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LINGUAGEM DA
ALMA NA CRIANÇA
Rüdiger Dahlke
Vera Kaesemann
A DOENÇA COMO
LINGUAGEM DA
ALMA NA CRIANÇA
Tradução
KARINA JANNINI
Título original: Krankheit als Sprache der Kinderseele.
Copyright © 2009 C. Bertelsmann Verlag, uma divisão da Verlagsgruppe Random House GmbH,
Munique, Alemanha.
Copyright da edição brasileira © 2014 Editora Pensamento-Cultrix Ltda.
Texto de acordo com as novas regras ortográ cas da língua portuguesa.
1ª edição 2014.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou usada de qualquer
forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópias, gravações ou sistema de
armazenamento em banco de dados, sem permissão por escrito, exceto nos casos de trechos curtos citados
em resenhas críticas ou artigos de revistas.
A Editora Cultrix não se responsabiliza por eventuais mudanças ocorridas nos endereços convencionais
ou eletrônicos citados neste livro.
Editor: Adilson Silva Ramachandra
Editora de texto: Denise de C. Rocha Delela
Coordenação editorial: Roseli de S. Ferraz
Produção editorial: Indiara Faria Kayo
Assistente de produção editorial: Estela A. Minas
Editoração Eletrônica: Join Bureau
Revisão: Liliane S. M. Cajado e Nilza Agua
Produção de ebook: S2 Books
D129d
Dahlke, Rüdiger
A doença como linguagem da alma na criança : interpretação e signi cado de quadros clínicos em
crianças e seu tratamento holístico / Rüdiger Dahlke, Vera Kaesemann ; tradução: Karina Jannini. – 1.
ed. São Paulo : Cultrix, 2014.
544 p. : il. ; 23 cm.
Tradução de: Krankheit als sprache der kinderseele
ISBN 978-85-316-1264-0
1. Pediatria. 2. Medicina. 3. Medicamentos. 4. Saúde Holística. I. Kaesemann, Vera. II. Título.
14-09262 CDD: 618.92
CDU: 616.053.2
Capa
Folha de rosto
Ficha catalográfica
Dedicatória
1 Introdução
1.1 Como surgiu este livro
1.2 Como usar este livro
1.3 A utilização de medicamentos homeopáticos
1.4 Sobre “os riscos e os efeitos colaterais” deste livro!
2 Fundamentos gerais
2.1 Amor como fundamento da vida
2.2 Critérios da infância
2.2.1 O afeto dos pais
2.2.2 Critérios da puberdade e da juventude como marcos
deste livro
2.2.3 Problemas sociais
2.3 Três pilares da saúde
2.3.1 Alimentação
2.3.1.1 Leite materno como alimento e remédio
2.3.1.2 A alimentação infantil
2.3.1.3 Outras dicas de alimentação para uma vida saudável
2.3.1.4 A alimentação da criança doente
2.3.2 Movimento
2.3.3 Relaxamento
2.4 Contato físico como base da vida
2.4.1 Desenvolvimento da inteligência e contato físico
2.4.2 A criança imatura
2.4.3 Contato físico e amamentação
2.4.4 Terapia através da pele
2.4.5 O “método canguru”
2.4.6 Do Reiki ao Deeksha – imposição das mãos e bênção
2.4.7 Moderna magia por contato
2.5 Pais e filhos no espelho da alma
2.6 Filhos e sugestão ou A história da verruga-mãe
2.7 Proibições e o desenvolvimento cerebral
2.8 A Lua – o princípio primário da infância e do aspecto
materno
2.9 Educação
2.9.1 Campos que geram formas
2.9.2 Formação do caráter através de exemplos
2.10 Ferramentas para os pais entenderem melhor os filhos
2.10.1 A família representada em figuras de animais
2.10.2 Desenhando a figura de uma ilha
2.10.3 Colocando ou desenhando a família em figuras
2.11 Conversando com Deus ou rezando antes de dormir
2.12 Meditações induzidas
2.13 Ritmos e rituais
2.14 Confiança no reino mágico-mítico
2.15 As regras do jogo da vida
2.16 Exercícios para o crescimento, o desenvolvimento e o bem-
estar
2.16.1 Riso
2.16.2 Exercícios de confiança
2.16.3 Todo dia uma boa ação ou espírito de equipe para
iniciantes
2.16.4 Animais como companheiros de vida
2.16.4.1 Os animais e o sétimo sentido
2.16.4.2 Animais como terapeutas
2.16.5 Encontrando o próprio animal totem
2.17 Terapias especiais para crianças
2.17.1 Constelação familiar sistêmica segundo Hellinger
2.17.2 Essências florais para crianças
2.17.3 Superando o trauma por meio dos movimentos
oculares
2.17.4 Outros exercícios fáceis e eficazes
3 Febre
3.1 A febre pode ser tolerada sem problemas?
3.2 Argumentos contra a diminuição da febre
3.3 Auxílio homeopático e médico em caso de febre?
3.4 Remédios homeopáticos para a febre
3.5 Convulsões febris
3.5.1 O que é uma convulsão febril?
3.5.2 Quais crianças correm esse risco?
3.5.3 Sinais perigosos e esclarecimento médico
4 Doenças infecciosas
4.1 Doenças infantis – o pequeno ser humano no grande mundo
4.1.1 Doenças infantis fortalecem
4.1.2 História da vida e da humanidade
4.2 Lidando, na prática, com as doenças infantis
4.3 Sarampo
4.4 Caxumba
4.5 Rubéola
4.6 Coqueluche
4.7 Catapora
4.8 Febre dos três dias
4.9 Escarlatina
5 Vacinas
5.1 Vacinar ou lavar? Erro de pensamento no exemplo da vacina
do câncer de colo do útero
5.2 Verdadeira prevenção em vez de diagnóstico precoce
6 Cefaleias e enxaquecas
6.1 Cefaleias
6.1.1 A corrida cabeça com cabeça
6.1.2 O local do acontecimento (da dor)
6.2 Enxaqueca
11 Doenças alergênicas
11.1 Alergias
11.1.1 Guerras de fronteiras
11.1.2 Jogos de poder
11.1.3 O estranho e o próprio
11.1.4 A alergia e a reconciliação com a mãe (natureza)
11.1.5 Prevenindo-se contra as alergias
11.1.6 Possibilidades e oportunidades terapêuticas
11.1.7 A simbologia dos alérgenos na infância ou uma
interpretação dos objetivos da guerra
11.1.7.1 Alérgenos do grande círculo (a simbologia da
sujeira)
11.1.7.2 Alérgenos do pequeno círculo (da simbologia da
fertilidade e da sensualidade)
11.2 Dermatite atópica e crosta láctea
13 Doenças de pele
13.1 Piolho
13.2 Verrugas
16 Temas especiais
16.1 Autismo
16.1.1 Conhecendo outros mundos
16.1.2 Possibilidades e limites da terapia do abraço para
autistas
16.2 Síndrome de Down ou deficiência mental como
oportunidade?
16.2.1 Naomi
16.2.2 Tornem-se como as crianças
16.2.3 Dúvidas a respeito da sociedade meritocrática
17 Epílogo
18 Agradecimentos
19 Anexos
19.1 Farmácia homeopática de emergência
19.1.1 Eritema alérgico
19.1.2 Feridas por mordidas
19.1.3 Hematoma
19.1.4 Hemorragias
19.1.5 Intoxicação sanguínea
19.1.6 Concussão cerebral
19.1.7 Picadas de insetos
19.1.8 Fraturas
19.1.9 Distúrbios circulatórios
19.1.10 Intoxicação alimentar
19.1.11 Desmaio
19.1.12 Lacerações (na cabeça)
19.1.13 Contusões
19.1.14 Enjoo em viagens
19.1.15 Cortes
19.1.16 Escoriações
19.1.17 Queimadura de sol
19.1.18 Insolação
19.1.19 Lascas, farpas, estilhaços
19.1.20 Choque elétrico
19.1.21 Torções em geral, torção do pé
19.1.22 Choque traumático
19.1.23 Queimaduras
19.1.24 Luxação
19.1.25 Constipação em viagens
19.2 Bibliografia
19.3 Publicações de Rüdiger Dahlke
Próximos lançamentos
1 Introdução
A homeopatia clássica, que in uencia este livro como nenhuma outra loso a
– uma vez que as explicações também são, inicialmente e sobretudo, pensadas
do ponto de vista da homeopatia –, é uma medicina particularmente
individual, o que torna difícil apresentá-la em um livro de maneira prática. Os
quadros medicamentosos e os sintomáticos são de fácil apresentação. No
entanto, ambos fornecem apenas uma moldura; por isso, em ambos os casos, a
verdadeira terapia deve ser feita sempre de modo individual. Uma interpretação
também só pode oferecer uma moldura, enquanto os quadros medicamentosos
oferecem muitas. Portanto, cabe aos homeopatas e psicoterapeutas fazer com
que essas molduras universalmente válidas coincidam com a originalidade de
cada indivíduo.
A medicina interpretativa nos encoraja a perguntar: “Por que isso está
acontecendo justamente comigo, justamente desse modo, justamente agora,
nessa fase da minha vida?” E ainda: “O que o sintoma me impede de fazer, o
que me força a fazer?” A homeopatia clássica tem de fazer uma individualização
bastante diferenciada para que, nesse caso, não se apresente nenhum tipo de
pergunta típica.
Nesse sentido, sem nenhuma pretensão à precisão ou à perfeição, as
descrições dos quadros medicamentosos e as indicações são pensadas, antes,
com a nalidade de mostrar a genialidade dessa orientação de pensamento
fundamentalmente nova, introduzida na medicina por Samuel Hahnemann, e
que muitas vezes pode substituir e quase sempre complementar a alopatia.
Grande parte dos especialistas, tanto homeopatas quanto pediatras da
medicina acadêmica, bem como as mães, que leram e revisaram previamente
nosso manuscrito, podem testemunhar nossa tentativa de construir uma ponte
entre essas orientações da medicina e as mães em favor das crianças doentes.
Todos os medicamentos sugeridos neste livro devem ser tomados na
potência C30 (trigésima centesimal), diluição comprovadamente e caz para
casos agudos. Essa potência elevada exige uma administração correta.
Medicamentos homeopáticos não podem simplesmente ser tomados de
maneira indiscriminada. Faça sua escolha com cuidado e, se tiver dúvidas,
consulte um homeopata experiente. As tabelas inseridas aqui ajudarão a
diferenciar os medicamentos apresentados; por isso, elas se limitam aos
respectivos sintomas característicos. Vale a pena prestar atenção também aos
sintomas emocionais, que podem ser decisivos na escolha do medicamento
correto.
Posologia: coloque dois grânulos (glóbulos) do medicamento diretamente
na língua do seu lho; em seguida, dissolva outros dois glóbulos em um copo
com água natural usando uma espátula de madeira ou uma colher de plástico.
Faça-o beber um gole da mistura a cada dez minutos (sempre mexendo bem
antes). Assim que perceber uma melhora, interrompa o processo! Caso haja
uma piora ou uma estagnação, continue a administrar o medicamento.
Se após duas horas não houver nenhuma reação no sentido de uma
melhora, possivelmente você terá escolhido o medicamento errado. Veri que
mais uma vez a tabela e, eventualmente, escolha outro remédio. No sentido
homeopático, também se deve considerar uma melhora, por exemplo, um sono
(reparador) profundo ou um alívio em nível emocional; ou seja, talvez seu lho
que mais bem-disposto e consiga lidar sem di culdade com as dores, embora
os sintomas físicos talvez não se tenham alterado visivelmente.
A questão sobre a medida correta de afeto por parte dos pais toca em um
problema central das famílias modernas. A multitarefa, também conhecida
pelo termo inglês “multitasking”, e que, em geral, acomete sobretudo as mães é
excessiva, deletéria e – conforme demonstraram recentes pesquisas – não chega
a ser produtiva nem e ciente.
Diante desse pano de fundo, esboçaremos aqui apenas brevemente a
concepção ideal daquilo que as crianças precisam para crescer melhor, com base
nas concepções de Peter Lang, pedagogo waldor ano:
– Tanto ele quanto muitos outros que se ocuparam intensivamente de
crianças, de seu desenvolvimento e de seus problemas colocam em
primeiro lugar o amor de que toda criança precisa e que lhe garante a
melhor posição de partida.
– Em segundo lugar vem a proteção, expressa no conceito de “ninho”.
–Em terceiro lugar, Lang vê relações sociais mais seguras.
–No quarto, a necessidade de compreender o próprio mundo.
–Na quinta posição, é importante que a criança pequena viva
em seu ambiente o decorrer de ações compreensíveis,
signi cativas e imitáveis.
– Em sexto lugar, é importante experimentar a “maneabilidade” do mundo,
ou seja, ganhar con ança para conseguir dominar, com as próprias forças
ou com o auxílio de pessoas próximas, as tarefas propostas.
– O sétimo lugar cabe ao signi cado do próprio modo de vida: a criança
tem de aprender a se esforçar e a se engajar por objetivos e projetos
importantes e a assumir a responsabilidade por eles, para que sua vida dê
certo.
2.2.2 Critérios da puberdade e da juventude como marcos deste livro
2.3.1 Alimentação
A regra mais importante diz: “Não obrigue ninguém a comer” – muito menos
ainda uma criança doente. Em casos de febre, mas também com outros
sintomas, muitas vezes sente-se uma necessidade natural de jejuar, que também
pode ser tolerada por crianças. O jejum alivia em muito o intestino, que, do
contrário, consome uma parte considerável de energia no trabalho de digestão.
No jejum, a digestão ca livre para as nalidades de regeneração e cura. Deve-
se dar à criança essa oportunidade caso ela demonstre tal necessidade. Quanto
mais um ser reage de modo intuitivo em caso de doença, mais ele tende a
recusar alimento, a m de ter à disposição todas as suas energias para o
restabelecimento. Nesse sentido, a carência de alimento também é frequente
em animais doentes, que ainda vivem de acordo com a natureza.
2.3.2 Movimento
A imposição das mãos tem efeitos curativos, segundo nos descrevem as curas
bíblicas de nossa tradição. O fato de a enfermeira norte-americana Dolores
Krieger poder ter comemorado um sucesso tão grande e cienti camente
comprovado com sua abordagem sobre o therapeutic touch [toque terapêutico]
deve-se simplesmente ao efeito curativo do contato físico. Ela encorajou as
enfermeiras a tocar mais os pacientes.
Hoje, no cenário espiritual, temos sistemas mais elaborados, como o Reiki.
Essa técnica, que no passado era muito dispendiosa para quem quisesse atingir
seus diversos níveis, transmite, sobretudo, um afeto direto a outra pessoa, com
resultados surpreendentes. Deixando de lado todo o aparato pseudoesotérico, o
Reiki permanece um bom modo de curar através do afeto, e, provavelmente, os
símbolos e pensamentos que acompanham o uxo da energia de cura parecem
estimulá-la ainda mais. Pelo menos nos trinta anos em que venho aplicando a
técnica do Reiki, essa é a impressão que tenho.
Ainda mais moderno parece ser o Deeksha, a transmissão de energia divina,
graça ou simplesmente bênção com a imposição das mãos na cabeça. Seu
funcionamento é impressionante, e não haveria nada mais belo para uma
criança do que a graça divina, ainda que a atualidade tenha um temor até
mesmo sagrado a esse tipo de palavras. Os pais não precisam de um curso na
Índia para fazer com que esta ou outra energia chegue a seus lhos através de
suas mãos. De resto, antigamente também era comum entre nós que os pais
dessem a bênção aos lhos.
Larry Dossey, especialista em medicina interna, fez uma pesquisa cientí ca
que rompe a imagem moderna de mundo e cujos resultados podem
perfeitamente ser aplicados nas crianças. Ele dividiu em dois grupos pacientes
com graves patologias cardíacas. Pediu a todos que escrevessem seu nome em
um pedaço de papel. No entanto, entregou apenas os nomes da metade a um
círculo de oração, como é comum haver nos Estados Unidos, e pediu para que
rezassem por eles. Embora os participantes do círculo não conhecessem os
pacientes e estes não soubessem que estavam rezando por eles, esse grupo teve
uma melhora estatisticamente visível e, em pouco tempo, destacou-se do outro
grupo em muitos aspectos, que sofreu mais complicações e teve até casos de
morte. O resultado é muito claro: rezar ajuda – e isso é comprovado
cienti camente.
Nesse sentido, em situações difíceis, seria natural não apenas pegar a criança
no colo, mas também rezar por ela, contanto que se tenha condições para
tanto. O ideal seria animar até mesmo a criança a rezar, embora, nesse caso,
(ainda) não se tenha comprovado cienti camente algum efeito...
2.4.7 Moderna magia por contato
materno
A Lua está presente nos dois temas mais importantes deste livro, que são o
aspecto infantil e o materno, mas também em tudo que diz respeito ao
feminino, ao que cuida. A este aspecto pertencem a cavidade acolhedora do
ventre materno e o líquido amniótico, mas também os seios que amamentam,
com seu tecido macio e uido e seu leite que alimenta – e o próprio lactente,
com suas formas macias e seus doces traços de bebê no rosto. O ritmo de
vaivém também entra nesse aspecto, bem como a água, entendida em sentido
concreto e simbólico, mas também as imagens anímicas que alimentam os
sonhos noturnos e as viagens diurnas ao próprio interior. A força da fertilidade
e a dedicação amorosa das deusas da Lua Deméter/Ceres e Selene/Luna (nomes
em grego e em latim para “Lua”) também fazem parte desse tema tal como seus
caprichos e melindres. Sob o princípio da Lua encontram-se, assim, quase
todos os aspectos simbólicos da gestação, do período de lactação e da primeira
infância.
A “Lua” é o tema comum da mãe e da criança. Em tempos remotos, esses
anos – pelo menos nas famílias abastadas – orientavam-se muito mais para esse
arquétipo, enquanto hoje ele é bastante curto, o que se mostra claramente pela
típica licença-maternidade e pelas determinações de proteção à mãe, no caso
daquelas que trabalham. Algumas semanas antes e alguns meses depois do
parto devem bastar. Mas esse período não é su ciente, pois a Lua precisa de
tempo e vive de seus ritmos.
Só pode entender esse tempo marcadamente feminino quem se prepara a
fundo para o arquétipo da Lua. Mas depois ca claro de onde vêm todos os
estados de espírito durante a gestação, que também se estendem ao período de
amamentação. Por que às vezes as lágrimas simplesmente caem sem razão e por
que o parto sempre vem seguido de um pouco de baby blues. O fato de que
hoje este se tornou um tema tão dominante tem a ver justamente com a pouca
atenção e o pouco tempo dedicados ao tema da Lua, que se mostra, sobretudo,
em aspectos como o humor e as lacunas de disposição.
Nesse ponto também pode car claro por que a carreira é tão pouco
compatível com a maternidade, como se chamava anteriormente esse período.
A carreira pertence a um âmbito de princípio primário totalmente diferente, ou
seja, o Sol, que não poderia ser mais oposto.
Somente agora o princípio da Lua volta a ser descoberto e avança
lentamente com seu ritmo, mas de forma cada vez mais intensa, na vida da
mulher. Sobretudo quando os lhos se tornam mais raros e cada vez menos
mulheres se sentem atraídas pela maternidade, simplesmente porque não têm
vontade de fazer coisas para as quais não há salário nem reconhecimento, como
cuidar, se preocupar e consolar, transmitir proteção e tornar um lar
aconchegante e acolhedor, é que chega, então, o grande período do princípio
da Lua. Os políticos passam a criar prêmios para novas crianças, a distribuir
amplas recompensas para famílias com lhos, e os tempos passarão, uma vez
que eles descobrem as famílias apenas durante as campanhas eleitorais e, em
geral, logo depois voltam a esquecê-las. A lei da polaridade cuidará disso.
2.9 Educação
filhos
Quase todos os pais querem o melhor para seus lhos, pelo menos aqueles que
leem um livro como este. Só que, muitas vezes, eles não sabem o que é o
melhor para os pequenos. Perguntar a eles não costuma ser ideal, pois, de
acordo com a experiência, as crianças tendem mais do que os adultos a se
decidir pela solução mais simples e pela satisfação momentânea de sua vontade.
Normalmente, também são bastante conservadoras; apesar da curiosidade em
muitas esferas da vida, preferem deixar tudo por conta dos adultos no que se
refere a questões essenciais. Com relação a isso, também costumam ser
surpreendentemente egoístas. Nesse sentido, a educação requer muito mais do
que simplesmente condescender com os pequenos adoráveis.
Em alguns aspectos, seria bom tratar as crianças como se tratam os adultos,
sabendo muito bem que não são como eles, principalmente porque ninguém
pode dizer com certeza qual a idade da alma. Defender esse tratamento
igualitário seria defender a igualdade de direitos; porém, em outros aspectos,
isso simplesmente não funciona. Para descobrir do que a alma infantil precisa e
o que ela quer, comprovou-se como e caz recorrer a auxílios simbolicamente
relevantes e a pequenos truques, que só à primeira vista dão a impressão de
serem divagações, mas à segunda conferem uma visão bastante orientada à
vivência infantil.
A maioria das crianças precisa e até quer ser educada. Elas reagem muito
bem a acordos como: “Você será tratado do mesmo modo como está se
comportando”. À medida que a criança pode e quer assumir uma
responsabilidade, ela também recebe mais liberdade e direito de
autodeterminação. Assim, as crianças aprendem no cotidiano, de maneira
totalmente concreta, que suas palavras, suas ações e suas decisões acarretam
consequências – e que a liberdade também sempre tem a ver com a
responsabilidade.
2.10.1 A família representada em figuras de animais
As meditações induzidas, que podem muito bem evoluir para histórias antes de
dormir, oferecem eventualmente uma possibilidade mais praticável. Quando a
história toma um rumo que faz a criança fechar os olhos e imaginar todo o
cenário, ela própria também pode começar a falar e a descrever suas imagens
mentais. A maioria das crianças ca feliz em fantasiar e revestir seus desejos
com imagens. Mesmo no que se refere a âmbitos muito livres, vê-se muito
rapidamente o que ocupa o mundo de imagens anímicas da criança.
Obviamente, tudo que é concebível externamente pode ser realizado nesse
plano interno de imagens, mas, além disso, uma in nidade de coisas. A família
em forma de animais também pode apresentar-se nesse plano; por isso, é
melhor ter em seguida um modelo xo, como uma folha de papel, as guras
dispostas ou sapatos, que podem ser fotografados para esse m.
No plano interno das imagens anímicas, quase tudo é possível, do
planejamento de uma grande festa de aniversário até terapias futuristas e
incrivelmente e cazes, ainda não disponíveis na medicina real. Uma criança
que tenha tido precocemente acesso a essa dimensão terá condições de
encontrar um inestimável apoio, que em situações patológicas mais graves
poderá até salvar sua vida.
Se as crianças aprenderem desde cedo esse tipo de fantasia, mais tarde terão
vantagens em muitos níveis. Quase não há campo na vida que não lucre com a
possibilidade, no plano interno, de olhar retrospectivamente para a superfície
das aparências. Com o tempo, ca mais familiar e mais fácil lidar com as
imagens anímicas; as próprias imagens tornam-se mais expressivas e claras.
Assim, consegue-se cada vez mais penetrar a essência das coisas. Quando então
as imagens míticas e de contos de fadas do inconsciente coletivo se unem ao
próprio imaginário pessoal, toda a vida se inspira e se torna mais plena. Os
sonhos noturnos tornam-se mais vivos e direcionados, e a vida pode ser
vivenciada como outra forma de sonho. Assim, desde cedo já se pode preparar
o caminho para uma vida de sonho. Quem abre ou mantém aberto para seu
lho o mundo das imagens anímicas, presenteia-o com um tesouro precioso. E,
ao mesmo tempo, os pais, nesse caso, dispõem do método mais elegante para
ter acesso à alma da criança.
Através das histórias contadas antes de dormir, entre outras, dos contos de
fadas, das lendas e dos mitos, consegue-se um acesso mais fácil e pessoal.
Também há CDs com histórias predeterminadas ou meditações, que há muitos
anos se mostram e cazes.[14]
Tanto os ritmos quanto os rituais con áveis dão segurança e aliviam a vida
sobretudo de crianças pequenas, mas às vezes também das maiores, de um
modo que os pais modernos geralmente já não conseguem entender. Rudolf
Steiner dizia: “Toda vida é ritmo”.
Traduzida na prática, essa questão é a base ideológica da empresa
farmacêutica Wala, cujos medicamentos não têm sua duração prolongada com
conservantes químicos; ao contrário, mantêm sua vitalidade porque respeitam
os diversos ritmos naturais. Richard Alpert, ex-professor de Harvard, que
posteriormente se tornou o guru Ram Dass, disse: “Toda vida é dança”. Com
isso, ele formulou a mesma verdade com outras palavras, pois a dança também
vive de ritmo. E muito mais antiga é a formulação “tudo ui”: panta rhei – um
princípio fundamental atribuído ao pré-socrático Heráclito. Mas o que ui
desencadeia ritmo, que é visível nas ondas. Por m, a física moderna mostra
que toda vibração é o que, por sua vez, o ritmo traz para a vida.
Para a vida da criança, os ritmos têm uma importância decisiva. Ela precisa
deles para permanecer saudável e se desenvolver. A forma mais simples de
conferir-lhe um ritmo estável é embalando-a nos braços, o que toda mãe faz
espontaneamente e já fez de maneira inconsciente com sua respiração durante a
gravidez. A passagem para o mundo exterior, onde, nesse sentido, a criança está
mais por conta própria, é facilitada quando ela consegue, desde o princípio, ter
acesso a seu próprio ritmo. Segundo minha experiência, uma possibilidade
ideal é oferecida por um sistema de vibração suíço chamado de “Sleepy”. Ele
consiste em quatro pequenas semiesferas azuis, que são colocadas nas hastes
verticais de sustentação ou no canto do berço. Só isso já é su ciente para fazer
com que todo o berço, através da mistura do ritmo da respiração e do
batimento cardíaco da criança vibre de maneira suave, quase imperceptível,
mas muito e caz. Assim, o estímulo ao sono é impressionante e facilita os
rituais para que o bebê adormeça e que costumam ser tão trabalhosos.
Além disso, esse sistema traz excelentes resultados para lactentes que sofrem
de cólicas aos três meses e para crianças com TDAH, o que se explica da
seguinte maneira: crianças com TDAH sentem muito pouco o próprio corpo,
por isso têm a constante necessidade de se movimentar. A sensação do próprio
corpo compõe-se de diversos fatores, entre os quais o sistema vestibular no
ouvido interno é especialmente importante. Com o sistema de vibração, o
ouvido interno recebe durante toda a noite um leve estímulo, o que deveria ser
determinante para o mencionado efeito bené co.
No que se refere ao ritmo, também é importante que as crianças possam
crescer em um ambiente con ável, com regras temporais e uma rotina regular,
que já poderia começar com os devidos períodos de amamentação. Ritmos de
sono e vigília também devem fazer parte dessa rotina. Obviamente, esses ritmos
sofrerão adaptações com o avançar da idade; entretanto, mesmo mais tarde,
para muitas crianças continua sendo importante poder con ar em uma rotina
regrada.
Entretanto, é imperativo fazer uma distinção entre a cadência apagada e xa
e o ritmo vivaz. O ritmo vive, conhece exceções, e os tempos não devem ser
mantidos de forma rígida; o ideal é que se deem como esfera da vida a partir da
necessidade do convívio. Assim como os ritmos respiratório e cardíaco sempre
se adaptam às necessidades atuais, os ritmos do dia no contato vivo entre as
pessoas também se renovam constantemente. E, apesar disso, ou justamente
por causa disso, eles transmitem segurança.
Regras xas, como são conhecidas nos internatos rigorosos e nas escolas
severas, signi cam o oposto do ritmo vivaz, obrigam a uma cadência que é
estranha à vida. Na medicina, um batimento cardíaco rígido é sinal de ausência
de regulação autônoma e fornece um prognóstico muito ruim quanto à
expectativa de vida.
Seria um bom conselho aos pais se eles criassem um ambiente em que
houvesse espaço para necessidades individuais, ou seja, por assim dizer, como
uma estrada com seus guard-rails, que preestabelecem a direção, mas são as
crianças que devem escolher a faixa por onde circular.
Rituais exíveis e conciliados individualmente ajudam os ritmos naturais a
conseguir uma brecha também no mundo moderno. Eles vivem de campos
estáveis. Quando muitas pessoas fazem a mesma coisa ao mesmo tempo, um
campo se desenvolve. A seguinte sentença exprime essa relação com clareza:
“Quando uma pessoa sonha, tem-se um sonho; quando muitas sonham,
desenvolve-se uma nova realidade”. Os campos se fortalecem à medida que
muitas pessoas se ajustam a eles, ou seja, os carregam com mais intensidade.
Nesse sentido, é importante que todos na família não apenas participem dos
campos, mas também os carreguem emocionalmente consigo. Um ritual bem
estruturado antes de dormir pode anular o estresse de ir para a cama ou, pelo
menos, aliviá-lo em parte. De modo semelhante, rituais no início do dia
podem tornar mais fáceis atividades tão pouco inspiradoras como escovar os
dentes e lavar-se. Mesmo as atividades vistas como desagradáveis, como a
arrumação, podem tornar-se um ponto alto no mundo familiar quando são
relacionadas a um belo ritual em conjunto. Para tanto, pode contribuir uma
música adequada ou uma conversa enquanto se lava e seca a louça. Na era das
máquinas de lavar, talvez seja difícil encontrar rituais de trabalho em conjunto,
mas quem procura também nesse caso encontrará.
Em geral, somente mais tarde as crianças conseguirão avaliar o quanto esses
rituais reforçam a estrutura familiar. Portanto, os pais não devem desanimar
muito rápido se, no início, apesar do grande empenho e da motivação bem-
intencionada, as crianças se mostrarem recalcitrantes e contrariadas. Qual a
criança que prefere lavar a louça ou arrumar o quarto a fazer justamente o que
lhe dá prazer? Que o trabalho em conjunto pode proporcionar alegria é algo
que deve ser aprendido e, mais tarde, consolidado com rotulações pretensiosas
como “espírito de equipe”.
Mas, naturalmente, os rituais e os campos também podem ser mal
utilizados, tanto nas famílias como na política. Eles não são bons nem ruins;
tudo depende de como são utilizados e com que objetivo.
Quando a vida da criança adquire uma esfera con ável através de um ritual
matutino ou noturno, muito se ganha – para a infância, mas também para toda
a vida futura. Do ponto de vista espiritual, trata-se, em última instância, de
viver a vida inteira como um grande ritual consciente. Contanto que outros
pequenos rituais se acrescentem, as chances aumentam. Se todo ato de lavar as
mãos, amplamente superestimado por seu valor higiênico, se transformasse em
um ato de “lavar as mãos na inocência”, ele voltaria a adquirir grande valor e,
precedendo as refeições, estas teriam igualmente mais chances de se
transformarem em um verdadeiro ritual.
Em vez de se aprontar de manhã na frente do espelho, o que quase toda mãe
faz e transmite à lha, sem reconhecer esse ato em seu terrível duplo sentido,
também podem ser encontrados rituais construtivos para iniciar o dia. Em
todo caso, xingar-se diante do espelho e sobre a balança é a pior maneira
concebível de começar o dia. Sensato seria, antes, uma meditação, por
exemplo, com os movimentos do qi gong e do tai chi, uma série de exercícios
como a oração ao Sol, praticada no yoga ou no campo da já mencionada
ginástica consciente. Esses exercícios são rápidos e, de tempos em tempos,
sempre aumentam a exibilidade e a capacidade de adaptação, além de
signi carem um acréscimo mensurável à inteligência.
Se esses rituais não forem possíveis por motivos de tempo, muitas vezes
basta respirar conscientemente por cinco minutos embaixo do chuveiro ou
desenvolver hábitos que não custem nenhum tempo adicional, como iniciar o
dia sempre de maneira agradável, por exemplo, sendo despertado pela música
preferida, e não pelo despertador.
Para encerrar o dia, recomenda-se um ritual como a “meditação de retorno”,
que passa em revista os momentos mais importantes do dia. Assim, a criança
aprende desde cedo a encerrar regularmente seu dia. Mesmo quando tarefas e
trabalhos caram incompletos, a aceitação desse fato é sempre uma boa
possibilidade de terminar o dia, o que possibilita um adormecimento e um
sono tranquilos. Em crianças maiores, escrever um diário também pode trazer
alívio.
Quanto mais vezes e mais cedo uma criança aprende a fazer de hábitos
conscientes seus rituais, tanto melhor será seu desenvolvimento e tanto mais
facilidade terão os pais para educá-la. Quando isso se estabelece, também ca
fácil atualizar os rituais, caso o envelhecimento e as progressivas fases de
desenvolvimento assim exijam.
No que se refere ao tema “ritmo”, todos os respectivos exercícios, de dança à
equitação, mas também a simples caminhada, são uma boa possibilidade. Se as
crianças tiverem di culdade com seu próprio ritmo, é bom ensiná-las desde
cedo a caminhar com bastões de apoio, como é comum nas caminhadas em
montanhas e atualmente também se tornou moda com o nordic walking
(caminhada nórdica). Se os braços e as pernas entram em um ritmo comum, a
criança acaba praticando a coordenação motora, o que a ajudará, mesmo em
outras áreas, a encontrar mais facilmente o próprio ritmo e o próprio caminho.
Por certo, só o fato de marcar os compassos de uma música já é um
exercício de ritmo adequado, que está no sangue de todos nós. Adultos
também tamborilam os dedos a qualquer momento todos os ritmos possíveis
no volante do carro e balançam os pés em toda ocasião, apropriada ou não.
Ainda hoje, a maioria das pessoas em sociedades arcaicas é de músicos e,
essencialmente, percussionistas. Como todos nós temos esses ancestrais, o
ritmo do tambor logo se torna nossa segunda natureza. Quando as crianças
vivem essa referência desde o início, isso também as ajudará mais tarde em
muitas situações. Nesse sentido, tocar instrumentos de percussão seria,
obviamente, o acesso mais fácil.
Acalentar os bebês também é sempre uma forma de conferir ritmo, e é desse
ritmo que viria o efeito tranquilizador. Bem mais tarde, ainda reagimos
positivamente a esses impulsos: sentamos em cadeiras de balanço, em balanços
de jardim, dormimos em camas que balançam e dançamos balançando os
braços. Apaixonados passeiam de canoa ou nas clássicas gôndolas de Veneza em
acalentadoras viagens de lua de mel. Como toda vida é ritmo, damos mais vida
à vida de nossos lhos quando os induzimos a vibrar e a balançar. Mas, na
maioria das vezes, isso não é necessário, pois eles buscam gangorras e balanços
de maneira totalmente espontânea e por puro prazer, trazendo movimento para
a vida. Com efeito, assim também se preparam. Essas considerações podem até
parecer simples, quase evidentes e banais, mas ajudam a prevenir distúrbios do
sono e outros distúrbios do ritmo, e até de modo divertido. A pergunta: “Você
quer ir comigo?” signi ca, antes: “Você consegue me acompanhar no mesmo
ritmo?” Ela também mostra claramente quão importante é o ritmo conjunto e
permite perceber se duas pessoas conseguem participar juntas de alguma coisa e
vibrar juntas. O exercício mais fácil de ritmo é dormir em uma cama que oscile
ou balance (“Sleepy”), o que é possível fazer em todas as idades.
o bem-estar
2.16.1 Riso
O ideal seria que uma criança já viesse equipada com uma boa porção de
con ança primária, sobre a qual pudesse construir sua autocon ança para
conquistar o mundo com coragem e determinação. Se nos primeiros meses
decisivos da gestação houver de ciências nesse sentido, da falta de con ança
primária resultará facilmente uma falta de autocon ança, difícil de ser
compensada mais tarde na vida. De grande auxílio podem ser os exercícios que
apresento no livro Schwebend die Leichtigkeit des Seins erleben [Experimentando
a Leveza do Ser na Levitação]. Porém, infelizmente, crianças pequenas e,
sobretudo, lactentes quase não têm condições para isso.
Em substituição, recomendo aqui exercícios adequados para desenvolver a
con ança (mais do que isso eles não podem ser, pois a verdadeira con ança
primária cresce apenas a partir da experiência de unidade, que só pode ser
vivida nos primeiros meses de gestação). Eles ocorrem nas chamadas peak
experiences ou experiências de pico, aqueles momentos mágicos em que, por
exemplo, como cavaleiro, a pessoa se sente unida ao cavalo e percebe que a
felicidade deste mundo está, de fato, no dorso do animal, ou em que, após uma
longa caminhada na montanha com a mochila nas costas, todo o peso da
existência cai de seus ombros e a pessoa se sente unida a Deus e ao mundo e
profundamente ligada a eles.
Para crianças pequenas, consideram-se exercícios como pular ou deixar-se
cair de um muro baixo nos braços do pai ou da mãe. Deixar-se cair em uma
coberta, que é segurada como uma cama elástica, pode intensi car essa
experiência. As crianças que aprenderam a utuar na água também devem ser
encorajadas a pular ou deixar-se cair lenta e conscientemente na água. Por m,
cair de maneira totalmente consciente, e até de cabeça, na água, que é o
elemento da alma, pode ser um exercício libertador para uma criança, contanto
que ela seja adequadamente preparada e convidada a isso como a um ritual. As
possibilidades são cada vez maiores, e o importante é que não surjam nem
ambição nem concorrência, que ambas pertençam ao polo masculino e não
favoreçam o surgimento da con ança (primária). Quando as crianças ousam,
por exemplo, pular nas águas escuras de um lago pantanoso é porque alguma
coisa aconteceu no plano psíquico.
O chamado “círculo de con ança”, no qual a criança ca no meio e se
enrijece, para em seguida, ao cair, sempre se deixar segurar por um círculo de
outras crianças ou também de adultos pode ajudá-la igualmente a se soltar. Já
pela postura das pernas é possível ver se elas estão rígidas ou se denunciam
pequenos passos de medo, até onde a criança chega e até que ponto consegue
con ar em alguém.
Um exercício prazeroso para soltar-se em qualquer idade é também o
inventado pelo terapeuta norte-americano Milton Trager, no qual cinco pessoas
se reúnem ao redor de outra e cada uma movimenta suave e delicadamente
uma parte do corpo dela. Duas se ocupam das pernas e outras duas dos braços,
e a última, da cabeça. Por meio desses exercícios totalmente individuais e nada
sincronizados – eventualmente acompanhados por uma música suave e
delicada – a criança perde o controle sobre as partes de seu corpo e pode, por
m, sentir prazer e con ança ao soltar-se. O exercício termina em uma
magní ca disposição de serenidade e profundo relaxamento. Essa disposição
torna-se ainda melhor dentro d’água, à temperatura do corpo e com uma
atmosfera adequada, que lembre aquela do nascimento.
Em geral, os exercícios do chamado trabalho na água, que, na realidade, são
tudo menos trabalho, mostram-se muito apropriados para dar con ança às
crianças (e a adultos que buscam contato com sua criança interior). Por um
lado, porque fazem lembrar o período intrauterino, uma vez que a água
(termal) deve ter a temperatura corporal de 36 graus como o líquido
amniótico. Por outro, porque visam a que a pessoa se solte e alcançam esse
objetivo de modo suave, feminino e lunar; portanto, totalmente adequado às
crianças. Estamos falando de “aqua-e-motion”, pois a água evoca todas as
emoções possíveis que estão ligadas ao mundo aquático anterior. Como bem
diz o nome “e-motion”, essas emoções emergem a partir de dentro (o verbo
latino emovere signi ca “mover-se para fora”), colocam-nos em movimento e,
em seguida, permitem que nos soltemos e nos deixemos cair.
Por m, todos os desa os assumidos pela criança são adequados para criar
con ança em um mundo a ser dominado. Nesse sentido, os pais podem
facilitar muitas coisas por meio de um acompanhamento sensível. Quem
aprende desde cedo a resistir em vez de recuar, a posicionar-se em vez de fugir,
irá avançar com con ança e integridade, em vez de passar furtiva e
timidamente pela grande oportunidade da vida. Isso tem efeitos não apenas na
postura externa, que se abate na coluna vertebral, nosso eixo no mundo, mas
também, sobretudo, na postura interna, que determinará como essa pessoa se
posicionará mais tarde na vida perante todas as outras.
Um exemplo adequado nesse caso seria uma variação da “cabra-cega”, que
também se mostrou muito e caz com adultos em meus seminários: um
acompanhante conduz a criança, que tem os olhos vendados, a diferentes
lugares e faz com que ela sinta e exercite, além da con ança, diferentes
estímulos sensoriais.
2.16.3 Todo dia uma boa ação ou espírito de equipe para iniciantes
De acordo com o provérbio, os ratos deixam o navio no último porto antes que
ele naufrague. Com efeito, os animais são capazes de sentir o perigo de
erupções vulcânicas, terremotos e tsunamis e de fugir em tempo. Eles também
teriam um “nariz” para as coisas importantes da vida (e da sobrevivência) e
talvez até um sentido especial. Foi o que Rupert Sheldrake, descobridor dos
campos morfogenéticos, documentou e provou com elementos su cientes em
seu livro Der siebte Sinn der Tiere [O Sétimo Sentido dos Animais]. Portanto,
se os animais nos são semelhantes em muitas coisas e ainda mais sensíveis do
que nós, é evidente que podemos con ar-lhes métodos de cura baseados na
sensibilidade, sobretudo porque, em regra, seus sistemas energéticos são menos
bloqueados do que os dos homens modernos.
No campo restrito do centro médico em Johanniskirchen, pudemos
observar que dois de nossos quatro gatos sempre procuravam car perto dos
pacientes na sala de espera e preferiam aninhar-se em regiões do corpo deles
afetadas por algum problema. Quem alguma vez já sentiu a suave vibração de
um gato ronronando sobre a barriga dolorida perde suas dúvidas iniciais sobre
a e cácia dessa “terapia”. De resto, se até os pelos de gatos mortos são utilizados
em casos de reumatismo, quanto não devem ser ainda mais e cazes os bichanos
vivos que ronronam alegremente? Em todo caso, no centro médico desistimos
de todas as nossas tentativas iniciais de afugentá-los da sala de espera e
acabamos por aceitá-los como “coterapeutas” bem-vindos, para não falar da
alegria que davam às crianças pequenas e grandes da cidade.
Os animais nos mostram, principalmente, a forma mais e caz da terapia,
que é dar e receber amor. Fazem de tudo por seus parceiros humanos e, muitas
vezes, mantêm-se éis a eles depois da morte. Na relação entre crianças e
animais, vê-se claramente quão forte o amor pode ser. Quanto maior o abismo
que o amor deve superar, tanto mais forte ele se torna. Romeu e Julieta
amavam-se muito além dos abismos sociais, e a lenda mostra que esse amor foi
mais forte do que a morte. Muitas histórias de amor que se tornaram famosas
seguem esse modelo até os nossos dias, como no lme Titanic. As crianças
amam seus animais para além de um abismo muito maior, que é o que separa
um reino da natureza de outro.
É preciso ter matado a criança interior para se comportar com os animais
como costumam fazer os adultos no mundo moderno. A minoria das crianças
deseja consumi-los ou torturá-los. A maioria quer acariciá-los, alimentá-los e
amá-los. Também nesse aspecto deveríamos voltar a ser como as crianças. Elas
ainda parecem sentir que somos de espécie semelhante e, como os irmãos e as
irmãs mais velhos se responsabilizam pelos menores, gostam de fazer o mesmo
com os animais. O budismo e o cristianismo franciscano correspondem àquilo
que, por um lado, é a compaixão por todos os seres sencientes e, por outro, é o
desejo de voltar a ser como as crianças.
Praticamente toda criança tem um profundo anseio de ter um irmão mais
novo na gura de um animal. Esta seria uma oportunidade especial para os
lhos únicos. Em regra, de maneira bastante concreta, as crianças também
querem ter a seu lado um animal que seja seu aliado, e para os pais nem sempre
é fácil dissuadi-las justamente desse animal. Transformar esse desejo pelo
animal adorado como totem em uma grande quantidade de animais de pano,
fáceis de cuidar, é mais perversão do que caricatura, mas corresponde à moda
moderna, que não quer saber de animais vivos, que se adapta ao que está morto
e que é inadequado. Porém, mesmo um animal de pano pode se tornar um
acompanhante útil. Quando o bicho de pelúcia assume um lugar no mundo
mágico da criança, embora não possa lhe transmitir capacidade de
relacionamento e empatia, em tempos de crise pode lhe transmitir o
sentimento de segurança que é tão necessário.
Na verdade, quem, por interesses de “adultos”, impõe a uma criança a vida
na atmosfera hostil da cidade grande deveria car feliz por escapar dela de
modo oportuno ao adquirir um animal aliado. Obviamente, o ideal seria se a
criança pudesse viver internamente com esse animal da alma e senti-lo
externamente. Quando externamente isso não for possível, o nível interno se
tornará ainda mais importante e irrenunciável.
Atualmente, os aspectos positivos desse tipo de relação entre homens e
animais podem ser alicerçados até mesmo pela ciência. James Lynch,
psico siólogo norte-americano, recomenda cães como parceiros terapêuticos
para hipertensos, pois esses pacientes costumam ter problemas com a
autoridade, tendendo a ser ríspidos com quem lhes é subalterno e submissos
com quem lhes é superior, o que só intensi ca seus problemas. Com animais
domésticos como cães, eles poderiam, por assim dizer, comunicar-se no mesmo
nível, sem se irritarem.
Hoje é comum encontrarmos distúrbios de comunicação entre as gerações.
Entretanto, na prática, os animais domésticos sempre viabilizam para as
crianças uma comunicação saudável e responsável. Elas aprendem a assumir a
responsabilidade pelos mais fracos, a estar ao lado de alguém, a cuidar de
alguém com alimento e afeto, e recebem esse afeto de volta de maneira
extraordinária. Quando os pais trabalham fora, necessariamente se produzem
dé cits que os animais conseguem captar com sua maneira cativante. As boas
histórias de animais, de antigamente até hoje, com cavalos que vão de Fury a
Flicka, gol nhos e baleias que vão de Flipper a Willy, mas também com cães,
desde Lassie, passando por Rin-Tin-Tin, até Rex, comprovam a necessidade de
encontrar no animal um verdadeiro parceiro, um companheiro para a vida
toda.
2.16.4.2 Animais como terapeutas
“Estou cozinhando.”
“Dai-me o poder de criar a febre, e eu curarei toda doença”, já sabia o lósofo
grego Parmênides muito antes de nossa época. Febre não é doença, embora
todo o organismo seja acometido e prejudicado. A criança está preparada para
combatê-la e quer colocar à prova as próprias capacidades (de defesa),
confrontando-se com a ameaça vinda do mundo exterior (bactérias, vírus, etc.).
Em princípio, esse calor do combate é bom e somente possível em um
organismo saudável, que ainda pode ter febre e está pronto para assumir a luta
pela vida em sentido gurado. O objetivo ansiado é lutar contra agentes
patogênicos, aniquilá-los, cozinhar por dentro, queimar esses perturbadores da
paz e, assim, restaurar o equilíbrio no corpo. Na maior parte dos casos, já não
encontramos febre nos antecedentes de doentes crônicos, como os alérgicos, os
imunode cientes ou os pacientes que sofrem de câncer. As crianças modernas,
que hoje são tratadas praticamente desde o nascimento com vacinas,
antibióticos e outras medidas repressoras, muitas vezes já carecem logo cedo
desse sinal de uma defesa saudável. Falta-lhes essa reação vital e, com ela, o
amadurecimento do sistema imunológico, a disposição para o combate, bem
como a proteção natural a partir de suas próprias forças.
A cada grau de febre duplica-se o desempenho do sistema imunológico, e
toda febre o treina para ações posteriores. Assim, a disposição ativa de defesa do
corpo contra agentes patogênicos torna-se uma formação rumo a uma
personalidade independente e apta para a vida. Muitos pais vivenciam isso na
autoconsciência reforçada da criança após uma crise de febre. Realizou-se um
processo de amadurecimento. Essas crianças podem assumir sua vida de forma
totalmente diferente, testar seus limites ou também protestar e brigar. Têm
respostas prontas, são cheias de entusiasmo e conseguem tomar decisões com
coragem, seguindo perfeitamente o lema “desde cedo se exercita quem
pretende se tornar mestre”. Pré-requisito para isso é que a criança possa ter
febre – eventualmente alta – e, assim, superar o problema de base. Nesse
processo, ela precisa lidar com sua capacidade de sofrer e com seus próprios
limites. Tal como os adultos, as crianças aprendem não quando todas as
di culdades são retiradas do seu caminho. Ao contrário, elas precisam ser
acompanhadas e apoiadas com amor e total con ança enquanto passam por
suas crises e as dominam. Assim, conseguem sair amadurecidas e fortalecidas
das doenças infecciosas superadas com seus acessos de febre.
Expressões como “ansiar febrilmente por alguma coisa” deixam muito claro
o tema agressivo da febre, a mobilização geral do corpo como uma preparação
para uma grande insurgência. Na prática, é relativamente frequente encontrar
crianças que adoecem em datas como Natal ou aniversário, porque aguardaram
a festa ou a comemoração com tanta ansiedade que literalmente caram febris.
Não viam a hora de convidar os amigos e comemorar, mas não conseguiram
expressar essa alegria adequadamente. Assim, o tema se personi ca como febre
no palco que é o corpo.
medo de cães
hipertermia, sol
Aconitum C30 Belladonna C30
bebidas frias
pulsantes
Piora com À noite, até à zero hora, quarto Ruído, luz, barulho, contato
a cabeça/cortar os cabelos
que paralisado
notícias ruins
Ferrum phosphoricum C30 Gelsemium C30
moderada
rachados
urina, consolo
antes de um temporal,
emoções, agitação
Bryonia C30 Apis C30
fechado
para proteger-se
dirige a palavra
quando há febre
Eupatorium perfoliatum C30 Rhus toxicodendron C30
esforço excessivo
vomitadas
febre e herpes
movimento continuado,
e úmido
cabeludo sensível
Pulsatilla C30 Nux vomica C30
marmorizadas
Pulsatilla C30 Nux vomica C30
Piora com Calor, no fim da tarde, à noite, Frio, corrente de ar, depois de
da meia-noite
mundo
4.3 Sarampo
4.4 Caxumba
4.5 Rubéola
A rubéola apresenta um quadro clínico inofensivo, pelo menos se comparada
ao sarampo. Após duas ou três semanas de incubação, ela geralmente decorre
sem complicações, de forma atenuada, com um pouco de mal-estar e sintomas
não especí cos, semelhantes aos da gripe. Algumas vezes, notam-se inchaços
nos gânglios linfáticos do pescoço, atrás do esternoclidomastoídeo, músculo
responsável pelo movimento rotatório da cabeça. Mais raramente ocorrem
inchaços na região inguinal. Contudo, de modo geral, esse fenômeno também
é irrelevante e não necessita de terapia. A temperatura do corpo eleva-se um
pouco, sempre abaixo dos 39°C. A leve erupção cutânea inicia-se quase sempre
atrás das orelhas, com pequenas manchas, e, na maioria das vezes, desaparece
em algumas horas.
Embora geralmente não precise de tratamento, a rubéola é uma doença
necessária, pelo menos para as meninas, uma vez que, durante a gravidez, pode
causar doenças devastadoras para o embrião. O perigo dessa embriopatia torna
necessário determinar o título nas meninas antes da puberdade, e nunca
ministrar diretamente a vacina. Como em geral a rubéola transcorre de forma
tão atenuada que pode passar totalmente despercebida, pode acontecer que já
haja anticorpos su cientes que protegem mais do que uma vacina. Qualquer
médico pode realizar a determinação do título. Em vez disso, muitos médicos
tradicionais que não levam em conta os perigos da vacina costumam aconselhar
logo a vacinação. Nesse caso, é recomendável procurar outro médico.
Medidas de apoio:
► Nenhum tratamento: na maioria das vezes, a rubéola não necessita de
tratamento.
► Nenhuma vacina: apenas se não houver nenhum anticorpo, para as
meninas é fundamental a vacinação ainda antes da puberdade. Para os
meninos, a vacinação é irrelevante.
4.6 Coqueluche
A coqueluche ou pertussis é desencadeada pela bactéria Bordella pertussis. Além
do pulmão, são tratados os temas “contato”, “comunicação” e a necessidade
nascente de liberdade, sentida pela criança. Especialmente à noite – e por isso
se enfatiza o mundo do inconsciente –, surge a tosse seca, incessante e,
portanto, não libertadora. A criança ainda não quer nem pode trazer para fora
a agressividade que se impõe a partir do reino inconsciente da alma. Desse
modo, no início, a tosse é improdutiva, ou seja, quase não promove a
expectoração.
Por um período que pode durar de uma a mais de três semanas, uma luta
crescente, muitas vezes intensa e desesperada, é conduzida por ímpetos de
agressividade incontroláveis. Acessos de tosse que mais parecem latidos e são
exaustivos – interrompidos por uma inspiração tipicamente ofegante –
costumam desencadear outros acessos mais fortes ainda. A criança oferece um
quadro agressivo, rumoroso; ela tosse alguma coisa ao mundo (ao ambiente) e
até cuspindo e vomitando nele quando a tosse é muito forte. Assim, ela logo se
torna o centro de atenção da vida em família. Mesmo um pai que, em outras
circunstâncias, é menos afetuoso não consegue car alheio a essa saraivada de
tosse vinda de pulmões esgotados. A verdadeira guerra no âmbito da
comunicação também pode ser sentida na família, na qual tudo se torna mais
difícil quando um membro luta no campo mais externo. De acordo com sua
ressonância, obviamente todos se lembrarão de algum problema de
agressividade ou liberdade não resolvido.
O que acontece nos pulmões, muitas vezes acompanhado de convulsões,
também atinge a região do estômago e do esôfago, causando ânsia de vômito e
sensação de sufocamento. É como se a alma da criança quisesse expelir pela
tosse e pelo vômito tudo que é estranho a seu interior, promovendo, assim,
uma limpeza abrangente. Em casos extremos, até mesmo o ar respirado com
tanto esforço é vomitado junto com o muco ou expelido com os acessos de
tosse.
A criança expõe claramente sua agressividade represada e concentrada e
pratica a revolta, quando não a guerra. Ela luta por sua própria expressão e
liberdade, conquista com muito barulho o centro do interesse e, durante
semanas, não o abandona. Desse modo, não poupa nem os pais nem a si
mesma, menos ainda seus pulmões, que sofrem grave falta de ar com as
contrações e os acessos de tosse. Por conseguinte, esses testes de resistência para
os nervos de todos os envolvidos podem levar ao rompimento de tecidos e à
bronquiectasia, ou seja, à dilatação dos brônquios através do rompimento de
estruturas internas dos pulmões. Contudo, em geral, nas crianças essas
estruturas também voltam a se refazer. Em contrapartida, a febre no sentido da
mobilização geral só aparece raramente. Ao que parece, a temática da
agressividade é revelada por acessos de tosse.
O fator mais tranquilizador nesse período de acirrada luta é saber que, na
maioria das vezes, a doença tem um decurso típico, que prevê uma piora nas
três primeiras semanas e, por m, atenua-se lentamente. Com o tratamento
homeopático nunca presenciamos os terríveis efeitos colaterais acima
mencionados.
Do ponto de vista da homeopatia, a coqueluche é uma doença infantil
importante, que não apenas ajuda as forças de agressividade em sua
manifestação nal – forças essas que, de maneira igualmente “incômoda”,
começaram com o nascimento dos dentes –, mas também compõe um quadro
clínico que pode levar a uma mudança de constituição. Não raro, crianças que
tiveram coqueluche tornam-se nitidamente mais vivazes e aptas para a vida.
Em termos homeopáticos, a herança tuberculínica costuma enfraquecer-se
posteriormente.
De modo geral, trata-se de uma manifestação acompanhada por intensas
explosões de agressividade em um novo estágio do desenvolvimento – a criança
tem de lutar para dar esse passo rumo a si mesma e à sua nova liberdade.
Obviamente de forma inconsciente, ela quer conquistar uma nova posição na
família e na vida, colocando-se no centro através da dura decorrência de sua
doença. Assim, de maneira igualmente inconsciente, ela reivindica o tempo
integral dos pais ou, pelo menos, da mãe.
Nessa fase do desenvolvimento, os pais podem reconhecer, em si mesmos e
na vida do lho, a agressividade como princípio (primordial) vital e ajudá-la
ativamente a se manifestar. Obviamente, acessos de tosse que duram semanas
também podem provocar toda a agressividade represada da mãe, especialmente
quando ela está por conta própria em períodos de luta tão acirrada. O ideal
seria resolver com igual coragem os próprios con itos interpessoais. Isso
esclareceria indiretamente às crianças que elas podem iniciar sua vida com
engajamento e luta e devem aprender a se impor.
Como geralmente, no período de doenças infantis graves, as mães têm de
lutar com a escassez de sono e o esgotamento e cam cronicamente
sobrecarregadas, esses con itos interpessoais precisam ser adiados para depois
da doença. Do pai se exige uma grande porção de tolerância, bem como a
disposição emocional ativa para ajudar a resolver esse con ito. Se o tema for
tratado de modo construtivo na família, para todos ele proporcionará um passo
rumo à união.
Seria importante fazer com que crianças que não demonstram (ou não
conseguem demonstrar) nenhuma agressividade conhecessem esportes
adequados. Estes podem ir do rugby e do futebol, passando pelo hóquei no
gelo, até um saco de boxe pendurado em casa. Em princípio, todos são esportes
ligados à ideia de agressividade, mas também, e sobretudo, esportes de luta,
que cada vez mais são praticados também pelas meninas.
Em todo caso, o tema básico nesse período exige muita força e coragem. Ele
gravita em torno de uma educação que visa um uso corajoso da energia, bem
como em torno da ideia de arriscar a vida para enfrentar incisivamente seus
desa os e lançar os alicerces para aquela preciosa atitude que se mostra mais
tarde na vida como coragem civil.
A coqueluche é realmente perigosa para lactentes nos seis primeiros meses
de vida. Na visão da maioria dos terapeutas, nesse caso deve-se rapidamente
fazer uso de um antibiótico. Em contrapartida, o pediatra Martin Hirte trata
também os lactentes que sofrem de coqueluche sem antibiótico, pois o único
efeito desse medicamento seria abreviar a fase contagiosa. Depois da primeira
semana da doença, os antibióticos já não fazem sentido, uma vez que a tosse é
desencadeada não pelas bactérias, mas pelos danos já causados aos brônquios.
A vacina contra coqueluche – assim como todas as vacinas que sempre
pressupõem um sistema de defesa especí co – desenvolve tarde, a saber, um
ano depois, sua total e cácia. Aos lactentes, que ainda não produzem
anticorpos, as vacinas não podem trazer nenhum benefício. Com essas vacinas
duplamente perigosas em uma fase precoce em que o cérebro ainda está se
desenvolvendo, alguns médicos transmitem aos pais uma suposta segurança
que falta até mesmo aos fundamentos da medicina tradicional. Por essa razão,
no primeiro ano de vida, as vacinas não deveriam ser aplicadas simplesmente
por serem perigosas. Todo o restante que se diz a respeito é ilusão de quem as
produz.
Nesse sentido, é imprescindível e necessário manter os lactentes afastados de
crianças com tosse. Uma distância de cinco metros seria aconselhável como
precaução. Medidas como cobrir a cabeça com fraldas de pano são bem menos
seguras.
Medidas naturopáticas de acompanhamento seriam, por exemplo, as
compressas feitas com queijo quark. De resto, o repouso, quando possível entre
os acessos de tosse, é decisivo. Também tem efeito bené co a mudança de ares,
que geralmente é muito bem aceita pelas crianças, como férias na praia ou nas
montanhas, visitas a grutas impressionantes (com estalactites e estalagmites) ou
ainda estábulos com vacas e cavalos. Nesse caso, pouco importa se o que
predomina é a atmosfera especial ou a mudança de humor. Mesmo alterações
abruptas de pressão atmosférica podem ter um efeito bené co, por exemplo, a
decolagem ou o pouso rápido de um avião.
Do ponto de vista psicológico, é útil transigir excepcionalmente com a
criança em questões con ituosas, ou melhor, sempre que possível, não deixar
que surjam diferenças nem lutas pelo poder, uma vez que os con itos
aumentam a disposição para a tosse ou os “ataques”, o que evidencia a relação
com o tema da agressividade ou de Marte. Depois de longos períodos de
reconvalescença, é sempre recomendável planejar uma mudança de clima.
Medidas de apoio:
► Repouso e relaxamento: em geral, os ataques ocorrem de maneira mais
atenuada quando os pais proporcionam um ambiente tranquilo e
relaxado. Eles não devem transmitir nenhuma ansiedade à criança, uma
vez que isso poderia piorar consideravelmente os acessos de tosse.
► Postura positiva e con ante: os pais devem adotar uma postura positiva e
con ante, a m de apoiar a criança em seu processo de amadurecimento.
► Alimentação: oferecer com frequência refeições leves e em pequenas
porções, como frutas, verduras e arroz.
4.7 Catapora
Esse quadro clínico, que costuma ser o primeiro em lactentes ou bebês, pode
ser considerado o primeiro treino imunológico da vida. Ele não oferece perigo.
Como na maioria das vezes a febre dos três dias se torna relativamente intensa e
a temperatura do corpo pode chegar a 40°C, infelizmente os médicos
tradicionais costumam aplicar vacina, em detrimento do desenvolvimento da
criança.
Sobretudo mães jovens com o primeiro lho se assustam com essa febre, que
não é tão dramática para crianças pequenas, e buscam auxílio médico. Todavia,
praticamente não há necessidade de tratamento. Quase sempre, os sintomas se
limitam à febre; raras vezes ocorre além dela um exantema com leve
descamação, que também não deveria dar motivo para preocupação. Nesse
caso, para a febre, vale o que já foi dito anteriormente. Seria recomendável
permitir à criança esse treino para sua defesa e observar como ela vence a sua
primeira luta nessa área com as próprias forças, ou seja, auxiliada apenas pelas
células de defesa que – é de esperar – ela recebe regularmente por intermédio
do leite materno.
Medidas de apoio:
► Não fazer a febre baixar: a única coisa perigosa da febre dos três dias seria
adotar um tratamento da medicina tradicional com o uso de
antipiréticos.
► Outras medidas: ver o Capítulo 3 “Febre”.
4.9 Escarlatina
No que se refere a esse tema, não con e de maneira acrítica em médicos nem
em farmacêuticos, pois ambos podem lhe dar conselhos que visam promover
seu próprio negócio e que, por conseguinte, prejudicarão seu lho. É melhor
pensar por si mesmo!
Além do que foi dito até agora, essa frase provocadora já revela que, a partir
de nossa experiência, desenvolvemos uma aversão às vacinas, que, no entanto,
não é generalizada. Por exemplo, quando uma menina antes da puberdade não
teve nenhum contato com a rubéola, nós também – tendo em vista uma
eventual gravidez – vacinamos oportunamente, contanto que já não tenha
havido um contato despercebido com a doença, o que pode ser con rmado
através da determinação do título.
Não consideramos adequada uma oposição categórica às vacinas; antes,
somos favoráveis a uma vigilância crítica. Nossa preocupação é fornecer aos
pais informações sobre o tema, bem como suas consequências, para que eles
realmente possam decidir com responsabilidade, e não intimidados por uma
propaganda parcial, que os impele a uma direção, da qual mais tarde podem se
arrepender. As incríveis possibilidades de manipulação da opinião, que vão das
multinacionais farmacêuticas até a corrupção rotineira de supostas revistas
especializadas, foram reveladas, por exemplo, por um relatório do programa
“Frontal 21”, da rede de televisão Zweites Deutsches Fernsehen, em 9 de
dezembro de 2008.
Portanto, somos convocados a re etir sobre o sentido da vacinação. Após a
descoberta da relação com o destino na loso a espiritual, não podemos
absolutamente nos negar a olhar para a esquerda e para a direita antes de
atravessar a rua, seguindo o lema “O que tiver de acontecer acontecerá”.
Segundo um provérbio árabe, “Con e em Alá, mas não deixe de amarrar seu
camelo”. Portanto, podemos vacinar, desde que ponderemos cada vacinação.
Entretanto, após nossas experiências com as vacinas aplicadas hoje em dia,
somos obrigados a desaconselhá-las em ampla medida – especialmente aquelas
em doses múltiplas.
Com o tempo, isso pode mudar. Pelo menos, a indústria começou, com
algum investimento, a substituir o iomersal, conservante com mercúrio de
muitas vacinas, supostamente inofensivo, mas há muito tempo considerado
inadequado pelos homeopatas. Seja como for, termômetros com mercúrio
também merecem ir para o lixo especial. A nal, o que essa substância tem a ver
com o corpo da criança?
Também nos perguntamos por que agora sua substituição gerou custos, se
durante décadas foi considerada inofensiva. Muitas questões sobre esse tema
não foram esclarecidas. Como se justi ca, por exemplo, o fato de que,
antigamente, a vacina Salk contra a poliomielite, substituída pela forma oral,
foi retirada do mercado devido à ocorrência de várias mortes e hoje retorna por
supostamente já não oferecer nenhum perigo? Teria alguma coisa a ver com o
fato de que, nesse meio-tempo, muito mais pessoas morreram em consequência
da vacina oral, de maneira que a Organização Mundial de Saúde foi obrigada a
proibi-la, e espera-se que a população já não se lembre dos argumentos contra a
vacina Salk? Ou então, por que a indústria precisa encenar um pânico como o
ocorrido em torno da chamada gripe aviária? Por que os médicos não
contradizem esse teatro? Seria pelo fato de que esta foi a ocasião ideal para
superar a chamada má vontade da população em se vacinar?[20]
Em princípio, a história da medicina ocidental infelizmente mostra
reiteradas vezes que a opinião cientí ca de hoje é o erro de amanhã. Contudo,
aqueles pais que pretendem trilhar o corajoso caminho (quase) sem vacinas têm
de saber que caminharão contra o vento da medicina tradicional e, não raro,
serão vítimas de acusações e até de verdadeiras ameaças. Na Itália, as vacinações
são obrigatórias e contam até com força policial. Entretanto, de modo geral, a
pediatria italiana está entre as mais deploráveis que conhecemos. Na França
não é diferente. Ao que consta, nesse país, crianças sem vacina não podem
frequentar o jardim da infância, e os pais que se recusam a vacinar seus lhos
em idade escolar podem até perder sua guarda.
Nos países mais liberais de língua alemã, quem não quiser vacinar seu lho
tem de criar para ele um lar que lhe transmita proteção e saúde su cientes para
que ele possa desenvolver suas próprias forças com toda a tranquilidade. Nesse
sentido, a vida moderna, que a criança passa a conhecer melhor aos oito meses
na creche, a m de não impedir que a mãe tenha uma carreira, é pouco
adequada. Em contrapartida, quando existe um ninho protetor ideal, que
compreende o aleitamento por longo período e poucas pessoas de referência
em um ambiente caseiro e que seja mantido nos três primeiros anos com
ritmos seguros e alimentação integral, as crianças podem se desenvolver
incomparavelmente melhor sem as vacinas e encontrar uma vitalidade sem
igual. Mesmo o excesso de estímulos que faz parte da vida moderna precisa
car longe desse ninho. Nesse sentido, os pais prestam o melhor serviço até a si
mesmos se renunciarem à televisão.
Viagens longas também são desaconselhadas no caso de crianças pequenas,
uma vez que em outras regiões do mundo predominam situações
microbiológicas totalmente diferentes, que podem sobrecarregar o sistema
imunológico da criança. Na África, por exemplo, a poliomielite é endêmica
como diarreia, ou seja, ocorre em toda parte; mas isso não implica que leve
automaticamente ao quadro patológico completo, que inclui a paralisia.
Além disso, não faz diferença se a caixa de areia se encontra na própria casa
ou no playground do hotel em um continente distante. Por outro lado, do
ponto de vista psicológico, é problemático renunciar a muitas coisas, pois uma
criança pequena também percebe isso na forma de repreensões implícitas.
De extrema importância para um caminho sem vacinas é a assistência
con ável por meio de homeopatas experientes, uma vez que parte dos pediatras
que seguem a medicina tradicional recusa-se até mesmo a tratar de crianças não
vacinadas e, de modo geral, recorrem rápido demais à artilharia pesada, como
cortisona e antibióticos.
Se as crianças já tiverem sido vacinadas, nem tudo está perdido, mesmo que
sejam necessárias algumas ações por parte da homeopatia, a m de compensar
danos que tenham surgido em decorrência das vacinas e que podem determinar
uma vida inteira. Entretanto, essas ações são possíveis e sempre valem a pena.
Muito diferente seria se, depois de consumada toda a orgia de vacinas, a
criança continuasse a ser tratada com antibióticos e antipiréticos em suas crises
ao longo da infância e da adolescência. Embora em tempos recentes esses
recursos ainda funcionem – e neles residem os verdadeiros “sucessos” de uma
medicina baseada na química –, eles logo lançam os alicerces de todas as
doenças crônicas, contra as quais a medicina tradicional luta relativamente em
vão em uma fase posterior da vida, no que se refere a soluções e, de modo mais
lucrativo, aos custos. A repressão à ocorrência de doenças graves leva – em
muitos casos, de maneira comprovada – a sintomas posteriores.
Excepcionalmente, até estudos realizados pela medicina tradicional provam
isso. Por exemplo, se nos dois primeiros anos de vida a criança é submetida a
um tratamento à base de antibióticos, ela correrá um risco 50% maior de se
tornar alérgica no futuro. Portanto, o enorme aumento de alergias é totalmente
explicável e marcadamente produzido pelo uso indiscriminado de antibióticos.
Estes devem ser reservados apenas a situações em que haja algum risco de vida;
do contrário, são eles que ameaçarão a vida através das alergias e outros
sintomas crônicos.
6.1 Cefaleias
6.2 Enxaqueca
visão
7.1 Conjuntivite
7.2 Terçol
7.4 Estrabismo
e ao ouvido
8.3 Otite
O tema “obedecer” é vivido e trabalhado sob a máxima dor. Muitas vezes, ele é
aprendido em períodos em que a criança pequena ainda não consegue entender
as coisas no sentido dos adultos. A consequência é o treinamento comum.
Segundo o lema “quem não quer ouvir tem de sentir”, muitas crianças
aprendem a obedecer por necessidade e à força. A linguagem não deixa dúvidas
quanto ao dilema. Quando se obedece à força, no máximo desespero da dor, se
aprende no sentido do re exo condicionado, e não por compreensão.
Os que têm mais vitalidade poderiam expressar o con ito na resistência
vivida; os que têm menos, em sua representação como otite. Com isso, sempre
sinalizam que a mediação entre as exigências externas e a compreensão interna
não funciona. Os mais fracos simplesmente se deixam treinar e, junto com a
resistência, também desistem de muita con ança e esperança.
No ápice das queixas, quando a pressão sobre o tímpano sensível se torna
muito grande, pode ocorrer uma ruptura espontânea no sentido da chamada
perfuração do tímpano. Esta não é tão ruim quanto muitas vezes interpretam
os médicos acadêmicos; ao contrário, a perfuração do tímpano alivia
momentaneamente a dor, desativando o sintoma agudo.
Quem sente que vai estourar deveria, como sempre, tentar resolver o
problema no nível gurado. Quem não consegue extravasar suas necessidades,
na melhor das hipóteses terá o tímpano perfurado e sentirá, pela primeira vez,
um alívio imediato. Outros tipos de “estouro” no corpo logo se tornam
ameaçadores para a vida.
Uma criança que se sente pressionada e talvez de fato esteja sob pressão em
seu ambiente porque, por exemplo, desde cedo os pais enfatizaram a questão
da obediência, acaba por se libertar dessa pressão, ainda que,
momentaneamente, apenas no nível físico do ouvido. Em última instância,
trata-se, naturalmente, de alcançar esse alívio e a redução da pressão em sentido
gurado. O ideal é que os pais ajudem seu lho nesse processo, colocando-se
em seu lugar e compreendendo seus desejos e suas necessidades.
A otorreia que, por m, geralmente acaba se estabelecendo não deve ser
reprimida de modo algum. Ela alivia o organismo e, do ponto de vista
homeopático, também é uma excreção desejável. A sucata de guerra que se
produziu no ouvido médio durante o con ito tem de ser desviada. Mesmo no
sentido gurado, aquilo que é velho, ultrapassado e gasto deve car para trás.
Simbolicamente, a otorreia mostra com muita clareza a que ponto uma pessoa
pode “ car farta” de alguma coisa. Quando isso acontece, a criança quer se ver
de nitivamente livre do que a estorva.
Em geral, o tímpano se fecha sozinho depois de algumas semanas, sem
causar problemas. Por meio de seus procedimentos, os médicos acadêmicos
também deveriam constatar que o todo é pouco afetado. Em otites de
reincidência crônica, eles até utilizam uma técnica para romper o tímpano,
cortando-o em um ponto especí co para a inserção do chamado tubo de
ventilação na membrana do tímpano. Na maioria das vezes, porém, os recursos
naturais são melhores; pelo menos, é a natureza ou o médico interno a escolher
o momento mais favorável.
Logo após a otite, a audição pode sofrer uma redução considerável devido à
efusão do tímpano. Essa redução na audição revela que o problema (ainda) não
está resolvido e que a criança sente a necessidade de continuar a isolar-se no
nível corporal, pois, no sentido gurado, ainda não consegue preservar
su cientemente seu espaço interno em relação às exigências externas.
Além do trabalho psíquico, no sentido de compreender que, em seu íntimo,
a criança se volta para si mesma ao mesmo tempo em que se fecha (através dos
ouvidos) para o mundo exterior, que ela tenta penetrar novos espaços da
consciência e que se esforça para ouvir vozes interiores e exteriores e aprender a
obedecer-lhes, nessas situações deveriam ser empregados medicamentos
homeopáticos especí cos e escolhidos individualmente. Desse modo, é mais
fácil garantir que a audição ruim não prejudicará a longo prazo o
desenvolvimento da linguagem nem o contato social.
Muitas in amações começam parcialmente, sendo que o ouvido esquerdo
indica o estresse mais emocional enquanto o direito indica aquele mais
racional. Contudo, elas também podem passar de um lado para outro ou
atingir os dois ouvidos ao mesmo tempo, o que impede a criança de ouvir e
participar de tudo aquilo que lhe interessa. Obviamente, nessa situação, ela
tampouco irá obedecer.
No consultório pediátrico, as mães quase sempre relatam uma evolução
típica em relação a seu lho, o que simpli ca a escolha dos medicamentos
homeopáticos. Assim, muitas mães aprendem a encontrar sozinhas, logo no
início da otite reincidente, o medicamento adequado. Se isso já é bom, ter
sensibilidade para compreender a situação subjacente é ainda melhor.
Segundo as descobertas mais recentes da medicina acadêmica, ministrar
antibióticos é um erro, sobretudo porque, em geral, é totalmente desnecessário
e quase sempre acarreta efeitos colaterais no trato digestório, sem contar o
aumento terrível da predisposição a alergias. Mesmo pediatras de orientação
alopática conseguem bons resultados com analgésicos e descongestionantes;
porém, de modo geral e comparativamente à homeopatia clássica, esses
medicamentos não são su cientes.
Como agentes desencadeadores externos da escalada do con ito que implica
a audição, a atenção e a obediência, são considerados banhos de piscina, car
com a roupa molhada, vento frio, excesso de esforço físico, irritação, con itos
na educação. Vacinações precoces também favorecem o inchaço dos órgãos
internos de defesa, como as tonsilas palatinas faríngeas e as mucosas em geral, o
que, por sua vez, favorece a obstrução do nariz, bem como congestões, que
acabam se propagando no órgão da audição. Acrescente-se a isso uma
intolerância latente ou manifesta à proteína do leite ou uma alergia. O
consumo habitual e elevado de produtos lácteos em países industrializados
também contribui para a escalada.
Como possível complicação, deve-se considerar a mastoidite ou in amação
da apó se mastoide, que provoca um abaulamento do pavilhão auditivo das
crianças. Com o tratamento homeopático adequado, ela quase sempre pode ser
evitada, o que é absolutamente necessário devido ao perigo da propagação da
in amação para as estruturas sensíveis da região, como o cérebro. Em quase
todos os casos, isso pode ser evitado com uma interpretação sensível e um
acompanhamento homeopático adequado. Obviamente, também aqui seria
melhor agir preventivamente, fazendo com que as crianças possam encontrar
outras válvulas de escape que não o tímpano, que pode estourar, e outras
expressões corporais.
Perguntas para os pais:
► O que nosso lho já não aguenta ou não quer ouvir (brigas, discussões,
excesso constante de estímulos através do rádio ou da televisão)?
► Como ele pode se defender ou deixar claro o que quer?
► Como podemos ouvi-lo melhor?
►
Em que circunstâncias lhe impusemos situações para as quais ele ainda
não está maduro e que o sobrecarregaram, e como podemos mudar isso?
► Como podemos criar para ele as possibilidades necessárias para que ele se
“liberte”?
► No que se refere à obediência, nossas exigências são adequadas ou
excessivas e restritivas?
► Como podemos permitir-lhe liberdades novas e adequadas?
► Será que ele precisa de mais tranquilidade? O que ele já não consegue
deixar que se aproxime dele ou tenha acesso a ele?
► Em que situações ele se encontra sob pressão?
► Como podemos ajudá-lo a lidar de modo construtivo com os problemas
(a partir dos 2 anos)?
► Nosso lho consegue ouvir sons autênticos, por exemplo, através de
instrumentos musicais ou do canto?
► Quando não prestamos atenção na vida?
Medidas de apoio:
► O “saquinho de cebolas”: pique uma cebola fresca e coloque-a num lenço
de pano, de maneira que este absorva todo o seu sumo. Feche o lenço
com ta adesiva, para que os pedacinhos de cebola não caiam. Também é
possível encher uma pequena meia de algodão com cubinhos de cebola, o
que corresponde mais a um saquinho. Em seguida, coloque o lado
umedecido sobre a orelha afetada e xe-o com uma faixa, para que a
criança possa mover-se livremente ou para que o saquinho não escorregue
enquanto ela estiver dormindo. Muitas crianças também gostam de
manter uma bolsa de água não muito quente na orelha, o que auxilia na
saída dos óleos etéreos. Algumas crianças, porém, rejeitam totalmente o
tratamento com bolsa de água.
As substâncias ativas da cebola atuam detendo a in amação e aliviando a
dor. Deixe o saquinho com a cebola na orelha durante a noite ou troque-o
durante o dia a cada uma ou duas horas por um novo. Esse procedimento
pode ser realizado durante todo o dia, até as dores melhorarem. Em minha
prática diária, observei verdadeiros milagres quando esse tratamento era
aplicado ao primeiro sinal de dor. Em algumas crianças, a situação já se
atenua depois de poucas horas. Desde que comecei a trabalhar no
consultório, nunca foi necessário prescrever antibióticos para esse caso!
► Exposição à luz vermelha: a uma distância segura de cerca de cinquenta
centímetros, pode-se expor a criança à luz vermelha por até vinte
minutos. Esse procedimento pode contribuir aliviando a dor, mas precisa
ser aceito pela criança. No caso de crianças pequenas, é útil contar
histórias que envolvam a luz vermelha. É aconselhável distrair a criança
lendo para ela em voz alta.
► Gotas para o ouvido só são adequadas se houver a certeza de que o
tímpano não está rompido, pois, do contrário, o líquido pode chegar ao
ouvido médio. Para tanto, é necessário fazer um exame com o otoscópio.
Soluções caseiras para pingar nos ouvidos, feitas de óleo de oliva e sumo
de cebola, mas também as gotas de levístico ou acônito (ambas da Wala)
podem auxiliar. Aqueça o frasco da solução na mão ou no bolso da calça e
pingue apenas de uma a duas gotas no ouvido da criança. Faça com que
ela permaneça deitada e imóvel por alguns minutos, para que as gotas não
saiam do ouvido.
► Gotas para o nariz: é necessário manter o nariz desobstruído para que o
ouvido médio possa ser mais bem arejado. Nesse sentido, preparados
prontos a partir de uma solução siológica de sal de cozinha, mas
também de gotas de eufórbio para o nariz, da empresa Heel, mostraram-
se e cazes. Mantenha os pés aquecidos com uma bolsa de água quente.
► Perfuração do tímpano: não raro, o tímpano estoura, produzindo secreções
aquosas, com pus ou sangue. Não há razão para preocupar-se. Não se
deve interromper nem impedir o escorrimento da otorreia. Ela pode
acontecer durante algumas semanas com intensidade variável e é uma
indicação importante para a escolha de um medicamento homeopático
de apoio, a ser prescrito pelo homeopata.
► Febre: ver o Capítulo 3 “Febre”.
►
Di culdade de audição após a otite: nesse caso, recomenda-se um
tratamento homeopático constitucional. Como medida de apoio,
empregam-se as velas Hopi sempre nos dois ouvidos, três vezes por
semana. As velas acesas devem ser colocadas na criança deitada (de
preferência, à noite, antes de dormir). Por meio delas, o tímpano é
suavemente massageado e aquecido, o que pode aliviar a retenção de
secreção e trazer “movimento” para a situação crônica de congestão. O
tratamento com velas nos ouvidos deve ser realizado durante, no mínimo,
de quatro a seis semanas e não representa nenhum problema quando se
esclarece com carinho à criança sobretudo para que serve o procedimento
com a pequena chama. Na maioria das vezes, a criança ca tão relaxada
que acaba adormecendo durante o tratamento, o que o facilita ainda
mais. De maneira alguma retire os restos da vela com cotonete! Ao longo
de todo o tratamento, é recomendável que o procedimento seja
acompanhado de escalda-pés (descrito no tema “enurese” [seção 15.2]), a
m de estimular o sistema imunológico.
► Auto-hematoterapia potencializada: ver a seção “11.2 Dermatite atópica e
crosta láctea”.
à direita
auditivo vermelho
palpitações, sensível ao
barulho, assustadiço
Ferrum phosphoricum C30 Chamomilla C30
à direita
e úmida
longo do dia
Apis C30 Pulsatilla C30
bebidas frias
Lachesis C30
lado direito
o dedo no ouvido
“Engoli o su ciente.”
A garganta é o local por onde o ar e o alimento são assimilados e onde ocorrem
a ligação e a comunicação com o mundo exterior através da linguagem.
Quando há dor de garganta, a passagem estreita é palco de uma árdua batalha.
Um caso agudo de amigdalite pode provocar dores consideráveis e bloquear
amplamente a deglutição. Em casos crônicos, com as tonsilas palatinas muito
inchadas, a qualidade de vida é constantemente prejudicada. A vida torna-se
estreita na região da garganta. Com o inchaço e o fechamento do espaço, surge
naturalmente um estreitamento que produz medo.
As tonsilas palatinas são como fortes que protegem um vau. Quando nelas
ocorre uma rebelião, elas incham e tornam a deglutição dolorosa. Essa dor
pode ser tão intensa que a criança, por m, se recusa a deglutir. Em sentido
gurado, ela não aceita mais nada, ou melhor, já não quer engolir como até
então. A pobre criança, a quem até agora nada mais resta, começa a lutar
agressivamente. Nesse período precoce, é natural que se tenha de deglutir em
muitos níveis e que as repreensões dos pais sejam determinantes. Mas os
tempos mudam para as crianças mais rápido do que para seus grandes
protetores, que às vezes só percebem isso tarde demais.
Para os pais, trata-se de descobrir o que seu lho luta para recusar e o que
“ ca entalado em sua garganta”. Eles veri cariam as poucas possibilidades de
que a criança dispõe para se servir de sua opinião ou manifestar sua falta de
vontade. Com o tempo, ela precisa aprender a expressar sua agressividade não
apenas sicamente, por meio da febre, mas também a defender-se de outro
modo e aceitar novos desa os e provocações, isolando-se e fechando-se
declaradamente quando sentir necessidade. O objetivo a longo prazo precisa
ser o de aprender a dizer logo cedo, de modo incisivo e corajoso, “não” ou
“sim, eu quero”. (Outras interpretações encontram-se na seção “4.9
Escarlatina”.)
Perguntas para os pais
► O que nosso lho já não consegue deglutir ou aceitar?
► Por que ele se fecha?
► Como podemos ajudá-lo a decidir sozinho o que ele quer “engolir” e
contra o que tem de se defender?
► O que está entalado na garganta do nosso lho?
► Por que ele não consegue se defender de outra forma?
► Do que ele precisa se isolar?
Medidas de apoio:
► Renunciar ao leite e ao iogurte.
► Dar para a criança chupar sorvete de fruta feito em casa, com suco de
frutas diluído.
► Fazer gargarejo com chá de sálvia (impede o crescimento de bactérias,
vírus e fungos). Dar três gotas de Symbio or 1. Deixar que a criança
chupe balas de sálvia sem açúcar.
► Tintura de própolis: dez gotas em um copo d’água para fazer gargarejo.
► Tintura-mãe de tormentilha: dez gotas em um copo d’água para fazer
gargarejo.
► Chá de tília: para fazer suar.
► Umckaloabo: dosagem de acordo com a idade (ver instrução na
embalagem).
► Bandagens: com queijo quark, cebola ou sal, compressas com a solução
pronta “Retterspitz”. Bandagens com batatas: amassar batatas muito
quentes ou quentes e com elas fazer uma compressa (para estimular o
escoamento da linfa e obter um bom efeito em dores de garganta que
reagem ao calor).
8.6 Resfriado
8.7 Sinusite
“Estou com tosse. Vão às favas!” – “Estou com muco. Preciso bajulá-los!”
Quando há tosse e bronquite, trata-se de um con ito típico na área de
comunicação das vias respiratórias. Além dos brônquios, os canais de ligação
entre o mundo interior e o exterior são afetados. A diferença em relação à
pneumonia reside no fato de que, na bronquite, são acometidas as vias de
transporte do ar, enquanto na primeira são acometidos os alvéolos, ou seja, as
pequenas cavidades pulmonares como locais em que ocorre a verdadeira troca
de ar. Já não é possível desviar do problema, e o perigo de falta de ar na
pneumonia é muito maior. Contudo, há transições, como as
broncopneumonias, que naturalmente têm suas características inerentes e
indicam que a comunicação está bloqueada em várias vias. A criança pode, de
fato, sentir-se sufocada por falta de comunicação.
Por conseguinte, na bronquite, con itos reprimidos se estabelecem
simbolicamente nos locais adequados para eles. A criança tosse em vez de
mandar alguém às favas. Nas crianças pequenas, a chamada bronquite
obstrutiva produz muco em demasia devido aos processos metabólicos
excessivos. Esse muco preenche as vias respiratórias e provoca como reações os
respectivos acessos de tosse e falta de ar. Portanto, as vias de comunicação são
obstruídas com temas psíquicos em forma de muco. Na bronquite espástica,
trata-se de agressividade contraída, que cou por muito tempo represada.
Devido ao esforço, as vias respiratórias são comprimidas, e a criança tenta
respirar de maneira patética. Em crianças pequenas, não raro por trás disso se
encontram con itos crônicos dos pais, que não conseguiram resolvê-los e os
transferiram para os lhos. Isso se torna evidente especialmente entre pais
fumantes, que, sem exceção, também sofrem de bronquite e já sobrecarregam
os lhos no ventre materno.
Já vimos mães que se deixam prender pelos lhos quando estes sofrem um
acesso de tosse. Isso acontece, sobretudo, quando a criança, diante da
problemática da mãe, percebe que, com a tosse e a secreção de muco, recebe
mais da mãe do que em razão do trabalho que lhe dá ou da concorrência com
os irmãos. Nesse sentido, a bronquite pode, de fato, ser aprendida como uma
fonte mais segura de tosse e muco. Infelizmente, o mesmo também se pode
dizer de todas as transições da bronquite asmática até a asma brônquica.
Para os pais, o desa o está em submeter as próprias estruturas de
comunicação a uma revisão e em avaliar se não estão buscando a discussão de
modo mais ofensivo, se estão travando seus con itos em nível verbal e se não
deveriam ousar contrariar um ao outro. Além disso, poderiam tentar melhorar
a ligação anímica interna com seu lho, para que a troca entre eles fosse mais
fácil e a comunicação uísse melhor. Com a disposição para o con ito e a
coragem para aceitar desa os, seria possível ajudar muito mais cedo a criança
que, no que diz respeito à comunicação, ainda está totalmente abandonada.
(Outras interpretações podem ser encontradas nas seções “9.3 Pneumonia” e
“4.6 Coqueluche”.)
Perguntas para os pais:
► Ver a seção “9.3 Pneumonia”.
Medidas de apoio:
► Podem-se escolher diversas bandagens torácicas, de acordo com as
necessidades de cada criança:
Compressa com queijo quark: espalhar o queijo quark magro em um pano
de prato, na proporção da espessura do cabo da faca, e colocar o pano
sobre o tórax. Cobrir todo o tronco com uma toalha de rosto e,
eventualmente, manter a temperatura moderada com uma bolsa de água,
pois a criança não deve sentir frio em hipótese alguma. As bandagens
podem ser trocadas de três a quatro vezes por hora ou aplicadas por mais
tempo durante a noite.
Bandagem de suco de limão diluído: aquecer o suco de meio limão em
três quartos de litro de água quente, mergulhar uma toalha no líquido,
torcê-la e enrolá-la no tronco da criança. Cobri-la com outra toalha e,
eventualmente, reforçar o aquecimento com uma bolsa de água quente ou
travesseiro de caroço de cereja.
Bandagem de tomilho: fazer chá de tomilho e proceder conforme descrito
na bandagem de suco de limão.
Bandagem de folhas de repolho: cozinhar folhas grandes de repolho por
um a dois minutos em água fervente, até amolecerem. Em seguida,
colocá-las se possível quentes no tronco da criança, cobri-la com uma
toalha e, conforme descrito acima, reforçar o aquecimento.
Bandagem de óleo de lavanda: pingar óleo de lavanda (10%) em uma
toalha e com ela cobrir o tronco da criança. Conforme descrito
anteriormente, reforçar o aquecimento. A toalha embebida em óleo pode
ser reutilizada por cerca de uma semana; deve-se apenas pingar mais
algumas gotas do óleo de vez em quando.
Bandagem de cera de abelha, adquirida em farmácia.
Bandagem de manteiga: friccionar o tórax da criança com manteiga
derretida, colocar um pano atoalhado seco e quente ou uma toalha de
rosto por cima, vestir o pijama e pôr a criança para dormir.
► Oferecer bastante líquido.
► Chás para a tosse: duas colheres de chá de ervas para um quarto de litro de
água; deixar pousar por dez minutos e coar. Para crianças acima de um
ano, dar uma xícara três vezes ao dia. Crianças menores de 1 ano ainda
não suportam grandes quantidades de chá para a tosse. É melhor recorrer
a chá de funcho.
Anticonvulsivos: tomilho, anis, cavalinha.
Expectorantes em caso de tosse seca: tanchagem, raiz de prímula.
Calorí cos: ores de sabugueiro, raiz de gengibre.
Calmante para a mucosa: malva.
Para aquecer bem e relaxar: ores de tília.
► Inalação: apropriada para crianças maiores, a partir da idade escolar, e
para crianças menores quando a mãe também se colocar embaixo da
toalha de rosto. Possíveis suplementos são o tomilho (duas colheres de
chá), sal (quatro colheres de sopa) ou óleo de raiz de angélica (três gotas).
Aplicação: colocar em uma tigela o suplemento escolhido e dois litros de
água quente, mas não fervente. Cobrir a cabeça com uma toalha de rosto
e mantê-la inclinada sobre a tigela. Por dez minutos, inspirar
alternadamente pelo nariz e pela boca o vapor bené co. Atenção: devido
ao risco de queimaduras, crianças não devem ser deixadas sozinhas
durante a inalação.
► Fitoterapia: a Hedera helix, da Ceres (tintura-mãe de hera), age como
anticonvulsivo.
ymus vulgaris, da Ceres (tintura-mãe de tomilho), age como
expectorante e anticonvulsivo.
Xarope Bronchicum para a tosse (raiz de prímula, tomilho) age como
expectorante e anticonvulsivo.
Extrato de plantago, da Wala (tanchagem), detém o crescimento das
bactérias e acalma a tosse.
Mel de funcho: calorí co e expectorante.
Chá de raiz de gengibre: aquece e fortalece.
► Escalda-pés: descrito no tema “enurese” (seção 15.2).
dolorido
bebidas quentes
o corpo
Rumex C30 Drosera C30
desencadeadores
seca, incômoda
boca, calor
às 23 h
coisas
Pulsatilla C30 Cuprum metallicum C30
de referência
vômito convulsivo
Spongia C30 Causticum C30
sensação de sufocamento
da cama
Spongia C30 Causticum C30
necessidade constante de
pigarrear, rouquidão
aumenta a tosse
9.3 Pneumonia
9.4 Pseudocrupe
doenças gastrointestinais
e tenso
Melhora com Ser carregada no colo a acalma Pressão, bebidas frias, calor
aplicações de calor
Piora com Ficar deitada, ficar coberta, Frio, levantar os braços, susto
estímulos externos
outra pálida
Magnesium Colocynthis C30 Lycopodium C30
Carbonicum C30
Magnesium Colocynthis C30 Lycopodium C30
Carbonicum C30
perturbada; mãe e
o suficiente
intensa
os gases
calor excessivo
tamanho de icterícia
lentilhas a ervilhas,
espumosa,
secreção ácida
está estressada
Magnesium Colocynthis C30 Lycopodium C30
Carbonicum C30
cabeça grande
10.2 Gases
“Estou fedendo!”
A criança que sente seu próprio mau cheiro libera sua agressividade
indiretamente. Ela se opõe a alguém, descarrega sua raiva (por trás) e,
“empesteando o ar”, procura manter afastadas pessoas desagradáveis, o que não
raro ofende a própria mãe. Quem afugenta os outros com bombas caseiras de
mau cheiro recorre a uma retórica fétida, bastante repugnante e desrespeitosa
no verdadeiro sentido do termo. A causa física super cial reside com frequência
em um meteorismo bem desenvolvido, que desafoga a tensão e a pressão
sofrida pelo abdômen. Por trás desse sintoma estão um intestino grosso
sobrecarregado e um inconsciente que lhe corresponde, sendo que o intestino
grosso representa o inferno, o Hades ou o reino dos mortos no corpo. Muitas
vezes, uma ora intestinal dani cada é a base física mais profunda do
sofrimento, cuja causa nos tempos modernos não raro são os tratamentos à
base de antibióticos. Só o termo já revela que são voltados contra (anti) a vida
(bios) – do ponto de vista da medicina acadêmica, é claro que se destinam a
combater a vida de bactérias; porém, na prática, muitas vezes combatem a vida
do indivíduo, que sai prejudicado com o enfraquecimento das próprias defesas.
Por meio dos gases, a criança se expressa por trás, porque, pela frente,
(ainda) não consegue ou não é ouvida. Com os gases, a energia desaparece pela
saída dos fundos. Isso é sinal de uma força de integração anímica insu ciente e
de que a criança incorpora coisas que não lhe são salutares e que, ao contrário,
cheiram mal. Nesse caso, o alimento não é digerido, e sim gasei cado, o que o
torna menos proveitoso e extremamente problemático.
A tarefa estaria em encontrar caminhos mais produtivos para que a criança
possa se expressar. Ela precisa e deve mostrar quando sente que alguma coisa
está cheirando mal, pois isso melhora toda a situação. Na prática, embora a
saída dos gases seja desagradável para o indivíduo em seu ambiente mais
imediato, para a criança é um alívio. Desse modo, ela deixa escapar o excesso
de pressão do centro do seu mundo e, com o consequente alívio, passa a sentir-
se melhor. Em contrapartida, quem segura os gases sempre acaba sofrendo mais
pressão e corre o risco de explodir como uma panela de pressão com a válvula
entupida.
As dores sentidas por causa dos gases devem ser interpretadas como um
grito de socorro da criança que perdeu seu centro. A inquietação que
acompanha o meteorismo na criança demonstra sua vontade de tornar-se mais
ativa e, em última instância, de conhecer a vida. Os distúrbios do sono,
também frequentes, representam o desejo de acordar para este mundo, mesmo
que ela exprima isso de modo ainda muito contido.
Em geral, em todas as idades, os gases pressupõem o aprendizado de soltar
oportunamente a pressão que surge e também de se exprimir de maneira
agressiva, direta e frontal, a m de não apenas empestear o ar e ser obrigado a
agir apenas por trás. Quem desenvolve a coragem para um confronto direto
pode poupar-se dos desvios e transmitir, de maneira igualmente direta, até
mesmo os conteúdos mais sombrios de seu inferno. Em última instância, como
dizem os budistas, trata-se de exercer o bhoga, ou seja, de aprender a “comer o
mundo”, o que nada mais signi ca além de digerir, ou melhor, elaborar a vida
que cabe a cada um – tudo a seu tempo e em seu lugar. Portanto, as crianças
que sofrem de excesso de gases e de agressividade represada precisam entrar em
contato com a vida e com o mundo. Assim, é aconselhável oferecer-lhes
estímulos de acordo com a idade, torná-las curiosas e sempre proporcionar
espaço para que possam espernear e dar chutes, sem com isso provocar uma
avalanche de agressividade contra os pais.
Para a maioria dos pais, os gases dos lhos não são nenhum problema. Na
amamentação, chegam a ser vistos como muito agradáveis. É uma questão de
empatia de quanto a criança é amada ou, ao contrário, desperta repugnância.
De acordo com o caráter deste livro, temos aqui de nos ocupar mais dos
“problemas”, mas também queremos dar espaço às oportunidades. Assim, até
mesmo os gases fortes das crianças, sobretudo quando elas os seguram por
muito tempo, podem transformar-se na máxima forma de amor.
No entanto, para muitos pais, a situação também pode signi car um
desa o, submetendo seu amor a uma dura prova, pois, nesses casos de excesso
de gases, eles se veem muitas vezes sob pressão. Desse modo, são desa ados a
despertar para seu lho e seu papel como pais, justamente em uma situação em
que ele causa repugnância a eles próprios e a todos, talvez de modo
constrangedor. O amor da mãe ou dos pais (livre de expectativas e exigências) é
a forma mais desenvolvida de amor na Terra e o campo de treinamento ideal
para o amor celestial (a Deus), que também é incondicional. Assim, os próprios
lhos se tornam uma grande prova, um desa o e uma oportunidade, pois
justamente nas di culdades embaraçosas que os pais têm com eles é que se
poderia desenvolver a forma especial e incondicional do amor. Nesse caso, a
criança tornaria fecundo o amor dos pais e, com ele, a união de que é fruto, em
vez de colocar esse amor à prova.
No entanto, com muito mais frequência, a gravidez sobrecarrega e prejudica
o relacionamento, e crianças que sofrem de atulência crônica mais ainda, pois
essa oportunidade de crescer dentro de um amor abnegado é desperdiçada, e os
nervos dos pais, sobretudo os da mãe, sofrem muita pressão e são expostos a
verdadeiras provas de resistência. Porém, quando ela consome todos os seus
nervos com seu lho que sofre de atulência, que incha e empesteia o ar, eles
lhe faltam no relacionamento com seu parceiro. Ela chega a se irritar com ele e
também consegue mostrar-lhe o que reprime com a criança, tal como os
adultos reprimem seus próprios gases, em geral em detrimento próprio e por
consideração ao ambiente.
Todavia, não raro o parceiro se irrita com a situação de viver com uma
criança que cheira mal em vez de sorrir e que absorve a mãe por completo,
fazendo com que ela cumpra apenas secundariamente seu papel de esposa, para
não falar naquele de amante. Assim, muitas vezes ele foge para outro quarto,
para o esporte ou para o trabalho, em vez de estar presente como pai. Essa
função exigiria dele amadurecer emocionalmente como pai, em vez de
permanecer dependente da mãe nesse campo, queixando-se de ser deixado de
lado e afastando-se.
Muitas vezes, apenas a mãe se familiariza com essa forma elevada de amor,
apesar ou justamente por causa de todos os desa os, que não apenas podem ser
exigidos, mas também estimulados do ponto de vista da alma. Depois, pode
acontecer de seus desejos mais profanos de amor a irritarem porque, cansada e
esgotada, já não lhe resta energia. Para o parceiro, que, aparentemente, nada
recebe porque nada tem e não está pronto para receber esse vazio como
aprendizado, esse amor de mãe, que lhe dá a impressão de ser provocador e
justamente atua como uma demonstração, pode lhe dar literalmente o que
sobra. Assim, para ele, não apenas a criança cheira mal, mas também toda a
situação, a tal ponto que, não raro, ele a questiona.
Nesse caso, caberia aos pais a tarefa de deixar ao critério da criança a
necessidade e a expectativa, sem dirigir cobranças um ao outro, e sim, se
possível, desenvolver juntos uma autonomia no amor: uma tarefa que muitas
vezes supera as forças dos pais modernos, que também são sobrecarregados,
embora de maneira diferente.
Perguntas para os pais:
► Como reagimos ao cheiro dos gases do nosso lho?
► Como podemos possibilitar ao nosso lho experiências adequadas à sua
idade?
► De que outro modo ele pode descarregar sua raiva?
► O que ele está reprimindo? Como pode conquistar o mundo?
► Contra quem ele está se opondo? O que eleva sua alegria de viver?
► O que ele não consegue digerir no sentido concreto e naquele gurado?
► Como podemos ajudá-lo, para que ele aprenda a enfrentar esse con ito
com coragem?
► O que nos revolta? O que nosso lho demonstra por trás porque ainda
não consegue demonstrar pela frente?
► Sentimos seus odores como sinais ou perturbação?
► Esses odores alteram a atmosfera de modo agradável ou sentimos esses
gases como “bombas pér das de mau cheiro”?
► Que tipo de ar fresco gostaríamos de ter em vez de seus gases? O que
esperamos das crianças como contribuição para o “clima” familiar?
Medidas de apoio:
► Exame de fezes: em casos de gases recorrentes ou duradouros, é
aconselhável fazer um exame de fezes, a m de se obter um quadro da
ora intestinal e dos resíduos da digestão. Dependendo do diagnóstico,
deve-se realizar uma limpeza do cólon.
► Todas as medidas apresentadas nas seções sobre dores abdominais (10.1) e
cólica dos três meses (10.1.1) também devem ser consideradas aqui.
10.3 Vômito
“Estou enojado.”
Há que se distinguir aqui entre o vômito ocasional e o frequente, bem como
aquele causado pelo leite materno, que acaba por perturbar a simbiose entre a
mãe e o lho. Em si, o vômito é uma reação saudável e, como evento isolado,
não necessita de tratamento. Com ele, o organismo expulsa aquilo que não
suporta e que deixou penetrá-lo erroneamente devido a uma falha da visão e do
olfato. O vômito chegava a ser um método da medicina antiga, com o qual não
raro se visava ao alívio. De fato, depois de vomitar, sentimo-nos nitidamente
bem melhor do que antes. Nesse sentido, não se trata aqui de uma doença nem
de um sintoma, mas de uma reação natural e importante de autodefesa.
Melhor ainda seria não ingerir algo que não poderemos suportar, pois uma
sensação oportuna de repugnância já seria um aviso su ciente. Por isso, o
vômito precoce é a segunda melhor reação e deve ser preferida à possibilidade
posterior da diarreia.
Vomitar também signi ca “entregar-se”, “deixar acontecer” e “con ar em
um acontecimento mais poderoso”. Em um navio, o indivíduo pode entregar-
se à situação do mar com suas ondas e seus altos e baixos, ou então tentar
resistir e vomitar por cima da balaustrada. Quando o estômago está revirado, o
indivíduo vomita porque não se sente livre. O estômago revira-se porque quer
livrar-se a tempo de um conteúdo inadequado, antes de causar danos maiores.
Também é possível querer devolver desse modo alguma coisa que se tomou e
com a qual não se consegue car, como no caso da bulimia, que antigamente
era chamada de “mania de ingerir e vomitar”.
Vomitar signi ca expulsar uma matéria de dentro de si, esvaziar-se, talvez
para conseguir entregar-se melhor à vida. A experiência mostra que pessoas que
praticam o jejum – ou seja, que estão acostumadas com esse vazio –
familiarizam-se melhor com novas situações, encontram muito mais facilmente
seu próprio ritmo e entram em sintonia.
Muitas vezes, o vômito infantil também tem como fundamento o excesso de
agitação. Quando uma criança não está absolutamente preparada para a
digestão, mas, apesar disso, é alimentada, ela acaba caindo em um vínculo
duplo, pois pode apresentar uma reação nervosa. Ela se encontra em uma
situação dominada pelo sistema nervoso simpático, que é o pedal do acelerador
do organismo, em vez de estar naquele do sistema nervoso parassimpático,
necessário para a digestão e que atua como um freio no organismo. Ou, em
outras palavras, a atmosfera não é propícia para a criança, pois a mãe está
agitada, inquieta e não consegue se dedicar a ela. Há muita agitação em torno
da refeição, o que, obviamente, é problemático no momento da amamentação.
Nesse caso, o vômito resulta da excitação que se re ete no estômago.
O enjoo também denota que o processo do vômito em si é algo saudável.
Quem sente náusea traz algo ruim dentro de si, e quando isso é posto para
fora, o indivíduo sente alívio e, geralmente, bem melhor do que mantendo o
conteúdo em seu organismo. Por certo, seria mais habilidoso livrar-se do mal-
estar em sentido gurado, por exemplo, “vangloriando-se” ou até “estragando
os planos de alguém” do que cuspir verdadeiramente no mundo. Mesmo
quando se expele pela boca alguma coisa com di culdade, ela sempre é
revelada.
Quem se encheu de coisas inapropriadas e indigeríveis tem de contar com o
fato de que as colocará para fora novamente. Porém, o indivíduo também sente
repugnância quando absorve muitas impressões errôneas e experiências
indigeríveis. Em seguida, tudo vem à tona e evidencia a revolta: “A situação é
insuportável”. Quando um problema vai parar no estômago como se fosse uma
pedra, arruinando o apetite, é melhor para a saúde que tudo seja posto para
fora – em caso de necessidade, também no nível físico. Do contrário, é possível
que ocorra uma irrupção em outros níveis. Quem sente muita raiva e destila
seu fel também consegue ter alívio, uma vez que libera o que o oprime. Outra
possibilidade, que não é melhor, é quebrar a cabeça até sentir dor.
Obviamente, melhor seria perceber em tempo a incapacidade de assimilar o
que está por vir e, assim, poupar-se do vômito. A tarefa consistiria em
reconhecer conscientemente a resistência e a aversão ao que é sentido como
indigerível. Portanto, é preferível aprender a revoltar-se no campo social e não
aceitar tudo que lhe oferecem, ou seja, é melhor interromper alguém a tempo,
a fazer o corpo vir em seu auxílio através do vômito. Quem reconhece a
própria raiva e a própria maldade consegue liberar com mais facilidade a
agressividade represada e reprimida. É importante aprender, desde criança, que
não faz sentido engolir e digerir tudo que lhe apresentam sob todas as
condições. Quando a pessoa se engana e permite que temas e objetos a
penetrem mais profundamente, como se fossem lhe fazer bem, vomitar no
sentido concreto e gurado é a melhor alternativa.
10.3.1 Vomitando o leite materno
A mãe deveria se perguntar: “O que meu lho não quer nem consegue aceitar
do meu leite?”, “O que estou transferindo – também em sentido gurado –
para o meu lho?” “Quero transferir isso para ele?”, “Quanto de estresse,
tensão e medo estou transmitindo pelo meu leite?”, “Das minhas preferências,
o que não é assimilável por uma criança ou, em todo caso, pelo meu lho?” e
“Quando preciso me adaptar à nova situação?”
Obviamente, o leite traz em si tudo aquilo que a mãe viveu enquanto ele era
formado. Porém, de modo bastante concreto, nele também está representado
tudo aquilo que ela comeu e, sobretudo, ingeriu. Nesse caso, deve-se pensar
igualmente nos hormônios do estresse e do medo presentes na carne dos
animais de abate. No abate em massa nos grandes matadouros, os animais
costumam vivenciar, antes de seu próprio m, a morte de dúzias de outros
animais da mesma espécie, o que neles desencadeia medo e pânico em máximo
grau. Em seguida, seu organismo libera hormônios relativos ao medo e ao
estresse. Esses hormônios se acumulam em sua carne que, quando consumida
pela mãe, os transfere para o leite materno. As síndromes de pânico que hoje
são sentidas também na idade adulta devem ter suas raízes não apenas nas
limitações cada vez maiores da sociedade moderna, mas também na questão do
abate de animais.
Sem dúvida, todas as outras substâncias consumidas também deixam seu
rastro no leite – dos venenos do prazer, como o café, o álcool e a nicotina, até
outras drogas, como as medicinais. A ingestão de determinados temperos ou
apenas de frutas cítricas pode alterar o leite materno de tal forma que as
crianças passam a ter problemas com ele, que vão desde ferimentos nas nádegas
até o vômito. Tudo isso deve ser esclarecido e regulado com experiências e as
respectivas tentativas de abstinência. Hoje também sabemos que, através do
leite, a mãe transmite ao primeiro lho uma dose considerável de mercúrio,
caso ela tenha restaurações dentárias feitas com o amálgama desse metal. A
natureza coloca, de maneira bastante evidente, o bem-estar da mãe acima do da
criança e utiliza o leite para processos de desintoxicação.
Como o leite materno é produto da alimentação e das experiências da mãe,
ao se alimentar e viver, ela deveria pensar sempre na criança. Nesse sentido, a
situação é a mesma do período de gravidez. Mesmo durante a amamentação,
ela deve continuar a pensar, comer e viver por dois.
Depois que as crianças vomitam o leite materno, as mães cam muito
preocupadas. Aparentemente, o bebê precisa e quer ser tratado como um ovo
cru. Por conseguinte, a mãe tem de pegá-lo com muito cuidado e não pode
fazer movimentos bruscos; do contrário, o leite é regurgitado. Isso signi ca que
ela tem de ser manifestamente atenta, cuidadosa e amorosa. Talvez o problema
esteja justamente nisto: as crianças querem amor e leite, e este apenas em
conexão com aquele. Com sua rejeição, elas tentam, por assim dizer, obter
obstinadamente essa conexão entre ambos.
Por outro lado, no fenômeno do leite materno logo rejeitado em detrimento
da mamadeira, muito menos saudável, poderia estar o pretexto de interromper
precocemente a amamentação. O medo por parte da mãe quanto à sua silhueta
e ao relacionamento com o parceiro poderia ser claramente percebido pelo
bebê e ter tal prioridade que ele rejeita o leite de maneira espontânea e
manifesta. A sobrecarga da mãe também poderia ser uma razão para a
“interrupção inconsciente da amamentação”, pois somente depois dela é que a
mãe consegue se liberar parcialmente do bebê e reconquistar a própria vida
com mais independência. Quando a mãe está sobrecarregada e tem de fazer
tudo sozinha, ela vê no vômito do lho uma solução quase ideal para sair da
situação em que se sente presa.
Normalmente, a mãe não vê o vômito do próprio lho com nojo. Porém,
quando ela recebe esse vômito com constância e não pode contar com uma
autocon ança sólida nem com uma segurança de base como mãe, talvez
comece a sentir repugnância. Trata-se mais de uma relutância contra a situação
que a deixa desamparada do que propriamente com nojo. Ela já não consegue
nem quer ver o vômito porque este lhe apresenta a difícil situação com toda a
evidência.
Nesse momento, naturalmente ca mais fácil para a mãe distanciar-se da
amamentação. Ao vomitar o bolo alimentar já azedado, a criança mostra o
quanto está aborrecida e o quanto a situação lhe é penosa. Assim, algumas
poucas mães punidas com desprezo e aviltamento também sentem repugnância
e vontade de guardar para si seu tesouro constituído de energia vital. A nal,
amamentar é muito cansativo. Segundo uma parteira, o dispêndio de energia
na amamentação pode ser comparado à jornada de oito horas de um operário.
No entanto, quem é punido por seu esforço e seu sacrifício com uma
linguagem corporal tão evidente também se afasta com mais facilidade. Nesse
sentido, muitas vezes as crianças que estão sempre vomitando obtêm
exatamente o contrário daquilo que de fato precisam. Em vez do amor
incondicional de mãe, são afastadas com repugnância por ela, que, intimamente
magoada, também ca muito aborrecida. Entretanto, na realidade, como todos
os outros bebês, aqueles que regurgitam pedem afeto, ainda que da maneira
mais despropositada que se pode imaginar.
Por mais difícil que seja essa situação para a mãe, é extremamente
importante manter a calma, proteger-se das recriminações e quali cações
próprias e alheias e não se fechar para o desamparo emocional. Talvez seja
melhor dar a mamadeira com carinho em vez de forçar a amamentação, a m
de evitar sentimentos de culpa e avaliações das pessoas circunstantes, que
acham que sabem mais.
Justamente em uma situação como essa, a criança é receptível a uma
mensagem muito valiosa: “Não importa como você é; amo você, e o
importante é que você esteja bem”. Mesmo quando o comportamento da
criança dá muito trabalho à mãe, o amor profundo por ela pode permanecer
intacto.
10.3.3 Homeopatia: Silicea, lágrimas de anjo em cristal de rocha ou a parede de vidro
10.4 Diarreia
afrouxando a roupa
pensar em alimentos
ficar sozinha
Chamomilla C30 Ipecacuanha C30
aborrecimento
Chamomilla C30 Ipecacuanha C30
a camomila)
movimento passivo
Phosphoricum Podophyllum C30
acidum C30
indiferente em relação
aos outros
Phosphoricum Podophyllum C30
acidum C30
cheiro de podre
Pulsatilla C30 Sulfur C30
reprimidas, vacinações
tímida
e ardência
Pulsatilla C30 Sulfur C30
no estômago
do lado direito
de secreções
vermelhos
10.7 Constipação
10.8 Fungos
10.9 Vermes
11.1 Alergias
“Estou recebendo muita coisa, não estou bem regulado e reajo com
hipersensibilidade.”
11.1.1 Guerras de fronteiras
guerra
Para a infância, vale, por m, a mesma simbologia que para os adultos, ainda
que também haja outros pontos importantes. De modo geral, os alérgenos são
símbolos de vitalidade ou sujeira, ambos inconscientemente classi cados como
perigosos. Não raro, também são relacionados, de maneira simbólica, a
acontecimentos ou pessoas, contra os quais existe uma forte aversão ou raiva.
Podem ser separados em dois grandes círculos diferentes, sendo que o menor se
encontra dentro do maior. O círculo maior abrange temas como “sujeira”,
“futilidade” e “aspecto feminino”, enquanto o menor trata especialmente de
temas relativos à polaridade, que nas crianças pequenas também está ligado, de
diversos modos, a conteúdos eróticos e sexuais, se a sexualidade e o erotismo
forem inconscientemente sentidos como “sujos” e “fúteis” (no ambiente da
criança).
Muitas vezes, ambos os aspectos também se confundem em um alérgeno.
Nesse caso, as pessoas afetadas não precisam, necessariamente, ter consciência
da relação simbólica. Basta que essa relação esteja ancorada no inconsciente
coletivo. Não há alergia sem consciência. Por exemplo, geralmente os alérgicos
a penicilina a toleram sem nenhum problema quando estão sedados. Contudo,
é necessário que o conhecimento esteja ancorado no campo consciente da
pessoa afetada, ou seja, na família ou na sociedade. Por exemplo, crianças
pequenas nunca sabem, e os adultos sabem apenas raras vezes, que a penicilina
consiste no fungo penicilo. Não obstante, fortes alergias à penicilina ou ao
penicilo podem ocorrer devido a temas ocultos por trás delas.
11.1.7.1 Alérgenos do grande círculo (a simbologia da sujeira)
A poeira doméstica é o excremento dos ácaros que vivem nessa poeira. Isso
mostra quão “diligentes” são esses pequenos seres em todo o mundo. Em geral,
o pó representa a sujeira e a impureza, mas também tudo que é banal, habitual
e, precisamente, a sujeira do dia a dia. Não raro, trata-se aqui de um alérgeno
em crianças que pretendem alcançar uma posição mais elevada ou que se
sentem destinadas a uma posição mais elevada. Todavia, falta-lhes coragem
para tirar conclusões dessa convicção.
Na alergia a produtos para lavar roupas, é nítida a aversão ao que é arti cial,
cultivado e químico e que bloqueia a relação com o que é natural. Além disso,
esses produtos são o polo oposto ao que é sujo, manchado e impuro e, como
tais, também podem ser combatidos através da alergia, uma vez que no
imaginário da alma os polos opostos estão sempre próximos.
Nas alergias a alimentos, pode exprimir-se, por um lado, a aversão ao que é
de matéria grosseira, necessária apenas ao corpo, enquanto a alma dela
prescinde. Por outro lado, por meio dessas alergias pode-se combater o que é
sujo, contaminado e perigoso na alimentação. Com exceção da doença celíaca,
essas alergias passaram a existir somente depois que a contaminação dos
alimentos chegou à consciência da sociedade.
Nos cereais, trata-se do que é pastoso, viscoso e doce, que ca evidente
quando se mastiga o pão por muito tempo, mas também do mingau de cereais,
do aspecto pegajoso da massa, que se mostra sobretudo na doença celíaca, que
é a alergia ao glúten presente na maioria dos tipos de cereais.
No leite, combate-se o aspecto materno e feminino em proteínas como a
caseína, embora este seja um caso diferente da intolerância ao leite, que afeta
metade da humanidade em razão da falta de lactase. Quando se evita a proteína
do leite como uma necessidade, também se evita claramente um pedaço da
vida, pois a proteína é o primeiro nutriente básico da vida. Quem combate o
glúten e a lactose, que é o açúcar do leite, nega amplamente a vida a si próprio.
Na verdade, insiste em um grau de alimentação que é o dos caçadores e
coletores que não dispunham do glúten nem da lactose, uma vez que a
agricultura e a pecuária só começaram com os sumérios, em cerca de 10.000
a.C. Portanto, trata-se aqui de um grave retrocesso à postura “não quero ter
nada a ver com essa nova vida; não permito que nada dela entre em mim”.
Na intolerância ao leite, além da referência ao aspecto materno, chama a
atenção o fato de que, nesse meio-tempo, evidentemente já há nas lojas
prateleiras com produtos sem lactose, o que, de modo geral, indica um sintoma
de toda a sociedade. Talvez nisso também se re ita um problema que temos
coletivamente com a mãe Terra.
Quando surge um conjunto de sintomas como esses, sobretudo nessa forma
dupla, a alma da criança exprime algo como: “Não estou absolutamente de
acordo com um novo desenvolvimento e me recuso a aceitá-lo”. Se apenas a
intolerância à lactose ou ao glúten se manifestam, a queixa deslocada para o
corpo poderia ser a seguinte: “Não consigo suportar partes do novo
desenvolvimento. As tentativas de integração quase me matam; não consigo
digerir tudo isso.”
Uma paciente de 9 anos, que desde o nascimento sofre de doença celíaca,
ilustra essa situação à sua maneira infantil e, ao mesmo tempo, mostra o
quanto as crianças se tornam um espelho dos pais. Desde o nascimento da
menina, a mãe rejeitou toda relação sexual com o pai. A criança nada sabia a
respeito, mas sentiu que o pai estava sofrendo. Entretanto, ele se manteve em
silêncio, e o assunto foi abafado. Aos 9 anos, diante do pai horrorizado, a
menina expressou o quanto o sexo pode ser repugnante e asqueroso. Ela pode
ter adotado, ou melhor, ingerido essa opinião com o leite materno e tê-la
interiorizado mais profundamente em sua intolerância ao glúten do que
podemos imaginar.
Independentemente de como herdou o tema, no futuro, a criança tem por
tarefa libertar em si mesma o polo feminino e obter para o pântano pastoso e
viscoso, do qual toda vida se origina e que o glúten simboliza como
aglutinador do cereal, um lado positivo, que é pré-condição para uma
sexualidade madura. Portanto, ela tem de se reconciliar com a própria
corporeidade e desenvolver o prazer por seu corpo e seu prazer.
Cada vez mais, os medicamentos também passaram a ser considerados
perigosos, contaminados e prejudiciais e, desde então, são vistos como
alérgenos. Tintas e solventes também só passaram a desempenhar a função de
alérgenos depois de constatado que são perigosos e tóxicos. As alergias a metais
referem-se, exclusivamente, a metais não nobres e, portanto, menos valiosos e a
suas ligas; re etem uma rejeição – naturalmente inconsciente – ao que não tem
valor, ao que não é nobre e, muitas vezes, ao medo de sujar os dedos com ele.
11.1.7.2 Alérgenos do pequeno círculo (da simbologia da fertilidade e da sensualidade)
Nesse caso, tudo que é “sujo” do ponto de vista erótico e sensual é um inimigo
potencial, como o pólen ou o pelo dos animais. Todo pelo transmite algo que,
para o animal, é aconchegante, macio, quente e, portanto, sensual e erótico,
podendo, como tal, ser combatido. Nos cães (em seu pelo), o (latido) agressivo
e a mordida agressiva estão em primeiro plano; nos cavalos (em seu pelo), é o
aspecto instintivo. É comum que as meninas tenham antes da puberdade a
“fase dos cavalos”, na qual praticam a “equitação” e a “nobreza” para se
familiarizarem com o aspecto instintivo. Naturalmente, nessa prática, a
amizade pelo cavalo e o prazer com a liberdade também têm o seu papel. Nos
gatos (em seu pelo), a sensualidade já se re ete em uma expressão como
“gatinha”; a essa sensualidade se acrescenta um impulso de agressividade através
das garras do predador felino, que não se contenta facilmente e para o qual a
liberdade é importante. O “falso gato” pode ser dissimulado e passar
despercebido, aproximar-se sorrateiramente e, como um “assassino sexual”,
logo depois de torturar um rato até a morte, pula no colo do dono para lhe
fazer festa. O gato preto (nos ombros da bruxa) também manifesta magia e
bruxaria. Desse modo, os gatos incorporam com especial evidência ambos os
lados da polaridade. A alergia a gatos também ocorre com frequência em
pessoas de Vênus ou naquelas que manifestam harmonia e não conseguem
deixar de sonhar com a salvação do mundo.
O pólen das ores e as sementes das plantas herbáceas são as sementes
masculinas das plantas e indicam temas como “fertilidade”, “amor”,
“sexualidade” e “instintividade”. De modo semelhante, o inconsciente
reconhece os bagos como símbolos da fertilidade, e algumas vezes a linguagem
popular se refere a eles como sendo os testículos. De nozes são chamados os
“testículos de Zeus”, esse deus particularmente fértil. Na Alemanha, muitas
nozes indicam proverbialmente um ano fecundo. Um problema insolúvel ou,
em todo caso, muito difícil, também é designado como “uma noz dura de
quebrar”,[26] podendo suscitar uma reação alérgica.
Os frutos são o resultado da união sexual do feminino com o masculino e
simbolizam o fruto proibido e tentador do outro lado da cerca. As maçãs são o
símbolo da tentação do jardim do Éden. O morango é claramente
contextualizado por François Villon como um fruto vermelho, pleno, maduro
e sedutor: “Sou louco por sua boca de morango”. O pêssego representa a pele
atraente e as nádegas eróticas. As “cerejas do jardim do vizinho” sempre
pendem aos pares com sua assinatura traiçoeira na árvore. A banana, por sua
forma, é manifestamente fálica. Amassada para ser consumida com müsli ou
mingau, tem uma consistência pegajosa e pastosa que se aproxima bastante
daquela da mucosa. Muitas vezes, porém, as crianças apenas re etem a rejeição
que esses símbolos sofrem em cada ambiente.
Quanto às picadas de insetos, o elemento desencadeador é a penetração do
ferrão fálico, que inocula uma substância (tóxica), podendo causar inchaço na
pele da pessoa picada e recordando picadas ou estocadas emocionais.
11.2 Dermatite atópica e crosta láctea
“Sou desonesto.”
Quando uma criança passa a vida curvada, essa postura incorreta logo se faz
notar. Os pais não conseguem suportar essa imagem, que muitas vezes está
relacionada à sua educação, à sua situação doméstica e a uma autoestima baixa,
e, como compensação, encorajam a criança a esforçar-se. Esse esforço
encobriria a verdadeira representação de uma cifose ou até da corcunda por
meio de uma postura aparentemente ereta e, portanto, não verdadeira.
A coluna curva exprime falta de sinceridade e fraqueza, além de mostrar o
quanto a criança “trabalha duro” e é compelida a talvez também se submeter a
pressões externas. No entanto, para os adultos, essa espécie de honestidade
física direta vai longe demais e constantemente lhes re ete uma imagem difícil
de suportar. Nesse sentido, o excesso de advertências revela a tentativa de fazer
com que as crianças treinem uma postura externamente mais simpática, ainda
que não sincera, como a lordose.
Na cifose, a musculatura das costas é excessivamente distendida para
proteger a parte anterior lesionada. Ao mesmo tempo, o ventre e o tórax são
ocultados. Nesse sentido, essa postura também é o contrário daquela de
“vangloriar-se” e revela pouca autocon ança. Simultaneamente, o corpo
adquire uma expressão submissa, indicando uma submissão não vivida na
consciência. Com frequência, uma criança curvada ou prejudicada em sua
autoconsciência tenderá a curvar-se perante seus superiores, mas, ao mesmo
tempo, pisar em seus subordinados, assumindo uma postura que, no mundo
dos adultos, é vista como típica de quem se comporta como “capacho” ou até
mesmo como “puxa-saco”.
“Com o rabinho entre as pernas”, essas crianças abaixam a cabeça e curvam
as costas para se protegerem de outros danos; desse modo, em vez de
percorrerem seu caminho de cabeça erguida, passam a vida se sujeitando.
Nessa postura “submissa” se re ete certa instabilidade, além da falta de
sinceridade e de uma força autoconsciente. A criança aprendeu a se curvar para
não desagradar em lugar nenhum. Ela parece curvada e, muitas vezes, também
humilhada. Toda a sua aparência é marcada pela falta de apoio – seja na
família, seja no ambiente social.
A tarefa de aprendizado consiste em desenvolver a verdadeira humildade,
curvar-se de maneira adequada, quando um poder superior o torna necessário
ou também quando o indivíduo se submete conscientemente em ocasiões de
importância central. A tarefa dos pais é criar para o lho um campo em que ele
possa crescer conscientemente na direção que lhe cabe como indivíduo e em
que ele não apenas aprenda a verdadeira humildade, mas também encontra
dentro de si a motivação para se esforçar por seus interesses e desejos mais
íntimos.
Sobretudo quando as crianças já estão muito grandes, não raro tentam
recuperar a “altura normal” arqueando a coluna, para, assim, não se
sobressaírem. Elas se assumem (muito) pouco, o que, naturalmente, também é
como enganar, nesse caso, a própria pessoa. Quando a criança não assume a
própria força, ela revela problemas com sua posição e sua postura interna –
certamente com uma razão que justi ca por que esses problemas de postura são
tão frequentes na puberdade.
Somente quando a tarefa expressa no sintoma é colocada em prática é que se
trata de mudar para o polo oposto, in ar o peito e abrir o campo do coração e
da comunicação ligado aos pulmões, para nalmente aprender a andar com a
postura ereta e tornar-se reto e honesto.
A interpretação e, sobretudo, o tratamento da lordose como compensação da
cifose deveria incluir toda a história de como esta surgiu, ou seja, por exemplo,
a “criança oprimida” que há por trás dela. A concavidade na lordose evidencia a
postura de compensação, que é demonstrada, mas nem um pouco agradável.
Mais do que uma retidão aparente, que quer agradar a todos, nada pode provir
dela. Para os pais ou responsáveis, a lordose pode ser mais suportável do que a
cifose; para a criança, é apenas outro degrau na direção errada.
A tarefa consistiria em se endireitar de dentro para fora, a m de cumprir as
exigências feitas pela própria vida. Responder por si mesmo e pelas próprias
ideias seria o desa o compensador, em vez de sempre aceitar uma posição
como um soldado treinado. Vale para este o mesmo que para as crianças
treinadas. Quem tem uma postura interna (em relação à vida), não precisa
aceitar outra (externa). No entanto, é claro que uma correção externa da
postura pode in uenciar a postura interna, como demonstram a eurritmia
curativa dos antroposo stas, o trabalho de Feldenkrais, mas também o yoga, o
tai chi e o qi gong.
Em geral, durante sua formação básica, os soldados são controlados como
marionetes. Praticamente não podem desenvolver a própria opinião; em todo
caso, seu posicionamento não pode ter nenhum efeito sobre a rígida obediência
que governa seu estatuto de soldado. Os soldados aprendem, essencialmente, a
obedecer, em vez de discutir ou até contradizer. Em um treinamento como
esse, que custa a própria postura e o próprio posicionamento, eles precisam
assumir a postura ordenada. Os soldados de guerrilha não precisam disso, pois
têm uma postura interna. Por essa razão, em última instância, os exércitos de
soldados regulares nunca conseguem vencer os soldados de guerrilha.
Em primeiro lugar, é necessário redescobrir a criança oprimida sob a
impressionante pseudorretidão da lordose; talvez também uma criança que, de
tanta preocupação, “enverga os ombros” – em todo caso, uma criança que
primeiro precisa aprender de novo a se endireitar, a car ereta (na forma do
eixo do seu mundo) e a “se aprumar”.
Perguntas para os pais e medidas de apoio:
► Ver a seção “12.4 Doença de Scheuermann”.
12.3 Escoliose
“Estou em uma posição crítica.”
Com essa deformação da coluna vertebral, o eixo do mundo, cuja tarefa seria,
por um lado, dar-nos apoio e dinâmica e, por outro, representar nossa retidão,
não consegue desempenhar sua função. Em vez disso, ele expõe abertamente
como a criança se encontra em uma posição complicada na vida e como ela se
desvia da linha reta do desenvolvimento. Essa posição desviante faz com que o
desenvolvimento se dê no caminho errado e a criança afetada “perca o rumo”.
(O adjetivo grego skoliós signi ca “torto, desviado”.)
Em um âmbito central de sua vida, ela acaba se desviando justamente do
centro. Trata-se de um desvio rumo ao polo feminino (esquerdo) ou masculino
(direito). Por sua vez, nesse desvio pode ocorrer um recuo em relação ao polo
da realidade, como um decrescimento de um lado ou uma extrema atração
para o outro.
Em uma terapia para tratar um caso grave de escoliose em uma menina,
concluiu-se que, ao sentar-se à mesa entre a mãe e o pai, ela se sentia
terrivelmente rejeitada por ele, mas não podia demonstrá-lo em família.
Durante anos, ela cresceu tentando afastar-se dele e aproximar-se da mãe, e sua
coluna vertebral reproduziu esse drama. Em vez de crescer sicamente na
direção da mãe, obviamente seria mais saudável mostrar sua entrega com
outros meios, como o afeto, mas também expressar a rejeição em relação ao
pai.
Às vezes, um leve desvio na postura também tem a ver com a puberdade, ou
melhor, com o desenvolvimento, na medida em que se trata de testar
inteiramente ambos os polos, debruçando-se ora para um lado, ora para o
outro, não ser uma coisa nem outra, nem criança nem adulto e, sobretudo,
nem mulher nem homem. Isso pode evoluir até consolidar-se em problemas de
orientação sexual.
Ao que parece, é muito mais fácil para alguns ziguezaguear pela vida,
evitando obstáculos, para escapar de uma retidão cansativa em vez de
reconhecer e expressar, tanto positiva quanto negativamente, seus próprios
sentimentos.
Nos casos extremos, os percursos sinuosos da psique tornam-se não apenas
evidentes, mas também relevantes para a medicina, pois um desvio para a
esquerda prejudica o coração, limitando seu espaço vital, enquanto um desvio
para a direita comprime o respectivo lado do pulmão.
Graças à coluna vertebral, todos nós podemos girar e nos voltar como bem
entendermos, e isso, naturalmente, também em sentido gurado. Essas ações
só se tornam um problema quando, ao mesmo tempo, a honestidade e a
retidão psíquica cam pelo caminho, sobretudo em relação às expectativas da
alma dessas crianças. Como a escoliose ocorre com muito mais frequência entre
as meninas, elas acabam sendo desviadas da linha reta do desenvolvimento.
Em contrapartida, geralmente o “vira-casaca” não parece ter problemas
visíveis, uma vez que se trata de um oportunista consciente, que sabe muito
bem que penderá para o lado que lhe trouxer mais vantagens. Deformações de
caráter só se tornam visíveis nas costas quando são inconscientes para a criança.
A tarefa psíquica consistiria em adaptar-se de maneira exível às
necessidades da vida. Quando as crianças aprendem logo cedo a se sentir
conscientemente à vontade tanto nos caminhos retos quanto naqueles sinuosos
e a manter seu equilíbrio interior, não há por que se preocupar com seu eixo
vital. No entanto, quando a vida perde o equilíbrio, também é bom que isso
possa ser visto e corrigido.
Quando o desvio do próprio centro já ocorreu, trata-se de posicionar-se
conscientemente no lado preferido e liberar esse polo. Mesmo as tendências
familiares (transmitidas pelo patrimônio genético) a realizar “desvios sinuosos”
podem ser identi cadas conscientemente. Nesse caso, é sempre melhor fazer
desvios (físicos) conscientes e serpear pela vida como uma espécie de “homem-
cobra” ou um espeleólogo do que fazer com que a coluna vertebral sofra as
consequências desse tema. Mesmo quem aprende a evitar os obstáculos com
atenção e consciência e mantém em vista o caminho rumo ao centro ameaça
menos sua coluna.
Nos desvios para a esquerda, trata-se, sobretudo, de dedicar-se com mais
intensidade ou abertura às próprias questões do coração e da anima, que
constituem a porção feminina da alma. Por outro lado, desvios para a direita
requerem que o indivíduo se preocupe mais com o lado arquetipicamente
masculino e com o animus, a porção masculina da alma que inclui temas como
a “capacidade de impor-se”, a “coragem”, a “facilidade para tomar decisões”,
etc.
Terapeutas infantis que seguem o antroposo smo chegam a partir do
pressuposto de que, pela situação dos maxilares superior e inferior, é possível
interpretar claramente a relação entre a “pessoa superior” e a “inferior”, o que,
por sua vez, pode indicar um distúrbio no equilíbrio, na mediação entre a parte
superior e a inferior, entre a anterior e a posterior e entre a esquerda e a direita.
Tudo isso é realizado, sobretudo, pela coluna vertebral, nosso “órgão rítmico”.
Nesse contexto, parece interessante observar que hoje muitas crianças usam
aparelho dentário e que, em muitas delas, os dentes voltam para a posição
inicial quando a “postura interna” não acompanha seu crescimento. Nesse
sentido, a coluna vertebral realmente é uma espécie de régua de nível que nos
permite ler se o desenvolvimento da criança está em ordem.
Perguntas para os pais e medidas de apoio:
► Ver a seção “12.4 Doença de Scheuermann”.
“Crescer dói!”
Crescer dói, também em sentido gurado. Isso é sabido de todos que são
obrigados a crescer, “entrando” em uma nova fase da vida, ou “esticar-se” para
alcançar um objetivo elevado. Tornar-se adulto pode doer, quanto a isso não
restam dúvidas, e o foco dessa dor é a coluna vertebral, nosso eixo de mundo, e
os longos ossos tubulares.
Inicialmente, o crescimento é físico e ocorre apenas à noite, quando é
produzido o HGH (Human Growth Hormone/Hormônio do Crescimento
Humano) ou, antes ainda, o STH (Somatotropes Hormon/Hormônio
Somatotrópico). A produção de hormônios é o fundamento do crescimento e
deve ser auxiliada para que os processos físicos e psíquicos recebam uma base
saudável de crescimento. Para tanto, é importante que o quarto da criança
esteja escuro à noite e livre de radiação eletromagnética. Portanto, feche as
cortinas, desligue todos os aparelhos eletrônicos ou, melhor ainda, tire-os da
tomada e instale um disjuntor de rede; depois, desligue tudo!
O ideal é que os processos psíquicos de crescimento mantenham o mesmo
ritmo do desenvolvimento físico. Porém, isso também signi ca que a criança
precisa superar as etapas de sua vida em uma sequência bastante rápida e deixar
o nível atingido assim que o alcançar. Por m, precisa até mesmo deixar toda a
infância para trás e abrir mão do aspecto infantil, de preferência sem prejudicar
a criança interior. No nível físico, vemos esse desenvolvimento quando o
esquema de aspectos infantis do rosto desaparece, ou melhor, “cresce de
maneira adequada”. O termo “desaparecer” tem dois lados. Pode ser bom ou
ruim. Muito antes de o último caso ocorrer sicamente, delineiam-se na alma
os problemas correspondentes, que também se tornam perceptíveis, por
exemplo, por meio das dores.
Expressões como “dar uma espichada” já chamam a atenção para a
problemática. Quando a criança cresce muito rápido ou rápido demais e seu
interior não acompanha seu crescimento, ela pode sentir dores. Em todo caso,
quando o desenvolvimento psíquico ca para trás, as dores são sentidas.
O chefe de uma tribo indígena foi buscado às pressas em sua reserva por um
motorista que deveria levá-lo a um congresso. Entretanto, o chefe deixou o
motorista desesperado, pois fazia com que parasse toda hora no caminho,
embora o tempo estivesse correndo. Ele se sentava no chão e não fazia nada. O
motorista perguntou irritado: “Mas o que o senhor está fazendo? Não temos
tempo a perder”. O chefe respondeu estoicamente: “Estou esperando minha
alma chegar”. Essa anedota ilustra como nós, modernos, fazemos tudo com
pressa e sem a devida atenção, geralmente sem perceber quando nossa alma ca
para trás. Depois, surpreendemo-nos quando lemos no relatório da Comissão
da União Europeia que pelo menos um quarto da população precisa de
tratamento psiquiátrico. Do ponto de vista psicoterapêutico, seriam quase
100%.
Nem todos os pais modernos podem ser chamados de adultos em sentido
psicológico, e muitos são extremamente rápidos e, portanto, também
ambiciosos em relação à sua prole. Assumem a pressão da sociedade e se
curvam a ela, pressionando, por sua vez, seus lhos quando eles não crescem
até chegarem aonde todos hoje querem chegar: ao topo. Essa pressão pode se
manifestar como dores ao longo da coluna vertebral, que, desse modo,
evidencia quão pouco seu portador está crescendo no ritmo certo e do ponto
de vista orgânico. Sua alma não consegue acompanhar seu desenvolvimento.
Isso signi ca que ela ca pelo caminho. Na vida moderna, a alma está sempre
pelo caminho. As crianças vivenciam esse atraso com dores físicas e, quando
têm con ança su ciente, também manifestam essa dor.
Como já foi dito, as dores se localizam principalmente na coluna vertebral e
nos longos ossos tubulares, sobretudo nos das pernas, em cujas placas do
crescimento se realiza o tema “crescimento longitudinal”. Mesmo quando a
criança ultrapassa em pouco tempo os limites, o que sempre acontece em
sentido gurado, e o restante não acompanha com tanta rapidez, podem surgir
dores sobretudo nas costas e nas pernas. Essas dores costumam ocorrer durante
a noite, quando o hormônio do crescimento é liberado. Além de atrapalharem
o sono das crianças afetadas, talvez as dores impeçam, ao mesmo tempo, outro
crescimento, para o qual as crianças ainda não estão preparadas do ponto de
vista psíquico.
No entanto, obviamente que auxiliar os lhos em seu crescimento é uma
das tarefas decisivas de toda educação. Tal como na história do chefe da tribo
indígena, nessas fases dolorosas, eles precisariam de tempo su ciente para fazer
uma pausa e abrir sua alma para o corpo. Nesse momento, seria primordial
prover “a alma de alimento” e, naturalmente, adequar-se à respectiva fase de
desenvolvimento, desde os contos de fadas até os dramas da puberdade.
Por conseguinte, nesse período, a maioria das crianças também aprecia
histórias fantásticas e romances futuristas. A altura é extremamente importante
– hoje mais do que nunca. É o que mostra o fato de que, até hoje, em eleições
presidenciais nos Estados Unidos, geralmente venceu o candidato mais alto.
Sobre o signi cado desta e de outras simbologias corporais, o livro Der Körper
als Spiegel der Seele [O Corpo como Espelho da Alma] também fornece
informações.
Portanto, temos de nos esforçar para permitir que nossos lhos cresçam
possivelmente de forma harmoniosa, ou seja, sem dores, a m de que consigam
alcançar sua altura ideal. Por outro lado, obviamente também podemos nos
questionar se ainda é normal ver crianças que ultrapassam a altura dos pais,
como tem ocorrido nas duas últimas gerações. Enquanto suportarem bem a
situação, não há problema, mas quando crescem rapidamente, tornando-se
altas e magras como varas, além de desajeitadas, inseguras e dotadas de pouca
estabilidade, sendo ridicularizadas como “desengonçadas”, o desenvolvimento
deve ser vivenciado com cautela. Primeiro elas têm de “ganhar carne” ao longo
de toda a altura – tanto no nível físico quanto naquele psíquico. Para tanto,
precisam de tempo, que tem de ser-lhes concedido. Nessas fases, é necessário
garantir-lhes uma espécie de defeso, ainda que isso seja difícil, uma vez que se
trata de uma fase de grandes desa os, por exemplo, na escola.
Soldner e Stellmann formulam uma suspeita desagradável: “... por outro
lado, uma ‘alimentação excessiva’ do metabolismo em forma de alimentos
prontos, ricos em calorias e industrializados, como batatas chips, doces e outros
semelhantes, atuam como adubo arti cial no crescimento da criança.”
Analogamente, o regime de engorda com proteína, que se tornou comum e
que, por certo, estimula bastante o crescimento, também é problemático.
Obviamente, o outro extremo, ou seja, a baixa estatura devido à alimentação
insu ciente no que se refere à proteína é ainda pior. Na Coreia do Norte isso
teria se tornado dramático em razão da inefável incompetência do regime
comunista, que se apoia em um exército de anões.
A cada momento, a tarefa em caso de dores do crescimento consiste em não
poupar esforços para acompanhar, em todos os níveis, o ritmo do
desenvolvimento que está para ocorrer. Para as crianças afetadas, trata-se de
aprender a aceitar a própria estatura, o que naturalmente pressupõe a aceitação
de si mesmas. A altura natural é bonita, cai bem, proporciona uma visão
panorâmica – é um presente da natureza e dos pais que deve ser aceito. Porém,
ainda mais importante do que a estatura física seria a estatura da alma, como
diz a expressão em sânscrito maha-atman (como em Mahatma Gandhi), que,
traduzida, signi ca tanto “com grande alma” quanto “de grande fôlego”.
Perguntas para os pais:
► Será que nosso lho prefere continuar criança?
► Por que crescer dói?
► Estamos prontos para mudanças?
► Podemos soltar nosso lho?
► Damos tempo su ciente a ele para seu crescimento psíquico e físico?
Medidas de apoio:
► Sal de Schüβler: Calcium phosphoricum D6. Em casos agudos, dissolver
dez comprimidos em água quente e, se possível, beber quente.
13.1 Piolho
13.2 Verrugas
“Sou um diabrete.”
Verrugas são excrescências disformes da pele, o órgão limítrofe e de contato,
mas também o órgão do carinho. Elas simplesmente são consideradas o
símbolo da feiura. Algo escuro irrompe à luz e escurece a bela pele branca,
tornando-se uma mancha e incomodando como uma mácula. Entretanto,
como grande mácula as verrugas são associadas às bruxas. Simbolicamente,
representam as mensagens do reino das sombras e pertencem às bruxas, tal
como a falta de dentes, o gato preto e o corvo sobre os ombros. Trata-se,
portanto de um confronto – inofensivo do ponto de vista médico, mas horrível
do ponto de vista psicológico – com o próprio lado sombrio. Geralmente, os
pais o sentem como um ataque ao caráter imaculado das crianças. Os
pequenos, que parecem anjos inocentes, são “maculados”, e as verrugas
incomodam quando se quer apresentar os lhos a alguém. Por isso, na maioria
das vezes os pais e, sobretudo, as mães se irritam mais com isso do que as
próprias crianças.
As verrugas expõem o polo oposto aos anjos. O que seria dos contos de
fadas sem as bruxas? E do paraíso sem a serpente? As verrugas permitem que se
entreveja a fera – especialmente nas crianças, que são divinizadas em seu caráter
angelical. Desse modo, os pais acabam pensando apenas no próprio lado
sombrio, o que não é nada agradável. Ao mesmo tempo, porém, as verrugas
também são uma lembrança das raízes mágicas da própria infância.
Causadas por vírus, as verrugas são totalmente inofensivas do ponto de vista
médico, e somente as associações mencionadas com o reino das sombras as
tornam tão desagradáveis e difíceis de suportar. É interessante notar que, às
vezes, a relação mágico-simbólica em casos extremos é levada em conta até
mesmo por médicos acadêmicos e explorada por terapeutas. Normalmente,
porém, são cauterizadas ou extirpadas, ou ainda arrancadas. Não se quer saber
de nenhum reino das sombras, só de bani-lo deste mundo.
Essa maneira violenta de lidar com as sombras é tão típica quanto inábil e,
se nada mais acontecer, geralmente leva ao reaparecimento do que causa
inquietação e perturba a paz. O princípio de Plutão por trás delas é
manifestamente persistente. Na maioria das vezes, os adultos vivenciam
sozinhos seu lado sombrio, ainda que de modo inconsciente, e, por isso, não
precisam da franqueza de tantas verrugas – embora a solução mais elegante
consista em lidar conscientemente com o próprio reino das sombras. Quanto
às crianças, seria muito útil familiarizá-las com as raízes mágicas da própria
vida e com as forças encantadas da imaginação, conforme ilustrado em contos
de fadas e histórias ao estilo “Harry Potter”.
Na seção sobre a sugestão (2.6), descrevi como “desencantei” centenas de
verrugas, seguindo a instrução de um médico-chefe do departamento de
dermatologia, utilizando um truque (mágico-psicológico). Levei algum tempo
até me conscientizar do efeito duradouro dessa mágica. O médico-chefe sorriu
ao perceber que, a partir daquele dia, seríamos muito mais reconhecidos como
médicos. Ele me aconselhou a não falar daquelas experiências na clínica. E
foram essas experiências que mudaram para sempre minha maneira de ver a
medicina.
Conforme descrito na mesma seção, nesse plano também é possível
“comprar” as verrugas das crianças quando elas já têm uma noção das relações
com o dinheiro e de sua força mágica.
As excrescências das verrugas mostram que a criança precisa ousar mais e
con ar mais em si mesma, além de ter a chance de crescer mais interna e
externamente. O que brotou na pele tinha apenas um caráter representativo. Se
as próprias fantasias em desenvolvimento recebessem mais espaço e pudessem
viver, a pele seria desonerada dessa tarefa de representação. Também desse
modo, algumas manchas pretas e certas “mágicas” duvidosas não se
manifestariam sicamente na pele.
O fato de que sobretudo as crianças e as pessoas de idade são afetadas por
essas excrescências pode indicar que o início e o m da vida para o homem
moderno são fases difíceis, nas quais nem sempre dá certo expressar
adequadamente todas as fantasias, as ideias e todos os desejos. Assim, a pele
entraria como representante e mostraria o que, geralmente, ca à sombra: as
excrescências do princípio de Plutão (“morrer e se transformar”, metamorfose e
todas as mudanças radicais).
Do ponto de vista médico, fala-se em “verruga d’água” ou “molusco
contagioso”. Por trás dela escondem-se os patógenos humanos papiloma-vírus
(HPV), que com frequência são “pegos” em piscinas, mas somente quando as
tarefas de representação correspondentes não podem ser dominadas de outra
maneira.
Um caso especial é o das verrugas plantares. Nelas se trata de um verdadeiro
espinho na (própria) carne, que pressionam e doem, além de fazerem com que
as crianças não consigam caminhar e, metaforicamente, a avançar. Quem é
impedido de caminhar mal consegue sair daquele período de culto da própria
imagem. Com uma estaca como essa ncada na própria carne, a escuridão
requer atenção. As crianças afetadas são obrigadas a pisar com cuidado e a ser
menos impositivas. Além disso, o sintoma as impede de, inconscientemente,
bater o pé ao longo da vida. A tarefa seria aprender a resistir mesmo em
situações dolorosas e difíceis e perguntar-se onde “o sapato aperta”.
Conscientemente e de maneira espontânea, elas teriam de se deixar
impressionar também por efeitos dolorosos.
Na homeopatia, o quadro medicamentoso da tuia está estreitamente ligado
ao tema “verrugas”. É adequada para pessoas que tendem a esconder de si
mesmas o que é essencial e a ter di culdade para revelar a verdade sobre si
próprias; ao contrário, preocupam-se em calar e encobrir seu lado sombrio.
Nelas existe algo misterioso como as verrugas, que aparecem de repente e, de
modo igualmente surpreendente, voltam a desaparecer. A mudança e a
metamorfose, no sentido mais profundo dos termos, são o ponto central nesse
caso. Verrugas plantares também desaparecem com o medicamento
Antimonium crudum.
Seria o caso de perguntar às crianças afetadas em que as verrugas as
incomodam, o que elas as impedem de fazer, o que foi escondido quando as
verrugas apareceram. Às vezes, também é útil examinar em que zonas de re exo
e meridianos encontram-se as verrugas em questão. A pergunta resultante seria:
“Que temas a verruga quer levantar?”
Para os pais, nessa temática trata-se de desenvolver um olhar mais realista
em relação aos próprios lhos, cujos lados obscuros devem ser levados em
conta; trata-se também de reconhecer que a alma das crianças não é uma folha
em branco, e sim uma história geralmente muito particular e longa. Do ponto
de vista genético, as crianças também herdam alguma coisa dos avós, que não
necessariamente desempenha uma função nos pais. Em constelações familiares
e, sobretudo, na terapia da reencarnação, todas essas relações se destacam
claramente.
As verrugas são, fundamentalmente, uma questão de relaxamento, pois, do
ponto de vista médico, trata-se de um problema de natureza estética. Como
terapia para as crianças, além dos rituais mágicos já descritos, considera-se a
homeopatia clássica no âmbito de uma terapia constitucional. Para pais
intensamente afetados do ponto de vista subjetivo, pode-se pensar em algum
CD, como “Schattenarbeit” [Trabalhando as Sombras].[29] Utilizado
diariamente durante um ciclo lunar, as respectivas digressões no próprio reino
das sombras trarão luz própria para o inconsciente do mundo das sombras.
Também seria útil o reconhecimento das próprias raízes mágicas no passado.
Quase toda criança teve fantasias mágicas e as afastou com maior ou menor
sucesso. Contudo, não são poucos os adultos que ainda sonham com uma terra
encantada sem o lado sombrio da moderna sociedade repressora. Nesse caso, as
verrugas seriam o convite ideal para se reconciliar com os próprios lados
sombrios, que sempre podem se re etir externamente, bem como nos próprios
lhos.
A partir disso, já não estaria tão distante a possibilidade de tratar esse tipo
de excrescência do mundo interior sombrio com métodos sombrios (e ocultos),
ou seja, com homeopatia. É o que os homeopatas clássicos podem pensar ao
analisarem a anamnese, que, naturalmente, também precisa penetrar nos
cantos escuros da alma. Mas isso poderia até signi car que as verrugas podem
ser “desencantadas” de maneira sicamente indolor por um feiticeiro ou outras
bruxas, contudo, sem deixar de atentar para a mudança de mentalidade, no
sentido da metanoia, do arrependimento e de conversão interior.
Obviamente, também seria necessário transmitir compreensão à criança no
que se refere a essa outra realidade. Isso pode ser difícil para pais modernos,
mas para as crianças de hoje é muito importante e signi cativo como, por
exemplo, sucessos como a história de “Harry Potter” repercutem nelas. Em
uma época em que a crença na ciência absorveu em grande medida o caráter
religioso, a alma das crianças necessita justamente dos vastos mundos míticos e
místicos à beira da imagem racional de mundo.
Perguntas para os pais:
► Por que as aparências são tão importantes para nós?
► Que dinâmica interna está tentando se manifestar? Podemos ajudar nesse
processo ou simplesmente não impedi-lo?
► Nosso lho está diante de um recomeço?
► Que lados obscuros querem tornar-se conscientes no momento?
► Em que situações nosso lho poderia sair mais de si mesmo?
► Como nos relacionamos com a visão mágica do mundo e em que medida
a transmitimos?
► Somos capazes de reconhecer esse lado sombrio da realidade ou nosso
lho precisa nos estimular a fazê-lo?
Outros problemas de pele também são descritos no Capítulo 4 “Doenças
infecciosas”, nas seções “Sarampo”, “Rubéola”, “Catapora” e “Escarlatina”, na
seção “11.2 Dermatite atópica e crosta láctea”, bem como em “19.1.17
Queimadura de sol”.
14 Problemas do metabolismo:
Diabetes mellitus
14.3 Tarefas
15.1 Medo
No caso dos dentes, que representam uma irrupção frequente do medo na vida
jovem, misturam-se o temor da dor e o medo de tudo que é novo. O medo
estreita e aumenta a sensação de dor. Portanto, quando ele a provoca, é
necessário primeiramente eliminá-lo ou atenuá-lo, quando possível, como
meios sustentáveis. A dentição é a irrupção do novo na vida, nesse caso, da
agressão. Tudo que é novo causa medo pela primeira vez. Depois de feita a
experiência, o medo se perde. Nesse sentido, o melhor a se fazer nesse caso
também seria acompanhar a criança em seu medo, por exemplo carregando-a
no colo durante a dentição. Mais uma vez, como nos primórdios da vida, a
criança precisa se abrir, ampliando-se para um novo tema, e essa amplitude em
favor do novo, na abundância de possibilidades, pode obviamente provocar
medo e angústia.
Contemporaneamente à irrupção dos dentes, que se dá por volta dos seis
meses de vida, as crianças também começam a interagir com o mundo que as
circunda, reagindo com medo a pessoas estranhas que até então não as
assustavam. A partir desse momento, podem aprender a “separar-se” da mãe.
Nessa fase, provavelmente se torna mais difícil amamentá-los, o que poderia
levar ao desmame. Mas se a criança continuar a mamar com vontade, não há
razão para considerar o desmame; a criança pode continuar a ser amamentada,
como ocorre nos povos primitivos. Os céticos do campo da medicina
acadêmica ou da moda, bem como os consultores pro ssionais e os parceiros
estão totalmente errados a esse respeito.
O medo dos estudantes antes de uma excursão da escola, devido à
expectativa de sentir saudade de casa, denota falta de coragem ao ir de
encontro ao novo, ao diferente e a tudo que não é habitual. Nesse caso, com
pequenos passos no sentido da dessensibilização, podem ser alcançados
verdadeiros progressos. Se a primeira viagem for para a casa da avó, situada nas
redondezas, e a mãe puder voltar a qualquer momento, logo o medo é afastado.
A partir desse momento, podem-se empreender passos cada vez mais corajosos.
15.1.3.7 Medo de repetir o ano ou de não conseguir progredir
O medo de repetir o ano na escola aviva aquele ainda mais remoto de ser
deixado para trás ou abandonado pela mãe. Como originariamente isso
signi ca a morte certa, esse medo pode ser muito forte e ameaçador. O temor
de não conseguir progredir e ser deixado para trás é muito próximo e
semelhante àquele de não passar nas provas, de não ser su ciente e de fracassar
em caso de necessidade. Normalmente, por trás disso se esconde uma falta de
con ança em si mesmo e, portanto, de con ança primária, às vezes também
uma espécie de perfeccionismo, hereditário ou adquirido. A criança tem a
sensação de não ser su ciente, conforme já exprimem os conceitos “de ciente”
ou “insu ciente”, usados na escola. Nesse caso, o medo de decepcionar e o de
passar vergonha andam juntos. A esse quadro também pertence a preocupação
da criança de ser amada somente se obtiver bons resultados (na escola).
Portanto, é decisivo o temor da reação dos pais e dos professores. Na
ausência de quem julga os resultados, esse medo logo se extinguiria. Pelo
menos os adultos deveriam ter esse mecanismo bem claro em mente. Isso não
signi ca renunciar ao resultado, mas poderia conduzir a buscar métodos para
exigir das crianças e estimulá-las sem inserir o medo no jogo da vida. Até hoje,
as sugestões do pedagogo progressista inglês Alexander S. Neill, fundador da
escola Summerhill, baseada no antiautoritarismo, são espetaculares, embora o
próprio Neill nunca tenha utilizado esse termo. Para ele, valia o princípio da
“educação livre” em vez daquele de “livre da educação”. Ele não era contra a
autoridade; ao contrário, dispunha dela de maneira considerável. Falava de
uma “educação autorreguladora”. Ainda mais atuais e difundidos são os
princípios da pedagogia Waldorf, de Rudolf Steiner, e o método de Maria
Montessori.
Já se conseguiria muito transmitindo continuamente às crianças a percepção
de que, embora seu comportamento possa causar raiva, tristeza ou decepção
nos pais, estes as amarão de qualquer maneira. Assim, elas aprenderão que a
tristeza, a alegria e a raiva são sentimentos que vão e vêm, mas o amor ca. Se
as crianças entenderem essa diferença, que geralmente é mais compreensível
para os adultos, carão felizes junto com seus pais quando tiverem sucesso e
sofrerão com eles os fracassos, mas saberão que o amor nunca é in uenciado
por isso. Essa con ança os acompanhará de modo determinante na vida,
sobretudo durante as fases difíceis, como a puberdade.
O medo das provas e do consequente fracasso tem aumentado cada vez mais
na sociedade moderna, que mede o valor das pessoas com base em seu
desempenho. O medo de errar di culta especialmente o desenvolvimento, pois
somente através dos próprios erros a criança aprende a integrar em sua vida o
que lhe falta. Entretanto, seria bom ajudá-la com sensibilidade para que não
repita os mesmos erros. Na idade adulta, vale o mesmo princípio: entre seus
melhores colaboradores, os chefes apreciam aqueles que cometem erros, mas
que cometem os mesmos erros apenas uma vez.
Por outro lado, hoje também existem muitas crianças que desenvolvem tão
pouco o “supereu” – aquela instância descoberta por Sigmund Freud que
representa em nós a sociedade e sua tradição –, que parecem indiferentes a
todo tipo de erro e a experiências como repetir o ano na escola. Naturalmente,
como extremo oposto, esta não é a intenção dos referidos pedagogos. Embora
não haja medo nesse caso, o desenvolvimento ca comprometido.
Até certo grau, o medo de desa os, representados pela escola, pelos
professores e pelos colegas, é natural. Porém, se de uma tensão compreensível e
inócua derivar um medo paralisante, é aconselhável pensar em um tratamento
homeopático. Alguns exercícios para potencializar a con ança poderiam
atenuar a alma. Também em casos de medos mais extremos, podem ser úteis
alguns exercícios lúdicos em outros âmbitos análogos, como excursões de
exploração em cavernas. As crianças precisam encontrar aos poucos sua própria
posição e seu papel no novo ambiente social. Pais presentes podem oferecer-
lhes apoio e, aos poucos, reduzir sua presença.
15.1.3.8 Medo de ladrões, sequestradores e de estranhos de modo geral
O medo pela própria família revela que a criança não consegue sentir-se segura
em relação às próprias pessoas de referência nem em relação ao próprio
ambiente. Não se trata de um sinal de amor particular, e sim de falta de
con ança. Uma criança que está sempre presa à saia da mãe denota, antes de
tudo, medo de perder a mãe, pois, evidentemente, não tem con ança nela. O
amor deveria mostrar-se de outra forma.
Inversamente, certa vez consegui tranquilizar uma mãe que levou um tapa
do próprio lho. Isso não é sinal de ódio nem de rejeição à mãe – se acontece
uma única vez –, e sim um sinal de con ança excepcional. O pequeno
malcriado tinha certeza de que, mesmo batendo nela, continuaria a seu lado.
Portanto, em caso de medo da própria família, a criança deveria, antes de
tudo, aprender a ter con ança e con ar no próprio ninho, o que ela
conseguiria mais facilmente se o ninho fosse moldado para inspirar con ança.
Abusos físicos ou emocionais podem constituir razões para um medo legítimo
em relação a determinados membros da família, que naturalmente devem ser
revelados e elaborados.
15.1.4 O medo e o reflexo de Moro (da doutora Wibke Bein-Wierzbinski)
Para que não surjam medos irracionais e neuróticos, seria muito importante
arranjar uma boa dose de con ança primária. Como já foi dito, o período mais
importante para que isso aconteça é o início da gestação – que não deveria
sofrer nenhum tipo de distúrbio –, quando o feto utua no líquido amniótico
na temperatura do corpo, pode ter a experiência da união e se sente unido ao
todo.
Evitar o trauma do nascimento também seria uma contribuição
fundamental para se car livre do medo. Todavia, quando já é tarde demais
para ambas as coisas, os exercícios de utuação, saltos e quedas livres podem
ajudar, embora a situação de base exija mais dos pais e das crianças.
Estas podem adquirir e aprender a ter con ança mesmo mais tarde na vida,
tranquilizando-se, contanto que recebam os cuidados su cientes e uma
proteção e caz no ninho. Isso é possível até mesmo no tumulto das grandes
cidades modernas, que costumam ser hostis às crianças.
Outro modo para desenvolver a con ança nos pequenos é deixá-los superar
com autonomia doenças e sintomas, como as típicas doenças da infância e a
própria febre. Eles também adquirem con ança quando, ao brincarem, caem e
se levantam sozinhos. Esse é um passo simbólico e igualmente importante e
extraordinário. A con ança cresce com a experiência e a capacidade.
Um conselho geral para a elaboração dos medos consiste em revê-los
conscientemente e, dependendo do caso, com um acompanhamento protetor.
As condições ideais preveem que as crianças sejam seguradas pela mão, tanto
em sentido concreto quanto em sentido abstrato.
Também é útil dar à vida um ritmo certo, cuja repetição con ável já sirva
para atenuar os medos.
Além disso, os rituais ajudam a reduzi-los, especialmente quando são
repetidos com ritmo. A criança aprende a con ar neles e não se sente
abandonada nem entregue sem nenhum amparo ao desconhecido e ao novo.
Em geral, o medo surge quando a criança é exigida muito precocemente e
acaba sendo sobrecarregada, por exemplo, quando é separada à força e muito
cedo da mãe. Essa separação desencadeia medo, que ela sentirá sempre que essa
situação se repetir. Quando exigimos alguma coisa das crianças antes do tempo,
criamos o medo. Portanto, a melhor coisa a fazer é esperar delas apenas aquilo
de que são capazes e para o qual têm coragem. Obviamente, é normal propor
alguma coisa, assim como exigir, mas sem sobrecarregar, pode estimulá-las.
Quando hesitam, seria importante estender-lhes a mão, como fazia Maria
Montessori.
Os antroposo stas dão muita importância à familiarização das crianças com
o ritmo o mais cedo possível, por exemplo por meio de exercícios de eurritmia.
É o que demonstram experiências em sociedades arcaicas, nas quais, desde o
início, o ritmo faz parte da vida, como se percebe mais tarde, de maneira
positiva, em muitos aspectos.
Os exemplos tangíveis também transmitem con ança: ouvir as crianças com
paciência e levá-las a sério, deixar que elas digam tudo o que têm para dizer e
ser um bom modelo para elas são medidas que ajudam a reduzir o medo. A
imitação e a frequente repetição promovem a con ança e criam um campo
energético de coragem e contato consciente consigo mesmo. A melhor solução
seria conseguir motivar as crianças a abrir-se ao medo, até o susto passar, poder
ser nomeado e transformar-se em amplidão. Quem (voluntariamente) dá
espaço ao medo e busca confronto com a estreiteza, aceitando-a, colherá a
amplidão. Nesse sentido, diálogos, pintura, movimentos ou música podem ser
uma extraordinária complementação.
Outro auxílio essencial está em tornar conscientes temas primordiais, como
ocorre com a leitura de contos de fadas. “O conto de fadas de alguém que saiu
de casa para aprender o que é o medo”, por exemplo, mostra o quanto as
crianças querem viver e superar o medo. Até mesmo brincadeiras e lmes de
terror podem servir para esse m se empregados com consciência e o
acompanhamento adequado. A esse respeito, a in uência da televisão, de
vídeos e jogos no computador é facilmente superestimada. Eles só podem tirar
da criança aquilo que está dentro dela e para o qual ela tem alguma
ressonância. Por outro lado, não é necessário dar espaço a toda ressonância;
pode-se, ao contrário, intervir orientando e regulando a situação. Quem não
tem medo não o desenvolve por meio das brincadeiras.
A terapia do abraço também oferece um maravilhoso arsenal para auxiliar as
crianças em situações difíceis de medo. Contudo, este deve ser bem
compreendido em sua essência, pois, embora a estreiteza desencadeada por essa
terapia tenha um efeito homeopático, ela pode gerar mais medo se não for
administrada com grande competência. Nesse sentido, a própria Jirina Prekop,
que criou essa terapia, forneceu indicações e contraindicações precisas, para que
esse precioso método não seja mal empregado para reprimir ou “pressionar” a
criança. Ela desenvolveu a terapia do abraço em uma base ética, cujo objetivo é
renovar o amor por si mesmo e pelo próximo, garantindo, assim, o pressuposto
mais importante para o desenvolvimento do livre-arbítrio. Uma
contraindicação seria, por exemplo, a intenção de utilizar essa terapia como
método educativo ou para obter obediência. Outra contraindicação, resultante
da sua associação com a abordagem sistêmica de Bert Hellinger e de suas
constelações familiares, diz respeito àqueles pais que recusam a ordem do
sistema familiar. Essa abordagem nem chega a ser considerada se, por exemplo,
a mãe despreza o pai da criança ou vice-versa.
O tema da terapia do abraço é um profundo con ito emocional entre dois
membros da família, impossível de ser superado em nível verbal. A ausência de
verbalidade diz respeito não apenas a crianças pequenas ou aos mudos, mas
também a adultos inteligentes com profundo sofrimento psíquico. No abraço
apertado, tanto a mãe quanto o lho recebem a possibilidade de confrontar
sentimentos feridos e de renovar o amor recíproco. A agressividade é admitida,
mas apenas na forma re nada do confronto por meio de frases expressas em
primeira pessoa e da atenção ativa, sem a violência física e destrutiva. O
objetivo de fundo desse método é que o processo não termine com o consolo
ou a resignação, e sim na alegria do amor renovado. “Eu te abraço até o amor
voltar a uir!”, diz uma das frases decisivas de Jirina Prekop, e, desse modo, o
abraço se torna uma forma primordial de se tornar gente.
Entretanto, ele se torna uma terapia quando o ser humano já se distanciou
dessa forma primordial e o amor se perdeu. Como muitos erros de
comportamento e muitos medos dos pais são transmitidos aos lhos, o abraço
não se inicia com estes, e sim com os pais. E como estes também já foram
lhos que precisaram igualmente de uma reconciliação com seus pais, os avós
também são envolvidos. Esse método se apoia na verdade arcaica, expressa no
quarto mandamento, segundo o qual o ser humano pode viver bem e por
muito tempo na Terra se honrar seus pais.
Segundo Jirina Prekop, essa reconciliação é a expressão mais frequente do
trabalho com o abraço, que também pode se estender a visualizações com
aqueles que, por causa da morte ou da idade, não podem ser “derrubados”.
Obviamente, os pais também entram no jogo como casal. A eles se pede que,
através de seu próprio modelo, envolvam as crianças na compreensão do
abraço, fazendo dele uma forma de vida para a família.
A maioria dos medos tratados neste livro e muitos dos quadros clínicos
poderiam ser curados se enfrentados com essa forma de amor, expresso
ativamente; uma árvore deve ser analisada e tratada não a partir de seus frutos,
mas a partir de suas raízes. Portanto, também nesse caso, o amor se apresenta
como o melhor remédio.
Não se trata de culpar os pais, e sim de equilibrar as condições desfavoráveis
de vida. Como a experiência da gestação e do nascimento, com a consequente
maternidade, são de central importância para a vida que virá, tanto a terapia da
reencarnação quanto a do abraço dedicam-se com métodos especiais a esse
primeiro período. Jirina Prekop desenvolveu o abraço do nascimento; no
centro de cura holística de Johanniskirchen foi criada uma terapia especial mais
curta, de uma semana, para tratar o medo e superar, em sentido literal, a
estreiteza primordial e todos os medos que dela derivam. É surpreendente
observar como as pessoas se revigoram depois dessa experiência e tendo
reconquistado a con ança (primária) em relação à mãe (natureza).
A ajuda determinante, comum a todas as tentativas de ajudar as crianças em
seus medos, consiste em concentrar-se no essencial, em viver o momento e agir
com base no aqui e agora. Quando se consegue entusiasmá-las no momento
presente, elas saem do medo, pois este vive do passado ou do futuro. O
objetivo nal para a solução dos medos está no polo oposto, à medida que se
trata de ampliar-se, abrir-se e libertar-se na estreiteza.
Perguntas para os pais:
► Que medos transmitimos ao nosso lho?
► Que medos ajudam nosso lho a desenvolver sua própria competência e
uma autoconsciência saudável? Como podemos ajudá-lo nesse processo?
► Em que medida nosso ambiente pessoal promove o medo: condições de
habitação menos estreitas do que as existentes em nível espiritual e
dogmático?
► Como nosso lho se comporta quanto à nossa relação com a natureza? É
possível pensar em um encontro com a mãe natureza e o antigo deus Pã?
Como podemos promovê-lo?
► E como é a relação com a con ança primária e com a autocon ança?
► Em que circunstâncias falta ritmo vital?
► Estamos em condições de nos entregar?
► Como lidamos com nossos medos? Somos capazes de confessá-los
mutuamente?
► Como mãe ou pai, já passei por alguma situação real de medo?
► Em que medida a necessidade de segurança excessiva predomina em
nossa família?
Medidas de apoio:
► Cotidiano regular: o ritmo vital cria segurança.
► Lidar cautelosamente com todas as impressões: os pais devem prestar
assistência na elaboração de estímulos, por exemplo, provenientes de
vídeos, lmes, televisão e jogos no computador.
► Eliminar a sobrecarga e, por exemplo, a pressão por expectativas na escola.
► Rituais noturnos, que preparam para a noite (rezar, ler histórias, cantar
com a criança, dançar etc.). Conversar à noite sobre as atividades do dia
seguinte, para criar segurança. Conscientizar a criança dos êxitos obtidos
e, nos momentos em que lhe falta coragem, despertar sua recordação
emocional.
► Estimular o tato por meio de massagens; deixar a criança brincar com
lama, cremes e espuma. Escolher roupas feitas de tecidos naturais e deixar
a criança brincar com objetos de madeira, modelar a argila e trabalhar no
jardim.
► Cartazes de “Proibida a entrada de fantasmas!”: construir com a criança
um cartaz de proibição aos fantasmas, ladrões e ao que mais lhe causar
medo. É preciso transmitir verossimilmente à criança a convicção de que
os fantasmas vão obedecer aos cartazes tal como os adultos ou as crianças
na rua obedecem a uma placa de “pare”. Se o cartaz for pendurado na
porta ou na janela do quarto da criança, o fantasma não terá vez.
► Movimentos oculares migratórios: uma técnica muito simples e que dá
ótimos resultados com as crianças é a elaboração do medo e de um
trauma através dos movimentos oculares migratórios. Junto com toda
uma série de exercícios, essa elaboração é descrita em meu livro
Notfallapotheke für die Seele [Farmácia de Emergência para a Alma].
► Sugestão de livro para os pais: o livro infantil Lukas und die Monster unterm
Bett [Lukas e o Monstro Embaixo da Cama], cujo texto é de fácil
compreensão e vem acompanhado por ilustrações sobre os métodos para
atenuar o medo, bem como pelos pontos de acupuntura a serem
estimulados.
► Florais de Bach e de arbustos: algumas misturas mostraram-se muito
e cazes nos casos de medo, mas devem ser escolhidas individualmente, de
acordo com o medo de cada um, como na homeopatia, que dispõe de
inúmeros remédios para o tratamento dos medos infantis.
15.2 Enurese
A principal razão pela qual os meninos são duplamente mais afetados pela
sintomática da enurese do que as meninas poderia residir no fato de que estas,
como já mencionado, são educadas de maneira diferente. Os meninos, por
exemplo, não devem chorar. Com frases incrivelmente estúpidas como
“homem não chora”, toda expressão de emoção, mas sobretudo o choro, em
seu caso é conotado de maneira negativa desde cedo. Tipicamente, a “chorona”
é uma menina, e o “espoleta”, um menino.
Se partirmos do princípio de que a enurese nada mais é do que uma forma
alternativa de choro, um choro inferior, por assim dizer, quando em cima não é
consentido, explica-se a grande diferença entre ambos os sexos. As meninas
podem deixar escorrer as lágrimas pelos olhos, pois, em seu caso, chorar é
considerado normal e, de todo modo, não se torna tabu. Já os meninos, que
aprendem a fechar todas as comportas para poderem se tornar “homens de
verdade”, e aos quais não resta nenhuma outra válvula de escape, a repressão
em cima estimula a soltura embaixo. Nesse sentido, a perda de controle
durante a noite é tão forte que o esfíncter da bexiga, com o extravasamento
inferior, ou seja, com a enurese, substitui a função das lágrimas retidas em
cima.
Isso pode acontecer apenas nos momentos em que eles já não têm um
controle consciente, a saber, quando estão dormindo. Porém, como o cochilo
da tarde raramente causa enurese, somos levados a concluir que a criança
também precisa dos sonhos noturnos. Eles têm início somente depois da
primeira hora e meia de sono, durante a fase REM (Rapid Eye Movement =
movimento rápido dos olhos), e criam a ligação com as imagens interiores da
alma, uma válvula de escape para permitir que as coisas tenham seu curso. Os
adultos conhecem a situação, ainda que felizmente rara, de sonharem já ter ido
ao banheiro e serem despertados pela primeira gota, que, com essa técnica sutil,
escapa-lhes na cama.
Em primeiro lugar, entre as causas do reaparecimento do sintoma estão três
preocupações: por exemplo, no caso em que um recém-nascido toma o lugar
do irmão. Isso signi ca que as crianças tendem à regressão e querem voltar a ser
pequenas. Analogamente, a separação dos pais – no caso de crianças que
durante o dia parecem enfrentá-la com muita coragem e ser fortes para
amparar a mãe já triste – levará a expressar a dor da perda à noite por meio da
enurese. Um novo namorado da mãe também pode fazer o sintoma reaparecer,
nesse caso signi cando: “Cuide primeiro de mim”. Ou, ainda pior: “Se você
deixou o papai ou o mandou embora, agora chegou minha vez”. Em suas
percepções, as crianças costumam ser injustas a esse respeito. Até mesmo um
pai que tenha saído de casa de espontânea vontade passa a ser valorizado em
sua imaginação e, às vezes, até idealizado.
Muitas vezes, as crianças mais velhas também podem apresentar esses
sintomas. Outro possível elemento desencadeador, além do nascimento de um
irmãozinho, é a atividade pro ssional da mãe. Nesse caso, as lágrimas noturnas
exprimem, além da saudade da mãe, um protesto contra ela. Por m, mesmo
quando os pais não exercem nenhum tipo de pressão, pode acontecer de
especialmente os primogênitos a exercerem por si próprios. Por exemplo,
quando o irmão mais novo os ultrapassa em algum aspecto evolutivo, como
receber notas mais altas na escola, ser o mais bonito ou ter mais amigos.
15.2.1.3 Compensação noturna da pressão
“A Lua me atrai.”
No sonambulismo, trata-se quase sempre de atividades noturnas inofensivas.
Tanto o sonambulismo (do latim somnus = sono e ambulare = deambular)
quanto a sensibilidade à Lua ou o lunatismo (do latim luna) mostram aspectos
da mesma sintomatologia. Em sua forma mais atenuada, trata-se de um sono
inquieto em noites de Lua cheia, e torna-se mais grave se, nessas fases lunares,
as crianças são acometidas por sonhos violentos, provenientes do reino das
sombras, ou se, sob a in uência da Lua cheia, já não conseguem fechar os
olhos. Com uma vigília noturna, elas como que veneram na Lua o princípio
feminino. Quando realmente caminham dormindo, transformam o tempo
arquetipicamente feminino da tranquilidade noturna em um tempo
marcadamente masculino, de atividade externa. Por trás disso, é evidente a
tarefa adiada, ou seja, a de crescer ativamente no polo feminino. Guiadas por
suas imagens anímicas, elas se levantam sem acordar conscientemente e
iniciam, com a proverbial “segurança do sonâmbulo”, ações singulares,
incompreensíveis à consciência em vigília e que parecem problemáticas ou até
mesmo perigosas.
A Lua cheia, símbolo redondo e completo do feminino, atrai as crianças, as
conquista e as faz sair de si mesmas. O todo acontece em um estado de
absoluta inconsciência e deixa para trás uma completa perda de memória
(amnésia) no dia seguinte. O inconsciente, provavelmente muito pouco ativo
durante o dia, toma posição e surge à noite, durante a Lua cheia, quando os
sinais são mais favoráveis a esse outro aspecto da realidade.
Por trás desse fenômeno há uma repressão, durante o dia, dos impulsos
vitais, provenientes da metade feminina da alma, que, por essa razão, emergem
à noite. O que é irracional e não é razoável só pode ser vivido à noite. Ao
mundo patriarcal, tudo que está ligado à energia lunar, arquetipicamente
feminina, logo parece loucura. Quando as loucuras se tornam ainda mais
evidentes do que em relação àquelas do lunatismo, os anglo-saxões recorrem ao
termo lunatics para indicar todos os “loucos” de que se ocupa a psiquiatria.
Obviamente, os sonâmbulos dependentes da Lua estão muito longe disso.
Neste caso, trata-se de restituir à noite e às forças lunares seu direito de
existir, conceder-lhes o tempo certo e levar a sério o mundo das imagens
internas, que se exprime por meio dos sonhos e das fantasias. Seria útil prestar
atenção na Lua e na sua energia, aprender a apreciá-la e a conceder-lhe o
reconhecimento e o valor que convêm a todo arquétipo. Quem se coloca
voluntariamente sob a in uência da energia lunar e leva a sério o mundo
noturno e de sombra dos sonhos tanto quanto o lado de sombra do dia
aprende e cresce com eles, tornando supér uas as excursões concretas na
sombra da noite. A segurança do sonâmbulo durante suas excursões noturnas
pode ser tomada como exemplo para uma relação equivalente com os símbolos
do mundo das sombras. Assim, a sensibilidade lunar e o sonambulismo são
ocasiões para encontrar o contato com o outro lado (da própria essência) e para
deixar-se guiar e conduzir pelas forças da alma. Isso corresponde à tarefa de
deixar mais espaço ao inconsciente, aproximar-se mais dele, aprender a mover-
se no mundo das sombras, perceber os impulsos do inconsciente e deixar-se
guiar por ele. Ou então, na prática, mover-se mais com a segurança do
sonâmbulo, mas também seguir, durante o dia, o próprio faro e a própria
intuição.
Durante as excursões noturnas, a segurança do sonâmbulo poderia tornar-se
um exemplo da atitude geral de deixar-se conduzir, a condução interior ao
longo da vida. Assim, o desejo de exploração entre os dois mundos poderia ser
entendido como um sinal de distinção.
Perguntas para os pais:
► De que modo podemos criar um equilíbrio entre o polo masculino e o
feminino (razão e sentimento)?
► Nosso lho tem oportunidade su ciente de sonhar e abandonar-se às
próprias fantasias?
► Nosso cotidiano tem deveres demais em sua programação?
► Seguimos as nossas intuições e ouvimos os nossos sentimentos?
Medidas de apoio:
► Normalmente, não é necessário nenhum tratamento.
“Estou com medo do homem do saco preto.” – “Perco a cabeça de tanto medo.”
No caso do pavor nocturnus, também descrito na seção sobre o medo
(15.1.3.1), as crianças acordam de repente no meio da noite, gritando; nada é
capaz de acalmá-las, não reconhecem os pais e estão claramente em outro
mundo. Prova disso é também o fato de que, no dia seguinte, já não se
lembram de nada. Trata-se, nesse caso, de um sintoma semelhante ao
sonambulismo, com o agravante do medo.
Embora as crianças nesse estado não reconheçam os pais, pois as imagens
internas são fortes demais, sua presença geralmente é útil para transmitir à
criança a segurança de que ela necessita em sua luta ativa contra as guras
oníricas. É importante encorajar a criança a sentar-se, pois a posição sentada
transmite mais autoridade em relação àquela deitada. O ideal seria o pai ou a
mãe sentar-se atrás da criança para reforçar, mas também proteger, em sentido
metafórico, as suas costas. Desse modo, a criança encontra “sozinha” a força
para libertar-se das suas guras oníricas.
Entre os remédios homeopáticos típicos para esses sintomas estão aqueles
que têm uma relação com o outro mundo, os “remédios das bruxas”, como o
estramônio (Datura stramonium).
Perguntas para os pais:
► Como podemos criar uma atmosfera do sono para o nosso lho, na qual
ele se sinta bem e consiga dormir?
► Como podemos reforçar sua força interior e sua autocon ança?
► Como ele pode aprender a soltar-se com con ança?
► Como podemos demonstrar-lhe que con amos nele? Somos capazes de
soltá-lo?
► Qual a medida de nossa con ança nas forças interiores de sua alma e
como podemos transmiti-la a ele?
Medidas de apoio:
► Criar uma atmosfera especial para um sono saudável.
► Proporcionar tranquilidade e não permitir distúrbios vindos de fora.
► Evitar atividades excitantes uma hora antes de ir dormir; por exemplo,
brincadeiras muito agitadas, lmes de suspense, jogos no computador e
histórias agitadas.
► A partir do nal da tarde, renunciar a bebidas energéticas, como Coca-
Cola, chá verde ou preto, Red Bull, etc. (sem levar em conta o problema
especí co, essas bebidas não são adequadas a crianças).
► Temperatura: evitar extremos.
► Luz: escurecer o quarto.
► O quarto da criança deve estar livre de radiação eletromagnética.
► Renunciar a alimentos de difícil digestão e a grande quantidade de líquido
no jantar e depois dele.
► Adotar rituais seguros, bem como hora certa para ir dormir e para levantar;
manter um olhar retrospectivo positivo em relação ao dia.
► A cama não deve ser associada a pensamentos negativos nem a punições.
► Respeito pela duração individual da sesta e pela hora de ir para a cama.
► Rumores de fundo: tenha em mente que algumas crianças que sentem
medo dormem melhor se percebem a vida familiar ao seu redor, mesmo
quando ela faz barulho.
► Como deve ser o quarto: instalar um disjuntor de rede, eventualmente
para a escuridão; bom arejamento; silêncio e colchão adequado
(termoelástico); cama no lugar apropriado (estabelecê-lo com o auxílio de
um rabdomante); puri cação dos campos energéticos de distúrbio;
puri cação do ar (ionizadores contra íons negativos).
15.3.2.3 Falar durante o sono
15.3.2.4 Pesadelos
15.4 Sobrepeso
15.5.1 Gagueira
“Eu também gostaria de ter a palavra, mas ela não sai.”
Normalmente, a gagueira se manifesta entre o terceiro e o quinto ano de vida,
e apenas raras vezes após o sétimo. Excepcionalmente, pode ser desencadeada
por choques ou experiências traumáticas, até mesmo em idade adulta.
É provável que, entre as pessoas que sofrem de gagueira, o número de
homens seja cinco vezes maior do que o de mulheres, o que indica que o
problema estaria relacionado a um distúrbio no hemisfério esquerdo, região
cerebral arquetipicamente masculina. Os gagos conseguem cantar quase sempre
sem nenhuma di culdade. Mesmo em estados de profundo relaxamento ou em
transe, sua fala ui sem impedimentos. Enquanto a linguagem se encontra sob
a in uência do lado direito e feminino do cérebro, o problema desaparece
sozinho.
Segundo alguns estudos, de 40% a 60% dos gagos encontram o mesmo
problema no pai ou na mãe, o que nos leva a pensar em imitação social. Com
frequência existe uma história prévia, na qual o pai ou a mãe não deixava o
lho ter a palavra. Não raro trata-se de um pai bem-sucedido, mas autoritário,
que, em virtude da própria vitalidade e impulsividade, não concedia ao lho
seguir seu próprio ritmo, mais lento, e sempre lhe tomava a palavra ou o
interrompia por pura impaciência. Quando a velocidade normal de uma
criança é desaprovada como lentidão e um dos pais a critica e a in uencia com
tentativas de abreviação, a criança tenta, necessariamente, falar mais rápido e,
em última instância, até como uma metralhadora e acaba se sentindo sob
pressão. Desse modo, o pai ou a mãe com semelhante pretensão mostra
alopaticamente ao lho a tarefa que lhe cabe, ou seja, exprimir-se mais devagar
em vez de se comunicar como uma metralhadora. Em relação ao outro
cônjuge, que em cerca de metade dos casos também era “atravancado” na
infância, a criança re ete, em sentido homeopático, a sua temática de articular-
se de maneira mais incisiva.
Segundo as experiências dos pediatras antroposó cos Soldner e Stellmann,
em grande parte dos afetados existe um con ito inconsciente e correspondente,
que acaba se evidenciando como gagueira. Entretanto, um choque ou trauma
também são considerados causas possíveis. Em cerca de 30% dos casos
restantes, trata-se de um atraso no desenvolvimento linguístico, provavelmente
no centro da linguagem, que pode ser visto até mesmo em uma alteração no
eletroencefalograma (EEG).
O que acontece quando se gagueja? As palavras cam literalmente
bloqueadas na garganta e não saem com uência da boca, que, nesse caso,
representa uma espécie de megafone ambivalente. Como símbolo da expressão
e da maioridade, a boca faz ressoar os temas problemáticos. Formular um
enunciado torna-se extremamente difícil, e a maioridade é colocada em
discussão. As crianças também podem exprimir seus pensamentos e
sentimentos ou se libertarem de maneira fragmentada. Frases como “não
consigo falar” ou “me deixe terminar!” podem contribuir para compreender
outros aspectos da situação psíquica.
15.5.1.1 Subcategorias da gagueira
15.6 Tiques
“Prestem atenção em mim; tenho mais de um defeito.”
Nesse caso, a pessoa quer mostrar que deseja pôr logo mãos à obra e agir.
Muitas vezes, os esportistas exibem em público alguns hábitos que, com o
tempo, podem assumir o caráter de verdadeiros tiques. Frequentemente, esses
hábitos surgem como superstição. Quando determinado comportamento se
associa a um sucesso muito desejado, ele pode levar a uma repetição sem
sentido. São gestos simbólicos, que vão desde arrumar os cabelos, passando por
se coçar até modelos sempre repetidos de movimentos, por exemplo com a
raquete de tênis ou de volante, que supostamente prometem sucesso, mas
também pigarrear repetidas vezes, o que aludiria ao fato de que alguém, ainda
que apenas uma vez, queria dizer alguma coisa.
Tanto quanto os tiques, esses “hábitos tolos” podem ser abandonados
quando o indivíduo se conscientiza de seu verdadeiro desejo.
Perguntas para os pais:
► O que nosso lho quer fazer?
► Com o que quer começar?
Medidas de apoio:
►
No caso de estalar os dedos, geralmente se trata apenas de um hábito
“tolo”. Ao que parece, as pessoas afetadas querem “se mexer” e fazer
alguma coisa, descobrir o “ponto crucial” e, em seguida, entrar em ação.
Portanto, pode-se aceitar esse sintoma sem preocupação.
15.7.2 Enfiar o dedo no nariz
15.8.1.1 Ciúme
“Tenho coisas mais importantes para fazer do que car olhando para vocês
enquanto como.”
A fuga da mesa durante as refeições em família, antes de os pais terminarem de
comer, é uma necessidade de quase todas as crianças. Antigamente, tínhamos
até de pedir permissão para dizer alguma coisa, e era proibido interromper um
adulto. Os cotovelos, símbolos da capacidade de impor-se e da falta de
respeito, não podiam nem sequer ser apoiados na mesa. Não era uma questão
de cansaço, e sim de pro laxia para a agressividade e um sinal de boa educação
ou treinamento, pois quase nunca os pais eram capazes de explicar essa medida.
Esses tempos autoritários, com suas rígidas regras e rigorosas normas, já
estão amplamente superados. Entretanto, a pergunta sobre quando uma
refeição comum realmente chegou ao m permanece sem solução; e as boas
maneiras à mesa continuam sendo mais importantes do que costumamos
admitir.
Por um lado, a refeição em família ainda é um dos últimos rituais em
comum. Ele vive de suas regras e, de preferência, começa e termina com todos
juntos. Contudo, as crianças têm di culdade para compreender isso.
Naturalmente, também nesse caso haveria uma variante muito mais branda. Se
as conversas durante as refeições fossem interessantes para as crianças a ponto
de fazê-las permanecer à mesa, o problema estaria resolvido. Por outro lado,
quem se dirige aos lhos com perguntas “irritantes”, do tipo: “Como foi na
escola?”, naturalmente estimula sua aversão e, em todo caso, os exorta a uma
resposta estereotipada: “Como sempre, mãe!”
Se as conversas não forem adequadas às crianças, talvez fosse melhor que as
famílias modernas de hoje as deixassem sair da mesa quando terminassem de
comer e os assuntos as aborrecessem.
Perguntas para os pais:
► De que modo podemos trazer à mesa assuntos que agradem a todos?
► Será que nossas regras à mesa são antiquadas e precisam ser superadas?
► O que podemos fazer para que nosso lho não associe à refeição apenas
obrigações irritantes?
Medidas de apoio:
► Estratégia dupla: um acordo para deixar que simplesmente saiam da mesa
poderia prever dois tipos de refeição: a informal, em que as crianças
podem se levantar assim que terminarem de comer; e aquela
acompanhada de conversas importantes, em que se levantar não vem ao
caso.
Os resorts da rede Robinson-Club, por exemplo, introduziram uma dupla
estratégia muito bem aceita pelas crianças: às 18 horas inicia-se uma
refeição voltada para as crianças e, a partir das 20 horas, outra para os pais,
sem os lhos. As famílias que adotaram essa estratégia caram satisfeitas
com os dois horários. Naquele infantil, os pais cam sentados ao lado das
crianças e respondem a todas as suas perguntas, que geralmente não
duram muito. Os pais comem mais tarde e podem conversar com calma.
► Ritual coletivo: obviamente, o ideal seria a terceira variante, hoje quase
utópica, em que comer lentamente bons alimentos se torna um ritual
coletivo, que precisa do seu tempo e certa re exão, começando com
antigas orações antes da refeição e terminando com outro ritual
semelhante.
Porém, se isso não encontrar aprovação interior por parte de todos, com o
tempo, pela lei da polaridade, se obterá justamente o oposto. As
obrigações entediantes e a família associam-se em um triste conjunto, que,
no futuro, não permitirá esperar dos lhos nada de bom no aspecto
familiar e nunca trará aos pais o que eles impõem com medidas severas e
esperam com ingenuidade.
15.8.1.13 Roer as unhas
“Não vejo outra coisa que não seja a televisão.” – “Quadrada, prática, boa.”
Essa dependência moderna não se limita absolutamente às crianças. Na maioria
das vezes, os pais chegam a ser seu modelo. Como meio de comunicação de
massa, a televisão conquistou há muito tempo todos os aspectos da sociedade
moderna. A “sociedade da televisão” é deplorada pela maioria dos pais, mas
exclusivamente no que se refere a seus lhos, pois eles próprios cresceram sem a
existência desse substituto onipresente e, assim, conseguiram administrar sua
vida, ao menos em parte. Para as crianças que iniciam a vida já sobrecarregadas
e acalentadas por tantos estímulos, o mundo e suas possibilidades parecem
piores. As telas tornam-se cada vez maiores, mais dispendiosas, brilhantes e
planas; a perspectiva das crianças também se torna mais plana, estreita,
limitada, sem imaginação e até sombria.
Nesse meio-tempo, está em voga o lema “assistir à televisão em vez de
viajar” ou “vídeo, ergo sum” (vejo, logo sou). O antigo original cartesiano
“Cogito, ergo sum” (penso, logo existo) está extinto faz tempo, conforme
lamentavelmente comprovaram os recentes estudos do PISA.[35] Na
modalidade utilizada pela maioria, a televisão não contribui em nada para a
formação; ao contrário, por um lado, engorda os pequenos “sacos de batatas”
que passam horas no sofá e, por outro, os estupidi ca. Este último aspecto não
depende, de modo geral, das emissoras nem de suas programações, e sim da
escolha dos programas para os “kids”, como há tempos são de nidas as
crianças, não apenas no mundo televisivo. Tampouco as viagens são realmente
eliminadas, mas os objetivos tornam-se cada vez mais unilaterais, e os
programas escolhidos, cada vez menos exigentes do ponto de vista intelectual.
Portanto, em vez de aspirarem ao emocionante mundo exterior, as crianças
preferem, com frequência cada vez maior, car enfurnadas em casa,
preenchendo a alma com decalques da realidade. Se ler em vez de viver já
constituía certo perigo para nossa geração, assistir à televisão em vez de viver
representa uma exacerbação. Quem assiste às séries, nas quais tudo é
abertamente edulcorado – do contrário, não seria aproveitável nem teria valor
–, quem se deixa contagiar pelas novelas totalmente sem conteúdo ou passa o
tempo vendo shows de talentos, terá menos tempo para coisas mais
importantes.
Quando a própria vida vai parando de funcionar progressivamente, quando
a comunicação já não é realizada e a vida passa a se desenvolver de maneira
totalmente unilateral, a televisão obviamente ameaça se tornar um beco sem
saída para a existência. No entanto, isso não é culpa dos que atuam na televisão
nem de seus programas, e sim das pessoas que a usam erroneamente como um
substituto da vida.
Entre as crianças, muitas vezes a televisão já é uma necessidade para que
ainda consigam participar da “vida”. Tudo gira em torno das séries e das
pseudoestrelas. Nos dias de hoje, para se tornar uma, já não é necessário saber
cantar ou dançar; é su ciente saber falar a própria língua de maneira
rudimentar e ser atrevido, indiscreto e arrogante. Essas novas estrelas,
procuradas e encontradas em série e em massa na televisão, podem suscitar
pena e ser aceitas por aquilo que são, mas se essa qualidade inferior – através do
meio de comunicação da maioria – se torna a medida de todas as coisas, então
a dependência da televisão se torna uma das mais perigosas.
Considerando o poder extremo da mídia, a tarefa dos pais modernos parece
ser quase sobre-humana. As séries, que são pseudoemocionantes e mal
interpretadas, são seguidas apenas por quem já não vive histórias interessantes
nem as tem para contar. Por isso, quando os pais proporcionam aos lhos uma
vida igualmente emocionante, os kids saem de bom grado da frente da
televisão.
Contudo, o problema hoje é que, à medida que os lhos crescem, ca cada
vez mais difícil para os pais dar-lhes uma vida mais emocionante. O peergroup
domina, e as crianças são chamadas a assumir o controle da própria vida.
Atualmente, isso pode ser mais difícil do que há cinquenta anos, mas os pais
jamais puderam fazer isso no lugar dos lhos.
Quando os pais ajudam o lho a fazer sua estrela brilhar na vida, a não
esconder sua luz, e sim colocá-la no lugar certo, fazendo-a brilhar, e, portanto,
o ajudam a colocar-se sob a luz correta, a tornar-se o foco central de uma
história de vida animadora, que se passa no próprio palco (da vida), os shows de
talentos da televisão e suas perspectivas de substituir a vida se tornam menos
atraentes.
Contudo, obviamente, a televisão não deixa de ser a babá mais cômoda,
barata e con ável – sobretudo quando conectada a vídeos e DVDs. Compram-
se noventa minutos de liberdade e, quando se tem sorte e lhos pouco
exigentes, o mesmo disco pode ser visto várias vezes. Em nenhum outro lugar
as crianças modernas parecem tão tranquilas, seguras e satisfeitas. A única
insegurança desse método diz respeito apenas a seu futuro.
Diante da televisão reúnem-se pessoas de todos os grupos etários, que
acabam em um consequente isolamento, escolhido de maneira autônoma, mas,
mesmo assim, inconsciente. Não encontram o que dizer; simplesmente não
lhes ocorre nenhum assunto. Assim se desenvolve o típico isolamento
moderno, em uma estrada espiritual de mão única, na qual nada vem ao nosso
encontro. Tal como a nicotina, que ao mesmo tempo estimula e tranquiliza, a
televisão tem um duplo potencial de dependência: torna o indivíduo solitário,
mas, ao mesmo tempo, o protege da solidão. Quem possui um aparelho de
televisão nunca mais terá de car sozinho consigo mesmo.
É enorme a tarefa dos pais que se empenham pessoalmente em tentar
animar a garotada barulhenta, que quase já não faz barulho, pois se acomodou
tranquila e confortavelmente na frente da televisão. Hoje eles têm de concorrer
com os melhores animadores e com as mais fascinantes estrelas do mundo; por
isso, muitos acabam logo desistindo. Estimular a imaginação de crianças em
muitos aspectos ultrassaciadas e ultraestimuladas, tornar sua vida no trabalho
doméstico ainda mais colorida, para que resistam à in ação de imagens
coloridas da tela, não é para qualquer um e supera a capacidade da maioria.
Perguntas para os pais:
► Como podemos tornar a vida cotidiana mais emocionante do que uma
série diária de televisão?
►
Como podemos fazer com que nosso lho se conscientize do escasso
valor de determinadas transmissões?
► Como torná-los curiosos em relação ao mundo real?
► A nossa vida ou aquela de nosso lho é monótona?
► De que maneira ele pode ocupar-se adequadamente dos próprios temas?
► Que programas de televisão podemos ver e discutir juntos?
Medidas de apoio:
► Os pais deveriam oferecer aos lhos um mundo de primeira mão, permitir
que eles tenham experiências em primeira pessoa, em vez de deixá-los
viver as experiências alheias. A televisão fornece apenas imagens e
“mundo” de segunda mão. As crianças deveriam tomar consciência disso
e aprendê-lo com os pais.
► A televisão fornece soluções prontas, e as crianças precisam da percepção
sensorial para poder compreender e encontrar as próprias soluções e os
próprios caminhos.
► Talvez tivéssemos de passar novamente do lema “quanto mais cedo,
melhor” para a pedagogia do “tudo a seu tempo”, como já requer a Bíblia:
tudo tem seu tempo. Obviamente, a televisão também!
15.8.1.16 Dependência do computador
15.8.1.24 Timidez
“Sou o máximo.”
É signi cativo o fato de que em uma tábua babilônica, com pelo menos três
mil anos, seja possível ler: “A juventude de hoje é podre desde sua base, é má,
sem Deus e preguiçosa. Nunca será como a juventude anterior, e nunca será
possível preservar nossa cultura!” Há cerca de dois mil anos, um sacerdote
egípcio lamentava: “Nosso tempo encontra-se em uma fase crítica. As crianças
já não ouvem os pais. O m do mundo não está distante”. Lamentos
semelhantes foram deixados por quase todos os homens sábios de todas as
épocas, desde Hesíodo, passando por Sócrates, até chegar a Goethe. Portanto,
não é novo o problema de muitas vezes não entendermos nossos lhos quando
eles atingem certa idade.
Os temas relativos ao início da puberdade, que se anuncia com grande
antecedência, serão tratados apenas brevemente nesta seção, à medida que já
afetam as crianças (embora muito raramente) e lançam suas sombras na
infância. Os agrupamentos “políticos”, como o dos espancadores de direita,
não serão mencionados.
O cenário é amplo, subdivide-se em inúmeros grupos com regras próprias,
além de “ins e outs”, e não será considerado aqui. Além dos grupos que
mencionaremos nas páginas seguintes, existem, por exemplo, tipos peculiares,
como os “metaleiros”, que não são sindicalistas nem metalúrgicos, e sim um
grupo que compartilha uma visão de mundo ou da música dura como ferro.
Ou ainda os hardcores, que também têm pouco a ver com a core energy dos
especialistas em bioenergia, mas cujos membros, ainda que por pouco tempo,
recebem uma singular importância em sua busca pela identidade.
Chama a atenção o fato de que a cultura jovem de hoje pouco tem a ver
com a cultura em sentido tradicional. Na maioria das vezes, nem chega a ter
uma identidade musical própria, como os technos e os rappers têm a sua. Por
toda parte, títulos obsoletos são reinterpretados por cantores cover – tal é a
expressão para essa espécie de plágio – e os velhos hits voltam a fazer sucesso
com seus encanecidos intérpretes. Como se não bastasse, também se veem
novamente tendências ultraconservadoras, cujos seguidores querem chegar
virgens ao matrimônio e se vestem como seus avós.
Atualmente, os movimentos juvenis in uenciam as crianças cada vez mais
cedo. Trata-se, sobretudo, de distinguir-se dos pais, da família e, de modo
geral, de tudo que é tradicional para iniciar a busca da própria identidade, que
se mostra em uma roupa original ou no pertencimento a determinados grupos.
É chegado o momento de conhecer o próprio corpo e a sexualidade e de
aprender a sentir e a esclarecer que tipo de mulher ou de homem se quer ser.
Por sua vez, isso traz os ídolos de volta à cena, hoje em dia oferecidos em uma
quantidade como nunca se viu. E quase sempre são popstars ou atores. Ao
serem perguntadas sobre quais são seus ídolos, raras são as vezes em que as
crianças dão a mãe ou o pai como resposta. Obviamente, uma criança não
pode simplesmente escolher como ídolo uma pessoa de quem quer e deve se
desvincular. Quando as crianças saem dessa fase de libertação, a situação pode,
então, mudar novamente.
Nesse momento, é preciso assumir as consequências e a responsabilidade
pelas próprias ações. Também é necessário reconhecer os limites, pessoais e
alheios, o que quase obrigatoriamente leva a discussões e con itos, pois, até
então, os pais pensavam que fossem os donos da casa. Este é também o
momento de sair dos mundos da fantasia e, por conseguinte, entrar na
realidade de um mundo moderno, cheio de possibilidades e horrores. Trata-se,
então, de desenvolver e a rmar o próprio jeito de ser, mas também de
mergulhar em um mundo de sentimentos novos, como o do primeiro amor,
com todo o sofrimento que a ele pertence, até chegar à dor universal e à
descoberta de que a vida também pode signi car sofrimento. Os pais e
diferentes instituições passam a exigir mais a adaptação a condições de vida
preestabelecidas e um comportamento orientado pela razão. O mundo da
polaridade se abre com todos os seus lados doces e amargos. Enquanto a nova
liberdade espera pelas “crianças”, ela só pode ser obtida pelo preço da proteção.
Por m, o ingresso na sociedade meritocrática está vinculado a regras bem
precisas, tais como “quanto mais o indivíduo se empenha, mais ele vive” ou
“tempo é dinheiro”, bem como a um pressentimento – assim se espera – de que
algo não está certo nesse estilo de vida. Mas são poucas as chances de se
descobrir o que e o porquê.
A mãe ou o pai que quiser compreender os problemas e os distúrbios
comportamentais dessa fase terá de inteirar-se da respectiva cultura juvenil,
pois muita coisa só poderá ser entendida a partir dessa perspectiva. O
pertencimento a movimentos especí cos determina em ampla medida se um
adolescente corre o risco de viciar-se em alguma droga ou tem alguma
tendência à violência. Obviamente, as crianças chegam ao respectivo ambiente
de acordo com sua ressonância. Também a esse respeito valem as leis da
regularidade, e não o acaso – ou, como formulou certa vez Anatole France:
“Talvez o acaso seja o pseudônimo de Deus quando Ele não quer assinar”.
Assim como os hippies escreveram paz e amor livre em suas bandeiras e
sonhavam colocar uma or no cano de uma arma, o que nunca foi consentido
à maioria deles, hoje, grupos muito diferenciados têm suas regras próprias.
Em todo caso, é preciso ser legal, de preferência, superlegal, o que não é fácil
diante de temas tão importantes como a premente puberdade. Embalar o amor
ardente de modo frio é uma arte com a qual os pais ou os avós de hoje
normalmente não têm nenhuma experiência. Porém, esse é o principal
problema de seus “kids” em crescimento.
O que é legal em determinado momento depende do ambiente e é
mensalmente “atualizado” nas correspondentes revistas juvenis, com base em
uma lista do que é “in” e “out”. Embora esse fenômeno se adapte muito bem à
nossa época acelerada, quase não deixa tempo para as crianças recuperarem o
fôlego na tentativa de permanecerem “legais”, uma vez que a opinião de um dia
torna-se um erro no dia seguinte. Se em seguida forem dadas algumas
indicações sobre tendências atuais, há que se pensar em quão rapidamente elas
poderão voltar a mudar. Os pais que estiverem um pouco informados a
respeito têm mais chances de reconhecer se uma anomalia comportamental é
um problema individual de seu lho ou fruto da coerção de um grupo. Assim,
às vezes pode ser mais fácil afastar o lho desse cenário – na pior das hipóteses,
até mesmo mudando de casa – do que tratar seu distúrbio comportamental.
15.8.2.1 Ravers ou techno-kids
“Dark is beautiful.”
Entre os góticos, que se originaram na Inglaterra, também se reúnem os gruftis,
que se interessam prematuramente pela cultura dos túmulos, e os darks. Todos
têm predileção pelo que é escuro, preto e místico. Tristes e introvertidos, com
rostos pintados de cinza-pálido a branco, crânios muitas vezes tosados
assimetricamente, com algumas mechas pretas, buscam a verdadeira
identidade.
Outsiders como os punks, não querem de modo algum participar dessa
sociedade e preferem ocupar-se de temas que, certamente, seguem sua
ressonância, como a morte e o medo, as visões de horror e os pesadelos,
buscando esses temas também em sua música.
15.8.2.6 Os hip-hoppers
16.1 Autismo
“Estou pouco me lixando para vocês...” – “Não quero ter nada a ver com nada nem
com ninguém.”
Do ponto de vista da medicina acadêmica, as causas do número crescente de
casos de autismo permanecem no escuro. Entretanto, existem grupos de
especialistas – por exemplo, os epidemiologistas – indicam uma conexão
temporal entre o aparecimento maciço de autismo e a vacinação extensa contra
a coqueluche nos Estados Unidos. Todavia, ninguém ainda ousou estabelecer
uma conclusão sobre essa relação causal, embora a correlação seja ostensiva –
razão su ciente para sermos mais cautelosos com esta e, de preferência, com
todas as vacinas.
Provavelmente, é correta a opinião de muitos homeopatas, que partem do
princípio de que as vacinas tornam a vida das crianças desnecessariamente
difícil. Talvez o organismo em crescimento perceba as vacinas como um ataque
à sua incolumidade e às suas possibilidades de desenvolvimento, como se lhe
estivéssemos impondo uma hipoteca mais pesada do que no momento
podemos imaginar.
Em todo caso, Edward Jenner, descobridor da vacina contra a varíola,
reconheceu em seu leito de morte que havia criado um monstro com sua
descoberta. À sua própria mulher, a vacina causara o nascimento de um lho
morto, coberto pelas cicatrizes da doença, e seu outro lho, após a vacina,
passou a vida no estágio mental de uma criança de 1 ano e morreu aos 21.
Como poucos outros quadros clínicos, o autismo é adequado para nos
ensinar o temor e o estupor ao mesmo tempo. O total fechamento em relação
ao mundo exterior, tal como apresentado no impressionante lme O Enigma
das Cartas ou em Rainman, sucesso mundial de Hollywood, nos deixa sem
palavras. As pessoas afetadas vivem quase inteiramente em seu próprio mundo
interior. De certo modo, buscam asilo no interior, enquanto o asilo externo
para sua proteção é apenas a resposta de uma sociedade incapaz de ajudá-las e
que, no fundo, mal suporta quando alguém lhe vira as costas.
Por outro lado, os autistas nos espantam quando, com extrema facilidade,
fazem malabarismos dignos de virtuoses no jardim do mundo dos números
pitagóricos. O lme Rainman nos mostra de maneira surpreendente um autista
quebrando a banca de um cassino com toda a tranquilidade, pois conseguiu
memorizar todas as cartas do jogo. Uma caixa de fósforos, caída por acaso no
chão, permite que ele calcule na hora o número de palitos nela contida. Assim
são os autistas – do ponto de vista da sociedade – fracassados no geral, mas,
não raro, gênios nos pequenos nichos de seus próprios mundos de números,
formas ou também música.
Nesse sentido, não é de admirar quando as modernas abordagens
terapêuticas às vezes conseguem, por meio do computador, restabelecer um
nível de comunicação com eles. Ainda não sabemos se é o mundo digital da
magia numérica nos PCs a instaurar uma ponte entre os autistas e o nosso
mundo ou a possibilidade de decompor regras e palavras em letras individuais,
para depois, ao contrário, recompô-las.
Do ponto de vista da medicina acadêmica, nem chegam a existir hipóteses
de trabalho convincentes em relação ao autismo. As poucas abordagens
acadêmicas, desconsiderando-se a que usa o computador, percorrem as vias de
comunicação alternativas, seguidas pelos pais ou por terapeutas. Um exemplo
bastante comovente a esse respeito é dado pelo já mencionado lme O Enigma
das Cartas, em que a mãe consegue encontrar e abrir a porta que dá acesso ao
seu lho através de brincadeiras fantasiosas concretas e insolitamente
simbólicas.
Uma forma mais branda do mutismo pode indicar um possível acesso.
Nesse caso, trata-se, por assim dizer, de um autismo reelaborado, que se refere,
por exemplo, a uma pessoa especí ca. A criança emudece em razão de
problemas psicológicos em relação a uma única pessoa ou a um grupo. Essa
recusa em falar pode ser facilmente confundida com o autismo. Nesse caso,
talvez ocorra o mesmo que se dá com a depressão endógena, que por muito
tempo não recebeu explicação, até que alguns pesquisadores sensíveis
conseguiram encontrá-la.
16.1.1 Conhecendo outros mundos
oportunidade?
Tendo chegado ao nal do livro, podemos re etir sobre que tipo de dote
queremos deixar para nossos lhos. O material, em forma de herança, muitas
vezes se transforma em veneno. Muito melhor e mais importante seria
transmitir-lhes, em nível físico, boa saúde, por exemplo, habituando-os aos
“pilares da saúde”.
Entretanto, além da saúde física, há também a psíquica e a capacidade de
lidar com a vida. Para mim, em primeiro lugar, vêm as leis da vida.[37] Na
hierarquia das prioridades, logo abaixo se posicionam os princípios primários
ou arquétipos, mencionados nas entrelinhas e, às vezes, também diretamente,
pois, sem eles, uma compreensão mais profunda da existência em todos os seus
campos e com todos os seus signi cados é praticamente impossível.
Para compreender todo o espectro das tarefas humanas no percurso da vida,
cada um de nós precisa redimir todos os arquétipos e princípios primários.
Quanto mais cedo isso acontecer, tanto melhor. Transmiti-lo a nossos lhos
seria uma das tarefas mais nobres que poderíamos cumprir. Por isso,
resumiremos essas tarefas em seguida, em forma de cção:
“Quando Deus viu os homens errar desorientados por seu mundo, decidiu
plantar em sua alma doze instrumentos para que pudessem orientar-se melhor.
Os homens receberam a incumbência de transmitir esses instrumentos a seus
lhos, de geração em geração, para que, ao nal, Sua Criação fosse perfeita.
Seguem os doze instrumentos em detalhes:[38]
1. Tenham coragem de recomeçar a cada dia e aprendam a impor sua
essência no local e no momento certos.
2. Parem sempre que precisarem encontrar clareza sobre seu lugar e seu
ponto de vista na vida. Tomem tempo para lançar raízes, ancorar-se e
desfrutar a vida com todos os sentidos.
3. Nunca deixem de aprender, de investigar o mundo, de adquirir
conhecimento sobre ele e trocar opiniões com outras pessoas a respeito.
4. Entreguem-se a todos os sentimentos e sensações que a vida lhes
presenteia. Mas deixem-nos ir embora, não os detenham. A alma é
como a água, que sempre precisa correr. Compartilhem seus
sentimentos com todos. Assim, vocês terão compaixão.
5. Tenham coragem de ser vocês mesmos. E aonde quer que vão, façam-
no com todo o coração, a m de levar ao mundo alegria e amor com as
criações de seu ser.
6. Levem ordem aos lugares do mundo onde for necessário. Tratem-no
com grande respeito e atenção, insiram-se na grande ordem da Criação
e sejam gratos por ela os nutrir e carregar. Aprendam a ver o que existe,
o que lhes foi dado, e não cobicem o que acham que ainda precisam.
7. Dirijam-se a todos os seres humanos com compreensão afetuosa.
Deixem-se encantar pela beleza do mundo e aumentem-na com a beleza
interior de seu ser.
8. Tenham sempre consciência da efemeridade da vida neste mundo. O
uxo incessante da morte e do devir deve tornar cada momento
precioso.
9. Busquem metas e objetivos elevados, a m de experimentar o
verdadeiro sentido da escola da vida. Mas tenham sempre em mente a
justa medida e o respeito pelo espaço vital dos outros seres.
10. Aprendam a reconhecer o essencial na plenitude e a limitar-se cada vez
mais a ele. Assumam toda a responsabilidade por sua própria vida e
cumpram seu dever com alegria.
11. Sigam o desejo de liberdade, independência e verdade. Sejam corajosos
e fortes o su ciente para percorrer seu próprio caminho sem se esquecer
de que sempre permanecerão parte de uma comunidade.
12. Tenham con ança no uxo de sua vida, seja qual for a direção para
onde ele possa conduzi-los. Através do mundo das imagens, de seus
sonhos e de suas fantasias, aprendam a reconhecer que, por trás dessa
realidade, existe outra ainda maior e in nita.
Com esses conhecimentos em sua bagagem de vida, vocês certamente
encontraram o caminho de volta para casa, que conduz até Mim. Até lá,
crescerão e prosperarão. Rirão e chorarão. Seguirão por muitos caminhos e
desvios. Eu lhes dou um tempo in nito e a liberdade de escolher por si
próprios até encontrarem a sabedoria da vida, que os reconduzirá até Mim.
18 Agradecimentos
Homeopatia:
Urtica urens
– Dores e aspecto físico como de contato com urtiga.
–Melhora com o frio.
Arsenicum album
– Após excesso de proteína animal.
–Melhora com o calor.
Cantharis
– Vermelhidão intensa, forte queimação.
–Com formação de bolhas.
Apis
– Com inchaço aquoso, vermelho e quente.
–Melhora com o frio.
Simbologia: perder a cabeça, ataque repentino de fúria ou explosão agressiva
na pele.
Tarefa: desabafar em vez de descontar na pele!
Primeiros socorros: em casos extremos de choque alérgico, ministrar cortisona.
Em hipótese alguma dar cálcio em casos de alergia!
19.1.2 Feridas por mordidas
Homeopatia:
Ledum
– Remédio principal.
–Ferida profunda, com pouco ou nenhum sangramento.
Arnica
– Com sangramento.
Hypericum
– Em caso de dores fortes.
Simbologia: a agressão acomete a criança a partir de fora; a criança deveria se
tornar mais agressiva! O predador não vivido vem de fora e ataca.
Tarefa: tirar o cacete do saco, desenvolver a mordida, para não se tornar mordaz
nem feroz.
Primeiros socorros: deixar sangrar, não fechar arti cialmente a ferida (perigo de
tétano!). Desinfetar com água de calêndula ou com a própria urina.
19.1.3 Hematoma
Homeopatia:
Arnica
– Remédio principal.
Ledum
– Se a arnica não for su ciente e em caso de um hematoma grande,
especialmente quando assumir uma coloração preto-esverdeada.
Simbologia: receber uma pancada, um chute ou um golpe na coxa. “Quem não
quer ouvir deve sentir!” – “Quem não quer ver será golpeado, ou melhor, se
machucará no mundo.”
Tarefa: abrir-se mais para os impulsos e indicações importantes, antes de chegar
a sangrar; reconhecer os obstáculos e utilizá-los em proveito do próprio uxo
da vida em vez de combatê-los.
Primeiros socorros: não são necessários.
19.1.4 Hemorragias
Homeopatia:
Arnica
– Remédio principal.
Hypericum
– Em caso de dor.
Calendula
– Para limpar externamente a ferida.
– Dez gotas de tintura-mãe em um copo d’água para lavar a ferida.
Simbologia: símbolo da vida, por isso, do ponto de vista da pessoa afetada,
toda hemorragia deve ser imediatamente interrompida. Na verdade, feridas
sujas deveriam sangrar por mais tempo, para que assim ocorra uma limpeza de
dentro para fora.
Tarefa: deixar uir voluntariamente a energia vital; internamente, entrar no
uxo e no próprio ritmo.
Primeiros socorros: limpar a ferida e, em seguida, cobri-la ou aplicar um curativo
sobre ela.
19.1.5 Intoxicação sanguínea
Homeopatia:
Gunpowder
– Remédio principal.
–Cinco glóbulos D12, três vezes ao dia.
Pyrogenium
– Especialmente em caso de picadas de insetos.
Simbologia: os agentes patogênicos penetraram no sangue, ou melhor, na
corrente linfática; o corpo não consegue se liberar do ataque; a in amação
insinua-se ulteriormente na direção do centro.
Tarefa: permitir que temas explosivos venham à tona; conduzir a luta pela vida
de maneira mais incisiva; colocar-se de maneira mais ofensiva diante dos
desa os; opor-se e resistir.
Primeiros socorros: procurar um médico.
19.1.6 Concussão cerebral
Homeopatia:
Arnica
– Remédio principal.
Hypericum
– Posteriormente, em caso de dor.
Simbologia: receber um tiro na proa, uma pancada na cabeça; ser sacudido; agir
sem pensar.
Tarefa: perceber e levar a sério, oportunamente, os impulsos mentais; permitir-
se pensamentos inconvenientes. Estimular novos pensamentos. Deixar a cabeça
repousar sicamente.
Primeiros socorros: Rescue Remedy.
19.1.7 Picadas de insetos
Homeopatia:
Apis
– Inchaço quente, vermelho e aquoso.
–Melhora com o frio.
Ledum
– Picadas que custam a sarar, que adquirem coloração escura ou de várias
cores.
– Inchaço frio e duro.
Staphisagria
– Em caso de várias picadas de mosquito.
Vespa
– Em caso de reação intensa, com distúrbios circulatórios.
Simbologia: pequenas picadas que “irritam”; o estranho busca acesso sem ser
notado e causa irritação (às vezes, até sangrar). Alguma coisa provoca prurido e
faz a pessoa se coçar, ou melhor, a romper com violência as próprias fronteiras.
Tarefa: deixar-se tocar pela vida; permitir voluntariamente in uências externas;
praticar a abertura; permitir que os outros compartilhem da própria energia;
deixar-se estimular; abrir voluntariamente as próprias fronteiras.
Primeiros socorros: creme Rescue Remedy.
19.1.8 Fraturas
Homeopatia:
Arnica
– Para aliviar a dor.
Hypericum
– Em casos de dor que percorre todo o nervo.
Simbologia: as próprias estruturas são questionadas; a continuidade é
interrompida.
Tarefa: abandonar a continuidade; sair dos trilhos habituais; deixar a velha
estabilidade em favor da nova mobilidade. Tornar-se mais exível; desenvolver
maior mobilidade psíquica e intelectual.
Primeiros socorros: Rescue Remedy e, obviamente, cuidados médicos imediatos.
19.1.9 Distúrbios circulatórios
Homeopatia:
Veratrum album
– Palidez, sensação de desmaio, suor frio e náusea.
–Desejo de calor.
Simbologia: insu ciência de abastecimento de sangue no cérebro; a energia
vital não é su ciente para abastecer a central.
Tarefa: observar os próprios enganos; reconhecer em que circunstâncias se é
enganado a respeito da honestidade; reti car as informações. Con ar
conscientemente no ritmo e nas condições da vida em vez de vacilar; encontrar
a própria linha (de vida) em vez de se tornar inconstante; entregar-se à situação
em vez de se entregar.
Primeiros socorros: pôr as pernas para o alto, a cabeça para baixo; Rescue
Remedy. Com o dedo, bater no ponto situado entre o nariz e o lábio superior.
19.1.10 Intoxicação alimentar
Homeopatia:
Okoubaka
Em caso de agentes desencadeadores especí cos:
– Ovos: Carbo vegetabilis.
–Sorvete: Arsenicum album.
–Comida gordurosa: Pulsatilla.
– Gordura, ranço: Arsenicum album, Carbo vegetabilis.
–Peixe: Carbo vegetabilis.
–Carne: Arsenicum album.
–Queijo: Arsenicum album, Carbo vegetabilis.
–Batata: Nux vomica.
–Conservas: Arsenicum album.
–Frutos do mar: Arsenicum album, Carbo vegetabilis.
–Leite: Arsenicum album.
–Frutas: Pulsatilla.
–Cogumelos: Pulsatilla.
–Chocolate: Arsenicum album.
–Fumaça de tabaco: Arsenicum album.
–Salsicha: Arsenicum album.
Agentes desencadeadores não especí cos:
Arsenicum album
– Vômito, diarreia, queimação no estômago.
–Medo; inquietação; fraqueza crescente; sede intensa de água fria, tomada a
pequenos goles.
Carbo vegetabilis
– Ventre distendido, colapso, muita palidez.
–Sensação de aperto no pescoço, estenocardia, desejo de ar fresco.
Nux vomica
– Tenesmo, dor ao evacuar, prolapso anal.
–Humor irritável.
Pulsatilla
– Náusea com dores abdominais, vômito, diarreia, eructação ácida.
–Ausência de sede, suscetível ao choro, muito apegado.
Simbologia: ingestão errônea de alimento indigerível por falta de atenção,
porque não se teve o olfato correto, não se distinguiu o sabor nem se
reconheceu em tempo que havia alguma coisa “suspeita” naquela comida.
Tarefa: pôr para fora em sentido concreto (e gurado), deixar que saia o que
está errado.
Primeiros socorros: causar vômito estimulando a úvula. Em caso de dúvida,
consultar um médico.
19.1.11 Desmaio
Homeopatia:
Aconitum
– Em caso de desmaio devido a susto.
China
– Perda de sangue, diarreia acompanhada de vômito.
Coffea
– Excesso de alegria.
Nux vomica
– Dores, especialmente durante a evacuação, devido a odores fortes ou a
excessos.
Pulsatilla
– Muito tempo em pé, calor, aperto e espaços lotados.
Simbologia: pouco sangue na “central”.
Tarefa: às vezes, é preciso renunciar voluntariamente ao “poder”. As tarefas
também variam de acordo com as seguintes causas do desmaio:
– Desmaio por susto: entregar-se espontaneamente.
–Desmaiar de alegria: deixar-se envolver totalmente pela alegria e renunciar a
todo “poder”.
– Por problemas circulatórios: entregar-se inteiramente ao momento.
–Por incenso: con ar no segredo da religião em vez de fechar-se. Consagrar-se
conscientemente ao mistério e fraquejar perante Deus em vez de tremer de
medo.
– Devido a intenso perfume de ores: entregar-se aos milagres da Criação.
Primeiros socorros: colocar as pernas para cima e a cabeça para baixo; bater o
dedo entre o nariz e o lábio superior.
19.1.12 Lacerações (na cabeça)
Homeopatia:
Arnica
– Remédio principal.
Simbologia: sob tensão, o tecido estacionário se dilacera – a impressão que se
tem é que se está explodindo.
Tarefa: deixar sair das tensões internas; não permitir que chegue à prova
extrema da laceração e do estouro, mas descarregar antes a pressão. É melhor
provar a capacidade de se a rmar do que querer impor uma coisa a qualquer
preço.
Primeiros socorros: interromper a hemorragia, (mandar) costurar a ferida.
Rescue Remedy, curativo em spray.
19.1.13 Contusões
Homeopatia:
Arnica
– Remédio principal.
Simbologia: “Passaram a perna em você”, no sentido de deixar-se enganar.
Quem passa a perna em alguém o engana.
Tarefa: levar a vida a sério, deixar que ela se aproxime, sentir e perceber mais.
Tornar-se um “para-choque”, aproximar-se da vida com mais dureza, bater e
chocar-se mais contra si mesmo.
Primeiros socorros: creme Rescue Remedy.
19.1.14 Enjoo em viagens
Homeopatia:
Cocculus
– Náusea e tontura em viagens de automóvel, ônibus e trem.
–Sensibilidade a odores (por exemplo, de comida, fumaça de tabaco).
Ipecacuanha
– Forte náusea, salivação abundante, quase sempre ausência de sede.
–Não melhora com o vômito.
– Língua limpa, sem saburra.
Nux vomica
– Irritabilidade em caso de forte ânsia de vômito.
–Hiperestesia sensorial e suscetibilidade.
Petroleum
– Diarreia, náusea com vômito de bile.
–Jet lag.
–Vontade de comer. Melhora comendo.
Tabacum
– Frio gélido, prostração, tontura.
–Remédio principal em caso de enjoo.
–Melhora ao vomitar.
Simbologia: não consegue adaptar-se à viagem nem ao elemento que a ela
pertence. Deixar-se enganar por alguma coisa.
Tarefa: renunciar ao controle e se entregar.
Primeiros socorros: não é necessário.
19.1.15 Cortes
Homeopatia:
Arnica
– Como primeiro remédio (principal).
Staphisagria
– Depois da arnica, caso haja o risco de problemas de cicatrização.
–Após cortes (por faca) e operações, bem como lacerações.
Simbologia: “cortar-se” no sentido de “enganar-se”. No sentido gurado, “dar
um tiro no próprio pé”.
Tarefa: desenvolver mais coragem. Seria preferível ter uma língua a ada no
plano verbal ou mental, julgar-se severamente, questionar com ênfase e vigor os
próprios limites.
Primeiros socorros: interromper a hemorragia.
19.1.16 Escoriações
Homeopatia:
Calendula
– Remédio principal.
Simbologia: escoriar-se, excesso de desgaste; sofrer um desgaste por atrito;
exigir demais de si mesmo (no plano errado).
Tarefa: deixar que as coisas penetrem sob a pele, desenvolver mais
profundidade. Exigir mais de si mesmo no nível decisivo. Arranjar mais atrito
na vida, sentir e perceber as coisas com mais vivacidade.
Primeiros socorros: compressas com a própria urina.
19.1.17 Queimadura de sol
Homeopatia:
Belladonna
– Remédio principal.
–Vermelhidão intensa; reage com sensibilidade ao contato.
–Agitação, febre geral.
Arsenicum album
– Acne estival.
–Eritema ardente, pruriginoso e pungente.
Simbologia: tomou-se muito “sol externo” em vez de sol interno. Não ter
consciência su ciente do poder de fogo do sol. Subestimar o sol. Desejo
excessivo de parecer bronzeado e vital.
Tarefa: relacionar-se conscientemente com a irradiação masculina. Deixar que o
sol interior brilhe. “Arder” por alguma coisa em vez de deixar-se arder. Tornar-
se “fogo e chama” e in amar-se por temas essenciais.
Primeiros socorros: compressas com a própria urina, bandagem com queijo
quark ou iogurte.
19.1.18 Insolação
Homeopatia:
Glonoinum
–
Calor, vermelhidão, pele ardente, dor de cabeça forte, agitação, náusea,
eventual vômito.
Veratrum album
– Colapso acompanhado de vômito, frio no corpo, suor frio, palidez.
Simbologia: a criança tomou muito “sol externo”. Sua “central” (a cabeça)
cou sobrecarregada e quente. Sobreaquecimento, funcionamento sob calor.
Tarefa: deixar-se inspirar mais pela energia e pela irradiação masculina; abrir-se
voluntariamente para o fogo interior; entusiasmar-se mais com a vida. Viver
mais no “sol interior”. Colocar-se sob a luz correta.
Primeiros socorros: beber muita água a temperatura ambiente.
19.1.19 Lascas, farpas, estilhaços
Homeopatia:
Silicea
– Remédio principal.
Simbologia: “Você está com uma farpa” (você se enganou). Estar com um
“espinho na carne”, como a famosa “trave no olho”. Algo estranho e perigoso se
insinua sob a própria pele e faz pressão, desencadeia con itos.
Tarefa: deixar o que é importante “penetrar sob a pele”, em sentido gurado.
Permitir a entrada do que é estranho e perigosamente provocatório e deixar-se
tocar por ele; estimular-se com o confronto.
Primeiros socorros: extrair a farpa; em seguida, manter a ferida aberta. Aplicar a
própria urina (externamente).
19.1.20 Choque elétrico
Homeopatia:
Nux vomica
– Remédio principal.
Simbologia: golpe no sistema, perigo de distúrbios no ritmo cardíaco.
Tarefa: unir-se à “corrente da vida”; sair um pouco da linha. É melhor
ultrapassar os limites do que tomar um choque elétrico. Viver o que é inabitual
e original.
Primeiros socorros: Rescue Remedy. Eventualmente, buscar auxílio médico.
19.1.21 Torções em geral, torção do pé
Homeopatia:
Arnica
– Remédio principal.
–Quando o movimento causa dor intensa.
–Medo do toque e da aproximação.
Rhus toxicodendron
– Dores, desejo de movimento leve.
–Agitação.
Simbologia: “caminhar de maneira errada”, não encontrar apoio seguro,
perder o ponto de vista certo.
Tarefa: viver com mais mobilidade, mais exibilidade; adaptar-se mais às
circunstâncias.
É melhor dançar e pular, em sentido metafórico. Repensar os próprios pontos
de vista.
Primeiros socorros: Rescue Remedy, compressas de arnica, compressas de acetato
de alumínio. Se possível, continuar a movimentar-se.
19.1.22 Choque traumático
Homeopatia:
Aconitum
– Muito medo. O susto está evidente no rosto. Olhos arregalados e pupilas
dilatadas.
– Agitação.
Simbologia: choca ser arrancado do próprio trilho (ver também a seção
“19.1.11 Desmaio”).
Tarefa: renunciar a “todo poder”; viver de forma mais original e criativa.
Primeiros socorros: Rescue Remedy.
19.1.23 Queimaduras
Homeopatia
Apis
– Vermelhidão, inchaço e ardência.
Cantharis
– Bolhas e ardência.
Simbologia: “Você tinha que queimar [pagar].” Queimar os dedos.
Tarefa: arder por alguma coisa, no sentido de “entusiasmar-se”. Depositar toda
a sua energia de vida em um projeto. Ser fogo e chama para alguma coisa.
In amar-se em relação à vida.
Primeiros socorros: compressas com a própria urina. Misturar vinagre e água
quente na mesma proporção e aplicar como compressa.
19.1.24 Luxação
Homeopatia:
Arnica
– Qualquer movimento provoca dor intensa.
–Medo do toque e da aproximação.
Rhus toxicodendron
– Dores dilacerantes. Desejo de leve movimento.
–Agitação.
Simbologia: ter aterrissado em local (muito) duro. Ser comprimido (pela
vida).
Tarefa: aterrissar com rapidez e e cácia no terreno (dos fatos). É preferível ir
voluntariamente e com mais dureza de encontro à realidade. Aceitar a pressão
da vida em vez de se deixar comprimir por ela.
Primeiros socorros: Rescue Remedy; compressas de arnica; compressas de acetato
de alumínio; continuar a mover delicadamente, se possível.
19.1.25 Constipação em viagens
Homeopatia:
Nux vomica
– Evacuação dolorosa sem resultado ou incompleta.
Simbologia: restringir-se na insegurança do estranhamento em vez de abrir-se a
ela. Manter o que já se tem em segurança. Não querer correr nenhum risco.
Tarefa: melhor car em casa, junto ao que é habitual, em vez de simular
coragem. Manter para si, conscientemente, aquilo de que ainda se precisa.
Primeiros socorros: beber muita água ou suco de maçã, comer frutas e vegetais
crus. Beber Aminas e muita água. Melhorar a evacuação e o humor!
19.2 Bibliografia