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RESUMO
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Alergia e Imunologia: abordagens clínicas e prevenções
INTRODUÇÃO
O Brasil iniciou em 1999 a execução de uma política pública de vacinação para a terceira
idade. A iniciativa surgiu justamente visando reduzir os casos de hospitalizações e mortes em
decorrência da influenza, tétano e difteria. Pode-se dizer que, desde então, os grupos con-
siderados alvos da intervenção ampliaram-se, e obtiveram um acréscimo máximo em 2010,
em decorrência da campanha de vacinação contra a influenza pandêmica A (H1N1) pdm09,
quando mais de 89 milhões de pessoas foram vacinadas, correspondendo a uma cobertura
vacinal de 47% da população brasileira. Assim, o grupo de recém-nascidos merece atenção
quando se trata de vacinas, e ainda mais quando este vem ao mundo de forma prematura.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define recém-nascido prematuro como toda
criança que nasceu antes das 37 semanas de gestação. No Brasil o número de prematuros
corresponde a 12,4% dos nascidos vivos, segundo OMS e o Sistema de nascidos vivos
(SINASC). A idade gestacional (IG) e o peso ao nascimento são usados para classificar os
prematuros. De acordo com IG são classificados em: pré-termo extremo (<28 semanas), muito
pré-termo (28 a <32 semanas), pré-termo moderado (32 a <37 semanas), pré-termo tardio:
34 a <37 semanas). O peso ao nascimento pode ser classificado em: baixo peso aqueles
com menos 2500g, muito baixo peso aqueles com menos de 1500g e extremo baixo peso
aqueles com peso menor que 1000g. Essas classificações são de extrema importância para
a avaliação individual de crescimento e desenvolvimento de cada Recém-Nascido prematuro.
Apesar das Unidades Neonatais de Cuidados Intensivos (UNCI) contarem com avançado
arsenal de recursos técnicos e humanos, desenvolvidos para possibilitar a sobrevida desses
prematuros, e da constante preocupação em diminuir as taxas de letalidade e de sequelas.
A vacinação, uma das mais eficientes medidas para reduzir a morbidade e mortalidade
nesse grupo é, por muitas vezes esquecida, ou adiada, por medo e/ou falta de conhecimento
acerca da resposta imunológica e segurança do imunobiológico em RN muito pequenos e
com comorbidades associadas. (SBP, 2018)
O sistema imune é essencial para a defesa e manutenção da integridade do organismo.
Sua principal função é proteger contra agentes infecciosos e parasitários. Atua, também, no
controle do desenvolvimento de neoplasias malignas, no processo de tolerância imunológi-
ca e na homeostase de órgãos e tecidos. O sistema imune fetal e neonatal está associado
à proteção contra infecções, impedimento da nocividade de células T helper 1 (Th1) pró
inflamatórias, cujas repostas induzem reações aloimunes materno-fetal. Além disso, realiza
a mediação da transição entre o meio intra-uterino estéril e o meio externo rico em antíge-
nos. Esta resposta imune geralmente é avaliada em termos de idade gestacional. Quanto
menor a idade gestacional, menos desenvolvido será o sistema imunológico da criança, o
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início do desenvolvimento imunológico se inicia a partir do segundo trimestre de gestação
e maturação gradual se completa na adolescência. (Rizzon, 2011).
A classificação da imunidade ocorre em inata (inespecífica) ou adquirida (especifica),
esta se divide em humoral e celular. As vacinas estimulam a imunidade específica, por
meio dos anticorpos e de linfócitos com função efetora. O sistema imunológico dos RN pre-
maturos possui uma baixa capacidade de resposta imune especifica, pois é no terceiro
trimestre de gestação que se transfere anticorpos maternos IgG via transplacentária para
o feto. A resposta imune humoral e celular dos pré-termos são mais imaturas comparado
aos recém-nascidos a termo, como consequência desenvolvem uma menor produção de
anticorpos após algumas vacinas, como por exemplo difteria, tétano, influenza e hepati-
te B. Possuem também menor atividade dos fagócitos e menor produção de células de
memória. Portanto, se faz de extrema importância um calendário vacinal exclusivo para
os prematuros, levando sempre em consideração a individualidade de cada um. Os RNPT
são muito mais suscetíveis a diversas doenças infecciosas, pois além das características
acima citadas, eles frequentemente apresentam doenças concomitantes, que os tornam
ainda mais vulneráveis às infecções. Outros fatores que predispõem os RNPT às doenças
infecciosas são: a própria causa de nascimento pré termo, como corioamnionite, infecção
urinária e outras doenças infecciosas maternas; vias aéreas de menor calibre, que os tornam
mais vulneráveis às infecções respiratórias; menor reserva energética; desmame precoce;
doença pulmonar crônica da prematuridade; necessidade de cateteres e punções frequentes;
internação prolongada; anemia, uso frequente de corticosteróides; e uso de hemoderivados
e transfusões. (SBP,2018)
É evidente, portanto, que a individualização de cada pré-termo é essencial, mas fre-
quentemente a vacinação dos RNPT é posta em segundo plano, pois há muitos agravos
durante o período de hospitalização. Na prática da UTIN, os atrasos no esquema vacinal são
comuns em necessidade de adiar a vacinação enquanto a criança não se encontra estável
e até de pais e profissionais que temem os efeitos colaterais.
Apesar de suas características imunológicas, não há motivos para não se vacinar ou
adiar o procedimento nos prematuros. A deficiência na imunidade humoral, presente ao
nascer, se reverte com o passar das semanas após o parto, o que acaba por não alterar,
de maneira significante, a imunogenicidade das vacinas administradas a esta população.
Estudo sobre a eficácia e tolerância na vacinação de crianças prematuras corrobora essa
ideia, afirmando que a maturação imunológica depende mais da idade cronológica do que
da idade gestacional. (SBP, 2018).
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DESENVOLVIMENTO
Ao aplicar vacinas em RNPT, devemos considerar alguns fatores, ainda mais aqueles
nascidos com idade gestacional (IG) menor de 28 semanas e peso abaixo de 1000g, sendo:
VACINA INFLUENZA
A influenza é uma infecção viral aguda que acomete, especialmente, o sistema respira-
tório. Possui transmissibilidade elevada e distribuição global, com tendência a se disseminar
facilmente em epidemias sazonais, podendo também causar pandemias.
A proteção contra a influenza, já indicada rotineiramente para lactentes, tem sua in-
dicação reforçada no caso de bebês prematuros. Nesse grupo, a morbidade e as taxas de
hospitalização são muito elevadas, e as taxas de complicações e letalidade chegam a 10%,
sendo ainda mais altas em RN com doenças crônicas respiratórias, cardíacas, renais ou
metabólicas. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2020).
Deve-se salientar que a vacina influenza só pode ser administrada em lactentes com
mais de seis meses de vida, assim deve ser feito em idade cronológica para prematuros.
Como a influenza é uma doença sazonal, a vacina deve ser aplicada idealmente antes do
período de maior circulação do vírus que deve ser feita anualmente.
Desde que disponível, a vacina influenza 4V é preferível à vacina influenza 3V, por
conferir maior cobertura das cepas circulantes, contudo, na impossibilidade de uso da va-
cina 4V, utilizar a vacina 3V. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2018). A vacina
é aplicada por via intramuscular e na primovacinação são necessárias duas doses, com
intervalo de um mês entre elas.
Crianças menores de seis meses constituem um dos grupos mais vulneráveis às
complicações da influenza e, como não podem receber a vacina, é fundamental que se
estabeleçam medidas para evitar a transmissão do vírus nas unidades neonatais, vaci-
nando as equipes médicas e os familiares que têm contato com os RNPT. (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2018). A vacinação da gestante seria interessante nesse caso,
pois permite a transferência de anticorpos ao bebê através da placenta. Porém, no caso de
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RNPT, a transferência de anticorpos da classe IgG da mãe para o feto é pequena ou nula,
dependendo da idade gestacional. Assim, a mãe pode ser vacinada antes ou imediatamente
após o parto, trazendo benefícios para a criança com a imunização passiva pelo aleitamento
materno e menor risco de contaminação.
VACINA ROTAVÍRUS
VACINA HIB
VACINA DTPA
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USO DE ANTICORPO MONOCLONAL PALIVIZUMABE COMO PROFI-
LAXIA AO VÍRUS SINCICIAL RESPIRATÓRIO
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Tabela 1. Resumo das vacinas com esquemas especiais aos prematuros.
* IGHAHB e Palivizumabe são classificados como imunoglobulinas que geram resposta passiva ao organismo.
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Quanto menor for a idade gestacional menor será o desenvolvimento do sistema imu-
nológico do bebê e, consequentemente, mais baixa será a resposta imune humoral e celular
às doenças. Além disso, os RNPT possuem uma concentração menor de anticorpos ao
nascerem e também após certas vacinas, como DTPa, influenza e hepatite B. Devido a es-
sas particularidades, é de suma importância levar em consideração a individualidade dessa
faixa etária. Isso pode ser feito através de um calendário vacinal para os recém-nascidos
prematuros de acordo com a sua idade cronológica, diferenciando alguns esquemas vacinais
trazidos nesse trabalho, sendo as vacinas: hepatite b, influenza, rotavirus, Hib, DTPa, pneu-
mocócica. Além das imunoglobulinas passivas como a imunoglobulina hiperimune específica
para hepatite B (HBIG), para hepatite B e anticorpo monoclonal em profilaxia ao VSR.
Ademais, toda forma de proteção é essencial aos RNPTs, seja por imunidade ativa,
passiva ou de seus cuidadores, tendo assim uma eficaz redução de casos de doenças imu-
nopreveníveis na criança e melhor condição de saúde publica.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
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