais frequência e, dependendo da fome,
mais intensidade, o que estimula o organismo da mãe a liberar mais oxitocina.
Portanto, esse hormônio da ligação, que desde a primeira infância até a idade
adulta desempenha um papel decisivo na estabilidade de toda união entre os
seres humanos, pode trazer um componente de autocura para a situação
precária.
A situação normal de amamentação, na qual o bebê, depois de um longo e
cansativo esforço, suga feliz, gota a gota, o leite do peito, pode ser tão bela
quanto deprimente, se a mãe, nessa fase por si só tão feliz, recebe de volta, em
forma de vômito, aquilo que de mais precioso tem a oferecer. Normalmente,
além do seu leite, ela também sente que seu amor e ela própria estão sendo
rejeitados e repelidos. Nos adultos, a quantidade de oxitocina e endor na
liberada durante a amamentação corresponde àquela produzida pelo orgasmo.
Nesse sentido, as mães em questão experimentam uma ducha de água fria
emocional.
Do ponto de vista médico, provavelmente o jato de vômito do leite materno
se deve a uma contração do piloro. O bebê trava uma luta nesse importante
local e, de certo modo, estreita a tal ponto essa abertura que o leite nem chega
a passar do estômago para o intestino e é logo golfado para fora. Portanto,
também se poderia falar em uma espécie de greve de fome inconsciente, que
implica uma rejeição manifesta e dramática da mãe, o que, na prática, quase
sempre leva a um estresse psíquico e físico da mãe, que logo é obrigada a
amamentar de novo, muitas vezes apenas para ver todo o seu leite devolvido
novamente. Seu bebê exprime uma espécie de mensagem de duplo vínculo, no
seguinte sentido: “Odeio você, cuide de mim”.
Por parte da criança, que regurgita o leite não digerido, o drama signi ca
que, mesmo correndo risco de vida, ela não consegue ou não quer aceitar nada
da mãe. Sobretudo o fato de que a mamadeira, usada como expediente, quase
não é rejeitada como o leite materno torna toda a situação ainda mais evidente
e extrema para a mãe.
Nesse caso também podem ser incluídas situações em que as crianças
aparentemente vomitam de raiva, depois cospem o que a mãe lhes oferece. Elas
acham o alimento, por assim dizer, explicitamente insuportável. Além disso,
esse fato pode vir acompanhado de um gesto histérico, segundo o lema: “Nada
disso é bom o su ciente para mim! Tudo isso está errado demais para o meu
gosto!” Essas crianças são muito programadas contra tudo que vem de fora, não
querem deixar nada entrar dentro delas, não participam da digestão nem
permitem que nada tenha acesso a elas; imediatamente, devolvem e
exteriorizam tudo. Nesse “Não quero deixar nada entrar” também ressoa um
“Não quero me envolver”.
Contudo, se a criança rejeita a vida (em forma de peito e mamadeira), a mãe
pode oferecer o que quiser que nada irá satisfazê-la. Seria uma espécie de “greve
de fome”, uma recusa ao mundo e à vida na “mãe Terra”. Naturalmente, isso
também tem algo a ver com a mãe biológica e a deixa muito desamparada. Há
situações em que é aconselhável submeter-se a uma psicoterapia. Como o ideal
é que esta seja realizada em sessões diárias durante três semanas, a criança deve
ser levada junto com a mãe e cuidada por uma pessoa de con ança durante a
sessão.
Por outro lado, o problema poderia estar no fato de que a criança sente
muita fome e, por conseguinte, mama com muita avidez e rapidez. Nesse caso,
também se deveria pensar que talvez queira outra coisa – nesse estágio precoce,
basicamente, afeto. Talvez também engula ar ao mamar. No primeiro arroto, o
ar sai e provoca uma reação em cadeia.
Por outro lado, a sabedoria popular tem uma conclusão mais
tranquilizadora ao a rmar que “crianças que regurgitam são crianças que
prosperam”. No entanto, o ditado provavelmente se refere a uma regurgitação
insigni cante do leite quando se coloca a criança para arrotar, e não ao vômito
regular, que chega a pôr em risco o equilíbrio eletrolítico. Com o vômito, essas
crianças perdem muitos sais. Porém, o sal da vida, tal como o sal da Terra e
aquele da sopa, é importante não apenas do ponto de vista simbólico, mas
também possui um signi cado concreto e decisivo para a saúde. No caso
emergencial do vômito crônico, os sais minerais presentes no sangue precisam
ser controlados e, eventualmente, reintegrados.
10.3.2 Indicações para as mães

A mãe deveria se perguntar: “O que meu lho não quer nem consegue aceitar
do meu leite?”, “O que estou transferindo – também em sentido gurado –
para o meu lho?” “Quero transferir isso para ele?”, “Quanto de estresse,
tensão e medo estou transmitindo pelo meu leite?”, “Das minhas preferências,
o que não é assimilável por uma criança ou, em todo caso, pelo meu lho?” e
“Quando preciso me adaptar à nova situação?”
Obviamente, o leite traz em si tudo aquilo que a mãe viveu enquanto ele era
formado. Porém, de modo bastante concreto, nele também está representado
tudo aquilo que ela comeu e, sobretudo, ingeriu. Nesse caso, deve-se pensar
igualmente nos hormônios do estresse e do medo presentes na carne dos
animais de abate. No abate em massa nos grandes matadouros, os animais
costumam vivenciar, antes de seu próprio m, a morte de dúzias de outros
animais da mesma espécie, o que neles desencadeia medo e pânico em máximo
grau. Em seguida, seu organismo libera hormônios relativos ao medo e ao
estresse. Esses hormônios se acumulam em sua carne que, quando consumida
pela mãe, os transfere para o leite materno. As síndromes de pânico que hoje
são sentidas também na idade adulta devem ter suas raízes não apenas nas
limitações cada vez maiores da sociedade moderna, mas também na questão do
abate de animais.
Sem dúvida, todas as outras substâncias consumidas também deixam seu
rastro no leite – dos venenos do prazer, como o café, o álcool e a nicotina, até
outras drogas, como as medicinais. A ingestão de determinados temperos ou
apenas de frutas cítricas pode alterar o leite materno de tal forma que as
crianças passam a ter problemas com ele, que vão desde ferimentos nas nádegas
até o vômito. Tudo isso deve ser esclarecido e regulado com experiências e as
respectivas tentativas de abstinência. Hoje também sabemos que, através do
leite, a mãe transmite ao primeiro lho uma dose considerável de mercúrio,
caso ela tenha restaurações dentárias feitas com o amálgama desse metal. A
natureza coloca, de maneira bastante evidente, o bem-estar da mãe acima do da
criança e utiliza o leite para processos de desintoxicação.
Como o leite materno é produto da alimentação e das experiências da mãe,
ao se alimentar e viver, ela deveria pensar sempre na criança. Nesse sentido, a
situação é a mesma do período de gravidez. Mesmo durante a amamentação,
ela deve continuar a pensar, comer e viver por dois.
Depois que as crianças vomitam o leite materno, as mães cam muito
preocupadas. Aparentemente, o bebê precisa e quer ser tratado como um ovo
cru. Por conseguinte, a mãe tem de pegá-lo com muito cuidado e não pode
fazer movimentos bruscos; do contrário, o leite é regurgitado. Isso signi ca que
ela tem de ser manifestamente atenta, cuidadosa e amorosa. Talvez o problema
esteja justamente nisto: as crianças querem amor e leite, e este apenas em
conexão com aquele. Com sua rejeição, elas tentam, por assim dizer, obter
obstinadamente essa conexão entre ambos.
Por outro lado, no fenômeno do leite materno logo rejeitado em detrimento
da mamadeira, muito menos saudável, poderia estar o pretexto de interromper
precocemente a amamentação. O medo por parte da mãe quanto à sua silhueta
e ao relacionamento com o parceiro poderia ser claramente percebido pelo
bebê e ter tal prioridade que ele rejeita o leite de maneira espontânea e
manifesta. A sobrecarga da mãe também poderia ser uma razão para a
“interrupção inconsciente da amamentação”, pois somente depois dela é que a
mãe consegue se liberar parcialmente do bebê e reconquistar a própria vida
com mais independência. Quando a mãe está sobrecarregada e tem de fazer
tudo sozinha, ela vê no vômito do lho uma solução quase ideal para sair da
situação em que se sente presa.
Normalmente, a mãe não vê o vômito do próprio lho com nojo. Porém,
quando ela recebe esse vômito com constância e não pode contar com uma
autocon ança sólida nem com uma segurança de base como mãe, talvez
comece a sentir repugnância. Trata-se mais de uma relutância contra a situação
que a deixa desamparada do que propriamente com nojo. Ela já não consegue
nem quer ver o vômito porque este lhe apresenta a difícil situação com toda a
evidência.
Nesse momento, naturalmente ca mais fácil para a mãe distanciar-se da
amamentação. Ao vomitar o bolo alimentar já azedado, a criança mostra o
quanto está aborrecida e o quanto a situação lhe é penosa. Assim, algumas
poucas mães punidas com desprezo e aviltamento também sentem repugnância
e vontade de guardar para si seu tesouro constituído de energia vital. A nal,
amamentar é muito cansativo. Segundo uma parteira, o dispêndio de energia
na amamentação pode ser comparado à jornada de oito horas de um operário.
No entanto, quem é punido por seu esforço e seu sacrifício com uma
linguagem corporal tão evidente também se afasta com mais facilidade. Nesse
sentido, muitas vezes as crianças que estão sempre vomitando obtêm
exatamente o contrário daquilo que de fato precisam. Em vez do amor
incondicional de mãe, são afastadas com repugnância por ela, que, intimamente
magoada, também ca muito aborrecida. Entretanto, na realidade, como todos
os outros bebês, aqueles que regurgitam pedem afeto, ainda que da maneira
mais despropositada que se pode imaginar.
Por mais difícil que seja essa situação para a mãe, é extremamente
importante manter a calma, proteger-se das recriminações e quali cações
próprias e alheias e não se fechar para o desamparo emocional. Talvez seja
melhor dar a mamadeira com carinho em vez de forçar a amamentação, a m
de evitar sentimentos de culpa e avaliações das pessoas circunstantes, que
acham que sabem mais.
Justamente em uma situação como essa, a criança é receptível a uma
mensagem muito valiosa: “Não importa como você é; amo você, e o
importante é que você esteja bem”. Mesmo quando o comportamento da
criança dá muito trabalho à mãe, o amor profundo por ela pode permanecer
intacto.
10.3.3 Homeopatia: Silicea, lágrimas de anjo em cristal de rocha ou a parede de vidro

entre a mãe e a criança

A homeopatia clássica dispõe de um medicamento maravilhoso em forma de


Silicea, que resume os traços característicos de muitas crianças intolerantes ao
leite materno e de suas mães. Quem deve tomar esse medicamento em caso de
problemas com os lactentes é quase sempre a mãe, que, na simbiose ainda
existente com o lho através do leite, transmite-lhe o medicamento. Somente
quando estiver bem claro que o lactente não se adapta ao leite nem à situação é
que se pode dar o medicamento diretamente a ele.
A típica mãe-Silicea é fria em quase todos os aspectos e tende a ter mãos e
pés frios. Do ponto de vista emocional, às vezes seu caráter parece, de certo
modo, gélido e, em todo caso, áspero. A ele pode acrescentar-se certa rigidez,
bem como, não raro, a intolerância ao leite (ou à proteína do leite) e uma
aversão a tudo que é físico. Na criança, essa rejeição pode voltar-se contra a
mãe como ser humano. Muitas vezes, o típico indivíduo-Silicea não consegue
dizer diretamente o que pensa; em vez disso, limita-se a mensagens indiretas.
Na criança, a mensagem indireta na rejeição da mãe através de seu leite ainda
pode ser compreendida com relativa facilidade e, do ponto de vista simbólico,
chega a ser claramente devastadora. Em contrapartida, as mães podem codi car
muito melhor suas mensagens, mostrando-se externamente como vítimas
dedicadas ao sacrifício, injustamente rejeitadas junto com seu leite, enquanto,
na verdade – embora de modo quase imperceptível aos outros –, relacionam-se
com seu lho com surpreendente frieza e distância, ou até mesmo nem se
relacionam com ele.
A tarefa da mãe, que é facilitada com o medicamento, seria quebrar o gelo,
sair de sua situação de frieza e aprender a se aquecer para a vida. Do ponto de
vista químico, a Silicea é um cristal de rocha que, por sua vez, pode ser
comparado às lágrimas de anjos congeladas da mitologia suíça. As pessoas
afetadas deveriam libertar o anjo que, congelado, dorme no gelo da sua alma e
derreter o gelo que bloqueia suas emoções e seus sentimentos. Pelo menos no
que diz respeito à onomatopeia, no cristal de rocha está oculto Cristo, que em
nossa cultura simboliza o coração e o amor.
Portanto, em vez de cercar-se de uma parede de vidro que isola da vida e de
continuar a cultivar o medo de quebrar o próprio gelo, as mães em questão
deveriam aquecer-se com alguém. Obviamente, o próprio lho seria a
oportunidade ideal para dar um grande passo adiante no próprio modelo de
vida, no que diz respeito a si mesma e à criança. Em nenhuma outra situação o
calor do coração e o amor compassivo podem ser tão bem aprendidos quanto
na relação afetiva com o próprio lho.
Contudo, nesse caso, não raro tem-se como oposição uma exigência de
elevado perfeccionismo, que culmina na imagem de um lar exemplar, no qual
tudo está em seu devido lugar (exceto o próprio coração) e a vida tem pouco
espaço. Sobretudo na comunicação com a criança, fazer tudo certo signi ca
partilhar os sentimentos com sinceridade, calor e brandura.
Por sua natureza, a típica criança-Silicea é delicada e esguia, mas tem o
abdômen distendido, que destaca o centro do corpo, transmitindo a ideia de
que a vida começa no corpo e gira ao redor dele. A mãe-Silicea, que pretende
fazer tudo certo e é totalmente centrada em seu intelecto, tem um lho que,
como reação contrária, enfatiza excessivamente o ventre. De fato, seu abdômen
tem uma aparência bastante distendida.
Na prática da homeopatia, chama a atenção o fato de que, na maioria das
vezes, essas crianças reagem muito mal a vacinações. Não raro, também têm
muito medo de agulhas e se recusam com veemência a tomar injeções.
Infelizmente, a moderna medicina acadêmica não valoriza muito esses sinais
tão importantes, e, na maioria das vezes, as crianças acabam sendo dominadas.
 
Perguntas para os pais:
► O que nosso lho recebe melhor?
► Do que ele quer se livrar?
► O que ele não consegue engolir nem digerir?
► O que ele gostaria de ingerir e do que precisa?
► Com o que não consegue se envolver?
► Como conseguimos ter acesso ao “olfato” do nosso lho?
► Quão prontamente aceitamos nosso lho como indivíduo, como ser
único?
► O que me sobrecarrega como mãe e acaba sendo transmitido ao meu
lho pelo leite?
► Quais emoções não exteriorizo como mãe e meu lho exprime em meu
lugar?
 
Medidas de apoio:
► Chá de gengibre: descascar três centímetros de raiz de gengibre, cortar em
pedaços pequenos, ferver em um litro de água e deixar repousar por dez
minutos. Esse chá é bom contra náusea; porém, é mais apropriado para a
mãe, pois é muito picante para bebês e crianças pequenas, que preferem
chá de melissa para acalmar o estômago.
► Antes de amamentar, ingerir gengibre cristalizado!
► Uma bandagem de camomila quente acalma o estômago. Deve-se
proceder do seguinte modo: mergulhar uma toalha de rosto pequena no
chá quente de camomila, torcê-la e aplicá-la sobre o abdômen da criança.
Cobri-la com uma toalha seca. Para aumentar o efeito, pode-se colocar
também uma bolsa de água quente. Deixar a bandagem agir por cerca de
15 minutos e, eventualmente, refazê-la.
► A decocção de sementes de funcho é e caz contra o enjoo e o vômito.
Deve-se proceder do seguinte modo: verter 250 mililitros de água
fervente em uma colher de chá de funcho e deixar repousar por dez
minutos. Coar em seguida e fazer com que a criança beba aos poucos.
► Bolus alba, da Wala: uma colher de chá para cem mililitros de água por
dia. Dar uma colher de chá a cada 30-60 minutos.
► Glóbulos de genciana para o estômago, da Wala.
► Alimentos leves: se a criança vomitar uma vez (por exemplo, depois de
comer demais ou de comer doces em excesso), trata-se de uma reação
razoável e saudável do organismo, a m de aliviar-se e liberar-se daquilo
que o intoxica ou ao qual ele é intolerante. Se, em seguida, a criança
voltar a sentir-se bem, não há necessidade de tratamento. Basta dar-lhe
nesse dia alimentos leves (chá, torradas, arroz, legumes no vapor).
► Outras medidas: valem aqui as mesmas dicas descritas na seção seguinte
sobre a diarreia.

10.4 Diarreia

“Estou me borrando todo.”


 
Na diarreia, o problema é alguma coisa inadequada ou até perigosa ter entrado
no organismo e passado para um nível mais profundo do corpo do que no caso
do vômito. Aqui também se trata de uma reação importante do organismo,
que, por assim dizer, prescreve a si mesmo um clister. Como no jejum, este
serve para limpar o intestino. O corpo se defende da absorção de alimentos
inadequados recusando-os e expulsando-os.
No nível imunológico – ou seja, no que diz respeito ao sistema de defesa – o
intestino é nosso maior órgão. Oitenta por cento do sistema imunológico se
encontra nos infernos do corpo. Na diarreia também está envolvida uma
problemática da defesa. Talvez o corpo esteja precisando do seu sistema
imunológico para outra tarefa, não possa ocupar-se da digestão (da vida) e, por
isso, faz com que tudo simplesmente saia de dentro dele. Nesse processo, ele
pode perder muito do sal da vida em forma de eletrólitos e do elemento
anímico água, o que, para as crianças, pode se tornar perigoso – quanto mais
novas, tanto mais rápida é a perda.
Um organismo sobrecarregado em defender-se das infecções pode depois
não dar conta do trabalho dispendioso da digestão, que também sempre
conduz à chamada leucocitose. Na ingestão de alimentos, esse aumento dos
glóbulos brancos, especializados em medidas de defesa não especí cas, revela o
quanto o organismo é requisitado do ponto de vista imunológico. Digerir
signi ca integrar o que é estranho, e isso sempre requer um aumento dos
esforços de defesa.
Em situações de estresse que usam toda a energia do organismo, como
ocorre no caso de exames em contexto social ou de ataques por bactérias ou
vírus em âmbito imunológico, a diarreia pode ocorrer devido à não ingestão de
alimentos. Do ponto de vista físico, o problema se instala no intestino delgado,
causando evacuação em quantidade, pois nenhuma matéria é absorvida. Nessas
situações, o organismo não pode permitir sua própria reconstrução e seu
próprio crescimento, pois precisa defender-se.
O segundo e mais frequente tipo de diarreia surge devido à não reabsorção
da água nos infernos do intestino grosso. Quando o elemento anímico água
não é recuperado pelo organismo, os infernos são esvaziados, e o intestino,
totalmente limpo – exatamente como quando se usa um clister.
O outro grande tema no caso da diarreia é o medo, que muitas vezes chega a
antecedê-la e impede a absorção do alimento ingerido. Quem sente muito
medo revela ter medo de viver. Quem “se borra de medo” poderia sofrer de
medo existencial. Medo de expectativas, de exames, de competições ou de
viagens importantes transforma as crianças em “cagonas”. O chamado “cagão”
é um medroso. Além disso, a grande perda de líquido revela uma falta de
exibilidade autoconsciente, uma vez que, no estado de desidratação, tudo que
se encontra rígido e solidi cado perde toda capacidade de adaptação.
Diarreia crônica, “borrar-se” todo e “morrer de medo” são sinônimos para
medo crônico e incessante. O resultado é uma fraqueza crescente, pois, por um
lado, a criança não consegue retirar dos alimentos a energia necessária e, por
outro, ainda perde o sal da vida e muito líquido da alma em forma de água.
Além disso, a simbiose é prejudicada por muitos bilhões de bactérias
intestinais. Resta saber até que ponto a convivência com a mãe é atingida por
isso e re ete esse problema no nível do intestino. Todo passo fora da simbiose
com a mãe pode evocar medo, que se mostra na diarreia. O importante é
simplesmente aceitar o medo e reforçar a autoconsciência da criança até ela
conseguir entregar-se com con ança ao novo trecho da vida a ser percorrido.
A diarreia faz sentido como possibilidade de livrar-se do lastro, para que o
indivíduo consiga escapar melhor. A condição da inervação simpática antes de
um exame ou teste sugere uma evacuação, pois, assim, tanto um eventual
comportamento agressivo quanto um comportamento de fuga são aliviados.
Nesse caso, a ligação com o medo é evidente; ela também se faz sentir nos
chamados tenesmos espasmódicos, que põem o intestino em movimentos
peristálticos excessivos, causando cólicas. No estreitamento do intestino, que
surge durante esse processo, também se torna evidente a vontade, em vão, de
querer conter a diarreia.
Quando estão com medo, quase todas as pessoas se contraem e querem
fugir; obviamente, com as crianças não é diferente. Quem não consegue
escapar tem diarreia. As crianças estão sempre à mercê dela. Sozinhas, não
conseguem escapar, e precisam encontrar outros caminhos para evitá-la, o que
elas não querem ou sentem medo de fazer. A diarreia é um desses caminhos.
Por certo, seria melhor não comer inicialmente, e sim recusar desde o princípio
o que não se recebe. O vômito é a segunda melhor resposta, e a diarreia, a
terceira. Embora as pessoas afetadas deixem entrar o que é duvidoso, dele nada
aceitam na realidade. A percepção das crianças em relação aos alimentos
corretos também precisa ser inicialmente sensibilizada. Elas têm de aprender a
perceber e a levar a sério o que é verdadeiro, a distingui-lo e, eventualmente, a
recusá-lo, não abrindo a boca, vomitando ou desenvolvendo a diarreia. Esta
última é uma solução por meio da qual elas fazem sair – muitas vezes de modo
turbulento – o que lhes é adverso.
Geralmente, a primeira diarreia costuma ocorrer com a dentição; a
agressividade irrompe (“bronca”) e causa medo. Mais tarde, pode-se perder o
controle – até aquele do esfíncter. Assim, volta-se à situação anterior ao
treinamento; a criança regride ao nível natural e original, no qual podia dar
livre curso às coisas. O bebê volta a ser amplo e permeável. Desse modo, no
período da diarreia, a situação de medo, junto com a evacuação que provoca,
estimula o colapso da educação e do treinamento.
Os pediatras antroposó cos Georg Soldner e Hermann Michael Stellmann
partem do princípio de que uma infecção intestinal ou uma colite sempre é
precedida por uma experiência de perda. Na dentição, seria a perda da infância
inocente. Com os dentes, as crianças devem superar as di culdades sozinhas, e
outro corte do cordão umbilical se faz necessário. Nesse momento, delineia-se
o nal da amamentação, pois, por um lado, a criança pode começar a receber
outro tipo de alimento e, por outro, a mãe corre o risco de ser mordida.
A diarreia mostra uma exigência excessiva. A criança se defende e “passa
uma descompostura em todo mundo”. Agora, ela quer e precisa aprender a
selecionar as ofertas da vida e a aproveitar as ocasiões e as oportunidades.
Talvez não queira aceitar nada, pois nada lhe convém do ponto de vista
psíquico. Muitas vezes, entre as crianças mais velhas se percebe um excesso de
análise (detalhada) e de crítica, que as transforma em pequenos ranzinzas que
de nada gostam. Assim, já não aceitam nada, e a assimilação não tem vez,
conforme mostra o intestino. Quem encontra defeito em tudo e já não quer
aceitar nada não digere as impressões da vida. Talvez não reconheça seu medo
subjacente, e só volta a ser honesto no lugarzinho tranquilo, onde é obrigado a
“dar livre curso às coisas”, onde quase se borra de medo. Seria uma
oportunidade reconhecer a extensão das possibilidades, desde “estou com
medo” até “não estou nem aí” e já não tenho medo. Antes de conseguirem
chegar a tanta honestidade, muitos preferem sacri car o sal da vida e muito
líquido da alma.
Na diarreia, a tarefa reside claramente em fazer com que o corpo se livre da
matéria, não absorva mais ou muito mais alimento e dê livre curso às coisas.
Do ponto de vista psíquico, a criança deveria dispor-se a deixar passar o que
vier, sem intervir muito e deixando a vida uir.
O corpo mostra enfaticamente que, nesse momento, dar é mais ditoso do
que tomar. As pessoas dão generosamente o sal e a água da vida. É claro que
seria melhor fazer essa contribuição para a vida em sentido gurado.
Outra tarefa é confrontar-se com tudo, sem por isso abrir-se logo a tudo.
Dar uma trégua, deixar a vida transcorrer e não intervir não são atividades
difíceis nessa situação, pois o corpo quase obriga a essa postura.
Uma boa reação no caso da diarreia seria o jejum, que aprofunda ainda mais
o processo de depuração e apresenta uma espécie de resposta homeopática para
o evento. Quem segue o jejum e, de maneira espontânea e consciente, já não
ingere nada material aprende a observar o mundo e seus fenômenos com
imparcialidade e a deixar passar muita coisa sem veri cação. Nesse caso, a
própria mania de criticar poderia ser submetida a um exame e, assim, ser
relativizada. A disposição consciente para fazer sacrifícios poderia se
desenvolver. Quem aprende espontaneamente a dar e presentear não precisa ser
obrigado a fazê-lo. Contudo, o jejum mais prolongado no sentido de um
tratamento para crianças não é ideal, a não ser que, por razões de doença, elas o
façam espontaneamente, como no caso de infecções com febre.
Um jejum espontâneo que se desenvolva a partir da diarreia também seria
uma boa oportunidade para a criança se colocar na profundidade psíquica do
seu medo e, assim, convertê-lo em amplidão e abertura. Quem dá espaço
su ciente à sua criança interior no nível da consciência e evita exigências e
provas de coragem exageradas poupa a si mesmo e à sua criança não apenas
diarreias de viagem, que costumam atormentar aqueles que dão a volta ao
mundo, mas também lhe permite crescer e expandir-se, tornar-se exível e
deixar que aconteça o que a vida traz consigo. Desse modo, é possível tornar-se
honesto sem ter de “abaixar as calças”.
 
Perguntas para os pais:
► Do que nosso lho tem medo? Como podemos encorajá-lo a envolver-se
com o novo/o diferente?
► Do que ele se defende? Como podemos ajudá-lo a se defender de maneira
mais simples e saudável?
► Como podemos ajudá-lo a desenvolver uma autoconsciência saudável?
► De que lastro ele quer se liberar?
► Como ele pode car mais sereno?
 
Medidas de acompanhamento:
► Para lactentes e bebês, sempre consultar um terapeuta experiente.
► Evacuação do leite: geralmente, a evacuação de lactentes é de na a
líquida. Isso não é diarreia, mas a consistência normal da evacuação do
leite ou da amamentação.
► Ingestão de líquido: devido à grande perda de líquido, a criança precisa
beber muita água e/ou chá. Podem ser oferecidos chás que contenham
muito tanino, que acalma a mucosa intestinal. Chá de mirtilo, feito a
partir de mirtilos secos, chá de folhas de amora silvestre ou de pé-de-
lebre. Suco quente de abrunho também é adequado. De uma a três
xícaras por dia, eventualmente adoçado com um pouco de mel ou suco
concentrado de pera.
Com frequência, os lactentes bebem muito pouco e correm o risco de se
desidratarem rapidamente. Isso é claramente visível quando a moleira está
afundada. A pele nessa região, que costuma ser tesa, passa a car seca e
enrugada; a criança torna-se descorada e muito pálida, seus olhos cam
fundos, com olheiras. Em pouco tempo, esse estado pode ameaçar a vida,
ou seja, é preciso remediar de imediato a situação e, caso necessário,
realizar as infusões adequadas também no hospital. O clister, conforme
descrito no Capítulo 3 “Febre”, pode ser usado como prevenção. Com ele,
a criança absorve líquido pelo intestino (de três a quatro vezes por dia).
► Raspar uma maçã e deixar que escureça durante uma hora. Dar às
crianças às colheradas em caso de diarreia.
► Jejum: não forçar a criança a comer caso ela não queira. Nesse caso, frases
do tipo “ lho, você precisa comer alguma coisa...” são absolutamente
contraproducentes. O intestino precisa acalmar-se, e nenhuma criança
morre de fome tão rapidamente. Depois de superada a doença, o apetite
costuma voltar sozinho, e a criança passa a consumir o que necessita. A
não ser que ela peça expressamente para comer. Nesse caso, evite dar
produtos lácteos, açúcar, doces e alimentos gordurosos. São permitidos
alimentos leves, como batata, arroz, legumes no vapor, sopa ou caldo de
cenoura, maçã raspada (ver acima), torradas ou palitinhos de pretzel.
Para o caldo de cenoura, descasque quatro cenouras grandes e cozinhe-as
por cerca de uma hora em meio litro de água. Bebês e crianças pequenas
também podem tomá-lo com a colher. Uma alternativa a esse caldo é a
papinha de cenoura da marca Hipp, diluída em água, em uma proporção
de 1:1.
► Não interromper a amamentação: de acordo com a necessidade, continuar
amamentando os lactentes!
► Solução eletrolítica: para compensar a perda de líquido e de sal, pode-se
recorrer a preparados prontos ou produzir uma solução própria: para um
litro de água mineral, três quartos de colher de chá de sal, uma colher de
chá de cremor de tártaro, uma xícara de suco de laranja e quatro colheres
de sopa de açúcar.
► Terra medicamentosa (Luvos ultra): apropriada para crianças mais velhas,
em colheres de chá ou dissolvida na água.
► Glóbulos de genciana para o estômago, da Wala.
► Calor: uma bolsa de água quente ou um travesseiro quente de sementes
de cereja podem trazer alívio e são aceitos pela maioria das crianças.

10.5 Medicamentos homeopáticos para vômito e diarreia

Se a diarreia foi claramente desencadeada por determinados alimentos, os


seguintes medicamentos homeopáticos podem ajudar:
 
– Desencadeada por ovos: Carbo vegetabilis.
–Sorvete: Arsenicum album.
–Comida gordurosa: Pulsatilla.
–Gordura, alimento rançoso: Arsenicum album, Carbo
vegetabilis.
– Peixe: Carbo vegetabilis.
–Carne: Arsenicum album.
–Queijo: Arsenicum album, Carbo vegetabilis.
–Batata: Nux vomica.
–Conservas: Arsenicum album.
–Frutos do mar: Arsenicum album, Carbo vegetabilis.
–Leite: Arsenicum album.
–Frutas: Pulsatilla.
–Cogumelos: Pulsatila.
–Chocolate: Arsenicum album.
–Tabaco: Arsenicum album.
– Salsicha: Arsenicum album.
 
Argentum nitricum C30 Arsenicum album C30

Agentes Ansiedade antes de ocasiões Ingestão de frutas

desencadeadores especiais, por exemplo: suculentas, sorvete e

aniversário, provas carne estragada

Disposição Agitada, medrosa, Inquieta, medrosa, medo

apressada de morrer, exausta

Evacuação Aquosa, viscosa, em jatos, Aquosa como água de arroz,

com muitos gases, esverde ardente, escura, dolorida,

ada como espinafre picado, com cheiro de podre

com muco fibroso

Estômago Barulhento, eructação Vômito logo após a ingestão

explosiva, vontade de comer de alimentos ou bebidas,

doces, abdômen distendido queimação

Melhora com Eructação, ar fresco, Calor, aplicações quentes

afrouxando a roupa

Piora com Doces, logo após a refeição, Frio; da meia-noite às 3

calor, agitação da manhã; ver, cheirar ou

pensar em alimentos

Sintomas colaterais Medo, inquietação Sede de beber em pequenos

goles; quase sempre sente

frio; suor frio; não consegue

ficar sozinha

 
Chamomilla C30 Ipecacuanha C30

Agentes Dentição, irritação, raiva, Alimentos de difícil

desencadeadores resfriado digestão, irritação,

aborrecimento
Chamomilla C30 Ipecacuanha C30

Disposição Mal-humorada, quer Muitos desejos e exigências

sempre outra coisa, irritada, vagas; chora, grita, mas

briguenta, irada, quer ser não se contenta com

carregada nada (não tão intenso como

a camomila)

Evacuação Com cólicas, esverdeada, Dores ao redor do umbigo

como ovo picado com

espinafre, cheiro de ovo

podre, viscosa, dolorida

Estômago Eructação com cheiro de Náusea constante que não

podre; vômito amargo, com melhora com o vômito;

gosto de fel; rejeição a toda repugnância a todo tipo de

bebida quente alimento

Melhora com Ser carregada no colo; Nada

movimento passivo

(por exemplo, balanço)

Piora com À noite, dentição, ser vista Calor, calor úmido

Sintomas colaterais Hipersensibilidade a qual Falta de sede; salivação

quer estímulo externo; sen intensificada; língua sem

sibilidade extrema à dor; saburra; olheiras azuladas;

grito estridente suor frio no rosto

 
Phosphoricum Podophyllum C30

acidum C30

Agentes Preocupação, saudade de Verão, calor, banho,

desencadeadores casa, esforço mental alimentos azedos, dentição

Disposição Quieta, não fala, responde Queixa-se, faz birra, fala

de má vontade, fraca, muito, inquieta

indiferente em relação

aos outros
Phosphoricum Podophyllum C30

acidum C30

Evacuação Sangrenta, aquosa, branca Evacuações explosivas,

acinzentada, sem cheiro, barulhentas, sem dor, que

sem dor diminuem em seguida,

ficam amareladas e têm

cheiro de podre

Estômago Desejo de alimentos Desejo de alimentos azedos,

suculentos; sede de que, no entanto, não são

leite frio tolerados; sede de grande

quantidade de água fria;

eructação; prolapso retal

Melhora com Cochilo, refeições quentes Ficar de bruços

Piora com Esforço, sol, corrente de Curvar-se, pressão,

ar, frio, falar calor local

Sintomas colaterais Palidez, cansaço; quer ficar Alternância entre

deitada e dormir constipação e dor de cabeça

 
Pulsatilla C30 Sulfur C30

Agentes Sorvete, gordura, creme, Antibióticos, dentição,

desencadeadores manteiga, frutas erupções cutâneas

reprimidas, vacinações

Disposição Serena, afetuosa, apegada Caótica, preguiçosa,

à mãe, emotiva, chorosa, desordeira, sonhadora

tímida

Evacuação Nenhuma evacuação é Instável, com cheiro de ovo

igual a outra podre, dolorida, ocorre de

manhã cedo, provoca coceira

e ardência
Pulsatilla C30 Sulfur C30

Estômago Rejeita ingestão de líquido, Desejo de doces, sede,

apesar da boca seca; o acessos de apetite voraz

alimento cai como pedra

no estômago

Melhora com Ar fresco, consolo, frio Ar fresco, suor, ficar deitada

do lado direito

Piora com Calor, refeições quentes, Banho, calor, leite, das 10

ambientes quentes e às 11 horas, repressão de

abafados erupções cutâneas ou

de secreções

Sintomas colaterais Falta de sede, hálito ruim Pés quentes, lábios

vermelhos

10.6 Diarreia e vômito

“Estou vomitando e fazendo nas calças.”


 
Quando o vômito e a diarreia ocorrem ao mesmo tempo é porque a primeira
instância de controle sensorial, operada pela visão, pelo gosto e pelo olfato, está
falhando. O organismo toma a decisão drástica de reverter o mais rápido
possível o erro cometido através de todas as suas comportas. Da perspectiva
infantil, trata-se de uma recusa em todos os aspectos. Nada mais pode entrar. A
criança cospe e evacua tudo ao mesmo tempo – tanto por cima quanto por
baixo. Assim, por um lado, o alimento engata a marcha a ré com o vômito e,
por outro, segue apressado adiante com a diarreia. Ambos são estratégias para
que o organismo não tenha de assimilar o alimento. Evidentemente, os efeitos
sobre o equilíbrio do sal e da água são duas vezes mais dramáticos.
O organismo é veemente ao sinalizar que não está conseguindo digerir a
situação aguda de vida. Para que ele não seja obrigado a deixar nada entrar,
todas as vias são abertas para que ele se libere do que não consegue digerir.
A tarefa também está em liberar, em sentido abrangente, o que não se
consegue ou não se quer assimilar. No que se refere à tarefa essencial de não se
envolver de modo algum, pouco importa se deixamos o alimento passar por
nosso organismo ou se o expelimos ativamente. O importante é car livre de
todas as ofertas e não se deixar envolver. Os budistas falam em girar a roda do
mundo sem car preso a ela. Poderíamos até pensar novamente na arte do
bhoga, aquele princípio oriental de “comer o mundo” sem nele se perder.
Naturalmente, isso ainda está longe de ser aplicável às crianças, mas poderia
ajudar os pais como pensamento secundário. O vômito e a diarreia obrigam a
criança a regredir, uma vez que, devido à fraqueza e, em crianças mais velhas, à
necessidade de permanecer sempre próxima do banheiro, ela se vê limitada em
seu espaço de movimentação. Ao comer e beber, a criança precisa encontrar
uma nova medida, pois a quantidade “normal” ressuscita forçosamente o
tumulto no trato do estômago e do intestino.
 
Perguntas para os pais e medidas de apoio:
► Ver as seções precedentes sobre os temas “Vômito” (10.3) e “Diarreia”
(10.4).

10.7 Constipação

“Não dou mais nada!”


 
No intestino grosso, que representa o inconsciente e os infernos, ocorre uma
greve. As pessoas afetadas não querem dar mais nada; querem car com tudo
para si. As fezes simbolizam o dinheiro, já lembrando o tema principal
“economia até a avareza”. Devido ao perfeccionismo que costuma ser
encontrado nesse caso, a criança não consegue assimilar nem digerir os
alimentos até o m. A expressão “não faça merda” é levada ao pé da letra.
Quanto aos aspectos especi camente infantis da constipação, há que se
pensar inicialmente sobretudo na conversão do leite materno em alimento
normal. Os lactentes podem car até 14 dias sem evacuar, sem que isso
caracterize uma doença. Portanto, mantenha a calma durante o período de
conversão e aguarde. Depois de duas semanas, as dicas mencionadas a seguir
poderão ajudá-lo. Somente se elas não surtirem nenhum efeito – o que, na
verdade, é extremamente raro – é que se deve pensar em recorrer aos
esclarecimentos da medicina acadêmica, por exemplo em relação a distúrbios
muito raros, como a doença de Hirschsprung, que afeta o intestino grosso.
A maior parte dos problemas provavelmente tem suas causas nos esforços
precoces de limpeza. Tanto um estilo autoritário quanto um estilo
extremamente cuidadoso de educação, no sentido de uma síndrome de
superproteção, são prejudiciais e, nesse caso, acabam levando ao beco sem saída
da constipação. No entanto, rituais bem-intencionados podem “sair pela
culatra” – nesse caso, não de modo concreto nas crianças, mas metaforicamente
contra os próprios pais. Quando a criança é treinada cedo demais a car limpa,
são programadas irritações também no sentido de constipações maciças.
Quando toda a família se agacha ao redor do penico e espera pelo “grande
desejo”, a pequena princesa ou o pequeno príncipe pode re etir se o grupo
realmente merece receber tão rico presente todos os dias. De acordo com a
compreensão simbólica dos princípios primários, mas também segundo a
concepção psicanalítica, a evacuação é o primeiro presente da criança ao
mundo. Sabemos disso graças aos contos de fadas do asno de ouro, do homem
que evacuava ducados, etc.
Uma razão ainda mais dramática para não presentear mais nada a este
mundo pode ser o abuso sexual, que infelizmente é mais frequente do que a
sociedade que o produz consegue admitir. Por certo, nesse caso é necessário
mais do que nossas dicas ao nal do capítulo para, de certo modo, recolocar a
criança “na linha” e “na pista (de sua vida)”.
Mesmo a chegada de um irmão ou irmã, ou a volta da mãe ao trabalho,
pode ser sentida pela criança como uma rejeição. Como consequência, ela pode
car mais econômica com seus presentes e preferir guardar para si o que já tem.
Por assim dizer, como acontece com os adultos quando viajam, ela “estranha” o
ambiente e passa a sofrer de constipação. Quase nada muda no ritual, a não ser
o trono habitual, que é substituído por um buraco no chão, mas isso já é
su ciente para se reter, como que por ofensa, o que se tinha para dar. Com as
crianças ocorre algo muito semelhante, só que as razões são diferentes, como as
alterações na rotina, mas também no ambiente comum. A transição do penico
para o vaso sanitário já pode ser um agente desencadeador. Nesse caso, um
novo ritual so sticado poderia ajudar. Se os pais zerem desse passo, que para
eles representa um grande alívio, um ato maior, que recebe muita atenção e
reconhecimento, esse tipo de transição se tornará mais fácil e será realizada sem
problemas. Entretanto, nunca se deve iniciar uma luta pelo poder, pois nela os
pais só teriam a perder, o que agravaria o problema.
Muitas vezes, a constipação também é uma compensação da insegurança,
segundo o lema “seguro morreu de velho; é melhor car com o que tenho”.
Assim, o início na escola, a mudança de residência ou de escola podem se
transformar em agentes desencadeadores da retenção das fezes. Em toda
situação nova, é perfeitamente natural que haja certa retenção. A das fezes é
corrente em certas pessoas quando sua alma se sente rejeitada, ofendida ou até
enganada. Nesse sentido, seria ideal se os pais percebessem essas transições com
antecedência e se preparassem com rituais ou, pelo menos, muita consciência,
sem permitir que as crianças resvalem nesse sentimento de não serem aceitas.
No entanto, também a posteriori é possível melhorar. Às vezes, torna-se
necessário revogar a inovação e, em seguida, introduzi-la de novo, com mais
cuidado.
Jirina Prekop observou em primogênitos a tendência espasmódica, muitas
vezes dolorosa, de reter as fezes quando já não ousam ter um acesso de fúria
depois de concluído o período em que receberam as instruções de higiene
pessoal. De fato, temem perder ainda mais o amor dos pais do que sentem que
já perderam com a chegada dos irmãos. Acabam expressando sua raiva
inconscientemente, reagindo por meio da defecação. Não por acaso, a
agressividade expressa pela saída do intestino é chamada de agressividade anal.
Nesses casos, a terapia do abraço (segundo Prekop) mostrou-se muito
libertadora para a criança, permitindo-lhe a agressividade canalizada através da
boca com toda a força e, ao mesmo tempo, dando-lhe a prova do amor
incondicional dos pais. Além disso, ao ser carregada no colo, a criança volta a
sentir-se novamente como lha única – pelo menos como a única primogênita.
E isso lhe faz bem.
Por m, como nos adultos, naturalmente uma alimentação errada, ou seja,
inadequada e pobre em bras, e pouco exercício físico também podem
estimular a constipação. A variante Aminas de vegetais crus, que, no entanto,
como toda alimentação à base de vegetais crus, só deve ser levada em conta a
partir do segundo ano de vida, pode não apenas levantar o ânimo ao fornecer
reservas de serotonina, mas também melhorar o sono e a pele. Além disso,
como alimento à base de vegetais crus e graças às suas bras, pode in uir
positivamente na constipação, sobretudo quando ingerida de manhã, em
jejum. Todas as crianças deveriam alimentar-se sempre de produtos integrais e
ser encorajadas a fazer exercícios físicos de acordo com sua idade. Crianças
“sapecas” são sinal de um desenvolvimento saudável e vital.
Por outro lado, se as crianças cam desanimadas diante de uma mesa
“saudável”, não se obtém nenhuma vantagem e tampouco haverá algo saudável
na comida ou na atmosfera, para não falar do convívio em família. Segundo a
lei da polaridade, a vida saudável cobrada pelos pais transforma-se no
contrário, e especialmente crianças independentes e rebeldes se contrapõem a
ela. A história de Adão e Eva no paraíso já nos mostra o quanto as proibições
nos “atraem”...
 
Perguntas para os pais:
► O que nosso lho retém?
► O que ele não consegue digerir?
► Em que circunstâncias lhe falta segurança? Onde e como ele pode
encontrar a segurança interior?
► Por que nosso lho não consegue dar nada de si mesmo?
► Ao que ele poderia se apegar em vez disso?
► Em que circunstâncias ele se exprime muito pouco?
► Do que ele tem mais necessidade ou quando sente medo da perda?
► Teríamos também algum problema para nos desprendermos do que é
material ou do nosso lho?
►Como nosso lho pode encontrar um novo equilíbrio entre reter e
liberar?
► Quão segura é a situação familiar?
 
Medidas de apoio:
► De manhã, logo depois de se levantar, tomar um copo de água morna para
estimular natural e suavemente a digestão.
► Adições de lactose ou de papa de aveia: para crianças que já tomam
mamadeira.
► Dar tempo: permitir conscientemente que a criança tenha tempo para
usar o banheiro.
► Ingestão de líquido: oferecer líquido su ciente.
► Torrar o pão: antes de ser consumido, o pão deve ser torrado, para facilitar
a digestão.
► Evitar gases: além disso, é aconselhável evitar o máximo possível alimentos
que provocam gases, como alho-poró e cebola, a m de não sobrecarregar
desnecessariamente o trato digestório.
► Exercício: dependendo da sensação causada pela doença, seria
aconselhável o máximo possível de exercício, a m de estimular a digestão
por essa via mecânica. Também seria uma boa ideia prestar atenção na
respiração, uma vez que, como músculo respiratório, o diafragma
também massageia os intestinos.
► Massagem: em sentido horário, massagear suavemente o abdômen com
óleo especí co.
► A bolsa de água quente relaxa a musculatura em caso de contrações.
► Clister: conforme descrito no Capítulo 3 “Febre”.
► Em lactentes e crianças pequenas, a evacuação só pode ser desencadeada
pela introdução de um termômetro.
► Fazer a postura da vela: crianças maiores podem fazer a “postura da vela”.
Quando o trato digestório ca invertido por um instante, geralmente
entra em movimento e libera os gases.

Medidas gerais de alimentação: alimentos ricos em bras, com líquido
su ciente; ameixa seca amolecida, semente de linhaça, farelo; evitar leite
de vaca.

10.8 Fungos

“Quem está morando em mim?”


 
As micoses, que geralmente aparecem na forma de candidíase, também
chamada de “sapinho”, acometem sobretudo a epiderme, o órgão limítrofe,
mas também de contato e, de certo modo, “campo” de defesa e de recepção de
carinho. Também podem afetar as mucosas, que reforçam nossas fronteiras
internas e, portanto, atuam sobretudo como barreiras.
Os fungos são sapró tos, ou seja, seres que vivem de matéria orgânica
morta. Nesse sentido, tudo que não tem vida corre o risco de ser atacado por
fungos. Estes são favorecidos em locais escuros e úmidos, ou seja, em locais
pouco iluminados. Para prosperarem, dependem, sobretudo, do ambiente.
Louis Pasteur, em cujo nome até hoje estragamos o leite de vaca, descobriu no
leito de morte que decisivos não são os germes nem os agentes patogênicos, e
sim o solo fértil em que se encontram. Nos lactentes e nas crianças pequenas,
por trás dessa patologia geralmente há um distúrbio na simbiose com a mãe,
do ponto de vista psíquico, e, no nível físico, com frequência terapias
anteriores à base de antibióticos, que prejudicam o ambiente interno por um
longo tempo.
Entre os fungos intestinais, o con ito começa tarde e já bem no interior do
corpo. Quando a pele é afetada, as próprias forti cações de fronteira são
ocupadas por tropas estranhas que se espalham impunemente, como
excrescências fúngicas que se rami cam, apesar do escudo de proteção feito de
invólucro ácido e da defesa realizada pelas células. Isso signi ca que a criança
está muito fraca para se defender ou – no caso dos fungos intestinais – digerir
com vitalidade as impressões vindas de fora. Trata-se, portanto, de uma espécie
de fragilidade de defesa. Eis por que é compreensível que os fungos se espalhem
com especial êxito e agressividade em situações em que órgãos inteiros se
enfraquecem tanto que já não são capazes de se defender dos seus ataques. É o
que acontece, por exemplo, com a Aids ou em terapias que usam antibióticos
por muito tempo.
Além disso, quando as crianças são muito pequenas, os pais podem se
questionar quanto de morte em forma de rotina e dogmas sem vida eles
arrastam consigo para dentro da família. E se não seria melhor abrir as
fronteiras dos pontos de vista espiritual e psíquico, e não no nível físico, que é
mais difícil de defender quando existem temas psíquicos que requerem
manifestação. Há que se descobrir campos inanimados e mortos da vida e
preenchê-los com novos impulsos.
Sobretudo, seria necessário ingerir alimentos vitais, que o corpo possa
converter em estruturas vitais, não atacáveis pelos fungos. Quando amamenta,
a mãe produz grande parte do seu leite com o alimento que consome; por
conseguinte, deveria ingerir para si mesma e para seu lho alimentos integrais e
vitais. Quer as crianças sejam alimentadas, quer já comam sozinhas, também é
importante que consumam alimentos integrais. Caso se opte por refeições
prontas, recomendam-se os produtos da empresa Hipp, que, muito antes desse
tipo de refeição se tornar moderno, por princípio e de acordo com uma
loso a compatível já as preparava com produtos orgânicos em que a
alimentação sempre esteve relacionada à loso a antroposó ca.
Por m, tudo con ui para que, antes da compra, nos perguntemos: “Quero
alimentar meu lho e a mim ou nossos fungos?” No primeiro caso, tudo se
mostra favorável à alimentação orgânica e integral; no segundo, bastam as
seções de descontos dos supermercados ou os mercados mais baratos. Neles, de
forma bem semelhante à lei da polaridade, encontram-se os alimentos mais
caros e de maior duração, o que se torna claro não no caixa, mas apenas ao
longo da vida.
Obviamente, uma alimentação e um modo de vida que não dão chance aos
fungos desde o começo são muito melhores do que as problemáticas orgias de
medicamentos antimicóticos, para os quais valem as mesmas considerações
reservadas aos antibióticos, seus parentes espirituais. Por exemplo, a prescrição
de nistatina é mais uma declaração de impotência do que uma receita segura,
mesmo que os médicos acadêmicos, por falta de alternativa, pratiquem esse
re exo incondicionado sem más intenções. Novamente, vale aqui o lema de
Bertolt Brecht, ou seja, o de que o contrário do “bom” não é o “ruim”, e sim a
“boa intenção”.
 
Perguntas para os pais:
► Como podemos ajudar nosso lho a defender-se de maneira mais e caz
quando sua pele é acometida por alguma micose?
► Como a vida atual e suas impressões podem ser mais bem digeridas (no
caso de fungos intestinais)?
► Por que ele permite que intrusos se alimentem de sua comida?
► Como podemos encorajar nosso lho a desvencilhar-se do que é velho e
dedicar-se ao que é novo e vivaz?
► Como ele próprio pode se tornar mais vivaz?
► Quais lastros de longa data precisam ser descartados (pela família)?
 
Medidas de apoio:
► Limpeza individual do cólon.
► Tropaeolum majus (folha de capuchinha), da Ceres: tomar de duas a cinco
gotas de duas a quatro vezes ao dia em um pouco de suco ou no chá.
► Alimentação integral: tanto para a criança afetada quanto para a mãe que
está amamentando.
► Renunciar ao açúcar re nado (mudar para estévia).
► Em caso de micose cutânea e assaduras: aplicações externas de calêndula
(dez gotas da tintura-mãe em meio copo d’água). Aplicar levemente na
pele.
Envolver várias vezes o local com materiais de algodão que deixem a pele
respirar. Nessa fase, não utilizar fraldas descartáveis.
Deixar o bebê nu o máximo de tempo possível e, sobretudo, deixar suas
nádegas livres para que ele mova as perninhas.
Evitar pomadas muito gordurosas.
Dar banhos regulares em soro de leite. Aplicar compressas de soro de leite.
O óleo da árvore-do-chá também é muito e caz contra doenças fúngicas
externas.
► Em caso de sapinho: Borax C6, três glóbulos três vezes ao dia.
Dar um copo d’água com uma pitada de bicarbonato de sódio, a m de
limpar a boca.
Mandar preparar na farmácia um composto à base de tintura de ratânia e
mirra em iguais proporções. Pingar dez gotas do preparado em um copo
de água, embeber um cotonete no líquido e passá-lo na boca da criança.
(Na maioria das vezes, o sapinho é inofensivo e dura até três semanas, uma
vez que percorre todo o trato digestório de cima para baixo.)

10.9 Vermes

“Tem alguma coisa errada dentro de mim.”


 
Para os vermes, a situação em nossos dias não é nada favorável. Em épocas de
condições piores de higiene, eles eram muito mais numerosos – mas, em
compensação, havia muito menos alergias, razão pela qual hoje já existem
terapias com ovos de vermes... Obviamente, trata-se de uma questão de
ambiente. Os vermes precisam de condições de sujeira e de certa falta de
higiene como base.
Ainda não se sabe se o argumento em contrário, ou seja, tratar alergias com
ovos de vermes, é consistente. Dizem os inventores dos tratamentos que as
respectivas medidas, pelas quais se devem pagar até 3 mil euros, são e cazes e,
pelo menos, apresentam algumas provas de seu sucesso. Porém, talvez a
superação psíquica de dar espaço a algo tão imundo quanto os vermes já seja
um passo decisivo. Se as alergias têm sua origem no medo psíquico da sujeira,
poderiam ser encontradas terapias muito mais elegantes para tratar dos vermes.
Em todo caso, esse fato mostra que hoje permitimos que nossas crianças
“comam” sujeira cara em forma de ovos de vermes; eis até onde a mania de
higiene nos levou. Especialmente para as crianças, ela cria uma atmosfera hostil
à vida e portadora de alergias – entretanto, nenhum verme se arrisca nesse
terreno.
Muito do que é “bom” também poderia ser ruim. Crianças com vermes não
se desenvolvem direito, permanecem pálidas, inquietas e perdem toda
concentração. A razão para tanto estaria no fato de que os vermes consomem e,
por conseguinte, despendem a energia vital, de certo modo como passageiros
clandestinos. Eles as acompanham em sua viagem pela vida e não contribuem
com o êxito do todo; ao contrário. Não se chega a uma simbiose como aquela
com as bactérias intestinais, e sim a uma recepção das vantagens apenas por
uma das partes. Por outro lado, a presença de vermes no organismo mostra que
há algo errado dentro dele.
Em crianças mais velhas, a repugnância e o medo de ter o corpo vivo
devorado por vermes, e com eles a lembrança do m inexorável do corpo,
podem desempenhar determinado papel, assim como a sensação de serem
contaminadas por dentro. Quando a contaminação ocorre no intestino, a
sensação de uma espécie repugnante de coabitação ou até mesmo de
“possessão” no nível dos infernos pode dar calafrios. Quem alimenta hóspedes
que não foram convidados, logo se sentirá vítima de exploração. Nesse caso,
seria útil ter claro em mente que esses hóspedes sentiram-se totalmente
convidados pelas condições ruins para os portadores, mas favoráveis para eles.
Alguns candidatos, como os oxiúros, também provocam coceira no ânus,
pois ali depositam seus ovos, o que poderia estimular a higiene anal. Ao que
parece, crianças com vermes também en am mais o dedo no nariz, talvez
porque, representativamente, queiram limpar a entrada, pois à saída não têm
acesso fácil – ou simplesmente porque, de outra forma, não encontram prazer
sensorial na vida.
Como no caso de todas as infecções, existe uma problemática da defesa no
campo da agressividade. O organismo oferece um lar aos parasitas, pois está
muito fraco para proteger seu reino dos invasores. Ele não domina seu mundo.
A tarefa consiste em aprender conscientemente a dividir e a ceder espaço (de
vida) a outros seres. “Viver e deixar viver” poderia ser o mote. Nesse sentido,
há que se considerar a possibilidade de permitir às pessoas afetadas que
escolham seus animais de estimação e impor uma higiene moderada no espaço
doméstico, enquanto passar um período fora de casa, em um ambiente
“selvagem”, em meio à natureza, pode ser vantajoso.
Quem permite conscientemente que outros (seres) convivam consigo
mesmo acaba cultivando o amor pelo próximo. Quem exprime
conscientemente esse convite está mais protegido de ataques e, ao mesmo
tempo, desenvolve a sensibilidade para as necessidades próprias e as alheias. Por
sua vez, a longo prazo, isso pode conduzir à reconciliação com os próprios
infernos e o próprio ambiente. Mesmo para crianças pequenas, essas
possibilidades já existem nos aniversários e em ocasiões semelhantes.
Com crianças mais velhas, também pode valer a pena, do ponto de vista
espiritual e psíquico, discutir a respeito de temas relacionados ao reino das
sombras e fazer da morte o objeto da conversa, talvez até chamando a atenção
para o fato de que a alma é imortal e nunca poderá ser atacada de forma
concreta por vermes, mas que, após a morte, o corpo torna-se seu alimento.
Durante a vida, é a vitalidade da alma que protege o corpo dos vermes. Para as
crianças mais velhas, este poderia ser um forte estímulo para preencher todos os
campos (da vida) e ousar viver. Quando há alguma coisa errada dentro do ser
humano, falta justamente a vitalidade!
Também se deveria falar, sobretudo, de como a vida deve ser digerida e onde
o verme ou os outros “hóspedes” e convivas suspeitos poderiam se esconder. O
tema “exploração” ou “ser explorado” também pode ser trabalhado desde cedo
com proveito, o que transmite à criança as primeiras impressões das leis da
vida.
 
Perguntas para os pais:
► Como nosso lho pode avivar melhor o que não tem vida ou se ver livre
dele?
► Por que ele se deixa explorar?
► Como ele pode se proteger melhor?
► Em que circunstâncias ele explora os outros?
► Como ele pode aprender a dividir?
► O que isso re ete para nós dois?
► Que sentimentos os vermes desencadeiam em nós?
 
Medidas de apoio:
► Medidas oportunas de higiene: trocar frequentemente a roupa de cama, as
toalhas e as roupas e, se possível, lavá-las com água quente.
► Procurar manter as unhas curtas: quando a criança coça as nádegas e
depois leva a mão à boca, ela pode contaminar-se.
► Alimentação: evitar produtos com farinha branca e açúcar. Devem-se
preferir alimentos com muito tanino: alho, alho de urso (para crianças
menores, pois é mais suave que o alho normal), cebola, cenoura crua,
repolho.
► Chá de folha de nogueira: ferver duas colheres de chá das folhas em um
quarto de litro de água; deixar repousar por dez minutos. Dar em
pequenas quantidades ao longo do dia.
► Tratamento homeopático: o tratamento ocorre com vermífugos especiais
ou com medicamentos homeopáticos individuais. Em casos reincidentes,
a criança precisa passar por um acompanhamento homeopático
constitucional.
11 Doenças alergênicas

11.1 Alergias

“Estou recebendo muita coisa, não estou bem regulado e reajo com
hipersensibilidade.”
11.1.1 Guerras de fronteiras

Os locais em que a doença se manifesta revelam, como sempre, os níveis em


que o problema se desenvolve. Por um lado, as alergias se mostram na
epiderme, que é fronteira e área de contato e cujo espectro temático vai da
“agressividade” ao “carinho”. O que se aproxima demais de nós, chegando
muito cedo, com muitas exigências e “pegando em nosso pé”, o que nos
perturba contra nossa vontade é combatido através da alergia. Por outro lado,
as mucosas, nossas fronteiras internas, também são palco de alergias,
especialmente no nariz, que representa o poder e o orgulho e que, para as
pessoas afetadas, evidenciam temas “suspeitos”. Depois da pele, o pulmão é
nosso segundo órgão de contato. Nele se trata menos de comunicação direta, e
o tema “liberdade” transparece em sua forma de asa. Se a respiração é impedida
através do nariz e/ou dos pulmões, a liberdade e o contato com a vida são
comprometidos. Temas que ameaçam sufocar as crianças re etem-se no
pulmão, enquanto as alergias do sistema digestório mostram temas indigeríveis
e apontam problemas com a comida e a digestão não apenas do alimento, mas
também do mundo e do ambiente circunstante.
A linguagem dos sintomas nessas áreas de fronteira revela o quanto as
pessoas afetadas se opõem a algo externo e estranho. Quem reage com alergia a
alguém ou a alguma coisa revela certa intolerância e certo medo além da
irritação e da reação exagerada. Devido à sua simbologia, essa parte concreta do
mundo é rejeitada e, eventualmente, combatida maciçamente com o emprego
da própria defesa. Portanto, a alergia é uma possibilidade que o corpo recebe de
dizer “não” e delimitar-se, traçando uma fronteira que, no sentido gurado,
ainda não foi traçada, pois teria faltado, por exemplo, coragem ou força. Em
vez de guardar para si a força e a energia e investi-las em metas importantes de
vida, as pessoas afetadas as orientam a tudo que está simbolicamente ligado aos
temas problemáticos. Tudo que é estranho e que, de certo modo, do lado de
fora, aponta para o problema, é combatido ao extremo.
Nesse sentido, é compreensível que crianças de cidades grandes tenham
muito mais alergias do que aquelas que vivem no campo. Crianças que já no
primeiro ano de vida são regularmente levadas ao curral e também entram em
contato com os animais sofrem menos de alergias mais tarde, o que teria
conduzido à tentativa já mencionada de fazer do pó dos currais um
medicamento antialergênico. Supõe-se que gestantes que frequentam um curral
possam evitar alergias em seus lhos. Por si sós, cidades grandes são locais
hostis às crianças. Quando então nelas se recusam às crianças os animais
(totens), ou quando estes são substituídos por animais fáceis de cuidar ou até
mesmo por animais de pelúcia (inanimados), é possível que uma criança com
vitalidade se defenda. A princípio, isso ocorrerá externamente; porém, devido à
relativa debilidade, passará para níveis internos – como no caso da alergia.
Evitar precocemente a delimitação necessária faz com que a energia da
agressividade seja deslocada para os níveis do corpo em que os relativos
con itos se enfurecem nas mencionadas fronteiras externas e internas.
11.1.2 Jogos de poder

À sombra das alergias, muitas vezes, já em crianças pequenas se veem


claramente os jogos de poder. Pela necessidade de se evitar os alérgenos, a
criança pode impor-se quase arbitrariamente, tiranizar o ambiente,
extravasando uma agressividade que estava oculta e pedindo atenção. A partir
desses jogos, sentimentos de culpa que foram nutridos podem fazer com que
uma agressividade ulterior seja reprimida. Desse modo, crianças com febre do
feno ou asma acabam com a primavera de suas mães; aquelas com alergias a
alimentos tornam todo ato de cozinhar um ato forçado e limitado. Com
alergias graves, a presença das mães é requerida quase arbitrariamente, o que
nelas costuma desencadear agressividade e, quase sempre, desamparo.
Sobretudo quando se observa a maioria das relações carregadas de agressividade
entre as crianças afetadas e as mães, compreendem-se os círculos viciosos que se
desenvolvem nesses casos. Mães de lhos alérgicos costumam ter, quase
forçosamente, concepções próprias de higiene e, não raro, são superprotetoras
e, por preocupação, não permitem que seus lhos tenham vitalidade.
11.1.3 O estranho e o próprio

Em geral, as alergias são reações de hipersensibilidade a substâncias proteicas


que se distinguem da proteína do próprio corpo. Desse modo, essa outra vida
que se aproxima é combatida como corpo estranho.
A ocorrência dessa luta evidencia o problema da agressividade. A coragem e
o espírito combativo que faltam em outros níveis são deslocados para o corpo e
nele vividos de maneira representativa.
Outros seres – quer eles sejam vegetais, quer animais –, dos quais provém a
substância combatida, apropriaram-se dela tanto no nível material quanto no
imaterial, caracterizando-a e integrando-se a seu campo. Mesmo quando
aparentemente se trata de uma substância inanimada, como um solvente, ela
pertenceu a um sistema e nele estava integrada a um campo que é estranho ao
corpo do paciente.
Entretanto, o ser humano precisa absorver e apropriar-se do que lhe é
estranho para poder viver. Isso vale tanto no nível material da alimentação (mas
também na absorção do sêmen durante a reprodução) quanto no imaterial, em
relação a informações, que também têm de ser integradas e assimiladas.
Portanto, a tarefa da digestão ocorre em três etapas: absorver, elaborar e
eliminar. Na prática, isso signi ca que o elemento estranho deve ser eliminado
de imediato ou transformado pelo fígado, ou ainda integrado para que sua
estrutura material, mas também seu campo estranho e imaterial, sejam
dissolvidos. Somente então a substância estranha pode ser adaptada, inserida e
aproveitada pelo próprio campo. Nesse processo, podem ocorrer alguns
problemas, como bem mostra o exemplo do surgimento de uma alergia ao leite
de vaca.
Quando um lactente recebe precocemente na mamadeira o leite de vaca,
para o qual ele não está preparado, na verdade, ele está sendo enganado. Sua
digestão, ainda imatura, não é capaz de decompor a proteína estranha e
absorvê-la adequadamente através da parede do intestino. Desse modo, essa
proteína penetra no organismo sem ter sido decomposta nem alterada e, por
assim dizer, com o campo original do reino da vaca. Por conseguinte, ela entra
no local errado como fator de distúrbio. O termo “a-topia” para “alergia” (do
grego tópos para “lugar, região” e, respectivamente, átopos para “que não está
em seu devido lugar”) torna esse fato bastante evidente, pois “atopia” signi ca
simplesmente que alguma coisa não está onde deveria.
Atualmente, os médicos entendem por atopia uma síntese de IgE
(imunoglobulina E), ou seja, a produção de anticorpos especí cos da superfície
como reação a uma substância estranha. Portanto, uma atopia surge quando,
do seu campo característico, substâncias indigeríveis penetram no organismo,
que aprende a rejeitá-las com a ajuda do seu sistema de defesa. O corpo, ou
melhor, seu sistema imunológico memoriza o per l especí co dessa substância
com o objetivo de impedir que ela invada o organismo novamente. Uma
substância é indigerível porque o organismo ainda se encontra sicamente
imaturo para realizar esse processo ou porque ele é incapaz de lidar com a
respectiva simbologia dessa substância. Esta última razão está em primeiro
plano entre os alérgicos.
Quando uma substância como essa, originariamente conhecida como
inadequada e ingerida à revelia no sentido de uma demanda excessiva, mais
tarde volta a entrar em contato com as próprias fronteiras, ocorre o problema
que chamamos de “alergia”. Na verdade, trata-se de uma reação saudável do
sistema imunológico, que é incumbido de “atacar” substâncias e agentes
patogênicos estranhos que fazem o organismo adoecer, mas não a reagir de
maneira exagerada a substâncias inofensivas. Em todo caso, a defesa entra em
ação e encena uma luta que pode chegar à dissolução das próprias fronteiras,
permitindo que a substância penetre inteira. Trata-se aqui de um paradoxo ou
de um efeito típico da lei da polaridade, pois, enquanto o organismo quer se
fechar para o que lhe é estranho, ele abre suas fronteiras, dissolvendo-as
literalmente.
O corpo do lactente, que mais tarde voltará a receber leite de vaca,
armazenou e não esqueceu o antigo encontro ameaçador em seu sistema
imunológico. Ele se defende (por meio da alergia), embora agora – do ponto
de vista siológico – esteja totalmente em condição de digeri-lo. Todavia, a
memória imunológica lhe impede essa digestão com base no antigo e
(demasiado) precoce domínio de sua integridade, quando ele foi forçado a
permitir a entrada de algo como um todo que ele ainda não era capaz de
fragmentar e do qual não podia se apropriar. Quando se consegue incorporar
algo de maneira consciente, facilmente se faz dele um hábito, tornando-o parte
do próprio corpo. No entanto, se a razão da assimilação foi uma demanda
excessiva, aquilo que entrou no organismo não foi exatamente incorporado.
A memória da alergia representa, por assim dizer, um desvio em relação ao
esquecimento saudável. O organismo só consegue esquecer o que conseguiu
perceber, classi car e digerir por completo no momento da assimilação. Com a
demanda excessiva e precoce, surge um erro de programação, que permanecerá
como tal quando nenhuma terapia ajudar.
De modo semelhante, muitas vezes uma relação sexual forçada muito
precocemente, no sentido de um abuso, leva a uma programação (falha). Algo
que em si causa prazer, como fazer entrar em si um corpo “estranho” (de um
ser humano), passa a ter – às vezes durante a vida inteira – uma carga tão
negativa que, do ponto de vista psíquico, esse tema já não pode ser integrado, e
toda tentativa de relação sexual inspira horror em vez de experiências de união.
Nesse caso, confrontar a violação original por meio da psicoterapia ajuda a
separar e, por m, apagar esse programa precoce das experiências posteriores.
Portanto, a consciência se torna a solução.[23]
A digestão saudável surge a partir da combinação entre percepção da
verdade, assimilação e eliminação, portanto, a partir do aprendizado e do
esquecimento. O aprendizado pressupõe a percepção e o interesse ativo.
Aprende melhor quem desenvolve uma atividade própria a partir da matéria
aprendida. Esquecido poderá ser aquilo que é superado. Portanto, as
capacidades se desenvolvem por intermédio do aprendizado e do
esquecimento.
A alergia surge quando uma criança, no momento da confrontação com a
respectiva matéria (ou tema) ainda não amadureceu ou amadureceu muito
pouco em sua capacidade de perceber e assimilar. Não é à toa que o termo
“matéria” tem vários signi cados e pressupõe tanto o que é material quanto o
que é espiritual, no sentido de matéria a ser aprendida ou lida. Em outras
palavras, a criança não estava madura nem crescera o su ciente para a
solicitação recebida. Devido à sua imaturidade, ela só conseguiu realizar uma
digestão insatisfatória, permitindo que o elemento estranho penetre em seu
interior (corpo e/ou consciência) sem ter sido digerido. Disso resulta um
processo de digestão no lugar errado (atopia), que, mais tarde, repercute como
um distúrbio nas fronteiras do organismo. No futuro, em vez de resolver o
problema, esse processo dissolve suas próprias fronteiras. De modo típico, uma
problemática sem solução na consciência acaba se manifestando no corpo. No
lugar da solução do problema surge a dissolução da fronteira. Nela, a
consciência tem como tarefa abrir suas fronteiras, mas não o corpo. Quando
ele é obrigado a entrar em ação, ocorrem os típicos problemas de alergia em
suas fronteiras.
Nesse sentido, a alergia é um problema da imaturidade, ligado, tanto no
nível físico quanto naquele espiritual e psíquico, a uma problemática da
energia ou da agressividade. As pessoas afetadas ainda não têm condições de
lidar com determinada temática, digeri-la, metabolizá-la e absorvê-la em seu
campo. Para tanto, além da força, falta-lhes a maturidade.
Quando uma criança é colocada em um ambiente inadequado, que ela não
consegue “digerir”, pode exprimi-lo com uma alergia. Se essa alergia for, por
exemplo, ao pólen, ca evidente uma referência sexual; se for ao leite, a alergia
indica uma problemática com a mãe; se for ao trigo, diz respeito a um alimento
essencial e com isso exprime um pedido de ajuda, no sentido de “corro o risco
de morrer de fome, pois já não consigo absorver o alimento mais importante”.
Nesse caso, a ambiguidade volta a car bastante evidente. A criança luta em
duplo sentido com a fome – objetivamente, no nível da digestão, mas também
naquele da agressividade. Por certo, imaturidade e problemática da
agressividade podem complementar-se. Pode faltar tanto a maturidade quanto
a energia para a assimilação, mas muitas vezes também ambas.
As pessoas saudáveis têm condições de eliminar as substâncias não digeridas,
que foram absorvidas nas refeições, decompondo de tal maneira o que lhes é
estranho que se apropriam dele e integram a substância dissolvida tanto no
aspecto físico quanto naquele relativo ao seu campo. Com sua percepção
sensorial, o organismo é capaz de reconhecer o que lhe é estranho como tal e,
por meio da digestão, desintegrá-lo em pequenos componentes, diferenciá-los
e, ao mesmo tempo, abrir-se para eles. Consegue apropriar-se da matéria e de
seu tema e, mais tarde, construir sua própria corporeidade a partir deles. Nas
alergias a alimentos, o que se torna mais evidente é que não é possível construir
um material próprio a partir do que é combatido. Ao contrário, as pessoas
afetadas emagrecem enquanto a alergia não é reconhecida nem eliminada, ou
seja, enquanto o alimento que a provoca não for evitado.
Nessas pessoas, o encontro com o estranho desencadeia um drama, uma vez
que não conseguem assimilar o estranho como um todo e tentam eliminá-lo,
ou melhor, querem mantê-lo do lado de fora, fazendo com que as próprias
fronteiras sejam dissolvidas de forma in amada e belicosa. Portanto, enquanto
as pessoas saudáveis dissolvem o que lhes é estranho (tanto mental quanto
siologicamente), a m de se preservarem integralmente, os alérgicos dissolvem
a si próprios, ou melhor, suas fronteiras, a m de manter o estranho do lado de
fora. Todavia, isso não dá certo justamente devido à dissolução da fronteira.
No macrocosmo, assistimos a algo análogo com a antiga República
Democrática Alemã, que, ao tentar manter do lado de fora tudo que lhe era
estranho, acabou dissolvendo suas próprias fronteiras. Quis defender tudo com
a força das armas e, assim, viu suas fronteiras desabarem. O armamento
excessivo das fronteiras levou à autodissolução em todos os níveis. A maioria
das fortalezas foi tomada ou perdeu relevância em algum momento devido à
autodissolução dos respectivos campos de domínio.
11.1.4 A alergia e a reconciliação com a mãe (natureza)

O alérgico se afasta da natureza, sem, no fundo, escapar dela. A mãe natureza


torna-se uma inimiga, sem a qual, porém, não é possível viver, assim como
uma criança pequena que, mesmo rejeitando e combatendo a própria mãe, sem
ela não consegue viver.
Não raro, vemos crianças que preferem, acima de tudo, brincar e viver na
natureza e com os animais; porém, devido à sua alergia, não toleram a
natureza, com todas as suas sementes, nem os animais, com todos os seus pelos.
Como todos os alérgicos, elas precisariam, inicialmente, reconciliar-se com a
própria natureza e compreender sua situação no mundo, para então voltar a
car em paz com a mãe natureza.
Muitas vezes, a própria mãe coloca-se como barreira entre os lhos e sua
própria natureza, de um lado, e a natureza externa, de outro. Sua tarefa seria
voltar a se transformar em intermediária, tal como no início da vida com a
amamentação.
Com isso, a luta contra a natureza é também sempre uma luta contra a
própria mãe (natureza) e esclarece as difíceis relações com a mãe concreta em
muitos alérgicos, por exemplo, em quase todos os asmáticos. Uma criança
pequena ou grande que tenha problemas com o leite combate simbolicamente
o aspecto materno que o afeta. Mais importante do que representar essa luta no
nível do corpo seria ocupar-se da problemática materna de maneira corajosa no
plano metafórico.
Contudo, para as crianças, di cilmente isso é concebível. Sua chance estaria
em excluir, por meio do gosto e do olfato, aquilo que lhes oferece perigo. Nesse
sentido, os pais fazem bem em levar a sério as preferências de gosto dos lhos.
O doce é inofensivo, e quase sempre é preferido pelas crianças. O salgado é
importante para o organismo e, por isso, é apreciado em doses pequenas. O
azedo muitas vezes indica comida estragada e é espontaneamente rejeitado. O
amargo costuma ser venenoso e também é recusado.
Na luta da alergia contra os símbolos, é “natural” passar da longa ocupação
com os inimigos naturais para uma aproximação da natureza. A solução estaria
em lutar para integrar-se a ela com coragem e em reconciliar-se
conscientemente com ela, realizando até mesmo um ritual de união. Seria útil
reviver a situação original e digeri-la adequadamente. A mesma ideia determina
o con ito de gêneros, em que um luta com o outro, mas, no nal, ambos se
unem.
Situações típicas de alergia podem elucidar o tema. Na primavera, quando
as plantas orescem, nos que sofrem da febre do feno também oresce alguma
coisa. Sua pele desabrocha e, ao contato com o pólen e as sementes, expõe-se à
luta descrita e nela irrompe o eritema. Ao tentar manter distância das sementes
masculinas das plantas, que, como símbolo da polaridade, são consideradas
perigosas, a fronteira (da pele) se rompe. A tentativa de fechar-se para esse
orescimento e para a temática da primavera conduz a pele ao outro extremo –
a abertura –, revelando, assim, a tarefa subentendida. As pessoas afetadas
deveriam abrir-se às energias nascentes da vida, expor-se com impulso e
entusiasmo ao recomeço e tomar as rédeas da própria vida. (Uma indicação
e caz para o início da febre do feno com sintomas nos olhos e no nariz é a
Galphimia glauca, em D4. Devem-se dar cinco gotas, de três a cinco vezes por
dia. Esse medicamento pode aliviar os sintomas, mas não substitui a terapia
constitucional.)
Crianças que reagem com alergia já não conseguem se conectar livremente
com o mundo. O próprio corpo transmite à alma a experiência da estranheza,
da antipatia. Ao combater o estranho, ele também combate a si mesmo,
prejudicando-se. Por m, a alergia deve ser entendida como um problema de
incorporação e de defesa, que re ete uma falta de maturidade e de energia.
11.1.5 Prevenindo-se contra as alergias

A pro laxia da alergia signi ca encorajar a criança a enfrentar a vida com


coragem, evitar submetê-la demais ou de menos ao contato sensorial com o
que lhe é estranho, oferecer-lhe no início da vida apenas o leite materno e, em
seguida, apenas alimentos sazonais e adequados, bem como um ninho se
possível intacto e, mais tarde, um apartamento ou uma casa com a qual ela
possa se familiarizar facilmente. Para estimular o desenvolvimento (cerebral),
devem-se oferecer a ela muitas coisas que lhe são familiares. Por conseguinte,
muito contato físico com poucas pessoas é melhor do que pouco contato
intelectual com muitas. Nesse caso, menos (impressões) também signi ca mais!
Por m, no contato afetivo, trata-se de oferecer, de acordo com o tipo e a idade
da criança, um bom equilíbrio entre o estímulo já conhecido e aquele que é
novo, vital e intelectual.
“Coisas demais cedo demais” é uma alternativa que leva a imagens hostis
(no sistema de defesa), mesmo quando a intenção é boa. É o que causam os
antibióticos quando dados precocemente, pois, como já foi descrito, elevam a
níveis dramáticos o risco de alergias. A experiência de que a vacinação precoce
aumenta a probabilidade de alergias também pertence a esse complexo de
temas. Ainda não se sabe se o problema nas vacinas está no agente patogênico,
nas substâncias que o veiculam ou em outros componentes. Em todo caso, o
estranho entra no corpo, ou melhor, em seu sistema imunológico, no
momento errado. Sobretudo quando consideramos que as vacinações são, de
certo modo, inúteis no primeiro ano de vida, em razão da imaturidade do
sistema imunológico, podemos entender claramente quantos danos são
causados nessa fase sem nenhuma necessidade.
Segundo um estudo de Johan S. Alm e Jackie Swartz, de 1999, uma
mudança no estilo de vida, no sentido de aceitar as doenças infantis clássicas e
a diminuição no uso dos medicamentos antipiréticos e antibióticos já dentro
de uma geração reduziria em 40% a 50% o surgimento de alergias.
No mesmo ano, utilizando exames comparativos de 675 alunos, os autores
do renomado instituto sueco Karolinska provaram que os alunos das escolas
Waldorf, submetidos a um estilo de vida antroposó co, têm apenas metade das
alergias dos outros estudantes.
A menor difusão de alergias como a febre do feno em regiões rurais e países
em desenvolvimento pode ser explicada com as mesmas razões pelas quais são
mais afetados os lhos únicos ou de pais mais abastados. Quanto mais a
criança cresce próxima da natureza e quanto mais for confrontada com
estímulos naturais, mais estabilidade terá no con ito com seu ambiente. De
modo geral, as crianças são confrontadas com fatores menos difíceis de superar
e que podem se transformar em um quadro hostil e problemático (do ponto de
vista imunológico). Filhos únicos de pais com uma boa situação nanceira
costumam ser expostos a ambientes diferenciados e variados. Nesse sentido, o
excesso de estímulos, que no mundo moderno é quase natural, também
poderia ter sua parte de responsabilidade no número crescente de alergias.
Entretanto, o fato de que tantas crianças saiam de tudo isso sem alergia
revela que não são as situações em si que se mostram boas ou ruins; ao
contrário, a questão é se são adequadas a nós e se a medida é correta.
As alergias surgem apenas onde as pessoas criam ambientes civilizados e
emancipados da natureza, inibindo-a a m de a rmar seu modo de vida e seu
desenvolvimento psíquico e espiritual de forma cada vez mais livre e
independente da natureza. Torna-se evidente nesse caso a sombra do livre-
arbítrio do homem moderno. Há cem anos não havia o problema da alergia.
Aos poucos e em seu tempo, mas com coragem, a criança tem de lidar com
seu ambiente natural, aprendendo a “digeri-lo”. Para tanto, também no início
da vida, ela leva tudo que é possível à boca. Os estímulos naturais poderiam ser
relativamente intensos, desde que adequados ao desenvolvimento.
Também é compreensível que pais alérgicos tenham, com mais frequência,
lhos alérgicos. Eles próprios sofreram muitas exigências e, por isso, também
tendem a exigir demais. Além disso, em geral transmitem o medo de seus
alérgenos aos lhos.
Crianças alérgicas exigem muita dedicação, que mais tarde as compromete e
as impede de se tornarem autônomas. Uma precaução e caz seria, por
conseguinte, a dedicação intensa e, sobretudo, autêntica por parte da mãe, que
obviamente não deve ser forçada. Igualmente compreensível nesse caso é a
razão pela qual uma puberdade normal é um bom medicamento para crianças
alérgicas. Ela conduz a uma emancipação psíquica e, muitas vezes, a uma
delimitação combativa em relação aos pais. Quando essa dissociação dos pais
fracassa, eleva-se claramente a probabilidade, por outro lado, de que as alergias
ocorram. Segundo a experiência, alergias que só se instalam após a puberdade
são mais difíceis de serem tratadas.
De acordo com tudo que já foi descoberto até agora, o estilo de vida
moderno nas nações abastadas do primeiro mundo estimularia as alergias.
Cada vez mais pessoas já não se sentem satisfeitas nesses lugares, perdem a
paciência, estão sempre com o nariz constipado na primavera, que é o tempo
do recomeço, e, por isso, não querem recomeçar – por medo das irrupções de
vivacidade incisiva, tal como se mostram claramente nos brotos e germes, nas
árvores que começam a mostrar seus frutos e nos vegetais da primavera, que
crescem rapidamente.
Como em muitos quadros de doenças, nas alergias também observamos um
avanço crescente na infância. Nos países abastados, as exigências são cada vez
maiores e ocorrem cada vez mais cedo, ao passo que se levam cada vez menos
em consideração as necessidades infantis para o desenvolvimento, uma vez que
o crescimento econômico é o único e principal objetivo.
A isso se acrescentam problemas evidentes, como o ressecamento das
mucosas devido ao moderno estilo de construção com aquecimento central e
isolamento térmico excessivo, muitas vezes sem o respectivo e necessário
arejamento controlado. O ressecamento enfraquece as mucosas, tornando-as
mais vulneráveis. No entanto, a situação vegetativa predominante, com um
estímulo excessivo do sistema nervoso simpático, conduz ao ressecamento em
todos os níveis. A boca seca do falante mostra seu estresse, assim como o
ressecamento dos órgãos sexuais durante o sexo mostra o estresse daqueles que
supostamente se amam. A vida moderna está próxima demais do polo
arquetipicamente masculino, e isso também já afeta cada vez mais as crianças.
Muitas pessoas pisam demais e com muita frequência no acelerador (sistema
nervoso simpático), e o freio, ou seja, o sistema nervoso parassimpático ou
nervo vago, a ser atribuído arquetipicamente ao aspecto feminino, cai cada vez
mais no esquecimento. Essa política leva para o mau caminho tanto no
microcosmo corpo quanto no macrocosmo Terra. O ressecamento é um
fenômeno masculino, que tem como consequência paisagens desérticas no
mundo e na alma. O feminino arquetípico, ao contrário, é úmido, pantanoso
e, por m, revigorante.
Fatores como a alimentação desnaturada, a falta de exercício físico, longos
períodos diante da televisão, típicos da vida moderna, enfraquecem ainda mais
o sistema imunológico e fomentam o desenvolvimento de alergias. Nesse
sentido, as crianças de hoje são objetivamente mais vulneráveis.
A vida moderna se torna especialmente trágica e portadora de alergias
quando a moda contra tudo que é natural termina na chamada sociedade
Sagrotan,[24] que coloca a higiene muito além da vitalidade e declara guerra a
todo grão de pó e a todo germe. Depois que tudo foi desinfetado e nada mais
pode germinar, geralmente a vida ou, pelo menos, sua vitalidade também é
aniquilada e, muitas vezes, acaba numa luta frustrante contra todos os possíveis
inimigos imaginados. Imaginados porque as imagens sentidas como inimigas
da vida (“sujas e perigosas”) são armazenadas na alma.
Nesse contexto, um retorno aos espaços naturais da vida poderia melhorar
muita coisa. A vida é o que é, inclusive suja, e é “transmitida” através do ato
sexual, para o qual a mucosidade é importante. Tudo é cheio de germes e,
portanto, de vitalidade – como já foi dito, em cada aperto de mão trocamos 35
milhões de germes. Quem quiser mudar isso acabará por se destruir com as
mudanças.
Em todo caso, isso nos levaria a pensar que, nos lhos únicos mal-
acostumados e mimados no mundo burguês das cidades grandes, as alergias se
acumulam em grande medida. Não raro, a essas crianças falta uma autêntica
dedicação, embora sejam cronicamente tratadas em excesso pela medicina
acadêmica.
Todavia, este é o mundo em que vivemos, e muitos precisam morar nas
cidades. Além disso, o retorno ao campo e à natureza fracassou já na época de
Jean-Jacques Rousseau, que fazia esse apelo, e hoje, por razões de espaço, não
seria realista. Não obstante, podemos tentar lidar com a vida de maneira mais
natural, sobretudo aquela com as crianças. Estas deveriam ser como são. E os
pais deveriam impor-lhes limites e dizer não quando necessário (para ambas as
partes). A agressividade poderia ser libertada de seu tabu e reconhecida e aceita
como um princípio primitivo da vida. Só isso já traria uma melhora
considerável. Pois a agressividade é o ponto decisivo, ainda que, nessa situação,
ela apareça pouco em primeiro plano (uma exposição mais detalhada sobre esse
tema pode ser encontrada no livro A Agressão como Oportunidade).
11.1.6 Possibilidades e oportunidades terapêuticas

A experiência mostra que a febre, como mobilização geral do corpo, é um tipo


de remédio universal do nosso organismo. Até mesmo casos de câncer já
desapareceram após episódios de febre alta. Isso também é observado nas
alergias. Porém, se a possibilidade de ter febre pode curar até mesmo as
alergias, novamente ca claro como é necessário manter essa capacidade.
Semelhante à febre do corpo é o con ito que ocorre em nível espiritual e
psíquico. Quando as crianças afetadas aprendem a conduzir o con ito
primitivo com o símbolo de sua guerra interiorizada, essa luta pode tornar o
con ito substituto super cial no plano imunológico e encerrá-lo.
Portanto, as crianças alérgicas precisam aprender a expressar abertamente a
rejeição, a treinar a dizer não e a aceitar a luta pela vida novamente no plano
alternativo ao sistema imunológico. Modalidades esportivas ativas e,
eventualmente, de luta, além de exercícios de confronto e trabalho corporal são
muito úteis e auxiliam nesse tratamento. “Energia em vez de alergia!” seria um
bom lema. Exercícios para educar a sensibilidade, a m de aprender a
distinguir amigos de inimigos, também são recomendáveis. Trata-se de tirar do
sistema imunológico e do corpo o exercício de agressividade praticado pela
alergia e de pensar e agir novamente de maneira incisiva, agressiva e corajosa.
Quem arrisca a vida e aceita seus desa os de modo consciente, quem se mostra
mais pronto para a reação e age com determinação em vez de cultivar o
comportamento que tende a evitar essas instâncias está no caminho certo.
Obviamente, a primeira reação às alergias é tentar evitar o que as provoca.
No entanto, como solução a longo prazo, esse método não deveria ser aceito.
Infelizmente, os médicos acadêmicos mal informados sempre reforçam o
preconceito de que não é possível livrar-se de uma alergia. O que acontece é
justamente o contrário, conforme muitas vezes testemunhamos. Com essa
mentalidade, eles estabelecem profecias para si próprios, que devem ser
cumpridas na vida das crianças e as tornam pacientes crônicas. Mais uma vez,
não o fazem por mal, mas é o que acaba acontecendo.
As terapias de dessensibilização que costumam ser oferecidas pela medicina
alopática raramente são e cazes; além disso, podem constituir a razão para o
pessimismo sentido pelo paciente. Como já foi dito, elas poderiam produzir
um resultado melhor no nível psíquico, lidando consciente e corajosamente
com as áreas evitadas e rejeitadas (como na dessensibilização psicoterapêutica e
psicocinética) e com a simbologia[25] escondida por trás delas, que é o que
interessa desde o início. Esse processo deveria ser recuperado lentamente, passo
a passo na consciência, para nela ser assimilado. A psicoterapia no sentido do
trabalho de sombra é um recurso adequado.
Chega-se a um resgate, que vai muito além do tratamento, quando a frase
cristã “amai vossos inimigos” é realizada e reconhecida, uma vez que o inimigo
também se esconde no próprio indivíduo; portanto, quando novamente e de
maneira consciente se deixam entrar os símbolos classi cados como hostis e
quando se consegue aceitá-los em todo o seu signi cado. Quando se abordam
os temas espinhosos da vida, quando se enfrenta a vida com a cara e a coragem,
confrontando-a em seus aspectos difíceis, as chances da alergia desaparecem, e
uma vida corajosa e “animadora” se expande.
11.1.7 A simbologia dos alérgenos na infância ou uma interpretação dos objetivos da

guerra

Para a infância, vale, por m, a mesma simbologia que para os adultos, ainda
que também haja outros pontos importantes. De modo geral, os alérgenos são
símbolos de vitalidade ou sujeira, ambos inconscientemente classi cados como
perigosos. Não raro, também são relacionados, de maneira simbólica, a
acontecimentos ou pessoas, contra os quais existe uma forte aversão ou raiva.
Podem ser separados em dois grandes círculos diferentes, sendo que o menor se
encontra dentro do maior. O círculo maior abrange temas como “sujeira”,
“futilidade” e “aspecto feminino”, enquanto o menor trata especialmente de
temas relativos à polaridade, que nas crianças pequenas também está ligado, de
diversos modos, a conteúdos eróticos e sexuais, se a sexualidade e o erotismo
forem inconscientemente sentidos como “sujos” e “fúteis” (no ambiente da
criança).
Muitas vezes, ambos os aspectos também se confundem em um alérgeno.
Nesse caso, as pessoas afetadas não precisam, necessariamente, ter consciência
da relação simbólica. Basta que essa relação esteja ancorada no inconsciente
coletivo. Não há alergia sem consciência. Por exemplo, geralmente os alérgicos
a penicilina a toleram sem nenhum problema quando estão sedados. Contudo,
é necessário que o conhecimento esteja ancorado no campo consciente da
pessoa afetada, ou seja, na família ou na sociedade. Por exemplo, crianças
pequenas nunca sabem, e os adultos sabem apenas raras vezes, que a penicilina
consiste no fungo penicilo. Não obstante, fortes alergias à penicilina ou ao
penicilo podem ocorrer devido a temas ocultos por trás delas.
11.1.7.1 Alérgenos do grande círculo (a simbologia da sujeira)

A poeira doméstica é o excremento dos ácaros que vivem nessa poeira. Isso
mostra quão “diligentes” são esses pequenos seres em todo o mundo. Em geral,
o pó representa a sujeira e a impureza, mas também tudo que é banal, habitual
e, precisamente, a sujeira do dia a dia. Não raro, trata-se aqui de um alérgeno
em crianças que pretendem alcançar uma posição mais elevada ou que se
sentem destinadas a uma posição mais elevada. Todavia, falta-lhes coragem
para tirar conclusões dessa convicção.
Na alergia a produtos para lavar roupas, é nítida a aversão ao que é arti cial,
cultivado e químico e que bloqueia a relação com o que é natural. Além disso,
esses produtos são o polo oposto ao que é sujo, manchado e impuro e, como
tais, também podem ser combatidos através da alergia, uma vez que no
imaginário da alma os polos opostos estão sempre próximos.
Nas alergias a alimentos, pode exprimir-se, por um lado, a aversão ao que é
de matéria grosseira, necessária apenas ao corpo, enquanto a alma dela
prescinde. Por outro lado, por meio dessas alergias pode-se combater o que é
sujo, contaminado e perigoso na alimentação. Com exceção da doença celíaca,
essas alergias passaram a existir somente depois que a contaminação dos
alimentos chegou à consciência da sociedade.
Nos cereais, trata-se do que é pastoso, viscoso e doce, que ca evidente
quando se mastiga o pão por muito tempo, mas também do mingau de cereais,
do aspecto pegajoso da massa, que se mostra sobretudo na doença celíaca, que
é a alergia ao glúten presente na maioria dos tipos de cereais.
No leite, combate-se o aspecto materno e feminino em proteínas como a
caseína, embora este seja um caso diferente da intolerância ao leite, que afeta
metade da humanidade em razão da falta de lactase. Quando se evita a proteína
do leite como uma necessidade, também se evita claramente um pedaço da
vida, pois a proteína é o primeiro nutriente básico da vida. Quem combate o
glúten e a lactose, que é o açúcar do leite, nega amplamente a vida a si próprio.
Na verdade, insiste em um grau de alimentação que é o dos caçadores e
coletores que não dispunham do glúten nem da lactose, uma vez que a
agricultura e a pecuária só começaram com os sumérios, em cerca de 10.000
a.C. Portanto, trata-se aqui de um grave retrocesso à postura “não quero ter
nada a ver com essa nova vida; não permito que nada dela entre em mim”.
Na intolerância ao leite, além da referência ao aspecto materno, chama a
atenção o fato de que, nesse meio-tempo, evidentemente já há nas lojas
prateleiras com produtos sem lactose, o que, de modo geral, indica um sintoma
de toda a sociedade. Talvez nisso também se re ita um problema que temos
coletivamente com a mãe Terra.
Quando surge um conjunto de sintomas como esses, sobretudo nessa forma
dupla, a alma da criança exprime algo como: “Não estou absolutamente de
acordo com um novo desenvolvimento e me recuso a aceitá-lo”. Se apenas a
intolerância à lactose ou ao glúten se manifestam, a queixa deslocada para o
corpo poderia ser a seguinte: “Não consigo suportar partes do novo
desenvolvimento. As tentativas de integração quase me matam; não consigo
digerir tudo isso.”
Uma paciente de 9 anos, que desde o nascimento sofre de doença celíaca,
ilustra essa situação à sua maneira infantil e, ao mesmo tempo, mostra o
quanto as crianças se tornam um espelho dos pais. Desde o nascimento da
menina, a mãe rejeitou toda relação sexual com o pai. A criança nada sabia a
respeito, mas sentiu que o pai estava sofrendo. Entretanto, ele se manteve em
silêncio, e o assunto foi abafado. Aos 9 anos, diante do pai horrorizado, a
menina expressou o quanto o sexo pode ser repugnante e asqueroso. Ela pode
ter adotado, ou melhor, ingerido essa opinião com o leite materno e tê-la
interiorizado mais profundamente em sua intolerância ao glúten do que
podemos imaginar.
Independentemente de como herdou o tema, no futuro, a criança tem por
tarefa libertar em si mesma o polo feminino e obter para o pântano pastoso e
viscoso, do qual toda vida se origina e que o glúten simboliza como
aglutinador do cereal, um lado positivo, que é pré-condição para uma
sexualidade madura. Portanto, ela tem de se reconciliar com a própria
corporeidade e desenvolver o prazer por seu corpo e seu prazer.
Cada vez mais, os medicamentos também passaram a ser considerados
perigosos, contaminados e prejudiciais e, desde então, são vistos como
alérgenos. Tintas e solventes também só passaram a desempenhar a função de
alérgenos depois de constatado que são perigosos e tóxicos. As alergias a metais
referem-se, exclusivamente, a metais não nobres e, portanto, menos valiosos e a
suas ligas; re etem uma rejeição – naturalmente inconsciente – ao que não tem
valor, ao que não é nobre e, muitas vezes, ao medo de sujar os dedos com ele.
11.1.7.2 Alérgenos do pequeno círculo (da simbologia da fertilidade e da sensualidade)

Nesse caso, tudo que é “sujo” do ponto de vista erótico e sensual é um inimigo
potencial, como o pólen ou o pelo dos animais. Todo pelo transmite algo que,
para o animal, é aconchegante, macio, quente e, portanto, sensual e erótico,
podendo, como tal, ser combatido. Nos cães (em seu pelo), o (latido) agressivo
e a mordida agressiva estão em primeiro plano; nos cavalos (em seu pelo), é o
aspecto instintivo. É comum que as meninas tenham antes da puberdade a
“fase dos cavalos”, na qual praticam a “equitação” e a “nobreza” para se
familiarizarem com o aspecto instintivo. Naturalmente, nessa prática, a
amizade pelo cavalo e o prazer com a liberdade também têm o seu papel. Nos
gatos (em seu pelo), a sensualidade já se re ete em uma expressão como
“gatinha”; a essa sensualidade se acrescenta um impulso de agressividade através
das garras do predador felino, que não se contenta facilmente e para o qual a
liberdade é importante. O “falso gato” pode ser dissimulado e passar
despercebido, aproximar-se sorrateiramente e, como um “assassino sexual”,
logo depois de torturar um rato até a morte, pula no colo do dono para lhe
fazer festa. O gato preto (nos ombros da bruxa) também manifesta magia e
bruxaria. Desse modo, os gatos incorporam com especial evidência ambos os
lados da polaridade. A alergia a gatos também ocorre com frequência em
pessoas de Vênus ou naquelas que manifestam harmonia e não conseguem
deixar de sonhar com a salvação do mundo.
O pólen das ores e as sementes das plantas herbáceas são as sementes
masculinas das plantas e indicam temas como “fertilidade”, “amor”,
“sexualidade” e “instintividade”. De modo semelhante, o inconsciente
reconhece os bagos como símbolos da fertilidade, e algumas vezes a linguagem
popular se refere a eles como sendo os testículos. De nozes são chamados os
“testículos de Zeus”, esse deus particularmente fértil. Na Alemanha, muitas
nozes indicam proverbialmente um ano fecundo. Um problema insolúvel ou,
em todo caso, muito difícil, também é designado como “uma noz dura de
quebrar”,[26] podendo suscitar uma reação alérgica.
Os frutos são o resultado da união sexual do feminino com o masculino e
simbolizam o fruto proibido e tentador do outro lado da cerca. As maçãs são o
símbolo da tentação do jardim do Éden. O morango é claramente
contextualizado por François Villon como um fruto vermelho, pleno, maduro
e sedutor: “Sou louco por sua boca de morango”. O pêssego representa a pele
atraente e as nádegas eróticas. As “cerejas do jardim do vizinho” sempre
pendem aos pares com sua assinatura traiçoeira na árvore. A banana, por sua
forma, é manifestamente fálica. Amassada para ser consumida com müsli ou
mingau, tem uma consistência pegajosa e pastosa que se aproxima bastante
daquela da mucosa. Muitas vezes, porém, as crianças apenas re etem a rejeição
que esses símbolos sofrem em cada ambiente.
Quanto às picadas de insetos, o elemento desencadeador é a penetração do
ferrão fálico, que inocula uma substância (tóxica), podendo causar inchaço na
pele da pessoa picada e recordando picadas ou estocadas emocionais.
11.2 Dermatite atópica e crosta láctea

“Estou com comichão.” – “Não posso esperar.”


 
Na dermatite atópica, a erupção cutânea aparece em primeiro plano na
epiderme, muitas vezes já se anunciando previamente através da crosta láctea,
que pode cobrir toda a cabeça como uma capa de proteção para o sétimo
chakra, o mais elevado dos centros de energia de matéria sutil. Em um “caso”
como esse, em que a crosta láctea é a primeira manifestação visível e quase a
precursora da dermatite atópica, a mãe lactante deveria substituir
temporariamente o consumo de leite de vaca por aquele de soja, amêndoa,
arroz ou, se necessário, até mesmo pelo leite de égua.
As crianças acometidas deveriam aprender a se romper, em sentido gurado,
bem como a se colocar no centro de modo mais livre para receber afeto. Isso é
muito difícil para os lactentes e as crianças pequenas, e, nesse ponto, os pais
poderiam se perguntar se não deveriam liberar seus lhos dessa tarefa, pois,
quanto menores, tanto mais as crianças são seu espelho.
A pele das crianças realmente requer um rompimento e uma abertura. Ela
coça e mostra quão grande é a necessidade de abrir as próprias fronteiras e
deixar sair o que se impele do mundo interior para o exterior. As pessoas
afetadas sentem comichão de arrancar e romper, abrindo suas fronteiras com as
próprias unhas, que são o que sobrou das garras e, assim, aliviar a coceira – o
que, no nível microscópico do tecido, corresponde à alergia.
Outro aspecto da dermatite atópica poderia residir no fato de que a criança
não quer aceitar nenhuma barreira entre si mesma e a mãe e, por conseguinte,
se arranha para sentir a falta de fronteira do início e voltar a car bem perto da
mãe, exatamente como na barriga. Esse sintoma levaria a um afeto e a uma
proximidade incrivelmente maiores por parte da mãe.
Especialmente frequentes são as crianças preparadas ou vacinadas para a
vida toda com vacinas múltiplas. Essas crianças se defendem do que é estranho,
hostil e do que lhes é imposto com agressividade.
Várias vezes, os pais e, sobretudo, as mães de crianças marcadas desse modo
sofrem uma dura derrota, e alguns, justamente para compensar, chegam a odiar
seus lhos que se arranham e se desenvolvem em um nível inadequado e, por
m, a odiar si mesmos. Em vez de desabrocharem sob os cuidados dos pais, as
crianças acabam por se desenvolver de maneira traiçoeira e sinalizam
externamente que algo fundamental não está ocorrendo da forma correta.
Chama a atenção o fato de que especialmente os pais que, por meio das
vacinas, quiseram se poupar de todas as di culdades possíveis com os lhos,
sejam vencidos por um quadro de erupção cutânea. Justamente eles costumam
reagir de modo agressivo a essa problemática visível para todos e que deixa
tantas marcas em seus belos lhos.
Assim poderiam ser explicadas as torturas noturnas, nas quais crianças
pequenas – às vezes com aprovação “médica” – são amarradas em suas camas
ou en adas em tubos plásticos para que não se cocem, pois a coceira deixa
marcas nelas e fere as pretensões paternas de ter um lho exemplar, sem
máculas. Nesse caso, é preciso se colocar no lugar das crianças apenas uma vez:
passar a noite amarrado à cama enquanto a pele sofre uma coceira
enlouquecedora. É um milagre que essas crianças não enlouqueçam de fato.
Em todo caso, não deixam de sofrer graves danos. É claro que, em uma
situação como essa, com os bracinhos en ados em tubos e, muitas vezes ainda,
os pulsos “presos” à cama, elas cam furiosas. Qualquer pessoa nessas
condições gritaria como louca. Normalmente, isso só acontece quando os pais já
estão com os nervos à or da pele e quando médicos acadêmicos, que não
sabem o que fazer, excluem o mundo da alma de sua consciência.
Uma variante mais branda seriam luvas de tecido macio, que permitam que
a criança se coce, mas não se arranhe. Pois arranhões profundos também
podem deixar cicatrizes que, mais tarde, na puberdade, prejudicarão a
autoestima e levarão ao isolamento e ao sentimento de inferioridade.
Normalmente, é mais o desamparo que conduz os pais à beira do desespero,
pois ter de observar uma criança sofrendo sem, de fato, conseguir fazer alguma
coisa é mais do que conseguem suportar.
 
Perguntas para os pais:
► Em que situações nosso lho tem di culdade para impor limites e dizer
“não”?
► Do que ele se defende?
► Que agressividade é reprimida em seu ambiente?
► Como ele pode se tornar mais corajoso e combativo? Como nós mesmos
podemos conseguir isso?
► Como utilizar as energias excedentes de maneira mais construtiva?
► Como nosso lho pode aprender a lidar com o excesso de estímulos
externos?
► De que maneira podemos poupá-lo do excesso de estímulos?
► Será que uma mudança “estimulante” poderia eventualmente ser útil para
afrouxar as fronteiras internas (em crianças maiores)?
 
Medidas de apoio:
► A auto-hematoterapia potencializada (segundo Imhäuser) passa por vários
recipientes de vidro em seu processo, tal como ocorre com a
potencialização homeopática, e tem como efeito a regulação do sistema
imunológico. Em caso de imunidade baixa (por exemplo, suscetibilidade
a infecções), ela estimula o sistema imunológico; caso a imunidade esteja
alta (por exemplo, alergias), ela a estabiliza.
Em um frasco marrom de dez mililitros, deve-se misturar uma gota de
sangue capilar ou venoso a cem gotas de uma solução de água e álcool a
30%. Em seguida, deve-se bater dez vezes a mistura em um livro ou na
outra mão. Misturar uma gota da C1 resultante a cem gotas da solução
alcoólica e agitá-la novamente. O resultado obtido será a C2. E assim por
diante.
Normalmente, os pacientes de alergia devem receber três gotas de C5 uma
vez por semana, durante quatro semanas. Em seguida, quatro gotas de C7
uma vez por semana, por mais quatro semanas. Por m, deve-se repetir o
mesmo procedimento com C9.
Esse processo pode ser aplicado tanto pro laticamente, antes da estação do
pólen, quanto em casos agudos.
► Limpeza do cólon: com frequência, no exame de fezes de crianças alérgicas
encontra-se um desequilíbrio no intestino, que, se tratado com
preparados microbiológicos e auxiliado individualmente por terapeutas
especializados, pode ter efeitos positivos na pele.
► Quando aplicado à pele, o leite materno alivia a coceira. Pingar o leite
materno nas narinas é a maneira mais branda de desobstruir o nariz em
crianças pequenas. Para tanto, a mãe lactante deve colocar seu leite em
um frasco com conta-gotas (disponível em farmácias) e, caso necessário,
utilizá-lo para pingar o leite no nariz.
► Pomada de calêndula da Weleda ou lanolina/óleo de oliva (mistura 1:1)
alivia e trata externamente.
► Pomada Halicar: para coceira intensa.
► Urina: depois de ir ao banheiro, crianças maiores podem aplicar a própria
urina fresca nos pontos afetados da pele. A urina tem efeito anti-
in amatório e alivia a coceira. Entretanto, seu cheiro só é relativamente
suportável quando se leva uma vida vegetariana.
► Pomada Rescue do doutor Bach (uso externo): pode aliviar a coceira sem
reprimir os sintomas.
► O chá de lapacho estabiliza o sistema imunológico e alivia as in amações
na pele. Durante duas semanas, beber uma xícara de chá ao dia. Caso o
efeito seja positivo, o tratamento pode ser continuado. Para uso externo,
compressas embebidas em chá de lapacho ou de violeta-do-campo e
aplicadas no local aliviam a coceira e o ardor.
► Banhos com palha de aveia ou cavalinha podem ser empregados em todo
tipo de escoriação. Coloque uma mão cheia da erva em dois litros de água
fervente e deixe a fervura repousar por 15 minutos. Em seguida, coe e dê
o banho a uma temperatura de 36°C a 37°C. A criança pode banhar-se
por até trinta minutos nessa água.
► Eufrásia: as compressas de chá de eufrásia ou o colírio dessa planta, da
marca Wala, podem aliviar os sintomas nos olhos, como coceira, ardor e
in amações.
► Tratamento homeopático: o tratamento homeopático é feito
individualmente, levando-se em conta os sintomas gerais. A pele é
designada como “o espelho da alma”; por isso, é importante tratar
distúrbios internos ou um desequilíbrio psíquico. Por conseguinte, as
erupções cutâneas se amenizam sem a necessidade de aplicar
medicamentos externos.
A terapia pode ser demorada e requer dos pais, dos pacientes e dos
terapeutas uma boa dose de paciência e intercâmbio regular. Se possível,
doenças agudas que venham a surgir nesse período também devem ser
tratadas homeopaticamente, uma vez que, nesse caso, as medidas
repressoras da alopatia favoreceriam as alergias.
► Iniciar logo o tratamento: assim que surgirem sintomas como a crosta
láctea, o tratamento deve ser iniciado.
► Se possível, as erupções cutâneas não devem ser reprimidas (com pomadas à
base de zinco e cortisona). Fitoterapias ricas em tanino, como aquelas que
utilizam casca de carvalho ou chá preto, também podem ter um efeito
repressor, causando eventualmente uma “mudança de estágio alérgico”,
que pode, por exemplo, chegar à asma.
► Amamente pelo máximo de tempo possível (pelo menos seis meses, mas é
melhor que seja até por mais tempo!), a m de reforçar as defesas da
criança.
► Evitar antibióticos, pois eles perturbam o equilíbrio sensível do intestino e
preparam o terreno para as alergias.
► Alimentação: alimentação pobre em proteína, alimentos provenientes de
cultivos biodinâmicos, que correspondam às estações do ano e que sejam
integrais e adequados ao tipo constitucional.
► A criança precisa beber água pura, para que o corpo possa eliminar
possíveis toxinas também através da urina e das fezes.
► Rejeitar amálgamas dentários compostos de ligas de mercúrio. Porém,
quando for trocá-lo, ter o máximo de cuidado e só realizar o
procedimento com um dentista de con ança.
► Higiene: não usar de medidas exageradas de higiene.
► Tolerar a febre, uma vez que ela leva a uma mobilização geral das defesas
e, assim, abre espaço para o tema “agressividade e luta”. Depois de
superada a febre, muitas vezes as doenças alérgicas melhoram ou se
atenuam.
► Deixar que as doenças infantis se desenvolvam do começo ao m, pois,
com elas, uma possível predisposição congênita a alergias pode ser
diminuída ou até totalmente eliminada.
► Se possível, não dar vacinas (ver também o Capítulo 5 “Vacinas”).
► Ambiente: proporcionar um ambiente social e familiar estável. Educar as
crianças para serem adultos autoconscientes, prontos para enfrentar os
con itos, independentes e capazes de se relacionar com seu ambiente de
maneira corajosa e aberta.
► “Praia e montanha”: transferir as férias para a praia ou a montanha, uma
vez que o ar nesses lugares é pobre em poeira e em pólen, o que permite
uma regeneração efetiva e, por assim dizer, umas férias dos sintomas.
► Evitar testes epidérmicos para de nir os fatores que desencadeiam as
alergias, pois geralmente eles contêm substâncias à base de mercúrio,
como o iomersal, que, por sua vez, podem desencadear alergias.
12 Problemas do aparelho locomotor

12.1 Postura e desenvolvimento

“Não consigo car reto.”


 
Junto com o arco plantar, talvez nossa coluna vertebral seja o órgão
especi camente mais característico do ser humano, com sua forma única em
duplo S, que nos permite andar eretos e que toda criança tem de conquistar
por si própria. Essa etapa que nos levou a caminhar sobre as patas traseiras é o
momento em que começamos a nos posicionar em relação à vida. Os gol nhos
também têm um cérebro como o nosso, e até mais diferenciado. No entanto,
esse tipo de coluna vertebral em duplo S só é encontrado em humanos. Ela
serve de intermediária entre nossa parte terrena e física, em forma de pelve, e as
possibilidades angelicais e celestiais, que se oferecem acima da nossa cabeça,
que é nosso objeto principal. Ao nos colocarmos sobre as patas traseiras
também demos vida ao tema “equilíbrio”. É importante equilibrar aquilo que é
mais importante no topo do eixo do mundo preservando a justa medida, ou
seja, sem “pender a cabeça para baixo” – o que sinaliza desânimo e, a longo
prazo, conduz à “obstinação” – nem “incliná-la para trás”, causando a
desagradável impressão de “arrogância”. O caminho intermediário exige que
“não nos deixemos abater” como os animais, e sim que permaneçamos seres
humanos, contudo sem exagerarmos nem nos tornarmos, no outro extremo,
arrogantes e presunçosos, confundindo-nos com Deus. A tarefa está em
encontrarmos nosso caminho num limbo entre os animais e Deus, sem
afundarmos na natureza nem sobressairmos na cultura. Nesse sentido, é na
infância que são lançados os alicerces decisivos.
Além da mediação entre a porção superior e a inferior, a posterior e a
anterior, é importante considerar aquela entre a esquerda e a direita, ou seja,
entre as partes femininas e as masculinas. As crianças não podem, de modo
algum, ser treinadas a usar a esquerda em vez da direita. Isso só lhes traz
insegurança e danos a longo prazo. No que diz respeito à coluna vertebral,
temos de aprender a encontrar nosso centro e a conservá-lo.
Ao longo da coluna vertebral corre o desenvolvimento dos centros de
energia, constituídos de matéria sutil: do chakra mais primário, o Muladhara,
ao que está no topo, acima do crânio. Em sete níveis, chakras ou degraus da
escada de Jacó, da cultura cristã, percorremos o eixo do nosso mundo de baixo
para cima e – na situação ideal – até a perfeição. Com sua curvatura dupla, a
coluna vertebral também exprime a polaridade como na transição entre as
vértebras rígidas e os discos exíveis entre elas.
Um órgão tão fortemente ligado ao nosso desenvolvimento também pode
esclarecer até que ponto esgotamos nossas possibilidades. A postura das costas
revela não apenas quão eretos, mas também quão honestos nós somos e até
onde chegamos. Uma expressão como “não dar as costas para a verdade” nos
mostra claramente como as costas estão relacionadas à nossa verdade.
Justamente, “falar dos outros pelas costas” não é nada honesto nem correto, tal
como “apunhalar alguém pelas costas”.
Pela coluna também se pode interpretar “quantos anos temos nas costas” e
quão grande é o peso que carregamos ao longo da vida. A coluna e sua posição
podem dar uma ideia de como estão e vão as coisas em nossa vida.
Obviamente, por meio da coluna vertebral também se mostra o peso da
nossa existência, embora seja no sentido físico que ela carrega a maior parte
dele. Portanto, quando nos deixamos reprimir ou reprimimos os outros, isso
também pode ser notado nas costas. No primeiro caso, “carregamos o mundo
nas costas”; no último, apunhalamos quem reprimimos pelas costas. Seria mais
correto “tirar o peso das costas de alguém e encorajá-lo” dando-lhe apoio.
Talvez as crianças com problemas no eixo de seu mundo estejam suportando
e carregando um excesso de responsabilidade muito precocemente. A solução
para isso seria assumir naturalmente a responsabilidade de maneira adequada,
no sentido de “ter responsabilidade”.
 
Perguntas para os pais:
► Ver a seção “12.4 Doença de Scheuermann”.

12.2 Cifose e lordose

“Sou desonesto.”
 
Quando uma criança passa a vida curvada, essa postura incorreta logo se faz
notar. Os pais não conseguem suportar essa imagem, que muitas vezes está
relacionada à sua educação, à sua situação doméstica e a uma autoestima baixa,
e, como compensação, encorajam a criança a esforçar-se. Esse esforço
encobriria a verdadeira representação de uma cifose ou até da corcunda por
meio de uma postura aparentemente ereta e, portanto, não verdadeira.
A coluna curva exprime falta de sinceridade e fraqueza, além de mostrar o
quanto a criança “trabalha duro” e é compelida a talvez também se submeter a
pressões externas. No entanto, para os adultos, essa espécie de honestidade
física direta vai longe demais e constantemente lhes re ete uma imagem difícil
de suportar. Nesse sentido, o excesso de advertências revela a tentativa de fazer
com que as crianças treinem uma postura externamente mais simpática, ainda
que não sincera, como a lordose.
Na cifose, a musculatura das costas é excessivamente distendida para
proteger a parte anterior lesionada. Ao mesmo tempo, o ventre e o tórax são
ocultados. Nesse sentido, essa postura também é o contrário daquela de
“vangloriar-se” e revela pouca autocon ança. Simultaneamente, o corpo
adquire uma expressão submissa, indicando uma submissão não vivida na
consciência. Com frequência, uma criança curvada ou prejudicada em sua
autoconsciência tenderá a curvar-se perante seus superiores, mas, ao mesmo
tempo, pisar em seus subordinados, assumindo uma postura que, no mundo
dos adultos, é vista como típica de quem se comporta como “capacho” ou até
mesmo como “puxa-saco”.
“Com o rabinho entre as pernas”, essas crianças abaixam a cabeça e curvam
as costas para se protegerem de outros danos; desse modo, em vez de
percorrerem seu caminho de cabeça erguida, passam a vida se sujeitando.
Nessa postura “submissa” se re ete certa instabilidade, além da falta de
sinceridade e de uma força autoconsciente. A criança aprendeu a se curvar para
não desagradar em lugar nenhum. Ela parece curvada e, muitas vezes, também
humilhada. Toda a sua aparência é marcada pela falta de apoio – seja na
família, seja no ambiente social.
A tarefa de aprendizado consiste em desenvolver a verdadeira humildade,
curvar-se de maneira adequada, quando um poder superior o torna necessário
ou também quando o indivíduo se submete conscientemente em ocasiões de
importância central. A tarefa dos pais é criar para o lho um campo em que ele
possa crescer conscientemente na direção que lhe cabe como indivíduo e em
que ele não apenas aprenda a verdadeira humildade, mas também encontra
dentro de si a motivação para se esforçar por seus interesses e desejos mais
íntimos.
Sobretudo quando as crianças já estão muito grandes, não raro tentam
recuperar a “altura normal” arqueando a coluna, para, assim, não se
sobressaírem. Elas se assumem (muito) pouco, o que, naturalmente, também é
como enganar, nesse caso, a própria pessoa. Quando a criança não assume a
própria força, ela revela problemas com sua posição e sua postura interna –
certamente com uma razão que justi ca por que esses problemas de postura são
tão frequentes na puberdade.
Somente quando a tarefa expressa no sintoma é colocada em prática é que se
trata de mudar para o polo oposto, in ar o peito e abrir o campo do coração e
da comunicação ligado aos pulmões, para nalmente aprender a andar com a
postura ereta e tornar-se reto e honesto.
A interpretação e, sobretudo, o tratamento da lordose como compensação da
cifose deveria incluir toda a história de como esta surgiu, ou seja, por exemplo,
a “criança oprimida” que há por trás dela. A concavidade na lordose evidencia a
postura de compensação, que é demonstrada, mas nem um pouco agradável.
Mais do que uma retidão aparente, que quer agradar a todos, nada pode provir
dela. Para os pais ou responsáveis, a lordose pode ser mais suportável do que a
cifose; para a criança, é apenas outro degrau na direção errada.
A tarefa consistiria em se endireitar de dentro para fora, a m de cumprir as
exigências feitas pela própria vida. Responder por si mesmo e pelas próprias
ideias seria o desa o compensador, em vez de sempre aceitar uma posição
como um soldado treinado. Vale para este o mesmo que para as crianças
treinadas. Quem tem uma postura interna (em relação à vida), não precisa
aceitar outra (externa). No entanto, é claro que uma correção externa da
postura pode in uenciar a postura interna, como demonstram a eurritmia
curativa dos antroposo stas, o trabalho de Feldenkrais, mas também o yoga, o
tai chi e o qi gong.
Em geral, durante sua formação básica, os soldados são controlados como
marionetes. Praticamente não podem desenvolver a própria opinião; em todo
caso, seu posicionamento não pode ter nenhum efeito sobre a rígida obediência
que governa seu estatuto de soldado. Os soldados aprendem, essencialmente, a
obedecer, em vez de discutir ou até contradizer. Em um treinamento como
esse, que custa a própria postura e o próprio posicionamento, eles precisam
assumir a postura ordenada. Os soldados de guerrilha não precisam disso, pois
têm uma postura interna. Por essa razão, em última instância, os exércitos de
soldados regulares nunca conseguem vencer os soldados de guerrilha.
Em primeiro lugar, é necessário redescobrir a criança oprimida sob a
impressionante pseudorretidão da lordose; talvez também uma criança que, de
tanta preocupação, “enverga os ombros” – em todo caso, uma criança que
primeiro precisa aprender de novo a se endireitar, a car ereta (na forma do
eixo do seu mundo) e a “se aprumar”.
 
Perguntas para os pais e medidas de apoio:
► Ver a seção “12.4 Doença de Scheuermann”.

12.3 Escoliose
“Estou em uma posição crítica.”
 
Com essa deformação da coluna vertebral, o eixo do mundo, cuja tarefa seria,
por um lado, dar-nos apoio e dinâmica e, por outro, representar nossa retidão,
não consegue desempenhar sua função. Em vez disso, ele expõe abertamente
como a criança se encontra em uma posição complicada na vida e como ela se
desvia da linha reta do desenvolvimento. Essa posição desviante faz com que o
desenvolvimento se dê no caminho errado e a criança afetada “perca o rumo”.
(O adjetivo grego skoliós signi ca “torto, desviado”.)
Em um âmbito central de sua vida, ela acaba se desviando justamente do
centro. Trata-se de um desvio rumo ao polo feminino (esquerdo) ou masculino
(direito). Por sua vez, nesse desvio pode ocorrer um recuo em relação ao polo
da realidade, como um decrescimento de um lado ou uma extrema atração
para o outro.
Em uma terapia para tratar um caso grave de escoliose em uma menina,
concluiu-se que, ao sentar-se à mesa entre a mãe e o pai, ela se sentia
terrivelmente rejeitada por ele, mas não podia demonstrá-lo em família.
Durante anos, ela cresceu tentando afastar-se dele e aproximar-se da mãe, e sua
coluna vertebral reproduziu esse drama. Em vez de crescer sicamente na
direção da mãe, obviamente seria mais saudável mostrar sua entrega com
outros meios, como o afeto, mas também expressar a rejeição em relação ao
pai.
Às vezes, um leve desvio na postura também tem a ver com a puberdade, ou
melhor, com o desenvolvimento, na medida em que se trata de testar
inteiramente ambos os polos, debruçando-se ora para um lado, ora para o
outro, não ser uma coisa nem outra, nem criança nem adulto e, sobretudo,
nem mulher nem homem. Isso pode evoluir até consolidar-se em problemas de
orientação sexual.
Ao que parece, é muito mais fácil para alguns ziguezaguear pela vida,
evitando obstáculos, para escapar de uma retidão cansativa em vez de
reconhecer e expressar, tanto positiva quanto negativamente, seus próprios
sentimentos.
Nos casos extremos, os percursos sinuosos da psique tornam-se não apenas
evidentes, mas também relevantes para a medicina, pois um desvio para a
esquerda prejudica o coração, limitando seu espaço vital, enquanto um desvio
para a direita comprime o respectivo lado do pulmão.
Graças à coluna vertebral, todos nós podemos girar e nos voltar como bem
entendermos, e isso, naturalmente, também em sentido gurado. Essas ações
só se tornam um problema quando, ao mesmo tempo, a honestidade e a
retidão psíquica cam pelo caminho, sobretudo em relação às expectativas da
alma dessas crianças. Como a escoliose ocorre com muito mais frequência entre
as meninas, elas acabam sendo desviadas da linha reta do desenvolvimento.
Em contrapartida, geralmente o “vira-casaca” não parece ter problemas
visíveis, uma vez que se trata de um oportunista consciente, que sabe muito
bem que penderá para o lado que lhe trouxer mais vantagens. Deformações de
caráter só se tornam visíveis nas costas quando são inconscientes para a criança.
A tarefa psíquica consistiria em adaptar-se de maneira exível às
necessidades da vida. Quando as crianças aprendem logo cedo a se sentir
conscientemente à vontade tanto nos caminhos retos quanto naqueles sinuosos
e a manter seu equilíbrio interior, não há por que se preocupar com seu eixo
vital. No entanto, quando a vida perde o equilíbrio, também é bom que isso
possa ser visto e corrigido.
Quando o desvio do próprio centro já ocorreu, trata-se de posicionar-se
conscientemente no lado preferido e liberar esse polo. Mesmo as tendências
familiares (transmitidas pelo patrimônio genético) a realizar “desvios sinuosos”
podem ser identi cadas conscientemente. Nesse caso, é sempre melhor fazer
desvios (físicos) conscientes e serpear pela vida como uma espécie de “homem-
cobra” ou um espeleólogo do que fazer com que a coluna vertebral sofra as
consequências desse tema. Mesmo quem aprende a evitar os obstáculos com
atenção e consciência e mantém em vista o caminho rumo ao centro ameaça
menos sua coluna.
Nos desvios para a esquerda, trata-se, sobretudo, de dedicar-se com mais
intensidade ou abertura às próprias questões do coração e da anima, que
constituem a porção feminina da alma. Por outro lado, desvios para a direita
requerem que o indivíduo se preocupe mais com o lado arquetipicamente
masculino e com o animus, a porção masculina da alma que inclui temas como
a “capacidade de impor-se”, a “coragem”, a “facilidade para tomar decisões”,
etc.
Terapeutas infantis que seguem o antroposo smo chegam a partir do
pressuposto de que, pela situação dos maxilares superior e inferior, é possível
interpretar claramente a relação entre a “pessoa superior” e a “inferior”, o que,
por sua vez, pode indicar um distúrbio no equilíbrio, na mediação entre a parte
superior e a inferior, entre a anterior e a posterior e entre a esquerda e a direita.
Tudo isso é realizado, sobretudo, pela coluna vertebral, nosso “órgão rítmico”.
Nesse contexto, parece interessante observar que hoje muitas crianças usam
aparelho dentário e que, em muitas delas, os dentes voltam para a posição
inicial quando a “postura interna” não acompanha seu crescimento. Nesse
sentido, a coluna vertebral realmente é uma espécie de régua de nível que nos
permite ler se o desenvolvimento da criança está em ordem.
 
Perguntas para os pais e medidas de apoio:
► Ver a seção “12.4 Doença de Scheuermann”.

12.4 Doença de Scheuermann

“Eu me arredondo o máximo que posso para vocês!”


 
Assim como a escoliose costuma ocorrer nas meninas, essa doença, que recebeu
o nome do radiologista dinamarquês Holger Werfel Scheuermann, ocorre mais
nos meninos. Na doença de Scheuermann, o tecido dos discos intervertebrais
invade as placas terminais da coluna vertebral, deformando-as e provocando
uma cifose rígida em toda a linha, com o resultado de uma postura curvada,
sem exibilidade. Os meninos acometidos por essa doença cam enrijecidos
em uma posição de humilhação. Sua cabeça pendente aponta na direção da
obstinação, e a posição curvada denuncia dé cits de honestidade. Por
conseguinte, para o médico antroposó co Georg Soldner, essa doença sempre
se baseia em uma disposição depressiva ou situação de sofrimento, no sentido
de um “sofrimento silencioso”. O aspecto ereto da coluna vertebral é reduzido
e garante menos rmeza e menos dinâmica devido à rigidez óssea. Em geral, os
sintomas se desenvolvem na puberdade, quando as pulsões já se fazem sentir
internamente, mas externamente ainda não há válvulas de escape à disposição.
Do ponto de vista da interpretação, trata-se de um envelhecimento precoce,
no sentido de um enrijecimento e um endurecimento com a respectiva perda
de exibilidade e dinâmica, que a coluna vertebral deveria garantir (sobretudo
na puberdade). Assim, o aspecto arquetipicamente feminino no próprio eixo
do mundo e, com ele, também na vida é reprimido de maneira precoce.
Um paciente jovem sofre intensamente com sua mãe dominadora, cujo
comportamento já afugentara seu pai. Com a doença de Scheuermann ele
tentou, literalmente, afastar, ao menos do centro da sua vida, o odioso aspecto
feminino, ao qual se sentia entregue, sem poder se defender, na forma da sua
mãe.
A tarefa seria conduzir a interpenetração dos elementos femininos e
masculinos no plano gurado, e não naquele concreto, permitir
conscientemente que a energia feminina avance nos campos masculinos e os
fecunde. Em vez de rigidez, deve-se cultivar a rmeza, em vez da dureza, a
estrutura, e em vez da postura externa de humilhação, deve-se apostar
conscientemente na humildade psíquica em relação à vida.
 
Perguntas para os pais:
► Em que situações estamos sendo pouco sinceros ou desonestos conosco e,
portanto, também com nosso lho?
► Quando nos falta a exibilidade necessária? Quando fazemos do nosso
lho nosso espelho?
► Como nossa autoa rmação pode ser reforçada?
► Sou/somos humilde(s) em relação ao mundo exterior?
► Conseguimos nos posicionar corretamente em relação a nossos interesses
e desejos?
► Em que situações se oculta o sofrimento silencioso?
► Em que situações nosso lho não está em seu centro, em seu eixo, em
equilíbrio, e o que ele re ete com isso para nossa família? De que maneira
nosso lho pode aproximar-se de seu centro?
 
Medidas de apoio:
► Atividade física e esporte (“ginástica infantil”) são a principal pro laxia
para todas as formas de problemas posturais.
► Reeducação postural da coluna, com introdução teórica e prática.
► Redução do sobrepeso.
► Prestar atenção na ergonomia do “local de trabalho” na escola e em casa.
► Terapias: levar em consideração a osteopatia e/ou terapia craniossacral.

12.5 A síndrome KISS

“Onde estou com a cabeça?”


 
O acrônimo “KISS”[27] representa o distúrbio de simetria induzido na
articulação da cabeça, uma doença que acomete recém-nascidos e nada tem a
ver com o torcicolo (Torticollis spasticus),[28] embora também deixe o pescoço
torto, acarretando, por m, um desequilíbrio na vida. As duas vértebras
superiores, atlas e áxis, estão mal assentadas e, como consequência, provocam
uma utilização assimétrica dos braços e das pernas. Sobretudo a cabeça não se
assenta corretamente sobre os ombros e tem de ser colocada no lugar; do
contrário, ca sem uma orientação segura e sem base. Assim como Atlas, o titã
que tem de carregar a abóbada celeste nos ombros, a vértebra de mesmo nome
tem de cumprir a mesma missão – de preferência, sem hesitação e sem dor –,
contando com áxis, a segunda vértebra cervical, como eixo e orientação. Ao
redor desse eixo, atlas e a cabeça deveriam girar sem nenhum problema, com
exibilidade e, sobretudo, sem dor.
É provável que a síndrome KISS seja desencadeada por partos difíceis, como
aqueles por extração a vácuo (ventosa obstétrica), fórceps e de gêmeos,
cesariana de emergência, posição podálica, prolongamento anômalo da
gravidez com o respectivo estreitamento no útero e outras complicações raras.
Na maior parte do tempo, as crianças acometidas mostram-se inquietas e
dormem mal. Como também sentem dor para engolir, não conseguem mamar
direito e, muitas vezes, só o conseguem em um peito, pois no outro sua coluna
cervical lhes causa muita dor. Quando são deitadas do lado “errado”, gritam, o
que já poderia ser um primeiro indício para o diagnóstico, tal como a
observação de que a criança só dorme de um lado. Deitá-la com cuidado alivia
a dor momentaneamente. Por outro lado, adotar desde o princípio
determinada postura para aliviar a dor, quando esta não é tratada, mas tolerada
e apenas aliviada em seus efeitos, pode torná-la uma cautela a ser seguida na
vida futura, o que seria duplamente fatal. Tal pessoa não conseguirá se a rmar
nem impor sua vontade, ou só conseguirá fazer isso por intermédio dos
sintomas – no sentido de um ganho secundário, agravando seriamente todos os
problemas.
Por m, crianças com a síndrome KISS vêm ao mundo de maneira
unilateral, e, por certo, é importante saber de que lado elas apresentam
de ciência, se no direito, arquetipicamente masculino, ou no esquerdo,
feminino. A postura adotada para aliviar a dor pode revelar qual dos lados foi
afetado, pois, obviamente, essas crianças procuram manter a cabeça do lado
que não dói ou que dói menos.
Outro indício da síndrome KISS seria o grito abrupto quando recebem
carinho ou se movimentam. Se a cabeça não estiver no eixo, com frequência
essas crianças também terão di culdades de equilíbrio. Porém, quando não
encontram um equilíbrio real, tampouco podem esperar harmonia na vida.
Nos primeiros meses de vida, as crianças aprendem a manter a cabeça
estável em posição central. Na síndrome KISS, só conseguem fazer isso
sentindo dor, ou seja, a cabeça só se torna autônoma quando elas sente dor;
para essas crianças, a autoa rmação é um exercício doloroso, difícil e, não raro,
fracassa quando o problema não é resolvido.
Muitas vezes, as crianças são trazidas ao mundo cedo demais ou, em todo
caso, contra sua vontade. Talvez elas nem desejassem essa forma de auxílio que
vem de fora e, mais tarde, nascessem espontaneamente e mais maduras.
Quando são trazidas antes ao mundo, ainda estão imaturas, incompletas e têm
muitas di culdades para sustentar a própria cabeça. Talvez ainda nem queiram
levantar a cabeça tão cedo.
Portanto, como geralmente são trazidas à força e com dores, sua vida
também segue de maneira dolorosa – tudo reside no início. As dores as
animam a sempre gritar por socorro. Ao gritar, uma criança com dor quer
claramente pedir socorro, e não atormentar seu ambiente. O primeiro gesto de
ajuda que ela recebe assim que nasce e entra na vida deve ser seguido pelo
segundo. Essas crianças precisam de ajuda – para viver e sobreviver. Pois, com a
comida e o sono, duas necessidades básicas e decisivas são ameaçadas. Do
mesmo modo como no início elas foram puxadas pela cabeça, agora a cabeça
deslocada tem de ser “colocada no lugar” o mais rápido possível.
A medicina acadêmica pouco sabe sobre as causas desse problema crescente
nos tempos modernos e, em parte, simplesmente continua a ignorá-lo. Isso
pode estar relacionado ao fato de que ela própria os causou.
Pois, provavelmente, as causas residem nas intervenções médicas, que
também são crescentes. Com isso, o número cada vez maior de cesarianas é
menos discutido do que outras manipulações, como o fórceps e o vácuo. Na
cesariana, geralmente a cabeça da criança é até poupada. Porém, talvez
justamente pelo fato de a cabeça não poder irromper, como no parto normal,
ou seja, de não haver a necessária luta pela vida, é que, também na cesariana, a
cabeça e o pescoço não encontram a relação correta entre si. Em todo caso, do
ponto de vista terapêutico, é preciso que se preste novamente ajuda para
“reparar” o problema, o que, literalmente, signi ca “(voltar a) endireitar a
cabeça”. Como já foi dito, a cabeça da criança precisa ser realinhada e, por m,
colocada no lugar certo. Assim, apenas manualmente a coisa mais importante é
colocada na posição certa.
Quando uma criança luta pela vida com essa posição (inicial) desfavorável,
ela pode facilmente passar a adotar uma posição instável ou mesmo seguir pelo
caminho errado (na vida). Mais tarde, no decorrer da vida do lho, aos pais
também cabe observar se ele está seguindo pelo caminho correto. Se o navio da
vida ameaçar pender para um lado, ele deve ser reajustado. Nesse caso,
sobretudo a osteopatia ou a terapia craniossacral são intervenções manuais que
corrigem o problema de maneira branda. Posteriormente, com a compreensão
crescente da criança, esses reajustes em sentido gurado precisam ser realizados.
Na síndrome KISS, o método geralmente útil de esperar que as coisas se
resolvam sozinhas, segundo o lema “com o crescimento a postura se endireita”,
não se mostra muito e caz. Um início tão difícil e doloroso – pois tudo reside
no início – é uma carga pesada demais, e o sofrimento resultante não deveria
ser absolutamente tolerado nem prolongado. Quando necessidades
fundamentais da criança, como comer, dormir e receber carinho só são
possíveis por meio da dor, a vida se torna um fardo tormentoso, que curva
quem o carrega e causa muito sofrimento.
Se já desde o início a criança chora pela vida e grita de dor, ela precisa
receber ajuda o mais rápido possível. O endireitamento da cabeça por meio da
osteopatia e da terapia craniossacral é brando e, nesse caso, até mais e ciente
do que a homeopatia clássica, que nesse caso só seria útil como medida de
apoio, para favorecer oportunamente todo o desenvolvimento desde o início.
A síndrome KISS pode ser um indício precoce de que futuramente também
venham a ser necessários auxílios, no sentido gurado, para que a criança
encontre o próprio centro. Mais tarde, pode se tornar importante estimular a
coragem para um desenvolvimento unilateral e extremo, mas, de vez em
quando, também corrigir as tendências adquiridas de desequilíbrio. Quando a
cabeça é endireitada e colocada em uma posição de equilíbrio, o centro
também pode ser mantido com mais facilidade, de modo que tudo volta a
entrar nos eixos.
 
Perguntas para os pais:
► Em que situações assumimos uma posição instável?
► O que (ainda) não está em perfeita harmonia?
► Somos exíveis e ágeis?
► Como reagimos aos temas “imposição” e “a rmação”?

Como podemos produzir um equilíbrio entre o polo masculino e o
feminino?
 
Medidas de apoio:
► Especialistas para estabilizar a posição da cabeça, uma espécie de
osteopatia infantil precoce, podem realizar verdadeiros milagres nesse
caso. Muitas vezes, o problema já é resolvido após um único tratamento;
em geral, quase sempre após o segundo.

12.6 Dores do crescimento

“Crescer dói!”
 
Crescer dói, também em sentido gurado. Isso é sabido de todos que são
obrigados a crescer, “entrando” em uma nova fase da vida, ou “esticar-se” para
alcançar um objetivo elevado. Tornar-se adulto pode doer, quanto a isso não
restam dúvidas, e o foco dessa dor é a coluna vertebral, nosso eixo de mundo, e
os longos ossos tubulares.
Inicialmente, o crescimento é físico e ocorre apenas à noite, quando é
produzido o HGH (Human Growth Hormone/Hormônio do Crescimento
Humano) ou, antes ainda, o STH (Somatotropes Hormon/Hormônio
Somatotrópico). A produção de hormônios é o fundamento do crescimento e
deve ser auxiliada para que os processos físicos e psíquicos recebam uma base
saudável de crescimento. Para tanto, é importante que o quarto da criança
esteja escuro à noite e livre de radiação eletromagnética. Portanto, feche as
cortinas, desligue todos os aparelhos eletrônicos ou, melhor ainda, tire-os da
tomada e instale um disjuntor de rede; depois, desligue tudo!
O ideal é que os processos psíquicos de crescimento mantenham o mesmo
ritmo do desenvolvimento físico. Porém, isso também signi ca que a criança
precisa superar as etapas de sua vida em uma sequência bastante rápida e deixar
o nível atingido assim que o alcançar. Por m, precisa até mesmo deixar toda a
infância para trás e abrir mão do aspecto infantil, de preferência sem prejudicar
a criança interior. No nível físico, vemos esse desenvolvimento quando o
esquema de aspectos infantis do rosto desaparece, ou melhor, “cresce de
maneira adequada”. O termo “desaparecer” tem dois lados. Pode ser bom ou
ruim. Muito antes de o último caso ocorrer sicamente, delineiam-se na alma
os problemas correspondentes, que também se tornam perceptíveis, por
exemplo, por meio das dores.
Expressões como “dar uma espichada” já chamam a atenção para a
problemática. Quando a criança cresce muito rápido ou rápido demais e seu
interior não acompanha seu crescimento, ela pode sentir dores. Em todo caso,
quando o desenvolvimento psíquico ca para trás, as dores são sentidas.
O chefe de uma tribo indígena foi buscado às pressas em sua reserva por um
motorista que deveria levá-lo a um congresso. Entretanto, o chefe deixou o
motorista desesperado, pois fazia com que parasse toda hora no caminho,
embora o tempo estivesse correndo. Ele se sentava no chão e não fazia nada. O
motorista perguntou irritado: “Mas o que o senhor está fazendo? Não temos
tempo a perder”. O chefe respondeu estoicamente: “Estou esperando minha
alma chegar”. Essa anedota ilustra como nós, modernos, fazemos tudo com
pressa e sem a devida atenção, geralmente sem perceber quando nossa alma ca
para trás. Depois, surpreendemo-nos quando lemos no relatório da Comissão
da União Europeia que pelo menos um quarto da população precisa de
tratamento psiquiátrico. Do ponto de vista psicoterapêutico, seriam quase
100%.
Nem todos os pais modernos podem ser chamados de adultos em sentido
psicológico, e muitos são extremamente rápidos e, portanto, também
ambiciosos em relação à sua prole. Assumem a pressão da sociedade e se
curvam a ela, pressionando, por sua vez, seus lhos quando eles não crescem
até chegarem aonde todos hoje querem chegar: ao topo. Essa pressão pode se
manifestar como dores ao longo da coluna vertebral, que, desse modo,
evidencia quão pouco seu portador está crescendo no ritmo certo e do ponto
de vista orgânico. Sua alma não consegue acompanhar seu desenvolvimento.
Isso signi ca que ela ca pelo caminho. Na vida moderna, a alma está sempre
pelo caminho. As crianças vivenciam esse atraso com dores físicas e, quando
têm con ança su ciente, também manifestam essa dor.
Como já foi dito, as dores se localizam principalmente na coluna vertebral e
nos longos ossos tubulares, sobretudo nos das pernas, em cujas placas do
crescimento se realiza o tema “crescimento longitudinal”. Mesmo quando a
criança ultrapassa em pouco tempo os limites, o que sempre acontece em
sentido gurado, e o restante não acompanha com tanta rapidez, podem surgir
dores sobretudo nas costas e nas pernas. Essas dores costumam ocorrer durante
a noite, quando o hormônio do crescimento é liberado. Além de atrapalharem
o sono das crianças afetadas, talvez as dores impeçam, ao mesmo tempo, outro
crescimento, para o qual as crianças ainda não estão preparadas do ponto de
vista psíquico.
No entanto, obviamente que auxiliar os lhos em seu crescimento é uma
das tarefas decisivas de toda educação. Tal como na história do chefe da tribo
indígena, nessas fases dolorosas, eles precisariam de tempo su ciente para fazer
uma pausa e abrir sua alma para o corpo. Nesse momento, seria primordial
prover “a alma de alimento” e, naturalmente, adequar-se à respectiva fase de
desenvolvimento, desde os contos de fadas até os dramas da puberdade.
Por conseguinte, nesse período, a maioria das crianças também aprecia
histórias fantásticas e romances futuristas. A altura é extremamente importante
– hoje mais do que nunca. É o que mostra o fato de que, até hoje, em eleições
presidenciais nos Estados Unidos, geralmente venceu o candidato mais alto.
Sobre o signi cado desta e de outras simbologias corporais, o livro Der Körper
als Spiegel der Seele [O Corpo como Espelho da Alma] também fornece
informações.
Portanto, temos de nos esforçar para permitir que nossos lhos cresçam
possivelmente de forma harmoniosa, ou seja, sem dores, a m de que consigam
alcançar sua altura ideal. Por outro lado, obviamente também podemos nos
questionar se ainda é normal ver crianças que ultrapassam a altura dos pais,
como tem ocorrido nas duas últimas gerações. Enquanto suportarem bem a
situação, não há problema, mas quando crescem rapidamente, tornando-se
altas e magras como varas, além de desajeitadas, inseguras e dotadas de pouca
estabilidade, sendo ridicularizadas como “desengonçadas”, o desenvolvimento
deve ser vivenciado com cautela. Primeiro elas têm de “ganhar carne” ao longo
de toda a altura – tanto no nível físico quanto naquele psíquico. Para tanto,
precisam de tempo, que tem de ser-lhes concedido. Nessas fases, é necessário
garantir-lhes uma espécie de defeso, ainda que isso seja difícil, uma vez que se
trata de uma fase de grandes desa os, por exemplo, na escola.
Soldner e Stellmann formulam uma suspeita desagradável: “... por outro
lado, uma ‘alimentação excessiva’ do metabolismo em forma de alimentos
prontos, ricos em calorias e industrializados, como batatas chips, doces e outros
semelhantes, atuam como adubo arti cial no crescimento da criança.”
Analogamente, o regime de engorda com proteína, que se tornou comum e
que, por certo, estimula bastante o crescimento, também é problemático.
Obviamente, o outro extremo, ou seja, a baixa estatura devido à alimentação
insu ciente no que se refere à proteína é ainda pior. Na Coreia do Norte isso
teria se tornado dramático em razão da inefável incompetência do regime
comunista, que se apoia em um exército de anões.
A cada momento, a tarefa em caso de dores do crescimento consiste em não
poupar esforços para acompanhar, em todos os níveis, o ritmo do
desenvolvimento que está para ocorrer. Para as crianças afetadas, trata-se de
aprender a aceitar a própria estatura, o que naturalmente pressupõe a aceitação
de si mesmas. A altura natural é bonita, cai bem, proporciona uma visão
panorâmica – é um presente da natureza e dos pais que deve ser aceito. Porém,
ainda mais importante do que a estatura física seria a estatura da alma, como
diz a expressão em sânscrito maha-atman (como em Mahatma Gandhi), que,
traduzida, signi ca tanto “com grande alma” quanto “de grande fôlego”.
 
Perguntas para os pais:
► Será que nosso lho prefere continuar criança?
► Por que crescer dói?
► Estamos prontos para mudanças?
► Podemos soltar nosso lho?
► Damos tempo su ciente a ele para seu crescimento psíquico e físico?
 
Medidas de apoio:
► Sal de Schüβler: Calcium phosphoricum D6. Em casos agudos, dissolver
dez comprimidos em água quente e, se possível, beber quente.

12.7 Sinovite do quadril

“Não ouso dar os primeiros passos!”


 
As articulações do quadril, que, de maneira geral, são nossos maiores órgãos
articulatórios, atuam como mediadoras tanto dos primeiros passos quanto,
mais tarde, de todos os nossos passos largos e, portanto, do progresso no nível
físico, que re ete nosso avanço interno.
Na maioria das vezes, a in amação de um dos lados do quadril ocorre como
consequência de uma infecção das vias respiratórias superiores ou do intestino.
O resfriado indica que a criança está com o nariz constipado e, por isso, já
perdeu a paciência. As amigdalites denunciam que ela está com di culdade
para engolir e que sente dores sempre que precisa engolir alguma coisa.
In amações no trato intestinal revelam que, em um passado recente, ela teve
di culdade para digerir ou simplesmente não conseguiu digerir alguma coisa, o
que acarretou um estado de guerra em seu ventre.
Por m, no âmbito das articulações do quadril, ca claro do que se trata.
Em um pico de frequência entre os 3 e os 10 anos de idade, seria um con ito
doloroso dar os primeiros passos ou arriscar dar um passo rumo à própria vida.
Do ponto de vista terapêutico, seria bom ajudar a criança a se levantar e a
ter coragem para dar os primeiros passos, aprendendo a se afastar ativamente
dos pais e a ampliar o próprio raio de ação. Especialmente necessário seria
encorajá-la quando ela reconhecer que cada um desses passos pode ser doloroso
e exigir dela uma superação.
De modo geral, a doença indica que a criança precisa de mais estímulos,
impulsos e desa os do mundo exterior para conseguir avançar em seu
desenvolvimento. Seria ideal se os pais tivessem consciência disso e não apenas
permitissem que a criança recebesse esses estímulos, mas também a
encorajassem em seu avanço.
Se o lado afetado do quadril for o esquerdo, metaforicamente se trata de dar
os primeiros passos desenvolvendo também a própria empatia e a própria
intuição. Se o lado afetado for o direito, o desenvolvimento da compreensão e
da razão está em primeiro plano.
 
Perguntas para os pais:
► Quais passos do desenvolvimento são atuais e difíceis para nosso lho?
► Que passos ele precisa dar para ter autonomia?
► Que situações requerem toda a sua coragem no momento?
► Em que situações podemos estender-lhe a mão?
► Como família, em que situações não apresentamos mobilidade? Em que
circunstâncias precisamos de uma exibilidade maior e nova?
 
Medidas de apoio:
► Tratamento homeopático: de acordo com os sintomas individuais.
13 Doenças de pele

13.1 Piolho

“Que péssima surpresa!”


 
Nesse caso, a mãe, que nos dias de hoje já cuida de quase tudo, tem de fazer
alguma coisa. Entre os macacos, por exemplo, os piolhos exercem uma função
realmente social, entre as crianças eles levam ao isolamento. Contudo, o
aspecto social entre mãe e lho não deve, absolutamente, ser ignorado. A mãe é
até obrigada a prestar esse serviço social ao lho. Quando se trata então de uma
menina com irrenunciáveis cabelos longos e cacheados, a mãe precisará de mais
tempo para tratá-los com alguma técnica. Entre as meninas, o que muitas vezes
espalha os piolhos é a troca de gorros elegantes, o que, naturalmente, indica
um componente social.
Em nossa época tão limpa e organizada, os piolhos são considerados uma
catástrofe. São importunos e repugnantes para as crianças, mas não perigosos.
Entretanto, crianças com piolhos representam uma exigência terrível e um
desa o para os pais, e sobretudo as mães cam profundamente abaladas em sua
autoconsciência. Desde sempre, “com piolho” signi ca “sujo”, “malcuidado” e
“imundo”. De fato, os vizinhos evitam a criança tão logo a notícia de infestação
por piolhos se espalha, a m de escaparem do contágio, tanto físico quanto
psíquico e social. “Não brinque com crianças porcalhonas”, eis o bordão
imediato das mães da vizinhança, e um espantoso programa de boicote ganha
fôlego. Crianças com piolhos são quase uma possibilidade perfeita do
isolamento social e da marginalização. Cria-se uma espécie de apartheid que se
alastra. A criança é exposta com todo o seu clã, como ocorria antigamente com
os leprosos.
As crianças infestadas já não podem ir ao jardim de infância nem à escola,
que são os locais onde normalmente se pegam lêndeas de outras crianças, e as
mães acabam tendo mais trabalho do que de costume. Não apenas a guerra aos
piolhos, em todos os níveis, está declarada, mas também o programa de
compensação das horas perdidas na escola e no jardim de infância. Além disso,
os pequenos parasitas na cabeça dos rebentos criam para as mães um
memorável programa especial, que elas são obrigadas a dominar quase sozinhas
devido ao isolamento social.
Só as atribuições relativas à desinfestação de piolhos exigem enormes
esforços. Os cabelos devem ser penteados, madeixa por madeixa, com pentes
nos em busca das horríveis lêndeas; além disso, devem ser constantemente
lavados com xampus especiais, e, por m, a busca por lêndeas sobreviventes
deve ser refeita.
Os xampus-inseticidas são caros e podem ser substituídos por cerveja
normal (com álcool), que, obviamente, embriaga os lhotes dos piolhos, mas,
por outro lado, poupa o couro cabeludo e a carteira. Lavar os cabelos das
crianças duas vezes por dia com cerveja lhes deixa um odor levemente
primitivo, mas acaba com as lêndeas.
Mas o trabalho extra não para aí: é preciso lavar todos os possíveis focos de
piolhos, como lençóis, toalhas, roupas, bem como, obviamente, os bichos de
pelúcia – e isso deve ser feito por um bom tempo, pois o ciclo das lêndeas é
bastante longo. Infelizmente, muitas vezes alguns bichos de pelúcia não podem
ser lavados, pois acabam perdendo seu “cheiro característico”. Nesse caso, a
saída é envolvê-los em um saco plástico e colocá-los no congelador, onde terão
de permanecer por 48 horas, para desespero das lêndeas. Por sua vez, isso
poderá di cultar o ritual do sono, causando ainda mais irritação às mães.
Justamente nessa situação tensa, as meninas costumam não querer renunciar
aos longos e lindos cabelos e, sem dúvida, cam muito tristes só de pensar em
cortá-los. Quem se atreveria a roubar-lhes o símbolo de liberdade e beleza? Por
isso, não raro, são as mães que saem perdendo, não a garotada com piolhos.
Quando o pai volta para casa à noite, basta ele querer saber das causas da
epidemia doméstica para causar mais aborrecimento. O dia foi tenso, e,
dependendo das circunstâncias, a mãe ainda terá de se ocupar de outra criança,
o que já era esperado, mas não justamente em meio a essa difícil situação. Para
poupar os lhos, que foram todos infestados, da perda de seu símbolo de
liberdade, ela prescreve uma rigorosa quarentena e faz tudo que pode, às vezes
até mais. Seja como for, nesse momento ela não poderia se expor em ambiente
social, pois di cilmente suportaria os olhares dos outros, que a veem como
“mãe dos piolhentos”.
Quando nalmente, depois de longa luta contra os inúmeros, pequenos e
quase invisíveis inimigos, pode sair da quarentena, ela nem sequer pode esperar
algum reconhecimento por seu martírio; ao contrário, pode se dar por feliz por
ser novamente aceita no círculo das pessoas limpas, com a esperança de, no
futuro, manter a si mesma e seu lar em ordem e de não voltar a confrontar a
vizinhança com esse tipo de ameaça. Se de fato acontecer uma recaída ou se o
exército de piolhos voltar a atacar, para muitas mães isso signi cará um
problema psicoterapêutico.
Os próprios piolhos, como causadores primários de todo o sofrimento,
provêm da mesma família dos percevejos, dos mosquitos e das moscas. Como
parasitas hematófagos, estabelecem-se nos pelos de outros seres e, no caso dos
seres humanos, na falta de pelos no corpo, instalam-se na cabeça, em busca de
sua seiva. Com sua picada, provocam uma coceira horrível.
Essa coceira não apenas é infernal, mas também estimula as crianças a
arranhar os próprios limites, ou seja, a pele, muitas vezes deixando marcas, o
que é mais um motivo de preocupação para a mãe, que vê os lhos tão pouco
apresentáveis. A coceira quase enlouquece quem está infestado. As razões disso
são mais de ordem psíquica do que de ordem objetivamente médica.
Até mesmo a inofensiva mosca doméstica pode evocar esse item do
programa, uma vez que, com intenções ainda mais inofensivas, passeia por um
rosto estranho. Sobretudo pessoas com grandes problemas de ego e outros a
eles relacionados estão sujeitas a isso. Enquanto os negros costumam ter poucos
problemas com “ anadores de asas”, mesmo quando estes entram em suas
narinas ou, eventualmente, se aproximam de seus olhos, em situações
semelhantes os brancos quase sempre se irritam e não hesitam em dar tapas em
si próprios, na esperança irreal de matá-los.
De maneira geral, para as pessoas brancas, com seu ego representativo, as
doenças causadas por parasitas são inconcebíveis em comparação com os
negros, cujo ego é menos estruturado. Desse modo, parasitas e insetos em geral
oferecem um teste de ego bastante con ável. Esta também é a razão pela qual
normalmente mães de crianças com piolhos sofrem mais do que os próprios
lhos.
A sensação de que diretamente sobre meu couro cabeludo ou, pior ainda,
embaixo dele se aninha alguma coisa que se prolifera costuma desencadear uma
repugnância considerável, que, em termos dramáticos, supera em muito a
coceira. Especialmente as meninas podem sofrer muito com ambas.
Sobretudo nos meses de inverno em que a resistência cai, a invasão dos
piolhos ameaça os rebentos do mundo burguês, em geral extremamente limpo.
As crianças oferecem aos parasitas um lar e vitalidade, à medida que lhes
abastecem de sangue em vários locais ao mesmo tempo.
Obviamente, as crianças com piolhos não têm como proteger sua pele nem
defender seu território com sucesso. Permitem que a colonização ocorra
justamente em sua cabeça – por um lado, em razão de uma mistura de
desamparo e fraqueza e, por outro, pela vontade de se aproximar de outras
crianças ou também pela disposição para brigar, pois, de alguma maneira, os
companheiros com piolhos devem ter se pegado pelos cabelos.
Assim, na maioria das vezes, as crianças – que são isoladas e constantemente
atormentadas pela coceira e pelo pente no – não cam muito satisfeitas com a
grande e inabitual dedicação das mães, que estão sempre querendo vasculhar
seus cabelos em busca de piolhos.
A tarefa para as crianças afetadas é investir mais energia, esforçar-se até o m
de suas forças, cuidar melhor da própria cabeça e dos cabelos, que são símbolo
de liberdade, carisma e poder. E, sobretudo, seria importante cuidar da própria
higiene, penteando-se realmente com a intenção de vasculhar e arrumar os
cabelos. “Pentear os cabelos” signi ca arrumá-los, e quem está bem penteado
parece bem cuidado. Portanto, no âmbito da liberdade simbólica, do poder, da
beleza e do carisma, a obrigação constante de ter os cabelos penteados signi ca
cuidar, com ênfase e precisão, de relações limpas e ordenadas. Tudo que for
estranho a elas deve ser excluído e eliminado.
A solução mais simples seria, obviamente, renunciar radicalmente aos
cabelos, o que geralmente, em razão de sua clara simbologia, nem sequer chega
a ser cogitado.
Uma suspeita em relação à infestação por piolhos também segue na direção
de que a invasão de parasitas estranhos acomete principalmente crianças que
desenvolveram bastante sua cabeça e, por isso, precisam aprender a permitir e a
suportar a in uência ordenadora da mãe, mesmo quando ela machucar e
incomodar. Em sua busca pelo inimigo em comum, a mamãe precisa sempre
passar o pente por todo o cabelo e veri car se novas lêndeas ou ideias absurdas
se aninharam na cabeça.
Se as crianças oferecem um lar aos parasitas e disponibilizam para eles sua
vitalidade e seu sangue, seria o caso de perguntarmos em que condições estão
sua energia e sua liberdade. Teriam elas de se tornar mais abertas e generosas
com sua energia vital e colocar sua liberdade à disposição de outras pessoas?
Em todo caso, elas têm de aprender a permitir a aproximação de energias
estranhas, mesmo que sejam excessivas; precisam aprender a dividir e a dar sem
renunciarem a si próprias.
A longo prazo, também precisam aprender a lutar em seus limites,
responder por seus atos e defender a própria pele. Ou então, aprender a fazer
sacrifícios no que se refere aos símbolos de liberdade e beleza. Como já foi dito,
raspar os cabelos seria, de longe, a solução mais simples e o m dos piolhos e
lêndeas. Por m, não se deve delegar a preocupação com a própria cabeleira:
segundo o lema “quem quer ser bem servido que sirva a si mesmo”, as crianças
precisam virar-se por conta própria.
Elas pegam fora de casa essas desgraças vampirescas, depois são obrigadas a
car fechadas em casa. Passam por um regresso, e a mãe tem de cuidar delas
novamente, penteando sua cabeleira que se tornou palco de suas futuras lutas
pela liberdade, bem como da encenação do carisma e da beleza.
Por outro lado, algumas crianças chegam a tirar vantagem da situação.
Quem não se sente tão motivado a ir para a escola acha cômodo poder car em
casa, e até é obrigado a car, senão é expulso. Muitas crianças, especialmente os
meninos, também sentem claramente menos repugnância do que as mães, que
não possuem a mesma disposição das crianças para lutar. Elas sentem uma
repugnância muito forte e se empenham em exterminar o que as enoja.
Outras crianças até gostam e aproveitam quando as mães passam a cuidar
mais delas. Para alguns meninos não há problema nenhum em ter os cabelos
raspados, ganhar uma careca que pode parecer da moda e livrar-se do
incômodo. O sofrimento das meninas é mais demorado e se resolve com um
corte mais curto dos cabelos e com uma ação profunda de lavagem, que,
obviamente, não vem nem um pouco a calhar para os piolhos e sua prole.
A terapia é feita pela necessidade de se livrar, o mais rápido possível, dos
parasitas e de toda a sua ninhada, o que supõe o uso dos já mencionados
xampus-inseticidas.
A partir da naturopatia, há que se considerar o óleo de nim, há séculos
usado na Ásia contra os parasitas, pois inibe a síntese de quitina. Desse modo, é
um “pesticida” biológico e totalmente natural, pois não mata os insetos, mas
apenas impede que se multipliquem, agindo, portanto, como um
anticoncepcional.
 
Perguntas para os pais:
► Como nosso lho pode aprender a se defender melhor?
► Contra o que ele não consegue se defender?
► O que fazer para que ele assuma sua vida de maneira mais corajosa e
engajada?
► Em que situações devemos cuidar da limpeza e da ordem?
► Nosso lho está autorizado a pensar com a própria cabeça e a a rmar-se?
► Como lidamos com o tema “liberdade”?
► Como lidamos com nossa energia vital?
 
Medidas de apoio:
► As lêndeas precisam ser diariamente eliminadas com um pente
apropriado.
► Bichos de pelúcia, gorros, roupas de cama, etc., devem ser regularmente
lavados.
► Utensílios não laváveis também podem ser desimpiolhados, desde que
permaneçam 48 horas no congelador.
► Sauna: crianças maiores podem frequentar a sauna duas vezes por
semana, uma vez que os piolhos não sobrevivem a temperaturas
superiores a 50 graus. Caso se disponha de uma touca térmica elétrica em
casa, seria uma boa alternativa.
► Gel Aesculo (extrato de óleo de coco): aplicar na cabeça seguindo as
instruções do fabricante.
► Xampu de nim: para uso diário.
► Óleo de árvore-do-chá: misturar no xampu.
► Vinagre de frutas ou cerveja: para enxaguar os cabelos.
► Óleo de lavanda: para enxaguar os cabelos.
► Tratamento homeopático: em caso de infestações frequentes por piolhos, a
criança apresenta uma fraqueza constitucional que deve ser tratada
individualmente.

13.2 Verrugas

“Sou um diabrete.”
 
Verrugas são excrescências disformes da pele, o órgão limítrofe e de contato,
mas também o órgão do carinho. Elas simplesmente são consideradas o
símbolo da feiura. Algo escuro irrompe à luz e escurece a bela pele branca,
tornando-se uma mancha e incomodando como uma mácula. Entretanto,
como grande mácula as verrugas são associadas às bruxas. Simbolicamente,
representam as mensagens do reino das sombras e pertencem às bruxas, tal
como a falta de dentes, o gato preto e o corvo sobre os ombros. Trata-se,
portanto de um confronto – inofensivo do ponto de vista médico, mas horrível
do ponto de vista psicológico – com o próprio lado sombrio. Geralmente, os
pais o sentem como um ataque ao caráter imaculado das crianças. Os
pequenos, que parecem anjos inocentes, são “maculados”, e as verrugas
incomodam quando se quer apresentar os lhos a alguém. Por isso, na maioria
das vezes os pais e, sobretudo, as mães se irritam mais com isso do que as
próprias crianças.
As verrugas expõem o polo oposto aos anjos. O que seria dos contos de
fadas sem as bruxas? E do paraíso sem a serpente? As verrugas permitem que se
entreveja a fera – especialmente nas crianças, que são divinizadas em seu caráter
angelical. Desse modo, os pais acabam pensando apenas no próprio lado
sombrio, o que não é nada agradável. Ao mesmo tempo, porém, as verrugas
também são uma lembrança das raízes mágicas da própria infância.
Causadas por vírus, as verrugas são totalmente inofensivas do ponto de vista
médico, e somente as associações mencionadas com o reino das sombras as
tornam tão desagradáveis e difíceis de suportar. É interessante notar que, às
vezes, a relação mágico-simbólica em casos extremos é levada em conta até
mesmo por médicos acadêmicos e explorada por terapeutas. Normalmente,
porém, são cauterizadas ou extirpadas, ou ainda arrancadas. Não se quer saber
de nenhum reino das sombras, só de bani-lo deste mundo.
Essa maneira violenta de lidar com as sombras é tão típica quanto inábil e,
se nada mais acontecer, geralmente leva ao reaparecimento do que causa
inquietação e perturba a paz. O princípio de Plutão por trás delas é
manifestamente persistente. Na maioria das vezes, os adultos vivenciam
sozinhos seu lado sombrio, ainda que de modo inconsciente, e, por isso, não
precisam da franqueza de tantas verrugas – embora a solução mais elegante
consista em lidar conscientemente com o próprio reino das sombras. Quanto
às crianças, seria muito útil familiarizá-las com as raízes mágicas da própria
vida e com as forças encantadas da imaginação, conforme ilustrado em contos
de fadas e histórias ao estilo “Harry Potter”.
Na seção sobre a sugestão (2.6), descrevi como “desencantei” centenas de
verrugas, seguindo a instrução de um médico-chefe do departamento de
dermatologia, utilizando um truque (mágico-psicológico). Levei algum tempo
até me conscientizar do efeito duradouro dessa mágica. O médico-chefe sorriu
ao perceber que, a partir daquele dia, seríamos muito mais reconhecidos como
médicos. Ele me aconselhou a não falar daquelas experiências na clínica. E
foram essas experiências que mudaram para sempre minha maneira de ver a
medicina.
Conforme descrito na mesma seção, nesse plano também é possível
“comprar” as verrugas das crianças quando elas já têm uma noção das relações
com o dinheiro e de sua força mágica.
As excrescências das verrugas mostram que a criança precisa ousar mais e
con ar mais em si mesma, além de ter a chance de crescer mais interna e
externamente. O que brotou na pele tinha apenas um caráter representativo. Se
as próprias fantasias em desenvolvimento recebessem mais espaço e pudessem
viver, a pele seria desonerada dessa tarefa de representação. Também desse
modo, algumas manchas pretas e certas “mágicas” duvidosas não se
manifestariam sicamente na pele.
O fato de que sobretudo as crianças e as pessoas de idade são afetadas por
essas excrescências pode indicar que o início e o m da vida para o homem
moderno são fases difíceis, nas quais nem sempre dá certo expressar
adequadamente todas as fantasias, as ideias e todos os desejos. Assim, a pele
entraria como representante e mostraria o que, geralmente, ca à sombra: as
excrescências do princípio de Plutão (“morrer e se transformar”, metamorfose e
todas as mudanças radicais).
Do ponto de vista médico, fala-se em “verruga d’água” ou “molusco
contagioso”. Por trás dela escondem-se os patógenos humanos papiloma-vírus
(HPV), que com frequência são “pegos” em piscinas, mas somente quando as
tarefas de representação correspondentes não podem ser dominadas de outra
maneira.
Um caso especial é o das verrugas plantares. Nelas se trata de um verdadeiro
espinho na (própria) carne, que pressionam e doem, além de fazerem com que
as crianças não consigam caminhar e, metaforicamente, a avançar. Quem é
impedido de caminhar mal consegue sair daquele período de culto da própria
imagem. Com uma estaca como essa ncada na própria carne, a escuridão
requer atenção. As crianças afetadas são obrigadas a pisar com cuidado e a ser
menos impositivas. Além disso, o sintoma as impede de, inconscientemente,
bater o pé ao longo da vida. A tarefa seria aprender a resistir mesmo em
situações dolorosas e difíceis e perguntar-se onde “o sapato aperta”.
Conscientemente e de maneira espontânea, elas teriam de se deixar
impressionar também por efeitos dolorosos.
Na homeopatia, o quadro medicamentoso da tuia está estreitamente ligado
ao tema “verrugas”. É adequada para pessoas que tendem a esconder de si
mesmas o que é essencial e a ter di culdade para revelar a verdade sobre si
próprias; ao contrário, preocupam-se em calar e encobrir seu lado sombrio.
Nelas existe algo misterioso como as verrugas, que aparecem de repente e, de
modo igualmente surpreendente, voltam a desaparecer. A mudança e a
metamorfose, no sentido mais profundo dos termos, são o ponto central nesse
caso. Verrugas plantares também desaparecem com o medicamento
Antimonium crudum.
Seria o caso de perguntar às crianças afetadas em que as verrugas as
incomodam, o que elas as impedem de fazer, o que foi escondido quando as
verrugas apareceram. Às vezes, também é útil examinar em que zonas de re exo
e meridianos encontram-se as verrugas em questão. A pergunta resultante seria:
“Que temas a verruga quer levantar?”
Para os pais, nessa temática trata-se de desenvolver um olhar mais realista
em relação aos próprios lhos, cujos lados obscuros devem ser levados em
conta; trata-se também de reconhecer que a alma das crianças não é uma folha
em branco, e sim uma história geralmente muito particular e longa. Do ponto
de vista genético, as crianças também herdam alguma coisa dos avós, que não
necessariamente desempenha uma função nos pais. Em constelações familiares
e, sobretudo, na terapia da reencarnação, todas essas relações se destacam
claramente.
As verrugas são, fundamentalmente, uma questão de relaxamento, pois, do
ponto de vista médico, trata-se de um problema de natureza estética. Como
terapia para as crianças, além dos rituais mágicos já descritos, considera-se a
homeopatia clássica no âmbito de uma terapia constitucional. Para pais
intensamente afetados do ponto de vista subjetivo, pode-se pensar em algum
CD, como “Schattenarbeit” [Trabalhando as Sombras].[29] Utilizado
diariamente durante um ciclo lunar, as respectivas digressões no próprio reino
das sombras trarão luz própria para o inconsciente do mundo das sombras.
Também seria útil o reconhecimento das próprias raízes mágicas no passado.
Quase toda criança teve fantasias mágicas e as afastou com maior ou menor
sucesso. Contudo, não são poucos os adultos que ainda sonham com uma terra
encantada sem o lado sombrio da moderna sociedade repressora. Nesse caso, as
verrugas seriam o convite ideal para se reconciliar com os próprios lados
sombrios, que sempre podem se re etir externamente, bem como nos próprios
lhos.
A partir disso, já não estaria tão distante a possibilidade de tratar esse tipo
de excrescência do mundo interior sombrio com métodos sombrios (e ocultos),
ou seja, com homeopatia. É o que os homeopatas clássicos podem pensar ao
analisarem a anamnese, que, naturalmente, também precisa penetrar nos
cantos escuros da alma. Mas isso poderia até signi car que as verrugas podem
ser “desencantadas” de maneira sicamente indolor por um feiticeiro ou outras
bruxas, contudo, sem deixar de atentar para a mudança de mentalidade, no
sentido da metanoia, do arrependimento e de conversão interior.
Obviamente, também seria necessário transmitir compreensão à criança no
que se refere a essa outra realidade. Isso pode ser difícil para pais modernos,
mas para as crianças de hoje é muito importante e signi cativo como, por
exemplo, sucessos como a história de “Harry Potter” repercutem nelas. Em
uma época em que a crença na ciência absorveu em grande medida o caráter
religioso, a alma das crianças necessita justamente dos vastos mundos míticos e
místicos à beira da imagem racional de mundo.
 
Perguntas para os pais:
► Por que as aparências são tão importantes para nós?
► Que dinâmica interna está tentando se manifestar? Podemos ajudar nesse
processo ou simplesmente não impedi-lo?
► Nosso lho está diante de um recomeço?
► Que lados obscuros querem tornar-se conscientes no momento?
► Em que situações nosso lho poderia sair mais de si mesmo?
► Como nos relacionamos com a visão mágica do mundo e em que medida
a transmitimos?
► Somos capazes de reconhecer esse lado sombrio da realidade ou nosso
lho precisa nos estimular a fazê-lo?
 
Outros problemas de pele também são descritos no Capítulo 4 “Doenças
infecciosas”, nas seções “Sarampo”, “Rubéola”, “Catapora” e “Escarlatina”, na
seção “11.2 Dermatite atópica e crosta láctea”, bem como em “19.1.17
Queimadura de sol”.
14 Problemas do metabolismo:

Diabetes mellitus

“Quero ser seu docinho.”


 
O diabete (ou diabetes), antigamente conhecido como “glicosúria”, pode ser
dividido em dois grupos: o diabete tipo I, outrora também chamado de
“infantil” ou “juvenil” e que provavelmente tem causa genética, ou seja, entra
na vida como um encargo e está ligado à total falta de insulina no organismo; e
o diabete tipo II, geralmente adquirido em razão de um estilo de vida nada
saudável, sobretudo por alimentação inadequada ou sedentarismo. Neste
último tipo de diabete, o pâncreas continua a funcionar, mas sua capacidade é
limitada e já não atende às exigências excessivas. De acordo com a Organização
Mundial da Saúde (OMS), o diabete se tornará, junto com a obesidade, que
geralmente o acompanha, a epidemia do futuro. Até o momento, existem
crianças com diabete tipo II, sobretudo nos Estados Unidos; na Alemanha,
felizmente, são raros os casos. Portanto, embora esse quadro sintomático de
fácil distinção tenha considerável importância para a humanidade como um
todo, em nosso livro sobre crianças ele vem em segunda ordem.

14.1 O doce e a energia da vida

No nível físico encontram-se as ilhotas de Langerhans, parte do pâncreas que é


responsável pela produção de insulina e que nos possibilita desfrutar do lado
doce da vida. Logo cedo, o doce é associado ao amor e ao afeto. Em
comparação com outros leites (maternos), o humano é extremamente doce. Os
pais tentam ajudar os lhos a superar as di culdades da vida dando-lhes doces
– por exemplo, enchendo as lancheiras de coisas gostosas, para adoçar os
obstáculos do primeiro dia de aula. Mas sua verdadeira tarefa seria preparar os
lhos para aprender a lidar com as di culdades da vida ao mesmo tempo em
que são mimados com o doce do amor. Do contrário, o açúcar se tornará
apenas um substituto do amor, que pode facilmente viciar. Portanto, todo doce
é substituto do amor!
Entretanto, o açúcar está relacionado não apenas ao amor. Do ponto de
vista biológico, ele é, sobretudo, um fornecedor de energia (que atua
rapidamente). Em princípio, um diabético (sem insulina) morreria de fome
diante de um prato cheio de comida, pois suas células não conseguem absorver
energia. Para tanto, falta-lhe a chave, ou seja, a insulina, capaz de abrir as
células.
O fato de o consumo de glicose deixar o indivíduo mais produtivo é uma
experiência que vem dos tempos primitivos. Nesse sentido, o açúcar é símbolo
não apenas da energia, mas também da produtividade. Após um bom
desempenho em alguma atividade, as crianças recebem doces como sinal de
reconhecimento e como elogio. Antes das tarefas de classe, consomem algo
doce (“Supernescau – energia que dá gosto!”) para produzirem algo especial e,
como recompensa, receberem novamente reconhecimento e elogios. Assim, o
açúcar também se torna um símbolo de reconhecimento.
Desse modo, a criança diabética não consegue absorver energia nem, por
conseguinte, ser produtiva e elogiada. Do ponto de vista homeopático, trata-se,
portanto, de temas como “não conceder a si mesmo muita energia de vida”,
“não conseguir ser ajudado com energia” e “não conseguir absorver nada”. A
questão é se, por trás disso, existe uma recusa em ser produtivo, ou seja, “não
aceitar nada para também não ter de dar nem produzir nada”. Partindo dessa
conclusão, trata-se, então, de aprender a não esperar por elogios. Se a criança
pudesse aprender a recusar doces em um nível metafórico, seu organismo não
seria obrigado a seguir esse programa.
Em vez de querer ser “doce” e agradar, a criança diabética deveria conhecer a
si mesma, valorizar-se e atribuir-se o devido reconhecimento, que, desse modo,
será alcançado e aceito com mais facilidade também fora dela. Na prática,
muitas vezes a criança pequena irá cobrar do ambiente circunstante um doce
que ela não está autorizada a receber.
O doce do açúcar eleva o nível de serotonina, que, por sua vez, causa uma
sensação de bem-estar e proteção. À sua maneira, a natureza provê a vida de
doce e amor, contanto que não a impeçamos de fazê-lo. Desse modo, a
amamentação tem uma função múltipla. Por um lado, fornece o doce leite
materno, que eleva o nível de serotonina, e, por outro, libera oxitocina,
hormônio responsável por uma profunda ligação entre a mãe e o bebê. Além
disso, também são liberadas endor nas, que na mãe podem representar uma
sensação de felicidade. Posteriormente, o doce também está vinculado à
lembrança do período de amamentação, repleto de amor e de bons sentimentos
de união e bem-estar.

14.2 A falta de insulina e suas consequências

A tarefa do hormônio insulina é abrir as células para a glicose, ou seja, para o


açúcar, símbolo do amor e da energia. Quando falta insulina, o açúcar e o
amor não podem ser absorvidos e acabam se perdendo. Do ponto de vista
biológico, porém, isso é menos problemático e perigoso do que aquilo que se
acumula em certos pontos do corpo e que causam, sobretudo, consequências
tardias do diabete para os olhos, os rins, o sistema nervoso, a pele e os próprios
vasos sanguíneos, onde o açúcar se deposita em minúsculos capilares,
bloqueando-os.
Por conseguinte, a energia e o amor não absorvidos obstruem e bloqueiam
através dos vasos os caminhos da energia vital e, através dos nervos, a
transmissão de informações, de maneira que, ao nal, “pouca coisa funciona”,
pois os olhos já não enxergam o mundo, os rins já não mantêm o equilíbrio
entre ácidos e bases, e os nervos já não passam adiante a informação com
regularidade. Em sentido gurado, isso signi ca que a energia e o amor
malconduzidos – também se poderia pensar na ligação de ambos na energia do
amor – impedem o que é mais essencial em nós, ou seja, o uxo da força vital.
Se o mundo exterior não pode ser visto, tudo ao redor da pessoa afetada
torna-se escuro, e boa parte do mundo desaparece da vida. Não apenas nesse
momento, a tarefa é aprender a ver a vida interior (da alma) com os olhos
interiores.
Quando a pele reage com a coceira típica, isso signi ca que as próprias
fronteiras querem ser abertas. As pessoas afetadas sentem que “vão sair de si”. A
energia e o doce da vida estão presos dentro das fronteiras da pele, que quer
estourar. A tarefa de abertura das próprias fronteiras para fora torna-se bastante
evidente.
Uma pele permeada de açúcar também quer se fazer atraente, porém em um
nível inapropriado do corpo; a boneca de açúcar quer parecer mais vistosa e
preciosa, no duplo sentido do termo. Com o amor, ela torna sua pele atraente,
evidentemente expondo-se ao perigo.
Quando o equilíbrio entre ácidos e base e, portanto, entre Yin e Yang,
feminino e masculino é rompido, as pessoas afetadas entram em coma. Desse
equilíbrio depende todo o metabolismo do corpo e, na vida exterior, entre
outras coisas, a relação de companheirismo. Portanto, a tarefa é desistir
espontaneamente do poder e prestar mais atenção nos processos de equilíbrio
que ocorrem no nível psíquico e espiritual e que poderiam re etir na
necessidade de harmonia de muitas pessoas afetadas.
Quando o uxo de informações, ao qual tudo está ligado, é paralisado, a
vida já não pode uir, pois a coordenação é interrompida. Mas a vida é aquele
panta rhei (“tudo ui”), do qual já falavam os gregos. Os aspectos do uxo e,
com eles, a vida são ameaçados pelo diabete tipo I ou, em todo caso, já o foram
antes da descoberta da insulina.
Antigamente, media-se a queda de açúcar ou de amor e energia pela urina;
hoje ela é medida pelo sangue, o que é mais seguro, pois está mais próximo do
problema. O açúcar só pode ser veri cado na urina quando já estiver tão alto
no sangue que ultrapassa o chamado limiar renal.
O sangue como símbolo da força vital que une todos os elementos e órgãos,
além de manter e distribuir o uxo da glicose, do amor e da energia, é
sobrecarregado. Quando a medida normal é ultrapassada, o açúcar e, com ele, a
energia e o amor, transbordam e acabam na urina.

14.3 Tarefas

Outra tarefa seria sobrecarregar o uxo vital com a energia do amor, em


sentido gurado, e deixar o amor e a energia uir, expelindo o excesso. O
grande tema do amor na vida de pequenos e grandes diabéticos de tipo I não
poderia ser expresso de modo simbolicamente mais belo.
A urina é o símbolo de todo o e úvio da alma que é liberado e, assim,
permite que o amor continue a uir. Por sua vez, a tarefa consiste em passar do
nível do corpo para aquele da alma e fazer com que o excesso de amor
absorvido escoe.
Em sentido gurado, essa espécie de “diarreia do amor” também fala pelo
medo relacionado a ele. As pessoas afetadas são pouco abertas nas questões
amorosas e, como suas células, são pouco receptivas e não se abrem ao doce da
vida, pois, para tanto, falta a poção mágica necessária. É evidente a suspeita de
que, quem não permite a entrada do doce, o símbolo do amor, na própria vida,
também não se entrega ao amor.
As crianças que são “produto” e dádiva do amor devem trazê-lo ao mundo;
um amor incondicional, celestial e até divino, que elas conseguem na forma do
amor materno. O ideal é que desencadeiem essa máxima forma de amor em
seus pais e o vivenciem através de ambos e de si mesma. O amor materno
corresponde ao amor divino, pois nada espera nem exige, tampouco impõe
condições, ou seja, é incondicional e aberto para tudo. Ele aceita a criança tal
como ela é e, em sua amplidão e abertura de coração, sente-se profundamente
feliz com ela.
Como dádivas do amor, as crianças deveriam passá-lo adiante. Falamos de
nossos “anjinhos inocentes”, nossos “docinhos”, “a pupila de nossos olhos”,
que, no caso ideal, semeiam o amor entre si próprios e os pais. Assim, o ágape
seria difundido por elas como a máxima forma de amor, o aspecto inocente, o
sincero desejo de união. Essa máxima forma de amor também dispõe do amor
erótico entre os pais e aquele entre os amigos – na Antiguidade, o amor
chamado de philia.
Os avós e os pais retribuem, às vezes de maneira exagerada, essa dádiva do
amor que as crianças neles desencadeiam. Contudo, no nível físico, que
corresponde em grande medida ao psíquico, as crianças diabéticas não
conseguem aceitar e absorver, de maneira su ciente, todo esse amor, em razão
de sua exigência e de sua extensão. A difícil questão resultante desse fato seria:
“Elas não mereceriam receber todo esse amor em vez de logo passá-lo todo
adiante?” Para os pais, há uma pergunta ainda mais extrema: “Elas não
mereceriam receber dos pais o su ciente desse amor, ou seja, a enorme
quantidade que requerem, em vez de se fecharem para ele ao pressenti-lo?”
As crianças diabéticas de tipo I trazem consigo uma expectativa muito
grande. Provavelmente, o tema de sua vida é a energia mais importante de
todas ou, como diz Novalis: “O amor é o amém do universo”. Crianças
diabéticas vivem essa expectativa em relação ao amor (naturalmente, também
mais tarde, quando adultas) de forma especialmente marcada e são muito
carentes. Ao que parece, cobra-se delas uma evolução bastante consciente desse
tema, e talvez também talento. Muitas vezes, elas precisam ir muito cedo para a
“escola especial da vida”. Nela, espera-se que recebam o apoio e a experiência
do amor incondicional da mãe como capital de saída para a exigente
incumbência de viver.
Se o amor pode satisfazer essa expectativa, é uma questão que permanece em
aberto. Em todo caso, ainda não se encontrou nenhuma cura para o diabete
tipo I, que é rotineiro em relação ao de tipo II: esse dado já indica a diferença
qualitativa entre os dois quadros clínicos.
Além do que já foi ilustrado, trata-se de ancorar o próprio eu na vida,
construir uma relação saudável consigo mesmo e aprender a abrir os limites no
sentido de uma educação para o amor sem medo. Do contrário, justamente a
grande expectativa do amor poderia conduzir a uma abertura indiscriminada
dos limites e, com isso, também desencadear pânico.
Nessas crianças, a acentuada vulnerabilidade para infecções permite supor
que os limites do corpo são muito permeáveis, porque os da alma são mantidos
muito fechados. Desse modo, ca claro que a abertura insu ciente no plano
psíquico obriga o corpo a se abrir. Porém, se o corpo vive a abertura no lugar
da alma, acaba se expondo ao contágio dos agentes patogênicos. Melhor e mais
saudável seria fazer a alma deixar-se “contagiar” pelo amor e outros temas.
O comportamento muitas vezes dominante nas crianças diabéticas de tipo I,
caracterizado pela alternância entre a intensa necessidade de amor e pela
disponibilidade para expressar afeto, mostra como elas se debatem entre os
extremos da máxima abertura, de um lado, e do limite estável do eu, de outro,
para usar as palavras com que Erich Fromm descreve essa ambivalência.
As crianças diabéticas de tipo I requerem dos pais uma atenção bastante
concreta, dia e noite. O nível de açúcar no sangue deve ser monitorado mesmo
à noite, e o alimento adequado deve estar sempre pontualmente à disposição.
Nesse cotidiano rigidamente regulado com o constante monitoramento do
açúcar e a alimentação também constante talvez se re ita uma concepção
pedagógica antiga e sedimentada dos nossos antepassados, cujo polo oposto
seria “simplesmente viver e amar”. Em tempos remotos, alguns diabéticos
também conseguiram sobreviver justamente desse modo. É conhecido o caso
de um professor de diabetologia que também sofria da doença desde criança e,
não podendo se tratar com insulina, viveu e até atingiu idade avançada ao
escolher instintivamente alimentos simples e adequados. Portanto, é provável
que, no passado, nem todos os diabéticos tenham morrido, mas, ao contrário,
tenham encontrado o próprio caminho através de um estilo de vida
extremamente simples.
A partir disso, pode-se concluir o desa o de aprender a viver e a alimentar-
se com grande simplicidade e a car feliz e satisfeito com pouco. O que seria
uma saída possível para o diabético de tipo I, para o de tipo II é uma certeza
comprovada.

14.4 “Diabete senil” em crianças

No diabete tipo II, a origem do drama é muito mais fácil de compreender.


Como já foi dito, esse quadro clínico, outrora também denominado “diabete
senil”, tem se difundido rapidamente entre as crianças norte-americanas e
indica uma tendência de alcance mundial. Como sempre ocorreu até hoje,
provavelmente importaremos dos Estados Unidos também essa distorção e
continuaremos a evitar com coerência as maravilhosas oportunidades – como a
mobilidade social, a valorização do mérito, e assim por diante – que essa
grande e extraordinária nação também teria para nos oferecer.
No caso desse tipo de diabete – que realmente podemos prevenir com
e cácia desde o início, com uma alimentação apropriada –, a capacidade do
organismo de absorver e metabolizar a glicose mostra-se exaurida. Geralmente,
essas crianças foram “cobertas” com uma oferta tão grande de açúcar – ou o
substituto físico do amor – que suas células se colaram umas às outras, de
modo que a insulina já não pode abri-las e a glicose não consegue penetrá-las
(insulinorresistência). Para compensar, as ilhotas de Langerhans produzem cada
vez mais insulina, que induz a um aumento da sensação de fome, o que, por
sua vez, leva a consumir mais açúcares e produz um círculo vicioso tão e caz
quanto fatal. Em algum momento, as células B, sobrecarregadas na produção
de insulina, também se exaurem e acabam cedendo.
Na quase totalidade dos casos, o substituto físico do amor chega a uma
carência do verdadeiro amor psíquico. Não fosse assim, por que deveria então
buscar um substituto se recebesse o su ciente do autêntico? Naturalmente, a
alimentação moderna, desprovida de substância mesmo no excesso de calorias
vazias, favorece em muito essa tendência. Entretanto, não faz sentido
responsabilizar a indústria do fast-food, pois também existem outras
possibilidades de alimentação.
Nas crianças diabéticas, nota-se com frequência um desejo intenso de provar
alimentos doces e o lado doce da vida, e, ao mesmo tempo, uma incapacidade
para digeri-los, assimilá-los e deixá-los entrar completamente em seu corpo.
Essas crianças sentem muita fome; com ela, buscam compensar a queda de
produtividade e a exaustão que dela deriva, ou então perdem o apetite.
Portanto, ainda sentem muita fome de vida ou não a sentem mais. A sede
intensa é sinal do desejo por mais água (da alma).
Quem não consegue absorver ou deixar entrar no próprio íntimo (coração e
células) a energia e o doce da vida – seja em sentido concreto, seja em sentido
metafórico – sempre cará insatisfeito e pedirá mais do substituto. Existem até
pais cujo “amor” pelo lho é tão exagerado que não conseguem negar-lhes os
doces tão ansiados, evocando, assim, sua sombra e favorecendo ainda mais a
doença.
A esfera do corpo revela ainda outras coisas a respeito do tema “amor” em
relação às crianças e à sua educação. Açúcar de mais ou de menos no sangue
conduz, em igual medida, ao coma e, com ele, a uma morte lenta. A vida não
resiste à completa falta de amor nem a seu excesso irracional sob a forma de
açúcar! Os terríveis experimentos para descobrir a linguagem primitiva, em que
as crianças eram atendidas em todas as suas necessidades materiais, porém sem
que se lhes fosse dirigida uma palavra sequer, conduziram à sua morte. As
crianças de hoje, que também recebem todo tipo de coisa material em
abundância, mas das quais se subtrai toda di culdade da vida (síndrome de
superproteção), também vão a pique ou, pelo menos, perdem a capacidade de
viver.

14.5 Desafios para os pais e para o ambiente

Conseguir manter em equilíbrio não apenas as taxas de glicemia, mas também


o amor e a liberdade, a superproteção e a negligência certamente representa um
enorme desa o pedagógico para os pais. Sem dúvida, sua tarefa consiste em
transmitir ao lho a capacidade de encontrar sozinho o equilíbrio correto e
mantê-lo, seja em nível físico – entre a hiper e a hipoglicemia –, seja em nível
psíquico.
Além disso, as condições metabólicas dos indivíduos diabéticos mostram
como o amor, se vivido no plano errado, onde se transforma em um substituto,
com o tempo os tornam ácidos e incapazes de viver. Quem não sabe digerir
torna-se, notoriamente, uma pessoa indigesta. Essa incapacidade pode ocultar,
em nível psíquico, um desejo inconfessado de satisfazer-se no amor ou uma
incapacidade de amar, ou ainda o reconhecimento de não ter aprendido a dar e
a receber amor, como também a falta de con ança ao enfrentar ativamente o
tema do amor.
Mais uma vez, impõe-se a questão já formulada: “Esses indivíduos não
valeriam o su ciente por si mesmos para acolherem o amor dentro de si?” Será
que não se sentem su cientemente valiosos para aceitarem algo tão doce como
o amor? Ou será que é o amor que, para eles, não vale o su ciente? Não lhes é
permitido aceitar o amor? O que os impede? Em todo caso, não sabem o que
fazer com ele e o deixam escapar, talvez porque também tenham medo dele.
Quando não passo em uma prova, esta não é superada. Portanto, quando o
amor malogra, será que é porque ele ou essa forma de amor não consegue
superar a prova crítica das crianças diabéticas?
Essas crianças o reprovam porque não é o amor autêntico e incondicional?
Seria, então, a doença do açúcar ou da energia do amor uma exortação aos pais
para que deem o amor correto e incondicional que os lhos teriam condições
de aceitar e assimilar? Naturalmente, essas são as perguntas mais difíceis que os
pais podem fazer a si mesmos; no entanto, devem ser feitas. Como em todas as
interpretações simbólicas dos quadros clínicos, é bom esclarecer mais uma vez
que em nenhum caso se trata de atribuição de culpa, e sim de indicações de
responsabilidade, no sentido da capacidade para encontrar respostas.
As ilhotas de Langerhans do pâncreas, ou seja, as células que produzem
insulina – a substância necessária para metabolizar o amor – são exauridas por
excesso de trabalho, como no caso do diabete tipo II, ou até mesmo destruídas,
como naquele de tipo I. Como foi comprovada a presença de anticorpos
especí cos no organismo, pode-se deduzir que se trata de um processo de
autoagressão. Isso e o fato de que a insulina tem de ser injetada através da pele
revela o con ito entre o tema “do amor que se abre” e o da “agressividade”.
Esse con ito estende-se por todo o processo e está entre as mais difíceis ações
de equilíbrio. Mais tarde, quando as próprias crianças aplicam as injeções em si
mesmas, o ato de autoagressão – nesse caso, necessário – também será visível
em nível terapêutico.
Portanto, as crianças diabéticas matam por si próprias parte de sua vida (a
possibilidade de absorver o açúcar normalmente, ou seja, o amor material).
Antes que a medicina descobrisse esse quadro clínico e aprendesse a produzir a
insulina, provavelmente muitos de fato acabaram se matando; a dureza da
expressão torna ainda mais evidente a ambiguidade dessa doença.
Hoje, esse problema requer “apenas” uma enorme dedicação, a outra forma
do amor ansioso. Originariamente, também nesse caso a mãe tinha de se
dedicar por completo. A medicina moderna consegue, cada vez mais, tirar os
espinhos dessa doença e tornar a vida dos pais mais fácil. Todavia, eles ainda
são submetidos a uma dura prova em seu amor pelo lho diabético, que precisa
de mais cuidados do que os outros lhos. Em outras palavras: os lhos
diabéticos pedem para si mais atenção do que os outros.
Para as crianças diabéticas, a emancipação em relação aos pais também
ocorre mais tarde, e, com a terapia normal de injeções, eles precisam, por
exemplo, de uma regularidade absoluta nas refeições e na vida para usar
corretamente a insulina. Graças à moderna técnica da microinfusão, isso já não
é necessário. Ela indica um relaxamento da antiga obrigação de regularidade
em favor de uma maior liberdade individual porque, em última análise, quase
tudo pode in uir na taxa glicêmica no sangue.
Já em virtude dessas condições de vida, as crianças diabéticas são obrigadas a
assumir precocemente a responsabilidade por si mesmas, e a maior parte delas
aprende a fazer isso de boa vontade. Essas crianças nunca podem permitir-se
abrir a geladeira e servir-se sozinhas nem beliscar escondido um pedaço de
chocolate. A vida ou a doença exige delas uma alta dose de autocontrole.
Aprendem cedo a observar-se, pois devem reconhecer em tempo os sintomas
subjetivos da hipoglicemia, a m de evitarem o coma. Para algumas crianças,
esse procedimento se ativa até mesmo durante o sono. Assim, em geral, elas
conquistam uma autonomia precoce, aliviando também as obrigações da mãe.
Muitas vezes já estão prontas a cuidar sozinhas de si mesmas e a garantir para si
certa segurança em idade pré-escolar.
Quando recebem a dedicação total da mãe e, portanto, experimentam o
amor incondicional, bastante necessário nesse caso especí co, sua autonomia
pode se iniciar surpreendentemente cedo. Uma menina de 5 anos, diabética
desde os 2, aprendeu a responder à pergunta da mãe sobre a dimensão da
própria fome em quantidade de pães. A tendência era bem evidente: quero e
posso fazer sozinha!
O amor materno, como imagem daquele divino, transmite à criança a
dedicação absoluta e a noção de união com o ritmo do ser vivo. Esse amor
incondicional exige muito da mãe; em primeiro lugar, que ela con e na
segurança interna da própria vida, cuja melhor base é a religiosidade, no
sentido da verdadeira religio, capaz de garantir sua reconexão com as origens da
própria alma.
Em tempos remotos, quando a religiosidade era mais profunda e difundida,
provavelmente essa segurança era mais garantida. No caso das crianças
diabéticas, a reconexão parece assegurada apenas por horários, dias, projetos de
vida e ritmos a serem rigorosamente respeitados, mas também pelos controles
contínuos de uma mãe moderna que, muitas vezes, encontra pouco refúgio e
segurança na religião. Toda liberdade e toda ocasião em que se sai da linha
devem ser conscientemente avaliadas pela mãe e, em seguida, pela
responsabilidade individual, pois todo excesso pode constituir uma ameaça. A
falta de percepção de ser parte da Criação, hoje cada vez mais frequente, e a
diminuição da religiosidade, no sentido de “sentir-se amado individualmente
por Deus”, poderiam ser fatores coerentes com o aumento dos casos de diabete.
Já vimos como faz falta um anjo ou espírito da guarda às crianças de hoje.
Quando não há religio e, com ela, a reconexão com a origem e sua sustentação,
até mesmo o amor pode facilmente se perder. Por conseguinte, os pais
modernos deveriam substituir o amor de Deus pelo seu. Trata-se de um
objetivo impossível de realizar na prática, mas que revela, mais uma vez, as
excessivas expectativas a que estão submetidos. É um desa o que supera de
longe as forças humanas. Se os pais vivem sem religião, como poderão
transmitir o amor de Deus aos lhos? Já quando mantêm e fortalecem em seus
lhos diabéticos o acesso ao mundo místico e religioso, estes, como
provavelmente todas as crianças, o acolhem com gratidão. Talvez, guiados por
uma profunda e íntima aspiração, intuam que, por esse caminho, alguma coisa
pode ajudá-los a estar à altura de sua missão existencial, que é fazer uir a
energia e o amor vivo. Além disso, para as crianças e os adolescentes, é mais
fácil aceitar a própria diversidade quando dispõem não apenas da força criativa
dos pais como modelo, mas também da percepção de que também há um
sentido no todo e, portanto, um desa o construtivo.
Nesse fato poderiam ser encontradas as raízes de muitos problemas ligados
ao diabete. No caso dos adultos, muito mais sujeitos ao de tipo II, o signi cado
é evidente: quem aposta na fartura (externa) em vez de apostar na satisfação
(interna) torna-se vítima desse comportamento, que se re etirá na obesidade e
no diabete.
Os choques, as vacinas e as doenças virais são considerados fatores que
desencadeiam o diabete juvenil. Entretanto, como é possível que esse tipo de
acontecimento possa destruir o amor em termos tão radicais?
Mesmo em uma criança desejada e com sólida con ança primária, uma
experiência traumatizante durante os primeiros seis meses de gestação pode
causar uma desilusão ainda mais profunda, uma vez que, repentinamente, ela
terá de constatar que o mundo não é tão celestial como havia sentido até então.
No entanto, justamente sua con ança primária lhe permitirá desenvolver com
mais facilidade uma relação mais criativa, baseada na responsabilidade pessoal.
Por outro lado, se o trauma afetar uma criança insegura ou, em todo caso,
com menos con ança primária, toda a estrutura de sua vida poderá se
desestabilizar até gerar um grande desespero e fazer com que ela, em um ato
inconsciente de autodestruição, extraia à força de suas células produtoras de
insulina ao menos aquele amor conquistável com a coerção. Nesse sentido, os
acidentes precoces, desde a queda de um balanço até traumas causados por
doenças virais ou vacinações, podem ter muitos efeitos que introduzem em sua
vida, também intencionalmente, um estresse considerável, não compreensível
para uma criança. Os bebês experimentam tudo de uma perspectiva unilateral,
marcadamente sentimental e não elaborada pelo componente intelectual. A
irrupção de vírus e a consequente guerra desencadeada no corpo ou uma
vacinação são vividas como uma ameaça, em uma situação em que a criança se
sente desprotegida e sem amor, e podem levar a reações consideráveis.
Todavia, mesmo os abalos da alma poderiam ter o mesmo efeito, fazendo
com que se revivesse o choque da própria origem; por exemplo, a insegurança
causada por tentativas fracassadas de aborto, das quais deriva o reconhecimento
de não ter sido desejado ou amado, até todas as experiências familiares, que
levam à consciência a falta de uma aceitação originária.
O medo primário da criança é o de ser abandonado pela própria mãe. Por
meio do diabete, a criança a liga a si própria muito mais intensamente e a
longo prazo, afastando, assim, seu maior temor. Nessas situações, a mãe é
chamada a trabalhar, com mais consciência, a construção da autocon ança do
lho, para que ele possa amadurecer o amor independente e criativo, necessário
à própria missão de vida.
A possível hereditariedade desse quadro clínico (tipo I) mostra que a
temática do amor, trazida para dentro da família, pode se tornar uma tarefa que
se estende até por gerações.
No caso das crianças afetadas pelo diabete tipo II, cuja maioria sofre
manifestamente de obesidade ou está acima do peso ideal, vários fatores estão
em jogo. Crianças acima do peso certamente recebem dos pais menos amor e
mais de seu substituto. Dominados pelo medo de perder o afeto dos lhos, os
pais se veem na difícil situação em que dizer não e ser coerente muitas vezes são
considerados falta de amor. Na verdade, desse modo não estão demonstrando
amor, ou então o estão fazendo com um substituto, através de uma
recompensa. Às vezes, como os pais trabalham, trata-se de uma simples
compensação. No tempo restante, a criança é coberta de brinquedos,
programas de televisão e jogos de computador em vez de amor. O alimento
também é escolhido exclusivamente conforme seu gosto, e ela logo expressa sua
rejeição, geralmente de maneira clara. Para não desiludi-los ou por temor de
ouvir: “Você não me ama, pre ro ir com o papai (ou com a vovó, a titia, etc.)”,
muitos pais se submetem à vontade dos lhos. Quase todas as crianças
dominam perfeitamente esse repertório e sabem usá-lo quando seus interesses
estão em jogo e percebem quando os pais estão com a consciência pesada.
Tudo isso dura até a capacidade de funcionamento das ilhotas de Langerhans
não se exaurir e surgir a chamada insulinorresistência, ou seja, até as células não
se tornarem insensíveis à insulina e, por re exo, passarem a produzi-la em
maior quantidade, gerando, consequentemente, uma sensação de fome ainda
mais intensa. Caso o organismo, já bastante maltratado, tenha de aumentar
ainda mais a produção de insulina, o esgotamento completo dessa função é
apenas uma questão de tempo.
No caso de uma alimentação sem amor ou composta apenas de seu
substituto, as células se exaurem com tanta rapidez que o diabete,
originariamente senil, também alcança aos poucos a infância. Esse fenômeno
mostra com clareza a que ponto chegamos no que diz respeito ao amor e à
alimentação.
Além desse dilema, em que não apenas a situação do amor mas também a
alimentação desempenham um papel central, cabe naturalmente a seguinte
pergunta: “O que veio antes: o ovo ou a galinha?” Será que essas crianças,
desde o início alimentadas em excesso com as calorias vazias do supermercado
e, por conseguinte, acima do peso desde cedo, pareciam menos amáveis? Ou
será que se sentiam tão pouco amadas desde o início que tendiam, como forma
de compensação, a comer em excesso, tendo ainda à disposição apenas os
alimentos pouco nutritivos das seções de ofertas desses mercados?
 
Perguntas para os pais:
► Nosso “ lhotinho” foi realmente desejado?
► Por que nosso lho não consegue receber nosso amor?
► Por que não se sente digno?
► Somos capazes, ambos, de amar nosso lho incondicionalmente?
► Ele recebe dedicação su ciente?
► Como a religio, a reconexão com as origens, no sentido mais profundo, é
vivida em nossa família?
► Nosso lho tem alguma razão para temer ser abandonado por nós?
 
Medidas de apoio:
► Em relação ao diabete tipo II, existe um grande número de possibilidades
no âmbito dos Pilares da saúde[30] quanto à alimentação, ao movimento
e ao relaxamento.

Já no caso do diabete tipo I, trata-se de uma missão de vida que requer,
sobretudo, paciência e humildade. O importante é ter em mente que as
missões existenciais não podem ser resolvidas em pouco tempo. Todo ser
humano razoavelmente realista sabe que não é simples desenvolver o
amor incondicional. Nesse caso, só se consegue uma familiarização com
ele através da consciência, da maturidade, do senso de responsabilidade e
da empatia. Também devemos permitir aos nossos lhos que eles utilizem
o próprio tempo na vida para essas tarefas. São poucos os outros objetivos
que contêm um desa o tão grande.
► Dar e receber: a tarefa consistiria em encontrar o meio-termo entre dar e
receber. Obviamente, a experiência da dependência de insulina também
pode ajudar a compreender as dependências emocionais. Em qualquer
idade, aquele que consegue reconhecer e viver o dar e o receber como os
dois lados do amor e da realidade também conseguirá desfrutar do doce
da vida em sentido gurado.
15 Problemas espirituais e emocionais

15.1 Medo

“Tudo é muito apertado para mim.”


 
Muitas vezes, o fenômeno psíquico do medo determina alterações também no
nível físico. A tensão dos músculos aumenta, e o tônus elevado provoca outras
consequências, que modi cam todo o ritmo do corpo; isso signi ca que a
respiração, a pulsação, a pressão sanguínea e, em última análise, toda a
siologia são in uenciados. As secreções corpóreas também se alteram: desde a
tendência a suar (de medo), passando pela diarreia (“fazer nas calças”, “borrar-
se todo”), até chegar à necessidade de urinar. Muitas vezes, a tudo isso se
acrescentam distúrbios de concentração e inquietação, certa vigilância ou
tensão, bem como distúrbios do sono, apesar do cansaço.
Em geral, os medos infantis nem chegam a se manifestar tão diretamente, e
sim, por exemplo, por meio do retraimento, do emudecimento, de um
aumento da agressividade ou das mudanças de comportamento. Nesse caso, é
particularmente importante entender o problema observando as alterações
físicas. Infelizmente, sobretudo os meninos aprendem e tendem a não
demonstrar seus medos. Comentários tolos, como “homem não sente dor”,
“seja valente!” ou, pior, “homem não chora”, intensi cam ainda mais o dilema,
embora, felizmente, essas pretensões de não experimentar certos sentimentos e
menos ainda mostrá-los vão se reduzindo com o tempo.
Os medos se manifestam sobretudo na garganta, apertando-a, na nuca,
onde residem, e na respiração, que podem bloquear. Muitas vezes, o medo está
ligado à sensação de sufocamento em um espaço apertado, de estar preso, de
ter caído em uma armadilha, de estar impedido de se movimentar ou de
encontrar limitações nas necessidades essenciais da vida.
Os antroposo stas partem do princípio de que o medo é percebido como
“ser lançado de volta à estreiteza do corpo”. O aspecto psíquico permaneceria
represado no corpo. A maior parte de seus pediatras considera que, até os 3
anos, as crianças re itam apenas o medo de suas mães. Até então, elas seriam
interessadas, despreocupadas e curiosas. Desse modo, o medo materno pelo
lho durante a gestação corre o risco de se tornar o medo da criança. Um
campo de medo precoce imprime-se de maneira particularmente intensa; de
modo geral, podemos a rmar que, quanto mais precoce, tanto mais indelével é
sua marca. Na realidade, tudo isso é contradito pelas experiências de terapia de
reencarnação, durante as quais constatamos que as crianças sofrem plenamente
o medo da morte já durante as tentativas de aborto. O medo é um tema
primordial, um arquétipo que se aproxima muito do princípio saturnino. E,
como todos os arquétipos, tem dois lados, evocados por André Heller em sua
canção sobre o medo: “Existe um medo que nos torna pequenos, doentes e
sozinhos. E existe outro que nos torna sábios, mais corajosos e mais livres da
desilusão por nós mesmos”.
Essa desilusão é a principal estratégia da nossa “sociedade de seguros” contra
o medo. Por esse caminho, produzimos constantemente uma segurança
aparente em vez de reconhecermos que a vida é muito perigosa. A única coisa
segura é a mudança. Mesmo a exclusão da morte e seu “remanejamento” por
meio de tentativas ridículas como os seguros de vida ilustram claramente nosso
dilema. O medo é maior do que pensamos; e, como bem mostra a terapia de
reencarnação, a criança já o traz para a vida. Isso é facilmente compreensível se
pensarmos que, em geral, trata-se de uma alma antiga, que já passou por
muitas experiências, das quais conserva muitas lembranças, embora estas, com
o passar do tempo durante a gestação, se desvaneçam progressivamente. São
apagadas para deixar espaço para novas experiências. Contudo, não são poucas
as crianças que conservam essas experiências também por mais tempo, algumas
delas até bem depois do nascimento.
Essas experiências, bem como os medos provenientes da cadeia das vidas,
passam para segundo plano à medida que a alma se apropria do corpo. No
estágio inicial, quando as estruturas do corpo ainda são transparentes, a
respectiva percepção é transcendente e próxima da unidade; ela ainda abrange
as existências anteriores. Aos poucos, porém, as experiências transcendentais
regridem na mesma proporção da transparência.
Portanto, o modelo fundamental do medo já existe e pode ser revivido
muito facilmente. Nesse sentido, dever-se-ia chegar a um acordo entre as duas
concepções. Geralmente, a criança não é um “anjo inocente”, como gostamos
tanto de considerá-la, mas também é tão novo neste mundo que, como uma
esponja, absorve os condicionamentos preexistentes e rapidamente se torna o
espelho dos pais, especialmente da mãe. Como a criança assimila suas
percepções essencialmente através da mãe e dela recebe sua energia, ela também
absorve os medos maternos sem nenhum ltro.
Contudo, evitar o medo seria, basicamente, o caminho errado, pois as
crianças precisam ampliar seu horizonte de experiências e, ao fazer isso, viver
quase obrigatoriamente situações difíceis e medos. Em sua obra clássica
Grundformen der Angst [Formas Básicas do Medo], Fritz Riemann escreve
como os medos assumem nas pessoas um caráter bem mais fundamental do
que nos animais. O animal cresce dentro do seu hábitat, que se torna cada vez
mais familiar para ele. Ao mesmo tempo, ele se torna cada vez mais parecido
com seus pais. A criança, ao contrário, teria de sair ativamente do seu hábitat
originário. Nas bases do desenvolvimento humano estaria o questionamento
dos vínculos naturais e das relações transmitidas, inclusive os dos pais e dos
parentes de sangue. A dinâmica decisiva nesse processo é representada pelo
desenvolvimento da consciência, do horizonte espiritual e do pensamento
individual. Inicialmente, ela conduz à individuação autêntica do ser humano e,
assim, à sua capacidade de pensar, decidir e agir de modo diferente de seus
antepassados e de seus pais, bem como à faculdade de romper velhas pontes
para o mundo e de percorrer novos caminhos. No entanto, ao agir dessa
maneira, o próprio eu do ser humano em formação enfrenta a experiência
psíquica do medo. Durante seu desenvolvimento, toda criança mostra esse
processo.
Nesse sentido, provas de coragem como os rituais da puberdade pertencem,
enquanto provas da alma, ao desenvolvimento cultural do homem; portanto, é
necessário que as crianças e os adolescentes o vivam conscientemente e, assim,
aprendam desde o início a dominar as situações de medo. Portanto, a ausência
de medo, por exemplo no caso das crianças que sofrem de TDAH, não é uma
vantagem; ao contrário, é um aspecto patológico. Essas crianças “não entendem
alguma coisa”, falta-lhes a completa percepção psíquica de determinadas
situações.
Por conseguinte, o medo é natural e pertence à vida. Com efeito, uma
criança na cidade, sem medo de automóveis, estaria perdida. Todavia, é
surpreendente que a maioria das crianças sinta pouco medo de ameaças reais,
como automóveis, mas sofra de muitos outros medos à primeira vista
irracionais.
Normalmente, os pais desejam poupar os lhos de todo tipo de medo.
Contudo, a longo prazo, essa estratégia enfraquece os pequenos, colocando-os
na defensiva e reduzindo seu êxito na batalha da vida. Muito melhor seria se os
acompanhassem em seus medos. Pais sábios não acendem a luz, mas avançam
no escuro com o lho. Tampouco vão para o outro lado da rua quando um cão
se aproxima; em vez disso, pegam a mão do lho para que enfrentem o perigo
juntos e até o olhem nos olhos. Acender a luz e atravessar a rua seriam o
caminho alopático; o homeopático consiste no acompanhamento solidário pela
escuridão e em lidar com o suposto perigo.
Portanto, as crianças trazem dentro de si certa predisposição ao medo, que
se atualiza novamente no momento do nascimento. E re etem de modo
surpreendente os medos dos pais. A vida moderna, que, especialmente nas
cidades, procede com uma estreiteza crescente e, como se não bastasse, traz
consigo separações frequentes e muito precoces entre mãe e lho, dá sua
contribuição à avalanche de medo que hoje encontramos na prática clínica.
15.1.1 A nova epidemia do medo: os ataques de pânico
Há trinta anos, o conceito de “ataques de pân-ico” nem chegava a constituir
um tema na medicina. O que fez com que esse quadro clínico, muitas vezes
acompanhado de sintomas vegetativos graves, crescesse como uma avalanche
certamente foi uma combinação de fatores. Além das condições alimentares
alteradas, um elemento ulteriormente determinante poderia ser o fato de que a
moderna sociedade do bem-estar “poupa” seus lhos – com boa intenção ou
até inconscientemente – de todos os rituais que poderiam reconciliá-los com
Pã, o antigo deus da natureza. Da cintura para cima, ele é um deus
maravilhoso que toca auta (de pã) e encanta ninfas com seu som celestial;
porém, da cintura para baixo, é um indivíduo diabólico e brutal, em contínua
ereção, que violenta as ninfas por ele encantadas.
Também por causa desse aspecto duplo, a natureza é cada vez mais evitada.
Já não con amos nela, pois não podemos controlá-la nem dominá-la até o m
e a tememos quando ela se manifesta em forma de pequenos carrapatos,
tempestades violentas e memoráveis catástrofes naturais. Por isso, como tudo
que é reprimido e desprezado, ela retorna para a vida pela porta dos fundos,
através das sombras, ou seja, do pânico.
Crianças e jovens têm uma necessidade natural de sair de casa, de
“experimentar o terror”, fazer viagens de descoberta na natureza. Nisso residiria
a extraordinária possibilidade de poupá-los de ataques posteriores de pânico.
Por meio do conhecimento direto e consciente do velho deus da natureza, bem
como das criaturas, do espírito, mas também dos seus demônios, elas poderiam
ganhar outra grande mãe: não apenas sua mãe física e sua avó, mas também a
mãe natureza. Quem já passou noites na oresta ou na selva, na montanha ou
na praia; quem conhece o deserto e, sob o céu aberto, sente-se unido aos
rumores, aos sons e aos timbres do mundo natural, mais tarde não terá
problemas de pân(ico).
Naturalmente, também seria oportuno não reforçar esses medos de modo
arti cial, fazendo com que as crianças “comam” o medo em forma de carne
proveniente de grandes abatedouros. Devido ao terror de morrer, sentido pelos
animais ao serem abatidos, a carne é repleta de medo e de hormônios do
estresse. Consumir esse tipo de carne signi ca, de fato, ingerir medo. Ao peixe
certamente tampouco é reservada uma morte “mais humana”; contudo, seus
neurotransmissores parecem não agir em nós do mesmo modo, uma vez que,
no plano da evolução, estão muito mais distantes de nós. Por este e por outros
aspectos, o peixe constituiria, de longe, a fonte mais favorável de proteína
animal.
Outro medo é estimulado quando tentamos fazer com que as crianças
evitem todos os riscos e a vida. A contínua vigilância, cuja intenção é impedir
que a criança caia, que se queime com uma vela ou morda uma casca de queijo
dura, cria medo e obstáculos ao desenvolvimento de uma autoestima saudável e
da capacidade de, no futuro, aprender a avaliar com autonomia as situações da
vida. Os pequenos acidentes e as feridas impedem com muito mais e cácia os
grandes perigos e medos do que a vigilância contínua. Por meio dos acidentes
inofensivos, a criança aprende a decidir sozinha e a adquirir a capacidade, de
acordo com sua idade, de administrar e superar as di culdades. A
responsabilidade por si mesma em relação à sua idade e, mais tarde, também
pelos outros, é o modo mais e caz de sentir-se adulto na vida e, ao mesmo
tempo, de não desenvolver medos excessivos. Geralmente, os ataques de pânico
se desencadeiam por meio de uma experiência avassaladora de desamparo e
sujeição; já a experiência do “eu posso” libera grandes e pequenos dos seus
papéis de vítima.
15.1.2 O nascimento como chave para o medo

Durante todo o processo do nascimento, a criança já vive uma dupla iniciação


ao reino do medo. Depois de atravessar e sofrer, com medo, o estreito canal do
parto, o recém-nascido vive, imediatamente após o nascimento, a experiência
da amplitude. Ele terá de conquistar essa amplitude e crescer nela, mas ela
também pode lhe causar medo. É o que se observa com especial clareza nos
casos de cesariana, em que a estreiteza é seguida, quase sem passagem, pela
enorme amplitude do espaço, com seu frio e sua luminosidade ofuscante.
A própria situação anatômica já deixa claro que a estreiteza do começo é
aterrorizadora. No início da gestação, a criança sente a extática ausência de
peso ao boiar livremente e a leveza utuante do ser. Ela ainda não consegue
perceber os próprios limites físicos devido à temperatura idêntica entre si
própria e o líquido amniótico; portanto, vive a percepção sem limites do
in nito. Mais tarde, durante o próprio crescimento, sua cavidade celestial
torna-se cada vez mais estreita, até transformar-se em uma espécie de inferno
terreno, uma prisão da qual tem de fugir.
A única saída é para baixo, indicada pelas dores do parto. Mas ela signi ca
que a criança terá de en ar a cabeça na pequena pelve da mãe, onde se vê como
em uma morsa, comprimida e apertada de todos os lados. A partir desse
momento, as dores de compressão a empurram ritmicamente para a frente,
embora a saída ainda esteja fechada. A natureza usa a cabeça do feto como
bate-estaca para abrir a boca do útero. Nessa situação, sem verdadeiro
progresso, o medo da criança é existencial e máximo. A esse respeito, as
experiências da nossa terapia de reencarnação, cujo componente fundamental é
reviver o nascimento, concordam inteiramente com as pesquisas do psiquiatra
Stanislav Grof sobre os estágios do nascimento, por ele denominado “matrizes”.
Como naturalmente toda criança deve percorrer esse caminho na vida,
somos obrigados a deduzir que ela precisa da iniciação ao medo e da estreiteza
do nascimento. Se superar o nascimento, conquistando livremente e com sua
cabeça relativamente grande o caminho para a vida, a criança terá realizado seu
primeiro e decisivo trabalho na luta pela existência. Portanto, o medo pertence
claramente à vida.
Ao contrário do que ocorre com muitos animais, para nós, com esse
mergulho de cabeça no mundo, nada está feito ainda. Sozinhos, os recém-
nascidos não têm condições de sobreviver, pois nasceram imaturos. Não
podendo caminhar, não são capazes de fugir; assim, cam inteiramente
entregues ao ambiente que os circunda ou aos pais. Esse fato também é fonte
de medo, pois toda separação da mãe poderia ser de nitiva e, por conseguinte,
ter o medo como reação. Porém, no cotidiano moderno, é quase impossível
para a maioria das mães permanecer sempre ao lado dos lhos. Essa é outra
grande fonte de medo em nossos tempos. Por outro lado, também existe
claramente a oportunidade, demonstrada pelo já mencionado “método
canguru” e por outras soluções semelhantes, de manter a criança bem junto do
corpo da mãe por um longo período. A prevenção ao medo deveria iniciar já
nesse momento.
 
Perguntas para os pais:
► Do que temos medo e como lidamos com ele?
► Nosso lho re ete nossos medos?
► Qual é a situação em relação à nossa con ança primária?
► Como nos relacionamos com o tema da morte?
► Deixamos espaço su ciente para nosso lho ter suas próprias experiências
e lhe damos apoio em relação a elas?
► Em que momentos nos sentimos desamparados e abandonados?
 
Medidas de apoio:
► Seria muito importante transformar o nascimento em uma festa, no sentido
das descobertas feitas pelos obstetras franceses Frédérick Leboyer e Michel
Odent, a m de evitar a criação do modelo do medo ou revivê-lo.
► Serotonina: outro passo para minimizar o medo e estimular a sensação de
bem-estar na criança consistiria em provê-la de uma quantidade su ciente
do “hormônio do bem-estar”, a serotonina. A mãe pode providenciá-lo
durante a gestação e no primeiro ano de vida, assegurando-lhe as
matérias-primas necessárias e facilmente disponíveis nas Aminas,
alimento cru lio lizado. A partir do segundo ano de vida, as crianças já
podem beber sozinhas as Aminas no suco de frutas. A única coisa a que se
deve prestar atenção é que a colher de alimento cru triturado seja tomada
em desjejum e seguida por muito líquido, de preferência água, para que o
pó seja absorvido pelo estômago. Por meia hora, a criança não deve
ingerir mais nada. O bem-estar e a abertura, que se tornam possíveis com
uma quantidade su ciente de serotonina, são o melhor equilíbrio contra
os medos.
 
15.1.3 Medos típicos das crianças nos vários estágios do desenvolvimento
15.1.3.1 Medo do escuro

O medo do escuro e, portanto, também da noite, denominado pela medicina


de pavor nocturnus (ver a seção 15.3.2.2), é o medo da sombra, do
desconhecido, que muitas vezes também se exprime no medo do “homem do
saco preto”. As crianças cam fascinadas e, ao mesmo tempo, com medo desse
lado da sua alma. O encontro com o reino das sombras é uma experiência
primária do ser humano, assim como o próprio medo, que ele não precisa
aprender, pois já o carrega consigo. Nas crianças também se reconhece certa
abertura, proporcional à sua con ança primária, em relação aos âmbitos
obscuros da própria existência; já os adultos modernos, ao contrário,
geralmente recuam assustados diante desses aspectos. Entretanto, a abertura das
crianças se presta de maneira ideal para acabar com o medo, uma vez que nada
expulsa mais rapidamente a angústia do que a abertura e a amplitude. Assim
como a luz desfaz as trevas, a amplitude dissolve o medo. Mesmo que nesse
caso o princípio alopático esteja em primeiro plano, não deixa de fazer sentido.
Além disso, é importante dedicar-se “homeopaticamente” ao escuro e à
angústia através dos contos de fadas e das viagens da imaginação. Esse
procedimento é muito melhor do que os procedimentos de pseudossegurança,
como as estratégias para evitar possíveis perigos e o controle constante embaixo
da cama para se assegurar de que ali não há nenhuma criatura obscura. Como
os contos de fadas sempre indicam à criança o melhor caminho para lidar com
o lado obscuro da vida, elas oferecem uma saída con ável, pois sempre
terminam com a vitória sobre a escuridão e, portanto, com uma experiência de
sucesso.
15.1.3.2 Medo de fantasmas

O medo de fantasmas ou de espíritos tem uma origem semelhante àquela do


medo do escuro e se refere ao outro mundo, ao reino da transcendência, do
sobrenatural, dos poderes obscuros do além, muitas vezes associados ao mal.
Esse fenômeno requer considerações semelhantes às já mencionadas e, em vez
de evitar esse mundo e criar tabus, faria mais sentido fornecer à criança, talvez
por meio de histórias e contos de fadas, um acesso a essa dimensão e certa
segurança ao lidar com ela. A moda do “Harry Potter” atende justamente ao
desejo do oculto e das trevas, ressaltando, desse modo, a necessidade de
confronto com os lados obscuros da vida.
Se os pais pegarem pacientemente seus lhos pela mão e com eles viverem o
que causa medo, as crianças se sentirão compreendidas da melhor forma e, ao
mesmo tempo, protegidas e fortalecidas, uma vez que, em todas as ocasiões
semelhantes, estarão em condições de absorver parte da coragem dos pais.
Mesmo quando olham junto com a criança embaixo da cama ou lhe dão uma
lanterna de presente, para que ela olhe sozinha, ajudam-na a construir mais
segurança e autonomia. A exortação “olhe o que te assusta” também é o melhor
conselho para as situações posteriores em que a criança enfrentará medos
abstratos ou reais.
Cartazes com os dizeres “Proibida a entrada de fantasmas!” também podem
se revelar úteis em algumas fases da vida. As crianças que acabaram de aprender
a respeitar as proibições atribuem o mesmo comportamento a outros seres
vivos, incluídos os espíritos. Além disso, é natural que estes também obedeçam
aos cartazes de interdição, uma vez que provêm do mesmo mundo psíquico e
interno das crianças.
Com as crianças maiores, obtém-se uma dupla vantagem ao se perguntar a
elas: “O que faz com que você que bem forte para espantar os espíritos?” Por
um lado, a criança buscará a solução em si mesma (com o apoio e o
reconhecimento dos pais); por outro, terá a sensação do “eu sei o que é bom
para mim”, fortalecendo, assim, sua autoconsciência.
15.1.3.3 Medo de ficar sozinho

O medo de car sozinho, bem como aquele do abandono, da separação da mãe


ou de perdê-la, equivale ao medo do próprio desamparo. Esse medo pode
manifestar-se especialmente no ventre, onde a criança estava unida à mãe pelo
umbigo e pelo cordão umbilical. Depois de separadas do corpo protetor da
mãe, as crianças aprendem a se tocar, a se acalmar e a ter con ança. Nessa fase,
são muito importantes as experiências táteis individuais na troca com o
ambiente mais próximo.
Os animais aliados e os anjos da guarda são muito úteis nessa situação.
Quem os tem ao seu lado nunca está sozinho.
Com crianças mais velhas, também é importante fazer com que se sintam
bem sozinhas. A primeira experiência, talvez enquanto a mãe vai rapidamente
às compras, pode indicar a direção a ser tomada no futuro. Adequadamente
preparada, antes e depois da temporária separação da mãe, a criança pode
perceber que, nesse breve período, consegue administrar as próprias
necessidades, podendo e devendo decidir tudo sozinha.
É importante que a mãe seja con ável e retorne após um tempo
preestabelecido; igualmente importante será, mais tarde, que ela possa ser
encontrada por telefone, quando a con ança não for su ciente. Depois de uma
primeira experiência positiva, normalmente o caminho é aplainado para as
posteriores, que também poderão ser feitas conscientemente pela criança.
15.1.3.4 Medo de trovões

O medo de trovões re ete o temor da força primordial, do poder insuperável,


da natureza, de estar entregue, sem proteção nem auxílio, e da perda total de
controle em relação ao divino, que se mostra em Zeus – deus grego, pai dos
deuses, lançador de raios – e em or, deus do trovão para os povos
germânicos.
Dependendo da idade, essas personi cações podem atenuar o medo. Nas
crianças maiores, muitas vezes é útil transmitir-lhes o espanto, em sentido
positivo, com a natureza, bem como o respeito ou a reverência para com seu
poder.
15.1.3.5 Medo de cães, insetos, aranhas e cobras

O medo de cães, especialmente daqueles que latem alto, re ete o medo da


agressividade, inclusive daquela do lobo que reside na alma. Este simboliza os
aspectos obscuros e espirituais da violência e atua como guardião do reino dos
infernos, destruidor como o lobo Fenris dos germanos e ameaçador como o cão
Cérbero dos gregos. Para as crianças, o reino dos infernos é, ao mesmo tempo,
repugnante e fascinante, e nisso reside uma grande possibilidade. Se
aprenderem a reconciliar-se com os cães e com a agressividade, também
conquistarão um acesso natural à energia vital, que falta a muitos adultos e,
mais tarde, é mais difícil de ser trabalhada.
Por outro lado, quando falamos de “medo animal”, estamos nos referindo a
uma ameaça para a vida, que tem a ver, sobretudo, com o fato de se estar à
mercê dos acontecimentos, como ocorre com os animais em relação aos seres
humanos, quando, por exemplo, são abatidos ou torturados.
Obviamente, a humanidade internalizou experiências ancestrais su cientes
para nos transmitir a percepção da absoluta periculosidade dos animais para a
nossa vida. Nas nossas cidades, onde a vida animal geralmente se reduz a
alguns insetos inócuos e a animais domésticos mansos, o medo em relação a
eles parece “anormal”; porém, do ponto de vista da história da humanidade, é
bem compreensível. A interação com os animais, por exemplo na área do
zoológico em que as crianças podem tocá-los, ou com os domésticos vai de
encontro a esse medo, que normalmente é bastante real. Nesse caso, a solução
ideal seria substituir o medo pelo respeito e por um cuidado razoável para com
a criatura viva.
A melhor proteção contra o medo é uma con ança primária sólida e a
autocon ança que dela deriva. Esses elementos se formam nos primeiros meses
de uma gestação tranquila.
Durante a infância, a prioridade é oferecer à criança um ninho
possivelmente bem protegido, sem, contudo, incorrer na síndrome da
superproteção.
Os insetos causam medo porque perturbam nosso ego. Por conseguinte,
crianças muito pequenas não sentem medo deles. O mesmo se pode dizer das
pessoas que vivem em contato com a natureza e que não se incomodam nem
um pouco, por exemplo, se moscas passeiam em seu rosto. Com a expansão do
ego e, consequentemente, da pretensão de controlar o ambiente circunstante,
de ser senhor na própria casa e, de todo modo, do próprio rosto, os insetos são
vistos como incômodos e, no caso de grandes aspirações, como assustadores.
A isso se acrescenta o medo de ser picado e lesado por sua picada. Também
poderia haver o medo de ser invadido por aquilo que é estranho, uma vez que a
própria película protetora é ferida. Por meio da picada do inseto, a criança
torna-se consciente da própria vulnerabilidade fundamental. Nesse caso, o
medo é proporcional à dor sentida.
Quando há medo e dor, a pessoa se retrai por instinto, alimentando
naturalmente a sensação de estreiteza. Como terceiro aliado acrescenta-se o
frio. Esses três elementos preparam mutuamente o terreno para si próprios e
fortalecem um ao outro. A esse respeito, é sempre importante, em situações de
dor, reduzir ao máximo o medo da criança e proporcionar-lhe um aquecimento
confortável. Em situações de medo, é útil tentar recuperar pelo menos o calor
protetor e reduzir a dor. Analogamente, nas situações de frio, também é
importante reduzir a dor e o medo.
No caso de aranhas e cobras, trata-se do medo do princípio arquetípico de
Plutão e da própria perfídia inconsciente, bem como do desejo de seduzir.
Nossa interpretação ocidental atribui, quase sem exceção, apenas qualidades
negativas a esses animais, ao contrário do que fazem as tradições orientais ou
indianas. Com o auxílio de contos de fadas e mitos, elas também oferecem a
possibilidade de estimular o respeito, tão importante, por esses animais.
15.1.3.6 Medo do novo

No caso dos dentes, que representam uma irrupção frequente do medo na vida
jovem, misturam-se o temor da dor e o medo de tudo que é novo. O medo
estreita e aumenta a sensação de dor. Portanto, quando ele a provoca, é
necessário primeiramente eliminá-lo ou atenuá-lo, quando possível, como
meios sustentáveis. A dentição é a irrupção do novo na vida, nesse caso, da
agressão. Tudo que é novo causa medo pela primeira vez. Depois de feita a
experiência, o medo se perde. Nesse sentido, o melhor a se fazer nesse caso
também seria acompanhar a criança em seu medo, por exemplo carregando-a
no colo durante a dentição. Mais uma vez, como nos primórdios da vida, a
criança precisa se abrir, ampliando-se para um novo tema, e essa amplitude em
favor do novo, na abundância de possibilidades, pode obviamente provocar
medo e angústia.
Contemporaneamente à irrupção dos dentes, que se dá por volta dos seis
meses de vida, as crianças também começam a interagir com o mundo que as
circunda, reagindo com medo a pessoas estranhas que até então não as
assustavam. A partir desse momento, podem aprender a “separar-se” da mãe.
Nessa fase, provavelmente se torna mais difícil amamentá-los, o que poderia
levar ao desmame. Mas se a criança continuar a mamar com vontade, não há
razão para considerar o desmame; a criança pode continuar a ser amamentada,
como ocorre nos povos primitivos. Os céticos do campo da medicina
acadêmica ou da moda, bem como os consultores pro ssionais e os parceiros
estão totalmente errados a esse respeito.
O medo dos estudantes antes de uma excursão da escola, devido à
expectativa de sentir saudade de casa, denota falta de coragem ao ir de
encontro ao novo, ao diferente e a tudo que não é habitual. Nesse caso, com
pequenos passos no sentido da dessensibilização, podem ser alcançados
verdadeiros progressos. Se a primeira viagem for para a casa da avó, situada nas
redondezas, e a mãe puder voltar a qualquer momento, logo o medo é afastado.
A partir desse momento, podem-se empreender passos cada vez mais corajosos.
15.1.3.7 Medo de repetir o ano ou de não conseguir progredir

O medo de repetir o ano na escola aviva aquele ainda mais remoto de ser
deixado para trás ou abandonado pela mãe. Como originariamente isso
signi ca a morte certa, esse medo pode ser muito forte e ameaçador. O temor
de não conseguir progredir e ser deixado para trás é muito próximo e
semelhante àquele de não passar nas provas, de não ser su ciente e de fracassar
em caso de necessidade. Normalmente, por trás disso se esconde uma falta de
con ança em si mesmo e, portanto, de con ança primária, às vezes também
uma espécie de perfeccionismo, hereditário ou adquirido. A criança tem a
sensação de não ser su ciente, conforme já exprimem os conceitos “de ciente”
ou “insu ciente”, usados na escola. Nesse caso, o medo de decepcionar e o de
passar vergonha andam juntos. A esse quadro também pertence a preocupação
da criança de ser amada somente se obtiver bons resultados (na escola).
Portanto, é decisivo o temor da reação dos pais e dos professores. Na
ausência de quem julga os resultados, esse medo logo se extinguiria. Pelo
menos os adultos deveriam ter esse mecanismo bem claro em mente. Isso não
signi ca renunciar ao resultado, mas poderia conduzir a buscar métodos para
exigir das crianças e estimulá-las sem inserir o medo no jogo da vida. Até hoje,
as sugestões do pedagogo progressista inglês Alexander S. Neill, fundador da
escola Summerhill, baseada no antiautoritarismo, são espetaculares, embora o
próprio Neill nunca tenha utilizado esse termo. Para ele, valia o princípio da
“educação livre” em vez daquele de “livre da educação”. Ele não era contra a
autoridade; ao contrário, dispunha dela de maneira considerável. Falava de
uma “educação autorreguladora”. Ainda mais atuais e difundidos são os
princípios da pedagogia Waldorf, de Rudolf Steiner, e o método de Maria
Montessori.
Já se conseguiria muito transmitindo continuamente às crianças a percepção
de que, embora seu comportamento possa causar raiva, tristeza ou decepção
nos pais, estes as amarão de qualquer maneira. Assim, elas aprenderão que a
tristeza, a alegria e a raiva são sentimentos que vão e vêm, mas o amor ca. Se
as crianças entenderem essa diferença, que geralmente é mais compreensível
para os adultos, carão felizes junto com seus pais quando tiverem sucesso e
sofrerão com eles os fracassos, mas saberão que o amor nunca é in uenciado
por isso. Essa con ança os acompanhará de modo determinante na vida,
sobretudo durante as fases difíceis, como a puberdade.
O medo das provas e do consequente fracasso tem aumentado cada vez mais
na sociedade moderna, que mede o valor das pessoas com base em seu
desempenho. O medo de errar di culta especialmente o desenvolvimento, pois
somente através dos próprios erros a criança aprende a integrar em sua vida o
que lhe falta. Entretanto, seria bom ajudá-la com sensibilidade para que não
repita os mesmos erros. Na idade adulta, vale o mesmo princípio: entre seus
melhores colaboradores, os chefes apreciam aqueles que cometem erros, mas
que cometem os mesmos erros apenas uma vez.
Por outro lado, hoje também existem muitas crianças que desenvolvem tão
pouco o “supereu” – aquela instância descoberta por Sigmund Freud que
representa em nós a sociedade e sua tradição –, que parecem indiferentes a
todo tipo de erro e a experiências como repetir o ano na escola. Naturalmente,
como extremo oposto, esta não é a intenção dos referidos pedagogos. Embora
não haja medo nesse caso, o desenvolvimento ca comprometido.
Até certo grau, o medo de desa os, representados pela escola, pelos
professores e pelos colegas, é natural. Porém, se de uma tensão compreensível e
inócua derivar um medo paralisante, é aconselhável pensar em um tratamento
homeopático. Alguns exercícios para potencializar a con ança poderiam
atenuar a alma. Também em casos de medos mais extremos, podem ser úteis
alguns exercícios lúdicos em outros âmbitos análogos, como excursões de
exploração em cavernas. As crianças precisam encontrar aos poucos sua própria
posição e seu papel no novo ambiente social. Pais presentes podem oferecer-
lhes apoio e, aos poucos, reduzir sua presença.
15.1.3.8 Medo de ladrões, sequestradores e de estranhos de modo geral

O medo de ladrões é inerente à sensação de estar à mercê de si mesmo, de já


não ser senhor do próprio terreno e de perder o controle. Se o ladrão for
particularmente temido na gura de um assaltante, o aspecto do medo da
perda é acrescido. Nesse caso, é oportuno tomar consciência de como esses
medos são incentivados pelos pais e pelo ambiente social, através das
respectivas admoestações ou experiências e, obviamente, através da grande
quantidade de lmes policiais.
No caso do medo de sequestro, coloca-se em primeiro plano o horror de
estar exposto a um poder estranho, mas também o medo de perder o ninho
familiar, que garante a sobrevivência.
O medo de estranhos pode ser enfrentado com cautela já no período em
que as crianças começam a ter contato com o mundo circunstante, mais ou
menos a partir do sexto mês. A mãe pode iniciar, muito lentamente, a afastar-
se do lho por breves períodos, con ando-o a outros membros da família e a
parentes, de maneira que ele possa habituar-se gradualmente também a pessoas
menos conhecidas.
Na maioria das vezes, os estranhos são amigos, cuja existência a criança
ainda não conhece. Quando se consegue transmitir-lhe essa postura, o medo se
dissipa. Obviamente, o problema nesse caso refere-se ao polo oposto, ou seja,
ao medo, quase indispensável nos tempos modernos, dos homens estranhos e
que é inculcado às meninas. Embora esse medo possa ser motivado por
experiências negativas a esse respeito ou por relatos assustadores por parte de
terceiros, muitas vezes ele esconde a distância e a descon ança em relação ao
próprio componente arquetípico masculino. Seria importante, por parte dos
educadores, explicar essa ambivalência. Se o medo for levado a sério, ele pode
ajudar as crianças a transformar o temor e a descon ança destruidora em
cautela e boa capacidade de observação, pois a ingenuidade não é uma meta a
ser ambicionada. Por conseguinte, também é útil transmitir outro tipo de
experiência, ou seja, de que muitos homens são muito gentis.
Nas adolescentes, também podem ser úteis cursos de autodefesa, que logo
criam um contato e uma reconciliação com a própria parte masculina.
Portanto, é possível ensinar às crianças a nunca irem com uma pessoa
estranha sem a permissão expressa dos pais – quando se trata, por exemplo, de
ir ao radiologista – e, ao mesmo tempo, tirar-lhes o medo fundamental em
relação a pessoas estranhas e ao que é desconhecido.
Do ponto de vista psíquico, por trás disso se esconde o medo do grande
componente espiritual interior, ainda totalmente desconhecido e, por isso,
ameaçador.
15.1.3.9 Medo de guerras e catástrofes ambientais

Por certo, o medo de guerras e da destruição é estimulado e desencadeado pela


transmissão de informações, mas não é causado por ela. Também aqui, caso se
torne real, esse problema esconde uma profunda participação da alma da
criança. Como em todos os outros medos, há que se prestar atenção em quanto
os próprios pais e, no início da vida, sobretudo a mãe, contribuem para isso. As
crianças realmente são o espelho dos medos internos de seus pais.
Para aliviá-las, seria determinante se os pais enfrentassem sozinhos seus
problemas. Para os casos mais simples, existem meditações conduzidas; para
medos maiores, vale a pena recorrer à terapia da sombra.
Obviamente, o medo de catástrofes ambientais também é estimulado pelas
respectivas notícias; no entanto, ele permite pressupor uma considerável
ressonância entre o tema da insegurança e a criança, bem como sua
incapacidade de sentir-se segura em seu pequeno ambiente.
É importante não sobrecarregar a criança cedo demais com medos mais ou
menos justi cados, pertencentes ao ambiente dos adultos. Ao contrário, à
medida que crescem e participam das preocupações e discussões críticas dos
pais em relação à sociedade, ela poderá enriquecer seu desenvolvimento em
relação a esses temas existenciais.
15.1.3.10 Medo de doenças e da morte

O medo de doenças e da morte, até o limite extremo da hipocondria,


praticamente já faz parte da nossa cultura e se fortalece cada vez mais à medida
que esta renuncia a um verdadeiro culto (da morte) e, com ele, à aspiração a ser
uma verdadeira cultura, para reduzir-se a uma pura sociedade meritocrática. O
medo da dor, do mal-estar e da doença é um mecanismo natural de proteção.
Porém, se os pais, por medo de doenças, tornam-se fanáticos extremamente
preocupados com a segurança e vivem, por princípio, de maneira
rigorosamente saudável, evitando todo tipo de intoxicações, bactérias, vírus,
entre outros, ou tomando uma grande quantidade de medicamentos, vitaminas
e sais minerais, as crianças perceberão instintivamente o quanto seus pais
consideram a vida perigosa. O mesmo resultado se obtém quando vacinam os
lhos contra tudo, por puro medo da vida, transmitindo-lhes, desse modo, a
percepção da periculosidade do mundo.
Por outro lado, se se transmite de maneira convincente às crianças, através
do exemplo dos pais, que a rouquidão e a tosse, o resfriado e a febre são
“totalmente normais”, pois o corpo sabe reagir e se defender, o medo desses
problemas desaparece.
O quanto esse tipo de atitude pode ser e caz é o que mostra a seguinte
anedota: depois que a lha começou a fazer aulas de equitação, sua mãe lhe
contou que só poderia considerar-se uma boa amazona aquela que caísse do
cavalo ao menos uma vez. Depois de algum tempo, a menina, de fato, caiu,
cando com algumas contusões doloridas. Todos caram surpresos ao
constatar que, em vez de chorar e sentir medo, ela se mostrou feliz por
nalmente ter se tornado uma verdadeira amazona! Avaliou suas dores como
parte da sua iniciação...
O medo de sentir dor, de se machucar, de perder a incolumidade e a
inocência aproxima-se ainda mais da própria vida e é uma forma de
autoproteção necessária e natural. Porém, se for exagerado, é porque
provavelmente na base subsistem experiências dolorosas, pessoais ou familiares,
falta de con ança em relação a si mesmo e ao próprio corpo. A con ança
poderia ser reforçada com a coragem para enfrentar doenças agudas, atividades
esportivas e de entretenimento, que atingem o limite da dor, mas também com
tudo que traz alegria para a própria integridade e mostra como esta pode ser
sempre reconquistada caso seja perdida.
O medo da morte, que trazemos para a vida e que é origem de todos os
medos, é atualizado já durante o nascimento na estreiteza do canal do parto. A
melhor maneira de trabalhá-lo é narrando contos de fadas e mitos e
alimentando a alma. Normalmente, as crianças tentam superar o terrível
trauma vivido no nascimento construindo cavernas e as respectivas brincadeiras
dentro delas (exercícios para desenvolver a con ança, deixar-se cair para trás,
brincadeiras na água, mergulhos).
Uma nova fonte de medo é o pânico dos pais modernos em relação à morte
súbita. Obviamente, esse medo também é transmitido à criança. A medicina,
com suas tentativas funcionais para impedir que essa desgraça aconteça,
alcançou uma nítida redução dos casos, mas também criou uma nova e e caz
fonte de medo.
Uma boa possibilidade de reduzir o problema e superar o medo que ele
provoca seria utilizar o já mencionado aparelho “Sleepy”, cujo sistema faz o
berço oscilar e impede que o bebê perca o próprio ritmo.
15.1.3.11 Medo da água e do fogo
O medo da água re ete o temor do aspecto feminino da alma, daquilo que
devora. Contudo, também pode ser desencadeado por exercícios inadequados
de natação, por exemplo quando as crianças são lançadas, mergulhadas ou
obrigadas a se jogar prematuramente na água. Com esses métodos brutais,
alguns pais, que talvez sofram de algum distúrbio emocional, mostram seus
problemas, mas certamente não resolvem os medos dos lhos. Aprender a
nadar desse modo é pior do que não sabê-lo. Dessa experiência, não raro
resulta um medo atávico em relação à água, o elemento feminino da alma, e
uma profunda aversão ao “monstro” que o causou.
Com o tempo, e se não se prestar atenção, dessa situação pode derivar uma
mistura fatal, em que se é cada vez mais rejeitado pelo elemento feminino e,
por m, também pelo masculino, pois o pai é o “protótipo” da parte
arquetípica masculina para todo lho, assim como a mãe o é para a parte
arquetípica feminina. Só esses elementos já são su cientes para se entender que
função exemplar e decisiva os pais representam para a futura vida dos lhos.
Nesse caso, a solução estaria em transmitir com brandura o reconhecimento,
na água e na temperatura do corpo, que quase todo ser humano pode boiar se
mantiver os braços abertos acima da cabeça e con ar-se à água, se possível sem
medo. Além disso, os bebês e os recém-nascidos têm uma vontade inata,
derivada ainda do líquido amniótico, de brincar na água no verão. Graças a
esse aspecto e a uma série de brincadeiras modernas na água para crianças,
deveria ser fácil reativar nelas o contato com essa alegria.
O medo do fogo e de se queimar, ao contrário, envolve o clássico elemento
masculino. Estamos sempre exortando as crianças a não queimarem os dedos,
tanto em sentido concreto quanto em sentido abstrato. Como elemento
masculino, o fogo também é associado à energia, à força, à coragem e à
imposição, e se tudo isso é temido, vive-se de maneira problemática toda a
vida. Por isso, seria necessário reconciliar a criança com esses aspectos e
familiarizá-la com a beleza do fogo, por exemplo na luz das velas e do sol, nos
fogos de artifício e nas velas mágicas, bem como através do respeito por sua
natural força primordial.
Uma criança que pode segurar a própria vela mágica, ainda que suas faíscas
a “belisquem” um pouco, mais tarde poderá acendê-la sozinha e aproximar
parcialmente o dedo da chama, para constatar o que signi ca “quente”, e
desenvolverá a percepção da realidade e dos próprios re exos. Entenderá com
mais facilidade por que não deve brincar com fogo e o quanto as chamas
podem machucar. A tarefa construtiva dos pais consistiria em permitir que a
criança se confronte, de acordo com a idade, com a alegria de “atiçar” alguma
coisa e em estimular nela uma disponibilidade razoável ao risco.
15.1.3.12 Medo pela família, medo da família

O medo pela própria família revela que a criança não consegue sentir-se segura
em relação às próprias pessoas de referência nem em relação ao próprio
ambiente. Não se trata de um sinal de amor particular, e sim de falta de
con ança. Uma criança que está sempre presa à saia da mãe denota, antes de
tudo, medo de perder a mãe, pois, evidentemente, não tem con ança nela. O
amor deveria mostrar-se de outra forma.
Inversamente, certa vez consegui tranquilizar uma mãe que levou um tapa
do próprio lho. Isso não é sinal de ódio nem de rejeição à mãe – se acontece
uma única vez –, e sim um sinal de con ança excepcional. O pequeno
malcriado tinha certeza de que, mesmo batendo nela, continuaria a seu lado.
Portanto, em caso de medo da própria família, a criança deveria, antes de
tudo, aprender a ter con ança e con ar no próprio ninho, o que ela
conseguiria mais facilmente se o ninho fosse moldado para inspirar con ança.
Abusos físicos ou emocionais podem constituir razões para um medo legítimo
em relação a determinados membros da família, que naturalmente devem ser
revelados e elaborados.
15.1.4 O medo e o reflexo de Moro (da doutora Wibke Bein-Wierzbinski)

O re exo de Moro (de Ernst Moro, pediatra de Heidelbeg) é uma reação


precoce de susto, por meio da qual o recém-nascido, em suas primeiras
semanas de vida (de quatro a seis), reage a barulhos muito fortes e, às vezes,
também a impressões visuais inesperadas com mudanças bruscas de posição e a
consequente perda do equilíbrio. O recém-nascido estende instantaneamente
os braços para o alto, que, em geral, cam dobrados nas articulações dos
ombros e dos cotovelos. As mãos são abertas para cima, e os dedos, esticados;
as pernas se estendem ligeiramente. Por m, a criança “desaba” novamente em
si: os braços se dobram, recolhendo-se em um movimento de abraço, e as mãos
se fecham em punho. Essa reação de susto, em um recém-nascido bem
desenvolvido, é causada exclusivamente por um “movimento” muito brutal ou
por estímulos sensoriais muito fortes; nunca ocorre durante o cotidiano
normal. Assim que a musculatura que sustenta a cabecinha se torna forte o
su ciente e o bebê já não a vira para trás de maneira descontrolada, o re exo de
Moro deixa de ser desencadeado.
Diferente, porém, é o caso em que os lactentes são comprimidos nas
vértebras cervicais superiores ou quando as duas vértebras superiores (atlas e
áxis), que formam a articulação da cabeça, não estão perfeitamente alinhadas.
Os recém-nascidos com essas disfunções na articulação da cabeça chamam a
atenção porque não conseguem sustentar sozinhos a própria cabeça nem girá-la
e apoiá-la do mesmo modo dos dois lados, o que uma criança em
desenvolvimento normal está pronta para fazer desde o nascimento. As causas
das disfunções na articulação da cabeça são múltiplas. As mais frequentes
derivam de compressões sofridas durante o nascimento ou depois de um
transporte errado e demorado do recém-nascido em posições eretas.
Caso tenha ocorrido o deslocamento da vértebra cervical superior, a pesada
cabecinha do bebê já não conseguirá manter-se ereta, e ele não conseguirá
controlar sua posição. Isso acarreta muitas irritações e atrasos no processo de
amadurecimento, que também se exprimem na ativação de um re exo de
Moro muito rápido, forte e prolongado. Com efeito, o desencadeamento dessa
reação só pode ser evitado com o amadurecimento da articulação do crânio e a
obtenção do controle da cabeça. Justamente na passagem entre cabeça e
pescoço, a chamada passagem cérvico-occipital, os músculos e o tecido
conectivo são particularmente ricos em nervos. Estes estão em contato direto
com o órgão do equilíbrio e com determinados centros cerebrais, nos quais se
controla a coordenação motora grossa e a na. Por conseguinte, as disfunções
no atlas geram uma mudança na capacidade sensorial na região da cabeça e da
nuca, o que, por sua vez, pode provocar uma hipersensibilidade contínua aos
estímulos motores e às outras solicitações sensoriais. Não há paz interior nem
satisfação.
Nesse caso, a con ança primária, que geralmente se mostra já durante o
período da amamentação, seja nas mamadas, seja na percepção do próprio
corpo, bem como na exploração do mundo circunstante, em que o bebê
experimenta movimentos e posições de apoio, mostra-se limitada. Com ela se
altera o fundamento que lhe possibilita ter con ança em si mesmo e no
ambiente, con ança essa que pode ser obtida através de experiências idênticas e
repetidas. As consequências são lacunas sensório-motoras e a memorização de
informações erradas em relação à posição do corpo no espaço, que determinam
contínuas avaliações errôneas, insegurança e, por m, medo e perda das
capacidades cognitivas.
A insegurança física e psíquica adquirida durante o período da
amamentação pode perdurar até a idade adulta.
Uma possível terapia para superar os medos que podem ser atribuídos a uma
disfunção da articulação craniana, com subsequente e persistente ativação do
re exo de Moro, consiste em fortalecer a musculatura da nuca e do pescoço.
Na maior parte dos casos, a musculatura do ventre, que se xa diretamente na
coluna vertebral, é muito pouco desenvolvida, de modo que acaba criando um
desequilíbrio entre a musculatura do pescoço e aquela da nuca; por
conseguinte, nas mudanças de posição, a articulação da cabeça não é
su cientemente protegida.[31]
15.1.5 Princípios gerais sobre a terapia do medo

Para que não surjam medos irracionais e neuróticos, seria muito importante
arranjar uma boa dose de con ança primária. Como já foi dito, o período mais
importante para que isso aconteça é o início da gestação – que não deveria
sofrer nenhum tipo de distúrbio –, quando o feto utua no líquido amniótico
na temperatura do corpo, pode ter a experiência da união e se sente unido ao
todo.
Evitar o trauma do nascimento também seria uma contribuição
fundamental para se car livre do medo. Todavia, quando já é tarde demais
para ambas as coisas, os exercícios de utuação, saltos e quedas livres podem
ajudar, embora a situação de base exija mais dos pais e das crianças.
Estas podem adquirir e aprender a ter con ança mesmo mais tarde na vida,
tranquilizando-se, contanto que recebam os cuidados su cientes e uma
proteção e caz no ninho. Isso é possível até mesmo no tumulto das grandes
cidades modernas, que costumam ser hostis às crianças.
Outro modo para desenvolver a con ança nos pequenos é deixá-los superar
com autonomia doenças e sintomas, como as típicas doenças da infância e a
própria febre. Eles também adquirem con ança quando, ao brincarem, caem e
se levantam sozinhos. Esse é um passo simbólico e igualmente importante e
extraordinário. A con ança cresce com a experiência e a capacidade.
Um conselho geral para a elaboração dos medos consiste em revê-los
conscientemente e, dependendo do caso, com um acompanhamento protetor.
As condições ideais preveem que as crianças sejam seguradas pela mão, tanto
em sentido concreto quanto em sentido abstrato.
Também é útil dar à vida um ritmo certo, cuja repetição con ável já sirva
para atenuar os medos.
Além disso, os rituais ajudam a reduzi-los, especialmente quando são
repetidos com ritmo. A criança aprende a con ar neles e não se sente
abandonada nem entregue sem nenhum amparo ao desconhecido e ao novo.
Em geral, o medo surge quando a criança é exigida muito precocemente e
acaba sendo sobrecarregada, por exemplo, quando é separada à força e muito
cedo da mãe. Essa separação desencadeia medo, que ela sentirá sempre que essa
situação se repetir. Quando exigimos alguma coisa das crianças antes do tempo,
criamos o medo. Portanto, a melhor coisa a fazer é esperar delas apenas aquilo
de que são capazes e para o qual têm coragem. Obviamente, é normal propor
alguma coisa, assim como exigir, mas sem sobrecarregar, pode estimulá-las.
Quando hesitam, seria importante estender-lhes a mão, como fazia Maria
Montessori.
Os antroposo stas dão muita importância à familiarização das crianças com
o ritmo o mais cedo possível, por exemplo por meio de exercícios de eurritmia.
É o que demonstram experiências em sociedades arcaicas, nas quais, desde o
início, o ritmo faz parte da vida, como se percebe mais tarde, de maneira
positiva, em muitos aspectos.
Os exemplos tangíveis também transmitem con ança: ouvir as crianças com
paciência e levá-las a sério, deixar que elas digam tudo o que têm para dizer e
ser um bom modelo para elas são medidas que ajudam a reduzir o medo. A
imitação e a frequente repetição promovem a con ança e criam um campo
energético de coragem e contato consciente consigo mesmo. A melhor solução
seria conseguir motivar as crianças a abrir-se ao medo, até o susto passar, poder
ser nomeado e transformar-se em amplidão. Quem (voluntariamente) dá
espaço ao medo e busca confronto com a estreiteza, aceitando-a, colherá a
amplidão. Nesse sentido, diálogos, pintura, movimentos ou música podem ser
uma extraordinária complementação.
Outro auxílio essencial está em tornar conscientes temas primordiais, como
ocorre com a leitura de contos de fadas. “O conto de fadas de alguém que saiu
de casa para aprender o que é o medo”, por exemplo, mostra o quanto as
crianças querem viver e superar o medo. Até mesmo brincadeiras e lmes de
terror podem servir para esse m se empregados com consciência e o
acompanhamento adequado. A esse respeito, a in uência da televisão, de
vídeos e jogos no computador é facilmente superestimada. Eles só podem tirar
da criança aquilo que está dentro dela e para o qual ela tem alguma
ressonância. Por outro lado, não é necessário dar espaço a toda ressonância;
pode-se, ao contrário, intervir orientando e regulando a situação. Quem não
tem medo não o desenvolve por meio das brincadeiras.
A terapia do abraço também oferece um maravilhoso arsenal para auxiliar as
crianças em situações difíceis de medo. Contudo, este deve ser bem
compreendido em sua essência, pois, embora a estreiteza desencadeada por essa
terapia tenha um efeito homeopático, ela pode gerar mais medo se não for
administrada com grande competência. Nesse sentido, a própria Jirina Prekop,
que criou essa terapia, forneceu indicações e contraindicações precisas, para que
esse precioso método não seja mal empregado para reprimir ou “pressionar” a
criança. Ela desenvolveu a terapia do abraço em uma base ética, cujo objetivo é
renovar o amor por si mesmo e pelo próximo, garantindo, assim, o pressuposto
mais importante para o desenvolvimento do livre-arbítrio. Uma
contraindicação seria, por exemplo, a intenção de utilizar essa terapia como
método educativo ou para obter obediência. Outra contraindicação, resultante
da sua associação com a abordagem sistêmica de Bert Hellinger e de suas
constelações familiares, diz respeito àqueles pais que recusam a ordem do
sistema familiar. Essa abordagem nem chega a ser considerada se, por exemplo,
a mãe despreza o pai da criança ou vice-versa.
O tema da terapia do abraço é um profundo con ito emocional entre dois
membros da família, impossível de ser superado em nível verbal. A ausência de
verbalidade diz respeito não apenas a crianças pequenas ou aos mudos, mas
também a adultos inteligentes com profundo sofrimento psíquico. No abraço
apertado, tanto a mãe quanto o lho recebem a possibilidade de confrontar
sentimentos feridos e de renovar o amor recíproco. A agressividade é admitida,
mas apenas na forma re nada do confronto por meio de frases expressas em
primeira pessoa e da atenção ativa, sem a violência física e destrutiva. O
objetivo de fundo desse método é que o processo não termine com o consolo
ou a resignação, e sim na alegria do amor renovado. “Eu te abraço até o amor
voltar a uir!”, diz uma das frases decisivas de Jirina Prekop, e, desse modo, o
abraço se torna uma forma primordial de se tornar gente.
Entretanto, ele se torna uma terapia quando o ser humano já se distanciou
dessa forma primordial e o amor se perdeu. Como muitos erros de
comportamento e muitos medos dos pais são transmitidos aos lhos, o abraço
não se inicia com estes, e sim com os pais. E como estes também já foram
lhos que precisaram igualmente de uma reconciliação com seus pais, os avós
também são envolvidos. Esse método se apoia na verdade arcaica, expressa no
quarto mandamento, segundo o qual o ser humano pode viver bem e por
muito tempo na Terra se honrar seus pais.
Segundo Jirina Prekop, essa reconciliação é a expressão mais frequente do
trabalho com o abraço, que também pode se estender a visualizações com
aqueles que, por causa da morte ou da idade, não podem ser “derrubados”.
Obviamente, os pais também entram no jogo como casal. A eles se pede que,
através de seu próprio modelo, envolvam as crianças na compreensão do
abraço, fazendo dele uma forma de vida para a família.
A maioria dos medos tratados neste livro e muitos dos quadros clínicos
poderiam ser curados se enfrentados com essa forma de amor, expresso
ativamente; uma árvore deve ser analisada e tratada não a partir de seus frutos,
mas a partir de suas raízes. Portanto, também nesse caso, o amor se apresenta
como o melhor remédio.
Não se trata de culpar os pais, e sim de equilibrar as condições desfavoráveis
de vida. Como a experiência da gestação e do nascimento, com a consequente
maternidade, são de central importância para a vida que virá, tanto a terapia da
reencarnação quanto a do abraço dedicam-se com métodos especiais a esse
primeiro período. Jirina Prekop desenvolveu o abraço do nascimento; no
centro de cura holística de Johanniskirchen foi criada uma terapia especial mais
curta, de uma semana, para tratar o medo e superar, em sentido literal, a
estreiteza primordial e todos os medos que dela derivam. É surpreendente
observar como as pessoas se revigoram depois dessa experiência e tendo
reconquistado a con ança (primária) em relação à mãe (natureza).
A ajuda determinante, comum a todas as tentativas de ajudar as crianças em
seus medos, consiste em concentrar-se no essencial, em viver o momento e agir
com base no aqui e agora. Quando se consegue entusiasmá-las no momento
presente, elas saem do medo, pois este vive do passado ou do futuro. O
objetivo nal para a solução dos medos está no polo oposto, à medida que se
trata de ampliar-se, abrir-se e libertar-se na estreiteza.
 
Perguntas para os pais:
► Que medos transmitimos ao nosso lho?
► Que medos ajudam nosso lho a desenvolver sua própria competência e
uma autoconsciência saudável? Como podemos ajudá-lo nesse processo?
► Em que medida nosso ambiente pessoal promove o medo: condições de
habitação menos estreitas do que as existentes em nível espiritual e
dogmático?
► Como nosso lho se comporta quanto à nossa relação com a natureza? É
possível pensar em um encontro com a mãe natureza e o antigo deus Pã?
Como podemos promovê-lo?
► E como é a relação com a con ança primária e com a autocon ança?
► Em que circunstâncias falta ritmo vital?
► Estamos em condições de nos entregar?
► Como lidamos com nossos medos? Somos capazes de confessá-los
mutuamente?
► Como mãe ou pai, já passei por alguma situação real de medo?
► Em que medida a necessidade de segurança excessiva predomina em
nossa família?
 
Medidas de apoio:
► Cotidiano regular: o ritmo vital cria segurança.
► Lidar cautelosamente com todas as impressões: os pais devem prestar
assistência na elaboração de estímulos, por exemplo, provenientes de
vídeos, lmes, televisão e jogos no computador.
► Eliminar a sobrecarga e, por exemplo, a pressão por expectativas na escola.
► Rituais noturnos, que preparam para a noite (rezar, ler histórias, cantar
com a criança, dançar etc.). Conversar à noite sobre as atividades do dia
seguinte, para criar segurança. Conscientizar a criança dos êxitos obtidos
e, nos momentos em que lhe falta coragem, despertar sua recordação
emocional.
► Estimular o tato por meio de massagens; deixar a criança brincar com
lama, cremes e espuma. Escolher roupas feitas de tecidos naturais e deixar
a criança brincar com objetos de madeira, modelar a argila e trabalhar no
jardim.
► Cartazes de “Proibida a entrada de fantasmas!”: construir com a criança
um cartaz de proibição aos fantasmas, ladrões e ao que mais lhe causar
medo. É preciso transmitir verossimilmente à criança a convicção de que
os fantasmas vão obedecer aos cartazes tal como os adultos ou as crianças
na rua obedecem a uma placa de “pare”. Se o cartaz for pendurado na
porta ou na janela do quarto da criança, o fantasma não terá vez.
► Movimentos oculares migratórios: uma técnica muito simples e que dá
ótimos resultados com as crianças é a elaboração do medo e de um
trauma através dos movimentos oculares migratórios. Junto com toda
uma série de exercícios, essa elaboração é descrita em meu livro
Notfallapotheke für die Seele [Farmácia de Emergência para a Alma].
► Sugestão de livro para os pais: o livro infantil Lukas und die Monster unterm
Bett [Lukas e o Monstro Embaixo da Cama], cujo texto é de fácil
compreensão e vem acompanhado por ilustrações sobre os métodos para
atenuar o medo, bem como pelos pontos de acupuntura a serem
estimulados.
► Florais de Bach e de arbustos: algumas misturas mostraram-se muito
e cazes nos casos de medo, mas devem ser escolhidas individualmente, de
acordo com o medo de cada um, como na homeopatia, que dispõe de
inúmeros remédios para o tratamento dos medos infantis.

15.2 Enurese

“Estou com vontade de chorar.”


15.2.1 Enurese noturna

15.2.1.1 Base evolutiva do “quadro clínico”

Os terapeutas antroposó cos partem do pressuposto de que, muitas vezes, a


enurese não é um verdadeiro quadro clínico, mas apenas um momento de
hesitação no processo de amadurecimento. Parte das crianças nunca consegue
car limpa; outra parte é reincidente. Geralmente, o problema se resolve
sozinho na puberdade; na maior parte das vezes quando surgem os primeiros
pelos pubianos. Por outro lado, são claras as indicações de que a problemática
de deixar passar, ligada a esse sintoma, continuará em outros problemas
semelhantes na vida futura.
Segundo Friedrich Graf, as crianças superam siológica e conscientemente a
enurese apenas entre o quarto e o quinto ano de vida, pois somente então as
vias nervosas, por meio das quais é possível o controle voluntário, estão
amadurecidas. Por conseguinte, tudo que ocorrer antes desse período é por
puro treino. Isso equivale a dizer que grande parte das nossas crianças seria
apenas treinada com êxito. Por outro lado, entre os povos primitivos que não
conhecem as fraldas, a consciência do processo de excreção se forma muito
precocemente, geralmente até os 2 anos, o que di cilmente poderia ser
atribuído a um treinamento.
Em todo caso, a aspiração à higiene pessoal, que entre nós costuma ser
precoce, deve ser atribuída a uma espécie de treinamento e, por conseguinte, é
prejudicial. O ingresso no jardim de infância, no quarto ou quinto ano de vida,
é o tempo em que as crianças se limpam naturalmente. O quarto ano é o
último em que as crianças ainda estão se familiarizando com o que lhes é
estranho, antes de aprenderem a se soltar temporariamente dos pais. Nesse
período, a maior parte das crianças afetadas pela enurese é submetida a
tratamento. Antes dessa idade, as mães geralmente compensam o problema
com mais trabalho, mas se torna impossível escondê-lo, pois as crianças devem
e querem alçar voo, e toda noite passada fora de casa se transforma em um
penoso drama.
As crianças que fazem xixi na cama até os 4 anos também são as mais vitais,
que não se deixam ensinar e dão livre curso às suas necessidades naturais, no
verdadeiro sentido da expressão. Esta poderia ser uma das razões pelas quais as
meninas são apenas parcialmente afetadas pela enurese. Em geral, elas são
visivelmente mais adaptáveis e “mais fáceis” de serem treinadas. Para elas, o
treino costuma iniciar-se ainda antes e, por conseguinte, tem um efeito mais
profundo.
O amadurecimento relativamente tardio das vias nervosas necessárias
explica-se pelo fato de que os seres humanos são totalmente diferentes dos
animais nidífugos. Na verdade, viemos ao mundo muito cedo e levamos muito
tempo para amadurecer. A natureza dotou os cangurus e os outros marsupiais
australianos da cômoda bolsa em que transcorre o período de amadurecimento,
na qual não é necessária nenhuma fralda, pois a reduzida quantidade de líquido
é reabsorvida pela mãe. Os cães e gatos lambem constantemente seus lhotes
para que o “ninho” permaneça limpo. Por outro lado, através do contato com a
língua, desenvolve-se uma elevada sensibilidade dos genitais e dos orifícios, que
são úteis em ambos os aspectos. Nesse meio-tempo, sabemos que todo contato
físico nessa idade precoce solicita a formação de novas sinapses. Desse modo,
os órgãos de excreção ou suas portas de saída são preparados antecipadamente
para suas tarefas futuras. De maneira semelhante, para o “ lhote” da espécie
humana, o contato físico com essas regiões, já muito sensíveis porque dotadas
de muitas terminações nervosas, seria um bom estímulo para o crescimento. As
massagens em torno dos genitais aumentam sua sensibilidade e são
recomendadas justamente pelos antroposo stas que, no que se refere a essas
regiões, costumam aconselhar grande reserva.
15.2.1.2 Choro no nível mais inferior

A principal razão pela qual os meninos são duplamente mais afetados pela
sintomática da enurese do que as meninas poderia residir no fato de que estas,
como já mencionado, são educadas de maneira diferente. Os meninos, por
exemplo, não devem chorar. Com frases incrivelmente estúpidas como
“homem não chora”, toda expressão de emoção, mas sobretudo o choro, em
seu caso é conotado de maneira negativa desde cedo. Tipicamente, a “chorona”
é uma menina, e o “espoleta”, um menino.
Se partirmos do princípio de que a enurese nada mais é do que uma forma
alternativa de choro, um choro inferior, por assim dizer, quando em cima não é
consentido, explica-se a grande diferença entre ambos os sexos. As meninas
podem deixar escorrer as lágrimas pelos olhos, pois, em seu caso, chorar é
considerado normal e, de todo modo, não se torna tabu. Já os meninos, que
aprendem a fechar todas as comportas para poderem se tornar “homens de
verdade”, e aos quais não resta nenhuma outra válvula de escape, a repressão
em cima estimula a soltura embaixo. Nesse sentido, a perda de controle
durante a noite é tão forte que o esfíncter da bexiga, com o extravasamento
inferior, ou seja, com a enurese, substitui a função das lágrimas retidas em
cima.
Isso pode acontecer apenas nos momentos em que eles já não têm um
controle consciente, a saber, quando estão dormindo. Porém, como o cochilo
da tarde raramente causa enurese, somos levados a concluir que a criança
também precisa dos sonhos noturnos. Eles têm início somente depois da
primeira hora e meia de sono, durante a fase REM (Rapid Eye Movement =
movimento rápido dos olhos), e criam a ligação com as imagens interiores da
alma, uma válvula de escape para permitir que as coisas tenham seu curso. Os
adultos conhecem a situação, ainda que felizmente rara, de sonharem já ter ido
ao banheiro e serem despertados pela primeira gota, que, com essa técnica sutil,
escapa-lhes na cama.
Em primeiro lugar, entre as causas do reaparecimento do sintoma estão três
preocupações: por exemplo, no caso em que um recém-nascido toma o lugar
do irmão. Isso signi ca que as crianças tendem à regressão e querem voltar a ser
pequenas. Analogamente, a separação dos pais – no caso de crianças que
durante o dia parecem enfrentá-la com muita coragem e ser fortes para
amparar a mãe já triste – levará a expressar a dor da perda à noite por meio da
enurese. Um novo namorado da mãe também pode fazer o sintoma reaparecer,
nesse caso signi cando: “Cuide primeiro de mim”. Ou, ainda pior: “Se você
deixou o papai ou o mandou embora, agora chegou minha vez”. Em suas
percepções, as crianças costumam ser injustas a esse respeito. Até mesmo um
pai que tenha saído de casa de espontânea vontade passa a ser valorizado em
sua imaginação e, às vezes, até idealizado.
Muitas vezes, as crianças mais velhas também podem apresentar esses
sintomas. Outro possível elemento desencadeador, além do nascimento de um
irmãozinho, é a atividade pro ssional da mãe. Nesse caso, as lágrimas noturnas
exprimem, além da saudade da mãe, um protesto contra ela. Por m, mesmo
quando os pais não exercem nenhum tipo de pressão, pode acontecer de
especialmente os primogênitos a exercerem por si próprios. Por exemplo,
quando o irmão mais novo os ultrapassa em algum aspecto evolutivo, como
receber notas mais altas na escola, ser o mais bonito ou ter mais amigos.
15.2.1.3 Compensação noturna da pressão

Com frequência, também são afetadas famílias em aparente harmonia. A


criança percebe exatamente o que acontece, mas ninguém fala a respeito, ou
então as sensações são liquidadas com frases do tipo: “Seja o que for que você
tenha...” E, à noite, a emoção (aquosa) nalmente pode escorrer.
Por m, por trás desse sintoma, podem estar escondidas inteiras dinâmicas
familiares inconscientes, como muitas vezes emerge das constelações familiares;
ocorre, por exemplo, quando um membro da família é marginalizado ou
morreu sem que se tenha vivido o luto. A criança assume, então, uma função
de representante e, à noite, “chora” através da bexiga pela pessoa em questão. Se
esse contexto for trazido à luz durante uma constelação familiar, o sintoma
melhora e, às vezes, até desaparece.
Além do que já foi dito, existe um tipo de “enurese por excitação”, que se
apresenta apenas em episódios isolados, por exemplo, antes de importantes
trabalhos escolares ou de uma grande viagem. Também nesse caso,
evidentemente, as crianças realizam durante o dia um esforço tão grande,
apesar da enorme excitação, que somente à noite conseguem liberar nos sonhos
a tensão acumulada.
Isso nos conduz àquele amplo grupo de crianças que fazem xixi na cama
porque sofrem a pressão do desempenho, vivem para seguir compromissos, não
têm tempo livre, e sua consequente e contínua tensão já não deixa espaço para
a regeneração. Se entre as solicitações precoces e os cursos intensivos na escola
já não restar tempo para brincar e relaxar, em algum momento e em algum
lugar essa pressão extrema deverá uir e, possivelmente, com mais facilidade à
noite. Em um caso de enurese noturna, após o esclarecimento terapêutico de
suas motivações, a mãe de um pequeno paciente acrescentou: “Meu lho
realmente não tem tempo de ir ao banheiro durante o dia”.
Contudo, essa pressão também pode provir da própria criança. Um menino
com inteligência e talento acima da média, que passava intencionalmente de
cursos para crianças superdotadas a testes para inteligência de elite e cuja mãe
se opunha criticamente a essa tendência, comentou com habilidade sua
frequente enurese noturna: “Mãe, esta noite suei de novo!”
Os medos podem desempenhar outro papel, embora uma expressão como
“estou me borrando de medo” se re ra, antes, ao esfíncter posterior. Algumas
crianças realmente sentem tanto medo à noite que não conseguem criar
coragem para se levantar e preferem fazer xixi na cama a expor-se ao escuro e a
seus fantasmas.
Muitas vezes, também pode tratar-se de medos bastante prosaicos. Um
pequeno paciente sentia constantemente um medo tão grande de que seu
severo pai bioecologista pudesse descobrir o walkman escondido embaixo do
colchão, que essa pressão o levou a urinar na cama. Durante o dia todo o
menino cava tão tenso e sentia-se tão ameaçado por todo tipo de descoberta
que, durante o sono profundo, perdia totalmente o controle, sendo ajudado
pelo esfíncter da bexiga.
Mesmo em relação à enurese existem diversos subgrupos. As crianças que
urinam já durante a primeira fase do sono provavelmente sofrem de uma
grande pressão ou são fortemente reprimidas. No primeiro e mais profundo
ciclo do sono, ou seja, na hora dos espíritos antes da meia-noite, o relaxamento
também é mais profundo. Por outro lado, as crianças que urinam na cama nas
primeiras horas da manhã poderiam produzir uma grande quantidade de urina
– ou água de descarga da alma – para conseguirem segurá-la até despertar e,
por assim dizer, acabam transbordando.
Com a bexiga, é convocado o órgão com cujo auxílio a pressão é suportada
ou exercida, como ocorre na escola, quando as crianças querem fugir do
professor. Na psicoterapia, os próprios adultos às vezes também recorrem a esse
caminho, refugiando-se no banheiro para não enfrentarem situações e temas
desagradáveis. Portanto, inconscientemente, as crianças que fazem xixi na cama
restituem aos pais a pressão que recebem durante o dia. De fato, os “anjinhos
inocentes” fazem com que suas mães lavem suas roupas sujas todos os dias.
Quando o fenômeno não ocorre ou ocorre apenas muito raramente fora de
casa, a problemática se amplia até a punição inconsciente da mãe. Outra razão
seria que a criança simplesmente relaxa apenas com a mãe, sem cair no
descrédito. Em todo caso, a mãe é envolvida e, por isso, poderia entender uma
ocasião como um desa o para lavar as próprias roupas sujas. Seja como for, a
criança afetada pela enurese lhe mostra o tema, que tem algo de escandaloso,
sobretudo se a criança aqueceu por horas, com o calor do corpo, a água da
própria alma. Além da já desagradável situação externa, acrescenta-se o
componente interno, não menos opressor, com o pedido indireto à mãe: “Lave
minha sujeira e se ocupe (ainda) mais de mim, embora eu seja difícil”. Em
outras palavras: “Ame-me independentemente de como eu me comporto”. Em
última instância, implora-se aqui pela experiência do amor incondicional.
Com o “calor úmido” produzido por ela mesma, a criança poderia até tentar
substituir a sensação nostálgica de calor do ninho. Na regressão de toda noite,
ela sempre recria uma atmosfera de líquido amniótico, como era no ventre
materno. Se a mãe, a seus olhos, já não possibilita um ninho su ciente, as
crianças que sofrem de enurese o criam quase sozinhas, regredindo
profundamente durante a noite e liberando-se por completo, ou melhor,
liberando sua água.
Assim como durante a dentição, quando as crianças evocam com a irrupção
dos dentes ou da agressividade toda a possível agressividade dos pais, pelas
noites em branco que estes passaram, as que urinam na cama apresentam todas
as manhãs uma montanha de roupa suja a ser lavada pela mãe. No início, ela
aguenta, mas, com o tempo, até a mãe mais calma e bem-intencionada perde a
paciência.
Quando as crianças produzem um cheiro ruim que se eleva até o céu é
porque estão enviando um claro sinal: alguma coisa não está absolutamente em
ordem; ao contrário, está extremamente obscura! E todos sentem o cheiro, mas
quase não falam a respeito. Mas os pais deveriam discutir o assunto e perguntar
ao lho o que o deixa tão triste e o que o faz sentir-se pressionado ou até
chantageado. Eles poderiam tentar descobrir em que âmbito o lho precisa de
mais espaço para expressar-se e oferecer-lhe a consequente disponibilidade. Em
uma situação como essa, é tão difícil quanto necessário demonstrar amor
incondicional e total abertura sem as consequências negativas.
Em vez disso, muitas mães acabam sofrendo uma considerável pressão
interna e externa, vivendo a enurese como uma espécie de guerra de poder com
o lho. Não raro, o choro inferior é percebido como um ato extremamente
agressivo e enfrentado com as medidas (ameaçadoras) equivalentes. Estas,
porém, nunca poderão ajudar de fato, gerando, ao contrário, uma sensação
inconsciente de impotência na criança e, em alguns casos raros, também
evocarão um desejo de vingança.
15.2.1.4 Ajuda em vez de vingança

Talvez se devesse mencionar aqui a “coberta de alarme” e “cueca/calcinha


campainha”, que, ao entrarem em contato com a umidade, soam um alarme,
despertando a criança de seu sono mais profundo, quando já é tarde demais e
tudo já está molhado. Em todo caso, o calor da atmosfera que lembra o líquido
amniótico é arruinado de modo traumatizante. De efeito ainda mais brutal é o
método da sede, com base no qual as crianças já não recebem nenhum líquido
para beber a partir da tarde. Entretanto, a maioria das crianças continua a
urinar na cama, mesmo em condições penosas, que podem chegar à exsicose,
estágio que antecede a desidratação. Uma medida muito mais atenuada em
seus efeitos, mas igualmente inútil, é o “truque” de acordar a criança, antes de
os pais irem dormir, para levá-la ao banheiro. Esse excesso de idas ao banheiro
enquanto a criança está dormindo não traz nenhum resultado e só prejudica a
regeneração.
Faria mais sentido tomar consciência da pressão cotidiana que pesa sobre a
criança, descobrir o medo, a dor e a tristeza que se escondem por trás dela e
que a fazem sofrer. Em última análise, seria oportuno motivá-la a encarar as
exortações e a pressão como um desa o. Uma combinação útil poderia ser feita
criando-se momentos de relaxamento durante o dia e reagindo à pressão
excessiva e ao estresse com brincadeiras agradáveis, que permitam que a criança
se solte. Também é necessário criar válvulas de escape alternativas, que
substituam o transbordamento da bexiga. Os pais deveriam estimular o choro
natural em vez de desvalorizá-lo: tanto as lágrimas de alegria quanto aquelas de
tristeza produzem um efeito relaxante, mesmo quando a criança chora de rir.
Normalmente, a bexiga é aliviada quando as crianças têm a oportunidade, em
outras situações, de se soltarem completamente e regredir até os primeiros
estágios da evolução.
Desse modo, as pessoas afetadas deveriam encontrar espaço su ciente
durante o dia para as lágrimas e os sentimentos arquetipicamente femininos,
como o sofrimento e a tristeza, mas também para outras emoções, como a
alegria e a raiva, aliviando, assim, o período noturno. Por outro lado, porém,
também deveriam aprender a suportar e enfrentar a pressão vivida durante o
dia. O ideal seria colocar as crianças em condições de comunicar aos pais, de
maneiras diversas e conscientes, suas necessidades. Assim, os pequenos
comportados, habituados a dizer sempre sim e que não dão trabalho durante o
dia, mas requerem um cuidado excessivo à noite, se tornariam crianças
exigentes e pretensiosas, capazes de se defender cara a cara, durante o dia,
inclusive no que se refere às aspirações dos pais.
Do ponto de vista da medicina acadêmica, essa argumentação obviamente
exclui as patologias do órgão, como pregas na uretra ou ataques epiléticos
noturnos. Um tratamento hormonal à base de Minirin, que contém
desmopressina, substância semelhante à vasopressina, que também pode ser
administrada através de spray nasal ou sob forma de comprimido, realmente
pode ajudar. Em todo caso, seria uma medida melhor do que as tentativas já
feitas com antidepressivos, que, por certo, eram e cazes apenas em casos de
grave sofrimento. Se o problema se reduz a uma produção insu ciente de
ADH (hormônio antidiurético), pode ser útil em casos extremos, por exemplo,
nas excursões com a escola, um tratamento à base de hormônios semelhantes.
Contudo, o percentual de reincidência em seguida é de 100%.
A experiência médica e a naturopatia oferecem muito pouco em relação à
enurese. Os pés frios, que são sempre um sinal de medo, obviamente devem ser
aquecidos antes do sono com escalda-pés, como treino para a bexiga, ou com
uma bolsa de água quente, com exercícios Kneipp ou massagens nos pés. Um
bom apoio para esses períodos difíceis pode ser proporcionado pelo sistema
“Sleepy”, que com seu ritmo produz um nítido alívio.
A mistura dos orais de Bach Aspen (medos desconhecidos), Mimulus
(ansiedade conhecida) e Cherry Plum (a bomba-relógio interna) mostrou-se
e caz. Contudo, também nesse caso, o melhor caminho é a homeopatia
clássica, pois ela considera a criança do ponto de vista holístico e não se
concentra apenas em sua bexiga, que geralmente é saudável.
15.2.2 O reflexo de Galant: déficit de endireitamento como causa da enurese (da

doutora Wibke Bein-Wierzbinski)

Se a criança continua a sofrer de enurese noturna ou diurna depois dos 6 anos,


sem viver um período su cientemente longo de latência, é provável que a causa
seja algum distúrbio de amadurecimento dos centros superiores, que não se
desenvolveram de maneira regular ou o zeram de maneira desacelerada.
Também é possível que o esfíncter esteja muito fraco. Nesse caso, além das
in uências psíquicas, deve-se prestar atenção nos distúrbios físicos e
neuromotores. Estes devem ser levados em consideração nas crianças que, em
seu desenvolvimento motor na primeira infância, o chamado processo de
endireitamento, demonstrem peculiaridades. Por exemplo, disfunções na
articulação do crânio podem manifestar-se com posturas encurvadas,
assimétricas e movimentos monolaterais. Todavia, é igualmente possível que
fases inteiras do desenvolvimento sejam puladas e suprimidas, como apoiar-se
nas mãos na posição de bruços, ou chupar os pés na posição de costas por volta
do sétimo mês de vida. Outras crianças pulam a fase de engatinhar ou não
conseguem girar, passando da posição supina para a prona.
Todas essas particularidades, às quais não se costuma dar muita importância
durante o período de amamentação, poderiam conduzir, ao longo do
crescimento, a formas permanentes de imaturidade. A esse respeito, no caso das
crianças que sofrem de enurese, é necessário observar a pelve não ereta e a
coluna vertebral instável, às vezes com protuberâncias nos corpos vertebrais.
Além disso, com frequência nessas crianças desencadeia-se o chamado re exo
espinhal de Galant (segundo o médico suíço S. Galant). Trata-se de um re exo
exteroceptivo, com base no qual, ao se acariciar a pele ao lado da coluna
vertebral, se provoca imediatamente uma contração da musculatura ao redor da
coluna. Normalmente, essa relação entre o estímulo externo e o enrijecimento
da musculatura posterior de sustentação pode ser observada entre o quarto e o
terceiro mês de vida. A partir desse momento, essa musculatura de sustentação
é fortalecida e consolidada com tecido conjuntivo.
O desencadeamento do re exo de Galant não está diretamente ligado ao
esvaziamento da bexiga; porém, sua ativação persistente nas crianças maiores –
às vezes até a idade escolar – denota um processo de amadurecimento não
concluído: a posição da pelve em relação à coluna vertebral não é a ideal, e a
criança ainda se encontra em pleno processo neuromotor de endireitamento. A
persistente instabilidade da coluna vertebral, bem como a postura errada da
pelve, provoca uma contínua solicitação dos nervos espinhais que surgem entre
os corpos vertebrais. Especialmente na região do osso sacro, ocorre a irritação
dos respectivos nervos espinhais, responsáveis pelo controle funcional da
bexiga. O processo de amadurecimento é sempre perturbado. Na medicina
antroposó ca, recomenda-se a massagem no osso sacro, que é considerada um
recurso comprovado contra a enurese.
Outros exercícios para treinar os movimentos da criança na primeira
infância também são importantes e, posteriormente, recuperam as fases do
amadurecimento.[32] Vale a pena prestar atenção nos seguintes pontos:
 
– posição da pelve;
–rotação externa das pernas;
–fortalecimento da musculatura da coluna;
–capacidade de torcer os corpos vertebrais um para o outro
(cintura escapular contra a cintura pélvica);
– fortalecimento da base pélvica;
–fortalecimento da musculatura do baixo-ventre.
15.2.3 Enurese diurna

As razões desse sofrimento cotidiano variam da vontade de provocar os pais,


passando por aquela de pressionar a mãe, até chegar à tensão ou ao grande
entusiasmo durante uma brincadeira ou a um programa na televisão que as
crianças não querem interromper e, por isso, não chegam a tempo ao banheiro.
Elas têm, por assim dizer, algo mais importante em mente do que ir ao
banheiro, e isso acaba se tornando uma espécie de “gestão errônea do tempo”
na primeira infância.
Se urinar na cama serve como um instrumento inconsciente ou
semiconsciente para pressionar a mãe, toda a questão pode atingir o nível de
uma verdadeira chantagem. Desse modo, as crianças querem obter a atenção da
mãe e forçar sua consideração. Muitas vezes, as mães são totalmente receptivas
a essas formas de chantagem, pois não raro têm medo da in amação
reincidente da bexiga ou porque sentem vergonha dos lhos que já são
“grandes” mas ainda fazem xixi na cama; elas consideram esse fato um fracasso
pessoal, pois não conseguiram educar os lhos para terem asseio.
A tarefa das crianças consiste em aprender a dar curso às coisas em um nível
mais oportuno, exprimindo no tempo oportuno suas legítimas emoções e
liberando a pressão em um nível mais adequado.
Do mesmo modo, a tarefa dos pais também seria permitir que as coisas
tivessem seu próprio curso e que os lhos lidassem, se possível, sozinhos com o
problema. Além disso, seria útil individuar válvulas de escape, com as quais as
crianças possam aliviar a tensão em outros níveis. Se o problema se repetir com
frequência, os pais devem se perguntar por que seus “pequenos” tentam
(necessariamente) obter atenção por esses meios. Certa gestão precoce do
tempo, marcadamente infantil, com a qual as crianças aprendem que tudo tem
seu tempo traria algum alívio: brincar e comer, beber líquido e fazer xixi.
Porém, mesmo nesse contexto é muito e caz construir os respectivos rituais,
que, se bem inseridos na vida cotidiana, garantem não apenas segurança, mas
também, nesse caso, o asseio.
Entretanto, é decisivo tirar a pressão desse problema opressor. Por exemplo,
se nos trajetos de automóvel as crianças precisam sempre “fazer xixi”, seria útil
programar pausas desde o início, para não precisar parar toda hora. Assim, ao
se tirar a pressão do problema, já se obtém uma redução de toda a
problemática.
Certo controle, sob forma de teste, para veri car se se trata de um jogo (de
poder) ou de uma real pressão da bexiga, pode ser feito com arenque salgado de
alcaçuz ou outros tipos de salgadinho, sabendo que se trata de um teste, e não
de uma terapia de longa duração. Se a criança comer os salgados mencionados
durante o trajeto de automóvel, por exemplo, evidentemente sua bexiga deverá
sofrer menos pressão, e, por conseguinte, ela conseguirá segurar por mais
tempo a vontade de urinar, pois o sal retém o líquido no corpo e, portanto,
alivia temporariamente a bexiga.
A enurese também pode ocorrer como sintoma de uma regressão. Isso
ocorre com crianças já relativamente orgulhosas por irem sozinhas ao banheiro,
bem como por já saberem comer com a própria colher ou caminhar sozinhas,
sem serem conduzidas pela mão. De repente, interrompem todas essas
habilidades e regridem a um nível infantil inferior. Voltam a fazer xixi nas
calças, querem que lhes deem comida na boca e as carreguem no colo. Ao se
analisarem as causas desses comportamentos, constata-se de várias maneiras
que a criança inveja seu irmão mais novo e também quer voltar a ser pequena,
para usufruir igualmente dos cuidados maternos.
Jirina Prekop aconselha os pais a não forçar o lho a ter autonomia nem
puni-lo em nenhuma hipótese, e sim a levar seu desejo a sério e a exaurir seus
pedidos com abundância, ao invés de insu ciência. Segurá-lo, transportá-lo no
colo e dar-lhe a comida prestam-se como um jogo amoroso de papéis. “Você
ainda pode ser pequeno...” Na verdade, a criança ainda não estava
su cientemente madura em relação à identidade do seu Eu e, por isso, caiu em
regressão.
 
Perguntas para os pais:
► Como podemos oferecer mais espaço ao nosso lho para que ele viva seus
sentimentos?
► Por que ele se sente sob pressão? Sua pressão vem de fora ou é produzida
por ele mesmo?
► Qual sofrimento não notamos nele? Como podemos ajudá-lo a vivê-lo?
► Sob que aspecto ele precisa de mais atenção e calor do ninho?
► Estamos exercendo sobre ele expectativas muito elevadas?
► Estaria ele sofrendo por sua ou por nossa ambição?
► Existem situações de pressão no jardim da infância, na creche ou na
escola?
 
Medidas de apoio:
► O relacionamento com a criança: não ralhar com ela. Deve-se elogiá-la
(sempre se encontra alguma razão), ter paciência. Recompensá-la, ajudá-
la a perder a vergonha e o medo de fracassar. Também se deve reduzir a
pressão pelo seu desempenho, ouvi-la, introduzir um cotidiano regular,
planejar tempo livre e dedicar-se a ela.
► Escalda-pés em temperatura crescente: cuidar para que ela se aqueça, pois
nenhuma criança deve ir para a cama com os pés frios. Nesse caso, são
úteis a bolsa de água quente ou os escalda-pés noturnos. Sente a criança
na borda da banheira e coloque os pés dela num balde dentro da
banheira. Deixe a água morna escorrer no balde, até car cada vez mais
quente e chegar aos joelhos. A temperatura ascendente não apenas aquece
o corpo inteiro, mas também estimula o sistema imunológico. Para que o
todo se torne um agradável e relaxante ritual noturno, aconselha-se a
leitura ou a narração de uma história. Depois, deite a criança na cama e,
se necessário, ponha meias de lã quentes.
Uma variante técnica muito mais simples é o aparelho para circulação do
doutor Schiele, uma espécie de banheira para os pés, semiautomática.
► Fricções: à noite, antes de ir para a cama, massagear e friccionar com óleo
de hipérico o lado interno das coxas e a região do cóccix. Desse modo, a
atenção é canalizada para a “região problemática”; além disso, o óleo
promove um aquecimento.

15.3 Distúrbios do sono

“Não consigo pregar o olho.”


 
O sono é uma necessidade fundamental. Quando não funciona, o indivíduo
ca perturbado e, com o passar do tempo, é seriamente ameaçado. Se a noite
deixa de ser o período de regeneração, toda a vida para de funcionar. A lei da
polaridade o exprime com clareza: “Se a noite não for boa, o dia tampouco será
bom”. Mas também: “Se o dia não for bom, a noite tampouco será boa”.
Crianças e adultos precisam, em igual medida, da tranquilidade e da
regeneração noturna para darem conta das atividades do dia. Somente quando
o sono melhora é que o homem pode, aos poucos, tornar-se ser humano.
Como para os adultos, entre as crianças a necessidade de sono é muito
individual. Crianças pequenas dormem o dobro do tempo de vigília. Não fosse
assim, terminariam muito cedo e com demasiada frequência no mundo
desperto da polaridade. Um mundo exterior que promove um contínuo estado
de vigília corresponde ao espírito da nossa época, mas certamente não é
saudável nem desejável para o desenvolvimento. Contudo, se o estado de vigília
corresponde ao ritmo espontâneo da criança, a tentativa de forçá-la a uma
“quantidade saudável de sono” não produz nenhum benefício. Ao contrário,
quando o sono se degenera em uma luta de poder, acaba-se determinando uma
situação quase insolúvel para o presente e, no futuro, adormecer passa a ser um
ato programado como problema.
O sono traz os lactentes para o mundo primordial da unidade. Também
durante o dia, quando voltam o olhar para o “terceiro olho” e sonham de olhos
abertos, muitas vezes olham para o reino dos anjos. O sono do corpo permite à
alma uma viagem de volta à sua casa, o reino do além, o mundo sem espaço
nem tempo.
O sono é sempre regeneração e retirada; por isso, é ainda mais importante
no início da vida do que mais tarde. A cama é como uma reprodução do útero.
Quanto mais semelhante e familiar, tanto melhor. Se, além disso, a criança
puder se aninhar na mãe, sentindo seu calor, ela se aproximará ainda mais de
sua origem, o útero. Os homens primitivos, habitantes das cavernas da mãe
terra, aninhavam-se uns contra os outros para se aquecerem durante a noite,
imitando essa situação. Eram seres humanos mais jovens em comparação a nós,
modernos, que eventualmente podemos nos permitir uma cama de design no
meio do quarto espaçoso. Quanto mais jovem ou arcaico é o ser humano, tanto
mais ele criará uma cavidade para dormir, empurrará a cama para um canto e
se encolherá em plumas macias, que lembram a mucosa materna. Não são
poucas as crianças que gostam de sentir embaixo e em cima de si um leito de
plumas, no qual podem afundar e car completamente cobertas. Mas também
se observa o contrário entre elas, quando retiram tudo de cima de si. O único
perigo é a tentativa de agir assim com tudo.
Os antroposo stas são da opinião de que o ritmo do sono deve ser
aprendido aos poucos. Obviamente, isso está entre as tarefas dos pais e, no
mundo moderno, muitas vezes é difícil. Se os próprios pais não seguem um
ritmo, certamente não poderão transmitir nenhum. O sono das crianças é
sensível, e seu ritmo pode ser facilmente comprometido. Em viagens, vê-se
com clareza como um campo ainda não estabilizado pode ser perturbado com
facilidade, enquanto um campo já estável di cilmente sai dos eixos. Esse é o
motivo pelo qual as viagens são muito mais difíceis para as crianças do que
para os adultos.
Nos primeiros anos de vida, o ritmo do sono é continuamente perturbado
por in uências externas, novas experiências, impressões, mas também por
desa os, e é sempre colocado à prova. Há sempre uma razão para a inquietação
interna e para a ameaça ao ritmo do sono, ainda muito sensível nessa fase da
vida: desde as cólicas dos três meses, da passagem da amamentação para a
papinha e da mudança para a própria cama, mas, naturalmente, também da
dentição até as primeiras doenças da infância. Mesmo mais tarde, a entrada no
jardim de infância e o início na escola, com a respectiva troca de contatos
sociais, representam grandes desa os para quem está crescendo e, às vezes,
marcam a vida inteira. Seja como for, as crianças precisam sempre reencontrar
o próprio ritmo, aprendendo a se adaptar; desse modo, sempre requerem dos
pais uma boa dose de exibilidade e capacidade de adaptação.
15.3.1 Ritmos e rituais confiáveis

Pessoas de todas as idades, mas especialmente as crianças pequenas, aprendem


“imitando”. Isso signi ca que os pais deveriam viver, como exemplo, em um
ritmo sustentável e permitir que o lho possa se inserir em um campo de
ritmos vitais, no qual o ritmo seja não apenas aquele xo, de sono e vigília, mas
também aquele regular das refeições. Os lactentes que sofrem das cólicas dos
três meses ainda não encontraram seu ritmo para mamar e, por conseguinte,
também sofrem os efeitos desse dilema. Quando a dentição se inicia, não raro o
ritmo já encontrado volta a se perder.
As psicoses da amamentação também surgem a partir de problemas de
ritmo, quando a mãe, devido a uma amamentação muito frequente, precisa
acordar várias vezes e já não consegue atingir a fase REM, ou seja, aquela dos
sonhos, deslocando, assim, as imagens oníricas interiores para a realidade
externa.
Os distúrbios infantis do sono são apelativos, ou seja, por meio deles, a
criança busca mais dedicação. Alguma coisa não está funcionando direito, a
criança não encontra seu próprio ritmo e, por isso, não consegue crescer. O
hormônio do crescimento (HGH), que só é produzido durante o sono, não
entra em ação, e a criança não consegue se regenerar. Desse modo, pode
ocorrer a situação ambivalente de ela se sentir cansada demais para dormir e
não encontrar a curva para o outro mundo.
No primeiro ano de vida, trata-se de distúrbios que ocorrem no
adormecimento e na continuidade do sono. Praticamente não há criança que,
nesse período, durma sem interrupção. A maior parte delas também mama
durante a noite. Quando os problemas para dormir se iniciam mais tarde, as
crianças acordam assustadas, refugiam-se na cama dos pais ou da mãe. Os
medos mais frequentes se referem a estar sozinho ou ser abandonado, ao
escuro, ao “homem do saco preto” (que geralmente se encontra embaixo da
cama), a fantasmas, ladrões e à morte. Predomina, portanto, o medo do
mundo da sombra.
A tarefa dos pais seria estimular seus lhos a se confrontarem desde cedo
com os temas da sombra, por exemplo narrando-lhes contos de fadas, que
quase sempre se movem no reino da sombra e consolidam esse percurso
clássico na alma. O rico mundo arquetípico dos contos de fadas é nitidamente
superior ao da televisão e dos lmes; suas possibilidades de elaboração estão
muito mais próximas da alma, e o perigo da superexposição aos estímulos é
bem menor.
Como acontece com os adultos, em caso de distúrbios na fase de
adormecimento, trata-se do medo de perder o controle. Com esse distúrbio, a
criança revela falta de con ança (primária). A atmosfera não predispõe a se
deixar o dia para con ar no mundo feminino da noite. Outras causas podem
estar nas expectativas causadas pela escola ou por grandes desa os, como
viagens e mudanças de residência. Algumas crianças também tendem a se
preocupar (demais) e a espantar o sono com seus pensamentos.
Nos dias de hoje, muitas vezes elas simplesmente não estão cansadas o
su ciente, pois o dia não as exauriu. É o que ocorre quando praticam muito
pouco exercício ao ar livre e, ao mesmo tempo, recebem muito estímulo da
televisão ou do computador.
Adormecer é se entregar e é necessário con ança para que se consiga car
sozinho e se abandonar. Não são poucas as crianças que adoram adormecer
junto com o pai ou a mãe, con ando inconscientemente no antigo sistema
tribal, em que todos dormiam juntos para se aquecerem e se protegerem.
No início da vida, os pais têm uma grande participação nos distúrbios do
sono de seus lhos, que os re etem também a esse respeito. Depois do
nascimento, os pais também precisam encontrar novos ritmos, mudar e
reorganizar completamente sua vida. Especialmente no primeiro ano de vida
da criança, não raro os pais desenvolvem problemas um em relação ao outro.
Se o pai estava presente no parto e se deu conta de que sua “garota” tornou-se
não apenas mãe, mas também mulher, enquanto ele, ao contrário, chegou à
paternidade apenas do ponto de vista jurídico, mas ainda continua um garoto,
os problemas (psíquicos) já estão programados – por exemplo, ele sente
di culdade em estar à altura, do ponto de vista sexual, de uma mulher adulta
ou, em outros casos, não consegue superar o trauma do cenário ensanguentado
do parto. Outro aspecto con ituoso ocorre quando a criança se torna a causa
do esgotamento da mãe já muito requisitada e acaba comprometendo a sua
sensualidade.
Esses con itos dos pais costumam re etir-se nos distúrbio do sono dos
lhos. Pais ostensivamente furiosos, com dé cits sexuais, emocionais e de
tranquilidade deparam com mães que sofrem com a falta de sono, de
compreensão e de apoio e que não encontram paz, pois seu lho também não
tem nenhuma e, portanto, ela não tem como existir.
As soluções deveriam incluir o que foi dito anteriormente. Os bebês se
aninham facilmente nos braços ou até nos ombros dos pais. Assim, nos
movimentos oscilantes da mãe, mesmo quando ela está só caminhando, sentem
seu ritmo. Cantar canções de ninar ou mantras ampli ca ainda mais esse efeito.
Igualmente e caz é o ritmo oscilante do berço, sobretudo os que contêm o
sistema “Sleepy”, e dos carrinhos de bebê. Às vezes, pais desesperados põem os
lhos no carro e cam dando voltas no quarteirão até a princesinha ou o
principezinho pegar no sono. Mas quando os tiram do carro, com todo o
cuidado, ele/ela voltam a acordar. Obviamente, seria melhor manter o ritmo e
continuar a embalar o bebê também ao tirá-lo do automóvel.
O lhote do ser humano, que nasce prematuramente, ainda precisa de
muitos cuidados e, na verdade, de um marsúpio como o do canguru; por isso,
o método canguru, tantas vezes já mencionado, é tão e caz. Tudo que se
assemelha a ele é útil.
Em primeiro lugar, valeria lembrar o ritual do sono, que, na melhor das
hipóteses, deveria constituir o m do ritual noturno, cujo decurso claro e
sempre repetido é um auxílio con ável. Depois do jantar, deve-se tirar a roupa
usada durante o dia e lavar os traços deixados por ele. Essas duas ações
concluem ritualmente o dia. Acompanhar essas ações com explicações podem
ajudar as crianças a compreender a importância dos rituais e a se predisporem a
eles com consciência.
Ao vestirem o pijama, a roupa da noite, dão outro passo importante. A
escolha de um bichinho de pelúcia como companheiro noturno também pode
assumir uma importância central no ritual do boa-noite. Às vezes, porém,
também será determinante um fetiche noturno, sempre igual, para
acompanhar e facilitar todo adormecimento através da sua presença e de sua
carga positiva, que, com o tempo, se tornará cada vez maior.
A passagem consciente da posição vertical, em pé, para a horizontal, deitada,
constitui outro passo importante na regressão noturna. Se a criança quiser
continuar sentada, isso é sinal de que ainda não está totalmente pronta para
abandonar o controle da consciência e, portanto, não adormecerá. Mas quando
vai escorregando aos poucos da posição sentada para a deitada, esse sinal fala
por si.
Como já mencionado, contar ou ler histórias antes de dormir pode abrir o
caminho para os braços de Morfeu através do ritmo da palavra ou da canção de
ninar. Quando os pais dispõem do instrumento da meditação induzida,
encontrarão possibilidades ainda mais elegantes para fazer com que seus lhos
adormeçam da maneira correta. O capítulo “Meditar com as crianças”, no livro
Reisen nach Innen [A Viagem Interior] pode ajudar nesse caso. Mas também
uma oração, de preferência como conversa direta com Deus ou com a Mãe de
Deus, pode ter efeitos milagrosos. Quem conversa com Deus e conclui o dia
em Seu nome, obviamente consegue entregar-se mais facilmente a Seu reino.
Determinados sons associados ao sono, e que são familiares por serem
sempre repetidos, também se mostram e cazes. A caixinha de música, que
sempre toca a mesma melodia e apenas antes do adormecimento, ou, de
preferência, a canção de ninar pode conduzir ao re exo condicionado que
introduz o sono de maneira quase automática.
Com as crianças maiores, a conversa à noite, junto da cama, pode ser
importante, especialmente no caso dos meninos, que durante o dia respondem
apenas laconicamente a perguntas como: “Como foi a escola/o esporte/a
excursão?” No período noturno da tranquilidade, permitem que seus
problemas cheguem à superfície, e, assim, os pais conseguem car sabendo e
esclarecer o que durante o dia se agitava inconscientemente na alma.
Um capturador indiano de sonhos pode despertar em algumas crianças a
vontade de sonhar, fazendo com que o sono pareça indiretamente fascinante.
Naturalmente, é importante nunca forçar essas conversas noturnas, mas
apenas colocar-se à disposição. Quanto maior a criança, tanto mais liberdade
terá para decidir o que quer contar e o que prefere manter em segredo.
Entre as condições externas para um bom sono, é prioritário manter os pés
aquecidos em ambiente frio. Pés frios signi cam medo, e criança com medo
não consegue dormir ou dorme mal. O calor no local onde se dorme é uma
analogia importante com o ventre materno e sinônimo de con ança. Em
contrapartida, o mundo exterior, como na realidade, deve ser fresco.
Comparado ao ventre materno, tudo é frio, e é correto que seja assim. Já
durante o sono, as crianças não devem receber cuidados extremos nem ser
mimadas, e sim aprender a suportar algumas coisas sicamente. Para tanto,
precisam de um lugar seguro, para onde possam se retirar, como no ventre
materno, junto da mãe, na cama desta e, por m, em sua própria.
Na passagem da cama da mãe para a própria, pode ser útil deixar uma fresta
da porta aberta, de modo que um pouco de luz e dos rumores dos pais possam
chegar até a criança. A mensagem é a seguinte: “Estamos aqui, e você não está
sozinho!” Contudo, aos poucos se deve providenciar um quarto totalmente
escuro, para que o hormônio do crescimento (HGH), que é tão importante,
possa se produzir em quantidade su ciente.
Pela mesma razão, a ausência de radiação eletromagnética também está entre
as condições externas ideais para um bom sono. A melhor coisa seria poder
investir, sem precisar gastar muito, em um disjuntor de rede. A segunda
melhor solução seria desligar, todas as noites, todas as fontes de corrente. Não é
recomendável ter babá eletrônica junto à cabeceira do berço. Esse tipo de
aparelho é quase um golpe na saúde do bebê, embora, para os pais, noites livres
de preocupações sejam de extrema importância. Um meio-termo alternativo é
oferecido pelas babás eletrônicas modernas, com um bom microfone, que, na
maioria das vezes, também sai caro, mas que envia sinais con áveis a alguns
metros de distância da criança.
Nesse campo também se encontram os modernos acessos à internet através
de sistemas wireless-LAN, que já proporcionam um sono ruim a cerca de 20%
dos adultos – especialmente às mulheres mais sensíveis, que correspondem ao
tipo homeopático fósforo. Nas crianças, a sensibilidade é ainda mais elevada.
Nesse sentido, pelo menos a rede doméstica deveria ser desligada à noite em
favor dos membros mais sensíveis da família.
Mais do que uma questão de ponto de vista são as zonas de interferência
geopatogênicas, denominadas “veios d’água”, não apenas entre as crianças.
Quem perceber que seu lho se refugia sempre no mesmo canto da cama ou
tem pesadelos particularmente persistentes, deveria pensar em uma zona de
interferência e, por conseguinte, deslocar a cama. Se a criança amanhece no
mesmo lugar onde adormeceu à noite, este é um bom sinal. Informações
relativamente seguras sobre essas zonas são fornecidas pela comparação dos
resultados de diferentes rabdomantes. Outro indício é a constatação de que a
criança dorme sem problemas na casa dos avós ou nas férias, ao contrário do
que acontece em casa. Biólogos ambientais, como o prof. dr. Anton Schneider,
aconselham deslocar a cama até se observar uma mudança.
Truques idênticos ou semelhantes também se mostram e cazes com crianças
que já superaram a fase da amamentação ou da primeira infância e até mesmo
com adultos: imaginar um céu cheio de nuvens em forma de ovelhinhas e
contá-las até o intelecto se desligar pela monotonia e permitir que a criança
mergulhe no sono; contar até cem e, depois, ao contrário; escalda-pés com
temperatura crescente ou os exercícios Kneipp têm como objetivo fazer o
sangue circular da cabeça para o corpo ou para as pernas e os pés.
Fundamentalmente, há que se dizer que todos os conceitos sobre como e
quando a criança deve dormir são inimigos naturais do princípio do sono. Este
pertence ao arquétipo de Netuno, ao qual, por sua natureza, nada é tão
estranho quanto os princípios e os conceitos xos.
15.3.2 Problemas específicos do sono da criança

15.3.2.1 Sonambulismo ou lunatismo

“A Lua me atrai.”
 
No sonambulismo, trata-se quase sempre de atividades noturnas inofensivas.
Tanto o sonambulismo (do latim somnus = sono e ambulare = deambular)
quanto a sensibilidade à Lua ou o lunatismo (do latim luna) mostram aspectos
da mesma sintomatologia. Em sua forma mais atenuada, trata-se de um sono
inquieto em noites de Lua cheia, e torna-se mais grave se, nessas fases lunares,
as crianças são acometidas por sonhos violentos, provenientes do reino das
sombras, ou se, sob a in uência da Lua cheia, já não conseguem fechar os
olhos. Com uma vigília noturna, elas como que veneram na Lua o princípio
feminino. Quando realmente caminham dormindo, transformam o tempo
arquetipicamente feminino da tranquilidade noturna em um tempo
marcadamente masculino, de atividade externa. Por trás disso, é evidente a
tarefa adiada, ou seja, a de crescer ativamente no polo feminino. Guiadas por
suas imagens anímicas, elas se levantam sem acordar conscientemente e
iniciam, com a proverbial “segurança do sonâmbulo”, ações singulares,
incompreensíveis à consciência em vigília e que parecem problemáticas ou até
mesmo perigosas.
A Lua cheia, símbolo redondo e completo do feminino, atrai as crianças, as
conquista e as faz sair de si mesmas. O todo acontece em um estado de
absoluta inconsciência e deixa para trás uma completa perda de memória
(amnésia) no dia seguinte. O inconsciente, provavelmente muito pouco ativo
durante o dia, toma posição e surge à noite, durante a Lua cheia, quando os
sinais são mais favoráveis a esse outro aspecto da realidade.
Por trás desse fenômeno há uma repressão, durante o dia, dos impulsos
vitais, provenientes da metade feminina da alma, que, por essa razão, emergem
à noite. O que é irracional e não é razoável só pode ser vivido à noite. Ao
mundo patriarcal, tudo que está ligado à energia lunar, arquetipicamente
feminina, logo parece loucura. Quando as loucuras se tornam ainda mais
evidentes do que em relação àquelas do lunatismo, os anglo-saxões recorrem ao
termo lunatics para indicar todos os “loucos” de que se ocupa a psiquiatria.
Obviamente, os sonâmbulos dependentes da Lua estão muito longe disso.
Neste caso, trata-se de restituir à noite e às forças lunares seu direito de
existir, conceder-lhes o tempo certo e levar a sério o mundo das imagens
internas, que se exprime por meio dos sonhos e das fantasias. Seria útil prestar
atenção na Lua e na sua energia, aprender a apreciá-la e a conceder-lhe o
reconhecimento e o valor que convêm a todo arquétipo. Quem se coloca
voluntariamente sob a in uência da energia lunar e leva a sério o mundo
noturno e de sombra dos sonhos tanto quanto o lado de sombra do dia
aprende e cresce com eles, tornando supér uas as excursões concretas na
sombra da noite. A segurança do sonâmbulo durante suas excursões noturnas
pode ser tomada como exemplo para uma relação equivalente com os símbolos
do mundo das sombras. Assim, a sensibilidade lunar e o sonambulismo são
ocasiões para encontrar o contato com o outro lado (da própria essência) e para
deixar-se guiar e conduzir pelas forças da alma. Isso corresponde à tarefa de
deixar mais espaço ao inconsciente, aproximar-se mais dele, aprender a mover-
se no mundo das sombras, perceber os impulsos do inconsciente e deixar-se
guiar por ele. Ou então, na prática, mover-se mais com a segurança do
sonâmbulo, mas também seguir, durante o dia, o próprio faro e a própria
intuição.
Durante as excursões noturnas, a segurança do sonâmbulo poderia tornar-se
um exemplo da atitude geral de deixar-se conduzir, a condução interior ao
longo da vida. Assim, o desejo de exploração entre os dois mundos poderia ser
entendido como um sinal de distinção.
 
Perguntas para os pais:
► De que modo podemos criar um equilíbrio entre o polo masculino e o
feminino (razão e sentimento)?
► Nosso lho tem oportunidade su ciente de sonhar e abandonar-se às
próprias fantasias?
► Nosso cotidiano tem deveres demais em sua programação?
► Seguimos as nossas intuições e ouvimos os nossos sentimentos?
 
Medidas de apoio:
► Normalmente, não é necessário nenhum tratamento.

15.3.2.2 Pavor nocturnus

“Estou com medo do homem do saco preto.” – “Perco a cabeça de tanto medo.”
 
No caso do pavor nocturnus, também descrito na seção sobre o medo
(15.1.3.1), as crianças acordam de repente no meio da noite, gritando; nada é
capaz de acalmá-las, não reconhecem os pais e estão claramente em outro
mundo. Prova disso é também o fato de que, no dia seguinte, já não se
lembram de nada. Trata-se, nesse caso, de um sintoma semelhante ao
sonambulismo, com o agravante do medo.
Embora as crianças nesse estado não reconheçam os pais, pois as imagens
internas são fortes demais, sua presença geralmente é útil para transmitir à
criança a segurança de que ela necessita em sua luta ativa contra as guras
oníricas. É importante encorajar a criança a sentar-se, pois a posição sentada
transmite mais autoridade em relação àquela deitada. O ideal seria o pai ou a
mãe sentar-se atrás da criança para reforçar, mas também proteger, em sentido
metafórico, as suas costas. Desse modo, a criança encontra “sozinha” a força
para libertar-se das suas guras oníricas.
Entre os remédios homeopáticos típicos para esses sintomas estão aqueles
que têm uma relação com o outro mundo, os “remédios das bruxas”, como o
estramônio (Datura stramonium).
 
Perguntas para os pais:
► Como podemos criar uma atmosfera do sono para o nosso lho, na qual
ele se sinta bem e consiga dormir?
► Como podemos reforçar sua força interior e sua autocon ança?
► Como ele pode aprender a soltar-se com con ança?
► Como podemos demonstrar-lhe que con amos nele? Somos capazes de
soltá-lo?
► Qual a medida de nossa con ança nas forças interiores de sua alma e
como podemos transmiti-la a ele?
 
Medidas de apoio:
► Criar uma atmosfera especial para um sono saudável.
► Proporcionar tranquilidade e não permitir distúrbios vindos de fora.
► Evitar atividades excitantes uma hora antes de ir dormir; por exemplo,
brincadeiras muito agitadas, lmes de suspense, jogos no computador e
histórias agitadas.
► A partir do nal da tarde, renunciar a bebidas energéticas, como Coca-
Cola, chá verde ou preto, Red Bull, etc. (sem levar em conta o problema
especí co, essas bebidas não são adequadas a crianças).
► Temperatura: evitar extremos.
► Luz: escurecer o quarto.
► O quarto da criança deve estar livre de radiação eletromagnética.
► Renunciar a alimentos de difícil digestão e a grande quantidade de líquido
no jantar e depois dele.
► Adotar rituais seguros, bem como hora certa para ir dormir e para levantar;
manter um olhar retrospectivo positivo em relação ao dia.
► A cama não deve ser associada a pensamentos negativos nem a punições.
► Respeito pela duração individual da sesta e pela hora de ir para a cama.
► Rumores de fundo: tenha em mente que algumas crianças que sentem
medo dormem melhor se percebem a vida familiar ao seu redor, mesmo
quando ela faz barulho.
► Como deve ser o quarto: instalar um disjuntor de rede, eventualmente
para a escuridão; bom arejamento; silêncio e colchão adequado
(termoelástico); cama no lugar apropriado (estabelecê-lo com o auxílio de
um rabdomante); puri cação dos campos energéticos de distúrbio;
puri cação do ar (ionizadores contra íons negativos).
15.3.2.3 Falar durante o sono

“Só ouso dizer à noite o que está acontecendo comigo.”


 
O que não se expressa, ou melhor, o que não se pode dizer durante o dia
descarrega-se à noite, possivelmente elaborado pela mesma “instância” interna
que censura os sonhos, para que eles permaneçam incompreensíveis ou de
difícil interpretação. À noite, as crianças poderiam liberar verdadeiros segredos
que não ousam revelar durante o dia. Entretanto, geralmente a censura é tão
e ciente e submete a linguagem a tal estranhamento que, na realidade, não é
con ado nada de compreensível ao ouvinte. Mesmo assim, elas poderiam
sentir-se exortadas a se esforçar nesse sentido.
Se os sonhos “ganham voz” desse modo, é sinal de que, durante o dia, a
criança não tem oportunidade su ciente de falar. Possivelmente ouviu muitas
restrições, como “boca fechada”, “ que quieto”, “não queira ter sempre a
última palavra”, mas talvez também tenha recebido apenas mensagens
subliminares que o desencorajaram de expressar-se durante o dia e dar espaço e
atenção su cientes às suas exigências.
A tarefa dos pais seria oferecer ao lho válvulas de escape e habituar-se a
deixá-lo expressar-se sem cortar-lhe a palavra ou tapar-lhe a boca. O maior
perigo é deixá-lo completamente mudo. Tirar a palavra de alguém é uma forma
sutil de assassinato. Talvez fosse mais vantajoso criar horários regulares de
diálogo, nos quais a mãe ou o pai se interessam exclusivamente pelo que arde
na alma do lho.
Certas situações cotidianas podem facilitar o diálogo. Com as crianças
menores, obtêm-se muitas informações por meio das brincadeiras com bonecas
e animais. Como já foi dito, o silêncio noturno é particularmente adequado ao
diálogo, sobretudo com as crianças maiores, mas também os momentos após
atividades em comum e, muitas vezes, também naqueles em que se cozinha
com os lhos. A cozinha, que é um local de transformação e que com
frequência irradia uma atmosfera muito confortável, tem a vantagem de ocupar
a mãe ou o pai por certo tempo, fazendo com que a criança não se sinta
observada nem o centro das atenções. Nesse contexto, desenvolve-se mais
facilmente a liberdade de falar não apenas dos assuntos secundários, mas
também dos temas que pesam na alma da criança. Às vezes, pedir ajuda na
cozinha pode trazer à luz coisas incríveis.
Quando isso não acontece, algumas crianças podem ser consumidas
internamente por suas próprias chamas e, em vez de arder pela vida, queimar
por dentro. Outras fazem com que a fumaça, que surge a todo sinal de fogo, se
manifeste em forma de sintomas. Em algum momento, as mais vitais
explodirão, no mais tardar na puberdade, e voltarão sua energia reprimida
contra os pais e seus ideais.
 
Perguntas para os pais:
►O que nosso lho não ousa dizer durante o dia?
► Devemos deixá-lo falar com mais frequência?
 
Medidas de apoio:
► Ofereça a seu lho mais oportunidades para se exprimir.

15.3.2.4 Pesadelos

“Sinto medo à noite.”


 
Os pesadelos são manifestações da sombra, uma espécie de terapia noturna da
sombra conduzida por quem sonha. O que durante o dia é escondido debaixo
do tapete, à noite se torna visível nos pesadelos. Os elfos – criaturas imaginárias
da mitologia germânica, “responsáveis” pelos pesadelos – tornam-se ativos e
ameaçam o dispendioso, saudável e burguês mundo infantil diurno com medos
inconfessados e, de modo geral, com toda a sombra não vivida.
Essas irrupções da sombra aludem sempre a uma fase do desenvolvimento
que está para ser cumprida e questiona temporariamente os limites da
personalidade que transmitem segurança.
 
Perguntas para os pais:
► Como podemos descobrir os medos do nosso lho?
► Como trazemos à luz/ao dia seus lados de sombra?
► Quais medos, preocupações e temores tem nosso lho? (Ver a seção “15.1
Medo”.)
► A atmosfera de seu quarto é amigável e pací ca?
 
Medidas de apoio:
► Ver as seções sobre o medo (15.1) e sobre os distúrbios do sono (15.3).

15.4 Sobrepeso

“Quero mais.” – “Estou farto de mim mesmo.” – “Não estou recebendo o


su ciente.”
15.4.1 A epidemia do futuro

Em quase toda parte, crianças gordas já fazem parte da paisagem urbana e


ilustram de maneira deplorável um importante problema do espírito da época.
Já não recebemos o su ciente e engordamos cada vez mais. As crianças só
re etem esse problema de modo particularmente agrante.
No caso do sobrepeso, na maioria das vezes todo o corpo é afetado, o que
demonstra que uma satisfação interna tem de substituir a abundância externa.
Isso pode aludir ao fato de que o alimento estaria desempenhando um papel de
substituto do afeto (dos pais). O amor inicia-se muito naturalmente entrando
no estômago por meio da amamentação. Mais tarde, ele pode sempre regredir a
esse nível.
Portanto, a satisfação interna aliviaria o corpo. Se a criança pudesse
expandir-se, em sentido gurado, e ampliar o próprio campo de in uência, os
limites do corpo não teriam de se forçar para fora. Trata-se de tornar-se
importante em vez de imponente. As crianças precisam ser consideradas
importantes por seus pais para poderem considerar a si próprias importantes e
não adquirirem sobrepeso. Elas pretendem car satisfeitas em diversos níveis.
Nesse sentido, seria prioritário estimular sua fome de vida em vez de deixar
crescer excessivamente sua fome concreta por comida, que é vivida como um
substituto. O alimento psicoespiritual em vez daquele físico poderia ser a
resposta ao sobrepeso. “Educação em vez de hambúrguer!” poderia ser o slogan.
15.4.2 O corpo como espelho da alma[33]

Ainda que o sobrepeso seja um problema de todo o corpo e da criança em sua


totalidade, sempre chama a atenção o fato de que algumas regiões do corpo se
distinguem de modo particular e permitem uma interpretação especí ca.
Durante a infância, o ventre é o ponto central de todo acontecimento, pois,
pelo menos no início da vida, tudo é vivido através dele. Um ventre redondo
simboliza um sentimento equivalente pela vida. Contudo, se ele é
superdimensionado, a vida denota, antes, uma falta de perfeição interna e de
centralidade. Também poderia faltar o “prazer redondo da vida”, bem como a
intuição como um todo. Nesse sentido, uma criança com ventre muito
arredondado deveria ser auxiliada a aprender a con ar na própria intuição e a
viver de acordo com ela. Ela é chamada a tornar a vida redonda, e não o ventre,
bem como a não viver exclusivamente de seu ventre.
Um traseiro desproporcionalmente grande enfatiza os temas da “imposição”
e da “expectativa”, no sentido de “persistir”, e testemunha que eles estão em
falta. Se as crianças afetadas por esse problema aprendem a se impor e a
desenvolver sua capacidade de persistência, até atingirem a condição de saber
esperar e resistir nas situações importantes, liberam o traseiro dessas tarefas de
representação.
Coxas fortes e vistosas demonstram o desejo e a aspiração inconfessáveis de
maior estabilidade e progresso. Se ambas as instâncias fossem realizadas em
sentido metafórico, as coxas seriam liberadas dessa temática.
Um pescoço excessivamente gordo, incluindo queixo duplo, acentua o tema
da “posse”. Normalmente, essa temática é sempre um aspecto da nossa cultura,
que, com o passar dos anos, assume importância cada vez maior. Não obstante,
pode ser signi cativa já na infância. Assim que a criança for capaz de dizer e
pensar “eu”, a diferença entre “meu” e “teu” também ganhará signi cado. Por
exemplo, se houver uma carência no nível emocional ou sentimental, o tema
da “posse” também poderá adquirir uma importância despropositada. Muitas
vezes, são os pais a enfatizarem esse aspecto, enchendo os lhos de presentes
materiais ou comida devido a seu sentimento de culpa. Os próprios adultos,
quando sofrem de carências emocionais ou sentimentais, tendem a se
recompensar com bens materiais.
O pescoço simboliza a incorporação física do mundo.
Por meio dessas regiões especí cas, os pais podem interpretar os problemas
de seus lhos de maneira diferenciada e adaptá-los ao próprio contexto de vida
familiar.
15.4.3 A armadilha moderna da gordura

Atualmente, muitas crianças são mimadas pelas modernas condições de vida e


mal acostumadas no nível errado. Recebem matéria demais em diversos pontos
de vista e amor de menos. Os pais intuem isso e se sentem culpados, o que
piora ainda mais a situação como um todo e, não raro, acabam sendo
explorados pelas crianças mais espertas. Muitas delas, quando se trata de
a rmar os próprios interesses, são inteligentes e obstinadas. Tocam
impiedosamente o teclado da chantagem nas modernas famílias “patchwork”.
O que não recebem em termos de doces ou fast-food de um lado familiar vão
buscar no outro nos nais de semana, não raro subvertendo, assim, conceitos
importantes de alimentação. Crianças mimadas gritam até mesmo junto ao
caixa do supermercado para ganhar um Kinder® Ovo. Em hipótese alguma
devem obtê-lo; do contrário, a chantagem como meio para se atingir o objetivo
terá sido aprendida e passará a ser adotada. Da parte dos pais, é necessário
prestar atenção no sistema da comida como recompensa, no sentido da token
economy (Economia de Fichas), e renunciar a ele mesmo em situações de
estresse e tensão: “Se você comer tudo vai ganhar este ou aquele...” Mesmo o
truque tão comum de “vender” cada colher para aumentar a velocidade da
refeição, segundo o lema: “Mais uma colher para a vovó... e outra para a
mamãe... para o papai”, tornam-se modelos alimentares fatais, que mais tarde
se vingarão mais com a gordura do que com a amargura.
Na vida atual, que decorre de maneira cada vez menos regular e cada vez
mais impregnada de ambição, essas tendências podem até ser compreensíveis e
não ter má intenção, mas conduzem a uma direção perigosa. A vida se move,
reta como uma echa, na direção do progresso de um futuro incerto. A
quantidade derruba a qualidade. O primeiro objetivo é ganhar bem, e não o
que alimenta a alma e proporciona satisfação. Muitas crianças reagem a essa
tendência com a contrarreação passiva da geração desmotivada. Enquanto ao
seu redor predominam o frenesi e o excesso de atividades, elas se recusam e
permanecem sentadas no sofá como um verdadeiro saco de batatas. A mistura
resultante da falta de exercício externo e recusa interna de movimento,
acrescida do fato de que se alimentam por frustração, conduz rapidamente à
armadilha da gordura.
Outra razão para o sobrepeso reside no fato de que as crianças de hoje
também precisam de uma “pele dura” para suportar todos os desa os e o
estresse de uma vida infantil “normal”. As exigências aumentam não apenas
para os adultos da sociedade meritocrática globalizada, mas também para os
mais novos. Desse modo, fortalezas externas podem aludir a uma falta de
segurança interna. Assim, a pele dura substitui, de maneira mais ine ciente do
que correta, a con ança primária e a segurança em si próprio.
A ambição frustrada dos pais também acaba se abatendo cada vez mais sobre
a vida das crianças modernas. Mesmo as menores já são obrigadas a demonstrar
grande desempenho para corresponderem a todas as exigências. Alguém
formado em psicologia que se misturar às mães em um playground assistirá
espantado a verdadeiros programas ambiciosos de iniciação à neurose
predominando nesses campos de brincadeiras. “Como assim? O seu ainda não
faz isso? O meu já fazia com ... meses.” – “Imagine! O meu nem chegou a
engatinhar; já foi logo andando, sem di culdade nenhuma.” As mães não
imaginam que, com essas frases, não raro acompanharão seus lhos de 10 anos
ao grupo de brincadeiras para legastênicos [disléxicos].
Apesar dos diversos estímulos, paradoxalmente as crianças modernas
também costumam ser atormentadas pelo tédio. Sobrecarregadas, por um lado,
e sem envolvimento nenhum, de outro, empanturram-se de doces e batatas
fritas assistindo à televisão ou jogando no computador como seus pais, cuja
silhueta geralmente não está menos fora de forma do que a deles. Se os pais
comem continuamente, sentados diante da televisão, as crianças os imitarão.
Polarizados com a imitação e a ressonância, os neurônios-espelho do cérebro
certamente cuidarão para que isso aconteça. As crianças são mestres da
imitação.
Outro agravante se dá pela falta de movimento. Muitas crianças modernas
quase já não brincam por si mesmas, mas buscam suas brincadeiras na tela do
computador. Por assim dizer, o movimento é delegado aos heróis dos jogos de
ação, que predominam sem rivais na televisão. Quanto menor a criança, mais
facilmente ela é manipulada pela propaganda televisiva. Não é por acaso nem
um ato desinteressado a construção de playgrounds no McDonald’s, onde, aliás,
mal dá para se mexer, pois as crianças modernas escorregam pelos mais
diferentes e coloridos sistemas de tubos, que habilmente fazem lembrar o canal
do parto. A publicidade é mais e caz quando ouvida com frequência; para as
crianças de hoje, não faltam ocasiões para ouvi-la. Uma vez in uenciadas pelo
alimento industrial, que tem pouco valor nutritivo no lugar daquele integral,
não raro passam a vida dependentes dele, com a perspectiva de uma vida curta,
gorda e sem gosto. Infelizmente, a evolução precisa de muito tempo para seus
processos de adaptação. Nos poucos séculos de existência do alimento re nado,
o intestino ainda não conseguiu se adaptar a ele; menos ainda ao alimento de
pouco valor nutritivo como o oferecido nos fast-foods, que, com sua gordura
saturada, equivale a um ataque direto aos vasos sanguíneos (da criança).
A isso se acrescenta o fato de que as crianças modernas costumam ser
deixadas sozinhas, por sua própria conta. Passam a hora do almoço e a tarde
sem os pais e, muitas vezes, procuram nos doces o afeto que lhes falta. A
comodidade faz com que vão à escola de ônibus ou no carro dos pais, em vez
de usarem a bicicleta. Sentindo-se culpados, os pais lhes oporão pouca
resistência. Quase extenuados pela tentativa de se manterem na sociedade
meritocrática, os próprios pais sempre acabam renunciando a uma
programação ativa em seu tempo livre, pois não têm vontade, nem tempo nem
energia para fazerem exercício su ciente. A estagnação resultante transfere-se
para vários aspectos da vida.
Como a ressonância é um dos elementos determinantes da vida, a função
dos pais como modelos acaba sendo decisiva e ainda mais importante do que a
dos professores. Contudo, nas crianças mais velhas e nos adolescentes, a
in uência do ambiente (de vida), do chamado peergroup ou o grupo dos
coetâneos, tem um efeito ainda mais marcante.
No entanto, para a criança pequena, a situação familiar é decisiva. Uma
eventual frustração dos pais acarreta amplas repercussões em sua vida. Se eles
não fazem as compras direito, as crianças tampouco comerão direito. A pressa
do nosso tempo favorece naturalmente que se recorra ao fast-food e às comidas
prontas, enquanto a arte de cozinhar aos poucos entra em decadência, não
obstante ou até mesmo devido a todos os programas culinários na televisão.
Um dos principais problemas também é a perda de rituais xos, como as
refeições em família, que poderiam oferecer uma espécie de moldura ao dia e,
desse modo, transmitir segurança. Nas famílias modernas, a tendência é de
cada um comer quando quiser ou dever. Sem o ritual de fazer as refeições todos
juntos, geralmente cam faltando a tranquilidade durante a ingestão dos
alimentos e a atenção quanto àquilo que se come. Se as crianças se servem
sozinhas na geladeira, existe o perigo de engolirem, em vez de mastigarem, o
alimento errado no momento errado. Isso não signi ca que algumas crianças
não consigam se virar sozinhas com a necessidade moderna de alimento.
Entretanto, quando a família se reúne algumas vezes à mesa e o pai – de
quem, não raro, se exige em excesso – está presente, com frequência são
discutidos vários problemas. A frase “Como vai a escola?” representa para
muitas crianças o m de toda tranquilidade, bem como de todo prazer. Por
conseguinte, em vez de sustentar a vida familiar em comum e seu respectivo
ritual de refeição, essas circunstâncias acabam contribuindo para seu m. Do
mesmo modo, se a mãe está passando por um estresse devido à sobrecarga,
muitas vezes a refeição também perde qualidade. Não raro, tudo vai parar no
forno de micro-ondas, onde, embora seja destruído, pelo menos se torna
rapidamente disponível. Com esse péssimo hábito moderno, é indiferente a
qualidade originária do alimento. Mesmo aquele integral não sobrevive à
tortura do forno de micro-ondas. Dei-me conta de quão pouca consciência se
tem hoje em relação a esses temas em um centro cardiológico de Munique,
onde o leite materno extraído com uma bomba é primeiro congelado e, depois,
reaquecido no forno de micro-ondas.
Além disso, se o alimento é de produção industrial e já não possui nenhuma
qualidade, não será capaz de saciar devido à falta de nutrientes essenciais.
Assim, abre-se o caminho para o drama do sobrepeso precoce, sobretudo
porque o alimento pronto geralmente tem uma parte considerável de gordura.
Nesse caso, também se trata, como sempre, de gorduras saturadas, que são
especialmente perigosas e representam um atentado à saúde comparável ao do
cigarro.
A evolução nos ensinou a comer tudo até obtermos tudo de que
necessitamos. Para tanto, ela utiliza o re exo de saciedade. Porém, quando se
leva ao organismo um alimento ruim, de baixo valor nutricional, com excesso
de calorias, mas poucos nutrientes essenciais e vitaminas, logo a sensação de
saciedade perde o efeito, e a fome ressurge, na esperança, por parte do
organismo, de conseguir aqueles nutrientes essenciais que estão faltando. Por
isso, o alimento industrial não consegue saciar, apenas encher. Porém, as
crianças, que já não conseguem sentir-se satisfeitas, pois não recebem o que
realmente precisam, tendem a comer sem parar e a engordar impiedosamente.
À falta de qualidade, não raro se acrescenta a falta de saciedade em sentido
metafórico, agravando o problema.
Em comparação com esses cenários, as verdadeiras disfunções da tireoide
nas crianças, como causas de um metabolismo basal lento e, portanto, do
sobrepeso, são uma raridade. O metabolismo basal lento, que já se tornou uma
epidemia popular, aumenta o sobrepeso devido à falta de exercício.
Ao perceberem os primeiros sinais dessa predisposição, geralmente os pais
tendem a submeter seus lhos à dieta, como, de resto, fazem consigo próprios.
Assim, em muitas famílias modernas, já na infância se desencadeia a loucura
das dietas, que só produz mais sofrimento. As crianças gostam de tudo que é
proibido; assim, as transgressões ao regime já são programadas, embora ater-se
rigorosamente às prescrições não represente nenhuma solução. Em qualquer
idade, as limitações drásticas acabam com o prazer, e crianças insuportáveis,
que mais sofrem do que vivem a própria infância, são uma punição para si
mesmas e para os pais. Estes também tendem, naturalmente, aos quadros
clínicos correlacionados. Segundo a Organização Mundial da Saúde, obesidade
e diabete tipo II são a epidemia do nosso futuro. Sua base se encontra na
infância, em decorrência de uma alimentação errônea e carente, bem como da
falta de exercício físico, combinadas com o excesso de calorias e com a adoção
de um estilo de vida contraproducente.
O problema se agrava quando as mães, sobretudo as modernas, tendem a
realizar seu ideal de beleza através dos lhos. As tentativas de transformar
meninas pré-púberes em pequenas modelos estão na ordem do dia nos Estados
Unidos, país que representa nosso grande e trágico modelo em relação à
problemática do sobrepeso. O que a mãe não conseguiu realizar por si própria
é tentado com maior pressão por meio da lha. Mães doentes por dietas se
re etem nesses lhos, que são obrigados a crescer em seu corpo com a loucura
da insatisfação. Muitas vezes, isso conduz à anorexia e à bulimia, mas também
ao movimento oposto e sem salvação, quando a resignação entra em ação e a
luta contra a balança é dada por perdida.
Essas mães modernas, que usam os lhos para seus objetivos inconscientes e
para seu próprio ego, vão ao encontro das tendências e invenções modernas,
como o sistema de cadeirinhas compactas (do tipo Maxi-Cosi). O ninho todo
de plástico torna as crianças mais manejáveis. Desse modo, não saem do lugar,
sujam-se menos e podem ser transportadas para toda parte. Obviamente, a
vantagem de poder transportá-las com tanta facilidade também tem aspectos
negativos. Se a criança passasse mais tempo no colo, sentiria mais proximidade
e intimidade, o que seria melhor para o seu desenvolvimento como um todo.
Isso corresponderia muito mais a seu caminho arcaico na vida: de dentro do
ventre para cima dele, no marsúpio, como no método canguru e, depois, para
o colo. Hoje, a criança sai do ventre para o berço, para a cadeirinha e para o
cadeirão. Os três, quando usados muito precocemente, exigem demais do bebê
e mantêm as mães a uma distância desfavorável. De modo geral, esses sistemas
prontos e compactos estimulam o repouso da criança e, com ela, a falta de
movimento. Isso torna todos os sistemas de tipo “contêiner” tão práticos
quanto hostis à vida das crianças. Se as colocamos em repouso externamente ou
com medicamentos, há sempre que se pensar nos “danos colaterais”, que
geralmente são preocupantes.
Muitas vezes, as mães modernas já não têm vontade de se conter e postergar
as próprias vantagens em favor do desenvolvimento da criança. No colo, as
crianças sujam e mancham a roupa. A mãe não consegue se mover como
gostaria, e, assim, as crianças costumam ser deixadas precocemente por conta
própria, postas de lado e, não raro, repelidas pela vida quando são maiores.
15.4.4 Soluções

As crianças alimentadas no colo e com amor estão unidas à mãe, já a partir de


sua posição, e ambas olham a vida na mesma direção. No cadeirão, ao
contrário, a posição é, antes, de confrontação, pois uma está sentada na frente
da outra ou, pior ainda, transversalmente à outra, sem nenhuma possibilidade
de união. Por outro lado, é possível um contato visual mais intenso.
Quanto mais as crianças são envolvidas, tanto melhor. Mais tarde, pode-se
planejar a refeição com elas, para que cada uma receba seu prato preferido, etc.
Quando elas ajudam na preparação da comida, esta passará a ser algo delas, e é
sempre mais difícil boicotar algo próprio. Atividades como preparar brotos,
mas também deixar que cozinhem, assem ou decorem sozinhas pequenas coisas
e ponham a mesa reforçam a motivação, a identi cação e a iniciativa própria
das crianças. O mesmo efeito acontece com a decoração da árvore de Natal,
que causa até mais alegria e dedicação. As crianças mais velhas podem se
divertir atribuindo a cada prato determinado slogan, conotando especialmente
cada dia. Se a qualidade de cada dia se aproximar daquela do dia de aniversário,
a refeição sempre será uma festa, com a respectiva consciência e o devido
respeito. Em famílias com várias crianças, cada uma pode, por exemplo, pedir
em determinado dia o seu prato preferido e ajudar no preparo. Os outros
irmãos são então convidados a experimentar o prato predileto do irmão ou da
irmã.
Tão contraproducente quanto a desvalorização da comida é o extremo
oposto, ou seja, quando os pais – na pior das hipóteses, por sentimento de
culpa ou de fracasso em outros aspectos – enfatizam excessivamente a
importância do alimento saudável e, assim, estressam a si próprios e aos lhos.
A estes também deveria ser permitido, por exemplo, tomar sorvete, do
contrário, acabam atribuindo a este uma importância excessiva, e tudo que não
é saudável passa a conquistar um enorme fascínio. No mundo moderno, não
há como excluir os doces do mundo (infantil). Eles estão por toda parte, não
apenas junto aos caixas dos supermercados. A única chance de escapar deles
estaria em viver uma vida tão doce que esse aspecto material perderia
importância e atração.
Por m, tanto as crianças quanto os adultos podem ser facilmente
orientados para terem hábitos alimentares mais simples e saudáveis. Em
primeiro lugar, a alimentação deveria ser de acordo com a nossa espécie, já que
somos seres humanos com uma dentadura especí ca e um intestino
correspondente. Ambos indicam que somos onívoros, com uma propensão
muito forte para a alimentação vegetariana. Portanto, ingerir carne ou, melhor
ainda, peixe uma vez por semana deveria ser su ciente, até para minimizar o
medo já mencionado.
Em segundo lugar, a alimentação deveria consistir em alimentos que
contenham o que precisamos. Eis a razão para a necessidade de alimentos
integrais. Nos milhões de anos de evolução, não aprendemos outra coisa; por
isso, não podemos prescindir deles. Vale lembrar que foram necessários 12 mil
anos para que a metade da humanidade aprendesse a digerir o leite; será
necessário pelo menos o mesmo período para que ela consiga metabolizar o
alimento industrial sem problemas.
Durante o crescimento, as crianças precisam especialmente de alimentos
integrais, nutrientes e vitaminas. Se ingerirem alimentos sem valor nutricional,
precisarão dele em grande quantidade e sofrerão de excesso de calorias e falta
de conteúdo. A falta no excesso tornou-se uma espécie de marca registrada da
moderna sociedade de consumo.
Como terceiro aspecto, seria necessário prestar atenção no biótipo e na
alimentação adequada a cada estação do ano. No livro Vom Essen, Trinken und
Leben [Sobre Comer, Beber e Viver], há um teste que ajuda a identi car o
próprio biótipo. O princípio é simples: o que cresce em nós também é
adequado na respectiva estação do ano. O alimento exótico deve ser ingerido
com cautela e somente pelo biótipo correspondente.
No Oriente, sabe-se desde os tempos antigos que a comida feita com amor
tem um sabor melhor, é mais saudável e mais digerível, pois a energia com que
é preparada entra no produto nal: “O amor passa pelo estômago”, e, durante
o cozimento, entra no alimento. Seria ideal fazer com que as crianças
participassem das compras e do preparo dos alimentos. No entanto, pesquisas
relacionadas ao tema informam que a atual geração está desaprendendo a
cozinhar, pois o faz cada vez menos. Como já mencionado, uma saída seria
envolver as crianças e fazer com que participem o máximo possível, por
exemplo, dando-lhes vegetais para cortar enquanto se conversa com elas. Se
depois ainda se cozinha e se come junto com elas, seu desenvolvimento
ocorrerá na direção certa.
Do contrário, as crianças acreditarão – como algumas vezes já acontece hoje
– que as vacas são lilases e que as cenouras crescem em árvores. Deixam de
aprender o essencial; não obstante, na escola são sobrecarregadas com planos de
estudos e programas didáticos. Algumas até já possuem agenda, como os pais.
A essas tendências modernas naturalmente corresponde o fast-food.
Recentemente, quando Jamie Oliver, genial e divertido cozinheiro inglês, quis
introduzir nas escolas, com uma surpreendente iniciativa apoiada pelo governo,
uma alimentação saudável, deparou com a resistência das modernas mães
inglesas, que contrabandeavam fast-food dentro das escolas para seus lhos já
estragados quanto a esse aspecto. Obviamente, a comida rápida industrial é
atraente e colorida, pode ser ingerida com rapidez e com as mãos ou sorvida,
uma vez que, por não possuir estrutura, corresponde, antes, à papinha de bebê.
Mesmo a carne ou o peixe são amalgamados desse modo. Particularmente
encantador nos restaurantes desse tipo é justamente a atmosfera de quarto
infantil, com cores vivas e alimentos simples para crianças. Barrinhas de peixe e
cubinhos de frango, carne ou peixe desestruturados entre fatias brancas e
altamente elásticas de pão industrializado, com molho vermelho por cima e
água marrom, açucarada, além de tiras de batatas. O coração da criança ri,
enquanto a saúde se afunda. Somente uma vida conscientemente adequada à
criança poderia evitar esse fascínio natural.
Soluções razoáveis e bem-sucedidas para tais becos sem saída da vida
moderna podem ser obtidas quando a essência dos erros é reconhecida e
substituída dentro do mesmo arquétipo. Portanto, se as crianças gostam da
atmosfera de quarto infantil do McDonald’s, seria necessário oferecer-lhes mais
coisas próprias de crianças em outros níveis. Reprimir necessidades básicas
nunca é a solução, conforme mostra a prática moderna, segundo a qual mais da
metade das crianças deixa a escola com problemas de postura, sintomas por
falta de movimento e distúrbios no metabolismo, e 63% das meninas entre 12
e 18 anos na Alemanha sofrem de distúrbios alimentares.
Alguns truques podem atenuar o tema da comida e simpli car a vida das
crianças e dos pais. Se uma criança não quer comer, é sempre razoável evitar
insistir ou, pior ainda, obrigar; ao contrário, é preferível praticar a própria
con ança segundo o lema: “Nunca ninguém morreu de fome diante de uma
mesa farta”. Nem mesmo em casos em que se percebem traços de anorexia,
obrigar a criança a comer não constitui uma solução real. Contudo, é
importante não permitir lanches entre as refeições. Se as crianças não têm
vontade de tomar o café da manhã ou de jantar, pode-se até mesmo encarar
isso como um ganho saudável. Não é à toa que se fala em “dinner-cancelling”.
Como apenas durante o jejum noturno é secretado o hormônio do
crescimento, seria até indispensável abster-se de comer pelo menos 12 horas
por dia. Nesse sentido, é importante para toda a família não comer mais nada
após o jantar, para que o café da manhã se torne uma verdadeira “interrupção
do jejum”.
Um sono de boa qualidade, durante o qual se produz melatonina su ciente,
é sempre insubstituível, uma vez que toda forma de crescimento, mas também
a passagem de tudo que é aprendido para a memória de longa duração, requer
um bom sono, sem o qual não pode acontecer. Dormir bem requer escuridão e
ausência de radiação eletromagnética, o que pode ser facilmente conseguido
com um disjuntor de rede. Caso as crianças não aceitem a escuridão por medo,
este teria de ser necessariamente tratado por meio de terapia, pois, do
contrário, impedirá todos os possíveis processos de crescimento a longo prazo.
Se as crianças já sofrem de medo, seria urgente cuidar para que não o
comam (em forma de carne). A estreiteza crescente na sociedade moderna já
cria medo su ciente. Sobretudo nas cidades modernas, as crianças pequenas
são transportadas em estreitos des ladeiros com paredes de metal, que lhes
tiram a visão, uma vez que elas mal conseguem superar a altura do para-lama.
Ainda pior é o fato de que o contínuo aumento do consumo de carne
acompanha a queda de qualidade dos produtos. Enquanto na Suíça uma
comunidade como a dos Migros encoraja os criadores de gado da
Confederação a retomar os matadouros individuais em suas propriedades, por
preocupação com a saúde da população, a Comunidade Europeia os proibiu há
anos. Com a pressão crescente da concorrência, à qual são submetidos os
açougues, e a consequente concentração, atualmente a maior parte da carne
provém de grandes matadouros, nos quais o abatimento dos animais é feito em
massa. E, como já mencionamos no capítulo sobre o medo, se todo vitelo ou
porco tiver de assistir à morte de seus semelhantes antes de ser morto, quando
chegar sua vez, ele secretará todos os hormônios do estresse e do medo,
sobrecarregando sua carne com uma pesada hipoteca.
Desse modo, as crianças de hoje “comem” o medo no sentido mais concreto
do termo. Uma analogia torna esse enunciado mais claro: quem fosse obrigado
a assistir à execução de outras dez pessoas antes de ser executado sentiria, no
momento de sua morte, taquicardia, suor excessivo e um medo insuperável no
mais alto grau de estresse. A mesma coisa acontece com os animais nos
matadouros modernos: seu sangue e, portanto, também sua carne cam
saturados de hormônios do medo e do estresse. Esta já seria uma razão válida
para poupar as crianças do consumo desse tipo de carne. Apenas animais de
caça, como a corça e o veado, não são afetados por essa tragédia. Conforme já
amplamente discorrido anteriormente, o peixe é melhor por diversas razões.
Além disso, sobretudo se provém de águas frias, contém os óleos utilizados pelo
nosso organismo.
Quem se abstém do jantar ou do café da manhã obviamente dispõe de um
período maior de jejum para que sejam produzidas a melatonina e o hormônio
do crescimento. Este é particularmente importante para as crianças, pois
estimula não apenas o crescimento, mas também os processos de
desenvolvimento e a criatividade.
Outro hormônio igualmente importante é a serotonina, produzida a partir
do aminoácido L-triptofano e precursora da melatonina, que é o hormônio do
sono. Os pais que querem viver relaxados com seus lhos devem dispor de uma
quantidade su ciente desse hormônio, conhecido como hormônio do bem-
estar. Por um lado, ele reduz a sensação de fome e, por outro, proporciona uma
agradável sensação de bem-estar, facilitando o controle do estresse. A
serotonina não pode ser absorvida diretamente, mas apenas através de seu
precursor, o L-triptofano. Devido a processos metabólicos complexos, essa
absorção é mais bem-sucedida por intermédio da ingestão em jejum de
alimentos crus bem mastigados, o que di cilmente é realizado pelas crianças,
menos ainda de manhã. A solução são as já apresentadas Aminas, mistura de
alimentos integrais crus, moídos em grãos nos e prontos para consumir,
constituída por vegetais ricos em L-triptofano, como amaranto, quinoa,
tupinambor, brócolis e banana. Os diversos sabores oferecidos têm a mesma
e cácia. O importante é ingerir uma colher de sopa da mistura no desjejum,
ou seja, cerca de meia hora antes da refeição, por exemplo junto com um suco
de fruta. Como a vontade de chocolate e doces também pode ser atribuída à
falta de L-triptofano, essa mistura oferece uma oportunidade adicional para
reduzir o consumo desses alimentos, bem como a possibilidade de ter um bom
sono, através de uma produção su ciente de melatonina.
Depois de todas essas considerações importantes, que podem ajudar a
reduzir o sobrepeso, há que se pensar que as razões psíquicas têm uma
importância de ordem superior. Aconselha-se aos pais que também sejam
afetados por problemas de peso a resolvê-los por amor de seus lhos, a m de
que estes possam seguir seu exemplo sem sofrer danos.
Mesmo no nível dos campos, seria possível melhorar ou aliviar muitas coisas
com a respectiva compreensão. Quando são introduzidos e tornados habituais
alguns rituais relacionados à refeição, que conferem certa moldura ao dia, os
horários xos das refeições – desde a amamentação até a idade escolar – podem
conferir não apenas a consciência do que é um bom alimento, mas também
segurança e proteção.[34]
Um estratagema geral, que não deve ser subestimado, é a mudança do
chamado peergroup com a mudança de residência. Trata-se de um recurso de
emergência, cada vez mais considerado por pais conscientes. Assim como
deixam a cidade grande devido aos constantes acessos de (pseudo)crupe,
também podem – sobretudo na puberdade – fugir de situações difíceis, nas
quais o perigo das drogas ou o risco de uma recaída tornam-se elevados. Em
um novo contexto, será mais fácil modi car a temática da comida e levá-la para
outro nível. Em um ambiente arejado pelos princípios da antroposo a,
certamente é muito mais fácil inserir-se com os outros em um campo novo e
mais saudável. No entanto, a esse respeito, as próprias mães também podem
tomar boas iniciativas. Pelos lhos, é possível realizar, da maneira mais simples,
aquilo que se considera bom e correto, ainda que possa parecer meio
antiquado.
Um ponto a não ser subestimado é o ato de beber corretamente. Todo ser
humano deveria beber, pelo menos, dois litros de água boa por dia, de
preferência já na infância. Parte dessa quantidade é absorvida também na
alimentação, na forma de frutas e verduras. Quem aprende a substituir os
refrigerantes pela água também se poupa de uma quantidade não subestimável
de calorias. Contudo, é mais fácil dizer ou escrever do que fazer, pois essas
bebidas são muito doces, e sua publicidade é muito hábil. As bebidas para
crianças pouco diferem daquelas voltadas a atrair os adultos. Se beber água
fosse considerado mais legal, milhões de pais seguiriam essas indicações com
mais facilidade. Os índices a respeito são realmente positivos. A empresa Coca-
Cola, por exemplo, entrou no comércio da água, quando teve de dar por
perdida a longa batalha contra esta bebida.
No entanto, a melhor água, em absoluto, não é a mineral, que ca parada
dentro de garrafas, e sim a corrente e viva, que sai da torneira. Quando dela se
faz bom uso, por provir naturalmente do solo, como nos países e nas regiões
dos Alpes (Áustria, Suíça e Baviera), a água mais saudável e completamente
livre de substâncias nocivas, bem como de calorias, é aquela da torneira e que
não custa quase nada. De fato, a maior parte da água encanada nessas regiões
ainda oferece uma qualidade há tempos perdida na Califórnia.
Mas como convencer as crianças em relação à sua predileção pelos doces?
Uma variante seria oferecer-lhes refrescos naturais, por exemplo, feitos com
suco de limão. A estévia, adoçante vegetal e natural, é inócua e praticamente
livre de calorias. Poderia ser adequada para esse m.
 
Perguntas para os pais:
► Nosso lho consegue sentir su cientemente o amor que recebe?
► Como podemos estimulá-lo interna e externamente a sentir prazer com o
movimento?
► Nosso lho tem con ança em si mesmo? Consegue levar-se a sério?
► Como podemos fazer com que ele tenha curiosidade/fome de vida?
► Nosso lho possui con ança primária? Como podemos reforçar sua
alegria natural de viver?
► Somos um bom modelo no que diz respeito à nossa relação com o
alimento?

15.5 Distúrbios da fala

15.5.1 Gagueira

 
“Eu também gostaria de ter a palavra, mas ela não sai.”
 
Normalmente, a gagueira se manifesta entre o terceiro e o quinto ano de vida,
e apenas raras vezes após o sétimo. Excepcionalmente, pode ser desencadeada
por choques ou experiências traumáticas, até mesmo em idade adulta.
É provável que, entre as pessoas que sofrem de gagueira, o número de
homens seja cinco vezes maior do que o de mulheres, o que indica que o
problema estaria relacionado a um distúrbio no hemisfério esquerdo, região
cerebral arquetipicamente masculina. Os gagos conseguem cantar quase sempre
sem nenhuma di culdade. Mesmo em estados de profundo relaxamento ou em
transe, sua fala ui sem impedimentos. Enquanto a linguagem se encontra sob
a in uência do lado direito e feminino do cérebro, o problema desaparece
sozinho.
Segundo alguns estudos, de 40% a 60% dos gagos encontram o mesmo
problema no pai ou na mãe, o que nos leva a pensar em imitação social. Com
frequência existe uma história prévia, na qual o pai ou a mãe não deixava o
lho ter a palavra. Não raro trata-se de um pai bem-sucedido, mas autoritário,
que, em virtude da própria vitalidade e impulsividade, não concedia ao lho
seguir seu próprio ritmo, mais lento, e sempre lhe tomava a palavra ou o
interrompia por pura impaciência. Quando a velocidade normal de uma
criança é desaprovada como lentidão e um dos pais a critica e a in uencia com
tentativas de abreviação, a criança tenta, necessariamente, falar mais rápido e,
em última instância, até como uma metralhadora e acaba se sentindo sob
pressão. Desse modo, o pai ou a mãe com semelhante pretensão mostra
alopaticamente ao lho a tarefa que lhe cabe, ou seja, exprimir-se mais devagar
em vez de se comunicar como uma metralhadora. Em relação ao outro
cônjuge, que em cerca de metade dos casos também era “atravancado” na
infância, a criança re ete, em sentido homeopático, a sua temática de articular-
se de maneira mais incisiva.
Segundo as experiências dos pediatras antroposó cos Soldner e Stellmann,
em grande parte dos afetados existe um con ito inconsciente e correspondente,
que acaba se evidenciando como gagueira. Entretanto, um choque ou trauma
também são considerados causas possíveis. Em cerca de 30% dos casos
restantes, trata-se de um atraso no desenvolvimento linguístico, provavelmente
no centro da linguagem, que pode ser visto até mesmo em uma alteração no
eletroencefalograma (EEG).
O que acontece quando se gagueja? As palavras cam literalmente
bloqueadas na garganta e não saem com uência da boca, que, nesse caso,
representa uma espécie de megafone ambivalente. Como símbolo da expressão
e da maioridade, a boca faz ressoar os temas problemáticos. Formular um
enunciado torna-se extremamente difícil, e a maioridade é colocada em
discussão. As crianças também podem exprimir seus pensamentos e
sentimentos ou se libertarem de maneira fragmentada. Frases como “não
consigo falar” ou “me deixe terminar!” podem contribuir para compreender
outros aspectos da situação psíquica.
15.5.1.1 Subcategorias da gagueira

Grosso modo, podem-se distinguir, sobretudo, três tipos de gagueira:


 
– Repetições involuntárias de sons e sílabas: nesse caso, é clara a insistência em
querer enfatizar alguma coisa, mas também o medo de não ser ouvido
dizendo-a apenas uma vez. Esse tipo de gagueira causa um efeito
particularmente irônico nos ouvintes e desperta pouca compaixão quando
a criança não consegue exprimir as palavras.
– Extensão dos sons: é provável que a criança não queira repetir-se
constantemente; por isso, alonga as sílabas, o que pode causar um efeito
de extrema “irritação” no ambiente. Em uma época de tanta impaciência,
alguém brinca manifestamente com o tempo. Sabemos que, no futebol,
esse comportamento não é nada apreciado. Quando os jogadores querem
ganhar tempo, os espectadores têm a sensação de que são feitos de bobos.
O mesmo efeito se dá com os insólitos alongamentos das palavras
pronunciadas pelos gagos, que “brincam com o tempo” e com seu
“público”.
– Bloqueios durante a pronúncia de uma palavra ou antes dela: por trás da
incapacidade (quase) completa da criança de formular uma palavra, é
possível que se esconda o fato de ela não ousar esclarecer e expressar
alguma coisa. Esta é a variante mais frequente da gagueira e também
aquela que gera mais compaixão, desamparo e disponibilidade para ajudar.
Tem-se vontade de abraçar a criança que não consegue se expressar, e
algumas pessoas antecipam as palavras para elas. Quando todo mundo
conhece a palavra que está por vir e alguém, inconscientemente, faz disso
um drama, é natural que a situação acabe adquirindo uma atenção toda
teatral, que, no entanto, ocorre no nível do inconsciente – e isso deveria
ser ressaltado em todos os sintomas – e não pode ser modi cado pela
pessoa afetada. Um paciente que de gago tenha passado a animador
resolveu de maneira impressionante o tema “estar no centro das atenções e
querer chamar a atenção”.
 
O pescoço representa a conexão e a comunicação, e ambas são
comprometidas na gagueira. Como o intercâmbio verbal é muito difícil e
vivido como efeito de nervosismo tanto pelo mundo exterior como pela pessoa
afetada, somente a muito custo a comunicação consegue alcançar seu objetivo,
que é produzir comunhão (do latim communicare, que signi ca “fazer junto,
comunicar”). A língua completa o quadro do problema, pois tem seu papel, é
responsável pela formulação da linguagem, mas também pode ser usada como
arma. Expressões como “está na ponta da língua” (mas não sai), “frear a língua”
(para não falar demais), “morder a língua” (para não deixar escapar algo
perigoso) revelam quanta energia agressiva pode circular em torno desse órgão.
Para os gagos, as palavras simples também se tornam trava-línguas. Eles
chegam àquele staccato típico da língua que, quando ouvido com mais atenção,
também revela um caráter agressivo.
Ao crescerem, as crianças procedem cada vez mais do sentir para o pensar e,
naturalmente, também querem transmitir esse processo verbalmente. Quando
isso não ocorre, não conseguem se expressar e veem-se automaticamente sob
pressão, que pode aumentar a níveis consideráveis. No terreno de um
respectivo congestionamento, a boca se torna uma passagem estreita. O
conduto é estreitado, e o resultado, um típico atravancamento. Expressões
como “as crianças são a boca da verdade” e “a boca fala do que está cheio o
coração” revelam as maravilhosas possibilidades que não podem ser aplicadas
pelos gagos. Eles têm “papas na língua” e não conseguem “ter coragem de abrir
a boca”; todavia, por outro lado, são preservados de “falar demais”, “cortar a
palavra de alguém” ou até de “tirar as palavras da boca de alguém”.
O desejo crescente de se expressar, embora nem tudo esteja bloqueado de
uma vez, leva os gagos a uma estranha e impressionante inibição. Já não
conseguem expressar o que os pressiona e os oprime; por outro lado, também
submetem seus torturados ouvintes à pressão.
Podemos nos perguntar por que quase todas as pessoas cam tão irritadas
com a gagueira. A resposta certamente está relacionada à situação de frustração
criada por ela. Não se consegue ir adiante. O progresso é interrompido; a
imagem verbal do bloqueio torna-se ultraevidente. Alguém sofre, sem ser
ouvido, do congestionamento de impulsos que não são expressos. Uma imensa
aspiração contrasta com um resultado mínimo, uma situação que muitos
conhecem, ainda que a experimentem e a elaborem de outra forma.
Com seu staccato verbal, os gagos forçam os outros a uma atenção
considerável. Todos se concentram neles, querem ajudar a abrir caminho para
as palavras e vivem dolorosamente seu bloqueio. O que sai, no verdadeiro
sentido do termo, é apenas uma obra fragmentária. As palavras não passam
pelos lábios, ou seja, ao gaguejarem, essas crianças se colocam no centro das
atenções e exercem um poder que, dependendo das circunstâncias, agrada aos
outros. Por m, os presentes disponibilizam todo o tempo necessário para suas
exigências e ouvem ansiosos, embora não totalmente atentos. Veem no
bloqueio verbal da criança todos os próprios bloqueios e, assim, embora em
um nível irremissível, unem-se a ela.
No constrangimento da atenção evidencia-se uma pretensão ao domínio
semelhante àquela presente na asma brônquica, em que tomar ou inspirar o ar
torna-se um problema, pois, anteriormente, nada foi dado. Na gagueira,
também se bloqueia e se suspende o ato de dar, uma vez que o uxo da
expiração, no qual a língua deveria se modular, é constantemente
interrompido, saindo aos tropeços e solavancos em vez de uir. Muitas vezes,
em sua base reside um acúmulo de agressividade reprimida. Não raro, trata-se
de coisas que não podem ser ditas nem expressas, como situações de abuso
sexual, que impedem o uxo tranquilo dos pensamentos, demonstrando,
assim, a que tipo de pressão a pessoa está submetida. Na gagueira manifesta-se
o rigor com que a pessoa afetada foi proibida de falar. Às vezes, as próprias
vítimas se proíbem e se impedem de colocar para fora os horrores vividos, pois,
dependendo das circunstâncias, associam-nos a um sentimento de culpa. Por
outro lado, porém, o sintoma mostra o quanto esses conteúdos reprimidos
insistem para sair; eis por que coloca todos os presentes sob pressão. Justamente
os aspectos obscuros, que foram empurrados para o reino das sombras,
precisam de expressão e voz a longo prazo, a m de recolocar a vida em seu
uxo. A interrupção do uxo vital da psique tem sua representação mais e caz
na gagueira.
Algumas crianças, porém, não querem absolutamente ser o centro das
atenções; ao contrário, retiram-se ao máximo para não serem um peso para
ninguém. Falam tão pouco que correm o risco de acabar em total isolamento.
Isso mostra claramente quão destrutiva pode ser a repressão.
Além disso, a gagueira é uma forma atormentada de repetição constante.
Por um lado, essas crianças não conseguem dizer o necessário; por outro,
tornam-no particularmente importante – com a repetição constante –,
colocando a si próprias e os outros sob uma cansativa pressão. Esta é uma das
razões pelas quais os gagos costumam ser evitados e excluídos. Não raro, as
outras crianças riem deles, o que, por sua vez, aumenta a pressão.
Nesses casos, bem como após choques, traumas ou punições severas
(sobretudo injustas), a língua é literalmente bloqueada pelo medo. As palavras
faltam no verdadeiro sentido do termo. Nessas situações extremas, as crianças
podem “perder a língua” e, com ela, a capacidade de “dar voz” a seus desejos. Já
não conseguem exigir o “direito à palavra”, mas tampouco dizer alguma coisa
“da boca pra fora”.
Houve um caso em que uma menina reagiu à separação abrupta dos pais
com a gagueira. Assim que o pai retornou, a gagueira desapareceu com a
mesma rapidez com que havia surgido.
Tentativas posteriores – embora bem-intencionadas – de reparar os erros
cometidos com exortações do tipo “fale de uma vez!” ou “diga o que o está
incomodando!” costumam ocorrer tarde demais, sobretudo quando o sintoma
já está consolidado.
As sugestões terapêuticas resultam da interpretação do fenômeno. O
problema localiza-se no hemisfério esquerdo e, por isso, afeta apenas o polo
arquetipicamente masculino. A gagueira surge com a pretensão de
(co)determinar a vida da criança. Tudo o que ui, que tem ritmo e que provém
do polo feminino permanece inalterado; em contrapartida, o intelecto e o que
é in uenciado pela razão é bloqueado. De um lado (arquetipicamente
feminino), tudo ui sem impedimentos; as crianças cantam, dançam e
conseguem converter em palavras, sem nenhuma di culdade, qualquer
cantilena, desde que esta provenha do hemisfério direito e feminino do
cérebro. Já o lado arquetipicamente masculino, baseado no intelecto e na razão,
no desempenho e na e ciência, recusa-se a fazer isso de um modo que requer e
impõe atenção.
15.5.1.2 Soluções

O fato de o polo masculino ser impedido de exprimir-se revela o dever de


colocá-lo, antes de tudo, em segundo plano. Antes que as crianças aprendam a
falar, elas expressam suas necessidades sicamente, sorrindo ou
choramingando, gritando ou agarrando-se, chorando ou abrindo um largo
sorriso. Essa expressão corporal é a primeira faculdade que dominam. Com a
integração da linguagem intelectual, própria do polo masculino, evidentemente
precisam dispor de mais tempo. Na imagem verbal da gagueira, manifesta-se a
hesitação necessária.
Depois de um choque, um trauma ou uma severa repreensão, pode ocorrer
uma regressão, de maneira que o terreno masculino, originariamente já
conquistado, é perdido e deixa de funcionar com uidez.
Antes de tudo, as crianças devem recuperar o polo feminino como base e, a
partir dele, reconquistar a segurança. Se os pais cantarem, zerem carinho,
brincarem e pintarem, estarão fazendo maior justiça a essa exigência. Após uma
situação de abuso, torna-se particularmente evidente que não se pode tratar de
dar explicações intelectuais à criança; ao contrário, além de um tratamento
terapêutico eventualmente necessário, é preciso abraçá-la e transmitir-lhe amor,
para fazer com que ela volte a ter esperança e con ança no mundo. Através de
uma nova conexão com a con ança primária, a criança poderá, posteriormente,
voltar-se com certa abertura também ao polo masculino.
Um complemento útil é oferecido por meio da linguagem das meditações
conduzidas, que, governadas pelo polo feminino, têm o objetivo de alcançar o
relaxamento e o transe. Trata-se de um tipo de linguagem sentimental e
emocional. Os pais poderiam aprender essa linguagem – sem nenhuma
di culdade, através dos respectivos CDs – e ensiná-la aos lhos. Na maioria
dos casos, ela também pode ser falada com uência mesmo por crianças que
sofrem de forte gagueira. Uma linguagem que se baseia nos jogos de palavras e
na compreensão destas, bem como no prazer de utilizá-las, conseguindo
exprimir o próprio ritmo e o próprio signi cado, mas, ao mesmo tempo, se
dissolve na boca, certamente é a que está menos predisposta aos sintomas da
gagueira. Em seu conjunto, é mais feminina, está mais próxima dos
sentimentos e das emoções e é mais apropriada para veicular imagens de contos
de fadas e fantasias. Por natureza, uma vez que é intrinsecamente melódica,
também é uma linguagem que pode ser adaptada à música; pode-se dizer que
introduz a música na linguagem. Igualmente útil é conectar a linguagem ao
corpo e a seus movimentos. Nesse sentido, dançar e brincar enquanto se canta
também são exercícios que se prestam ao mesmo m.
Quando há o predomínio de um campo arquetipicamente feminino, é
natural que mais tarde se consiga conquistar também o polo oposto masculino.
O sintoma requer das pessoas afetadas que elas dediquem uma atenção
explícita a esse polo. Elas devem controlar e analisar manifestamente,
subdividindo suas frases e palavras em porções menores. “Uma coisa por vez” é
a mensagem que se pode reconhecer na gagueira.
Além disso, do ponto de vista homeopático, trata-se de conquistar o próprio
espaço, encontrar o próprio lugar, exigir e tornar o centro de si mesmo e dos
outros. Geralmente, a gagueira se manifesta no jardim de infância, onde as
crianças têm de aprender a se impor, a expressar suas próprias necessidades e a
ser ouvidas. A partir de então, seus desejos já não serão lidos em seus lábios
nem em seus olhos, mas terão de ser expressos por meio do intelecto e da razão.
Precisarão conquistar a atenção dos outros de outra forma e aprender a
interessá-los com outras estratégias. É normal querer cativar as outras pessoas,
mas, obviamente, não por intermédio de uma gagueira torturante. Com ela se
transmite ao ambiente um contínuo estado de expectativa, no sentido de que
todos aguardam a palavra decisiva sair de sua boca. Isso poderia ser alcançado
de outra maneira. Em vez de submeter os ouvintes e a si mesmo à pressão e à
tensão, por não conseguirem se expressar, as crianças com gagueira deveriam
conquistar com vigor esse novo mundo emocionante e transformar-se em
pessoas cativantes e interessantes.
Além disso, o sintoma requer que elas aprendam a ltrar seus pensamentos,
a não deixar sair sempre tudo e em qualquer ocasião, mas que adaptem a
velocidade às circunstâncias, que escolham o ritmo linguístico certo e
encontrem a melodia verbal. Os gagos estão fora do ritmo consigo mesmos e
com o ambiente. Como querem dizer muitas coisas rápido demais, saem do
ritmo e chegam a dar a impressão de serem um tanto mal-educados quando,
com seu sintoma torturante, exigem demais de si e do ambiente. O lema
adicional no percurso terapêutico poderia ser: “Não tudo de uma vez, mas uma
coisa depois da outra”.
Uma boa possibilidade consiste em aprender outros caminhos para
controlar o pensamento e a linguagem, não apenas detendo-se com mais
frequência, mas também repetindo internamente e re etindo sobre os
pensamentos antes de manifestá-los. Desse modo, a cabeça poderia subtrair o
controle do instrumento linguístico que está sob estresse. O caminho do
“querer ser compreendido” para o “encontrar compreensão” poderia ser
aprendido desse modo.
O arco ainda pode ser mais esticado. Sob as vestes de um gago, muitas vezes
se esconde uma natureza muito espirituosa, razão pela qual eles suscitam
hilaridade. Por isso, poderiam muito bem divertir os outros de maneira
agradável e, assim, passar da tensão negativa para a alegria positiva. As piadas
surgem de uma descarga inesperada da tensão, que ocorre de maneira insólita e
original. Desse modo, o gago poderia liberar toda a tensão depositada em sua
maneira de se expressar através de curtos-circuitos espirituosos e equivalentes,
que lhe permitirão, por assim dizer, como efeito colateral, encontrar seu uxo
verbal rítmico. Assim como ele se rende ao uxo dos sentimentos e das
imagens verbais, ele poderia fazê-lo até mesmo em relação ao uxo da vida,
con ando nele em sentido amplo. Em última instância, trata-se de fazer
justiça, em um nível mais liberto, ao arquétipo Urano, que se manifesta nesse
quadro clínico. Como ocorre nas brincadeiras modernas das crianças
irrequietas, trata-se de “sair da linha”, “passar dos limites”, infringir as normas e
levar uma vida divertida e “louca”, de maneira mais original do que por meio
da inquietação dos difusos quadros sintomáticos da agitação ou da gagueira.
Ao mesmo tempo, é oportuno ocupar-se e reconciliar-se com conteúdos
impositivos e inconscientes, a m de vencer aos poucos o medo que eles geram.
Para tanto, seria necessário encorajar mais as crianças no que se refere a
pensamentos que surgem ocasionalmente, para que elas aprendam a resistir e,
sobretudo, a con ar nas imagens mentais, provenientes do hemisfério feminino
direito.
Para reconhecer os próprios lados obscuros, também é necessário confessar a
si mesmo os desejos de poder e controle sobre os outros, bem como encontrar
caminhos mais livres e percorrê-los. Justamente por ser um ponto tão delicado,
as crianças podem precisar da ajuda dos pais nesse processo.
É natural que as crianças queiram ter a palavra. Por isso, seria bom
conceder-lhes conscientemente “horas de diálogo”, nas quais elas tenham
tempo para exprimir os próprios interesses. Elas precisariam, por assim dizer,
de espaço para sua autorrepresentação. A palavra “exprimir” é bela e deve ser
levada ao pé da letra. Exprimir-se em vez de espremer-se ou até mesmo ser
espremido!
Segundo Soldner e Stellmann, o trabalho logopédico também deveria
envolver os pais. As crianças teriam de ser cada vez mais integradas às
conversas, encorajadas verbalmente e, em nenhum caso, poupadas. É
necessário possibilitar a discussão e a expressão, para que as impressões possam
ser elaboradas, o que acontece de maneira decisiva por meio da expressão.
Se as crianças comprimirem a linguagem, possivelmente se sentirão
pressionadas pelos pais ou por seu ambiente social, para não dizer totalmente
chantageadas, a m de que não digam tudo o que sabem, de maneira que a
instância do controle é sobrecarregada (por exemplo, nos casos de abuso). Por
outro lado, podem sentir-se exploradas quando se quer tirar delas muita coisa
com muita rapidez (em termos de desempenho). Nesse caso, haveria que se
pensar na impaciência e na ambição excessiva, ou seja, em expectativas muito
elevadas por parte dos pais. Somente eles podem interromper os círculos
viciosos que se desenvolvem. Seria vantajoso adotar uma dupla estratégia entre
as horas de diálogo já mencionadas e os questionamentos dos pais,
especialmente em relação às expectativas pessoais e a todos os projetos
ambiciosos.
O objetivo é tornar a criança segura de si, deixando-a viver como em transe,
sem re etir e, sobretudo, livre do medo, para que a vida possa uir e
transcorrer como as palavras no canto.
 
Perguntas para os pais:
► Em que situações não deixamos nosso lho terminar de falar?
► Como podemos transmitir-lhe a alegria de falar?
► Em que circunstâncias somos impacientes?
► Por que nosso lho não ousa abrir a boca?
► Que perguntas o colocam sob pressão e quais o encorajam?
► Em que situações nosso intercâmbio ca paralisado? Quando não
conseguimos seguir em frente?
► Dedicamos tempo su ciente ao nosso lho?
► O que reprimimos? Qual assunto deveríamos trazer para a conversa?
► Houve alguma experiência traumática?
 
Medidas de apoio:
► Terapia craniossacral: pode ser útil quando o possível fator desencadeador
ou uma circunstância concomitante da gagueira for um acidente, um
parto difícil ou um retardo geral do desenvolvimento.
► Exercícios que estimulam o senso de ritmo, como dançar, tocar bateria,
andar com bastões de caminhada ou aprender eurritmia.
► Artes: cantar, rimar, decorar e recitar textos.
► Horas de diálogo: dar a palavra à criança e deixá-la terminar de falar;
conceder-lhe tempo; ouvi-la com calma e relaxamento.
► Fazer poucas advertências e não nutrir expectativas. Evitar situações de
estresse.
► Negar à criança o poder de colocar-se no centro das atenções através da
gagueira. Não dispensar uma atenção especial ao processo linguístico.
► Meios de comunicação de massa: evitar o excesso de estímulos por
computador, televisão, etc.
► Providenciar uma regeneração e um sono su cientes.
► Treino de conversação: com o auxílio de um metrônomo e escandindo as
sílabas, de preferência com o acompanhamento de um especialista.
15.5.2 Ceceio

“Chamo a atenção porque sou inconveniente.”


 
No caso do ceceio, é como se a língua fosse comprida demais e batesse nos
dentes anteriores. De certo modo, ela se escandaliza e passa a suspeitar de que o
enunciado também poderia ser ligeiramente inconveniente. Normalmente,
trata-se de um pequeno defeito de pronúncia, muitas vezes relacionado a um
período de transição, por exemplo em relação à perda e troca de dentes. Com
frequência, as crianças passam intencionalmente por uma fase de ceceio, na
qual, geralmente em seu peergroup, chegam a se esforçar para cecear. Nesse
período, esse inócuo defeito de pronúncia lhes confere certo ar de tolice, que às
vezes elas enfatizam deliberadamente. Crianças que ceceiam de propósito
relacionam essa característica a um comportamento infantil que muitas vezes
pretende exprimir algo como: “Ainda não sei falar direito; seja amável comigo”.
Entretanto, quando essa anomalia da fala não se perde, ela merece uma
interpretação séria, uma vez que pode permanecer relevante por toda a vida. À
medida que o ceceio é acompanhado por um sibilar contínuo, ou seja, a língua
se desloca para a frente dos dentes, ele lembra uma serpente. De fato, os sons
também adquirem um aspecto levemente sibilante. Eis por que poderia se
tornar preocupante: a serpente Kaa, em O Livro da Selva, ceceia e, embora
tenha um ar simplório, é perigosa e traiçoeira, aspectos que só consegue
esconder por trás de seu jeito aparentemente ingênuo.
A tarefa consistiria em prestar atenção nessa característica e tomar
consciência do próprio sibilar de uma língua possivelmente a ada,
escondendo-a quando ela sibilar ativamente. Quando a conotação negativa
expressa for intencional, ela poderia ser cultivada em nível consciente, pois,
dependendo da situação, pode fazer sentido defender os próprios interesses de
maneira sibilante e alerta.
Do ponto de vista alopático, os pais poderiam recorrer no correspondente
treino logopédico de pronúncia, em que as crianças aprendem a recuar um
pouco e a fazer o mesmo com a língua, ou seja, a ter certa reserva no âmbito
verbal.
 
Perguntas para os pais:
► Por que nosso lho quer dar a impressão de estupidez e ingenuidade?
►Será que ele tem mesmo uma língua a ada?
► O que ele não quer exprimir?
► Para que temas escandalosos ele quer inconscientemente chamar a
atenção?
 
Medidas de apoio:
► Homeopatia e logopedia.

15.6 Tiques

“Ajo de maneira diferente.”


15.6.1 Redimindo o princípio uraniano

Os tiques pertencem ao princípio arquetípico de Urano e, ao mesmo tempo, o


representam muito bem. Chamam a atenção e tiram seus portadores da sua
função (normal). A criança suscita uma impressão diferente, que vai da
singularidade à estultice. Uma criança com um tique curioso acaba por se
excluir do grupo e, não raro, é ridicularizada. Melhor seria, nesses casos, trazer
espontaneamente mais loucura para a vida, sair da linha e passar dos limites,
dar uma de louco, percorrer caminhos novos, próprios e originais – ou então
dançar e, assim, fazer justiça ao princípio uraniano em um nível de maior
redenção.
A respeito desse tema, vale a pena assistir ao lme da Disney Duas Vidas,
com Bruce Willis. Nele, o pequeno tique – a contração compulsiva de uma das
pálpebras – indica ao protagonista o caminho para resolver um problema da
vida: o bem-sucedido consultor de imagem perdeu a tal ponto o acesso à sua
criança interior que esta se insinua em sua vida – em termos psiquiátricos se
diria “de maneira psicótica” – e a tumultua até ele voltar a falar e, sobretudo,
brincar com ela. A contração da pálpebra, vivida diariamente pelo
protagonista, é a única lembrança, embora inconsciente, que restou do terrível
episódio em que seu pai lhe atribui a culpa pela morte da mãe. Por isso, mesmo
não se lembrando do evento, ele passa metade da vida punindo o pai com
desprezo. Ao reviver conscientemente a situação da injusta e injusti cada
atribuição da culpa, a recordação retorna, e o tique desaparece no mesmo
instante.
Quando visto repetidas vezes, esse lme pode constituir, também para as
crianças, uma espécie de terapia para os tiques. Pode-se, inicialmente, assistir a
ele com a criança que sofre de tiques, como simples diversão, e depois discuti-
lo em detalhes, no sentido especi cado acima. Em uma segunda ocasião, vale a
pena vê-lo novamente para atingir esse nível de compreensão. Ao nal, como
acontece no lme, é recomendável proceder a uma meditação conduzida sobre
o tique da criança. O ideal é que o pai ou a mãe realize essa meditação,
fornecendo sustentação ao lho.
Os tiques revelam e lembram problemas e temas reprimidos, antigos, mas
ainda importantes. Tal como os famosos atos falhos de Freud, eles conduzem às
pistas de feridas do passado, delitos, desentendimentos, traumas insuportáveis,
até crimes não expiados.
Quando nos concentramos em um tique, ele se reforça. A tentativa de evitá-
lo torna seu “proprietário” nervoso ou até agressivo, não mais senhor da casa
que é seu próprio corpo. Visto por esse ângulo, dar livre curso aos tiques
comporta certo alívio. Pelo menos assim, as pessoas afetadas permanecem em
contato com a problemática reprimida. Os tiques obrigam a isso, e não se pode
fazer nada para impedi-los. Quando recebem atenção, conduzem, por assim
dizer, toda a energia para o tema a eles vinculado, na esperança de trazer
novamente à consciência a relação com o problema real.
Nesse sentido, caberia aos pais acessar, junto com seus lhos, o segredo do
tique, interpretá-lo até ele revelar esse segredo e, por m, reviver a situação
originária. Somente então o tique irá desaparecer, pois sua tarefa, ou melhor,
seu dever terá sido cumprido. Toda a tensão e todo o acúmulo de energia, que
até então se descarregaram de maneira incontrolável no tique, podem
nalmente estar disponíveis para outros objetivos mais importantes.
Com efeito e, de resto, como sempre, a linguagem corporal já diz tudo: Se
“ajo de maneira diferente”, é porque tenho algo a esconder. Como uma
bomba-relógio, o tique também deve ser desativado, ou melhor, interpretado.
Se “um parafuso estiver solto”, tem de ser encontrado e apertado.
Os tiques sempre têm algo a comunicar e, com essa nalidade, provocam
para despertar a atenção. Querem nos conduzir à pista certa. Por isso, são
chamativos e incômodos. Com seus tiques, as pessoas afetadas estão sempre no
centro das atenções e causam um efeito bastante penetrante. Com frequência,
em relação a seus tiques, suscitam reações como: “Pare com isso, está me
deixando nervoso!” No entanto, é óbvio que elas não têm como parar, pelo
menos não enquanto o segredo não for revelado.
Por essa razão, o melhor a fazer é incorporar o espírito da Miss Marple e do
Sherlock Holmes e colocar-se no encalço dos tiques, a m de descobrir sua
origem e reviver a situação “submersa”. Tendo-se encontrado o episódio
“enfeitiçado”, o ideal seria resgatá-lo através de movimentos oculares
migratórios, descritos no livro Notfallapotheke für die Seele [Farmácia de
Emergência para a Alma].
A partir do que foi dito anteriormente, conclui-se que os tiques costumam
ser a consequência de uma repressão emocional ativa. No caso de pais com
expectativas muito elevadas, cujos lhos estão sob pressão e já cederam a
respeito de si mesmos e de uma vida própria, com frequência um tique
representa o último sinal, o último impulso vital capaz de conduzir às pistas da
salvação e com condições de fazê-lo.
Em todos esses aspectos, não podemos esquecer que, muitas vezes, as
crianças adquirem hábitos de curta duração, a m de se tornarem interessantes
ou impressionarem um bom amigo que talvez tenha o mesmo tique. Portanto,
por trás desses distúrbios comportamentais, nem sempre existe um problema
psíquico mais profundo. Como costuma ser o caso, vale aqui observar a
situação com cautela.
15.6.2 Diversos tipos de tiques e seu pano de fundo

As seguintes interpretações esquemáticas devem ser entendidas apenas como


indicações iniciais; as soluções reais são muito individuais e residem no próprio
íntimo, no qual podem ser descobertas e resolvidas da melhor forma com
meditações conduzidas nos mundos das próprias imagens anímicas. Quanto ao
tratamento homeopático, essas peculiaridades comportamentais tão evidentes
representam indícios muito importantes e, com frequência, indicam o caminho
direto para o medicamento adequado:
 
– Contrações (“nervosas”) da(s) pálpebra(s) costumam aludir a algo que a
criança viu ou viveu, mas não conseguiu elaborar (na época). A esse caso
pertence a já mencionada história do lme Duas Vidas.
– O fechamento (compulsivo) dos olhos remete muitas vezes a um
acontecimento que a criança preferia não ter visto ou que não tivesse
ocorrido; por isso, ela “fecha um olho” ou até os dois, preferindo proceder
conforme o ditado: “Longe dos olhos, longe do coração”. Quando ambos
os olhos são fechados, certamente existe alguma coisa chocante escondida
na sombra, que está esperando por ser descoberta.
– Piscar quer exprimir uma con ssão secreta: “Ouça o que quero lhe dizer, e
que que entre nós!” Talvez também seja uma alusão “... o que tenho a lhe
oferecer”. Esse tique poderia se referir a uma grande possibilidade perdida
no âmbito de uma amizade ou de uma relação de casal, mas também
simplesmente a ambições e desejos irrealizados nesse contexto.
– Arregalar os olhos exprime espanto, consternação ou admiração, mas às
vezes também medo e susto. Quando se torna um tique, provavelmente
tem a ver com um segredo que estaria ligado a um desses
comportamentos.
– Torcer o nariz exprime repulsa, talvez uma repugnância que não foi
expressa no momento oportuno e que pretende recordar a ferida causada
na época à criança.
– Tocar (continuamente) o nariz indica que, em uma situação importante, a
pessoa afetada está preocupada com seus próprios atos e em assumir a
responsabilidade, em vez de se reprimir. Esse gesto evoca uma falha, vivida
como humilhação ou vergonha.
Nos rapazes, também poderia exprimir uma referência sexual, no sentido
do dito popular: “Quanto maior o nariz do homem, maior seu atributo”.
Por trás disso pode estar oculta uma falha sexual, vivida como culpa.
Talvez o jovem tenha “culpa no cartório”, envergonhe-se de sua
masturbação excessiva ou atos semelhantes. Contudo, também pode ser
simplesmente um sinal de re exão.
– O chamado fungar frequente é, antes, um mau hábito que pode se tornar
um tique, deixando os pais com os nervos à or da pele, especialmente, é
claro, quando têm certa aspiração às boas maneiras. Do ponto de vista
médico, o ato é totalmente inócuo; os “fungadores” criam certa pressão
negativa e, em vez de expirarem o muco nasal, inspiram-no e mandam-no,
através do esôfago, para o estômago, onde é digerido.
Geralmente, tudo começa porque a criança tem preguiça de limpar
regularmente o nariz; simplesmente não tem vontade de assoá-lo ou não
dispõe de nenhum lenço à mão. Mais tarde, quando o ato desencadeia
uma forte e inesperada reação dos pais, as crianças que sofrem de falta
geral de afeto podem sentir vontade de manter esse mau hábito, até para
levar alguns tapas – que sempre são uma reação e, portanto, melhores do
que nada... É o que fazem alguns artistas que fazem provocações a todo
custo, a m de, pelo menos, desencadear alguma reação no público.
O ruído produzido não é muito diferente do grunhido de um porco e é
considerado extremamente indecoroso. Nesse sentido, se o segredo se
transformar em tique, poderá estar relacionado a algo inconveniente que,
por esse caminho, bate às portas da consciência.
– Fazer caretas poderia aludir a experiências de horror e de sombra, com as
quais o indivíduo se confrontou, mas que não elaborou. Em seu polo
oposto, também poderia revelar um palhaço oculto, que quer levar alguém
ao riso, por exemplo porque, em uma situação decisiva, não conseguiu
fazê-lo, talvez no momento em que a mãe, abandonada pelo pai, tivesse
precisado tanto de uma distração. Quando a circunstância é vivida como
um fracasso pessoal, todo o sofrimento da situação pode armazenar-se
energeticamente nesse tique.
– O ato (constante) de escarrar exprime desprezo e avilta um pouco o
ambiente circunstante. Pode evocar uma repulsa não expressa, uma
situação que merecia o escarro ou até mesmo o vômito e à qual faltou a
reação adequada. No entanto, muitas vezes também pode se tratar apenas
de uma provocação em relação aos pais ou, mais raramente, de uma
sinusite crônica. Com frequência, esses hábitos encontram entre os jovens
uma base de massa de curto prazo graças a algum esportista da moda. Os
jovens tendem a imitar não apenas seus ídolos, mas também seus maus
hábitos.
Escarrar pode igualmente simbolizar uma espécie de ejaculação para cima;
nesses casos, em geral é seguido por atitudes tipicamente masculinas, tão
evidentes quanto embaraçosas.
– O ato (frequente) de grunhir como um porco pode aludir a sentimentos e
sensações “próprios de um porco”, que nunca foram expressos e evocam
certa situação obscena, que demanda ser descoberta. Uma menina
desenvolveu esse tique após uma situação de abuso. Inconscientemente,
ela imitava a respiração ruidosa de seu algoz, que, apesar de ser um notável
cidadão, nesse caso se comportou sordidamente.
Portanto, o grunhido poderia indicar um segredo ligado à repugnância e à
sujeira, mas raras vezes também poderia estar associado àquela felicidade
representada pelo “porco”. Além disso, pode ser uma provocação
semiconsciente, sobretudo em relação a pais fanáticos por limpeza,
conforme observei certa vez em um menino que não apenas cuspia e
grunhia, mas também fungava continuamente. Ele aprendera que, pelo
menos desse modo, forçava a dedicação negativa de sua mãe pedante. Em
casos de alergia ou resfriados crônicos, que deixam a sensação de se ter um
sapo na garganta, esses ruídos também podem surgir e se transformar em
hábito.
– Ato (compulsivo e frequente) de colocar o dedo na boca: chupar o polegar,
que pode ser entendido como uma regressão à fase oral, é diferente de
chupar o indicador, que se vincula, antes, à perplexidade e ao espanto.
Cada dedo corresponde a um princípio primário e, como tal, pode ter
uma interpretação correlacionada. Esse tique também poderia aludir a
uma regressão àquela fase remota em que tudo é explorado pela boca.
Portanto, o segredo oculto por trás desse tique estaria ligado a esses temas.
Possivelmente, a criança en ou o dedo em outras aberturas proibidas e
relacionadas a tabus, que simbolicamente estão ligadas à analogia “o que
vale para a parte de cima, vale para a de baixo”.
– Abertura involuntária da boca: esse tique pode evocar as últimas respirações
de um peixe, mas também lembra o quadro “O Grito”, de Edvard Munch.
Portanto, simbolicamente pode se tratar de um grito sem som e, por
conseguinte, de um tique que queira reclamar algo que merecia um grito.
Por outro lado, pode referir-se a uma situação em que a criança abriu
muito a boca e, provavelmente, manifestou algo muito estúpido ou
inadequado. Por m, também pode tratar-se de um segredo que a está
devorando.
Se não houver distúrbios físicos, como uma oclusão nasal ou algum
problema na mandíbula, esse tique pode indicar um espanto incessante e,
eventualmente, um susto crônico.
– Afastar continuamente alguma coisa do rosto: esse gesto lembra o de tirar
um véu, tentar enxergar e ganhar perspectivas. Talvez por trás dele
também haja algo repugnante, que precisa ser removido. O segredo
poderia estar relacionado ao fato de que a criança se sente manchada e suja
e tenha de afastar alguma coisa para conseguir continuar a viver.
– Afastar os cabelos do rosto: nesse caso, talvez esteja em jogo toda uma
simbologia dos cabelos, que, como expressão de liberdade e poder,
parecem ser um obstáculo à beleza e à elegância. Nesse gesto
estereotipado, trata-se de uma espécie de arrumação. Talvez, no fundo da
alma, devam-se colocar esses temas em ordem. Ou então a pessoa afetada
quer abrir uma cortina para exprimir uma ambivalência entre esconder-se
e querer enxergar alguma coisa.
Esse gesto, que aparece com frequência nos adolescentes, pode
simplesmente desaparecer ao nal dessa fase do desenvolvimento. Alguns
cortes de cabelo até requerem esse movimento. Na maioria das vezes, ele
exprime que a pessoa está lutando por autoconsciência e soberania.
– Passar continuamente a mão pelos cabelos: por trás desse gesto poderia
esconder-se um problema ligado à ordem, ao controle e à adaptação às
circunstâncias do momento. Porém, também poderia evocar um gesto de
carinho, talvez realizado no lugar errado ou que subentende uma coisa
diferente daquilo que aparentemente exprime e termina em algo que
nunca foi manifestado.
Todavia, também pode ser a lembrança da falta de gestos de carinho, que
ocorreram em determinada situação e depois não se repetiram. Com esse
movimento, uma menina se lembrava do amor que seu pai lhe
demonstrara ao se despedir dela, quando foi expulso de casa pela mãe na
sua frente. Essa imagem correspondia à sua realidade, embora não adulta.
Em todo caso, o tique recordava a falta de amor do pai.
– Girar (continuamente) a cabeça: com esse gesto, podem surgir associações
com o ato de demonstrar interesse por alguém e de querer virar a cabeça
de alguém (no sentido de “fazê-lo apaixonar-se”). Contudo, é mais
provável que também seja um gesto de desvio, quando se gira a cabeça
porque se viu alguma coisa muito feia.
– Empurrar (continuamente) os óculos sobre o nariz: é bastante evidente que,
nesse caso, a pessoa quer enxergar melhor e com mais precisão ou ajustar
sua visão. Seu segredo poderia referir-se a uma circunstância em que, em
algum lugar e em algum momento muito importante, ela não conseguiu
enxergar o su ciente.
– Estalar a mandíbula: quem costuma estalar a mandíbula exprime, ao abrir
a boca e com sua mordida e vontade, uma ameaça de engolir. Talvez, no
passado, o indivíduo realmente tenha tido de dar uma mordida alguma
vez, mas não teve coragem – ou então foi mordido.
– Encolher os ombros denota indiferença, insegurança ou ignorância. Mas
também pode representar uma pergunta sem resposta. Possivelmente, um
tique como esse lembra uma pergunta importante e nunca feita, que
permaneceu como um grande ponto de interrogação na vida do indivíduo
em questão.
– Levantar os ombros: esse tique é muito semelhante ao anterior, mas poderia
estar relacionado ao medo e à correspondente atitude da tartaruga de se
retirar. Talvez, em um momento decisivo, a pessoa afetada por esse tique
também tenha sido severamente repreendida e, por isso, se retraiu.
– Puxar a roupa: com esse gesto, dedica-se atenção à própria roupa.
Possivelmente as pessoas afetadas por esse tique não se sentem bem em sua
segunda pele; talvez a sintam como inadequada. Ou então é um sinal de
que alguma coisa não está correta – talvez uma coisa insigni cante, mas
que esconde muitas outras.
– Puxar continuamente a saia para baixo: trata-se mais de um hábito, com o
qual a menina mostra que realmente não se sente bem com a liberdade
que escolheu (em termos de roupa) e não consegue nem mesmo se sentar.
Na verdade, envergonha-se inconscientemente do próprio fascínio.
– Colocar (frequente e compulsivamente) a mão entre as pernas, como Michael
Jackson costumava fazer no palco, tem uma nítida referência sexual. Por
trás desse gesto pode ocultar-se a vergonha por alguma falta cometida em
relação ao tema fálico ou, em todo caso, sexual. Esse tique esconde e
enfatiza, ao mesmo tempo, o órgão sexual e pode apresentar-se tanto nos
meninos quanto, mais raramente, nas meninas.
– Tique das extremidades: com esse gesto espasmódico se descarregam
claramente energias e impulsos não vividos, que aludem ao fato de que
alguém quer ou queria pôr-se em movimento ou mover alguma coisa,
talvez até para livrar-se dela, mas não o fez no momento oportuno.
– Estalar os dedos dos pés: esse tique, geralmente raro, refere-se à tentativa de
colocar um pé no chão ou rmar-se, descarregando a tensão. O segredo
poderia consistir no fato de que, em determinado momento, a pessoa
afetada perdeu o contato com o solo e já não tem, por assim dizer, os pés
no chão e a vida “sob controle”.
– Síndrome de Tourette: essa síndrome consiste em um conjunto de tiques
que se reúnem em um quadro clínico complexo e particular. Trata-se de
uma doença motora, com espasmos repentinos, sobretudo no rosto (como
piscar, estalar a língua e torcer a boca), mas também na região do pescoço
(movimentos bruscos da cabeça) e dos ombros (girar os ombros).
Ocasionalmente, pode chegar a um movimento violento, que sacode todo
o corpo. Também se podem produzir sons involuntários, que incluem
imprecações da pior espécie (mais informações a respeito no livro A
Doença como Símbolo).
– Atos compulsivos: atos compulsivos, como lavar-se continuamente, abrem
caminho para os tiques. Através de sua interpretação simbólica, eles
também se vinculam a temas reprimidos que, no fundo da alma, esperam
por compreensão e elaboração.

15.7 Maus hábitos

15.7.1 Estalar os dedos

 
“Prestem atenção em mim; tenho mais de um defeito.”
 
Nesse caso, a pessoa quer mostrar que deseja pôr logo mãos à obra e agir.
Muitas vezes, os esportistas exibem em público alguns hábitos que, com o
tempo, podem assumir o caráter de verdadeiros tiques. Frequentemente, esses
hábitos surgem como superstição. Quando determinado comportamento se
associa a um sucesso muito desejado, ele pode levar a uma repetição sem
sentido. São gestos simbólicos, que vão desde arrumar os cabelos, passando por
se coçar até modelos sempre repetidos de movimentos, por exemplo com a
raquete de tênis ou de volante, que supostamente prometem sucesso, mas
também pigarrear repetidas vezes, o que aludiria ao fato de que alguém, ainda
que apenas uma vez, queria dizer alguma coisa.
Tanto quanto os tiques, esses “hábitos tolos” podem ser abandonados
quando o indivíduo se conscientiza de seu verdadeiro desejo.
 
Perguntas para os pais:
► O que nosso lho quer fazer?
► Com o que quer começar?
 
Medidas de apoio:

No caso de estalar os dedos, geralmente se trata apenas de um hábito
“tolo”. Ao que parece, as pessoas afetadas querem “se mexer” e fazer
alguma coisa, descobrir o “ponto crucial” e, em seguida, entrar em ação.
Portanto, pode-se aceitar esse sintoma sem preocupação.
15.7.2 Enfiar o dedo no nariz

“Estou com vontade de en ar o dedo lá no fundo.”


 
En ar o dedo no nariz também constitui, sobretudo, um mau hábito, cuja
referência simbólica, porém, não pode ser ignorada. Pode acabar se tornando
um tique compulsivo.
Na maioria das vezes, a pessoa em questão massageia delicadamente com os
indicadores a mucosa do nariz, embora o relativo muco já forneça o
lubri cante desejado. Com esse muco, os “especialistas” formam bolinhas que,
tão logo se ressecam depois de extraídas, são lançadas por eles no ambiente em
que se encontram, deixando bastante furiosos os “cidadãos decentes”. Na
verdade, deveríamos perguntar: por quê?
No vagão de um trem, testemunhei certa vez o deleite de um menino ao
en ar o dedo no nariz, para irritação de um viajante mais velho. Por m, o
homem não aguentou e dirigiu-se à mãe do garoto: “Será que a senhora não
poderia proibir seu lho de fazer esse tipo de porcaria?!”
A mãe bem que tentou, mas o menino sempre recomeçava. O homem mal
conseguia se conter. Contudo, nem mesmo o cobrador, chamado para ajudar,
conseguiu explicar por que nos trens alemães é proibido en ar o dedo no nariz.
A solução é simples e reside na relação simbólica do nariz com a
sexualidade. De fato, através das zonas de re exo, as mucosas nasais
correspondem àquelas em âmbito ginecológico e na região sexual masculina.
Portanto, é inevitável que a pessoa que se refere à sexualidade em público –
justamente como fazem as crianças quando en am o dedo no nariz – tornará
presente reações irracionais de defesa por parte do ambiente circunstante. Por
outro lado, também se haveria de perguntar por que alguém tem a necessidade
constante de en ar o dedo no nariz.
A resposta é simples: trata-se de inofensivas, mas voluptuosas brincadeiras
com o muco da região fálica, tal como se espera que ele se produza na
verdadeira relação sexual. As mucosas nasais, em que na verdade se realiza essa
brincadeira, corresponderiam simbolicamente àquelas da parte inferior do
corpo. É um pouco como fazer carícias sensuais em si mesmo, satisfazendo, ao
mesmo tempo, as necessidades orais e fálicas. De maneira igualmente simbólica
e mais inocente, as crianças também gostam de brincar com o dedo na boca, o
que também provoca admoestações por parte dos pais, como: “Tire os dedos
da boca; eles estão sujos”. Quando os pais reagem tão negativamente a essas
atitudes dos lhos, que na verdade constituem medidas gerais de
fortalecimento e até prevenções reais contra alergias, muitas vezes estão em
jogo referências simbólicas inconscientes.
A evidente tarefa relativa ao mau hábito de en ar o dedo no nariz consistiria
em permitir à criança que o pratica viver uma sensualidade maior, por exemplo
na forma de massagens para crianças, segundo o método de Frédérick Leboyer,
ou então encorajando-as a se lambuzarem, a pintar, a espalhar as tintas com os
dedos, a modelar massa de bolo, plastilina e argila. Permitir que passem creme
no corpo e se divirtam com brincadeiras sensuais, que tenham prazer com o
próprio corpo, por exemplo em água termal à temperatura corporal, que façam
cócegas e riam voluptuosamente seriam bons auxílios. Os estímulos orais, bem
como a curiosidade infantil, podem ajudar. Por que as crianças en am bolinhas
no nariz? Certamente não para assustar nem enfurecer os pais, mas
simplesmente para explorar as próprias cavidades obscuras. Fazem no
microcosmo do próprio corpo o que repetem do lado de fora, no macrocosmo,
com as cavidades da natureza.
Na realidade, observado desse ponto de vista, en ar o dedo no nariz é um
bom sinal. Signi ca que as crianças ainda não têm medo do muco como os
adultos, que reagem tão negativamente a um prazer sensual obtido com o
nariz. Se esse sintoma realmente os irrita e incomoda, os pais dessas crianças
poderiam se perguntar se neles próprios a sensualidade não foi posta de lado e
se não deveria ser transferida a níveis mais prazerosos. Existem locais ideais
para a secreção do muco e outros menos ideais. Se alguém irrita os outros por
tirar o muco do nariz em local inadequado, a primeira suspeita é evidente.
Todavia, en ar o dedo no nariz também poderia acabar com uma suspeita
menos concreta e agradável, pois pode ser o primeiro sinal de vermes.
 
Perguntas para os pais:
► Como lidamos com nossa sensualidade?
► Damos a nosso lho contato físico e sensorial su ciente?
► Damos-lhe a permissão para se sujar?
 
Medidas de apoio:
► Deixar que a criança brinque com lama, tintas, massa de modelar e
espuma de barbear.
► Massagem com óleo em todo o corpo.

15.8 Distúrbios comportamentais

Vivemos em uma época caracterizada pela tendência ao surgimento cada vez


mais precoce ao longo da vida de quadros clínicos psíquicos e distúrbios de
comportamento. Se até pouco tempo atrás não se observavam casos de
depressão antes da puberdade, hoje temos muitos contraexemplos de jovens
que chegam até a cometer suicídio. Uma tendência análoga ocorre com as
psicoses, que no tempo de minha graduação eram um tema da pós-
adolescência, enquanto atualmente também aparecem nos mais jovens. Por essa
razão, já não é tão fácil realizar uma subdivisão por grupos etários, embora ela
ainda seja importante. Essencialmente, na primeira infância, as anomalias
comportamentais estão mais relacionadas aos pais do que na adolescência; os
jovens nesta fase sofrem a in uência de seu peergroup e vivem dentro de grupos
sociais que atuam amplamente como substitutos da família.
15.8.1 Distúrbios comportamentais na infância

15.8.1.1 Ciúme

“Quero você inteiramente só para mim.”


 
Dentre os três vícios dominantes em nossa sociedade – avidez, desejo de
domínio e ciúme –, o último é responsável pela destruição da maioria dos
relacionamentos. Nesse sentido, não é de admirar que se manifeste logo cedo,
por exemplo na forma do desejo de ter a mãe inteiramente só para si.
Para um primogênito que, no início da segunda gravidez da mãe, tenha
recebido pouca con ança primária, a chegada de um novo irmãozinho agravará
seu maior medo, que é ser deixado pela pessoa de que mais necessita em favor
de um novo “intruso”. Como ainda não é su ciente para si mesmo e é
totalmente dependente da mãe, ele luta com todas as armas quando julga que
está sendo prejudicado. E não se devem absolutamente subestimar as armas
infantis. Uma jovem mãe que descuidara por um instante de seu recém-nascido
encontrou-o intacto na lata de lixo. Fora colocado ali por sua lhinha de 3
anos, que, depois da reação horrorizada da mãe, lhe con ou: “Mamãe, não
precisamos do bebê; antes tudo era muito melhor”.
Embora o agente desencadeador mais frequente dos dramas de ciúme seja o
nascimento de um irmãozinho, também pode se tornar vítima dele uma mãe
que, aos olhos do lho, esteja muito concentrada em seu parceiro. Mesmo sua
pro ssão pode ser objeto do ciúme e, de modo geral, tudo que absorva o
tempo da mãe além da criança. E isso tem menos a ver com uma negligência
objetiva em relação à criança do que com a falta de con ança primária por
parte do lho.
Por trás do ciúme, há sempre o medo de não conseguir fazer as coisas
sozinho, sem a mãe, que é amada acima de tudo, bem como o desejo de ter
somente para si o objeto do amor. Justamente essa exclusividade pode tornar
muito difícil, para as mães que gostam de liberdade, a total dedicação ao lho,
tal como seria necessário na primeira fase de sua vida.
 
Perguntas para os pais:
► Por que nosso lho tem medo de não receber atenção su ciente?
► Não reservamos tempo su ciente para nós? Como podemos melhorar a
qualidade de nossa convivência?
► Dedicamo-nos o su ciente a ele?
► Por que ele tem tanta di culdade em nos dividir com os outros? Como
podemos lhe mostrar que o amor não deve ser dividido?
► Por que tem medo de ser deixado? Como podemos ajudá-lo a fortalecer
sua con ança em nosso amor de pais?
► Por que ele tem tão pouca con ança primária? Como podemos fortalecer
a consciência de nosso lho de que ele é digno de amor?
► Somos, nós mesmos, ciumentos?
 
Medidas de apoio:
► Desenvolver a consciência de si mesmo: a tarefa para a criança consiste em
aprender a defender o que lhe é próprio e a desenvolver a consciência de
si mesma enquanto continua a receber tudo de que necessita.
► Afeto e limites: esse drama só pode ser resolvido por uma mãe capaz de dar
afeto su ciente, mas também de impor limites onde se inicia sua própria
vida e termina o campo de in uência do lho. A criança tem de
reconhecer que, embora a mãe tenha e preserve uma esfera íntima, o
amor materno é ilimitado.
15.8.1.2 Competição

“Sou o melhor de todos!”


 
Simultaneamente ao ciúme costuma ocorrer também a competição, por
exemplo em relação aos irmãos que recebem mais da mãe. Essa situação pode
conduzir à regressão em aspectos essenciais do desenvolvimento. Na fase dessas
regressões, algumas crianças querem voltar a mamar no peito e recusam
obstinadamente toda forma diferente de alimentação. Outras voltam a fazer as
necessidades nas calças e querem usar fraldas ou passar pelo ritual do penico
novamente. Outras ainda voltam a usar a chupeta, chupam o polegar ou
querem tomar mamadeira.
Por trás da competição com os irmãos, mas também com o pai ou a mãe,
esconde-se a falta de consciência, e, obviamente, o ciúme contribui com sua
participação. Na variante mais difícil, as crianças não querem progredir por
desempenho próprio, mas pela depreciação dos outros. Querem desbancá-los
para, nalmente, obterem o reconhecimento dos pais.
Enquanto o comportamento competitivo se exprimir através da depreciação
dos outros, ele deverá sempre fracassar e ser desmascarado diante das outras
crianças envolvidas; do contrário, acaba-se por recompensar e estimular um
modelo que permanecerá desagradável por toda a vida e que mais tarde
favorecerá a tendência ao mobbing.
Quando o comportamento competitivo servir-se do próprio desempenho,
ele poderá ser tolerado com moderação, uma vez que vivemos em uma
sociedade competitiva, em que a concorrência se inicia cada vez mais cedo.
Nesse caso, as frases típicas seriam: “Veja só o que já consigo fazer...! O bebê
ainda não consegue fazer isso!”
 
Perguntas para os pais:
► Quando bebê, nosso lho recebeu contato físico e afeto su cientes?
Quanto tem de receber agora?
► Ele teve a possibilidade de ser bebê pelo tempo su ciente? Em que
medida ele está pronto agora para assumir responsabilidades?
► Ele precisa estar presente quando depreciamos ou falamos mal de alguém?
► Em determinados momentos, estaria ele recebendo atenção exclusiva?
Como eu poderia proporcionar-lhe isso no futuro?
► Nosso lho fala mal dos outros? Como podemos torná-lo mais consciente
de sua força?
► Como estimular sua disponibilidade a empenhar-se?
 
Medidas de apoio:
► Nenhuma recompensa pelo comportamento indesejado: um dos principais
pontos quando lidamos com todas essas formas comportamentais de
conotação negativa seria não recompensá-las de modo algum. A criança
tem de descobrir que, além de não ajudá-la, esse comportamento ainda a
prejudica.
► Assumindo a responsabilidade: os pais poderiam dedicar ao lho mais
velho períodos de atenção exclusiva com programações que
correspondam à sua idade e integrar as crianças “mais velhas” – com a
devida atenção – no cuidado das menores. Se isso ocorrer de maneira
amorosa, por exemplo no sentido da ideia: “Oba! Temos um
irmãozinho!”, também se poderá incentivar a criança mais velha a ter
orgulho (exteriorizado, por exemplo, entre seus amigos) e amor por quem
nasceu depois dela. Com o tempo, também se poderá con ar-lhe a
responsabilidade pelo mais novo, garantindo, assim, uma melhor união
na família e, aos poucos, até aliviando sensivelmente as incumbências da
mãe.
► Nenhum “abuso” como babá: deixar muito precocemente aos lhos mais
velhos a tarefa de cuidarem dos menores tem um efeito desastroso, que
logo se transforma em peso e, mais tarde, com frequência pode constituir
uma razão para que não queiram ter lhos.
► Dedicar-se inteiramente à criança: seria muito importante para o
desenvolvimento do lho mais velho programar atividades especí cas, nas
quais ele, por determinado período, volta para o primeiro lugar, por
exemplo segundo a ideia: “Vamos juntos à piscina, e seu irmãozinho vai
car com a vovó”.
15.8.1.3 Rompantes de agressividade

“Vou bancar o vulcão.”


 
Raiva e ira podem liberar uma energia não canalizada da agressividade em
proporções consideráveis. Às vezes, porém, essa energia pode ter um objetivo
bastante preciso e cruel. Explosões desse tipo são manifestações do Eu infantil
em desenvolvimento e de sua vontade. A criança começa a ter chiliques quando
sua vontade não é respeitada.
Nesses casos, ceder sempre ou nunca ceder é tão difícil quanto perigoso.
Nesse momento começa justamente o período em que ela precisa de limites
razoáveis e os requer. Caso se queira transmitir-lhe a experiência da falta de
limites e da liberdade ilimitada, seria melhor colocá-la para boiar em água
termal, à temperatura do corpo. Desse modo, ela poderia até mesmo
aproximar-se da experiência da unidade e, posteriormente, conquistar a
con ança primária. No mundo polar, porém, as crianças precisam de limites,
que se tornam tão importantes quanto o amor que ajuda a confortá-las e muito
mais importantes do que aquele amor equivocado, que às vezes deixa de fazê-
lo. Evidentemente, a criança precisa desenvolver seu ego e dizer: “Eu quero!”
No entanto, também precisa aprender a aceitar limites e ter o respeito
necessário.
Nessa fase, pode-se deixar bem claro – com vantagem para ambas as partes –
onde começam os direitos da mãe, do pai, dos irmãos e dos eventuais animais
domésticos. O maior problema nesse caso é a incoerência, ou seja, primeiro
dizer não e, depois de muita insistência, choro, manipulação ou ataques de
fúria, acabar cedendo só para restaurar a paz. As crianças não têm muito a
perder quando tentam se impor por um longo tempo. E não seriam crianças
normais se não o tentassem. O importante é que os pais re itam bem sobre o
que permitir ou não e que realmente permaneçam rmes e, principalmente,
unidos em sua decisão. Permitir alguma coisa que o outro proibiu traz para o
responsável em questão – “mais generoso” com o lho, mas nada solidário com
o cônjuge – alguns agrados momentâneos; no entanto, em última análise, faz a
criança sofrer. Pois essa tática transmite a experiência de que vale a pena
manipular, o que poderá se voltar contra ela e lhe custar muitas amizades em
sua futura vida social. Os avós e outros familiares também deveriam se curvar a
essas máximas, a m de não sobrecarregar desnecessariamente a estrutura pais-
lho.
 
Perguntas para os pais:
► Somos indulgentes em demasia? Não teríamos de trabalhar nossa
coerência e combinar melhor o que deve ser permitido e o que deve ser
proibido?
► Os limites que mostramos a nosso lho são su cientes ou insatisfatórios?
► Discutimos o su ciente?
►Nosso lho consegue exprimir livremente sua opinião?
► Ele se movimenta o su ciente?
 
Medidas de apoio:
► Exercícios para aprender uma agressividade ritualizada: oferecer alternativas
mais construtivas para expressar a agressividade, como movimento,
esportes e discussões com conteúdo a respeito de ocasiões atuais. Assim,
você também estará estimulando até mesmo a disponibilidade para o
con ito, à medida que leva seu lho a sério, reconhece e elogia a beleza
de sua energia vital, ao mesmo tempo que o orienta para aspectos que
estimulam a vida e o desenvolvimento. Para crianças menores, jogos
como o ludo são ideais para aprender a lidar com a agressividade, que
pertence ao princípio arquetípico de Marte. Para as maiores, pode-se usar
o xadrez como “jogo de combate”.
► Terapia do abraço segundo Jirina Prekop, utilizada como instrumento para
o intercâmbio de agressividade. Para que a criança possa exprimir a
própria raiva, dirigida aos pais, e para a qual, porém, não encontra
palavras su cientes nem adequadas, deve-se permitir que ela desabafe no
colo da mãe ou do pai. Obviamente, a contraparte tem o mesmo direito.
Contudo, para ambos os lados são pertinentes regras xas de
comportamento. A criança apoia as mãos na barriga, para permanecer em
contato com seus sentimentos e manter os punhos sob controle. No lugar
dos xingamentos, podem ser utilizadas apenas comunicações breves, em
primeira pessoa, sobre o que ela está sentindo, como: “Estou com raiva de
você!” Só se pode soltar o abraço após a reconciliação.
15.8.1.4 Prazer com a desgraça alheia

“Bem feito pra você!”


 
Poucas coisas revelam tão claramente a sombra como esse lado maldoso da
alegria. Nele se manifesta o lado escuro da alma, e o tema da competição
também entra no jogo da vida. Além disso, evidencia-se uma falta de
consciência, pois certamente há poucas coisas na vida da criança das quais ela
pode se alegrar e aproveitar.
O ego também toma parte no prazer com a desgraça alheia, à medida que a
criança quer ser e parecer superior e melhor do que as outras, normalmente
sem contribuir com o desempenho próprio.
Por outro lado, quando a sombra emerge e se mostra abertamente, esta
também é uma boa oportunidade – de acordo com a idade da criança – para as
devidas explicações, que associam, por exemplo, o prazer com a desgraça alheia
aos personagens obscuros dos contos de fadas. Assim, a criança poderá
aprender, desde cedo e no momento oportuno, que nela se escondem não
apenas a maravilhosa princesa e o radiante herói, mas também os arquétipos da
bruxa velha, corcunda e invejosa e do feiticeiro “malvado”.
 
Perguntas para os pais:
► Sobre o que nosso lho pode mostrar verdadeira alegria?
► Como podemos reforçar o tema “alegria comum”?
► Como podemos transmitir mais alegria verdadeira?
► Como podemos fazê-lo rir com gosto?
► Entre nós, adultos, existem modelos de prazer com a desgraça alheia?
► Como podemos aproximá-lo mais de seu lado obscuro?
 
Medidas de apoio:
► A melhor resposta para o prazer com a desgraça alheia consistiria em
proporcionar oportunidades su cientes de alegria verdadeira, criando
situações nas quais a criança possa perceber que é muito melhor alegrar-se
junto com os outros.
► Nunca recompensar o prazer com a desgraça alheia, mas sempre ressaltar
que esse tipo de alegria deixa os pais tristes.
15.8.1.5 Pedantismo

“Já sei tudo.” – “Sou tão esperto quanto vocês.”


 
O pedantismo pode “irritar” sobremaneira os pais, embora geralmente seja
desencadeado por eles próprios e, em todo caso, se re ra a eles. As crianças, que
aprendem através da imitação, querem ser iguais aos pais também do ponto de
vista intelectual e, por isso, os imitam. Quando o resultado dessa imitação se
apresenta como “pedantismo”, os pais devem re etir sobre os próprios erros.
Quando as crianças se transformam em caricaturas dos pais, tornam-se
particularmente irritantes para os adultos, mas, ao mesmo tempo, contribuem
para o amadurecimento dos próprios pais. Correspondem a eles apenas pela
metade, e somente por isso são tão incômodas. Eis a origem de seu talento
inato para colocar o dedo nas feridas mais sensíveis – e de modo até mais e caz
do que o de psicoterapeutas especializados.
A presunção de saber mais e a maturidade precoce produzem uma
desarmonia interior nas crianças. Quando a cabeça está muito à frente do
corpo, determina-se uma condição inadequada para o desenvolvimento. No
entanto, este é justamente o modelo de muitos adultos e, portanto, dos
próprios pais: estar com a cabeça quilômetros à frente e com suas ideias no
futuro. O efeito espelho é evidente.
Esse problema se desenvolve de maneira particularmente frequente em
crianças que logo cedo tiveram de assumir muitas responsabilidades, por
exemplo cuidando dos irmãos mais novos ou porque precisaram ou quiseram
tomar o lugar de um parceiro ausente. Essas crianças costumam ser (muito)
inteligentes, mas não parecem nada infantis e são o oposto da doçura. O
pedantismo também pode ocorrer em lhos únicos que passam seu tempo
quase exclusivamente com os adultos, pois lhes falta a ressonância de pessoas da
mesma idade.
Tão logo o problema é identi cado, deve-se, evidentemente, aliviar as
crianças de tarefas muito pesadas e permitir que se dediquem a brincadeiras e
situações infantis, por exemplo no jardim de infância, na escola e em
associações que tenham crianças da sua idade. Nesses locais, elas podem e
devem voltar a ser crianças: espontâneas, curiosas, irracionais e felizes por
experimentarem coisas novas.
 
Perguntas para os pais:
► Por que nosso lho parece estar à frente em relação a seu
desenvolvimento? Como podemos fortalecer a experiência infantil do
mundo?
► Estaria ele re etindo nossa ambição?
► Por que ele quer ser adulto cedo demais?
► Por que damos tanta importância ao intelecto? A quais atividades
espontâneas podemos encorajá-lo?
► Nosso lho teve de assumir muita responsabilidade cedo demais?
► Quando exigimos demais dele?
► Como podemos tornar a busca, o questionamento e o aprendizado mais
estimulantes?
 
Medidas de apoio:
► Liberar as crianças que tiveram de assumir responsabilidades cedo demais
dessa exigência.
► Contato com outras crianças da mesma idade: eventualmente, fazer com
que seu lho tenha mais contato com outras crianças da mesma idade.
15.8.1.6 Tortura de animais

“Sou forte e brutal – um homem de verdade.”


 
À primeira vista, a tortura de animais tem um efeito tão repugnante que
provoca severas medidas e pesadas punições. No entanto, seria importante que
pais compreendessem que com ela também costumam estar em jogo
curiosidade e desejo de experimentação; limites são testados e, muitas vezes,
ainda não existe uma noção clara da dor e, sobretudo, da morte.
Com frequência, da profunda insegurança e da falta de autoestima surgem
também, como compensação, sentimentos de poder, arrogância e presunção.
Manifestados em relação a seres mais fracos, esses aspectos nada bonitos da
sombra deveriam não apenas ser punidos, mas também transformados em
ocasiões para esclarecimentos e diálogos reais. Os pais que, nessas situações,
puderem recorrer a experiências pessoais estarão em vantagem. O que eles
próprios viveram como “tortura” e tormento – inclusive o que trouxeram
consigo de vidas passadas, caso as tenham vivido em terapias de reencarnação
ou em outra terapia semelhante – certamente terá um impacto mais e caz
sobre seus lhos.
Além disso, seria útil para as crianças compreender logo cedo que, segundo
a lei do karma e do Antigo Testamento, tudo repercute sobre elas. Um
ensinamento parcialmente religioso a esse respeito seria a Regra de Ouro: “Não
faça aos outros o que você não gostaria que zessem a você”. Também pode
ajudar a referência a uma dor que a criança tenha sentido e sua ligação com a
tortura praticada contra os animais, bem como as correspondentes sensações
que eles podem ter tido: “Nunca brinque de torturar um animal, pois ele sente
dor como você!”
Por certo, também é necessário esclarecer o quanto antes – porém, de
preferência, se for o pai a fazer o discurso – que um “homem de verdade”
defende os mais fracos e, só por essa razão, jamais torturaria um animal. Se os
meninos, que estão mais sujeitos a esse problema, aprenderem precocemente
que é preciso ser muito covarde e vil para buscar a superioridade praticando
maldades contra seres mais fracos, logo esse tipo de mau comportamento
torna-se cada vez mais improvável.
Se os meninos realmente não conseguem parar de praticar ações sádicas,
como encher sapos de ar para depois estourá-los, talvez o mal menor consista
em fazê-los experimentar a verdadeira dor, em vez de permitir que esse sadismo
continue e aumente. Eles devem sentir com toda clareza o sincero desprezo que
esse tipo de comportamento suscita em outros seres sensíveis, até as
consequências, que lhes mostrarão que esses atos não apenas não valem a pena,
como também conduzem a uma piora dramática da própria qualidade de vida.
Como muitas vezes as motivações que geram esses comportamentos são graves,
aconselha-se nesses casos que se procure com urgência um apoio terapêutico
para a criança.
Pais assustados, que dissimulam ou escusam esses eventos, só fazem com que
os meninos com essa predisposição ampliem ainda mais seus limites e sondem
o poder dos pais. O sadismo, o mobbing e as ações violentas que hoje
presenciamos nas escolas sempre têm raízes remotas, que pais fracos ignoraram
intencionalmente ou às quais não deram a devida atenção.
Quanto antes os esclarecimentos adequados estabelecerem um limite, tanto
melhor será para a criança. Obviamente, seria muito mais bonito explicar-lhe o
mundo desde cedo no sentido franciscano ou budista, em que o respeito por
outros seres sencientes e a atenção com a vida estão em lugar de destaque.
Pais familiarizados com imagens orientais do mundo também poderiam
explicar a seus lhos como funciona a corrente das vidas e que eles também já
estiveram um dia na Terra em formas evolutivas inferiores; por isso, têm uma
responsabilidade em relação a nossos irmãos e irmãs mais fracos, que nesta vida
vieram em forma de animais e que estão à nossa mercê. Geralmente, as crianças
conseguem aceitar com facilidade a ideia de também terem sido animais. Nesse
caso, são muito úteis os contos de fadas e as histórias de animais contadas por
Manfred Kyber, ou seu romance Die drei Lichter der kleinen Veronika [As Três
Luzes da Pequena Veronika].
Pais modernos, mais comprometidos com o espírito da época, poderiam
ilustrar o círculo da vida, que é o tema central do lme da Disney O Rei Leão.
Naturalmente, seria ideal que assistissem ao lme juntos e depois discutissem a
respeito. Assim, as explicações adequadas entrariam na conversa, enquanto a
música ainda as acompanha por algum tempo, inclusive a canção “Circle of
Life”, que mantém viva a ideia de união com os outros seres sencientes.
Episódios de tortura de animais, que, devido à sombra onipresente,
infelizmente não são raros, poderiam servir de ocasião para diálogos
enriquecedores, que despertem na criança o sentido da criação e de seus
aspectos dignos de proteção, incluindo todas as suas criaturas. De acordo com
sua predisposição e em correspondência com a in uência do princípio da Lua,
que é bastante forte no início da vida, a maioria das crianças é amiga dos
animais e aberta a outras criaturas, como fadas, espíritos e gnomos.
Provavelmente, há milhões de anos, os animais eram ajudantes, amigos e
companheiros dos homens, e respeitados até quando eram fontes de alimento.
Por conseguinte, criou-se um campo estável que até hoje percebemos, em uma
época de tortura de animais, no desejo infantil pelos bichinhos de pelúcia ou
pelo amigo animal. Talvez as crianças queiram mais animais do que irmãos.
Procurar precocemente um animal aliado pode ser uma boa ajuda; ele fará o
papel de bom companheiro animal do anjo da guarda pessoal ou atuará
sozinho.
No romance esotérico para crianças, Habakuck und Hibbelig [Habakuck e
Hibbelig], tentei evocar esses conceitos e transmitir a compreensão por outros
seres e mundos, além de introduzir o leitor na riqueza dos elementos e na
imagem espiritual do mundo. Para ler à noite, a história é muito longa, mas é
bem verdade há muitas noites à disposição para que se desenvolva esse tipo de
programa. Com a leitura em voz alta surge uma compreensão ainda mais
duradoura a respeito de outros seres vivos do que com os lmes.
Às vezes, porém, os lmes também podem ajudar mais tarde, por exemplo,
quando se quer compreender o segredo do tempo. Nada pode ser mais
adequado para transmitir essa ideia do que o romance Momo, de Michael Ende
– todavia, quando lido em voz alta, ele é ainda mais e caz do que em sua
excelente versão cinematográ ca.
Quando se consegue, por esse caminho e passo a passo, desenvolver uma
compreensão mais profunda do mundo e de seus seres, estimulando as próprias
fantasias e imagens internas, torna-se possível alcançar metas elevadas, por
exemplo no sentido de São Francisco de Assis, patrono cristão dos animais.
 
Perguntas para os pais:
► Por que nosso lho sente necessidade dessa forma de poder?
► Como podemos ajudá-lo a empregar corretamente esse poder, em vez de
fazer mau uso dele?
► Quem nosso lho re ete com sua arrogância e presunção? Como
podemos lhe dar a oportunidade de ajudar e proteger?
► De que modo podemos fazê-lo entender que os fracos, na realidade, são
fortes?
► Como podemos transmitir ao nosso lho respeito e atenção em relação a
todos os seres vivos?
► Como ele pode aprender a ter respeito pelos mais fracos?
► Que exemplo de vida lhe damos? E o que não queremos reconhecer
posteriormente?
► De que maneira podemos introduzir conscientemente em nosso
cotidiano respeito e amor pelos seres humanos, pelos animais, pelas
plantas e pela Terra?
 
Medidas de apoio:
► Conversando, lendo histórias em voz alta e assistindo com seu lho a lmes
relacionados ao tema, tente fazer com que ele desenvolva logo cedo a
compreensão e a compaixão por todas as criaturas.
► Ajuda terapêutica: se as tendências sádicas persistirem apesar de todos os
esforços, devem-se levar medidas mais drásticas em consideração e, de
preferência, buscar ajuda terapêutica.
15.8.1.7 Agarramento

“Não posso car sem você!”


 
Agarrar-se à barra da saia revela menos amor do que falta de con ança
(primária). As crianças não conseguem se soltar porque não encontram
sustentação própria. Por trás disso esconde-se, sobretudo, o medo de ser
abandonado. Nesse sentido, esse sintoma deveria levar principalmente a mãe a
se perguntar: “Por qual crise meu lho está passando no momento? O que está
acontecendo com ele? Como posso transmitir-lhe de maneira mais clara,
evidente e e caz que estarei sempre ao seu lado quando ele precisar de ajuda,
mas que é importante saber contar consigo mesmo e com a própria força, bem
como estar pronto para experimentar e conquistar o novo? Aparentemente, ele
acredita que vou sumir se ele se soltar de mim”.
Se não se zer nada para frear a tendência para car pendurado na barra da
saia, pode acontecer de a criança nunca se tornar realmente autônoma e
encontrar a si mesma; ao contrário, logo buscará uma simbiose com a
professora do jardim da infância, em seguida, com a professora da escola,
depois com a alma mater e se refugiará, por m, na mãe pátria. Por um lado,
essas crianças permanecem presas ao aspecto feminino, no elemento da Lua e,
por outro, à falta de autonomia. A isso se pode acrescentar o medo de crescer e
tornar-se adulto, uma vez que ambos poderiam destruir ou incomodar o
estreito vínculo com a mãe, que representa a supersimbiose.
 
Perguntas para os pais:
► Por que nosso lho tem medo de ser abandonado?
► Como podemos transmitir-lhe a experiência de que sempre estaremos ao
seu lado?
► De que modo ele pode se tornar autônomo?
► O que poderia encorajá-lo a dar os próprios passos?
► Como poderíamos estimular sua curiosidade?
 
Medidas de apoio:
► Construir con ança: nesse caso, são importantes todas as ações que
transmitam segurança e con ança à criança, sobretudo em relação à
con ança primária. Ao perceber que a mãe ou os pais estão sempre ao seu
lado, a criança apresentará melhora com o tempo.
► Autonomia e outras relações sólidas: naturalmente, devem-se incentivar
todos os passos rumo à autonomia, bem como a construção de relações
sólidas, por exemplo com uma das avós ou outros parentes.
15.8.1.8 Fugas

“Sei me virar sozinho e já não preciso de vocês.”


 
No polo oposto das crianças que cam agarradas à barra da saia da mãe estão
aquelas que fogem de casa. Normalmente, trata-se, sobretudo, de crianças
maiores e pré-púberes. Mesmo que, à primeira vista, essa atitude pareça mais
grave, na maioria das vezes não o é. Trata-se de uma tentativa da criança de
cortar de nitivamente o cordão umbilical e de compreender mais uma vez o
nascimento para elaborá-lo de fato. Quem se mostra em condições de fugir da
segurança familiar, da proteção e, de modo geral, de tudo que lhe é habitual
deve sentir-se seguro no mundo e poder contar com uma boa con ança
primária. Ou então – como muitas vezes aparece representado nos contos de
fadas – deve ser tão ruim conviver com os pais que a situação só pode melhorar
no mundo desconhecido.
Outro aspecto relacionado a esse fenômeno é a curiosidade. As crianças
estão, por assim dizer, seguindo os passos daquele que “saiu de casa para
conhecer o medo”. O odor do grande e vasto mundo as atrai como ocorria
antigamente com os aprendizes de artesão, dos quais se esperava que saíssem de
casa e se pusessem a caminho para conhecerem a si mesmos e a vida. Quando
as primeiras palavras de uma criança são “eu consigo sozinha”, como certa vez
ouvi, este é um bom sinal de um desenvolvimento autoconsciente. Essas
palavras acabaram se tornando o apelido apropriado da mocinha
autoconsciente que as pronunciou.
 
Perguntas para os pais:
► Estamos dando a nosso lho razões para ele querer fugir no sentido “dos
contos de fadas”?
► Como podemos transmitir-lhe que o mundo está à sua disposição, mas
não a todo momento?
► Ele tem se distraído o su ciente, por exemplo participando de excursões e
viagens?
► Em que situações ele pode fazer mais coisas “sozinho” e, ao mesmo
tempo, assumir a responsabilidade das relativas consequências?
► Como podemos introduzir atividades su cientes em nossa vida comum?
 
Medidas de apoio:
► Quando esses impulsos aparecem muito cedo, é útil dar às crianças
explicações sobre todas as consequências de semelhante ato.
► Não punir: de modo geral, é importante não questionar o sentido dessas
escapadas ou in igir punições draconianas às crianças, caso voltem a
fugir.
► Muito melhor seria a “fuga para a frente” e, por exemplo, a ideia de
permitir que os pequenos “emigrantes” passem as férias em
acampamentos. Mais tarde, pode-se também realizar seu desejo de passar
um tempo ou fazer intercâmbio no exterior. Uma criança com vontade de
se divertir é sempre melhor do que um “bicho do mato” que não sai do
quarto ou de seus sucessores modernos, os chamados “sacos de batatas”,
que nem mesmo durante a puberdade se levantam do sofá.
15.8.1.9 Balançar-se com a cadeira

“Sou seu azarão.”


 
O hábito quase compulsivo de balançar-se com a cadeira – cujo representante
mais famoso é Felipe, o inquieto, personagem do livro João Felpudo, conhecido
no mundo inteiro – é realmente frequente entre os traquinas modernos, as
crianças com TDAH, mas também fora desse grupo. Nesse caso, pode-se falar
de um exercício para encontrar o próprio equilíbrio e que leva muitos pais,
professores e outros adultos a um ataque de nervos, quando, na verdade,
também deveriam praticá-lo para também encontrar seu equilíbrio. A imagem
linguística indica com clareza que, com essa mania, só perdem a cabeça aqueles
pais que, por sua vez, lutam em vão para encontrar seu equilíbrio interior.
Além disso, esse exercício pode provocar mães extremamente cuidadosas,
sempre prontas a gritar para o lho: “Cuidado para não cair!”, expressando,
assim, o próprio medo de viver.
Com esse hábito, as crianças testam seus limites e também, naturalmente,
até que ponto podem provocar os pais. Normalmente não acontece nada grave.
Em todo caso, segundo nossa experiência, as crianças caem muito menos do
que os adultos perdem a cabeça. Mesmo os danos causados frequentemente à
pintura da parede pelas cadeiras oscilantes são bastante aceitáveis.
Nesse sentido, poderíamos considerar o balanço com a cadeira como uma
terapia para os pais, realizada por intermédio dos lhos. Os adultos insistem
em ter silêncio e segurança à mesa; as crianças ainda querem saber e
experimentar o que pode acontecer se se debruçarem um pouco mais na vida.
Querem movimento em seu dia a dia e renunciam de bom grado a toda
segurança.
Por conseguinte, os pais que, em relação às suas aspirações pessoais, não têm
coragem de se expor com um pouco mais de audácia na vida, sentem-se
especialmente provocados pelas relativas caricaturas oferecidas pelos lhos.
Quem vacila de algum ponto de vista ou se encontra no o da navalha em
relação a questões importantes perderá a cabeça diante de sua representação
infantil, pois não quer ser lembrado das próprias di culdades durante as
refeições. Para algumas crianças, balançar com a cadeira representa
simplesmente uma possibilidade ideal de testar na prática os limites e a
coerência dos pais.
 
Perguntas para os pais:
► De que maneira nosso lho pode encontrar um equilíbrio interior sempre
novo?
► Estaria ele autorizado a testar continuamente os seus limites e os nossos?
► Como podemos dar-lhe espaço para que ele aceite os desa os e
experimente os limites?
► Como podemos desa á-lo?
► Como podemos transmitir-lhe equilíbrio exterior e interior?
 
Medidas de apoio:
► Do ponto de vista homeopático, seria evidente tornar supér uo o balanço
da cadeira, evitando um comportamento autoritário, que pode ser
substituído por uma vida emocionante, desa adora e voltada à luta pela
manutenção do próprio equilíbrio; desse modo, as crianças terão de
voltar a car em silêncio à mesa e carem sentadas com as quatro pernas
da cadeira no chão.
► Menos pretensioso, mas igualmente e caz, seria passar os exercícios de
equilíbrio à mesa para outro momento oportuno. A maioria das crianças
gosta de praticá-los junto de muretas e em todos os tipos possíveis e
impossíveis de balaustrada e trave. Seguros pela mão do papai ou da
mamãe, poderão exercitar o equilíbrio interior, encontrando, desse modo,
uma substituição construtiva para o movimento praticado à mesa de
jantar, em prol da manutenção da paz externa.
► Mostrar coerência e delegar responsabilidades: pais que ainda sentem muita
di culdade com esse tipo de situação tendem a refugiar-se em ameaças
autoritárias ou, além disso, a recusar a responsabilidade e a despejar na
criança que caiu todas as consequências, desde a arrumação até os
consertos necessários. Colocamos esta solução somente em terceiro lugar
porque, durante a refeição, ela requer nervos de aço com o pequeno
equilibrista e uma considerável coerência caso ele realmente se machuque.
15.8.1.10 Mascar chiclete

“Demoro para mastigar tudo.”


 
Trata-se de um hábito pertencente ao sentimento nacional norte-americano,
que, por um lado, é comprovadamente e caz para aumentar a concentração e,
por outro, provavelmente ajuda a desfazer a tensão na região da mandíbula.
Além disso, seria um bom exercício quando se trata de aprender a vencer as
di culdades ou persistir por um longo tempo. Com ele, a criança treina
continuamente os músculos da mastigação e, por conseguinte, também a
mordida.
Pergunta-se por que muitos pais o condenam. Nesse caso, certamente entra
uma boa dose de defesa ou até mesmo de rejeição ao estilo de vida americano.
Quando a esse hábito se acrescentam os conhecidos ruídos da mastigação e
quando sobretudo os meninos mascam o chiclete com a boca aberta, no
melhor estilo oeste selvagem, é mais fácil compreender as objeções estéticas que
os pais exprimem com admoestações do tipo: “Coma de boca fechada!” Entre
uma coisa e outra, é interessante observar que até os dentistas aconselham
mascar chiclete. No entanto, não recomendamos as elogiadas gomas de mascar
com adoçante no lugar de açúcar, justamente por causa dessa substituição.
 
Perguntas para os pais:
► Em que situações nosso lho sofre tensão?
► Suas necessidades orais são satisfeitas?
► Como nos relacionamos na vida com nossa capacidade de morder?
► Damos o exemplo de lutar para superar as di culdades?
► Como podemos ajudar nosso lho a tratar exaustivamente os problemas
consigo mesmo, conosco ou com os outros?
► De onde ele tomou o exemplo de uma mastigação antiestética, se não foi
de um pasto vizinho para vacas ou do oeste selvagem?
 
Medidas de apoio:
► Não levar as coisas muito a sério: pela maneira de mastigar dos lhos, os
pais podem reconhecer sem di culdade se se trata de uma provocação ou
se eles simplesmente gostam de mascar chiclete. Se esse hábito coloca os
pais em contato com a própria agressividade em relação à sua capacidade
de morder e de conseguir superar as próprias di culdades, eles
simplesmente têm de ser gratos aos lhos e talvez mascar chiclete com
eles de vez em quando para relaxar.
► Relativizar a problemática: caso se trate de provocação, os pais poderiam
re etir sobre o que realmente se trata e se, com esse tipo de desa o, eles
não tenham tirado a sorte grande, pois, a esse respeito, existem variantes
muito piores. De resto, ignorar com indiferença as provocações logo as
torna desinteressantes.
15.8.1.11 Arroto contínuo

“Minha digestão é barulhenta.”


 
Em primeiro lugar, esse fenômeno requer um esclarecimento sobre eventuais
causas médicas que determinem uma digestão em sentido contrário. Se não for
esse o caso e a criança soltar seus gases contra a corrente, emitindo ar, esse
sintoma poderia esconder o hábito de engolir muito ar (por exemplo, enquanto
se come), de comer rápido demais ou engolir ar com o estômago vazio. O
“arroto” é tão importante no início da vida quanto mais tarde se torna
desagradável.
O fato de ter havido tempos melhores, mesmo entre os adultos, é algo que
revela uma sentença de Martinho Lutero: “Por que não arrotar e peidar? Por
acaso isso não é prazeroso?” Atualmente, o segundo sintoma mencionado pelo
reformador é considerado um sinal de má educação e de maus hábitos; nesse
sentido, também poderia ser usado pelas crianças como forma de ataque às
rigorosas regras e aos bons costumes domésticos: uma pequena rebelião
praticada, por assim dizer, pelo próprio corpo.
 
Perguntas para os pais:
► Como podemos transmitir ao nosso lho outras válvulas de escape para a
liberação de ar?
► O que ele não está conseguindo digerir?
► O que está querendo nos dizer com seus arrotos constantes?
 
Medidas de apoio:
► Proporcionar para a criança outras possibilidades para que ela seja ouvida: a
tarefa da criança seria aprender a liberar o ar através de outras vias mais
sensatas e criar a possibilidade de ser ouvida ou de formular seus protestos
verbalmente.
► Descarregar a agressividade: se algo subir, é porque não foi bem digerido, e
talvez chegue até a exercer resistência. Para descarregar a agressividade, é
preciso ventilar o próprio coração e exprimir de forma diferente tudo o
que está atravessado no estômago da criança ou que pesa em seu coração.
► “Digerir” a vida e encontrar outros caminhos para facilitar a digestão da
vida.
15.8.1.12 Fugir da mesa

“Tenho coisas mais importantes para fazer do que car olhando para vocês
enquanto como.”
 
A fuga da mesa durante as refeições em família, antes de os pais terminarem de
comer, é uma necessidade de quase todas as crianças. Antigamente, tínhamos
até de pedir permissão para dizer alguma coisa, e era proibido interromper um
adulto. Os cotovelos, símbolos da capacidade de impor-se e da falta de
respeito, não podiam nem sequer ser apoiados na mesa. Não era uma questão
de cansaço, e sim de pro laxia para a agressividade e um sinal de boa educação
ou treinamento, pois quase nunca os pais eram capazes de explicar essa medida.
Esses tempos autoritários, com suas rígidas regras e rigorosas normas, já
estão amplamente superados. Entretanto, a pergunta sobre quando uma
refeição comum realmente chegou ao m permanece sem solução; e as boas
maneiras à mesa continuam sendo mais importantes do que costumamos
admitir.
Por um lado, a refeição em família ainda é um dos últimos rituais em
comum. Ele vive de suas regras e, de preferência, começa e termina com todos
juntos. Contudo, as crianças têm di culdade para compreender isso.
Naturalmente, também nesse caso haveria uma variante muito mais branda. Se
as conversas durante as refeições fossem interessantes para as crianças a ponto
de fazê-las permanecer à mesa, o problema estaria resolvido. Por outro lado,
quem se dirige aos lhos com perguntas “irritantes”, do tipo: “Como foi na
escola?”, naturalmente estimula sua aversão e, em todo caso, os exorta a uma
resposta estereotipada: “Como sempre, mãe!”
Se as conversas não forem adequadas às crianças, talvez fosse melhor que as
famílias modernas de hoje as deixassem sair da mesa quando terminassem de
comer e os assuntos as aborrecessem.
 
Perguntas para os pais:
► De que modo podemos trazer à mesa assuntos que agradem a todos?
► Será que nossas regras à mesa são antiquadas e precisam ser superadas?
► O que podemos fazer para que nosso lho não associe à refeição apenas
obrigações irritantes?
 
Medidas de apoio:
► Estratégia dupla: um acordo para deixar que simplesmente saiam da mesa
poderia prever dois tipos de refeição: a informal, em que as crianças
podem se levantar assim que terminarem de comer; e aquela
acompanhada de conversas importantes, em que se levantar não vem ao
caso.
Os resorts da rede Robinson-Club, por exemplo, introduziram uma dupla
estratégia muito bem aceita pelas crianças: às 18 horas inicia-se uma
refeição voltada para as crianças e, a partir das 20 horas, outra para os pais,
sem os lhos. As famílias que adotaram essa estratégia caram satisfeitas
com os dois horários. Naquele infantil, os pais cam sentados ao lado das
crianças e respondem a todas as suas perguntas, que geralmente não
duram muito. Os pais comem mais tarde e podem conversar com calma.
► Ritual coletivo: obviamente, o ideal seria a terceira variante, hoje quase
utópica, em que comer lentamente bons alimentos se torna um ritual
coletivo, que precisa do seu tempo e certa re exão, começando com
antigas orações antes da refeição e terminando com outro ritual
semelhante.
Porém, se isso não encontrar aprovação interior por parte de todos, com o
tempo, pela lei da polaridade, se obterá justamente o oposto. As
obrigações entediantes e a família associam-se em um triste conjunto, que,
no futuro, não permitirá esperar dos lhos nada de bom no aspecto
familiar e nunca trará aos pais o que eles impõem com medidas severas e
esperam com ingenuidade.
15.8.1.13 Roer as unhas

“Estou acabando com as minhas garras.”


 
Roer as unhas denota um domínio realmente não evoluído da própria
agressividade, com a qual os pequenos medrosos e/ou muito responsáveis ou
sensíveis usam seus dentes – suas armas dentro da boca – para morder o
restante de suas garras e, assim, “amputar-se” voluntariamente. Algumas
crianças chegam a roer as unhas “até a carne”. Nesse gesto, percebe-se um alto
grau de frustração e o desamparo de não saber impor-se, mas também a
inibição de ferir os outros.
Esse hábito requer dos pais muita paciência e compreensão, bem como a
busca de meios mais atrativos para reduzir a agressividade. Recorrer apenas à
repreensão por causa das unhas reforça a frustração e o desamparo nas crianças
e, por conseguinte, também sua dependência de roê-las.
 
Perguntas para os pais:
► Por que nosso lho tem medo da própria agressividade?
► Como ele pode aprender a lidar melhor com sua vida?
► Em que circunstâncias ele se sente muito limitado? O que ou quem o faz
sentir-se assim?
► Como pode tornar-se mais corajoso?
► Por que ele fere a si mesmo? Como pode aprender a lidar de maneira
responsável com sua agressividade?
 
Medidas de apoio:
► Tomar consciência de toda a problemática da agressividade desde o
princípio (ver o livro A Agressão como Oportunidade).
► Faça com que seu lho pratique esportes, para que ele possa se desafogar
sicamente.
► Permitir que ele masque chiclete.
► Redução da agressividade: pendure um saco de boxe e faça com que seu
lho pratique golpes de cinco a dez minutos diariamente.
► Oferecer a ele uma bolinha antiestresse ou um Hacky Sack (saco de couro
cheio de bolinhas de plástico), sobretudo em situações em que a criança
rói as unhas.
► Instrumentos de percussão: em contextos apropriados, permitir que a
criança toque tambor e/ou bateria.
15.8.1.14 Morder o lápis

“Fico roendo os dias que me roem.”


 
Morder o lápis também é uma temática que envolve a agressividade. A criança
treina, por assim dizer, a própria mordida na extremidade do lápis, em vez de
direcionar sua ponta (agressiva) contra o papel e nele realizar algo corajoso. De
maneira geral, morder o lápis é um modo para reduzir a tensão em casos de
di culdade de concentração ou tédio. A criança prefere morder a se concentrar
em alguma coisa que não a entusiasma. Os problemas relacionados à mordida
podem ser múltiplos. Assim, muitas vezes os lápis se tornam mordedores para a
criança mais velha e alguns adolescentes, que os mordem com rmeza, em vez
de se empenharem com a nco na tarefa que lhes é apresentada. Trata-se,
portanto, de uma obstinação em um nível inócuo, mas, obviamente, haveria
alternativas mais evoluídas e mais sensatas de canalizar a própria agressividade.
Lápis mordidos não são nenhuma catástrofe, mas satisfazem tão pouco
quanto os galhos novos mordiscados por cervos famintos ou arranhados pelos
chifres de bodes. Se os “jovens selvagens” a assem e exercitassem seus dentes
em projetos maiores e mais impressionantes, todos os envolvidos seriam
ajudados. A tarefa para os pais seria introduzir essa atitude no jogo da vida.
 
Perguntas para os pais:
► Em que circunstâncias nosso lho deveria a ar melhor seus dentes?
► Que situações constituem um desa o para ele?
► O que poderia despertar sua curiosidade e torná-lo adequadamente
agressivo?
► Como se pode deslocar a concentração do lápis para o que se escreve?
► Como se pode focar a tensão em outras situações?
 
Medidas de apoio:
► Estimular a capacidade de resistência: a verdadeira tarefa consistiria em
aprender a superar as di culdades que surgem a cada atividade.
► Deslocar a mordida: a criança deveria ter a possibilidade de mostrar seus
“dentes intelectuais” e desenvolver a mordida em outros níveis.
15.8.1.15 Dependência da televisão

“Não vejo outra coisa que não seja a televisão.” – “Quadrada, prática, boa.”
 
Essa dependência moderna não se limita absolutamente às crianças. Na maioria
das vezes, os pais chegam a ser seu modelo. Como meio de comunicação de
massa, a televisão conquistou há muito tempo todos os aspectos da sociedade
moderna. A “sociedade da televisão” é deplorada pela maioria dos pais, mas
exclusivamente no que se refere a seus lhos, pois eles próprios cresceram sem a
existência desse substituto onipresente e, assim, conseguiram administrar sua
vida, ao menos em parte. Para as crianças que iniciam a vida já sobrecarregadas
e acalentadas por tantos estímulos, o mundo e suas possibilidades parecem
piores. As telas tornam-se cada vez maiores, mais dispendiosas, brilhantes e
planas; a perspectiva das crianças também se torna mais plana, estreita,
limitada, sem imaginação e até sombria.
Nesse meio-tempo, está em voga o lema “assistir à televisão em vez de
viajar” ou “vídeo, ergo sum” (vejo, logo sou). O antigo original cartesiano
“Cogito, ergo sum” (penso, logo existo) está extinto faz tempo, conforme
lamentavelmente comprovaram os recentes estudos do PISA.[35] Na
modalidade utilizada pela maioria, a televisão não contribui em nada para a
formação; ao contrário, por um lado, engorda os pequenos “sacos de batatas”
que passam horas no sofá e, por outro, os estupidi ca. Este último aspecto não
depende, de modo geral, das emissoras nem de suas programações, e sim da
escolha dos programas para os “kids”, como há tempos são de nidas as
crianças, não apenas no mundo televisivo. Tampouco as viagens são realmente
eliminadas, mas os objetivos tornam-se cada vez mais unilaterais, e os
programas escolhidos, cada vez menos exigentes do ponto de vista intelectual.
Portanto, em vez de aspirarem ao emocionante mundo exterior, as crianças
preferem, com frequência cada vez maior, car enfurnadas em casa,
preenchendo a alma com decalques da realidade. Se ler em vez de viver já
constituía certo perigo para nossa geração, assistir à televisão em vez de viver
representa uma exacerbação. Quem assiste às séries, nas quais tudo é
abertamente edulcorado – do contrário, não seria aproveitável nem teria valor
–, quem se deixa contagiar pelas novelas totalmente sem conteúdo ou passa o
tempo vendo shows de talentos, terá menos tempo para coisas mais
importantes.
Quando a própria vida vai parando de funcionar progressivamente, quando
a comunicação já não é realizada e a vida passa a se desenvolver de maneira
totalmente unilateral, a televisão obviamente ameaça se tornar um beco sem
saída para a existência. No entanto, isso não é culpa dos que atuam na televisão
nem de seus programas, e sim das pessoas que a usam erroneamente como um
substituto da vida.
Entre as crianças, muitas vezes a televisão já é uma necessidade para que
ainda consigam participar da “vida”. Tudo gira em torno das séries e das
pseudoestrelas. Nos dias de hoje, para se tornar uma, já não é necessário saber
cantar ou dançar; é su ciente saber falar a própria língua de maneira
rudimentar e ser atrevido, indiscreto e arrogante. Essas novas estrelas,
procuradas e encontradas em série e em massa na televisão, podem suscitar
pena e ser aceitas por aquilo que são, mas se essa qualidade inferior – através do
meio de comunicação da maioria – se torna a medida de todas as coisas, então
a dependência da televisão se torna uma das mais perigosas.
Considerando o poder extremo da mídia, a tarefa dos pais modernos parece
ser quase sobre-humana. As séries, que são pseudoemocionantes e mal
interpretadas, são seguidas apenas por quem já não vive histórias interessantes
nem as tem para contar. Por isso, quando os pais proporcionam aos lhos uma
vida igualmente emocionante, os kids saem de bom grado da frente da
televisão.
Contudo, o problema hoje é que, à medida que os lhos crescem, ca cada
vez mais difícil para os pais dar-lhes uma vida mais emocionante. O peergroup
domina, e as crianças são chamadas a assumir o controle da própria vida.
Atualmente, isso pode ser mais difícil do que há cinquenta anos, mas os pais
jamais puderam fazer isso no lugar dos lhos.
Quando os pais ajudam o lho a fazer sua estrela brilhar na vida, a não
esconder sua luz, e sim colocá-la no lugar certo, fazendo-a brilhar, e, portanto,
o ajudam a colocar-se sob a luz correta, a tornar-se o foco central de uma
história de vida animadora, que se passa no próprio palco (da vida), os shows de
talentos da televisão e suas perspectivas de substituir a vida se tornam menos
atraentes.
Contudo, obviamente, a televisão não deixa de ser a babá mais cômoda,
barata e con ável – sobretudo quando conectada a vídeos e DVDs. Compram-
se noventa minutos de liberdade e, quando se tem sorte e lhos pouco
exigentes, o mesmo disco pode ser visto várias vezes. Em nenhum outro lugar
as crianças modernas parecem tão tranquilas, seguras e satisfeitas. A única
insegurança desse método diz respeito apenas a seu futuro.
Diante da televisão reúnem-se pessoas de todos os grupos etários, que
acabam em um consequente isolamento, escolhido de maneira autônoma, mas,
mesmo assim, inconsciente. Não encontram o que dizer; simplesmente não
lhes ocorre nenhum assunto. Assim se desenvolve o típico isolamento
moderno, em uma estrada espiritual de mão única, na qual nada vem ao nosso
encontro. Tal como a nicotina, que ao mesmo tempo estimula e tranquiliza, a
televisão tem um duplo potencial de dependência: torna o indivíduo solitário,
mas, ao mesmo tempo, o protege da solidão. Quem possui um aparelho de
televisão nunca mais terá de car sozinho consigo mesmo.
É enorme a tarefa dos pais que se empenham pessoalmente em tentar
animar a garotada barulhenta, que quase já não faz barulho, pois se acomodou
tranquila e confortavelmente na frente da televisão. Hoje eles têm de concorrer
com os melhores animadores e com as mais fascinantes estrelas do mundo; por
isso, muitos acabam logo desistindo. Estimular a imaginação de crianças em
muitos aspectos ultrassaciadas e ultraestimuladas, tornar sua vida no trabalho
doméstico ainda mais colorida, para que resistam à in ação de imagens
coloridas da tela, não é para qualquer um e supera a capacidade da maioria.
 
Perguntas para os pais:
► Como podemos tornar a vida cotidiana mais emocionante do que uma
série diária de televisão?

Como podemos fazer com que nosso lho se conscientize do escasso
valor de determinadas transmissões?
► Como torná-los curiosos em relação ao mundo real?
► A nossa vida ou aquela de nosso lho é monótona?
► De que maneira ele pode ocupar-se adequadamente dos próprios temas?
► Que programas de televisão podemos ver e discutir juntos?
 
Medidas de apoio:
► Os pais deveriam oferecer aos lhos um mundo de primeira mão, permitir
que eles tenham experiências em primeira pessoa, em vez de deixá-los
viver as experiências alheias. A televisão fornece apenas imagens e
“mundo” de segunda mão. As crianças deveriam tomar consciência disso
e aprendê-lo com os pais.
► A televisão fornece soluções prontas, e as crianças precisam da percepção
sensorial para poder compreender e encontrar as próprias soluções e os
próprios caminhos.
► Talvez tivéssemos de passar novamente do lema “quanto mais cedo,
melhor” para a pedagogia do “tudo a seu tempo”, como já requer a Bíblia:
tudo tem seu tempo. Obviamente, a televisão também!
15.8.1.16 Dependência do computador

“Online is in – the rest is out.”


 
A continuação, ou melhor, a variante moderna da dependência relativamente já
antiquada da televisão é aquela do computador; na realidade, nada além de um
desenvolvimento da dependência da tela. Ambos tornam a vida plana e
insigni cante, no verdadeiro sentido do termo, pois, obviamente, diante da tela
do PC, a tridimensionalidade da vida real torna-se uma bidimensionalidade
plana, o ângulo de visão se restringe dos normais 180° para 70° a 80°. Portanto,
as crianças perdem a visão ampla e se tornam, necessariamente, limitadas. É
uma sorte que ainda não tenham desenvolvido olhos quadrados, uma vez que
passam boa parte do tempo vendo o mundo redondo apenas através de um
pequeno quadrado, ao qual, como se não bastasse, falta toda profundidade.
Lila, o jogo cósmico, como os indianos chamam a vida, consome-se diante
da tela na mais absurda variedade de games – da caça ao tetraz aos jogos
futuristas de guerra em outros mundos. O elemento comum é que eles pouco
têm a ver com a vida normal. Crianças relativamente pequenas já se tornam
habilidosos serial killers com gíria norte-americana. Muitos jogos de guerra são
variações de programas de treinamento do exército dos Estados Unidos. Ao ser
perguntado por que os atuais autores de homicídios em escolas são atiradores
tão bons, um especialista respondeu que era por causa das centenas de unidades
voluntárias de treinamento, realizadas nas telas presentes nos quartos infantis.
Nesse sentido, há que se reconhecer que as modernas computer kids [crianças
do computador] são dotadas de certa persistência e de um empenho
correspondente. Torna-se mestre quem muito se exercita – em todos os
âmbitos.
Há muito tempo, a luta pela vida ocorre substitutivamente na frente da
televisão. O fato de que a tela individual do computador pode oferecer
programas ainda piores do que aqueles oferecidos pela tela coletiva da televisão
deve-se, mais uma vez, ao tipo de escolha.
Ainda mais do que a televisão, o computador pode simular toda a vida. Em
vez de encontrar amigos da mesma idade, a criança entra em chatrooms com o
mundo inteiro e nunca sabe com quem realmente está falando. Se
considerarmos as versões de menor formato de jogos como o Nintendo, ca
claro que as crianças já estão há tempos acostumadas com as telas.
Com o PC ou o laptop, que entra cada vez mais cedo na vida, as crianças
também assumem cada vez mais cedo as maneiras e as formas de vida dos
adultos. Obviamente, um programa de compromissos vem instalado na versão
básica. Assim, muitos adolescentes já dispõem de agenda. Porém, quem possui
uma agenda também sofre a pressão ligada a ela. A criança ca conectada com
o mundo inteiro e já não precisa dar um passo fora de casa para isso. O tédio
também deixou de existir: com a ajuda do computador e dos seus respectivos
jogos, pode-se matar o tempo a qualquer hora.
Caso ainda se tenha mantido a capacidade discriminativa, que faça perceber
a própria vida como decepcionante, o PC está pronto para oferecer o acesso à
chamada second life, uma espécie de vida substituta virtual, na qual as cartas são
novamente embaralhadas. Quem ainda não teve uma chance na primeira vida
pode tentá-la na segunda, naquele portal da internet para o qual fogem cada
vez mais pessoas de todas as faixas etárias. Trata-se de pessoas que já não
conseguem dar conta da vida verdadeira, pois ela não lhes oferece o su ciente.
Por isso, refugiam-se em um mundo virtual supostamente mais bonito, para
nele imergirem e, às vezes, desaparecerem. Com algum dinheiro, novos amigos
e os mesmos modelos, conseguem recomeçar. Até perceberem que só
escolheram um novo nível para as antigas misérias, muito tempo pode ter
transcorrido em sua vida antiga e normal e algumas pessoas podem até já ter se
destruído. Porém, essas lições – como justamente esta que estamos mostrando
– são a última coisa que as crianças de hoje ouvem dos pais. Por outro lado,
quando se refugiam desde cedo no mundo virtual, sem ter podido conhecer
verdadeiramente o mundo real, os efeitos são bastante graves.
De resto, os pais são os mais importantes exemplos, pois eles próprios
assistem constantemente à televisão e desperdiçam seu tempo de vida diante
dela. Alternativamente, na maioria das vezes as crianças de hoje buscam seus
modelos e ídolos na tela da televisão e os descarregam, por assim dizer, como
todo o restante – assim, pelo menos, adaptam-se aos respectivos mundos da
tela, que os protegem daquele real. Desse modo, os pais deixaram amplamente
de fazer seu serviço a partir do momento em que a televisão e o computador
introduziram seu domínio sobre o mundo.
Contudo, geralmente essa responsabilidade deve ser atribuída a eles
próprios. Mal se termina de amamentar uma criança e ela já é colocada no
berço. Esta só sente que foi agradada quando suas necessidades são satisfeitas de
outra maneira – e as telas, que hoje para muitos representam o mundo – em
todo caso transmitem justamente essa ilusão.
Por certo, depois de falarmos tanto de seu lado sombrio, as telas também
têm aspectos positivos. Elas nos permitem utilizar todas as conexões possíveis
no grande mundo. A internet nos presenteia, quase sempre de graça e sem
nenhuma discriminação, todas as informações possíveis em questão de
segundos, transmite possibilidades culturais, e o computador pessoal muitas
vezes substitui a secretária particular. Não só a procura por um parceiro, mas
também qualquer outra organização da vida pode ser conseguida através da
rede. Quase todo estudo foi enormemente facilitado, e posso sentar-me com
meu laptop em qualquer gramado ou no topo de qualquer montanha e
escrever o que me der vontade. As modernas computer kids podem usufruir de
possibilidades com as quais só podíamos sonhar. Hoje, elas dispõem com muita
naturalidade de capacidades informáticas das quais, na nossa época, o centro de
viagens espaciais em Houston ou o Pentágono não podiam nem sequer se
aproximar.
Nesse sentido, é necessário que os pais se empenhem bastante em garantir a
seus lhos as chances do mundo da informação tecnológica ou IT (information
technology) e, não obstante, reajam ao aplanamento da vida. As chances
oferecidas por esse verdadeiro novo mundo são tão grandes que sua respectiva
sombra deixa de existir.
 
Perguntas para os pais:
► Em que circunstâncias faltam estímulos ao nosso lho fora do mundo do
PC?
► Por que ele se refugia nesse mundo irreal?
► Como podemos desviar sua atenção e seu interesse dos acontecimentos
virtuais para os reais?
► O que poderíamos aprender com nosso lho no computador, e o que ele
poderia aprender conosco fora dele, para que nossa vida em comum se
enriqueça?
 
Medidas de apoio:
► Lidar conscientemente com o meio: como em todas as outras dependências,
o mais importante é ter claro em mente que o problema não é o
computador, e sim a maneira como a criança lida com ele.

Oferecer alternativas: tal como no caso da dependência da televisão, aqui
também se trata de proporcionar à criança experiências “de primeira
mão”.
15.8.1.17 A dependência do telefone celular

“Estou sempre disponível para todo mundo.”


 
A ânsia por comunicação e por fazer parte de alguma coisa; o desejo de, a
qualquer momento, poder entrar em contato com qualquer pessoa, de ter o
mundo exterior sempre por perto e de estar sempre disponível: essas são as
palavras mágicas na era do celular. Acrescente-se a elas o fato de o celular estar
se integrando gradualmente ao laptop e à televisão. O telefone celular é o
denominador comum desse moderno triunvirato. “Coloque no seu celular” é
um slogan publicitário, ao qual as crianças também já estão submetidas; em
todo caso, aquelas que se preocupam com a própria imagem.
De fato, em breve receberemos no celular coisas que hoje nem imaginamos.
Já é possível pensar que o chip de laboratório implantado no corpo, ou seja,
carregado sob a pele, enviará ao celular informações relativas à falta de uma
vitamina, e que determinado trajeto para se chegar à loja ou ao restaurante
onde tal vitamina está disponível será mostrado via GPS no display. Talvez
então já não precisaremos de cardápio; bastará ligar o celular, que, em contato
com o chip integrado ao nosso organismo, enviará à cozinha do restaurante o
pedido do cardápio, disponível on-line. Talvez, em algum momento, todo o
cardápio seja combinado dessa forma, de maneira que receberemos tudo de que
um ser humano precisa do ponto de vista químico. Mas o que receberá nossa
alma? A ilha, uma espécie de lme de terror, descreve essa situação e desenvolve
ulteriormente o cenário de horror.
Ainda que essas perspectivas continuem sendo, por algum tempo, meras
promessas para o futuro, para muitos contemporâneos o celular já é
absolutamente irrenunciável. Uma menina com séria dependência do celular,
cujo pai con scara o aparelho após uma conta muito cara, logo reagiu com
acessos de suor e distúrbios no ritmo cardíaco. Infelizmente, o efeito se
reproduzia a todo instante. O celular já havia se tornado para ela uma espécie
de cordão umbilical, que a ligava a tudo que ela considerasse importante.
Muitos jovens devem ter os mesmos sintomas quando não estão
continuamente on-line.
A geração do celular quase já não marca de se encontrar. Tudo ocorre
espontaneamente através do celular; já não é necessário programar nada, pois o
cordão umbilical do celular está sempre ligado. Uma mãe que não estava
compreendendo muito bem a situação da lha em relação ao celular e queria
lhe alertar sobre a periculosidade da radiação emitida por ele teve de ouvir da
lha, com perplexidade, que, de todo modo, sem celular, ela já não gostaria de
viver. Obviamente, isso obriga toda uma geração a um macabro “aqui e agora”.
Tampouco se deve subestimar a função de controle exercida pelo celular. As
crianças podem ser sempre encontradas, mas também são mais livres e
autônomas, o que só pode agradar a ambos, pais e lhos.
Originariamente pensado como instrumento para o intercâmbio de notícias,
hoje, passar horas ao telefone é parte de um novo sentimento da vida dos
adolescentes. Com seu sistema de abreviações e diversos códigos secretos por
SMS, eles permanecem completamente sozinhos, porém presentes em toda
parte. Com isso, podem ganhar muito tempo, embora, sem perceber, na
realidade estejam perdendo um enorme tempo de vida.
Todas as novas mídias ajudaram a acelerar drasticamente o decorrer de nossa
vida e, assim, a ganhar muito tempo. No entanto, é claro que também se
comunica toda sorte de bobagens, pois na internet e em todos os sistemas a ela
associados, as barreiras caem mais rapidamente do que os professores de ética
podem lamentar.
Os celulares já salvaram muitas vidas, mas também já custaram muitas vidas
(em termos de tempo). Este é seu lado sombrio: destruímos o tempo em uma
medida que nunca existiu antes, diante das telas mais diferentes, quer se trate
daquelas cada vez maiores das televisões e dos computadores, quer das cada vez
menores dos celulares. Depois dos adolescentes norte-americanos, que há
muito tempo passam a vida ao telefone, as crianças seguem seu exemplo e
fazem o mesmo com a infância. Embora não sejamos obrigados a adotar tudo
que vem dos Estados Unidos, até agora, quase sempre o zemos.
 
Perguntas para os pais:
► Como podemos enfatizar e colocar em primeiro plano o valor útil do
celular?
► Nosso lho tem medo de perder alguma coisa se não estiver sempre
disponível?
► Estaria ele indisponível em outros níveis importantes e, por isso, sente a
necessidade de compensá-lo com o celular?
► Como podemos mostrar-lhe a importância das conversas e da vida cara a
cara?
► Nosso lho já teve a oportunidade de viver a vantagem de shows ao vivo
em relação àqueles gravados em CDs? Deveríamos ir a um show para
perceber a diferença?
► Como podemos praticar juntos e olharmo-nos nos olhos quando
conversamos e, de maneira geral, a nos olharmos mais?
 
Medidas de apoio:
► Oferecer alternativas: a solução para a dependência do telefone celular
estaria, por exemplo, em uma comunicação estimulante, que recuperasse
os velhos caminhos das conversas, das discussões, das brincadeiras e das
risadas em comum, para que as crianças voltassem a ter vontade de viver a
vida “ao vivo”, e não em sua versão degenerada, plana e quadrangular.
► Como no caso da dependência do computador e da televisão, o mais
importante é esclarecer que o problema não está no telefone celular, e sim
no modo de lidar com ele.
15.8.1.18 Inapetência

“Já não tenho vontade de nada.”


 
Por trás da falta de apetite esconde-se, eventualmente, a falta de fome de viver,
o que, por sua vez, muitas vezes está relacionado à saturação ou a uma recusa.
Quem não quer comer revela já não ter vontade de “ingerir” e “digerir” a vida.
Portanto, trata-se de uma espécie de recusa a tomar parte na existência.
Obviamente, isso coloca os pais contra os lhos. De fato, na mensagem da
inapetência inclui-se um sonoro safanão. A nal, depois de terem se empenhado
tanto pela criança, agora são obrigados a constatar que todos os seus esforços
terminam em um boicote geral à vida. Na inapetência também está incluída
uma recusa ao alimento oferecido, que evidentemente não supre as
expectativas. As crianças comunicam de maneira bastante direta aos pais que
seu presente não tem valor. E os pais realmente cam com medo de que a
criança possa adoecer e possa partir lentamente.
Normalmente, porém, a inapetência não é uma recusa geral à vida, e sim
uma fase; na maioria das vezes, é su ciente esperar até a criança voltar a sentir
fome. Contudo, seria importante prestar atenção para que ela não se
empanturrasse de doces ou outros substitutos alimentares e, assim, perdesse o
apetite na hora das refeições.
Não é nada incomum o fato de as crianças comerem menos em
determinadas fases da vida e, em outras, comerem mais. Obviamente, a fome
também está relacionada ao gasto de energia e se desenvolve com mais
facilidade depois de um passeio de bicicleta do que se a criança ca sentada no
sofá, assistindo à televisão, ou jogando no computador.
 
Perguntas para os pais:
► Como podemos estimular no nosso lho a fome pela vida?
► Do que ele está saturado?
► Do que ele gosta e do que gosta menos?
► Como podemos estimular nosso apetite juntos?
► Se o apetite aparece na refeição, por onde poderíamos começar?
 
Medidas de apoio:

Estimular a vontade de viver: a ambiciosa tarefa dos pais em caso de uma
inapetência que dure muito tempo consiste em despertar na criança que
recusa comida a vontade do bhoga budista de “comer o mundo” e de
superar seu desinteresse pelo mundo físico através de formas equivalentes
e estimulantes de alimento e de vida. Quem desenvolve apetite pela vida,
em sentido gurado, logo reencontrará o gosto também em sentido
concreto.
► Transferir oportunamente a recusa: fazer com que as crianças
compreendam que uma recusa pode ter seu signi cado e que na vida
moderna já existem situações su cientes, capazes de tirar o apetite de
alguém. Essas situações poderiam ser objeto de uma recusa compartilhada
e consciente, como o alimento de baixa qualidade, os jogos de guerra ou
os vídeos de violência. Por m, pais e lhos poderiam se divertir tentando
desenvolver juntos o “gosto certo” e aprendendo como faz bem e como é
bom comer sem necessidade.
► Dar e receber: do ponto de vista da homeopatia, as crianças poderiam
aprender com sua recusa e contentar-se com muito pouco; além disso, a
dar mais do que receber.
15.8.1.19 Pequenas personalidades que atraem acidentes

“Comigo dá sempre tudo errado.”


 
Ter um lho que “atrai acidentes” é um grande desa o e requer muita calma
interior, atenção, con ança e, sobretudo, paciência. Não faz muito tempo que
cientistas reconheceram esses tipos de personalidade. A sabedoria popular já
sabe há muito tempo de sua existência e fala de “azarados” e “infortunados”.
Também sabe que “a desgraça nunca vem sozinha” e que existe a “lei da série”,
que sempre acomete “quem não tem sorte”. Por outro lado, a sabedoria
popular conhece igualmente o polo contrário, ou seja, os “sortudos”, que
parecem ter nascido “voltados para a Lua” e que nunca saem perdendo.
Diante desses fenômenos e de suas vítimas, que nesse meio-tempo foram
classi cados pela ciência de “personalidades que atraem acidentes”, a medicina
acadêmica se vê totalmente desamparada. Pois, para as pessoas afetadas, qual a
utilidade de conhecer o resultado comprovado pela estatística, segundo o qual
80% de todos os acidentes recaem sobre 20% de todas as pessoas,
independentemente de serem considerados acidentes de trânsito, de trabalho,
domésticos ou de esporte? E a carreira de tal azarado pode começar cedo, já na
infância.
A ajuda vem exclusivamente do reconhecimento do princípio primordial ou
do arquétipo que se encontra na base desse fenômeno. Assim como tudo que é
feminino e infantil pertence ao princípio da Lua, também há um princípio ao
qual corresponde tudo que é original, incomum, louco, excêntrico, que
infringe as normas e a que também estão submetidos os acidentes: o princípio
de Urano.
Os indivíduos que, como as personalidades que atraem acidentes, se
encontram em pé de guerra com esse princípio deveriam viver de maneira mais
corajosa e louca (do ponto de vista homeopático), em vez de concentrar-se
ainda mais e ser cada vez mais atento (do ponto de vista alopático). Se
passarem dos limites, saírem da linha e abandonarem os caminhos percorridos
pela maioria, escaparão da armadilha dos acidentes. Tudo que torna sua vida
original e chamativa, insólita e desa adora corresponde ao princípio de Urano
e lhe faz justiça.
Os acidentes pertencem a esse princípio. Com eles, a criança nalmente se
afasta das normas e, muitas vezes, dos caminhos preestabelecidos. Os acidentes
pertencem aos aspectos irremissíveis desse arquétipo. Todo princípio tem dois
lados. Quem vive seu nível remissível lhe faz justiça e se liberta, ao mesmo
tempo, do seu lado sombrio irremissível.
 
Perguntas para os pais:
► Como nosso lho pode se tornar mais corajoso?
► Ele tem permissão para, de vez em quando, fazer loucuras e ultrapassar os
limites?
► Quando, onde e como poderíamos viver juntos momentos de loucura e
excentricidade?
► O que poderíamos inventar para tornar nossa vida mais emocionante e
desa adora?
► O que há de insólito e especial, de original e peculiar em nosso lho, e
como poderíamos estimulá-lo e dar-lhe espaço?
 
Medidas de apoio:
► Para as crianças afetadas, trata-se de retornar ao original com que
nasceram e de deixar para trás os “decalques” que os outros ou a
sociedade querem fazer dele.
► Princípios primordiais: para os pais, cujas tarefas individuais do ponto de
vista dos princípios primordiais costumam ser outras, o princípio de
Urano representa um desa o bastante particular. Em tal situação, o
melhor conselho seria con ar nas leis da vida e nos arquétipos e
confrontar-se com eles para melhor compreendê-los e, por meio deles,
melhor compreender as crianças, escapando, assim, das avaliações.
► Disponibilidade para o risco: a coisa mais difícil para os pais em questão é
encontrar o equilíbrio entre o cuidado e a disponibilidade para o risco. Se
essas crianças crescerem muito protegidas, com frequência se lançarão
precipitadamente e quase às cegas ao risco, e sua vida realmente correrá
perigo. Porém, se forem superprotegidas, poderão se tornar medrosas.
O desa o consiste em deixá-las experimentar sempre as novidades que
para elas realmente parecerem arriscadas, mas que, para os pais, ainda
sejam aceitáveis. Para que as situações não se agravem de fato, é necessário
que as experiências tenham um propósito e sejam supervisionadas pelos
pais. Quanto mais responsavelmente a criança aprender a colocar-se diante
de novas situações, tanto melhor. Para os pais, trata-se sempre de uma
questão de equilíbrio e, não raro, também de paciência.
Obviamente, não podemos estar sempre prestando atenção em nossos
lhos; em algum momento, eles próprios terão de fazê-lo. Porém, se
crescerem lentamente com essa responsabilidade, o resultado será bem
melhor do que (super)protegê-los e, mais tarde, lançá-los às cegas ao
primeiro desa o que se apresentar.
15.8.1.20 Dislexia

“Não consigo ler o mundo!”


 
Antigamente, o dé cit de leitura e escrita não era nem sequer (re)conhecido
como sintoma, menos ainda como quadro clínico. Até os testes de inteligência
revelarem mais informações, do ponto de vista pedagógico partia-se do
princípio de que as crianças eram burras demais para aprenderem a ler e
escrever, o que as marcava para o resto da vida. Hoje, em relação a esse assunto,
há mais abertura. As pessoas afetadas conseguem até mesmo terminar a escola e
seguir carreiras brilhantes. Assim como existem talentos parciais, existem
também dé cits parciais.
Desde que quase todo computador conta com programas que facilitam a
ortogra a, mesmo o aspecto prático da escrita cou muito mais leve. De fato, a
ortogra a chega a melhorar quando a criança depara continuamente com os
erros e pode tentar por mais tempo escrever a palavra certa sem sofrer pressão.
De resto, lidar com o problema determina em muito o quanto ele limitará a
vida. A dislexia nunca deveria tê-la limitado, e hoje menos ainda. Não
obstante, como em todos os sintomas, também neste caso deve-se aprender
alguma coisa sobre sua simbologia.
Os disléxicos são chamados a aprender a ler e a reconhecer na criação de
Deus, como em um livro aberto, quão pouco o mundo escrito lhes é
pertinente. Esse mundo se dissimula para eles de maneira ainda não conhecida
pela ciência. Portanto, a tarefa dos disléxicos não está, evidentemente, em
descrever literalmente o mundo, decifrá-lo ou garantir um lugar nele por meio
da escrita. Outras formas de expressão voltam para o primeiro plano. Somente
a forma da linguagem que passa para a escrita se subtrai a eles, mas não a
língua em suas possibilidades de expressão emocional e sentimental.
Se não consigo me comunicar por escrito e, portanto, formalmente, preciso
tentar fazer isso de modo informal e por outros caminhos. Quem não consegue
descrever seu mundo pela escrita deve tentar fazer isso de outro modo,
recorrendo a palavras móveis.
A forma xa e estabelecida segundo as regras da ortogra a é misturada pelos
disléxicos e termina em uma salada de palavras que já não faz sentido.
Evidentemente, eles precisam encontrar seu sentido de outra maneira e
comunicá-lo como se fosse por meio da forma escrita. Além disso, é preciso
re etir sobre o fato de que existia uma vida antes de Gutenberg e da impressão
de livros e até mesmo antes de existir a escrita... Com ela, os disléxicos recusam
inconscientemente grande parte da nossa cultura, a cuja ordem escrita eles não
conseguem adaptar-se nem inserir-se.
Somente os médicos erram mais ao escrever do que os disléxicos. Será que
ambos os grupos não conseguem ou não querem reconhecer aquilo que
escrevem (errado)? Obviamente, quem não domina a forma escrita torna-se
muito menos comprometido, pois é justamente a forma escrita que de fato
conta entre nós e com a qual xamos e estabelecemos tudo.
Quem comete falhas constantes ao escrever pode não entender o que
escreve. Do ponto de vista homeopático, o disléxico deveria misturar e turbinar
mais o lado formal de sua vida, desfazer-se das obrigações e transformar a
coragem em caos. Do ponto de vista alopático, trata-se de corrigir as letras e as
coisas que têm importância na vida. Para a homeopatia, ao contrário, trata-se
de lidar com os aspectos formais da vida de modo mais criativo e original, sob
a condução do princípio de Urano, já mencionado a respeito dos acidentes.
Deve-se proceder um pouco como Johnny Depp no lme Benny e Joon –
Corações em con ito, em que ele, que não sabe ler nem escrever, lida de maneira
tão encantadora com a vida que todos se entregam a seu charme. Este seria um
lme obrigatório para disléxicos e pessoas inábeis com cálculos, um estímulo
maravilhoso para descobrir dentro de si o verdadeiro artista seguindo a esteira
do princípio de Urano.
Letras são sinais dos primórdios da nossa cultura. Originariamente, derivam
das hastes de faia,[36] nas quais os povos germânicos inscreviam sinais cheios
de signi cados, aquelas runas que, segundo Odin, deveriam sussurrar o
conselho correto. No ritual, as hastes eram lançadas desordenadamente e,
conforme a posição em que caíssem, indagava-se a vontade dos deuses.
Entre os disléxicos, o oráculo das palavras, com o qual talvez queiram
encontrar um sentido totalmente diferente em sua vida, está sempre na ordem
do dia. Todo erro de escrita tem realmente de ser interpretado em sentido
freudiano como ato falho. Por conseguinte, uma torrente de atos falhos poderia
ser vista como uma tentativa de chegar a um sentido diferente, totalmente
pessoal.
Uma tarefa evidente dos disléxicos é certamente fundar, de modo original e
individual, o sentido da Criação. Quando pensam por imagens, não
apresentam nenhum tipo de problema; portanto, poderiam enfatizar em sua
vida essa parte essencial da realidade (talvez ideogramas como o chinês antigo
fossem mais vantajosos para eles). Se a energia e, com ela, a atenção fossem
retiradas do aspecto masculino e ordenador da vida, restaria mais espaço para
aquele feminino e pictórico; além disso, com a nova língua, a vida ganharia
outro sentido.
É o que pode ilustrar o seguinte exemplo: em vez de decifrar histórias em
sinais grá cos e escrevê-las, os disléxicos poderiam vivê-las por imagens, recitá-
las, cantá-las e dançá-las, transmitindo-as aos outros de maneiras
completamente diferentes e tornando-as vivas diante de seus olhos interiores e
em seu coração.
O autor Ronald D. Davis, que é disléxico, acrescenta em seu livro O Dom
da Dislexia: “A dislexia é um talento no verdadeiro sentido da palavra. É uma
dádiva e um dom, uma capacidade natural. Se a criança for autorizada a ser
disléxica, tal como ocorre com os canhotos, ela aprenderá a utilizar plenamente
suas capacidades especiais. Como ela dispõe de uma forte percepção
tridimensional, as letras não permanecem xas em sua superfície
bidimensional, mas se movem no espaço, fenômeno que, supostamente,
di culta muito a leitura e a escrita; por outro lado, porém, possibilita um tipo
de percepção bastante diferente. Com base nessa percepção móvel e profunda,
essas crianças têm uma imaginação ativa, uma percepção multissensorial, uma
criatividade elevada e uma boa intuição, quando não vivem seu talento pessoal
como uma falha”.
 
Perguntas para os pais:
► De que outro modo nosso lho pode exprimir-se além da escrita?
► Em que situações ele não quer sentir-se obrigado nem comprometido?
► Quando ele está autorizado a ser criativo e caótico?
► Como seus talentos (artísticos) podem ser estimulados?
► De que modo podemos juntos entender melhor o mundo e aprender a ler
na Criação divina como em um livro aberto?
 
Medidas de apoio:
► Comunicação: criar mais espaço para os diálogos e para contar histórias.
► Tornar a leitura atraente: re ita como você poderia tornar a leitura
atraente, emocionante e positivamente desa adora para seu lho.
15.8.1.21 Discalculia

“A vida é incalculável para mim.”


 
A di culdade para calcular é mais rara do que aquela para ler e escrever e, em
um mundo que lê cada vez menos e calcula cada vez mais, torna-se um grande
problema. Em seu conjunto, o mundo moderno é quase uma espécie de grande
calculadora; tudo passa pelo cálculo. Os controladores dominam e determinam
nossa vida; trata-se sempre de pagar, calcular e de dinheiro contável. “A conta
está certa?” é a pergunta que não deixa ninguém em paz.
Mesmo em uma unidade de terapia intensiva o resultado é calculado
antecipadamente: vale a pena toda a despesa, do ponto de vista do simples
cálculo? Os médicos, que não querem parecer tão calculistas, se esforçam para
assegurar que essa modalidade é apenas um procedimento possível, sem
repercussão sobre a terapia. Os últimos verdadeiros médicos já deixaram há
tempos essa avaliação econômica da doença. Seria o caso de nos perguntarmos
por que, então, se fazem cálculos se estes não têm nenhuma consequência.
Bem, porque é possível! Isso também corresponde totalmente à tendência
moderna. Fazemos muitas coisas porque podemos, e não porque precisamos. E,
atualmente, pode-se calcular quase tudo.
Quando não é possível averiguar nenhuma relação entre o preço e a
prestação do serviço, podem-se elaborar maravilhosos cálculos estatísticos sobre
o consumo de combustível e a expectativa de vida, que, em geral, é a
expectativa de morte. E, naturalmente, qualquer pessoa é capaz de calcular
quando irá se aposentar. E quanto, ou melhor, quão pouco receberá, também é
algo que se pode calcular nos dias de hoje. As estimativas praticamente nos
poupam de ir às urnas; há muito tempo que a democracia se tornou calculável
e, com isso, também bastante corrupta. Nesse meio-tempo, podemos calcular
se combinamos com nosso parceiro; de fato, surgem cada vez mais
relacionamentos através de portais na internet, que, por sua vez, apoiam-se em
computadores, ou seja, calculadoras. Se depois esses relacionamentos vão
perdurar, é outra questão, incalculável e de cunho emocional. Por outro lado,
as chances não parecem piores do que aquelas de relações iniciadas por outros
caminhos. Todo o universo do computador é calculado e, portanto, também
calculador. Em nenhum outro mundo se mentiu tanto como neste moderno
do computador, mas tudo sobre uma base exatamente calculada. Será que essa
conta fecha?
Diante desse pano de fundo, realmente não se pode permitir a chamada
discalculia. Não obstante, algumas pessoas, particularmente corajosas, são
obrigadas a fazê-lo. Simplesmente não conseguem calcular. Alguma coisa em
seu “computador biológico pessoal” se recusa a colaborar.
Obviamente, a ideia de que nosso cérebro também seja um computador – e
o mais importante de que dispomos – não é muito divertida nem muito
popular, porém, em parte, é verdadeira. Talvez também por isso as pequenas
células cinzentas sejam tão pouco utilizadas e de modo tão incompetente. Para
muitos, a antiga ideia de re etir primeiro, por si mesmo, antes de recorrer ao
Google, já pertence ao passado.
Embora nosso cérebro seja, entre outras coisas, um “computador pessoal”
incrivelmente evoluído, ele é tão avançado que supera nossa capacidade de
compreender seu funcionamento – mesmo com a ajuda das melhores
calculadoras. Nesse gigantesco “computador”, até o momento inimitável,
também há uma “central de cálculo” que se ocupa especi camente de números
e operações matemáticas. Nas crianças com discalculia, essa área especial do
cérebro concentra um problema até agora incalculável e insolúvel, com o qual,
nesse nível, ainda não estamos em condições de lidar.
Não que hoje seja mais importante calcular mentalmente, pois qualquer PC
já é capaz de fazer isso, bem como qualquer celular, e, em todo caso, as
próprias calculadoras já se transformaram em brindes.
Portanto, assim como a dislexia, a discalculia foi englobada por uma
modernidade que calcula com rapidez cada vez maior e, no dia a dia, foi levada
ao absurdo. Esse distúrbio tem relevância quase exclusivamente na escola. De
fato, hoje ninguém mais pode se permitir fazer cálculos de cabeça, pois os
computadores o fazem com muito mais e cácia, não apenas com mais rapidez,
mas também de maneira mais con ável. Com eles, pode-se calcular a qualquer
momento, enquanto com as pessoas, infelizmente, nem sempre é o caso. Um
instrumento de navegação fornece a rota com muito mais rapidez e segurança
do que qualquer motorista. Hoje, há quase que se temer se é o próprio piloto
quem conduz o avião, pois o grande computador instalado no cockpit
simplesmente comete menos erros.
Não obstante, do ponto de vista simbólico, a discalculia tem grande
importância. Quem não consegue corrigir coisas que contam não pode contar
em um mundo de números. O que contará alguém que não é capaz de contar?
Será levado em conta? Pode-se levar em conta quem não consegue calcular? É
capaz de entender alguma coisa? Não se pode avaliá-lo, e ele, por sua vez, não
poderá ajustar as contas com as outras pessoas nem com a vida. Provavelmente,
tampouco quererá fazê-lo.
Em todo caso, talvez esse indivíduo não seja muito calculista – o que seria
uma exceção nos dias de hoje! Ele também não é capaz de calcular direito as
consequências de suas ações. Talvez ele as realize sob outros pontos de vista,
observando, por exemplo, que tipo de sentimentos elas suscitam nele e nos
outros.
Quem costuma cometer erros de cálculo provavelmente deixará de calcular.
Ele não participa do jogo de sociedade mais difundido em nosso tempo. Quem
é sempre submetido a falsas avaliações talvez também deixe de fazê-las e já não
avalie as outras pessoas. Talvez seja uma boa coisa ele não conseguir prever
aonde isso o conduz, pois certamente não vale a pena. Mas que problema
irrisório não se deixar monopolizar pelos números!
“Ai de quem errar as contas!”, pensamos, mas a criança com discalculia as
erra constantemente, comete erros e, assim, tem sempre consciência de tudo
que lhe falta. Não consegue adaptar-se a este mundo ou consegue apenas de
modo insu ciente; portanto, não é fácil para ela encontrar uma posição estável.
Porém, isso signi ca que ela tem de permanecer no uxo, como a vida...
justamente panta rei [tudo ui].
Aqui já se vislumbram os lados redimidos desse dé cit. De fato, nem tudo
deve ser contado e calculado. Quem entra no mundo com muito cálculo,
obtém pouco dele e causa uma impressão desagradável. Hoje, sob a in uência
da globalização, do turbocapitalismo e do estilo de vida norte-americano,
coletivamente talvez estejamos calculando demais e fazendo apenas o que nos
dá um retorno, mas cada vez menos o que nos proporciona prazer e alegria.
Portanto, poderíamos aprender com as crianças que se recusam a fazer contas.
Elas poderiam nos lembrar que também há outras coisas mais importantes na
vida.
A tarefa se orienta em uma direção semelhante à da dislexia, só que de
forma mais dramática. Evidentemente, essas crianças não devem se preocupar
tanto com números e dinheiro, devem calcular menos, não visar à e ciência
nem ao resultado de cada ação. Devem afastar-se do polo arquetipicamente
masculino e voltar-se para aquele arquetipicamente feminino, artístico, jovial,
criativo, uido. De acordo com a frase de Peter Altenberg, poderiam se tornar
poetas: “Deus pensa nos gênios, sonha nos poetas e dorme no restante dos
homens”. Portanto, se não se pode ser um gênio, o poeta não deixa de ser bem
melhor do que a maioria dos que dormem.
 
Perguntas para os pais:
► Em que situações calculamos, em que outras somos imprevisíveis?
► Em que âmbito ainda nos deixamos conduzir por nosso sentimento, e
não pelos fatos?
► A acrobacia dos números ocupa uma parte preponderante da nossa vida?
Números e dinheiro têm um papel supervalorizado?
► Será que toda conta tem, necessariamente, de dar certo?
 
Medidas de apoio:
► Re ita sobre como estimular o lado artístico e criativo do seu lho.
► Leveza: re ita se seu lho quer ensinar-lhe a lidar com números e
dinheiro com mais leveza e até ensinar-lhe a brincar com eles.
15.8.1.22 Masturbação

“Autonomia sensual ou criança independente.”


 
Ereções ocorrem nas crianças já no primeiro mês de vida, durante a troca de
fraldas. Sigmund Freud ressaltava que as crianças já sentem prazer e
sensualidade. Tão logo descobrem a possibilidade de sentir prazer através do
estímulo ou da fricção de seus órgãos sexuais, recorrem a ela. Esses atos nunca
prejudicaram nenhuma criança; no máximo lhe acarretaram reações totalmente
exageradas por parte dos pais e outros adultos preocupados. O melhor seria
simplesmente deixá-las à vontade, sem tecer comentários, en m, sem reprimir
sua sensação de prazer – sabendo que a autossatisfação é a coisa mais normal
do mundo.
Quando a masturbação é punida ou sancionada, existe o perigo de a vida
sexual, a longo prazo, ser afetada. Portanto, em vez de reprimi-la, seria
necessário tolerá-la com benevolência. Como já foi dito, é natural e até mesmo
ideal quando as crianças aprendem precocemente a sentir prazer com o próprio
corpo.
Poderíamos liberar a masturbação do sentido de sujeira e classi cá-la como
uma descoberta de autoamor e de amor por si. Um dos princípios centrais do
cristianismo, “ama o próximo como a ti mesmo”, também poderia ser aplicado
neste caso. As crianças exercitam no próprio corpo o que, mais tarde, deverão
poder fazer com seu parceiro.
Por conseguinte, a tarefa seria encontrar satisfação su ciente em si próprio,
desenvolver a alegria no próprio corpo e reconhecer a masturbação como uma
boa possibilidade para descobrir o amor por si mesmo, entendido como forma
de passagem para conseguir satisfazer e amar os outros da mesma forma.
Os pais que insistem na convicção de que a masturbação é algo ruim
deveriam lembrar o que nos trouxe esse tipo de demonização por parte dos
representantes eclesiásticos e de outros moralistas. Os padres que nos
amedrontaram quando éramos crianças com o fantasma da tabes dorsal e de
outras bobagens do gênero apenas perderam credibilidade para si mesmos e
para sua igreja, porém, não impediram nem reduziram de modo algum a
masturbação com seu alarmismo, tão tolo quanto infundado. Simplesmente
carregaram de medo toda a temática da sexualidade.
Por que então os pais desenvolveram tanta preocupação em relação a uma
atividade tão inofensiva? Às vezes, eles temem seriamente perder o amor dos
lhos por causa disso. Pela situação, já é possível pressentir que, naturalmente,
em algum momento, os lhos dedicarão seu amor a outras pessoas. Seria uma
boa oportunidade para os pais se habituarem em tempo com essa ideia.
Contudo, é claro que se deve ensinar às crianças que a masturbação pertence à
esfera privada e íntima e que, a longo prazo, é apenas uma substituição do
amor sexual entre parceiros, ao qual normalmente dará acesso.
Por outro lado, se os pais perdem a cabeça diante da masturbação dos lhos,
embora naturalmente também a tenham praticado e, não raro, ainda a
pratiquem, isso denota uma conexão com seus próprios problemas sexuais. E
destes já existe mais do que o su ciente. As crianças não podem simplesmente
aceitar o que seus pais proíbem a si mesmos ou se permitem apenas com a
consciência pesada e, por assim dizer, ilegalmente. Quando as crianças
assumem a função de espelho e expressão das necessidades reprimidas dos pais,
naturalmente se tornam motivo de preocupação para eles. No entanto,
combater seu espelho corresponde a lutar contra moinhos de vento.
 
Perguntas para os pais:
► Qual é a nossa relação com a sensualidade e a sexualidade?
► Somos capazes de viver plenamente e manter nossa sensualidade e nossa
sexualidade?
► O que nos incomoda nas necessidades do nosso lho?
► Em que situações somos mais pudicos e inibidos do que nosso lho?
► Seria o fruto do nosso amor um libidinoso a nossos olhos? Qual de nós
dois se sente mais incomodado com isso e o que esse incômodo nos
sugere?
► Quanto prazer vivemos e quanto prazer nosso lho está autorizado a
viver? Ou não queremos saber desse assunto?
 
Medidas de apoio:
► Se os pais notarem que seu lho está se masturbando, eles devem,
sobretudo, car calmos e pensar em quanto é normal a autossatisfação
durante o desenvolvimento e em quanto isso é útil para que as crianças
possam conhecer e explorar o próprio corpo.
► Crie um espaço protegido para as necessidades do seu lho.

15.8.1.23 Brincar de médico

“Tenho uma coisa que você não tem.”


 
As inocentes brincadeiras de médico entram na mesma rubrica da
autossatisfação. Por esse caminho, as crianças procuram explorar o próprio
corpo, e isso não deve, de maneira alguma, desencadear reações paranoicas,
muito mais atribuíveis ao passado não superado dos pais do que a uma real
preocupação com os lhos. São especialmente os pais, e menos as mães, a se
manifestar com comentários peculiares, típicos de indivíduos sexualmente
inibidos ou perturbados.
Hoje, as crianças têm tantas possibilidades de ver o que quiserem através do
computador e da internet, que chega a ser ridículo perder a cabeça por causa de
inocentes brincadeiras em que elas começam a conhecer a própria corporeidade
sensual. Se os pais se mostram tão inibidos, acabam lançando uma sombra
sobre toda a temática da “sensualidade” e fazendo com que os lhos corram o
risco de adotar sua posição deturpada.
Pais que não apresentam esse tipo de problema se lembram de suas próprias
brincadeiras de médico e de que a única coisa desagradável a respeito talvez
fosse a reação perturbada ou perturbadora dos seus pais.
Seria muito mais surpreendente, preocupante e até problemático se as
crianças não demonstrassem nenhum interesse pelo seu próprio corpo, pelo
dos outros e pelos órgãos sexuais que neles se desenvolvem.
 
Perguntas para os pais e medidas de apoio:
► Ver a seção “15.8.1.22 Masturbação”.

15.8.1.24 Timidez

“Não tenho coragem (de viver).”


 
Antigamente, a timidez era considerada normal e até interpretada como sinal
de boa educação. Trata-se, nesse caso, de crianças amáveis que (ainda) não têm
coragem de expressar sua vitalidade, não ousam fazer nada, não têm
autocon ança e nas quais tampouco se pode con ar, pois a qualquer momento
seu outro eu, reprimido, poderia irromper das sombras. São crianças que ainda
não conseguem car sozinhas (consigo mesmas), que continuam agarradas à
barra da saia da mãe, pois são instáveis, que gostam de se esconder porque não
querem ser vistas – talvez porque ainda sejam muito imaturas e tenham
consciência disso, mas talvez também porque sentem vergonha de si mesmas,
como é comum nas crianças, dos pais ou da repressão vivida. Possivelmente se
comparam de maneira signi cativa com a força que percebem nos outros e,
subjetivamente, acabam tendo a sensação de que se saem cada vez pior.
Por certo, existem crianças introvertidas e extrovertidas, e isso é
absolutamente normal. Muitas vezes, porém, a timidez se confunde com a
introversão, minimizando-a. Crianças tímidas e intimidadas dispõem de muito
pouca autoestima e autocon ança, ou seja, ainda não conseguem con ar em si
mesmas e conhecem muito pouco a própria pessoa e o mundo com o qual se
medem. Por conseguinte, também preocupam-se muito pouco consigo
próprias. A timidez revela falta de con ança em si mesmo e nas possibilidades
da autorrealização.
Crianças tímidas geralmente também são medrosas. Reagem de maneira
particularmente temerosa quando se sentem sozinhas diante dos outros. Em
alguns casos, trata-se de crianças que foram obrigadas a retirar-se e colocar-se
no último lugar. Talvez, também em sentido metafórico, tiveram a espinha
dorsal, ou melhor, a vontade quebrada; foram transformadas em indivíduos
obedientes e sem vontade própria. Depois dessas experiências, o perigo de
irrupção da sombra é particularmente grande.
Chama atenção a timidez peculiar de “crianças vacinadas”, que têm um
verdadeiro histórico de inúmeras possibilidades da medicina acadêmica a
respeito. Aparentemente, esses programas de repressão, que agem através do
sistema imunológico, são “bem-sucedidos”.
Se as crianças tímidas não receberem nenhuma ajuda que as liberte dessa
posição contida, mais tarde tenderão a buscar uma proteção segura ou até
mesmo agir de tocaia, pois não ousam dar um passo à frente para confrontar a
vida.
Contudo, pode ser simplesmente que ainda se sintam inseguras e não
saibam que caminho tomar. O consequente desamparo as torna ligeiramente
dependentes. Seu olhar pede: “Não me deixe sozinha, ainda não consigo ( car)
sem você”. Por trás desse sintoma também pode haver falta de con ança
primária.
Os pais que nada con am a seus lhos e sempre os advertem com frases
como: “Não vá cair!”, “Preste atenção!” ou “Deixa que eu faço isso para você”,
só pioram a situação. Mães muito agarradas aos lhos atraem lhos muito
agarrados a elas. Porém, agarrar-se um ao outro não dá sustentação a nenhum
dos dois. Alguns pais comparam a criança tímida aos irmãos mais corajosos,
considerando que estes é que estão “certos” e reforçando ainda mais a falta de
autoestima do lho tímido.
No entanto, muitas vezes se trata de crianças sensíveis, que já desviaram seu
foco para o mundo exterior, em vez de permanecerem nas estruturas infantis
que constroem o eu. Apesar de sua insegurança em relação ao mundo exterior,
geralmente são muito imaginativas e criativas quando estão sozinhas ou em um
ambiente que lhes transmita segurança. A tarefa das crianças, no sentido de
uma redenção positiva, consistiria em retirar-se, ouvir-se interiormente, buscar
as soluções criativas dentro de si, ter consideração por si próprias, admitir sua
dependência, aprender a se virar sozinhas e encontrar a paz interior.
 
Perguntas para os pais:
► Por que nosso lho não sente con ança?
► Do que ele tem medo?
► Em nossa opinião, do que ele não é capaz?
► O que poderia tê-lo intimidado?
► De que modo podemos ajudá-lo a sair do casulo em que ele se retirou?
 
Medidas de apoio:
► Re ita sobre o modo como seu lho poderia desenvolver mais con ança
primária.
► A tarefa dos pais seria transmitir aos lhos segurança (de si), o que,
naturalmente, só é conseguido quando os próprios pais já dispõem dessa
segurança.
15.8.1.25 Hipersensibilidade à dor

“Tudo é demais para mim e, ainda por cima, dói.”


 
Crianças que não desenvolveram nenhum escudo de proteção e são “abertas” a
tudo, indiscriminadamente, mostram-se muito permeáveis e, com frequência,
logo se tornam também hipersensíveis. “Cheia de não me toques”, ela sente
tudo, e tudo a perturba. Do ponto de vista alopático, ela precisa de um ltro
que lhe permita fazer uma seleção dos estímulos e volte a constituir, por um
período de transição, uma espécie de ninho protetor, graças ao qual a escolha
possa ser feita por outras pessoas, geralmente pelos pais.
Nesse caso, o modelo educativo antroposó co poderia ajudar a proteger em
ampla medida as crianças dos estímulos do mundo moderno. Sem televisão,
DVDs, aparelho de som e, sobretudo, computadores, tudo se torna claramente
mais tranquilo ao redor das crianças. Contudo, essa proteção precisa ser
atenuada no momento oportuno e completamente abandonada quando a
criança se mostrar su cientemente forte. No mundo moderno, não é possível
progredir sem computador, e, por certo, o PC “em si não é ruim”; a criança só
precisa ser orientada a adotá-lo de maneira coerente e produtiva para seu
desenvolvimento.
 
Perguntas para os pais:
► Por que nosso lho não consegue se proteger de modo su ciente em
relação às próprias necessidades?
► Como ele pode aprender a se delimitar melhor?
► Como pode perceber melhor sua sensibilidade e transferi-la para níveis
mais adequados?
► Qual é a situação em relação à sua e à nossa compaixão?
 
Medidas de apoio:
► A tarefa das crianças hipersensíveis consiste em perceber as coisas mais nos
níveis interiores, a entrar nos estímulos e a transformá-los. Seria bom
tornar-se mais perceptivo em vez de hipersensível, reagir com mais
sensibilidade à alma em vez de se mostrar hipersuscetível a tudo que é
externo, desenvolver mais empatia em vez de reações exageradas e, em vez
de sofrer com o mundo, ter mais compaixão por ele.
► Muitas pessoas até vivem bem com o fato de terem mais sensibilidade do
que outras, como os rabdomantes e os terapeutas sensitivos. Obviamente,
essas capacidades podem revelar-se muito cedo e deveriam, logo no
início, ser conduzidas aos canais corretos. Quem sente mais do que os
outros recebeu um dom. Todavia, se esse dom não for aceito, ele pode se
tornar um problema, como todos os dons recusados. Por que então não
descobrir e estimular esse talento já desde criança?
15.8.1.26 Insensibilidade à dor

“Não sinto nada.”


 
Trata-se de um sintoma muito perigoso, pois precisamos da dor para
sobreviver. Ela nos avisa dos perigos ameaçadores. Quem se senta em cima de
uma boca acesa do fogão e não percebe porque não sente dor tem um
problema enorme. No entanto, felizmente a total insensibilidade física à dor é
bastante rara. Muitas das crianças afetadas por ela não chegam a envelhecer,
pois, sem perceber, causam graves danos a si próprias muito cedo.
Muito mais frequente é o caso de crianças que se tornam progressivamente
insensíveis em razão de inundação de estímulos, até já não sentirem nem se
preocuparem com quase nada. Devido ao excesso de estímulos, elas “se
fecham” e não permitem que mais nada as penetre. Por trás de seus muros,
tornam-se amargas e quase já não percebem o mundo. O sintoma das
pálpebras pesadas pode ser uma manifestação externa relacionada a isso. As
crianças tornam-se apáticas, e as pálpebras pesam como na Pantera, de Rilke,
sobre um mundo impossível de ser alcançado.
Outra causa da insensibilidade à dor reside em experiências de choque, até
mesmo durante o nascimento. A experiência traumática faz com que a criança
se “feche hermeticamente” para um mundo que pode machucá-la tanto. O
abuso sexual muito precoce também pode levar a esse fechamento em relação
ao “mundo do mal”. Por outro lado, o sintoma pode ser igualmente um dom
da natureza em relação a dores contínuas e incontroláveis.
Do ponto de vista homeopático, a tarefa em casos de insensibilidade
consiste em não levar as coisas muito a sério, deixar que elas passem,
permanecer concentrado em si mesmo, evitar que o que vem de fora chegue a
si, encontrar a paz interior, desatrelar-se do mundo exterior e ouvir mais as
vozes interiores do que as exteriores. Do ponto de vista alopático, a tarefa
consiste em despertar para a vida, reabrir os olhos não apenas para deixar o
mundo entrar dentro de si, mas também para ir ao seu encontro. Os pais
deveriam fornecer estímulo e apoio, embora, obviamente, seus lhos já não
lhes perguntem nada nem os requisitem há muito tempo. No pior dos casos, os
pais levam essa situação para o lado pessoal e reagem ofendidos.
Nesses casos, os pais, inevitavelmente, se perguntam: a que ponto
chegamos? Quem é o lho, quem é a mãe e quem é o pai aqui? A pessoa mais
inteligente sempre acabaria por ceder; somente o mais forte e o mais sábio
pode interromper o círculo vicioso.
 
Perguntas para os pais:
► O que tornou nosso lho insensível aos estímulos do mundo?
► O que o terá estimulado em excesso, a ponto de ele ter se desligado?
► Por que e para que nosso lho se fecha?
► Como podemos ajudá-lo a abrir-se novamente para o mundo, suas
alegrias e dores?
► Como podemos fazer para que ele sinta os estímulos?
► Em que âmbito nosso lho e nós próprios somos autênticos?
 
Medidas de apoio:
► Tratamento homeopático: o ópio potencializado é um dos medicamentos
de choque que tem a insensibilidade à dor em seu quadro
medicamentoso; às vezes, opera milagres e é capaz de abrir o olhar para o
mundo.
► Florais de Bach: neste caso, são úteis os orais de Bach como Star of
Bethlehem e Wild Rose.
15.8.1.27 Colocar os cabelos na boca

“Estou pincelando os lábios.”


 
Juntar os cabelos em um feixe e passá-los nos lábios é, certamente, uma
iniciativa sensual, que deve ser avaliada de maneira muito mais tênue do que o
quadro clínico da tricotilomania, em que a pessoa arranca os próprios cabelos.
Com estes, entram em jogo as próprias penas, o símbolo da liberdade, da
beleza e do poder. Com os cabelos, a criança cria uma espécie de cobra de
pelos, um espanador para acariciar os próprios lábios, que são seus órgãos de
comunicação sensual.
O aspecto problemático desse hábito se mostra, no máximo, quando a
criança o utiliza como substituto. A primeira e autêntica escolha é sempre
melhor. No entanto, provavelmente trata-se apenas de uma breve fase, em que
a criança se compraz em ser um simplório sonhador.
 
Perguntas para os pais:
► Em que âmbito falta sensualidade a nosso lho?
► Ele está recebendo afeto su ciente?
► Como lidamos com a proximidade e o contato físico?
► Como imaginamos nosso futuro? Vemos nosso futuro mais segundo a
nossa perspectiva ou segundo a dele? De modo mais sensato ou
preponderantemente sensual?
 
Medidas de apoio:
► Às crianças com essa mania inofensiva certamente falta o afeto sensual,
que elas arranjam por esse caminho. Se elas pudessem acariciar o pelo de
animais domésticos ou preferidos, isso seria um alívio para a satisfação
substitutiva, que, em si, não é problemática. Aproximar-se mais seria
ainda melhor.
15.8.1.28 Enrolar os cabelos

“Estou fazendo um cacho.”


 
Embora inócuo, esse hábito de caráter nervoso e semelhante a um tique já
alude a gestos conscientes, que se manifestarão no futuro, e, assim, revela a
temática que lhe é própria. Quem faz cachos nos cabelos quer atrair e seduzir
antes de sair. Quando são as crianças pequenas a enrolá-los como um hábito
nervoso, também querem atrair e seduzir alguém, geralmente os pais; querem
que estes as achem mais bonitas e cuidem (ainda) mais delas. No que se refere
ao afeto, as crianças certamente são “insaciáveis”.
Cabelos cacheados também são sinal de emocionalidade; por isso, esse
“sintoma” pode sinalizar sentimentos e evocar emoções. Em outras crianças,
enrolar os cabelos é sinal de re exividade sonhadora – nesse sentido, os cabelos
são usados como símbolo da liberdade de pensar e imergir nos próprios
mundos interiores.
 
Perguntas para os pais:
► Achamos nosso lho atraente?
► Por que ele quer nos “seduzir”?
► Quando nos deixamos nos envolver (de bom grado) por ele?
 
Medidas de apoio:
► Emoções e desejo de liberdade: os pais poderiam acolher essas pequenas
indicações e ajudar os lhos nesse sentido.
► “Envolver e desenvolver”: os pais poderiam elogiar o lho ou até estimular
que enrolem os cabelos, tornando-o, assim, uma divertida ação de
embelezamento.
15.8.2 Distúrbios comportamentais na adolescência

“Sou o máximo.”
 
É signi cativo o fato de que em uma tábua babilônica, com pelo menos três
mil anos, seja possível ler: “A juventude de hoje é podre desde sua base, é má,
sem Deus e preguiçosa. Nunca será como a juventude anterior, e nunca será
possível preservar nossa cultura!” Há cerca de dois mil anos, um sacerdote
egípcio lamentava: “Nosso tempo encontra-se em uma fase crítica. As crianças
já não ouvem os pais. O m do mundo não está distante”. Lamentos
semelhantes foram deixados por quase todos os homens sábios de todas as
épocas, desde Hesíodo, passando por Sócrates, até chegar a Goethe. Portanto,
não é novo o problema de muitas vezes não entendermos nossos lhos quando
eles atingem certa idade.
Os temas relativos ao início da puberdade, que se anuncia com grande
antecedência, serão tratados apenas brevemente nesta seção, à medida que já
afetam as crianças (embora muito raramente) e lançam suas sombras na
infância. Os agrupamentos “políticos”, como o dos espancadores de direita,
não serão mencionados.
O cenário é amplo, subdivide-se em inúmeros grupos com regras próprias,
além de “ins e outs”, e não será considerado aqui. Além dos grupos que
mencionaremos nas páginas seguintes, existem, por exemplo, tipos peculiares,
como os “metaleiros”, que não são sindicalistas nem metalúrgicos, e sim um
grupo que compartilha uma visão de mundo ou da música dura como ferro.
Ou ainda os hardcores, que também têm pouco a ver com a core energy dos
especialistas em bioenergia, mas cujos membros, ainda que por pouco tempo,
recebem uma singular importância em sua busca pela identidade.
Chama a atenção o fato de que a cultura jovem de hoje pouco tem a ver
com a cultura em sentido tradicional. Na maioria das vezes, nem chega a ter
uma identidade musical própria, como os technos e os rappers têm a sua. Por
toda parte, títulos obsoletos são reinterpretados por cantores cover – tal é a
expressão para essa espécie de plágio – e os velhos hits voltam a fazer sucesso
com seus encanecidos intérpretes. Como se não bastasse, também se veem
novamente tendências ultraconservadoras, cujos seguidores querem chegar
virgens ao matrimônio e se vestem como seus avós.
Atualmente, os movimentos juvenis in uenciam as crianças cada vez mais
cedo. Trata-se, sobretudo, de distinguir-se dos pais, da família e, de modo
geral, de tudo que é tradicional para iniciar a busca da própria identidade, que
se mostra em uma roupa original ou no pertencimento a determinados grupos.
É chegado o momento de conhecer o próprio corpo e a sexualidade e de
aprender a sentir e a esclarecer que tipo de mulher ou de homem se quer ser.
Por sua vez, isso traz os ídolos de volta à cena, hoje em dia oferecidos em uma
quantidade como nunca se viu. E quase sempre são popstars ou atores. Ao
serem perguntadas sobre quais são seus ídolos, raras são as vezes em que as
crianças dão a mãe ou o pai como resposta. Obviamente, uma criança não
pode simplesmente escolher como ídolo uma pessoa de quem quer e deve se
desvincular. Quando as crianças saem dessa fase de libertação, a situação pode,
então, mudar novamente.
Nesse momento, é preciso assumir as consequências e a responsabilidade
pelas próprias ações. Também é necessário reconhecer os limites, pessoais e
alheios, o que quase obrigatoriamente leva a discussões e con itos, pois, até
então, os pais pensavam que fossem os donos da casa. Este é também o
momento de sair dos mundos da fantasia e, por conseguinte, entrar na
realidade de um mundo moderno, cheio de possibilidades e horrores. Trata-se,
então, de desenvolver e a rmar o próprio jeito de ser, mas também de
mergulhar em um mundo de sentimentos novos, como o do primeiro amor,
com todo o sofrimento que a ele pertence, até chegar à dor universal e à
descoberta de que a vida também pode signi car sofrimento. Os pais e
diferentes instituições passam a exigir mais a adaptação a condições de vida
preestabelecidas e um comportamento orientado pela razão. O mundo da
polaridade se abre com todos os seus lados doces e amargos. Enquanto a nova
liberdade espera pelas “crianças”, ela só pode ser obtida pelo preço da proteção.
Por m, o ingresso na sociedade meritocrática está vinculado a regras bem
precisas, tais como “quanto mais o indivíduo se empenha, mais ele vive” ou
“tempo é dinheiro”, bem como a um pressentimento – assim se espera – de que
algo não está certo nesse estilo de vida. Mas são poucas as chances de se
descobrir o que e o porquê.
A mãe ou o pai que quiser compreender os problemas e os distúrbios
comportamentais dessa fase terá de inteirar-se da respectiva cultura juvenil,
pois muita coisa só poderá ser entendida a partir dessa perspectiva. O
pertencimento a movimentos especí cos determina em ampla medida se um
adolescente corre o risco de viciar-se em alguma droga ou tem alguma
tendência à violência. Obviamente, as crianças chegam ao respectivo ambiente
de acordo com sua ressonância. Também a esse respeito valem as leis da
regularidade, e não o acaso – ou, como formulou certa vez Anatole France:
“Talvez o acaso seja o pseudônimo de Deus quando Ele não quer assinar”.
Assim como os hippies escreveram paz e amor livre em suas bandeiras e
sonhavam colocar uma or no cano de uma arma, o que nunca foi consentido
à maioria deles, hoje, grupos muito diferenciados têm suas regras próprias.
Em todo caso, é preciso ser legal, de preferência, superlegal, o que não é fácil
diante de temas tão importantes como a premente puberdade. Embalar o amor
ardente de modo frio é uma arte com a qual os pais ou os avós de hoje
normalmente não têm nenhuma experiência. Porém, esse é o principal
problema de seus “kids” em crescimento.
O que é legal em determinado momento depende do ambiente e é
mensalmente “atualizado” nas correspondentes revistas juvenis, com base em
uma lista do que é “in” e “out”. Embora esse fenômeno se adapte muito bem à
nossa época acelerada, quase não deixa tempo para as crianças recuperarem o
fôlego na tentativa de permanecerem “legais”, uma vez que a opinião de um dia
torna-se um erro no dia seguinte. Se em seguida forem dadas algumas
indicações sobre tendências atuais, há que se pensar em quão rapidamente elas
poderão voltar a mudar. Os pais que estiverem um pouco informados a
respeito têm mais chances de reconhecer se uma anomalia comportamental é
um problema individual de seu lho ou fruto da coerção de um grupo. Assim,
às vezes pode ser mais fácil afastar o lho desse cenário – na pior das hipóteses,
até mesmo mudando de casa – do que tratar seu distúrbio comportamental.
15.8.2.1 Ravers ou techno-kids

“Todos os dias uma love-parade.”


 
As techno-kids são conhecidas sobretudo por suas festas, as raves, e
normalmente abandonam o gênero já no nal da adolescência ou pouco depois
dela. Como se tivessem recebido a carga de uma bateria, adoram dançar um
tipo de música que por horas a o toca sempre na mesma batida. O ritmo da
vida é estranho àquele tecnicamente responsável, criado por computador.
Os frequentadores das raves intensi cam essa carga de bateria com ecstasy ou
MDMA, a clássica droga das festas, que também alimenta quimicamente as
chamadas love-parades com centenas de milhares de participantes. Devido ao
ecstasy, suas pupilas se dilatam e o quarto chakra (anahata), centro do coração,
responsável pelo amor, se abre amplamente.
Os ravers são muito pací cos e até amáveis, especialmente quando se
encontram nesse estado. Por causa de sua droga, são criminalizados por uma
sociedade que ministra ritalina – uma anfetamina como a MDMA, já
comercializada nos pátios das escolas em substituição ao ecstasy –, três vezes ao
dia, a meninos ainda pequenos, diagnosticados com TDAH. Os próprios pais,
que engolem antidepressivos de última geração, a m de aumentar sua taxa de
serotonina – que também se eleva com a ingestão de MDMA – têm tão pouca
credibilidade quanto os pais fãs de chocolate, que pretendem alcançar objetivo
semelhante. O ideal seria que todos, incluindo os adolescentes, passassem a
usar Aminas para abastecer seus reservatórios de serotonina e melhorarem o
humor tanto quanto a gestão da vida lhes permitir. A busca pelo bem-estar e
pelo amor é comum a todos, e nela também reside a seguinte possibilidade: em
vez de julgar as manifestações a favor do amor, talvez devêssemos nos esforçar
mais, junto com elas, para cultivar esse sentimento.
15.8.2.2 Os tecktoniks

“Sempre prontos, mesmo que sem velocidade.”


 
Esse movimento é o mais recente no grupo e acaba de sair da França para
inundar os locais de culto dessa festa. O elemento comum é a dança de mesmo
nome, a última moda entre os adeptos, que lembram muito os technos, pois
usam roupas modernas e, como robôs, dançam no mesmo estilo, girando os
braços e balançando os joelhos exíveis como borracha, uma música eletrônica
que di cilmente pode ser compartilhada por quem não é adepto.
Ao contrário dos frequentadores das raves, recusam rigorosamente todo tipo
de droga e até mesmo o álcool; apenas o Red Bull austríaco é permitido. Para
eles, a vida é uma festa, ainda que tenham apenas um tipo de dança. Não se
interessam pela formação de grupos nem de comunidades. Têm todas as
chances de se tornarem o programa preferido da geração de pais, mas
justamente isso poderia acabar com seu movimento.
15.8.2.3 Os punks
“No future.”
 
Os punks são um fenômeno antigo, mas de modo algum relegado ao passado.
Surgiram já nos anos 1970 e, com sua aparência chocante, estão sempre
perambulando por praças e ruas modernas e continuam sendo contra tudo.
Seu principal objetivo é chocar, razão pela qual antigamente adotavam ratos
como animais domésticos e se estilizavam como eles. Com penteados
pontiagudos ou moicanos, casacos de couro preto com toda sorte de rebites
prateados, cintos também com rebites e, se possível, algumas estrelas arrancadas
de Mercedes-Benz, estão sempre protestando contra todo tipo de regra.
São os clássicos outsiders, que também poderiam ser descritos como
anarquistas, se por tal não se entenderem os anarquistas políticos à la Bakunin.
Rejeitam tudo que re ete a mentalidade pequeno-burguesa e, por isso, adoram
chocar as pessoas que pertencem a essa categoria, e estas são todas aquelas que
deles diferem. Para tanto, usam piercings exagerados – muitas vezes com
al netes de segurança – e amplas tatuagens com escritas mordazes.
Com seu slogan “no future”, teriam boas chances de viver o instante do aqui
e agora. E, diga-se de passagem, já tive punks muito simpáticos em meus
seminários...
15.8.2.4 Os emos

“Delicados e tristes sonhadores.”


 
Os emos se afastaram das cenas punk e hardrock, trazendo delas certa
melancolia. De resto, gostam de se divertir juntos, com delicadeza e
enfatizando o lado emotivo, e de celebrar em suas festas. Sem levar em conta
seus cabelos pretos e alisados, muitas vezes com mechas violeta, que pendem de
um lado do rosto, fazendo-os parecer seres de um olho só, e suas roupas
ultracoloridas, poderíamos ver neles quase os herdeiros dos hippies. Também
gostam de se autonomear “ lhos do amor”, defendendo abertamente seus
sentimentos. Para eles, que são sonhadores e emotivos, até mesmo as diferenças
entre os sexos se confundem. Sua música é sentimental quase excessiva, e eles se
dirigem uns aos outros de maneira suave e muito sentimental.
Para esses jovens, os perigos vêm da postura melancólica em relação à vida,
que pode chegar à depressão e a tendências autoagressivas, como a
escari cação. Por trás disso pode estar o desejo de se sentir mais ou
simplesmente sentir alguma coisa.
15.8.2.5 Góticos

“Dark is beautiful.”
 
Entre os góticos, que se originaram na Inglaterra, também se reúnem os gruftis,
que se interessam prematuramente pela cultura dos túmulos, e os darks. Todos
têm predileção pelo que é escuro, preto e místico. Tristes e introvertidos, com
rostos pintados de cinza-pálido a branco, crânios muitas vezes tosados
assimetricamente, com algumas mechas pretas, buscam a verdadeira
identidade.
Outsiders como os punks, não querem de modo algum participar dessa
sociedade e preferem ocupar-se de temas que, certamente, seguem sua
ressonância, como a morte e o medo, as visões de horror e os pesadelos,
buscando esses temas também em sua música.
15.8.2.6 Os hip-hoppers

“Underdogs entre si.”


 
Ouvem rap, dançam breakdance, usam roupas esportivas da moda e
compartilham uma linguagem extremamente dura e brutal, que os conota
como underdogs e gheto-kids. De fato, o movimento é originário dos guetos
norte-americanos e, para muitos negros da época, representou uma
possibilidade de ascensão.
No cenário sobressai o comportamento empolado e de macho, no caso dos
rapazes, e o bitch-look, no caso das moças. Já gostariam de ser alguém, andam
de pernas abertas ou como bruxas. Entre eles predomina a atmosfera de
gangue, que conhece e persegue os inimigos, empregando desde o mobbing até
coisas piores, e que também é uma atmosfera de gangue de gângsteres,
caracterizada por uma solidariedade de macho. Embora estejam totalmente
distantes de toda forma de consciência, a maioria deles é muito boa nos
esportes.
15.8.2.7 Piercing

“Eu me embelezo (me enfeio) para vocês.”


 
Esse ato demonstrativo de autolesão, que supostamente é considerado um
embelezamento e, de fato, assim é sentido nos respectivos círculos juvenis e em
outras culturas, é quase tão antigo quanto a humanidade. Conhecemos o
piercing desde os povos arcaicos, alguns dos quais o usam até hoje. No mundo
moderno, a in uência determinante é novamente exercida pelo peergroup,
dentro do qual o indivíduo quer se sobressair e mostrar autolesões, se possível,
heroicas. Portanto, se muito antes da adolescência as crianças já querem
impressionar usando piercings, isso seria um sinal de que desejam mais atenção,
que querem exprimir justamente desse modo. Além disso, trata-se, sobretudo,
de provocar os pais na pré-puberdade.
Do ponto de vista médico, tudo depõe contra essa forma de
autorrepresentação e automutilação marcial, que reduz claramente as forças
imunitárias; por outro lado, na maioria das vezes os jovens ainda contam com
um sistema imunológico surpreendentemente bom e têm outras preocupações.
Estas são atributo, sobretudo, de contemporâneos mais velhos, cuja situação
imunitária normalmente deixa muito a desejar, devido a uma vida, na melhor
das hipóteses, mal-humorada e, na pior, postergada. Como “provocação típica
da puberdade”, realmente existem coisas piores do que o piercing; a nal, um
pouco de metal no lugar inadequado é certamente menos inofensivo do que
uma agulha contínua na veia...
Nesse sentido, para nós era relativamente fácil. Quando entramos na
puberdade, acabava de iniciar-se a época hippie, e nossos penteados
ridiculamente inofensivos, quando vistos em retrospectiva, já eram su cientes
para desencadear uma tempestade em âmbito doméstico. Os jovens de hoje,
que sentem necessidade de provocar os pais, têm uma di culdade
incomparavelmente maior pela frente. É claro que, com o chamado “penteado
estilo Beatles” de antigamente, já não se consegue nada, mas mesmo a cabeça
toda raspada ou o corte moicano tingido de verde-veneno também já não
causam horror há muito tempo.
No entanto, a adaptação e um comportamento “pequeno-burguês”, de
acordo com uma visão pós-1968, podem servir aos jovens como mecanismo de
distinção. A esse respeito, certa vez minha sobrinha, em plena adolescência,
gritou ao pai, que toca guitarra elétrica, é um artista informático
extraordinário, usa roupas da moda, cabelos longos e brilhante na orelha:
“Você não podia se comportar como um pai normal?”
Na adolescência, os jovens sentem a necessidade de se distinguir e, para
tanto, também provocar. Pais compreensivos não se esquecem disso e vão ao
encontro dos lhos. Já se irritam com muita antecipação, transformando um
tema menos importante em uma espécie de drama, assim os lhos não
precisam ir muito longe. Quem já se exasperou por causa de cabelos tingidos
pode facilmente ceder sobre esse tema, a m de permanecer coerente no que se
refere ao piercing.
15.8.2.8 Escarificações

“Eu me machuco para machucar vocês.” – “Quero me sentir.”


 
Muitas crianças (em idade escolar) causam a si mesmas feridas doloridas,
escoriando profundamente a pele até ela sangrar. Às vezes, servem-se de
pequenas feridas já existentes, de espinhas ou picadas de mosquito e as
ampliam até transformá-las em crateras dramáticas.
Quem se fere excessivamente quer obter alguma coisa com isso. Trata-se,
sem dúvida, de um ato de autoagressão, e é evidente a suspeita de que são
predispostas as crianças que têm pouca percepção de si mesmas em sua vida
normal e que querem provocar os pais, exortando-os a cuidar mais delas.
Muitas vezes, esse pedido de socorro é motivado por uma responsabilidade que
elas sentem subjetivamente como muito elevada dentro da família, ou então
pelo sofrimento causado por uma distância interior em relação a si próprias ou
aos pais.
Provavelmente, pais excessivamente preocupados dão todo apoio ao lho e
tentam abrir-lhe todas as portas. Porém, a criança constata que não é capaz de
cumprir todas as altas expectativas e, por isso, se pune com a intenção de
causar, elas próprias no lugar dos pais, a dor por seu fracasso.
Obviamente, por um lado, os pais vão querer fazer curativos; por outro, vão
querer evitar as escari cações. Todavia, o primeiro gesto é recusado pelos
“pestinhas” e, quanto ao segundo, eles terão de se esforçar adequadamente. Um
curativo externo para a mão é pouco demais; as crianças precisam, antes, de um
curativo muito afetuoso para a alma.
Normalmente, os pais reagem aterrorizados a esses sintomas, e as cicatrizes
resultantes são penosas e até insuportáveis para eles. Um exemplo
representativo é oferecido pelo lme cult Ensina-me a Viver, em que o
personagem Harold simula constantemente o suicídio para chamar a atenção,
pois certa vez obteve uma reação emotiva de sua mãe, geralmente neurótica,
pois ela achou que seu lho houvesse realmente morrido em um acidente
químico na escola. Todavia, o efeito dos suicídios simulados por Harold logo se
esgota, provocando na mãe apenas reações de aversão e irritação.
 
Perguntas para os pais:
► Por que nosso lho não consegue perceber a si mesmo?
► Em que circunstâncias não recebe atenção su ciente? E de que tipo de
atenção precisa no momento: reconhecimento, emoções, desa o
intelectual, etc.?
► De que modo recebe provavelmente atenção em demasia e vive
expectativa muito elevada que não é capaz de cumprir?
► Como podemos encorajá-lo a perceber a si mesmo e a manifestar-se?
► Por que ele provoca de maneira tão intensa?
► Que desa o seria oportuno?
► Que desa os existiriam para nós, a m de livrar nosso lho dessa tarefa?
 
Medidas de apoio:
► Desviar a agressividade de maneira pertinente: as escari cações deveriam
ser interpretadas como uma solicitação direta para mostrar ao próprio
lho alternativas mais construtivas e menos perigosas de extravasar sua
agressividade e, de modo geral, sua energia; para ocupar-se dele com mais
coragem e estímulo, a m de que ele se sinta compreendido e consiga
perceber a si mesmo.
► Levar o problema a sério: em caso de escari cações no sentido de
provocações típicas da puberdade ou do período anterior a ela, seria
importante, pelo menos, dissimular a relativa reação de horror, pois, do
contrário, os jovens se sentirão encorajados a praticá-las cada vez mais.
► “Estimular em vez de escari car”: provoque seu lho com desa os reais.
Quem enfrenta os próprios limites em viagens emocionantes, precisa dos
músculos e da pele intactos. Quem precisa defender a própria pele em
situações exaustivamente competitivas, como no esporte, e vez por outra
leva um chute no futebol, um soco no handebol ou no boxe ou um golpe
no hóquei no gelo estará menos predisposto a se ferir voluntariamente.
Quando as feridas são causadas pelos outros, a criança fará de tudo para
evitá-las e responderá na mesma moeda à menor tentativa de ferimento.
As crianças esportistas conseguem entrever com muito mais facilidade o
erro que se esconde por trás dos atos autoagressivos. De resto, a frase
“você se cortou” já é um sinônimo para “você se enganou”.
16 Temas especiais

16.1 Autismo

“Estou pouco me lixando para vocês...” – “Não quero ter nada a ver com nada nem
com ninguém.”
 
Do ponto de vista da medicina acadêmica, as causas do número crescente de
casos de autismo permanecem no escuro. Entretanto, existem grupos de
especialistas – por exemplo, os epidemiologistas – indicam uma conexão
temporal entre o aparecimento maciço de autismo e a vacinação extensa contra
a coqueluche nos Estados Unidos. Todavia, ninguém ainda ousou estabelecer
uma conclusão sobre essa relação causal, embora a correlação seja ostensiva –
razão su ciente para sermos mais cautelosos com esta e, de preferência, com
todas as vacinas.
Provavelmente, é correta a opinião de muitos homeopatas, que partem do
princípio de que as vacinas tornam a vida das crianças desnecessariamente
difícil. Talvez o organismo em crescimento perceba as vacinas como um ataque
à sua incolumidade e às suas possibilidades de desenvolvimento, como se lhe
estivéssemos impondo uma hipoteca mais pesada do que no momento
podemos imaginar.
Em todo caso, Edward Jenner, descobridor da vacina contra a varíola,
reconheceu em seu leito de morte que havia criado um monstro com sua
descoberta. À sua própria mulher, a vacina causara o nascimento de um lho
morto, coberto pelas cicatrizes da doença, e seu outro lho, após a vacina,
passou a vida no estágio mental de uma criança de 1 ano e morreu aos 21.
Como poucos outros quadros clínicos, o autismo é adequado para nos
ensinar o temor e o estupor ao mesmo tempo. O total fechamento em relação
ao mundo exterior, tal como apresentado no impressionante lme O Enigma
das Cartas ou em Rainman, sucesso mundial de Hollywood, nos deixa sem
palavras. As pessoas afetadas vivem quase inteiramente em seu próprio mundo
interior. De certo modo, buscam asilo no interior, enquanto o asilo externo
para sua proteção é apenas a resposta de uma sociedade incapaz de ajudá-las e
que, no fundo, mal suporta quando alguém lhe vira as costas.
Por outro lado, os autistas nos espantam quando, com extrema facilidade,
fazem malabarismos dignos de virtuoses no jardim do mundo dos números
pitagóricos. O lme Rainman nos mostra de maneira surpreendente um autista
quebrando a banca de um cassino com toda a tranquilidade, pois conseguiu
memorizar todas as cartas do jogo. Uma caixa de fósforos, caída por acaso no
chão, permite que ele calcule na hora o número de palitos nela contida. Assim
são os autistas – do ponto de vista da sociedade – fracassados no geral, mas,
não raro, gênios nos pequenos nichos de seus próprios mundos de números,
formas ou também música.
Nesse sentido, não é de admirar quando as modernas abordagens
terapêuticas às vezes conseguem, por meio do computador, restabelecer um
nível de comunicação com eles. Ainda não sabemos se é o mundo digital da
magia numérica nos PCs a instaurar uma ponte entre os autistas e o nosso
mundo ou a possibilidade de decompor regras e palavras em letras individuais,
para depois, ao contrário, recompô-las.
Do ponto de vista da medicina acadêmica, nem chegam a existir hipóteses
de trabalho convincentes em relação ao autismo. As poucas abordagens
acadêmicas, desconsiderando-se a que usa o computador, percorrem as vias de
comunicação alternativas, seguidas pelos pais ou por terapeutas. Um exemplo
bastante comovente a esse respeito é dado pelo já mencionado lme O Enigma
das Cartas, em que a mãe consegue encontrar e abrir a porta que dá acesso ao
seu lho através de brincadeiras fantasiosas concretas e insolitamente
simbólicas.
Uma forma mais branda do mutismo pode indicar um possível acesso.
Nesse caso, trata-se, por assim dizer, de um autismo reelaborado, que se refere,
por exemplo, a uma pessoa especí ca. A criança emudece em razão de
problemas psicológicos em relação a uma única pessoa ou a um grupo. Essa
recusa em falar pode ser facilmente confundida com o autismo. Nesse caso,
talvez ocorra o mesmo que se dá com a depressão endógena, que por muito
tempo não recebeu explicação, até que alguns pesquisadores sensíveis
conseguiram encontrá-la.
16.1.1 Conhecendo outros mundos

Há alguns anos, tratei do caso de uma menina que recebera do psiquiatra da


escola o diagnóstico de autismo. Extraordinariamente delicada e sensível, no
passado a menina já havia falado, mas aos poucos foi emudecendo cada vez
mais. No momento da terapia, fazia mais de um ano que já não falava e se
fechara em completo isolamento. Desde o início, cou evidente que ela, ao
contrário de outras crianças autistas, era atenta e participativa.
Começamos a psicoterapia com uma introdução normal no mundo das
imagens da alma, em que eu simplesmente ignorava sua ausência de respostas.
Com o auxílio de um medidor de resistência cutânea, que, na época, já fazia
parte da rotina entre nós, consegui ver claramente que ela reagia às histórias
que eu lhe contava, embora não participasse com nenhuma palavra. Depois de
algumas sessões terapêuticas unilaterais, quei cada vez mais convencido de
que ela se comunicava comigo através da sua pele; assim, comecei a levar em
conta suas reações. Por meio da medição de resistência cutânea, elas revelavam
manifestamente que a menina respondia melhor a histórias sobre a natureza e a
contos de fadas e, melhor ainda, a uma mistura de ambos. Era evidente que ela
gostava do mundo dos elfos e fadas e adorava gnomos e anões.
Por m, chegamos a um ponto em que foi possível veri car que a menina se
manifestava como se viesse de outro mundo. Hesitante e um pouco descrente,
deixou-se levar pelas viagens de descoberta no mundo das imagens da alma e
con rmou sua presença, inicialmente com um gesto de cabeça e depois com
um primeiro “sim”. Aparentemente, ela acreditava que eu pudesse perceber
todos os seres dos contos de fadas e da natureza animada. Ela própria, ao que
parecia, conseguia ver realmente todas as guras e as diferentes energias sutis.
Este era exatamente o ponto em que a menina havia deixado o mundo da
comunicação. Ela tinha um acesso tão natural aos seres do outro mundo que
não conseguia distinguir entre eles e aquilo que as outras pessoas percebiam,
sobretudo os adultos. Como pessoas menos sensíveis sempre riram de suas
percepções, ela se tornou insegura e preferiu interromper todo tipo de
comunicação para não se expor constantemente ao escárnio e às respectivas
lições. Mesmo pessoas amáveis, como seus pais, reagiram gradualmente com
rejeição às suas percepções a anjos e seres da natureza.
A tarefa terapêutica consistiu essencialmente em ensinar-lhe o que as outras
pessoas eram capazes de ver e o que era visível apenas para ela. O
reconhecimento de que eu mesmo não era capaz de enxergar todos os seres que
lhe narrava, pois os conhecia apenas de ter ouvido falar, signi cou para ela uma
profunda crise. A habilidade consistia em esclarecer-lhe que ela tinha uma
percepção maior e melhor do que a maioria das outras pessoas e que essa
capacidade era bela e preciosa. Para poder viver paci camente e sem ser
incomodada, ela precisava aprender a distinguir o que podia esperar do
ambiente circunstante e o que era melhor que guardasse para si.
Ela se tornou uma menina totalmente normal com um pequeno segredo.
Voltamos a nos ver mais tarde, no início de sua puberdade, quando a irrupção
em sua vida do mundo das energias sutis provocou nela uma espécie de recaída,
que a perturbou consideravelmente.
Não se sabe quantas dessas crianças tão particularmente dotadas acabam às
margens da sociedade após diagnósticos psiquiátricos. Não saltaria de imediato
aos olhos de todos o fato de o autismo ser uma forma de o indivíduo retirar-se
de nosso mundo? Haveria por trás dele razões que pudessem ser
compreendidas com a devida sensibilidade? Minha experiência com a pequena
e hipersensível paciente ou a história do lme O Enigma das Cartas falam a
favor dessa hipótese.
Em todo caso, enquanto não soubermos o que se esconde por trás do
autismo, devemos levar todas as possibilidades em consideração.
Provavelmente, o número crescente de casos de autismo, bem como o
fenômeno da morte súbita em crianças, representa um desvio da humanidade
atual, que simplesmente não satisfaz as necessidades das crianças afetadas. Em
favor da tese de que o mundo moderno já não é adequado às crianças, haveria
mais de um argumento. O mundo está se tornando cada vez menos adequado
até mesmo para os seres humanos em geral e cada vez mais apropriado para a
indústria ou para grandes grupos industriais. Não estariam as crianças que se
retiram radicalmente dele querendo sinalizar e indicar que tudo isso está
ocorrendo da maneira errada, a ponto de preferirem se abstrair e retirar-se para
seu mundo interior?
No caso do autismo, a linguagem da alma infantil não pode ser ignorada.
Por certo, trata-se não de um grito, mas de um retraimento extremamente
silencioso ou de uma recusa de entrar no mundo e na miséria que (lhes)
preparamos.
As agressões consideráveis surgem, sobretudo, quando se tenta penetrar no
cosmos dessas crianças ou arrancá-las de seu modo de percepção.
Evidentemente, disso se defendem com todos os meios disponíveis. Não
querem ter (quase) nenhuma relação conosco nem com nosso mundo.
Deveríamos nos perguntar qual a razão para isso. Assim, constataríamos, mais
uma vez, que tipo de ambiente oferecemos, ou melhor, impomos a elas e a nós
mesmos.
Essa conclusão pode ser dura, mas, no mundo da alma, durante três décadas
de psicoterapia dos quadros clínicos, tivemos de viver muitos mistérios e
aspectos di cilmente explicáveis. Uma criança que, tal como o tocador de
tambor da obra de Günter Grass, para de crescer porque não quer se tornar
adulta é totalmente concebível. Quem consegue até mesmo deter o próprio
crescimento físico terá ainda menos problemas para fazer o mesmo em relação
à comunicação.
O mundo da alma não é absolutamente lógico, e sim bastante psico-lógico
e, portanto, em última análise, ana-lógico.
E é óbvio que existem pessoas e, por conseguinte, crianças que encontram
muita di culdade com a missão da encarnação. Ao que parece, trazem consigo
essa hipoteca para a Terra. Por m, “o mundo” nunca é culpado, mas apenas
uma superfície re etora, e as projeções que nela incidem nunca ajudam a
crescer.
16.1.2 Possibilidades e limites da terapia do abraço para autistas

Durante décadas, Jirina Prekop estudou bebês, crianças e jovens autistas e


desenvolveu programas terapêuticos para eles. Por muito tempo, ela também
presenciou a divergência entre cientistas no mundo todo a respeito das causas
desse misterioso distúrbio no desenvolvimento da personalidade e a
consequente di culdade para adotar terapias adequadas. Entre as muitas causas
possíveis deste quadro clínico devem ser nomeadas aqui pelo menos duas.
Muitos antroposo stas estão convencidos de que se trata de uma reencarnação
malsucedida, e, após a descoberta dos já mencionados neurônios-espelho,
Joachim Bauer, pesquisador do cérebro, pressupõe que o distúrbio autista teria
como fundamento uma limitação funcional dos diversos sistemas de
neurônios-espelho. Contudo, não estaria claro se se trata de uma disfunção
primária no âmbito da con guração biológica de base ou se as crianças autistas
teriam menos ocasiões para realizarem uma comunicação mútua e re exiva.
Talvez ambas as coisas desempenhem um papel. Jirina Prekop parte do
princípio de que há grande probabilidade de ambas as teses mencionadas – da
reencarnação malsucedida e da disfunção dos neurônios-espelho – estarem
relacionadas.
Também é provável que o autismo seja provocado por outros distúrbios de
percepção. Em todo caso, há um denominador comum no mesmo sintoma
cardinal: os autistas têm pelas coisas inanimadas uma ligação quase viciosa,
com uma veemência geralmente estimulada por eles próprios, enquanto
limitam sua ligação com a mãe e outras pessoas a um mínimo ou até mesmo
totalmente. Com base nessa constatação, Martha Welch desenvolveu nos
Estados Unidos a holding therapy (terapia do abraço). Do ponto de vista
cientí co, essa terapia foi criada por Niko Tinbergen, que recebeu o prêmio
Nobel por sua teoria dos instintos. Ele reconheceu o holding (segurar) como a
terapia mais instintiva para os distúrbios na ligação entre mãe e lho e
encorajou Jirina Prekop a adotar essa forma de terapia criada por Welch e a
desenvolvê-la ulteriormente também para outras indicações em combinação
com seu conceito terapêutico.
Inicialmente, porém, ela reuniu inúmeras experiências junto aos autistas.
Atualmente, sustenta que não é possível prever o prognóstico no início da
terapia do abraço, quando praticada por um longo período e em combinação
com outras terapias. Por isso, não se devem dar aos pais falsas esperanças de
uma cura completa. Entretanto, pode-se garantir a eles, com a consciência
tranquila, que, com a terapia do abraço, a criança experimenta uma ligação
sustentável com seus semelhantes e conhece, assim, a alegria do amor trocado
entre os seres humanos, tornando-se curiosa e aberta para aprender modelos e
formas de comunicação. No entanto, em que medida sua inteligência pode se
modi car depende do envolvimento ou do não envolvimento do cérebro.
Crianças com diagnóstico de “autismo segundo Asperger” (médico vienense
Hans Asperger), ou seja, com claras indicações de boa inteligência, em geral de
tipo masculino, com uma forma linear de pensar e capacidade linguística,
costumam voltar ao estado normal (quanto menor for a criança, maior é a
chance). Contudo, distúrbios cerebrais como a anomalia linguística
denominada “afasia” ou a apraxia, que é a incapacidade de execução prática,
não são melhorados com a terapia do abraço.
 
Perguntas para os pais:
► Durante a gravidez, houve alguma situação (de susto ou choque), em que
a alma poderia ter decidido deixar de se envolver com esta vida? Podemos
esclarecer essa situação no lugar do nosso lho?
► Como podemos lidar com a sensibilidade introvertida do nosso lho e
ajudá-lo a sentir-se seguro?
► Como podemos nos comunicar com nosso lho?
► Como podemos entrar em contato com seu mundo?
► Quais necessidades do nosso lho não reconhecemos?
► Como é nossa capacidade de nos retirarmos?
 
Medidas de apoio:
► A mencionada terapia do abraço segundo Jirina Prekop (ver também
“19.2.1 Bibliogra a”).

16.2 Síndrome de Down ou deficiência mental como

oportunidade?

“Sou tão diferente – vocês me amam mesmo assim?”


 
“Acontece o que você quer ou coisa melhor”, diz um ditado oriental. As
crianças são um presente de Deus, dizemos nós no Ocidente. A trissomia 21
ou Síndrome de Down é um teste para esta e outras sabedorias da vida. Quem
recebe um presente sabe que não pode recusá-lo, modi cá-lo ou vinculá-lo a
determinadas condições, pois “a cavalo dado não se olham os dentes”. Segundo
a opinião comum, os presentes devem simplesmente ser aceitos, mesmo que
não correspondam ao gosto do presenteado. No caso das crianças de cientes, é
evidente a particular di culdade em aceitá-las, tal como são, como presentes de
Deus, embora elas se tornem verdadeiras dádivas quando são aceitas.
Será que justamente com um presente de Deus a aceitação deveria ser
diferente do que com os presentes profanos da vida cotidiana? Como membros
de uma sociedade que, de modo geral, se encontra em pé de guerra com todo
tipo de de ciência, tentamos melhorar e modi car as crianças de cientes com
o objetivo de torná-las o mais “normal” possível. Em nenhum outro caso, a
tentativa de “melhorar” sua condição é tão marcada e a insatisfação com o
destino é tão grande, especialmente nos tempos modernos, em que a
de ciência já pode ser detectada no ventre materno.
Até mesmo pessoas que defendem uma loso a que confere elevada
importância ao ato de aceitar e de deixar que as coisas aconteçam, no sentido
cristão do “seja feita a Vossa vontade”, reagem quase automaticamente com
rejeição diante da chegada de uma criança de ciente. Mesmo quem, por razões
religiosas, é contra o aborto e levam a gravidez até o m, geralmente procede
segundo o lema: “Se é para ter um lho com Down, então tentaremos de tudo
para dar a ele (e a nós mesmos) a vida mais normal possível”.
Esse desejo é compreensível se pensarmos como as crianças com Síndrome
de Down são dependentes dos pais do ponto de vista emocional, nanceiro e
quase em todos os outros aspectos durante toda a vida. Portanto, os pais se
veem em uma situação anômala e contraditória de não quererem morrer antes
do lho, a m de não expô-lo à arbitrariedade alheia, mas, obviamente,
também não querem perdê-lo antes – o pesadelo de todos os pais. Por um lado,
motivar a criança a ter uma vida “normal” signi ca a esperança de dar-lhe uma
vida, se possível, amplamente determinada por ela própria e, por outro,
eventualmente também representa um modo de enfrentar o desamparo e tirar
força desse medo. Algumas crianças reagem de bom grado a essa iniciativa;
outras opõem resistência. Em todo caso, existe o perigo de exprimirem
incompreensão e resistência a essa tarefa especial de vida.
16.2.1 Naomi

Quando começamos a tratar Naomi – que teve a Síndrome de Down


diagnosticada antes do nascimento – com as tentativas de estímulo precoce,
logo percebemos que ela não participava dessa linha de tratamento. Ao
contrário, recusou desde o início e com decisão quase toda medida de estímulo
precoce. Ao boicotar nossos esforços, aos poucos ela nos levou de volta para
aquele estágio que, de todo modo, correspondia à nossa visão de mundo e,
assim, nos ensinou uma dimensão completamente diferente da tarefa que essa
de ciência representa.
Embora fosse um ser extremamente pací co, que quase nunca chorava nem
gritava, ela não deixou dúvidas quanto à sua rejeição à maioria dos terapeutas
(homens e mulheres) e, de maneira geral, a todos aqueles que se aproximassem
dela com intenções pedagógicas. Já quando bebê, ao entrar na casa da
sioterapeuta ela fez um escândalo tão grande, nada típico dela, que fomos
obrigados a adiar o tratamento, até que renunciamos de nitivamente a ele. No
início, achamos que pudesse depender da sioterapeuta ou de seu método, até
que Naomi nos indicou muito claramente que se tratava de uma questão
fundamental, que incluía todos os terapeutas e todos os métodos. Até hoje, a
única exceção são pessoas que lhe parecem extremamente simpáticas. Nesses
casos, ela tolera, por assim dizer, sua condição de terapeutas e participa do
jogo, mas somente até o momento em que isso não possa ser entendido como
uma aceitação da terapia e seu início. Durante anos, Naomi prestou atenção
para que, na presença do logopedista de que ela gosta tanto, não deixasse de
pronunciar, nem mesmo casualmente, as poucas palavras que consegue dizer.
Por outro lado, porém, gostava de tomar chá com ele e participava com ele “do
jogo”, no sentido de contribuir com benevolência aos seus pedidos.
Havia anos, nutríamos a ideia de uma musicoterapia ou ritmoterapia, pois
desde cedo Naomi mostrou uma predileção pela dança e pelo canto.
Convidamos uma terapeuta do ritmo a viajar conosco para a África, a terra dos
tambores, a um lugar que Naomi adora, para começarmos a “trabalhar” com
ela. Isso aconteceu em uma fase ingênua, em que ainda não sabíamos que ela
não pensava em “trabalhar” e menos ainda em sua normalização. Ela não deu a
menor atenção à simpática professora de tambor durante as horas a ela
dedicadas, mas achou muito divertido cantar e tocar tambor conosco à noite.
Quando era pessoalmente envolvida nas intenções terapêuticas – a terapeuta
era bastante exível para ensinar-lhe também à noite – tudo terminava de
repente. Por m, acabamos desistindo para não tirar dela o prazer pela música,
e passamos as férias todos juntos. A partir desse momento, Naomi já não
rejeitava a terapeuta de música. Tampouco se recusou a ser o centro das
atenções; muito pelo contrário. Só não queria aceitar nenhuma forma
terapêutica e pedagógica.
Sua sinceridade sem compromisso e, às vezes, sua franqueza
comprometedora são sua “marca registrada”. Desse modo, certa vez, ao diretor
de uma grande editora que se havia acomodado em nosso sofá depois de uma
longa viagem, Naomi lhe entregou seu casaco, com inequívoca atitude
provocatória. Ela sabe muito bem quem ou o que não quer.
Como nós, seus pais, somos ambos terapeutas e estamos familiarizados com
muitas possibilidades também em campos alternativos, muitas teriam sido as
ocasiões em que gostaríamos de ter melhorado, aliviado e desenvolvido sua
situação, ou seja qual for o nome que os terapeutas dão a isso. Entretanto, nada
dava certo com ela. Os melhores especialistas em terapia craniossacral,
re exologia plantar e corifeus universitários da Síndrome de Down não faziam
nenhum progresso com Naomi.
A situação chegou a tal ponto que também afetou sua visão: Naomi
mostrou interesse por seus óculos, feitos com a mais leve armação de titânio e
as melhores lentes, apenas algumas poucas vezes, embora, na minha opinião de
médico, com seus menos quatro graus de dioptria, ela não pudesse car sem
eles. Ao tomar conhecimento, com surpresa, de um mundo maior e
repentinamente mais nítido, ela preferiu voltar, decididamente, a seu mundo
menor, suave e, com certeza, ligeiramente nebuloso. Portanto, até para usar os
óculos, Naomi precisava, por assim dizer, ser “violentada”. Não obstante, nem
tudo que é novo ela rejeita. Permite que lhe escovem os dentes, o que ela nem
percebe, mas não despende energia para impedir que o façam.
Por um período, e já muito precocemente, ela frequentou o jardim de
infância normal, depois de ter boicotado com rigor todas as tentativas
anteriores de inseri-la em grupos de crianças com Down. Chegamos a hospedar
um grupo delas em nossa casa, supondo que talvez fosse o ambiente estranho a
perturbá-la. Isso fez com que Naomi fugisse imediatamente para o andar de
cima da casa e se escondesse embaixo de um tapete. Quando as outras crianças
foram embora com seus pais, ela se mostrou claramente aliviada e feliz. Em
pouco tempo, conseguimos que ela respondesse às nossas perguntas. Quando
concorda com alguma coisa, sussurra “sim”; quando discorda, põe a mão na
frente dos olhos. Ao lhe perguntarmos se as outras crianças deveriam voltar, ela
manteve os olhos fechados por um longo tempo.
O período no jardim de infância terminou repentinamente, depois de um
ano. Com a chegada de um menino malcriado e barulhento, que zombava dela
e era rude com ela, Naomi nos fez entender claramente que já não queria ir à
escola. Nem nós nem a gentil e esforçada professora conseguimos mudar a
situação. Quando toma uma decisão, Naomi é persistente. Obviamente, uma
questão pedagógica tão fundamental poderia ter exigido rmeza e a insistência
em arrastá-la para a escola todos os dias, contra a sua vontade. Foi o que
zemos por um breve período, e até hoje nos arrependemos por isso. Naomi
sofreu, não cedeu em sua rejeição e cou visivelmente aliviada quando
compreendemos a situação e lhe poupamos mais angústia.
Nesse meio-tempo, vivemos há 16 anos com Naomi e, a seu modo, ela nos
ensinou muita coisa. Inversamente, a vida conosco também não passou sem
deixar rastros. Aos 4 anos, contrariamente a nossas expectativas, ela deixou
repentinamente de tomar leite materno. Como nasceu muito fraca, devido a
um grave problema cardíaco, só conseguiu começar a mamar após os primeiros
três meses de vida. Ao longo dos primeiros 4 anos, minha esposa recebeu todos
os tipos de conselhos bem-intencionados, que chegaram a deixá-la com
sentimento de culpa em relação à longa duração do aleitamento. Se não
soubéssemos que para muitos povos arcaicos o aleitamento longo é considerado
natural e bom, certamente ela teria perdido a coragem. O resultado foi que
Naomi, graças à longa e empenhada sucção do leite, bem como à brincadeira
de soprar bolhas de sabão, que ela praticou em excesso, nunca teve o problema
típico das crianças com Down, que é car com a boca sempre aberta.
Especialistas médicos, que rejeitam rigorosamente o aleitamento por muito
tempo, haviam nos aconselhado placas palatinas e outras bugigangas
semelhantes para obtermos o mesmo resultado. Além disso, Naomi sempre se
resfriou muito menos do que as outras crianças, inclusive as normais –
certamente devido à boa imunização garantida pelo aleitamento longo.
Sabemos que a medicina acadêmica tem opiniões diferentes a respeito, mas
pudemos fazer nossas experiências, que compartilhamos com milhões de
pessoas de povos supostamente primitivos.
Talvez a experiência e o ensinamento mais importantes que tivemos com
Naomi tenham sido o seguinte: muitas coisas acontecem quando o tempo está
maduro para que elas aconteçam, o que frequentemente pode signi car mais
tarde ou muito tarde. A segunda lição é que não faz sentido compará-la com
crianças normais ou com outras crianças portadoras de Down. A ambição que
se difunde entre muitas mães nos bancos dos parquinhos poderia, a longo
prazo, prejudicar consideravelmente seus lhos; no que se refere a crianças com
Down e a seus pais isso chega a parecer terrível a posteriori.
Pouco antes de seu oitavo aniversário, Naomi, que era observada com
descon ança por nossos amigos pedagogos, deixou quase repentinamente de
usar fraldas – para a consequente e leve emoção de uma mãe amiga. Mesmo já
tendo produzido uma montanha de fraldas, esse sucesso e esse progresso
obtidos por ela foram para nós muito mais valiosos do que qualquer resultado
obtido à custa de intenso e insistente treinamento.
Especialmente importante nos pareceu o fato de que Naomi – segundo a
observação feita pela única terapeuta que lhe restara – não tem nenhum
distúrbio comportamental como muitas daquelas crianças com Down que são
submetidas a um treinamento que visa inseri-las na normalidade (como falar e
livrar-se logo das fraldas). A Bíblia ensina que tudo tem seu tempo, e Naomi
nos mostra isso enfaticamente. Ela tem seu próprio tempo para realizar cada
coisa e o toma quando o concedemos a ela.
Segundo a típica mentalidade alemã, ela deveria há tempos frequentar uma
escola especial. No entanto, para ela, encontrar-se em um ambiente com outras
crianças com Down é um horror, conforme demonstraram algumas tentativas.
Graças a Deus, encontramos compreensão junto a um conselheiro escolar
menos rígido, que, depois de ter ouvido toda a sua história, chegou à conclusão
de que Naomi não era obrigada a frequentar a escola, mas tinha o direito de
fazer isso. Inicialmente, para seu grande prazer, Naomi não quis usufruir desse
direito.
Se não existem duas crianças iguais, por que então todas as crianças
portadoras da Síndrome de Down devem ser igualadas? Elas têm em comum
uma alteração no cromossomo 21, no sentido de uma parte adicional; os
outros seres humanos – supostamente normais – têm todos os 46 cromossomos
em comum e não se assemelham particularmente. Por que as crianças deveriam
ser semelhantes? Ao longo da minha experiência, conheci um estudante com
trissomia 21 e que estava no último ano da universidade e uma criança que não
pronuncia nenhuma palavra. Aos 16 anos, Naomi dispõe de um repertório de
cerca de 20 vocábulos, com os quais se vira muito bem. Discursos eruditos e
esportes cansativos, ela deixa para os outros.
Evidentemente, não queremos generalizar nossa experiência com ela, apenas
estimular outros modos de pensar. Para lembrar a questão do presente de Deus,
faria algum sentido treinar crianças com Down, à custa de grandes esforços
para ambos os lados, para se alcançar algo tão relativo como a normalidade?
Também nesse caso, é a criança quem estabelece a norma. Deve-se levar em
conta que as crianças com Down se expressam “de maneira diferente” e, em
geral, não dispõem da possibilidade de discutir. Como em todas as outras
questões, o amor, a atenção e o respeito pelo ser individual são o único critério
realista. Desse modo, os pais e as pessoas que pertencem ao ambiente da
criança também têm a possibilidade e a obrigação de reavaliar continuamente
se é o caso de pretender ou esperar alguma coisa, se ela precisa de mais tempo
ou até mesmo se é adequado esperar alguma coisa dela.
Seja como for, muitas crianças “totalmente normais” também opõem
resistência a medidas de estímulo, sobretudo na escola. Praticamente todas
gostam da regressão e evitam de bom grado os desa os, refugiando-se no colo
da mãe. Algumas tentam até esconder-se nela. No entanto, por outro lado,
também dão sinais inequívocos de que desejam crescer e se desenvolver.
Sentem-se orgulhosos a cada centímetro que ganham em sua altura e, nas
brincadeiras em que a família é representada, esforçam-se para desempenhar o
papel dos pais e, não raro, na falta de outros voluntários para assumir o papel
das crianças, este é dado ao cachorro. A esse respeito, as crianças com Down
quase não desenvolvem a ambição do desenvolvimento; pelo menos, nesses
nossos 16 anos, não vimos nenhum sinal disso em nossa lha.
16.2.2 Tornem-se como as crianças

As crianças afetadas pela trissomia 21 permanecem infantis por muito tempo


em sua sionomia e em seu modo de ser e depois envelhecem quase sem
nenhuma fase de passagem. Seu ciclo de vida parece claramente ter desviado do
ciclo normal. Por passarem muito tempo sem se tornarem “adultas”, após a
metade da vida voltam manifestamente a ser crianças, no sentido da missão
cristã.
Por essa razão, não poderia sua tarefa nesta vida ser viver mais a fundo o
tema da “infância”? Mesmo quando se considera o aumento de casos da doença
de Alzheimer – igualmente ligada ao cromossomo 21 – entre pessoas com
Down, o tema “voltar a ser como as crianças” torna-se evidente, ainda que em
sua versão de sombra. Se fosse realmente assim, seria insensato sobrecarregar a
infância com tentativas cansativas e, muitas vezes, frustrantes, que visam
alcançar a maturidade. De todo modo, esta nunca entrará realmente em sua
vida nem parece desempenhar um papel essencial para ela. Do ponto de vista
da loso a espiritual, seria até possível pensar que a tentativa de tirar o aspecto
infantil das crianças com Down tão cedo e o máximo possível deve ser pago em
sua velhice com a versão não redimida da infância, ou seja, como mal de
Alzheimer. A experiência de trinta anos de psicoterapia no centro médico
mostra que não se pode poupar nada, mas se pode adiar muita coisa. No
entanto, nem tudo que é adiado torna-se mais fácil; ao contrário, muitas vezes
torna-se mais difícil e, não raro, insólito. O ditado “se você não se dobrar para
a vida, será ela a dobrá-lo” mostra outro aspecto dessa experiência. Por
exemplo, muitas vezes uma sexualidade postergada produzirá um problema sob
forma neurótica.
Segundo a concepção da loso a espiritual, todo ser humano tem a missão
de encontrar seu caminho realizando suas capacidades especí cas. Há pessoas
que, dotadas de muita inteligência, evidentemente contribuiriam para a
compreensão de nosso mundo. E há pessoas cujo principal talento se encontra
no campo do sentimento e da sensibilidade emocional. A esta categoria
pertencem quase todas as pessoas que classi camos como intelectualmente
de cientes. Em nossa superestima unilateral das capacidades intelectuais,
muitas vezes deixamos de ver que essas pessoas, com os sentimentos e as
emoções, receberam muito mais do destino do que as chamadas saudáveis. Os
pontos fortes na vida das crianças com trissomia 21 estão, evidentemente, em
sentir e perceber. Se observadas a partir do plano dos arquétipos, elas se
aproximam do princípio da Lua e nele permanecem por muito tempo.
Do ponto de vista médico, na verdade, nada lhes falta, como se poderia
pensar à primeira vista; ao contrário, receberam mais no que se refere à
distribuição do patrimônio genético. Além dos habituais 46 cromossomos,
receberam meio a mais, responsável por toda a diferença que pode ser vista
externamente, mas que se percebe, sobretudo, na convivência com elas.
Como não podem con ar no intelecto e na compreensão do mundo,
dispõem, por exemplo, de um modo totalmente diferente de aproximar-se
emocionalmente do mundo. Por m, mantêm por mais tempo muitas das boas
qualidades das crianças. Desse modo, com frequência se aproximam
simplesmente de pessoas de que gostam, mesmo sem conhecê-las, e as abraçam.
Nos países de língua alemã, muitas vezes reservados em relação às crianças, essa
característica representa um problema para os pais; já na Itália não o é,
gerando, ao contrário, contatos agradáveis. Uma vez aceita a diversidade da
criança, os pais e os parentes receberão a demonstração de como ela vive o
amor e o afeto abertamente e sem nenhum obstáculo. De maneira geral, as
crianças com Down parecem ter muito menos barreiras no âmbito interpessoal;
elas têm coragem de viver o que sentem. A psiquiatria acadêmica cunhou para
isso a expressão pouco sensível de “sem distância”, como se a reserva fosse uma
característica humana positiva. Ao contrário, a excessiva distância é a
responsável por determinar a atual pobreza emocional, sobretudo nas
metrópoles que crescem rapidamente em meio a uma pobreza de sentimentos.
Há sempre casos de pessoas modernas que morrem em blocos de apartamentos
e os vizinhos só percebem dias depois, mas apenas pelo cheiro. Nosso problema
é, antes, a distância nada saudável entre as pessoas modernas, não a
proximidade determinada pelos sentimentos e o intercâmbio de emoções, que
geralmente podemos observar nos de cientes.
No entanto, eles nos ensinam ainda mais: crianças com Down indicam
claramente aos adultos distantes o que signi ca sentir prazer e alegria de viver.
De fato, só fazem o que lhes dá felicidade. Crianças normais também fariam o
mesmo, mas precocemente as forçamos com sucesso a caminharem na direção
contrária. Nas crianças com Down, são impostos limites “naturais” que,
segundo nossa experiência, deveríamos respeitar mais. Elas vivem inteiramente
no momento, não se preocupam absolutamente com o dia seguinte e pouco
com o dia anterior. Desse modo, fazem exatamente o que nos sugerem muitas
escrituras sagradas: viver o momento do aqui e agora. A Bíblia nos diz que
devemos seguir o exemplo das aves no céu, que não semeiam, não colhem, não
têm preocupações e, no entanto, têm o su ciente para viver. Poderíamos pensar
que a Criação sempre se concede alguns desses seres, que permanecem crianças
e nos mostram o que se entende por essa parábola ou o que signi ca a
exortação para que voltemos a ser crianças depois da primeira metade da vida.
Embora as pesquisas sobre a hereditariedade sejam cada vez melhores,
pouco sabemos das tarefas das pessoas dentro dessa Criação e em sua vida
individual. Em pessoas especiais com tarefas de vida especiais, podemos
enxergar com mais facilidade ainda o que a Criação podia querer delas.
Atualmente, observamos as pessoas apenas para avaliar o que elas
conseguem produzir e quanto ganham. Pouco depois de conhecerem alguém,
norte-americanos já perguntam diretamente quantos dólares a pessoa ganha.
No entanto, as religiões e os ensinamentos de sabedoria de todos os países e de
todas as épocas nos revelam como é absurda essa observação unilateral. Nosso
pressuposto fundamental de que tempo é dinheiro é totalmente errôneo, já
pelo fato de que o contrário não é verdadeiro. No nal, com dinheiro não se
pode comprar o tempo do destino. A peça teatral Jedermann trata justamente
dessa tentativa inútil. Também na prática médica podemos nos lamentar da
mesma situação. Hoje, muitas pessoas só reconhecem isso quando já é tarde
demais.
As crianças portadoras da Síndrome de Down são capazes de nos ensinar, de
maneira extraordinária, que os valores importantes para a vida são outros. No
âmbito interpessoal, elas são mestras. Precisam de mais tempo para tudo. Mas
quem disse que nossa correria coletiva é boa para nós ou para o nosso mundo?
Cada vez mais médicos reconhecem que a pressa exagerada leva ao aumento da
pressão arterial e ao infarto. Se adotássemos o ritmo das crianças com Down,
viveríamos automaticamente mais devagar, e isso faria muito bem à maioria de
nós.
Raramente vemos crianças portadoras de de ciência nas ruas, mesmo
quando temos uma a nidade com elas. No entanto, elas não são poucas. Só
que muitas ainda são escondidas, pois alguns pais se envergonham de ter um
lho diferente. Outra razão é o fato de que elas próprias não gostam muito de
sair. Contudo, quem as esconde deixa de ver a grande oportunidade que elas
nos oferecem.
Em algumas culturas, cuja salvação coletiva não era tão ligada ao
crescimento econômico e cujas almas, por conseguinte, não dependiam tanto
do dinheiro, as pessoas com trissomia eram consideradas muito especiais no
sentido positivo. Entre os astecas, chegavam a ser vistas como santas, pois
estariam mais próximas do céu.
Nós também sempre queremos ser especiais, mas no sentido da realização
do ego. A esse respeito, as crianças com Down não têm nenhuma ambição.
Interessam-se mais pela união de sua família e, de modo geral, aproximam-se
mais da coletividade. Nesse sentido, assemelham-se um pouco aos homens
primitivos antes do desenvolvimento de nosso impressionante cérebro. De fato,
elas são como uma grande família universal. Não se parecem muito com seus
pais, o que pode ferir consideravelmente o ego destes. Suas semelhanças e seus
grupos familiares ultrapassam qualquer fronteira.
Em resumo, há muitas razões favoráveis para permitirmos que elas e outros
de cientes vivam sua infância, sem que sejam submetidos à pressão do
aprendizado e do sucesso como o “restante do mundo”. Atualmente, também
existem voluntários que compreenderam a importância de deixar em paz as
últimas culturas arcaicas, em vez de cobri-las constantemente com medidas de
ajuda e incentivo e destruir suas formas interpessoais de vida, na tentativa de
torná-las mais semelhantes a nós.
16.2.3 Dúvidas a respeito da sociedade meritocrática

A interpretação dos diferentes sintomas da trissomia 21, tal como apresentada


no livro A Doença como Símbolo, mostra uma tarefa bastante clara, mas
totalmente diferente daquela que a sociedade meritocrática admite como óbvia.
Os frequentes problemas cardíacos nos revelam o quanto essas crianças
permanecem próximas da unidade mesmo depois do nascimento. Muitas vezes,
seu coração (a unidade) não tem o septo fechado e, portanto, não se subdivide
em dois ventrículos, ou em coração direito e esquerdo. Por conseguinte, essas
crianças não são bem equipadas para o mundo dos opostos e permanecem mais
próximas da unidade de maneira diferente e ameaçadora.
A debilidade de seu tecido conjuntivo as torna sicamente muito maleáveis
e exíveis. Naomi consegue, sem nenhuma di culdade, en ar os dedos dos pés
na boca. Nesse caso, o corpo é, por assim dizer, uma compensação para um
impressionante dé cit de capacidade de adaptação na consciência. Crianças
com trissomia 21 são extremamente conservadoras e céticas em relação a todo
tipo de inovação. Sua mobilidade limita-se ao corpo. Querem deixar tudo
como está e, sobretudo, como estava – também a esse respeito se assemelham
muito aos homens primitivos, para os quais o caminho hereditário dos
antepassados superava todas as coisas.
As extremidades relativamente frágeis as impedem de ter um
relacionamento mais intenso com o mundo. Seus braços fracos di cilmente
permitem que elas tragam o mundo para perto de si; avançar nele com pernas
fracas é outro obstáculo. Quando Naomi corre, parece mais estar dançando.
Mas o avanço também não é algo que lhe importa e, certamente, não é sua
missão. Nós a aproximamos de bom grado do pequeno mundo, o único que
realmente lhe interessa e de que ela precisa.
Por certo, seria concebível incentivá-la, mais para a frente, a dedicar-se a
algum trabalho fácil, cujas funções, no entanto, seriam sempre bem simples.
Por outro lado, ao mesmo tempo nos perguntamos em que medida isso faria
sentido para alguém que, por seu físico e seu intelecto, não parece ter sido
criado para o trabalho. Um amigo formulou com poucas palavras que a maior
parte das pessoas compra, com dinheiro que não lhe pertence, coisas de que
não precisa só para se vangloriar para pessoas de que não gosta. É uma
realidade o fato de muitas pessoas executarem um trabalho de que não gostam,
vivendo-o não como uma vocação, mas como uma obrigação, apenas para
produzir ou transportar coisas de que elas próprias não precisam e de que talvez
mais ninguém precise.
Talvez devêssemos poupar nossas crianças especiais de um destino normal
como esse, principalmente porque, no que diz respeito a seu trabalho, tal como
entendido pela sociedade atual, elas pouco podem produzir. O fato de que
todo homem honesto deve trabalhar, pois, do contrário, não é um homem
justo pode ser uma verdade para quem segue uma base puritana; para todas as
outras pessoas, bem como para o homem arcaico, isso certamente não é
verdade. Também chamamos esse homem arcaico de primitivo; no entanto,
temos de reconhecer que, ao lidar com as coisas essenciais da vida, como a
concepção e o nascimento, a puberdade e a adolescência, o casamento e a
vocação, a meia-idade e a velhice e, sobretudo, com a morte, ele era muito
menos primitivo do que nós. Nesse sentido, temos muito que aprender com
ele. Não é por acaso que as crianças com Down se assemelhem a esses simples
homens arcaicos em alguns aspectos, e também com elas poderíamos aprender
muitas coisas importantes.
De todo modo, a formação em uma escola especial não é o máximo que se
pode alcançar, mas é acessível; a questão é sempre a que preço. Porém, muitas
vezes as crianças com trissomia 21 têm uma relação natural com o amor, que é
o mais elevado dos sentimentos. Reconhecer isso e desfrutá-lo parece ser muito
mais importante para nós do que aprender a ser pontual e a realizar tarefas
simples, que as máquinas de hoje executam com maior precisão. Com
frequência, as crianças com Down também são muito bem-humoradas e
encantadoras. Na minha opinião, este mundo carece muito mais de pessoas
que, como Naomi, o preenchem de inúmeras bolhas de sabão coloridas e nele
difundem seu bom humor, que se interessam preferencialmente pelo prazer e
pela alegria de viver, que não fazem mal a ninguém e proporcionam muita
felicidade. De trabalhadores obstinados, que produzem coisas ainda mais
supér uas, já temos o su ciente.
As próprias pessoas afetadas pela Síndrome de Down parecem aceitar seu
destino de limitação intelectual, e nós poderíamos ajudá-las a encontrar outros
pontos fundamentais para a vida. A grande profundidade de seu sentimento e
sua rica afetividade representam uma maravilhosa compensação e permitem
uma vida que, fora da esfera dos sentimentos, pode dar a muitos pais modernos
muito mais do que uma criança extremamente inteligente. De fato, sempre
acontece o que se deseja ou algo melhor. Uma criança muito inteligente deixa
os pais orgulhosos, mas, muitas vezes, o orgulho não é o que falta à sua vida. As
crianças com Down são capazes de estimular em nós uma dimensão totalmente
diferente de sentimentos, que, com frequência, falta muito mais do que
estamos habituados a admitir.
Mas justamente por isso existe o destino com suas sábias deliberações. As
crianças com Down também trazem infantilidade e ingenuidade para nossa
vida, outros elementos que costumam faltar sem nos darmos conta. A maioria
das pessoas acredita que é feliz quando recebe tudo que quer do modo como
quer. Em contrapartida, o destino nos ensina a ser felizes desejando o que
recebemos. Podemos muito bem estender isso às crianças e a todas as outras
pessoas. Quem deseja o que recebe sempre tem uma passagem para a
felicidade.
Portanto, os pais envolvidos teriam uma boa oportunidade de reconhecer
que seus lhos com Down – tanto quanto aqueles saudáveis – trazem uma
compensação para a vida, justamente aquilo que falta, com a tendência de
reequilibrar a estrutura familiar. Muitas vezes, um excesso intelectual é
compensado com um contrapeso que enfatiza os sentimentos. As crianças com
Down conseguem corrigir melhor do que as outras as próprias opiniões e ideias
preconcebidas. Podem ajudar a redimensionar o círculo de amigos a um nível
mais sincero, a relativizar as exigências em relação ao próprio rendimento, para
que se reconheça o que é essencial. São capazes de veri car nossa con ança no
destino e nos mostrar que, no fundo, a vida não pode ser planejada; ao
contrário, permanece sempre um mistério.
As crianças com Down representam uma tarefa muito maior, à qual não
estamos habituados. Aceitá-la pode nos levar muito além do que a tarefa
esperada nos levaria. Para não falar no fato de que a imagem de mundo de uma
criança com Down pode encantar qualquer família e comunidade.
Portanto, toda de ciência mental pode transformar-se em oportunidade de
crescimento para além dos jogos intelectuais e, por exemplo, permitir que se
entre em âmbitos mais antigos e primordiais da humanidade. Todavia, às vezes
os de cientes também podem nos revelar como nós próprios somos limitados e
não o percebemos. Esta também pode ser a razão pela qual pessoas fracas de
caráter as rejeitam e outras com distúrbios mentais, como os nazistas e os
fascistas, chegam a combatê-las. Em contrapartida, pessoas dispostas a evoluir
muitas vezes sentem intuitivamente a oportunidade que essas crianças nos
oferecem. Os cristãos deveriam até mesmo conhecer sua diversidade positiva,
uma vez que seu mestre diz: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque
deles é o reino dos céus”. Teriam os cristãos e os astecas uma similaridade
inesperada? Os portadores de de ciência intelectual podem nos ensinar a fazer
coisas simples e essenciais com amor, e não com a compreensão. Eles redimem
o tema da simplicidade graças à sua proximidade da unidade, o que nós temos
muita di culdade de fazer, mesmo depois de intenso exercício.
Se descrevêssemos nossos lhos portadores da Síndrome de Down sem
explicar sua condição particular, o resultado seria a imagem de pessoas
maravilhosas. Eles não possuem nenhum senso de competição, no sentido de
“quem consegue ser mais rápido, mais alto, mais longe?” em relação a outras
crianças; não têm nenhuma ambição em sobressair-se em relação aos outros ou
se tornarem melhores do que eles. Dividem de bom grado o que possuem, se é
que pensam em categorias como “o meu” e “o seu”. Tendem a dar o que têm
sem pensar duas vezes e a pegar livremente aquilo de que estão precisando.
Mostram abertamente e sem temor seus sentimentos e suas emoções e gostam
de compartilhá-los com os outros. Di cilmente se constata neles algum indício
de alegria com a infelicidade alheia. Raramente são agressivos, quase não se
defendem de agressões; preferem retirar-se decididamente em si mesmos. Não
destroem nada de propósito; são doces e amam a família acima de tudo, na
qual também incluem facilmente babás, gatos, coelhos e bonecas. Gostam de
animais e brincam incessantemente com eles. E não há dúvida de que os
animais também gostam deles e são capazes de interagir com eles. É
impressionante o modo como nos demonstram sua pureza e sua autenticidade,
sem partirem para um exibicionismo antissocial.
Não fosse pelas preocupações com aquilo que não conseguem fazer,
irradiariam ainda mais luz. A questão é: devemos realmente começar a lançar
sobre eles sombras pedagógicas, a m de obter, a todo custo, um êxito
questionável e discutível em termos de capacidade e e ciência?
 
Perguntas para os pais:
► Como lidamos com a diversidade?
► Como podemos aprender a proximidade, o amor e a emoção com nosso
lho?
► Em que circunstância o intelecto é tão dominante em nós que agora
precisamos intensamente do polo oposto?
► O que nosso lho quer nos dizer quando consegue dizer tão pouco ou
nada, mas exprime tanto?
► Quanta disponibilidade temos para aprender sua linguagem dos
sentimentos e das emoções?
► Até que ponto tentamos treiná-lo para ser “normal”, como ele lida com
isso e quão importante isso realmente é para ele?
► Como lidamos com o fato de que ele não se parece ou se parece pouco
conosco?
► Que papel sua diversidade desempenha em relação a terceiros, ao restante
da família, aos vizinhos, etc.?
► De quanto tempo (ainda) precisamos para reconhecê-lo como um
presente muito especial dos céus?
 
Medidas de apoio:
► Tratamento homeopático: a Síndrome de Down não tem cura, mas a
qualidade de vida das crianças pode melhorar consideravelmente com um
tratamento individual de homeopatia clássica.
► Tratar os pais paralelamente: segundo minha experiência pessoal, é útil
tratar os pais paralelamente, para que, em seu caminho de aceitação do
lho, não caiam na atribuição de culpa, negações e projeções.
17 Epílogo

Tendo chegado ao nal do livro, podemos re etir sobre que tipo de dote
queremos deixar para nossos lhos. O material, em forma de herança, muitas
vezes se transforma em veneno. Muito melhor e mais importante seria
transmitir-lhes, em nível físico, boa saúde, por exemplo, habituando-os aos
“pilares da saúde”.
Entretanto, além da saúde física, há também a psíquica e a capacidade de
lidar com a vida. Para mim, em primeiro lugar, vêm as leis da vida.[37] Na
hierarquia das prioridades, logo abaixo se posicionam os princípios primários
ou arquétipos, mencionados nas entrelinhas e, às vezes, também diretamente,
pois, sem eles, uma compreensão mais profunda da existência em todos os seus
campos e com todos os seus signi cados é praticamente impossível.
Para compreender todo o espectro das tarefas humanas no percurso da vida,
cada um de nós precisa redimir todos os arquétipos e princípios primários.
Quanto mais cedo isso acontecer, tanto melhor. Transmiti-lo a nossos lhos
seria uma das tarefas mais nobres que poderíamos cumprir. Por isso,
resumiremos essas tarefas em seguida, em forma de cção:
“Quando Deus viu os homens errar desorientados por seu mundo, decidiu
plantar em sua alma doze instrumentos para que pudessem orientar-se melhor.
Os homens receberam a incumbência de transmitir esses instrumentos a seus
lhos, de geração em geração, para que, ao nal, Sua Criação fosse perfeita.
Seguem os doze instrumentos em detalhes:[38]
1. Tenham coragem de recomeçar a cada dia e aprendam a impor sua
essência no local e no momento certos.
2. Parem sempre que precisarem encontrar clareza sobre seu lugar e seu
ponto de vista na vida. Tomem tempo para lançar raízes, ancorar-se e
desfrutar a vida com todos os sentidos.
3. Nunca deixem de aprender, de investigar o mundo, de adquirir
conhecimento sobre ele e trocar opiniões com outras pessoas a respeito.
4. Entreguem-se a todos os sentimentos e sensações que a vida lhes
presenteia. Mas deixem-nos ir embora, não os detenham. A alma é
como a água, que sempre precisa correr. Compartilhem seus
sentimentos com todos. Assim, vocês terão compaixão.
5. Tenham coragem de ser vocês mesmos. E aonde quer que vão, façam-
no com todo o coração, a m de levar ao mundo alegria e amor com as
criações de seu ser.
6. Levem ordem aos lugares do mundo onde for necessário. Tratem-no
com grande respeito e atenção, insiram-se na grande ordem da Criação
e sejam gratos por ela os nutrir e carregar. Aprendam a ver o que existe,
o que lhes foi dado, e não cobicem o que acham que ainda precisam.
7. Dirijam-se a todos os seres humanos com compreensão afetuosa.
Deixem-se encantar pela beleza do mundo e aumentem-na com a beleza
interior de seu ser.
8. Tenham sempre consciência da efemeridade da vida neste mundo. O
uxo incessante da morte e do devir deve tornar cada momento
precioso.
9. Busquem metas e objetivos elevados, a m de experimentar o
verdadeiro sentido da escola da vida. Mas tenham sempre em mente a
justa medida e o respeito pelo espaço vital dos outros seres.
10. Aprendam a reconhecer o essencial na plenitude e a limitar-se cada vez
mais a ele. Assumam toda a responsabilidade por sua própria vida e
cumpram seu dever com alegria.
11. Sigam o desejo de liberdade, independência e verdade. Sejam corajosos
e fortes o su ciente para percorrer seu próprio caminho sem se esquecer
de que sempre permanecerão parte de uma comunidade.
12. Tenham con ança no uxo de sua vida, seja qual for a direção para
onde ele possa conduzi-los. Através do mundo das imagens, de seus
sonhos e de suas fantasias, aprendam a reconhecer que, por trás dessa
realidade, existe outra ainda maior e in nita.
 
Com esses conhecimentos em sua bagagem de vida, vocês certamente
encontraram o caminho de volta para casa, que conduz até Mim. Até lá,
crescerão e prosperarão. Rirão e chorarão. Seguirão por muitos caminhos e
desvios. Eu lhes dou um tempo in nito e a liberdade de escolher por si
próprios até encontrarem a sabedoria da vida, que os reconduzirá até Mim.
18 Agradecimentos

Agradecemos a nossos pais, sobretudo a nossas mães Gisela Krakow e Anne


Smialowski.
Nosso agradecimento especial vai para Margit Dahlke, por suas muitas
contribuições e ideias a temas e Capítulos inteiros, pelo Epílogo, bem como
pela colaboração temporária no centro médico de Johanniskirche; a Freda
Jeske, cujo incentivo e cujas correções ampliaram e aprofundaram o livro.
Quanto às correções, agradecemos também a outras colaboradoras do centro
médico, como Anja Schönfuss e Gundi Kirkovics, bem como à minha “editora
sênior” particular, a terapeuta e pedagoga Christa Maleri, mas também à nossa
organizadora suíça, a pedagoga Lis Lusternberger.
Ao homeopata e clínico geral, doutor Friedrich Graf, nosso especial
agradecimento por seu incentivo, suas correções e seu acompanhamento
amigável.
A estimulante discussão sobre nosso manuscrito deve-se à psicoterapeuta e
homeopata, doutora em medicina veterinária, Elvira Kunsch.
Agradecemos também a nossas antigas colegas do centro de naturopatia da
criança e da família, Sylvia Drerup, estudante de medicina e homeopata, e
Maike Neubert-Eichner, homeopata, seu apoio e suas correções técnicas no
β
campo da homeopatia. A Susanne Je , psicóloga, e a Martin Grassinger,
homeopata e professor de human design, agradecemos as estimulantes
discussões.
Ao doutor Ingo Hobert agradecemos a contribuição sobre as ores
australianas; à doutora Wibke Bein-Wierzbinski, as seções sobre o re exo de
Moro e de Galant; à iridóloga Rita Fasel, suas contribuições sobre o estrabismo
e a visão infantil, bem como sua paciência.
À doutora em loso a, Jirina Prekop, agradecemos a revisão do manuscrito
e suas contribuições sobre a terapia do abraço; a Elisabeth Mitteregger,
naturopata e colaboradora nos seminários sobre jejum, nosso agradecimento
pela revisão, pelo incentivo e, sobretudo, pelos inúmeros conselhos
toterápicos. À naturopata Rita Engelstädter, agradecemos sua contribuição a
respeito das constelações familiares.
À pediatra e alergista, doutora Doris Stalp-Kotulla, endereçamos nosso
agradecimento pela revisão do manuscrito, pelo incentivo e pelas experiências
de prática clínica com crianças e pais. Ao pediatra, doutor Wilfried Hüsing, de
Hannover, agradecemos a revisão do ponto de vista pediátrico e o incentivo.
Agradecemos igualmente aos doutores em pediatria Martin Hirte, de
Munique, a revisão e as correções, e Siegfried Simmet, e a ambos especialmente
também a crítica (quanto ao tema da vacinação). Ao pediatra, doutor Mathias
Senner, agradecemos a revisão da parte teórica; ao ginecologista, doutor Volker
Zahn, a revisão e o incentivo.
À doutora Anette Ch. Stein, de Dresden, especialista em anestesia e
medicina intensiva, nosso agradecimento por sua revisão quanto aos interesses
da medicina acadêmica.
A Ruela Hummel, agradecemos o capítulo sobre o diabete, e às mães Petra
Bruhn, Audrey Zellner e Vanessa Jebens, seu ponto de vista materno.
A todos os pequenos pacientes e suas mães, agradecemos todas as
experiências ao longo dos anos.
19 Anexos

19.1 Farmácia homeopática de emergência

Nesta seção, trataremos das emergências típicas que ocorrem na infância e de


como interpretá-las. Serão indicadas as tarefas nelas ocultas, que poderão ser
aprofundadas com as seguintes questões: por que isso está acontecendo
justamente conosco, ou melhor, com nosso lho, justamente nessa fase da vida,
justamente nessa região do corpo, justamente dessa maneira? O que essa
doença nos impede de fazer e o que nos obriga a fazer?
Quando parecer importante, será oferecido um socorro naturopático e
homeopático imediato. Porém, isso não signi ca absolutamente que nos casos
graves também não sejam necessárias medidas da medicina acadêmica:
 
– Se a situação ameaçar visivelmente a vida, dirija-se imediatamente para um
pronto-socorro ou ao médico de emergência e não perca tempo!
– Se a situação for grave e exigir, sem dúvida, intervenção médica, chame
primeiro um médico antes de fazer qualquer coisa.
– Se a situação for menos grave, tente obter um alívio inicial com a presente
instrução e, eventualmente, depois entre em contato com um médico.
 
Medicamentos homeopáticos e o Rescue Remedy dos orais de Bach devem ser
tomados, de preferência, como segue:
 
– Dar dois glóbulos de C30, a menos que tenha sido especi cada outra
potência, e deixá-los dissolver na língua. Em seguida, dissolver bem outros
dois glóbulos em um copo d’água. Ministrar um gole cinco vezes, em
intervalos de dez minutos. Antes de cada gole, o líquido deve ser
intensamente mexido com uma colher de plástico ou uma espátula de
madeira. Não use colheres de metal.
– Rescue Remedy: deixar dois glóbulos se dissolverem na língua; dissolver outros
dois em um copo d’água e dar de beber em goles.
19.1.1 Eritema alérgico

Homeopatia:
Urtica urens
– Dores e aspecto físico como de contato com urtiga.
–Melhora com o frio.
Arsenicum album
– Após excesso de proteína animal.
–Melhora com o calor.
Cantharis
– Vermelhidão intensa, forte queimação.
–Com formação de bolhas.
Apis
– Com inchaço aquoso, vermelho e quente.
–Melhora com o frio.
Simbologia: perder a cabeça, ataque repentino de fúria ou explosão agressiva
na pele.
Tarefa: desabafar em vez de descontar na pele!
Primeiros socorros: em casos extremos de choque alérgico, ministrar cortisona.
Em hipótese alguma dar cálcio em casos de alergia!
19.1.2 Feridas por mordidas

Homeopatia:
Ledum
– Remédio principal.
–Ferida profunda, com pouco ou nenhum sangramento.
Arnica
– Com sangramento.
Hypericum
– Em caso de dores fortes.
Simbologia: a agressão acomete a criança a partir de fora; a criança deveria se
tornar mais agressiva! O predador não vivido vem de fora e ataca.
Tarefa: tirar o cacete do saco, desenvolver a mordida, para não se tornar mordaz
nem feroz.
Primeiros socorros: deixar sangrar, não fechar arti cialmente a ferida (perigo de
tétano!). Desinfetar com água de calêndula ou com a própria urina.
19.1.3 Hematoma

Homeopatia:
Arnica
– Remédio principal.
Ledum
– Se a arnica não for su ciente e em caso de um hematoma grande,
especialmente quando assumir uma coloração preto-esverdeada.
Simbologia: receber uma pancada, um chute ou um golpe na coxa. “Quem não
quer ouvir deve sentir!” – “Quem não quer ver será golpeado, ou melhor, se
machucará no mundo.”
Tarefa: abrir-se mais para os impulsos e indicações importantes, antes de chegar
a sangrar; reconhecer os obstáculos e utilizá-los em proveito do próprio uxo
da vida em vez de combatê-los.
Primeiros socorros: não são necessários.
19.1.4 Hemorragias

Homeopatia:
Arnica
– Remédio principal.
Hypericum
– Em caso de dor.
Calendula
– Para limpar externamente a ferida.
– Dez gotas de tintura-mãe em um copo d’água para lavar a ferida.
Simbologia: símbolo da vida, por isso, do ponto de vista da pessoa afetada,
toda hemorragia deve ser imediatamente interrompida. Na verdade, feridas
sujas deveriam sangrar por mais tempo, para que assim ocorra uma limpeza de
dentro para fora.
Tarefa: deixar uir voluntariamente a energia vital; internamente, entrar no
uxo e no próprio ritmo.
Primeiros socorros: limpar a ferida e, em seguida, cobri-la ou aplicar um curativo
sobre ela.
19.1.5 Intoxicação sanguínea

Homeopatia:
Gunpowder
– Remédio principal.
–Cinco glóbulos D12, três vezes ao dia.
Pyrogenium
– Especialmente em caso de picadas de insetos.
Simbologia: os agentes patogênicos penetraram no sangue, ou melhor, na
corrente linfática; o corpo não consegue se liberar do ataque; a in amação
insinua-se ulteriormente na direção do centro.
Tarefa: permitir que temas explosivos venham à tona; conduzir a luta pela vida
de maneira mais incisiva; colocar-se de maneira mais ofensiva diante dos
desa os; opor-se e resistir.
Primeiros socorros: procurar um médico.
19.1.6 Concussão cerebral

Homeopatia:
Arnica
– Remédio principal.
Hypericum
– Posteriormente, em caso de dor.
Simbologia: receber um tiro na proa, uma pancada na cabeça; ser sacudido; agir
sem pensar.
Tarefa: perceber e levar a sério, oportunamente, os impulsos mentais; permitir-
se pensamentos inconvenientes. Estimular novos pensamentos. Deixar a cabeça
repousar sicamente.
Primeiros socorros: Rescue Remedy.
19.1.7 Picadas de insetos

Homeopatia:
Apis
– Inchaço quente, vermelho e aquoso.
–Melhora com o frio.
Ledum
– Picadas que custam a sarar, que adquirem coloração escura ou de várias
cores.
– Inchaço frio e duro.
Staphisagria
– Em caso de várias picadas de mosquito.
Vespa
– Em caso de reação intensa, com distúrbios circulatórios.
Simbologia: pequenas picadas que “irritam”; o estranho busca acesso sem ser
notado e causa irritação (às vezes, até sangrar). Alguma coisa provoca prurido e
faz a pessoa se coçar, ou melhor, a romper com violência as próprias fronteiras.
Tarefa: deixar-se tocar pela vida; permitir voluntariamente in uências externas;
praticar a abertura; permitir que os outros compartilhem da própria energia;
deixar-se estimular; abrir voluntariamente as próprias fronteiras.
Primeiros socorros: creme Rescue Remedy.
19.1.8 Fraturas

Homeopatia:
Arnica
– Para aliviar a dor.
Hypericum
– Em casos de dor que percorre todo o nervo.
Simbologia: as próprias estruturas são questionadas; a continuidade é
interrompida.
Tarefa: abandonar a continuidade; sair dos trilhos habituais; deixar a velha
estabilidade em favor da nova mobilidade. Tornar-se mais exível; desenvolver
maior mobilidade psíquica e intelectual.
Primeiros socorros: Rescue Remedy e, obviamente, cuidados médicos imediatos.
19.1.9 Distúrbios circulatórios

Homeopatia:
Veratrum album
– Palidez, sensação de desmaio, suor frio e náusea.
–Desejo de calor.
Simbologia: insu ciência de abastecimento de sangue no cérebro; a energia
vital não é su ciente para abastecer a central.
Tarefa: observar os próprios enganos; reconhecer em que circunstâncias se é
enganado a respeito da honestidade; reti car as informações. Con ar
conscientemente no ritmo e nas condições da vida em vez de vacilar; encontrar
a própria linha (de vida) em vez de se tornar inconstante; entregar-se à situação
em vez de se entregar.
Primeiros socorros: pôr as pernas para o alto, a cabeça para baixo; Rescue
Remedy. Com o dedo, bater no ponto situado entre o nariz e o lábio superior.
19.1.10 Intoxicação alimentar

Homeopatia:
Okoubaka
 
Em caso de agentes desencadeadores especí cos:
– Ovos: Carbo vegetabilis.
–Sorvete: Arsenicum album.
–Comida gordurosa: Pulsatilla.
– Gordura, ranço: Arsenicum album, Carbo vegetabilis.
–Peixe: Carbo vegetabilis.
–Carne: Arsenicum album.
–Queijo: Arsenicum album, Carbo vegetabilis.
–Batata: Nux vomica.
–Conservas: Arsenicum album.
–Frutos do mar: Arsenicum album, Carbo vegetabilis.
–Leite: Arsenicum album.
–Frutas: Pulsatilla.
–Cogumelos: Pulsatilla.
–Chocolate: Arsenicum album.
–Fumaça de tabaco: Arsenicum album.
–Salsicha: Arsenicum album.
 
Agentes desencadeadores não especí cos:
Arsenicum album
– Vômito, diarreia, queimação no estômago.
–Medo; inquietação; fraqueza crescente; sede intensa de água fria, tomada a
pequenos goles.
Carbo vegetabilis
– Ventre distendido, colapso, muita palidez.
–Sensação de aperto no pescoço, estenocardia, desejo de ar fresco.
Nux vomica
– Tenesmo, dor ao evacuar, prolapso anal.
–Humor irritável.
Pulsatilla
– Náusea com dores abdominais, vômito, diarreia, eructação ácida.
–Ausência de sede, suscetível ao choro, muito apegado.
Simbologia: ingestão errônea de alimento indigerível por falta de atenção,
porque não se teve o olfato correto, não se distinguiu o sabor nem se
reconheceu em tempo que havia alguma coisa “suspeita” naquela comida.
Tarefa: pôr para fora em sentido concreto (e gurado), deixar que saia o que
está errado.
Primeiros socorros: causar vômito estimulando a úvula. Em caso de dúvida,
consultar um médico.
19.1.11 Desmaio

Homeopatia:
Aconitum
– Em caso de desmaio devido a susto.
China
– Perda de sangue, diarreia acompanhada de vômito.
Coffea
– Excesso de alegria.
Nux vomica
– Dores, especialmente durante a evacuação, devido a odores fortes ou a
excessos.
Pulsatilla
– Muito tempo em pé, calor, aperto e espaços lotados.
Simbologia: pouco sangue na “central”.
Tarefa: às vezes, é preciso renunciar voluntariamente ao “poder”. As tarefas
também variam de acordo com as seguintes causas do desmaio:
– Desmaio por susto: entregar-se espontaneamente.
–Desmaiar de alegria: deixar-se envolver totalmente pela alegria e renunciar a
todo “poder”.
– Por problemas circulatórios: entregar-se inteiramente ao momento.
–Por incenso: con ar no segredo da religião em vez de fechar-se. Consagrar-se
conscientemente ao mistério e fraquejar perante Deus em vez de tremer de
medo.
– Devido a intenso perfume de ores: entregar-se aos milagres da Criação.
Primeiros socorros: colocar as pernas para cima e a cabeça para baixo; bater o
dedo entre o nariz e o lábio superior.
19.1.12 Lacerações (na cabeça)

Homeopatia:
Arnica
– Remédio principal.
Simbologia: sob tensão, o tecido estacionário se dilacera – a impressão que se
tem é que se está explodindo.
Tarefa: deixar sair das tensões internas; não permitir que chegue à prova
extrema da laceração e do estouro, mas descarregar antes a pressão. É melhor
provar a capacidade de se a rmar do que querer impor uma coisa a qualquer
preço.
Primeiros socorros: interromper a hemorragia, (mandar) costurar a ferida.
Rescue Remedy, curativo em spray.
19.1.13 Contusões

Homeopatia:
Arnica
– Remédio principal.
Simbologia: “Passaram a perna em você”, no sentido de deixar-se enganar.
Quem passa a perna em alguém o engana.
Tarefa: levar a vida a sério, deixar que ela se aproxime, sentir e perceber mais.
Tornar-se um “para-choque”, aproximar-se da vida com mais dureza, bater e
chocar-se mais contra si mesmo.
Primeiros socorros: creme Rescue Remedy.
19.1.14 Enjoo em viagens

Homeopatia:
Cocculus
– Náusea e tontura em viagens de automóvel, ônibus e trem.
–Sensibilidade a odores (por exemplo, de comida, fumaça de tabaco).
Ipecacuanha
– Forte náusea, salivação abundante, quase sempre ausência de sede.
–Não melhora com o vômito.
– Língua limpa, sem saburra.
Nux vomica
– Irritabilidade em caso de forte ânsia de vômito.
–Hiperestesia sensorial e suscetibilidade.
Petroleum
– Diarreia, náusea com vômito de bile.
–Jet lag.
–Vontade de comer. Melhora comendo.
Tabacum
– Frio gélido, prostração, tontura.
–Remédio principal em caso de enjoo.
–Melhora ao vomitar.
Simbologia: não consegue adaptar-se à viagem nem ao elemento que a ela
pertence. Deixar-se enganar por alguma coisa.
Tarefa: renunciar ao controle e se entregar.
Primeiros socorros: não é necessário.
19.1.15 Cortes

Homeopatia:
Arnica
– Como primeiro remédio (principal).
Staphisagria
– Depois da arnica, caso haja o risco de problemas de cicatrização.
–Após cortes (por faca) e operações, bem como lacerações.
Simbologia: “cortar-se” no sentido de “enganar-se”. No sentido gurado, “dar
um tiro no próprio pé”.
Tarefa: desenvolver mais coragem. Seria preferível ter uma língua a ada no
plano verbal ou mental, julgar-se severamente, questionar com ênfase e vigor os
próprios limites.
Primeiros socorros: interromper a hemorragia.
19.1.16 Escoriações
Homeopatia:
Calendula
– Remédio principal.
Simbologia: escoriar-se, excesso de desgaste; sofrer um desgaste por atrito;
exigir demais de si mesmo (no plano errado).
Tarefa: deixar que as coisas penetrem sob a pele, desenvolver mais
profundidade. Exigir mais de si mesmo no nível decisivo. Arranjar mais atrito
na vida, sentir e perceber as coisas com mais vivacidade.
Primeiros socorros: compressas com a própria urina.
19.1.17 Queimadura de sol

Homeopatia:
Belladonna
– Remédio principal.
–Vermelhidão intensa; reage com sensibilidade ao contato.
–Agitação, febre geral.
Arsenicum album
– Acne estival.
–Eritema ardente, pruriginoso e pungente.
Simbologia: tomou-se muito “sol externo” em vez de sol interno. Não ter
consciência su ciente do poder de fogo do sol. Subestimar o sol. Desejo
excessivo de parecer bronzeado e vital.
Tarefa: relacionar-se conscientemente com a irradiação masculina. Deixar que o
sol interior brilhe. “Arder” por alguma coisa em vez de deixar-se arder. Tornar-
se “fogo e chama” e in amar-se por temas essenciais.
Primeiros socorros: compressas com a própria urina, bandagem com queijo
quark ou iogurte.
19.1.18 Insolação

Homeopatia:
Glonoinum

Calor, vermelhidão, pele ardente, dor de cabeça forte, agitação, náusea,
eventual vômito.
Veratrum album
– Colapso acompanhado de vômito, frio no corpo, suor frio, palidez.
Simbologia: a criança tomou muito “sol externo”. Sua “central” (a cabeça)
cou sobrecarregada e quente. Sobreaquecimento, funcionamento sob calor.
Tarefa: deixar-se inspirar mais pela energia e pela irradiação masculina; abrir-se
voluntariamente para o fogo interior; entusiasmar-se mais com a vida. Viver
mais no “sol interior”. Colocar-se sob a luz correta.
Primeiros socorros: beber muita água a temperatura ambiente.
19.1.19 Lascas, farpas, estilhaços

Homeopatia:
Silicea
– Remédio principal.
Simbologia: “Você está com uma farpa” (você se enganou). Estar com um
“espinho na carne”, como a famosa “trave no olho”. Algo estranho e perigoso se
insinua sob a própria pele e faz pressão, desencadeia con itos.
Tarefa: deixar o que é importante “penetrar sob a pele”, em sentido gurado.
Permitir a entrada do que é estranho e perigosamente provocatório e deixar-se
tocar por ele; estimular-se com o confronto.
Primeiros socorros: extrair a farpa; em seguida, manter a ferida aberta. Aplicar a
própria urina (externamente).
19.1.20 Choque elétrico

Homeopatia:
Nux vomica
– Remédio principal.
Simbologia: golpe no sistema, perigo de distúrbios no ritmo cardíaco.
Tarefa: unir-se à “corrente da vida”; sair um pouco da linha. É melhor
ultrapassar os limites do que tomar um choque elétrico. Viver o que é inabitual
e original.
Primeiros socorros: Rescue Remedy. Eventualmente, buscar auxílio médico.
19.1.21 Torções em geral, torção do pé

Homeopatia:
Arnica
– Remédio principal.
–Quando o movimento causa dor intensa.
–Medo do toque e da aproximação.
Rhus toxicodendron
– Dores, desejo de movimento leve.
–Agitação.
Simbologia: “caminhar de maneira errada”, não encontrar apoio seguro,
perder o ponto de vista certo.
Tarefa: viver com mais mobilidade, mais exibilidade; adaptar-se mais às
circunstâncias.
É melhor dançar e pular, em sentido metafórico. Repensar os próprios pontos
de vista.
Primeiros socorros: Rescue Remedy, compressas de arnica, compressas de acetato
de alumínio. Se possível, continuar a movimentar-se.
19.1.22 Choque traumático

Homeopatia:
Aconitum
– Muito medo. O susto está evidente no rosto. Olhos arregalados e pupilas
dilatadas.
– Agitação.
Simbologia: choca ser arrancado do próprio trilho (ver também a seção
“19.1.11 Desmaio”).
Tarefa: renunciar a “todo poder”; viver de forma mais original e criativa.
Primeiros socorros: Rescue Remedy.
19.1.23 Queimaduras
Homeopatia
Apis
– Vermelhidão, inchaço e ardência.
Cantharis
– Bolhas e ardência.
Simbologia: “Você tinha que queimar [pagar].” Queimar os dedos.
Tarefa: arder por alguma coisa, no sentido de “entusiasmar-se”. Depositar toda
a sua energia de vida em um projeto. Ser fogo e chama para alguma coisa.
In amar-se em relação à vida.
Primeiros socorros: compressas com a própria urina. Misturar vinagre e água
quente na mesma proporção e aplicar como compressa.
19.1.24 Luxação

Homeopatia:
Arnica
– Qualquer movimento provoca dor intensa.
–Medo do toque e da aproximação.
Rhus toxicodendron
– Dores dilacerantes. Desejo de leve movimento.
–Agitação.
Simbologia: ter aterrissado em local (muito) duro. Ser comprimido (pela
vida).
Tarefa: aterrissar com rapidez e e cácia no terreno (dos fatos). É preferível ir
voluntariamente e com mais dureza de encontro à realidade. Aceitar a pressão
da vida em vez de se deixar comprimir por ela.
Primeiros socorros: Rescue Remedy; compressas de arnica; compressas de acetato
de alumínio; continuar a mover delicadamente, se possível.
19.1.25 Constipação em viagens

Homeopatia:
Nux vomica
– Evacuação dolorosa sem resultado ou incompleta.
Simbologia: restringir-se na insegurança do estranhamento em vez de abrir-se a
ela. Manter o que já se tem em segurança. Não querer correr nenhum risco.
Tarefa: melhor car em casa, junto ao que é habitual, em vez de simular
coragem. Manter para si, conscientemente, aquilo de que ainda se precisa.
Primeiros socorros: beber muita água ou suco de maçã, comer frutas e vegetais
crus. Beber Aminas e muita água. Melhorar a evacuação e o humor!

19.2 Bibliografia

Bein-Wierzbinski, Wibke: Eine kleine Raupe geht auf Wanderschaft... Und


macht viele Bekanntschaften. Ein neuromotorisches Übungsprogramm für
Kinder im Vorschulbereich und in der Grundschule, Modernes Lernen,
Dortmund, 2008.
Davis, Ronald D.: Legasthenie als Talentsignal. Lernchance durch kreatives Lesen,
Droemer Knaur, Munique, 2001.
Dethlefsen, orwald e Dahlke, Rüdiger: Krankheit als Weg. Deutung und Be-
Deutung der Krankheitsbilder, Goldmann, Munique, 1983. [A Doença como
Caminho, publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 1992.]
Ende, Michael: Momo, ienemann, Stuttgart, 1973.
Fromm, Erich: Die Furcht vor der Freiheit, dtv, Munique, 1993.
Graf, Friedrich P.: Homöopathie und die Gesunderhaltung von Kindern und
Jugendlichen, Spangsrade, Ascheberg, 2003.
Herscu, Paul: Die homöopathische Behandlung der Kinder, Kai Kröger, Groβ
Wittensee, 1997.
Imhäuser, Hedwig: Homöopathie in der Kinderheilkunde, Haug/MVS,
Stuttgart, 2003.
Johnson, Robert: Bilder der Seele. Traumarbeit und Aktive Imagination, Irisiana,
Munique, 1995.
Kieser, Christiana: Lukas und die Monster unterm Bett. Klopf, klopf, klopf, ich
helfe Dir, Param, Ahlerstedt, 2006.
Kyber, Manfred: Märchen und Tiergeschichten, Komet, Köln, 2006.
____, Die drei Lichter der kleinen Veronika. Roman einer Kindheit in dieser und
jener Welt, Heyne, Munique, 2007.
Liedloff, Jean: Auf der Suche nach dem verlorenen Glück. Gegen die Zerstörung
unserer Glücksfähigkeit in der frühen Kindheit, C. H. Beck, Munique, 2006.
Miller, William A.: Der Goldene Schatten. Vom Umgang mit den dunklen Seiten
unseer Seele, Irisiana, Munique, 1994.
Mitscherlich, Alexander: Krankheit als Kon ikt, Suhrkamp, Frankfurt, 1966.
Morrison, Roger: Handbuch der Pathologie zur homöopathischen
Differentialdiagnose, Kai Kröger, Groβ Wittensee, 1997.
Pfeiffer, Herbert, Michael Drescher e Martin Hirte (orgs.): Homöopathie in der
Kinder- und Jugendmedizin, Urban und Fischer, Munique, 2004.
Phatak, S. R.: Homöopathische Arzneimittelbilder, Urban und Fischer,
Munique, 2005.
Prekop, Jirina: Der kleine Tyrann, Kösel, Munique, 1997.
____, Einfühlung oder Die Intelligenz des Herzens, dtv, Munique, 2005.
____, Hättest du mich festgehalten... Grundlagen und Anwendung der Festhalte-
erapie, Goldmann, Munique, 2006.
____, Ich halte dich fest, damit du frei wirst, Kösel, Munique, 2008.
____, Erstgeborene. Über eine besondere Geschwisterposition, Kösel, Munique,
2008.
Prekop, Jirina e Schweizer, Christel: Kinder sind Gäste, die nach dem Weg fragen,
Kösel, Munique, 2008.
Riemann, Fritz: Lebenshilfe Astrologie, Klett-Cotta, Stuttgart, 2005.
____, Grundformen der Angst. Eine tiefenpsychologische Studie, Reinhardt,
Munique, 2006.
Saint-Exupéry, Antoine de: Der Kleine Prinz, Rauch, Düsseldorf, 1958.
Sheldrake, Rupert: Der siebte Sinn der Tiere, Fischer, Frankfurt, 2007.
____, Das schöpferische Universum, Nymphenburger, Munique, 2008.
Soldner, Georg e Stellmann, Hermann M.: Individuelle Pädiatrie. Leibliche,
seelische und geistige Aspekte in Diagnostik und Beratung. Anthroposophisch-
homöopathische erapie, Wissenschaftliche Verlagsgesellschaft, Stuttgart,
2002.
Tinbergen, Niko e Lis: Autismus bei Kindern, Parey/Blackwell, Berlim, 2002.

19.3 Publicações de Rüdiger Dahlke

Schwebend die Leichtigkeit des Seins erleben, Schirner, 2009.


Schicksalsgesetze, Goldmann Arkana, 2009.
Die Psychologie des Geldes. Nymphenburger, 2008.
Meine 50 besten Gesundheitstipps. Heyne, 2008. [Minhas Melhores Dicas de
Saúde, publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 2012.]
Das groβe Buch vom Fasten. Goldmann, 2008.
Der Körper als Spiegel der Seele. Gräfe und Unzer, 2007.
Vom Essen, Trinken und Leben. Com Dorothea Neumayr. Haug, 2007.
Notfallapotheke für die Seele. Nymphenburger, 2007.
Das groβe Buch der ganzheitlichen erapien. Integral, 2007.
Depression. Goldmann, 2006. [Depressão, publicado pela Editora Cultrix, São
Paulo, 2009.]
Richtig essen. Knaur, 2006.
Schlaf – die bessere Hälfte des Lebens. Integral, 2005. [O Sono como Caminho,
publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 2008.]
Worte der Heilung. Schirner, 2005.
Das Gesundheitsprogramm. Hugendubel, 2004. [O Programa de Saúde de
Rüdiger Dahlke, publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 2007.]
Fasten Sie sich gesund. Hugendubel, 2004. [O Jejum como Oportunidade de
Recuperar a Saúde, publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 2006.]
Von der Weisheit des Körpers. Knaur, 2004.
Aggression als Chance. C. Bertelsmann, 2003. [A Agressão como Oportunidade,
publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 2005.]
Krankheit als Symbol. C. Bertelsmann, 2000. [A Doença como Símbolo,
publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 2000.]
Krankheit als Sprache der Seele. Goldmann, 1999. [A Doença como Linguagem
da Alma, publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 1999.]
Lebenskrisen als Entwicklungschancen. Goldmann, 1999. [As Crises da Vida
como Oportunidades de Desenvolvimento, publicado pela Editora Cultrix, São
Paulo, 2005.]
Mandalas der Welt. Hugendubel, 1985. [Mandalas: Formas que Representam a
Harmonia do Cosmos e a Energia Divina, publicado pela Editora Cultrix, São
Paulo, 1991.]
Das Arbeitsbuch zur Mandala-erapie. Hugendubel, 1999.
Entschlacken – Entgiften – Entspannen. Hugendubel, 2003. [Desintoxicar e
Relaxar, publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 2006.]
Frauen-Heil-Kunde. Com Margit Dahlke e o prof. dr. Volker Zahn. C.
Bertelsmann, 1999 (brochura), e Goldmann (livro de bolso). [A Saúde da
Mulher, publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 2005.]
Gewichtsprobleme. Knaur, 1989.
Der Weg ins Leben. Com Margit Dahlke e o prof. dr. Volker Zahn. C.
Bertelsmann, 2001 (brochura), e Goldmann (livro de bolso). [O Caminho
para a Vida, publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 2005.]
Verdauungsprobleme. Com o dr. Robert Höβl. Knaur, 1990.
Herz(ens)probleme. Knaur, 1990.
Die Psychologie des blauen Dunstes. Com Margit Dahlke. Knaur, 1989.
Reisen nach Innen. Hugendubel, 1994. [Meditação Orientada, publicado pela
Editora Cultrix, São Paulo, 2007.]
Das senkrechte Weltbild. Com Nicolaus Klein. Hugendubel, 1990.
Krankheit als Weg. C. Bertelsmann, 1983. [A Doença como Caminho, publicado
pela Editora Cultrix, São Paulo, 1992.]
Habakuck und Hibbelig. Heyne, 1994.
Woran krankt die Welt? Riemann, 2001. [Qual a Doença do Mundo?, publicado
pela Editora Cultrix, São Paulo, 2004.]
Meditationsführer. Com Margit Dahlke. Schirner, 1999.
Mandala-Malblöcke zum Arbeitsbuch. 3 volumes. Hugendubel, 1999.
Mandala-Malblock. Edition Neptun, 1984.
Die Säulen der Gesundheit. Com Baldur Preiml e Franz Mühlbauer. Goldmann
(livro de bolso).
 
Meditações
 
“Heil-Meditationen”, pela editora Goldmann-Arkana-Audio (CD/MC):
Allergien, Angstfrei leben (também em CD com guia), Ärger und Wut,
Bewusst Fasten, Bewusstseinsfeld, Den Tag beginnen, Depression, Elemente-
Rituale, Die 4 Elemente, Energiearbeit, Entgiften – Entschlacken – Loslassen
(também em CD com guia), Frauenprobleme, Ganz entspannt, Gesetz der
Anziehung, Gesetz der Polarität, Hautprobleme, Heilungsrituale,
Herzensprobleme (hoher Blutdruck und Infarkt), Innerer Arzt,
Kopfschmerzen, Krebs, Lebenskrisen als Entwicklungschance,
Leberprobleme, Mandalas – Wege zur eigenen Mitte, Mein Idealgewicht
(também em CD com guia), Naturmeditation, Niedriger Blutdruck,
Partnerbeziehungen, Rauchen (também em CD com guia),
Rückenprobleme, Schattenarbeit, Schlafprobleme, Schwangerschaft und
Geburt, Selbstheilung, Selbstliebe, Vom Stress zur Lebensfreude, Sucht und
Suche, Tiefenentspannung, Tinnitus und Gehörschäden (também em CD
com guia), Traumreisen, Verdauungsprobleme, Visionen.
 
“Kindermeditationen”, pela editora Schirner (CD): Märchenland, Ich bin mein
Lieblingstier.
 
Meditações pela editora Integral (CD): Erquickendes Abschalten mittags und
abends, Schlaf – die bessere Hälfte des Lebens, Leichtigkeit des Schwebens,
Schutzengel-Meditationen, 7 Morgenmeditationen, Die Heilkraft des
Verzeihens.
 
Outros CDs: Die Psychologie des Geldes (Nymphenburger), Notfallapotheke
für die Seele (Langen/Müller), Eine Reise nach Innen (Ariston).
 
Palestras e workshops (MC, CD, vídeo, DVD)
 
Aggression als Aufgabe und Chance, Anfang und Ende, Angst, Bedeutung der
Rituale in Vergangenheit und Gegenwart, Depressionen, Der verbundene
Atem, Deutung und Bedeutung von Krankheitsbildern, Die archetypische
Bedeutung von Wasser und Kristallsalz, Die Leichtigkeit des Schwebens, Die
Medizin der Zukunft, Die Psychosomatik von Krebs, Die Reifungskrisen des
Lebens, Entgiften – Entschlacken – Loslassen, Fasten, Geführte
Phantasiereisen, Geleitete Meditationen, Gesund sein – ganzheitlich leben,
Gesunder Egoismus – gesunde Aggression, Gesundheitliche Krisen,
Gewichtsprobleme, Heilung und Meditation, Homöopathie,
Kopfschmerzen, Krankheit als Sprache der Seele, Krankheit als Symbol,
Krankheitsdeutung, Lebenskrisen als Entwicklungschance, Mandalas als
Ausdruck des göttlichen Selbst, Moderne Reinkarnationstherapie,
Partnerschaft als Chance und Aufgabe, Psychotherapie und
Reinkarnationstherapie, Reise nach Innen, Säulen der Gesundheit, Sucht
und Suche, Übergänge im Leben, Wege der Heilung, Woran krankt die
Welt?, Wunden des Weiblichen (zu beziehen über Auditorium-Netzwerk,
Habspergstraβe 9a, D-79379 Müllheim-Baden, Tel.: +49 7631 170743, Fax:
+49 7631 170745, info@auditorium-netzwerk.de).
PRÓXIMOS LANÇAMENTOS

Para receber informações sobre os lançamentos da


Editora Cultrix, basta cadastrar-se no site:
www.editoracultrix.com.br
 
 
Para enviar seus comentários sobre este livro,
visite o site www.editoracultrix.com.br ou mande
um e-mail para atendimento@editoracultrix.com.br
[1]. Os dados bibliográ cos de todas as publicações mencionadas neste livro encontram-se na Bibliogra a
(19.2) e na lista com as publicações de Rüdiger Dahlke (19.3). [O Caminho para a Vida, publicado pela
Editora Cultrix, São Paulo, 2005] [N.T.]
[2]. A Doença como Caminho, de orwald Dethlefsen e Rüdiger Dahlke, publicado pela Editora Cultrix,
São Paulo, 1992.] [N.T.]
[3]. Publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 2005. [N.T.]
[4]. Publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 2000. [N.T.]
[5]. Em alemão: “Leider Ohne Geld Geboren”. [N.T.]
[6]. Por exemplo, junto à empresa Colostral.
[7]7. Os sabores “frutas silvestres”, “biobanana” e “chocolate com nozes” mostraram-se e cazes para
crianças.
[8]. Outras informações e uma descrição detalhada das relações bioquímicas podem ser encontradas em
Dahlke-Info, que você pode solicitar gratuitamente e cancelar a qualquer momento em www.dahlke.at.
Além disso, nesse site estão disponíveis todos os artigos anteriores, bem como o texto “Essen für gute
Stimmung” [Alimento para o Bom Humor], de 2007, sobre o fenômeno Aminas.
[9]. O Programa de Saúde de Rüdiger Dahlke, publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 2007. [N.T.]
[10]. Fabricante de cadeirinhas e carrinhos para bebês. [N.T.]
[11]. Obviamente, não se trata aqui daquelas estratégias para escapar às determinações do destino, que se
in ltraram de várias formas na astrologia; ao contrário, trata-se daquele método representado, por
exemplo, no centro médico de Johanniskirchen, que destaca as possibilidades de desenvolvimento e
demonstra as possibilidades de apoio que se baseiam no conhecimento dos princípios primitivos.
[12]. As Crises da Vida como Oportunidades de Desenvolvimento e Qual é a Doença do Mundo?, publicados
respectivamente em 2005 e 2004 pela Editora Cultrix, São Paulo. (N.T.)
[13]. Program for International Student Assessment: Programa Internacional de Avaliação de Alunos.
[N.T.]
[14]. Por exemplo, “Märchenland” [País dos Contos de Fadas] (Goldmann-Arkana-Audio) e “Ich bin
mein Lieblingstier” [Sou Meu Animal Preferido] (Schirner).
[15]. Na Alemanha, comemora-se o dia de São Nicolau (6 de dezembro) no Advento (período de quatro
semanas que antecedem o Natal). [N.T.]
[16]. Cf. Friedrich P. Graf: Homöopathie und die Gesunderhaltung von Kindern und Jugendlichen
[Homeopatia e manutenção da saúde em crianças e adolescentes], capítulos 5-13.
[17]. Referência ao personagem da saga Os Nibelungos. [N.T.]
[18]. Cf. Pfeiffer/Drescher/Hirte (orgs.): Homöopathie in der Kinder- und Jugendmedizin [Homeopatia na
Pediatria].
[19]. “O nome é um presságio.” Em alemão, o termo para catapora é Windpocken, que literalmente
signi ca “varíola levada pelo vento”. [N.T.]
[20]. Em caso de interesse maior pelo tema “vacinação”, remete-se ao detalhado capítulo no livro A
Agressão como Oportunidade (Editora Cultrix, São Paulo, 2005) e, em relação ao pânico causado pela gripe
aviária, remete-se à circular Dahlke-Info (www.dahlke.at). Nas edições mais antigas, a gripe aviária já
havia sido revelada em seu “início” como comédia-farsa.
[21]. Cf. “Nutzen von Vorsorgeuntersuchungen zunehmend fraglich!”, in: Deutsches Ärzteblatt 2007 [“O
uso de exames pro láticos é cada vez mais questionável!”, in: Revista alemã de medicina] 104 (25): A
1804-7.
[22]. A Doença como Símbolo, publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 2000. (N.T.)
[23]. Isso se refere à terapia da sombra, com a qual existem, a esse respeito, muitas experiências positivas.
[24]. Marca de desinfetante germicida. [N.T.]
[25]. Uma lista detalhada de cada alérgeno e seu signi cado pode ser encontrada em A Doença como
Símbolo [Editora Cultrix, São Paulo, 2000], obra de consulta dos signi cados e das interpretações das
doenças da alma.
[26]. Em alemão, “eine harte Nuss”, que equivale à expressão “osso duro de roer” em português. [N.T.]
[27]. Em alemão: Kopfgelenk-induzierte Symmetrie-Störung. [N.T.]
[28]. Essa doença rara encontra-se na obra de consulta A Doença como Símbolo.
[29]. “Schattenarbeit” (Goldmann-Arkana-Audio).
[30]. Dahlke/Preiml/Mühlbar: Die Säulen der Gesundheit [Os Pilares da Saúde].
[31]. A esse respeito, exercícios adequados para crianças podem ser consultados no livro Eine kleine Raupe
geht auf Wanderschaft... [Uma Pequena Lagarta sai para Caminhar], da doutora Wibke Bein-Wierzbinski.
[32]. No livro Eine kleine Raupe geht auf Wanderschaft... [Uma Pequena Lagarta sai para Caminhar], da
doutora Wibke Bein-Wierzbinski, são descritos exercícios adequados às crianças para recuperar o processo
de endireitamento.
[33]. Mais a respeito no livro Der Körper als Spiegel der Seele [O Corpo como Espelho da Alma].
[34]. Mais informações no CD “Das Bewusstseinsfeld” [O Campo da Consciência] (Goldmann-Arkana-
Audio) e no livro Die Schicksalsgesetzte [As Leis do Destino].
[35]. Programa Internacional de Avaliação de Estudantes. [N.T.]
[36]. Em alemão, a palavra Buchstabe, que signi ca “letra”, deriva do termo Buchenstab, que literalmente
pode ser traduzido como “haste de faia”. [N.T.]
[37]. A esse respeito, ver o livro Die Schicksalsgesetze [As Leis do Destino].
[38]. Por Margit Dahlke, segundo uma ideia de Martin Schulman.

Você também pode gostar