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Esse fenômeno acontece, em média, até os primeiros 18 meses da vida da
criança porque a criança ainda acorda (geralmente 1 ou 2 vezes) com fome, sede
ou outras necessidades, como saudade dos pais e vontade de fazer xixi/cocô.
Mas é interessante lembrar que, ao longo de toda primeira infância, essa
demanda da criança por você ainda é bastante grande, para garantir segurança,
voltar a dormir, necessidade de mamar, trocar a fralda, e por aí vai.
Despertares noturnos são naturais no processo evolutivo das crianças e, sem
dúvidas, salvou a vida de muitas delas porque permitiram que os pais
percebessem que algo estava errado com elas.
Boa leitura!
O contexto do sono da criança
O bebê demanda sua atenção não só emocionalmente, mas também por uma
questão de dependência extrema. Por exemplo, ele não consegue se cobrir e
precisa de você para fazer isso. O Gael só passou a se cobrir sozinho depois
dos 3 anos.
Temos dois contextos muito comuns: (1) os pais que trabalham em casa, fazem
várias atividades ao longo do dia e passam o dia com a criança, mas sem
conseguir se conectar a ela, (2) os que trabalham fora, geralmente longe de
casa, e ficam mais de 10 horas longe da criança.
Diante disso, é completamente normal que as crianças fiquem com muitas
saudades dos pais e despertem à noite por conta disso. E amamentar e embalar
não são maus hábitos; é cansativo, sim, mas não negativo.
Outro aspecto, além da saudade, é que fomos desenhados para viver em
aldeias, como a maior parte dos mamíferas. Antigamente, todas as pessoas da
aldeia cuidavam das crianças; ter apenas os pais cuidando delas é algo muito
recente na nossa evolução.
Na prática, isso significa que as crianças e os adolescentes conviviam desde
muito cedo com bebês pequenos, conseguindo se acostumar muito fácil às suas
demandas.
Agora, uma constatação: provavelmente, você só descobriu o que é uma rotina
com um bebê depois que o seu nasceu.
Essa é uma realidade atual porque passamos vários anos de nossa vida adulta
saindo, curtindo, dormindo confortavelmente numa cama exclusivamente nossa
e com 8 ou 9 horas de sono diárias.
Quando temos o primeiro filho, caímos num precipício muito grande porque
estamos com expectativas muito irreais em relação às demandas de uma
criança.
Quantas vezes você já ouviu alguém dizer (ou até mesmo disse) “Meu filho não
vai fazer isso” e depois o filho fez?
Ficamos, por muito tempo, “mal acostumadas” a viver uma vida só nossa. Daí a
cama compartilhada ser ruim, por exemplo — afinal, sempre tivemos uma cama
só para nós. Se estivéssemos numa aldeia, isso não iria ser um incômodo.
Além dos motivos naturais, temos também o contexto dos pais. E é claro que a
criança irá despertar mais vezes durante a noite se estiver com saudades de
você.
Estou dizendo para você largar tudo e morar na fazenda? Claro que não. Estou
apenas pontuando isso para que você compreenda a realidade da criança e
tenha expectativas mais reais sobre o sono dela.
E, claro, com essa urbanização, mais uma coisa atrapalha muito o sono da
criança: a energia elétrica.
Ela é excelente, possibilita várias coisas em nossa vida, mas à noite pode ser
extremamente prejudicial.
Se você está cansada, querendo dormir, mas está exposta à luz, seu cérebro
entende que precisa produzir hormônios para resistir ao sono.
Por isso, você precisa criar o hábito de deixar a noite entrar na sua casa, assim
como o ritmo noturno, no sentido de calma e preparação para o sono.
Um exemplo comum: o pai que chega do trabalho e quer brincar com o filho,
mas as brincadeiras são agitadas e acabam produzindo mais adrenalina e
cortisol no corpo que já estava cansado.
Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, é fundamental que as crianças
tirem a soneca durante o dia porque isso reduz os níveis desses hormônios.
É muito importante que a criança tenha uma dia bem vivido, com muito tempo
para brincar, correr no parquinho, tomar sol, fazer uma alimentação saudável,
tirar soneca, e por aí vai.
Além disso, entra também a questão do tempo com os pais, que é fundamental
para encher o “tanque de amor” da criança, fazendo com que ela se sinta amada
e não demande tanto os pais à noite.
Como dito antes, deixe a noite entrar na sua casa tanto no sentido de luzes
quanto no de ritmo.
Aqui em casa, acendemos as luzes de parede ou de outros cômodos. Não
esbarramos uns nos outros, mas estamos sempre habituados à meia luz para
jantar, escovar os dentes, tomar banho, e por aí vai.
Uma dica para o barulho: além de evitar sons altos, coloque um ruído branco
(geralmente, são sons suaves relacionados à natureza) que ofusca outros sons
de fora do quarto e traz lembranças do útero.
Neste momento de deixar a criança na cama, esqueça o celular. Conecte-se a
ela o máximo possível porque isso irá suprir muito da necessidade dela em
relação ao seu carinho, à sua presença.
Por fim, é fundamental garantir que todas as demandas principais da criança
foram supridas. É comum casos de crianças que jantaram muito cedo e vão
dormir com fome porque os pais não se deram conta disso.
Sem perceber, a criança quase não bebeu água durante o dia ou ficou fome, e
ainda assim está indo dormir. Uma reação normal será acordar para pedir por
comida ou água.
Sei que nossa rotina é sempre corrida, mas devemos prestar atenção a esses
detalhes para que a criança consiga dormir com tranquilidade e, inclusive, não
precise nos chamar durante a noite.
Depois que as crianças dormem (geralmente às 19h30), eu e meu marido nos
policiamos para não dormir depois das 22h porque sabemos que isso refletirá
no nosso estado no dia seguinte.
E também, se os meninos acordarem durante a noite, não será tão ruim porque
estaremos dormindo no horário a que estamos acostumados. Quanto mais
descansada você estiver, menos pesada será a rotina.
E por que essa diferença entre a hora do sono dos meninos e a nossa?
Justamente para que tenhamos momentos só nossos, em que as crianças não
participam. Eles são fundamentais para relaxarmos e não termos sobrecarga.
Eu acho maravilhosa! Mas não devemos ter expectativas irreais em relação ao
sono da criança. Provavelmente ela irá acordar durante a noite, além de que o
seu ciclo de sono logo se alinhará ao dela.
Isso significa que, se você se mexer, ela irá acordar porque também está com
sono leve.
E o desmame noturno?
Sou a favor da amamentação de livre demanda. Ou seja, se a criança está
pedindo, ela tem motivos para isso. Então, devemos pesar sacrifícios e
benefícios para realizar o desmame.
Sou contra desmamar a criança só por questão de sono. Podemos melhorar
muitas coisas na nossa rotina para ter um sono melhor; o desmame é um último
recurso.
Com carinho,
Nanda Perim
nandaperim@psimama.com.br