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BÁSICA
Liliana Rockenbach
Anestésicos gerais e locais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar os anestésicos gerais e locais. Diferente das
outras classes farmacológicas, os anestésicos não têm função terapêutica
ou diagnóstica. As únicas exceções a essa afirmação são o tratamento
do estado asmático, realizado com halotano, e a angina intratável com
anestésicos locais epidurais.
Antes da descoberta dos anestésicos, os procedimentos cirúrgicos
eram realizados utilizando alguma estratégia para minimizar a dor ou,
às vezes, a sangue frio, quando o paciente precisava aguentar a dor.
Por vezes, ainda, outras pessoas ajudavam durante o procedimento,
imobilizando o paciente à base de força. Com o uso de anestésicos, os
procedimentos antes realizados de forma rudimentar passaram a ser
realizados de forma mais tranquila e segura, tanto para o paciente como
para o profissional que a realiza. Além disso, o surgimento da anestesia
geral possibilitou cirurgias de grande porte. Muitas terapias atuais impor-
tantes, como os transplantes e a ressecção de tumores cerebrais, dentre
diversas outras, só são possíveis graças ao advento da anestesia geral.
Anestésicos gerais
Para que você entenda o funcionamento e a utilização dos anestésicos gerais, é
importante primeiro entender que a anestesia geral tem três estágios: indução,
manutenção e recuperação. A indução é o tempo desde a administração do
fármaco até o estabelecimento do estado anestésico; já a manutenção é a anes-
tesia sustentada durante o procedimento; e, por fim, a recuperação é o tempo
desde a retirada da administração do fármaco até que o paciente recupere a
consciência e os reflexos. Quando você escutar a expressão profundidade da
anestesia, saiba que se trata do grau de depressão do sistema nervoso central
(SNC) pelo anestésico. A potência do anestésico geral é determinada a partir
da medida da concentração mínima que impede o movimento em resposta
ao estímulo cirúrgico.
Curiosamente, os anestésicos gerais são um grupo de fármacos de estruturas
diversas que têm o mesmo efeito farmacológico. Essa classe de medicamentos
é subdividida em anestésicos parenterais e anestésicos inalatórios. Agora
você vai conhecer mais sobre os principais anestésicos parenterais, que são
os barbituratos, o propofol, o etomidato e a cetamida, bem como os principais
anestésicos inalatórios, o halotano, o isoflurano, o enflurano, o desflurano, o
sevoflurano e o óxido nitroso.
Etomidato: sua baixa solubilidade faz com que seja produzido na forma de
solução em propilenolicol. Costuma ser o anestésico de escolha para pacientes
que têm risco de hipotensão, como os que apresentam doença coronariana ou
disfunção cardiovascular.
A dose de indução desse fármaco é de 0,2 a 0,6 mg/kg. Seu efeito é rápido e
de curta duração. Sua administração é dolorida e podem ocorrer movimentos
involuntários dos músculos esqueléticos durante sua ação.
Após entendermos isso, fica fácil concluir que a anestesia ocorrerá quando
a concentração do anestésico no cérebro for igual ou superior à CAM. Como o
cérebro é altamente perfundido, isso ocorre em alguns minutos. A recuperação
do anestésico inalatório ocorrerá pelo processo inverso. Desse modo, para
fármacos com baixa solubilidade no sangue e nos tecidos, ela deve espelhar
a indução, independentemente do tempo de administração. Já os agentes com
alta solubilidade no sangue e nos tecidos têm sua recuperação dependente da
duração de sua administração.
Óxido nitroso: também conhecido como gás hilariante, tem efeito anestésico
fraco, mas é um analgésico potente. Por essa razão, costuma ser usado em
combinação com um anestésico mais potente. É frequentemente empregado
em combinação com oxigênio para analgesia odontológica. Por ser pouco
solúvel no sangue e em outros tecidos, se move rapidamente para dentro e
para fora do organismo.
Observe a seguir a estrutura dos APs e dos AIs (Figura 1).
Anestésicos locais
Figura 2. Estruturas representativas dos anestésicos locais tipo éster e amida. A procaína é o
protótipo dos anestésicos locais tipo éster, enquanto a lidocaína é o protótipo do tipo amida.
Fonte: Whalen, Finkel e Panavelli (2016, p. 186).
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Anestésicos gerais
Baixo débito cardíaco (DC) tem efeito importante nos anestésicos intravenosos.
Com a redução do DC há uma compensação do organismo, que desvia maior
DC para o cérebro, com isso, maior proporção de anestésico vai atingir o
SNC. Além disso, o DC reduzido aumenta o tempo de circulação (efeito) do
anestésico parenteral e por essas razões a dose deve ser diminuída.
Os barbitúricos são contraindicados em pacientes com porfiria, com risco
de induzir ataques fatais de porfiria. Esse grupo de fármacos não costuma
causar hipersensibilidade, mas induzem secreção de histamina e, por isso, são
contraindicados para asmáticos. O tiopental e o tiamilal são contraindicados
para procedimentos prolongados, durante os quais se acumulam, produzindo
inconsciência que pode durar dias.
O propofol diminui a pressão arterial sem deprimir o miocárdio e reduz a
pressão intracraniana, principalmente via vasodilatação sistêmica. A incidência
de náuseas e êmese pós-cirúrgica é muito baixa, embora esse fármaco tenha
algum efeito emético.
Os efeitos adversos do etomidato incluem diminuição dos níveis de cortisol
e aldosterona no plasma por até 8 horas, por isso, este não deve ser adminis-
trado por longos tempos.
Os efeitos da cetamida, de estimular o coração e causar broncodilatação,
que definem sua aplicação clínica, também definirão suas contraindicações.
Esse fármaco é contraindicado para hipertensos e para pacientes que sofreram
acidente vascular encefálico (AVE). Além disso, ela também é contraindicada
para pacientes com lesões abertas do olho, sob o risco de aumentar a pressão
intraocular e pode causar delírios pós-operatórios.
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Anestésicos locais
O efeito dos anestésicos locais na periferia é devido a sua aplicação locali-
zada, contudo, se forem distribuídos, são capazes de bloquear a condução do
estímulo nervoso em outros órgãos, o que não é desejado. Portanto, os efeitos
adversos desses fármacos serão correspondentes com a concentração que
atinge a circulação. Os anestésicos locais estimulam o SNC causando tremor,
inquietude e até convulsões. Essa estimulação é seguida de depressão e óbito,
normalmente em razão da insuficiência respiratória. Os efeitos adversos no
sistema cardiovascular ocorrem somente quando há altas concentrações
sistêmicas. O efeito principal ocorre no miocárdio, resultando na diminuição
de velocidade e força de contração, além de a maioria causar também dilatação
arteriolar. Seus efeitos na musculatura lisa levam à depressão das contrações
intestinais e ao relaxamento de brônquios, vasos sanguíneos e útero. Sobre
a musculatura esquelética, esses fármacos podem levar à perda da resposta
aos estímulos ou comandos.
Observe a seguir os principais efeitos locais (desejados) e sistêmicos (ad-
versos) dos anestésicos locais (Figura 3).
Figura 3. Principais efeitos locais (desejados) e sistêmicos (adversos) dos anestésicos locais.
Fonte: Lüllmann, Mohr e Hein (2017, p. 205).
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