Você está na página 1de 2

Serviço de Obstetrícia

Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução


Centro Hospitalar Lisboa Norte – Hospital de Santa Maria
(protocolo elaborado por Catarina Reis de Carvalho, Paulo Santos - Novembro 2018)

MASTITE E ABCESSO MAMÁRIO NO PUERPÉRIO

INTRODUÇÃO
A mastite, com ou sem abcesso mamário concomitante, ocorre em cerca de 2% das mulheres que amamentam, sendo
mais frequente nas primeiras 6 sem pós-parto. O diagnóstico é clínico, baseado na deteção de sinais inflamatórios locais
(dor, rubor), febre e mialgias. A inflamação nem sempre é de origem infeciosa, mas os principais microorganismos
implicados são o Staphylococcus aureus, incluindo espécies meticilina-resistentes (MRSA), Streptococcus e
Staphylococcus epidermidis.

TRATAMENTO
MASTITE
Em casos ligeiros os analgésicos anti-inflamatórios (Ibuprofeno 400 mg PO 8/8h, Metamizol 575 mg PO 8/8h em
SOS) podem ser suficientes. Deve ser também incentivado o esvaziamento mamário frequente através da
amamentação (que preferencialmente não deve ser suspensa) ou com bombas de extração de leite. Se os sintomas não
melhorarem em 12-24h ou se os sintomas forem incomodativos deve iniciar-se antibioterapia durante 10-14 dias, que
pode ser suspensa aos 5-7 dias se ocorrer uma resposta rápida com remissão completa dos sintomas:
• Amoxicilina-ácido clavulânico 875/125 mg PO 12/12h ou
• Flucloxacilina 500 mg PO 6/6h ou
• Cefradina 500 mg PO 12/12h ou Cefuroxime 500 mg PO 12/12h ou
• Se alergia aos β-lactâmicos: Claritromicina 500 mg PO 8/8h
• Na presença de fatores de risco para infeção por MRSA (antibioterapia no mês anterior, imunossupressão,
antecedentes de infeção por MRSA, contacto com doente com infeção por MRSA): Claritromicina 500 mg PO 8/8h ou
Sulfametoxazol + Trimetropim 800 mg + 160 mg PO 12/12h
As culturas de leite materno não são obrigatórias, mas são úteis nos casos de infeção grave, ausência de resposta a
antibioterapia empírica nas primeiras 48h, mastite recorrente e mastite adquirida em meio hospitalar.

ABCESSO MAMÁRIO
Situação em que, concomitantemente à mastite, ocorre uma coleção purulenta no tecido mamário, detetável através de
uma zona de flutuação na pele e confirmada por ecografia mamária. Para além dos analgésicos anti-inflamatórios e
do esvaziamento mamário frequente deve ser iniciada antibioterapia com cobertura de MRSA e anaeróbios
(Flucloxacilina 500 mg PO 6/6h + Clindamicina 150 mg PO 8/8 h ou se alergia aos β-lactâmicos: Claritromicina 500
mg PO 8/8h) e realizada a drenagem do abcesso: se <5 cm e uniloculado a drenagem deve ser por agulha percutânea
(tamanho 14 ou 16G guiada por ecografia com envio do produto para exame microbiológico); se > 5 cm com área clara
de flutuação, multiloculado ou de evolução longa deve ser cirúrgica.
Drenagem cirúrgica de abcesso sob anestesia geral
 Incisão arciforme paralela à aréola, no local de maior flutuação
 Colher exsudado purulento para cultura
 Desbridamento cuidadoso das locas, com lise de todos os septos
 Desinfeção com solução constituída em 1/3 por soluto de Dakin + 2/3 água oxigenada
 Colocação de penso cirúrgico
A puérpera poderá terá alta 2-4h após a cirurgia se houver estabilidade clínica e o penso não estiver repassado. Os
pensos devem ser realizados inicialmente a cada 24-48h ou sempre que estiverem repassados. Se a drenagem for
abundante e se visualizar um orifício de drenagem deve ser realizada desinfeção da cavidade (ver acima). Deve manter
o aleitamento da mama operada. Manter antibioterapia oral durante 10-14 dias, analgesia adequada e referenciar à
Consulta de Mastologia.
Critérios para internamento hospitalar
Má resposta ao tratamento em ambulatório (>48h), sintomatologia sistémica grave, instabilidade hemodinâmica,
suspeita de sépsis, imunodepressão, progressão rápida da infeção (eritema progressivo), dúvida na adesão terapêutica
ou incapacidade de realizar antibioterapia PO. No internamento a antibioterapia deve ser EV durante pelo menos 48h.
 Cefazolina 1g EV 8/8h + Metronidazol 7,5 mg/Kg EV 6/6h
 Vancomicina 15-20 mg/kg EV 8/8h, sem exceder 2 g por dose
 Se alergia aos β-lactâmicos ou suspeita de MRSA: Clindamicina 600 mg EV 8/8h ou Vancomicina (ver acima)
A antibioterapia poderá necessitar de ser adaptada ao resultado das culturas obtidas na drenagem. As hemoculturas
só devem ser pedidas em casos de doença grave. A mastite recorrente é pouco frequente e normalmente resulta de
tratamento antibiótico inadequado/incompleto ou de dificuldades na amamentação com drenagem incompleta. Deve
ainda ser considerada a possibilidade de abcesso, infeção por microrganismos incomuns (ex: tuberculose) ou carcinoma
inflamatório da mama.
Critérios para encaminhamento para a consulta de Mastologia: mastite com resposta incompleta à antibioterapia e
abcesso mamário.
Bibliografia:
1. Lam E, Chan T, Wiseman S. Breast abscess: evidence based management recommendations. Expert Rev Anti Infec Ther 2014;12(7):753–62.
2. Gilbert D, Moellering R, Eliopoulos G, Chambers H, Saag H. The Stanford guide to antimicrobial therapy, 43th edition USA. Antimicrobial Therapy Inc 2013, pp 6-7.
3. Dixon M, Primary breast abscess, UpToDate (acedido a 12/07/2018).
4. Dixon M., Mastitis and other skin disorders of the breast in adults, UpToDate. (acedido a 12/07/2018).
5. Dixon M, Khan L Treatment of breast infection, BMJ 2011;342:3744
6. Amir L, ABM Clinical Protocol #4: Mastitis The Academy of Breastfeeding Medicine Protocol Committee 2014.
7. Spencer JP, Management of mastitis in breastfeeding women. Am Fam Physician 2008;78(6):727-31.

Você também pode gostar