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Crochetagem Mioaponeurótica

Prof. Felipe Bernardo


Fisioterapeuta
Esp. Osteopatia
Crochetagem
• A Crochetagem é um método de tratamento das algias mecânicas do aparelho
locomotor, pela destruição das aderências e dos corpúsculos irritativos
inter-aponeuróticos ou mio-aponeuróticos através de ganchos colocados e
mobilizados sobre a pele.
• O fundador desta técnica é o fisioterapeuta sueco
Kurt Ekman.
• Trabalhou na Inglaterra ao lado do Dr. James. Cyriax
durante os anos pós-segunda guerra mundial.
• Frustrado por causa dos limites palpatório das técnicas
convencionais, inclusive a massagem transversa
profunda de Cyriax, ele elaborou progressivamente uma
série de ganchos e uma técnica de trabalho.
• A sua reputação se desenvolveu depois do tratamento com sucesso
de algias occipitais do nervo de Arnold, de epicondilites rebeldes e
de tendinites de Aquiles rebeldes.
• Durante os anos 70, ele ensinou seu método para vários colegas,
como P. Duby e J. Burnotte. Estes perpetuaram o ensino de
Ekman lhe dando uma abordagem menos sintomática da
patologia.
• De fato, no inicio Ekman tinha uma abordagem direta e
agressiva, ou seja, dolorosa. Esta abordagem prejudicou
durante muito tempo à técnica. P. Duby e J. Burnotte se
inspiraram do conceito de cadeias musculares e da filosofia da
osteopatia para desenvolver uma abordagem da lesão mais suave,
através da diafibrólise percutânea.
• No Brasil, a crochetagem passou a ser
difundida, a partir do ano 2000, pelo
professor Henrique Baumgarth,
presidente da Associação Brasileira
de Crochetagem, através de
apresentações em congressos,
comprovações publicadas em revistas
científicas, orientações monográficas e
com a prática clínica alicerçada na
pesquisa científica, baseada em
evidências de resultado
Objetivos:
1- Soltar as aderências
2- Elastificar as fibroses
3- Produzir hiperemia profunda
4- Facilitar o retorno venoso
5- Recuperar a elasticidade e plasticidade dos tecidos moles (viscoelasticidae)
Efeitos da Crochetagem
1 - Mecânico
• Nas aderências fibrosas que limitam o movimento entre os planos
de deslizamento tissulares.
• Nos corpúsculos fibrosos (depósito úricos ou cálcios) localizados
geralmente nos lugares de estases circulatório e próximo as
articulações.
• Nas cicatrizes e hematomas, que geram progressivamente
aderências entre os planos de deslizamento.
• Nas proeminências ou descolamentos periósteos.
Efeitos da Crochetagem
2 - Circulatório
• A observação clínica dos efeitos da terapêutica aplicada demonstra
um aumento da circulação sanguínea e provavelmente da
circulação linfática. Ainda, o rubor cutâneo que segue uma sessão
de crochetagem parece sugerir uma reação histamica.

3 - Reflexo
• A rapidez dos efeitos da compressão, principalmente durante a
crochetagem ao nível dos trigger points, sugerem a presença de um
efeito reflexo.
Principais indicações
• As aderências consecutivas a um traumatismo levando a um derrame tecidual.
• As aderências consecutivas a uma fibrose cicatricial iatrogênica cirúrgica.
• As algias inflamatórias ou não inflamatórias do aparelho locomotor: miosite,
epicondilites, tendinites, periartrites, pubalgia, lombalgia, torcicolo, ajustes
ortodônticos...
• As nevralgias consecutivas a uma irritação mecânica dos nervos periféricos,
occipitalgia do nervo de Arnold, nevralgia cervico-braquial, nevralgias intercostais,
ciatalgia.
• As síndromes tróficas dos membros: canal do carpo.
Descrição do material
• Depois de ter testado vários materiais tal a madeira, osso, e outros, K.
Ekman criou uma série de gancho de aço para atender às exigências do
seu método.
• Cada gancho apresenta uma curvatura diferente permitindo o contato com
os múltiplos acidentes anatômicos que se interpõem entre a pele e as
estruturas a serem tratadas.
• Cada curvatura se acaba em uma espátula que permite reduzir a pressão
exercida sobre a pele. Isto permite reduzir a irritação cutânea provocada
pelo instrumento. Além disso, cada espátula apresenta uma superfície
externa convexa e uma superfície interna plana.
• Esta estrutura melhora a interposição da espátula entre os planos
tissulares profundos inacessíveis pelos dedos do terapeuta, e permite a
crochetagem das fibras conjuntivas delgadas ou dos corpúsculos fibrosos
em vista de uma mobilização eletiva.
Descrição da Técnica
• O princípio do tratamento se baseia numa abordagem do tipo “centrípeta”. Na presença de
uma dor localizada num local específico, o terapeuta inicia sua busca palpatória manual
nas regiões afastadas (proximais e distais) do foco doloroso.
• Esta busca palpatória segue cadeias lesionais que estão em relação anatômica (mecânica,
circulatória e neurológica) com a lesão. Esta concepção permite evitar o aumento da dor,
chamado de efeito rebote, consequência de um tratamento exclusivamente sintomático.
• Esta descrição se aplica a um terapeuta destro, que segura seu gancho na mão direita e que
palpa com a mão esquerda.
• A técnica da diafibrólise percutânea comporta três fases sucessivas: palpação digital,
palpação instrumental, e fibrólise.
Fases de tratamento
1 - Palpação digital
• Esta primeira fase se realiza com a mão esquerda do
terapeuta. Ela consiste em uma espécie de
amassamento digital que permite delimitar
grosseiramente as áreas anatômicas a tratar.
2 - Palpação instrumental
• Esta segunda fase se realiza com ajuda do gancho
escolhido em função do volume da estrutura anatômica
a tratar. Ela permite localizar com precisão as fibras
conjuntivas aderentes e os corpúsculos fibrosos.
• A espátula do gancho coloca-se ao lado do indicador
localizador da mão esquerda.
• A mão esquerda cria uma “onda” com os tecidos moles.
Fases de tratamento
3 - Lise do Tecido Fibroso anormal
• A terceira fase, a lise da fibra corresponde ao tempo
terapêutico.
• Esta fase consiste, no final do movimento de palpação
instrumental, em uma tração complementar da mão
que possui o gancho. Este movimento induz, portanto,
um cisalhamento, uma abertura, que se visualiza como
um atraso breve entre o indicador da mão palpatória e
a espátula do gancho.
• Esta tração complementar é feita para alongar ou
romper as fibras conjuntivas que formam a aderência,
ou a deslocar ou a achatar o corpúsculo fibroso.
Fases de tratamento

4 - Técnica Perióstea
• Esta técnica é utilizada para um trabalho de
descolamento de áreas de inserções ligamentares ou
tendinosas no periósteo.
• Ela consiste em uma “raspagem” superficial da
estrutura anatômica, com ajuda do gancho, associado á
uma mobilização manual do tecido no periósteo. Ela é
utilizada para uma abordagem terapêutica articular:
por exemplo, o joelho..
Principais contra-indicações
• Agressividade terapêutica: terapeuta agressivo ou não acostumado com o método.
• Os maus estados cutâneos: pele hipotrófica, pele com úlceras, as dermatoses
(eczema, psoríase).
• Os maus estados circulatórios: fragilidade capilar sanguínea, reações hiper
histamínicas, varizes venosas, adenomas.
• Pacientes que estão fazendo uso de anticoagulantes.
• Abordagens demasiadamente diretas em processos inflamatórios (tendosinovite).
• Hiperalgia insuportável.
• Fobia
• Rejeição ao tratamento
• Criança?!?!?
METODOLOGIA DA CROCHETAGEM
5 etapas sucessivas:

• 1- Palpação digital – palpação manual que permite localizar as diferentes estruturas


anatômicas e apreciar de forma grosseira as estruturas lesadas.

• 2- Palpação Instrumental – Realiza-se pela mão dominante do terapeuta. Ela permite localizar
com precisão as aderências e corpúsculos fibrosos. A sensação palpatória instrumental do tecido
patológico caracteriza-se por uma resistência seguida de um ressalto, em caso de corpo fibroso,
ou de resistência seguida de parada brusca, em caso de aderência.

• 3- Raspagem – consiste numa fricção longitudinal sobre a zona de transição musculotendinosa,


principalmente sobre os pontos de inserção muscular.

• 4- A lise de aderência - tração – Constitui a etapa terapêutica da técnica. No final da tração


manual da “onda” pelo terapeuta, realiza-se uma tração breve sobre o gancho para estirar ou
até mesmo romper as aderências e reorganizar as alterações causadas pelos corpúsculos
fibrosos.

• 5- Drenagem – consiste no deslizamento superficial e profundo realizados com a superfície


convexa do gancho maior sobre as estruturas miofasciais, a favor do retorno venoso, produzindo
um efeito relaxante pelo descongestionamento muscular.
TENSEGRIDADE
• A palavra Tensegridade (tensão + integridade) foi criada por Richard
Buckminster Fuller (arquiteto, engenheiro e cientista) em 1961.
• Este definiu a Tensegridade como uma propriedade presente em objetos cujos
componentes usam a tração e a compressão de forma combinada, o que
proporciona estabilidade e resistência, assegurando sua integridade global.
• Assim, este termo traduz o fenômeno físico que relaciona o equilíbrio dum sistema
pela ação conjugada de forças de compressão e de tensão “tornou-se um adjetivo”.
Estes sistemas, independentes, têm elementos rígidos e elásticos que nunca se
tocam e que se adaptam às forças compressivas e tensionais a que estão sujeitos.
• Assim, Tensegridade é definida pela arquitetura pelo equilíbrio das tensões.
BIOTENSEGRIDADE
• Biotensegridade é a aplicação de princípios da Tensegridade às estruturas biológicas.
Portanto é o equilíbrio entre a tensão elástica de um tecido e a integridade plástica de
sua estrutura.
• As tensões fásciais podem evoluir e levam o corpo a perder a sua capacidade
adaptativa fisiológica. Com o tempo, a rigidez espalha-se criando limitação de
movimento.
• Diante das restrições fásciais, uma nova abordagem deve centrar-se na libertação da
fáscia, na quebra de aderências e no aumento da circulação linfática e sanguínea.
• Em resposta à presença duma cicatriz a fáscia reage pelas suas características de
Tensegridade, com uma deformação temporária ou permanente. Assim, as fricções
aplicadas em alterações miofasciais são capazes de soltar as aderências, fraturar
fibroses produzir hiperemia profunda, facilitar o retorno venoso e recuperar a
elasticidade e plasticidade dos tecidos moles, recuperando as fibras de colágeno e as
propriedades de Tensegridade do corpo humano.
Processo de Cicatrização
Definição

• Cicatrização – Fenômeno
pelo qual se garantem a
restauração e o fechamento
de uma lesão, ferimento, ou
da perda de substâncias dos
tecidos.

• Cicatriz – Marca, depois da


cura, de um ferimento.
Lesão Tecidual e Tipos de Cicatrização

• A lesão ou perda de tecidos causa regeneração ou reparo com fibrose ou


uma combinação de ambos os processos.
• Alguns anfíbios conseguem regenerar apêndices amputados, mas os
mamíferos quase não têm capacidade de regeneração de órgãos, com
exceção dos ossos e do fígado.
• A cicatrização com fibrose, a resposta pós-natal dos mamíferos a
ferimentos , dá-se através de uma cascata sequencial de processos
superpostos que restabelecem a integridade dos tecidos.
• A magnitude da lesão tecidual e o grau de contaminação
influenciam a velocidade e o caráter da cicatrização.
• A lesão pode ocorrer após intervenções cirúrgicas ou
traumatismos acidentais, após queimaduras ou exposição ao frio,
ou após contato com substâncias químicas ou corpos estranhos.
• A cicatrização dá-se , então, por simples reepitelização sem
formação de tecido fibrótico. Ferimentos pequenos, limpos e
fechados cicatrizam rapidamente com mínima formação de tecido
fibrótico, enquanto ferimentos grandes, abertos e contaminados
cicatrizam lentamente com significativa fibrose.
• Problema de Formação de Cicatrizes
• As cicatrizes e a fibrose dominam algumas doenças em quase todas as especialidades
clinicas e cirúrgicas.
• Todos os dias os cirurgiões enfrentam as repercussões da formação exagerada de
cicatrizes. As incisões na pele curam com cicatrizes e algumas vezes processos
patológicos como quelóides e cicatrizes hipertróficas são as sequelas inesperadas. Na
cirurgia abdominal, sempre há formação de aderências fibrosas intraperitoneais e
podem ocorrer crises repetidas de obstrução intestinal de origem mecânica. As
estenoses ocorrem nos locais de anastomose, seja do cólon, de vasos sanguíneos, do
ureter ou do duto biliar.
Próxima aula!!!
fisiofelipeb@gmail.com
@fisio.felipebernardo

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