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A maioria das doenças infecciosas bacteria- Mulheres com sinais, sintomas e exames ra-
nas maternas não contraindica o aleitamento ma- diológicos consistentes com doença tuberculosa
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Doenças maternas infecciosas e amamentação
ativa devem restringir o contato com a criança de- Mastite e abcesso mamário
vido à transmissão potencial da doença por meio
das gotículas do trato respiratório. Durante o pe- Mastite e abcesso mamário não são conside-
ríodo de investigação da doença, o leite materno radas infecções invasivas e não contraindicam a
pode ser ordenhado e oferecido à criança, por não amamentação12. De um modo geral, a presença
haver risco de passagem do Mycobacterium tuber- de patógenos bacterianos no leite materno não
culosis pelo leite humano12-14. A ordenha deverá representa risco para o lactente17-19. O aleita-
ser realizada no mínimo 6-8 vezes nas 24 horas mento materno poderá ser mantido se a tera-
seguindo as normas higiênicas como lavagem das pia antimicrobiana empírica for instituída e se
mãos, proteção dos cabelos com touca e uso de o material drenado do abscesso não tiver con-
máscara limpa cobrindo nariz e boca,17 e o leite tato direto com a boca da criança ou não tiver
humano ordenhado cru oferecido para a crian- havido rompimento para o sistema ductal. Caso
ça13,14. Nas primeiras 2 semanas da terapia anti- contrário, deve-se suspender temporariamente
tuberculose, a mãe poderá amamentar seu filho a amamentação na mama afetada, mantendo a
com uso de máscara (cobrindo nariz e boca). É ordenha da mesma e a amamentação na mama
necessário assegurar a aderência materna ao tra- contralateral12,17.
tamento12.
A interrupção da amamentação com manuten-
Recomenda-se para a criança o uso profiláti- ção da ordenha e descarte do leite materno tem
co de isoniazida, na dose de 10mg/Kg/dia15,16 até sido recomendada para casos de infecções invasi-
o 3º- 4º mês de vida, quando o teste tubercu- vas causadas por Streptococcus do Grupo B12. En-
línico deverá ser realizado. Se o teste for posi- tretanto, com frequência a mulher já estará com
tivo, a criança deve ser avaliada, especialmente cobertura antimicrobiana empírica por mais de 2
quanto ao acometimento pulmonar, porém ou- dias quando for conhecido o resultado da cultura
tras formas de tuberculose deverão também ser da secreção drenada. Desta forma, de uma manei-
pesquisadas. Caso a criança tenha contraído a ra geral não há indicação de suspensão do aleita-
doença, a terapêutica deverá ser instituída; caso mento materno, mesmo nesses casos12.
contrário, a isoniazida deve ser mantida, com
acompanhamento mensal. Se o resultado do Não há utilidade em se realizar a cultura do
teste tuberculínico for negativo aos 3 meses de leite materno para orientar a decisão sobre a an-
idade, a isoniazida deverá ser descontinuada e tibioticoterapia em mães lactantes com mastite
o BCG aplicado12,14. Quando a mãe for portadora ou abcesso mamário. Entretanto, se houver falha
de tuberculose multidroga resistente, a separa- no tratamento empírico após 48 a 96 horas do
ção da criança do contato materno se faz neces- seu início, se ocorrer recorrências frequentes da
sária, pois nesse caso há maior infectividade e doença apesar de aparente terapia apropriada
o período para a resposta ao tratamento se pro- ou se a mulher experimentar dor fora do contex-
longa14,16. Entretanto, o leite materno ordenhado to dos sinais clínicos encontrados, a cultura do
poderá ser oferecido à criança até a mãe se tor- leite poderá ser solicitada. A coleta deve ser re-
nar abacilífera16. alizada após limpeza delicada do complexo aré-
olo-mamilar com água corrente, desprezando-se
O Mycobacterium tuberculosis muito raramen- os primeiros jatos do leite ordenhado12. A cul-
te causa mastite ou abcesso mamário. Mas, se isso tura de material advindo da drenagem cirúrgica
ocorrer, o aleitamento materno deverá ser des- de abcesso deve ser sempre realizada12. Além do
continuado, mantendo-se a ordenha para evitar a tratamento medicamentoso, os possíveis fatores
diminuição da produção láctea até que a mulher predisponentes da mastite, como estase do lei-
receba tratamento antituberculínico e seja consi- te e infecção18, devem ser abordados mediante
derada abacilífera14. Nesses casos, a criança tam- ordenha frequente e aumento do número de ma-
bém deverá receber isoniazida12. madas17.
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Quanto à sífilis, se houver lesões primárias e tada como exemplo, pois essa doença parasitária
secundárias na aréola e/ou mamilo, a amamenta- não é transmitida entre humanos, tampouco pelo
ção é contraindicada temporariamente na mama leite materno. Os fármacos usados para tratar a
afetada, até a cicatrização das lesões mediante malária não contraindicam a amamentação, en-
o uso da antibioticoterapia sistêmica12. A criança tretanto, deve-se evitar as sulfonamidas no perí-
deverá ser testada e tratada com antimicrobiano. odo neonatal17.
A manutenção da amamentação na mama contra-
Exceção ocorre na doença de Chagas, quando
lateral está indicada. A ordenha e o descarte do
o parasita pode ser excretado no leite humano.
leite ordenhado da mama afetada deverão ser re-
Nota-se, entretanto, que a infecção aguda no lac-
alizados para evitar estase do leite, com proteção
tente parece ter evolução benigna e a descrição
das lesões para evitar contato com a criança12,16,17.
de sequelas é rara. Assim, a amamentação deverá
ser contraindicada apenas na fase aguda da doen-
ça ou quando houver lesão mamilar com sangra-
Doenças parasitárias mento15,17.
Quadro1. Conduta em relação à amamentação e uso do leite materno ordenhado cru em algumas infecções
bacterianas e parasitárias na nutriz12-20.
Staphylococcus Contato Interrupção temporária Permitido, após Doença materna grave, muitas
aureus: doença grave por 24-48 após início 24-48 horas do início vezes mediada por toxinas
ou invasiva da antibioticoterapia da antibioticoterapia
Streptococcus do Contato Interrupção temporária Permitido, após Pode causar infecções recorrentes
Grupo B doença grave por 24-48 após início 24-48 horas do início maternas
ou invasiva da antibioticoterapia da antibioticoterapia
Neisseria miningitidis: Gotículas Interrupção temporária Permitido, após Uso de antibioticoterapia
doença grave ou respiratórias por 24 horas após início 24 horas do início da profilática nos contactantes
invasiva da antibioticoterapia antibioticoterapia
Tuberculose: lactantes – Sem restrição Permitido Manutenção do tratamento da
abacilíferas ou mulher
tratadas há mais de
2 semanas antes do
parto
Tuberculose: lactantes Gotículas Suspender Permitido Seguir normas higiênico-
com sinais, sintomas do trato temporariamente até sanitárias, em especial uso de
e exames radiológicos respiratório diagnóstico e início da máscara cobrindo nariz e boca
consistentes com terapia na lactante e
doença tuberculosa terapia profilática na Manter diminuição do contato
ativa criança mãe/filho por pelo menos
2 semanas após início do
tratamento
Investigar criança e iniciar
isoniazida
continua...
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... continuação
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sente sangramento, ela pode retomar o aleita- gado. O teste rápido anti-HIV é tecnicamente sim-
mento materno na mama antes comprometida34. ples, pode ser realizado por qualquer profissional
A decisão de amamentar ou não em mães HCV po- de saúde capacitado e gera resultado em, no má-
sitivas deve ser baseada em uma discussão infor- ximo, 30 minutos15,28,35. Em mulheres com testes
mada entre a mãe e o profissional de saúde, após negativos ou com estado sorológico desconheci-
ela obter informações suficientes sobre os riscos do, os profissionais de saúde devem incentivar o
e benefícios do aleitamento materno12,14,33, além aleitamento materno e ajudar as mães a iniciarem
de ter conhecimento de que a transmissão do a amamentação na primeira hora após o parto.
VHC pela amamentação é teoricamente possível,
As condutas em relação à amamentação de
apesar de nunca documentada14,34. A alta preva-
mães soropositivas para o HIV devem seguir as
lência de infecção por VHC em todo o mundo re-
diretrizes de cada país11-13,36,37. No Brasil, é con-
quer esforços renovados na prevenção primária
traindicada a amamentação para as mães soropo-
com o desenvolvimento de vacinas32.
sitivas para o HIV, bem como a amamentação cru-
zada, ou seja, a amamentação de uma criança por
Infecção pelo vírus da imunodeficiência
uma mulher que não seja sua mãe35. O alojamento
humana (HIV)
conjunto deve ser cumprido em tempo integral
O vírus da imunodeficiência humana tipo 1 com a finalidade de estimular o vínculo mãe-filho.
(HIV-1) pode ser transmitido da mãe para o filho Nutrizes com diagnóstico de HIV devem realizar a
durante a gestação, no momento do parto e atra- inibição farmacológica da lactação nas primeiras
vés do leite materno. O risco de transmissão ver- horas após o parto, mediante a administração de
tical do HIV, sem que ocorra qualquer intervenção cabergolina 1,0mg por via oral, em dose única. O
durante a gestação para evitá-lo, situa-se entre enfaixamento das mamas representa uma medida
25% e 30%. Desse percentual, o risco de trans- de exceção, indicada apenas quando a cabergoli-
missão intraútero e intraparto é de 25% a 40% na não estiver disponível28,35. Os recém-nascidos
e 60% a 75%, respectivamente. A amamentação das mulheres HIV positivas devem ser alimenta-
está associada a um risco adicional de transmis- dos com fórmula infantil. Para as mães que não
são, podendo chegar a 29% nos casos de infecção tenham condições financeiras de adquirir as fór-
aguda35. No recém-nascido, as portas de entrada mulas infantis, o MS do Brasil as disponibiliza.
do vírus são as mucosas da nasofaringe e do trato
A OMS, desde 2010, vem adotando uma abor-
gastrintestinal.
dagem de saúde pública, recomendando o aleita-
Nas maternidades brasileiras, o teste rápido mento materno para todas as mulheres que vivem
para diagnóstico de HIV deve ser realizado em to- com HIV e fazem o uso de drogas antirretrovirais,
das as gestantes não testadas para o HIV durante como modo de prevenção da transmissão pós-
o acompanhamento pré-natal, para a adoção de -natal do HIV através da amamentação. Essa re-
procedimentos de prevenção de transmissão ver- comendação se baseia em evidências científicas
tical. É importante ressaltar que o MS não reco- oriundas de revisões sistemáticas mostrando que
menda que o profissional de saúde contraindique o uso de drogas antirretrovirais pode reduzir sig-
a amamentação para aquelas mulheres que reali- nificantemente o risco de transmissão pós-natal
zaram o teste anti-HIV e que ainda não possuam do HIV através do leite materno36. Nos locais em
o resultado ou mesmo naquelas que não tiveram que os antirretrovirais estão disponíveis, é reco-
acompanhamento pré-natal, porquanto a con- mendada a prática da amamentação exclusiva por
traindicação deve ser baseada em um diagnósti- 6 meses, seguida do uso de alimentos comple-
co de HIV reagente. Os serviços de saúde devem mentares e manutenção do aleitamento materno
estabelecer uma logística para que o resultado nos primeiros 12 meses de vida, pois, segundo a
esteja disponível no momento do parto, para que OMS, essa é uma medida segura que melhora a
o início do aleitamento materno não seja poster- sobrevivência global e assegura bom crescimen-
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Doenças maternas infecciosas e amamentação
to e desenvolvimento infantil36,37. No quadro 2 que atenda aos critérios AFASS, ou seja, aceitá-
estão sintetizadas as recomendações atuais da vel (a mãe não apresenta nenhuma barreira, por
OMS em relação à amamentação de mães HIV po- razões culturais ou sociais ou pelo medo do es-
sitivas que vivem em locais onde as autoridades tigma e da discriminação, para escolha de outra
recomendam o aleitamento materno e o uso de opção de alimentação), factível (a mãe ou outro
antirretrovirais. membro da família tem tempo, conhecimentos,
habilidades e recursos adequados para preparar
alimentos e para alimentar a criança), acessível (a
Quadro 2. Recomendações da OMS em relação à
mãe e a família, com o apoio da comunidade e/
amamentação de mães HIV positivas que vivem em locais
onde as autoridades recomendam o aleitamento materno ou do sistema de saúde, podem pagar os custos
de mães e o uso de antirretrovirais de alimentos de substituição - incluindo todos
os ingredientes, combustível e água limpa, sem
Situação Recomendação comprometer o orçamento da família), sustentá-
vel (a mãe tem acesso ao fornecimento contínuo e
Por quanto tempo Mães HIV positivas devem
ininterrupto de todos os ingredientes e produtos
uma mãe que vive amamentar por pelo menos
com HIV pode 12 meses e podem continuar necessários para implementar a opção de alimen-
amamentar? a amamentação por até
tação com segurança, enquanto a criança precisar
24 meses ou mais, se tiverem
total aderência ao uso dos dela) e seguro (os alimentos de substituição são
antirretrovirais.
nutricionalmente adequados e preparados, arma-
Qualidade da evidência: baixa zenados e fornecidos na quantidade suficiente,
para até 12meses; muito baixa
para 24meses. de forma correta e higiênica, de preferência por
Suporte às mães que As autoridades nacionais
copo)11,36,37. O aleitamento materno deve ser ex-
vivem com HIV devem implementar clusivo porque reduz o risco de transmissão do
ativamente ações de
promoção, proteção e apoio à
HIV da mãe para o filho em comparação com a
amamentação; nos serviços de alimentação mista13,36,37, pelo maior dano à mu-
saúde, locais de trabalho e na
cosa intestinal decorrente da alimentação artifi-
comunidade.
cial, fator que favorece a penetração do vírus38. A
Conduta quando as Drogas antirretrovirais reduz o
mães HIV positivas risco de transmissão pós-natal amamentação não afeta negativamente a saúde
não amamentam do HIV mesmo no contexto de da mãe infectada pelo HIV12. É importante desta-
exclusivamente alimentação mista.
car que esse não é o caso do Brasil, pois o Minis-
Embora a amamentação
exclusiva seja recomendada,
tério da Saúde contraindica a amamentação em
a prática de alimentação mulheres HIV positivas. Esta orientação é válida
mista não é uma razão para
interrupção da amamentação
para os países onde há acesso aos medicamentos
quando estiverem em uso antirretrovirais e há garantia de fórmula infantil
regular dessas drogas.
para os filhos dessas mães durante os primeiros 6
meses de vida.
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Doenças maternas infecciosas e amamentação
tura e longa duração. No que diz respeito ao CMV, bolhas que se rompem e provocam pequenas úl-
a replicação total foi afetada por várias doses de ceras. Os vírus são transmitidos pelo contato dire-
tratamento; contudo, persistiu a presença de pro- to com fluidos corporais ou feridas de uma pessoa
teínas virais dentro das células, indicando a pos- infectada. A doença é contagiosa mesmo nos pe-
sibilidade de transcrição de genes virais49. São ríodos assintomáticos. O período mais comum de
necessários novos estudos para que a irradiação contaminação é durante o parto15,26.
ultravioleta-C seja indicada como método alter-
Existem casos descritos de infecções pelo her-
nativo da pasteurização convencional.
pes vírus em nutrizes com a presença de lesões
A recomendação de fornecer leite de banco herpéticas na mama. Quando a lactante apresenta
de leite humano quando o leite materno não es- sinais de infecção ativa por VHS, a amamentação
tiver disponível ou quando contraindicado é uma deve ser mantida, exceto quando há vesículas her-
conduta segura e garante os benefícios do leite péticas localizadas na pele da mama15,26. A criança
materno; entretanto, nem sempre esse leite está não deve sugar a mama afetada enquanto persis-
disponível, por requerer uma estrutura física es- tirem as lesões. Lesões herpéticas em outras lo-
pecífica, instrumentos e recursos humanos que calizações devem ser cobertas e a mãe deve ser
garantam a coleta, pasteurização e distribuição orientada quanto à higiene criteriosa das mãos26.
do leite humano ordenhado com qualidade.
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caso o recém-nascido seja infectado após o parto. ol gel em seguida, principalmente antes de ama-
Esses lactentes podem receber uma única dose mentar e após as crises de tosse e espirros; além
intramuscular de imunoglobulina varicela-zos- de lavar as mãos depois de usar o banheiro, antes
ter; se a imunoglobulina especifica não estiver de comer, antes e depois de tocar os olhos, a boca
disponível, alternativamente pode-se utilizar a e o nariz; evitar tocar os olhos, nariz ou boca após
imunoglobulina intravenosa. Além disso, a díade contato com superfícies potencialmente conta-
deve permanecer junta em um quarto bem ven- minadas (corrimãos, bancos, maçanetas, dentre
tilado, para prevenir a transmissão nosocomial53. outras)55. Se a mãe estiver muito debilitada e
Essa abordagem promove o aleitamento materno acamada, o leite materno pode ser ordenhado e
e permite ao recém-nascido receber os fatores oferecido ao lactente em um copinho ou xícara.
de imunoprotecção através do leite materno. A O uso de mamadeira deve ser desaconselhado15.
imunização contra varicela pós-exposição não é
Está comprovado os benefícios do fosfato de
recomendada para recém-nascidos, apenas para
oseltamivir para os pacientes suspeitos de in-
crianças com 12 meses de idade ou mais14,15.
fluenza, sobretudo quando administrado nas 48
horas após o início dos sintomas. O uso desse an-
Influenza pelo vírus H1N1
tiviral é considerado seguro durante a amamenta-
Os vírus influenza são transmitidos facilmen- ção, assim como em lactentes com sinais de infec-
te de pessoa a pessoa por gotículas respiratórias ção. No entanto, a vacinação é a intervenção mais
produzidas por indivíduos infectados ao tossir ou importante na redução do impacto da influenza,
espirrar. Existem três tipos de vírus influenza: A, B sendo indicada para todas as pessoas, incluindo
e C. O vírus influenza C causa infecções respirató- as mulheres que amamentam e crianças maiores
rias brandas, não possui impacto na saúde pública de 6 meses de idade55.
e não está relacionado com epidemias. Diferente-
mente, os vírus influenza A e B são responsáveis Febre amarela
por epidemias sazonais, sendo o vírus influenza A
responsável pelas grandes pandemias. Até o momento, não há relato de transmis-
são do vírus da febre amarela via leite materno
O subtipo H1N1 do vírus da influenza A se de uma mãe infectada pelo vírus, apesar de ser
transmite de pessoa a pessoa, de forma seme- limitada a potencial proteção adquirida passiva-
lhante à gripe comum, por gotículas respiratórias mente por anticorpos. Diante da bem documenta-
geradas pela tosse ou espirros55,56. Foi detectado da transmissão do vírus da febre amarela via mos-
pela primeira vez em 2009 nos Estados Unidos; quito e da lacuna de evidência de transmissão via
nesse ano, o CDC recomendou que as mães infec- leite materno, parece mais sensato proteger todas
tadas agudamente pelo vírus H1N1 fossem tem- as crianças contra a picada de mosquito, do que
porariamente isoladas de seus filhos até que se interromper o aleitamento materno. A manuten-
tornassem afebris, e que oferecessem leite orde- ção da amamentação ou o uso de leite materno
nhado cru para a alimentação do seu filho nesse ordenhado irá depender do estado de saúde da
período56, com o endosso da AAP13. No entanto, lactante durante a doença. Interromper tempora-
a necessidade de isolamento foi posteriormente riamente o aleitamento materno na fase aguda da
questionada53. Parece que as medidas de higie- doença por pelo menos 4 dias é uma precaução
nização das mãos e o uso de máscara facial pela razoável, com a ordenha frequente da mama e si-
mãe são suficientes para evitar a transmissão do multâneo descarte do leite ordenhado39.
vírus53, não sendo necessário o isolamento, pois
quando a mãe apresenta sinais da doença a crian- A vacina contra a febre amarela está contrain-
ça certamente já foi exposta ao vírus. A mãe pode dicada para mães que estão amamentando até a
amamentar com máscara. Recomenda-se a lava- criança completar 6 meses de idade. Caso exista
gem das mãos com água e sabão e/ou uso do álco- indicação de vacinação (residir em local próximo
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Doenças maternas infecciosas e amamentação
onde ocorreu a confirmação de circulação do ví- fecções virais na nutriz. Nota-se que raras são as
rus - epizootias, casos humanos e vetores na área doenças que contraindicam a amamentação. En-
afetada), a amamentação deve ser suspensa por tretanto, sabe-se que as condutas podem mudar
10 dias, segundo recente nota técnica do MS do a qualquer momento, à medida que novas evi-
Brasil57. A criança poderá fazer uso de leite mater- dências científicas vão surgindo. Nesse sentido,
no ordenhado previamente à vacinação, respei-
o CDC pode auxiliar nas definições de condutas
tando-se o prazo de validade do leite congelado
relativas ao aleitamento materno na presença de
de até 15 dias57.
doenças infecciosas maternas: www.cdc.gov/bre-
O Quadro 3 resume as condutas quanto ao astfeeding/recommendations/other_mothers_
aleitamento materno na vigência de algumas in- milk.htm.
Varicela Contato Permitida, exceto se a Isolamento de mãe e A doença não é transmitida pelo
direto, via infecção for adquirida filho no período leite materno
aérea entre 5 dias antes e
Imunoglobulina O isolamento da díade tem sido
2 dias após o parto
Humana Antivaricela questionado
Zoster, que deve
ser administrada o
mais precocemente
possível, em até 96
horas do nascimento
Sarampo Contato com Permitida, após Alimentar o lactente A doença não é transmitida pelo
secreções isolamento da mãe com leite materno leite materno
respiratórias nos primeiros 4 dias ordenhado cru durante
Presença de IgA contra o
no período da doença o isolamento da mãe
sarampo no leite materno
de incubação
Uso de
e durante o
imunoglobulina pela
período da
criança
doença
continua...
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... continuação
Infecção pelo HIV Vertical na Varia de acordo com A alimentação alternativa deve
gestação, o país ser aceitável, factível, acessível,
parto e via sustentável e segura (AFASS)
Contraindicada no
leite materno
Brasil Aumento do risco de
transmissão na presença de
outras doenças infecciosas
Influenza H1N1 Contato com Permitida Medidas de A doença não é transmitido pelo
gotículas higienização das mãos leite materno
expelidas e uso de máscara
Não é necessário isolamento
ao tossir ou facial pela mãe
espirrar
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Doenças maternas infecciosas e amamentação
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