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Número

Graça Cosme

Enfermagem e Saúde Materno Infantil

Puerpério

03 de Outubro de 2022

Lichinga
Graça Cosme

Número

Turma

Puerpério

03 de Outubro de 2022

Lichinga
Introdução

Muitas vezes, os profissionais tratam o ciclo gravídico-puerperal de forma não


integrada. É raro todo esse período receber assistência de uma mesma instituição e, em
geral, os mecanismos de referência e contra-referência são inexistentes ou ineficientes.

O puerpério, tempo de seis a oito semanas após o parto, didaticamente, pode ser
dividido em três períodos, sendo: imediato (1º ao 10º dia), tardio (11º ao 45º dia) e
remoto (a partir do 45º dia). No puerpério ocorrem modificações internas e externas,
configurando-se como um período carregado de transformações psíquicas, onde a
mulher continua a precisar de cuidado e proteção.

Assim, a mulher, durante o período puerperal, precisa ser atendida em sua totalidade,
por meio de uma visão integral que considere o contexto sociocultural e familiar. Os
profissionais de saúde devem estar atentos e disponíveis para perceber e atender as reais
necessidades apresentadas por cada mulher, qualificando o cuidado dispensado.

Em 1984, dentro do Programa de Assistência Integrada da Saúde da Mulher (PAISM),


foi inserida a proposta de abordar a mulher como um sujeito de cuidado que deve ser
percebida e, assistida em sua singularidade, não focando apenas os aspectos biológicos,
mas também considerando suas outras dimensões (social, econômica, histórica, política
e cultural).

A partir de então, o puerpério passou a ser incluído como período que merece atenção
especial dos serviços de saúde. Pontua-se que a atenção puerperal de qualidade e
humanizada é essencial para a saúde materna e neonatal. E para tal, torna-se preciso um
olhar abrangente sobre processo saúde/doença, valorizando os aspectos subjetivos
envolvidos na atenção, o estabelecimento de novas bases para o relacionamento entre os
sujeitos envolvidos na produção de saúde, e a construção de uma cultura de respeito aos
direitos humanos.
Assistência ao puerpério

O puerpério pós-parto, também conhecido como puerpério, inicia-se apos o nascimento


do concepto e a saída da placenta.

O puerpério é um período, especialmente, oportuno para assistência à mãe, filho e


família e, que qualquer fragilidade que afete um desses três grupos alvo, representa uma
ameaça à saúde infantil, uma vez que é fundamental o papel das mães em relação aos
cuidados com as crianças e que o desenvolvimento dessas é, diretamente, influenciado
pelas condições das famílias nas quais vivem.

Destaca-se, também, que são inegáveis as repercussões negativas de uma morte materna
para o recém-nascido e para os outros filhos, além da família como um todo, tendo em
vista os importantes papéis que a mulher desempenha na instituição familiar.

O final do puerpério não é tão bem definido, sendo muitas vezes descrito como seis a
oito semanas após o parto, período em que as modificações anatómicas e fisiológicas do
organismo materno, em especial do seu aparelho reprodutor, são marcadamente notadas:

 Dextrodesvi;
 Consistência firme e gradual involução uterina;
 Regeneração endometrial;
 Alongamento do colo uterino com retomada gradativa de imperviedade;
 Crise vaginal pós-parto (descamação atrófica de seu epitélio) acompanhada por
processo de ressurgimento e tónus de suas paredes.

Didaticamente, o puerperio se divide em três etapas:

 Do 1º ao 10º dia – puerpério imediato;


 Do 10º ao 45º dia – puerpério tardio;
 Alem do 45º dia – puerpério remoto .

Manifestações Clínicas

 Temperatura;
 Dor abdominal;
 Lóquios;
 Aparelho urinário;
 Aparelho digestivo;
 Alterações psíquicas;
 Mamas.

Assistência no puerpério

São recomendações importantes nessa fase:

 Inibir a lactação da puérpera, com diagnóstico de infecção pelo HIV, logo após o
parto. A inibição da lactação pode ser conseguida com compressão das mamas
com atadura, imediatamente após o parto, sem restringir os movimentos
respiratórios e causar desconforto materno. Recomenda-se ainda a utilização de
hexahidro-benzoato de estradiol (o Benzoginoestril AP), 2 ampolas de 5mg (1
ml); ou o hidrogenomaleato de lisurida (o Dopergin), 0,2mg, 1 comprimido pela
manhã e 1 à noite, por 14 dias;
 Informar a mulher sobre os riscos de transmissão do HIV através da
amamentação, e orientá-la como obter e quanto ao preparo e uso da fórmula
infantil. É importante que a puérpera, durante sua permanência na maternidade,
receba suporte da equipe de saúde para não amamentar sem se sentir
discriminada por isso. Essa atenção deve ser redobrada especialmente nos
alojamentos conjuntos, onde a maioria das mulheres está amamentando seu bebê
(hospitais amigos da criança);
 No puerpério imediato e subseqüentes, devem ser pesquisadas histórias e/ou a
presença de sinais e sintomas relacionados a infecção pelo HIV que caracterizam
imunodeficiência moderada, tais como: candidíase oral, leucoplasia pilosa oral,
tuberculose pulmonar no último ano, herpes zoster, febre persistente sem
etiologia definida (intermitente ou constante) por mais de 1 mês, dispnéia,
infecções recorrentes do trato respiratório (pneumonia, sinusite), candidíase
vaginal recorrente, herpes simples, perda de peso = 10% do peso corporal, e
diarréia crônica sem etiologia definida, com duração de mais de 1 mês.

Infecções Puerperais

A infecção puerperal, também denominada febre puerperal ou morbidade febril


puerperal, é um termo genérico que representa qualquer infecção bacteriana do trato
genital feminino associada à temperatura de pelo menos 38°C, durante dois dias
consecutivos, em pelo menos quatro tomadas diárias (por via oral ou termômetro
infravermelho) nos 10 dias iniciais de pós-parto, excluídas as primeiras 24 horas.

O sistema imunológico materno sofre alterações profundas na gestação, e isso acarreta


aumento na predisposição na aquisição de infecções como a morbidade febril,
endometrite e sepse puerperal.

Os principais sítios de infecções puerperais são:

 Mastite;
 Endometrite;
 Infecção de FO da cesariana;
 Infecção da episiotomia/ lacerações;
 Infecção urinária;
 Pneumonia puerperal.

Fatores de risco

Anteparto

 Baixo nível socioeconômico;


 Desnutrição;
 Anemia materna;
 Diabetes Mellitus;
 Terapia imunossupressora;
 Infecções do trato genito-urinário;
 Má higiene pessoal;
 Ausência de assistência pré-natal.

Intraparto e pós-parto:

 Cesariana;
 Amniorrexe prematura;
 Múltiplos exames vaginais;
 Parto vaginal traumático;
 Parto prolongado;
 Inserção baixa da placenta;
 Retenção de restos ovulares;
 Perdas sanguíneas acentuadas no pós-parto;
 Monitorização fetal interna.

Mastite

A mastite normalmente é mais tardia, em torno da terceira semana. Inicia-se com um

processo inflamatório que evolui para infecção. Surge como consequência de um trauma

mamilar malconduzido ou ducto mamário obstruído e pode chegar à formação de


abscesso mamário.

 Agente etiológico: Staphylococcus aureus ou Staphylococcus epidermidis;


 Quadro clínico: dor, cefaleia, febre, náuseas, vômitos, mal-estar. A mama
apresenta vermelhidão, calor e edema;
 Tratamento: esvaziamento regular da mama, orientação sobre a amamentação,
antibioticoterapia, analgésicos e drenagem de abcesso, se presente.

Esquemas preferenciais:

 Sem necessidade de drenagem:


 Amoxicilina/Clavulonato 500mg/125mg de 8/8h por 7 dias ou
Clindamicina 300mg de 6/6h por 7 dias;
 Com necessidade de drenagem ou internação:
 Oxacilina 2g, EV, de 4/4h por pelo menos 72h afebril, alta com
Amoxicilina/Clavulonato por 7 dias.

Infecção do trato urinário (ITU)

São fatores de risco para infecção urinária puerperal a sondagem vesical, cesariana ou
parto operatório, anestesia peridural e IMC elevado.

 Agentes etiológicos mais comuns: Escherichia coli, Klebsiella sp, Proteus sp;
 Quadro clínico: assintomáticas, disúria, polaciúria, mudanças no aspecto da
urina. O primeiro sinal de infecção renal pode ser febre, seguido por dor no
ângulo costovertebral, náuseas e vômitos;
 Tratamento: individualizado baseado em sintomas, fatores de risco (sondagem
vesical) e urocultura. Que seja compatível com a amamentação.
O esquema terapêutico inclui:

ITU baixa:

 Nitrofurantoína 100 mg de 6 em 6 horas por cinco a sete dias, ou


 Sulfametazol-trimetropima 800 mg/160mg de 12 em 12 horas por cinco dias.
 Para pacientes com condições de comprar a medicação: Fosfomicina 1 sachê VO
e repetir outro sachê em 48 h.

Pielonefrite aguda no puerpério:

 O tratamento inicial deve ser intravenoso e durar por 72 horas após a paciente
não ter mais febre. As drogas empregadas são:
 Ceftriaxona 2g ou um aminoglicosídio (gentamicina, 3-5mg/kg), ambos
em dose única por dia.

Endometrite puerperal

A endometrite pós-parto refere-se à infecção da decídua (endométrio gestacional).


Endometrite puerperal é a infecção do trato genital ocorrendo em qualquer momento
entre o início da ruptura das membranas ou o parto até o 42º dia pós-parto, em que a
febre e um ou mais dos seguintes sintomas estão presentes:

 Dor pélvica;
 Secreção vaginal anormal;
 Odor anormal dos lóquios;
 Atraso na redução do tamanho do útero.
 Os calafrios que acompanham a febre sugerem bacteremia ou endotoxemia.

Tratamento: Os esquemas antimicrobianos em casos não complicados de endometrite


(ausência de critérios de sepse) são:

 Gentamicina 3-5 mg/kg, IV, dose única diária, associada à clindamicina 600 mg,
IV, de 6 em 6 horas. Manter por 72h afebril. Alta com Amoxicilina/Clavulonato
500mg/125mg de 8/8h por 7 dias.

Sepse puerperal

O foco pode ser dividido em: não obstétricos e obstétricos. O primeiro grupo engloba
pneumonia adquirida em comunidade, ITU, apendicite, colecistite, entre outros. Já as
principais causas obstétricas relacionam-se à gestação (corioamnionite, tromboflebite
pélvica séptica, aborto infectado); ao parto (endometrite pós-parto, infecção de
episiotomia, infecção de parede ou uterina pós-cesárea); à realização de procedimentos
invasivos (infecção pós-cerclagem ou pós-amniocentese).

Agente etiológico - Os quadros de sepse de origem obstétrica são, em geral, de origem


polimicrobiana, sendo as bactérias Gram-negativas as mais frequentes incluindo
Escherichia coli, Streptococcus do grupo B, Staphylococcus aureus, bactérias
anaeróbicas e Listeria monocytogenes. O Streptococcus do grupo A é o principal agente
patogênico ligado à mortalidade materna por sepse, representando 50% dos casos.

Quadro clínico - Fase inicial: fadiga, ansiedade, agitação, desorientação, instabilidade


térmica (hipotermia), hipotensão. Fase tardia: hipertermia, taquicardia/arritmias,
manifestações de isquemia miocárdica, síndrome do desconforto respiratório do adulto
(taquipneia, estridor, dispneia).

É recomendada a obtenção de pelo menos duas hemoculturas (uma de sangue periférico


e uma proveniente de cateter central, a menos que ele tenha sido inserido há menos de
48 horas), além de culturas de prováveis sítios infecciosos (urina, liquor, secreções do
trato respiratório, pontas de cateteres) antes do início da antibioticoterapia.

Deve ser solicitado: Hemograma, Lactato, Gasometria arterial, Uréia e Creatinina, TAP
e TTPa, Bilirrubinas, eletrólitos. Exames de imagem a depender do sítio da infecção.
Conclusão

O puerpério constitui-se como momento de fragilidade, demandando dos profissionais


de saúde um comprometimento na avaliação e no cuidado dispensado durante este
período à mãe, criança e família.

Neste estudo, destacaram-se a indissociabilidade do cuidado à mãe e à criança, o


aleitamento materno, o planejamento familiar e a morbimortalidade materna e infantil
como aspectos, especialmente, relevantes, merecedores de atenção no puerpério, na
perspectiva da integralidade, promoção da saúde e qualidade de vida.

Quando as intervenções de saúde realizadas no puerpério são dirigidas atreladamente à


mulher, criança e família acabam por promover a saúde e bem-estar infantil, uma vez
que a presença da mãe é fundamental para a criança, tal como a convivência com pais
que se relacionam bem, num ambiente familiar saudável.

Assim, os determinantes do processo saúde-doença comuns, nesse período, bem como


as ações de saúde ou ausência delas, repercutem direta e indiretamente na saúde das
crianças. Sendo as crianças seres mais vulneráveis, são elas as mais beneficiadas por um
contexto saudável de vida em família
Referências Bibliográficas

Levy MM, et al. The Surviving Sepsis Campaign Bundle. Critical Care Medicine. June
2018, Volume 46 ; Number 6 (997-1000).

Osanan GC, Tavares AB, Reis MI, Múcio B. Hemorragia pós-parto. São Paulo:
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO);
2018. (Protocolo FEBRASGO -Obstetrícia, no. 109/ Comissão Nacional Especializada
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Zugaib obstetrícia / organização Marcelo Zugaib, Rossana Pulcineli Vieira Francisco. -


4. ed. -Barueri [SP] : Manole, 202

Vieira F, Bachion MM, Salge AKM, Munari DB. Diagnósticos de enfermagem na


Nanda no período pós-parto imediato e tardio. Esc Anna Nery. 2010 jan/mar;14(1):83-
9. 2.

Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações


Programáticas Estratégicas, Área Técnica de Saúde da Mulher. Pré-natal e Puerpério:
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Almeida MS, Silva IA. Necessidades de mulheres no puerpério imediato em uma


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