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Se existe classe que mereça uma

vigilância esclarecida,
benévola e ativa é a dos doidos.
Sigaud, 1835

História da Psiquiatria

Profª Esp. Mariana de Araujo Rocha


Um pouco de
história...
• Casos de perturbações mentais estão registrados por toda a
História e são, desde as épocas mais remotas, citados por
historiadores, poetas, pintores, escultores e médicos.
• Algumas figuras históricas conhecidas:
- Os Imperadores Romanos Calígula e Nero, os reis franceses
Clóvis II e Carlos VI, este último chamado de Carlos, o
Louco, o qual acreditava ser feito de vidro e que inseria
pequenas hastes de ferro em suas roupas a fim de prevenir
que se partisse em pedaços.
Um pouco de
história...
-O famoso pintor Vincent Van Gogh (1853-1890),
sofria de crises de instabilidade de seu humor.
Diversos historiadores afirmam que Van Gogh sofria
"ataques epilépticos" o que para alguns seria o resultado
do uso frequente de bebidas contendo absinto (Artemisia absinthium),
substância que era utilizada para modificar a atividade cerebral e assim
"estimular" atividades artísticas.

- Houve diversas tentativas de estabelecer um diagnóstico para a doença


de Van Gogh. Atualmente, o mais aceito é o Transtorno do Humor
Bipolar, levando-se em consideração os estados depressivos, alternados
de episódios eufóricos (ou maníacos) que lhe faziam mergulhar em um
estado de humor de grande energia e paixão. Van Gogh cometeu suicídio
aos 37 anos de idade.
Diversas Denominações...
- Possuídos por espíritos.
- Mania ou furor insano. (Século V. AC- Euclides, Sófocles)
- Sofrimento da alma. Perda das Faculdades Mentais.
- Louco, lunático, lelé, maniático, tança, vesano, demente.
- Alienado, insano (Pinel, Esquirol. Atendimento asilar).
-No Brasil colonial e durante parte do Império, a ordem jurídica
era determinada pelas Ordenações do Reino e nelas a
loucura possuía várias denominações: "desassisados",
"sandeus", "mentecaptos" ou "furiosos"; eram ali
contemplados ainda os "desmemoriados" e os "pródigos"
O que é loucura?

• Designa-se por louco aquele


indivíduo cuja maneira de ser é
“diferente” em comparação com uma
outra maneira de ser considerada
pela sociedade como “normal”.
• Porém com as diferenças: culturais,
sociais, éticas, filosóficas, religiosas
existentes, como se poderia definir o
que é um indivíduo normal?
• Nem sempre a loucura foi vista como uma
doença ou um problema de integração social.
• Assim como a conceituação de loucura, os
cuidados dedicados as pessoas com
transtorno de comportamento variaram no
decorrer dos tempos, sempre
influenciados por crenças, costumes,
religião.
A doença mental na Pré-
História
• O homem primitivo atribuía todas as
doenças à ação de forças externas, forças
sobrenaturais, maus espíritos, bruxos,
demônios, deuses.
• Acredita-se que nessa época as pessoas
com distúrbios de comportamento eram
atendidas em rituais tribais, para corrigir
tal distúrbio. E em casos de insucesso, o
indivíduo era abandonado à própria sorte.
Antiguidade
• Na Grécia e Roma antigas não existiam
procedimentos ou espaços sociais destinados
aos “loucos”.
• Os ricos permaneciam em suas residências e os
pobres circulavam pelas ruas, onde recebiam
caridade pública ou realizavam pequenos
serviços.
• A sociedade atribuía as crises de agitação a
forças sobrenaturais, decorrentes de
possessões demoníacas.
• O indivíduo louco era visto como um problema
Antiguidade
• Na Grécia de 860 a.C. os sacerdotes
recomendavam que os loucos fossem tratados
com bondade e que lhes fossem proporcionadas
atividade físicas.
• Nessa mesma época, médicos, estudiosos
tinham grande consideração pelos doentes,
estes podiam desfrutar de ar fresco, água pura,
luz solar. Mestres, alunos e doentes faziam
caminhadas, encenações teatrais para melhorar
o “humor”.
• No entanto os paciente que não reagiam ao
tratamento eram submetidos à inanição e a
flagelação.
Idade Média

• Nessa época a loucura era vista com grande


tolerância. Acreditava-se que o mundo era todo
organizado de acordo com os desígnios de
Deus.
• Os loucos e os miseráveis eram considerados
parte da sociedade e alvo de caridade.
• Os doente mentais eram chamados de lunáticos
(do latim luna=lua), pois acreditava-se que a
mente das pessoas era influenciada pelas fase
da lua. Eram também considerados pecadores.
Idade Média

• Desfrutavam de relativa liberdade de ir e


vir.
• Doente mentais mais graves ou
agressivos eram acorrentados,
escorraçados, submetidos a jejuns
prolongados sob a alegação de estarem
possuídos pelo “demônio”.
Idade Média

• Muitas vezes eram submetidos a rituais


religiosos de exorcismo.
Idade Moderna

• Retomada de princípios racionalistas na


observação e descrição das doenças
mentais, em oposição ao misticismo
religioso.
• Nessa fase com o início do mercantilismo,
formação de cidades e concentração da
população, começaram a surgir os
problemas sociais e sanitários, ocorrendo
aumento do número de mendigos.
Idade Moderna

• Pobres e loucos eram vistos como


desocupados, como não trabalhavam, não
produziam riquezas, eram considerados
marginais , improdutivos.
• Os mendigos eram expulso das cidades, os
doente mentais e mendigos sem família eram
condenados ao isolamento.
• Nessa época surgem os Hospitais Gerais
(instalados nos antigos leprosários), onde eram
internados não só os loucos, mas toda
população marginalizada na época.
Idade Contemporânea

• Final do século XVIII, denúncias contra as


internações de doentes mentais junto aos
marginais e contra as torturas a que eram
submetidos.
• Abordagem mais humanística ao doente mental.
• Construção de asilos, porém permaneciam sob
formas de violência, com ameaças e privações.
• A loucura passa a ser considerada uma doença,
que exigia condições e tratamentos específicos.
Idade Contemporânea )

• Em 1793, o médico francês Philippe Pinel


quebrou as correntes que prendiam os
alienados ou insanos.
• Nessa época avança a descrição das doenças
mentais.
• Século XX, postura mais humanista no
tratamento dos doentes mentais, os asilos onde
os doentes eram aprisionados foram
substituídos pelos Hospitais Psiquiátricos.
Idade Contemporânea )

• Século XX: Freud revela a concepção


do homem como um todo mente- corpo
e o papel da história pessoal no
desenvolvimento dos transtornos
emocionais.
- Compreender a loucura não
como defeito biológico.
● 1952: sintetizada em laboratório o primeiro
neuroléptico do mundo, a clorpromazina.

● Progressos:
- Atitude positiva em relação à doença mental
- Doentes crônicos melhoram
- O tratamento em casa tornou-se possível
- Expandem-se tratamentos psicoterápicos
- Hildegard Peplau – teoria do relacionamento
terapêutico enfermeiro-paciente.
A Psiquiatria no Brasil
• No Brasil, o primeiro manicômio foi
fundado por D. Pedro II em 1852, no Rio
de Janeiro.
Primeiros hospícios públicos
para alienados no Brasil
Província/Estado Ano Estabelecimento (município)
Rio de Janeiro 1852 Hospício de Pedro II (Rio de Janeiro)
1878 Enfermaria de Alienados anexa ao Hospital São João Batista (Niterói)
1890 Colônias de São Bento e Conde de Mesquita (Ilha do Governador)
São Paulo 1852 Hospício Provisório de Alienados de São Paulo (Rua São João)
1864 Hospício de Alienados de São Paulo (Chácara da Tabatingüera)
1895 Hospício-colônia provisório de Sorocaba
1898 Hospício-colônia de Juqueri (atual Franco da Rocha)
Pernambuco 1864 Hospício de Alienados de Recife-Olinda (da Visitação de Santa Isabel)
1883 Hospício da Tamarineira (Recife)
Pará 1873 Hospício Provisório de Alienados (Belém, próximo ao Hospício dos Lázaros).
1892 Hospício do Marco da Légua (Belém)
Bahia 1874 Asilo de Alienados São João de Deus (Salvador)
Rio Grande do Sul 1884 Hospício de Alienados São Pedro (Porto Alegre)
Ceará 1886 Asilo de Alienados São Vicente de Paula (Fortaleza)
Alagoas 1891 Asilo de Santa Leopoldina (Maceió)
Paraíba 1890 Asilo de Alienados do Hospital Santa Ana (João Pessoa)
Amazonas 1894 Hospício Eduardo Ribeiro (Manaus)
Minas Gerais 1903 Hospício de Barbacena
Paraná 1903 Hospício Nossa Senhora da Luz (Curitiba)
Maranhão 1905 Hospício de Alienados (São Luis do Maranhão)
A Psiquiatria no Brasil
• Local de confinamento da população
crescente de desocupados e loucos que
vagavam pelas velhas e grandes
fazendas e recentes cidades.

• À partir desse momento vários outros


hospícios foram sendo fundados
( grandes centros).
A Psiquiatria no Brasil

• -Nas cidades interioranas, os manicômios


só surgiram quando o desenvolvimento e
a urbanização lá chegaram.
• - Manicômios eram construídos em locais
afastados.
• - Características dos manicômios
brasileiros – frequentados em sua
maioria pela população mais pobre.
A Psiquiatria no Brasil

• No Brasil, o atendimento aos loucos era


tarefa da Irmandade da Misericórdia e
esteve nas mãos da Santa Casa até a
proclamação da República em 1889.
A partir de 1890, o Hospício Pedro II
passa a ser chamado de Hospício
Nacional dos Alienados
Diversas Denominações...
A partir de 1890, o Hospício Pedro II passa a ser chamado de Hospício
Nacional dos Alienados. No século XX, surgem novos nomes:
Hospício passa a ser chamado de Hospital.
Alienado agora é doente mental, depois será psicopata.
O asilado passa a ser interno.
Nos ambulatórios ele é egresso, quando oriundo da hospitalização. Torna-
se paciente do ambulatório.
No consultório ele é paciente, cliente, analisando ou está em terapia.
No serviço público ele é usuário. O mesmo vale para os planos de
saúde. Para alguns, ele passa a ser visto como consumidor.
Assim, a loucura recebe os nomes de alienação mental, insanidade,
depois doença mental, transtorno mental e ultimamente, sofrimento
psíquico.
A Psiquiatria no Brasil
• ERA DO TEMOR
1950- 1970 :
- Falta de leitos nos hospícios
- Expansão de leitos privados
- Estado patrocinando a loucura
A Psiquiatria no Brasil
• - Os hospitais de luxo “cinco estrelas”, são
em sua essência iguais aos hospitais para
pobres, porque têm a função de excluir ou
invalidar os doentes, afastando-os da
sociedade.
• - Infra-estrutura – péssimas
• - Higiene – banhos coletivos
• - Medicação – distribuída sem critério
A Psiquiatria no Brasil

• Tudo é organizado pensando não no


doente, mas na manutenção da ordem
interna e na obtenção de lucro (hospitais
privados).
• Internações – superior ao número
de leitos.
• Ociosidade dos internos.
A Psiquiatria no Brasil

• À partir de 1964, o governo começou a


contratar incisivamente os hospitais
psiquiátricos particulares para atender aos
hospitais públicos.
• Como o governo pagava pouco pelas
diárias, os hospitais reduziram seus
custos e pioraram definitivamente as
condições de hospedagem e cuidados.
A História da Psiquiatria
● 1960: Franco Basaglia(Itália) questiona a
existência dos hospitais psiquiátricos.

● 1978: Aprovado lei proibindo a criação


novos hospícios
de e sua substituição por pensões
protegidas, lares abrigados, hospital-dia, leitos
psiquiátricos em hospital geral.

● 1987: Primeiro CAPS no Brasil em SP e NAPS


em Santos (24 hs).
A Psiquiatria no Brasil
No fim da década de 1980, a partir das transformações
sociais e políticas que vinham acontecendo no campo da
psiquiatria, em países da europa (inglaterra, frança e
principalmente itália) e nos estados unidos da américa,
inicia-se no brasil o Movimento da Reforma Psiquiátrica.
Este movimento recebeu esta denominação por apresentar e
desencadear mudanças que vão muito além da mera
assistência em saúde mental. Estas vêm ocorrendo nas
dimensões jurídicas, políticas, sócio-culturais e teóricas.
A Psiquiatria no Brasil

● 1990: Reforma Psiquiátrica Brasileira


- Movimentos dos profissionais e famílias
-- Lei
Impasses, tensões,aconflitos
proibindo criaçãoe desafios.
de novos hospitais
psiquiátricos e enfatizando o tratamento ambulatorial
e a reinserção social do doente junto da família e
comunidade e sua reabilitação social, profissional e
cívica.

DESINTITUCIONALIZAÇÃO
A Psiquiatria no Brasil
● 1992: Movimentos sociais aprovam em vários estados
brasileiros as primeiras leis que determinam a
substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma
rede integrada de atenção à saúde mental.
● 2001: Lei 10.216 que redireciona a assistência
em o oferecimento de
saúde mental, privilegiando
tratamento em serviços de base comunitária.
- Proteção e direitos dos doentes mentais
- Rede de atenção diária (CAPS)
do MS para serviços abertos e
- substitutivos dos hospícios.
Financiamento
DESINSTITUCIONALIZAÇÃO
● Deslocar o centro da atenção da instituição para a
comunidade, distrito e território.

● Desinstitucionalização = Desospitalização

● Oferecer espaço para que os doentes sejam


atendidos fora do hospital
● Incentivo à desinstitucionalização
● Ampliação de serviços ambulatoriais
● Incorporação da saúde mental na ESF
● Redução de leitos psiquiátricos
● CAPS
DOENÇA MENTAL
•É o estado que surge quando as
pessoas não conseguem desenvolver
ou manter-se em funcionamento
harmônico para viver com seu grupo
cultural ou em sociedade, não
conseguindo transformar suas
possibilidades em realidade.
SAÚDE MENTAL

É o estado de funcionamento
harmônico que as pessoas
desenvolvem e mantêm, para viver em
sociedade, em constante interação com
seus semelhantes e meio ambiente.
CRITÉRIOS DEFINIDORES DE SAÚDE
MENTAL
• Atitudes positivas em relação a si
próprio
• Crescimento, desenvolvimento e auto-
realização
• Integração e resposta emocional
• Autonomia e autodeterminação
• Percepção da realidade
• Domínio ambiental e competência social
COMO ANDA A SUA
SAÚDE
Portado Hospício

“Nem todos que estão são e nem


todos que são estão”.
"De perto
ninguém é
normal“.

Caetano Veloso
Referência Bibliográfica

• FOUCAULT, M. História da Loucura. São


Paulo: Perspectiva, 1978.
• FUREGATO, A.R.F. Relações interpessoais
terapêuticas na enfermagem. Ribeirão Preto,
Scala, 1999.
• KUPSTAS, M. (org.) Saúde em Debate.
(Coleção Debate na Escola) 1ª ed. São Paulo:
Moderno, 1997.
• http://www.polbr.med.br/ano06/wal0306.php

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