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Vigilância das meningites

Professora Liz Andréa Kawabata Yoshihara


“Ministro admite surto epidêmico” (27/09/1972)

“O ministro da saúde reconheceu hoje, no Rio de Janeiro, a existência de


um surto de meningite no País, mas afirmou que não há motivo para a
população se alarmar, pois todas as Secretarias de Saúde dos Estados
estão preparadas para combater o mal.
Como não existe vacina contra a doença, é difícil estabelecer um
esquema preventivo. Antibióticos e sulfas são os medicamentos usados
no tratamento da meningite, cujos sintomas iniciais são dor de cabeça,
rigidez de nuca, vômitos e febre.
Em São Paulo, a Secretaria de Saúde do Estado negou-se a revelar o
número de casos de meningite já constatados na capital, embora já se
saiba que os fatais (ou de “letalidade hospitalar”) representam a
equivalência a quatro por cento dos internamentos. Nas escolas, o
ambiente é de intranquilidade e medo, pois a meningite ataca
principalmente as crianças. Somente na escola Mágico de Oz, no
Brooklin, duas crianças contraíram a doença.
No Paraná, já foram observados casos de meningite em 20 municípios.
Também são conhecidos casos no Rio Grande do Sul. Em Brasília, 65
pessoas morreram de meningite de janeiro até ontem.”

Texto extraído da capa do jornal O Estado de São Paulo, edição de


27/09/1972.
Conteúdo

Conceito de vigilância epidemiológica: O que é? Pra que serve?


• Sistema de vigilância;
• Ferramentas e estratégias (notificação, busca ativa, vigilância de rumores, definição de
casos, prevalência e incidência, contexto global (RSI);
• Lista de doenças de notificação compulsória;
• Sistemas de notificação do Ministério da Saúde.

Doença meningocócica - Definição:


• Agente etiológico, reservatório, modo de transmissão, período de incubação e
transmissibilidade.
• Manifestações clínicas, complicações, diagnóstico diferencial, exames complementares,
tratamento.
• Vigilância das meningites: notificação, investigação, profilaxia, bloqueio.

Outras meningites
O que é e para que serve a
vigilância em saúde

“Promover a detecção e prevenção de


doenças e agravos transmissíveis à saúde e
seus fatores de risco” – Secretaria de Estado
da Saúde de Minas Gerais.

• Não apenas agravos transmissíveis;

• Prevenção e proteção;

• Vigilância epidemiológica e vigilância


sanitária;

• Organização do SUS (Lei n. 8.080 e CF88).


Fonte: https://documentosrevelados.com.br/epidemia-censurada-como-a-ditadura-militar-escondeu-
epidemia-de-meningite-que-assolou-o-brasil-em-1974/
Como atua a vigilância
epidemiológica

• Lista nacional de notificaçao compulsória


de doenças;

• Ficha de notificação e investigação;

• Definição de casos (suspeito, confirmado


e descartado);

• Prevalência e incidência;
Fonte: Portaria N˚ 264, de 17 de fevereiro de 2020

• Regulamento Sanitário Internacional.


Sistemas de Informação

Sinan: Sistema de Informação de Agravos de Notificação


• Notificação
• Investigação
• Encerramento de casos
• Produção de estatísticas vitais

Outros: SIM, Sinasc, Hiperdia, SI-PNI, SIS-Prenatal

SIA e SIH
Doença meningocócica
e meningites
Suscetibilidade, vulnerabilidade e imunidade

Suscetibilidade geral: ↑ em menores de 5 anos e ↑↑ em menores de 1 ano


• Associação com infecção respiratória recente;
• Aglomeração;
• Tabagismo;
• Contato domiciliar (500 a 800 vezes maior).

Vulnerabilidade: Determinantes sociais de saúde (pobreza, trabalho, moradia, etc.).

Imunidade: vacinas são específicas por sorogrupo e subtipo.


Doença meningocócica
Manifestações clínicas

Infecção bacteriana aguda, com clínica


variável .

Meningite (CID 10: A39.0) - forma mais


comum.

Meningoccemia (CID 10: A39.2).

Agente etiológico: Neisseria meningitidis


(meningococo). Reservatório: humanos.

Transmissão: secreções respiratórias.

Incubação: 3 a 4 dias. Transmissibilidade: Fonte: CDC/PHIL


https://phil.cdc.gov/Details.aspx?pid=22881
enquanto tiver meningococo na orofaringe.
Doença meningocócica
Manifestações clínicas

• Variável: de febre transitória a formas


fulminantes.
• Meningite: febre, vômitos, letargia,
cefaleia, rigidez de nuca, petéquias.
• Fotofobia, Kernig +, Brudzinski +,
rebaixamento de consciência, toxemia.
• Evolução de horas a dias.
• Lactentes geralmente não apresentam
sinais de irritação meníngea.
Doença meningocócica
Manifestações clínicas

* Meningite meningocócia e
meningoccemia podem ocorrer
concomitantemente ou isoladas.
* Septicemia meningocócica: choque e
coagulação vascular disseminada (CIVD).
* Síndrome de Waterhouse-Friderichsen:
febre, cefaleia, mialgia, vômitos.
* Palidez, sudorese, hipotonia muscular,
hipotensão, oligúria, hipoperfusão
periférica.

Fonte: CDC/PHIL
Diagnóstico diferencial

Depende da apresentação clínica:

• Doenças exantemáticas virais;


• Meningites e meningoencefalites por outras etiologias;
• Febres hemorrágicas;
• Malária;
• Endocardite bacteriana.
Diagnóstico

• Cultura (LCR, sangue, raspado);


• Exame quimiocitológico do LCR;
• Bacterioscopia direta;
• Aglutinação por látex;
• PCR.
Tratamento

* Antibioticoterapia precoce
Crianças:
Penicilina 200000-400000UI/Kg/d (4/4h) ou
Ampicilina 200-300mg/Kg/d (6/6h) ou
Ceftriaxona 100mg/Kg/d 912/12h)
Adultos:
Ceftriaxona 2g (12/12h)

* Ressucitação volêmica
Outras meningites

Bacterianas
• Haemophilus influenzae
• Streptococcus pnemoniae
• Outras bactérias
Virais
• Malária
• Endocardite bacteriana
Outras meningites

Virais
• Enterovírus
• Arbovírus
• Caxumba, sarampo, HIV, arenavírus
• Herpes
• Epistein-Barr
• Citomegalovírus
Outros agentes: Crytocoscoccus, histoplasma, fungos, toxoplasma, trypanossoma,
plasmodium (falciparum), Taenia solium e outros.
Vigilância epidemiológica

Coeficiente de incidência de doença meningocócica por faixa


o* Detectar surtos e responder; etária, Brasil, 2003 a 2018.

o* Dar suporte às equipes


assistenciais;
o* Monitorar as cepas circulantes;
o* Monitorar a resistência
antimicrobiana;
o* Produzir e disseminar
Fonte: Boletim Epidemiológico SVS/MS. Número especial / Set. 2019.
informações.
Passo a passo da vigilância

Definição de caso
• Suspeito
• Confirmado
• Descartado
Notificação e investigação
Prevenção e controle
• Prevenir casos secundários
Quimioprofilaxia
Imunização
Manejo e controle do surto
Bloqueio vacinal
Coeficiente de incidência de doença meningocócica,
no município de São Paulo entre 1906 e 2020

1904ral

1904ral

1904ral

1904ral

1904ral

1904ral
1906 1913 1920 1927 1934 1941 1948 1955 1962 1969 1976 1983 1990 1997 2004 2011
Fonte:
1.Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo.
2.MORAES, José Cássio de; BARATA, Rita Barradas. A doença meningocócica em São Paulo, Brasil, no século XX: características epidemiológicas.
Coeficiente de mortalidade de doença meningocócica,
no município de São Paulo entre 1906 e 2020
1904ral

1904ral

1904ral

1904ral

1904ral
1906 1912 1918 1924 1930 1936 1942 1948 1954 1960 1966 1972 1978 1984 1990 1996 2002
Fonte:
1.Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo
2.MORAES, José Cássio de; BARATA, Rita Barradas. A doença meningocócica em São Paulo, Brasil, no século XX: características epidemiológicas
Coeficiente de letalidade de doença meningocócica,
no município de São Paulo entre 1906 e 2020
125,000

100,000

75,000

50,000

25,000

,000
1906 1913 1920 1927 1934 1941 1948 1955 1962 1969 1976 1983 1990 1997 2004 2011

Fonte:
1.Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo
2.MORAES, José Cássio de; BARATA, Rita Barradas. A doença meningocócica em São Paulo, Brasil, no século XX: características epidemiológicas
Bibliografia consultada

• A epidemia de meningite que a Ditadura Militar no Brasil tentou


esconder da população. https://fcmsantacasasp.edu.br/a-epidemia-
de-meningite-que-a-ditadura-militar-no-brasil-tentou-esconder-da-
populacao/. 2020
• Centers for Disease Control and Prevention. Home Page.
https://www.cdc.gov/meningococcal/clinical-info.html. 2020
• Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. 2019.
• Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico. 2019.
• MORAES, J. C. de; BARATA, R. B. A doença meningocócica em São
Paulo, Brasil, no século XX: características epidemiológicas. Cad.
Saúde Pública, Rio de Janeiro , v. 21, n. 5, p. 1458-1471, Oct. 2005.
Available from: http://www.scielo. br/scielo.php?script=
sci_arttext&pid=S0102-311X2005000500019&lng=en&nrm=isso.
Acesso em: 11 out. 2020.

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