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Aula VIII: Sepse

Prof. Gilvano Amorim


Grandes Temas em Medicina Interna
Departamento de Clínica Médica
Faculdade de Medicina
Objetivos da aula

• Compreender SEPSE conceitualmente.


• Identificar elementos de HPMA na SEPSE.
• Identificar elementos de Exame Físico importantes na SEPSE.
• Reconhecer as principais entidades clínicas envolvidas com SEPSE.
• Compreender SEPSE como emergência clínica.
Estranhas doenças, estranhas terapias...
• Antes da descoberta das bactérias, as infecções eram frequentemente
tratadas com sangria e outros métodos que agora sabemos serem
ineficazes e até prejudiciais.
• Na verdade, muitas das práticas médicas antigas eram baseadas em
suposições errôneas sobre a causa das doenças infecciosas.
• No século XVII, acreditava-se que a peste bubônica era causada pela
"má qualidade do ar", e não por bactérias.
A incrível história do Dr. Ignaz
Semmelweis
• Em 1846 o residente-chefe da Clínica de
Maternidade do Hospital Geral de Viena faz uma
descoberta.
• Parturientes cujo parto era feito por médicos
morriam após “estranha” síndrome febril (febre
puerperal).
• Parturientes cujo parto era feito por parteiras
morriam muito menos por febre puerperal.
• Qual seria o mistério?
A incrível história do Dr. Ignaz
Semmelweis
➢Medo do padre responsável pela extrema
unção que andava pelos corredores tocando
uma sinistra campainha?
➢Dr. Semmelweis retira o sacerdote mas isso
não diminuiu as mortes.
Qual seria o mistério?
A incrível história do Dr. Ignaz
Semmelweis
➢Ar contaminado por “Miasmas”?
➢As salas das parteiras e dos médicos eram
igualmente ventiladas...
Qual seria o mistério?
A incrível história do Dr. Ignaz
Semmelweis
➢Salas muito cheias?
➢A sala das parteiras era mais cheias que a dos
médicos...
Qual seria o mistério?
A incrível história do Dr. Ignaz
Semmelweis
➢Dr. Jacob Kolletschka foi ferido pelo bisturi de
um dos estudantes e morreu após síndrome
febril semelhante à das parturientes.
➢Dr. Semmelweis constatou alterações na
autópsia semelhantes às das mulheres vítimas
da febre.
Qual seria o mistério?
A incrível história do Dr. Ignaz
Semmelweis
➢Dr. Semmelweis constatou que
“contaminações” por médicos carreando
“partículas cadavéricas” enfermavam as
mulheres.
Qual seria o mistério?
A incrível história do Dr. Ignaz
Semmelweis
➢Dr. Semmelweis ordenou que todos lavassem
as mãos com uma solução de cal clorado antes
de realizar qualquer exame clínico.
➢A taxa de mortes caiu de 12,24% a 3,04%, ao
fim do primeiro ano, e a 1,27% ao término do
segundo. (fonte: Enciclopédia Britânica,1956)
➢O mistério estava resolvido!
Dos miasmas às bactérias!
• Nos tempos de Semmelweis a teoria dos miasmas era amplamente aceita
como a explicação para a transmissão de doenças.
• A teoria dos miasmas afirmava que as doenças eram causadas pela
inalação de "miasmas“;
• Miasmas seriam “vapores” ou “partículas” transportadas pelo ar e emitidas
por materiais em decomposição, esgoto, lixo e outras fontes de poluição do
ar.
• Essa teoria era a explicação predominante para as doenças infecciosas até
o final do século XIX;
• No final do sec XIX, quando a teoria dos agentes infecciosos foi confirmada
por Louis Pasteur e outros cientistas, a descoberta de Semmelweis
finalmente foi aceita, lançando a base da medicina moderna.
E a história avança...
Teoria microbiana da doença:
• A descoberta dos micro-organismos como agentes etiológicos de doenças, como
bactérias e vírus, foi um dos principais marcos da história da infectologia.
• Louis Pasteur e Robert Koch foram os principais responsáveis por esta
descoberta.
Desenvolvimento de vacinas:
• A descoberta de vacinas foi um grande avanço na prevenção de doenças
infecciosas.
• A primeira vacina foi desenvolvida por Edward Jenner em 1796, para a varíola.
• Desde então, várias vacinas foram desenvolvidas para prevenir doenças como
difteria, tétano, poliomielite, sarampo, caxumba, rubéola, hepatite B, entre
outras.
E a história avança...
Descoberta de antibióticos:
• A descoberta dos antibióticos foi outro marco na história da medicina,
permitindo o tratamento de doenças infecciosas causadas por bactérias.
• Alexander Fleming descobriu a penicilina em 1928 e, desde então, vários
outros antibióticos foram desenvolvidos.
Controle de doenças infecciosas:
• O desenvolvimento de medidas de controle de doenças infecciosas, como a
higiene, a educação sanitária, o controle de vetores e a quarentena, foram
fundamentais para o controle e a prevenção de epidemias.
Sepse: ideias iniciais
• Disseminação bacteriana hemática;
• Colonização hemática;
• infecção exagerada, levando a danos nos tecidos e órgãos: a questão
dos sítios ou focos;
• “falência de múltiplos órgãos”;
• Na década de 1920, o termo "septicemia" foi cunhado para descrever
a presença de bactérias no sangue.
• No entanto, o termo "septicemia" era impreciso, pois nem todos os
pacientes com infecção bacteriana tinham bactérias no sangue.
Sepse: ideias iniciais
• Foi somente na década de 1970 que um grupo de pesquisadores
liderados por Roger Bone cunhou o termo "síndrome da resposta
inflamatória sistêmica" (SIRS) para descrever a resposta inflamatória
descontrolada que ocorre em pacientes com sepse.
• O conceito de SIRS ajudou a estabelecer nova definição clínica para a
sepse, ou seja, uma resposta inflamatória descontrolada a uma
infecção, levando a danos nos tecidos e órgãos.
Um importante marco histórico...
Em 1992, o American College of Chest Physicians (ACCP) e a Society of
Critical Care Medicine (SCCM) definiram sepse como:
"a presença de infecção confirmada ou suspeita e uma resposta inflamatória
sistêmica" e introduziram o conceito de Síndrome da Resposta Inflamatória
Sistêmica (SIRS), que incluiu a presença de pelo menos dois dos seguintes
critérios:
• Temperatura corporal > 38 °C ou < 36 °C
• Frequência cardíaca > 90 batimentos por minuto
• Frequência respiratória > 20 respirações por minuto ou PaCO2 < 32 mmHg
• Contagem de leucócitos > 12.000/mm³ ou < 4.000/mm³
• Presença de mais de 10% de formas imaturas de neutrófilos.
Conceito de Sepse

Disfunção orgânica ameaçadora à vida secundária a resposta


desregulada do hospedeiro a uma infecção.
Society of Critical Care Medicine (SCCM) e European Society of Intensive Care Medicine (ESICM), 2016.
Conceito de Sepse

Disfunção orgânica multisistêmica, ameaçadora à vida secundária a


resposta desregulada do hospedeiro a uma infecção, caracterizada por
resposta inflamatória de grande repercussão.
GAO
Generalidades SEPSE

• Qualquer agente infeccioso pode levar a sepse.


• Tanto infecções de origem comunitária como aquelas associadas à
assistência à saúde podem evoluir para as formas mais graves.
• Germes sensíveis advindos da comunidade podem ser letais.
• Nem sempre é possível identificar o agente.
• As hemoculturas são positivas em cerca de apenas 30% dos casos.
• Em 30% a identificação é possível por meio de culturas de outros
sítios.
Generalidades SEPSE
• A multirresistência bacteriana é uma das principais causas de
aumento da incidência s sepse.
• Pacientes com germes multirresistentes, muitas vezes, trazem consigo
outros determinantes de mau prognóstico.
• Em termos dos agentes etiológicos, tanto bactérias Gram negativas
como Gram-positivas são prevalentes.
• As infecções fúngicas, geralmente por espécies de Candida,
representam uma parcela menor dos casos em que o agente é
identificado.
Generalidades SEPSE

Sepse está associada:


• Alta letalidade pós-alta hospitalar;
• Alto risco de readmissões, déficits cognitivos, psicológicos e motores.
Razões para a alta letalidade:
• Baixo reconhecimento entre leigos e profissionais de saúde;
• Atraso no diagnóstico;
• Inadequação de tratamento, tanto em termos de recursos como de
processos.
Generalidades SEPSE
• Sepse pode estar relacionada a qualquer foco infeccioso por qualquer
agente.
• As infecções mais comumente associadas a sepse são a pneumonia, a
infecção intra-abdominal e a infecção urinária.
• Pneumonia é o foco responsável por cerca de metade dos casos.
• São ainda focos frequentes a infecção relacionada a cateteres, os
abcessos de partes moles, as meningites e as endocardites.
• O foco infeccioso tem íntima relação com a gravidade do processo.
Epidemiologia SEPSE

• Atualmente, a sepse é reconhecida como um importante problema de


saúde pública em todo o mundo.
• Estima-se que cerca de 49 milhões de casos de sepse ocorram a cada
ano, resultando em aproximadamente 11 milhões de mortes.
• Isso representa uma taxa de mortalidade de cerca de 22%, o que é
mais do que o dobro da taxa de mortalidade por infarto do miocárdio
e cerca de cinco vezes maior do que a taxa de mortalidade por
acidente vascular cerebral.
Epidemiologia SEPSE

• De acordo com um estudo publicado em 2017 no Journal of Critical Care, o


custo total da sepse nos Estados Unidos foi estimado em US$ 23,7 bilhões
por ano.
• Esse estudo levou em consideração os custos diretos, como hospitalização,
cuidados intensivos e tratamento antimicrobiano, bem como os custos
indiretos, como perda de produtividade e incapacidade a longo prazo.
• O estudo também mostrou que o custo médio por paciente com sepse foi
de cerca de US$ 18.000.
• A estimativa de custo de um caso de sepse nos Estados Unidos é cerca de
US$38 mil e na Europa varia entre US$26 mil a US$32 mil.
Epidemiologia SEPSE

• A sepse é uma das principais causas de morte no Brasil e representa


um grande custo para o sistema de saúde do país.
• Os custos diretos e indiretos associados à sepse incluem o tratamento
hospitalar, medicamentos, exames laboratoriais, equipamentos
médicos, despesas com equipe médica e internação prolongada, bem
como os custos relacionados à perda de produtividade e incapacidade
permanente dos pacientes.
Epidemiologia SEPSE
• Os custos diretos de tratamento da sepse podem variar
significativamente dependendo da gravidade da doença e da
presença de comorbidades.
• Em média, estima-se que o custo direto do tratamento da sepse no
Brasil seja de cerca de R$ 50.000 por paciente, sendo que os casos
mais graves podem chegar a custar mais de R$ 200.000.
• A sepse pode ter um impacto significativo nos custos indiretos, como
a perda de produtividade devido à incapacidade temporária ou
permanente dos pacientes, bem como a necessidade de cuidados
prolongados após a alta hospitalar. Estima-se que os custos indiretos
da sepse no Brasil sejam de cerca de R$ 30.000 por paciente.
Nomenclaturas da Sepse 1
• SRIS;
• Sepse;
• Sepse grave;
• Choque séptico.
Nomenclaturas da Sepse 2
• Reforçou critérios clínicos.
• A definição de sepse-2 é baseada em critérios clínicos;
• Presença de infecção suspeita ou confirmada, juntamente com dois
ou mais dos seguintes critérios:
➢temperatura corporal acima de 38°C ou abaixo de 36°C;
➢frequência cardíaca acima de 90 batimentos por minuto;
➢frequência respiratória acima de 20 respirações por minuto;
➢contagem de leucócitos acima de 12.000 ou abaixo de 4.000
células/mm³ ou com mais de 10% de formas imaturas.
Definições Atuais em SEPSE
Definições atuais
• Disfunção orgânica agressivamente letal, decorrente de uma resposta
desregulada do hospedeiro frente a uma infecção (esta definição
deriva de consenso ente a Society of Critical Care Medicine (SCCM) e
a European Society of Critical Care Medicine (ESICM).
• Esta atualização conceitual ficou conhecida como Sepsis 3 e considera
as nomenclaturas: infecção, sepse e choque séptico.
• Descartou sepse grave: toda sepse é potencialmente grave!
Implementação do Protocolo Gerenciado de Sepse. Disponível em
http://www.ilas.org.br/assets/arquivos/ferramentas/protocolo-de-tratamento.pdf. Acesso
em: 24 de novembro. 2018.
Singer M, Deutschman CS, Seymour CW. The Third International Consensus Definitions for
Sepsis and Septic Shock (Sepsis-3). JAMA February 23, 2016 Volume 315, Number 8.
Sepse-3
Baseada em três critérios:
• infecção documentada ou suspeita;
• Escore SOFA (Sequential Organ Failure Assessment) ≥ 2;
• Aumento de 2 ou mais pontos no escore SOFA em relação à linha de
base do paciente;
O escore SOFA é calculado com base em seis parâmetros fisiológicos:
pressão arterial média, frequência cardíaca, frequência respiratória,
nível de consciência, creatinina sérica e bilirrubina sérica.
Sequential Organ Failure Assessment (SOFA)
• Ferramenta de avaliação de gravidade de morbidade e predição
de mortalidade por SEPSE.
• Valoriza disfunção orgânica e morbidade.
• O escore SOFA apresenta 6 variáveis, cada uma representando um
sistema do órgão.
• Para cada sistema do órgão atribui-se um valor de pontos de 0
(normal) a 4 (alto grau de disfunção / falência).
• A pontuação SOFA varia de 0 a 24.
SOFA
Sepse 3 – 2018:
Seja preventivo! Seja rápido!
quick SOFA (qSOFA)
Os critérios do qSOFA
• Frequência respiratória igual ou superior a 22 respirações por minuto;
• Pressão arterial sistólica igual ou inferior a 100 mmHg; e
• Alteração do estado mental (Glasgow Coma Scale < 15).
Atribui-se um ponto para cada critério presente;
O escore pode variar de 0 a 3.
Pacientes com um escore qSOFA de 2 ou 3 têm um risco aumentado de
mortalidade.
O qSOFA é um indicador rápido e fácil de usar para identificar pacientes em
risco de complicações graves, mas deve ser interpretado em conjunto com
outras informações clínicas.
Sepse 3
• Sepse: Disfunção orgânica com risco de vida, causada por uma
resposta desregulada do hospedeiro à infecção (definida como um
score SOFA ≥2 pontos)

• Choque séptico: Sepse associada à persistência de hipotensão,


necessitando de vasopressores para manter PAM ≥ 65mmHg e com
um nível de lactato sérico >2mmol/L apesar da reposição volêmica
adequada
Fisiopatologia da Sepse
• Desequilíbrio entre mediadores pró-inflamatórios e anti-
inflamatórios;
• Indução de processos inflamatórios, como:
✓aderência,
✓quimiotaxia,
✓fagocitose de bactérias invasoras,
✓morte bacteriana
✓fagocitose de detritos do tecido lesionado.
Fisiopatologia da Sepse

Principais mecanismos geradores de disfunção orgânica:


• Redução da oferta tecidual de oxigênio por alterações da circulação
sistêmica, regional e da microcirculação, incluindo a trombose,
derivada das alterações do sistema de coagulação.
• Lesão celular decorrente da redução de oferta de oxigênio ou
mediada por outros mecanismos como disfunção mitocondrial e
apoptose.
Fisiopatologia da Sepse

▪ Homeostase inflamatória alterada;


▪ Patológica interação entre inflamação e coagulação, com predomínio
das funções pró-coagulantes;
▪ Tendência à pró-coagulação pode gerar trombose na microcirculação,
hipoperfusão e disfunção orgânica.
Fisiopatologia da Sepse
• A resposta na sepse é descontrolada e desproporcional;
• Resposta imune não regulada e autossustentada;
• A resposta imune, geralmente localizada, se dissemina além do ambiente
local;
• Causa é provavelmente multifatorial e pode incluir:
✓Efeitos diretos dos micro-organismos invasores;
✓Efeitos de produtos tóxicos de micro-organismos;
✓Liberação de grandes quantidades de mediadores pró-inflamatórios;
✓Ativação do complemento;
✓Susceptibilidades genéticas.
Fisiopatogenia da SEPSE
Fisiopatogenia da SEPSE
Fisiopatogenia da SEPSE
Disfunções Orgânicas na Sepse
• Sepse é sempre doença sistêmica, com elementos independentes da
ação direta do patógeno no sítio da infecção.
• Disfunção cardiovascular.
• Disfunção respiratória.
• Disfunção gastrintestinal.
• Disfunção neurológica.
• Disfunção renal.
• Disfunção endócrina.
Disfunção Cardiovascular na Sepse

• Hipotensão arterial

• Má perfusão tecidual
Disfunção Cardiovascular na Sepse

• Cardiotoxicidade.

• Alteração de rede vascular.


Disfunção Cardiovascular na Sepse

• Macrofatores:
✓Alterações macro-hemodinâmicas como taquicardia sinusal.
✓ Hipertensão pulmonar.
✓ Diminuição de retorno venoso por aumento de capacitância e diminuição
de volemia absoluta.
✓ Vasoplegia com diminuição de pós carga;
✓ Aumento de permeabilidade capilar.
✓ Heterogeneidade de fluxo.
✓ Formação de microtrombose.
Disfunção Cardiovascular na Sepse

• Microfatores:
✓Injuria intrínseca de miofibrilas por citocinas.
✓ Disfunção mitocondrial.
✓ Distúrbio de fluxo de cálcio.
✓ Desregulação autonômica.
Disfunção Respiratória na Sepse

• Sepse é a principal causa de síndrome de desconforto respiratório


agudo (SDRA).
• Aumento de permeabilidade com edema intersticial.
• Diminuição de produção de surfactante.
Disfunção Respiratória na Sepse

• Colapso alveolar, shunt e aumento de espaço morto.


• Associadas a disfunção miocárdica e hipervolemia após ressuscitação.
• Há aumento de morbimortalidade relacionados a disfunção
respiratória na sepse.
Disfunção Gastrintestinal na Sepse

• Estase de alimentos e dismotilidade do trato digestório.


• Aumento de incidência de aspiração, constipação, atrofia de mucosa.
• Hemorragias digestivas (lesão aguda de mucosa).
Disfunção Gastrintestinal na Sepse

• Aumento de risco de translocação bacteriana.


• Alterações hepáticas como colestase e pouca lesão hepatocelular.
• Há possibilidade de agravamento de coagulopatias, encefalopatias e
depressão imune.
Disfunção Neurológica na Sepse

• Delirium

• Neuromiopatia do doente crítico


Disfunção Neurológica na Sepse

• O delirium é caracterizado pela flutuação de nível de consciência com


desatenção, pensamento desorganizado, acompanhado ou não por
agitação e alteração do ritmo de sono.
• Delirium é uma disfunção orgânica e sua ocorrência está associada
com aumento de mortalidade e piora cognitiva a médio prazo
Disfunção Neurológica na Sepse

• A neuromiopatia do doente crítico é um acometimento difuso do


SNP, com envolvimento de placa motora.
• É agravada por drogas como quinolonas, aminoglicosídeos,
corticoides e bloqueadores neuromusculares.
• Manifesta-se por fraqueza muscular importante, hiporeflexia e atrofia
muscular.
• Está relacionada à dificuldade de desmame da ventilação mecânica e
a funcionalidade futura do paciente.
Disfunção neurológica na Sepse - sequelas

• Limitações motoras com comprometimento das atividades da vida


diária.
• Déficits cognitivos.
• Comprometimento da saúde mental, caracterizado por ansiedade,
depressão ou síndrome do stress pós-traumático
Disfunção Renal na Sepse

• Redução do débito urinário.


• Aumento de escórias nitrogenadas (ureia e creatinina).
• Acidose metabólica.
• Emergências dialíticas: hiperpotassemia, hipervolemia e uremia
Disfunção Endócrina na Sepse

• A hiperglicemia é o principal marcador de disfunção endócrina na


sepse.
• Hiperglicemia é marcador de gravidade da resposta inflamatória.
• Hiperglicemia se dá porque a insulina é antagônica aos hormônios da
resposta metabólica ao trauma.
Disfunção Endócrina na Sepse

• Pacientes hiperglicêmicos, principalmente os não diabéticos,


apresentam maior morbimortalidade.
• O controle glicêmico com insulina diminui a resposta inflamatória, o
catabolismo proteico e os efeitos deletérios diretos da hiperglicemia.
• O controle glicêmico deve ter o objetivo de manter glicemias
inferiores a 180 mg/dL
Disfunção Endócrina na Sepse

• O stress metabólico, em muitas situações, leva a disfunção


suprarrenal, com insuficiência relativa ou absoluta.
• O diagnóstico é clínico.
• A terapia com reposição de hidrocortisona, 200 mg/dia, deve ser
pensada em pacientes com deterioração hemodinâmica ou má
resposta a ressuscitação hemodinâmica inicial.
Disfunção Endócrina na Sepse

• Catabolismo proteico.
• Hipertrigliceridemia.
• Disfunções hipotálamo-hipofisárias.
• Redução da produção de vasopressina.
Variáveis de Perfusão no Paciente com Sepse
• Choque séptico é uma forma de insuficiência circulatória aguda
ameaçadora à vida, associada à inadequada utilização de oxigênio
pelas células, relacionado a evento infeccioso.
• É um estado em que a circulação é incapaz de fornecer oxigênio
suficiente para atender às demandas dos tecidos, resultando em
disfunção celular.
Variáveis de Perfusão no Paciente com Sepse
• Por essa definição, é possível que determinado paciente tenha o
diagnóstico de choque com níveis de pressão arterial considerados
normais, desde que tenha sinais de hipoperfusão tecidual (situação
que alguns conhecem como choque compensado).
• Pacientes sépticos com níveis de pressão arterial normal e sinais de
hipoperfusão tem pior prognóstico.
Exame clínico da má perfusão

• Pele – perfusão

• Rins – débito urinário

• Cérebro – nível de consciência.


Tempo de enchimento capilar
• Tempo necessário para que o leito capilar distal recupere a perfusão
basal após uma compressão aplicada para provocar palidez.
• Para realizar a manobra o examinador deve aplicar digitopressão do
2° quirodáctilo do paciente por aproximadamente 20 segundos.
• O exame é considerado normal caso o retorno à coloração normal
ocorra em até 4,5 segundos.
• Tempos maiores estão relacionados à hipoperfusão tecidual e maior
chance de disfunções orgânicas.
Temperatura da pele
• Avaliada quando o examinador utiliza o dorso da mão ou dos dedos
(áreas são mais sensíveis à percepção da temperatura).
• Os pacientes são considerados como tendo extremidades frias, se
todas as extremidades examinadas forem consideradas frias ou se, na
ausência de doença vascular periférica, as extremidades dos
membros inferiores forem frias, apesar da dos membros superiores
permanecerem quentes.
• Alterações de temperatura mantidas apesar da ressuscitação
hemodinâmica inicial também estão associadas à hiperlactatemia e
piora das disfunções orgânicas
Escore Mottling (livedo)
• O mottling (livedo) da pele é a presença de uma coloração marmóreo-
acinzentada com padrão irregular e rendilhado.
• Geralmente se inicia na topografia dos joelhos e é decorrente da
vasoconstrição heterogênea dos pequenos vasos, refletindo
alterações na microcirculação.
• A sua avaliação objetiva foi realizada por Ait-Oufella e colaboradores,
que analisaram a relação entre a presença de mottling e sobrevida de
pacientes sépticos.
Escore Mottling (livedo)
• A extensão do rendilhamento do joelho em direção à periferia recebe
um score entre 0 e 5.
• Escore 0 representa um paciente sem mottling e 5 um com
acometimento além da região inguinal.
• Após seis horas da inclusão, a presença de oligúria, o nível de lactato
e o escore mottling estiveram fortemente associados à mortalidade
em 14 dias, independente da hemodinâmica sistêmica.
Oximetria Venosa
• A saturação venosa mista de oxigênio (SvO2 ) reflete o total de
sangue oxigenado que retorna para o coração direito pela drenagem
de sangue no átrio direito, pela veia cava superior, veia cava inferior,
seio coronário e rede de Tebesius.
• A SvO2 é mensurada em amostra de sangue coletada da artéria
pulmonar.
• O sangue venoso oriundo de várias partes do organismo se mistura
no átrio direito e, em direção aos pulmões, torna-se cada vez mais
homogêneo.
Oximetria Venosa
• Ao chegar na artéria pulmonar, o sangue venoso de todas as partes do
organismo encontra-se totalmente “misturado”, ou seja, homogeneizado
por completo, recebendo, assim, a denominação de “sangue venoso
misto”.
• A SvcO2 , por sua vez, corresponde à saturação de oxigênio pela
hemoglobina do sangue, que se encontra na desembocadura da veia cava
superior no átrio.
• A SvcO2 reflete a quantidade de oxigênio que retorna ao coração direito
oriunda dos membros superiores, do pescoço e da cabeça.
• Por definição, a saturação venosa central de oxigênio (SVcO2) diz respeito à
amostra de sangue coletada na veia cava superior ou átrio direito, e a
SVO2 se refere à saturação da artéria pulmonar.
Objetivos na Sepse
• Manter SvO2 acima de 70%
• Manter SvcO2 acima de 65%
Biomarcadores na Sepse

• Procalcitonina;
• Proteína C Reativa;
• VHS;
• Lactato.
Pro-calcitonina
▪ Peptídeo precursor da calcitonina, produzido por células
parafoliculares da tireoide e células neuroendócrinas do pulmão e
intestino;
▪ Produzida em resposta a estímulo inflamatório;
▪ Não é específica de sepse, nem agente etiológico-específica;
Pro-calcitonina
▪ Produzida particularmente em resposta a estímulos de origem
bacteriana, principalmente por células pulmonares e intestinais;
▪ Sua secreção se inicia de 2-4 horas após o estímulo inicial, atingindo o
pico em 12-24 horas;
▪ Tem como uma de suas vantagens o fato da queda ser abrupta, após
a cessação do estímulo, com meia-vida estimada de 22-35 horas.
Proteína C Reativa

• A proteína C reativa (PCR) é sintetizada no fígado;


• Apresenta boa correlação com outros marcadores, como IL6 e TNF-α,
(ação reguladora de sua secreção).
• Precipita frações do polissacarídeo C do Streptococcus pneumoniae;
Estratégias de tratamento

• Reposição volumétrica.
• Drogas vasoativas.
• Suporte ventilatório.
• Antibioticoterapia.
• Preservação dos sistemas.
Mensagem final em SEPSE:

Reconhecimento precoce com estratificação aguda de gravidade;

Prevenção e suporte dos sistemas orgânicos em disfunção;

Tratamento da causa e controle do processo infeccioso


OBRIGADO!
Bons Estudos!

Aula VIII: Sepse


Prof. Gilvano Amorim
Grandes Temas em Medicina Interna
Departamento de Clínica Médica
Faculdade de Medicina

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