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ENXERTOS E RETALHOS

ENXERTOS E
RETALHOS

CIRURGIA PLÁSTICA 1
ENXERTOS E RETALHOS

ENXERTOS E
RETALHOS

CONTEÚDO: ISABELA CONSTANTINO


CURADORIA: NATALIA VERDIAL

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ENXERTOS E RETALHOS

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................ 4

ENXERTO ........................................................................................................ 5

História ..................................................................................................................... 5

TIPOS ............................................................................................................. 5

Quanto a origem ................................................................................................... 5

Quanto a espessura ............................................................................................. 6

Fases da pega........................................................................................................ 6

COMPLICAÇÕES ........................................................................................... 7

RETALHOS ...................................................................................................... 8

História ..................................................................................................................... 8

Quanto à irrigação ................................................................................................ 8

Quanto à distância da área receptora ........................................................... 8

CONTRAINDICAÇÕES ................................................................................... 9

PREPARO PRÉ-OPERATÓRIO ....................................................................... 9

COMPLICAÇÕES ........................................................................................... 9

REFERÊNCIAS................................................................................................ 11

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ENXERTOS E RETALHOS

INTRODUÇÃO

Fala pessoal! Hoje é dia de falarmos de


Cirurgia Plástica, sobre o importante as-
sunto de Enxertos e Retalhos. Nesse re-
sumo vocês irão aprender o que são en- Os retalhos preservam a
xertos e o que são retalhos, suas princi- vascularização da área
pais características, indicações e con-
doadora; os enxertos, não!
traindicações, além das diferenças entre
eles. Então vamos lá. O primeiro conceito
a ser assimilado é que tanto enxertos
quanto retalhos são técnicas das quais
um cirurgião (não necessariamente o Um enxerto não mantém a vasculariza-
Plástico) vai lançar mão para reparar um ção da localização de origem. Com isso
defeito, seja ele uma úlcera de pressão já temos uma limitação: será utilizado
desbridada ou um defeito criado após a apenas quando a área receptora apre-
ressecção de um tumor, por exemplo. O sentar um bom leito vascular, uma vez
fato é: existe um "buraco", uma falta de que a nutrição do enxerto depende to-
tecido em algum lugar que necessita ser talmente dela. Outro detalhe é que não
recoberta ou reconstruída - e um enxerto será usado para cobrir áreas nobres,
ou retalho será a sua ferramenta para como nervos tendões, osso sem periós-
tal. teo... São muito utilizados no tratamento
de pacientes grandes queimados, por
Portanto, eles podem ser feitos de dife- exemplo. São subdivididos de acordo
rentes estruturas do corpo - pele, mús- com algumas características, mas isso
culo, ou pele e músculo, bem como fás- veremos mais adiante no tópico especí-
cias, cartilagens, ossos... O nosso foco fico.
aqui serão os cutâneos e musculocutâ-
neos. Retalho: ao contrário dos enxertos, aqui
mantemos a vascularização de origem e,
Mas qual então a diferença entre eles? com isso, não teremos uma preocupa-
Bom, como dito, ambos vão cobrir um ção tão grande com o status vascular da
determinado defeito, mas eles possuem área receptora. Costumam estar envol-
características intrínsecas que os dife- vidos em correções de defeitos mais
renciam, bem como indicações e contra- complexos, podendo ser cutâneos, mus-
indicações. culocutâneos, dentre outros. Também
possuem diversas subdivisões, as quais
Enxerto: Será um fragmento da pele to-
também veremos mais a frente.
talmente retirado de sua área de vascu-
larização e reimplantado em outro local.

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Agora que vocês já sabem diferenciar com fragmentos de pele retirados de um


um enxerto de um retalho, vamos dividir doador é algo bastante antigo!
o resumo em dois tópicos principais, um
para cada e, dentro deles, discutiremos
em maiores detalhes.

ENXERTO

História

Nada melhor do que darmos uma boa


contextualizada história no tema, não?
Enxertos de pele vem sendo feitos há sé-
culos em todo o mundo. A história Hindu
traz descrições de técnicas de coleta e
reimplantação de pele, utilizadas após
as amputações nasais que eram prati- Área demarcada, de onde será retirado um
cadas como penas judiciais na época, enxerto
com datas de mais de 3 mil anos atrás.
TIPOS
Em 1804, G. Baronio realizou enxertos de
pele de diversas espessuras para rabos Quanto a origem
de ovelhas e Sir Astley Paston Cooper,
São divididos em 4 categorias: autoen-
um cirurgião inglês, também retirou um
xerto, homoenxerto, xenoenxerto, e pele
pedaço de pele de um dedo amputado
artificial ou feita via bioengenharia.
e o utilizou para cobrir um defeito de
coto de outro membro. Enxertos de pele • Autoenxerto: a pele é do próprio
total foram descritos por Wolfe em 1875 paciente
e Krause em 1893, respectivamente. Blair • Homoenxerto: a pele é de outra
e Brown, em seu livro-texto, foram os pri- pessoa
meiros a descrever, em 1929, a técnica de • Xenoenxerto/heteroenxerto: a
"retalho de espessura intermediária". pele é retirada de um animal
• Bioengenharia: a pele foi desen-
Mais tarde, Padgett e George Hood cri-
volvida num laboratório
aram o primeiro dermátomo mecânico,
que era capaz de remover retalhos de
pele de 4cm x 8cm. Aqui já vemos que a
ideia de cobertura de defeitos de pele

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retirada - a principal é a região


lateral da coxa. Possui três es-
pessuras, de acordo com a quan-
tidade de derme retirada (lem-
brando que nunca retira ela toda)

Fases da pega

Primeiramente: o que é "Pega"? É o pro-


cesso da incorporação do enxerto no
leito receptor - se ele deu certo, dizemos
que "pegou", se não deu certo, ele "não
pegou"!

O sucesso do enxerto vai depender


muito da vascularização e atividade me-
tabólica do tecido. Um enxerto retirado
de uma área de pele com bastante su-
primento sanguíneo em geral apresen-
Dermátomo sendo utilizado para retirar enxerto tam melhor cicatrização e pega do que
de pele parcial aqueles retirados de áreas não tão bem
perfundidas. A atividade metabólica do
tecido no momento da retirada terá re-
Quanto a espessura
lação com sua tolerância à isquemia. O
processo da pega é dividido em 3 fases:
• Espessura total: Composto de
toda a derme e epiderme e indi-
• Embebição: as primeiras 24-48h, a
cado para áreas menores, possui
resultado estético melhor e me- nutrição será pelo exsudato;
nos contratura. Existem poucas • Inosculação: deverá acontecer até
áreas de pele da onde pode ser o 6º dia, marcada pelo início das
coletado e a área doadora é fe- conexões vasculares;
chada com sutura. • Neovascularazação: em geral após
o 6º dia, quando veremos uma rede
• Espessura parcial: Composto pela
epiderme e parte da derme, tipi- vascular já formada entre o enxerto
camente indicado para cobrir e o leito receptor.
grandes áreas. Possui maior risco
de contratura, resultando em es-
tética inferior. Há mais áreas para

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Figura 1: A) Criança de oito anos, vítima de atropelamento com perda de substância em dorso do pé
direito, sem exposição óssea ou tendinosa; B) Área doadora do enxerto de pele; C) Dois meses de
pós-operatório do enxerto de pele em dorso do pé.

COMPLICAÇÕES dado importante de ser lembrado é que


os enxertos de pele total costumam ser
As complicações mais comuns são a menos associados à infecção. Uma boa
perda do enxerto, seja por tração exces- técnica cirúrgica com hemostasia a an-
siva ou formação de hematoma, e infec- tissepsia adequadas já diminuem muito
ção (que também pode causar sua a incidência das complicações. Adicio-
perda). Outras incluem: formação de ci- nalmente, para evitarmos movimenta-
catriz anômala, perda de tato na área e ção e cisalhamento, utilizaremos curati-
descoloração da pele no local (nos de vos que sejam bem fixos à pele, ou até
espessura parcial). Nos casos de infec- curativos à vácuos, que são excelentes
ção, os patógenos mais frequentemente para evitar a movimentação da pele en-
encontrados são Pseudomonas aerugi- xertada.
nosa e Staphylococcus aureus. Outro

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RETALHOS

História

Os primeiros retalhos foram confeccio-


nados em 600 a.C. pelo médico indiano
Sushruta, que utilizou retalhos regionais
para reconstruções após amputações
nasais. Nos anos 1900, cirurgiões euro-
peus iniciaram experimentos com mús-
culo e retalhos compostos, em especial
Sir Harold Gilles, que realizava reconstru- INDICAÇÕES
ções faciais em soldados que lutaram na
Retalhos musculocutâneos ou muscula-
Primeira Guerra Mundial. Foi a partir
res são muito úteis nos mais diversos de-
dessa época que se intensificaram os
feitos em cirurgia oncológica. Historica-
estudos acerca da anatomia e do supri-
mente, os miocutâneos são a escolha
mento sanguíneo dos músculos e pele, o
nas cirurgias de cabeça e pescoço, úlce-
que contribuiu com o avanço das técni-
ras de pressão, reconstruções de mama
cas de confecção dos retalhos.
e períneo.
TIPOS
Lesões com alto risco de infecção ou que
Quanto à irrigação tenham grandes espaços mortos são
ideais para se confeccionar retalhos
Podem ser ao acaso, quando a irrigação musculares. A escolha do local da onde
vem de artérias músculo-cutâneas, for- será coletado o retalho deve ser indivi-
mando um plexo, ou axiais, quando o dualizada e levar em consideração as
mesmo acompanha o trajeto de uma ar- características da área que será recons-
téria. truída.

Quanto à distância da área receptora Uma reconstrução na face, por exemplo,


demanda um tecido mais fino e que pos-
Podem ser retalhos de vizinhança,
sua boa sensibilidade e pilificação, já
quando as áreas doadora e receptora
uma úlcera de pressão não exige preo-
são próximas ou adjacentes. Estes pode
cupações estéticas ou táteis, mas ne-
ser feitos via rotação ou avançamento.
cessita de um tecido que suporte níveis
Podem ser também a distância, quando
maiores de tensão sobre ele. Como já
as duas áreas não têm proximidade.
dito, sempre que falarmos de cobertura
de áreas mais nobres, pensaremos num

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retalho ao invés de cobertura com en- não é a nossa preocupação nesse mo-
xerto. mento!

CONTRAINDICAÇÕES COMPLICAÇÕES

As contraindicações absolutas para a As mais comuns complicações incluem


confecção de retalhos são praticamente infecção, seroma, hematoma, necrose
inexistentes. As raras contraindicações da gordura e até a perda do retalho. Os
relativas incluem história pessoal ou fa- sinais de isquemia podem ser vistos
miliar de eventos trombóticos ou ano- através da pele, nos retalhos miocutâ-
malias de coagulação que causem san- neos, ou por uma aparência de cor acin-
gramento excessivo, cirurgia prévia que zentada, nos musculares. O tratamento
possa ter alterado ou comprometido a nesses casos é a reoperação.
vascularização da área doadora, radia-
ção prévia na área e quando a retirada Bom, acho que agora vocês já estão
da musculatura possa causar incapaci- craques no assunto! Agora é só partir
dade importante ou intolerável. Em to- pras questões pra não esquecer nada!
dos esses casos, a decisão da conduta
O fator de risco mais importante é pro-
cirúrgica deverá ser individualizada, ob-
vavelmente o tabagismo, não apenas
servando bem a relação custo-benefí-
por estar relacionado ao surgimento do
cio.
aneurisma, mas também por ser um fator
de risco modificável, cuja cessação
PREPARO PRÉ-OPERATÓRIO
pode, inclusive, diminuir as taxas de
Como em qualquer cirurgia, iremos reali- crescimento da dilatação aneurismá-
zar uma boa anamnese e exame físico, tica. Outros fatores que podem ser cita-
procurando principalmente por patolo- dos são idade avançada, sexo mascu-
gias que possam impedir a cirurgia, bem lino, história familiar positiva, hiperten-
como por problemas na coagulação. To- são arterial sistêmica, dislipidemia e pre-
mografia e angiografia do local podem sença de outras doenças cardiovascula-
até ser uma opção para programação res, como doença coronariana e doença
cirúrgica, mas não são exames de rotina. arterial periférica. Um fato curioso aqui é
Alguns pacientes podem precisar de te- que a Diabetes mellitus é um fator de
rapia nutricional pré cirúrgica, sendo os proteção! Ela é associada a uma menor
casos individualmente avaliados. Outros prevalência de aneurismas e tem se dis-
detalhes do pré e pós operatório já en- cutido se o motivo disso é devido à gli-
tram em temas muito específicos, o que cemia cronicamente elevada ou se é, na
verdade, efeito das drogas

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antidiabéticas - nada ainda definido


com certeza. Outro fator associado a
menor prevalência é a afrodescendên-
cia.

Figura 2 – A) O retalho ALT foi colhido da coxa esquerda; B) Defeito com passagem de um lado a ou-
tro na face esquerda após a excisão do carcinoma de células escamosas bucais; C) RM axial pós-
operatória mostra o retalho ALT; D) Resultado pós-operatório quatro meses após a cirurgia.

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REFERÊNCIAS

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